16 babesias e anaplasma
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Taxonomia
• Babesia (Babès, 1888)
▫ Reino: Protista ▫ Sub-Reino: Protozoa ▫ Filo Apicomplexa ▫ Classe: Sporozoea ▫ Sub-Classe: Piroplasmia ▫ Ordem: Piroplasmida ▫ Família: Babesiidae
• Anaplasma marginale (Theiler, 1910)
▫ Ordem: Rickettsiales ▫ Família: Anaplasmataceae
Ordem Piroplasmida
• Protozoários que não tem flagelos, cílios ou formam pseudópodes.
• Locomoção por flexão ou deslizamento
• Reprodução assexuada ocorre por fissão binária ou esquizogonia em eritrócitos ou outras células sanguíneas de mamíferos
• Duas famílias: Babesiidae e Theileriidae
Família Babesiidae
• Gênero Babesia – descoberto por Victor Babès, patologista romeno em 1888
• São piriformes (piroplasma), redondos ou ovais
• Parasitam eritrócitos, linfócitos, histiócitos, eritroblastos ou outras células sanguíneas dos mamíferos
• Parasitam vários tecidos dos carrapatos
Histórico
• EUA 1890 – toda a região sudeste acometida por uma doença bovina
• Febre do gado do Texas, água vermelha, hemoglobinúria
• Destruição maciça de hemácias
• Morte dentro de algumas semanas
• Introdução de gado do sudeste em áreas ao norte levava à um rápido acometimento do gado dessas regiões
• Smith & Kilbourne – identificação do papel do carrapato Boophilus annulatus como vetor
Introdução
• Várias espécies do gênero Babesia acometem animais domésticos - cão, eqüinos, suínos, ruminantes
• Parasitam os eritrócitos dos vertebrados e são transmitidos por várias espécies de carrapatos
• Após resolução do quadro clínico os animais podem ficar cronicamente infectados
• Localização do parasita ▫ Periférica (alta parasitemia)
▫ Viscerotrópica - podem causar doença sem alta parasitemia, os animais podem
sofrer infecções letais com formação de trombo cerebral sem apresentar anemia
O Anaplasma marginale é um parasita dos eritrócitos, com ampla distribuição geográfica e responsável pela forma maligna da anaplasmose
A anaplasmose caracteriza-se por anemia hemolítica progressiva
Morfologia
• Presença de um complexo apical: ▫ Anéis polares – elementos de
suporte, função de locomoção ▫ Micronemas e roptrias –
organelas secretoras que medeiam a penetração do parasita na célula do hospedeiro
▫ Conóides – estruturas fibrilares
• Mitocôndria
• Não possuem cílios ou flagelos
• Parasitas de grande interesse médico e veterinário
Identificação
• Babesias ▫ São organismos de formato geralmente piriformes, podendo se
apresentar arredondados ou em forma de charuto ▫ Aparecem isolados, em ângulos com as extremidades estreitas opostas
ou mesmo em formato de cruz (“cruz de Malta”) ▫ Grandes babesias: Trofozoítos com 2,5 - 5,0 μm, mais sensíveis aos
quimioterápicos ▫ Pequenas babesias: Trofozoítos com 1,0 - 2,5 μm
• Anaplasma
▫ São pequenos corpos esféricos, com cerca de 0,2 – 0,5 μm de diâmetro ▫ Não possuem citoplasma, mas pode-se evidenciar um halo tênue que o
circunda ▫ Pode ocorrer múltipla invasão celular ▫ Podem ocorrer dois tipos morfológicos, o redondo e outro, de formato
filamentado
Etiologia
Babesia Tamanho Hospedeiro Vetor
B.bigemina grande bovino Ninfa e adulto de
B. microplus
B.bovis pequena bovino Larva de
B. microplus
B.equi pequena equino Amblyomma spp e
B. microplus
B.caballi grande equino Amblyomma spp e
B. microplus
B.canis grande cão R. sanguineus e
Amblyomma spp
B.gibsoni pequena cão R. sanguineus e
Amblyomma spp
Ciclo biológico
• Esporozoítos na saliva de carrapatos (1) são injetados durante o repasto
• Esporozoítos penetram as hemácias e se diferenciam em trofozoítos em forma de anel ou amebóide
• Reprodução assexuada intra-eritrocítica no hospedeiro vertebrado por fissão binária, formando merozoítos (2-5). Merozoítos podem invadir novas células
• Merozoítos ingeridos pelo carrapato (5.1) são digeridos no trato intestinal do vetor (5.2)
• Alguns merozoítos se diferenciam em gamontes ovóides (6)
Ciclo biológico
• Após ingestão pelo vetor (7), os gamontes formam protusões (corpos raiados) (8)
• Fusão de dois gametas mononucleados (9) leva à formação de um zigoto (10)
• Formação de um cineto no interior de um vacúolo (11-14)
Ciclo biológico
• Cineto deixa o trato intestinal e penetra vários tecidos do vetor incluindo os ovos (transmissão transovariana)
• Formação de vários cinetos (esporocinetos) (15-18). O processo pode se repetir
• Alguns cinetos penetram as células das glândulas salivares (19-21) e formam um grande esporonte multinucleado (YS, ES)
• Formam-se milhares de esporozoítos (SP) que são liberados na saliva
Ciclo biológico
• O ciclo biológico do Anaplasma marginale é muito simples e bastante semelhante ao das bactérias: ▫ Reprodução por divisão simples
▫ Abandonando um eritrócito e invadindo outro
▫ Os eritrócitos infectados aumentam em progressão
logarítmica
▫ A doença clínica pode ser consistentemente observada quando 40 – 50 % dos eritrócitos dos bovinos foram removidos
Transmissão
• A principal via de transmissão das babesias é a biológica transovariana, através de seu vetor, o carrapato
• Larvas de B. microplus ▫ B. bovis – migração para glândulas salivares ▫ B. bigemina – músculos
• A glândula salivar sofre histólise na muda da larva, provocando a morte de todas as B. bovis
• Ninfas de B. microplus
▫ B. bigemina – migração para glândula salivar e músculos
• As larvas de B. microplus transmitem B. bovis, enquanto que ninfas e adultos transmitem B. bigemina
• O carrapato B. microplus é considerado o principal transmissor do A. marginale, sem que nunca se tenha conseguido comprovar a transmissão transovariana
• A transmissão por insetos hematófagos, a transplacentária em vacas infectadas na gestação e intra-uterina, de vacas portadoras crônicas para os terneiros, também já foram cientificamente comprovadas
• A via mecânica, através de sangue contaminado é outro importante meio de transmissão das babesias
Epidemiologia
• O estudo da condição epidemiológica das babesias baseia-se no conhecimento de 3 fatores mensuráveis: ▫ Nº de carrapatos/animal/dia ▫ Taxa de infecção nos carrapatos ▫ Taxa de hospedeiros parasitados
• A taxa de inoculação consiste na probabilidade diária de infecção
um hospedeiro pelas babesias, sendo o principal determinante da condição de estabilidade ou instabilidade enzoótica de uma região
• Uma área de instabilidade enzoótica é aquela em que cada animal recebe de 2 – 20 larvas de carrapato por dia e menos de 75% dos animais se infectam antes dos 9 meses de idade
• Na maioria das regiões do Brasil, a situação da TPB é de estabilidade enzoótica, exceção feita ao extremo sul do Brasil, onde significativo número de animais não está imunizado contra os agentes da TPB, ocorrendo surtos freqüentes
Relação entre a infestação por carrapatos, porcentagem de
animais infectados até os nove meses, surtos, riscos e condição
epidemiológica das babesias (Bos taurus, Austrália)
Picadas carrapato animal/dia
% animais infectados até
os 9 meses Surtos Riscos
Condição epidemiológica
< 1 - 1 2,7 – 12,6 Pouco
prováveis Altos
Estabilidade enzoótica
2 - 20 23,7 – 74,1 Prováveis Máximos Instabilidade
enzoótica
20 - 100 93,3 - 100 Improváveis Mínimos Estabilidade
enzoótica
Adaptado de FRIEDHOFF e SMITH (1981)
Patogenia e Imunologia
• Forma periférica - anemia hemolítica direta proporcional à alta parasitemia
• Forma viscerotrópica - eritrócitos infectados também podem ficar seqüestrados no endotélio capilar ou pós-capilar ▫ A Babesia induz a formação de protusões na membrana do eritrócito responsáveis pela adesão ao endotélio
vascular ▫ Formação de processos inflamatórios não-específicos, causados pela ativação de numerosos compostos
vasoativos, resultando em vasodilatação e estase circulatória generalizada, o que pode levar à anoxia tecidual ▫ Esta forma é freqüentemente associada à forma cerebral da babesiose
• Animal pode apresentar hipotensão, alteração da coagulação e há formação de trombos
• Mecanismos de escape do sistema imune
▫ Variação antigênica do parasita ▫ Adesão celular e seqüestro (evita que eritrócitos infectados sejam destruídos no baço) – babesiose
viscerotrópica ▫ Ligação de proteínas do hospedeiro aos eritrócitos infectados - eritrócitos infectados tornam-se “invisíveis”
para o sistema imunológico ▫ Imunossupressão transiente - ainda não é totalmente conhecida
• Os principais danos causados pelo A. marginale são decorrentes do processo anêmico, sendo que este agente não causa destruição direta do eritrócito, mas provoca neste alterações estruturais que levam à sua remoção por fagocitose
Saída dos parasitas
+
SER
+
Fragilidade da Membrana
+
Mecanismos Imunológicos
Anemia hemolítica
Hemoglobinúria
Liberação de Substâncias Farmacologicamente Ativas
Cininas Vasoativas
Vasodilatação e estase circulatória generalizada
Baixa circulação capilar para cérebro, rins e músculos
Choque
Patogenia
• Pode variar de acordo com: ▫ Idade do hospedeiro – terneiros de áreas muito infestadas raramente sofrem de
babesiose, pois desenvolvem parasitemias sub-clínicas desde os poucos meses após o nascimento, o que lhes confere altas taxas de anticorpos
▫ A resistência à anaplasmose é maior em animais jovens e menor em bovinos adultos
▫ Estado nutricional
▫ Raça – zebuínos e cruzamentos com zebu são mais resistentes à babesiose
▫ Estado imunológico
Imunodeprimidos mais susceptíveis Após a primo-infecção, as recidivas conferem estabelecimento gradual de imunidade Sem reinfecção por ~ 8 meses: menor resposta imunológica
▫ Grau de infestação
▫ Virulência do agente
Sinais Clínicos
• Período de incubação
▫ Babesias: de 8 – 16 dias ▫ A. marginale: de 20 – 50 dias
• B. bovis ▫ Anemia, apatia, anorexia e pelo arrepiado ▫ Febre entre 41 – 41,5 º C ▫ Podem ocorrer sintomas nervosos
• B. bigemina ▫ Anemia hemolítica ▫ Hemoglobinúria ▫ Icterícia ▫ Febre entre 40 – 41,5
• A. marginale ▫ Doença de caráter mais crônico ▫ Aumento da Tº C corporal entre 39,5 – 40º ▫ Pode haver icterícia ▫ Não há hemoglobinúria
Introdução
• Também denominada de piroplasmose equina ou nutaliose, com ampla distribuição geográfica
• A doença é o principal impedimento para o trânsito internacional de cavalos. Países que possuem uma indústria equina importante estão livres da doença (Japão, Canadá, Estados Unidos e Austrália). Cavalos positivos para Babesia estão impedidos de entrar nestes Países, quer seja para competição ou exportação
• Babesia caballi: parasitemias baixas < 1%, portadores por 1 a 3 anos, tende a ser menos patogênica: sintomas clínicos menos severos. Período de incubação entre 10-30 dias
• Babesia equi: Infecções persistentes por toda a vida: o animal perpetua o agente, divisão em 4 merozoitos (cruz de malta), desenvolvimento primário em linfócitos. Período de incubação entre 12-19 dias
Sinais Clínicos
• Agudos - febre, inapetência, dispnéia, edema, icterícia, prostração (raro em áreas endêmicas)
• Sub-agudos - mesmos sinais com manifestação menos intensas e intermitentes
• Crônicos - mais comuns, sintomas inespecíficos
• Portador assintomático - pode reverter para quadros
agudos ou sub-agudos em situações de estresse ou doenças intercorrentes
• Quadros sub-clínicos - diminuição da performance em animais de competição, pode comprometer o potencial atlético do animal
Introdução
• Conhecida como babesiose canina, piroplasmose dos cães e nambiuvu (orelhas que sangram)
• Importante no Brasil - descrita no Rio Grande do Sul, São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro e Paraná
• Freqüente em cães jovens e com mais de 2 anos de idade
• Manifestações clínicas relacionadas com a intensidade da parasitemia
• Doença hemolítica, anemia progressiva, pode ocorrer choque endotóxico e alterações da coagulação
• Sintomas – anemia, febre, anorexia, desidratação, perda de peso, dor abdominal e sensibilidade renal à palpação, além do característico sangramento das orelhas. Pode ser observada a forma cerebral
• Cepas de B. canis apresentam variabilidade genética, de virulência e de especificidade de hospedeiro invertebrado
Diagnóstico
• Clínico - sinais clínicos
• Laboratorial ▫ Métodos diretos
Esfregaço sanguíneo (fase aguda), corado pelo Giemsa Animal – esfregaço capilar ou jugular (menos preciso) ou
“clap” (impressão) de órgãos em necropsia Carrapato - hemolinfa
PCR Necrópsia - lesões e histopatológico
▫ Métodos indiretos
Testes sorológicos (úteis para animais na fase crônica ou assintomáticos ou com baixa parasitemia) ELISA Imunofluorescência Indireta