12.18 - o primeiro natal do pardalito

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  • 7/30/2019 12.18 - O Primeiro Natal Do Pardalito

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    qui h coisa de trs semanas, um pardal do Rossio,daqueles que escolheram para poiso e morada os ramos das

    rvores que circundam a dita praa, comeou assim ahistria que vamos contar: Companheiros pardais, pardalitos e pardales, escutem

    todos, a notcia importante.Juntou-se a pardalada. Quem ali passe todas as tardes,

    hora da sada dos empregos, no deve estranhar o arrudoque vem das rvores despidas de folha, mas cheias,

    cheiinhas de passarinhos tagarelas. As pessoas andam nasua vida muito apressadas, e nem sequer do conta dachilreada doida dos pardais:

    "Chega-te para l! A sou eu""Olha o pardalo a querer tomar-me o lugar..."."Ai que ainda te dou uma bicada..."."No me provoques!".

    1 APENA - APDD Cofinanciado pelo POSI e pela Presidncia do Conselho de Ministros

    O PRIMEIRO

    NATAL DOPARDALITOAntnio Torrado

    escreveu e

    Cristina Malaquias ilustrou

    A

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    "Toma que para saberes"."Deixa-me em paz".Mas voltemos nossa histria.

    Oiamos o que o pardal tem para dizer: Peo silncio, se no calo-me piava ele, tentando

    impor a ordem assembleia.Demorou o seu tempo.Os pardais so uns espalhafatosos e uns gralhadores

    incorrigveis. A notcia que vos trago importa a todos. H bocadinho,

    estava eu poisado num ramo baixo, e ouvi uma conversaentre um cauteleiro e um engraxador. Sabem do queestavam a falar?

    De futebol arriscou um. Nada disso. Estavam a falar da Lotaria do Natal,

    imaginem! Portanto, o Natal est porta, meus amigos.Espero que saibam o que isto significa...

    Os pardais mais jovens no sabiam, mas calcularam quedevia ser coisa grave, porque os pardais velhos, mesmo osmais gaiteiros e risonhos, ficaram, subitamente, de bicocado. As expresses eram de alarme e desalento:

    Temos de mudar de vida. Que desconforto! Deviam ter-nos avisado. O tempo no est para grandes voos.E cada qual debandou para o seu ramo.

    Neste ponto da histria, parece-nos indispensvel ouvira fala de um av pardal para o seu neto que, tal comovocs, amigos leitores, no percebera patavina dosucedido.

    2 APENA - APDD Cofinanciado pelo POSI e pela Presidncia do Conselho de Ministros

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    Na quadra do Natal, que uma grande festa doshomens contava ele , multiplicam-se e crescem asluminrias por toda a parte. Nesta praa, ento nem queiras

    saber! Fica tudo cheio de luzes e luzinhas de muitas cores,amarelas, azuis, vermelhas, verdes, que nos pem tontos.Onde os homens encontram um stio para pendurar umadaquelas pras de vidro que deita luz, penduram.

    Deve ser bonito observou o neto. Bonito talvez seja, mas no para ns. Aparecem fios

    por toda a parte e, nos ramos das nossas rvores, estendem

    tantos, com as tais pras penduradas, que ningum seentende. H dois anos, aproximei-me de uma dessas pras,que se tinha partido, e apanhei um arrepio pelo corpo todoque julguei que me ficava de vez!

    Ento para onde vo os pardais passar o Natal? perguntou o pardalito, atarantado.

    Saltinho aqui, saltinho acol, alguns escondem-se

    numas palmeiras, l para cima, num stio que os da cidadechamam Avenida. Outros conseguem chegar a um jardim,que me dizem ser muito tranquilo e saudvel, um talJardim Botnico ou coisa parecida.

    E ns, av? Ns ficamos. Podamos ir para um telhado prximo, se

    no andassem por l os gatos que tm olhos mais perigososdo que todas as iluminrias juntas. Olha, naturalmente,vamos para um stio sossegado que eu conheo, num

    buraco daquele edifcio, ali, no cimo da praa. um boca-do desabrigado e pouco cmodo, mas vais poder dizer,daqui em diante, que dormiste no Teatro Nacional...

    Assim que chegaram os electricistas com as escadas, oscabos e os fios, a pardalada sumiu-se...

    3 APENA - APDD Cofinanciado pelo POSI e pela Presidncia do Conselho de Ministros

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    Numa destas noites, o pardalito deixou o av a dormircom a cabea debaixo da asa, e foi dar uma voltinha pelosarredores do seu novo poiso. O Rossio silencioso e

    exuberantemente iluminado pareceu-lhe um jardim desonho.

    Tanta luz de tanta cor! exclamou.Nesse momento, um avio sobrevoava a cidade , em

    direco ao aeroporto. No escuro do cu s se distinguia asluzes vermelhas da cauda.

    Olha, l vo duas luzes a fugir...

    E dispunha-se a voar atrs delas, se o av no tivesseacordado, entretanto. Para onde ias? perguntou-lhe ele.O pardalito explicou. Comentrio do velho pardal:

    Que patetice! Ainda tens muito que aprender, pequeno,at te transformares num pardalo sabido!

    o que ns tambm achamos, ao cabo desta histria.

    FIM

    4 APENA - APDD Cofinanciado pelo POSI e pela Presidncia do Conselho de Ministros