12. afecções do sistema respiratório
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CLÍNICA DE
RUMINANTES
AFECÇÕES DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

RINITE

Introdução
Caracteriza-se clinicamente por espirros, sibilos e estertor durante a inspiração, além de secreção nasal, que pode ser serosa, mucóide ou purulenta

Etiologia
Ocorre, normalmente, em conjunto com outras inflamações do trato respiratório, sendo parte importante da síndrome associada a essas afecções
Bovinos Rinite catarral na rinotraqueíte infecciosa bovina, por adenovírus 1, 2 e
3
Doença ulcerativa/erosiva no catarro maligno, na doença das mucosas e na peste bovina
Rinosporidiose causada por fungos
Rinite alérgica atópica (coriza de verão)
Rinite alérgica familiar dos bovinos
Ovinos Febre catarral, língua azul, e, raramente no ectima contagioso e varíola
ovina
Infestação por Oestrus ovis
Rinite alérgica

Patogenia
É pouco importante como processo primário, exceto nos casos onde cause obstrução da passagem de ar pela cavidade nasal
Sua maior importância é servir de indício da presença de doenças específicas

Sinais Clínicos
Secreção nasal, geralmente serosa no início, e que ao longo do tempo se torna mucóide. Havendo complicação bacteriana secundária, a secreção pode passar a purulenta
Eritema, ulceração e erosão podem ser visíveis
A inflamação pode ser uni ou bilateral
Os espirros são característicos dos estágios iniciais agudos, sendo seguidos, nos estágios posteriores, por roncos e expulsão de grandes quantidades de material purulento

CORIZA DE VERÃO DOS BOVINOS
Síndrome característica que acomete diversos animais
Os casos ocorrem na primavera e no outono, quando os pastos encontram-se em
floração e o clima úmido e morno
Ocorre início súbito de dispnéia, com secreção nasal abundante de material espesso, alaranjado e amarelado, variando de mucopurulenta a caseosa
Os espirros, a obstrução e a irritação são graves
A irritação pode fazer com que o animal sacuda a cabeça e esfregue o nariz contra objetos
Respiração estertorosa e difícil, acompanhada de respiração bucal
Pode ocorrer desprendimento de pseudomembranas com formato de molde perfeito do interior da narina
Nas manifestações mais crônicas, há formação de nódulos com cerca de 1 cm de diâmetro no interior das narinas

RINITE ALÉRGICA FAMILIAR DOS BOVINOS
Os sinais clínicos iniciam na primavera e duram até o final do inverno
Episódios de espirros violentos com muito prurido,
manifestado pelo roçar das narinas contra objetos
Dispnéia e roncos respiratórios
Narinas externas com secreção mucóide espessa e mucosa hiperêmica e edematosa
Todos os animais acometidos são positivos para reações intradérmicas contra grandes variedades de alérgenos

Patologia Clínica
Swabs nasais para detectar bactérias, corpúsculos de inclusão ou fungos
Nos processos alérgicos as secreções costumam ter muitos eosinófilos
Biópsias da mucosa nasal também são de grande valia para exames microbiológicos e histopatológicos
A endoscopia pode ser útil para visualização das lesões da mucosa não visíveis externamente

Tratamento
Remoção do exsudato viscoso com solução salina
Animais com rinite alérgica devem ser afastados das pastagens por cerca de uma semana e tratados com anti-histamínicos

PNEUMONIA

Pneumonia
É a inflamação do parênquima pulmonar, normalmente acompanhada de inflamação dos brônquios e pleurisia
Manifesta-se clinicamente por taquipnéia, alterações da amplitude respiratória, tosse, sons respiratórios anormais e, na maioria das pneumonias bacterianas, toxemia

Etiologia nos Bovinos
Pasteurelose pneumônica (febre dos transportes) - P. haemolytica e P. multocida
Hamophilus somnus em bovinos de engorda
Pneumonia enzoótica dos terneiros
Vírus da parainfluenza-3; Adenovírus 1, 2 e 3; Rinovírus; Vírus sincicial respiratório bovino; Reovírus; Herpes vírus-1 bovino (IBR)
Chlamydia sp.; Actinomyces (Corynebacterium) pyogenes; Streptococcus sp.; Actinobacillus actinoides
Pleuropneumonia contagiosa bovina – Mycoplasma mycoides
Pneumonias intersticiais crônicas e agudas causadas por feno mofado ou outros agentes pneumotóxicos
Pneumonia por vermes pulmonares – Dictyocaulus viviparus
Infecção por Klebsiella pneumoniae em terneiros e vacas lactantes com mastite por esse microorganismo
Fusobacterium necrophorus como complicação da difteria dos terneiros ou em bovinos de engorda

Etiologia nos Ovinos
Pasteurelose pneumônica (Pasteurella spp) Ocorre na forma primária aguda em rebanhos de
cordeiros confinados
Ocorre de forma secundária a infecções por vírus parainfluenza-3 ou por Chlamydia sp.
Pneumonias assintomáticas sem infecção secundária causadas por Mycoplasma sp.
Melioidose – Pseudomonas pseudomallei
Verminose pulmonar por Dictyocaulus filaria

Etiologia nos Caprinos
Pleuropneumonia por Mycoplasma capri, constituindo doença devastadora
Pneumonia intersticial por diversos micoplasmas
Infecção por retrovírus

Etiologia comum a todas as espécies
Micoses sistêmicas Lesões focais
Pneumonia por aspiração
Pneumonia esporádica secundária Streptococcus sp.
Corynebacterium sp.
Dermatophilus sp.
Pneumonia intersticial, consolidação e fibrose pulmonar por toxinas Astragalus sp.

Epidemiologia
Fatores de Risco
Desmame de terneiros de corte em climas frios
Longo tempo de transporte
Agrupamentos e mistura de animais em feiras e
exposições
Privação de água e alimentos por períodos longos
Rebanhos leiteiros confinados em ambientes malventilados em com alta densidade animal
Mudanças climáticas muito bruscas

Patogenia
Mecanismos de Defesa do Sistema Respiratório:
Filtração aerodinâmica pelas cavidades nasais
Espirros
Anticorpos da mucosa nasal
Reflexo laríngeo
Reflexo da tosse
Mecanismo de transporte mucociliar
Macrófagos alveolares
Sistemas de anticorpos locais e sistêmicos

Desenvolvimento da Pneumonia
Pneumonia Bacteriana
Introduzidas por passagem respiratória
Bronquite primária e pneumonia secundária por disseminação da bronquite
(disseminação das lesões por continuidade ou passagem de material pelos bronquíolos e vasos linfáticos)
Reação do tecido pulmonar em forma de processo fibrinoso agudo
Pasteurelose e Pleuropneumonia bovina contagiosa
Lesões necrosantes
Fusobacterium necrophorum
Bronquiectasia e abscessos pulmonares são complicações comuns que determinam falha na resposta terapêutica
Infecção hematogênica
Número variável de focos sépticos e formação de abscessos pulmonares
A pneumonia se forma quando os abscessos rompem dentro das passagens áereas, disseminando-se como broncopneumonia secundária

Desenvolvimento da Pneumonia
Pneumonia Viral
Induzidas principalmente por inalação
Bronquite primária sem reação inflamatória
A disseminação alveolar acarreta proliferação celular epitelial, causando edema alveolar
A conseqüência é a consolidação do tecido comprometido, sem inflamação aguda e necrose tecidual e, conseqüentemente, sem a toxemia característica que ocorre na pneumonia bacteriana

Fisiopatologia
Interferência direta na troca gasosa entre os alvéolos e o sangue
A consolidação tecidual resulta em sons audíveis mais ruidosos do que o normal
Na pneumonia bacteriana ainda há o efeito das toxinas bacterianas e da necrose tecidual produzindo toxemia
O acúmulo de exsudato inflamatório nos brônquios manifesta-se por sons respiratórios anormais, tais como estertores, crepitações e sibilos à auscultação
A pneumonia intersticial resulta na consolidação do parênquima pulmonar sem o comprometimento dos brônquios, com aumento dos ruídos respiratórios

CONSEQÜÊNCIAS DIRETAS
Disseminação à superfície visceral da pleura
Pleurite, pleuropneumonia, efusão pleural e dor torácica
Pleurite fibrinosa é comum na pasteurelose pneumônica
A restrição das trocas gasosas ocorre pela obliteração dos espaços alveolares e obstrução das passagens aéreas
Nos estágios anteriores à interrupção do fluxo sangüíneo à regiões comprometidas, a redução da oxigenação é ainda mais acentuada pelo fato do sangue circulante não entrar em contato com o oxigênio, ocorrendo cianose
A respiração superficial concorre com a anoxia e se deve principalmente à dor pleurítica causada pela expansão da parede torácica durante a respiração ou, quando não há pleurisia, ao reflexo de Hering-Breuer
A retenção de CO2 com acidose é mais provável de ocorrer quando haja respiração superficial

SINAIS CLÍNICOS
Respiração rápida e superficial é o sinal fundamental do início da pneumonia A rapidez da respiração é um guia impreciso do grau de
comprometimento pulmonar
Dispnéia ocorre nos estágios mais tardios, quando grandes porções do tecido perderam a função
A tosse é um sinal importante e suas características variam de acordo com a natureza da lesão
Tosse úmida e dolorosa em broncopneumonia bacteriana
Tosse freqüente, seca, estridente e ocorre em surtos
paroxísticos na pneumonia intersticial viral

À auscultação pode revelar sons crepitantes e ásperos, sugerindo presença de exsudato nas vias aéreas
Cianose ocorre apenas quando grandes porções do pulmão estão comprometidas
Secreção nasal pode ou não estar presente, conforme a quantidade de exsudato nos bronquíolos e inflamação no trato respiratório superior
Odor da respiração
Cheiro de decomposição quando há grande quantidade
de pus nas passagens aéreas
Odor pútrido em casos de pleuropneumonia bacteriana

Broncopneumonia Bacteriana Aguda
Toxemia, anorexia, depressão, taquicardia
Intensa dispnéia com gemido expiratório (estágios avançados)
Pneumonia Intersticial Viral
Febre, inapetência e anorexia
Normalmente, não ocorre toxemia
Em casos agudos, os animais podem estar gravemente dispnéicos, inquietos, respirando pela boca e gemendo na expiração
Broncopneumonia Crônica dos Bovinos
Toxemia crônica, pelagem opaca e áspera e má condição corporal
FC e FR acima dos parâmetros, febre moderada e persistente
Profundidade respiratória aumentada, com inspiração e expiração prolongadas
Gemidos expiratórios e respiração pela boca são indicativos de doença pulmonar avançada
Abundante secreção nasal bilateral mucopurulenta e tosse crônica são comuns

PATOLOGIA CLÍNICA
Secreções Respiratórias
Swabs nasais, aspirados traqueobronquiais e amostras de lavado
bronquioalveolar Isolamento de vírus, bactérias e fungos
Teste de sensibilidade microbiana
Toracocentese
Quando houver efusão pleural, pode-se usar esta técnica para obter líquido pleural para análise
Hematologia
Indicativo de infecção bacteriana ou viral, bem como a gravidade do caso
Concentrações de fibrinogênio bastante altas
Amostras Fecais
Exame das fezes para detecção de larvas de nematódeos que causem pneumonia

Diagnóstico por Imagem
Ultrassonografia
Pleuropneumonia bovina – acúmulo de líquidos anecogênicos em ambos lados do tórax e hipoecogênicos no espaço pleural (região ventral do tórax)

ACHADOS DE NECROPSIA
Pneumonias Fibrinosas
Exsudação gelatinosa nos septos interlobulares e pleurisia aguda
com estrias de fibrina presentes entre os lobos
Pneumonia Intersticial
Brônquios e bronquíolos limpos
Pulmão encolhido, de coloração vermelho-escura e aspecto granular sob a pleura e na superfície de corte
Espessamento dos septos interlobulares
Broncopneumonia Crônica dos Bovinos
Consolidação, fibrose, pleurite fibrinosa, enfisema intersticial e
bolhoso, bronquiectasia e abscedação pulmonar
Brônquios e bronquíolos preenchidos com exsudato

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Pneumonia Bacteriana
Polipnéia nos estágios iniciais e dispnéia nos
estágios tardios
Sons pulmonares anormais
Febre associado com toxemia
Pneumonia Intersticial Viral
Se não estiver complicada por pneumonia
bacteriana secundária – não há toxemia
Sons pulmonares anormais

TRATAMENTO
Terapia Antimicrobiana A escolha do antibiótico depende
Do diagnóstico
Da experiência com o medicamento em outras situações
Do antibiograma
Animais com pneumonia bacteriana e toxemia devem ser tratados individualmente
Terapia de Suporte Abrigo das condições adversas
Água fresca e abundante e alimentação leve
Hidroterapia parenteral (líquidos administrados lentamente, devido à sobrecarga cardíaca)
Expectorantes Cloridrato de Bromexina – 0,2 – 0,5 mg/kg (IV, IM, SC)
Broncodilatadores Clembuterol (Pulmonil®) – 0,3 mg/dia (VO)

PRINCIPAIS ANTIMICROBIANOS PARA O TRATAMENTO DAS AFECÇÕES RESPIRATÓRIAS
ANTIMICROBIANO DOSE (mg/kg) VIA DE
ADMINISTRAÇÃO INTERVALO
(HORAS)
AMOXICILINA 11 IM, SC 12
AMPICILINA 22 SC 12
CEFTIOFUR SÓDICO 1,1 IM, SC 24
CLORIDRATO DE CEFTIOFUR 1,1 IM, SC 24
ENROFLOXACINA 2,5 – 5,5 IM, EV 12 ou 24
OXITETRACICLINA 11 EV, IM, SC 24
PENICILINA G PROCAÍNA 22.000 UI/kg IM, SC 24
SULFADIMETOXINA 200 IV 24
GENTAMICINA 2 - 4 IM, EV 8 - 12
PREPARADOS DE LONGA AÇÃO
CLOIDRATO DE CEFTIOFUR 2,2 IM, SC 48
ENROFLOXACINA 7,5 – 12,5 IM, EV DOSE ÚNICA
OXITETRACICLINA 20 IM, SC 48
PENICILINA G BENZATINA/PROCAÍNA
8.800 UI/kg IM,SC 48

PNEUMONIA POR ASPIRAÇÃO

Doença séria e comum dos animais pecuários
A maioria dos casos ocorre após passagem de sonda gástrica ou administração forçada de líquidos por via oral sem os devidos cuidados
Inalação durante a disputa por comida
Ovinos e bovinos debilitados ou que abaixem demais a cabeça para tomar água em cochos, resultando em inalação de líquidos
Vômito nos ruminantes pode ser seguido de aspiração
Ruptura de abscessos faríngeos durante a palpação, com aspiração do material infectante

Síndrome de Aspiração do Mecônio
Acomete terneiros recém-nascidos
Alveolite difusa com exsudação, obstrução das pequenas vias aéreas com atelectasia
O sofrimento fetal resulta na expulsão do mecônio dentro do líquido amniótico, ocorrendo aspiração pelo terneiro desse líquido amniótico contaminado

PATOGÊNESE A ACHADOS CLÍNICOS
Aspiração de Líquidos
Pneumonia com toxemia acentuada
Quase sempre fatal em 48 – 72 h
Polipnéia, tosse, estertores, consolidação, raspado pleural
A gravidade vai depender das bactérias envolvidas, apesar de que a infecção é quase sempre mista, causando pneumonia gangrenosa, com odor pútrido e supuração pulmonar intensa

TRATAMENTO
Lesões em estágios avançados – tratamento geralmente ineficaz
Tratamento por antimicrobianos de amplo espectro logo que ocorra a aspiração – para impedir instalação da infecção