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........................................................................................... 7

................................ 9

.......................................................................... 11

................................................................................ 12

................................................................................................... 13

AS AVENTURAS DO JOÃO SEM VIDA .................................................. 17 O JOÃO SEM VIDA E O FANTASMAS DAS CUECAS ROTAS.................... 21 O JOÃO SEM VIDA E OS CLINTSONES ................................................. 24 O JOÃO SEM VIDA NO VATICANO ...................................................... 27 O JOÃO SEM VIDA ENCONTRA O GRANDE EURICO A. CEBOLO ........... 30 O JOÃO SEM VIDA NO EGIPTO ........................................................... 34 O JOÃO SEM VIDA NA CAPELA SISTINA.............................................. 37 O JOÃO SEM VIDA NO AUTO DA BARCA DO INFERNO ........................ 41 A REENCARNAÇÃO DO JOÃO SEM VIDA ............................................ 45 AS AVENTURAS DO NOVO JOÃO REENCARNADO .............................. 51 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O TEMÍVEL MONG .......................... 57 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O GRANDE SHAKESPEARE .............. 60 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O PADRE MARCELO ROÇA .............. 63 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O HOMEM-CATÁLOGO.................... 67 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O PRIMO DO MACACO ANDRÉ ....... 71 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O DAMBI ........................................ 74 A CRISE EXISTENCIAL DO NOVO JOÃO REENCARNADO ...................... 76 O NOVO JOÃO REENCARNADO NO PAÍS DAS MIL MARAVILHAS ........ 79 O NOVO JOÃO REENCARNADO E O GRANDE FREUD .......................... 85 O NOVO JOÃO REENCARNADO E A GRANDE ENTROPIA ..................... 91 AS AVENTURAS DO JOÃO IRREAL ...................................................... 95 O JOÃO IRREAL E OS JETSETSONS ...................................................... 99

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Pois é. Após tanto tempo de espera* eis que chega às

vossas mãos o segundo volume das aventuras do

personagem mais complexo, mais simples, mais íntegro

e mais díspare da literatura.**

Para aqueles que estão a pensar: “Mas ele não tinha

morrido no outro livro?”, então não pensem, falem. Se

não falarem eu não vos oiço. Não é que eu vos vá ouvir

mesmo, mas sempre fica melhor.

Portanto, para aqueles que estão a perguntar: “Mas

ele não tinha morrido no outro livro?”, a minha resposta

é: não é “tinha morrido”, é “morreu”. Aprendam a falar

bem.

Para além dessa pequena correcção, devo dizer-vos

que são muito cépticos se acham que é uma coisinha tão

insignificante como a morte que vai parar um

personagem destes. Só para verem, a primeira parte

desta livro é toda ela passada com o personagem morto e

depois continua até à reencarnação, até à irrealidade, até

à realidade e até ao fim. Definitivo? Não sei. Aqui não

dá para ter certezas.

Mas, por agora, vamos fazer uma pausa.

* Espero não estar enganado. É que esta página foi escrita antes

do livro estar acabado. (Primeira Nota Não-Creditada do Autor) **

Podia perfeitamente trocar o “mais” por “menos”. Não ia fazer

qualquer diferença. (Segunda e última Nota Não-Creditada do

Autor)

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Poema do pescador

O pescador acorda cedo para apanhar peixe.

Se o pescador se porta mal não há quem o deixe

Apanhar peixe fresco.

O pescador leva sempre uma rede e um cesto.

O pescador vai para o alto mar

Para o seu peixe apanhar.

O pescador tem um pequeno barco de madeira

Mas gostava de ter uma traineira.

O pescador usa um anzol

Com uma minhoca

E à noite tapa-se com um lençol.

O pescador quer ir para os mares do norte

E, apanhar uma foca.

Mas, o pescador não tem sorte.

Para que é que serviu este poema?

Para gastar tinta

Para ocupar espaço na folha

Para eu escrever

Para vocês lerem

Para nada

Destas cinco respostas, qualquer uma delas é

válida. O mesmo acontece em relação a este livro.

Ninguém é obrigado a lê-lo e gostar. Nem tão pouco são

obrigados a ler. Agora, não se admirem se estiverem com

os vossos amigos e começarem a ser postos de lado por

não saberem do que é que eles estão a falar. A culpa é e

será toda vossa.

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Não leiam isto, por favor. Está muito mal escrito e é

apenas o último recurso de alguém tem como intuito

obter dinheiro fácil à custa dos outros.

Pessoas assim deviam ser queimadas vivas,

espetadas num pau e acusadas de fraude. Exactamente

por esta ordem.

Parasitas da sociedade, é o que eles são! Andam

entre nós, tipo lobos em pele de cordeiro e assim que um

de nós se distrai… pumba! Saltam-nos para cima.

Eles não se lembram que as pessoas têm um vida

para tratar? As pessoas hoje em dia não têm tempo para

ouvir sempre a mesma lengalenga, sempre as mesmas

pessoas. Ainda por cima, a maioria desses charlatões não

tem certeza daquilo que está a falar.

Um dos onze, perdão, dez mandamentos, o primeiro

ou o segundo… (Ou seria o terceiro? Acho que é o

quarto…) Bom, não interessa. Dizia eu que um desses

mandamentos diz que não devemos enganar o

próximo… acho eu. Mas, esse mandamento (supondo

que exista mesmo) é tanto válido tanto para as pessoas

que estão próximas como para as que estão afastadas.

Enganar as pessoas é feio!

Pedia-vos agora que fizessem um minuto de silêncio

em homenagem a todos aqueles que já foram enganados.

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Minuto de silêncio em homenagem a todos

aqueles que já foram enganados.

Vêem como custou? Um minuto não chega para

tanta gente!

Por isso, se não querem fazer parte desse conjunto

de pessoas, não leiam este livro. é um aviso de Deus,

nosso Senhor.

E, por falar em Deus, já adquiriu o seu seguro pós-

vida?

Não? Então, despache-se. A apólice custa apenas

quinhentos mil euros por mês.

Entre outras vantagens, este seguro dá-lhe a

possibilidade de morrer em qualquer parte do mundo,

mesmo em território muçulmano ou hindu ou budista ou

pagão, e ter sempre a garantia de ir para o Paraíso

cristão.

Compre já!

FIM DO COMUNICADO

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Neste espaço irei enunciar os nomes das pessoas que, de

algum modo, contribuíram para a origem desta obra.

Muitos deles não os conheço, mas a sua influência foi de

grande influência. Alguns deles, fizeram uma

contribuição póstuma (no sentido em que já estão

mortos) o que torna a sua presença neste livro ainda mais

interessante.

Obrigado a:

Mim

Paulo Lameira (co-autor da primeira história do

pequeno João)

Deus

Gil Vicente Vicente

Eurico A. Cebolo

Padre Marcelo Rossi

Líderes de canais de televisão públicos e privados

William Shakespeare

Walt Disney

Irmãos Grimm

Freud

Marquês de Sade

Robert Louis Stevenson

Lewis Carroll

Não incluo o nome dos meus amigos e familiares

porque quero respeitar a privacidade deles. Aliás, para

ser honesto, não quero é que eles saibam que tiveram

qualquer coisa a ver com isto.

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Neste espaço pretendo enumerar algumas pessoas a

quem este livro é dedicado. Como são muitas, optei por

uma conversão universal separada por diversas

categorias.

Este livro é dedicado a:

todas as pessoas que leram o primeiro livro e

gostaram

todas as pessoas que lerem o segundo livro e

gostarem

todas as pessoas que lerem o primeiro e o

segundo livro e gostarem

se alguém não ler ou não gostar do primeiro ou

do segundo livro, fica excluído da página de

dedicatórias

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“Lê-se.”

Rui, jovem irreverente e sem instrução

“O elemento humano é de uma extrema

complexidade quando em ambientes hostis.”

Narrador de documentários não-emitidos

“A divisão entre o personagem e a realidade que o

envolve é parca.”

Pseudo-comentador de assuntos diversos

“Mais outro não!”

Fernando

“É o melhor livro que eu já escrevi.”

Eu

“É o melhor livro que ele já escreveu.”

Quem leu e gostou

“Neste livro, vemos as taxas de juro subindo em

flecha e… É pá! Enganei-me no livro!”

Jovem empresário licenciado em Economia

à procura do primeiro emprego

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Num belo dia de Verão o João sem vida estava

acabando de terminar sua viagem até à Zona da

Morte.1 Aí, o João sem vida chegou ao fim do túnel

e viu uma luz branca.2 Aí, o João sem vida olhou

para o sítio donde estava a luz… era duma lâmpada.

E à mais à frente estava… outra lâmpada. E à mais à

frente estava… outra lâmpada. E à mais à frente

estava… outra lâmpada. E ainda mais à frente estava

não outra lâmpada mas sim… 3

…. o Purgatório.4 Aí, o João sem vida olhou5 e

1 É difícil explicar porque é que era Verão, estando ele morto. Por

isso, não me peçam para explicar isso, está bem? (P. N. A.)

(Primeira Nota do Autor) 2 Não se pode variar muito nestes tópicos sobre a vida e a morte.

Não existem muitas teorias comprovadas cientificamente que

comprovem essas mesmas teorias. (S. N. A.) (Segunda Nota do

Autor) 3 Estou a tentar criar suspense. Se bem que é um suspense um

pouco forçado. (T. N. A.) (Terceira Nota do Autor) 4 Tanta coisa e nem sequer pus um ponto de exclamação. Não é

que o Purgatório seja um sítio muito especial, antes pelo

contrário, mas podia ter dado um bocadinho mais de ênfase. Só

um bocadinho de nada. (Q. N. A.) (Quarta Nota do Autor) 5 Se estão a pensar como é que um morto consegue andar, ver e

fazer todas as coisas que fazia quando estava vivo, não pensem

mais nisso. Alguém consegue explicar porque a gravidade não

nos puxa para cima? (Q. N. A.) (Quinta Nota do Autor)

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viu o Guardião do Purgatório - era o Purgador.

Depois de ter morrido, o João sem vida6 tinha

que ser avaliado pelos seus actos afim de determinar

se iria para o Céu ou para o Inferno. Embora, o João

sem vida já tivesse visitado tanto o Céu como o

Inferno. E até o Paraíso. E tinha sido expulso de

todos. Ou seja, uma entidade morta que não pode ir

para o Céu nem para o Inferno, nem para o Paraíso

vai para onde?

– João.

- João sem vida.

- Calado! Tu morreste há três horas! Porque é

que demoraste tanto tempo a chegar aqui?

- Perdi-me.

- Como é que te perdeste? O túnel é sempre em

frente.

- Só descobri isso depois de ter atravessado

aquela parede.7

- Qual parede?

- A parede do túnel.

- Qual delas?

- Não sei. Estava escuro.

- Então como é que sabes que era uma parede?

Podia ser o tecto, não podia?

- Podia.

- Continuando… Diz aqui no teu processo que

foste expulso do Céu, do Inferno e do Paraíso. É

6 Reparem bem que ele só recebeu o nome de João sem vida

depois de morrer. (S. N. A.) (Sexta Nota do Autor) 7 Qualquer morto que se preze é capaz de atravessar uma parede

sem ter que a partir. O que não é o caso do João sem vida. (S. N.

A.) (Sétima Nota do Autor)

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verdade?

- Acho que sim.

- E como é que isso aconteceu?

Sei lá. Sei que do Inferno fui expulso por

morder a cauda do pequeno demónio Satã. E fui

expulso do Céu porque tinha sido expulso do

Paraíso porque não tinha ajudado o grande pai Deus

a acabar com as minhocas que estavam comendo

suas maçãs premiadas.

- Ah…8

Aí, o Guardião do Purgatório levantou-se da sua

cadeira e foi pedir aconselhamentos aos espíritos

mortos.9

Depois de ter falado com os espíritos mortos o

Guardião do Purgatório disse:

- Decidi que… Ai! OK! Decidimos que irás

fazer uma viagem pela Dimensão da Negação. O

sítio para onde enviamos os mortos sem destino.

- Eu não posso ir para aí.

- Porquê?

- Porque assim eu passo a ter um destino.

- Tens razão. Então vais para a Terra. Se provares

que consegues viver na Terra, ficas lá e reencarnas.

Senão vens para aqui trabalhar como varredor.

Pessoalmente não sei o que era pior - isto até que está a

precisar duma varridela - mas, não me apetece nada ter

8 Esta expressão designa toda a compreensão que é possível

mostrar numa frase. (O. N. A.) (Oitava Nota do Autor) 9 Os espíritos mortos eram os espíritos dos mortos que tinham

morrido depois de viver. Se os mortos podem andar e falar como

se estivessem vivos, porque é que não hão-de poder morrer? (N.

N. A.) (Nona Nota do Autor)

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que te aturar.

- Tá bom!

- Agora… põe-te a andar!

Aí, o João sem vida saiu do Purgatório e voltou

ao túnel e voltou à Terra. Só não voltou à vida

porque tinha tido tanto trabalho a morrer que era

chato ressuscitar já.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava

passeando pelo planeta Terra.10 Estava um lindo dia.11

– Ei! Quer parar de dizer o que é que não me faz

diferença?

Aí, o autor parou de dizer ao João sem vida o que é

que não fazia diferença ao João sem vida.12

Obrigado.13

Pára com isso! Queres que ele desista?14

Vamos continuar então.

Aí, o João sem vida assustou-se.

– Ai! Que susto!

Ou melhor, o João sem vida assustou-se de forma

convincente.

– Ai! Que susto convincente!15

10

Falo do planeta Terra em geral porque, sendo o João sem vida

uma entidade espiritual, podia passear por onde bem lhe

apetecesse. (D. N. A.) (Décima Nota do Autor) 11

Embora isso não lhe fizesse qualquer diferença. (D. P. N. A.)

(Décima Primeira Nota do Autor) 12

Eu já parei de dizer ao João sem vidao que é que lhe faz

diferença. (D S. N. A.) (Décima Segunda Nota do Autor) 13

Embora isso nao lhe faça muita diferença. (D. T. N. A.)

(Décima Terceira Nota do Autor) 14

Não me importava nada. Tinha era que arranjar outro emprego.

(D. Q. N. A.) (Décima Quarta Nota do Autor)

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À sua frente estava o Fantasma das Cuecas Rotas.16

O Fantasma das Cuecas Rotas estava a pendurar o seu

lençol branco numa corda. Podia se perceber que era o

Fantasma das Cuecas Rotas porque via-se um par de

cuecas flutuando no ar. Ou isso, ou alguém estava

passando um trote no João sem vida.

– Ei! Quem é você?

– Sou o Fantasma das Cuecas Rotas.

– Sei… E aí?

– Não me arranjas um par de cuecas?

– O quê?

– Não me arranjas um par de cuecas?

– Hã?

– Não sabes o que são cuecas?

– Não sei. O meu autor nunca me despiu, por isso

não sei o que trago debaixo desta roupa.

Eu nunca te despi porque tenho medo do que possa

encontrar.

– Tá bom… Então, você quer um par de cuecas, né?

– É.

– E se em vez disso for agulha e linha? Aí, você

podia cozer as suas cuecas.

É coser com “s”, não é com “z”.

– Nada disso. Para cozer tem de ser mesmo com

15

Era para ter sido um susto com o Vicente, mas como eu não

conhecia ninguém chamado Vincente que estivesse disposto a

pregar um susto, teve de ser assim. (D. Q. N. A.) (Décima Quinta

Nota do Autor) 16

Estava à sua frente porque o João sem vida tinha-se virado para

o lado oposto ao qual ele estava virado quando o Fantasma das

Cuecas Rotas surgiu. (D. S. N. A.) (Décima Sexta Nota do

Autor)

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agulha e linha.

– Que grande ideia! Tens aí agulha e linha?

– Não.

– Seu idiota!

– Eu sei que foi uma grande ideia.

– Seu idiota!

– Não é preciso ficar sempre repetindo isso.

– Seu… eu… eu… eu…

– Seu quê?

Aí, o João sem vida aproximou-se um pouco mais e

viu que as cuecas rotas do Fantasma das Cuecas Rotas

estavam penduradas por um fio e no chão (ou na relva)

estava um gravador tocando.17

– Eu… eu… eu…

Aí, o João sem vida viu que o Fantasma das Cuecas

Rotas tinha desaparecido.18

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

17

A teoria confirma-se. Estavam a burlar o João sem vida. Eu já

sabia disso mas, como quiseram que eu ficasse calado, não lhes

disse nada. Agora, o que me incomoda mais no meio disto tudo é:

como é que eles sabiam o que o João sem vida ia dizer antes dele

o dizer? Será que estas histórias são assim tão previsíveis? (D. S.

N. A.) (Décima Sétima Nota do Autor) 18

Na verdade, uma vez que ele nunca chegou a ver o Fantasma

das Cuecas Rotas, o “desaparecido” neste caso é meramente

acessório. (D. O. N. A.) (Décima Oitava Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João sem vida resolveu

aproveitar as vantagens da sua forma mortal e viajar até

à Pré-História19. O seu objectivo era encontrar o seu

velho amigo Eduardo Mãos-de-Sílex.20

Aí, o João sem vida chegou à Pré-História mas, era

uma Pré-História diferente, um pouco mais avançada.

Em todas as cavernas estavam cartazes feitos de pedra:

“VOTE EM CLINTSTONE” ou “VOTE EM AL

ROCK”. Por isso, sendo as cavernas feitas de pedra, os

cartazes estavam gravados nas próprias paredes.

Aí, o João sem vida ficou muito surpreendido.

- Que lugar é este? Isso aqui mudou muito desde a

última vez.

Aí, uma multidão aproximou-se do João sem vida e

agarrou o João sem vida, ou melhor, tentou agarrá-lo

mas, como o João sem vida estava morto eles não

podiam agarrá-lo. Na verdade, eles não podiam ver o

João sem vida por isso mesmo. A multidão estava atrás

doutra pessoa, era o cara que estava no cartaz21 - o

candidato Clintstone.

19

Na sabiam que uma entidade sem vida podia viajar pelo

tempo? (D. N. N. A.) (Décima Nona Nota do Autor) 20

Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (V.

N. A.) (Vigésima Nota do Autor) 21

O que estava no cartaz era só o retracto do candidato

Clintstone, não era o próprio candidato Clintstone. (V. P. N. A.)

(Vigésima Primeira Nota do Autor)

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Aí, a multidão agarrou no candidato Clintstone e

colocou-o num saco22 e levou-o para um esconderijo

secreto que não devia ser tão secreto assim já que eles

sabiam onde é que ficava.

Aí, o João sem vida decidiu seguir a multidão. Aliás,

ele decidiu fazer isso antes da multidão ir para o

esconderijo secreto, o que lhe deu algum tempo de

avanço.

Quando chegou ao esconderijo secreto, a multidão

colocou o candidato Clintstone numa prateleira. O João

sem vida estava perguntando o que se estava passando

ali mas, ninguém lhe respondia porque ninguém o via.

- O que se está passando aqui? Ninguém me

responde? Será que ninguém me vê?

Aí, o João sem vida chegou a uma brilhante

conclusão: as pessoas que estavam no esconderijo

secreto eram todas cegas, surdas e mudas.

Aí, o João sem vida tentou agarrar no saco que tinha

o candidato Clintstone mas, como era um ser etéreo23

não conseguiu agarrar em nada.

Aí, o João sem vida saiu do esconderijo secreto e

continuou o seu passeio pela Pré-História moderna.

Quando ao candidato Clintstone, morreu sufocado e

a sua família teve que se candidatar a um subsídio de

pobreza.

22

De pedra, claro. (V. S. N. A.) (Vigésima Segunda Nota do

Autor) 23

Consegui escrever isto sem ir ver ao dicionário mas, continuo a

não ter certeza do que é. (V. T. N. A.) (Vigésima Terceira Nota do

Autor)

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NOTA: Esta história surge fora de tempo, dado que

a família Clintstone já não se encontra no centro das

atenções. Mas, não se preocupem, no próximo volume

irão ter um pequeno extra: AS AVENTURAS DO

PRESIDENTE DESTEMIDO CONTRA OS LÍDERES

DO TERRORISMO INTERNACIONAL.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava sentindo

um grande peso na sua consciência e resolveu ir ao

Vaticano confessar-se. O que era uma ideia

completamente inútil, uma vez que um ser sem vida não

tem consciência. A única consciência que eventualmente

pode ter é a de que está morto. E, mesmo que tivesse

outra consciência para além dessa, não teriam qualquer

peso, nem material e muito menos moral.

Mas, mesmo assim, o João sem vida decidiu ir até

ao Vaticano para se confessar. (Embora um ser sem vida

não tivesse poder de decisão.)24

Quando chegou ao Vaticano, o João sem vida foi

directamente até à sala de confissões. Ou quase

directamente… Antes tinha passado pela casa de banho

para ver os vitrais.

Aí, o João sem vida pegou numa cadeira e

aproximou-se do Confessionário.25 Aí, o João sem vida

sentou-se numa cadeira e disse para o padre.

- Oi, cara! Eu quero me confessar.

- Não pode estar sentado enquanto se está a

confessar.

24

Mais uma para acrescentar à desigualdade entre as classes. (V.

Q. N. A.) (Vigésima Quarta Nota do Autor) 25

Ao fazer isto, é óbvio que ele já tinha saído da casa de banho. A

não ser que o Confessionário estivesse lá. (V. Q. N. A.) (Vigésima

Quinta Nota do Autor)

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- Porque não?

- Porque não. Tem que se pôr de joelhos.

- Mas porquê? Você tá pensando que eu sou uma

secretária?26

- Tens que te pôr de joelhos, meu filho.

- Filho? Vá chamar filho a outro!

- Não posso. Não está aqui mais ninguém.

- Então vá bugiar!

- Não sejas grosseiro. Olha que Deus castiga-te.

- Esse? Esse já não me pode fazer nada. Já me

expulsou do Céu e do Paraíso. Não tenho medo nenhum

dele.

- Ainda vais para o Inferno se continuas com essas

blasfémias.

- Já fui para o Inferno e também já fui expulso de lá.

- O que é que fizeste?

- Mordi a cauda do pequeno demónio Satã.

- Pois… Ele detesta quando lhe fazem isso. E o que

é que estás a fazer aqui? Posso saber?

- Vim me confessar.

- Não. Porque é que estás aqui?

- Porque me quero confessar.

- Não é isso! És burro ou quê?

- Você não se explica.

26

Não façam caso a esta piada. Mesmo que o João sem vida

fosse uma secretária, seria uma secretária morta. A não ser que o

padre fosse um necrófago. E mesmo que o João sem vida

estivesse vivo, e fosse uma secretária viva e o padre gostasse de

transformistas ainda havia a parede do Confessionário entre o

João sem vida e o padre. (V. S. N. A) (Vigésima Sexta Nota do

Autor)

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- O que eu quero saber é porque é que estás aqui se

já estás morto?27

- Ah! Já podia ter dito que era isso. Estou aqui

porque o Guardião do Purgatório me mandou para a

Terra.

- Para fazeres o quê?

- Hã… Não sei.

- E não achas que era melhor ires-te embora?

- Mas, eu ainda não me confessei.

- Deixa estar. Eu perdoo-te desde que te vás embora.

- Tá bom.

Aí, o João sem vida foi-se embora. E, acrescento

isto, se ele tivesse uma consciência ela estaria muito

mais tranquila agora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

27

O padre havia deduzido que o João sem vida estava morto, não

por ser um representante de Deus na Terra e isso tudo mas,

porque o João sem vida, sempre lento em tudo, só agora é que se

começara a decompor. (V. S. N. A.) (Vigésima Sétima Nota do

Autor)

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava se

sentindo muito triste. Aliás, ele não se estava sentindo

triste porque estava morto e já não podia sentir nada

mas, havia qualquer coisa na sua morte que o estava

incomodando. E não era a sua lenta decomposição. Não.

Faltava qualquer coisa. Qualquer coisa que o animasse.28

Música! É isso aí! Música para o seu coração e os

ouvidos.29

Agora só faltava encontrar alguém que desse música

ao João sem vida.30 Alguém como…

- Eurico A. Cebolo!

Sim, pode ser.

- Não. Eurico A. Cebolo está à minha frente.

Está?

Olha, pois está.

Com efeito, à frente do João sem vida estava o

grande Eurico A. Cebolo.

- Tá vendo?

Mas, ele já está morto.

28

Animar aqui vem no sentido de algo que pode alegrar. (V. O. N.

A.) (Vigésima Oitava Nota do Autor) 29

Embora o seu coração esteja parado e os seus ouvidos já não

ouçam nada. (V. N. N. A.) (Vigésima Nona Nota do Autor) 30

Literalmente falando. (T. N. A.) (Trigésima Nota do Autor)

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- E daí? Eu também tou.31

Pois é.

Aí, o João sem vida aproximou-se do grande Eurico

A. Cebolo.

- Oi! Você é o grande Eurico A. Cebolo?

- Grande Eurico A. Cebolo? Sim, acho que me podes

chamar isso.

Porque é que lhe perguntaste se ele era o grande

Eurico A. Cebolo, se já sabias que ele era o grande

Eurico A. Cebolo?

- Era só para a confirmar.

Passa lá à frente, mas é!

- Mas, se eu passar à frente dele isso não é falta de

respeito?

E desde quando é que tu tens respeito por alguma

coisa?

- Mas, assim fico com menos ainda.

Então, olha, mete-te ao lado dele.

Aí, o João sem vida colocou-se ao lado do grande

Eurico A. Cebolo.

- O que você tá fazendo aqui?

- Estou a passear.

- Mas, você está morto, não está?

- De corpo, sim. Mas, a alma… essa vive para

sempre!

- Tá bom. É como você quiser.

- Eu sei.

- Mas o que eu queria saber era o que você tá

fazendo aqui na Terra.

31

Finalmente ele compreendeu que está morto. (T. P. N. A.)

(Trigésima Primeira Nota do Autor)

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- Estou à procura dum sentido para a morte.

- Ah… Deve ser sempre em frente.

- Em frente não é porque foi donde eu vim.

- Você veio foi de trás.

- Não eu vim em frente mas o frente donde eu vim

agora é trás.

- Tá bom. Oiça, você não me quer ensinar a tocar

uma música?

- Pode ser.

Aí, o grande Eurico A. Cebolo fez duas violas

aparecerem do nada.

- Legal!

Aí, o João sem vida pegou numa das violas e

começou tocando muito depressa, muito depressa, muito

depressa, muito depressa, muito depressa, muito

depressa, muito depressa, muito depressa, muito

depressa, muito depressa, muito depressa, muito

depressa, muito depressa, até que… partiu as cordas.32

- Quem é que te mandou seres bruto? Agora, ficas aí

quieto e ouves.

Aí, o grande Eurico A. Cebolo começou tocando.

Mas… a música era ruim para caramba! Seria pelo

grande Eurico A. Cebolo estar morto e já não saber tocar

bem?

Aí, o João sem vida colocou as mãos nos ouvidos e

gritou:

- Você não tem dó, não?33

32

Convém dizer que as violas, obviamente, também estavam

mortas. (T. S. N. A.) (Trigésima Segunda Nota do Autor) 33

Ele destapou os ouvidos quando estava a gritar, para confirmar

que o grande Eurico A. Cebolo o estava a ouvir. (T. T. N. A.)

(Trigésima Terceira Nota do Autor)

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- Tenho. Pões este dedo aqui e este aqui. E depois

fazes: 34 Aí, o João sem vida finalmente desistiu de ouvir o

grande Eurico A. Cebolo tocar e foi-se embora, deixando

o grande Eurico A. Cebolo tocando para o boneco. 35

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

34

O som era tão mau que nem me atrevo a descrevê-lo. Também,

mesmo que quisesse, ou melhor, mesmo que me obrigassem, não

o podia fazer. Estas folhas não funcionam com som e eu também

não sei escrever pautas. (T. Q. N. A.) (Trigésima Quarta Nota do

Autor) 35

Um boneco de borracha que alguém tinha deixado ali. (T. Q. N.

A.) (Trigésima Quinta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João sem vida gostaria de estar

num sítio verde e belejante, perdão, belo e verdejante.

Mas, em vez disso, estava num sítio arenoso36 tentando

subir uns degraus enormes.

Como sempre, o João sem vida estava numa

situação inexplicável e, mesmo que soubesse porquê,

não a poderia evitar, uma vez que já estava nela.

Lentamente, o João sem vida foi subindo os degraus.

Primeiro subiu um. Depois subiu outro. E depois…

outro. E depois… outro. E depois… outro. E depois…

outro. E depois… outro.37 Aí, quando o João sem vida

chegou ao cimo, ele teve que descer tudo de novo.38

Mas, enquanto estava a descer, o João sem vida

reparou numa entrada secreta.39

Aí, o João sem vida resolveu entrar na pirâmide.40

36

Que tem areia. (T. S. N. A.) (Trigésima Sexta Nota do Autor) 37

Para quem ainda não percebeu, ele está a subir uma pirâmide.

(T. S. N. A.) (Trigésima Sétima Nota do Autor) 38

O motivo desta descida é muito simples: não me apetecia ir ter

com ele para continuar a história. (T. O. N. A.) (Trigésima Oitava

Nota do Autor) 39

Que não devia ser assim tão secreta já que ele a viu. (T. N. N.

A) (Trigésima Nona Nota do Autor) 40

Se ele queria entrar na pirâmide podia muito bem atravessar a

parede. Não era preciso nenhuma entrada secreta. (Q. N. A.)

(Quadragésima Nota do Autor)

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NOTA: O texto que se segue é a transcrição do

relato da viagem do João sem vida no interior da

pirâmide feita a mim pelo João sem vida.

NOTA 2: O que ele fez foi a viagem, não a pirâmide.

Quando entrou na pirâmide, o João sem vida

caminhou por um corredor escuro em busca de luz. Aí, o

João sem vida chegou numa sala muito grande iluminada

por quatro archotes. (Um em cada parede.) No centro da

sala estava uma tumba. O João sem vida estava se

sentindo mal.

- O que estou fazendo aqui?

Aí, o João sem vida ouviu uma voz vindo da tumba.

- Está aí alguém?

- Quem falou?

- Está aí alguém?

- Se eu estou falando, é porque estou aqui, né?

- Ajuda-me a sair daqui.

- Porquê?

- Porque eu estou-te a mandar!

- Tá bom.

Aí, o João sem vida abriu a tumba41 e saiu de lá de

dentro uma múmia – a múmia do Faraó Flipzés I.

- Obrigado.

- O que você estava fazendo aí?

- Estou sepultado.

41

Ele conseguiu abrir a tumba porque a pedra estava morta.

Depois de tantos milénios ali presas era natural que as pedras não

estivessem vivas. (Q. P. N. A.) (Quadragésima Primeira Nota do

Autor)

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- E você não se cansa disso?

- Não. É chato é pela sujidade. A mulher da limpeza

só vem cá uma vez por século.

- Pois.

- Importas-te de me ajudar a trocar as ligaduras?

- O que é que eu tenho que fazer?

- É só ajudar-me a trocar as ligaduras.

- Como?

- Agarras aqui nesta ponta e puxas.

Aí, o João sem vida agarrou na ponta e puxou.

- Tem cuidado para não espirrares.

- Atchim!

Esqueçam lá isso…

- Ei! Cê tá me ouvindo?

Aí, como o Faraó Flipzés I não respondeu, o João

sem vida resolveu ir-se embora dali e sair da pirâmide e

ir ter comigo à esplanada da cidade mais próxima.42

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

42

Pensavam que eu estava à espera dele ao sol? Cancro da pele.

Diz-vos alguma coisa? (Q. S. N. A.) (Quadragésima Segunda

Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava

visitando a Itália de há muitos séculos atrás quando um

impulso irresistível o atraiu uma modesta capela. Um

impulso na forma de um íman gigante.

Aí, o João sem vida ficou preso no íman gigante,

juntamente com muitas outras almas. O cheiro deveria

ser insuportável se os espíritos deitassem cheiro43, o que

não acontecia.

Felizmente, alguém desligou a tomada do íman

gigante ou fez qualquer coisa assim do género tipo isso.

O que é certo é que o íman gigante deixou de funcionar e

o João sem vida e as outras almas mais desprevenidas

caíram no chão; as mais sábias flutuaram para fora da

capela. Saíram todos da capela, ou quase todos, o João

sem vida foi o único que ficou para observar melhor

aquele lugar.

O João sem vida começou caminhando pela capela.

Fazia-lhe lembrar aquele igrejinha do Vaticano mas, não

tinha nada a ver. O tecto era muito esquisito – tinha

umas pinturas mal acabadas e um cara em um andaime

pintando o tecto.

43

Passada a fase da decomposição corporal, o João sem vida

entrava agora na fase da decomposição espiritual. (Q. T. N. A.)

(Quadragésima Terceira Nota do Autor)

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Aí, o João sem vida gritou:44

- Ei! Que é que você está fazendo aí?

Aí, o cara que estava pintando o tecto da capela

desequilibrou-se e caiu. Caiu mas, não morreu. Ficou a

olhar para o João sem vida por alguns momentos e

depois disse:

- Meu Deus!

- Não sou eu, não. Esse aí que você tá falando é um

velho de barbas.

- Ai que desgraça! Agora quem é que vai pintar o

tecto?

- Ora… você.

- Eu? Com uma perna partida?

- E daí? É a perna que tá partida, não é o braço.

- Tu é que me assustaste! Foi por tua causa que caí!

Aguentem aí um bocadinho.

BREVE INTERLÚDIO

Na qualidade de autor do João sem vida45 decidi dar-

lhe a capacidade de falar com qualquer personagem seja

ela histórica ou criada por mim (excepções feitas ao

rapaz do quisto, ao pequeno rapaz hispânico-masoquista

e outros que não me atrevo a mencionar só para não vos

lembrar que fui eu que os criei.

Podem continuar.

44

Gritou porque, como já não tinha cordas vocais, tinha medo

que não o ouvissem. (Q. Q. N. A.) (Quadragésima Quarta Nota

do Autor) 45

Até certo ponto… (Q. Q. N. A.) (Quadragésima Quinta Nota

do Autor)

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- Tá bom, eu pinto. Mas, você tem que me dizer

como é que é.

Aí, o grande pintor Michelangelo46 tirou um papel

do bolso.

- Faz como está aqui.

Aí, o João sem vida olhou para o papel e disse:

- Isso é muito difícil. Posso fazer outra coisa?

- Hum… podes. Mas vê lá o que é que fazes.

Aí, o João sem vida subiu no andaime e pegou no

pincel e no balde de tinta e começou pintando o tecto da

capela.

Começou por pintar uma bola branca, depois um

triângulo branco, depois um quadrado, depois um

rectângulo, depois um hexágono, depois um pentágono,

depois um octógono, depois um trapézio e depois um

casal de trapezistas.47

Aí, o grande pintor Michelangelo gritou:48

- Desce já daí! Pára com isso!

- Mas, para eu descer, tenho que parar primeiro.

- Não me respondas! Desce daí e vai-te embora!

Aí, o João sem vida desceu do andaime.

- Olhem só para isto! Agora vou ter que dar duas de

46

Eles aproveitaram o interlúdio para se apresentarem. (Q. S. N.

A.) (Quadragésima Sexta Nota do Autor) 47

Tanto o quadrado, como o rectângulo, como o hexágono, como

o pentágono, como o octógono, como o trapézio, como o casal de

trapezistas eram brancos. Não me apeteceu estar sempre a

escrever a mesma coisa. (Q. S. N. A.) (Quadragésima Sétima

Nota do Autor) 48

Não por ter medo que o João sem vida não o ouvisse mas por

estar zangado. (Q. O. N. A.) (Quadragésima Oitava Nota do

Autor)

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mão. Tanto trabalho para nada. Vai-te já embora!

Aí, o João sem vida saiu da capela e foi-se embora.

Entretanto o grande pintor Michelangelo ficou à

espera que a sua perna ficasse curada e depois foi acabar

de pintar o tecto.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava

passeando por um lugar inospitamente estranho. Era um

sítio quente e escuro mas, o João sem vida estava

reconhecendo aquele sítio. Fora por ali que ele tinha

vindo quando tinha vindo ali pela primeira vez. Era o

caminho para o inferno do pequeno demónio Satã!

E à frente do João sem vida estava algo que ele

nunca tinha reparado antes: um stand de barcos e

automóveis49 do inferno. Aí, o João sem vida decidiu ir

pedir um barco para atravessar o rio dos mortos e dar um

olá para seu velho chapa, o pequeno demónio Satã.

Aí, o João sem vida chegou junto do dono do stand e

disse50:

- Oi! Importa-se de me emprestar um desses barcos

aí?

- Não.

- Então, vou escolher.

- Não é “Não, não me importo.” É “Não, não

empresto.”

49

É claro que ele já tinha visto um stand de automóveis antes. A

novidade era haver um ali. (Q. N. N. A.) (Quadragésima Nona

Nota do Autor) 50

Na verdade, a pessoa que estava lá era um simples empregado.

O dono tinha ido para as Caraíbas mas, isso não interessa nada

para a história. (Q. N. A.) (Quinquagésima Nota do Autor)

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- Porquê não?

- Porque os barcos são para alugar.

- Eu não quero alugar. Só quero levar emprestado.

- Não podes. Se queres atravessar o rio tens que ir

naquela barca.

- Aquela barca?

- Sim, a… Barca do Inferno!

Música tenebrosa.51

INÍCIO DUMA PAUSA NARRATIVA

Nunca gosto de fazer isto, mas sinto-me no dever de

vos esclarecer sobre um assunto: esta história era para

ser focalizada, inicialmente, no stand de barcos e

automóveis do inferno mas, acabei por mudar de ideias.

Acho que para melhor.

FIM DUMA PAUSA NARRATIVA

Aí, o João sem vida subiu a bordo daquela barca que

ia para o inferno. Era uma barca pequena.52

Aí, o João sem vida olhou para os outros

passageiros: um empresário53, o seu empregado54, um

51

De meter medo. Não confundir com músicas de discoteca que,

apesar de meterem medo, não se enquadram no espírito desta

história. Até certo ponto… (Q. P. N. A.) (Quinquagésima

Primeira Nota do Autor) 52

Era o mínimo que se podia dizer. (Q. S. N. A.)

(Quinquagésima Segunda Nota do Autor) 53

Condenado por enganar toda a gente. (Q. T. N. A.)

(Quinquagésima Terceira Nota do Autor)

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anjo55, um cara com disfunções mentais56, um

sapateiro57, um padre58, uma mulher da praça59, um

judeu60, um Juiz e um advogado61, um homem sem

cabeça62 e quatro cantores de rap63.

Aí, os quatro cantores de rap começaram cantando e

todo mundo começou discutindo e falando frases sem

sentido.

Aí, o João sem vida disse:

- Esta barca é pequena demais para nós todos!

Aí, o capitão da barca, um sujeito alcoólico e

54

Condenado por ser enganado por toda a gente. (Q. Q. N. A.)

(Quinquagésima Quarta Nota do Autor) 55

Desconheço se este anjo fazia parte de algum ajuntamento

musical. (Q. Q. N. A.) (Quinquagésima Quinta Nota do Autor) 56

Condenado por falta de espaço no Céu. (Q. S. N. A.)

(Quinquagésima Sexta Nota do Autor) 57

Talvez tenha sido condenado ao inferno por usar couro de

segunda categoria. (Q. S. N. A.) (Quinquagésima Sétima Nota

do Autor) 58

Condenado por heresia e pedofilia. (Q. O. N. A.)

(Quinquagésima Oitava Nota do Autor) 59

Condenada por vender peixe podre. (Q. N. N. A.)

(Quinquagésima Nona Nota do Autor) 60

Condenado por fazer circuncisões mal feitas. (S. N. A.)

(Sexagésima Nota Do Autor) 61

Condenados por razões óbvias. (S. P. N. A.) (Sexagésima

Primeira Nota do Autor) 62

Era para ser um homem enforcado mas, com a decomposição

do corpo, a sua cabeça caiu. (S. S. N. A.) (Sexagésima Segunda

Nota do Autor) 63

Dignos representantes da nova mensagem espiritual. (S. T. N.

A.) (Sexagésima Terceira Nota do Autor)

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enganado pela mulher64 disse:

- Tens razão.

Aí, o capitão da barca lançou o João sem vida pela

borda fora.

A barca continuou o seu caminho até chegar ao mar

de lava onde ardeu por completo.

Quanto ao João sem vida, desistiu de ir ter com o

pequeno demónio Satã porque, entretanto, se lembrara

que não gostava dele, e foi-se embora.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

64

Portanto, era vermelho, tinha cornos e um grande rabo. (S. Q.

N. A.) (Sexagésima Quarta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João sem vida estava sentindo

um formigueiro mental. Quase como se um bando de

formigas estivesse passeando dentro de sua cabeça. Mas,

não era bem isso que estava acontecendo. O formigueiro

estava agora em todo o seu corpo. Alguma coisa estava

prestes a acontecer. O João sem vida conseguia sentir

isso.65

Aí, sem mais nem menos, mas com um sinal de

vezes e outro de dividir na cabeça, surgiu a imagem do

Guarda do Purgatório.66

– João!

– Já disse pra você que é João sem vida! Ainda não

aprendeu direito, não?

– Cala-te! Os meus pais não podiam pagar a

faculdade. Tenho estado a observar-te.

Não deve ter mais nada que fazer.

– E?

– E tal como te tinha dito, caso ficasses apto,

65

Logicamente, ele não sentia pois o seu sistema nervoso já

estava morto. Quanto à tal sensação de formigueiro, é apenas um

pequeno adiantar de acontecimentos que irão surgir brevemente.

(S. Q. N. A.) (Sexagésima Quinta Nota do Autor) 66

Na verdade, a imagem surgiu apenas ali. Era para ter surgido

em todo o lado por causa do efeito cénico, mas depois pensei que

as outras pessoas não iam ter qualquer interesse em ver o

Guardião do Purgatório. (S. S. N. A.) (Sexagésima Sexta Nota do

Autor)

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poderias regressar à vida na Terra.

– Sei.

– Bom, a verdade é que não passaste no teste.

– Tive negativa?

– Sim.

– Quanto é que tive?

– Não faço ideia… Não conseguimos descobrir que

número é aquele. Mas, é também verdade que não podes

vir para aqui porque nós não queremos. Os meus

superiores julgam que a tua presença na Terra pode levar

muita gente a cometer suicídio, homicídio, talvez, quem

sabe, genocídio, e isso poderia ajudar a combater o

aumento da densidade populacional que tanto ameaça a

vida deste planeta.

– Cê tá querendo dizer que eu vou ficar aqui?

– Eu não estou a querer dizer nada. Eu estou mesmo

a dizer.

– Sabe, é que eu tenho estado sentindo aqui um

formigueiro e…

– É o teu corpo que está a voltar à vida.

– Então não vou ter um corpo novo?

– Pensas que isto aqui é o quê? Algum stand de

corpos? Levas esse e já vais com sorte.

Aí, o Guardião do Purgatório desapareceu do céu.

Aí, o João sem vida começou sentindo o formigueiro

aumentando. O seu corpo transparente estava começando

a ficar sólido.67 O sangue estava de novo fluindo em suas

veias. Conseguia mexer seu corpo e fazer tudo o que

fazia antes de ter morrido. O João sem vida havia

67

Sólido e visível. (S. S. N. A.) (Sexagésima Sétima Nota do

Autor)

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reencarnado!68

– Agora que já reencarnei que tal um nome novo?

Estás muito calmo. O que é que se passa?

– Nada. Já me acostumei a estas mudanças.

Então, a partir de agora, serás o novo João

reencarnado.

Aí, o novo João reencarnado colocou as mãos nos

bolsos e foi dar um passeio.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

68

Já perceberam que o corpo é o mesmo, não já? Por isso, para

mim, essa história da reencarnação é mas é uma grande treta. (S.

O. N. A.) (Sexagésima Oitava Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando pela rua, sentindo uma alegria imensamente

imensa. Ele estava vivo de novo!69 Ele tinha regressado

para que suas velhas glórias pudessem ser de novo

relembradas.

E, para provar isso, nada melhor que enviar o novo

João reencarnado para um canal de reposições para que o

próprio público se possa deliciar com o seu passado

glorioso.70

– O que é que você está querendo dizer?

Estou a querer dizer que vamos para a televisão.

– Então diga!

Vamos para a televisão.71

Assim, o novo João reencarnado caminhou por entre

corredores cheios de programas que outrora foram

grandes sucessos junto do público e que agora estavam

condenados a viver uma existência forçada junto de

69

É uma nota um pouco inútil esta. Mesmo morto ele fazia tudo

como se estivesse vivo. Redundante, não acham? (S. N. N. A.)

(Sexagésima Nona Nota do Autor) 70

É o passado do novo João reencarnado e não o passado do

público. (S. N. A.) (Septagésima Nota do Autor) 71

Não estou nada confiante em relação a isto. (S. P. N. A.)

(Septagésima Primeira Nota do Autor)

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audiências fantasmas.72

Aí, o novo João reencarnado chegou junto do

Revivador, o cara que pegava em objectos de

entretenimento lúdico que tiveram um sucesso

considerável junto do público em eras remotas e

conseguia reavivá-los de tal modo que eles eram

apresentado como sendo algo completamente novo.

Estou a empatar um pouco, não estou?

Aí, o novo João reencarnado chegou junto do

Revivador e disse:

Esperem. Primeiro tenho que estabelecer um plano

de aproximação.

Narrativa oculta.73

Já sei.

Aí, o novo João reencarnado disse:74

– Oi. Cê não quer colocar minhas histórias aí, não?

– Não! Quem és tu?

– Sou o novo João reencarnado.

– O que é queres daqui?

– Quero que transforme minhas histórias em

72

No máximo, está poético. No mínimo, é tudo mentira. (S. S. N.

A.) (Septagésima Segunda Nota do Autor) 73

Isto significa que mesmo que eu tivesse escrito alguma coisa,

vocês não poderiam ler. Isto é bastante prático, porque poupa-me

o trabalho de escrever. (S. T. N. A.) (Septagésima Terceira Nota

do Autor) 74

Mesmo sabendo que é um plano de aproximação, não nos

podemos esquecer que o novo João reencarnado já estava

próximo do Revivador. (S. Q. N. A.) (Septagésima Quarta Nota

do Autor)

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objectos de cultivo.

Não é “cultivo”, é “culto”

– Para você também.

– O quê?

– Não é com você.

– Bom, conta-me lá algumas dessas histórias.

– Bom, teve uma vez em que eu caí de um abismo e

fui salvo três vezes durante a queda e depois caí. Teve

outra vez que eu ajudei o Pai Natal e…

– Pára! Pára! Que histórias são essas de cair dum

abismo e ajudar o Pai Natal? Tanto quanto sei o Pai

Natal não existe e quando alguém cai dum abismo

geralmente costuma morrer.75 A não ser que esteja a ser

filmado.76

Aí, o novo João reencarnado contra-argumentou:

– É verdade que quando alguém cai de um abismo,

morre. Mas, eu não sou qualquer, eu sou o novo João

reencarnado.

– E o que é que eu tenho a ver com isso?

– Hã… que eu saiba, nada. O que eu quero dizer é

que eu não morro facilmente. Só morro se quiser.

– Gostava de ver isso.

É melhor não te pores com experiências.

– Fique tranquilo. Ele não vai fazer nada.

75

Isto do “costuma morrer” aplica-se apenas uma vez por pessoa,

dado que, uma vez morto, pode-se saltar do abismo quantas vezes

se quiser sem que haja qualquer perigo de morrer. (S. Q. N. A.)

(Septagésima Quinta Nota do Autor) 76

É uma piada pessoal. Só uma pessoa é que a percebe… eu. De

qualquer modo, decidi colocá-la na mesma. Pode ser que alguém

a perceba. Alguém que não seja eu, entenda-se. (S. S. N. A.)

(Septagésima Sexta Nota do Autor)

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– Não vou? Aí é que tu te enganas!

Aí, o Revivador deu um tiro no novo João

reencarnado mas não aconteceu nada. Aliás, não

aconteceu nada do que era esperado.

Como o novo João reencarnado era lento, o seu

corpo ainda não estava totalmente ressuscitado e a bala

atravessou um bocado de espírito que ainda estava a

descoberto.

– Tá vendo? Ainda estou vivo. Agora… Vai passar

minhas histórias para aí ou não?

– Sabes… O problema é que as tuas histórias não

têm grande interesse temporal.

– Interesse temporal?

– Sim.

– É que eu já viajei através do tempo várias vezes.

Se for esse o problema–

– Não é nada disso. As tuas histórias são muito giras

e eu gosto muito delas. O problema é que as histórias são

escolhidas segundo as audiências que tiveram enquanto

eram exibidas num canal principal.

– Não compreendo.

– O que eu quero dizer é que as pessoas que

escolheram as séries a serem reavivadas são muitas

vezes demasiado broncas para perceber quando é que

uma coisa tem qualidade.77 E mesmo que gostassem das

tuas histórias, elas só poderiam ser reavivadas se já

tivessem existido antes num canal principal e, para isso

acontecer, as pessoas teriam que gostar das tuas histórias

77

Não quero dizer com isto que estas histórias têm qualidade.

Quer dizer, hão-de ter qualquer coisa, mas eu ainda não consegui

descobrir o que é. (S. S. N. A.) (Septagésima Sétima Nota do

Autor)

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sem as ver.

– Fiquei na mesma.

Eu também.

– Eu também.78

Eu acho é melhor passarmos à realidade.79

Aí, a história regressou à realidade.80

– … por isso, só daqui a muitos anos é que as tuas

histórias poderão ser reavivadas e já que se tratam de

livros, isso será feito através de segundas, terceiras e

quartas edições. Até lá, podes esperar.

– Sentado?

– Sim. Desde que não esperes aqui.

– Posso esperar lá fora?

– Podes.

Aí, o novo João reencarnado foi esperar na sala de

esperas até que fosse chegada a hora de reavivar suas

histórias.

Uma hora depois…

Aí, um cara se chegou junto do novo João

reencarnado e disse:

– Vai fechar.

– Hã?

– Vai fechar.

– Vou fechar o quê?

– Tu não vais fechar nada, eu é que vou fechar isto.

78

É melhor explicar de novo. Acho que ninguém percebeu. (S. O.

N. A.) (Septagésima Oitava Nota do Autor) 79

Óptima ideia. (S. N. N. A.) (Septagésima Nona do Autor) 80

Tanto quanto possível. (O. N. A.) (Octogésima Nota do Autor)

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– Ah… Faliu, foi?

– Não. Ainda não.

– Eu estou esperando que o Revivador me chame.

– Quem?

– O Revivador. Um cara que está ali dentro daquele

escritório.

Aí, o novo João reencarnado apontou para a porta do

gabinete do Revivador.

– Ali? Ali é o armário das vassouras.

– Não é não.

Aí, o cara abriu a porta e o novo João reencarnado

viu duas vassouras. E o cara também as viu.

– Vês? Agora, se não for pedir muito, põe-te a andar.

Aí, o novo João reencarnado foi-se embora.

Quanto ao personagem do Revivador foi

considerado desinteressante pelo público autorial… (eu)

e foi condenado a ver a sua vil e apagada existência

reduzida ao máximo da sua nulidade.81

E assim termina a história de um homem como

tantos outros, um homem que viu a sua vida arrastada

para os meandros mais recônditos e obscuros da… Zona

do Crepúsculo.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

81

Esqueci-me do que ia pôr aqui. (O. P. N. A.) (Octogésima

Primeira Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando quando de repente sentiu um tremor. E não

era ele que estava tremendo – era o chão82. O chão

estava tremendo por todo o lado. O céu estava vermelho

e estava chovendo fogo. Era um verdadeiro inferno!

Aí, uma nave surgiu do céu e apanhou o novo João

reencarnado com um gancho.

O novo João reencarnado foi parar dentro da nave.

Era uma nave como qualquer outra: uma decoração

italiana estilo século XVI com influências barrocas mas

estava muito desarrumada. Havia muita coisa espalhada

pelo chão. Era um caos total! Quem seria a mente insana

responsável por tudo aquilo? Aí, uma porta abriu-se e o

responsável por tudo aquele caos surgiu – o temível

Mong.

Aí, o novo João reencarnado começou rindo da cara

do temível Mong.83

– Pára! Ninguém se ri assim do temível… Mong!

– Quem?

– O temível… Mong!

82

Aliás, como ele estava em cima do chão que tremia, era natural

que ele tremesse também. (O. S. N. A.) (Octogésima Segunda

Nota do Autor) 83

Se vocês o vissem também se riam. Acreditem… (O. T. N. A.)

(Octogésima Terceira Nota do Autor)

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– Que som é esse?

– Som? Que som?

– Você não tá ouvindo?

– Não.

– Diga lá seu nome outra vez.

– Temível… Mong.

– Agora já ouviu?

– Espera um pouco.

Aí, o temível Mong carregou duas vezes num botão

e dois guardas vindos do nada caíram no chão e ficaram

carbonizados instantaneamente.84

– Quem são esses?

– São, eram a minha guarda pessoal. Agora têm,

tinham a mania que são, eram músicos. Já não os podia

ouvir!

– Porque não? Cê tava surdo?

– Hoje de manhã, sim. Fui assistir a um

bombardeamento em Tetretia ontem à noite. Aquela

barulheira toda deixou-me surdo.

– Mas agora já ouve não já?

– Já.

– E quando é que eles começaram tocando?

– Foi assim que tu apareceste.

– Cê tá querendo dizer que a culpa disso foi minha? – Estou. Porquê. Tens problemas?

– Tenho, mas você não tem nada que ver com isso.85

84

O mais certo é terem caído do tecto. (O. Q. N. A.) (Octogésima

Quarta Nota do Autor) 85

Tendo dois intervenientes tão dotados como o novo João

reencarnado e o temível Mong, esta conversa até que está a ter

um certo nível. (O. Q. N. A.) (Octogésima Quinta Nota do

Autor)

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– Não fales assim comigo!

– Então falo como?

– Sobes para cima daquele degrau, depois

equilibras-te na perna esquerda, levantas o braço direito

e inclinas a cabeça para trás num ângulo de…

– Eu vou é embora daqui!

– Ai sim? E como é que vais fazer isso?

– Não sei. Mas…

– Mas o quê?

– Mas, nada.

– Ah!

– Ah! Já sei! Mas, se você conseguiu me trazer até

aqui também me pode enviar de novo para donde eu

vim.

Aí, o novo João reencarnado começou carregando

em tudo o que era botão. E então… aconteceu: os

desastres na Terra pararam86, o novo João reencarnado

regressou de volta à Terra e a nave do temível Mong

explodiu.

Aí, uma vez de novo na Terra, o novo João

reencarnado foi dar um bem merecido passeio.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

86

Desastres como chuvas de fogo e terramotos artificiais. Os de

viação continuaram. (O. S. N. A.) (Octagésima Sexta Nota do

Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando por um sítio que não visitava há muito tempo.

Era um sítio nebuloso onde o novo João reencarnado

encontrara pela primeira e última vez o velho empirista

de ângulo sexo-sónico. A única diferença é que o novo

João reencarnado na altura era conhecido por pequeno

grande João.87

Hoje estava menos nevoeiro mas, o sítio também

estava diferente. Era o mesmo sítio mas, havia ali

qualquer coisa de estranho. As luzes não podiam ser

porque não se via luz nenhuma.

Aí, o novo João reencarnado quase que ia sendo

atropelado por uma carroça. E, então, o novo João

reencarnado percebeu o que tinha acontecido: (ou

melhor, eu percebi e fiz de conta que ele também tinha

percebido) aquela névoa transportara o novo João

reencarnado através dos tempos para uma época

desconhecida.

Aí, o novo João reencarnado decidiu ir dar uma

passeio para ficar a conhecer melhor aquele sítio igual

mas, diferente ao que ele tinha conhecido antes e que

87

Ver O PEQUENO GRANDE JOÃO E OS EMPIRISTAS DE

ÂNGULO SEXO-SÓNICO in A SAGA DO PEQUENO JOÃO I

(O. S. N. A.) (Octagésima Sétima Nota do Autor)

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agora estava igual mas, diferente em relação àquele sítio

onde ele estava agora.

Aí, o novo João reencarnado chegou numa casa

muito estranha. Além de ser a única casa naquela rua, era

transparente.88 Aí, o novo João reencarnado viu um cara

sentado numa secretária escrevend. Aí, o cara levantou-

se, a secretária parou de escrever e escondeu-se atrás

duma árvore.89

Aí, o outro cara gritou:

– Raios e coriscos! Assim não dá! Esta gaja não me

inspira nem um bocadinho!

Aí, o novo João reencarnado decidiu ir ajudar aquele

cara zangado, que não era nem mais nem menos, mas o

próprio… Shakespeare, o grande William Shakespeare!

- Porque é que eu tenho de ir?

Porque sim.

– Mas porquê? Eu não conheço esse cara de lado

nenhum.

E desde quando é que isso te faz diferença?

– Desde agora. Vai lá ter com ele.

Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do

grande Shakespeare e disse:

– Oi. Eu venho… ajudar você.

– Vens me ajudar, é?

– Você é surdo? Foi o que eu falei, não foi?

88

Podemos concluir duas coisas: uma, ele já tinha saído da casa e

estava agora no campo; duas, a casa tinha janelas grandes. (O. O.

N. A.) (Octagésima Oitava Nota do Autor) 89

Das duas, três: ou a árvore estava dentro de casa ou a porta

estava aberta ou não havia nenhuma casa. (O. N. N. A.)

(Octogésima Nona Nota do Autor)

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– Sim, tu disseste que eu era surdo, mas…

– Eu não disse que você era surdo, eu disse que você

é surdo.

– Mas, não sou.

– Já podia ter dito. E aí, o que é que você quer que

eu faça?

– Eu preciso que alguém me inspire. Inspira-me se

conseguires.

Aí, o novo João reencarnado tentou inspirar o

grande Shakespeare. Primeiro pela narina esquerda. Não

conseguiu. Depois pela narina direita. Também nada. Aí,

o novo João reencarnado tentou inspirar o grande

Shakespeare pela boca90 mas, também não conseguiu.

Desiludido mas, ao mesmo tempo, satisfeito por

dado o seu melhor, o novo João reencarnado foi-se

embora à procura de uma saída de volta para a sua

época.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

90

O que deve ser muito incómodo porque já se sabe que a boca

não tem filtros para filtrar as impurezas do ar. (N. N. N. A.)

(Nonagésima Nona Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando em frente a uma igreja quando ouviu alguém

cantando. Pior ainda, era alguém cantando mal, mas mal

mesmo.

Aí, o novo João reencarnado entrou na igreja e ficou

surpreso com o que viu. A igreja por dentro era um

armazém e em cima dum monte de caixotes estava um

cara de branco cantando. E mais estranho ainda era o

facto de estarem dentro dessa igreja-armazém pessoas

ouvindo esse cara de branco cantando. E mais estranho

ainda era o facto dessas pessoas que estavam dentro da

igreja-armazém ouvindo o cara de branco que estava

cantando estarem gostando de ouvir o cara de branco

cantando!

Aí, o cara de branco começou cantando uma música

diferente e aí as pessoas começaram indo embora.

Aí, o cara de branco se pôs de joelhos e começou

rezando no seu telemóvel de último modelo:

– Perdoa-lhes, Senhor. Eles não sabem o que fazem.

E do outro lado ouviu-se uma voz profunda,

tenebrosa e grave91:

– Mas é melhor que aprendam. Ando a gastar muito

dinheiro contigo.

91

Grave no sentido de não ser aguda. (N. P. N. A.) (Nonagésima

Primeira Nota do Autor)

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Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do

“palco” e disse para o cara de branco.

– Oi.

– Quem está aí? Ah! Olá. Vejo que ficou aqui.

Gostou da música, foi? Já tem um lugar garantido no

Céu.

– Não gostei de sua música, não. Ela é muito ruim!

E já estive no Céu e não gostei.

– Quem é você?

– Sou o novo João reencarnado.

– João da parte da mãe e reencarnado da parte do

pai?

– Deve ser. Não sei.

– Muito prazer. Eu sou o padre Marcelo Roça.

– Marcelo da parte da mãe e Roça da parte do pai?

– Ao contrário.

– Eu não consigo dizer isso tudo ao contrário!

– Tente.

– Iap od etrap ad açoR e eãm ad etrap ad olecraM?92

- Não era isso que eu queria dizer.

– Ah! Pai do parte da Roça e mãe da parte da

Marcelo?

– Não!

– Roça da parte do pai e Marcelo da parte da mãe?

– Não…

– Roça da parte da mãe e Marcelo da parte do pai? – Sim.

– Já podia ter dito antes, né? Não era preciso ficar

perdendo esse tempo todo.

Aí, o novo João reencarnado perguntou:

92

Notem que fui eu que escrevi isto ao contrário. (N. S. N. A.)

(Nonagésima Segunda Nota do Autor)

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– Porque é que aqueles caras foram embora?

– Acho que eles não gostam da minha música.

– Você quer que eu o ajude a fazer uma música

nova?

– Pode ser. Como é que você acha melhor?

Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e uma

música começou.

Aí, o novo João reencarnado perguntou:

– Ei! Como é que você fez isso?

– Shiu…

Aí, o novo João reencarnado se calou e o padre

Marcelo Roça começou cantando.

Ó meu Deus, ó Deus meu!

Aleluia, irmãos e irmãs!

Ele é o Senhor do Céu

Que abençoa nossas manhãs!

Coro:

Ele é o Salvador!

Ele é o Salvador

Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e a música

parou.

– Gostou?

– Hum… não. Tente outra coisa.

Aí, o padre Marcelo Roça bateu palmas e outra

música começou. Era a mesma música só que dessa vez

estava mais rápida.

Ó Deus meu, ó meu Deus!

Vós que abençoais nossas manhãs!

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Vós sois o Senhor dos Céus!

Aleluia, irmãos e irmãs!

Coro:

Ele é o Redentor!

Ele é o Redentor!

Aí, a música parou. Mas, desta vez, foi o novo João

reencarnado quem bateu palmas.

– Acho que você devia desistir de cantar e dedicar-se

à pesca.

– Acha que eu canto assim tão mal?

– Pior.

– Óptimo! Vou aceitar seu conselho.

Aí, o novo João reencarnado foi-se embora daquela

igreja-armazém e continuou seu caminho.93

Quanto ao padre Marcelo Roça, dedicou-se à pesca e

terminou seus dias pescando bacalhau nos mares do

norte.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

93

Isto de continuar o seu caminho não quer dizer que ele andava

a fazer uma estrada. (N. T. N. A.) (Nonagésima Terceira Nota do

Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando pelas ruas de uma cidadezinha quando sentiu

um cheiro muito ruim. Um cheiro parecido com aquele

que ele tinha quando estava morto e em decomposição.

Aí, ele apareceu. Vinha vestido de preto e tinha a

cabeça parecida com um porco-espinho.

Aí, o novo João reencarnado tentou falar com ele.

– Oi.

– Olá!! Posso ajudar-te nalguma coisa?

– Eu sou o novo João reencarnado.

– Encantando! Eu sou o Emperor-Man, ou em

português, Homem-Catálogo94!

– Porque é que você cheira tão mal?

– Eu não cheiro mal! Isto é o cheiro do sucesso!

– É? Pois esse seu sucesso não me está cheirando

bem, não.

– Achas isso, é? Quero ver o que é que dizes do meu

parceiro, o…

– Não é preciso. Eu acredito em você.

– Mas acreditas no quê?

– No que você quiser.

– Óptimo.

94

A tradução não é das melhores, mas estou no meu pleno

direito. Com as traduções que se fazem por aí, esta até está muito

boa. (N. Q. N. A.) (Nonagésima Quarta Nota do Autor)

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– O que é que você faz, então?

– Ajudo as pessoas a expandirem os seus horizontes.

– Não acredito.

– Ainda agora disseste que acreditava em tudo o que

eu dissesse.

– Sim, mas só no que fosse verdade. O horizonte é

do mesmo tamanho para todo mundo.

– Aí é que tu te enganas! Se uma pessoas estiver

muito perto do horizonte ele parece mais pequeno do que

se estiver longe. É ou não é?

– É. Tem razão. E que mais você faz?

– Sou capaz de decorar catálogos de música…

– Completos?

– Sim, completos, e de identificar qualquer música

através dum simples nota.

– Já pensou em ir até à televisão?

– Não. A fama não me interessa.

Aí, o novo João reencarnado olhou à sua volta. Por

todo o lado estavam cartazes com a cara do Homem-

Catálogo. Um avião voava no céu deixando uma

mensagem com fumo: “O HOMEM-CATÁLOGO É

VESTIDO PELA MÃE.”95

– Quer dizer que vcoê é um super-herói?

– Um, não! O super-herói! E dos bons!

– E tem muitos inimigos?

– Alguns. Os piores são o Super Feijão Verde

Atómico, o Fantasma das Bandas Desconhecidas, o

Homem-Gás e o Professor Doutor Carlos Alberto.

95

Desnecessário será dizer que o avião estava a deitar aquele

fumo todo porque estava a cair, mas eu digo na mesma: o avião

estava a deitar aquele fumo todo porque estava a cair. (N. Q. N.

A.) (Nonagésima Quinta Nota do Autor)

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– Puxa vida! E como é que você os consegue vencer

a todos?

– Bom, consigo disparar o meu cabelo a dez metros

de distância.

– O seu cabelo?

– E tenho também a minha arma secreta, o meu bafo

super-poderoso a alho. Queres experimentar?

– É melhor não.… Mas, e se por acaso algum dos

seus inimigos cortar seu cabelo e tapar sua boca? O que

é que você faria?

– Em primeiro lugar, o meu nome não é Faria, é

Homem-Catálogo! E se isso acontecesse, usava a minha

arma ultra-secreta: emanações odoríficas sovacais.

Quem as respirar, desmaia.

– E se eles estiverem usando máscaras?

– Não há máscara que resista a isso.

– E se houver?

– Se houver, posso sempre contar com a ajuda do

meu fiel parceiro.

– E se o seu parceiro também estiver preso?

– Ouve lá! O que é que tu queres, afinal? Queres que

eu deixe de ser um super-herói, é?

– Não era má ideia, não. Você é o super-herói mais

ridículo que eu já vi em toda a minha existência. E olhe

que eu já vi muitos.

– Bom, mas eu não vou desistir! Vou continuar a ser

o Homem-Catálogo até ao fim dos meus dias!

– Faça como você quiser, eu vou-me embora.

– Óptimo! Esta cidade é pequena demais para nós os

dois.

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Aí, o novo João reencarnado foi-se embora daquela

cidade, deixando sob a protecção do Homem-Catálogo e

do seu fiel parceiro, o Rapaz-Sagaz.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando por uma praia quando ouviu um barulho

estranho. Aí, o novo João reencarnado saiu da praia e

entrou numa floresta, sempre ouvindo aquele barulho

estranho. Aí, o novo João reencarnado encontrou um

macaco com as mãos em sua barriga.96… 97

Aí, o novo João reencarnado e perguntou:

- Que é que você tem?

- Fome! Quem és tu?

- Sou o novo João reencarnado. E você, quem é?

- Sou o primo do macaco André.

- Não conheço. E você, quem é?

- Sou o primo do macaco André.

- Você não se cansa de ficar sempre repetindo o

mesmo? Qual é o seu nome?

- É este! Primo do macaco André!

- Posso tratá-lo por você?

- Podes.

Aí, o barulho aumentou.

- Ai! Ajuda-me, por favor!

- O que é que você quer que eu faça?

96

Na parte de fora da barriga. (N. S. N. A.) (Nonagésima Sexta

Nota do Autor) 97

Na barriga do macaco. (N. S. N. A.) (Nonagésima Sétima Nota

do Autor)

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- Preciso de bananas.

Aí, o novo João reencarnado olhou à sua volta e só

viu bananeiras.98

- Mas, você tem aqui muitas bananas.

- Não são destas. São umas bananas azuis. Só

crescem numa ilha perdida no meio do mar. Vou-te

desenhar um mapa.

Aí, o… símio falante99 pegou num graveto e

desenhou um mapa no chão.

- Vês? É aqui no x.

- Mas, se é aqui porque é que você está tão

preocupado?

- Não é aqui… é aqui!

- É o que eu tou dizendo.

- Olha, é assim: vais até à água, nadas sempre em

frente e páras na primeira ilha que encontrares.

- Tá bom.

Aí, o novo João reencarnado foi-se embora para a

praia e nadou até à primeira ilha que encontrou.

Quando lá chegou pegou num ramo de bananas e

nadou de volta para a outra margem.100 Aí, o novo João

reencarnado foi ter com o símio falante.

98

Ele até viu mais coisas, mas, o que interessa para agora é que

ele tenha visto as bananeiras. (N. O. N. A.) (Nonagésima Oitava

Nota do Autor) 99

Estou a usar esta designação só para simplificar. Este símio

falante não tem nada a ver com os símios falantes da história O

NOVO PEQUENO JOÃO NO PLANETA DOS SÍMIOS

FALANTES. Ver a SAGA DO PEQUENO JOÃO I para mais

detalhes. (N. N. N. A.) (Nonagésima Nona Nota do Autor) 100

Ele podia não ter feito nada disto. Se bem se lembram, o

primo do macaco André só lhe disse para ir até à ilha, não disse

para fazer mais nada. (C. N. A.) (Centésima Nota do Autor)

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- Aqui estão suas bananas.

Aí, o símio falante pegou nas bananas, apalpou-as,

provou uma e depois deitou-as fora.

- E aí? Gostou?

- Não! Tão molhadas! Sabem a sal! E estão muito

maduras! Para a próxima não me ajudes!

- Tá bom.

Aí, o novo João reencarnado foi-se embora e o símio

falante morreu de fome.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passando por um bosque encantado quando ouviu um

animal chorando.101 Aí, o novo João reencarnado foi à

procura e encontrou um filhote de veado. E esse filhote

de veado estava chorando porque tinha uma de suas

patas presas em uma armadilha para ursos.102 Aí, o novo

João reencarnado tentou falar com o filhote de veado.

- Oi. Cê precisa de ajuda aí?

Mas, o filhote de veado não respondeu porque os

animais não falam e porque isto não é uma fábula.

- Cê tá me ouvindo?

Como o filhote de veado não respondeu, o novo

João reencarnado concluiu que aquele filhote de veado

estava surdo. Aí, o novo João reencarnado disse:

- Fazemos assim: eu falo e você diz que “sim” ou

que “não” com a cabeça103, tá bom?

Aí, o filhote de veado fez que “sim” com a cabeça e

o novo João reencarnado reformulou a sua teoria: aquele

101

Neste caso, não seria bem chorar mas, o equivalente. (C. P. N.

A.) (Centésima Primeira Nota do Autor) 102

Portanto, ele estava a chorar por ter sido apanhado numa

armadilha destinada a outro animal. Já viram tamanha xenofobia

entre animais? (C. S. N. A.) (Centésima Segunda Nota do Autor) 103

Sendo o “sim” para sim e o “não” para não. (C. T. N. A.)

(Centésima Terceira Nota do Autor)

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filhote de veado sofria de um problema na fala.104

Aí, o novo João reencarnado sentiu um cheiro de

queimado. Aí, o filhote de veado começou se debatendo

e o novo João reencarnado soltou a pata do filhote de

veado. Aí, o filhote de veado começou correndo e o novo

João reencarnado foi atrás dele sem saber porquê.

E aí, de repente, todos os animais do bosque

estavam correndo e lá atrás tudo vinha em último lugar

um cara com um lança-chamas pegando fogo em tudo.

Aí, todo o mundo chegou junto dum abismo e aí, todo

mundo conseguiu saltar o abismo. Isto é, todo o mundo

menos o novo João reencarnado e o cara do lança-

chamas que caiu e bateu com a cabeça numa rocha e teve

morte imediata. O novo João reencarnado caiu nas água

dum rio e deixou-se levar pela corrente.

Os outros animais, enganaram-se no caminho e

foram parar numa zona de caça onde tiveram morte

imediata. Todos menos o filhote de veado, Dambi, que

foi apanhado numa armadilha para veados e morreu feliz

de forma lenta agonizante.

FIM

105

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

104

O mais estúpido nisto tudo é o novo João reencarnado pensar

que o filhote de veado percebe o que ele diz. (C. Q. N. A.)

(Centésima Quarta Nota do Autor) 105

O filhote de veado morreu de negligência autorial. (C. Q. N.

A.) (Centésima Quinta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, que estava prestes a tornar-se

menos belo, o novo João reencarnado estava se sentindo

muito estranho. O novo João reencarnado tinha uma dor.

Mas, não era uma dor física, era uma dor metafísica106.

O novo João reencarnado sabia que havia algo se

passando com ele mas, não sabia o quê.

Aí, o novo João reencarnado tentou perceber o que

se estava passando com ele e recordou todos os

momentos que vivenciara desde sua primeira história107

E aí, o novo João reencarnado chegou a uma

conclusão.

- Como é que você sabe tanto de mim? Porque é que

eu não me lembro de nada do que aconteceu antes de

minha primeira história?

E então, eu vi-me obrigado a responder-lhe:

Eu sei tanto de ti porque fui que te criei e…

- Você o quê???

Fui eu que te criei e sou eu quem escreve as tuas

histórias.

- Então, tudo o que eu falo, faço penso e digo…

106

Dor metafísica é uma dor com uma meta. (C. S. N. A.)

(Centésima Sexta Nota do Autor) 107

A HISTÓRIA DO PEQUENO JOÃO. Ver A SAGA DO

PEQUENO JOÃO I para mais detalhes. (C. S. N. A.) (Centésima

Sétima Nota do Autor)

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Sou eu que escrevo.

- Não acredito nisto.

Mas é verdade. E o motivo de não te lembrares de

nada do que aconteceu antes da tua primeira história, é

porque eu não escrevi histórias contigo antes disso. Pelo

menos, ainda não…

- Porque é que você nunca me disse nada antes?

Tu nunca perguntaste.

- E como é que eu podia saber disso?

Não me digas que nunca tinhas desconfiado de nada.

- Não.

Pensavas que a falares com vozes ocultas eras o

quê?

- Um padre.

Podias ser mas, não era.

- Um maluco.

Também.

- Tá vendo? Eu podia ser outras coisas sem ser um

personagem de ficção.

Mas, ser um personagem de ficção faz parte da tua

natureza.

- Faz, porque você diz que faz.

Não. Faz porque eu escrevo que tu dizes que faz.

- Mas, eu podia ser outra coisa!

Não podias! Tens que compreender duma vez por

todas que as tuas histórias são muito importantes.

- Importantes para o quê?

Primeiro, porque ajudam-me a gozar com as pessoas

sem elas saberem e segundo, porque posso prestar

homenagem às coisas que gosto de forma pessoal.

- Só por isso?

Não. É também porque gosto de escrevê-las. Tens

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que ver uma coisa, tu sem as minhas histórias não

existias. Mas, eu sem ti também não existia.

- Como é que você sabe que sem você eu não

existia?

Não sei. Mas, percebes o que eu digo ou não?

- É. Acho que você tem razão.

Então, o que me dizes a acabar esta história e passar

para outra?

- Pode ser uma no País das Mil Maravilhas?

Pode.

- Então, vamos lá!

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

passeando no País das Mil Maravilhas.108

- Brigadão!

Aí, o novo João reencarnado viu um camelo branco

saltitando. O que era muito estranho, pois o novo João

reencarnado sabia que ali não deviam estar camelos

brancos, ali era a zona das senhoras cenouras cantoras.

Aí, surgiu um cão recitando Nietzsche e o novo João

reencarnado reparou que alguém tinha trocado as coisas

todas ali no País das Mil Maravilhas.

Aí, o novo João reencarnado foi ter com o chefe do

local, o Xeque de Paus para saber o que estava passando.

Mas, quando chegou ao palácio do Xeque de Paus, o

Xeque de Paus não estava lá. Em vez do Xeque de Paus,

estava o Sultão de Ouros.

Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do

Sultão de Ouros.109

- Ahá! O que é que tu queres?

108

Como podem ver, cumpri a missa promenha, perdão, minha

promessa. (C. O. N. A.) (Centésima Oitava Nota do Autor) 109

Obviamente, o Sultão de Ouros estava protegido por vários

guardas. E foram esses guardas que pegaram no novo João

reencarnado e levaram-no junto do Sultão de Ouros. Vistas as

coisas, não foi nada mau: ele não se cansou nada. (C. N. N. A.)

(Centésima Nona Nota do Autor)

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- Quem é você? O que é que você está fazendo no

lugar do Xeque de Paus?

- Sou o Sultão de Ourros.

Eu já sabia.

- Já podia ter dito.

- Só agorra é que perrguntaste.

- O que é que você fez com o Xeque de Paus?

- Mandei encerrá-lo.

- Encerrá-lo?

- Não, encerrá-lo. Ele estava todo riscado.

- E quem é que trocou os camelos brancos de sítio.?

- Fui eu. Não gostava de os verr onde eles estavam.

Agora sou eu quem manda aqui. Vou mudarr isto tudo.

- E aquele cão? Ele não costumava recitar Nietzsche.

Ele sempre gostou de Kant e de Hegel.

- Isso não me interressa.

Essa foi a gota de água! Se havia coisa que o novo

João reencarnado não suportava era crueldade com os

animais.

- Onde é que estão os outros?

- Quais outrros?

- Os outros dois, o Marajá de Copas e Princesa de

Espadas?

- Não sei. Estão em lua-de-mel.

- Isso aí é mentira! O Marajá de Copas é diabético.

Eu vou procurá-los e contar-lhes o que você está fazendo

aqui.

Aí, o novo João reencarnado saiu do palácio do

Xeque de Paus, agora ocupado pelo Sultão de Ouros e

foi procurar o Marajá de Copas e a Princesa de Espadas.

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FLASHBACK ou ANDALÉPCE

Este é um momento novo nas aventuras do novo

João reencarnado. Pela primeira vez irei realizar uma

andalépce.

Uma andalépce, por definição, é quando o autor e

narrador, neste caso eu, recua atrás na acção para

explicar acontecimentos que estão ocorrendo no presente

e que não foram explicados ao leitor.

Como é que o novo João reencarnado sabe tanto

acerca do País das Mil Maravilhas se é a primeira vez

que ele o visita?

Na verdade, não faço a menor ideia. Se bem se

lembram, o espaço temporal entre esta história e a

história anterior é quase nulo, ou seja, não houve tempo

para o novo João reencarnado visitar o País das Mil

Maravilhas previamente nem antes disso.

Mas, não se preocupem. Esta história irá confundir-

vos ainda mais do que as outras.

ACÇÃO PRENDA

Aí, o novo João reencarnado pegou num tapete

voador e voou até à lua-de-mel.

O caminho foi fácil, apesar de alguma turbulência.

O pior foi mesmo para aterrar – a abelha rainha não

queria dar autorização ao novo João reencarnado para

ele aterrar. Mas, por fim, a abelha rainha acabou por ir

para a cama com um zangão e o novo João reencarnado

aterrou na lua-de-mel.

Aí, o novo João reencarnado procurou pelo Marajá

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de Copas e pela Princesa de Espadas mas, eles não

estavam lá. Tal como o novo João reencarnado

suspeitava. Porque é que ele tinha ido lá? Para perder

tempo e para eu acrescentar mais espaço à história.

Aí, o novo João reencarnado voltou ao seu tapete

voador e enquanto estava voando, uma vaca voadora110

se aproximou do novo João reencarnado e passou em

direcção ao céu mas, ainda teve tempo de dizer ao novo

João reencarnado:

- Camelo!

- Camelo é você, sua vaca!

Mas aí, o novo João reencarnado começou

pensando. Aquela vaca sabia que nem ele nem ela eram

camelos.111 Por isso, o que é que ela poderia estar

querendo dizer?

Aí, o novo João reencarnado ouviu a voz da vaca ao

longe:

- Cão!

- É você!

Aí, o novo João reencarnado compreendeu tudo. Ou

por outra, compreendeu o que era necessário

compreender nesta altura.

- O cão e o camelo branco! É isso!

110

A vaca não tinha asas. Ela usava um cinto anti-gravitacional.

Infelizmente, para ela, o cinto só ligava, não desligava e a vaca ia

em direcção às estrelas. (C. D. N. A.) (Centésima Décima Nota

do Autor) 111

Não sei qual dos dois está mais longe. (C. D. P. N. A.)

(Centésima Décima Primeira Nota do Autor)

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Ainda sem saber o que isso “É isso!” queria dizer112,

o novo João reencarnado decidiu voltar ao local onde a

história tivera início.

E assim, o novo João reencarnado voltou ao País das

Mil Maravilhas. E quando chegou lá é que ele reparou

em uma coisa: o cão tinha um símbolo de copas na sua

coleira e o cam; duas coisas: o cão tinha um símbolo de

copas na sua coleira e o camelo branco tinha o símbolo

de espadas numa bossa e não era; três coisas: o cão tinha

um símbolo de copas na sua coleira e o camelo branco

tinha o símbolo de espadas numa bossa e não era um

macho.

Feitas as contas, o novo João reencarnado percebeu

que alguém tinha dado os símbolos de copas e de

espadas àqueles animais para eles os guardarem.

Aí, o novo João reencarnado tirou a coleira do cão e

tirou o autocolante da bossa da camela branca e aí, uma

coisa espantosamente previsível aconteceu: o cão

transformou-se no Marajá de Copas e a camela branca

transformou-se na Princesa de Espadas.

- Ei!

- Obrigado por nos teres salvo.

- Depressa! Temos que voltar para o palácio.

Aí, o novo João reencarnado, o Marajá de Copas e o

Princesa de Espadas voaram no tapete voador até ao

palácio mas, foram derrubados por um míssil terra-ar. Aí,

o novo João reencarnado olhou para baixo113 Era o

112

Isto é ridículo. Uma expressão não pode querer dizer nada,

porque as expressões não falam. (C. D. S. N. A.) (Centésima

Décima Segunda Nota do Autor) 113

Isto enquanto caía. (C. D. T. N. A.) (Centésima Décima

Terceira Nota do Autor)

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exército das senhoras cenouras cantoras, que estavam

fartas daquela inércia governamental e resolveram dar

um golpe cenoural. Os outros dois regentes, o Xeque de

Paus e o Sultão de Ouros já tinham sido eliminados, só

faltavam o Marajá de Copas e a Princesa de Espadas.114

Aí, o novo João reencarnado parou de cair para

baixo e começou caindo para cima, pois a vaca voadora

tinha conseguido consertar o cinto anti-gravitacional e

estava levando o novo João reencarnado para fora do

País das Mil Maravilhas.

Mas, muitas perguntas ficaram por responder:

Afinal, como é que o novo João reencarnado

conhecia aquilo tudo se era primeira vez que ele estava

lá?115

E a resposta é: eu não sei, ele também não e vocês

muito menos.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

114

Mas já falta pouco. (C. D. Q. N. A.) (Centésima Décima

Quarta Nota do Autor) 115

Todas as outras perguntas podem-se englobar nesta. (C. D. Q.

N. A.) (Centésima Décima Quinta Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o novo João reencarnado estava

sonhando com aquela garota116 que tinha conhecido uma

vez.117 Era um sonho muito erótico para os padrões de

censura do novo João reencarnado por isso, como o novo

João reencarnado não tem qualquer tipo de padrões de

censura, daqui a algumas linhas podem imaginar como é

que o sonho seria.

Aí, o novo João reencarnado acordou mas a garota

continuava lá. Agora estavam numa praia e ela estava…

Aí, o novo João reencarnado acordou (desta vez a

sério). Ela tinha desaparecido.

Aí, o novo João reencarnado levou com uma folha

de papel na cara e aí, o novo João reencarnado

perguntou:

- Que negócio é esse aqui?

É um papel.

- Não. Aí no papel.

Ah! É “Sigmund Freud, psiquiatra especializado”

116

Ele estava a sonhar sozinho e não acompanhado porque a

partir do momento em que ele estivesse a sonhar acompanhado já

não estaria a sonhar sozinho. E vice-versa. (C. D. S. N. A.)

(Centésima Décima Sexta Nota do Autor) 117

Até se esquecer dela e conhecê-la de novo, só a terá conhecido

uma vez. (C. D. S. N. A.) (Centésima Décima Sétima Nota do

Autor)

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- O que é isso?

O quê?

- Um psiq… psiq…

Tás engasgado?

- Não. Não consigo dizer psiq…

Não consegues dizer o quê?

- Psiq… psiq…

Fala!

- Psiq… psiq…

Não consegues dizer psiquiatra?

- Não.

Então é o quê?

- É isso.

Isso o quê?

- Você tá complicando tudo porquê? Quem complica

as coisas aqui sou eu, tá ouvindo?

Adiante…

Um psiquiatra é uma pessoa que analisa os sonhos

das pessoas e tenta perceber porque é que as pessoas se

comportam de determinada maneira.

- E isso quer dizer o quê?

Não sei. Mas, se estás tão preocupado, porque é que

não vais ter com ele?

- É. Acho que vou indo.

Se vais não achas que vais é porque vais mesmo.

- Quer parar com isso?

Já me calei!

Aí, o novo João reencarnado foi até ao consultório

do grande Freud e depois de bater à porta do gabinete do

grande Freud, o novo João reencarnado entrou no

gabinete do grande Freud.

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- Oi. Posso entrar?

- Entra. Deita-te aí.

Aí, o novo João reencarnado deitou-se118 e dormiu.

- Acorda!

Aí, o novo João reencarnado acordou.

- Não era para dormires.

- Eu vim aqui para saber o que se está passando

comigo.

- Eu sei.

- Como é que você sabe?

- O teu autor contou-me. Ele é meu paciente.

Então e a minha privacidade?

- Pois… Como se eu fosse o único a saber dos teus

problemas.

- Ei! É a minha vez agora!

- Vamos começar então. Tocaste à campainha com

que mão?

- Não toquei à campainha, bati à porta.

- Tens medo de tocar à campainha?

- Não.

- Então porque é que não tocaste?

- Porque não havia nenhuma campainha.

- Ahá! E bateste à porta com que mão?

- Com a direita.

- Porque é que não bateste com a esquerda?

- Porque tava coçando a cabeça com ela.

- Costumas coçar sempre coçar a cabeça com a mão

esquerda enquanto bates à porta com a mão direita?

118

Não sei bem onde é que o grande Freud mandou o novo João

reencarnado deitar mas, deve ter sido num daqueles sofás que os

psiquiatras costumam ter nos seus gabinetes. (C. D. O. N. A.)

(Centésima Décima Oitava Nota do Autor)

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- Não. Foi só agora.

- Porquê?

- Pergunte para ele. Ele que está escrevendo.

Eu não sei de nada.

- Porque é que dormiste quando eu te disse para te

deitares aí?

- Porque tava com sono.

- Ainda tens sono?

- Sim.

- E porque é que não dormes?

- Você disse para não dormir.

- Gostas de dormir.

- Gosto.

- Gostas de sonhar?

- Às vezes.

- Quando é que não gostas?

- Às vezes sonho com uma garota que conheci e nós

estamos a…

- Estão a quê?

- Você sabe.

- Como é que eu hei-de saber?

- Ele não contou para você?

- Nós não estamos a falar dele.

- Tá bom. Eu digo no seu ouvido.

Aí, o novo João reencarnado aproximou-se do

grande Freud e disse o que ele e a garota faziam em seus

sonhos.119

119

Estão todos a pensar em sexo, não é? Para quem não sabe,

essa garota misteriosa surgiu na história A INICIAÇÃO

SEXUAL DO NOVO PEQUENO JOÃO QUE JÁ NÃO É

GRANDE. Ver A SAGA DO PEQUENO JOÃO I. (C. D. N. N.

A.) (Centésima Décima Nona Nota do Autor)

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Podem imaginar agora.

- Deita-te lá. Deixa-me respirar um pouco. Ufa! Isso

tudo?

- Não conte a ninguém, tá bom?

- Porquê? Achas que comer cem biscoitos duma só

vez é assim tão mau?

- Eram de chocolate! E eu disse-lhe para não contar!

- Agora já contei.

- Você ainda não me disse o que é que se está

passando comigo.

- Calma. Ainda faltam algumas perguntas. Como é

que é a tua relação com o teu autor?

Vê lá o que é que dizes.

- Sabe, ele às vezes é um pouco chato. Tou sempre

dizendo e fazendo a mesma coisa. E isso é muito chato

para um personagem multi-facetado como eu.

- Consideras-te um figura imaginária?

- Sim.

- Não acreditas que és real?

- Não.

- Quem é que te disse isso? Não vês, não sentes, não

falas?

- Sim.

- Achas que se fosses irreal, fazias isso tudo?

- Não…

Isso é ridículo! Ele é um personagem de ficção!

Qual é a discussão?

- Não o oiças! Conta-me mais. Não te preocupes

com ele que ele tem medo do escuro.

Não tenho nada!

- Tens sim que eu sei! Fala!

Não fala nada!

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- Não tenhas medo dele!

- Ele é muito possessivo. Tem que ser sempre do

jeito dele.

Isso é mentira!

- E nunca aceita que os outros tenham razão.

Mentira!

- Nunca me deixa falar sobre os meus problemas.

Agora chega! Não te deixo falar, é? Sou chato? Sou

possessivo? Sabes o que é que este chato e possessivo

vai fazer? Vai acabar com a história!

FIM

Quero ver com quem é que tu falas agora.

- Eu falo com quem quiser!

Só se eu quiser!

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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120

Num belo dia de Verão… o novo João reencarnado

desapareceu.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

120

ENTROPIA: s. f. Medida da capacidade de um sistema em

poder efectuar transformações espontâneas; termodinâmicante, a

variação de entropia numa variação infinitesimal é igual ao calor

absorvido dividido pela temperatura absoluta a que se deu a

absorção; estatisticamente, medida do grau de desordem ou caos

de um sistema. (N. A. M. D. C. U. D. L. P. C. S. P. S. S. E.)

(Nota do Autor que Mesmo Depois de Consultar Um Dicionário

de Língua Portuguesa Continuou Sem Saber o que é a

Entropia) (D. V. N. A.) (Centésima Vigésima Nota do Autor)

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Num belo dia de Verão, o João irreal estava navegando

pelos mares salgados de um oceano qualquer quando…

- Espere! Que ideia é essa de me tar chamando João

irreal?

Pensava que já soubesses.

- Não. Não sabia.

Ficas a saber agora. Posso continuar?

- Pode.

Aí, o João irreal chegou numa ilha. Devia ser uma

ilha deserta mas, estava cheia de gente.

- Que sítio é este?

Deixa-me ver no mapa. Espera aí. Ah! É a ilha da

dona São.

- Quem é essa dona São?

Não faço ideia.

- O que é que se gente toda tá fazendo aqui?

E eu é que sei?

- A história é sua.

E lá por a história ser minha, sou obrigado a saber

tudo? Pergunta lá a alguém.

Aí, o João irreal aproximou-se de um cara e tentou

falar com esse cara:

- Oi. O que vocês estão fazendo aqui?

Mas, o cara não respondeu. O João irreal pensou que

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o cara fosse surdo ou mudo.121

Mas, na verdade, o cara não respondeu porque não

viu o João irreal.

- Ah! Ele é cego, é?

Não. Tu é que não existes.

- Não existo?

Se és irreal é porque não existes.

- Isso não tem nada a ver. Se eu sou irreal é porque

não sou real e eu nunca fui real. Fui sempre uma figura

de ficção.

Desde quando é que tu pensas tanto?

- Deve ser passageiro…

Queres saber o que é que eles estão a fazer?

- Pensava que você não sabia.

Mas sei.

- Então, porque é que você me disse para perguntar?

Para ocupar espaço.

- Só por isso?

Não. Era para ver se eles tinham alguma ideia

melhor que a minha.

- Se calhar ajudava se eles me pudessem ouvir.

Se calhar.

- E qual é a sua ideia?

Isto que está a acontecer aqui é um reality-show.

- Você quer dizer um irreality-show, né?

Não queiras tudo também.

- Isso aí é o quê?

Bem, eles reúnem várias pessoas e depois filmam

121

Mas rapidamente deixou de pensar que fosse mudo a partir do

momento em que o ouviu falar. E, assim, também não podia ser

mudo. (C. V. P. N. A.) (Centésima Vigésima Primeira Nota do

Autor)

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tudo que essas pessoas fazem.

- Ah! E que é que elas fazem?

Nada.

- E os que não sabem nadar?

Morrem afogados ou são comidos pelos tubarões.122

- E fora isso?

Falam, passeiam. Sei lá.

- Tipo minhas histórias, né?

Mais ou menos.

- Sem graça, desinteressantes. O povo vê, fala nos

cafés mas, não percebe nada.

Ei! Nada de auto-críticas!

- Não posso falar mal de mim?

Não. Quando falas mal de ti estás a falar mal de

mim porque sou eu que controlo as tuas acções.

- Isso não quer dizer nada. E se eu quiser participar

nesse tal de irreality-show?

Não podes.

- Não posso? Espere para ver!

Aí, o João irreal aproximou-se da equipa de

filmagens mas, a reacção foi igual:123 ninguém lhe ligou

nenhuma.

Desanimado, o João irreal voltou para o sítio onde

estava antes.

- Droga.

Conseguiste?

122

Nesse caso, podemos supor que mesmo os que sabem nadar

são comidos pelos tubarões. (C. V. S. N. A.) (Centésima

Vigésima Segunda Nota do Autor) 123

Igual à reacção do outro cara com que o João irreal tinha

tentado falar antes. (C. V. T. N. A.) (Centésima Vigésima

Terceira Nota do Autor)

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- Não.

Vês? Eu avisei-te.

- Porque é que não me ligam nenhuma?

Já te expliquei que é por seres irreal.

- E eu já disse que o oposto do irreal é o real e se eu

não sou real é porque sou um personagem de ficção.

Não compliques as coisas ainda mais do que elas já

estão! Não existes e acabou-se!

- Você sabia de tudo, não sabia?

Se soubesse, fazia alguma diferença?

- Não.

Nesse caso, sabia.

Aí, o João irreal regressou ao seu barco e navegou

para fora daquela ilha.

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

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Num belo dia de Ferão, o João irreal estafa se

interrogando como seria a actual sociedade elitista que

pofoafa as refistas cor-de-rosa daqui a muitos anos.124

A actual sociedade PMI, Pessoas Muito

Importantes125 é um enigma que os psicólogos do nosso

tempo ainda não conseguiram explicar. Uma raça que

por desígnios misteriosos do destino coloca-se à parte de

outras espécies, fifendo num isolamento total. Mas, isto

não interessa para nada, o que interessa é… como é que

essa classe será daqui a fários anos?

- Você além de tar repetindo tudo ainda por cima tá

repetindo tudo errado.

Se eu estou a repetir mal é porque não estou a

repetir, estou a dizer a mesma coisa de maneira

diverente.

- Pois acho que já era altura de você me enviar para

esse tal sítio.

Qual sítio?

- Onde a história se vai passar.

A história fai-se passar aqui na volha. Onde é que

querias que vosse?

124

Entende-se por revistas cor-de-rosa, todas as revistas que

tenham artigos que toquem no coração das pessoas, ou seja,

revistas para cardíacos. (C. V. Q. N. A) (Centésima Vigésima

Quarta Nota do Autor) 125

Não confundir com PMI – Pessoas Muito Imbecis. (C. V. Q.

N. A.) (Centésima Vigésima Quinta Nota do Autor)

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- Porque é que você tá falando assim?

Assim como?

- Assim. Trocando as letras todas.

Oufiste-me a trocar alguma coisa?

- Deixe para lá… Eu tava falando do espaço da

história.

Como é que queres que eu saiba o espaço da história

se ainda não a escrefi? Quando chegar ao vim logo fejo o

espaço que ela ocupa.

- Você não tá entendendo? Local da história!

Percebeu?

Mau! Tás a gozar comigo ou quê? 126

Tu também? Tou a acabar a história não tarda.

- Eu passo bem sem você.

Ah é? Diz-me como.

- Eu falo, né? E o cara das notas escreve a acção.

Qual acção?

- Quer ver? 127

- Ei! Você tem que pôr isso aqui! 128

- Não dá, não. Tem que ser você a escrever.

Eu afisei-te.

Aí, um milagre aconteceu. Aliás, não voi um milagre

126

Acho que já era tempo de parares com isso e começares a

trabalhar. Estamos fartos desses impasses. (C. V. S. N. A.)

(Centésima Vigésima Sexta Nota do Autor) 127

Aí, o João irreal falou para (C. V. S. N. A.) (Centésima

Vigésima Sétima Nota do Autor) 128

Só posso escrever aqui. (C. V. O. N. A.) (Centésima Vigésima

Oitava Nota do Autor)

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mas, um mero despertar de uma consciência

anteriormente adormecida.

Tu quando estavas a dizer local querias dizer sítio,

não era?

- Não. Queria dizer local mesmo.

Mas, sítio é a mesma coisa.

- Eu sei.

Está bem. Vou-te enfiar, perdão, enviar para lá.

Aí, o João irreal fiajou para o vuturo.129

Vuturo.130

Quando lá chegou, o João irreal vicou espantado

com o que fiu. Parecia uma cidade do vuturo.131

Aí, o João irreal procurou alguém que o pudesse

informar sobre a sociedade PMI daquela era. Aí, o João

irreal caminhou pela cidade até encontrar algum PMI. 132

O quê?133

Ah! Já sei. É assim: quando escrefi “enviar” e

apareceu “enfiar”, resolfi escrever “enfiar” para que

aparecesse “enviar”.134

129

Para onde? (C. V. N. N. A.) (Centésima Vigésima Nona Nota

do Autor) 130

Ah… (C. T. N. A.) (Centésima Trigésima Nota do Autor) 131

Talvez porque fosse mesmo uma cidade do futuro. (C. T. P. N.

A.) (Centésima Trigésima Primeira Nota do Autor) 132

Como é que fizeste aquilo lá atrás? (C. T. S. N. A.)

(Centésima Trigésima Segunda Nota do Autor) 133

Quando disseste “Vou-te enfiar, perdão, enviar para lá.” (C. T.

T. N. A.) (Centésima Trigésima Terceira Nota do Autor) 134

Sabes o que é que se está a passar? (C. T. Q. N. A.)

(Centésima Trigésima Quarta Nota do Autor)

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Sei lá. Acho que apanhei um vírus no computador.135

Deve ser psicológico.

Foltando à história…

Aí, o João irreal encontrou uma vamília de PMIs, os

Jetsetsons.136

Como é que pode? Já estiveste no futuro?137

Se estás agora não é vuturo, é presente.138

- Como é que vocês são? 139

Idem.

- Isso quer dizer o quê?

Quer dizer que concordo com ele. Vaz outra

pergunta.

- Já tou farto de fazer perguntas!

Ainda só vizeste uma!

- Fiz mais quando vocês estavam falando um com

outro.

Mas, tu não podes vazer isso!

- Mas fiz.

E o que é que perguntaste?

- Como é que se chamavam, o que é que faziam…140

135

É estranho é isso só aparecer quando és tu a falar. (C. T. Q. N.

A.) (Centésima Trigésima Quinta Nota do Autor) 136

Isso por acaso não é inspirado naquela família do futuro? (C.

T. S. N. A.) (Centésima Trigésima Sexta Nota do Autor) 137

Estou agora. (C. T. S. N. A.) (Centésima Trigésima Sétima

Nota do Autor) 138

Continua lá com isso! (C. T. O. N. A.) (Centésima Trigésima

Oitava Nota do Autor) 139

Que pergunta idiota. Ele não tem olhos? (C. T. N. N. A.)

(Centésima Trigésima Nona Nota do Autor)

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Não. Era circunstancial. Ou por outra, ele quis

convirmar se eles não tinham mudado de nome, não era?

- Não. 141

E o que é que eles responderam?142

- Nada. Ignoraram-me por completo. Era como se eu

não existisse.

Mas, tu não existes.143

- A quem é que você tá chamando inferior?144

- É verdade.

Vamos mas é foltar para o presente.145

Se eu quisesse dizer passado, tinha dito passado.146

Mas não queria.

E agora acabou-se a discussão.

Aí, o João irreal foltou ao presente147

140

Ele perguntou-lhes como é que eles se chamavam? Isso quer

dizer que aquele nome que tu disseste dos Jetsetsons era falso?

(C. Q. N. A.) (Centésima Quadragésima Nota do Autor) 141

Como é que ele podia saber se eles mudaram de nome sem

saber o nome anterior? (C. Q. P. N. A.) (Centésima

Quadragésima Primeira Nota do Autor) 142

Não respondes? (C. Q. S. N. A.) (Centésima Quadragésima

Segunda Nota do Autor) 143

Isso é verdade. Mas, também pode ser que estes PMIs sejam

iguais aos PMIs do passado e ignorem todos os seres inferiores.

(C. Q. T. N. A.) (Centésima Quadragésima Terceira Nota do

Autor) 144

A ti. Eles eram maiores que tu, não eram? (C. Q. Q. N. A.)

(Centésima Quadragésima Quarta Nota do Autor) 145

Passado, queres tu dizer. (C. Q. Q. N. A.) (Centésima

Quadragésima Quinta Nota do Autor) 146

Pensava que querias dizer passado. (C. Q. S. N. A.)

(Centésima Quadragésima Sexta Nota do Autor)

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Presente.148

- É melhor ser eu a acabar isto:

FIM

Versão original: Lord F. Ullman C. Koko

Versão mal traduzida: Humberto Ricardo

CONTINUA NA

PRÓXIMA HISTÓRIA E

NÃO NA QUE VEM ANTES

147

Passado. (C. Q. S. N. A.) (Centésima Quadragésima Sétima

Nota do Autor) 148

Passado. (C. Q. O. N. A.) (Centésima Quadragésima Oitava

Nota do Autor)