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Autoria Como já vimos no Evangelho segundo João e em suas cartas às igrejas da Ásia, o profeta e autor do Apocalipse (22.9), o mais enigmático e curioso livro da Bíblia é do apóstolo João, filho de Zebedeu e Salomé, uma família abastada da Galiléia (Mc 15.40,41), conhecido como “o discípulo a quem Jesus amava” (Jo 21.20-24). Talvez isso tenha deixado uma ponta de inveja em muitos falsos seguidores do cristianismo, a ponto de séculos mais tarde brotar maldosamente, da parte de alguns críticos, certas calúnias questionando a sexualidade de João. Entretanto, em sua época e por todas as igrejas da Ásia Menor, ele notabilizou-se por sua bravura e masculinidade, vindo a ser conhecido como “filho do trovão” (Mc 3.17). João teve um importante papel na obra da igreja primitiva em Jerusalém (At 3.1; 8.14; Gl 2.9). Em quatro ocasiões, o autor do Apocalipse tem o cuidado de se apresentar como João (1.1,4,9; 22.8). Judeu e versado nas Escrituras, alimentava viva e contagiante a esperança de que a verdade e a fé cristã não demorariam a ver a glória do triunfo eterno sobre as momentâneas e poderosas forças de Satanás em plena atuação no mundo. Por volta do ano 135 d.C., Justino Mártir, e logo depois Irineu (180 d.C.), citam o livro do Apocalipse em seus estudos, em alguns trechos, palavra por palavra e, indiscutivelmente, atribuem a autoria do livro sagrado a João, o apóstolo de Jesus Cristo. No século II, entretanto, um bispo africano denominado Dionísio fez um longo estudo comparativo entre a linguagem, o estilo e a teologia aplicada ao livro do Apocalipse, e as demais obras do apóstolo João, concluindo que outro João, provavelmente, João conhecido como “o Presbítero”, seria o autor desse livro profético. Embora alguns estudiosos ainda hoje sigam o pensamento de Dionísio, a grande maioria dos eruditos e biblistas da atualidade confirmam a autoria do apóstolo João para o livro das “últimas coisas”: o Apocalipse. Propósitos A palavra-chave para o início de uma correta compreensão desta obra encontra-se na abertura da carta: revelação (1.1). Essa é a melhor tradução da expressão grega Apokavluyi" (Apokálypsis) que abre o livro do “Apocalipse” e freqüentemente aparece nos textos proféticos do AT da Septuaginta (a primeira e mais importante tradução do AT em grego). Tanto que a edição da Bíblia King James de 1611, e todas as demais em língua inglesa, usam a expressão “revelation” (revelação) como título desse livro de João. A palavra “apocalipse” tornou-se um termo técnico para a igreja primitiva e passou a designar a manifestação gloriosa de Jesus Cristo, o Messias, no final dos tempos (Rm 2.5; 8.19; 1Co 1.7; 2Ts 1.7; 1Pe 1.7,13). Portanto, o “apocalipse” é a “revelação” da pessoa do Senhor Jesus Cristo como o Redentor do mundo e conquistador único e absoluto do Mal em todas as suas formas e expressões. Como na época de João, as autoridades políticas e militares dominantes estavam começando a im- por o chamado “culto de adoração ao imperador”, o apóstolo sente a necessidade vital de encorajar os cristãos a se manterem fiéis e leais a Jesus Cristo, nosso único e supremo Senhor. Por vários motivos, incluindo o cultural (o estilo literário peculiar), o místico (a obra é fruto de uma experiência de êxtase espiritual), e o da segurança (era fundamental que a mensagem chegasse às igrejas sem a censura ou o bloqueio do exército romano). Todo o processo pelo qual o Senhor dará prosseguimento à sua obra redentiva e salvadora de todas as pessoas que nele crerem, está aqui delineado sob símbolos, metáforas e ilustrações diversas. A estrutura dessa obra maravilhosa e fundamental de João está baseada em quatro grandes visões, cada uma delas estrategicamente começando com a expressão “no espírito”, e comunicando ao leitor algum aspecto da pessoa do Messias, Jesus Cristo, e da sua supremacia como Juiz do Universo. Cada visão proporciona uma cena diferente e nos conduz para um degrau superior no processo de revelação total e final da História da humanidade. O livro tem seu início marcado pela visão de cartas endereçadas pelo Senhor a sete igrejas exis- tentes no período apostólico, e que servem como exemplos de igrejas de todas as épocas. Nessas INTRODUÇÃO APOCALIPSE

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Page 1: 026 Apocalipse

Autoria Como já vimos no Evangelho segundo João e em suas cartas às igrejas da Ásia, o profeta e

autor do Apocalipse (22.9), o mais enigmático e curioso livro da Bíblia é do apóstolo João, filho de Zebedeu e Salomé, uma família abastada da Galiléia (Mc 15.40,41), conhecido como “o discípulo a quem Jesus amava” (Jo 21.20-24). Talvez isso tenha deixado uma ponta de inveja em muitos falsos seguidores do cristianismo, a ponto de séculos mais tarde brotar maldosamente, da parte de alguns críticos, certas calúnias questionando a sexualidade de João. Entretanto, em sua época e por todas as igrejas da Ásia Menor, ele notabilizou-se por sua bravura e masculinidade, vindo a ser conhecido como “filho do trovão” (Mc 3.17). João teve um importante papel na obra da igreja primitiva em Jerusalém (At 3.1; 8.14; Gl 2.9). Em quatro ocasiões, o autor do Apocalipse tem o cuidado de se apresentar como João (1.1,4,9; 22.8). Judeu e versado nas Escrituras, alimentava viva e contagiante a esperança de que a verdade e a fé cristã não demorariam a ver a glória do triunfo eterno sobre as momentâneas e poderosas forças de Satanás em plena atuação no mundo.

Por volta do ano 135 d.C., Justino Mártir, e logo depois Irineu (180 d.C.), citam o livro do Apocalipse em seus estudos, em alguns trechos, palavra por palavra e, indiscutivelmente, atribuem a autoria do livro sagrado a João, o apóstolo de Jesus Cristo.

No século II, entretanto, um bispo africano denominado Dionísio fez um longo estudo comparativo entre a linguagem, o estilo e a teologia aplicada ao livro do Apocalipse, e as demais obras do apóstolo João, concluindo que outro João, provavelmente, João conhecido como “o Presbítero”, seria o autor desse livro profético. Embora alguns estudiosos ainda hoje sigam o pensamento de Dionísio, a grande maioria dos eruditos e biblistas da atualidade confirmam a autoria do apóstolo João para o livro das “últimas coisas”: o Apocalipse.

Propósitos A palavra-chave para o início de uma correta compreensão desta obra encontra-se na abertura da

carta: revelação (1.1). Essa é a melhor tradução da expressão grega Apokavluyi" (Apokálypsis) que abre o livro do “Apocalipse” e freqüentemente aparece nos textos proféticos do AT da Septuaginta (a primeira e mais importante tradução do AT em grego). Tanto que a edição da Bíblia King James de 1611, e todas as demais em língua inglesa, usam a expressão “revelation” (revelação) como título desse livro de João. A palavra “apocalipse” tornou-se um termo técnico para a igreja primitiva e passou a designar a manifestação gloriosa de Jesus Cristo, o Messias, no final dos tempos (Rm 2.5; 8.19; 1Co 1.7; 2Ts 1.7; 1Pe 1.7,13). Portanto, o “apocalipse” é a “revelação” da pessoa do Senhor Jesus Cristo como o Redentor do mundo e conquistador único e absoluto do Mal em todas as suas formas e expressões.

Como na época de João, as autoridades políticas e militares dominantes estavam começando a im-por o chamado “culto de adoração ao imperador”, o apóstolo sente a necessidade vital de encorajar os cristãos a se manterem fiéis e leais a Jesus Cristo, nosso único e supremo Senhor.

Por vários motivos, incluindo o cultural (o estilo literário peculiar), o místico (a obra é fruto de uma experiência de êxtase espiritual), e o da segurança (era fundamental que a mensagem chegasse às igrejas sem a censura ou o bloqueio do exército romano). Todo o processo pelo qual o Senhor dará prosseguimento à sua obra redentiva e salvadora de todas as pessoas que nele crerem, está aqui delineado sob símbolos, metáforas e ilustrações diversas.

A estrutura dessa obra maravilhosa e fundamental de João está baseada em quatro grandes visões, cada uma delas estrategicamente começando com a expressão “no espírito”, e comunicando ao leitor algum aspecto da pessoa do Messias, Jesus Cristo, e da sua supremacia como Juiz do Universo. Cada visão proporciona uma cena diferente e nos conduz para um degrau superior no processo de revelação total e final da História da humanidade.

O livro tem seu início marcado pela visão de cartas endereçadas pelo Senhor a sete igrejas exis-tentes no período apostólico, e que servem como exemplos de igrejas de todas as épocas. Nessas

INTRODUÇÃO APOCALIPSE

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cartas, Deus expressa seus elogios e críticas, concluindo sempre com uma advertência ou conselho e uma promessa.

No quarto capítulo, João se sente transferido para as dimensões celestiais, e lhe é concedido o dom de contemplar os grandes eventos mundiais que acontecerão depois de certos sinais (4.1). Por meio de uma série de julgamentos seguidos, porém imprecisos quanto a épocas e duração (os selos, as trombetas e as taças), o planeta Terra e todos os seres vivos serão castigados por causa do pecado humano com sua insaciável perversão e maldade. Então, o grande Dia da ira de Deus, retido por séculos e séculos, será finalmente inaugurado.

Embora não possamos calcular quando nem quanto tempo levará todo esse processo de juízo, o próprio Senhor - por sua misericórdia - se encarregará de abreviar a dor e o sofrimento da raça humana, especialmente dos seus filhos. Nos capítulos dezessete e vinte, somos informados dos detalhes finais dessa dispensação ou tempo histórico. O glorioso retorno de Jesus Cristo acompanhado por seus exércitos celestiais (19.11-20), o estabelecimento efetivo e definitivo do Reino de Deus, logo após o processo de julgamento final do Trono Branco (20.1-15) e o início de um novo mundo (21.1-8; 21.9 – 22.5).

Contudo, no encerramento deste livro há uma palavra poderosa e alentadora de chamamento à devoção. O alerta é geral: considerando a iminente, triunfal e definitiva volta do Senhor, a santidade e o testemunho são imperiosos na vida de todos aqueles que receberam o maravilhoso dom de crer em Deus Yahweh. O livro termina com uma oração que deveria expressar o santo desejo de todos os crentes: Maranata! (uma transliteração do aramaico) que significa “Amém! Vem Senhor Jesus!” (22.20; 1Co 16.22).

Data da primeira publicação João escreveu o Apocalipse por volta do ano 93 d.C., quando os cristãos estavam começando a

viver um dos mais intensos períodos de perseguição religiosa da história; depois do terrível reinado de Nero (54-68 d.C.), e ao final da era de Domiciano (81-96 d.C.). Tito Flávio Domiciano foi filho de Vespasiano. Nascido no ano 51 d.C., na dinastia dos Flávios, começou seu império com sabedoria e elevado carisma popular, mostrou-se hábil administrador. Conquistou diversos povos e terras, inclusive toda a Bretanha. Entretanto, seu autoritarismo sempre crescente fez surgir um regime de extremo terror e repressão que atingiu o povo, a aristocracia, os filósofos, e, principalmente, os pensadores e pregadores judeus e cristãos. Sucumbiu assassinado numa conjuração promovida por seus senadores com a cumplicidade de sua esposa. O apóstolo João, sem citar nomes, faz uma profunda analogia entre a maligna estratégia política de Domiciano e os líderes mundiais despóticos e maquiavélicos de todas as épocas, especialmente com o último anticristo.

Esboço de Apocalipse 1. Prefácio e saudações apostólicas aos crentes em Cristo (1.1-8) 2. Primeira Visão: Cristo e a Igreja (1.9 – 3.22) A. Representação da presença do Sumo Sacerdote (1.9-20) B. Mensagens às sete igrejas (2.1 – 3.22) 3. Segunda Visão: Cristo e o mundo (4.1 – 16.21) A. Adoração universal ao Cordeiro e Rei (4.1 – 5.14) B. Os sete selos são rompidos (6.1-17; 8.1-5) C. Os 144.000 selados de Israel (7.1-8) D. A multidão incontável dos demais salvos (7.9-17) E. O mistério das sete trombetas (8.6 – 9.21; 11.19) F. O mistério da medição do Templo (11.1,2) G. O mistério das duas testemunhas (11.3-14) 4. Os assustadores sinais mundiais (12.1 – 14.20) A. O sinal da mulher com a coroa de doze estrelas (12.1-16) B. O sinal do enorme dragão vermelho (12.3-17) C. Israel gerou um filho que regerá o mundo (12.5,6) D. A batalha de Miguel, o arcanjo (12.7) E. A Besta que se levanta do mar (13.1-10) F. A Besta que se levanta da terra (13.11-18) 5. Cristo, o Cordeiro de Deus, no monte Sião (14.1-5)

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6. Anúncios especiais dos anjos do Senhor (14.6-20) 7. Os sete anjos derramam as sete taças do juízo (15.1 – 16.21) A. Os santos entoam hinos de louvor a Deus (15.1-4) B. Os anjos executam os sete flagelos do juízo (15.5-16.21) 8. Terceira Visão: Cristo e a Vitória absoluta (17.1 – 21.8) A. A destruição da Babilônia (17.1 – 18.24) B. A resposta que vem do céu (19.1-10) C. A prisão de Satanás por mil anos (20.1-6) D. Grandes conflitos e o juízo final (20.7-15) E. Nasce o novo céu e a nova terra (21.1-8) 9. Quarta Visão: Cristo e a eternidade (21.9 – 22.5) A. Nasce uma Nova Jerusalém (21.9-21) B. A nova vida com o Cordeiro (21.22 – 22.5) 10. Conclusão do Apocalipse (22.6-21) A. Convocação à obediência imediata (22.6-11) B. Convocação ao serviço cristão (22.12-15) C. Convocação ao Amém de Cristo (22.16-20) D. Bênção apostólica a todos os crentes (22.21)

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APOCALIPSE

Introdução e tema do livro

1 Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe concedeu para mostrar a seus

servos os acontecimentos que em breve devem se realizar, e que Ele, por intermé-dio do seu anjo, expressou ao seu servo João,1

2 o qual comprovou tudo quanto viu da Palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo.3 Bem-aventurados os que lêem, bem como os que ouvem, as palavras desta profecia e obedecem às orientações que nela estão escritas, porquanto o tempo desses eventos está às portas.2

Saudação às sete igrejas da Ásia 4 João, às sete igrejas que estão na provín-cia da Ásia: graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, e da parte do sétuplo Espírito que o assiste diante do seu trono,3

5 e de Jesus Cristo, que é a Testemunha fi el, o Primogênito dentre os mortos e o Soberano dos reis da terra. Ele, que nos ama e, mediante seu sangue, nos libertou de todos os nossos pecados,4

6 e nos constituiu reino e sacerdotes para servir a Deus, seu Pai; a Ele, portanto, sejam glória e domínio pelos séculos dos séculos. Amém!5

1 A expressão grega apokalipsis “revelação”, significa literalmente “tirar o manto”, isto é, “descobrir”, “tornar claro algo obscuro”, “trazer um mistério à luz da compreensão”. Aqui a mensagem (revelação) vem de Cristo, por meio de um “anjo intermediário” (a palavra “anjo” ocorre mais de 70 vezes neste livro), e é ministrada a João através de símbolos, que é o sentido do termo grego semainõ “significar”, “expressar” (ensinar por simbologia). Essa compreensão nos leva à chave da interpretação geral deste livro: ensinamento simbólico. João, apóstolo, e conhecido como “o discípulo amado” de Cristo, irmão mais novo do apóstolo Tiago, primo de Jesus e autor do evangelho e das epístolas que levam seu nome, foi escolhido por Deus para receber essa advertência divina e transmiti-la a todos os demais “servos” (em grego “escravos”) de Jesus em todo mundo. Sabendo que tais “eventos” estão em processo desde a assunção de Cristo aos céus e, portanto, seu glorioso retorno é certo e iminente (Jo 19.25; 21.2,20,24; Mt 27.56; Mc 3.17; 15.40; Lc 9.52-56; Ap 22.6-20).

2 Os leitores ocidentais, especialmente, devem estar atentos ao estilo apocalíptico (simbólico) desta obra, muito comum no Oriente ainda hoje. Mais de 50 vezes o número 7 aparece em todo livro, significando “inteireza”, “perfeição”. Aqui temos, por exemplo, a primeira das sete “bem-aventuranças” que aparecem em todo o livro (14.13; 16.15; 19.9; 20.6; 22.7,14). O termo grego makarios tem um sentido muito mais amplo e profundo do que a expressão “feliz” poderia comunicar. Portanto, “bem-aventurados” transmite melhor o poder e a maravilha da bênção que está reservada para todos aqueles que humildemente lerem ou ouvirem as palavras deste livro (Mt 5.3; Sl 1.1). O vocábulo “profecias” refere-se tanto à previsão de eventos futuros, quanto à proclamação da Palavra de Deus. O Senhor retarda o grande Dia do Juízo para que fique, a cada dia, mais notória a sua longanimidade (Mt 10.39; 18.11; Lc 19.10; Jo 17.12) e a incapacidade do ser humano caído (Gn 3) proporcionar à própria humanidade um mundo justo, sadio e solidário. Contudo, seu glorioso retorno pode ocorrer a qualquer momento (Tg 5.9).

3 A mensagem foi dirigida às sete igrejas, ou seja, àquelas enumeradas no v.11 e a todas as demais igrejas cristãs em todas as épocas. O termo grego ekklesia “assembléia” era usado para “convocar” as pessoas para as “reuniões” dos crentes primitivos. As igrejas localizadas na província romana da Ásia, na época de João, hoje uma região da Turquia ocidental, formavam um círculo geográfico na Ásia, com uma distância de cerca de 80 km entre uma e outra. Curiosamente, seus nomes são citados no sentido horário, partindo de Éfeso em direção ao norte até Laodicéia, a leste de Éfeso. Todas as sete igrejas receberam cópias completas do livro com a recomendação de não apenas lerem, estudarem e praticarem a Palavra de Deus, mas igualmente, de proclamarem a Salvação e o Dia do Senhor a todo o mundo. O vocábulo grego “Graça” é usado apenas duas vezes neste livro, aqui e no último versículo (22.21). No entanto, Paulo o usa mais de 100 vezes, evidenciando que vivemos a era da Graça, quando Deus está caminhando pela terra, com seu Espírito e sua Igreja, oferecendo liberalmente sua Salvação (Jn 4.2; Jo 14.27; 20.19; Gl 1.3; Ef 1.2). João parafraseia um dos títulos de Cristo para ressaltar seu poder e eternidade (Êx 3.14,15; Hb 13.8; Ap 4.5). Algumas versões trazem a expressão “os sete espíritos”, todavia, o sentido mais apropriado é compreendido ao aplicarmos a simbologia do número 7 à autoridade absoluta e perene do Espírito Santo (Is 11.2; Zc 4.2,10).

4 Jesus, por sua morte e ressurreição, recebeu o primeiro corpo celestial, “sendo Ele o primeiro dos frutos dentre aqueles que dormiram” (Sl 89.27; Dn 7.13; Mt 24.30; Mc 13.26; Lc 21.27; Zc 12.10; Jo 19.34,37; 1Co 15.20,48; Cl 1.18) e nos resgatou (libertou) pagando com o seu próprio sangue imaculado a nossa fiança (Hb 9.12).

5 Deus designou Israel como seu povo, reino e sacerdotes (Êx 19.6; Zc 3; At 1.6). Essa mesma honra foi concedida aos membros da Igreja de Cristo (1Pe 2.5,9). O Nome de Deus revela sua própria pessoa (Yahweh – Ex 3.14).

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5 APOCALIPSE 1

7 Eis que Ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram, e todas as tribos da terra se lamentarão por causa dele. Certamente, assim será. Amém!8 “Eu Sou o Alfa e o Ômega”, declara o Senhor Deus, “Aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso”.

Jesus aparece e revela a João 9 Eu, João, irmão e vosso companheiro de sofrimento, no Reino e na perseve-rança na fé em Jesus, estava na ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus.10 E, no dia do Senhor, achei-me exaltado no Espírito, quando ouvi atrás de mim uma voz forte, como o som de trombeta,6

11 que dizia: “Escreve em um livro o que vês e envia-o a estas sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Fila-délfi a e Laodicéia”.12 Voltei-me para observar quem falava comigo e, voltando-me, vi sete candela-bros de ouro13 e, entre os candelabros, alguém seme-lhante a um ser humano, vestindo uma longa túnica que chegava aos seus pés, e um cinturão de ouro ao redor do peito.7

14 Sua cabeça e seus cabelos eram bran-cos como a lã, tão brancos quanto a neve, e seus olhos, como uma chama de fogo.8

15 Seus pés reluziam como o metal, quando é refi nado em fornalha ardente, e sua voz como o som de muitas águas.9

16 Tinha em sua mão direita sete estre-las, e de sua boca saía uma espada com dois gumes afi ados. Seu rosto era como o próprio sol quando brilha em todo o seu esplendor.10

17 Assim que o admirei, cai a seus pés como se estivesse morto. Então, Ele co-locou sua mão direita sobre mim, e disse: “Não tenhas medo, Eu Sou o primeiro e o último.18 Eu Sou o que vive; estive morto, mas eis que estou vivo por toda a eternida-de! E possuo as chaves da morte e do inferno.11

19 Portanto, escreve sobre tudo o que tens visto, tanto os eventos que se referem ao presente como aqueles que sucederão depois destes.20 Este é o mistério das sete estrelas, que viste na minha mão direita, e dos sete candelabros de ouro: as estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candela-bros são as sete igrejas”.12

6 Patmos era uma pequena ilha rochosa no mar Egeu, próxima ao litoral onde hoje se situa a Turquia, cerca de 80 km de Éfeso. Era conhecida como colônia penal romana, e Eusébio, um dos “pais da Igreja”, relata que João foi liberto de Patmos pelo imperador Nerva, entre os anos 95 e 98 d.C. O Espírito do Senhor conduziu João a uma experiência de êxtase espiritual (assim como ocorreu a Pedro – At 10.10), durante a qual lhe concedeu uma visão da realidade normalmente inacessível ao ser humano. Nesta época, o domingo já era considerado pela igreja cristã primitiva como “o dia do Senhor”. Era, portanto, o dia em que os cristãos se reuniam como igreja (assembléia) e recolhiam suas ofertas para a obra (At 20.7; 1Co 16.2).

7 Referência clara a Cristo como nosso sumo sacerdote (Êx 28.4; 29.5). 8 Os cabelos brancos (cãs) representam santidade, sabedoria e a eterna deidade de Cristo, conforme a descrição do profeta

Daniel do Ancião de Dias (Dn 7.9,13; 10.6; Is 1.18). Os olhos em chamas denotam o olhar penetrante e discernidor de Cristo (4.6; Lv 19.32; Pv 16.31).

9 Outros profetas, como Ezequiel, descrevem a voz de Deus como a rebentação das ondas (Ez 1.24; 43.2). Em Patmos esse som do mar seria ainda mais aterrador ao quebrar-se contra as paredes rochosas da ilha. Mais um símbolo de autoridade e soberania de Deus (Jo 12.29).

10 Deus sustenta os anjos das igrejas (as estrelas – v.20) em sua mão direita, o que significa, posição de grande honra e res-ponsabilidade. A espada, longa e afiada dos dois lados, representa o poder e o direito que Cristo tem para julgar e executar as devidas sentenças aos impenitentes (Is 11.4; 44.6; 48.12; Hb 4.12,13).

11 No AT, há uma profusão de referências ao “Deus Vivo” (Js 3.10; Sl 42.2; 84.2), que se aplicam a Jesus Cristo, em contraste aos “deuses mortos” do paganismo. Cristo tem vida em si mesmo e possui absoluto domínio sobre todos os seres vivos e mortos. Hades, palavra grega que pode ser traduzida por “inferno”, “sepulcro”, “morte” ou “lugar dos mortos” (Mt 16.18).

12 Esse é o primeiro texto no livro que procura interpretar alguns dos símbolos usados na comunicação da profecia entregue a João (17.15,18). O termo grego angelos significa “mensageiro” e, na maioria das vezes, tem a ver com um ser celestial (anjo). Aqui, entretanto, pode ser também aplicado ao pastor ou líder espiritual da igreja, personificando a atmosfera celeste (espírito) que deve prevalecer em cada comunidade cristã.

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6APOCALIPSE 2

Carta à igreja em Éfeso

2 “Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: ‘Assim declara Aquele que tem as sete

estrelas na mão direita e anda no meio dos sete candelabros de ouro:1

2 Conheço as tuas obras, tanto o teu tra-balho árduo como a tua perseverança, e que não podes tolerar pessoas más, e que puseste à prova aqueles que a si mesmos se declaram apóstolos mas não são, e descobriu que eram impostores.2

3 Tens perseverado e suportado sofri-mentos de toda espécie por causa do meu Nome, e não te deixaste desfalecer.4 Entretanto, tenho contra ti o fato de que abandonaste o teu primeiro amor.3

5 Recorda-te, pois, de onde caíste, arre-pende-te e volta à prática das primeiras obras. Porquanto, se não te arrependeres, em breve virei contra ti e tirarei o teu candelabro do seu lugar.4

6 Tens, contudo, a teu favor que odeias as práticas dos nicolaítas, as quais Eu também odeio’.5

7 Quem tem ouvidos, compreenda o que o Espírito declara às igrejas: ‘Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus’”.6

Carta à igreja em Esmirna 8 “Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: ‘Aquele que é o primeiro e o último, que foi morto e ressuscitado, faz as seguintes afi rmações: 9 Conheço as tuas afl ições e a tua pobreza; contudo, tu és rico! Conheço a blasfêmia dos que se dizem judeus mas não são, pelo contrário, são sinagoga de Satanás. 10 Não temas nada do que estais prestes a sofrer! Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão; a fi m de que sejais provados, e sofrereis perseguição durante dez dias. Sê fi el até a morte, e Eu te darei a coroa da vida!’7

11 Aquele que tem ouvidos, compreen-da o que o Espírito revela às igrejas: ‘O vencedor de maneira alguma sofrerá a punição da segunda morte’”.8

1 Essas sete igrejas realmente existiram na Ásia Menor. Apesar disso, observa-se o retrato de uma certa seqüência de degra-dação espiritual e moral da igreja, ao longo da história, que chega até a completa apatia exemplificada pela igreja de Laodicéia. Jesus revela um padrão de advertência que se aplica aos vários perfis da igreja em todas as épocas até sua volta: elogio pelas boas atitudes; admoestação contra os erros e faltas; disciplina e correção. Éfeso era um dos principais centros urbanos do Império e jactava-se de sua cultura e religiosidade pagã, ostentando o templo de Ártemis (Diana), uma das sete maravilhas do mundo antigo.

2 A igreja primitiva cultivava o hábito de pôr à prova os mestres e suas doutrinas, a fim de verificar sua correção e fidedignidade bíblica. Haja vista a grande quantidade de místicos, judaizantes e falsos mestres que surgiram nos primeiros séculos após a ressurreição de Cristo (1Co 14.29; 1Ts 5.21; 1Jo 4.1).

3 Todas as igrejas da província da Ásia haviam experimentado grande amor por Jesus Cristo (pelo Evangelho) e cooperavam fraternalmente uns com os outros, demonstrando a plenitude e a alegria do amor cristão nos primeiros anos de suas conversões. Com o passar do tempo, a chegada das muitas provações e tentações, esse amor foi se esfriando. Um alerta para a igreja dos nossos dias.

4 O termo grego, aqui traduzido por “arrepende-te”, significa: “transforma o teu pensamento e tuas ações”. Assim também, a expressão grega: “em breve virei contra ti” prenuncia uma visitação divina, especial e urgente, para julgamento imediato.

5 A tradição indica a seita herética dos nicolaítas com Nicolau, um prosélito de Antioquia e um dos sete primeiros diáconos da igre-ja em Jerusalém (At 6.5). Na época de João, contudo, o sincretismo religioso e filosófico já era tão avassalador nas regiões da Ásia Menor, que um grupo em Pérgamo, que defendia as idéias de Balaão (vv.14,15), e alguns outros heréticos em Tiatira, que seguiam a Jezabel (v.20), aderiram ao movimento dos nicolaítas, pois que estes também estimulavam o paganismo e a libertinagem.

6 Neste livro, a expressão “vencer” se refere aos “cristãos que permanecem fiéis ao Senhor apesar das muitas provações e tentações” (15.2). Alimentar-se da “árvore da vida” (Gn 2.9; Ap 22.2) simboliza o participar da plenitude da vida eterna. O termo persa “paraíso”, incorporado ao vocabulário hebraico, significa “jardim particular” e tem a ver com a promessa de Jesus (Lc 23.43; 2Co 12.2) e a Jerusalém celestial que, em breve, nos será plenamente revelada (Ap 21.10; 22.2).

7 A “coroa” aqui não se refere à coroa de rei, mas a uma espécie de grinalda de folhas, presenteada aos “vencedores” nas batalhas e jogos olímpicos (1Co 9.25). No contexto deste livro simboliza a vida eterna (4.4; 12.3; 13.1; 14.14; 19.2; Tg 1.12; 1Pe 5.4). O vocábulo grego diabolos significa “acusador” (em hebraico: “Satanás” – Zc 3.1; Jó 1.6-12; 2.1-7), e representa a principal artimanha do Diabo contra os filhos de Deus (Jo 15.20; 2Tm 3.12).

8 Esmirna (hoje na região da Turquia) era uma colônia do Império romano. Econômica e culturalmente desenvolvida, absolutamente submissa a Roma e ao culto ao imperador. Além disso, a grande comunidade judaica que vivia na cidade era muito hostil aos cristãos. Policarpo, um dos mais famosos “pais da Igreja”, foi bispo cristão em Esmirna e martirizado por sua fé, sincera e corajosa no Senhor. A expressão “segunda morte” simboliza a condenação eterna (20.6,14; 21.8).

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7 APOCALIPSE 2

Carta à igreja em Pérgamo 12 “Ao anjo da igreja em Pérgamo es-creve: ‘Assim declara Aquele que tem a espada de dois gumes afi ados:9 13 Conheço o lugar em que vives, onde se encontra o trono de Satanás. Apesar disso, permaneces fi el ao meu Nome e não renunciaste à tua fé em mim, nem mesmo quando Antipas, minha leal tes-temunha, foi morto nessa cidade, onde Satanás habita.10

14 Tenho, contudo, contra ti algumas admoestações, porquanto tens contigo os que seguem a doutrina de Balaão, que ensinou a Balaque a armar ciladas contra os fi lhos de Israel, induzindo-os a comer alimentos sacrifi cados a ídolos e a se en-tregarem à prática da prostituição.11

15 Além disso, tens também alguns que, semelhantemente, seguem a doutrina dos nicolaítas. 16 Diante do exposto, arrepende-te! Caso contrário, logo virei contra ti e contra eles pelejarei com a espada da minha boca’. 17 Quem tem ouvidos, compreenda o que o Espírito revela às igrejas: ‘Ao vencedor proporcionarei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedra branca, e so-bre essa pedra branca estará grafado um

novo nome, o qual ninguém conhece, a não ser aquele que o recebe’”.12

Carta à igreja em Tiatira 18 “Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: ‘Assim declara o Filho de Deus, cujos olhos são como chama de fogo e os pés como bronze reluzente:13

19 Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu ministério, a tua perseve-rança, bem como sei que estais servindo muito mais agora do que no princípio.20 No entanto, tenho contra ti o fato de que toleras Jezabel, aquela mulher que se diz profetisa; porém, com seus ensinos ela induz os meus servos à imoralidade sexual e a comerem alimentos sacrifi ca-dos aos ídolos.14

21 Concedi-lhe tempo para que se ar-rependesse da sua prostituição, mas ela não quer arrepender-se.22 Portanto, eis que a farei adoecer e enviarei grande afl ição sobre aqueles que com ela comentem adultério, a não ser que se arrependam das suas más ações.23 Matarei os seguidores dessa mulher, e todas as igrejas saberão que Eu Sou aquele que sonda mentes e corações, e portanto, retribuirei a cada um de vós de acordo com as vossas obras.15

9 Pérgamo (atual Bergama), antiga capital da Ásia Menor, seu nome significa “centro defensivo ou fortaleza”. Foram os primei-ros a trabalhar o couro de cabras e ovelhas como material de base para escrita (pergaminho), dando origem ao formato (códice) que o livro tem hoje. Os dois gumes da espada simbolizam a julgamento de Deus: justo e inexorável (1.16).

10 Pérgamo acabou sendo uma espécie de centro oficial da religiosidade pagã e de adoração ao imperador de Roma. Segundo a tradição cristã, Antipas foi o primeiro mártir na Ásia, tendo sido cozido em azeite, num caldeirão de bronze, lentamente até morrer, por causa de professar publicamente sua fé em Jesus Cristo, durante o reinado de Domiciano.

11 Balaão era mestre em confundir os assuntos espirituais e morais com seus interesses materiais. Chegou a ensinar às mu-lheres midianitas a seduzir os israelitas (Nm 22 – 24; 25.1,2; 31.16; Jd 8,11). Em Apocalipse, representa perfeitamente os falsos mestres espirituais (como os gnósticos na época de João), cada vez mais abundantes pela terra; cuja ganância, corrupção e arrogância levam seus seguidores ao engano religioso, mundanismo e à perdição (At 15.20,29).

12 O “maná escondido” simboliza (Êx 16.14-15), aqui, o privilégio incomparável que todos os cristãos sinceros têm de participar da grande festa celestial e messiânica chamada “a ceia das bodas do Cordeiro” (19.9). Um alimento divino somente disponível aos crentes no Senhor, em contraposição ao que é oferecido aos seguidores de líderes da estirpe de Balaão (Sl 78.24). Os juízes da época costumavam usar uma pedra branca para votar em benefício do réu. Na antigüidade, os escravos que conseguiam a alforria, ganhavam uma pedrinha branca como “atestado” de sua liberdade. Aqui, o simbolismo sugere um “ingresso”, patrocina-do por Cristo, para a grandiosa solenidade das suas bodas com a Igreja. A salvação é uma convicção pessoal, verdadeiramente conhecida apenas entre o crente e o Senhor (19.12).

13 Tiatira (atual Akhisar) foi fundada por Seleuco (311 – 280 a.C) com o objetivo de ser um posto militar avançado. Lídia, vendedora de púrpura, era de Tiatira (At 16.14).

14 O nome de Jezabel é lembrado aqui como símbolo de uma mulher de destaque na sociedade, mas que subvertia a fidelidade a Deus, manipulando pessoas mediante a permissividade moral e a incorporação de práticas pagãs. A idolatria e o materialismo eram as mais expressivas tentações em Tiatira, um importante centro comercial da Ásia (1Rs 16.31; 2Rs 9.22-37).

15 A palavra grega original “seguidores” pode ser facilmente confundida com a expressão literal “filhos”, cujo sentido aqui tem a ver com “discípulos”. Jezabel é a mãe simbólica de todos os que seguem doutrinas espúrias e libertinas. O Senhor sonda,

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8APOCALIPSE 2, 3

24 Todavia, aos demais que estão em Tia-tira e que não seguem a doutrina dessa mulher, e não aprenderam, como eles costumam falar, os profundos segredos de Satanás, afi rmo: ‘Não colocarei outra carga sobre vós!16

25 Tão-somente apegai-vos com fi rmeza ao que tendes, até que Eu venha.26 Ao vencedor, aquele que permanecer nas minhas obras até o fi m, Eu lhe darei autoridade sobre as nações.27 Ele as pastoreará com cetro de ferro e as reduzirá a pedaços como se fossem vasos de barro.28 Eu lhe concederei autoridade seme-lhante a que recebi de meu Pai. Também lhe darei a estrela da manhã’.29 Aquele que tem ouvidos, compreenda o que o Espírito revela às igrejas!”17

Carta à igreja em Sardes

3 “Ao anjo da igreja em Sardes escreve: ‘Assim declara Aquele que tem os sete

espíritos de Deus e as estrelas: Conheço as tuas obras, que tens fama de estar vivo, mas de fato, estás morto.1

2 Sê alerta! E fortalece o que ainda resta e estava prestes a morrer; porque não

tenho encontrado integridade em tuas obras diante do meu Deus. 3 Portanto, lembra-te daquilo que tens recebido e ouvido; obedece e arrepende-te. Porquanto se não estiveres vigilante, virei como um ladrão, e tu não saberás a que hora virei contra ti.4 Contudo, tens em Sardes algumas pes-soas que não contaminaram suas vestes; elas caminharão comigo, vestidas de branco, pois são dignas.5 Deste modo, o vencedor andará trajado com vestes brancas, e de modo algum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, reconhecerei o seu nome na presença do meu Pai e dos seus an-jos.2

6 Aquele que tem ouvidos, compreenda o que o Espírito revela às igrejas.’”

Carta à igreja em Filadélfi a 7 “Ao anjo da igreja em Filadélfi a escreve: ‘Assim declara Aquele que é santo e ver-dadeiro, que possui a chave de Davi. O que Ele abre ninguém consegue fechar, e o que Ele fecha ninguém pode abrir:3 8 Conheço as tuas obras. Eis que tenho colocado diante de ti uma porta aberta

literalmente no original grego “os rins”, “as entranhas”. Isso significa que Deus conhece as nossas vontades (fomes) mais íntimas, e o centro das nossas decisões. Atualmente, costuma-se fazer referência ao “coração” para explicar os sentimentos, e à “mente” para a razão (Sl 7.9; 62.12; Pv 24.12; Jr 11.20; 17.10). As obras são conseqüências da fé (Mt 16.27; Rm 2.6; Ap 18.6; 20.12,13; 22.12).

16 O gnosticismo ensinava que, para derrotar Satanás e suas hostes, se fazia necessário entrar na fortaleza do Inimigo e ter profunda experiência com o mal. Esse princípio é observado até hoje por diversas seitas heréticas em todo mundo, especialmente por meio de iniciações e ensinos secretos e esotéricos.

17 O uso literal do verbo grego “pastoreará” comunica o sentido de “governar”; e a expressão “com cetro de ferro”, longe de uma alusão despótica, enfatiza o “governo poderoso” de Cristo (12.5; 19.15). A expressão “estrela da manhã” refere-se simbolicamente também à presença da pessoa do próprio Senhor Jesus entre os crentes, especialmente durante as grandes tribulações mundiais, prenunciando o glorioso retorno de Cristo e todas as bênçãos que aguardam os cristãos sinceros, justos e vencedores (Dn 12.3).

Capítulo 31 Sardes (atual Sart) foi capital do antigo reino da Lídia. Cidade próspera e orgulhosa de suas indústrias de lã e tinturaria, era

o centro de culto à deusa Cibele, que atraía seguidores para uma religião mística, adornada por rituais sensuais e libertinos. O ministério da igreja cristã local tinha um conceito muito favorável por causa do seu início notável. Entretanto, Deus percebe o vírus da apatia espiritual (descrença) corroendo o íntimo da fé e da prática cristã naqueles crentes (Mt 24.43,44; Lc 12.39-40).

2 Tanto os judeus (Êx 32.32,33; Sl 69.28; Dn 12.1; Mt 10.32; Lc 12.8; Ap 20.12) quanto os romanos conservavam um livro de registro de todos os cidadãos que formavam seus reinos e, portanto, tinham direitos e deveres a zelar. Se, por infringir a lei, um cidadão tivesse seu nome apagado do livro, significaria a total perda de cidadania. Para os judeus e cristãos, o registro no Livro da Vida é divino, e quem possui a vida eterna tem a graça da perseverança durante sua caminhada terrestre (Mt 24.13; Fp 4.3; Hb 2.3).

3 Filadélfia (atual Alashehir), cujo nome significa “amor fraternal”, era uma cidade de grande importância comercial e, estrategi-camente localizada, como porta de entrada do elevado planalto central da província romana na Ásia Menor. O Senhor afirma que Cristo é quem tem todo o poder de admitir ou excluir pessoas do Reino. Os judeus acreditavam que apenas Israel tinha o privilégio

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9 APOCALIPSE 3

que ninguém consegue fechar; tens pou-ca força, mas obedeceste a minha Palavra e não negaste o meu Nome.4

9 Farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus e não são, mas mentem; sim, farei que venham adorar prostrados aos teus pés e saibam que Eu te amo!10 Porque deste atenção à minha exortação quanto a suportar os sofrimentos com paciência, Eu, igualmente, te livrarei da hora da tribulação que virá sobre o mun-do todo, para pôr à prova os que habitam sobre a terra.5

11 Eis que venho sem demora! Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.12 Farei do vencedor uma coluna no tem-plo do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu da parte do meu Deus; e igualmente escreverei nele o meu novo Nome.6

13 Aquele que tem ouvidos, compreenda o que o Espírito revela às igrejas’”.

Carta à igreja em Laodicéia 14 “Ao anjo em Laodicéia escreve: ‘Assim

declara o Amém, a testemunha fi el e ver-dadeira, o Soberano da criação de Deus.7

15 Conheço as tuas obras, sei que não és frio nem quente. Antes fosses frio ou quente!16 E, por este motivo, porque és morto, não és frio nem quente, estou a ponto de vomitar-te da minha boca.8 17 E ainda dizes: ‘Estou rico, conquistei muitas riquezas e não preciso de mais nada’. Contudo, não reconheces que és miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu!18 Portanto, ofereço-te este conselho: Ad-quire de mim ouro refi nado no fogo, a fi m de que te enriqueças; roupas brancas, para que possas cobrir sua vergonhosa nudez; e compra o melhor colírio para que, ao ungir os teus olhos, possas enxergar cla-ramente.9

19 Eu repreendo e corrijo a todos quantos amo: sê pois diligente e arrepende-te.20 Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, en-trarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo.10

21 Ao vencedor, Eu lhe concederei que

de ingressar no Reino de Deus. O poder das chaves é a autoridade exclusiva outorgada a Jesus Cristo, o Messias davídico (v.9; 5.5; 22.16; Is 22.22; 60.14; Mt 16.18-19).

4 O contexto desta carta indica que Cristo estabeleceu uma porta de entrada para todos os que nele crêem, com acesso abso-luto aos privilégios do Reino de Deus e do serviço cristão. Uma entrada que ninguém pode bloquear (1Co 16.9).

5 Uma alusão às “dores messiânicas”, a seqüência de sofrimentos e perseguições que sobrevirão ao povo de Deus antes do glorioso retorno do Senhor Jesus (Is 60.14; Dn 12.1-13; Mc 13.14; 2Ts 2.1-12). Grandes provações atingirão os crentes persegui-dos pelo anticristo, enquanto os não-cristãos (pagãos), definidos neste livro como “os que habitam sobre a terra”, sofrerão os julgamentos divinos por sua incredulidade (13.7-8; 8.1 – 9.19; 16.1-20).

6 Os judeus estabeleciam estreito paralelo entre o nome e o caráter de uma pessoa. O novo nome de Cristo simboliza tudo o que é por causa da sua obra salvadora e remidora a favor da humanidade. Evento que se dará na segunda vinda do Senhor (2.7; 7.15; 14.1; 21.2; 22.4).

7 Laodicéia foi a cidade mais rica da região da Frígia na época do Império Romano, e ficava próxima à atual Denizli. Era conhecida em todo o mundo antigo por seus estabelecimentos bancários, escola de medicina e indústria têxtil. Contudo, a cidade sofria com sérios problemas de abastecimento de água potável. A expressão “Soberano” significa literalmente no original grego “o primeiro no tempo”: origem ou princípio de tudo (Jo 1.14; Pv 8.22; 2Co 5.17; Cl 1.15-18). O “Deus do Amém” se refere ao “Deus da Verdade”, como designação pessoal; refere-se a quem é perfeitamente crível, leal e fidedigno (1.5; 19.11; Is 65.16).

8 Em Hierápolis, cidade de repouso, adjacente a Laodicéia, havia muitas fontes de água térmicas e medicinais, porém impró-prias para saciar a sede dos viajantes. A igreja cristã local não estava proporcionando água da vida para os peregrinos sedentos, nem cura e conforto para os espiritualmente enfermos.

9 O texto se refere aos três grandes orgulhos de Laodicéia: riquezas financeiras, a ponto de rejeitar a ajuda de Roma quando foi praticamente destruída por um terremoto em 60 d.C., próspera indústria têxtil e grande avanço na medicina, tanto que lá desen-volveram a fórmula de um colírio muito apreciado na época. Contudo, nem todo o progresso econômico, cultural ou científico do mundo podem ser comparados com a riqueza do verdadeiro relacionamento com Deus (Os 12.8; Mt 6.19-20; Lc 1.53; 12.21).

10 Embora tradicionalmente aplicado aos incrédulos, o contexto dessa passagem revela uma admoestação explícita e direta aos crentes que se iludem com suas próprias conquistas ou com uma religiosidade formal, e abandonam o sincero relacionamen-to com Cristo e o dedicado amor ao próximo. O Senhor sempre disciplina seus filhos com amor (Jó 5.17; Sl 94.12; Pv 3.11,12;

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10APOCALIPSE 3, 4

se assente comigo no meu trono, assim como Eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono.22 Aquele que tem ouvidos, compreenda o que o Espírito revela às igrejas!’”

A visão da majestade de Deus

4 Depois destes acontecimentos, ob-servei uma porta no céu, e a primeira

voz que eu ouvira, voz como de trombe-ta, falando comigo, chamou-me: “Sobe até aqui, e Eu te revelarei os eventos que devem ocorrer depois destes”.1

2 Imediatamente, me vi absolutamente tomado pelo Espírito, e diante de mim estava um trono no céu e nele estava assentado alguém.2

3 Aquele, pois, que estava assentado ti-nha a aparência que se assemelhava às pedras lapidadas de diamante e sardônio. Ao redor do trono, reluzia um arco-íris parecendo uma esmeralda.3

4 Também ao redor do trono havia vinte

e quatro outros tronos; vi assentados so-bre eles vinte e quatro anciãos, vestidos de branco e com coroas de ouro sobre a cabeça.4

5 Do trono emanavam relâmpagos, vozes e trovões. Perante Ele estavam acesas sete lâmpadas de fogo, que são os sete espíritos de Deus.5 6 E diante do trono, ainda, havia algo se-melhante a um mar de vidro, trans-lúcido como o cristal. No centro, circundando o trono, havia quatro seres viventes cobertos de olhos, tanto na frente como nas costas.67 O primeiro aparentava um leão, o segun-do era semelhante a um touro, o terceiro tinha um semblante como o de homem, o quarto parecia uma águia em pleno vôo.7

8 Cada um desses seres tinha seis asas e eram repletos de olhos, tanto ao redor como por baixo das asas. Dia e noite proclamam sem cessar: “Santo, santo, santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, Aquele que era, que é e que há de vir!”8

1Co 11.32; Hb 12.5-11). Todos quantos perseveram na fé, estes são os vencedores e participarão do majestoso trono de Cristo (2.7; 20.4-6; Mt 19.28; 2Tm 2.12).

1 As passagens de 4.1 a 5.14 proporcionam ao leitor uma introdução para o longo trecho de 6 a 20. Na sala do trono celestial, o Cordeiro inicia a derradeira batalha contra as forças diabólicas, em cujo final lançará definitivamente o Diabo e seus seguidores no lago do fogo eterno. O Senhor usa com João o mesmo tipo de convocação que usou com Moisés no monte Sinai, a fim de receber as orientações de Deus (Êx 19.20.24).

2 João foi elevado a um estado raro de consciência espiritual alterada, em que seus sentidos foram totalmente arrebatados pela plenitude do Espírito, a fim de que pudesse ver, ouvir e sentir vívidamente tudo o quanto lhe seria comunicado por Deus (1.10; 17.3; 21.10). O estilo literário, retratar Deus governando em seu trono celestial é uma forma clássica e tradicional do AT (Sl 47.8).

3 Deus é plena luz, verdade e santidade, e não pode ser contemplado diretamente por nenhum ser humano (1Tm 6.16); por isso, se apresenta como o brilho intenso das pedras preciosas (os tons multicoloridos refletidos pelo diamante puro ou averme-lhados do jaspe, e castanhos dos cristais de calcedônia) combinando com todas as matizes de verde, como que produzidos pelo prisma da luz através dos mais puros cristais de esmeralda (Ez 1.26-28; Ap 10.1).

4 Os vinte e quatro anciãos representam os doze patriarcas de Israel (as doze tribos) e os doze apóstolos, simbolizando desse modo a cifra completa e a unidade de todos os salvos de todas as eras (Ef 2.11-22). Há outros estudiosos cristãos que entendem que essa é uma representação dos anjos que servem a Deus no governo do Universo (Sl 89.7; Is 24.23; Êx 24.11; Ap 4.9-11; 5.5-14; 7.11-17; 11.16-18; 14.3; 19.4).

5 Os relâmpagos, trovões, grandes sinais no céu e as lâmpadas simbolizam o magnífico poder e a majestade eterna do Senhor, assim como vem se revelando à humanidade, desde a própria Criação, o Dilúvio e as grandes manifestações do amor de Deus para com seu povo no deserto do Sinai (Êx 19.16-19; Sl 18.12-15; 77.18; Ez 1.13). Na visão do Apocalipse, esses fenômenos estão sempre associados a algum acontecimento relevante para a humanidade e que se passa nas amplas e maravilhosas dependências do templo celestial (8.5; 11.19; 16.18). A expressão “os sete espíritos” é apenas uma maneira simbólica de mostrar o poder e a majestade perfeita do Espírito de Deus, uma vez que o sete é sempre o número da perfeição e da completeza (1.4).

6 A origem dessas expressões figuradas, como “mar de vidro”, está no AT (Gn 1.7; Êx 24.10; Ez 1.22), que também indicava a bacia do templo celestial (11.19; 14.15-17; 15.5-8; 16.1,17), cujo equivalente no templo terreno era chamado de mar (1Rs 7.23-25; 2Rs 16.17; 2Cr 4.2,4,15,39; Jr 27.19). Os quatro seres pertencem a uma ordem elevada de criaturas angelicais, cuja missão é zelar pelo trono celestial enquanto coordenam uma sistemática e interminável proclamação de louvor e adoração a Deus. Com seus muitos olhos, nada escapa à atenção e ao cuidado deles.

7 O profeta Ezequiel teve uma visão semelhante (Ez 1.6-10; 10.14). 8 Aqui vemos uma expansão do próprio nome de Deus (Êx 3.14,15), com o objetivo de enfatizar que os atributos de Deus

(próprios de seu nome), como seu poder e santidade, se estendem da eternidade passada à eternidade futura, sem oscilação ou qualquer possibilidade de cessar (1.4; Is 6.2,3; 41.4; Ez 1.18; 10.12).

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11 APOCALIPSE 4, 5

9 Toda vez que os seres viventes excla-mam glória, honra e graças Àquele que está assentado no trono e que vive para todo sempre, 10 os vinte e quatro anciãos se prostram diante daquele que está assentado no trono e adoram Àquele que vive para todo o sempre. Eles lançam suas coroas diante do trono e declaram: 11 “Nosso Senhor e nosso Deus, tu és dig-no de receber a glória, a honra e o poder, porquanto tu és o Criador de tudo e, por tua soberana vontade, tudo o que há, foi criado e veio a existir”.

A visão do livro do Cordeiro

5 Então, observei na mão direita da-quele que está assentado no trono um

livro em forma de rolo, escrito de ambos os lados e selado com sete selos.1 2 Vi, também, um anjo forte, que procla-mava em grande voz: “Quem é digno de abrir o livro e de lhe romper os selos?”.3 No entanto, não havia ninguém, nem no céu, nem na terra nem debaixo da terra, que pudesse abrir o livro, ou ao menos olhar para ele.2

4 E eu chorava muito, porque não se

encontrou ninguém que fosse digno de abrir o livro e de olhar para ele. 5 Então, um dos anciãos consolou-me, afi rmando: “Não chores, pois o Leão da tribo de Judá, a raíz de Davi, venceu para abrir o livro e romper os sete selos”.3

6 Nisso, aconteceu que reparei, no meio do trono e dos quatro seres viventes e en-tre os anciãos, em pé, um Cordeiro que parecia estar morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra.4

7 Ele veio e pegou o livro da mão direita de quem estava assentado no trono.8 E assim que o recebeu, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos pros-traram-se diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos;9 e eles cantavam um cântico novo: “Tu és digno de tomar o livro e de abrir seus selos, porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação.5

10 Tu os constituíste reino e sacerdotes para o nosso Deus; e assim reinarão sobre a terra”.6

1 O livro estava na forma de um pergaminho enrolado, escrito de ambos os lados (1.11; 10.2-10). Assim como as tábuas de pedra da Lei no AT (Êx 32.15; Ez 2.9,10), os setes selos revelam a inviolabilidade de um testamento de grande importância e valor (Is 29.11; Dn 12.4). Os nobres da época costumavam escrever suas últimas vontades e heranças em um documento que era lacrado na presença de sete testemunhas. Após a morte do testador, suas determinações eram lidas em público e executadas à risca (1Pe 1.4).

2 A expressão original grega (céu, terra e debaixo da terra) não objetiva dividir o Universo nessas três partes. Era uma forma convencional de referir-se à universalidade da proclamação (Êx 20.4; Fp 2.10).

3 Vários títulos messiânicos são mencionados nessa passagem, vinculando a obra de Cristo às profecias do AT (Gn 49.8-10). O Leão da tribo de Judá simboliza o poder e a majestade do Messias. No AT, Judá é chamado de “leãozinho” e lhe é prometido o governo até o glorioso retorno do Messias (Ez 21.27). Raíz de Davi é outro título profetizado para o Messias e Rei ideal (Is 11.1,10; Rm 15.12).

4 João emprega uma palavra especial para “Cordeiro” (29 vezes neste livro, e uma vez em Jo 21.15), revelando o sacrifício vicário de Cristo (Is 53.7; Zc 4.10; Jo 1.29) e seu pleno poder (17.14). Na milenar tradição judaica, o “chifre” é símbolo do poder e da “luz da glória” (Dt 33.17). O quarto grande animal que aparece na profecia de Daniel tem dez chifres. Entretanto, são os “sete chifres” que representam o pleno poder e glória absoluta do Messias (Dn 7.7,20; 8.3,5; Ap 4.5).

5 No NT, o Cordeiro representa o único e grande líder da nova humanidade (Hb 2.9-11). Os Salmos conclamam todo povo de Deus a cantar novos louvores a Cristo, o Messias (Sl 33.3; 98.1; 141.2; 144.9; 149.1). Enquanto o capítulo 4 termina com a canção da Criação, o quinto se encerra com os cânticos da Nova Criação, que reúne os salvos de todas as nações e culturas. A morte e ressurreição de Jesus Cristo é a base da redenção, restauração, criação e exaltação eterna do Filho de Deus: o Vencedor e seu povo (Mt 20.28; 1Co 6.20; 7.23; 1Pe 1.18-19; Ap 14.3-4). É para a glória de Deus-Pai que Cristo redime homens e mulheres ao longo da história (Ef 1.1-14).

6 Hoje em dia, a Igreja de Cristo passa por uma fase de lutas e descrédito por parte do mundo. Entretanto, na Nova Ordem ou Nova Jerusalém, os crentes serão constituídos “reino e sacerdotes” e reinarão sobre toda a terra (Êx 19.6; Dn 7.10; 1.6; 2.26,27; 20.4,6; 22.5).

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12APOCALIPSE 5, 6

11 Então reparei e também ouvi a voz de grande multidão de anjos ao redor do trono e dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhares de milhares e de milhões de milhões.12 Eles proclamavam em alta voz: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber a plenitude do poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!”.13 Em seguida, ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há, que exclamavam: “Ao que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o domínio pelos séculos dos séculos!”.14 E os quatro seres viventes bradavam: “Amém!”, e os anciãos igualmente pros-traram-se e o adoraram.7

O Cordeiro abre o Primeiro Selo

6 Observei quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos. Em seguida,

ouvi um dos seres viventes exclamar com voz de trovão: “Vem!”.1

2 Olhei, e diante de mim estava um cava-lo branco e o seu cavaleiro empunhava um arco, e foi-lhe outorgada uma coroa; e ele cavalgava altaneiramente, como vencedor, determinado a vencer.2

O segundo selo3 Quando Ele abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente bradar: “Vem!”.4 Então, partiu outra cavalgadura, um cavalo vermelho; e ao seu cavaleiro, foi concedido o poder de tirar a paz da terra, de modo que os homens matassem uns aos outros. E lhes foi entregue também uma grande espada.3

O terceiro selo 5 Quando o Cordeiro abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente convocar: “Vem!”. Então, reparei e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro ostentava na mão uma balança.6 Então, ouvi o que parecia uma voz grave, vinda dentre os quatro seres viventes, exclamando: “Um quilo de trigo por um dinheiro, e três quilos de cevada também por um dinheiro, mas não destruas o azeite e o vinho!”.4

O quarto selo7 Quando Ele abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente clamar: “Vem!”. 8 Olhei, e diante de mim estava um cavalo amarelo pálido. Seu cavaleiro chamava-se Morte e o lugar dos mortos

7 Deus Pai entronizado na glória eterna, e o Deus-Cordeiro-Filho, que é o Messias (Cristo em grego), são de igual modo adorados (Fp 2.9-11) e seus “sete atributos” (sua perfeição) evidenciados (5.12; 7.12), o que demonstra uma vez mais a absoluta unidade do Pai com o Filho.

Capítulo 61 Há três séries bem definidas de julgamentos que se sucederão em grupos de sete elementos: os sete selos (6.1-16; 8.1-5), as

sete trombetas (8.1 – 9.21) e as sete taças (cap. 16). 2 Os quatro cavaleiros do apocalipse fazem parte de um contexto simbólico que tem suas raízes no AT (Zc 1.8-17; 6.1-8). Há vá-

rias interpretações possíveis quanto ao significado das cores, missões e personalidades dos cavaleiros (assim como para o livro todo), mas o comitê internacional de tradução da KJA considera que o cavalo branco representa o Espírito de Cristo, que através da sua Igreja conquistará milhões de almas (vitórias) para o Reino. A cor branca no NT, e especialmente no Apocalipse, sempre indica ou está relacionada com a pessoa ou a obra de Jesus Cristo, cuja vitória – no final – será plena e perene (19.11-16).

3 O cavalo e o cavaleiro vermelhos simbolizam os grandes e horríveis derramamentos de sangue provocados principalmente pelas guerras. A espada grande (em grego hromfaia) é uma metáfora de todo tipo de arma ou poder que visa o extermínio humano (Zc 1.8; 6.2; Mt 10.34).

4 O cavalo preto representa os períodos trágicos de extrema necessidade de alimentos que, normalmente, se seguem aos tempos de guerra e graves conflitos políticos (Zc 6.2,6). Os processos econômicos mundiais não são solidários aos pobres e, portanto, quanto maior a escassez maiores os preços. Um dinheiro (em grego denarion) era uma moeda de prata, que, na época de João, era capaz de comprar até quinze vezes a alimentação diária de um homem e, normalmente, era o salário que um soldado ou operário braçal ganhava por dia a serviço ao Império romano. Todavia, nos dias de “fome”, aqui previstos, o equivalente monetário a um denário não será suficiente para alimentar uma família pequena todos os dias, mesmo considerando uma balança com alimentos (cevada) menos nutritivos do que o trigo. Entretanto, o Senhor coloca limites à destruição promovida pelo cavaleiro negro: as raízes da oliveira e da videira são fortes e profundas, e resistem aos períodos de seca e privações.

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13 APOCALIPSE 6, 7

o seguia de perto. Foi-lhes dado o poder sobre um quarto de toda a terra, a fi m de que matassem à espada, pela fome, por meio da pestilência e pelos animais selvagens da terra.5

O quinto selo9 Quando Ele abriu o quinto selo, con-templei debaixo do altar as almas daque-les que haviam sido mortos por causa da Palavra de Deus e do testemunho que proclamaram.6

10 Eles exclamavam com grande voz: “Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, esperarás para julgar os que habitam em toda a terra e vingar o nosso sangue?”.11 Então, para cada um deles foi entregue uma vestidura branca, e foi-lhes orien-tado que aguardassem ainda um pouco mais, até que se completasse o número dos seus irmãos que, como eles, foram servos e que, da mesma forma, também deveriam ser mortos.7

O sexto selo 12 Vi, quando Ele abriu o sexto selo. Então, aconteceu um enorme terremoto. O sol

fi cou escurecido como coberto com roupa de luto, e toda a lua se tornou vermelha como se estivesse ensangüentada;8

13 e as estrelas do fi rmamento caíram so-bre a terra, como fi gos verdes derrubados da fi gueira por um terrível vendaval. 14 E, assim, o céu foi recolhido como um pergaminho quando se enrola. En-tão, todas as montanhas e ilhas foram removidas de seus lugares.9

15 E aconteceu que os reis da terra, os príncipes, os generais, os ricos, os pode-rosos; todos enfi m, escravos e livres, bus-caram refugiar-se em cavernas e entre as rochas das montanhas.16 Então, passaram a berrar para as mon-tanhas e rochedos: “Caiam sobre nós e ocultem-nos da face daquele que se as-senta no trono e da ira do Cordeiro,10

17 porquanto, eis que é chegado o grande Dia da ira deles; e quem poderá sobre-viver?”.

Os 144.000 israelitas selados...

7 Depois desses eventos, observei quatro anjos em pé nos quatro cantos da ter-

ra, com a missão de reter os quatro ventos

5 A expressão grega original chlõros descreve um tom de cor “amarelo esverdeado” (pálido), próprio da aparência de pessoas portadoras de graves doenças, o que simboliza a pestilência, epidemias e a morte. Aqui a “Morte” é personificada (1Co 15.26; Rm 5.14,17; 6.9), e o Hades, expressão grega, derivada do termo hebraico Sheol (v.1.18; 20.13,14; Mt 16.18), que pode significar “sepulcro” ou “inferno”, em alguns casos. Tem aqui melhor tradução como “lugar dos mortos”, pois no NT é companheiro da morte (1Co 15.55; Ap 6.8; 20.13-14). Os soldados romanos lançaram milhares de cristãos e pessoas consideradas criminosas às feras na arena, em espetáculo público. Estes são alguns dos sinais previstos por Cristo como indicação do seu breve retorno (Mt 24.6-28).

6 No ritual do sacrifício do AT, o sangue do animal oferecido ao Senhor era derramado na base do altar (Êx 29.12; Lv 4.7). 7 O símbolo da justiça e pureza de Cristo é atribuído também aos cristãos martirizados, como se o sangue e a dor desses

homens e mulheres fossem um sacrifício aos pés do altar de Deus (Fp 2.17; 2Tm 4.6, em paralelo a Lv 4.7). É o sangue dos servos do Senhor que reivindicam o julgamento de Deus sobre os ímpios e toda a forma de injustiça sobre a terra. Há um número dos eleitos (justificados) que se completará naturalmente por conversão a Cristo antes de seu glorioso retorno (Rm 11.12). Embora não seja possível determinar com exatidão que número é esse, o que João nos profetiza é que haverá muitos outros mártires até a volta do Senhor.

8 Terremotos sempre fizeram parte da expressão do castigo divino sobre a humanidade (Êx 19.18; Is 2.19; 13.10; Ez 32.7; Ag 2.6). Os terremotos que sinalizarão as colossais alterações físicas da terra e prenunciarão o glorioso retorno de Cristo, o final dos tempos e a transformação total da criação, terão magnitudes inimagináveis. Toda a descrição do sexto selo está relacionada aos fenômenos cósmicos profetizados pelo próprio Senhor Jesus (Mt 24.29; Mc 13.24-25; Lc 21.25). O apóstolo Pedro, igualmente, cita o profeta Joel em seu sermão no Pentecostes, como uma indicação da iminência histórica desses eventos (At 2.20; Jl 2.31).

9 Um dos últimos sinais que antecederão ao glorioso retorno do Senhor ocorrerá no firmamento. As pessoas olharão para o céu escuro e verão algo como uma intensa e prolongada chuva de estrelas cadentes. Os figos que surgem no inverno são soprados facilmente das árvores sem folhas pelos fortes ventos desta estação (Mc 13.25,26). Um outro fenômeno (em geral, relatados nas Escrituras sob o ponto de vista do observador leigo e não de cientistas especializados) será o desaparecimento do céu (a abóbada atmosférica azul que observamos hoje em torno da terra), desmantelamento das cordilheiras e montanhas em todo o mundo, assim como o desaparecimento ou anexação ao continente de todas as ilhas (16.20; 20.11; Is 34.4; Jr 4.24; Na 1.5).

10 No Dia do Senhor, até mesmo os generais experientes e destemidos (na época de João um general romano comandava uma coorte, cerca de mil soldados guerreiros) se acuarão desesperados nas cavernas (comuns na região da Palestina), reconhecerão

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14APOCALIPSE 7

da terra e evitar que qualquer massa de ar fosse soprada sobre a terra, o mar ou em qualquer árvore.1

2 Então, vi um outro anjo subindo do Oriente, tendo o selo do Deus vivo. Ele bradou com voz grave aos quatro an-jos a quem havia sido concedido poder para produzir destruição na terra e no mar:3 “Não danifi queis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que selemos a testa dos servos do nosso Deus!”.4 Então me foi revelado número dos que foram selados: “cento e quarenta e qua-tro mil, de todas as tribos de Israel.3

5 Da tribo de Judá, foram selados doze mil, da tribo de Rúben; doze mil, da tribo de Gade; doze mil,4

6 da tribo de Aser; doze mil, da tribo de

Naftali; doze mil, da tribo de Manassés; doze mil,7 da tribo de Simeão; doze mil, da tribo de Levi; doze mil, da tribo de Issacar; doze mil, 8 da tribo de Zebulom; doze mil, da tribo de José; doze mil, da tribo de Benjamim; doze mil”.5

...e a enorme multidão de cristãos9 Em seguida, olhei, e diante de mim descortinava-se uma grande multidão tão vasta que ninguém podia contar, formada por pessoas de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam em pé, diante do trono do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas, empunhando fo-lhas de palmeira.6

10 E proclamavam com grande voz: “A

que o Cordeiro (o Jesus sacrificado) e Deus são a mesma pessoa, e temerão a ira do julgamento divino (5.6; 19.15; Is 2.10; Sf 1.14-18; Os 10.8; Jl 2.11; Na 1.6; Ml 3.2; Rm 1.18).

Capítulo 71 Este capítulo é uma espécie de parênteses entre a narrativa dos seis primeiros selos e a visão do selo final. Essa mesma

característica ocorre na seqüência descritiva da visão das trombetas (10.1 – 11.13). O capítulo sete nos revela duas visões espe-cíficas: o selo dos 144.000 fiéis de Israel (v. 1-8) e a vasta multidão dos crentes comemorando a salvação e a vitória do Cordeiro (v. 9-17). Os quatro cantos da terra simbolizam os quatro pontos cardeais da bússola (Zc 6.5). Deus controla a história, assim como todos os fenômenos físicos e meteorológicos em função do seu plano em Cristo para a plena e eterna redenção do seu povo (judeus e cristãos).

2 Na antigüidade, os documentos importantes e os que circulavam entre os nobres eram enrolados ou dobrados, amarrados, e uma massa especial de argila era aplicada sobre o nó. Assim, o remetente carimbava a massa que se endurecia, com seu anel ou sinete (com a marca da família), que autenticava e protegia aquele conteúdo. O capítulo 7 deixa claro que o Nome de Jesus Cristo é o lacre (selo) de propriedade de Deus, registrado na fronte de todos os que nele crêem sinceramente. O objetivo desta marca espiritual é proteger o povo de Deus dos terríveis juízos que acometerão toda a terra. Assim como aconteceu no Egito, para a libertação do povo de Deus da escravatura (Êx 12.29-36), o profeta Ezequiel adverte Israel quanto à destruição de Jerusalém e de todos os não selados por Deus (o que de fato ocorreu, por meio da invasão babilônica, seis anos após a proclamação dessa profecia). Na época de Ezequiel, o Senhor marcou os crentes sinceros com a última letra do antigo alfabeto hebraico (tav), que era escrita de modo fenício, semelhante a um “X” ou sinal de “cruz” (Ez 9.4).

3 Algumas das seitas heréticas, que pregam que 144.000 é o número exato dos salvos, já contam com um número maior do que este de adeptos. Os livros proféticos e apocalípticos da Bíblia são alvos de várias interpretações, e é necessário muito discernimento espiritual, visão integral e histórica das Escrituras, conhecimento das línguas originais e a indispensável graça divina para uma interpretação adequada e saudável. Contudo, as mensagens vitais de cada livro podem ser compreendidas sem dificuldade, restando à investigação acurada os aspectos menos fundamentais e detalhes instigantes. Quanto a essa passagem, por exemplo, duas posições teológicas são defendidas por estudiosos cristãos sérios: 1) Alguns vêem aqui uma referência aos membros das tribos judaicas, o remanescente israelita fiel da “grande tribulação” (v.14). 2) Um outro grupo defende o simbolismo deste trecho, e o interpretam como sendo a expressão alegórica do número que indica completeza (144.000 é o equivalente a mil dúzias de doze, o que seria uma espécie de hipérbole numerológica). Simboliza todos os cristãos que permanecem fiéis ao Senhor mesmo vivendo num mundo secularizado, hedonista e materialista, e também inclui os judeus que ainda serão salvos por Cristo e que não se dobrarão aos ditames do anticristo durante a “grande tribulação”.

4 A tribo de Judá é listada antes de Rúben, seu irmão mais velho, devido ao fato do Cristo (o Messias, em hebraico) pertencer à linhagem da tribo de Judá (Gn 37.21).

5 Manassés era a mais pobre e frágil das tribos de José (Efraim e Manassés). Entretanto, aqui é mencionada para completar as doze tribos (Jz 6), considerando que Dã fora excluída (assim como Judas Iscariotes que foi infiel e teve de ser substituído no grupo dos Doze), por causa de sua avareza e idolatria (Jz 18.30). Uma antiga tradição judaica prevê que o último anticristo virá da tribo de Dã.

6 As pessoas que fazem parte do povo de Deus na terra se reunirão no grande palácio celestial, diante do trono do Cordeiro. Essa multidão incontável é composta de todos os salvos de todas as partes da terra. Essa visão pode referir-se aos mesmos

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15 APOCALIPSE 7, 8

Salvação pertence ao nosso Deus, que se assenta no trono e ao Cordeiro!”.7

11 Todos os anjos que se encontravam em pé ao redor do trono dos anciãos e dos quatro seres viventes prostraram-se diante do trono com o rosto em terra e adoraram a Deus,12 exclamando: “Amém! Louvor e glória, sabedoria, ação de graças, sejam ao nosso Deus para todo o sempre. Amém!”.8

13 Então um dos anciãos me indagou: “Quem são e de onde vieram todos estes que estão vestidos com túnicas brancas?”.14 E eu lhe respondi: “Ó meu Senhor, tu o sabes”. Então ele afi rmou: “Estes são os que vieram da grande tribulação e lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro.9 15 Por este motivo, eles estão perante o trono de Deus e o servem dia e noite em

seu santuário; e Aquele que está assenta-do no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo.10

16 Nunca mais passarão fome, jamais terão sede. Não os afl igirá o sol, nem tampouco qualquer mormaço,11

17 pois o Cordeiro que está no centro do trono será o seu Pastor; Ele os conduzirá às fontes das águas da vida, e Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima”.12

O sétimo selo e o incensário

8 Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo houve absoluto silêncio nos céus

por aproximadamente meia hora.1

2 Então, observei os sete anjos que se encontram em pé perante Deus, e lhes foram entregues sete trombetas.2

3 Aproximou-se um outro anjo e se colocou em pé junto ao altar, portando um incensário de ouro. A ele foi entregue

144.000 (se considerarmos esse número como um símbolo da vasta multidão dos eleitos), que, após a “grande tribulação” dos últimos tempos (v.14), celebram e louvam ao Senhor por tão grande salvação e pela magnífica vitória sobre as perseguições, provações (tentações) e a própria morte (vv. 16,17). A Igreja de Cristo é apresentada em Apocalipse e ao longo de todo o NT, como o verdadeiro “Israel de Deus” (o povo do Senhor), judeus e não-judeus (Gl 6.16). Sendo assim, é possível compreender que as duas multidões que aparecem neste capítulo se referem a uma só “inumerável multidão”, vista em dois momentos diferentes: antes (1.3-8) e depois da “última tribulação” (Lc 21.16,18). As folhas de palmeira sendo agitadas e as vestiduras brancas são fortes símbolos da vitória perpétua (Lv 23.40; Jo 12.13).

7 A salvação (no original hebraico tem o duplo sentido de cura e livramento) é propriedade exclusiva de Deus, que ele, graciosa e soberanamente, oferece a todos que a recebem (Gn 49.18; Jn 2.9; Jo 1.12).

8 A seqüência de sete atributos enfatiza o louvor completo e perfeito (5.12). 9 A expressão “grande tribulação” (Dn 12.1; Mt 24.21; Mc 13.19) aponta para os terríveis constrangimentos éticos, morais e toda

espécie de hostilidades que o anticristo e seus comandados deflagrarão contra os judeus e cristãos fiéis, pouco antes do glorioso retorno de Cristo. Todavia, é importante observar que uma crescente perseguição aos crentes vem ocorrendo, em alternância de intensidade e método, desde os tempos de João.

10 Outro detalhe significativo a ser considerado está ligado ao termo original grego “templo”, que, nas dezesseis vezes em que aparece neste livro, significa o “santuário interior” e não o recinto maior. Ou seja, “o lugar santo onde habita o Espírito de Deus”, o qual simboliza o antigo “tabernáculo”, onde resplandecia a “presença do Senhor” no deserto (Lv 26.11-13).

11 Aqui estão em foco aqueles que sofreram os graves momentos de provação e tribulação provocados pelo anticristo (Is 49.10), mas não abdicaram de sua fé sincera no Senhor. Purificaram-se diariamente no sangue do Cordeiro e souberam honrar seus corpos como a própria habitação do Espírito Santo. Agora chegaram às suas moradas no Reino de Deus, conforme a promessa de Cristo, e estão perante seu trono para adorá-lo eternamente (Jo 14.1-6). O vocábulo original grego latreuõ comunica um tipo de serviço espiritual (trabalho) que realmente agrada a Deus (v.14; Rm 1.9; At 26.7; Hb 12.28).

12 Sl 23.1,2; Ez 34.23; Is 25.8. Capítulo 81 João observa que em todo o céu há uma pausa marcante e atônita antes da série final de punições que sobrevirão ao planeta.

Os julgamentos de Deus serão tão severos e terríveis que os próprios habitantes do céu ficam pasmos e comovidos com o castigo dos ímpios. O tempo no céu não é cronometrado como na terra, contudo João procura nos comunicar a sensação que sente ao presenciar esse momentum de absoluta apreensão no Universo.

2 Na época de João e especialmente no AT, usava-se o som forte e marcante das trombetas para anunciar acontecimentos de grande importância nacional. A reverberação dos variados toques podia alcançar quilômetros de distância e servia para orientar as estratégias bélicas dos generais e seus exércitos nas batalhas. As sete trombetas (caps. 8, 9 e 11.15-19) proclamam uma série ainda mais severa de açoites contra a incredulidade, porém não mais terrível e devastadora como as reservadas nas “taças” (cap. 16).

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16APOCALIPSE 8

grande quantidade de incenso para ofe-recer com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro diante do trono.3

4 E da mão do anjo elevou-se na presença de Deus a fumaça do incenso juntamente com as orações dos santos.5 Então, o anjo tomou o incensário, en-cheu-o com o fogo do altar e lançou-o sobre a terra; e aconteceram trovões, vozes, relâmpagos e um terremoto.

A visão das sete trombetas 6 E aconteceu que os sete anjos que estavam com as sete trombetas prepara-ram-se para tocá-las.

A primeira trombeta 7 O primeiro anjo tocou a sua trombeta, e ocorreu grande precipitação de granizo e fogo misturado com sangue, os quais foram lançados sobre a terra. E, assim, um terço de toda a terra foi queimado, e também um terço das árvores e toda a relva verde existente.4

A segunda trombeta8 O segundo anjo tocou a sua trombeta, e algo como uma enorme montanha ar-dendo em chamas foi arremessada sobre o mar. Por esse motivo, um terço do mar transformou-se em sangue,5

9 e morreu a terça parte das criaturas que vivem no mar, e um terço de todas as embarcações foram destruídas.

A terceira trombeta 10 O terceiro anjo tocou a sua trombeta, e precipitou do céu uma grande estrela, ardendo em chamas como tocha, sobre um terço dos rios e das fontes de águas da terra.11 E o nome dessa estrela é Absinto; por-tanto, um terço de toda a água potável da terra se tornou amarga, e multidões morreram pela ação nefasta das águas que foram envenenadas.6

A quarta trombeta12 O quarto anjo tocou a sua trombeta e um terço do sol foi ferido, bem como a terça parte da lua e das estrelas, de ma-neira que um terço deles se escureceu completamente. Assim, um terço do dia fi cou sem luz e também um terço da noite.7

13 Enquanto eu admirava esses aconteci-mentos, ouvi uma águia que planava pelo meio do céu grasnindo em alta voz: “Ai! Ai! Ai dos que habitam sobre a terra, por causa dos toques das trombetas que estão prestes a serem entoados pelos três próximos anjos!”.8

3 O incensário, no AT, era uma espécie de panela repleta de carvão vegetal em brasa, usada para queimar o incenso na presen-ça do Senhor, como um símbolo da fragrância e certeza de que todas as nossas orações sobem até o Pai, que sempre nos ouve atentamente e nos educa em seu amor (Êx 27.3; 30.1; 1Rs 7.50; Mt 7.9; Rm 8.26-27). A expressão grega original, usada aqui por João, nos permite apreender que o “incenso”, verdadeiro e espiritual, não é a fumaça perfumada que sobe quando queimada, mas sim as próprias “orações”, quando evaporam dos nossos corações em brasa (Lv 16.12; Ez 10.2; Ap 5.8; 11.19; 16.18).

4 Há uma analogia simbólica entre a primeira trombeta e a quarta praga do Egito (Êx 9.13-25; Ez 38.22). As frações empregadas por João não devem ser tomadas literalmente, pois indicam apenas que a punição anunciada pelas trombetas ainda não está completa nem conclusiva (vs. 8,9,10,11,12).

5 Outra similaridade com as pragas do Egito (Êx 7.20,21): João observa um juízo escatológico, não derivado da poluição natural, mas de grandes erupções vulcânicas em vários pontos do planeta em um mesmo “momentum”.

6 Absinto é uma planta de sabor desagradável e intensamente amargo, embora não letal. Aqui serve de metáfora para comunicar a degradação da humanidade, bem como uma possível contaminação radioativa de grande parte da água potável do planeta (6.13; 9.1; Êx 15.25; Pv 5.3,4; Jr 9.15; 23.15; Is 14.12; Lm 3.19).

7 Na nona praga do Egito, densas trevas cobriram a terra durante três dias (Êx 10.21-23; Is 13.10; Ez 32.7; Jl 2.10). 8 A expressão original grega e apocalíptica “os que habitam sobre a terra” refere-se aos “ímpios e incrédulos” que resistem à

convocação do Senhor para a salvação (6.10; 9.4). Até este ponto da narrativa de João, os julgamentos divinos haviam tocado somente a natureza inanimada do planeta; agora, contudo, os três “Ais” proclamados pela águia anunciam os três castigos finais, e cada pessoa incrédula sobre a face da terra experimentará a ira de Deus contra o pecado. Os sete juízos referentes às “taças” dos capítulos 15 e 16 podem ser compreendidos como uma expressão do terceiro “Ai”.

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17 APOCALIPSE 9

A quinta trombeta

9 Então, o quinto anjo soou a trombeta, e observei uma estrela que havia

caído do céu sobre a terra. Àquela estrela foi entregue a chave do poço do Abismo.1

2 Assim que ela abriu o poço do Abismo, subiu dele fumaça como a de uma colos-sal fornalha. O sol e o céu escureceram com a fuligem que saía do Abismo. 3 Desta fuligem saíram gafanhotos que vieram sobre a terra e lhes foi concedido poder como o dos escorpiões da terra.2

4 Contudo, eles receberam ordens para não causar dano nem à relva da terra, nem a qualquer planta ou árvore, mas tão-somente àqueles que não haviam re-cebido o selo de Deus em suas frontes.3

5 Não lhes foi concedido poder para matá-los, mas para provocar-lhes tor-mentos durante cinco meses. E a afl ição que eles sofreram era como a causada pela picada do escorpião.6 Assim, naqueles dias as pessoas pro-curarão a morte, todavia não a encon-trarão; desejarão morrer, mas a morte fugirá deles.4

7 O aspecto dos gafanhotos fazia lem-brar cavalos preparados para a batalha.

Tinham sobre a cabeça algo como coroas de ouro e o semblante deles era seme-lhante ao rosto humano. 8 Os cabelos deles eram parecidos com os cabelos de mulher e os dentes como os de leão. 9 Possuíam couraças como armaduras de ferro e o som das suas asas assemelhava-se ao barulho de muitos cavalos e carrua-gens correndo em direção à batalha.5

10 Tinham também caudas e ferrões como de escorpiões, e em suas caudas carrega-vam a capacidade de provocar tormentos à humanidade por cinco meses. 11 E havia um rei sobre eles, o anjo do Abismo, cujo nome em hebraico é Aba-dom e, em grego, Apoliom.6

12 Portanto, o primeiro dos “Ais” já passou; contudo, outros dois ainda estão por vir.

A sexta trombeta 13 Então, o sexto anjo fez soar a sua trom-beta, e ouvi uma voz que se projetava dos quatro ângulos do altar de ouro que se encontra na presença de Deus,7

14 dizendo ao sexto anjo que empunhava a trombeta: “Solta os quatro anjos que se encontram atados junto ao grande rio Eufrates!”.8

1 Aqui, a “estrela caída” refere-se simbolicamente à figura de “um anjo caído” (20.1,3). Em 8.10, a “estrela” tem a ver com uma seqüência de distúrbios cósmicos. A expressão grega “Abismo” transmite o sentido de algo “muito profundo” ou “trevas sem fim”, onde estão presos os espíritos rebeldes, reservados para o Dia do Juízo (1Pe 3.19; Jd 6). Expressão usada na Septuaginta (versão grega do AT) para traduzir um termo hebraico que se refere às “profundezas primevas” (Gn 1.2; 7.11; Pv 8.28).

2 Similaridade com a oitava praga do Egito (Êx 10.1-20; Jl 2.4-10). 3 Os gafanhotos do Apocalipse têm uma missão especial (no primeiro dos “Ais” – 7.3), não atacam os crentes nem devoram

seu alimento favorito (as folhas verdes), assim como ocorreu com os filhos de Israel durante as pragas no Egito (Êx 8.22; 9.4,26; 10.23; 11.7).

4 Cinco meses é o ciclo normal de vida dos gafanhotos orientais; também é o intervalo da estação seca na região (primavera até final do verão), quando se espera a invasão dos enxames de gafanhotos famintos trazidos pelas correntes de ar. Pode-se imaginar também o período de maior influência nefasta de um ataque nuclear. Um poeta romano do séc. I a.C., chamado Cornélio Galo, escreveu: “Pior do que qualquer ferimento ou dor é a vontade de morrer sem poder” (10.8; Jó 3.21; Jl 1.6; 2.4; Lc 23.30).

5 Esses “gafanhotos” são identificados com a astúcia dos seres inteligentes e diabólicos. Vestem malhas de ferro ou de algum material semelhante, que protegem pontos vitais de sua estrutura física. Os “cabelos de mulher” simbolizam possíveis antenas, e os “dentes como os de leão”, a crueldade com que obedecem às ordens militares do Maligno (Jl 2.5).

6 Em hebraico, o nome “Abadom” significa “Destruidor”, traduzido como “Abismo” em Jó 28. Aqui, a tradução vem da expres-são original grega “Apoliom”, cujo sentido é o mesmo e está de acordo com a missão deste grupo de soldados submissos a Satanás (o anjo caído). A “estrela cadente” que abre o “Abismo” é expressão que aparece oito vezes no NT em grego, sete das quais neste livro (v.1; Pv 15.11).

7 Esses “ângulos” eram projeções finais como chifres, que ficavam nos quatro cantos do altar de ouro no AT (8.3-5; Êx 27.2; 30.1-3). A tradição judaica ensinava que, nos últimos dias, aqueles que buscassem desesperadamente a salvação poderiam se agarrar a esses ganchos (1Rs 1.50,51; 2.28; Am 3.14).

8 Na época de Salomão, a nação de Israel se estendia às fronteiras deste rio, o mais longo da Ásia ocidental (cerca de 2736 km). O Eufrates separava as terras israelitas e seus principais inimigos históricos do leste (Is 8.5-8): Assíria e Babilônia (região em que

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18APOCALIPSE 9, 10

15 Foram, então, soltos os quatro anjos que se achavam preparados para aquele exato momento, dia, mês e ano, a fi m de que matassem um terço de toda a humanidade.16 O número dos cavaleiros que forma-vam os exércitos era de vinte mil vezes dez milhares, de acordo com o número que ouvi.9

17 Os cavaleiros e as montarias que vi em minha visão tinham esta aparência: as suas armaduras eram vermelhas como o fogo, azuis como o jacinto e amarelas como o enxofre. A cabeça das montarias parecia a cabeça de um leão, e de suas bo-cas lançavam fogo, fumaça e enxofre. 18 E, por intermédio desses três elemen-tos de destruição: fogo, fumaça e enxofre eram cuspidos de suas bocas, foi morta uma terça parte de toda a humanidade.19 O poder desses cavalos estava na sua boca e na sua cauda, porquanto as suas caudas eram como cobras: possuíam ca-beças com as quais feriam as pessoas. 20 O restante da humanidade que não morreu por causa desses fl agelos, nem mesmo diante disso se arrependeu das más obras de suas mãos, deixando de adorar

os demônios e os ídolos de ouro, prata, bronze, pedra e madeira; ídolos que não conseguem ver, nem ouvir, nem andar,10

21 da mesma forma, não se arrepende-ram dos assassinatos cometidos, das suas feitiçarias, da sua perversão sexual e de todas as formas de apropriação indébita.

O anjo e o pequeno livro do céu

10 Depois avistei outro anjo podero-so que descia dos céus. Estava ele

envolto numa nuvem, e havia um arco-íris sobre sua cabeça. Sua face era como a luz do sol e suas pernas como colunas de fogo.12 Ele segurava um livrinho que estava desenrolado em sua mão. Então, colocou o pé direito sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra,2 3 e bradou com grande voz, como um forte rugido de leão. Assim que ele er-gueu seu clamor, os sete trovões soaram suas poderosas vozes.3 4 E quando os trovões terminaram de fazer ecoar suas palavras, eu já ia escrever, quando ouvi uma voz do céu que ordenava: “Guarda o que os sete trovões disseram e não escrevas!”.4

atualmente se encontram a Síria e o Iraque). Na época de João, o Eufrates era o limite oriental do Império romano. Esses “quatro anjos ou mensageiros” simbolizam uma espécie de generais militares comandados pelos cavaleiros demoníacos (v.15-19).

9 Mesmo o resultado desta expressão matemática, 200 milhões é apenas um número simbólico para evocar uma ordem de grandeza incalculável (Sl 68.17; Dn 7.10; Ap 5.11). Aqui fica bem claro que a visão não se refere a grandes insetos, seres alados ou simples montarias e seus cavaleiros, mas a grandes engenhos de guerra e destruição em massa. Aviões, helicópteros, submarinos atômicos, mísseis inteligentes com ogivas nucleares, armas químicas e outros equipamentos bélicos de alta tecnologia, hoje sob controle de Israel e das grandes potências militares da terra, podem perfeitamente realizar todas essas catástrofes e deflagrar um grande e derradeiro conflito mundial. A visão de João enfatiza Deus agindo segundo seu exato cronograma, com datas e horas marcadas. À medida que os eventos históricos evoluem para etapas mais dramáticas e desumanas, o Senhor continua a oferecer sua Salvação às pessoas em todo o planeta e a clamar por um arrependimento que teima em não ocorrer (vv.20,21).

10 Sl 115.4-7; 135.15-17; Dn 5.4 Capítulo 101 Considerando que o livramento dos israelitas da escravidão no Egito (o Êxodo) serve de imagem e exemplo do que ocorre no

tempo apocalíptico, especialmente nessa parte central da visão de João, podemos compreender que as “colunas de fogo” do AT (Êx 13.21,22), que guiavam e protegiam o povo de Deus durante a viagem pelo deserto, representam as fortes e flamejantes “pernas” do poderoso anjo do Senhor, que conduzirá os crentes pelo deserto das provações e da dor até nossa eterna Canaã (nome de origem fenícia, que em hebraico antigo kena‘an, tem o sentido de “povo da terra”). Esse anjo, retratado em todo o seu esplendor e poder, é uma representação viva (embaixador) do próprio Cristo ressuscitado e triunfante (5.2). O arco-íris simboliza a imensa bondade, paciência e misericórdia divinas, especialmente quando se trata da Aliança de Deus com seu povo (Gn 9.8-17).

2 A palavra grega original, aqui traduzida por “livrinho” não é a mesma que “livro”, a qual aparece em 5.1, pois aquele primeiro “rolo” tinha gravado um conteúdo que precisava ser comunicado (profetizado) às nações, enquanto esse “rolo menor” deveria ser, literalmente no grego, “engolido” (Ez 2.9; 3.33).

3 Os sete trovões simbolizam o perfeito juízo de Deus sobre todas as nações e as punições divinas reservadas para todos quantos dispensarem a graça salvadora de Cristo e os conselhos paternos do Senhor (8.5; 11.9; 16.18).

4 Aqui a expressão literal em grego é “lacra com o selo”. As profecias têm seu tempo certo de proclamação no cronograma de Deus. O que os trovões profetizaram, especificamente, se refere aos últimos dias, quando será revelado (20.10; Dn 8.26; 12.4,9).

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19 APOCALIPSE 10, 11

5 O anjo, que vi em pé sobre o mar e a terra, levantou a mão direita em direção ao céu,5

6 e jurou, por Aquele que vive pelos sécu-los dos séculos e que criou o céu, a terra e tudo o que neles existe, exclamando: “Eis que não haverá mais demora!”.6

7 E, que nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para soar a sua trombeta, o mistério de Deus se comple-tará, exatamente da maneira como Ele anunciou aos seus servos, os profetas.7 8 Então, a voz que eu havia ouvido do céu falou comigo uma vez mais, ordenando: “Vai e recebe o rolo aberto que está na mão do anjo que se encontra em pé so-bre o mar e sobre a terra”.8

9 Em seguida, me aproximei do anjo e lhe roguei que me desse o livrinho, ao que Ele me declarou: “Pega-o e coma-o; ele lhe será amargo no estômago, todavia doce como o mel na boca”.9

10 Peguei o livrinho da mão do anjo e o comi depressa e, de fato, ele era doce

como o mel ao paladar; contudo, assim que o engoli, meu estômago fi cou muito amargo. 11 Então, recebi a seguinte orientação: “É necessário que profetizes novamente a respeito de muitos outros povos, nações, línguas e reis”.

Surgem as duas testemunhas

11 Então, foi-me entregue um caniço semelhante a uma vara de medir,

e também recebi a seguinte orientação: “Prepara-te e mede o templo de Deus, o seu altar e conta os adoradores que lá estão reunidos;1

2 contudo, não consideres o pátio exte-rior; não tomes suas medidas, pois ele foi entregue aos que não são judeus. Eles pisarão a cidade santa durante quarenta e dois meses.2

3 Concederei poder às minhas duas tes-temunhas, a fi m de que profetizem du-rante duzentos e sessenta dias em trajes escuros de pano de saco”.3

5 O ato de levantar a mão direita em direção ao céu era um símbolo da honestidade e responsabilidade, diante de Deus, dos juramentos (Gn 14.22,23; Dt 32.40).

6 Aos mártires de 6.9-11, foi solicitado que tivessem mais um pouco de paciência e repousassem mais algum tempo. Agora, entretanto, acabou-se o tempo extra de misericórdia e paciência para que a humanidade reconsiderasse sua decisão de apatia ou revolta contra o Evangelho, e o juízo deve começar em breve (Dn 12.1,7; Mc 13.19).

7 O mistério revelado aqui é que Deus conquistou plena vitória sobre as forças do mal e reinará com os seus por toda a eterni-dade (11.15; Dn 2.29,30; Rm 16.25,26).

8 As profecias apresentadas a seguir (vv.8-11) têm grande similaridade com as visões concedidas por Deus ao profeta Ezequiel (Ez 2.8 – 3.3).

9 João foi revestido da unção profética para proclamar aos judeus e não-judeus as boas novas de salvação do Senhor Jesus, o Cristo (o Messias, em hebraico). Deveria falar sobre os terríveis castigos que aguardam todos quantos rejeitam o sacrifício vicário do Cordeiro e deixam de receber o selo (a marca) do Espírito de Deus. Por isso, é imperioso que o servo do Senhor continue profetizando (v.11), especialmente além-mar, para todos os povos e culturas que desconhecem a Palavra da Salvação. O profeta deve digerir a Palavra profética que é doce (libertadora) para todos os que são salvos (Sl 119.103), mas amarga para os que se perdem (11.1-13; Jr 15.16; Ez 3.3-9).

Capítulo 111 O vocábulo grego original naos “santuário” refere-se à parte central do templo e incluía o chamado Lugar Santo e o Santo dos

Santos. O caniço era uma espécie de bambu fino, abundante às margens do rio Jordão, que por ser longo (podia chegar a mais de seis metros de altura), reto e leve servia bem como uma grande régua (Ez 40.3; Zc 2.1,2).

2 O conhecido pátio dos gentios era um espaço (cerca de 26 acres) concedido aos não-judeus nos limites do templo. Quarenta e dois meses é equivalente a 1260 dias (v.3), e à expressão apocalíptica: “um tempo, dois tempos e metade de um tempo”, ou seja, são equivalentes a três anos e meio, ou ainda, metade de uma semana completa de anos (Dn 7.25; 9.27; 12.7,14; Lc 21.24). Formas de se referir a um tempo curto de aflição irrefreável. Embora os anticristos do passado, como o tirano sírio Antíoco Epifânio, que assolou o povo e profanou o templo de Israel por volta do ano 166 a.C.; ou, em pleno séc.XX, o ditador Adolf Hitler (1889-1945), na Segunda Guerra Mundial, outros mensageiros de Satanás tentarão exterminar o povo de Deus (Mt 24.15,22) em todas as épocas e nações, até que surjam as iniqüidades e perseguições lideradas pelo último e mais terrível dos anticristos. Todavia, por breve tempo e sob supervisão de Deus que protegerá todos os seus filhos.

3 As testemunhas são profetas e pregadores que lembrarão Elias e Moisés. Essas pessoas se vestirão de forma austera, como os profetas do passado, que se vestiam com roupas grosseiras, feitas de pêlos negros de bode ou camelo. Eram trajes vestidos por longo tempo, em sinal de luto ou arrependimento (2Rs 1.8; Jl 1.13; Jn 3.5,6; Mt 11.21).

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20APOCALIPSE 11

4 Estas testemunhas simbolizam as oliveiras e os dois candelabros que per-manecem fi rmes na presença do Senhor na terra.4

5 Se alguém tentar causar-lhes algum dano, da boca deles sairá fogo que devo-rará os seus inimigos. Portanto, é assim que deve ser destruída qualquer pessoa que intentar contra suas vidas.5

6 Estes homens têm a capacidade de trancar o céu, de maneira que não chova durante o tempo em que estiverem profetizando, e têm o poder de transfor-mar a água em sangue e ferir a terra com toda espécie de fl agelos, tantas vezes quantas ordenarem.6

7 Quando eles tiverem, então, concluído o testemunho que devem pregar, a Besta que surge do Abismo os atacará e preva-lecendo contra eles, os ferirá de morte.7 8 Os seus cadáveres fi carão expostos na rua principal da grande cidade, que simbolicamente é denominada Sodoma e Egito, onde, da mesma forma, foi cruci-fi cado o seu Senhor.9 Durante três dias e meio, gente de todos os povos, tribos, línguas e nações contemplarão seus corpos mortos, e não permitirão que sejam sepultados. 10 Os habitantes da terra muito se alegra-rão pelo que aconteceu com as testemu-nhas e festejarão, mandando presentes uns

aos outros, porquanto esses dois profetas tinham afl igido os que vivem na terra.11 Entretanto, depois de três dias e meio, Deus soprou em seus corpos o espírito da vida e eles tornaram a fi car em pé, e um enorme pavor tomou conta de todos quantos os viram.8 12 Então, eles ouviram uma grave voz que se projetava dos céus e lhes ordenou: “Subi vós para cá”. E elevaram-se ao céu numa nuvem, e os seus inimigos as ob-servavam atônitos. 13 Naquele momento, houve um grande terremoto e desabou a décima parte da cidade. Sete mil pessoas morreram nesse terremoto, e os sobreviventes fi caram aterrorizados e expressaram glória ao Deus dos céus.14 Assim, transcorreu o segundo dos “Ais” e o terceiro virá sem demora!

A sétima trombeta 15 Então, o sétimo anjo fez soar sua trombeta e aconteceram no céu fortes vozes que proclamavam: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo e Ele reinará pelos séculos dos séculos!”.9

16 Os vinte e quatro anciãos que estavam assentados em seus tronos diante de Deus prostraram-se sobre seus rostos e adoraram a Deus,

4 A linguagem metafórica aqui ressalta que o poder necessário para um testemunho eficaz é concedido exclusivamente pelo Espírito Santo (Zc 4).

5 Esta passagem lembra os antigos confrontos entre o profeta Elias e os mensageiros de Acazias (2Rs 1.10-12). 6 Mais uma analogia à vida, ministério e poder dos profetas: Elias, que determinou uma seca para a glória de Deus, em sua

época (1Rs 17.1; Lc 4.25; Tg 1.17), e Moisés, que teve que lançar essa praga sobre os Egípcios durante sua batalha espiritual para que o povo de Deus alcançasse a liberdade e pudesse partir para a terra da Promessa (Êx 7.17-21). As testemunhas lançarão também poderosos açoites de Deus sobre a humanidade incrédula, com a esperança de quebrar a renitência do pecado, e que alguns recebam a graça salvadora de Cristo em seus corações petrificados, e se tornem “pedras vivas” (2Ts 2.3-11; 1Pe 2.1-10).

7 Esta é a primeira menção feita ao monstro diabólico (a Besta do Apocalipse) e principal inimigo do povo de Deus nos últimos dias (Dn 7.3,20,25). Esse representante poderoso de Satanás, que procede das profundas trevas do Abismo (9.1), terá permissão de Deus para perseguir e submeter as testemunhas de Cristo ao mesmo destino do seu Senhor. A Besta é a mesma personifica-ção do Diabo que surge do mar (13.1-7) e será montada por outra personagem demoníaca, a Grande Prostituta (17.1,8).

8 Para vários e sérios teólogos cristãos, esta passagem é uma profecia quanto ao fenômeno chamado de “Arrebatamento” dos crentes em Cristo (em inglês, Rapture), que ocorrerá com o glorioso retorno de Jesus Cristo, e o encontro definitivo com sua Igreja (16.15; 1Ts 4.17; 5.2). De qualquer maneira, não há dúvidas de que um terrível sentimento de medo e desespero sobrevirá aos “habitantes da terra” (os incrédulos – v.10) ao observarem a ressurreição e ascensão das testemunhas ao céu (Ez 37.5,10; Is 1.9-10), assim como ocorreu com Cristo (Lc 24.50,51; At 1.9-11).

9 A sétima trombeta assinala definitivamente a chegada dos últimos dias da humanidade e da terra como são constituídas hoje (10.6), e fecha o parêntese histórico que teve início em 10.1. A mensagem e os eventos profetizados por intermédio desse anjo, ao tocar sua trombeta, consistem nos sete castigos anunciados no cap. 16 (Sl 115.13; Dn 7.14,27).

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21 APOCALIPSE 11, 12

17 E declaravam: “Graças te damos, Se-nhor Deus, Todo-Poderoso, que és e que eras, porquanto assumiste o teu grande poder e começaste a reinar.18 De fato, as nações se enfureceram; chegou, todavia, a tua ira. Eis que é chegado o tempo de julgares os mortos e de recompensares os teus servos, os profetas, os teus santos e os que temem o teu Nome, tanto aos pequenos como aos grandes, e a hora de destruíres os que assolam a terra”.19 Nesse momento, se abriu o santuário de Deus nos céus, e ali foi observada a arca da Aliança. Houve relâmpagos, vo-zes, trovões, um grande terremoto e um forte temporal de granizo.10

A Mulher agraciada e o Dragão

12 Eis, então, que surge nos céus um portentoso sinal: uma mulher

vestida do sol, com a lua debaixo dos

seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça.1

2 Ela estava grávida e gritava de afl ição, pois estava para dar à luz.2

3 De repente, apareceu um outro sinal no céu: um poderoso Dragão vermelho com sete cabeças e dez chifres, possuindo sobre as cabeças sete coroas.3

4 Sua cauda arrastou consigo uma terça parte das estrelas do céu, as quais arre-messou sobre a terra. O Dragão posicio-nou-se diante da mulher que estava para dar à luz, a fi m de devorar o seu fi lho assim que nascesse. 5 Todavia, nasceu-lhe um fi lho, um ho-mem, que reinará sobre todas as nações com cetro de ferro. E o seu fi lho foi arreba-tado para junto de Deus e de seu trono.46 A mulher fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido preparado por Deus, para que ali a sustentassem pelo período de mil duzentos e sessenta dias.5

10 João tem uma visão do próprio santuário celestial, e nada é escondido ao olhar do profeta. A antiga Arca da Aliança, uma caixa de madeira feita de acácia (Dt 10.1,2), simboliza a presença gloriosa de Deus entre o seu povo amado. Entretanto, esse símbolo sagrado dos judeus foi destruído, juntamente com todo o templo, pelos exércitos de Nabuzaradá (2Rs 25.8-10). Seu desaparecimento também ilustra o afastamento da glória do Senhor do seu povo e das nações, aliança que é perfeitamente restabelecida em Cristo, confirmando a imutabilidade das promessas do Senhor (vv.15-19; 8.5; 16.18).

Capítulo 121 Após a visão dos sete selos e das sete trombetas, e antes das sete taças, ocorre uma visão ainda mais inusitada e misteriosa.

Sete personagens projetadas no céu e envolvidas em terríveis conflitos e guerras: A Mulher, abençoada com a graça de Deus (personificada em Maria, mãe de Jesus), simbolizando Israel e todos os crentes no Senhor (Gl 4.26; 37.9). O Dragão, que representa o Diabo e suas manifestações (vv.3,4). O Filho, referência a Cristo (vv.5,6). O anjo Miguel, encarregado de proteger Israel (vv.7-12; Dn 10.13,21; 12.1). A Besta que emerge do mar e, num sentido historicamente imediato, se refere a Domiciano, Imperador romano entre os anos 81 e 96 d.C. Filho de Vespasiano, da dinastia dos Flávios, iniciou seu governo com notável sabedoria, senso administrativo e militar, tendo conquistado toda a Bretanha. Entretanto, com o passar do tempo, tornou-se arrogante, extremamente despótico e violento. Seu regime de terror perseguiu e executou milhares de religiosos e intelectuais judeus e cristãos. Foi assassinado num motim de seus próprios senadores, tramado por sua esposa. Contudo, esses fatos e pessoas simbolizam as ações devastadoras dos anticristos e, especialmente, do último anticristo contra o povo de Deus (13.1-10). Por fim, há o surgimento da Besta que sobe da terra, alertando aos leitores deste livro sobre os sacerdotes, que no passado exigiam o culto pagão à imagem do Imperador, e simbolizam os religiosos que se aliarão ao falso profeta e prestarão culto à própria imagem do anticristo, num período de grande aflição e sofrimento, antes do Milênio (13.11-18).

2 Descrição do renascimento de Jerusalém em Is 66.7 (Mq 4.10). 3 Os dragões fazem parte da mitologia da maioria dos povos antigos, quase sempre simbolizando poder. No AT e na cultura

judaica, representam os inimigos de Deus e de Israel (Sl 74.14; Is 27.1; Ez 29.3; Dn 7.7). Na visão de João, o Dragão é a personificação de Satanás, e o vermelho (em grego purros) quer dizer “cor de fogo”. Seu objetivo prioritário foi destruir o Filho de Deus, desde sua encarnação e nascimento, o que lhe daria total chance de vitória sobre o povo de Deus (v.10). As sete cabeças simbolizam inteligência além do normal, e os chifres, poder extraordinário (13.1).

4 Uma clara alusão ao Filho de Deus, Jesus Cristo, o Messias prometido no AT, que governaria todo o Universo com “cetro de ferro”, ou seja, com amor, sabedoria e justiça (2.27; Sl 2.9; Is 11.4; Dn 8.10).

5 Seguindo a linha de interpretação escatológica, que observa o cumprimento das profecias a curto, médio e longo prazos, temos aqui uma ilustração da proteção especial que Deus concedeu ao seu povo ao sair do Egito em peregrinação pelo deserto até a terra da Promessa; mas, ao mesmo tempo, temos também uma referência à proteção de Deus para com José, Maria e o menino Jesus, ao peregrinarem pelo deserto rumo a Belém e depois até o Egito (Lc 2.1-7; Mt 2.13-15). Essa profecia é ainda aplicada à terrível destruição de Jerusalém (69-70 d.C.), quando muitos crentes foram alertados e escaparam daquele genocídio,

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22APOCALIPSE 12, 13

A vitória de Cristo e do seu povo 7 Houve, então, uma guerra nos céus. Miguel e seu exército de anjos lutaram contra o Dragão, ao que o Dragão com seus anjos revidaram.6

8 Contudo, estes não foram sufi ciente-mente poderosos e, desta maneira, per-deram o seu lugar nos céus. 9 Assim, o grande Dragão foi excluído para sempre. Ele é a antiga serpente cha-mada Diabo ou Satanás, que tem a capa-cidade de enganar o mundo inteiro. Ele e seus anjos foram lançados à terra. 10 Então, ouvi uma voz grave que vinha dos céus proclamando: “Eis que agora chegou a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o Acusador de nossos irmãos, o mesmo que os denuncia de dia e de noite, perante o nosso Deus.11 Eles, portanto, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por intermédio da palavra do testemunho que anuncia-ram; posto que, face a face com a morte, não amaram mais a própria vida!12 Sendo assim, celebrai, ó céus, e vós os que neles habitais! Entretanto, ai da terra e do mar, pois o Diabo desceu até vós, e ele está totalmente encolerizado, por-quanto sabe que pouco tempo lhe resta para seu fi m.7

O Dragão persegue a Mulher 13 Quando, pois, o Dragão se viu atirado para a terra, empreendeu forte persegui-ção à mulher que dera à luz o menino.14 Então, foram entregues à mulher as duas asas da grande águia, a fi m de que pudesse voar até o local que lhe havia sido planejado no deserto, onde seria sustentada pelo período de um tempo, tempos e meio tempo, absolutamente fora do alcance da serpente. 15 E foi por essa razão que a serpente fez jorrar água da sua boca como se fosse um forte rio, com o objetivo de alcançar a mulher e arrastá-la com a correnteza. 16 Contudo, a terra cooperou com a mu-lher, abrindo a boca e devorando o rio que o Dragão fi zera jorrar da sua boca.8

17 Então, irou-se tremendamente o Dra-gão contra a mulher e partiu para atacar o restante da sua descendência, os que obedecem aos mandamentos de Deus e se mantêm fi éis ao testemunho de Jesus.9 18 E assim, o Dragão se colocou em pé sobre a areia do mar.

A Besta que se levantou do mar

13 Então, observei que emergiu do mar uma Besta que tinha dez chifres

e sete cabeças e, sobre os chifres, dez coroas e, em cada cabeça um nome de blasfêmia!1

e se refugiaram na cidade de Pela, no deserto além do Jordão. E a profecia continua valendo para o futuro, quando os crentes sinceros e obedientes ao Senhor receberão poder e sabedoria para fugir das artimanhas e perseguições do Diabo e seus demônios. Os “mil duzentos e sessenta dias” é um símbolo do período especial de proteção divina correspondente à duração das perseguições mais severas (11.2; 13.5). Nesse sentido, o deserto não se refere simplesmente a uma grande área coberta de areia, mas a um lugar de refúgio, proteção e isolamento (Os 2.14).

6 Satanás, tendo sido derrotado na terra e não conseguido destruir o Filho de Deus, ataca os exércitos do Senhor nos céus e tenta invadir a Glória de Deus, a fim de continuar a perseguir a Cristo. Entretanto, é derrotado pelos anjos do Senhor, e isso faz aumentar ainda mais seu ódio e sede de vingança, impulsionando-o ferozmente contra todos os crentes. O anjo Miguel, como responsável pela guarda de Israel, protegerá os israelitas nas grandes aflições dos últimos dias (Dn 10.13,21; 12.1).

7 Ao ser vencido e lançado de volta à terra, Satanás canalizou toda a sua revolta e fúria contra os cristãos e Israel (a Mulher). Assim, desde a ascensão de Jesus até os nossos dias, as perseguições contra os israelitas e cristãos em todo o mundo tem sido variadas e ininterruptas. É raro, nos dias atuais, não se ouvir uma notícia trágica sobre Israel ou seu povo nos noticiários da imprensa mundial (v.13). Essas hostilidades ainda crescerão em violência e dramaticidade, até atingirem seu ápice no período chamado de Grande Tribulação (13.7,17; Mt 24.21; Jó 1.9-11; Zc 3.1). Contudo, o Senhor garante que o tempo está passando muito depressa e que, num prazo historicamente breve, Satanás será definitivamente destruído.

8 Uma analogia ao fato ocorrido em Nm 16.30-33, no qual os seguidores de Corá foram engolidos vivos pela terra (Dn 7.25; 12.7)9 Alusão a uma perseguição satânica final, engendrada e implementada pelo anticristo, especificamente contra a geração dos

cristãos sinceros que viverem nos últimos tempos (cap. 13).Capítulo 131 O termo original grego qhrivon, transliterado por therion e traduzido pela expressão “Besta”, que significa “poderoso animal

selvagem” (11.7,36). Seus poderes foram legados de forma mística pelo próprio Diabo (o Dragão). A Besta simboliza toda

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23 APOCALIPSE 13

2 E a Besta que vi era semelhante a um leopardo, porém tinha pés como os de urso e boca como a de leão. O Dragão passou à Besta o seu poder, o seu trono e grande autoridade.3 Notei que uma das cabeças da Besta pa-recia ter sofrido um golpe mortal, contu-do, tal ferimento de morte foi curado. E toda a humanidade fi cou maravilhada e seguiu a Besta.4 Passaram a adorar o Dragão, o qual tinha transferido autoridade à Besta, então todos também começaram a adorar a Besta, exclamando: “Quem é semelhante à Besta? Quem pode guerrear contra ela?”.5 À Besta foi concedida uma boca para pronunciar palavras arrogantes e blas-femas, e lhe foi transmitida autoridade para realizar suas obras por quarenta e dois meses. 6 Então, abriu a boca em blasfêmias contra Deus e para amaldiçoar o seu Nome, seu Tabernáculo e os que habitam nos céus. 7 Foi-lhe concedido também poder para guerrear contra os santos e vencê-los. E recebeu autoridade sobre toda a tribo, povo, língua e nação.2

8 Todos os habitantes da terra adorarão a Besta, ou seja, todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no Livro da Vida do Cordeiro, que foi imolado desde a criação do Universo.3

9 Aquele que tem ouvidos, compreenda esta palavra: 10 “Se alguém tem que ir para o cativeiro, certamente, para o cativeiro irá. E se alguém matar à espada, é necessário que pela espada seja morto!”.

A Besta que se levantou da terra11 Vi ainda emergir da terra outra Besta com dois chifres semelhantes aos de um cordeiro, e ela se expressava como o Dragão.4 12 Também exercia a mesma autoridade da primeira Besta, em nome dela, e obri-gava a terra e seus habitantes a adorarem a primeira Besta, cujo ferimento mortal tinha sido curado. 13 Ela realizava grandes sinais à vista da humanidade, de maneira que fazia até descer fogo do céu para a terra;14 e, por intermédio dos sinais que lhe fora permitido realizar em nome da primeira Besta, enganou os habitantes da terra e ordenou-lhes que edifi cassem uma imagem em honra à Besta que fora ferida de morte pela espada, contudo sobrevivera.15 Além disso, foi-lhe dado poder para dar fôlego à imagem da primeira Besta, de maneira que ela tivesse a capacidade de falar, e fi zesse com que todos os que não lhe prestassem adoração fossem mortos.

espécie de deificação do homem ou da autoridade secular. Essa tem sido a marca de todos os tiranos e anticristos do passado, como o rei Antíoco Epifânio (Dn 7.25; 8.9-14; Ap 17.3-12), especialmente a partir dos imperadores romanos. Será também a principal característica do último e mais terrível anticristo que precederá o glorioso retorno de Cristo (Mt 24.15-31; 2Ts 2.1-12). O cenário que se arma coincide com a visão que Daniel teve acerca das quatro grandes feras, que significavam poderosos impérios já passados (Dn 7.2-7): babilônico (De 626 a 539 a.C), medo-persa (até 300 a.C), grego (até 63 a.C) e romano (até cerca de 110 d.C).

2 A Besta terá uma vitória apenas externa por meio do martírio dos cristãos que não negarem sua fé no Senhor. Apesar da morte, as almas dos crentes estarão preservadas pelo Espírito Santo (6.9-11; Mt 24.12; Sl 69.28). O Diabo tem profunda inveja de Deus e procura imitar todos os procedimentos criativos do Senhor, visando receber da humanidade toda a adoração à sua pessoa sedutora e nefasta. Por isso, vem tentando ao longo da história e nos últimos dias, com mais intensidade e evidência, projetar a imagem do seu anticristo como melhor substituto mundial de Jesus Cristo, o Filho de Deus, de quem é o verdadeiro e eterno domínio (5.9; 7.9; Jr 15.2).

3 O sacrifício vicário de Jesus Cristo fez parte do propósito remidor de Deus mesmo antes da criação do Universo. Os planos, mandamentos e profecias do Senhor são tão reais e concretos quanto os próprios acontecimentos em si (At 2.23; Ef 1.4).

4 O Diabo, em sua inveja insana de Deus, desenvolve uma imitação da pessoa e da espiritualidade de Jesus na forma de um poderoso, carismático e ardiloso “falso profeta” (19.20), cuja forma exterior de cordeiro (pretenso exemplo de pessoa amável e beneficente) será usada pelo Dragão para seduzir e chefiar uma religião que adensará milhões de adoradores, de todas as partes do mundo, aos pés do anticristo. Com suas “feras diabólicas e sedutoras”, Satanás dominará por um tempo os três grandes pilares da sociedade moderna: economia, política e religião. Da mesma forma como ocorreu na época de João, quando o povo de Deus foi obrigado a se render à adoração dos imperadores romanos, assim será no mundo atual, pouco antes da volta de Cristo (Mt 24.24).

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24APOCALIPSE 13, 14

16 Ela obrigou a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos a aceitarem certa estampa de marca na mão direita ou na testa,5

17 a fi m de que ninguém pudesse com-prar nem vender, a não ser que apresen-tasse a tal marca, que é o nome da Besta ou o número do seu nome.18 Aqui é preciso decifrar. Aquele que tem sabedoria calcule o número da Bes-ta, pois o número representa o nome de um ser humano. Seu número é seiscentos e sessenta e seis!6

O Cordeiro e seus remidos

14 Então, olhei e vi diante de mim o Cordeiro em pé sobre o monte

Sião, e junto a Ele cento e quarenta e

quatro mil, que ostentavam, escritos em suas frontes: o nome dele e de seu Pai.1 2 Ouvi um som do céu, como o barulho de um temporal e o estrondo de um grande trovão. O som que ouvi era como de harpistas que tocavam suas harpas.3 Entoavam um cântico novo, diante do trono e perante os quatro seres viventes e dos anciãos; e ninguém podia aprender o cântico, a não ser os cento e quarenta e quatro mil que haviam sido comprados da terra.4 Estes são os que não se macularam com mulheres, porque são virgens. São os que seguem ao Cordeiro aonde quer que vá. Foram comprados dentre todos os seres humanos e foram os primeiros a ser ofe-recidos a Deus e ao Cordeiro.2

5 Como já vimos (nota 5 do cap. 12), as profecias podem ter uma realização imediata e repetida ao longo da história até o final dos tempos. Assim, os anticristos sempre forçaram as pessoas, especialmente o povo de Deus, a se renderem às suas “personas” como “divindades” e, para tanto, usaram de toda espécie de tortura e humilhações, como o ferretear de escravos ou presos militares, o carimbar passaportes e outros documentos com expressões discriminatórias. A marca da Besta será uma espécie de prova de fidelidade às exigências do culto imperial à personalidade do último anticristo. Esse ato será promovido e supervisionado pelo “falso profeta” (a Besta possuída pelo Dragão), e um dos últimos símbolos da globalização, do ecumenismo e da padronização dos comportamentos da humanidade em favor do anticristo e de seu sistema mundial de valores (v.17; 14.9,11; 15.2; 19.20; 20.4). Essa também será uma das últimas grandes tentativas do Diabo para imitar (blasfemar) um procedimento santo de Deus, isto é, o selo espiritual dos servos de Cristo (cap. 7).

6 Desde a Antigüidade, os escritos proféticos e apocalípticos judaicos costumavam atribuir às letras valores numéricos e significados ocultos, o que facilitava a conferência da correção de um texto (especialmente das cópias) pela simples somatória das letras, além de encerrar certos enigmas, a fim de evitar que as mensagens pudessem ser compreendidas pelos perseguidores do povo de Deus. Na atualidade, muitos equipamentos usam letras que podem ser convertidas em números para suas operações. A tríade maldita, formada pelo anticristo e suas bestas, convencerá a sociedade mundial a ostentar sua marca e implantará um boicote econômico-financeiro contra todos os rebeldes. A marca do Diabo é um número que revela um nome humano. O número seis, simboliza na numerologia judaica a imperfeição e a maldade, numa flagrante oposição e eterna incapacidade de chegar à perfeição, bondade e justiça representadas pelo número sete. Portanto, sabemos que essa marca será uma expressão da união desses três representantes do Diabo sobre a terra. Além disso, eles deflagrarão violenta e impiedosa oposição contra seus opositores, especialmente aos judeus e cristãos sinceros. Considerando o passado, esta profecia traduz bem alguns líderes tiranos mundiais e suas ações sanguinárias: Nabucodonosor, rei da Babilônia, que destruiu o primeiro Templo e escravizou o povo de Israel; Antíoco Epifânio, rei da Síria, que profanou o segundo Templo e colocou uma estátua representando seus deuses pagãos no Santo dos Santos; o comandante romano Tito e seu pai Vespasiano, que profanaram a terceira edificação do Templo (70 d.C), sobre o qual profetizou Jesus, quarenta anos antes da destruição de Jerusalém (Mt 24); Domiciano, imperador romano que obrigava todos os seus súditos a reverenciá-lo com uma frase protocolar (uma espécie de marca da blasfêmia), em latim: Dominus et Deus noster (Nosso Senhor e Deus); Nero César; e já em meados do séc. XX, Adolf Hitler, com sua visão totalitária e insana do estabelecimento de uma raça humana perfeita, sem ascendência judaica (ariana) e seu anti-semitismo diabólico.

Capítulo 141 No AT, o monte Sião foi conquistado por Davi e transformado numa espécie de fortaleza e capital da cidade pré-israelita de

Jerusalém (2Sm 5.7). No NT, e especialmente neste livro, simboliza a Jerusalém celestial, a eterna habitação de Deus e de seu povo amado (Hb 12.22-24; Gl 4.26), que descerá até a nova terra, onde se implantará completamente o eterno Reino de Deus (Ap 21.2,3). Como já vimos em 7.4, aqui João contempla a imensa multidão dos salvos: todos os selados com o Espírito Santo de Deus, o Nome do Filho e do Pai (Ez 9.4; Mt 28.19). Um número tão grande de pessoas que pareceu melhor ao Espírito expressá-lo por meio de uma cifra semelhante ao número das tribos de Israel e dos apóstolos de Jesus, um valor santo, completo e perfeito, multiplicado milhares de vezes: 144.000 ou mil dúzias vezes doze.

2 Mesmo considerando que alguns teólogos cristãos interpretam literalmente esta passagem, assim como o número dos 144.000 salvos, é preciso notar que, neste contexto, “a Mulher” representa “Israel” e que, portanto, a expressão “mulheres” tem a ver com outras nações, cultos e sistemas de valores. Sendo assim, João está se referindo à grande multidão de pessoas,

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25 APOCALIPSE 14

5 Mentira alguma foi encontrada em seus lábios, e portanto, são irrepreensíveis.3

As três proclamações dos anjos 6 Observei outro anjo, que voava pelo meio do céu e portava nas mãos o Evan-gelho eterno para anunciar aos que habi-tam na terra, a toda nação, tribo, língua e povo. 7 Então, proclamou com voz grave: “Te-mei a Deus e rendei-lhe glória; porquanto a hora do seu Juízo chegou. Adorai Aquele que fez o céu, a terra, o mar e as fontes das águas!”.8 O segundo anjo o seguiu, exclamando: “Caiu a grande Babilônia, que deu de beber a todas as nações do vinho da ira da sua prostituição!”.4

9 Seguiu-os ainda um terceiro anjo, aler-tando a todos em alta voz: “Se alguém adorar a Besta e a sua imagem, e receber sua marca na testa ou na mão;5

10 da mesma maneira, beberá o vinho da justiça severa de Deus, que foi derrama-do sem misturas atenuantes no cálice da sua ira. E será atormentado com enxofre incandescente diante dos santos anjos do Cordeiro.11 E a fumaça da sua afl ição será exalada para todo o sempre. Para todos aqueles que adoram a Besta e a sua imagem, e para quem recebe a marca do seu nome, não haverá repouso algum, dia e noite sem cessar”.12 Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que obedecem aos mandamen-tos de Deus e permanecem fi éis a Jesus.6

13 Então, ouvi uma voz grave do céu que ordenava: “Escreve: Bem-aventura-dos os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem de suas lutas e trabalhos, porquanto as suas obras os acompa-nham!”.7

ainda que seja um grupo específico vivendo durante a Grande Tribulação e que não se dobrou ao sistema sócio-politico-religioso (sistema mundial de valores) ditado pelo anticristo. Ou seja, são homens e mulheres que se mantiveram espiritualmente “virgens” (castos, imaculados) e não se entregaram à sedução e prostituição com os valores mundanos (Mt 19.21; Mc 8.34). Estão portanto, libertos do pecado da “idolatria” que é “fornicação” (14.8; 17.2,4; 18.3,9; 19.2), com todas as suas implicações (2Pe 2.20-22). Os salvos serão como aquela primeira parte da colheita (as Primícias) que era oferecida ao Senhor em agradecimento por sua graça e misericórdia (Êx 23.19; Lv 23.9-14; Nm 18.12; Rm 16.5; 1Co 15.20). Ao mesmo tempo, o restante da humanidade, que preferiu ficar ao lado da “poderosa tríade global” ostentará com prazer o número da Besta e, como uvas maduras, estarão sendo reservadas para serem ceifadas e pisadas no lagar da ira do Senhor (vv.17-20).

3 O sentido dessa expressão é demonstrar que os cristãos sinceros jamais negam sua fé (termo que nos originais têm o sentido de: fidelidade no Senhor. Nos últimos tempos, o sistema mundial, manipulado pelo Diabo e seus asseclas, tentará ridicularizar a verdadeira fé cristã e os crentes em Cristo, para mais tarde forçá-los violentamente a negar seu amor por Deus. Nesse momento, muitos cristãos não mentirão, e por isso, serão martirizados (Jo 18.37; Sf 3.13).

4 Temos aqui um caso clássico da máxima: “os ciclos históricos são pendulares e se repetem”. Por isso, as profecias apocalípticas podem ser aplicadas às várias gerações até o Dia final. A antiga Babilônia foi erguida na Mesopotâmia (região onde hoje se encontra o Iraque), por volta do ano 626 a.C., e se constituiu no mais prestigioso centro econômico, político, militar e religioso do mundo de sua época. Luxo e depravação moral eram algumas das principais marcas de sua opulência e arrogância. O profeta Daniel referiu-se a ela como “a grande Babilônia” (Dn 4.30). Durante a época de João, suas descrições correspondiam ao Império de Roma (16.19; 17.5; 18.2-21). Em nossos dias, simboliza o sistema mundano de valores que envolve todos os povos da terra e os seduz (embriaga) com os ideais de consumo e prazer produzidos pelas nações mais ricas. Contudo, no final dos tempos uma grande potência mundial reunirá sob sua influência e controle todas as nações da terra, e exibirá as mesmas características diabólicas da Babilônia. Sua queda, entretanto, assim como ocorreu com a primeira versão da Babilônia (cerca de 539 a.C.) é inevitável e definitiva (Is 21.9; Jr 51.8).

5 O terceiro anjo proclama diante dos céus e da terra a condenação do anticristo e dos seus seguidores (20.13-15). No AT, a ira de Deus é habitualmente ilustrada como o cálice de vinho do juízo final (v.10,11), a ser provado, individualmente, pelos incrédulos de todos os tempos e de todas as nações (Sl 75.8; Is 51.17; Jr 25.15). Sodoma e Gomorra são exemplos clássicos do derramar da ira de Deus, quando foram destruídas por uma tempestade de enxofre ardente (Gn 19.24). O mesmo juízo será aplicado aos ímpios, incrédulos e infiéis (Sl 11.6; Ap 19.20; 20.10; 21.8).

6 Um encorajamento aos cristãos para que jamais neguem sua fé em Jesus Cristo, sejam quais forem as formas de constrangimento e perseguição que vierem a enfrentar, especialmente tendo em vista a forte tendência do mundo em se aliar ao anticristo e seus comandados, e o trágico final que os aguarda (Mt 24.13).

7 A expressão original grega anapauõ, “habitar ou descansar em paz” revela uma das sete bem-aventuranças (prêmios – Mt 5.1-12), expressas neste livro para aqueles que perseverarem na fidelidade a Cristo (Mt 11.28). Os bem-aventurados (muito felizes) são: os que conhecem e obedecem a Palavra de Deus (1.3); os que morrem fiéis a Cristo (14.13); os que aguardam o glorioso

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26APOCALIPSE 14, 15

Chegou a hora de ceifar a terra 14 Olhei, e eis que diante de mim estava uma nuvem branca e, assentado sobre a nuvem, alguém semelhante ao Filho do homem. Ele estava com uma coroa de ouro na cabeça e uma foice afi ada na mão.8 15 Então, outro anjo saiu do santuário e clamava em alta voz ao que estava assen-tado sobre a nuvem: “Agora, pois, toma a tua grande foice e faz a tua colheita, pois a safra da terra está madura e chegou a hora de ceifá-la!”.16 Em seguida, Aquele que estava assen-tado sobre a nuvem passou a sua lâmina de colheita por toda a humanidade e a terra foi ceifada.

Ceifando as uvas da ira de Deus17 Então, outro anjo partiu do santuário celeste empunhando uma foice menor e afi ada.18 E do altar saiu ainda mais um anjo, com poder sobre o fogo, e clamou com forte voz ao que trazia a foice menor: “Passa a tua faca afi ada e colhe todos os cachos da extensa vinha da terra, porque as suas uvas já chegaram a ponto de se-rem ceifadas!”9

19 Sem demora, o anjo passou aquela

lâmina afi ada por toda a terra, ajuntou as uvas maduras e as lançou no imenso lagar da ira de Deus. 20 E todas elas foram pisadas no lagar, que fi ca fora da cidade, e o sangue que correu do lagar chegou ao nível do freio dos cavalos, cobrindo uma distância de cerca de trezentos quilômetros.10

Os sete anjos e os sete fl agelos

15 Então, observei no céu um outro grande e terrível sinal: sete anjos

empunhando os últimos fl agelos, pois com estes se completa o Juízo severo de Deus sobre a terra.1

Os remidos cantam ao Senhor 2 Vi algo semelhante a um mar de vidro misturado com fogo; e, em pé, junto ao mar, todos que haviam vencido a Besta, a sua imagem e o número do seu nome. Eles empunhavam as harpas que haviam sido entregues por Deus,2 3 e cantavam o cântico de Moisés, ser-vo de Deus, e o cântico do Cordeiro: “Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações.3

retorno de Cristo em santidade (16.15); os convidados para a Ceia das bodas do Cordeiro (19.9); os que participam da primeira ressurreição (20.6); os que atendem às orientações deste livro (22.7); e os que lavam suas vestes no sangue de Cristo (22.14).

8 Jesus Cristo, o Filho do homem, Rei dos reis, é o juiz máximo da história e da humanidade (1.13; Dn 7.13; Mt 3.12; Tg 4.12). O termo grego original drepanon, “faca de colheita”, refere-se a uma grande lâmina afiada, em forma de foice, usada para colher a safra de grãos, simbolizando o julgamento final (Jl 3.13; Mt 13.30-42). Alguns teólogos cristãos vêem nessa passagem uma referência à grande reunião dos crentes com Cristo em seu glorioso retorno.

9 Esse é o anjo de 8.3-5, que tem a responsabilidade de executar o Juízo (Mt 18.8; Lc 9.54; 2Ts 1.7). A foice israelita (v.14), própria para colheita de grãos consistia em uma lâmina curvada e afiada de ferro, ajustada a uma haste de madeira ou de osso, com um longo cabo. A foice usada para podas e coleta dos cachos de uvas das videiras era uma espécie de faca menor e mais afiada.

10 Lagar era um grande recipiente, esculpido na rocha, onde os israelitas costumavam depositar as uvas maduras que seriam pisadas com os pés descalços a fim de produzir o primeiro lote de suco da safra, sendo canalizado para outro recipiente inferior. No AT, “pisar o lagar” era uma metáfora muito eloqüente quanto à execução inexorável da justiça severa (ira) de Deus (Is 63.3; Lm 1.15; Jl 3.13; Ap 19.15). Nos últimos tempos, esse terrível derramamento de sangue contaminaria os próprios limites da cidade numa extensão de, literalmente, “mil e seiscentos estádios” (cada estádio equivale a 185 metros), ou seja, quase o tamanho atual da Palestina de norte a sul.

Capítulo 151 Os versículos de 1 a 8 anunciam a última das três séries de sete juízos e o derramamento das setes taças repletas da ira de

Deus sobre toda impiedade (6.16; 8.2). 2 João, em sua primeira visão do trono de Deus, já tinha visto este mar simbolizando a separação entre a humanidade e o

Senhor (4.6). Agora, os cristãos martirizados estão celebrando a vitória definitiva dos crentes em Cristo (4.12,13; 5.8).3 Outra analogia com a libertação que Deus proporcionou ao seu povo no Egito, mediante a pessoa de Moisés, seu servo,

cujo hino (Êx 15.1-18) era habitualmente entoado às tardes de sábado nas sinagogas, para celebrar ao Senhor por seu poder e amor fiel (Dt 32; Sl 22; 92.5; 111.2). Os crentes, diante do trono celestial, louvam a Deus por um resgate ainda maior e perene. Jesus Cristo, o próprio Filho de Deus, nos libertou do Império das trevas para a vida eterna (Jr 10.10; Jo 1.17; 6.32; Sl 86.9; 1Tm 1.17; Hb 3.2-6).

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27 APOCALIPSE 15, 16

4 Senhor, quem não temerá e não glorifi -cará o teu Nome? Pois só Tu és santo por isso, todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos!”.4

5 Em seguida, olhei e observei que se abriu nos céus o santuário, o tabernácu-lo da aliança.

Deus envia os sete fl agelos 6 Então, partiram do santuário os sete anjos com os sete fl agelos. Eles estavam vestidos de linho puro e resplandecente, e portavam cinturões de ouro ao redor do peito.5

7 E um dos quatro seres viventes entre-gou aos sete anjos sete taças de ouro, repletas da ira de Deus, que vive pelos séculos dos séculos.8 Imediatamente, o santuário se encheu da fumaça produzida pela glória e o po-der de Deus, e ninguém podia entrar no santuário enquanto não se completas-sem os sete fl agelos dos sete anjos.6

O primeiro dos sete fl agelos

16 E aconteceu que ouvi uma forte voz que vinha do santuário e

ordenava aos sete anjos: “Ide e derramai pela terra as sete taças da ira de Deus”. 2 Partiu, pois, o primeiro anjo e der-ramou a sua taça pela terra, e todas as

pessoas portadoras da marca da Besta e os adoradores da sua imagem foram ata-cados por feridas dolorosas e mortais.1

O anjo e o segundo fl agelo 3 Veio o segundo anjo e derramou a sua taça sobre o mar, e este se transformou em sangue como de um morto, e morreu todo ser vivente que havia no mar.2

O terceiro fl agelo é derramado 4 O terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes, e todos eles se transformaram em sangue. 5 Então, ouvi o anjo responsável pelas águas declarar: “Tu és Justo, Tu, o Santo, que és e que eras, porquanto julgaste estes crimes;6 porque eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e agora Tu lhes deste sangue para beber, pois isto é o que merecem”.3

7 E ouvi que do altar procedia a seguinte aclamação: “Certamente, ó Senhor Deus, Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são todos os teus juízos!”.

O quarto fl agelo 8 Veio o quarto anjo e derramou a sua taça sobre o sol, e foi concedido poder ao sol para queimar a humanidade com fogo.4

4 João registra neste livro uma série de cânticos espirituais que exaltam a Cristo, como Rei, Senhor e Juiz soberano de todos os povos, línguas e nações (5.9-13; 7.10,12; 11.15-18; 12.10-12; 16.5-7; 19.1-8, conforme Fp 2.6-11).

5 O tabernáculo foi o local onde a presença de Deus se manifestava ao povo de Israel na travessia do deserto (Êx 40.34,35) e onde ficava a arca da aliança com as duas tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus, trazidas para a tenda santa, do alto do monte Sinai, por Moisés (Êx 32.15; 38.21; Dt 10.5). Os últimos flagelos são uma analogia às últimas pragas usadas por Deus contra os ímpios no Egito para a libertação do seu povo. Os centurões de ouro fazem parte dos paramentos reais, litúrgicos e sacerdotais, e não militares (2Ts 1.7-9).

6 Outra forte analogia à presença gloriosa de Deus no tabernáculo. Essa fumaça representa o poder e a glória do Senhor (Êx 40.34; 1Rs 8.10,11; Ez 44.4). Assim como aconteceu com Moisés e Arão na consagração do tabernáculo no deserto, e quando Salomão consagrou o Templo ao Senhor e a glória de Deus encheu poderosamente todo aquele espaço, ninguém terá acesso ao lugar Santo antes da consumação dos sete juízos sobre a terra (Lv 9.23-24; 2Cr 5.13-14; 7.1-2; Is 6.4).

Capítulo 161 A exemplo do que ocorreu no passado, por ocasião do Êxodo do povo judaico, quando Deus enviou a sexta praga sobre o

Egito (Êx 9.9-11); agora, todos quantos compactuaram com a Besta, e usam seu símbolo ou marca (13.16), foram afligidos por uma série de cânceres e feridas. Literalmente: “úlceras dolorosas que emanam odor repugnante” (Jó 2.7-13).

2 A primeira vida animal criada por Deus ocorreu no mar (Gn 1.20). Agora, como na primeira praga de Deus contra os ímpios no Egito, as águas do mar deixaram de hospedar a vida e provocam morte e apodrecimento (Êx 7.17-21).

3 Deus reluta, em sua santa longanimidade, em punir os ímpios; entretanto, quando esse momento chegar, o castigo será inexorável e proporcional às infrações e crimes de cada pecador (Is 49.26).

4 Os incrédulos, ainda que sob intenso sofrimento global, não darão atenção à voz do Senhor. Suas peles serão queimadas violentamente pelos raios solares e, sabendo que Deus é o Senhor do Universo, blasfemarão contra o Criador e questionarão

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28APOCALIPSE 16

9 As pessoas foram queimadas pelo for-te calor e, colocando a culpa em Deus, blasfemaram contra seu Nome, que tem domínio sobre estas pragas. Diante de tudo isso, ainda recusaram arrepender-se de seus pecados para poderem render glória a Ele.

O quinto fl agelo 10 Então, o quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da Besta, cujo reino fi cou sob trevas. A afl ição foi de tal grandeza que os homens mordiam suas próprias línguas,5

11 e blasfemavam contra o Deus dos céus, por causa das terríveis dores que sentiam provocadas por suas muitas feridas; contudo, nem mesmo assim se arrepen-deram de suas obras malignas para que pudessem glorifi car ao Senhor.6

O sexto fl agelo 12 Veio o sexto anjo e derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates e suas águas secaram, a fi m de que se preparasse o ca-minho para os reis que vêm do Oriente.7

13 E aconteceu que observei saírem da boca do Dragão, da boca da Besta e da boca do Falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs;8

14 Ora, são espíritos de demônios que realizam sinais miraculosos; eles vão aos reis de todo mundo, a fi m de reuni-los para a batalha do grande Dia do Deus Todo-Poderoso.15 “Eis que venho como vem o assaltante. Bem-aventurado todo aquele que se mantém alerta e conserva suas vestes preparadas, pois assim não terá que correr nu e ter sua vergonha exposta ao público”.9 16 Então, os três espíritos se reuniram em um lugar que, em hebraico, é chamado Armagedom.10

O sétimo e último fl agelo17 E aconteceu que o sétimo anjo derra-mou a sua taça no ar, e do santuário projetou-se uma voz grave, que vinha do trono e exclamava: “Está consumado!”.18 Imediatamente, ocorreram relâmpa-gos, vozes, trovões e um colossal ter-

sua bondade para com a humanidade (Dt 28.22; 1Co 3.13; 2Pe 3.7). Embora a finalidade última das pragas e flagelos seja levar o ímpio ao arrependimento, isso, infelizmente, não ocorrerá (Am 4.6-13).

5 A ira de Deus chega ao centro de comando do Diabo, numa analogia às trevas que caíram sobre o Egito por ocasião da nova praga (Êx 10.21-23). A palavra original grega “trono” aparece neste livro 42 vezes, sendo que, apenas aqui e em 2.13, refere-se ao trono do Inimigo. Nas demais referências, 40 vezes o termo está ligado à posição de absoluta soberania de Deus.

6 Uma característica natural dos ímpios e incrédulos (assim como ocorreu com o Faraó do Egito), ainda que sejam cultos, é o fato de interpretarem as calamidades mundiais como indiferença ou impotência de Deus, e não como motivo de arrependimento por suas faltas e pecados contra o Senhor e sua Igreja.

7 Heródoto, o grande historiador da antigüidade, narra como os persas conseguiram fazer um desvio no rio Eufrates, que corria por baixo das muralhas da Babilônia, e o leito seco se transformou em estrada para a invasão dos exércitos de Ciro (539 a.C.). Esse fato histórico ilustra bem a forma inesperada e rápida como acontecerá o assalto militar à herdeira dessa civilização pagã (v.15; Is 11.15-16). Seja ela, Roma ou alguma nação poderosa, dirigida pelos três grandes representantes do Mal (o Anticristo, a Besta e o Falso profeta).

8 Na tradição judaica, a rã é considerada um animal impuro, que também simboliza o espírito diabólico do engano (Lv 11.10). A Besta usará o Falso profeta para comunicar ao mundo seus planos enganosos de paz e prosperidade, e vender ilusões aos que ostentarem a sua marca (13.11).

9 Ainda que do ponto de vista humano, o glorioso retorno de Cristo esteja demorando, o crente fiel e previdente deve viver vigiando (em grego, gregoreő “acordado”), preparado espiritualmente para seu definitivo encontro com Deus (3.18; Mt 22.11-13). O cristão tem certeza de que Jesus voltará; será um retorno repentino, mas não inesperado para os crentes (Mt 24.36-44; 1Ts 5.4; 1Co 15.52). Muitos esfriarão sua fé e tantos outros cederão aos encantos da Besta, mas os cristãos sinceros e fiéis resistirão em sua fé no Filho de Deus e sua Palavra (Lc 12.35-39; 1Pe 1.13; 5,8; 2Pe 3.8-12; Ap 7.13-14).

10 A expressão hebraica har megiddo é, aqui, traduzida pelo nome “Armagedom”, que é uma transliteração de “a colina de Megido” (Jz 5.19), que se ergue na planície de Esdralom. Esse é um local histórico de grande orgulho nacional para os israelenses e de impressionante valor simbólico-religioso. Em Armagedom, foram derrotados os cananeus (Jz 4.2); Gideão e seus 300 escolhidos venceram os midianitas (Jz 7); o rei Saul foi derrotado (1Sm 31); e a grande rainha Jezabel foi envergonhada e morta (2Rs 9.33). A expressão Armagedom (2Rs 23.29; 2Cr 35.22), mais do que uma localização geográfica, simboliza a mundial e derradeira batalha entre o povo de Deus contra as forças de Satanás (Sl 3; 2.2; Is 5.26-30; Jr 6.1-5; Ez 38).

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29 APOCALIPSE 16, 17

remoto. Nunca havia irrompido um terremoto de tão devastadoras propor-ções quanto esse, desde que o ser huma-no existe sobre a terra. 19 A grande cidade foi dividida em três partes, e as cidades das nações simples-mente desmoronaram. Deus lembrou-se da grande Babilônia e a fez beber o cálice do vinho do furor da sua ira. 20 Todas as ilhas fugiram e as montanhas foram aplainadas. 21 Desabou o céu sobre a humanidade. Uma tempestade com enormes pedras de granizo, com cerca de trinta e cinco quilos cada precipitou-se sobre os habi-tantes da terra, e eles blasfemaram contra Deus por causa dessa calamidade, pois o seu castigo foi sobremodo grande.11

A queda da última Babilônia

17 Então, eis que se aproximou um dos sete anjos que têm as sete

taças e convidou-me, dizendo: “Vem comigo, eu te mostrarei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas,1 2 com quem os reis do mundo se prostitu-íram e os habitantes da terra se embriaga-ram com o vinho da sua sedução”. 3 Em seguida, o anjo conduziu-me em Espírito para um deserto. Ali observei uma mulher montada na Besta ver-melho-escarlate, que estava coberta de

nomes blasfemos e possuía sete cabeças e dez chifres.2 4 A mulher estava vestida de azul e vermelho, e adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas. Segurava um cálice de ouro, transbordante de abominações e de tudo quanto é próprio do engano e da sua prostituição. 5 E, em sua fronte, ostentava a seguinte inscrição enigmática: “A Grande Babilô-nia, mãe das prostitutas e de todas as práticas repugnantes sobre a terra”.3 6 Notei que a mulher já estava embria-gada com o sangue dos santos, o sangue dos mártires de Jesus. Assim que a vi, fui tomado de grande espanto.4

7 Então o anjo me encorajou, dizendo: “Por que te admiraste? Eu te explicarei o ministério desta mulher e da Besta que a conduz, e que tem sete cabeças e dez chifres.8 A Besta que viste, era, e já não é. Ela está para subir do Abismo e caminha para a perdição. Os habitantes da terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a criação do mundo, fi carão espantados quando virem a Besta, por-que ela era, agora não é, contudo virá. 9 Agora, é preciso sabedoria para decifrar: As sete cabeças são sete colinas sobre as quais está assentada a mulher.10 Signifi cam, também, sete reis. Cinco deles já caíram, um ainda persiste, mas

11 A Babilônia, mais do que o nome de uma cidade ou nação, representa a capital do pecado; o quartel general da personificação do Diabo, a Besta. Um lugar onde a cultura, a tecnologia e o paganismo se encontram para cooperar com os ideais do anticristo. Na época de João, tinha tudo a ver com o Império de Roma; em meados do século XX, com o movimento nazista mundial, mas, nos dias de maior exposição da tríade maldita (o Anticristo, a Besta e o Falso profeta), será destruída por um terremoto de proporções inimagináveis. Uma forte chuva de pedras, pesando literalmente “um talento” (cerca de 35 quilos) cada, desabará sobre os sobreviventes do terremoto. Entretanto, o coração endurecido e odioso dos incrédulos não saberá reconhecer em todos esses terríveis sinais o apelo final de Deus ao arrependimento e salvação da humanidade em Cristo (Jo 1.11,12).

Capítulo 171 O próprio anjo, no v.18, nos esclarece quanto à identidade desta figura enigmática: a grande prostituta. E, no v.5, informa que

o nome dessa personagem simbólica é “A Grande Babilônia”, porquanto a antiga cidade da Babilônia (que representa absoluta oposição a Deus) era cercada por muitos canais e uma região muito fértil (Jr 51.13; Sl 137.1).

2 Os arrebatamentos no Espírito ou êxtases espirituais como estes, narrados pelo apóstolo João, são raros, mas reais (1.10; 4.2; 21.10; At 10.10,11). A Besta descrita aqui é a mesma que subiu do mar (13.1). Os nomes de blasfêmia simbolizam a autodei-ficação que o anticristo promoverá sobre sua própria pessoa (2Ts 2.4).

3 Da capital pagã e da Besta emanam todas as formas de malignidade e idolatria. Essas são as abominações produzidas pelo anticristo e profetizadas por Cristo (Mt 24.15).

4 João usa a palavra grega original marturõn, “mártires”, para se referir a todas as testemunhas cristãs que morrem por causa da sua fidelidade a Jesus Cristo (14.13).

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30APOCALIPSE 17, 18

outro ainda não surgiu; entretanto, quan-do aparecer, deverá governar durante pouco tempo.5

11 A Besta que era, e agora não é, é o oitavo rei. É um dos sete, e caminha para a perdição.6

12 Os dez chifres que viste são dez so-beranos que ainda não receberam seus reinos, mas que receberão a autoridade de monarcas, por apenas uma hora, jun-tamente com a Besta.7

13 Eles têm o mesmo objetivo e outor-garão à Besta todo o poder e autoridade que detêm. 14 Então, guerrearão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, pois Ele é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; e com Ele vencerão todos os seus eleitos, convocados e fi éis”.15 Em seguida, declarou-me mais o anjo: “As águas que viste, sobre as quais se assenta a prostituta, são os povos, multi-dões, nações e línguas de toda a terra. 16 Os dez chifres e a Besta que viste odiarão a prostituta. Eles a deixarão ar-ruinada e nua; devorarão sua carne e a exterminarão com fogo,17 porquanto, Deus estabeleceu no co-

ração deles a disposição de realizar o propósito que Ele tem, conduzindo-os a concordar em entregar à Besta o poder que eles receberam para reinar até que se cumpram as Palavras de Deus.18 A mulher que viste é a Grande Cidade que reina sobre os reis da terra”.

A queda da última Babilônia

18 Passados esses acontecimentos, vi descer do céu outro anjo, que

possuía grande autoridade, e a terra se iluminou com o seu esplendor.1

2 Então, ele bradou com poderosa voz: “Caiu! Caiu a grande Babilônia, e se tor-nou habitação de demônios e antro de toda espécie de espírito imundo e escon-derijo de toda ave impura e detestável,2

3 porquanto, todas as nações beberam do vinho da cólera da sua prostituição. Os monarcas da terra se prostituíram com ela e os negociadores da terra se enriquece-ram à custa do seu luxo extravagante!”4 Então, ouvi uma outra voz dos céus que exclamava: “Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus peca-dos e para não participardes das pragas que a atingirão!3.

5 É relevante o fato de a cidade de Roma ter sido estabelecida a partir da reunião de sete povoados localizados, cada um sobre uma colina, à margem esquerda do rio Tibre. Vários escritores romanos se referiram a Roma como “a cidade das sete colinas”. Entretanto, considerando a fluidez do simbolismo escatológico, não devemos aplicar essa descrição profética unicamente à cidade de Roma ou ao Império romano, mas observar as estratégias e características gerais da armação, alcance e implantação do império mundial do anticristo. Os grandes impérios, todos marcados por total oposição ao Deus de Israel e a seu Cristo, forte paganismo, depravação moral e autodeificação de seus principais líderes, foram: egípcio, assírio, babilônico, persa, grego, romano, e aquele império global que será anunciado em breve, organizado e comandado pelo anticristo e outras duas personificações do Diabo: a Besta e o Falso profeta (Dn 7.17).

6 O anticristo, que já se manifestou nas pessoas de alguns grandes líderes sanguinários do passado, como Antíoco Epifânio e Adolf Hitler (Dn 8.9,21), reaparecerá com seus plenos poderes para seduzir e, por algum tempo, conquistar globalmente a humanidade (Mt 24.15).

7 Ainda não nos é possível precisar quem serão esses dez grandes líderes (nações) mundiais que, por brevíssimo período de tempo, se aliarão e submeterão suas autoridades ao carisma e governo da Besta. Arruinarão a Grande Cidade (Jerusalém ou alguma outra cidade que represente o ressurgimento babilônico na época), mas serão vencidos por Jesus Cristo e o exército dos seus discípulos (Dn 7.24; 1Co 15.24-25).

Capítulo 181 A glória do Senhor é manifestada em toda a terra (Êx 34.29-35; Sl 104.2; Ez 43.1-5; 1Ts 6.16).2 O poder de Satanás se hospedava na Grande Cidade – a última Babilônia – de onde dominava os ímpios e incrédulos do

mundo todo. Entretanto, a declaração do anjo, na visão de João, feita com o verbo no passado (“Caiu!”), revela a absoluta certeza do cumprimento desta profecia. Assim como a antiga Babilônia se tornou terra de lobos, abutres e outros animais carniceiros, também a última versão diabólica da Babilônia sepultará incontável quantidade de cadáveres em meio à sua ruína fatal (Is 13.19-22; 21.9; 34.11-15; Jr 50.39; 51.37).

3 Assim como os crentes foram avisados para abandonar Jerusalém e se refugiar na cidade de Pela antes do genocídio cometido pelo exército romano no ano 70 d.C., agora, também, o anjo alerta para que os cristãos não se deixem envolver pelos encantos iniciais da Besta e da Grande Cidade. Essa advertência pode ser compreendida de forma simbólica: abandonar o

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5 Pois os pecados da Babilônia se acumu-laram até o céu, e Deus se lembrou de todas as suas práticas iníquas.6 Agora, portanto, dai-lhe em retribuição a mesma moeda investida por ela, e mais, pagai-lhe em dobro por tudo o que fez; no cálice em que misturou bebidas for-tes, misturai, pois, para ela, uma porção dobrada do seu próprio licor.4

7 Causai-lhe tanta afl ição e infelicidade quanto a glória e a riqueza que ela buscou exclusivamente para si, pois no seu íntimo ela meditava: ‘Estou assentada como rainha; não sou viúva, e jamais sentirei tristeza’.8 Por isso, num só dia, as suas merecidas pragas a alcançarão: morte, tristeza e fome; e o fogo a extinguirá, porquanto o Senhor Deus que a julga é Poderoso! 9 Os reis da terra, que com ela se pros-tituíram e aproveitaram do seu luxo, se desesperarão e prantearão por ela, assim que avistarem a fumaça do seu incêndio colossal.5

10 Aterrorizados por causa do tormento dela, fi carão observando de longe e grita-rão: ‘Ai! Ai da Grande Cidade, Babilônia, a cidade forte! Como foi que em apenas uma hora chegou a tua condenação?’11 Os comerciantes da terra prantearão e lamentarão por ela, pois ninguém mais pode comprar as suas mercadorias;6 12 artigos como ouro, prata, pedras pre-ciosas e pérolas, linho, púrpura, seda, te-cidos escarlate, e toda espécie de madeira de cedro e peças de marfi m, madeira preciosa, bronze, ferro e mármore;

13 canela e outras especiarias, incenso, mirra e perfumes; vinho e ovelhas, cava-los e carruagens, e até mesmo corpos e almas de seres humanos.7

14 E eles murmurarão: ‘Também desa-pareceram todas as frutas que tanto lhe davam prazer ao paladar! Todas as suas riquezas e todo o seu esplendor se evapo-raram; jamais serão recuperados’.15 Os negociantes desses produtos, que se enriqueceram à custa dela, se colocarão à distância, apavorados com o seu sofrimento, prantearão, e muito se lamentarão,16 exclamando: ‘Ai! Ai da Grande Cidade, que estava vestida de linho fi no, com roupas de púrpura e luxuosos trajes ver-melhos, toda adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas!17 Em apenas uma hora, tamanha os-tentação e riqueza foram aniquiladas!’ E todos os pilotos, e todos os marinheiros e passageiros dos navios, e todos aqueles que ganham a vida trabalhando no mar fi carão de longe. 18 E ao verem a fumaça do incêndio dela, exclamarão: ‘Que outra cidade jamais se equiparou à Grande Cidade?’6

19 Então, jogarão pó sobre as cabeças e chorando e lamentando muito, exclama-rão: ‘Ai! Ai da Grande Cidade! Por causa de suas riquezas, todos os que possuíam navios no mar se enriqueceram, mas bastou apenas uma hora para que ela virasse um amontoado de escombros!’8 20 Celebrai sobre ela, ó céus, e vós santos, apóstolos e profetas! Porquanto, afi nal,

quanto antes a prática do pecado; e literalmente deixando a Grande Cidade, quando as características demoníacas e anticristãs deste importante centro político, comercial, cultural e militar do mundo se tornarem evidentes e insuportáveis ao remanescente fiel dos cristãos (Is 48.20; 52.11; Jr 50.8; 51.54; Zc 2.7; 2Co 6.16-18).

4 O alucinante dispêndio de esforço e zelo na busca por dinheiro e prazer se transformará em angústia e aflição dobradas no final dos tempos. A Babilônia jamais reconhecerá a destruição e morte de seus exércitos nos campos de batalha (v.7; Jr 50.29).

5 Os reis e governantes de todas as nações que se aliaram à Babilônia, lamentarão as enormes perdas econômico-financeiras, que lhes sobrevirão. O profeta Ezequiel teve a mesma triste e dramática revelação sobre a destruição da cidade de Tiro (Ez 27).

6 O vício, a moda, as doenças e a ignorância produzem um grande e lucrativo mercado internacional para empresas e indivíduos. A queda da última Babilônia arruinará, de uma hora para outra, a estabilidade da economia mundial baseada no pecado (vv. 8,19,21).

7 O profeta Ezequiel faz uma lista muito parecida de produtos e serviços altamente valorizados pelos negociantes e consu-midores mundanos (Ez 26). Mais do que transacionar corpos, Satanás está interessado em escravizar almas humanas ao seu sistema de valores.

8 Outra analogia à narrativa de Ezequiel sobre o desespero e a tristeza que tomou conta de todos quantos apostaram seu futuro nos ganhos materiais e no sucesso oferecidos pela Grande Cidade (Ez 27.30).

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Deus a julgou, retribuindo-lhe tudo quan-to ela praticou contra vós!”.

A ruína da Babilônia é defi nitiva 21 Então, um forte anjo levantou uma pe-dra, do tamanho de uma grande pedra de moinho, e lançou-a ao mar, exclamando: “Com semelhante violência será jogada por terra a Grande Cidade de Babilônia, para nunca mais ser encontrada!’22 Jamais se voltará a ouvir em suas pra-ças o som dos harpistas, dos músicos, dos fl autistas, nem dos tocadores de trombe-tas. Nunca mais se encontrará dentro de seus muros artífi ce algum, de qualquer ramo da arte. Também jamais se ouvirá em seu interior o ruído do trabalho das pedras de moinho. 23 Nunca mais brilhará dentre seus limi-tes a luz das candeias. Jamais se ouvirá ali a voz do noivo e da noiva. Seus comer-ciantes eram os grandes profi ssionais do mundo. Todas as nações foram seduzidas por suas feitiçarias.9 24 E, em suas dependências, foi descoberto sangue de profetas e de santos, e de todos os que foram assassinados na terra”.10

Aleluia! Júbilo no céu

19 Havendo passado esses aconteci-mentos, ouvi no céu uma voz grave

que anunciava: “Aleluia! A salvação, a gló-ria e o poder pertencem ao nosso Deus,1

2 porquanto, verdadeiros e justos são os seus juízos. Ele condenou a grande prostituta que corrompia a terra com a sua sedução, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos”. 3 E mais uma vez a multidão reunida exclamou: “Aleluia! A fumaça que dela parte, sobe pelos séculos dos séculos. 4 Então, os vinte e quatro anciãos e os qua-tro seres viventes prostraram-se e adora-ram a Deus, que está assentado no trono, e exclamavam: “Amém! Aleluia!”5 E do trono partiu uma voz que concla-mava: “Louvai o nosso Deus, vós, todos os seus servos, e vós que o temeis, tanto pequenos como grandes!”6 Então, ouvi algo semelhante ao som de uma grande multidão, como o estrondo de muitas águas e poderosos trovões, que bradava: “Aleluia! Porquanto, o Senhor nosso Deus, o Todo-Poderoso, já reina! 7 Alegremo-nos, exultemos e demos glória a Ele, porque chegou a hora das bodas do Cordeiro e sua noiva já está preparada”.2

8 Para vestir-se, foi-lhe providenciado linho fi no, puro e resplandecente. O linho fi no representa os atos de justiça dos santos. 9 Então, o anjo me ordenou: “Escreve: Bem-aventurados os que são chamados ao banquete das núpcias do Cordeiro!” E disse-me mais: “Estas são as exatas palavras de Deus!”.3

9 O grande objetivo de Satanás é ser adorado. Por isso, não faltará em todos os seus relacionamentos com o ser humano, algum tipo de culto religioso e adoração mística ainda que dissimulados (Ef 2.2; 6.11-12). Nos últimos dias, entretanto, o Diabo e seus anticristos manifestarão, de forma mais clara e pública, os seus atributos místicos, assim como requisitarão de seus segui-dores provas evidentes de culto às suas personalidades (13.14).

10 Haverá, portanto, um tempo, como nenhum outro, em que os profetas do Senhor e os cristãos sinceros serão perseguidos e mortos impiedosamente pelo anticristo e seus asseclas (6.10; 17.6; 19.2 de acordo com Ez 24.7; Jr 51.49). Contudo, a Babilônia nunca mais será reeditada e todos os crentes sinceros serão ressuscitados para herdar um novo mundo, repleto de paz e felici-dade, ao lado de Cristo (Jo 6.38-40; 10.9,10).

Capítulo 191 “Aleluia” é uma expressão hebraica, rara no NT, que significa “Louvai a Yahweh (Jeová)”. Essa convocação ocorre quatro

vezes do v. 1 ao 6, a fim de anunciar que a Salvação e o Triunfo pertencem ao Senhor, e que é chegado o Dia das bodas do Cordeiro, e sua noiva (sua Igreja) já está preparada para as núpcias eternas.

2 João usa a linguagem figurada de um casamento, conhecida no NT, para comunicar a intimidade de amor e compromisso entre Deus e seu povo. Laços de perene fidelidade e fraternidade que têm raízes nos escritos proféticos do AT (Is 54.5-7; 62.5; Jr 31.32; Os 2.19), e foram reafirmados por Cristo e pelos apóstolos ao se referirem à Igreja toda, e não apenas a um segmento ou denominação cristã (Mt 22.2-14; 25.6,7; Ef 5.25-32; 1Jo 3.2,3; 2Co 7.1).

3 A expressão “os convidados” tem o mesmo significado de “a esposa ou a noiva” e “a cidade santa”. São todas figuras de linguagem que nos ajudam a compreender o profundo amor de Deus por seu povo em toda a terra (21.2-10). Felizes (bem-

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10 Diante disso, lancei-me aos seus pés num gesto de adoração, mas ele, imedia-tamente, me orientou: “Olha, não faças isso; sou conservo teu e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus, porquanto o testemunho de Jesus é a essência da profecia”.4

Cristo vence todos os inimigos 11 Então, olhei e eis que vi os céus abertos, e diante de mim um cavalo branco, cujo cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele é responsável por julgar e guerrear com justiça.5 12 Seus olhos são como chamas vivas de fogo, e em sua cabeça há muitas coroas e um Nome escrito que somente Ele conhece.6

13 Estava vestido com um manto salpi-cado de sangue, e seu Nome é Palavra de Deus.7

14 Os exércitos dos céus o seguiam, vesti-

dos de linho fi no, alvo e puro, mon-tados em cavalos brancos.8 15 Uma espada afi ada saía-lhe da boca para ferir com ela as nações. Ele as regerá com cetro de ferro; e Ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho da justa ira de Deus Todo-Poderoso.9

16 Em seu manto, sobre a coxa, traz es-crito este nome: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES.17 Avistei um outro anjo que se colocou em pé no sol, e que clamava em alta voz a todas as aves que estavam em pleno vôo pelo meio do céu: “Vinde, ajuntai-vos para a grande ceia provida por Deus,10

18 a fi m de comerdes a carne de reis, de comandantes, de poderosos, de cavalos e de seus cavaleiros, pequenos e grandes. 19 Nesse momento, vi a Besta, os reis da terra e os seus exércitos reunidos para guerrearem contra Aquele que está mon-tado no cavalo e contra o seu exército.11

aventurados) são todos aqueles que receberam o convite do Senhor e o aceitaram de coração, pois somente os convidados, que confirmaram sua presença por meio de uma resposta íntima, positiva e sincera ao discipulado de Cristo, estarão presentes ao banquete nupcial do Cordeiro. E o anjo assegura que essas são as “exatas” (literalmente em grego: ajlhqinoi; “verdadeiras”), palavras de Deus e que, portanto, a promessa desta festa maravilhosa se cumprirá com toda certeza, assim como o julgamento e condenação dos incrédulos, ímpios e impenitentes.

4 O fiel e fraterno testemunho sobre Jesus, capaz de vencer as mais difíceis crises, provações e perseguições é aquele que tem sua fonte na essência (literalmente: “no espírito”) da profecia (1.17; At 10.25).

5 Esse “cavalo branco” é o símbolo do glorioso retorno de Cristo como Guerreiro-Messias-Rei. Seus títulos “Fiel e Verdadeiro” salientam a absoluta segurança com que os crentes devem aguardar, e cooperar para o cumprimento dessas promessas do Senhor (1.5; 3.14; Mt 24.35 de acordo com Is 9.3-5; 11.4; Ez 1.1).

6 O valor e a importância do Nome, como indicativo de família e caráter herdados de Deus, se manterá no Reino. Esse nome, no entanto, será conservado em segredo até a batalha final (2.17), quando Cristo despojará toda força que se opõem a Deus e exercerá seu poder sobre todas as coroas (reinos, diademas) do mundo (v.16; Dn 10.6; Fp 2.9).

7 Somente o apóstolo João empregou o termo grego logos (palavra), para descrever a pessoa do Filho de Deus como sendo seu próprio “fôlego espiritual” (hálito). Jesus é a expressão exata da vontade divina ao salvar, santificar, julgar, destruir a iniqüidade e criar o novo e eterno mundo (a Nova Jerusalém) para a nova humanidade. As marcas de sangue em seu manto são provenientes do seu próprio corpo (para a salvação) e dos inimigos de Deus (para a condenação final – 14.14-20; Is 63.1-3).

8 Um poderoso exército composto de seres angelicais (Dt 33.2; Sl 68.17) e humanos salvos de todas as épocas (17.14), que executarão a justa e definitiva sentença de Deus contra o império de Satanás (v.19; Mt 25.31).

9 Cristo não precisará de nada além da sua própria Palavra (Hb 4.12,13), para executar o julgamento e execução dos incrédulos e pecadores manipulados pelo anticristo e suas entidades (bestas). Logo depois de haver aniquilado o Mal, instalará seu Reino de paz e justiça plenas, e regerá o mundo com eqüidade, literalmente: “cajado de ferro” (Sl 2.9; Is 11.4; 63.3; Jl 3.13; Ap 14.20).

10 Aqui temos a cena terrível e dramática do banquete que farão os abutres e aves carniceiras com os corpos dos incrédulos, ímpios e impenitentes sobre a face da terra, em contraste com a exultante ceia dos crentes nas bodas do Cordeiro (v.9). O Armagedom, a última guerra entre os exércitos de Satanás e o poder de Jesus Cristo, o Messias e seus fiéis, deixarão sobre a terra os corpos de todos aqueles que se consideravam poderosos, ricos, cultos e indestrutíveis em suas perversidades (16.16), de maneira que não restará sequer quem os sepulte (Mt 24.28 de acordo com Ez 39.17-20).

11 A narrativa do Apocalipse é como uma pintura complexa e delicada à qual o artista volta sucessivas vezes para incorporar um detalhe ou retocar algum aspecto importante do quadro geral. Assim, a Besta, cujo exército está descrito em 16.13-14, comanda uma união de dez nações (ou reis) contra a Babilônia (17.16-18), com o objetivo de igualmente atacar o Cordeiro (17.4). O Maligno não tem paz, e, em seu egoísmo perverso e ensandecido, busca a ruína de bons e maus sem distinção.

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20 No entanto, a Besta foi presa, e com ela o Falso profeta que havia realizado gran-des sinais miraculosos em nome dela, por intermédio dos quais ele havia enga-nado todos os que receberam a marca da Besta e adoraram a sua imagem. Os dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre.12 21 Todos os demais foram mortos com a espada que saía da boca daquele que está montado no cavalo. E todas as aves se fartaram com a carne deles.

Os cristãos reinam por mil anos

20 Então, observei que desceu do céu um anjo com a chave do Abismo

e uma grande corrente em sua mão.1 2 Ele prendeu o Dragão, a antiga Serpen-te, que é o Diabo, Satanás e o amarrou por mil anos.2

3 Lançou-o no Abismo, onde o fechou e pôs um selo sobre ele, para que não enganasse mais as nações, até que os mil anos se completassem. Depois disso,

é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo.4 Olhei e vi alguns tronos, e foi entregue o poder de julgar aos que neles se assentaram; e vi as almas dos que foram degolados por causa do testemunho de Jesus e da Palavra de Deus, os que não adoraram a Besta nem tampouco a sua imagem, e não receberam o sinal na testa nem nas mãos. Eles reviveram e reinaram com Cristo durante mil anos.3

5 Entretanto, os demais mortos não revive-ram, até que se completassem os mil anos. Está é, pois, a primeira ressurreição.4

6 Bem-aventurados e santos os que tomam parte da primeira ressurreição! A segunda morte não tem poder algum sobre eles; serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com Ele pelo período de mil anos.5

A destruição total de Satanás 7 Quando se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão

12 O castigo por meio do fogo, que arde sem parar sob uma densa atmosfera de enxofre, sempre fez parte dos ensinos judaicos primitivos sobre o juízo final e eterno. Apesar da expressão grega “geena” (inferno) não ter sido usada aqui, não há dúvida de que João se refere a esse lugar de punição, desolação e dor (Mt 5.22, de acordo com 2Rs 16.3; 23.10; Jr 7.31). Entretanto, o “inferno” não é o mesmo local designado de “Abismo” (9.1-3; 20.1-3), mas uma espécie de jazigo final de Satanás e de todos os seus asseclas e simpatizantes (passivos ou ativos). Ou seja, todos quantos não fizeram uma declaração pessoal e sincera de aceitação incondicional do ato expiatório e salvífico de Cristo. Tanto a doutrina do “inferno”, quanto a do “céu”, tão solidamente apresentadas neste livro, são expostas de forma simbólica por meio de vívidas e dramáticas metáforas (capítulos: 4, 5, 21 e 22).

Capítulo 201 Os três capítulos finais de Apocalipse fazem uma reflexão sobre os principais assuntos dos primeiros três capítulos de Gêne-

sis. O livro das origens dialoga com o livro do final dos tempos e da nova criação (21.1). Sobre o “Abismo” ver nota em 9.1. 2 Alguns teólogos consideram esse tempo como um período literal e exato de mil anos. Outros, compreendem o milênio (em

latim mille annus) como uma extensão indeterminada de tempo. De qualquer forma, o que não há como negar é que seja um tempo longo (do ponto de vista humano), em que Jesus Cristo e os salvos reinarão sobre a terra, substituindo o império do anticristo e de seus asseclas e simpatizantes, cumprindo perfeitamente mais essas profecias escatológicas do AT, preanunciando o julgamento final, o fim da terra e da humanidade como as conhecemos hoje, e o início de um novo mundo, onde habitarão os seres humanos salvos (Sl 72.1-20; Isaías caps. 2 a 63; Jr 23.5-7; 33.14-16; Ez 36.16-18; caps. 40 a 48; Zc 6.12-14; Dn 7.1-28; Mq 4.1-4; Mt 25.31-32; 1Co 15.24-28). Quem deseja se aprofundar nessa área de estudo, deve buscar conhecer melhor três correntes de pensamento teológico sobre esse assunto: o amilenarismo, o pré-milenarismo e o pós-milenarismo.

3 Todos os salvos (santos) compartilham do reinado de Cristo, o Leão da tribo de Judá (5.5), não apenas os mártires e aqueles que ministram – em tempo integral – a serviço do Senhor e da Igreja (Dn 9.7).

4 Haverá uma primeira ressurreição, a dos justos (Lc 14.14), que precederá o arrebatamento de todos os que estiverem vivos no exato momento do glorioso retorno de Cristo (1Ts 4.16-17; 1Co 15.52). É importante notar que todos os seres humanos ressuscitarão e serão julgados por suas obras. Os justos, primeiro (os que acolheram com sinceridade o dom da Salvação em Cristo e, portanto, têm seus nomes inscritos no Livro da Vida). Depois de um tempo, os ímpios (os incrédulos que rejeitaram ou menosprezaram a dádiva da Salvação), a fim de serem lançados no lago de fogo perpétuo (v.12; Dn 12.2; Jo 5.29).

5 A primeira morte é a simples morte física e a conseqüente separação da alma do corpo. A segunda morte é definitiva e eterna; tem a ver com a separação da alma humana do doador da vida: o Senhor Deus (v.14; 21.8).

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8 e sairá para seduzir as nações que estão nos quatro cantos da terra, Gogue e Ma-gogue,6 cujo número é como a areia do mar, a fi m de ajuntá-las para a grande guerra.9 Então, as nações marcharam por toda a superfície da terra e cercaram o acampa-mento dos santos, a Cidade Amada; toda-via, um fogo desceu do céu e as devorou. 10 O Diabo, que as enganava, foi lançado no lago de fogo que arde com enxofre, onde já haviam sido confi nados a Besta e o Falso profeta. Eles serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos.

O julgamento dos mortos 11 Em seguida, observei um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, a terra e o céu fugiram da sua presença e não foi achado lugar para eles.12 Vi também os mortos, grandes e pe-quenos, em pé diante do trono e alguns livros foram abertos. Então, abriu-se um outro livro, o Livro da Vida, e os mortos

foram julgados pelas observações que estavam registradas nos livros, de acordo com as suas obras realizadas.7

13 O mar entregou os mortos que jaziam nele, e a morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia; e um por um foi julgado em conformidade com o que tinha feito.8

14 Então, a morte e o Hades foram ati-rados no lago de fogo. Esta é a segunda morte: o lago de fogo!15 E todo aquele cujo nome não foi en-contrado escrito no Livro da Vida foi lançado no lago de fogo.

O novo céu e a nova terra

21 Então vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira

terra haviam passado; e o mar já não mais existia.1

2 Vi também a Cidade Santa, a nova Je-rusalém, que descia dos céus, da parte de Deus, adornada como uma linda noiva para o seu esposo amado.2

6 Satanás, como todo narciso, egoísta e arrogante, não pode aprender nem mudar, pois crê que tudo sabe e de nada precisa. Após “mil anos”, ele sai, e sua ambição e métodos não se alteraram desde Gn 3 até ser aprisionado, por gerações e gerações, em Ap 20. Satanás continua a usar suas armas mais poderosas: a sedução, o engano e a mentira (Jo 8.44; 1Jo 2.22) contra a humanidade, porque sabe que o ser humano é profundamente corrupto e pecaminoso. Nem mesmo todas as experiências vividas pela humanidade com Cristo, e os mil anos da mais absoluta prosperidade mundial, evitarão com que pessoas de várias nações (simbolizadas por dois nomes enigmáticos: Gogue e Magogue – Ez caps. 38 e 39) voltem a cair nas artimanhas do Diabo para se rebelarem contra Deus. Contudo, da mesma forma como a Besta, o Falso profeta e a Prostituta, o Inimigo de Deus e da humanidade será igualmente derrotado, humilhado e atirado no lago de fogo, que perpetuamente o destruirá. O Diabo ainda reclamará o juízo e o castigo eterno de Deus sobre todos quantos enganou durante o milênio.

7 Logo após o tempo do “milênio” (vv.2-6), acontecerá a ressurreição dos ímpios para o juízo do lago de fogo. O critério deste grande julgamento será comportamental, ou seja, contará tudo quanto o incrédulo realizou por meio da sua mente e corpo (v.13), o que significa que as culpas corresponderão aos pecados e maldades que cada pessoa praticou em vida (Lc 12.47-48; Rm 2.6). Entretanto, no Livro da Vida (uma metáfora do registro dos nomes dos salvos no céu), encontram-se os nomes de todos os que creram sinceramente na pessoa e obra de Cristo, e, portanto, foram salvos do juízo final pela graça de Deus-Pai (Êx 32.32,33; Jo 1.12).

8 A palavra grega original a}dh" “Hades”, quase sempre traduz o termo hebraico transliterado She’ôl, cujo sentido no AT tem a ver com as “profundezas onde jazem os mortos”, e pode ser traduzida no NT por “inferno”, “sepulcro”, “morte” ou “profundezas”, assim como no v.14.

Capítulo 211 O termo grego original kaino;n kainos significa “novo” em qualidade, ineditismo e temporalidade (20.11). Somente Deus é

capaz de criar o absolutamente novo. A terra e a humanidade ingressarão num novo Universo, onde não mais dependeremos da força e energia de astros como o sol, a lua e as estrelas (v.23). O mar, na tradição judaica sempre simbolizou o caos (entropia) e a malignidade. Na nova ordem, não haverá qualquer sombra de maldade, e o mar físico pode desaparecer do planeta como um sinal da total implantação do Reino de Cristo sobre a terra (Rm 8.19-22).

2 A “Cidade Santa” é a Nova Jerusalém, a Igreja de Cristo, adornada como uma noiva perfeita (bonita, amorosa e fiel). O enlace matrimonial do Senhor com sua Igreja (seu povo salvo e santo) é uma metáfora judaica antiga do amor de Deus pela humanidade (19.7; Ef 5.26-27). A “Cidade Santa” reúne em si os principais elementos de Jerusalém, do Templo e do Jardim do Éden. A drástica separação que houve, fruto da infidelidade humana, agora está completamente perdoada e superada em Cristo (Gn 3; Hb 9.15; 12.24).

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3 E ouvi uma forte voz que procedia do trono e declarava: “Eis que o Tabernáculo de Deus agora está entre os homens, com os quais Ele habitará. Eles serão o seu povo e o próprio Deus viverá com eles, e será o seu Deus.3

4 Ele lhes enxugará dos olhos toda a lágri-ma; não haverá mais morte, nem pran-to, nem lamento, nem dor, porquanto a antiga ordem está encerrada!”.4

5 E Aquele que está assentado no trono afi rmou: “Eis que faço novas todas as coisas!” E acrescentou: “Escreve isto, pois estas palavras são verdadeiras e absolutamente dignas de confi ança”.6 E declarou-me ainda: “Tudo está reali-zado! Eu Sou o Alfa e o Ômega, o Prin-cípio e o Fim. A todos quantos tiverem sede lhes darei de beber graciosamente da fonte da Água da Vida. 7 O vencedor herdará todas essas bênçãos, e Eu serei seu Deus e ele será meu fi lho. 8 Porém, quanto aos covardes, os incrédu-los, os depravados, os assassinos, os que praticam imoralidade sexual, os bruxos e ocultistas, os idólatras e todos os mentiro-sos, a parte que lhes cabe será no lago de fogo, que arde perpetuamente em meio ao enxofre. Esta é a segunda morte!”.5

A Nova Jerusalém 9 Então, um dos sete anjos que traziam as

sete taças cheias dos sete últimos fl agelos aproximou-se e me orientou: “Vem, eu te mostrarei a noiva, a esposa do Cor-deiro!”.

6

10 E ele me conduziu no Espírito à parte alta de uma montanha, e revelou-me a Cidade Santa: Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus.7

11 Ela resplandecia com a glória de Deus, e o seu esplendor era como o brilho de uma jóia lapidada e muito preciosa, assim como um grande diamante trans-lúcido feito cristal puro.8 12 Tinha um sólido e altaneiro muro com doze portais e doze anjos junto aos portais. Nessas portas adornadas, estavam escritos os nomes das doze tribos de Israel.9

13 Assim, havia três portas ao oriente, três ao norte, três ao sul e três ao ocidente. 14 O muro da cidade tinha doze funda-mentos, e neles estavam gravados os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.15 O anjo que falava comigo tinha como medida uma vara feita de ouro, para me-dir a cidade, seus portais e seus muros.16 A cidade era quadrangular, de com-primento e largura iguais. Ele mediu a cidade com a vara; tinha dois mil e duzentos quilômetros de comprimento; a largura e a altura eram também iguais ao comprimento.10

3 Desde a libertação do povo de Deus do Egito que a figura do Tabernáculo significa a presença do Espírito de Deus junto dos seus filhos amados. Finalmente, eternamente, agora, essa convivência será perfeita (Jo 1.14). O Senhor fez de seus filhos Reino e Sacerdócio, e estes receberam o direito de viver na presença do Pai (Lv 26.11-12; Ez 37.27; 2Co 6.16).

4 Todos os males, tristezas e dores vivenciados no mundo atual serão superados e consolados no novo mundo, onde impera o Reino de Cristo (7.17; Is 25.8; 1Jo 3.2).

5 Em geral, pessoas que vivem na prática obstinada desses erros e pecados são as mesmas que negam que Jesus Cristo é o Messias e o Filho de Deus. Os crentes sinceros entregam o controle de suas vontades e atitudes ao Espírito do Senhor, e jamais desistem de buscar a santificação (1Jo 2.22).

6 Os sete últimos flagelos ou pragas da justa ira divina (15.1). A “esposa do Cordeiro” e a “Cidade Santa” são símbolos usados para representar a cidade que Abraão aguardava pela fé obediente em Deus (Hb 11.10-16, de acordo com Ap 21.22-24).

7 Ver notas sobre a expressão “no Espírito” em 1.10; 4.2 e 17.3 8 A beleza exuberante de uma jóia rara, pura e muito valiosa simboliza a santificação dos crentes que agora compartilham

alegremente da glória de Deus Pai, que já descreveu a sua glória como o esplendor das mais ricas gemas de diamante e jaspe (4.3; Ez 43.5).

9 Os doze portais ou portas ornamentadas com requinte e arte representam o ingresso dos salvos no Reino, o número simbólico, completo e generoso de 144.000 de 7.4-8. A cifra 12, representando abundância, graça, completeza e perfeição, faz uma menção honrosa às doze tribos de Israel, e ressalta o vínculo que há entre o AT e o NT ao mencionar os doze apóstolos nos fundamentos da Cidade (v.14; Ez 48.30-35).

10 Para os antigos gregos, o cubo era a forma geométrica (quadrangular) que simbolizava a perfeição, pois nele, comprimento,

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17 Ele mediu o muro e deu sessenta e cinco metros de altura, de acordo com a medida humana que o anjo estava usando.18 O muro era todo feito de diamante e a cidade era de ouro puro, semelhante a vidro límpido.11

19 Os fundamentos do muro da cidade estavam adornados com toda espécie de pedras preciosas. O primeiro fundamen-to era de cristal de jaspe; o segundo, de safi ra; o terceiro, de calcedônia; o quarto, de esmeralda; 20 o quinto, de sardônica; o sexto, de sárdio; o sétimo, de crisólito; o oitavo, de berilo; o nono, de topázio; o décimo, de crisópraso; o décimo primeiro, de jacin-to; o décimo segundo, de ametista.21 Os doze portais eram doze pérolas; cada um dos portais construído a partir de uma só pérola; e a rua principal da cidade era de ouro puro, reluzente como o vidro límpido.22 Contudo, não vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus Todo-Pode-roso e o Cordeiro são o seu santuário.12

23 A cidade também não necessita do sol

nem da lua, para que brilhem sobre ela, pois a plena Glória de Deus a ilumina e o Cordeiro é o seu candelabro.13

24 As nações andarão sob a luz dela, e os reis da terra lhe trarão suas riquezas. 25 Os seus portais estarão continuamente abertos todos os dias, e ali não haverá noite.26 A glória e a honra de todas as nações lhe serão trazidas. 27 Nela jamais entrará qualquer coisa impura, tampouco, alguém que pratique ações vergonhosas ou mentirosas, mas unicamente aqueles cujos nomes estão gravados no Livro da Vida do Cordeiro!14

O rio da água da vida

22 Então, o anjo me mostrou o rio da água da vida que, translúcido

como cristal, fl uía do trono de Deus e do Cordeiro,1 2 e que passa no meio da rua principal da cidade. De uma e outra margem do rio estava a árvore da vida, que produz doze frutos, de mês em mês; e as folhas da ár-vore servem para a cura das nações.2

largura e altura têm a mesma medida. Para os judeus, o cubo era lembrado como o formato geral dos Santos dos Santos no Tabernáculo e no Templo. Em Ap 11, as medidas foram tomadas como garantia de proteção; aqui, são uma clara demonstração da beleza, simetria, perfeição e amplitude impressionante da graça divina. A medida grega citada no texto original é o “estádio”, que equivale a 185 metros, correspondendo a um total de “doze mil estádios”. O Senhor Deus é o Edificador do seu povo e da perfeita habitação dos crentes sinceros (Ef 2.19-22).

11 A medida original grega do muro é de 144 côvados. O côvado era uma medida linear equivalente a cerca de 45 centímetros. O cristal de jaspe ou diamante simboliza a pureza, resistência, beleza, riqueza e perenidade das obras realizadas pelo Senhor. O ouro límpido e cintilante como o vidro revela a absoluta ausência de contaminação e corrupção. Satanás jamais conseguirá seduzir o povo de Deus nem induzir o ser humano ao erro (v.27; Gn 3.1-7).

12 A constante presença do Tabernáculo, e depois do Templo em Jerusalém, sempre foi um símbolo de reverência e encorajamento quanto à presença amorosa e poderosa do Deus de Israel, e uma lembrança perpétua de que todo ser humano é pecador e carece da graça, do perdão e da glória do Senhor (Rm 3.23-24). Entrar no Santo dos Santos de forma indigna significava a morte imediata do transgressor. Nos dias atuais, para desalento dos judeus, sobre as ruínas do último Templo cintila a cúpula dourada da mesquita islâmica de Omar, que também, com seu formato cúbico, resiste em Jerusalém desde o séc. VII. A “Cidade Santa”, entretanto, será habitada somente pelos salvos e santos. O relacionamento com Deus será franqueado e ininterrupto, pois na Nova Terra, todo lugar é lugar de abundante e alegre comunhão entre o Pai e seus filhos remidos (22.3).

13 Cristo é toda a exuberância da glória de Deus-Pai manifesta ao mundo (Jo 1.14). Portanto, na nova existência celestial não serão necessárias outras fontes de energia que não sejam a própria presença gloriosa do Senhor (Is 60.19).

14 A “Cidade Santa” não conhecerá a escuridão ou as trevas, e jamais será ameaçada por qualquer perigo ou ação maligna (Is 11.9-10).

Capítulo 221 O rio da água da vida representa que o processo da nossa salvação eterna foi idealizado e implementado pelo Espírito de

Deus-Pai e Filho, o Cordeiro. O rio da graça infinita de Deus flui a partir do trono do Senhor por toda a eternidade (Ez 47.1). 2 A árvore da vida foi ocultada de Adão e Eva e de toda a humanidade (Gn 2.9; 3.22-24; Ez 47.12), mas agora seu acesso está

franqueado aos salvos e santificados. Seus frutos e folhas simbolizam a generosa graça e o transbordante poder que emana da salvação premiada a todas as pessoas que crêem no sacrifício vicário e remidor de Cristo (Jo 10.10).

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3 E nunca mais haverá maldição. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro; e os servos do Senhor o servirão.4 Eles contemplarão a sua face, e o seu Nome estará sobre as frontes dos seus servos.3

5 Assim, já não haverá noite, nem ne-cessitarão eles da luz dos candelabros, nem da luz do sol, pois o Senhor Deus os iluminará, e eles reinarão para todo o sempre.

Breve estas profecias ocorrerão 6 Então, o anjo me afi rmou: “Estas pala-vras são absolutamente dignas de con-fi ança e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou o seu anjo para revelar aos seus servos os acon-tecimentos que em breve se realizarão.7 Eis que venho em breve! Bem-aventu-rado aquele que atende às palavras da profecia deste livro!”.

Exortações e conclusão do livro8 Eu, João, sou quem ouviu e anteviu to-dos esses acontecimentos. Quando os vi e ouvi, prostrei-me aos pés do anjo que os revelava a mim, a fi m de adorá-lo.

9 Entretanto, ele me admoestou: “Olha, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e de todos os que guardam as palavras deste livro. Adora, pois, a Deus!”4

10 E acrescentou: “Não ocultes as pala-vras da profecia deste livro, porquanto o tempo se aproxima rapidamente.5

11 Ora, quem é injusto, continue na in-justiça; quem é mundano, continue na impureza; mas quem é justo, fi rme-se na prática da justiça; e quem é santo, conti-nue a buscar a santifi cação.6

12 Eis que venho sem demora! E trago co-migo o galardão que tenho para premiar a cada um segundo as suas obras.7

13 Eu Sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Derradeiro, o Princípio e o Fim. 14 Bem-aventurados todos os que lavam as suas roupas no sangue do Cordeiro, e assim ganham o direito à árvore da vida, e podem adentrar na Cidade através de seus portais.15 No entanto, fora estão os cães, os bruxos e ocultistas, os que cometem imoralidades sexuais, os assassinos, os idólatras e todos os que amam e prati-cam a mentira.8

3 A expressão literal grega indica que “seus escravos terão grande prazer em servi-lo, como uma forma de culto” (v.3). Na “Cidade Santa” (no Reino eterno), a plena soberania do Senhor será aceita e seguida com muita alegria (Mt 6.10). Na Antiguidade, os criminosos não podiam ficar na mesma cidade em que residia o rei, por isso eram banidos da sua presença (Et 7.8; 2Sm 14.24). Os pecadores remidos por Cristo ganham a bênção de, na eternidade, poderem contemplar a face do Senhor (Rm 8.1; 1Co 13.12; Êx 33.20; Jo 1.18). O Nome do Senhor representa seu caráter estampado nos crentes para sempre (3.12).

4 Este livro todo é uma revelação especial de Jesus Cristo para que o apóstolo João a transmitisse às igrejas em todo mundo, e essas as pregassem para todas as pessoas até a volta do Senhor. Todas as palavras e visões foram passadas por um dos principais anjos do Senhor a João, que aqui é reconhecido também como porta-voz de Deus, assim como os demais profetas do AT e NT (v.16).

5 Ao contrário do profeta Daniel, agora João recebe uma ordem expressa para não esconder (fechar, selar) o conteúdo das profecias deste livro até a volta do Senhor (Dn 8.26; 12.4,9). As exortações deste livro devem ser atendidas pelas igrejas de todas as gerações, desde a época de João até o final dos tempos. A salvação é tão graciosa e vital, que até no último segundo ainda haverá tempo para que o pecador se arrependa, seja convertido por Cristo, e herde a vida eterna na presença de Deus-Pai (Lc 23.43). Ainda que pareça demorar, o Senhor Jesus prometeu que viria rapidamente – de acordo com sua graça, sabedoria e longaminidade – e, por isso, a Igreja deve viver em santa expectativa (1Co 7.29-31).

6 Aqui não há uma simples aquiescência ao perverso status quo (procedimento habitual ou padrão) da sociedade mundana, mas uma advertência quanto ao fato de que à medida que o glorioso retorno de Cristo se aproxima, os tempos e as pessoas se tornarão ainda mais incrédulos e maldosos. Os cristãos, por sua vez, devem buscar a santificação e testemunhar a salvação que há em Cristo ao mundo.

7 O texto se refere ao cumprimento das promessas do Senhor de galardoar (honrar, premiar) os vencedores (crentes sinceros e perseverantes na fé), e de pagar a devida punição aos rebeldes e impenitentes (2.7-28; 3.5-21; 21.8).

8 Na tradição judaica do AT, a expressão “cães” era aplicada para descrever todas as pessoas que se envolviam com práticas religiosas impuras e procedimentos éticos e morais contrários à Lei. Em Dt 23.18, o termo é usado para se referir à prostituição

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16 Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos entregar esse testemunho em relação às igrejas. Eu Sou a Raiz e o prometido Descendente de Davi, e a brilhante Estrela da Manhã.

Advertências e bênção fi nal 17 O Espírito e a Noiva proclamam: “Vem!” E todo aquele que ouvir responda: “Vem!” Quem sentir sede venha, e todos quantos desejarem, venham e recebam de graça a água da vida!9

18 Portanto, declaro a todos os que ouvem

as palavras da profecia deste livro: Se al-guém lhes acrescentar algo, Deus lhe acres-centará os fl agelos descritos neste livro.19 Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará dele a sua parte na árvore da vida e na Cidade San-ta, que são descritas neste livro. 20 Aquele que dá testemunho destas palavras afirma: “Com toda a certeza, venho rapidamente!” Amém. Vem, Se-nhor Jesus!10 21 A graça do Senhor Jesus seja com to-dos. Amém!

feminina e masculina, comum em Canaã como rito religioso pagão e, infelizmente, incorporado por algumas seitas ocultistas em nossos dias.

9 Este é o último apelo evangelístico que o Espírito de Deus faz por meio da sua Noiva (a Igreja de Cristo – 21.2; Ef 5.27). Toda pessoa que ouvir (atender) essa pregação de arrependimento e conversão, deve responder afirmativamente a Cristo: “Vem!”, e nascer de novo (Jo 3; Mt 5.6; Ef 2.8-9; Is 55.1; Ap 21.6).

10 A expressão grega e{rcou kuvrie !Ihsou' “Vem, Senhor Jesus!”, traduz a oração que os cristãos da antiga igreja em Jerusalém costumavam fazer em aramaico “Maranata!”, palavra que se repetia com expectativa e fervor nas celebrações regulares da Ceia do Senhor e que deve representar também a nossa esperança e contentamento no dia de hoje (1Co 16.22).