018-0251

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OCEANOS A pesca hoje provê 15% da proteína animal consumida por 3 bilhões de pessoas. Serão discutidas medidas para garantir o uso sustentável dos oceanos e combater a pesca predatória ÁGUA Até 2050, 25% da população do planeta viverá em um país afetado por escassez de água potável. A Rio+20 buscará reduzir o desperdício e a poluição da água CIDADES SUSTENTÁVEIS 423 cidades vão gerar 45% do crescimento do PIB mundial até 2025. Sua população deve crescer 40% no período. A Rio+20 quer metas de sustentabilidade para evitar o colapso EMPREGOS Relatório da ONU diz que é possível criar 750 mil empregos verdes por ano no mundo até 2030. São vagas em atividades como energias limpas, uso econômico da biodiversidade e agricultura sustentável SEGURANÇA ALIMENTAR Agricultura mais sustentável, preços estáveis e estímulo a pequenos produtores seriam um caminho para gerar mais empregos no campo e alimentar os atuais 925 milhões de famintos ENERGIA Atualmente, 3 bilhões de pessoas dependem de carvão, madeira e biodigestores para obter energia. A Rio+20 quer metas para ampliar e modernizar a oferta de energia, além de promover a eficiência em seu uso DESASTRES NATURAIS 85% das pessoas afetadas por catástrofes entre 2000 e 2009 eram de países asiáticos. A Rio+20 quer ampliar as estratégias para reduzir a vulnerabilidade às mudanças climáticas Atualizar os compromissos dos países com o desenvolvimento sustentável, firmados há 20 anos na Conferência Rio-92, e difundir o conceito de economia verde, que contempla atividades econômicas capazes de acelerar a economia, com baixo impacto ambiental e uso racional de energia Rio 20 + Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável QUESTÕES CRÍTICAS QUADRO INSTITUCIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Serão discutidas mudanças na estrutura da ONU encarregada do desenvolvimento sustentável. Pode ser criada uma agência especializada em substituição ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente TEMAS ECONOMIA VERDE Para os países ricos, o conceito significa estimular setores econômicos que reduzam emissões de carbono. Para os emergentes, é crescer sem agravar problemas ambientais. Para os pobres, é investir em agricultura sustentável, que gere comida e emprego OBJETIVO Participarão chefes de Estado e representantes dos países- -membros da ONU QUEM 20 | 21 | 22 JUNHO 2012 QUANDO RIO DE JANEIRO ONDE FONTE RIO+20

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  • oceanos A pesca hoje prov 15% da protena animal consumida por 3 bilhes de pessoas. Sero discutidas medidas para garantir o uso sustentvel dos oceanos e combater a pesca predatria

    gua At 2050, 25% da populao do planeta viver em um pas afetado por escassez de gua potvel. A Rio+20 buscar reduzir o desperdcio e a poluio da gua

    cidades sustentveis 423 cidades vo gerar 45% do crescimento do PIB mundial at 2025. Sua populao deve crescer 40% no perodo. A Rio+20 quer metas de sustentabilidade para evitar o colapso

    empregos Relatrio da ONU diz que possvel criar 750 mil empregos verdes por ano no mundo at 2030. So vagas em atividades como energias limpas, uso econmico da biodiversidade e agricultura sustentvel

    segurana alimentar Agricultura mais sustentvel, preos estveis e estmulo a pequenos produtores seriam um caminho para gerar mais empregos no campo e alimentar os atuais 925 milhes de famintos

    energia Atualmente, 3 bilhes de pessoas dependem de carvo, madeira e biodigestores para obter energia. A Rio+20 quer metas para ampliar e modernizar a oferta de energia, alm de promover a eficincia em seu uso

    desastres naturais 85% das pessoas afetadas por catstrofes entre 2000 e 2009 eram de pases asiticos. A Rio+20 quer ampliar as estratgias para reduzir a vulnerabilidade s mudanas climticas

    Atualizar os compromissos dos pases com o desenvolvimento sustentvel, firmados h 20 anos na Conferncia Rio-92, e difundir o conceito de economia verde, que contempla atividades econmicas capazes de acelerar a economia, com baixo impacto ambiental e uso racional de energia

    rio20 + Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel

    questes crticas

    quadro institucional para o desenvolvimento sustentvel Sero discutidas mudanas na estrutura da ONU encarregada do desenvolvimento sustentvel. Pode ser criada uma agncia especializada em substituio ao Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente

    temas economia verde Para os pases ricos, o conceito significa estimular setores econmicos que reduzam emisses de carbono. Para os emergentes, crescer sem agravar problemas ambientais. Para os pobres, investir em agricultura sustentvel, que gere comida e emprego

    objetivo

    Participaro chefes de Estado e representantes dos pases- -membros da ONU

    quem

    20 | 21 | 22jUNhO

    2012

    quando

    rio de janeiro

    onde

    Fon

    te

    rio

    +20

  • pesquisa Fapesp 193 | 19

    Como a pesquisa brasileira pode contribuir

    para as decises da Conferncia sobre

    Desenvolvimento Sustentvel

    Pesquisadores do estado de So Paulo comeam a se mobilizar para influenciar os debates da Rio+20, a Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvi-mento Sustentvel, que trar chefes de Estado e re-presentantes de centenas de pases ao Rio de Janeiro

    entre os dias 20 e 22 de junho. Cientistas dos campos da biodi-versidade, das energias de fontes renovveis e das mudanas climticas, envolvidos em projetos de pesquisa apoiados pela FAPESP, renem-se num workshop em So Paulo, nos dias 6 e 7 de maro, para discutir tpicos que estaro em pauta duran-te a Rio+20 sob a perspectiva das pesquisas mais avanadas realizadas no pas. A Rio+20 busca atualizar os compromissos dos pases com o desenvolvimento sustentvel, firmados na histrica Conferncia Rio-92, h 20 anos e, como novidade principal, prope avanar no conceito de economia verde, conjunto de estratgias voltadas a movimentar a economia com impacto ambiental reduzido, que se baseia no avano das fontes renovveis de energia, no consumo eficiente da ener-gia e dos recursos naturais e no uso sustentvel dos servios e dos produtos da biodiversidade.

    No final do workshop sero apresentados os resultados de um questionrio, encaminhado a todos os pesquisadores com projetos apoiados pelos trs programas da FAPESP, com suas

    tExtO Fabrcio marques INfOgRfICO laura davia

    A voz dos cientistas na rio+20

    capa

    BIODIvERSIDADE

    BIOENERgIA

    ClIMA

    INOvAO

  • contribuio de so paulo

    tpicos em que a pesquisa das instituies de So Paulo pode inspirar as discusses da Rio+20

    Bioenergia

    Um cardpio de pesquisas para melhorar a produtividade do etanol e reduzir o impacto ambiental da energia de biomassa pode contribuir com a meta de dobrar o percentual de energia de fontes renovveis no mundo at 2030

    Biodiversidade

    Experincia no mapeamento da biodiversidade paulista e na utilizao desses conhecimentos para orientar a legislao ambiental do estado pode ser til na definio de indicadores e de polticas para a preservao

    mudanas ClimtiCas

    Monitoramento de queimadas na Amaznia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e estudos regionais sobre a vulnerabilidade s mudanas climticas podem apontar caminhos para questes-chave da conferncia

    20 | mAro DE 2012

    e a influncia de prticas de manejo agrcola nas emisses de gs carbnico oriundas do solo em plantaes de cana-de-acar, ou a vulnerabili-dade de municpios do litoral norte de So Paulo mudana do clima, entre outros.

    Reynaldo Victoria destaca a ambio do PFPMCG de criar um modelo climtico brasi-leiro, um sistema computacional capaz de fazer simulaes sofisticadas sobre fenmenos do cli-ma. Para a cincia abastecer a sociedade com informaes fidedignas essencial termos um modelo que no seja apenas um recorte dos que existem em outros pases, mas que contemple caractersticas e dados regionalizados, diz o pes-quisador. A compra do novo supercomputador do Inpe, patrocinada pela FAPESP e pelo Minis-trio da Cincia e Tecnologia, importante para atingirmos essa meta. O investimento em projetos de pesquisa em vrias regies, como a Amaznia, o Pantanal e o Atlntico Sul, j est gerando da-dos para abastecer esse modelo, diz Reynaldo Victoria. H incertezas sobre o futuro da Ama-znia, observa o pesquisador, que a cincia ainda no conseguiu resolver e interessam ao mundo inteiro. Existem estudos apontando o risco de savanizao da floresta e outros que sugerem o contrrio. Tambm h divergncias sobre o volu-me de biomassa que a Amaznia abriga. Estamos tentando responder perguntas desse tipo.

    Outra contribuio com flego para fertili-zar os debates da Rio+20 vincula-se produo sustentvel de biocombustveis. A FAPESP tem apoiado pesquisas para aumentar a produo de etanol por hectare de cana. Hoje o desempenho de 75 toneladas por hectare, mas estudos re-centes mostram que o potencial de mais de 300 toneladas por hectare e a meta dos pesquisadores fazer crescer tremendamente a produo sem aumentar a rea agrcola e competir com a pro-duo de alimentos, afirma Reynaldo Victoria, referindo-se a um dos estudos feitos pelo Bioen sobre o impacto do melhoramento gentico e de novas tecnologias na produo brasileira.

    O fsico Jos Goldemberg, reitor da USP entre 1986 e 1990 e secretrio Especial do Meio Am-biente quando o Brasil sediou a Rio-92, acre-dita que a conferncia poder trazer avanos no compromisso dos pases em adotar fontes renovveis de energia. H um artigo no docu-mento preliminar da conferncia interessante para o Brasil. Ele prope dobrar o percentual de energia de fontes renovveis no mundo at 2030. Pouca gente fala, mas a biomassa j ofe-rece mais energia no mundo do que as usinas nucleares. O exemplo do etanol brasileiro ins-pirador. possvel multiplicar por 10 a produo atual sem prejudicar a produo de alimentos, diz Goldemberg, que far uma conferncia no workshop sobre o tema.

    opinies acerca dos temas da Rio+20. Esse do-cumento ser encaminhado ao comit da confe-rncia como uma contribuio da cincia paulis-ta ao debate, diz Glaucia Souza, professora do Instituto de Qumica da USP e membro da coor-denao do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (Bioen). O workshop ser a primeira ocasio em que os pesquisadores de trs grandes programas de pesquisa da FAPESP, o Bioen, o da biodiversidade paulista (Biota) e o de Mudanas Climticas Globais (PFPMCG), participam de um evento conjunto para discutir as interfaces de suas pesquisas.

    a vez da bioenergiaO engajamento das universidades e institutos de pesquisa de So Paulo na Rio+20 uma conse-quncia natural do trabalho que vm desenvol-vendo. Com apoio da FAPESP, pesquisadores de diversas disciplinas tm avanado em estu-dos que abordam os pilares da sustentabilidade e so questes-chave para a conferncia, como a proteo da biodiversidade, o impacto das mu-danas climticas globais e a sustentabilidade da agricultura, diz Reynaldo Victoria, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Ce-na), do campus Luiz de Queiroz da Universidade de So Paulo em Piracicaba, que coordenador executivo do PFPMCG. O programa foi criado em 2008 e j apoia mais de 50 projetos de pesquisa em temas que envolvem as cincias naturais, bio-lgicas e sociais e abrangem desde os efeitos do aquecimento global nas chuvas, na distribuio de gases na atmosfera, at o impacto das queimadas

  • adoo de parmetrosA escolha de indicadores e medidas que regulem metas para o desenvolvimento sustentvel questo fundamental. Se sair um compromisso, os avanos sero mais rpidos

    energia limpaEst na mesa a proposta de dobrar o atual percentual de energia de fontes renovveis no mundo at 2030. Se for aceita, dar mais impulso energia de biomassa, solar e elica

    reForo na estruturaA Europa quer uma agncia de meio ambiente. Pases em desenvolvimento, como o Brasil, acham melhor reforar a estrutura j existente sobre desenvolvimento sustentvel

    teCnologias verdesPases em desenvolvimento querem mecanismos para a transferncia de tecnologias criadas pela economia verde. Os pases ricos querem garantir proteo propriedade intelectual

    Barreiras tariFriash um temor de que os parmetros sobre o que a economia verde sirvam de argumento para manobras protecionistas dos pases ricos contra produtos dos emergentes

    em jogo

    pesquisa Fapesp 193 | 21

    De acordo com Glaucia Souza, do programa Bioen, uma das cinco divises do programa especialmente talhada para contribuir com a Rio+20, a que trata dos impactos sociais e eco-nmicos de uma sociedade baseada em energia de biomassa. Temos grupos de pesquisadores estudando modelos econmicos capazes de ava-liar as mudanas de uso da terra causadas pela produo em larga escala de biocombustveis. Tambm h estudos sobre os gargalos econmicos da produo de biocombustveis, mapeamentos agroecolgicos e impacto na biodiversidade, para citar alguns exemplos, diz ela. Conhecimento novo parte, ela destaca o potencial dos biocom-bustveis no combate pobreza, um dos motes da Rio+20. A cana-de-acar contribui para o desenvolvimento rural, mas a agricultura ainda reverte pouco lucro para os produtores. A pro-duo de biocombustveis pode agregar valor ao agronegcio, permitindo, por exemplo, que o se-tor gere sua prpria energia e venda o excedente, contribuindo para o desenvolvimento regional e o combate pobreza, diz.

    Tambm forte a vocao dos pesquisado-res do programa Biota-FAPESP, que desde 1999 promove estudos sobre a biodiversi-dade do territrio paulista, para contribuir com a conferncia do Rio. reconhecida, por exem-plo, a capacidade do Biota de converter conheci-mento em polticas pblicas dados cientficos acumulados pelo programa passaram a orientar

    a legislao que regula a autorizao de corte e de supresso da vegetao nativa em territrio paulista. A experincia de produzir inventrios sobre a biodiversidade e disponibilizar a infor-mao em bancos de dados pblicos tambm pode ser importante. Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do Biota-FAPESP e diretor de Pes-quisas e Programas Temticos do Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI), res-salta outros avanos brasileiros que tiveram o impulso da pesquisa cientfica. Alm de toda a nossa tecnologia em produo de etanol, que reduziu a dependncia de combustveis fsseis e hoje paradigma at para caminhes e nibus no pas, tambm temos avanado em biodiesel, num modelo que pode ser utilizado em outras re gies, como a frica e a Amrica Central. Temos exem-plos a oferecer na gesto de resduos: embora ainda sejam poucos, dispomos de lixes que se transformaram em reas de produo de gs. verdade que desperdiamos gs em reas de explorao de petrleo. O impacto da queima do gs pelo flare das plataformas alto e no temos tecnologia para resolver isso, exemplifica.

    O workshop dos trs programas da FAPESP ter a participao de diplomatas, autoridades e de dois cientistas estrangeiros. O bilogo Edward O. Wilson, da Universidade Harvard, um dos pioneiros a alertar sobre a extino em massa de espcies no sculo XX, far uma videoconfern-cia. O bilogo Thomas Lovejoy, da Universidade

  • 22 | mAro DE 2012

    George Mason, vai falar da cincia da biodiversi-dade no contexto da Rio+20 foi ele, alis, quem cunhou o termo biodiversidade nos anos 1980 (ver Pesquisa FAPESP n 171).

    O workshop o ponto de partida da articulao dos cientistas, que tero outras oportunidades para se manifestar at a Rio+20. Ainda em maro, acontece em Londres a Conferncia Planet Under Pressure, que vai reunir cientistas, empresrios, autoridades e representantes de organizaes no governamentais para fornecer subsdios para a Rio+20. Dos 6,8 mil pesquisadores que submete-ram trabalhos ao comit cientfico do evento, 40% deles so do mundo em desenvolvimento.

    O Brasil contribuiu com 343 trabalhos. No blo-co dos chamados Brics, ficou atrs da ndia (531 trabalhos), mas superou a China (123), a frica do Sul (63) e a Rssia (50). O Reino Unido lidera a lista, com 907 trabalhos. Entre os trabalhos brasileiros aceitos, h vrios trabalhos financiados pela FAPESP no campo das energias de fontes re-novveis, da dinmica socioambiental, do clima e da meteorologia, diz Patrcia Pinho, pesquisadora do Inpe e coordenadora cientfica do escritrio do Programa Internacional Biosfera-Geosfera (IGBP), um dos organizadores da conferncia londrina. Durante o Planet Under Pressure, o Belmont Forum, grupo de alto nvel que rene os principais financiadores da pesquisa sobre as mudanas globais no mundo, lanar uma cha-mada de propostas para pesquisadores de vrias nacionalidades e disciplinas em dois temas-cha-ve: segurana hdrica e vulnerabilidade costeira.

    Pesquisadores paulistas podero participar da chamada internacional, diz Reynaldo Victoria. A FAPESP, que integra o Belmont Forum, vai investir 2 milhes nessa chamada, a serem apli-cados em estudos feitos no pas, afirma.

    As negociaes que vo anteceder a Rio+20 te-ro um papel decisivo. A reunio de cpula ser precedida pela ltima conferncia preparatria, entre os dias 13 e 15 de junho. Em seguida, do dia 16 ao 19, haver um even-to organizado pelo Ministrio das Relaes Exteriores, os Dilogos sobre Desenvolvimento Susten-tvel. Ao todo, a conferncia e as atividades preparatrias levaro 10 dias, um pouco menos do que os 12 dias da programao da Rio-92, que ocorreu de 3 a 14 de junho de 1992. Por ser rara e ambiciosa, po-dem sair da conferncia coisas que, no momento em que acontecem, a gente no se d conta do quanto so importantes, disse ao jornal Valor Econmico o embaixador Andr Corra do Lago, negociador-chefe do Brasil para a Rio+20. Mas essas conferncias, ao trabalharem com o longo prazo, tambm tm um enorme grau de incerteza. Existem processos que param no meio e outros que inspiram toda uma gerao.

    A Rio-92 gerou uma srie de compromissos que moldaram as negociaes internacionais desde

    a rio+20 oportunidade para estadistas assumirem compromissos com o futuro do planeta, diz carlos nobre

    as posies dos pases

    estados unidos

    Querem que o documento final seja conciso e tenha um compndio de compromissos voluntrios. O argumento que, dessa forma, seria possvel obter um documento final mais ousado, embora sem metas obrigatrias

    Uma reunio preparatria em Nova York, em dezembro, exps as vises divergentes

    Brasil

    O Brasil quer que a Rio+20 tenha metas de desenvolvimento sustentvel, maneiras de medir este desempenho e um Conselho de Desenvolvimento Sustentvel forte dentro da ONU

    China

    A nfase tornar a erradicao da pobreza o fator-chave na formulao de polticas de economia verde, mas evitando critrios uniformes e respeitando o nvel e a capacidade de desenvolvimento de cada pas

    ndia

    Quer apoio financeiro economia verde, garantia de transferncia de novas tecnologias e um ambiente internacional orientado pelo desenvolvimento do comrcio, sem riscos de protecionismo verde

    FriCa

    tem interesse em temas como produtividade da agricultura e segurana alimentar, que incluem o reforo de medidas de adaptao e mitigao para proteger florestas, gua, ecossistemas frgeis e a biodiversidade

    unio europeia

    Defende que a conferncia tenha como foco temas ambientais. Mobiliza-se pela criao de uma agncia especializada da ONU para o meio ambiente. Prope um mapa da economia verde e aes em nvel internacional

  • pesquisa Fapesp 193 | 23

    ento, como as convenes do clima e da biodi-versidade, alm da Agenda 21 e dos Princpios do Rio, instrumentos que ajudaram a organizar a ao de governos, empresas e organizaes no governamentais na busca de soluo de proble-mas ambientais. J o escopo da Rio+20 mais restrito. Ela dever reafirmar princpios mas, como novidade, poder trazer apenas uma re-forma na estrutura das Naes Unidas, criando uma agncia especializada em meio ambiente em substituio ao Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mesmo assim, no h consenso sobre isso. Os pases europeus e alguns africanos defendem a criao da agncia. Estados Unidos so contra. O Brasil tem revelado certa relutncia, mais por sustentar que a reunio deveria apoiar-se em trs grandes pilares, o am-biental, o econmico e o social, julgando assim que a organizao reforaria apenas o primeiro deles, afirma o embaixador e ex-ministro do Meio Ambiente Rubens Ricupero.

    boas intenesA fora da Rio+20 est em reunir chefes de Esta-do, e no apenas seus representantes, para discu-tir grandes questes. No uma conferncia de diplomatas e ministros defendendo os interesses de seus pases, como acontece nas conferncias das partes do clima e da biodiversidade que ocor-rem todos os anos e acumulam avanos lentos. uma janela de oportunidade para os estadistas, que podero assumir compromissos gerais com o futuro do planeta, diz Carlos Nobre, climato-logista do Inpe, que secretrio de Polticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI e membro da coordenao do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanas Climti-cas Globais.

    O primeiro rascunho de documento da confe-rncia, divulgado h dois meses, tem 128 artigos e prdigo em boas intenes e exortaes a prticas sustentveis, mas vem sendo criticado por propor pouca coisa prtica. A questo no a conferncia, mas o day after. preciso gerar compromissos que faam a conferncia resultar em aes, diz o fsico Jos Goldemberg. Pro-duzido por uma comisso da ONU envolvendo Estados-membros, agncias internacionais, orga-nizaes no governamentais e grupos polticos, o chamado documento zero rene compromis-sos genricos, sem delimitar metas mas deve ser substitudo por uma nova verso em maro, depois de incorporar novas sugestes dos pases. Do jeito como est, o documento se parece com o da Rio+10, que ocorreu em Johanesburgo em 2002, e teve impacto baixo fora dos meios diplo-mticos, afirma Carlos Joly.

    As chances de sucesso da conferncia vo de-pender, em boa medida, da capacidade das reu-

    nies preparatrias de obter consenso em torno de indicadores utilizados para delimitar metas. A conferncia pode se tornar uma reunio sig-nificativa se passar da retrica para as mtricas, diz Jacques Marcovitch, reitor da Universidade de So Paulo entre 1997 e 2001. Ele compara o desafio da Rio+20 com o enfrentado em 2000 pela ONU ao definir os chamados objetivos do milnio, conjunto de oito metas assumidas por 191 pases signatrios no campo da erradicao da pobreza, do acesso educao, do combate doenas, entre outros. Depois de muito tempo de indeciso, chegou-se a um consenso sobre as mtricas que seriam utilizadas e se conseguiu avanar para ampliar as bases do desenvolvi-mento humano, afirma Marcovitch. Entre as mtricas, ele destaca indicadores de eficincia energtica, como o uso de energia por percentual de crescimento econmico, o uso de energia pe-lo setor privado pelo resultado obtido, o uso de gua, a gerao de dejetos. Me refiro a um con-junto de indicadores que relacionem insumos a resultados, afirma.

    Marcovitch coordenou o estudo Economia da mudana do clima no Brasil: custos e oportu-nidades, feito por um consrcio de instituies, que identificou as principais vulnerabilidades da economia e da sociedade brasileira em relao s mudanas climticas. Ele far uma palestra no workshop relacionando o estudo com os desafios da Rio+20. Carlos Joly, coordenador do Biota, tambm destaca a necessidade de estabelecer mtricas, que no campo da biodiversidade deve-riam referir-se a um patamar aceitvel de reas protegidas, como parques e reservas, de hbitats

    Deslizamento em Nova friburgo (Rj), em 2011: Rio+20 ter estratgias para reduzir vulnerabilidade s mudanas climticas

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  • 24 | mAro DE 2012

    com 26% menos de recursos materiais que em 1980, diz. O ganho de eficincia, no entanto, foi anulado pelo crescimento do PIB mundial. Ape-sar do declnio relativo, o consumo absoluto de materiais aumentou 36%. At 2020, a tendncia que o aumento na produtividade por unidade de produto seja contrabalanado por um consumo quase 50% maior de materiais, com um impacto devastador sobre o clima e sobre os ecossistemas, afirma. E na raiz deste aumento de consumo est a desigualdade, tema at aqui ausente na Rio+20. No h progresso tcnico que consiga fechar as contas enquanto houver tanta desigualdade no acesso e no consumo de recursos.

    A elasticidade do conceito d margem a di-vergncias entre o mundo desenvolvido e o em desenvolvimento. A questo da transferncia de tecnologia um dos pontos de discordncia. A economia verde depende da concepo de no-vas tecnologias. Os pases em desenvolvimen-to querem mecanismos claros que permitam o compartilhamento ou transferncia dessas tecnologias, mas esse no o foco dos pases ricos, mais preocupados com questes ambien-tais e com a proteo propriedade intelectual, diz Carlos Joly. Os pases pobres receiam que a definio de parmetros sobre a economia verde sirva de argumento para manobras protecionis-tas, com os pases ricos dizendo: no vou com-prar seu produto porque sua economia no verde, explica. O documento zero prope que a economia verde no seja usada para levantar barreiras comerciais.

    No h garantias de que os cientistas conse-guiro exercer influncia decisiva nos rumos da conferncia. Apesar do trabalho do Painel Intergovernamental das Mudanas Climticas, assegurando o perigo do aquecimento global, a

    preservados, de conectividade nos hbitats frag-mentados e de proteo a espcies endmicas, entre outras. O documento zero fala generica-mente sobre a criao de indicadores e delega a um grupo de trabalho a tarefa de defini-los, nos prximos trs anos.

    segundo Joly, o prprio conceito de econo-mia verde precisaria ser mais bem defini-do pela conferncia. Falta uma definio mais redonda e mais exata do que a economia verde e o que ela abrange, pois esse um dos temas principais, diz. O Pnuma, principal au-toridade global sobre meio ambiente da ONU, define economia verde como uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da hu-manidade e igualdade social, ao mesmo tempo que reduz significativamente riscos ambientais e escassez ecolgica. Em outras palavras, uma economia verde pode ser considerada como ten-do baixa emisso de carbono, eficiente em seu uso de recursos e socialmente inclusiva. No substituiria o conceito de desenvolvimento sus-tentvel, mas seria um caminho para atingi-lo mais adiante.

    H, porm, ceticismo sobre o potencial da eco-nomia verde de garantir um futuro sustentvel. Inovaes para melhorar a eficincia no uso dos recursos so fundamentais. Mas isso j est ocor-rendo. E, apesar dessas inovaes e dos avanos que elas propiciaram, o uso de recursos e a pres-so sobre os ecossistemas no diminuram, mas aumentaram, diz Ricardo Abramovay, profes-sor da Faculdade de Economia e Administrao (FEA), da USP. Ele observa que vem ocorrendo um descasamento entre o crescimento da produ-o e o uso de materiais e energia. Em 2002, cada unidade do PIB mundial foi produzida, em mdia,

    Queimada na Amaznia, em 2007: reduo nos ndices de desmatamento ajudou o Brasil a sediar a conferncia

    linha do tempo

    ConFernCia de estoColmo

    A Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente humano, realizada em Estocolmo, Sucia, trouxe a temtica ambiental para a agenda poltica internacional

    1972

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  • pesquisa Fapesp 193 | 25

    ltima conferncia do clima da ONU, realizada em Durban, optou por adiar a implementao de medidas j definidas como necessrias (ver Pesquisa FAPESP n 191). Num momento de crise econmica, as autoridades tendem a cui-dar dos problemas sociais mais graves e deixar o resto para depois, diz Jos Goldemberg. Car-los Nobre, do Inpe, lembra das dificuldades do experimento LBA, um programa de pesqui-sas na Amaznia, de reverter seus resultados em polticas. Passamos a refletir sobre as razes pelas quais a cincia ge-rada no conseguia influenciar a reduo do desmatamento. E, depois, quando o desmata-mento caiu, no conseguimos concluir se era resultado do programa ou do trabalho de alguns cientistas, afirma. O embaixador Rubens Ricupero v grande influncia dos cien-tistas no debate ambiental. O tema s entrou na agenda in-ternacional e passou a fazer parte da conscincia das pessoas no comeo dos anos 1970 e isso se deve quase exclusivamente ao resultado da ao dos cientistas, afirma.

    caminho para a amaznia Segundo Carlos Nobre, uma das contribuies principais da cincia brasileira envolve a capa-cidade de monitorar o desmatamento por meio de satlites, ainda que se trate de um progres-so mais tcnico do que cientfico. A queda do desmatamento ajudou a credenciar o Brasil a sediar a conferncia, lembrando que a Rio+10,

    realizada em 2002, foi sediada em Johanesbur-go, no aqui. Ele adverte que a cincia ainda no foi capaz de apontar um caminho para a Amaz-nia que ajude a agregar a riqueza dos recursos naturais de forma harmnica e permita criar oportunidades de renda a partir dos servios do ecossistema.

    No campo da agricultura, observa Nobre, a economia verde tambm exigir mu-danas profundas, capazes de torn-la mais racional no uso de gua e energia. Para-doxalmente, o Brasil poderia atingir com certa facilidade a agricultura sustentvel, mas precisa querer, diz, citando o exemplo do aa, fruta amaz-nica que se tornou um produto global nos ltimos cinco anos, cujo comrcio hoje envolve mais dinheiro do que a madei-ra. No houve uma estratgia para isso. O aa virou um ni-cho de mercado mundial, mas

    a cincia no fez nada para que isso acontecesse. Nobre ressalta que o pas tem o maior potencial do mundo em biomassa, em energia elica e so-lar. Com isso, poderia facilmente transformar seu modelo de uso de energia, o que outros pases tm mais dificuldade de fazer. Estamos mais perto, mas outros pases saram na frente na transio. Esto se mobilizando mais, afirma. No pode-mos dormir em bero esplndido. Quem sabe se em 2030 no nos tornemos o pas tropical mais sustentvel e mais limpo. Para que isso ocorra at l, a comunidade cientfica tem de acreditar nisso agora. n

    em tempos de crise econmica, as autoridades tendem a deixar a questo ambiental para depois, diz jos goldemberg

    ConFernCia rio-92

    A Cpula sobre Desenvolvimento Sustentvel, em johanesburgo, frica do Sul, reafirmou metas da Rio-92 e incluiu no debate as energias limpas e responsabilidade das empresas

    Criao do relatrio nosso Futuro Comum

    Relatrio da ONU prope o conceito de desenvolvimento sustentvel, capaz de satisfazer necessidades da gerao atual sem comprometer as futuras

    ConFernCia rio+20ConFernCia rio+10

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    A Conferncia Rio+20 aposta na economia verde, capaz de gerar empregos com baixo impacto no meio ambiente e uso eficiente dos recursos naturais

    A Rio-92 lanou documentos que passaram a nortear o debate ambiental:1 Conveno sobre Mudana do Clima2 Conveno sobre Diversidade Biolgica 3 Declarao de Princpios sobre florestas4 Declarao do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento5 Agenda 21