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1. INTRODUÇÃO
Apresentação do objeto de estudo
A prática de Enfermagem do Trabalho, na atualidade, expandiu-se consideravelmente,
vindo a transformar-se numa área altamente especializada, em que a ênfase é dada à
promoção da saúde e prevenção da doença e de acidentes em populações trabalhadoras.
Sabe-se que as atribuições do enfermeiro do trabalho estão ligadas às necessidades das
instituições de saúde, tanto na saúde pública, quanto em hospitais, em garantir assistência aos
próprios funcionários, sendo este um campo desafiador por ser ainda pouco explorado, com
vistas à qualidade de vida dos mesmos. Dessa forma, o enfermeiro do trabalho assiste o
conjunto de trabalhadores em saúde no que diz respeito aos riscos ocupacionais encontrados
no seu trabalho.
As doenças ocupacionais caracterizam-se pelo nexo causal entre os danos observados
na saúde do trabalhador e a exposição a determinados riscos ocupacionais. No processo de
trabalho em enfermagem, Benatti (1998) identificou os fatores de riscos divididos em quatro
grandes grupos: Grupo 1 – temperatura, iluminação, ruído, unidade, ventilação; Grupo 2 –
poeira, gases, vapores, fumaças, substâncias químicas; Grupo 3 – fadiga e Grupo 4 – ritmo de
trabalho, monotonia, posições incômodas, tensão nervosa e responsabilidade inadequada.
Ressalte-se, que grande parte dos trabalhadores de enfermagem encontra-se trabalhando no
ambiente hospitalar que geralmente é mais insalubre que no posto de saúde (Unidades de
Saúde da Família, Unidade Básica de Saúde, etc)..
Os fatores de risco presentes nos locais de trabalho não devem ser compreendidos de
forma isolada e imóveis. Ao contrário, é necessário aprender a forma como eles acontecem na
dinâmica do processo de trabalho. A exposição ocupacional é um problema de todo o
conjunto de trabalhadores em instituições de saúde.
O objeto da presente investigação consiste em observar a ocorrência dos principais
distúrbios ocupacionais entre as técnicas de enfermagem do Hospital Municipal Drº João
Borges de Cerqueira em Santo Estevão-BA.
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Segundo Fernandes (2008) “doenças ocupacionais são decorrentes da exposição do
trabalhador aos riscos da atividade que desenvolve. Podem causar afastamentos
temporários, repetitivos e até definitivos. A maior incidência destas doenças ocorre na faixa
dos 30 aos 40 anos, prejudicando a produtividade do trabalhador e podendo interromper sua
carreira e desestabilizar a sua vida”.
As doenças ocupacionais são causadas ou agravadas por determinadas atividades,
podemos determinar que o trabalho das técnicas de enfermagem é um trabalho extenuante e
que pode causar muitos distúrbios ocupacionais.
O campo de ação da equipe de enfermagem em um hospital vai desde o cuidar do
paciente, dos procedimentos na sala de medicação (aplicação de vacinas, soros, preparo e
aplicação de medicamentos), dos procedimentos na Central de Material Esterilizado – CME
(lavagem, secagem dos materiais, preparo dos pacotes com pinças cirúrgicas, preparo das
caixas de sutura, preparo dos pacotes com compressas de gazes etc.), sala de curativos
(curativos, retirada de pontos, etc), coleta de exames laboratoriais, aferição de pressão arterial,
teste de glicemia em jejum, auxílio ao médico no Centro Cirúrgico, assistência à parturiente
na sala de pré-parto, assistência de enfermagem aos pacientes internados (curativos, aplicação
de medicamentos, banho no leito, mudança de decúbito dos pacientes acamados de horário,
etc) dentre outros procedimentos de enfermagem.
Sendo que estes procedimentos na maioria das vezes são feitos de forma não
ergonômica, contribuindo assim para a ocorrência de vários problemas de saúde. Levando em
conta que o ambiente de trabalho, sob condições físicas, mecânicas e psíquicas adversas, é
considerado como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de alterações no
sistema musculoesquelético. De acordo com Gurgueira (2003) a exposição contínua e
prolongada do corpo aos fatores de risco de tal ambiente favorece o surgimento das doenças
ocupacionais.
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Justificativa
As técnicas de enfermagem ainda estão expostas a fatores de risco decorrentes da ação
dos agentes biológicos: vírus, bactérias, fungos, protozoários e etc. presentes em materiais
biológicos, veiculados por seres animados (vetores) e por objetos contaminados.
Associada a isto ainda temos os baixos salários que impossibilitam que o técnico e o
auxiliar de enfermagem possam ter bons planos de saúde, que poderiam ao menos garantir
uma assistência de saúde digna e assim poder tratar seus possíveis distúrbios ocupacionais.
Neste contexto, tomamos por práticas de saúde- "... como processos de intervenção
técnica e social na realidade em saúde". (NEMES, 1996, p.48)
As práticas de enfermagem atuam em diversos níveis de atenção e são organizadas de
diferentes formas nas diversas instituições de saúde da cadeia do sistema.
Neste sentido, situamos o hospital, enquanto um dos espaços de concretização da
prática de Enfermagem, "... que vai desde o cuidar do indivíduo, até as ações educativas e
gerenciais." (Almeida, 1997 apud DANTAS, 2.000).
O motivo da escolha deste tema da monografia provém da necessidade em afirmar que
as técnicas de enfermagem estão expostas cada vez mais a muitas doenças provocadas pelo
trabalho exaustivo, o que nos instigou a aprofundar o conhecimento sobre esta temática em
questão.
Problema
Quais os distúrbios ocupacionais que mais acometem as técnicas de enfermagem
do Hospital Municipal Drº João Borges de Cerqueira no município de Santo Estevão?
Objetivo
Evidenciar a ocorrência dos principais distúrbios ocupacionais que mais
acometem as técnicas de enfermagem do Hospital Municipal Drº João Borges de
Cerqueira no município de Santo Estevão.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Breve histórico sobre doenças ocupacionais
Hipócrates em seus escritos que datam de quatro séculos antes de Cristo, fez menção à
existência de moléstias entre mineiros e metalúrgicos. Plínio, O Velho, que viveu antes do
advento da era Cristã, descreveu diversas moléstias do pulmão entre mineiros e
envenenamento advindo do manuseio de compostos de enxofre e zinco. Galeno, que viveu no
século II, fez várias referências a moléstias profissionais entre trabalhadores das ilhas do
mediterrâneo.
Agrícola e Paracelso investigaram doenças ocupacionais nos séculos XV e XVI.
Georgius Agrícola, em 1556, publicava o livro "De Re Metallica", onde foram estudados
diversos problemas relacionados à extração de minerais argentíferos e auríferos, e à fundição
da prata e do ouro. Esta obra discute os acidentes do trabalho e as doenças mais comuns entre
os mineiros, dando destaque à chamada "asma dos mineiros". A descrição dos sintomas e a
rápida evolução da doença parece indicar sem sombra de dúvida, tratarem de silicose.
Em 1697 surge a primeira monografia sobre as relações entre trabalho e doença de
autoria de Paracelso: "Von Der Birgsucht Und Anderen Heiten". São numerosas as citações
relacionando métodos de trabalho e substâncias manuseadas com doenças.Destaca-se que em
relação à intoxicação pelo mercúrio, os principais sintomas dessa doença profissional foram
por ele assinalados.
No século XVI George Bauer apresentava um estudo sobre doenças e acidentes de
trabalho em mineiros. Em 1713, Bernardino Ramazzini, considerado o pai da medicina
ocupacional, forneceu a primeira contribuição histórica, fundamentando em 54 profissões de
sua época, ele identificou os distúrbios e também traçou uma causa ocupacional. Ele
sustentava a visão de que as lesões encontradas em escreventes eram causadas pelo uso
repetitivo das mãos, pela posição das cadeiras e pelo excesso de trabalho mental.
(CATTELAN, SEVERO e PEZZINI, 2006).
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De acordo com a mesma linha de pensamento do mesmo autor foram descritos na
Europa no século seguinte, quadros clínicos que afetaram o esqueleto axial e periférico de
trabalhadores que desempenhavam distintas tarefas de trabalho. Este conjunto de sintomas na
época foi chamada de “câimbras ocupacionais”.
De acordo com Nakachina (2002), ao chegar a era industrial teve início o período do
processo de manufatura de produtos e a crescente especialização dos operários com o objetivo
de aprimorar a qualidade, aumentar a produção e diminuir custos. Essa especialização fez com
que os operários executassem funções específicas nas empresas, com a realização de
movimentos repetitivos, associados a esforço excessivo, levando muitos operários a sentirem
muitas dores.
Com o advento da Revolução Industrial, esses quadros clínicos, configuraram-se
claramente como decorrência de um desequilíbrio entre as exigências das tarefas realizadas no
trabalho e as capacidades funcionais individuais, tornando-se mais numerosos casos. No
decorrer da segunda metade do século XX adquiriram expressão em número e importância
social, com a racionalização e inovação técnica na indústria, atingindo, no começo, de forma
particular, perfuradores de cartão. Nos dias atuais, essas expressões de desgaste de estruturas
do sistema músculo-esquelético atingem várias categorias profissionais e têm várias
denominações, entre as quais Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort), adotadas pelos ministérios da Saúde e da
Previdência Social. (BRASIL, 2012)
Com esta afirmação, constata-se então que certas atividades ocupacionais,
independentes da época em que são exercidas e da presença de máquinas ou produção
organizada, exigem das pessoas posturas, esforços físicos e mentais que podem produzir
doenças.
clínicos decorrentes de sobrecarga estática e dinâmica do sistema osteomuscular tornaram-se
mais numerosos. Apenas a partir da segunda metade do século XVIII, os quadros
osteomusculares adquiriram expressão em número e relevância social, com a racionalização e
inovação técnica na indústria.
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Em 1780 uma categoria muito importante apresenta sinais de sofrimento relacionado
ao trabalho, são os telegrafistas que deixam a pena de lado e passam a escrever através de
codificações acionadas por uma tecla que é acionada diversas vezes, levando a movimentos
repetitivos. Em 1891, Fritz De quervain descreve a Tenossinovite do músculo abdutor longo e
extensor curto do polegar conhecido como a entorse das lavadeiras.
Em 1918 na Suíça, os datilógrafos e telefonistas, apresentavam sintomas parecidos, e
tiveram suas doenças reconhecidas como originadas de suas atividades laborais.
A Austrália na década de 70 tem um acentuado aumento nos benefícios pagos por
doenças relacionados ao trabalho de digitadores. O termo LER (Lesões por Esforços
Repetitivos) foi utilizado inicialmente na Austrália .
Segundo o Ministério da Saúde (2012) os casos de LER/Dort, no Brasil, primeiro
foram descritos como tenossinovites ocupacionais. E assim foram apresentados, no XII
Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho (1973), casos de tenossinovites
ocupacionais em lavadeiras, limpadoras e engomadeiras, recomendando-se que fossem
observadas pausas de trabalho das trabalhadoras que operavam intensamente com as mãos.
De acordo com Sato (1993), no Brasil na década de 80, por volta de 1984 e 1985,
começam a ser descritos os primeiros casos de LER em digitadores.
2.2 A ergonomia no trabalho da enfermagem
A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seu ambiente de
trabalho. Deste modo, o termo ambiente leva em conta não apenas o meio propriamente dito
em que o indivíduo trabalha, mas também os instrumentos, os métodos e a organização deste
trabalho. Em relação a tudo isto está ainda a natureza do próprio homem, o que inclui suas
habilidades e capacidades psicofisiológicas, antropométricas e biomecânicas. (PALMER,
1976)
O respeito à ergonomia no processo de trabalho da enfermagem é de grande
importância, pois nesta profissão o trabalhador de enfermagem deve ter cuidado em relação à
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postura e à movimentação do corpo no momento de execução das tarefas relativas aos
procedimentos de enfermagem, tais como: transporte de pacientes em maca e em cadeira de
rodas, banhos no leito, mudanças de decúbito, entre outros, percebe-se que os técnicos de
enfermagem possuem pouco ou nenhum conhecimento sobre ergonomia.
Quando tais conhecimentos não são levados em conta e não são aplicados em suas
práticas diárias, os resultados serão sentidos por meio da manifestação de doenças específicas
do trabalhador da área da saúde, tais como lombalgia, Lesões por Esforços Repetidos
(L.E.R.), Doenças Ósteomusculares Relacionados ao Trabalho (D.O.R.T.), Doenças do
ombro, Sinovites e Tenossinovites, e doenças não transmissíveis como a Hipertensão Arterial
Sistêmica (HAS) e problemas de coluna, entre outros.
Os profissionais técnicos de enfermagem precisam ter conhecimento a respeito destas
patologias, para que os incorporem em sua movimentação diária em sua profissão. Estes
funcionários, na maioria das vezes, exercem atividades laborais em várias unidades de saúde,
aumentando os riscos ergonômicos a quais estão submetidos. (ROBAZZI, 1999)
De acordo com COUTO (1995), se for corretamente usada a aplicação dos
princípios da Ergonomia pode ser propiciada uma interação correta e confortável do ser
humano com os objetos que maneja e com o ambiente onde trabalha e ainda melhorar a
produtividade, reduzindo assim os custos laborais que se manifestam através de
absenteísmo, conflitos, rotatividade, e pela falta de interesse em relação ao trabalho.
A Norma Regulamentadora 17 (BRASIL, 2003) disciplina a ergonomia no trabalho,
visando a estabelecer parâmetros que adaptam as condições de trabalho às características
fisiológicas e psicológicas dos trabalhadores, proporcionando mais conforto, segurança e
conseqüente melhora na qualidade de vida dos mesmos.
2.3 Doenças ocupacionais
As doenças ocupacionais, segundo SOBRINHO (1995), são resultantes de condições
específicas de trabalho, não relacionadas em lei, e para as quais se torna necessária a
comprovação (nexo causal), de que foram adquiridas em decorrência do trabalho. Portanto, no
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caso de doenças ocupacionais, como nos outros fatores de interferência da saúde, o
trabalhador deve ter o conhecimento sobre a importância de preservar sua saúde. É preciso
que ele esteja preparado ou predisposto a receber orientações, utilizar os equipamentos de
proteção individual (E.P.I.) e obedecer às sinalizações e às normas que tem como objetivo
proteger a saúde.
De acordo com o Ministério da Saúde (2001), a Saúde do Trabalhador constitui uma
área da Saúde Pública que tem como objeto de estudo e intervenção as relações entre o
trabalho e a saúde. Tem como objetivos a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por
meio do desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e
condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e prestação da
assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos de diagnóstico, tratamento e
reabilitação de forma integrada, no SUS.
Nessa concepção, trabalhadores são todos os homens e mulheres que exercem
atividades para sustento próprio e/ou de seus dependentes, qualquer que seja sua forma de
inserção no mercado de trabalho, nos setores formais ou informais da economia. Estão
incluídos nesse grupo os indivíduos que trabalharam ou trabalham como empregados
assalariados, trabalhadores domésticos, trabalhadores avulsos, trabalhadores agrícolas,
autônomos, servidores públicos, trabalhadores cooperativados e empregadores –
particularmente, os proprietários de micro e pequenas unidades de produção. São também
considerados trabalhadores aqueles que exercem atividades não remuneradas – habitualmente,
em ajuda a membro da unidade domiciliar que tem uma atividade econômica, os aprendizes e
estagiários e aqueles temporária ou definitivamente afastados do mercado de trabalho por
doença, aposentadoria ou desemprego.
Ainda segundo o Ministério da Saúde (2001), classicamente, os fatores de risco para a
saúde e segurança dos trabalhadores, presentes ou relacionados ao trabalho, podem ser
classificados em cinco grandes grupos:
FÍSICOS: ruído, vibração, radiação ionizante e não-ionizante, temperaturas extremas
(frio e calor), pressão atmosférica anormal, entre outros;
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QUÍMICOS: agentes e substâncias químicas, sob a forma líquida, gasosa ou de
partículas e poeiras minerais e vegetais, comuns nos processos de trabalho ;
BIOLÓGICOS: vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em
hospitais, laboratórios e na agricultura e pecuária;
ERGONÔMICOS E PSICOSSOCIAIS: decorrem da organização e gestão do trabalho,
como, por exemplo: da utilização de equipamentos, máquinas e mobiliário inadequados,
levando a posturas e posições incorretas; locais adaptados com más condições de iluminação,
ventilação e de conforto para os trabalhadores; trabalho em turnos e noturno; monotonia ou
ritmo de trabalho excessivo, exigências de produtividade, relações de trabalho autoritárias,
falhas no treinamento e supervisão dos trabalhadores, entre outros;
MECÂNICOS E DE ACIDENTES: ligados à proteção das máquinas, arranjo físico,
ordem e limpeza do ambiente de trabalho, sinalização, rotulagem de produtos e outros que
podem levar a acidentes do trabalho.
De acordo com MAGNAGO (2007), dentre as profissões da área da saúde, a
enfermagem, em particular, tem sido especialmente afetada pelo distúrbio
musculoesquelético. Pesquisas realizadas em vários países exibem prevalências superiores a
80% de ocorrência desses distúrbios em trabalhadores de enfermagem. Estudos brasileiros
mostram prevalências de 43% a 93%.
Ainda de acordo com MAGNAGO (2007), o ambiente de trabalho, em condições de
adversidade, é considerado como fator de risco para o desenvolvimento de alterações no
sistema musculoesquelético. Entre os principais fatores de risco relacionados aos distúrbios
musculoesqueléticos, estão: a organização do trabalho (aumento da jornada de trabalho, horas
extras excessivas, ritmo acelerado, déficit de trabalhadores); os fatores ambientais
(mobiliários inadequados, iluminação insuficiente) e as possíveis sobrecargas de segmentos
corporais em determinados movimentos, por exemplo: força excessiva para realizar
determinadas tarefas, repetitividade de movimentos e de posturas inadequadas no
desenvolvimento das atividades laborais. A exposição contínua e prolongada do corpo aos
fatores de risco, acima descritos, de tal ambiente favorece o surgimento das doenças
ocupacionais.
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Segundo a Instrução Normativa nº98/2003 do INSS, esses fatores estão agrupados de
acordo com o grau de adequação ao posto de trabalho, à zona de atenção e à de visão; ao frio;
às vibrações e às pressões locais sobre os tecidos; às posturas inadequadas; à carga estática e
osteomuscular; à invariabilidade da tarefa; às exigências cognitivas e, ainda, aos fatores
organizacionais e psicossociais ligados diretamente ao trabalho.
2.3.1 D.O.R.T. – Doenças Ocupacionais Relacionadas ao Trabalho e L.E.R –
Lesões por Esforços Repetitivos
Segundo o protocolo do Ministério da Saúde (2012), são considerados sinônimos
lesões por esforços repetitivos (LER), distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho
(Dort), síndrome cervicobraquial ocupacional, afecções musculoesqueléticos relacionadas ao
trabalho (Amert) e lesões por traumas cumulativos (LTC).
As lesões por esforços repetitivos (L.E.R) e os distúrbios osteomusculares re-
lacionados ao trabalho (D.O.R.T.) são, por definição, distúrbios relacionado ao trabalho
(KUORINKA; FORCIER, 1995) apud Ministério da Saúde (2012).
A L.E.R. e a D.O.R.T. são danos provenientes da utilização em excesso, repetidas
vezes, do sistema musculoesquelético, e da falta de tempo para recuperação. São
caracterizadas pela ocorrência de vários sintomas, ao mesmo tempo ou não, de aparecimento
insidioso, geralmente nos membros superiores, tais como parestesia, sensação de peso e
fadiga, dor localizada, irradiada ou generalizada, desconforto. Muitos relatam formigamento,
dormência, sensação de diminuição de força, edema e enrijecimento muscular, choque, falta
de firmeza nas mãos. (BRASIL, 2012)
Nos casos mais crônicos e graves, pode ocorrer sudorese excessiva nas mãos.
Geralmente os sintomas são de evolução insidiosa até serem claramente percebidos. Com
freqüência, são desencadeados ou agravados após períodos de maior quantidade de trabalho
ou jornadas extremamente prolongadas e em geral, o trabalhador busca formas de manter o
desenvolvimentos de seu trabalho, mesmo que às custas de dor. (BRASIL, 2012)
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A diminuição da capacidade física passa a ser percebida no trabalho e fora dele, nas
atividades cotidianas. Esses sintomas são adquiridos pelo trabalhador submetido a
determinadas condições de trabalho. Freqüentemente são causas de incapacidade laboral
temporária ou permanente. (BRASIL, 2012)
2.3.1.1 Etiologia da L.E.R / D.O.R.T
A etiologia dos casos de L.E.R./D.O.R.T. é conhecida por múltiplos fatores. Nos casos
de L.E.R./D.O.R.T. é muito importante analisar os vários fatores de risco envolvidos direta ou
indiretamente. Seus fatores de risco não são necessariamente as causas diretas de LER/Dort,
mas podem gerar respostas que produzem as lesões ou os distúrbios. Na maioria das vezes,
seus fatores foram estabelecidos por meio de observações empíricas e depois confirmados
com estudos epidemiológicos (KUORINKA; FORCIER, 1995).
A alta prevalência das LER/Dort tem sido explicada por transformações do trabalho
nas instituições e das empresas, cuja organização tem se caracterizado pelo alcance de
estabelecimento de metas e de produtividade e aumento da competitividade de mercado, sem
levar em conta os trabalhadores e seus limites físicos e psicossociais.
Os fatores de risco não são totalmente independentes e interagem entre si. Envolvem
diversos aspectos tais como: biomecânicos, cognitivos, sensoriais, afetivos e de organização
do trabalho. Por conta disso, fatores organizacionais como carga de trabalho e pausas para
descanso podem controlar fatores de risco quanto à frequência e à intensidade.
Quatro elementos se destacam na exposição a esses fatores de risco:
Regiões anatômicas submetidas aos
fatores de risco.
Punho, cotovelo, ombro, mão, região
lombar, pescoço, etc.
Magnitude ou intensidade dos
fatores de risco.
Para carga musculoesqueletica, por
exemplo, pode ser o peso do objeto
levantado. Para características
psicossociais do trabalho,
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pode ser percepção do aumento
da carga de trabalho.
Variação de tempo dos fatores
de risco.
Duração do ciclo de
trabalho, distribuição das pausas,
estrutura de horários, etc.
Tempo de exposição aos fatores
de risco.
O tempo de latência das lesões
e dos distúrbios pode variar de
dias a décadas (KIVI, 1984;
CASTORINA, 1990).
Apud Ministério da Saúde (2012)
De acordo com a Instrução Normativa nº98/2003 do INSS, o início da sintomatologia
é insidiosa, principalmente nos finais das jornadas de trabalho ou durante os principais
momentos de produção, aliviando com o repouso noturno e nos finais de semana. Por serem
intermitentes, de curta duração e de leve intensidade, passam por cansaço passageiro. Poucas
vezes o trabalhador se dá conta de sua ocorrência precocemente. A necessidade de
corresponder às exigências do trabalho, o medo de desemprego, a falta de informação e outras
contingências, estimulam o trabalhador a suportar seus sintomas e a continuar trabalhando
como se nada estivesse sentindo.
2.3.2 Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)
A hipertensão arterial Sistêmica é, portanto, definida como uma pressão arterial
sistólica maior ou igual a 140mmHg e uma pressão arterial diastólica maior ou igual a 90
mmHg, em indivíduos que não estão fazendo uso de medicação anti-hipertensiva. (BRASIL,
2001)
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) apresenta-se em destaque no contexto quanto
à epidemiologia, por ser uma doença crônico-degenerativa, assintomática, com maior
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exposição e susceptibilidade de pessoas a uma série de agravos que podem prejudicar a
qualidade de vida. É a doença de mais alta prevalência dentre as doenças e agravos não
transmissíveis (DANT, 2006).
Trata-se de doença de relativa gravidade em decorrência de sua cronicidade e de sua
evolução, de modo insidioso, para lesões de órgãos alvos, no desenvolvimento de várias
outras enfermidades como aneurismas, doença vascular periférica, insuficiência cardíaca,
doença renal crônica, entre outras, contribuindo com mais de um terço de todas as mortes.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, em nível global a hipertensão arterial atinge mais
de 20% da população e encontra-se em crescimento na maioria dos países, responsável por
7,1 milhões de mortes, correspondendo a 13% do total em 2002 (DANT, 2006).
Deve-se ter atenção especial aos chamados estresses ocupacionais, os quais podem
desencadear doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial sistêmica (HAS). Levando
em conta que o local de trabalho em que o trabalhador está inserido é muitas vezes o fator
gerador do estresse, as chances de se desenvolverem doenças aumentam em função do tipo de
atividade que o trabalhador executa, assim como os diversos fatores que tornam o ambiente
laboral altamente insalubre.
No Brasil, o percentual de prevalência da hipertensão chega a 35% da população com
idade igual ou superior a 40 anos, ou seja, cerca de 17 milhões de pessoas (BRASIL, 2006).
As mudanças na economia e de organização na pirâmide social com o predomínio da vida
urbana, a comodidade da tecnologia, da industrialização de alimentos e da globalização tem
resultado em padrões de comportamento e condições de vida bastante prejudiciais à saúde da
população, principalmente no que diz respeito à hipertensão arterial.
A prevenção da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) envolve sobretudo a educação
para a saúde sobre suas inter-relações e complicações, e inclusive, na maioria das vezes, a
necessidade da introdução de mudanças de hábitos de vida (BRASIL, 2001). Deve-se ter
motivação para vencer os desafios que estarão presentes nas ações preventivas, institucionais
e privadas, para os profissionais de saúde portadores destas doenças.
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2.3.3 Lombalgia
A lombalgia só não tem maior incidência que a cefaléia dentre os distúrbios dolorosos
que mais afetam o ser humano, a dor na região lombar é causa frequente de morbidade e
incapacidade laboral, estando associada à importante impacto social e econômico. Estudos
epidemiológicos apontam a prevalência das lombalgias na população em geral entre 50% a
80%. (HELFENSTEIN, 2010)
A lombalgia ocupacional é a maior causa isolada de distúrbio de saúde de origem
ocupacional e de absenteísmo, é a causa mais comum de incapacidade laboral em
trabalhadores com menos de 45 anos de idade, atinge mais os adultos jovens e é responsável
por aproximadamente 25% dos casos de invalidez prematura. (HELFENSTEIN, 2010)
De acordo com MACEDO (2006) os fatores causais que estão diretamente
relacionados com as lombalgias ocupacionais são os mecânicos, os posturais, os traumáticos e
os psicossociais. A idade, a postura e a fadiga no trabalho são consideradas como fatores
importantes e contribuintes para a elevada percentagem de recidiva da dor lombar. O trabalho
pesado, o trabalho sentado por longas horas, o levantamento de peso, postura inadequada, o
móvel nada ergonômico, a falta de exercícios físicos e os problemas psicológicos representam
alguns dos principais fatores desencadeantes e que contribuem para a cronicidade da dor
lombar.
Ainda segundo MACEDO (2006) Queixas cada vêz mais frequentes de dor na região
da coluna lombar estão associadas à tensão da musculatura paravertebral que decorrem de
posturas incômodas e da degeneração precoce dos discos intervertebrais pelo excesso de
esforço físico e também pelo escesso de peso. Acreditam-se também que muitos casos de
lombalgia se devem a fortes pressões sobre os músculos e ligamentos que suportam a coluna
vertebral.
Há uma elevada prevalência de lombalgia em profissionais de enfermagem, em
particular em profissionais auxiliares e técnicas de enfermagem que exercem diversas
atividades nos setores hospitalares. Esses setores requerem cuidados intensivos aos pacientes
e isto inclui o uso, também, da força do profissional para realizar estas atividades. Acredita-se
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que fatores ergonômicos devam estar relacionados ao aparecimento da lombalgia nestes
profissionais.
2.3.4 Lesões do ombro
As patologias do ombro estão enquadradas nas LER/DORT’s, quando o nexo entre o
trabalho e a lesão ocorrerem. E a lesão mais comum quando se fala em lesões no ombro é a
tendinite do manguito rotador que caracteriza-se por dor durante a abdução e flexão do braço
maior que 60º e dor na região lateral do ombro (músculo deltóide) e ocorre com vários
movimentos, especialmente abrir o braço e rotação para dentro. (FELLET, 2000)
Os pacientes referem dificuldades para se vestir e dor noturna. A tendinite do
manguito rotador tem muitos fatores, porém a sobrecarga sobre a articulação geralmente é a
principal. Fatores relacionados à idade incluem degeneração e diminuição na vascularização
dos tendões do manguito, bem como redução da força muscular. (FELLET, 2000). O
manguito rotador é composto pelos músculos supra-espinhoso, infra-espinhoso, redondo
menor e subescapular e tem como função estabilizar o úmero na cavidade glenoide.
(FELLET,2000)
2.3.5 Sinovites e Tenossinovites
A Membrana sinovial é uma fina camada de tecido conjuntivo que tem por função
principal revestir as estruturas como tendões, cápsulas articulares e bursas sinoviais. É ela
composta de células sinoviais, cuja função é a produção do líquido sinovial, um gel viscoso
que tem por função principal a lubrificação das estruturas as quais protegem. Uma articulação,
um tendão, uma bursa sinovial quando submetidas a grandes traumatismos ou a pequenos
traumatismos repetidas vezes ou ainda, a estímulos de origem infecciosa, metabólica ou
humoral, tendem a aumentar a produção do líquido sinovial na tentativa de diminuir o Stress a
que está sendo submetido, facilitando os movimentos de deslizamento de uma superfície
sobre a outra. (NOVAES, 2012)
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Devemos saber que a inflamação é um fenômeno biológico que consiste em
uma reação fisiológica frente a uma agressão. A inflamação é também um fenômeno
imunológico, sendo que as células envolvidas neste processo poderão ser diferentes,
dependendo do local onde ocorrerem a lesão. No caso dos tendões, são descritos
como tendinites; no caso da cápsula articular, como capsulite; no caso das bolsas sinoviais,
como bursites; no caso das articulações, como artrite; no caso da membrana óssea que recobre
os ossos (periósteo), como periostite, sendo que a localização anatômica da estrutura atingida
complementa a denominação. (NOVAES, 2012)
Só após excluirmos doenças sistêmicas, alterações hormonais, distúrbios
metabólicos, macro e micro traumas realizados em atividades fora do trabalho, poderemos
firmar o diagnóstico de uma “sinovite de origem profissional” o que, neste caso, poderia ser
enquadrado como uma D.O.R.T.. (NOVAES, 2012)
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3. METODOLOGIA
3.1 Tipo de Pesquisa
O método de pesquisa realizada é do tipo quantitativa que segundo MARCONI &
LAKATOS (1996) é aquela que reúne, registra e analisa todos os dados numéricos que se
referem às atitudes e aos comportamentos do público-alvo. Sendo usada quando se quer medir
opiniões, reações, sensações, hábitos e atitudes de um universo (público-alvo), através de
amostra que o represente de forma estatisticamente comprovada.
3.2 Local da pesquisa
O estudo foi realizado no Hospital Municipal Drº João Borges de Cerqueira na cidade
de Santo Estevão onde trabalham 25 técnicas de enfermagem. O referido hospital tem cerca
de 34 leitos de internamento, sendo 08 leitos de internação pós cirúrgica, 04 leitos de
isolamento para doenças transmissíveis, sala de observação da emergência com 10 leitos,
sendo 05 leitos masculinos e 05 leitos femininos, sala de nebulização, sala de emergência
clínica (sala de parada), sala de atendimentos traumatológicos, sala de curativos, sala de
gesso, sala de triagem, 03 salas de atendimento médico, sendo 01 para atendimentos em
ginecologia, sala de raio X, sala de Eletrocardiograma (E.C.G.), etc.
O município de Santo Estevão está situado no polígono da seca com uma área de
366,597 km², com uma população estimada em 2004 era de 44.163 habitantes e a estimativa
para 2008 é de 46.360 (IBGE 2008), tem uma altitude de 242 metros acima do nível do mar.
Fica localizada na BR 116 Sul, na Microrregião de Feira de Santana, tem como municípios
vizinhos: Ipecaetá, Rafael Jambeiro, Antônio Cardoso, Castro Alves e Cabaceiras do
Paraguaçu. Distante de Salvador apenas 157 km, Tem um bom comércio, mas tem ótima
atividade rural agropecuária, com destaque à produção de fumo, maior da Bahia, e indústria
ainda com participação pouco significativa.
O referido município possui um sistema de saúde composto por uma rede de serviços
públicos e privados, sendo que a rede pública contém 01 hospital, 01 Centro de Saúde e 09
Unidades de Saúde da Família, 01 centro de atendimentos ambulatoriais, 01 Centro de Apoio
18
Psicossocial (CAPS), sendo que o local onde será aplicado o questionário será o Hospital
municipal Drº João Borges de Cerqueira.
3.3 Sujeito da pesquisa
A população deste estudo foram 25 técnicas de enfermagem do Hospital municipal Drº
João Borges de Cerqueira no município de Santo Estevão. Foi escolhido 25 técnicas de
enfermagem, pois é a quantidade de técnicas que trabalham neste referido hospital.
3.4 Coleta de dados
Foi utilizado questionário fechado (anexo 8) com perguntas dicotômicas referentes ao
seu trabalho e sintomatologia/patologia que porventura o sujeito da pesquisa possa vir a ter,
depois estes dados serão colocados em tabelas no programa microsoft office excel 2007, onde
depois serão apresentados e analisados em forma de gráficos.
Segundo MATTAR (1994) o questionário de perguntas dicotômicas são aquelas que
apresentam apenas duas opções de resposta, de caráter bipolar, do tipo: sim/não;
concordo/não concordo; gosto/não gosto. São adequadas para muitas perguntas que se
referem a questões de fato, bem como a problemas claros.
De acordo com MATTAR (1994), são as seguintes as principais vantagens e
desvantagens das questões dicotômicas:
Vantagens:
Rapidez e facilidade de aplicação, processo e análise;
Facilidade e rapidez no ato de responder;
Menor risco de parcialidade do entrevistador;
Apresentam pouca possibilidade de erros;
São altamente objetivas.
Desvantagens
Polarização de respostas e/ou possibilidade de forçar respostas em relação a um
leque de opiniões;
19
Dependendo de como a pergunta é feita, questões com respostas dicotômicas
são fortemente passíveis de erros sistemáticos.
A aplicação do questionário teve como objetivo coletar os dados da pesquisa e
posteriormente analisá-los. Os dados colhidos e analisados no estudo seguiram os padrões de
ética e total sigilo, e somente serão manipulados como base para pesquisa, garantindo o
anonimato dos sujeitos envolvidos.
20
4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este capítulo constitui-se na parte central do trabalho, em que foram sistematizados os
dados da pesquisa (Questionário fechado). Os dados refletem a ocorrência dos principais
distúrbios ocupacionais que mais acometem as técnicas de enfermagem do Hospital
Municipal Drº João Borges de Cerqueira no município de Santo Estevão.
4.1 A ocorrência dos distúrbios ocupacionais que mais acometem as técnicas de
enfermagem do Hospital Municipal Drº João Borges de Cerqueira no município de
Santo Estevão-BA
Foram aplicados 25 (vinte e cinco) questionários, com 100% dos questionários
respondidos pelas 25 técnicas de enfermagem que fazem parte do quadro de funcionários do
Hospital João Borges de Cerqueira no município de Santo Estevão-BA. A idade da população
do estudo varia entre 23 e 57 anos, sendo que algumas técnicas de enfermagem (cerca de 10
técnicas de enfermagem) têm mais de 25 anos de profissão.
Foi verificado na aplicação dos questionários, que das 25 entrevistadas 04 não
apresentaram ainda nenhum tipo de distúrbio ocupacional, ou seja, cerca de 16% das
entrevistadas. Em contrapartida 21 (84%) já apresentam algum tipo de distúrbio ocupacional.
(vide gráfico 1 na página 21).
Observou-se que as 04 técnicas de enfermagem que não apresentaram nenhum
distúrbio ocupacional, tem pouco tempo de trabalho na enfermagem, cerca de um ano, logo
podemos observar que com pouco tempo de trabalho, tem-se pouco tempo de exposição aos
fatores de risco que originam as doenças ocupacionais.
O aparecimento de doenças do trabalho se dá pela exposição aos diversos fatores de
risco tais como: físicos, químicos, biológicos, psicossociais, ergonômicos e às características
individuais de cada um.
21
GRÁFICO 1
Das 21 técnicas (84% das 25 técnicas) que apresentam algum distúrbio ocupacional, 10
técnicas de enfermagem, (cerca de 47%), estiveram por 25 anos expostas aos diversos fatores
de risco, tais como: riscos físicos, biológicos, químicos, ergonômicos, psicossociais,
mecânicos e de acidentes.
Ainda em relação às 21 técnicas, 19 delas (76%) já sentiram alguma dor localizada ou
irradiada, sensação de peso ou desconforto originados pelo trabalho (vide gráfico 2, na página
22). Ainda reforçando em relação à problemática do processo de trabalho da enfermagem que
abrange muitas vertentes que vai desde o cuidar do paciente com vários graus de dependência,
pois existem pacientes que dependem das técnicas de enfermagem para banho no leito, asseio
pós micção e evacuação, escovação de dentes, etc.
22
GRÁFICO 2
São também das técnicas de enfermagem os procedimentos na sala de medicação
(aplicação de vacinas, soros, preparo e aplicação de medicamentos), dos procedimentos na
Central de Material Esterilizado – CME (lavagem, secagem dos materiais, preparo dos
pacotes com pinças cirúrgicas, preparo das caixas de sutura, preparo dos pacotes com
compressas de gazes etc.), sala de curativos (curativos, retirada de pontos, etc), coleta de
exames laboratoriais, aferição de pressão arterial, teste de glicemia em jejum, auxílio ao
médico no Centro Cirúrgico, assistência à parturiente na sala de pré-parto, assistência de
enfermagem aos pacientes internados (curativos, aplicação de medicamentos, banho no leito,
mudança de decúbito dos pacientes acamados de horário, etc) dentre outros procedimentos de
enfermagem o que só sobrecarrega o trabalhador deixando ele cada vez mais exposto aos
distúrbios ocupacionais.
23
Na aplicação do questionário foi observado de acordo ao gráfico 3, que 05 das 21
técnicas de enfermagem (23%) sentem câimbra nas mãos, ou sensação de aperto nos punhos
ou ambos os sintomas. Sintomatologia diretamente relacionada ao trabalho de preparo de
medicações, aspiração de medicamentos e vacinas para a aplicação nos pacientes, colocação e
retirada de equipo na ampola de soro, confecção de curativos, punção venosa, aplicação de
injeção intramuscular, contenção de pacientes principalmente crianças para aplicação de
medicamentos, etc.
GRÁFICO 3
De acordo ao gráfico 4 (pag. 24), o observado no questionário é que a maioria das
técnicas de enfermagem que apresentam algum tipo de doença ocupacional são acometidas
pela lombalgia (72%), ou seja, 16 das 21 sofrem de dor na região lombar.
24
GRÁFICO 4
A lombalgia ocupacional no processo de trabalho da enfermagem se dá pelo excesso de
procedimentos feitos de modo nada ergonômicos tais como: remoção de pacientes de uma
maca para outra, banho no leito de pacientes com dependência de grau elevado, excesso de
peso, excesso de horas trabalhadas, etc. Outro fator importante é a inadequação entre o
trabalhador de enfermagem e o equipamento utilizado por ele, tais como: maca baixa demais,
cama hospitalar defeituosa, o que obriga o profissional a assumir posturas incorretas de
trabalho favorecendo uma maior exposição a fatores de risco que acarretam o aparecimento e
evolução da lombalgia ocupacional.
É preocupante uma porcentagem tão alta de profissionais apresentando lombalgia
ocupacional, pois assim demonstra que não há nenhuma preocupação com a ergonomia no
25
processo de trabalho da enfermagem, nem com a saúde, como um todo, do profissional
técnico de enfermagem.
Podemos analisar o gráfico 5 que demonstra que 03 das 21 técnicas de enfermagem
que apresentam algum distúrbio ocupacional (12%), tem diagnóstico médico de L.E.R. e
sinovites (bursite, tendinite), que recapitulando lembramos que essas patologias são estados
inflamatórios que variam sua nomenclatura de acordo ao local no corpo em que ela ocorre. No
caso dos tendões, são descritos como tendinites; na cápsula articular, como capsulite;
nas bolsas sinoviais, como bursites; nas articulações, como artrite; na membrana óssea que
recobre os ossos (periósteo), como periostite, sendo que a localização anatômica da estrutura
enferma complementa a denominação. (NOVAES,2012)
GRÁFICO 5
26
De acordo ao gráfico 06, a ocorrência de dor no ombro nas técnicas de enfermagem, é
bem menor que a dor lombar (vide gráfico 04), porém ela é uma importante causa de
morbidade, podendo limitar a capacidade laboral do profissional de enfermagem.
Os distúrbios nos ombros têm como principal característica a dor, limitação dos
movimentos e interferem na qualidade da vida diária, no lazer e nas suas tarefas laborais,
podendo prejudicar sua qualidade de vida. (LECH, 2005)
GRÁFICO 6
De acordo com o gráfico 7, 05 técnicas de enfermagem (23%) das 21, apresentam
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), essas 05 técnicas fazem parte das que tem mais de 25
anos de trabalho, condição patológica que se não for controlada com medicamentos anti-
27
hipertensivos pode evoluir para o Acidente Vascular Cerebral (AVC), deixando o trabalhador
em condição parcial ou totalmente incapacitante.
GRÁFICO 7
A Hipertensão Arterial Sistêmica em trabalhadoras de enfermagem pode ser agravada
por excesso de horas trabalhadas, excesso de trabalho com muitas atribuições profissionais,
má alimentação, trabalho estressante principalmente entre os profissionais que trabalham no
setor da emergência.
A má alimentação, ou seja, o consumo de gordura, sal e açúcar, juntamente com
estresse e o sedentarismo são fatores de risco muito importantes para o agravamento da
hipertensão arterial. O excesso de horas trabalhadas com muitos plantões de 24 horas, um
após o outro, também influencia diretamente na saúde do profissional de enfermagem, pois
28
tendo baixos salários o profissional terá que trabalhar em várias instituições para garantir
melhores ganhos salariais.
A hipertensão arterial junto com outras doenças ocupacionais acarretará uma baixa na
qualidade de vida do profissional técnico de enfermagem, que dentre todos estes problemas
ainda falta ter um melhor reconhecimento dos patrões e da população pela sua atividade tão
digna e honrada.
29
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo mostra que as doenças ocupacionais, são doenças resultantes de condições
específicas de trabalho, para as quais se torna necessária a comprovação causa-consequência
(nexo causal), de que foram adquiridas em conseqüência da atividade laboral a que são
submetidas. (SOBRINHO, 1995)
As doenças ocupacionais são causadas ou agravadas por determinadas atividades
laborais, podemos determinar que o trabalho das técnicas de enfermagem é um trabalho
extenuante e que pode causar muitos distúrbios ocupacionais.
O campo de ação da equipe de enfermagem em um hospital vai desde o cuidar do
paciente, dos procedimentos na sala de medicação (aplicação de vacinas, soros, preparo e
aplicação de medicamentos), dos procedimentos na Central de Material Esterilizado – CME
(lavagem, secagem dos materiais, preparo dos pacotes com pinças cirúrgicas, preparo das
caixas de sutura, preparo dos pacotes com compressas de gazes etc.), sala de curativos
(curativos, retirada de pontos, etc), coleta de exames laboratoriais, aferição de pressão arterial,
teste de glicemia em jejum, auxílio ao médico no Centro Cirúrgico, assistência à parturiente
na sala de pré-parto, assistência de enfermagem aos pacientes internados (curativos, aplicação
de medicamentos, banho no leito, mudança de decúbito dos pacientes acamados de horário,
etc) dentre outros procedimentos de enfermagem.
Portanto são muitas atribuições que aumentam os fatores de risco ocasionando assim
muitas doenças, tais como: lombalgia ocupacional (76% das 21 técnicas que apresentaram
alguma doença ocupacional, pois 04 não apresentaram nenhum distúrbio, no total foram 25
entrevistadas) apresentaram lombalgia, L.E.R. e Tendinites (14%), Hipertensão Arterial
Sistêmica (23%), Lesões no ombro (09%).
Constatamos assim, que é significativa a incidência de doenças ocupacionais na
população estudada, demonstrando que o processo de trabalho das técnicas de enfermagem
precisa de uma melhora quanto à ergonomia.
30
A ergonomia é o estudo científico de adaptação dos instrumentos, condições e
ambiente de trabalho ás capacidades psicofisiológicas, antropométricas e biomecânicas do
homem. (BRASIL, 2012)
A pesquisa constata, que a ergonomia no processo de trabalho da enfermagem é de
grande importância, o trabalhador de enfermagem deve ter cuidado em relação à postura e à
movimentação do corpo no momento de execução das tarefas relativas aos procedimentos de
enfermagem, tais como: transporte de pacientes em maca e em cadeira de rodas, banhos no
leito, mudanças de decúbito, entre outros, percebe-se que os técnicos de enfermagem possuem
pouco ou nenhum conhecimento sobre ergonomia.
É possível concluir, que os gestores em saúde tem sua parcela de culpa em relação a
esse desconhecimento quanto à ergonomia, pois esses gestores não investem em educação
continuada, nem investem em formação pós-acadêmica para os enfermeiros estudarem
enfermagem do trabalho, ficando assim os técnicos de enfermagem expostos a diversos
fatores de risco e desconhecendo os males a que são constantemente expostos.
31
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34
APÊNDICE
UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL
ENFERMAGEM DO TRABALHO 2
ALUNO: EDÉZIO DE SOUZA SOARES JÚNIOR
TEMA: OCORRÊNCIA DOS PRINCIPAIS DISTÚRBIOS
OCUPACIONAIS ENTRE AS TÉCNICAS DE ENFERMAGEM DO
HOSPITAL MUNICIPAL DRº JOÃO BORGES DE CERQUEIRA NO
MUNICÍPIO DE SANTO ESTEVÃO-BA
QUESTIONÁRIO
Você tem alguma doença causada pelo trabalho?
( ) sim
( ) não
Você já sentiu alguma dor localizada ou irradiada, sensação de peso ou desconforto
causado por seu trabalho?
( ) sim
( ) não
Sente câimbra nas mãos, ou sensação de aperto nos punhos ou ambos os sintomas?
( ) sim
( ) não
Sente alguma doença ocasionada pelo trabalho diagnosticado pelo médico? qual a
doença?
Lombalgia : ( ) sim ( ) não
LER e Sinovites, (bursite, tendinite, tenossinovites): ( ) sim ( ) não
Hipertensão Arterial Sistêmica: ( ) sim ( ) não
Lesões no ombro: ( ) sim ( ) não