2. avaliação psicológica

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Guia de Avaliação Psicológica Rui Manuel Carreteiro 19 Avaliação Psicológica Avaliação Psicológica é algo que é observado num curto espaço de tempo. O processo de avaliação psicológica é um processo de resolução de problemas que visa responder a uma questão que é colocada e que sintetisa o problema que é exposto. É dever do psicólogo verificar uma forma de resolução de problemas. Permite identificar as dificuldades e os problemas dos sujeitos, mas também identificar os recursos e capacidades do indivíduo. Para fazer recomendações, o psi- cólogo tem de se basear nas capacidades dos indivíduos. É um processo que depende de vários factores: - Indivíduo - Características (idade...) - Tempo disponível - Outros (personalidade do psicólogo...) Predominam duas teorias: 1. Teoria dos traços: enfatiza a avaliação isolada das características principais do indivíduo, procurando-se depois articulá-las num todo - tem validade na avalia- ção da personalidade total. 2. Teorias Dinâmicas: procuram uma caracterização total da personalidade atra- vés da resolução de problemas quotidianos; consideram o nível de desenvolvi- mento da personalidade. Privilegiam as técnicas projectivas. Estas duas orien-

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Guia de Avaliação Psicológica

Rui Manuel Carreteiro 19

Avaliação Psicológica

Avaliação Psicológica é algo que é observado num curto espaço de tempo. O

processo de avaliação psicológica é um processo de resolução de problemas que visa

responder a uma questão que é colocada e que sintetisa o problema que é exposto.

É dever do psicólogo verificar uma forma de resolução de problemas.

Permite identificar as dificuldades e os problemas dos sujeitos, mas também

identificar os recursos e capacidades do indivíduo. Para fazer recomendações, o psi-

cólogo tem de se basear nas capacidades dos indivíduos.

É um processo que depende de vários factores:

- Indivíduo

- Características (idade...)

- Tempo disponível

- Outros (personalidade do psicólogo...)

Predominam duas teorias:

1. Teoria dos traços: enfatiza a avaliação isolada das características principais do

indivíduo, procurando-se depois articulá-las num todo - tem validade na avalia-

ção da personalidade total.

2. Teorias Dinâmicas: procuram uma caracterização total da personalidade atra-

vés da resolução de problemas quotidianos; consideram o nível de desenvolvi-

mento da personalidade. Privilegiam as técnicas projectivas. Estas duas orien-

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tações complementam-se entre si e são utilizadas consoante as exigências da

situação específica de exame.

1. Organização do Processo de Avaliação

Mahoney & Ward (1976), propõem três etapas gerais:

I. Clarificação da questão subjacente ao pedido;

II. Recolha de dados;

III. Interpretação dos dados.

I. Clarificação da questão subjacente ao pedido

1. Conhecer claramente o que pretende a pessoa que faz o pedido e avaliar se

lhe pode dar resposta.

É importante saber:

... Qual é o problema

... Quem faz o pedido (motivação)

... Quais as expectativas de quem faz o pedido

2. Conhecer o conteúdo do problema

Entrevista: Procedimento habitual de iniciar o processo

Permite: ... Esclarecer o pedido

... Estabelecer relação com o cliente

... Recolher dados

II. Recolha de dados

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Que tipo de dados?

Depende do pedido feito

Como recolher?

Testes Psicológicos

Entrevista

Testes Psicológicos

Escolha dependente do caso

Análise quantitativa e qualitativa

Entrevista

Formato?

Que dados recolher?

(Fornece também a perspectiva histórica do indivíduo, enquanto os testes forne-

cem o funcionamento actual do indivíduo)

Geralmente é uma entrevista semi-estruturada.

Vantagens:

a) Permite um conjunto de observações não permitidas numa entrevista que

faça perguntas mais directas;

b) A informação obtida resume-se às observações que foram feitas...

c) A responsabilidade do discurso é em grande parte colocada nos sujeitos: é

ele que estrutura o discurso e o seu conteúdo, oq eu, só por si, é um dado muito

informativo.

A Entrevista permite recolher dados auto-biográficos e dados que permitam

conhecer o contexto do funcionamento actual do sujeito. Esta perspectiva da avalia-

ção é muitas vezes designada por Estudo de Caso

Recolha de dados no Estudo de Caso

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Podem subdividir-se em história pessoal e história familiar.

1. História Familiar: Quantos são, como se relacionam...

2. História Pessoal: 1ª Infância, Infância, adolescência e vida adulta; em cada

uma das fases avalia-se a normalidade do desenvolvimento ou a presença de sinais

que signifiquem dificuldades nesse desenvolvimento.

1ª Infância: Fala, andar, esfíncteres, relação com os pais...

Infância: Adaptação na escola (relação com os pares, dificuldades de aprendiza-

gem...), capacidades de socialização...

Adolescência: Relação com os pares, existência de amigos, relação com os

amigos do próprio sexo e do sexo oposto, comportamentos delinquentes (sinal de

alerta/não sinal de alerta...), interesses extra-escola, actividades curriculares e extra-

curriculares, isolamento relacional (sinal de alerta sempre).

Idade Adulta: Sucesso profissional, situação familiar (projectos de construção de

família/carreira...)

É importante não só a história biográfica mas também a história autobiográfica:

Saber a importância que determinados acontecimentos tiveram para o indivíduo.

III. Interpretação dos dados

1. Síntese integrativa dos dados disponíveis

Descrição compreensiva do sujeito

2. Elaboração do relatório com conclusões e recomendações

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Necessidade de clareza na expressão do relatório; linguagem acessível à pes-

soa que vai ler o relatório. Pode ser necessário mais do que um relatório consoante

os destinatários (p.ex.: pais, escola...). è de evitar a utilização de termos técnicos

(excepto se se destinar a um psiquiatra/psicólogo)

Explicitar o conteúdo do relatório e possibilitar que o cliente esclareça dúvidas

sobre o mesmo.

Regra geral o relatório fala nos dados básicos do sujeito, o pedido realizado e os

testes utilizados.

3. A Avaliação tem uma dimensão terapêutica

Não há uma dicotomia absoluta entre processos de avaliação psicológica e pro-

cessos psicoterapêuticos.

2. Processo de Avaliação

Com que testes?

Número limitado de testes que vão permitir responder a algumas questões habi-

tualmente colocadas quando é pedido um diagnóstico.

1. Qual a eficiência e o funcionamento intelectuais?

1.1. Escalas de Inteligência de Wechsler:

- WISC (6-15 anos)

- WAIS (dos 16 anos em diante)

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São habitualmente aplicadas pois proporcionam uma informação rica sobre o

funcionamento intelectual perante uma amostra ampla e diversificada de situações.

Permitem assim uma caracterização bastante completa do funcionamento intelectual

em diversas áreas que põem em jogo a inteligência e uma avaliação do nível intelec-

tual do sujeito.

1.2. Testes de Factor g:

- PM38

- PM47

- D48

- D70

Permitem obter mais um índice de eficiência intelectual, fundamentalmente das

capacidades de raciocínio lógico-abstracto face a uma situação com características

específicas e diversas da WAIS/WISC, possibilitando um confronto de resultados sus-

ceptível de contribuir para o esclarecimento do funcionamento intelectual.

São estes testes de raciocínio lógico-abstracto em que se exige ao sujeito que

compreenda a relação existente entre diferentes elementos geométricos, não figurati-

vos, para que possa concluir correctamente uma sequência inacabada.

A sua construção parte da concepção de inteligência de Spearman que postula a

existência de um factor g (factor de raciocínio geral) presente em todos os comporta-

mentos intelectuais e a existência de factores específicos em relação com as caracte-

rísticas particulares de cada tarefa.

Este tipo de testes informa-nos sobre as capacidades “base” de raciocínio de um

sujeito mas não nos permite descrever o seu funcionamento intelectual face a tarefas

e circunstâncias variadas.

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Na maioria dos casos existe uma concordância de resultados entre estes dois

tipos de testes.

PM38

Existem normas disponíveis a partir dos 8 anos, mas é preferencialmente utiliza-

do a partir dos 11 anos e com adultos de nível cultural médio. Não permite diferenciar

adequadamente as crianças jovens e os adultos com inteligência superior.

PM47

Aplicável dos 5 aos 11 anos e a adultos em que se suspeita de fraco nível inte-

lectual (nível cultural baixo). São coloridas como forma de chamar a atenção da crian-

ça. Existe um estudo normativo para crianças portuguesas dos 6 aos 11 anos.

D48

Aplica-se a partir dos 18-20 anos a sujeitos com nível cultural pré-universitário

ou universitário. Tem algumas vantagens em relação ao PM38: É mais discriminativo

em sujeitos de nível cultural superior; Elimina a possibilidade de uma resposta correc-

ta ser dada ao acaso; Aplicação individual ou colectiva em 25 mins.

D70

Aplica-se a partir dos 18-20 anos a sujeitos com nível cultural pré-universitário,

ou universitário. Foi construído a partir do D48 com o objectivo de construir uma forma

paralela mas não há um paralelismo rigoroso entre as duas formas, tendendo o D70 a

ser um pouco mais difícil. Aplicação individual ou colectiva em 25 mins.

2. Haverá deterioração mental?

A deterioração mental diz respeito a uma perda de eficiência actual do sujeito

em relação à sua eficiência anterior.

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2.1. WAIS

2.2. Teste de Retenção Visual de benton (TRV Benton)

O TRV Benton destina-se ao exame da percepção visual, da memória visual e

das aptidões grafo-perceptivas (retenção, funções de estruturação e de integração

dos dados visuais).

Teste sensível à deterioração mental e às lesões cerebrais (considerado um ins-

trumento específico na detecção de lesões orgânicas cerebrais através da análise

qualitativa do tipo de erros presentes).

3. Haverá deterioração mnésica?

3.1. Escala Clínica de Memória de Wechsler

Permite uma avaliação rápida da memória. O objectivo é o de distinguir, da

população normal, sujeitos com insuficiência na memória. Aplicada conjuntamente

com a WAIS permite calcular o valor da deterioração mnésica psicométrica.

Normas a partir dos 20 anos

4. Haverá indícios de lesão orgânica cerebral?

4.1 .TRV de Benton

4.2. WAIS: diferença entre QI (a partir de 25 pode levantar-se a hipótese)

5. Haverá uma perturbação específica da organização perceptiva?

(especialmente em crianças)

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Factor de organização preceptiva: relaciona-se com a capacidade para perceber

relações espaciais e sequenciais e a capacidade com a qual um indivíduo é capaz de

organizar manualmente elementos relacionados em todos compostos.

5.1. Teste motor de estruturação visual de L. Bender (H.H.R.): 6-14 anos

Vamos estudar uma adaptação desta prova realizada por H. Santucci e M.G.

Pecheux, habitualmente conhecida por Bender-Santucci (Prova de organização grafo-

perceptiva).

Avalia a organização grafo-perceptiva situando a criança em relação ao seu gru-

po etário no que respeita ao desenvolvimento da organização perceptiva. Permite

avaliar o desenvolvimento grafo-perceptivo e a estruturação-espacial. Útl na idade

escolar.

5.2. Teste de cópia da figura complexa de Rey

Tem duas formas: A- a partir dos 8 anos e B – dos 4 aos 7 anos. Permite avaliar

a organização perceptiva, fornecendo dados sobre a coordenação grafo-perceptiva e

sobre a estruturação espacial dos dados visuais, e a memória visual.

6. Haverá ou não uma intervenção perturbadora de características da

personalidade?

Deverá ser respondida com mais precisão nos testes de personalidade:

- TAT; CAT-a/CAT-h

- Desenho da Figura Humana

- Desenho da Família/ Família Inventada

- Era uma vez…

- Riscos e Rabiscos

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Não obstante:

- WISC: Sinais de perturbação emocional generalizada

- Análise qualitativa das respostas às escalas de Wechsler, sua integração na

história do sujeito e no seu comportamento manifesto.

7. Orientação Escolar e Profissional

Vários testes disponíveis, nomeadamente o TOP que permite analisar a compo-

nente cognitiva e afectiva relativa ás pofissões

8. Funcionamento neuropsicológico

Se se pretende uma ideia do funcionamento neuropsioclógico geral

- NEUROPSI

Outros testes poderão ter de ser aplicados para situações específicas nomea-

damente:

- PADD (Dislexia)