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Simplesmente Como Jesus Simplesmente Como Jesus Max Lucado

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Livro denominacional.

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  • Simplesmente Como JesusSimplesmente Como JesusMax Lucado

  • Betnia/Editorial Caribe, 1999Ttulo em ingls: Just Like Jesus

    Traduo para o espanhol: Miguel Mesas

    Traduo do espanhol realizada por Daniela Raffo,Terminada em sexta-feira, 14 de maro de 2008, 13:25:26

    Reviso final: SusanaCap

    http://semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htm

    Nossos e-books so disponibilizados gratuitamente, com a nica finalidade de oferecer leitura edificante a todos aqueles que no tem condies econmicas para

    comprar.Se voc financeiramente privilegiado, ento utilize nosso acervo apenas para avaliao, e, se gostar,

    abenoe autores, editoras e livrarias, adquirindo os livros.

    SEMEADORES DA PALAVRA e-books evanglicos

    NOTA DA TRADUTORA:Todas as citaes bblicas foram extradas das verses:

    ACF: Almeida Corrigida e Revisada, Fiel ao Texto OriginalPJFA: Joo Ferreira de Almeida Atualizada

    Esses textos aparecero em itlico. Os textos bblicos que no esto em itlico nem com a indicao de sua fonte, foram

    traduzidos diretamente do texto original espanhol.

    Ao pessoal da Igreja de Cristo de Oak Hills

  • "Porque Deus no injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis". Hebreus 6.10 (ACF)

    * * *

    S u m r i o Querido Amigo ........................................ 4 1. Um Corao como o Seu .............................. 6 2. Ame as pessoas com as quais est pregado .......... 13 3. O toque de Deus ................................... 21 4. Oua a msica divina .............................. 30 5. Deixe-se guiar por uma mo invisvel .............. 42 6. Um rosto transformado e um par de asas ............ 53 7. Jogos de golfe e talos de aipo .................... 60 8. Nada mais que a verdade ........................... 69 9. A estufa da mente ................................. 77 10. Encontre ouro no lixo ............................ 84 11. Quando o cu celebra ............................. 94 12. Termine com fora ............................... 100 Concluso: Ponha seu olhar em Cristo ................ 107 Guia de Estudo ...................................... 114

  • QUERIDO AMIGO

    O quarto de onde escrevo diferente. A apenas uns poucos meses estas paredes eram brancas. Agora so verdes. A pouco tempo, as janelas estavam enfeitadas com cortinas; hoje esto com venezianas. Minha cadeira costumava ficar sobre um tapete cor de canela, que agora branco. Para ser franco, eu no tinha nenhum problema com o tapete canela. Para mim estava bom. Tampouco tinha objeo para as paredes e cortinas brancas. Do meu ponto de vista, a casa estava boa do jeito que estava.

    Mas no da perspectiva de minha esposa. Denalyn adora decorar. Melhor dizendo, ela tem que decorar. No pode deixar uma casa sem mudanas, assim como o artista no pode deixar uma tela sem pintar, nem o msico pode deixar uma cano sem cantar.

    Felizmente ela limita seu trabalho de remodelao ao que temos. Nunca move os mveis nos hotis, nem reorganiza os quadros nas casas dos amigos. (Mesmo que se sinta tentada a faz-lo.) Remodela o que possumos; mas lembre o que digo: o que nosso ela remodelar. Para Denalyn no suficiente ter uma casa; ela tem que mudar a casa.

    Quanto a mim, estou contente tendo uma casa. Meus gostos so, por assim dizer, menos refinados. No meu modo de ver, uma cadeira e um refrigerador so equivalentes para receber um prmio por decorao de ambientes. Para mim, a tarefa de Hrcules comprar a casa. Uma vez que a transao est finalizada e a casa comprada, estou preparado para me mudar e descansar.

    Mas para Denalyn no assim. Assim que a tinta das assinaturas secam nas escrituras, ela est se mudando e remodelando. Me pergunto se ela herdou esse trao de seu Pai, o Pai celestial. Acontece que Denalyn v uma casa da mesma maneira como Deus v uma vida.

    Deus adora decorar. Deus tem que decorar. Deixe-o viver por tempo suficiente em um corao, e esse corao comear a mudar. Os retratos de feridas sero substitudos por paisagens de graa. A paredes de ira sero demolidas e os alicerces fracos

  • restaurados. Deus no pode deixar uma vida sem mudar, assim como uma me no pode deixar sem tocar a lgrima de seu filho.

    No suficiente para Deus ser seu dono; Ele quer mud-lo. Onde voc e eu nos daramos por satisfeitos com uma poltrona e um refrigerador, Ele recusa se conformar com qualquer moradia que no seja um palcio. sua casa. No h gastos a serem regulados. No h atalhos a tomar.

    E qual a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operao da fora do seu poder (Efsios 1.19, PJFA).

    Isso talvez explique algo do desconforto em sua vida. A remodelao do corao nem sempre agradvel. No objetamos quando o Carpinteiro acrescenta umas poucas prateleiras, mas Ele adora demolir a ala esquerda por inteiro. Ele tem aspiraes muito altas para voc. Deus vislumbra uma restaurao completa. No retroceder at que tenha concludo. No terminar at que tenhamos sido feitos conformes imagem de seu Filho (Romanos 8.29).

    Seu Criador est refazendo voc imagem de Cristo. Quer que voc seja como Jesus. Este o desejo de Deus e o tema deste livro.

    Antes de continuar, posso fazer uma pausa e lhe dizer obrigado? Passar estes momentos com voc um privilgio, e quero que saiba que estou muito agradecido pela oportunidade. Minha orao por todos os que lerem este livro singela. Que Deus abra seus olhos para que possam ver a Jesus; e ao v-lo, que voc veja o que foi chamado a ser.

    Tambm gostaria de lhes apresentar algumas pessoas que tornaram possvel este livro. Esta uma saudao a alguns amigos queridos:

    A Liz Heaney e a Karen Hill; poucos editores podem recortar e colar com tal destreza e amabilidade. Obrigado de novo por outro trabalho corajoso.

    A Esteban e Cheryl Green; s o fato de t-los por perto simplifica meu mundo. Obrigado por tudo o que fazem.

  • maravilhosa famlia crist da igreja do Oak Hills; mesmo que alguns possam questionar seu gosto por um pastor principal, o carinho que vocs tm por este apreciado. uma dcada de trabalho juntos. Que Deus nos conceda muitas mais.

    A Scott Simpson. Que preciso! O momento foi perfeito para ambos. Obrigado pela inspirao.

    hbil equipe da Casa Publicadora Word; mesmo que em transio vocs so confiveis e verdadeiros. Me honra estar includo em sua lista de nomes.

    A minhas filhas: Jenna, Andrea e Sara; se no cu faltam trs anjos, eu sei onde encontr-los.

    A Kathy, Karl e Kelly Jordon; o nascimento deste livro coincidiu com o falecimento de seu marido e pai, Kip. Na complicada teia da publicao, sua figura se ergue por sobre as demais. Nunca poder ser substitudo, e sempre ser lembrado.

    E, acima de tudo, a Denalyn; o que voc tem feito em nossa casa nada, comparado com o que tem feito em meu corao. Decore-o como quiser, meu bem.

    1. UM CORAO COMO O SEU

    Que aconteceria se por um dia Jesus se convertesse em voc?

    Que tal se por vinte e quatro horas Jesus se levantasse de sua cama, andasse com seus sapatos, vivesse em sua casa, e seguisse seu horrio? Seu chefe seria o chefe dEle, sua me seria a me Dele, suas dores seriam as dEle? Com uma exceo, nada em sua vida muda. Sua sade no muda. Suas circunstncias no mudam. Seu horrio no se altera. Seus problemas no se resolvem. S ocorre uma mudana.

    Que tal se, por um dia e uma noite, Jesus vivesse sua vida com o corao dEle? O corao que voc tem no peito tem o dia livre e sua vida dirigida pelo corao de Cristo. As prioridades dEle governam suas aes. As paixes dEle impulsionam suas decises. O amor de Cristo dirige sua conduta.

  • Como seria? As pessoas notariam alguma mudana? Sua famlia, veria algo novo? Seus colegas de trabalho, perceberiam alguma diferena? Que tal os menos afortunados? os trataria da mesma maneira? Que tal seus amigos? Detectariam mais alegria? Que tal seus inimigos? Receberiam mais misericrdia do corao de Cristo que do seu?

    E voc? Como se sentiria? O que essa mudana alteraria no seu nvel de tenso? Em seu aspecto? Em suas exploses temperamentais? Dormiria melhor? Veria o pr-do-sol diferente? A morte? Os impostos? Necessitaria de menos aspirinas e calmantes? Que tal sua reao s demoras no trnsito? (Isso di, no?) Temeria ainda o que hoje teme? Melhor ainda, continuaria fazendo o que est fazendo?

    Faria o que voc planejou pelas prximas vinte e quatro horas? Detenha-se e pense em seu horrio. Obrigaes, encontros, sadas, compromissos. Com Jesus apoderando-se de seu corao, mudaria alguma coisa?

    Continue pensando nisto por um momento. Ajuste a lente da sua imaginao at que tenha um quadro claro de Jesus guiando sua vida, ento aperte o obturador e fotografe a imagem. O que voc v o que Deus quer. Ele quer que voc pense e atue como Jesus Cristo (Veja Filipenses 2.5).

    O plano de Deus no nada menos que um novo corao. Se voc fosse um carro, Deus iria querer controlar seu motor. Se fosse um computador, Deus controlaria os programas e o disco rgido. Se fosse um aeroplano, tomaria assento na cabine de comando. Mas voc uma pessoa, ento Deus quer mudar seu corao.

    Paulo diz:"E vos renoveis no esprito da vossa mente; E vos revistais do novo homem [que ter um novo corao], que segundo Deus criado em verdadeira justia e santidade" (Efsios 4.2324 ACF).

    Deus quer que voc seja como Jesus. Quer que tenha um corao como o Dele.

    Vou correr um risco. perigoso resumir em uma s declarao verdades grandiosas, mas vou tentar faz-lo. Se uma

  • frase ou duas pudessem captar o desejo de Deus para cada um de ns, diria o seguinte:

    Deus o ama tal como voc , mas se recusa a deix-lo assim. Ele quer que voc seja simplesmente como Jesus.

    Deus o ama tal como voc . Se pensa que Seu amor por voc seria maior, se a sua f fosse maior, est enganado. Se pensa que Seu amor seria mais profundo se os seus pensamentos o fossem, equivoca-se de novo. No confunda o amor de Deus com o carinho das pessoas. O carinho das pessoas em geral aumenta com o desempenho e diminui com os enganos. Mas no assim com o amor de Deus. Deus o ama exatamente como voc . Cito o autor favorito de minha esposa:

    "O amor de Deus nunca cessa. Jamais. Ainda quando o desprezamos, o ignoramos, o rejeitamos, o menosprezamos, o desobedeamos, Ele no muda. Nosso mal no pode diminuir Seu amor. Nossa bondade no pode aument-lo. nossa f no ganha Seu amor, assim como a nossa torpeza no o incomoda. Deus no nos ama menos porque fracassamos, nem mais porque triunfamos. O amor de Deus nunca cessa". 1

    Deus ama voc tal como voc , porm se recusa a deix-lo assim.

    Quando minha filha Jenna tinha aproximadamente dois anos, eu costumava lev-la a um parque perto de nosso apartamento. Certo dia ela estava brincando num monte de areia, e um vendedor de sorvetes se aproximou. Comprei o doce, e quando me virei para entreg-lo a ela, percebi que ela estava com a boca cheia de areia. Onde eu queria pr algo saboroso, ela tinha colocado terra.

    A amei com sua boca suja? claro que sim. Era ela menos filha minha porque sua boca estava cheia de areia? Lgico que no. Eu a deixaria com areia na sua boca? Nem pensar. Eu a amava exatamente como ela era, porm me recusei a deix-la como

    1 Adaptado de "O trovo aprazvel", Max Lucado, Editorial Betnia, Miami, Fl, p. 46 do original em ingls.

  • estava. A levei at uma torneira e lhe lavei a boca. Por qu? Porque a amava.

    Deus faz o mesmo conosco. Nos carrega at a fonte. "Cuspa a terra, meu bem", nosso Pai nos insta. "Tenho coisa melhor para voc". Ento nos limpa de nossa imundcia: imoralidade, falta de honra, prejuzos, amargura, avareza. No gostamos que nos limpe; algumas vezes preferimos a terra em vez do sorvete. "Posso comer terra se quiser!", proclamamos e nos acabrunhamos. O que verdade; podemos. Mas se o fizermos, ns que sairemos perdendo. Deus tem uma oferta melhor. Quer que sejamos como Jesus.

    No so boas notcias? Voc no est entalado em sua personalidade atual. No est condenado ao "reino dos resmunges". Voc malevel. Ainda que se tenha esmerado todos os dias de sua vida, no precisa esforar-se exageradamente o resto de sua vida. E da se voc nasceu intolerante? No precisa morrer assim.

    De onde tiramos a idia de que no podemos mudar? De onde vm afirmaes como "A preocupao faz parte da minha natureza", ou "Sempre fui pessimista. Eu sou assim mesmo", ou "Tenho gnio ruim. No posso evitar". Quem disse? Ser que diramos coisas similares a respeito do nosso corpo? " minha natureza ter uma perna quebrada. No posso fazer nada para evitar". Com certeza no. Se nossos corpos funcionam mal, buscamos ajuda. No deveramos fazer o mesmo com nossos coraes? No deveramos procurar ajuda para nossas atitudes azedas? No podemos pedir tratamento para nossos ataques de egosmo? Com certeza podemos; Jesus pode mudar nossos coraes. Ele deseja que ganhemos um corao como o dEle.

    Consegue imaginar uma oferta melhor?

    O CORAO DE CRISTO

    O corao de Jesus foi puro. Milhares adoravam o Salvador, porm Ele estava feliz com uma vida simples. Havia mulheres que o atendiam (Lc 8:1-3), contudo jamais foi acusado de pensamentos luxuriosos; sua prpria criao o desprezou, porm voluntariamente os perdoou, antes mesmo que pedissem

  • misericrdia. Pedro, que acompanhou Jesus por trs anos e meio, o descreve como "um cordeiro sem mcula e sem contaminao" (1 Pedro 1:19). Depois de passar o mesmo tempo com Jesus, Joo concluiu: "no h pecado nEle" (1 Jo 3:5).

    O corao de Jesus foi pacfico. Os discpulos se preocuparam como a necessidade de alimentar milhares de pessoas, mas Jesus no. Agradeceu a Deus pelo problema. Os discpulos gritaram de medo diante da tempestade, mas Jesus no. Ele dormia. Pedro levantou sua espada para enfrentar os soldados, mas Jesus no. Jesus levantou sua mo para curar. Seu corao tinha paz. Quando seus discpulos o abandonaram, Ele se zangou e foi embora? Quando Pedro o negou, Jesus perdeu a pacincia? Quando os soldados cuspiram no seu rosto, vomitou fogo sobre eles? Nem pensar. Tinha paz. Os perdoou. Recusou a se deixar levar pela vingana.

    Tambm recusou se deixar levar por nada que no fosse seu chamado do alto. Seu corao estava cheio de propsitos. A maioria das vidas no se planejam para nada em particular, e nada conseguem. Jesus se planejou para uma nica meta: salvar a humanidade de seus pecados. Pde resumir sua vida com uma frase: "o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido" (Lc 19:10, ACF). Jesus se concentrou de tal modo na sua tarefa que soube quando devia dizer: "Ainda no chegada a minha hora" (Jo 2:4, ACF) e quando "Est consumado" (Jo 19:30, ACF). Mas no se concentrou em seu objetivo a ponto de ser desagradvel.

    Ao contrrio. Que agradveis foram seus pensamentos! As crianas amavam sua companhia. Jesus pde achar beleza nos lrios, alegria na adorao e possibilidades nos problemas. Podia passar dias com multides de doentes e ainda sentir compaixo deles. Passou mais de trs dcadas vadeando entre o lodo e o lamaal de nosso pecado, e ainda assim viu em ns suficiente beleza para morrer pelos nossos erros.

    Mas o tributo que coroa a Cristo este: seu corao foi espiritual. Seus pensamentos refletiam sua ntima relao com o Pai. "Estou no Pai, e o Pai em mim", afirmou (Jo 14:11, ACF). Seu primeiro sermo registrado comea com as palavras: "O Esprito do Senhor sobre mim" (Lc 4:18, ACF). Era "conduzido Jesus pelo

  • Esprito" (Mt 4:1, ACF), e estava "cheio do Esprito Santo" (Lc 4:1, ACF). Do deserto voltou "pela virtude do Esprito" (Lc 4:14, ACF).

    Jesus recebia suas instrues de Deus. Era seu hbito ir adorar (Lucas 4:16). Era seu costume memorizar as Escrituras (Lucas 4:4). Lucas diz que Jesus "retirava-se para os desertos, e ali orava" (Lc 5:16, ACF). Seus momentos de orao o guiavam. Uma vez regressou depois de orar e anunciou que era tempo de passar para outra cidade (Mc 1:38). Outro tempo de orao resultou na seleo dos discpulos (Lc 6:12-13). Jesus era guiado por uma mo invisvel. "Tudo quanto ele [o Pai] faz, o Filho o faz igualmente" (Jo 5:19, ACF). No mesmo captulo afirmou: "Eu no posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouo, assim julgo" (Jo 5:30, ACF).

    O corao de Jesus foi espiritual.

    O CORAO DA HUMANIDADE

    Nossos coraes parecem estar muito longe do de Jesus. Ele puro; ns somos cobiosos. Ele pacfico; ns somos veementes. Ele cheio de propsitos; ns nos distramos. Ele agradvel; ns somos rebeldes. Ele espiritual; ns nos apegamos a esta terra. A distncia entre nossos coraes e o dEle parece ser imensa. Como poderemos sequer pensar em ter o corao de Jesus?

    Preparado para uma surpresa? J o tem. Voc j tem o corao de Cristo. Por que est me olhando assim? Acha que eu brincaria assim neste assunto? Se voc est em Cristo, ento j tem o corao de Cristo. Uma das promessas supremas, e da qual nos apercebemos, simplesmente esta: se voc entregou sua vida a Jesus, Jesus se deu a si mesmo. Fez do seu corao a sua morada. Seria difcil dizer isso de uma forma mais concisa do que Paulo: "Cristo vive em mim" (Gl 2:20, ACF).

    Mesmo correndo o risco de ser repetitivo, me permita voltar a dizer: se voc j entregou sua vida a Jesus, Ele mesmo se deu a voc. Mudou-se para sua vida, desempacotou sua bagagem e est pronto para mud-lo "de glria em glria na mesma imagem" (2 Co 3:18, ACF). Embora parea estranho, os que cremos em Cristo na verdade temos dentro de ns uma poro dos mesmos pensamentos e mente de Cristo (veja 1 Corntios 2:16).

  • Estranho a palavra. Se tenho a mente de Jesus, por que ainda penso tanto como eu? Se tenho o corao de Jesus, por que ainda tenho as manhas de Max? Se Jesus mora em mim, por que ainda detesto os engarrafamentos de trnsito?

    Parte da resposta est ilustrada na histria de uma senhora que tinha uma casinha perto de uma praia na Irlanda, no princpio do sculo. Era bem acomodada, porm tambm muito frugal. Por isso as pessoas se surpreenderam quando decidiu ser uma das primeiras a ter eletricidade em sua casa.

    Vrias semanas depois da instalao, um funcionrio chegou sua porta para ler o medidor. Perguntou-lhe se a eletricidade estava funcionando bem, e ela assegurou-lhe que sim.

    Poderia me explicar uma coisa? disse o homem . Seu medidor indica que no usou quase nada de eletricidade. Voc est usando-a?

    Mas claro respondeu ela Todas as noites, ao pr-do-sol, ligo as luzes enquanto acendo as velas; depois as desligo.2

    Tinha instalado a eletricidade, mas no a utilizava. Sua casa tinha as instalaes, mas no havia acontecido nenhuma mudana. Ns no cometemos o mesmo erro? Ns tambm, com nossas almas salvas mas com coraes sem mudana, estamos conectados, mas sem alterao alguma. Confiamos em Cristo para a salvao, mas resistimos transformao. Ocasionalmente ligamos o interruptor, mas na maior parte do tempo nos conformamos com as trevas.

    Que aconteceria se deixssemos a luz acessa? Que aconteceria se no s ligssemos o interruptor, mas que vivssemos na luz? Que mudanas sucederiam se nos dedicssemos a viver sob o brilho de Cristo?

    Na h dvidas a respeito: Deus tem um plano ambicioso para ns. O mesmo que salvou sua alma deseja refazer seu corao. Seu plano nada menos que uma transformao total: Paulo diz que desde o princpio Deus decidiu moldar as vidas dos que o amam, de acordo com a forma de seu Filho (veja Romanos 8:29).

    2 David Jeremiah, fita de udio "The God ofcio the impossible" (O Deus do impossvel), TPR02

  • Voc se revestiu "do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou" (Colossenses 3:10, ACF).

    Deus est disposto a mudar-nos semelhana do Salvador. Aceitaremos sua oferta? Eu sugiro o seguinte: Vamos imaginar o que significa ser como Jesus. Examinar atentamente o corao de Cristo. Passar alguns captulos considerando sua compaixo, refletindo sobre sua intimidade com o Pai, admirando seu enfoque, meditando sobre sua resistncia. Como Ele perdoou? Quando orou? O que o tornava to agradvel? Por que no desistiu? Fitemos "os olhos em Jesus" (Hb 12:2, PJFA). Talvez ao fit-lo, vejamos o que podemos chegar a ser.

    "Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vs tambm" Colossenses 3:13, ACF

    2. AME AS PESSOAS COM AS QUAIS EST PREGADO

    UM CORAO QUE PERDOA

    Ganhei meu primeiro bicho de estimao como presente de Natal na minha infncia. Em algum lugar tenho a foto de uma cachorrinha chinesa de pelo castanho e branco, to pequenina que cabia na mo de meu pai, e encantadora, ganhou meu corao de oito anos. Lhe demos o nome de Liz.

    A carreguei no colo o dia todo. Suas orelhas cadas me fascinavam, e seu nariz achatado me intrigava. At a levei comigo para a cama. Se ela tinha cheiro de cachorro? Eu achava seu cheiro adorvel. Se uivava e choramingava? Achava seus barulhos adorveis. E se fazia suas necessidades sobre meu travesseiro? No posso dizer que achei isso adorvel, porm no me importava.

    Mame e papai tinham falado muito claramente que a condio para eu ficar com Liz, era que eu teria que cuidar dela, e aceitei muito feliz. Limpava seu diminuto prato e abria uma lata de comida para cachorros. No mesmo instante em que ela lambia a

  • gua, voltava encher a cumbuca de gua. Mantinha seu pelo bem escovado e sua cauda mexendo.

    Em poucos dias, meus sentimentos mudaram um pouco. Liz ainda era minha cachorrinha, e eu era seu amigo, mas j estava farto de seus latidos, e ela parecia estar sempre com muita fome. Mais uma vez meus pais tiveram que me lembrar: "Cuide dela. sua cadela".

    No gostava de ouvir essas palavras: sua cadela. No me importaria de ouvir: "a cadela com que voc brinca", ou "sua cadela quando voc quer", ou at: "sua cadela quando se comporta". Mas no eram essas as palavras de meus pais. Diziam: "Liz sua cadela". Ponto final. Na sade e na doena. Na pobreza e na riqueza. Quando estava limpa e quando fazia as coisas dela.

    Ento me veio a idia: "Estou pregado com Liz". A corte tinha acabado, tal qual lua de mel. Estvamos juntos na mesma focinheira. Liz deixou de ser uma opo para ser uma obrigao, de ser uma mascote para ser uma tarefa, de algum com quem brincar para algum de quem cuidar.

    Talvez voc possa me entender. provvel que reconhea a claustrofobia que vem com o compromisso. S que, em vez de lembrar voc: " sua cadela", o que dizem : " seu esposo" ou " sua esposa", ou " seu filho, pai, funcionrio, chefe ou colega de quarto", ou qualquer outra relao que requeira lealdade para sobreviver.

    Tal permanncia pode conduzir ao pnico; pelo menos aconteceu isso comigo. Devia responder a algumas perguntas duras. Posso tolerar a mesma cara com nariz achatado, peluda e com fome todas as manhs? (Vocs, esposas, sabem do que estou falando?). Vai continuar latindo at eu morrer? (Algum filho ou filha compreende isto?). Ela vai chegar a aprender a limpar sua prpria desordem? (Ouo um "amm" de alguns pais?).

    PREGAFOBIA

    Estas so as perguntas que nos fazemos quando nos sentimos pregados a algum. Existe uma palavra para especificar esta condio. Ao consultar o dicionrio mdico de uma s palavra (que escrevi no dia anterior a este captulo), descobri que esta

  • doena comum chama-se "pregafobia" (Pregado quer dizer que voc est "aprisionado". Fobia um sufixo que voc agrega a qualquer palavra que deseja que parea impressionante. Leia em voz alta: Pregafobia). O Manual de Max de Termos Mdicos diz o seguinte a respeito dessa condio:

    "Os ataques de pregafobia limitam-se s pessoas que respiram, e tipicamente acontecem em algum momento entre o nascimento e a morte. A pregafobia se manifesta com irritabilidade, perda da pacincia, e tendncia a transformar um gro de areia numa montanha. O sintoma mais comum das vtimas de pregafobia a repetio de perguntas que comeam com quem, que e por qu: quem esta pessoa? O que eu estava pensando? Por que fiz caso de minha me?" 3

    Este prestigioso manual identifica trs formas para enfrentar a pregafobia: fugir, lutar ou perdoar. Alguns optam por fugir: sair da relao e comear de novo em alguma outra parte, mesmo que com freqncia se surpreendam ao ver que a condio aflora do mesmo modo do outro lado da cerca. Outros lutam. Os lares convertem-se em zonas de combate, os escritrios em ringues de boxe e a tenso chega a ser uma forma de vida. Uns poucos, contudo, descobrem outro tratamento: o perdo. Meu manual no tem modelo a respeito de como acontece o perdo, porm a Bblia sim. Jesus sabia o que se sente ao estar pregado com algum. Por trs anos andou com o mesmo grupo. Em todos os lugares e a toda hora via a mesma dzia ou pouco mais de faces, na mesa, na fogueira noturna, o tempo todo. Viajavam no mesmo barco, e andavam pelos mesmos caminhos, visitavam as mesmas casas e, me pergunto, como Jesus pde ser to devotado para seus homens? No s teve que suportar suas visveis extravagncias, mas tambm teve de aturar suas bobagens invisveis. Pense nisso. Podia ouvir os pensamentos que eles no expressavam verbalmente. Sabia de suas dvidas mais ntimas; e no s isso, sabia de suas dvidas futuras. O que voc acha de saber todos os erros que seus entes queridos cometeram e todas as faltas que ainda no cometeram? O que voc acha de saber o que pensam a respeito de voc, toda irritao, todo o que no lhes agrada, toda traio?

    3 Max Lucado, doutor em Filosofia de Contores Etimolgicas, Manual Max de Termos Mdicos, Editorial Umapgina, Bobagens, TX, Tomo 1, Cap 1, frase 1.

  • Foi duro para Jesus amar a Pedro, sabendo que Pedro num momento lanaria maldies contra ele? Foi duro confiar em Tom, sabendo que um dia duvidaria da sua ressurreio? Como Jesus resistiu ao impulso de recrutar um novo grupo de seguidores? Joo queria destruir o inimigo. Pedro mutilou a orelha de outro. Poucos dias antes da morte de Jesus, seus discpulos discutiam qual deles era o melhor. Como pde Ele amar pessoas to difceis de serem agradveis?

    Poucas situaes estimulam tanto o pnico como se sentir aprisionado em alguma relao. Uma coisa estar pregado com um cachorro, porm algo completamente diferente estar aprisionado no matrimnio. Podemos zombar de termos risveis como pregafobia, porm para muitos isso no assunto de riso. Por essa razo acho que sbio que comecemos nosso estudo do que significa ser como Jesus, meditando sobre seu corao perdoador. Como Jesus pde amar os seus discpulos? A resposta est no captulo treze de Joo.

    COM TOALHA E BACIA

    De todas as vezes que encontramos Jesus com os joelhos dobrados, nenhuma mais preciosa do que quando se ajoelhou diante de seus discpulos e lavou-lhes os ps.

    Foi exatamente antes da Pscoa. Jesus sabia que sua hora de deixar este mundo e ir para o Pai tinha chegado. Tendo amado os seus que estavam no mundo, mostrou-lhes o alcance pleno de seu amor.

    "Ora, antes da festa da pscoa, sabendo Jesus que j era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os at o fim. E, acabada a ceia, tendo o diabo posto no corao de Judas Iscariotes, filho de Simo, que o trasse, Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mos todas as coisas, e que havia sado de Deus e ia para Deus, levantou-se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois deitou gua numa bacia, e comeou a lavar os ps aos discpulos, e a enxug-los com a toalha com que estava cingido" (Jo 13:1-5, ACF).

  • Tinha sido um longo dia. Jerusalm estava lotada com os que vieram para celebrar a Pscoa, a maioria dos quais desejava dar ao menos uma olhada no Mestre. O sol da primavera era clido. As ruas estavam secas. Os discpulos estavam longe de casa. Uma boa borrifada de gua fria seria refrescante.

    Os discpulos entraram, um a um, e tomaram seus lugares em volta da mesa. Na parede est pendurada uma toalha, e no cho h uma jarra e uma bacia. Qualquer dos discpulos poderia ter-se oferecido voluntariamente para fazer a tarefa, mas ningum se ofereceu.

    Depois de alguns poucos momentos, Jesus se levanta e tira sua tnica exterior. Envolve na cintura a faixa do servo, pega a bacia e se ajoelha diante de um dos discpulos. Desata a correia da sandlia, e com suavidade levanta o p e o coloca dentro da bacia, cobrindo-o com gua, e comea a lav-lo. Um por um, um p sujo aps outro, Jesus avana na fileira.

    Nos dias de Jesus lavar os ps era uma tarefa reservada no apenas para os criados, mas para o mais baixo dos criados. Todo crculo tem sua prpria ordem, e o crculo dos trabalhadores domsticos no era a exceo. O servo que estava no ponto mais baixo na escala era o que tinha que ajoelhar-se com a toalha e a bacia.

    Nesse caso, quem estava com a toalha e a bacia era o Rei do universo. As mos que formaram as estrelas agora lavavam a sujeira. Os dedos que formaram as montanhas davam massagens aos dedos dos ps. Aquele diante de quem todas as naes um dia dobraro os joelhos, ajoelha-se diante de seus discpulos. Horas antes de sua morte, a preocupao de Jesus singular. Quer que seus discpulos saibam quanto os ama. Mais do que tirando sujeira, Jesus est tirando dvidas.

    Jesus sabe o que acontecer com suas mos na crucificao. Em vinte e quatro horas sero furadas e ficaro sem vida. De todas as vezes que esperamos que pea a ateno de seus discpulos, seria esta. Mas no faz isso.

    Voc pode estar certo de que Jesus conhece o futuro dos ps que est lavando. Estes vinte e quatro ps no estaro no dia seguinte seguindo o seu mestre, defendendo sua causa. Estes ps

  • sairo apavorados buscando refgio diante da viso da espada romana. S um par de ps no o abandonaro no horto. Somente um discpulo no o abandonar no Getsmani: Judas nem sequer chegaria a esse ponto! Abandonaria a Jesus nessa mesma noite, na mesa.

    Procurei alguma traduo da Bblia que dissesse: "Jesus lavou os ps de todos seus discpulos, exceto de Judas", mas no achei. Que momento mais apaixonado quando Jesus, em silncio, levantou os ps do traidor e os lavou na bacia! Em poucas horas os ps de Judas, limpos pela bondade dAquele a quem trairia, estariam no ptio de Caifs.

    Observe o que Jesus d a seus seguidores! Sabe o que estes homens esto a ponto de fazer. Sabe que esto a ponto de realizar um dos atos mais vis de suas vidas. De manh baixaro os rostos de vergonha e olharo para seus ps com desgosto. Quando o fizerem, Ele quer que lembrem como se ajoelhou diante deles e lavou-lhes os ps. Quer que percebam que seus ps esto limpos: "O que eu fao no o sabes tu agora, mas tu o sabers depois" (Jo 13:7, ACF).

    Assombroso. Perdoou seu pecado antes deles cometerem-no. Ofereceu-lhes misericrdia antes mesmo de que eles a procurassem.

    DA FONTE DE SUA GRAA

    Voc objeta: "Ah, eu nunca poderia fazer isso". "A ferida muito profunda. As feridas so muito numerosas. "S de ver essa pessoa eu fico irritado...". Talvez esse seja seu problema. Talvez voc esteja olhando para a pessoa errada, ou pelo menos muito da pessoa errada. Lembre-se: o segredo de ser como Jesus "fixar nossos olhos" nEle. Tente mudar seu olhar, afastando-o daquele que o feriu e fitando seus olhos nAquele que o salvou.

    Note a promessa de Joo:"Mas, se andarmos na luz, como ele na luz est, temos comunho uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (1 Jo 1:7, ACF).

  • Tirando a geografia e cronologia, nossa histria a mesma que a dos discpulos. No estivemos em Jerusalm, nem estvamos vivos naquela noite. Mas o que Jesus fez por eles, fez por ns. Nos limpou. Limpou nossos coraes do pecado.

    E mais, continua nos limpando! Joo nos diz: "Estamos sendo limpos de todo pecado pelo sangue de Jesus". Em outras palavras, sempre estamos sendo limpos. A limpeza no uma promessa para o futuro, mas uma realidade no presente. Se uma pitada de p cai na alma de um santo, limpada. Se uma pitada de sujeira cai no corao de um filho de Deus, essa sujeira limpada. Jesus ainda limpa os ps de seus discpulos. Jesus ainda lava as manchas. Jesus ainda purifica as pessoas.

    Nosso Salvador se ajoelha e v os atos mas obscuros de nossas vidas. Mas em vez de retrair-se de horror, estende sua mo com bondade e diz: "Eu posso limpar voc, se quiser". Da fonte de sua graa enche as mos de sua misericrdia e lava nosso pecado.

    Mas isso no tudo. Porque Ele vive em ns, voc e eu podemos fazer o mesmo. Porque Ele nos perdoou, ns podemos perdoar os outros. Porque Ele tem um corao perdoador, ns podemos ter um corao que perdoa. Podemos ter um corao como o dEle.

    "Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os ps, vs deveis tambm lavar os ps uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, faais vs tambm" (Joo 13:14-15, ACF).

    Jesus lava nossos ps por duas razes. A primeira nos dar misericrdia, a segunda nos dar uma mensagem, e essa mensagem : Jesus oferece graa incondicional; ns devemos oferecer graa incondicional. A misericrdia de Cristo precede nossos erros; nossa misericrdia deve preceder as faltas de outros. Os que estavam no crculo de Cristo no tiveram dvida de seu amor; os que esto em nossos crculos no devem ter dvidas do nosso.

    O que significa ter um corao como o de Cristo? Significa ajoelhar-nos como Jesus se ajoelhou, tocar as partes mais sujas daqueles com que estamos pregados e lavar com bondade sua

  • grosseria. Ou, como Paulo escreveu: "Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como tambm Deus vos perdoou em Cristo" (Ef 4:32, ACF).

    "Mas, Max", voc dir, "eu no fiz nada de mal. Eu que fui enganado. No fui eu quem mentiu. Eu no sou o culpado". Talvez no seja. Porm Jesus tambm no foi. De todos os homens naquele aposento, somente um era digno de que lhe lavassem os ps; e foi Ele quem lavou os ps dos outros. O que merecia que o servissem serviu. O genial do exemplo de Jesus que o peso de estabelecer a ponte recai sobre o forte, no sobre o fraco. O inocente quem deve fazer o gesto.

    Sabe o que acontece? Se o que tem razo se oferece voluntariamente para lavar os ps daquele que agiu errado, frequentemente ambos se ajoelham. Por acaso no achamos todos que temos a razo? Por isso devemos lavarmos os ps uns aos outros.

    Por favor, compreenda: As relaes no prosperam porque o culpado castigado, mas sim porque o inocente misericordioso.

    O PODER DO PERDO

    Faz pouco tempo jantei com uns amigos. Uma senhora casada queria me contar sobre uma tempestade pela qual estavam passando. Atravs de uma srie de eventos, ela soube de um ato de infidelidade que tinha acontecido uma dcada atrs. O esposo cometeu o erro de pensar que seria melhor no dizer nada a ela; assim no lhe contou. Porm ela soube. Como voc pode imaginar, ela ficou profundamente magoada.

    Orientados por um conselheiro matrimonial, o casal deixou tudo de lado, e viajaram por uns dias. Deviam tomar uma deciso. Fugiriam, lutariam ou perdoariam? Ento oraram. Conversaram. Caminharam. Refletiram. Neste caso a esposa claramente tinha a razo. Poderia ter ido embora. H mulheres que fizeram isso por muito menos. Poderia ter ficado e transformado a vida dele num inferno. Outras mulheres o fizeram. Mas ela escolheu uma resposta diferente.

    Na dcima noite de sua viagem, meu amigo achou um carto sobre seu travesseiro. Tinha uma frase impressa que dizia: "Prefiro

  • no fazer nada e estar com voc, do que fazer algo e estar sem voc". Embaixo da frase ela tinha escrito o seguinte:

    Te perdo. Te amo. Vamos em frente.

    O carto bem poderia ter sido uma "bacia". A caneta bem poderia ter sido um jarro de gua, pois verteu misericrdia, e com isso ela lavou os ps de seu esposo.

    Certos conflitos podem ser resolvidos s com uma bacia de gua. H algum relacionamento em seu mundo que tenha sede de misericrdia? H algum sentado sua mesa que necessita que lhe assegure sua graa? Jesus se certificou de que seus discpulos no duvidassem de seu amor. Por que voc no faz o mesmo?

    "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericrdia, de benignidade, humildade, mansido, longanimidade" Colossenses 3:12, ACF

    3. O TOQUE DE DEUS

    UM CORAO COMPASSIVO

    Posso pedir-lhe que olhe para sua mo por um momento? Olhe as costas, depois a palma. Torne a familiarizar-se com seus dedos. Passe o polegar pelos ns dos dedos.

    O que acharia de algum filmar um documentrio sobre suas mos? E se algum produtor quisesse contar sua histria baseando-se na vida de suas mos? O que veria? Igual ao de todos ns, o filme comearia com um punho infantil, depois uma viso em primeiro plano de uma pequena mozinha agarrando-se ao dedo da mame. Depois o qu? Agarrando-se a uma cadeira enquanto voc aprendia a andar? Agarrando uma colher quando aprendia a comer?

    No se passaria muito tempo na trama antes que se visse a sua mo demonstrando afeto, acariciando a face do pai ou do cachorro. Tambm no passaria muito tempo para que sua mo fosse vista agindo agressivamente: empurrando seu irmozinho menor, ou arrebatando-lhe um brinquedo. Todos ns aprendemos

  • que a mo muito apropriada para a sobrevivncia; uma ferramenta de expresso emotiva. A mesma mo pode ajudar ou machucar, estender-se ou fechar-se num punho, levantar algum ou empurr-lo para que caia.

    Se mostrar esse documentrio a seus amigos, voc se sentir orgulhoso de alguns momentos: sua mo estendendo-se com um presente, colocando um anel no dedo de outra pessoa, curando uma ferida, preparando uma comida ou juntas em orao. Porm h tambm outras cenas. Quadros de dedos acusadores, machucando em lugar de amar. Mos que tomam mais do que do, exigindo em lugar de oferecer, machucando em vez de amar. Ah, o poder de nossas mos. Deixe-as sem controle e se convertem em armas; aferrando para o poder, estrangulando para sobreviver, seduzindo pelo prazer. Porm bem manejadas, nossas mos podem ser instrumentos de graa: no s instrumentos nas mos de Deus, mas sim as prprias mos de Deus. Renda-as e esses apndices com cinco dedos se convertem nas mos do cu.

    Foi isso o que Jesus fez. Nosso Salvador rendeu completamente suas mos a Deus. O documentrio de suas mos no tem cenas de cobia monopolizando, nem dedos acusando sem base. O que se tem uma cena aps outra de pessoas que anelam fervorosamente seu toque compassivo: pais carregando seus filhos, o pobre trazendo seus temores, o pecador levando nas costas sua aflio. Cada um que chega recebe o toque. Cada um que tocado, muda. Mas nenhum foi tocado ou mudado mais que um leproso annimo, segundo Mateus 8.

    Quando Jesus desceu do monte, muita gente o seguia. Ento se achegou um leproso e se prostrou diante dEle, dizendo: "Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo". Jesus estendeu a mo e o tocou, dizendo: "Quero, s limpo". E no mesmo instante sua lepra desapareceu. Ento Jesus lhe disse: "Olha, no o digas a algum, mas vai, mostra-te ao sacerdote, e apresenta a oferta que Moiss determinou, para lhes servir de testemunho" (Mateus 8:1-4, ACF).

    Marcos e Lucas escolheram contar a mesma histria, porm com as devidas desculpas para os trs escritores, devo dizer que nenhum deles diz o suficiente. Sabemos da doena do homem, e de sua deciso, porm, e o resto? Ficamos com perguntas. Os escritores no do o nome, nem a histria, nem descrio alguma.

  • PROSCRITO AO MXIMO

    Algumas vezes sou vencido pela minha curiosidade, e comeo a fazer perguntas em voz alta. isso o que vou fazer aqui: perguntar-me em voz alta sobre o homem que sentiu o toque compassivo de Jesus. Aparece uma vez, faz uma petio e recebe um toque. Mas esse nico toque mudou sua vida para sempre. Eu me pergunto se a sua histria poderia ser algo assim:

    "Por cinco anos ningum me tocou. Ningum. Nem uma nica pessoa. Nem sequer minha esposa, nem minha filha, nem meus amigos. Ningum me tocava. Olhavam para mim. Falavam comigo. Sentia o carinho em suas vozes. Via preocupao em seus olhos. Mas nunca senti seu toque. No havia. Nem uma nica vez. Ningum me tocou.

    O que comum entre vocs, eu cobiava. Apertos de mos. Clidos abraos. Uma toque no ombro para chamar minha ateno. Um beijo nos lbios para roubar um corao. Tais momentos foram tirados do meu mundo. Ningum me tocou. Ningum esbarrou em mim. O que eu no teria dado para que algum esbarrasse em mim, que me apertassem numa multido, que meus ombros encostassem nos de outros. Mas por cinco anos nada disso aconteceu. Como poderia? Nem ao menos me era permitido andar pelas ruas. At os rabinos mantinham-se distncia. No me era permitido freqentar a sinagoga. Nem sequer me recebiam em minha prpria casa.

    Eu era um intocvel. Era leproso. Ningum me tocava. At hoje."

    A histria desse homem me chama a ateno porque nos tempos do Novo Testamento a lepra era a doena mais temida. A enfermidade deixava o corpo como uma massa de lceras e putrefao. Os dedos encolhiam e se retorciam. Pedaos de pele perdiam a cor e fediam. Certos tipos de lepra matam os terminais nervosos, e isso produz a perda de dedos, e at de ps e mos. A lepra era morte por centmetros.

    As conseqncias sociais eram mais severas que as fsicas. Considerada contagiosa, o leproso era obrigado a guardar quarentena, proscrito a uma colnia de leprosos.

  • Nas Escrituras o leproso smbolo de mxima proscrio: infectado por uma condio que no procurou, rejeitado por todos os que o conheciam, evitado por pessoas que no conhecia, condenado a um futuro que no podia suportar. Na memria de cada relegado deve ter havido um dia em que se viu obrigado a enfrentar a verdade: a vida nunca mais seria a mesma.

    Um ano, durante a colheita, percebi que minha mo no podia sustentar a foice com a mesma fora. Os dedos estavam adormecidos. Primeiro foi um dedo, e depois, outro. Em pouco tempo podia empunhar a foice, mas nem a sentia. Ao terminar a temporada no sentia nada com as mos. como se a mo que empunhava o cabo pertencesse a outra pessoa; tinha perdido toda sensibilidade. No disse nada a minha esposa, mas ela suspeitava de algo. Como poderia no suspeitar? Eu levava minha mo junto ao corpo como ave ferida.

    Uma tarde enfiei a mo numa bacia de gua para lavar o rosto. A gua ficou vermelha. Um dedo sangrava, com hemorragia. Nem sabia que me havia machucado. Como me cortei? Com alguma faca? Ser que encostei a mo em algum objeto afiado? Deve ter sido, porm eu nada tinha sentido.

    Est tambm na sua roupa disse minha esposa com voz fraca. Ela estava atrs de mim. Antes de olhar para ela, fitei as manchas vermelhas em minhas vestes. Por longo tempo fiquei sobre a bacia, contemplando minha mo. Algo me dizia que minha vida tinha sido alterada para sempre.

    Voc quer que eu o acompanhe para ver o sacerdote? me perguntou.

    No disse eu com um suspiro . Irei sozinho.

    Me virei e vi seus olhos midos. Junto dela estava nossa filinha de trs anos. Abaixando-me, olhei diretamente em seus olhos e acariciei sua face, sem dizer nada. Que poderia dizer? Endireitei-me e olhei para minha esposa de novo. Ela me tocou no ombro, e com minha mo boa toquei a dela. Seria nosso toque final.

    Cinco anos se passaram, e desde ento mais ningum tinha me tocado, at agora.

  • O sacerdote no me tocou. Olhou para minha mo, que agora levo envolvida num pano. Olhou para meu rosto, agora obscurecido pela tristeza. Nunca o culpei pelo que me disse. Simplesmente estava agindo segundo tinha sido instrudo. Cobriu sua boca e estendeu sua mo, com a palma para fora. "Voc imundo", disse. Com este pronunciamento, perdi minha famlia, meus bens, meu futuro, meus amigos.

    Minha esposa veio me encontrar nas portas da cidade, com uma sacola de roupa, po e moedas. No disse nada. Alguns amigos tinham-se reunido. O que vi em seus olhos foi precursor do que tenho visto em todo olhar desde ento: compaixo cheia de terror. Enquanto eu saa, eles se afastavam. Seu horror por minha enfermidade era maior que sua preocupao pelo meu corao; e assim eles, igual a todos desde ento, recuaram.

    A proscrio de um leproso parece rigorosa, desnecessria. Contudo, o Antigo Oriente no foi a nica cultura que isolou seus enfermos. Ns talvez no construamos colnias nem tapemos a boca diante de sua presena, mas certamente construmos paredes e afastamos os olhos. A pessoa no precisa ser leprosa para sentir-se em quarentena.

    Uma de minhas lembranas mais tristes tem a ver com meu amigo da quarta srie, Jerry 4. Ele e mais uns 6 de ns formvamos um grupo inseparvel e sempre presente no ptio. Um dia liguei para sua casa para ver se podia sair para brincar. Uma voz maldizente, bbada, atendeu o telefone, e me disse que Jerry no poderia sair para brincar esse dia nem nunca. Contei a meus amigos o acontecido. Um deles me explicou que o pai de Jerry era alcolatra. No sabia bem o que essa palavra queria dizer, mas aprendi muito rpido. Jerry, o que jogava na segunda base; Jerry, o da bicicleta vermelha; Jerry, meu amigo da esquina, era agora "Jerry, o filho do bbado". Os rapazes podem ser cruis, e por alguma razo fomos muito cruis com Jerry. Estava infectado. Como o leproso, sofreu por uma condio que ele no criou. Como o leproso, o proscrevemos de nosso convvio.

    O divorciado conhece estes sentimentos. Assim como o aleijado. O desempregado os tem experimentado, assim como os

    4 Nome trocado, para preservar a identidade.

  • que tem pouca cultura. Alguns se retraem diante das mes solteiras. Mantemos distncia dos deprimidos e dos enfermos incurveis. Temos bairros para imigrantes, asilos para idosos, escolas para retardados, centros para adictos e prises para os criminosos.

    Ns, o resto, simplesmente tratamos de afastar-nos de tudo isso. S Deus sabe quantos Jerry esto no exlio voluntrio: indivduos que vivem vidas caladas, solitrias, infectadas pelos seus temores de rejeio e suas lembranas da ltima vez em que tentaram. Preferem no serem tocados ao risco de serem machucados.

    Ah, quanta repulsa sentiam os que me viam! Cinco anos de lepra me deixaram as mos retorcidas. Faltam-me vrias falanges em vrios dedos, assim como pedaos de minhas orelhas e do nariz. Ao ver-me, os pais pegam seus filhos. As mes cobrem seus rostos. As crianas me apontam com o dedo e ficam olhando para mim.

    Os trapos no podem esconder as chagas de meu corpo. Tampouco o pano com que envolvo meu rosto pode ocultar a ira de meus olhos. Nem sequer tento escond-la. Quantas noites no levantei meu punho crispado contra o cu silencioso? "Que fiz para merecer isto?" Porm nunca recebi resposta.

    Alguns pensam que pequei. Alguns pensam que meus pais pecaram. No sei. Tudo quanto sei que me fartei de tudo: de dormir na colnia, de perceber o fedor. Odiava o maldito sino que tinha que levar pendurado no pescoo para advertir s pessoas de minha presena. Como se precisasse dele. Bastava um olhar e os anncios comeavam: "Imundo! Imundo! Imundo!"

    Algumas semanas atrs me atrevi a andar pelo caminho da aldeia. No tinha nenhuma inteno de entrar nela. O cu sabe que tudo o que eu queria era dar uma olhada nos meus campos. Dar uma olhada em minha casa e ver, por alguma casualidade, o rosto de minha esposa. No a vi; mas vi algumas crianas brincando num campo. Me escondi atrs de uma rvore e as observei vaguear e sair correndo. Suas faces estavam to felizes e seu riso era to contagioso que por um momento, apenas por um momento, no era mais leproso. Era de novo agricultor. Era pai. Era um homem.

  • Com a infuso da felicidade deles sai de trs da rvore, endireitei minhas costas, respirei profundamente... e ento me viram. Antes que pudesse retirar-me, me viram. Gritaram. Fugiram correndo. Uma, porm, ficou. Uma se deteve e olhou para mim. No sei, no poderia dizer com certeza, mas acho, na verdade acho que era minha filha. No sei; no poderia garanti-lo; mas penso que ela buscava seu pai.

    Esse olhar me fez dar o passo que dei hoje. Certamente foi temerrio. Com certeza foi um risco. Mas, o que tinha a perder?

    Ele chama a si mesmo de Filho de Deus. Ou ele ouviria meu clamor e me mataria, ou aceitaria minha demanda e me curaria. Foi o que pensei. Me aproximei dEle, desafiando-o. No foi a f que me empurrou, mas sim uma ira desesperada. Deus tinha feito uma calamidade no meu corpo, e devia restaur-lo ou ento, acab-lo.

    Mas ento o vi, e quando o vi, mudei. Lembre que sou agricultor, e no poeta, assim no consigo achar as palavras para descrever o que vi. Tudo quanto posso dizer que as manhs da Judia algumas vezes so to frescas e o nascer do sol to glorioso que olh-lo esquecer do calor do dia anterior e das feridas do passado. Quando olhei para seu rosto vi uma manh da Judia.

    Antes que Ele falasse, soube que se interessava. De alguma forma soube que detestava esta doena tanto, se no mais, que eu. Minha ira se converteu em confiana, e minha clera em esperana.

    Oculto por trs de uma pedra, o vi descer da colina. Multides o seguiam. Esperei at que estivesse a poucos passos de onde eu estava, e ento me apresentei.

    Mestre!

    Parou e olhou para mim, assim como dezenas de outros. Uma torrente de temor percorreu a multido. Os braos voaram para cobrir as caras. As crianas se comprimiram detrs de seus pais. "Imundo!" gritou algum. De novo, no culpo eles. Eu era uma massa malfeita de morte. Porm quase no os ouvia. Quase no os via. Tinha visto mil vezes seu pnico. Contudo, a compaixo dEle quase nunca a havia contemplado. Todo mundo retrocedeu, exceto Ele. Ento avanou para mim. Para mim.

    Cinco anos atrs minha esposa tinha se aproximado de mim. Ela foi a ltima a faz-lo. Agora Ele o fazia. No me mexi. Simplesmente lhe disse:

  • Senhor, tu podes limpar-me, se quiseres.

    Se Ele tivesse me curado com uma palavra, teria ficado mais que encantado. Se me tivesse sarado com uma orao, teria me regozijado. Porm no ficou satisfeito com falar-me. At ento ningum tinha me tocado. At hoje.

    Quero suas palavras foram suaves como seu toque . S limpo.

    A energia encheu meu corpo como a gua num campo arado. Num instante, num momento, senti o calor onde tinha havido insensibilidade. Senti fora onde tinha havido atrofia. Minhas costas se endireitaram, e minha cabea se levantou. Onde eu tinha estado com o olho no nvel de sua cintura, agora estava fitando-o ao nvel de seu rosto. Seu rosto sorridente.

    Tomou minhas faces com suas mos, e me aproximou tanto que pude sentir o calor de seu hlito e ver a umidade de seus olhos.

    No fales com ningum. Mas vai e mostra-te ao sacerdote, e oferece a oferta que Moiss ordenou para os que so sarados. Isso mostrar s pessoas o que tenho feito.

    isso o que estou fazendo. Vou mostrar-me ao sacerdote e abra-lo. Vou mostrar-me a minha esposa, e abra-la. Levantarei minha filha, e a abraarei. Nunca esquecerei o que se atreveu a tocar-me. Poderia ter-me sarado com uma palavra; mas desejava fazer mais que me sarar. Desejava dar-me honra, validar-me. Imagina: indigno de que me toque o homem, e contudo digno do toque de Deus.

    O PODER DO TOQUE DIVINO

    O toque no curou a enfermidade, como voc sabe. Mateus cuidadoso ao mencionar que foi o pronunciamento de Cristo e no seu toque que curou a enfermidade. "E Jesus, estendendo a mo, tocou-o, dizendo: Quero; s limpo. E logo ficou purificado da lepra" (Mt 8:3, ACF).

    A infeco desapareceu pela palavra de Jesus.

    A solido, porm, foi tratada pelo toque de Jesus.

  • Ah, o poder de um toque divino. Voc ainda no o conheceu? O mdico que o tratou, ou a professora que secou suas lgrimas? Houve uma mo segurando a sua no funeral? Outra em seu ombro durante a prova? Um aperto de mos dando-lhe as boas-vindas a seu novo trabalho? Uma orao pastoral por cura? No conhecemos o poder de um toque divino?

    Acaso no podemos oferecer o mesmo?

    Muitos j o fazem. Alguns tm o toque curador do prprio Mestre. Usam suas mos para orar pelos doentes e ministrar aos fracos. Se voc no est tocando-os pessoalmente, suas mos esto escrevendo cartas, discando nmeros telefnicos, amassando po. Voc aprendeu o poder do toque.

    Mas alguns de ns tem tendncia de esquecer. Nossos coraes so bons; mas nossas lembranas so ms. No podemos esquecer quo significativo pode ser um toque. Temos medo de dizer coisas erradas, ou usar o tom errado de voz, ou agir erradamente. Assim que, para no faz-lo incorretamente, no fazemos nada.

    No nos alegramos de que Jesus no tenha cometido semelhante erro? Se o seu temor de fazer algo errado o previne de fazer alguma coisa, tenha presente a perspectiva dos leprosos do mundo. No so rabugentos. No so melindrosos. Simplesmente esto sozinhos. Esto anelando um toque divino.

    Jesus tocou os intocados do mundo. Voc far a mesma coisa?

    "E sede cumpridores da palavra, e no somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se algum ouvinte da palavra, e no cumpridor, semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era" Tiago 1:22-24, ACF

  • 4. OUA A MSICA DIVINA

    UM CORAO QUE ESCUTA

    "Quem tem ouvidos para ouvir, que oua".

    Mais de uma vez Jesus disse estas palavras. Oito vezes nos Evangelhos e oito vezes no livro de Apocalipse 5 nos lembrado que no basta ter ouvidos; preciso us-los.

    Numa de suas parbolas6, Jesus comparou nossos ouvidos ao terreno. Contou do agricultor que espalhou a semente (smbolo da Palavra) em quatro diferentes tipos de solo (smbolo de nossos ouvidos). Alguns de nossos ouvidos so como caminho endurecido: no receptivo semente. Outros tm ouvidos como terreno pedregoso: ouvimos a Palavra mas no lhe permitimos que finque raiz. Outros mais tm ouvidos como um terreno cheio de ervas daninhas: demasiado crescidas, demasiado espinhosas, com demasiada competncia para que a semente tenha uma oportunidade. Porm h alguns que tm ouvidos para ouvir: bem arados, capazes de discernir e prontos para ouvir a voz de Deus.

    Por favor, perceba que em todos os casos a semente a mesma. O semeador o mesmo. A diferena no est nem na mensagem nem no mensageiro, mas no que ouve. Se a proporo da histria significativa, 3/4 do mundo no esto ouvindo a voz de Deus. Seja devido a coraes endurecidos, vidas superficiais ou mentes cheias de ansiedade, setenta e cinco por cento de ns estamos perdendo a mensagem.

    No que nos faltem ouvidos; que no os usamos.

    As Escrituras sempre deram grande importncia a ouvir a voz de Deus. Na verdade, o grande mandamento de Deus por meio de Moiss, comea com as palavras: "Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus o nico SENHOR" (Dt 6:4, ACF). Neemias e seus homens receberam elogios porque "estavam atentos ao livro da lei" (Ne 8:3, ACF). "Bem-aventurado o homem que me d ouvidos, velando s minhas portas cada dia, esperando s ombreiras da minha entrada"

    5 Mateus 11:15; 13:9,43; Marcos 4:9,23; 8:18; Lucas 8:8; 14:35; Apocalipse 2:7,11,17,29; 3:6,13,22; 13:9.6 Marcos 4:1-20.

  • a promessa de Provrbios 8:34 (ACF). Jesus nos insta a que aprendamos a ouvir como ovelhas. "as ovelhas ouvem a sua voz... e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguiro o estranho, antes fugiro dele, porque no conhecem a voz dos estranhos" (Jo 10:3-5, ACF). A cada uma das sete igrejas em Apocalipse dito o mesmo: "Quem tem ouvidos, oua o que o Esprito diz s igrejas" 7

    Nossos ouvidos, diferentemente de nossos olhos, no tm tampas. Devem permanecer abertos, mas quo facilmente eles se fecham.

    A algum tempo, Denalyn e eu fomos comprar algumas malas. Achamos o que queramos numa loja, e dissemos ao vendedor que iramos numa outra loja para comparar preos. Perguntou-me se queria um carto. Eu disse:

    No, seu nome fcil de lembrar, Roberto.

    E a ele replicou:

    Meu nome Jos.

    Eu tinha ouvido o nome, porm no o havia escutado.

    Pilatos tambm no escutou. Tinha o clssico caso de ouvidos que no ouvem. No somente sua esposa o advertiu: "No entres na questo desse justo" (Mateus 27:19, ACF), mas o prprio Verbo de vida advertiu: "Todo aquele que da verdade ouve a minha voz" (Joo 18:37, ACF). Porm Pilatos tinha ouvidos seletivos. Permitiu que as vozes do povo dominassem as vozes da conscincia e do Carpinteiro. "Mas eles instavam com grandes brados, pedindo que fosse crucificado. E prevaleceram os seus clamores" (Lucas 23:23, PJFA).

    No final, Pilatos inclinou seu ouvido multido e o afastou de Cristo, e ignorou a mensagem do Messias. "A f pelo ouvir" (Romanos 10:17, ACF), e j que Pilatos no ouviu, nunca encontrou f.

    "Quem tem ouvidos, para ouvir, oua". Quanto tempo faz que voc fez uma reviso dos ouvidos? Quando Deus espalha a semente, qual o resultado? Posso fazer uma pergunta para testar quo bem voc ouve a voz de Deus?

    7 Apocalipse 2:7,11,17,29; 3:6,13,22.

  • QUANTO TEMPO FAZ DESDE A LTIMA VEZ QUE DEIXOU DEUS SE APODERAR DE VOC?

    Quero dizer, realmente apoderar-se de voc? Quanto tempo se passou desde que lhe deu uma poro de tempo sem diluir, sem interrupes, para ouvir Sua voz? Evidentemente Jesus o fazia. Ele fez esforos deliberados para passar tempo com Deus.

    Passe muito tempo lendo a respeito de como Jesus escutava e emergir um padro distinto. Ele passava regularmente tempo com Deus, orando e escutando. Marcos diz: "E, levantando-se de manh, muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava" (Mc 1:35, ACF). Lucas nos diz: "Ele, porm, retirava-se para os desertos, e ali orava" (Lc 5:16, ACF).

    Permita-me perguntar o bvio. Se Jesus, o Filho de Deus, o Salvador da humanidade, sem pecado, pensou que valia a pena deixar sua agenda livre para orar, no ser sbio que ns faamos o mesmo?

    Ele no s passava regularmente tempo com Deus em orao, mas passava regularmente tempo na Palavra de Deus. Certamente no vemos Jesus tirando de sua mochila um Novo Testamento encadernado em couro e lendo-o. O que vemos, contudo, o impressionante exemplo de Jesus, no meio da tentao do deserto, usando a Palavra de Deus para enfrentar Satans. Trs vezes foi tentado, e a cada vez repeliu o ataque com a frase: "Est escrito nas Escrituras" (Lucas 4:4,8,12)., e ento citou um versculo. Jesus estava to familiarizado com as Escrituras que no s conhecia o versculo, mas sabia como us-lo.

    Depois temos a ocasio quando foi pedido a Jesus que lesse na sinagoga. Deram-lhe o livro de Isaias. Achou a passagem, a leu e declarou: "Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos" (Lc 4:21, ACF). Eis o quadro de uma pessoa que sabe, alm de conhecer as Escrituras, reconhecer seu cumprimento. Se Jesus pensou que era sbio familiarizar-se com a Bblia, no deveramos ns fazer o mesmo?

    Se vamos ser como Jesus, se vamos ter ouvidos que escutem a voz de Deus, ento temos dois hbitos dignos de imitar: os

  • hbitos da orao e da leitura da Bblia. Considere estes versculos:

    "Alegrai-vos na esperana, sede pacientes na tribulao, perseverai na orao" (Romanos 12:12, ACF, nfase do autor).

    "Aquele, porm, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, no sendo ouvinte esquecido, mas praticante da palavra, este tal ser bem-aventurado no seu feito" (Tiago 1:25, ACF).

    Se vamos ser como Jesus, devemos ter um tempo regular para falar com Deus e ouvir sua Palavra.

    ESPIRITUALIDADE EMPRESTADA

    Um momento. No faam isso. Sei exatamente o que alguns de vocs esto fazendo. Esto fechando seus ouvidos. Lucado est falando de devocionais dirios, certo? Este um bom momento para ir mentalmente ao refrigerador e ver que h para comer.

    Compreendo sua relutncia. Alguns de ns temos tentado ter momentos devocionais dirios e no conseguimos. Outros tivemos dificuldades para concentrar-nos. Todos estamos muito ocupados. Assim que, em vez de passar tempo com Deus, escutando sua voz, deixamos que outros passem tempo com Ele e ento nos beneficiamos de sua experincia. Deixemos que eles nos digam o que Deus est dizendo. Alm do mais, no para isso que pagamos aos pregadores? No por isso que lemos livros cristos? Esses caras so bons para as devoes dirias. Simplesmente aprenderei deles.

    Se esse seu mtodo, se suas experincias espirituais so de segunda mo em vez de ser de primeira mo, gostaria de desafi-lo com este pensamento: Voc faz isso com outras partes de sua vida? Acho que no.

    No faz isso com suas frias. Voc no diz: "As frias so uma completa amolao, com todo o trabalho de fazer as malas e viajar.

  • Vou enviar algum para que tire frias por mim. Quando voltar, ouvirei tudo quanto tiver para me contar, e me pouparei dos inconvenientes". Voc gostaria disso? No! Voc quer experiment-las pessoalmente. Quer ver as paisagens com seus prprios olhos, e quer que seja seu prprio corpo o que descansa. H certas coisas que ningum pode fazer por voc.

    Certamente no faz isso com o romance, voc no diz: "Estou apaixonado por essa pessoa maravilhosa, mas o romance um completo incmodo. Vou contratar um amante de aluguel para que desfrute do romance em meu lugar. Depois ouvirei tudo quanto tem para me contar, e me pouparei os incmodos". Voc faria isso? Nem pensar. Voc quer experimentar o romance pessoalmente. No quer perder uma s palavra nem um encontro, e certamente no quer perder esse beijo, verdade? Existem coisas que ningum pode fazer por voc.

    Voc no deixa que algum coma em seu lugar, verdade? Voc no diz: "Mastigar uma chatice. Minhas mandbulas cansam, e a variedade de sabores incrvel. Vou contratar algum para que mastigue minha comida, e eu depois engolirei qualquer coisa que me d". Voc faria algo semelhante? Uf! Certamente que no! H certas coisas que ningum pode fazer por voc.

    E uma dessas coisas passar tempo com Deus.

    Escutar a Deus deve ser uma experincia de primeira mo. Quando Deus pede sua ateno, no quer que voc envie um substituto; quer voc. Convida voc a gozar frias em seu esplendor. Convida voc a sentir o toque de sua mo. Convida voc a desfrutar do banquete de sua mesa. Quer passar tempo com voc. E com um pouco de treinamento, seu tempo com Deus pode ser o ponto mais destacado de seu dia.

    Um amigo meu casou com uma soprano de pera. Ela adora concertos. Passou seus anos na universidade no departamento de msica, e suas lembranas da infncia so de teclados e arquibancadas de coros. Ele, por seu lado, se inclina mais para os esportes e a msica popular. Tambm ama sua esposa, ento, ocasionalmente assiste pera. Os dois sentam juntos no mesmo auditrio, escutam a mesma msica, com duas respostas completamente diferentes. Ele dorme, e ela chora.

  • Acredito que a diferena vai alm dos gostos, a preparao. Ela passou horas aprendendo a apreciar a arte da msica. Ele no dedicou nenhuma a isso. Os ouvidos dela so sensveis como um contador Geiger. Ele no pode diferenciar entre staccato e legato. Mas est tentando faz-lo. A ltima vez que falamos de concertos, me disse que est conseguindo permanecer acordado. Talvez nunca tenha o mesmo ouvido que sua esposa, mas com o tempo est aprendendo a escutar e a apreciar a msica.

    QUANDO SE APRENDE A ESCUTAR

    Estou convencido de que ns tambm podemos. Equipados com as ferramentas apropriadas podemos aprender a ouvir a Deus. Quais so essas ferramentas? As que eu achei teis so as seguintes:

    Tempo e lugar regulares

    Selecione um perodo em seu horrio e um cantinho em seu mundo, e separe-o para Deus.

    Para alguns talvez seja melhor faz-lo de manh. "De madrugada te esperar a minha orao" (Salmo 88:13, ACF).

    Outros preferem a noite e concordam com a orao de Davi: "Suba a minha orao perante a tua face como (...) o sacrifcio da tarde" (Salmo 141:2, ACF).

    Outros preferem muitos encontros durante o dia. Aparentemente o autor do Salmo 55 fazia assim. Escreveu: "De tarde e de manh e ao meio dia orarei" (Salmo 55:17, ACF).

    Alguns sentam embaixo de uma rvore, outros, na cozinha. Talvez voc precise percorrer certa distncia para ir at seu trabalho, ou talvez a hora do almoo seja a mais apropriada. Busque a hora e o lugar adequados.

    Quanto tempo deve tomar? Todo o necessrio. Valorize a qualidade mais que a quantidade. Seu tempo com Deus deve durar o suficiente como para a voc possa dizer o quer dizer e que Deus

  • diga o que quer dizer. O que nos leva ao segundo recurso que voc necessita:

    Uma Bblia aberta

    Deus nos fala por meio de sua Palavra. O primeiro passo ao ler a Bblia pedir a Deus ajuda para compreend-la. "Mas aquele Consolador, o Esprito Santo, que o Pai enviar em meu nome, esse vos ensinar todas as coisas, e vos far lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (Joo 14:26, ACF).

    Antes de ler a Bblia, ore. No se aproxime das Escrituras procurando suas prprias idias; busque as de Deus. Leia a Bblia com orao. Tambm leia com cuidado. Jesus nos disse: "buscai, e encontrareis" (Mt 7:7, ACF). Deus elogia os que meditam nas Escrituras noite e dia (ver Salmo 1:2). A Bblia no um jornal no qual podem ler-se os ttulos, mas um filo que preciso aproveitar. "Se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, ento entenders o temor do SENHOR, e achars o conhecimento de Deus" (Pv 2:4-5, ACF).

    Este um ponto prtico. Estude a Bblia um pouco de cada vez. Deus parece enviar mensagens como enviava o man: uma poro para um dia por vez. Ele prov "mandamento sobre mandamento, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali" (Is 28:10, ACF). Prefira a profundidade quantidade. Leia at que um versculo "lhe d um tapa", ento pare e medite nele. Copie esse versculo num papel, ou escreva-o em seu dirio, e reflita nele vrias vezes.

    Na manh em que escrevi este captulo, por exemplo, meu tempo devocional me encontrou em Mateus 18. Tinha lido apenas quatro versculos quando li: "quem se tornar humilde como esta criana, esse o maior no reino dos cus...". No precisei avanar mais. Copiei as palavras em meu dirio, e meditei e pensei nela durante o dia. Vrias vezes perguntei a Deus: "Como posso ser mais como uma criana?" No final do dia me veio a lembrana de minha tendncia a andar com pressa e esforar-me.

    Aprenderei o que Deus quer? Se escutar, aprenderei.

  • No desanime se sua leitura produzir pouco. Alguns dias uma poro menor tudo quanto necessitamos. Uma menina regressou de seu primeiro dia na escola. Sua me perguntou-lhe:

    Voc aprendeu algo?

    Acho que no respondeu a menina . Preciso voltar amanh, e depois de amanh, e todos os dias.

    Assim com o aprendizado. o mesmo caso com o estudo da Bblia. A compreenso vem um pouco de cada vez, e para toda a vida.

    Existe um terceiro recurso ou ferramenta para ter um tempo produtivo com Deus. No s necessitamos um tempo regular e uma Bblia aberta, mas tambm precisamos de um corao que escuta. No esquea a admoestao de Tiago: "Aquele, porm, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, no sendo ouvinte esquecidio, mas fazedor da obra, este tal ser bem-aventurado no seu feito" (Tg 1:25, ACF).

    Sabemos que estamos escutando a Deus quando o que lemos na Bblia o que os outros vem em nossas vidas. Talvez voc tenha ouvido a histria do tolo que viu um anuncio de um cruzeiro. O cartaz na vitrine da agencia de viagens dizia: "Cruzeiro: $100".

    "Eu tenho $ 100", pensou, "e gostaria de fazer essa viagem". Assim entrou e disse o que desejava. O funcionrio pediu-lhe o dinheiro, e o tolo comeou a cont-lo. Quando chegou a cem, recebeu uma terrvel pancada que o deixou sem sentido. Acordou enfiado num barril boiando num rio. Outro tolo, em outro barril, passou por ali e o primeiro perguntou:

    Oua, servem almoo neste cruzeiro?

    O outro respondeu:

    No serviram no ano passado.

    Uma coisa no saber; e outra muito distinta saber e no aprender. Paulo instou a seus leitores a que pusessem em prtica o que haviam aprendido dele. "O que tambm aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei" (Filipenses 4:9, ACF).

  • Se voc quer ser como Jesus, deixe que Deus se apodere de voc. Passe tempo escutando-O at que receba sua lio para o dia; depois, aplique-a.

    Tenho outra pergunta para examinar seu ouvido. Leia, e veja como vai.

    QUANTO TEMPO SE PASSOU DESDE A LTIMA VEZ QUE DEIXOU QUE DEUS O AMASSE?

    Minhas filhas j esto muito crescidas, porm quando eram pequenas, no bero e com fraldas, eu chegava em casa, gritava seus nomes e as via vir correndo com seus braos estendidos e berrando de alegria. Pelos minutos seguintes falvamos a linguajem do carinho. Rolvamos pelo cho, acariciava suas barrigas, fazia-lhes ccegas e riamos e brincvamos.

    Nos alegrvamos com a presena do outro; no me pediam nada que no fosse: "Vamos brincar, papai". Eu no lhes exigia nada, alm de: "No bata no papai com o martelo".

    Minhas filhas me permitiam que eu as amasse.

    Mas suponha que minhas filhas tivessem se aproximado de mim do mesmo modo com que freqentemente nos aproximamos de Deus: "Escuta, pai: estou feliz de que tenhas chegado. Isto o que eu quero: mais brinquedos. Mais doces. Podemos ir a um parque de diverses nestas frias?"

    "Hein!", eu diria. "No sou garom, nem isto um restaurante. Sou teu pai, e esta a nossa casa. Por que no sobes nos joelhos de papai e me deixas dizer-te quanto te a amo?"

    Voc pensou alguma vez que Deus quisesse fazer o mesmo com voc? Ah, Ele nunca me diria tal coisa. No diria? Ento com quem estava falando quando disse: "com amor eterno te amei" (Jeremias 31:3, ACF). Estava Ele brincando quando disse que nada "nos poder separar do amor de Deus" (Romanos 8:39, ACF)? Sepultado entre as jazidas muito pouco exploradas dos profetas menores est esta jia:

    "O SENHOR teu Deus, o poderoso, est no meio de ti, ele salvar; ele se deleitar em ti com alegria; calar-se- por

  • seu amor, regozijar-se- em ti com jbilo" (Sofonias 3:17, ACF).

    No passe rapidamente por esse versculo. Leia de novo, e prepare-se para uma surpresa:

    "O SENHOR teu Deus, o poderoso, est no meio de ti, ele salvar; ele se deleitar em ti com alegria; calar-se- por seu amor, regozijar-se- em ti com jbilo" (Sofonias 3:17, ACF).

    Note quem ativo e quem passivo. Quem o que canta, e quem o que repousa? Quem se alegra por seu ser querido, e por quem se regozija?

    Pensamos que ns somos os cantores e que cantamos para Deus. Na maioria dos casos assim. Mas evidentemente h ocasies quando Deus gostaria que permanecssemos simplesmente quietos e (que pensamento mais surpreendente!) que lhe permitssemos que Ele cantasse para ns.

    At vejo voc se retorcendo na cadeira. Voc diz que no se preocupa por tal afeto? Judas tambm no, mas Jesus lavou-lhe os ps. Tampouco Pedro, mas Jesus lhe preparou o desjejum. Tampouco os discpulos que iam para Emas, mas Jesus se deu tempo para sentar-se com eles mesa.

    Alm disso, quem somos ns para determinar se somos dignos? Nossa tarefa simplesmente estarmos quietos o suficiente para permitir que Deus se apodere de ns e nos ame.

    OUVE A MSICA?

    Vou concluir contando algo que talvez voc j tenha ouvido antes, ainda que no o tenha ouvido como vou cont-lo. Ouviu, porque voc participa da histria. Voc uma das personagens. a histria dos danarinos que no tinham msica.

    Pode imaginar a estranheza que ? Danar sem msica? Dia aps dia chegavam a um grande salo na esquina das ruas

  • Principal e Larga. Traziam com eles suas esposas. Traziam seus filhos e suas esperanas. Vinham para danar.

    O salo estava preparado para o baile. Fitas de cores por todas partes, e copos cheios de refrigerantes. As cadeiras estavam colocadas contra as paredes. As pessoas chegavam e tomavam assento, sabendo que tinham vindo para danar mas sem saber como, j que no havia msica. Tinham bales; tinham bolos. Havia at um palco no qual os msicos poderiam ter tocado, mas no havia msicos.

    Uma vez um homenzinho de rosto comprido disse que era msico. Parecia ser, com sua barba at a cintura e um luxuoso violino. Todos ficaram de p no dia em que ele se levantou em frente a eles, tirou o violino de sua caixa e o colocou embaixo de seu queixo. Agora que vamos danar..., pensaram, porm erraram. O homem tinha um violino, mas sem cordas. O movimento de vaivm do arco produzia rudos como o ranger de uma dobradia enferrujada. Quem pode danar com rudos como esses? Assim os danarinos voltaram aos seus assentos.

    Alguns tentaram danar sem msica. Uma esposa convenceu o marido para que tentassem, e se lanaram na pista; ela danava de seu jeito, e ele do dele. Os esforos de ambos eram dignos de elogios; porm distavam muito de serem compatveis. Ele danava algo assim como um tango sem companheira, enquanto que ela girava como uma danarina de bal. Uns poucos trataram de imit-los, mas como no ouviam nada, no sabiam como fazer. O resultado foi uma dzia de danarinos sem msica, mexendo-se por todos os lados, tropeando uns com os outros, e fazendo com que mais de um observador procurasse refgio atrs de uma cadeira.

    Finalmente, os danarinos cansaram, e todo mundo voltou a sentar-se e ficaram olhando, e se perguntavam se algum dia algo iria acontecer. Um dia, aconteceu.

    Nem todo mundo o viu entrar; somente uns poucos. Nada havia em sua aparncia que chamasse a ateno. Sua aparncia era comum, mas no sua msica. Comeou a cantar uma cano, suave e doce, clida e emotiva. Sua cano eliminou o gelo do ar e produziu um calor como de crepsculo de vero nos coraes.

  • Enquanto cantava, as pessoas ficaram em p, uns poucos no princpio, depois muitos; e comearam a danar. Juntos. Seguindo uma msica que nunca antes haviam ouvido, danaram.

    Alguns, porm, ficaram sentados. Que tipo de msico este que nunca prepara seu cenrio? No traz sua banda? No veste traje especial? Os msicos no surgem simplesmente da rua. Tm seu sqito, sua reputao, uma fama que projetar e proteger. Deste cara, nem sequer se menciona muito seu nome!

    "Como podemos saber que o que est cantando realmente msica?", questionaram.

    A resposta do cantor foi o ponto: "Quem tem ouvidos para ouvir, que os use".

    Mas os que no danavam se recusaram a ouvir. Recusavam danar. Muitos ainda recusam. O msico vem e canta. Alguns acham msica para a vida; outros vivem em silncio. Aos que perdem a msica, o msico faz o mesmo chamamento: "Quem tem ouvidos para ouvir, que os use".

    Um tempo e um lugar regular.

    Uma Bblia aberta.

    Um corao aberto.

    Deixe que Deus se apodere de voc, e permita que o ame; e no se surpreenda se seu corao comear a ouvir msica que nunca antes tinha ouvido, e seus ps comearem a danar como nunca antes.

    "Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conhea que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim" Joo 17:23, ACF.

  • 5. DEIXE-SE GUIAR POR UMA MO INVISVEL

    UM CORAO EMBRIAGADO DE DEUS

    um dia verdadeiramente maravilhoso quando deixamos de trabalhar para Deus e comeamos a trabalhar com Deus. (V em frente, leia a frase de novo).

    Durante anos eu vi Deus como um Gerente de Empresa compassivo, e meu papel como um vendedor leal. Ele tinha sua oficina, e eu tinha meu territrio. Podia ficar em contato com Ele quantas vezes quisesse. Ele sempre estava ao alcance do telefone ou do fax. Me animava, me respaldava e me sustentava, porm nunca me acompanhava. Pelo menos no achava que iria comigo. Ento li 2 Corntios 6:1: ns somos "colaboradores seus".

    Colaboradores? Deus e eu trabalhando juntos? Imagine a mudana de paradigma que isto produz. Em vez de apresentar relatrios a Deus, trabalhamos com Deus. em vez de reportar a Ele e depois sair, nos apresentamos a Ele e depois o seguimos. Sempre estamos na presena de Deus. Nunca deixamos a igreja. Nunca h um momento que no seja sagrado! Sua presena jamais diminui! Nossa noo de sua presena pode vacilar, mas a realidade de sua presena jamais muda.

    Isto me leva a uma grande pergunta: Se Deus est perpetuamente presente, possvel desfrutar de comunho inacabvel com Ele? No captulo anterior falamos da importncia de separar tempo diariamente para passar com Deus. Demos um passo alm. Um passo gigantesco. Que tal se a nossa comunho diria jamais cessar? Seria possvel viver, minuto aps minuto, na presena de Deus? possvel tal intimidade? Um homem que lutou com estas indagaes escreveu:

    Podemos ter contato com Deus o tempo todo? Todo o tempo que estamos acordados, dormir em seus braos, e acordar em sua presena? Podemos consegui-lo? Podemos fazer sua vontade o tempo todo? Podemos pensar seus pensamentos todo o tempo? ...Posso pr o Senhor de novo em minha mente a cada poucos segundos para que Deus esteja sempre em minha mente? Escolho

  • fazer do resto de minha vida uma experincia para responder a esta pergunta. 8

    Estas palavras esto no dirio de Frank Laubach. Ele nasceu nos Estados Unidos em 1884, e foi missionrio para os analfabetos, os quais ensinava a ler para que pudessem conhecer a beleza das Escrituras. O que me fascina nesse homem, contudo, no seu ensino. O que me fascina sua forma de escutar. Insatisfeito com sua vida espiritual, aos quarenta e cinco anos Laubach resolveu viver "em contnua conversao ntima com Deus e em perfeita resposta a sua vontade" 9.

    Escreveu em seu dirio um histrico de sua experincia, que comeou o 30 de janeiro de 1930. as palavras de Laubach me inspiraram tanto que inclui aqui vrios fragmentos. Ao l-las, leve em conta que no foram escritas por um monge num monastrio, mas por um instrutor muito ocupado e dedicado. Quando morreu em 1970, Laubach e suas tcnicas de educao eram conhecidas em quase todos os continentes. Era amplamente respeitado, e tinha viajado muito. Contudo, o desejo de seu corao no era o reconhecimento, mas a comunho ininterrupta com o Pai.

    26 DE JANEIRO DE 1930: Sinto Deus em cada movimento, por um ato de vontade: ao desejar que Ele dirija estes dedos que agora batem esta mquina de escrever; ao desejar que Ele opere em meus passos quando caminho.

    1 DE MARO DE 1930: Este sentimento de ser dirigido por uma mo invisvel que toma a minha enquanto que outra mo se estende para adiante e prepara o caminho cresce em mim diariamente... algumas vezes requer longo tempo na manh. Decidi no levantar-me do leito quando minha mente no tenha se fixado no Senhor.

    18 DE ABRIL DE 1930: Provei a emoo da comunho com Deus que fez desagradvel tudo quanto seja discordante com Deus. Esta tarde a possesso de Deus me capturou com tal gozo indizvel que pensei que nunca havia conhecido algo parecido. Deus estava to perto e to assombrosamente encantador que

    8 Irmo Lawrence e Frank Laubach, "A prtica de sua presena), Christian Books, Goleta, C, 1973. usado por bondosa permisso do Doutor. Robert S. Laubach e Gene Edwards. 9 Ibid.

  • senti como se me derretesse por completo com um contentamento estranhamente abenoado. Depois desta experincia, que agora me acontece vrias vezes por semana, a emoo da imundcia me repele, porque conheo seu poder para arrastar-me e afastar-me de Deus. Depois de uma hora de ntima amizade com Deus minha alma se sente limpa, como neve recm cada.

    14 DE MAIO DE 1930: Ah, isto de manter constante contato com Deus, de faz-lo objeto de meu pensamento e companheiro de minhas conversaes, o mais assombroso que jamais me aconteceu. Funciona. No consigo faz-lo nem sequer por meio dia; ainda no, mas acho que conseguirei algum dia faz-lo durante um dia inteiro. questo de adquirir um novo hbito de pensamento.

    24 DE MAIO DE 1930: Esta concentrao em Deus fatigante, mas todo o resto deixou de s-lo. Penso mais claramente, e me esqueo com menos freqncia. As coisas que antes fazia com esforo, agora as executo com facilidade e sem esforo algum. No me preocupo por nada, nem perco o sono. Ando como no ar uma boa parte do tempo. At o espelho revela uma nova luz em meus olhos e rosto. J no me sinto apressado quanto a nada. Tudo parece andar bem. Enfrento cada minuto com calma, como se no fosse importante. Nada pode dar errado, exceto uma coisa: que Deus possa sair de minha mente.

    1 DE JUNHO DE 1930: Oh, Deus, que nova proximidade nos d isto a ti e a mim, perceber que somente Tu podes compreender-me, que somente Tu sabes todo! J no s um estranho, Deus! s o nico ser no universo que no parcialmente um estranho! s tudo dentro de mim: aqui... Penso em lutar esta noite e amanh como nunca antes, sem te deixar nem um instante. Porque quando te perco por uma hora, perco tudo. O que Tu queres que seja feito pode fazer-se somente quando Tu tens toda a influncia, o tempo todo.

    Segunda-feira passada foi o dia mais completamente triunfante de toda minha vida at essa data, no que diz respeito a dar meu dia em completa e contnua rendio a Deus... Lembro como ao olhar as pessoas com o amor que Deus me deu, elas me olhavam e reagiam como se quisessem acompanhar-me. Senti ento que por um dia vi um pouco dessa atrao maravilhosa que Jesus tinha quando caminhava pelo caminho depois de um dia

  • "embriagado de Deus", e radiante com a comunho interminvel de sua alma com Deus. 10

    O que voc acha da aventura de Frank Laubach? Como voc responderia a suas perguntas? Podemos ter contato com Deus o tempo todo? Todo o tempo acordados, dormir em seu braos e acordar em sua presena? Podemos conseguir isso?

    realista esta meta? Est ao alcance? Voc acha que a idia de constante comunho com Deus um tanto fantica, at extrema? Seja qual for a sua opinio a respeito da aventura de Launach, voc tem que concordar com sua observao de que Jesus desfrutava de comunho ininterrupta com Deus. Se vamos ser como Jesus, voc e eu nos esforaremos por fazer o mesmo.

    O TRADUTOR DE DEUS

    A relao de Jesus com Deus era muito mais profunda do que um encontro diria. Nosso Salvador sempre estava consciente da presena de seu Pai. Oua suas palavras:

    "Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo no pode fazer coisa alguma, se o no vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente" (Joo 5:19, ACF).

    "Eu no posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouo, assim julgo" (Joo 5:30, ACF).

    "Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim" (Joo 14:11, ACF).

    Fica claro que Jesus no agia a menos que visse o Pai agir. No julgava seno quando ouvia o Pai julgar. Nenhum ato nem obra acontecia sem a direo do Pai. Suas palavras soam como as de um tradutor.

    10 Ibid.

  • Houve algumas poucas ocasies no Brasil em que servi como tradutor-intrprete a um pregador que falava em ingls. O homem estava de frente ao pblico com sua mensagem. Eu estava ao seu lado, equipado com o idioma. Meu trabalho era apresentar aos ouvintes sua histria. Fazia o melhor que podia para que suas palavras flussem atravs de mim. No tinha liberdade para embelezar ou subtrair. Quando o pregador fazia um gesto, eu tambm o fazia. Quando aumentava o volume, eu tambm o aumentava. Quando ficava quieto, eu tambm.

    Quando Jesus andou nesta terra, sempre estava "traduzindo" a Deus. quando Deus falava mais forte, Jesus falava mais forte. Quando Deus fazia algum gesto, Jesus fazia-o tambm. Ele estava to sincronizado com o Pai que pde declarar: "(Eu) estou no Pai, e o Pai em mim" (Joo 14:11, ACF). Era como se ouvisse uma voz que os outros no podiam ouvir.

    Presenciei algo similar num avio. Ouvia uma vez aps outra exploses de gargalhadas. O vo era turbulento e agitado, e no havia razo alguma para o humor. Mas algum atrs de mim morria de rir. Ningum mais, somente ele. Finalmente me virei para ver o que era to engraado. Tinha fones de ouvidos, e evidentemente estava ouvindo alguma comdia. Mas como ns no podamos ouvir o que ele estava escutando, agamos de forma diferente.

    O mesmo acontecia com Jesus. Como Ele podia ouvir o que outros no podiam, agia em forma diferente deles. Lembra quando todo mundo estava preocupado pelo homem que tinha nascido cego? Jesus no. De alguma maneira, Ele sabia que a cegueira revelaria o poder de Deus (Joo 9:3). Lembra quando todo mundo estava aflito pela doena de Lzaro? Jesus no. Em vez de acudir apressadamente ao lado da cama de seu amigo, disse: "Esta enfermidade no para morte, mas para glria de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela" (Joo 11:4, ACF). Foi como se Jesus pudesse ouvir o que ningum mais podia. Que relao pode ser mais ntima que aquela? Jesus tinha uma comunho ininterrupta com seu Pai.

    Voc acha que o Pai deseja o mesmo para ns? Absolutamente sim. Paulo diz que fomos predestinados para sermos "conformes imagem de seu Filho" (Romanos 8:29, ACF). Permita-me lembrar voc: Deus o ama tal como voc , porm

  • recusa-se a deix-lo assim. Ele quer que voc seja como Jesus. Deus deseja ter com voc a mesma intimidade permanente que tinha com seu Filho.

    QUADROS DE INTIMIDADE

    Deus traa vrios quadros para descrever a relao que Ele tem em mente. Uma a videira e os ramos.

    "Eu sou a videira, vs as varas; quem est em mim, e eu nele, esse d muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se algum no estiver em mim, ser lanado fora, como a vara, e secar; e os colhem e lanam no fogo, e ardem. Se vs estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vs, pedireis tudo o que quiserdes, e vos ser feito" (Joo 15:5-7, ACF).

    Deus quer estar to unido a ns como as varas a uma videira. Uma a extenso da outra. impossvel dizer onde comea uma e onde acaba a outra. O ramo no est unido somente no momento de carregar o fruto. O horticultor no tem as varas guardadas numa caixa e ento, no dia em que deseja uvas, as cola na videira. No, a vara constantemente extrai nutrio da videira. A separao significaria uma morte certa.

    Deus usa tambm o templo para descrever a intimidade que Ele deseja.

    "Ou no sabeis que o vosso corpo o templo do Esprito Santo, que habita em vs, proveniente de Deus, e que no sois de vs mesmos?" (1 Corntios 6:19, ACF).

    Pe