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380Rev Bras Epidemiol2007; 10(3): 380-90
Doenas hematolgicas esituaes de risco ambiental: aimportncia do registro para avigilncia epidemiolgica
Hematological diseases andenvironmental risk: the importanceof clinical records to epidemiologicalsurveillance
Gisele Cazarin1
Lia Giraldo da Silva Augusto2
Raul Antnio Morais Melo3
1Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira/Departamento de Estudosem Sade Coletiva. Centro de Pesquisas Aggeu Magalhes/ Fundao OswaldoCruz (FIOCRUZ), Recife,PE.2Centro de Pesquisas Aggeu Magalhes/ Fundao Oswaldo Cruz (FIOCRUZ),Recife,PE.3Fundao de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (HEMOPE)/Universidade de Pernambuco- UPE, Recife-PE.
Correspondncia: Gisele Cazarin. Rua Almirante Batista Leo, 76, apto. 604, Boa Viagem, Recife, PE.CEP 51030-660. E-mail: [email protected]
Resumo
A problemtica de grupos populacionais
expostos a situaes de risco que afetam o
sistema sangneo e a gravidade dos da-
nos causados sade faz com que este
tema ganhe relevncia para a sade pbli-
ca. A compreenso do comportamento
epidemiolgico de doenas hematolgicas
relacionadas ao ambiente/ocupao fun-
damental para a instituio de medidas
protetoras da sade. A informao em
epidemiologia depende de dados fidedig-
nos sobre os diversos agravos. Este estudo
verificou em pronturios de pacientes de
um centro de referncia o registro de con-
dies de risco ambiental, em um perodo
de dez anos. As patologias selecionadas
foram as mais freqentemente assistidase que apresentam na literatura maiores
evidncias de associao com exposies
a riscos qumicos e/ou fsicos de origemambiental. As mesmas apresentaram-se
com alta letalidade (52% da casustica).
Para todas houve um grande sub-registrodas situaes de nocividade e de outros
condicionantes de vulnerabilidade, reve-
lando uma despreocupao dos profissio-nais de sade com os aspectos da causali-
dade, no sentido de orientar a preveno
de novos casos. No momento em que oMinistrio da Sade reconhece a relevn-
cia desta problemtica mediante recentes
normatizaes, fundamental aprimoraro registro de situaes de risco e agravos
possivelmente relacionados a estes, espe-
cialmente nos servios que podem identi-ficar casos sentinelas, auxiliando, assim, a
efetivao da vigilncia epidemiolgica e
da sade para grupos de expostos.
Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Doena hematolgica.
Riscos ambientais. Registro mdico. Vigi-
lncia epidemiolgica e da sade.
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Doenas hematolgicas e situaes de risco ambientalCazarin, G. et al.
Introduo
O estudo de doenas hematolgicas e
sua relao com exposies provenientes
do ambiente, incluindo o do trabalho, e o
consumo de produtos nocivos ganharam
grande impulso a partir do sculo XX, onde
estes agravos revelaram-se um grave pro-
blema de sade pblica. Entre as patolo-
gias que apresentaram forte correlao
com exposio a situaes de risco am-
biental destacam-se a anemia aplstica e
as leucemias, ambas com alta letalidade1,2.
A nocividade ao sistema hemato-
poitico de alguns fatores, tais como o
benzeno e seus derivados, agrotxicos, ra-
diaes ionizantes e no ionizantes, tem
sido bastante estudada, com o estabeleci-
mento de evidncias de associao3-12. Osefeitos hematototxicos, em particular do
benzeno, so bem conhecidos desde o fi-
nal do sculo XIX, tendo sido relatados pelaprimeira vez a partir da ocorrncia de bi-
tos por anemia aplstica, em trabalhado-
res suecos de uma fbrica de pneus parabicicleta1,2. O efeito leucemognico deste
hidrocarboneto aromtico j fora observa-
do em estudos experimentais em animaisdesde o incio do sculo XX2.
No Brasil, a revelao deste importan-
te problema sanitrio aconteceu em 1983,com a comprovao de um surto de benze-
nismo na rea industrial de Cubato/SP, e
posteriormente em outros plos industri-ais3,4,13-15, a exemplo da fbrica de BHC das
Indstrias Qumicas Matarazzo em So
Caetano/SP, em 1985/86; da CompanhiaSiderrgica Nacional (CSN) em Volta Re-
donda/RJ, em 1985; e do Plo Petro-
qumico de Camaari/BA, em 1990, entreoutros. Atualmente, possvel constatar a
manuteno de uma grave situao end-
mica de intoxicao em diversos setores
produtivos brasileiros14.
No entanto, dentro do contexto da
Segunda Guerra Mundial, com a introdu-
o de novas tecnologias de sntese qumi-
ca, a partir do petrleo, que a situao se
agrava pela amplitude e intensidade da
produo de benzeno e outros hidrocar-
Abstract
The problems of population groups ex-
posed to risk situations that affect the
blood system and the seriousness of the
damages caused to health make this theme
highly relevant in public health. The un-
derstanding of the epidemiological behav-
ior of hematological diseases related to the
environment/occupation is a priority for
the implementation of health protective
measures. Epidemiological information
depends on reliable data on several con-
ditions. This study investigated patient
medical records of a reference center,
records of environmental risk, covering a
period of ten years. The conditions se-
lected were those that were the most fre-
quently seen in this facility and those thatpresented the strongest evidence of asso-
ciation with occupational/environmental
risks in the specialized literature. Theseconditions presented high lethality (52% of
all cases). For all these diseases, there was
significant under-recording of potentiallyharmful situations and conditions of vul-
nerability, showing a lack of concern by
healthcare professionals with the causesand prevention of new cases. The Minis-
try of Health has recently acknowledged
the relevance of this problem as shown inits standardizations. For this reason, it has
now become paramount to improve the
recording of risk exposures and their re-lated damages, especially in the healthcare
services that can identify sentinel cases, so
as to help in the implementation of epide-
miological and health surveillance for ex-
posed groups.
Keywords:Keywords:Keywords:Keywords:Keywords: Hematological diseases. Envi-
ronmental risk. Medical registiration. Epi-
demiological and health surveillance.
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Doenas hematolgicas e situaes de risco ambientalCazarin, G. et al.
bonetos aromticos que passam a ser pro-
duzidos no s nas siderrgicas, mas tam-
bm em petroqumicas e refinarias de pe-
trleo, desta maneira expondo um nme-
ro cada vez maior de trabalhadores, bem
como a populao do entorno, atravs da
contaminao ambiental.
O benzeno, devido sua excelente pro-
priedade solvente e por seu baixo custo
relativo, largamente utilizado na inds-
tria, principalmente qumica e petro-
qumica. J seus derivados so comumente
empregados como matria-prima na ca-
deia produtiva de uma ampla gama de pro-
dutos: borracha, agrotxicos, fertilizantes,
medicamentos, fibras sintticas, plsticos.
Estas substncias so consideradas conta-
minantes universais, estando presentes
tambm em produtos acabados, tais comocolas, tintas, vernizes, solventes em geral,
produtos farmacuticos e combustveis.
Atualmente podemos dizer que h umgrande contingente de expostos a esses
txicos, e que este importante problema de
sade pblica ainda pouco priorizado emtermos de proteo da sade4,15-17.
As radiaes ionizantes, que comea-
ram a apresentar, a partir do sculo XX,grande utilizao mdica, industrial e b-
lica, tambm esto implicadas no desen-
cadeamento de diversas doenas hema-tolgicas e neoplsicas, por exposio do
tipo ocupacional, acidental, ou como efei-
to adverso de certas terapias ou mtodosdiagnsticos. Por esta razo, h certas res-
tries sanitrias de utilizao em todo
mundo, objetivando a preveno de doen-as relacionadas exposio8,9. No entan-
to, pouco se conhece, no Brasil, da real si-
tuao de exposio e de agravos sadeem operadores de equipamentos e proce-
dimentos que se utilizam destes meios, em
especial na rea de sade e indstria, por
ausncia de incorporao ao sistema de
vigilncia epidemiolgica da notificao e
investigao de agravos relacionados.
O modelo desenvolvimentista, implan-
tado no Brasil na dcada de 70, desenca-
deou uma verdadeira transferncia de ris-co a partir da permisso para a instalao
de inmeras indstrias qumicas e petro-
qumicas ambientalmente poluidoras, ori-
ginadas dos pases desenvolvidos. Decor-
rente desta poca de total descontrole
ambiental constata-se uma situao de
permanente poluio devida expanso
industrial ocorrida nos ltimos cinqenta
anos e que hoje ocupa novos territrios,
como, por exemplo, a introduo destes
riscos na Regio Nordeste. Neste sentido,
teve-se inicialmente uma transferncia de
indstrias poluidoras de fora para dentro
do pas, e agora h um processo interno
de migrao de risco, principalmente do
sudeste para o nordeste brasileiro.
Outra importante cadeia produtiva que
oferece situaes de risco sade a da
cultura agrcola e pecuria que, nas dca-
das de 60 e 70, passou por uma profundareestruturao do processo produtivo. O
programa do governo brasileiro para o se-
tor, institudo em 1975, determinou o usoobrigatrio de agrotxicos quando da aqui-
sio de financiamento rural. O modelo de
controle de pragas tambm adotado noambiente urbano, seja pela sade pbli-
ca, no combate a vetores de endemias, seja
pela utilizao freqente de inseticidas eoutros produtos domissanitrios prejudi-
ciais, em reas intra e peridomiciliar. Em
relao ao DDT, produto utilizado paraesses fins at final da dcada de 80, ficou
evidenciado estar associado com o sur-
gimento de leucemias e agranulocitosesem expostos5-7. Embora este problema seja
reconhecido pela sade pblica interna-
cional, especialmente pela OrganizaoMundial da Sade, s h dois anos, no Bra-
sil, as intoxicaes por exposio aos
agrotxicos foram introduzidas no Siste-ma Nacional de Agravos Notificveis -
SINAN, porm ainda no implementado
na maioria dos municpios. A sade pbli-
ca tambm resiste a desenvolver novas
abordagens para controle vetorial, man-
tendo sistematicamente as populaes
urbanas e rurais submetidas a peridicas
exposies a produtos qumicos, cujos
efeitos na populao so pouco avalia-dos18.
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383 Rev Bras Epidemiol2007; 10(3): 380-90
Doenas hematolgicas e situaes de risco ambientalCazarin, G. et al.
Os campos eletromagnticos de fre-
qncia extremamente baixa (linhas de
transmisso, estaes e subestaes el-
tricas) so um dos mais recentes proble-
mas anunciados para a hematologia e ain-
da pouco dimensionados do ponto de vis-
ta do impacto para a sade humana. A ex-
posio a este fator suspeita de afetar o
sistema hematopoitico em especial no
desencadeamento de leucemias10-12.
A compreenso do comportamento
epidemiolgico de doenas hematolgicas
relacionadas ao ambiente e ocupao
fundamental para a instituio de medi-
das protetoras da sade e depende de um
sistema de informao que se origina no
momento do diagnstico clnico ou na ava-
liao de grupos expostos, mediante
monitoramento peridico ou de investiga-o de casos sentinelas.
Data de 1984 a primeira deciso de in-
cluir no sistema de vigilncia epidemio-lgica agravos relacionados exposio a
fatores nocivos oriundos dos ambientes de
trabalho. Atravs da portaria da Secretariade Estado da Sade de So Paulo - SS n
69/10/1984 - foi eleito um grupo de cinco
agravos ocupacionais, preliminarmentecircunscritos populao trabalhadora de
Cubato-SP e, em um segundo momento,
estendida a outros municpios do Estado.Esta iniciativa foi pioneira da sade pbli-
ca ao atribuir vigilncia epidemiolgica
aes voltadas para doenas no trans-missveis3,13,15,19. A partir da, outras inicia-
tivas locais semelhantes ocorreram no Bra-
sil, porm no tiveram a continuidade e afora necessrias para imprimir um mode-
lo de vigilncia sade mais amplo, per-
manecendo praticamente at os dias dehoje o tradicional realizado para algumas
doenas transmissveis e que no acom-
panha a profunda mudana no perfil de
morbi-mortalidade da populao brasilei-
ra18.
No tocante vigilncia de riscos ocupa-cionais/ambientais, as aes de controle
relativas ao benzeno merecem especial
destaque por representarem mritos con-
quistados a partir de um histrico de aes
sociais desenvolvidas de maneira impor-
tante no pas. Dentre estas conquistas po-
demos apontar o Acordo Nacional do
Benzeno (1995), a constituio da Comis-
so Nacional Permanente do Benzeno
(CNPBz), e a aprovao de leis favorveis
ao controle desta substncia2,16,19, entre
elas a Norma Tcnica de Vigilncia para
Expostos ao Benzeno, publicada pelo Mi-
nistrio da Sade em 200314.
Mais recentemente, no mbito federal,
vm se desenhando estratgias para a
efetivao de uma Poltica Nacional de
Ateno Integral Sade do Trabalhador,
cujo principal foco a implementao da
Rede Nacional de Ateno Integral Sa-
de do Trabalhador (RENAST). A formao
desta rede visa a integrao de servios de
assistncia e vigilncia pertencentes aoSistema nico de Sade, alm da notifica-
o de agravos sade do trabalhador atra-
vs de servios sentinela21,22. Entre os agra-vos de notificao compulsria, previstos
na Portaria 777 de 200422, esto as intoxi-
caes por substncias qumicas, que in-cluem agrotxicos e gases txicos. A des-
peito dos avanos que estas normatizaes
representam, ainda so poucos os serviosque as conhecem ou esto implementando
os procedimentos nelas previstos.
A importncia do registro de situaesA importncia do registro de situaesA importncia do registro de situaesA importncia do registro de situaesA importncia do registro de situaes
de risco para a vigilncia em sadede risco para a vigilncia em sadede risco para a vigilncia em sadede risco para a vigilncia em sadede risco para a vigilncia em sade
As informaes geradas por pronturi-
os de pacientes constituem bases de dados
que podem subsidiar o planejamento demedidas preventivas no mbito local. A au-
sncia de um sistema de vigilncia sade
para grupos vulnerveis um fator impor-
tante para que se mantenha a assistncia
clnica dissociada dos aspectos de proteo
da sade, no sentido de evitar novos casos
e agravamento daqueles j existentes.
Tambm o diagnstico de uma patolo-
gia realizado sem a preocupao com oaspecto coletivo/epidemiolgico - contri-
bui para a manuteno de situaes de ris-
co, de adoecimento e de morte, que em
muitos casos poderiam ser evitveis.
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Doenas hematolgicas e situaes de risco ambientalCazarin, G. et al.
Neste fato reside a importncia deste
estudo, que tem o intuito de colaborar para
a melhoria do registro de dados necess-
rios efetivao do sistema de informao
e da vigilncia sade de populaes ex-
postas a agentes hematotxicos e condi-
es de vulnerabilidade em situaes de
risco.
Metodologia
Trata-se de um estudo epidemiolgico
descritivo de anlise de pronturios de pa-
cientes para verificar a qualidade do regis-
tro de condies de nocividade ambiental
e ou ocupacional relacionadas pela litera-
tura cientfica como associadas ao apareci-
mento de patologias sanguneas, bem como
o registro de antecedentes pessoais e carac-tersticas individuais de usurios atendidos
no perodo de janeiro de 1989 a dezembro
de 1999 no Hemope (Fundao de Hema-tologia e Hemoterapia de Pernambuco),
que constitui o principal servio de refern-
cia do Estado. Os pronturios estudadosreferiram-se a portadores de quadros
nosolgicos possivelmente implicveis na
exposio a fatores hematotxicos, bemcomo apresentaram maior freqncia
no atendimento desse servio: leucemia
linfoblstica aguda (C91.0), leucemialinfoctica crnica (C91.1), leucemia mie-
lide aguda (C92.0), leucemia mielide cr-
nica (C92.1), sndromes mielodisplsicas(D46), anemia aplstica idioptica (D61.3),
anemia aplstica no especificada - hipo-
plasia medular - (D61. 9) e leucopenia.O carter censitrio do estudo permi-
tiu analisar o total de pronturios, no pe-
rodo relatado, onde foram includos ape-
nas os casos procedentes do estado de
Pernambuco, com um total final de 1.494
casos. Destes, foram excludos dois, por
no terem a identificao do paciente
(nome, sexo, idade); trs, por apresenta-
rem diagnsticos divergentes entre a listade patologias do servio e o pronturio; e
onze, por no ter sido possvel a localiza-
o dos mesmos. Ao final, o universo de
estudo foi de 1.478 casos.
Uma vez que se trata de um estudo ba-
seado em dados secundrios, diversas in-
formaes relativas condies socioeco-
nmicas ficaram prejudicadas por falhas
de registro. O grau de instruo foi parci-
almente registrado, em especial quanto
aos diversos nveis de escolaridade. Isto
exigiu um agrupamento, num mesmo es-
trato, de indivduos com determinados
graus de escolaridade, independente de t-
los ou no concludo.
Para fins de comparao entre variveis
(dependentes e independentes), os casos
foram agrupados segundo tabelas de con-
tingncia. Foi utilizado o teste Qui Quadra-
do ou o Teste Exato de Fisher, de acordo
com a necessidade. A anlise foi realizada
com nvel de significncia para um inter-
valo de confiana de 95%.
Resultados
Caracterizao geral das patologiasCaracterizao geral das patologiasCaracterizao geral das patologiasCaracterizao geral das patologiasCaracterizao geral das patologias
includas no estudoincludas no estudoincludas no estudoincludas no estudoincludas no estudo
Houve uma maior prevalncia das
leucemias no servio de referncia, no pe-
rodo estudado, sendo as agudas com 52%dos casos e as crnicas com 25%. As de-
mais patologias apresentaram-se na se-
guinte ordem: hipoplasias e aplasias me-dulares (10%); sndromes mielodisplsicas
(8%) e leucopenia (3%) (Tabela 1).
A gravidade das patologias assistidaspode ser confirmada ao se observar o n-
mero de casos falecidos no perodo, me-
dida que mais da metade dos indivduos
assistidos (52%) foram a bito. As leu-
cemias agudas apresentaram maior letali-
dade, quando comparadas s demais pa-tologias (p < 0,05). Foi observado que, para
um pequeno nmero de pacientes, houve
uma interrupo no seguimento realizadono servio (1,22%), no indicando se por
abandono, alta ou bito. Considerando
que, em geral, trata-se de pacientes acom-
panhados por um longo perodo, este lti-
mo dado revela uma alta adeso ao trata-
mento e/ou controle evolutivo.
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Doenas hematolgicas e situaes de risco ambientalCazarin, G. et al.
Caractersticas individuais dos casosCaractersticas individuais dos casosCaractersticas individuais dos casosCaractersticas individuais dos casosCaractersticas individuais dos casos
Quanto ao sexo, de modo geral o mas-culino foi ligeiramente predominante
(53%). A maioria das patologias analisadas
(leucemia linfoblstica aguda, leucemialinfoctica crnica, leucemia mielide agu-
da, leucemia mielide crnica e anemia
aplstica) acompanhou esta tendncia.Nos casos de leucemia linfoblstica aguda
(LLA), esta diferena foi estatisticamente
significante (p < 0,05). No entanto, para aleucopenia e as sndromes mielodis-
plsicas (SMD), o sexo feminino foi o mais
afetado (p < 0,05).Considerando a totalidade dos casos (N
= 1.478), a faixa etria de indivduos maio-
res de 61 anos foi a mais acometida (24%).Ao se considerar cada patologia em sepa-
rado, tem-se que os casos de leucemia
linfoctica crnica (LLC) e sndromesmielodisplsicas tambm se concentraram
nesta faixa (p < 0,05). Para a leucemia
linfoblstica aguda (LLA), observou-se que
foram afetados indivduos mais jovens nas
faixas etrias de 0 a 10 e de 11 a 20 anos (p
< 0,05).
A leucemia mielide aguda (LMA) aco-
meteu com mais freqncia a faixa etria
de 11 a 20 anos (p < 0,05). Os casos deleucemia mielide crnica (LMC) foram
mais freqentes nas faixas etrias compre-
endidas no intervalo de 21 at maiores de
61 anos (p < 0,05). Os casos de anemia
aplstica apresentaram uma distribuio
bifsica, afetando mais freqentemente
indivduos nas faixas etrias de 0 a 30 anos,
e com um segundo pico entre os indivdu-os maiores de 61 anos (p < 0,05). Para a
leucopenia, os casos concentraram-se na
faixa etria de 41 a 50 anos (p < 0,05).Observou-se que o registro de raa/cor
esteve ausente em 27% dos pronturios.
Em relao aos registros vlidos para estedescritor tem-se que a maioria dos casos
se distribuiu entre mestios/pardos (50%)
e caucasianos/brancos (48%). A raaafrodescendente/negra obteve um per-
centual de 2% e no houve registros de
casos nas raas mongide/amarela e in-dgena. Estes dados esto coerentes com
os do censo de 200023, onde a populao
mestia/parda (53%) e caucasiana/bran-ca (40%) apresenta destaque em relao
s outras raas/cor (afrodescendentes/
negros: 5%; mongide/amarelos: 0,17%;
indgenas: 0,41%) no Estado de Per-
nambuco.
A varivel grau de instruo no foiregistrada em 58% dos casos. Ao se anali-
sar os pronturios que continham esta in-
formao, e excluindo-se os sujeitos emidade pr-escolar - 6 anos - tem-se quecerca da metade (51%) est no ensino fun-
damental completo ou incompleto e 21%
esto no ensino mdio (concludo ou no).
O nmero de indivduos analfabetos apre-
sentou um percentual de 19%, congruente
com a taxa de analfabetismo do Estado de
Pernambuco (em torno de 23%), confor-
Tabela 1 - Freqncia de diagnsticos clnicos na populao estudada (HEMOPE, 1989 a 1999).Table 1 - Frequency of clinical diagnoses in the population (HEMOPE, 1989 a 1999)
Diagnstico N %
Leucemia mielide aguda (LMA) 434 30Leucemia linfoblstica aguda (LLA) 342 23Leucemia mielide crnica (LMC) 244 16Leucemia linfoctica crnica (LLC) 147 10Amemia aplstica (AA) e hipoplasia medular (HM) 146 10Sndromes mielodisplsicas (SMD) 114 8Leucopenia 51 3
TOTAL 1.478 100,00
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Doenas hematolgicas e situaes de risco ambientalCazarin, G. et al.
me dados demogrficos do censo de
200023.
Caracterizao dos indivduos segundoCaracterizao dos indivduos segundoCaracterizao dos indivduos segundoCaracterizao dos indivduos segundoCaracterizao dos indivduos segundo
registro de antecedentes pessoais eregistro de antecedentes pessoais eregistro de antecedentes pessoais eregistro de antecedentes pessoais eregistro de antecedentes pessoais e
familiaresfamiliaresfamiliaresfamiliaresfamiliares
Houve um alto grau de sub-registro,
aproximadamente 65% dos casos, na mai-
or parte das variveis pesquisadas (utiliza-
o de medicamentos, uso de tabaco e/ou
dependncia de lcool e outras drogas,
doena infecto-parasitria e caso seme-
lhante na famlia). Dos registros conside-
rados vlidos, observou-se que a maioria
da populao no referiu exposio a ne-
nhum destes fatores tambm implicveis
na ocorrncia de doenas hematolgicas.
Elementos de risco ocupacional eElementos de risco ocupacional eElementos de risco ocupacional eElementos de risco ocupacional eElementos de risco ocupacional e
ambiental no desenvolvimento deambiental no desenvolvimento deambiental no desenvolvimento deambiental no desenvolvimento deambiental no desenvolvimento de
doenas hematolgicasdoenas hematolgicasdoenas hematolgicasdoenas hematolgicasdoenas hematolgicas
A exposio de ordem ocupacional e/
ou ambiental no foi registrada na maio-ria dos casos. No houve registros acerca
dos antecedentes ocupacionais dos indi-
vduos atendidos. Esta ausncia foi nota-da tanto entre trabalhadores ativos quan-
to entre desempregados e aposentados.
Para a ocupao atual do indivduo, nombito geral, a proporo de sub-registro
foi de 26%. Dos dados vlidos (excluso de
ignorados e menores de 14 anos no tra-balhadores), cerca de 30% so de indiv-
duos cuja ocupao se deu no ramo de ser-
vios; 25% destes ocupavam atividades
domsticas, seguindo-se dos trabalhado-
res do ramo agropecurio (18%) e indus-
trial/artesanal (15%).
Quanto aos dados de antecedentes
ocupacionais, tais como acidentes ou do-
enas relacionadas ao trabalho, em cercade 60% dos casos no houve registros. Dos
dados vlidos (retirando-se menores de 14
anos no trabalhadores), em apenas 1,61%houve informao positiva, porm com
ausncia de registro do tipo de acidente/
doena relacionada ao trabalho.Em 40% dos casos houve anotao so-
bre antecedentes de exposio ocupa-
cional/ambiental a fatores hematotxicos,
sendo que, destes, 25% foram positivos
para tal exposio. Entre os fatores citados
esto: os agrotxicos, tanto de uso agro-
pecurio quanto de uso domstico (71%);
tintas e vernizes (13%); solventes (5%);
metais (2%) e radiao ionizante (1%). Des-
taca-se que estes importantes anteceden-
tes no foram registrados em 60% dos
pronturios.
Dados de exposio ambiental foram
pouco registrados. Em apenas oito pron-
turios houve observao a respeito do
caso ser procedente de local prximo a ati-
vidades industriais e 33 de rea agrcola.
Dos oito casos residentes nas adjacncias
de atividade fabril, dois referiram proximi-
dade de fbrica de baterias (risco de expo-sio ao chumbo) e dois prximos fbri-
ca de papel (exposio a cloro). O restante
distribui-se entre diversas indstrias igual-mente produtoras de riscos sade - in-
dstria de borracha (solventes aromti-
cos), cola (tolueno), indstria qumica (di-versas substncias) e txtil (anilinas, tin-
tas). A meno a residncias prximas a
unidades geradoras de campos eletromag-nticos de freqncia extremamente bai-
xa foi ausente na totalidade dos casos.
Discusso
A importncia da informao para avigilncia em sade nos remete proble-
mtica do registro em pronturios de ser-
vios responsveis pela assistncia, espe-cialmente daqueles que atendem patolo-
gias que no fazem parte do sistema de vi-
gilncia epidemiolgica ou em que nohaja uma tradio de notificao, como,
por exemplo, o caso de doenas hemato-
lgicas que podem estar relacionadas a
condies de risco ambiental/ocupacional
e, portanto, na sua maioria prevenveis.
Nesta questo, a exposio ao benzeno
ganhou destaque em razo de ter sido ele-
vada a uma condio de problema sanit-
rio nos anos de 1983 a 1985, e que vem semantendo at os dias de hoje.
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Doenas hematolgicas e situaes de risco ambientalCazarin, G. et al.
No presente estudo, a principal averi-
guao esteve relacionada insuficincia
e at ausncia de informaes primordi-
ais para a compreenso de causalidade da
doena diagnosticada. O sexo, a raa/cor,
a idade e suas inter-relaes com condi-
es socioambientais, renda, trabalho e
grau de escolaridade constituem em fato-
res que geram desigualdades socioeco-
nmicas e vulnerabilidades, particular-
mente em relao exposies nocivas e,
portanto, devem ser investigadas24,25.
A faixa etria, quando analisada em re-
lao a cada uma das patologias sele-
cionadas, no servio estudado, corroborou
na maior parte com dados descritos na li-
teratura, para os quais as leucemias
linfoblsticas agudas acometem com mais
freqncia crianas e adultos jovens. Aanemia aplstica, alm de acometer estes
grupos, apresenta tambm um pico entre
idosos. No caso das demais doenas, a in-cidncia aumenta com a idade1,24,26,27.
Na casustica estudada observou-se
maior ocorrncia de registros de leuco-penia na faixa etria de 41 a 50 anos. Este
fato merece ser devidamente investigado,
medida que, em caso de exposio ahematotxicos, espera-se que a proporo
de acometidos concentre-se em faixas
etrias mais velhas. Alm disso, no Brasil,em trabalhadores expostos a substncias
hematotxicas, a presena de leucopenia
tem sido registrada como um sinal de in-toxicao, especialmente no caso de expo-
sio ao benzeno, conforme exigncia dos
Ministrios da Sade, do Trabalho e daPrevidncia Social14.
Em relao ao sexo, as caractersticas
das patologias analisadas revelaram-se,em geral, de acordo com dados de incidn-
cia referidos pela literatura, uma vez que
as leucemias acometeram mais indivdu-
os do sexo masculino1,24. No entanto, a ane-
mia aplstica que, segundo alguns auto-
res24,28 pode afetar igualmente homens e
mulheres, neste estudo acometeu com
mais freqncia o sexo masculino.
Os casos de SMD, referidos na literatu-
ra como mais freqentes em homens28,
nesta casustica acometeram mais pesso-
as do sexo feminino. Embora haja condi-
cionantes genticos e caractersticas pr-
prias de vulnerabilidade que fazem com
que o acometimento ocorra de forma dis-
tinta entre homens e mulheres, o dado do
sexo isoladamente no permite fazer qual-
quer suposio sobre a tendncia obser-
vada, tanto para a SMD quanto para a ane-
mia aplstica, sem um aprofundamento
clnico de cada caso e da observao
epidemiolgica, a qual depende de regis-
tros sistemticos e amostras representati-
vas.
De modo geral, a evidncia de relao
entre agravos sade com anos de estudo
e condies socioeconmicas faz supor
que pessoas com baixo grau de instruo
esto mais sujeitos a condies precriasde trabalho ou de moradia e, conseqen-
temente, socialmente mais vulnerveis. O
nmero ainda alto de indivduos analfabe-tos observados na populao de Pernam-
buco e neste estudo deve merecer ateno
na caracterizao da vulnerabilidade depopulaes sujeitas a determinados riscos
ambientais/ocupacionais.
Alguns grupos, como mulheres, negrose pardos, pelo fato de apresentarem me-
nor renda e outras peculiaridades de sus-
ceptibilidade, devem ser tambm conside-rados grupos mais vulnerveis. Por esta
razo, dados relativos a gnero e raa de-
vem ser valorizados no contexto scio-ambiental para investigao de patologi-
as, em especial as hematolgicas25.
Considerando que o Estado de Per-
nambuco rea endmica para algumas
doenas infecto-parasitrias, como por
exemplo, a esquistossomose e a leishma-
niose visceral, doenas que, direta ou in-
diretamente, interferem no funcionamen-
to do sistema hematopoitico, torna-seimportante a investigao sobre a ocorrn-
cia destas enfermidades no diagnstico
diferencial de doenas do sangue.Os hbitos nocivos e o uso de medica-
mentos tambm requerem cuidados espe-
ciais no registro e na investigao dos ca-sos. Dentre os hbitos considerados pre-
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Doenas hematolgicas e situaes de risco ambientalCazarin, G. et al.
judiciais, a dependncia de tabaco mere-
ce destaque por ser um produto que con-
tm hidrocarbonetos aromticos em sua
composio17,27. A presena destas subs-
tncias entre os componentes da fumaa
do cigarro um dos principais fatores atri-
budos sua carcinogenicidade29.
Dentre as ocupaes observadas com
maior freqncia neste estudo, as ativida-
des de cunho domstico e agropecurio
so consideradas como envolvidas em ex-
posio a diversos riscos, principalmente
os de ordem qumica (solventes, insetici-
das, outros agrotxicos etc.).
Em que pese o elevado sub-registro de
expostos a fatores hematotxicos presen-
tes no ambiente, incluindo o de trabalho,
o nmero de registros positivos para tais
exposies no se apresentou to despre-zvel (um quarto da populao). No entan-
to, esta informao no induziu nenhum
registro de atitude preventiva, em relao vigilncia de outros expostos. Nestes ca-
sos, os profissionais de sade devem aju-
dar os pacientes a identificar riscos am-bientais/ocupacionais para que medidas
protetoras da sade sejam tomadas para
si e para a coletividade.O grande nmero de sub-registros de
informaes relevantes para uma anlise
epidemiolgica aprofundada de questesespecficas, e o conseqente desenvolvi-
mento de aes preventivas, decorrem do
no reconhecimento por parte dos profis-sionais de sade do seu papel no elo da
cadeia que viabiliza o conhecimento de
uma dada situao de sade. Mais que isso,
o no reconhecimento de que as informa-
es geradas por pronturios constituem
a base que ir auxiliar o planejamento demedidas preventivas no mbito local30.
A quantidade elevada de casos que fo-
ram bito na casustica do estudo (cerca
de 52%) um indicador claro de gravida-
de das hematopatias estudadas e que po-
dem estar implicadas em situaes de
nocividade ambiental. A inespecificidade
dos sintomas iniciais e atrasos no diagns-
tico e ou no tratamento, que, no caso depossvel exposio a hematotxicos, deve
incluir o afastamento imediato do risco,
so condies que podem contribuir para
a alta letalidade observada nos casos.
A importncia da implementao de
um sistema de vigilncia eficaz para a
deteco precoce de agravos desta natu-
reza est bem evidenciada. Escassas so as
entidades nosolgicas suficientemente
especficas em relao s suas causas que
dispensaria a necessidade de uma vigiln-
cia das situaes de riscos e das popula-
es envolvidas31.
Apesar da vigilncia sade propor
uma ao integrada entre os diversos ele-
mentos do processo sade-doena, alguns
autores25,32 chamam a ateno para o fato
desta se apresentar muito dependente da
vigilncia epidemiolgica. Isto faz com que
suas aes fiquem muito limitadas, me-dida que esta vigilncia atua basicamente
sobre doenas infecto-contagiosas. O ni-
co agravo sade do trabalhador, contidona lista de notificao compulsria, refe-
re-se intoxicao por agrotxicos, porm
a ao sobre estes eventos muitas vezes serestringe notificao de eventos agudos,
sem uma efetiva interveno.
Partindo do princpio de que a Porta-ria n 777/200422 informa que os hospitais
de referncia de mdia e alta complexida-
de devem estar sendo agregados ao siste-ma como unidades sentinela na vigilncia
em Sade do Trabalhador, estes a partir da
implantao deste sistema podero dimi-nuir o sub-registro de agravos nessa po-
pulao. Considerando que boa parte dos
casos de exposio a riscos ambientais estligada ao ambiente de trabalho ou relaci-
onada a processos produtivos, a efetivao
dessa vigilncia ser um passo importan-
te para promover a proteo da sade e
prevenir riscos.
Protocolos clnicos de interveno de-
vem ser manuseados com vistas tambm
vigilncia de doenas hematolgicas su-
gestivas de relao com a exposioambiental/ocupacional. Neste sentido, a
conscientizao dos profissionais de sa-
de da importncia do seu papel na inte-
gralidade da ateno e na informao des-
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389 Rev Bras Epidemiol2007; 10(3): 380-90
Doenas hematolgicas e situaes de risco ambientalCazarin, G. et al.
tinada a pacientes, gestores e para a soci-
edade em geral so de suma importncia
para a efetivao de um sistema de vigi-
lncia eficaz, uma vez que no se pode se-
parar as aes de cura e de preveno, bem
como as aes relativas ao indivduo da-
quelas de carter coletivo.
Deste modo, as normas para a vigiln-
cia de expostos a substncias qumicas
(agrotxicos e benzeno) encontram-se
mais avanadas em relao s normas so-
bre irradiaes, especialmente o protoco-
lo de interveno de expostos ao benzeno.
A recente norma publicada14 avalia que
devem ser identificados regionalmente
servios de hematologia que devero no-
tificar casos suspeitos ou confirmados
atravs de critrio clnico-epidemiolgico
de intoxicao por esta substncia. Tal fatorefora a necessidade do registro de infor-
maes sobre exposio ocupacional/
ambiental em servios especializados naassistncia de casos suspeitos.
Em especial, para que haja proteo da
sade e preveno de riscos ambientais eocupacionais a ela associados e se evite
que grandes contingentes humanos expo-
nham-se a nocividades promotoras de do-enas e mortes precoces, requerida uma
reviso no modelo de vigilncia sade,
que historicamente vem sendo executadano Brasil de forma restrita.
Neste sentido, os servios de refern-
cia devem ser integrados aos sistemas devigilncia no mbito do SUS. Na atual con-
juntura, para que estes servios possam
passar da condio de excelncia clnicapara a condio de um efetivo compromis-
so de carter coletivo, temos a oportuni-
dade de contribuir para que a sade p-
blica cumpra sua misso de promoo,
proteo e recuperao da sade.
Concluses e recomendaes
Podemos dizer que, de um modo ge-
ral, no h preocupao entre os profissi-
onais de sade, do servio de referncia
estudado, com o registro de possveis fa-
tores causais relacionados com patologias
que j so amplamente reconhecidas pela
literatura como associadas a fatores ex-
genos de origem ambiental/ocupacional.
Neste contexto, fazemos as seguintes re-
comendaes:
Incluso nos protocolos de investigao
clnica, de campos relativos ao ambien-
te, ocupao e consumo de produtos
que ofeream riscos para a sade, em
particular para o sistema hema-
topoitico. Assim, so fundamentais os
dados sobre profisso/ocupao/ativi-dades pregressas; tempo de trabalho;
condies e riscos presentes no proces-
so produtivo; renda e proximidade comunidades produtoras de risco; alm de
outros que j existem nos pronturios,
porm so pouco valorizados, tais comouso de medicamentos, doenas antece-
dentes, presena de caso semelhante na
famlia, uso de tabaco (tempo e quanti-dade), hbitos, raa/cor e escolaridade.
Implementao de programas de edu-
cao permanente sobre a coleta de in-formaes de agravos sade, relacio-
nados exposio ocupacional/am-
biental a partir de servios tanto de as-sistncia, quanto da ateno bsica.
Informao s autoridades sanitrias
sobre agravos sade de interesse para
a sade pblica, mesmo quando estes
no forem de notificao compulsria,
para que possam ser investigados e in-tegrados ao sistema local de vigilncia
sade.
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Recebido em: 22/11/06Verso final reapresentada em: 01/06/07
Aprovado em: 07/06/07