1989 debate - fichamento

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Introdução – Tim Ingold Sociedade – termo central na identidade da antropologia social e, ao mesmo tempo, o mais contestável. Antropologia Social – produto de uma maneira específica de pensar sobre a sociedade. Os antropólogos se encontram em um meio social no qual sociedade é utilizada comumente no dia-a-dia. O conceito de sociedade é tanto uma parte da realidade que estudamos (nós os antropólogos), quanto nossa maneira de estuda-lo. Ao defender que o conceito de sociedade é teoricamente obsoleto, Marilyn Strathern e Christina Toren têm em mente uma noção específica de sociedade que tem, há tempos, dominado a antropologia social, tida como uma totalidade delimitada ou como um todo formado pela soma de suas partes. Sua objeção está não no conceito de sociedade, mas em outros engendrados a ele, como: (a) o de indivíduo, visto como uma entidade natural pré-formada e (b) a ideia de socialização, tida como um meio pela qual essas entidades [indivíduos] são moldadas a partir de um ideal coletivo. Seu apelo é pela utilização de um vocabulário conceitual alternativo, ancorado no conceito de socialidade. Tal conceito permitiria a expressão da maneira pela qual pessoas particulares, ao mesmo tempo, passam a existir através das relações e forjam tais relações novamente, sem relegar a pessoalidade [personhood] e as

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Fichamento sobre debate de Strathern

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Page 1: 1989 Debate - Fichamento

Introdução – Tim Ingold

Sociedade – termo central na identidade da antropologia social e, ao

mesmo tempo, o mais contestável.

Antropologia Social – produto de uma maneira específica de pensar

sobre a sociedade.

Os antropólogos se encontram em um meio social no qual sociedade

é utilizada comumente no dia-a-dia.

O conceito de sociedade é tanto uma parte da realidade que

estudamos (nós os antropólogos), quanto nossa maneira de estuda-lo.

Ao defender que o conceito de sociedade é teoricamente obsoleto,

Marilyn Strathern e Christina Toren têm em mente uma noção

específica de sociedade que tem, há tempos, dominado a

antropologia social, tida como uma totalidade delimitada ou como um

todo formado pela soma de suas partes. Sua objeção está não no

conceito de sociedade, mas em outros engendrados a ele, como: (a) o

de indivíduo, visto como uma entidade natural pré-formada e (b) a

ideia de socialização, tida como um meio pela qual essas entidades

[indivíduos] são moldadas a partir de um ideal coletivo. Seu apelo é

pela utilização de um vocabulário conceitual alternativo, ancorado no

conceito de socialidade. Tal conceito permitiria a expressão da

maneira pela qual pessoas particulares, ao mesmo tempo, passam a

existir através das relações e forjam tais relações novamente, sem

relegar a pessoalidade [personhood] e as relações [relationship] a

um domínio de abstração reificada, o que acaba acontecendo ao

utilizar o conceito de sociedade.

Enquanto Strathern aponta as desastrosas consequências da

disseminação de tais noções, Toren explana como um foco na

socialidade, não só permite tratar as crianças em estágio de

desenvolvimento como sujeitos ativos, no centro de seus mundos

sociais (e não como sujeitos passivos à margem da sociedade), mas

também dissolve a fronteira disciplinar convencional entre a

Page 2: 1989 Debate - Fichamento

antropologia social e a psicologia, permitindo que tópicos como o

desenvolvimento de crianças, uma vez reservado à psicologia, áreas

legítimas de investigação na antropologia social.

Em oposição às proponentes do debate, Peel e Spencer focam mais

na palavra sociedade do que no conceito, salientando a diversidade

de conotações que a palavra assumiu em diferentes contextos. Os

autores não negam a força da objeção dos proponentes ao uso

ortodoxo do conceito de sociedade feito pela antropologia social, sua

abordagem é, na verdade, mergulhar na história por conceitos

alternativos de sociedade, talvez, muito próximos à noção de

socialidade.

Sociedade para eles não é uma ferramenta de análise com um

significado único e preciso, mas o nome de um problema, variável no

espaço e flexivelmente definido pela co-presença, no mesmo campo

semântico, de outros termos como cultura, comunidade [community],

nação e Estado. Seu significado para estes autores não pode ser

descolado de sua ressonância política e retórica, podendo ser

utilizado tanto pelo Estado como ferramenta de dominação, quanto

por cidadãos como estratégia de resistência.

Todos os debatedores concordam em duas coisas:

1 A dicotomia durkheimiana entre indivíduo e sociedade se tornou

mais uma tendência do que um recurso na teoria social.

2 Teorizar sobre sociedade é uma atividade social que toma formas

particulares em momentos específicos da história, e toma intervém

em seu curso.

Por fim, ele aponta que por trás da preocupação com sociedade,

existe uma preocupação, menos externalizada, com a própria noção

teoria, que tem se constituído nas ciências sociais em oposição aos

dados. Assim, exterminar a dicotomia entre indivíduo e sociedade

Page 3: 1989 Debate - Fichamento

seria, assim, exterminar a dicotomia entre teoria e dados. O que nos

obrigaria a reavaliar a própria natureza da teoria antropológica.

Parte i – The Presentations

For the Motion (1)

Marilyn Strathern

O principal problema em abstrair ‘sociedade’ enquanto conceito está

nos demais conceitos a ele engendrados.

- Posições teóricas devem ser compreendidas em seu contexto

cultural. – Estamos todos vivendo o resultado desastroso de um longo

investimento cultural na ideia de ‘sociedade’ enquanto uma entidade.

O conceito de sociedade foi tratado como se ele fosse uma coisa.

Sociedade segundo Leach, não seria uma coisa, seria uma maneira

de ordenar a experiência.

Uma vez que a sociedade foi vista pela antropologia britânica como

uma coisa, ela pode ser comparada a outras coisas. As relações entre

essas coisas aparecem extrínsecas a ela. Modos secundários de

conectar as coisas.

Na época de Leach, a sociedade, vista como uma coisa por

antropólogos era compreendida em oposição a: economia, ao mundo

material, a biologia e à natureza.

Cada sociedade particular aparecia como uma manifestação

individual de sociedade em seu senso geral.

A sociedade era concebida como a soma de interações individuais ou

como uma entidade que regulava a conduta dos indivíduos.

Os humanos individuais, nesse conceito, apareciam como fenômeno

primário da vida, as relações, como fenômenos secundários.

Page 4: 1989 Debate - Fichamento

Outra dicotomia surge: aquela entre indivíduo e sociedade.

A sociedade aparece ainda como um meio fenômeno (no qual a outra

metade é tudo mais o que se pode estudar sobre a vida humana), ou

então, um fenômeno completo dividido em partes – sistemas,

instituições e conjuntos de regras. Partes aparecem como

componentes que podem, também, ser enumerados.

Essa ideia de sociedade como um todo, nos fez elaborar a ideia de

indivíduos como de alguma forma membros dessa sociedade. A

sociedade seria, assim, vista em oposição ao indivíduo que

necessitaria ser socializado. Uma das possibilidades de socialização

se dá por meio de, por exemplo, rituais.

O conceito de sociedade foi exposto como retórico, assim sendo, não

pode ser reclamado para teoria.

Indivíduo e sociedade se constituíram como um polos de um Pêndulo

sobre os quais as teorias do século 20 têm balançado.

Retomar fim do primeiro parágrafo da página 53 – é uma crítica ao

construcionismo social ou não.

O pêndulo parou virtualmente. Tendo balançado das morfologias

sociais à transação individual, das representações coletivas à

ideologias e interesses de grupos, a antropologia do fim do século

vinte se estagnou no atoleiro do construcionismo social.

Construcionismo social: um tipo de versão colapsada e implodida da

dicotomia entre sociedade-indivíduo, na medida em que os modelos

se inspiram da ideia de forças externas acabam incidindo no

indivíduo e o indivíduo impondo sua experiência pessoal contra a

sociedade.

Não precisamos do conceito de sociedade, precisamente porque não

precisamos do conceito de indivíduo em oposição a tal conceito.

Page 5: 1989 Debate - Fichamento

O primeiro passo é apreender as pessoas como simultaneamente

contendo o potencial para relações e em uma matriz de relação com

os outros.