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7/14/2019 242 Valmir http://slidepdf.com/reader/full/242-valmir 1/10 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO ANO VIII, Nº 242 - JUNHO - PORTO VELHO, 2009. VOLUME XXV – Maio/Agos ISSN 1517-5421 Desenho da Capa: Flávio Dutra EDITOR  NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL  ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND  ARTUR MORETTI  – Física - UFRO CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP  MARIO COZZUOL  – Biologia – PUC-RGS  MIGUEL NENEVÉ  – Letras - UFRO ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP  VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: [email protected] CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA ISSN 1517-5421 lathé biosa 242 O MUNDO URBANO: MOSAICO DE MANIFESTAÇÕES DO SAGRADO, CREDOS E DIÁLOGOSO Valmir Flores Pinto PRIMEIRA VERSÃO  

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENUTICA DO PRESENTE

    PRIMEIRA VERSO ANO VIII, N 242 - JUNHO - PORTO VELHO, 2009.

    VOLUME XXV Maio/Agos ISSN 1517-5421

    Desenho da Capa: Flvio Dutra

    EDITOR NILSON SANTOS

    CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS Histria - UFRO

    CLODOMIR S. DE MORAIS Sociologia - IATTERMUND ARTUR MORETTI Fsica - UFRO

    CELSO FERRAREZI Letras - UFRO HEINZ DIETER HEIDEMANN Geografia - USP JOS C. SEBE BOM MEIHY Histria USP

    MARIO COZZUOL Biologia PUC-RGS MIGUEL NENEV Letras - UFRO

    ROMUALDO DIAS Educao - UNICAMP VALDEMIR MIOTELLO Filosofia - UFSC

    Os textos no mnimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espao 1.5, formatados em Word for

    Windows devero ser encaminhados para e-mail:

    [email protected]

    CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO

    TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA

    ISSN 1517-5421 lath biosa 242

    O MUNDO URBANO: MOSAICO DE MANIFESTAES DO

    SAGRADO, CREDOS E DILOGOSO

    Valmir Flores Pinto

    PRIMEIRA VERSO

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    O MUNDO URBANO: MOSAICO DE MANIFESTAES DO SAGRADO, CREDOS E DILOGOSO Msc. Valmir Flores Pinto Professor de Filosofia e Filosofia da Educao Universidade Federal do Amazonas UFAM/HUMAIT, AM [email protected]

    INTRODUO

    Em cada poca histrica existem pessoas, sejam da hierarquia de grupos majoritrios ou minoritrios, que julgam ter descoberto, ou pelo menos pensam viver o tipo mais genuno de credo religioso. Desde o sculo XX, poca marcada por avanos tecnolgicos e tambm de desvios, no apenas no campo moral mas tambm de soberania e diplomacia, descobre-se no auge da secularizao que a vida humana, na busca pelo sagrado, no est na sua ltima fase sobre o mundo,

    como alguns profetizaram. Esta fase constitui uma oportunidade a mais para aguar um critrio que possa distinguir o essencial do acidental da vida religiosa e agora diante de um cenrio gritante: a cidade secularizada.

    A secularizao urbana deve ser situada dentro de uma filosofia dialtica da histria. O sucesso de uma sociedade exige racionalidade, planificao, organizao e esta conduta vem ameaar, comumente, ou restringir a liberdade. Da a reao provvel de pequenos grupos menos engajados nos circuitos econmicos ou mais sensveis a valores extra-econmicos estudantes, minorias religiosas, marginais sociais e outros. Mas o dinamismo humano no s na rea econmica. Sua psique profunda tambm libido, agressividade e em termos do humanismo religioso, aspirao ao amor, para amar e ser amado.

    Todo movimento de secularizao, que coroado com o fenmeno da urbanizao, se apresenta como promoo do ser humano. Gradativamente ele foi evoluindo de maneira a escravizar o sujeito sob o peso de novas estruturas, dando, assim, a seu humanismo um cunho imprevisto: no sabemos o que ser do ser humano amanh. Sob o impacto do consumo, da mudana em questo de segundos, da cultura materialista e descartvel, os valores humansticos, que j foram caractersticos, esto sendo rapidamente desagregados e mesmo desaparecendo. Esta realidade acontece em todo o planeta. Feitas estas constataes cabe-nos saber

    como nos comportamos neste meio, conceber algumas diretrizes de ao, atuao efetiva e afetiva das diversas denominaes religiosas e suas motivaes.

    1 Comportamento religioso na cidade

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    Comeamos falando de comportamento na cidade e no da cidade. Isto implica necessariamente a uma incluso pessoal, grupal ou institucional na vida da

    cidade. Somos membros dessa coletividade que tem muitos pontos de vista. No se trata aqui de substituir o papel dos aspectos religiosos, mas propor sugestes e acertar na reao exigir muito dilogo.

    Em primeiro lugar devemos salientar o valor positivo de certa dessacralizao: ela boa e necessria quando consiste em liquidar todo um folclore religioso. Tambm tem um limite: o respeito pelo caminho prprio de cada povo, pela sua cultura e momento de sua maturidade na evoluo religioso-cultural das elites

    intelectuais e do povo em geral. Quando os primeiros querem arrasar a religio do povo sem distinguir entre prticas ou crenas que no podem ser substitudas imediatamente, ocorre a catstrofe. O efeito imediato a fuga dos crentes, de maneira macia para outros ambientes religiosos ou seitas, mais tracidionais e abertas aos olhos do povo, ou perdem individualmente a sua forma de f e prtica religiosa, ou ainda mantm um mundo muito pessoal e intimista ao seu estilo, mesmo no saindo de sua denominao religiosa.

    Embora a mudana de comportamento na cidade seja algo cotidiano, at por fraes de segundos, no quesito religioso trazemos elementos que so constitutivos de nossa cultura. Por isso as supresses devem ser explicadas, justificadas diante do povo, na sua linguagem. Devem ser prudentes e progressivas, destitudas de arbtrios e de agressividades, atentas ao conjunto do condicionamento cultural. Purista na sua dogmtica as Igrejas crists histricas erraram muito na sua pastoral concreta, diante das atitudes, devoes e tradies locais.

    O processo de secularizao e comportamento urbano ultrapassa em muito a iniciativa de qualquer denominao religiosa de controle. A questo maior : como as religies vo se capacitarem para desempenhar conveniente e efizcamente suas funes neste contexto? No podemos, nem devemos esperar uma resposta para todos, universal, mas tentar elaborar uma praxi iluminada pelo teologal, respostas bem situadas a cada realidade, do micro ao macro. A distino entre acidental e essencial no para a obra terica, experincia histrica.

    2 Elementos da religiosidade

    Passemos a pontuar alguns elementos que so essenciais na formao do universo de compreenso da religiosidade. 2.1 Espiritualidade

    A espiritualidade reduzida espiritualidade de ao, rejeitando todos os valores no pragmticos, parece-nos suspeita de uma moda reversvel, de uma atitude incompleta. Nessa linha, desaparece o ritual como ritual. A cultura mergulha, hoje como ontem, no simbolismo, irredutvel ao empirismo. Um exemplo tpico o sucesso que tem, em alguns pases ocidentais, as religies orientais, indicam que o sentido do silncio, da contemplao, da meditao, da interioridade, no pode

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    desaparecer para sempre das aspiraes humanas. Do ponto de vista da vida, por assim dizer animal, Deus no entra como elemento til e necessrio

    (BINGMER, 1998, p. 82). O sagrado no acrescenta nada vida biolgica. Ao contrrio, exige o despojamento dos bens sensveis. Apesar dos diagnsticos terrveis feitos por muitos sobre a religio diante da secularizao da modernidade, nos encontramos ainda com pessoas capazes

    de passar horas de seu tempo em cultos, celebraes e cerimnias de louvor. Pessoas capazes de, em nome de seu Deus intil e entregar suas vidas num sacrifcio (BINGMER, 1998, p.82). 2.2 Sentido de pertena

    Outro risco que nos ameaa a poltica do tudo ou nada. Podemos contestar os defeitos das Igrejas, das religies, sem rejeitar as Igrejas ou religies. Podemos trabalhar para melhorar o culto, sem pretender que ele no tenha mais sentido; aproveitar idias e tcnicas, sem cair numa desmitizao radical, sem pretender afirmar que as palavras sagrado, Deus, religio esto superadas. O que nos falta, muitas vezes, um sentido equilibrado das coisas.

    O Brasil est praticamente em p de igualdade com o ocidente em se tratando do elemento secular, mas tem um outro p num cristianismo e num universo bem tradicionais. H desentendimentos entre lideranas religiosas e fiis devido a algumas generalizaes e que na realidade so aspectos parciais. No caso da Igreja Catlica Romana, Bispos que procuram presbteros em toda parte, at no exterior, no entendem a desorientao ou fuga de presbteros, enquanto tantas pessoas procuram os mesmos para a sacramentalizao. Por outro lado, os presbteros que esto mais prximos secularizao no compreendem a importncia que a

    hierarquia d administrao curial, manuteno de atitudes da cristandade. Algo certo, mais de 70% dos cristos do Brasil se dizem cristos catlicos e outra parte cristos de outras denominaes portanto, a maioria da populao

    crist. Mas a expresso maior pas catlico do mundo no motivo de glria e esplendor e j foi justamente denunciada. Deve ser data maior ateno s diferenas entre religio do clero e a religio popular, entre teoria e prtica, entre planos bem elaborados e sua real aplicao a partir do universo religioso. De qualquer forma a

    soluo no ser mais voltar para o dualismo: ou isso ou aquilo. A vida urbana e secular recusa isso. A relao religio e secularizao no se torna mais fcil, mas pode e deve tornar-se to humana, aceitvel, eticamente possvel e com muito mais realismo.

    3 Diretrizes de julgamento

    As mudanas contnuas no universo secular-urbano, no se apresentam como modo de viver mais definitivo ou provisrio. Chegou a ter mais conscincia da

    precariedade e do relativismo da toda cultura humana. Em si no contra nem a favor das religies, enquanto essas so fermento que transformam a humanidade.

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    O papel do cristianismo e por extenso das diferentes denominaes religiosas, no apontar uma organizao terrena definitiva. No h nada definitivo nesta terra,

    a no ser o amor (BBLIA DO PEREGRINO, 1Cor. 13, 1-13. Trad. BORTOLINI, Jos eSTORNIOLO, Ivo. So Paulo: Paulus, 2002). O papel das religies manifestar a presena do Absoluto no relativo da histria. Pois, renunciar a testemunhar Deus como Absoluto seria abrir mo, renunciar aos propsitos de bondade, alteridade, gratido e servio. Neste sentido a secularizao torna-se secularismo. Mas testemunhar referir-se a uma dimenso invisvel da realidade, a partir da realidade terrestre. No pode haver testemunho de Deus sem aceitao plena do relativismo da histria, da cultura, da finitude e da precariedade de toda posio

    atual do ser humano. Faz-se necessrio afirmar que este testemunho no pode se limitar a alguns enunciados dogmticos. As pessoas crentes devem acreditar no que diz, antes de

    prop-lo ao mundo; isso significa fazer esforos srios para viver os enunciados. O testemunho religioso numa era secular ser mais do que nunca testemunho do Absoluto, tendo como referncia a convivncia pacfica, numa palavra: o amor.

    Para nada servem as teorias e proclamaes de uma entidade se sua poltica utiliza outros caminhos, mesmo no intento de fazer triunfar sua mensagem. Isso no serve apenas para o campo religioso, mas tambm nas relaes de polticas internacionais. Seria como se as Igrejas ou grupos religiosos realizassem alianas com grupos que esto ligados ao narcotrfico, sonegaes, seqestros, roubos, etc, para fazer uso do dinheiro em benefcio de obras sociais ou religiosas.

    s vezes queremos fazer o bem ao prximo, quando ainda no descobrimos o nosso prximo em casa. Elementos dessa natureza esto ordinariamente presentes em nossos lares, Igrejas, comunidades religiosas e organizaes institucionais. No que no haja comunidades exemplares no seu testemunho, mas preciso que se constate essa realidade.

    4 O conceito de Deus

    Graas reflexo da idia que tnhamos de Deus, no ocidente, juntamente com as mudanas no mundo urbano-secular, instalou-se certa contestao nas Igrejas crists. Quem ainda guarda um conceito de Deus Todo-Poderoso ditatorial, patriarcal no pode passar sem uma estrutura autoritria, com uma submisso sem reservas s autoridades. Muitos que se encaixam nessa categoria, tanto entre lderes religiosos como entre os fiis, talvez por insegurana em tomar decises ou mesmo submisso sem restries.

    A crise instaurada no mundo secularizado de crescimento e no pode deixar de repercutir sobre o aspecto religioso. A questo saber se haver uma reao institucional e pessoal de maneira aceitvel ou no. certo que assim como o clericalismo em todas as denominaes no pode sobrepor sobre as pessoas, tambm no pode ocorrer um vale-tudo no sei das comunidades religiosas. No se trata de tirar ou colocar elementos para determinados cultos, mas julgar o desempenho das atividades que favoream o cultivo dos valores religiosos e culturais de determinado povo. A sociedade mudou e muda, e com ela as denominaes

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    religiosas vo incorporando novos elementos. Todas as sedimentaes que vm de tempos passados e que paralisam a vitalidade, impedem o desempenho da funo

    proftico-religiosa. Em pleno sculo XXI ainda h grandes disputas por terrenos no campo religioso, seja de cunho geogrfico ou de adeptos. As pessoas no so mercadorias

    em prateleiras do grande shopping que a cidade, onde posso escolh-las ou exclu-las. Foram dados grandes passos em direo s guas mais profundas (BBLIA O PEREGRINO. Evangelho de Lucas 5, 3-4. Op. Cit.), mas h necessidade de uma presena mais humana e fraterna. A sociedade urbana e secularizada est machucada e, em certos casos, doente e na UTI. No bastam normas e regras entre das denominaes religiosas, preciso adequar a mensagem s pessoas, no de maneira generalizada, mas personalizada e com clareza do que se pretende, e muito menos de maneira utilitarista, aceitando qualquer situao.

    5 Aes das religies

    Face aos problemas do meio urbano, pode-se fazer a aprendizagem da condio dos cidados. Por isso a necessidade de dar prioridade realidade urbana e a somar esforos de presso e ao. A poltica no se aprende apenas nas reunies, mas na rua e nos seus desafios. Houve pocas e ainda h locais que fazem exageros de reunies. Em meio a esse cenrio surgem muitos personagens, mas os que mais sofrem com a situao de certo caos sos os pobres. A urbanizao rpida mostra claramente que o problema a cidade. Para os pobres a grande poltica fica muito distante. No entendem e se deixam confundir pelos demagogos. A grande

    economia incompreensvel. A sociedade nacional uma abstrao e a internacional, mais ainda (COMBLIM. 1996, p.361). 5.1 Aspecto efetivo

    As religies no esto em crise, mas uma forma de religio. Aquelas formas de expresses burocratizadas e nacionalistas perdem a capacidade de responder s expectativas de ordenar a vida das pessoas dando-lhe um sentido. Com a secularizao surge uma crise de uma forma social de religio, a estrutural, e o que com

    isso surge uma subjetivao da religio. A identificao entre estrutura e religio a raiz dos equvocos. A atuao das expresses religiosas no tem como no ser no mundo secularizado. Ou elas se incorporam, fazendo parte do mesmo, ou estaro condenadas

    ao desaparecimento. No mundo ps-moderno o processo de socializao a integrao do indivduo na vida social cada vez mais realizado por instncias seculares e secundrias, isto , por instncias de livre escolha dos indivduos. Perdem relevncia significativa os meios de socializao primrios, como a famlia,

    igrejas, Estado e a prpria escola. Na sociedade urbana e tecnolgica esta socializao torna-se secundria, isto , radica-se na esfera da escolha pessoal. Passou-se a tornar o indivduo livre

    para escolher, no dar-lhe um quadro de valores prontos. Assim cresce a idia de pessoas que no gostariam de, por exemplo, batizar a criana, pois quem deve

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    escolher a religio ou o credo ela mesma quando crescer, embora esta posio ainda seja minoritria, visto que muitos fazem os ritos mais por superstio e tradio do que por convico. o que se pode chamar de religio privatizada, localizada na esfera da escolha pessoal, subjetiva (LIBNIO. 1994. p. 67).

    5.2 Aspecto afetivo Dentro da perspectiva afetiva, acreditamos que as denominaes religiosas no podem se refugiar em seus ambientes religiosos, mas juntamente com outras

    instituies e com o apoio da cincia formar um corpo social de presena no mundo. Isso poder soar como perde de identidade. Mas toda identidade se constri a partir de referncias e de relaes. Para os cristos a referncia Jesus Cristo; os judeus, a f e testemunho de Abrao e Moises; os islmicos o profeta Maom, apenas para citar as chamadas religies monotestas. E todos os outros credos tm suas referncias e cdigos de ao. As formas de ao envolvem alguns nveis fundamentais. Estamos no mundo urbano-secular e formamos o contingente de milhes de pessoas que buscam o sagrado,

    o absoluto neste ambiente. Enfocaremos dois nveis de maior relevncia: o pessoal e o grupal. 5.2.1 Busca pessoal

    A escolha religiosa hoje pode ser mais livre e com mais freqncia, porque existe um pluralismo de alternativas religiosas principalmente nos pases mais pobres-as quais crescem e emergem em instantes. Criam-se necessidades e a partir delas busca-se respostas no aspecto religioso: o mercado. H respostas para todos os gostos, tornando-as utilizveis ou descartveis, conforme a necessidade. No Brasil este reflexo se tornou mais visvel dos anos 60 e 70 do sculo passado para c. Quem chega cidade moderna deve escolher a sua religio, que pode ser a mesma da tradio rural, reinterpretada em funo do contexto urbano, ou pode ser outra, e ainda no certo que nela fique para sempre. A mudana contnua de paradigmas na sociedade urbana leva a questionar sempre a todas as opes, mesmo aquelas que poderiam parecer eternas.

    Na busca pessoal emerge a subjetividade. Este um elemento de suma importncia para a vida de qualquer pessoa, religiosa ou no. Percebe-se mesmo em pequenos grupos, um subjetivismo latente no campo religioso. momento de no desprezar ou ignorar, mas levar a srio a experincia religiosa das pessoas, mesmo que estejam distantes dos objetivos das religies. De princpio a experincia pode at ser superficial. Os lderes podero sofrer a tentao de recusar ou corrigir tal exigncia. Somente o dilogo juntamente com uma postura autenticamente interconfessional podero ajudar e emergir o sentido profundo da busca religiosa de uma pessoa.

    Devemos estar atentos pessoa em sua integridade, evitando acentuar um aspecto em prejuzo de outros. Se no passado a pastoral tridentina no ocidente acentuou os aspectos jurdicos em prejuzo da dimenso afetiva e simblica, esse erro deve ser corrigido. Nessa linha destaca-se nos centros urbanos, a atitude de abertura pessoa, tambm chamado de pastoral da acolhida. A sabedoria estar no uso da interdisciplinaridade, nunca os extremos.

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    um desafio, na sociedade atual, a distncia que se acentua entre expresso religiosa de f e de cultura. Por outro lado a prpria estruturao da vida urbana moderna geradora desse fenmeno. Ela tende a separar as esferas da vida, afastando as religies da tica, poltica, economia, cincias e atividades profissionais. Abre-se aqui uma possibilidade de um trabalho que contribua partindo de valores mais generalizados como: paz, amor, respeito, dignidade, acolhida e outros. No entanto, preciso ressaltar que apesar dos valores dos aspectos pessoais, a pessoa no se realiza a no ser no relacionamento com outras pessoas, seja a nvel religioso e mais ainda a nvel afetivo e social.

    5.2.2 Busca a nvel grupal H muitos elementos que contribuem para uma busca de formas comunitrias de vida no atual contexto. Temos o pluralismo cultural, a estrutura social e o

    comportamento diferenciado dos fiis no plano religioso. No Brasil temos algumas faixas da populao: os que seguem a religiosidade popular; os que seguem o

    aspecto tradicional, rejeitando inovaes; os que procuram viver a sua f mais pelo compromisso tico do que pelo culto; os que esto marginalizados religiosa e socialmente; e os que entraram na modernidade e no tm uma perspectiva religiosa marcante (AZEVEDO, 1990. p. 15).

    Diante desse cenrio acrescentamos, embora em menor nmero, os que buscam uma religiosidade marcada pelo elemento pessoal e subjetivo h uma sede de Deus -. E questes emergentes surgem: o que fazer? Como fazer? Onde fazer? Uma primeira resposta pensar uma soluo no de maneira nica, mas

    diversificada, pluralista. Pois, existem os extremos: os que aderiram ou no modernidade e esto afastados da prtica religiosa e de qualquer comunidade religiosa; os que mantm alguns contatos em ocasies - casamentos, datas importantes, morte, nascimento -; e outra ponta so as comunidades ou movimentos religiosos que procuram orientar toda a vida de seus membros, oferecendo at servios, geralmente recusam o mundo moderno. No meio dos extremos temos a grande massa dos praticantes com seus diversos nveis.

    O desafio reconstruir a cidade como mediao da nossa concepo de vida e de nossa prtica, no apenas para os praticantes de algum credo. Quando afirmamos reconstruir, no trata apenas dos espaos fsicos, da renda, da moradia, da sada, mas tambm do modo de pensar a si mesmos e a cultura, o sentido das coisas e das relaes humanas. Se falamos de subjetividade pessoal, porque no uma cidade subjetiva? A reconstruo passa pela introduo da tica nas atividades, seja em mbito pessoal, grupal ou estrutural.

    CONCLUSO

    O que temos hoje uma tica do mercado. Esta no apenas exclui pessoas, mas as torna mercadoria do mesmo mercado. A contribuio das expresses religiosas comea na superao de todo e qualquer fundamentalismo, no apenas o religioso. Muitos criticam os mulumanos ou judeus pelo acirrado

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    fundamentalismo religioso, misturado com questes culturais e polticas. Mas vale ressaltar que estamos vendo e vivendo outro fundamentalismo que est sendo

    imposto em toda parte do planeta e at fora dele: das super-potncias econmicas, que governam o mundo. a tentativa de substituio de um fundamentalismo por outro: um de capital, onde as armas so os poderes blico e econmico que est sendo despejado sobre o mundo, assim como a poluio e destruio do meio-ambiente.

    Diante desse cenrio de disputas e intrigas, mesmo no sei de muitas religies, queremos resgatar um elemento que de fundamental importncia para a vida

    do ser humano: o testemunho tico. Em um mundo urbano e secularizado o testemunho tico revela a confiana e a esperana da presena do sagrado. Nesta tica, supe-se a solidariedade com as pessoas, partindo dos excludos. Este desejo no apenas mais um recheio no grande bolo dos sonhos. A presena pblica das religies deve ser questionadora, no utilizao ambgua do poder. H sculos alguns monumentos expressam a centralidade do sagrado via o poder estabelecido. Hoje pauta-se por uma presena mais crtica e espiritual. As manifestaes e movimentos devero ser expresses de comunho e solidariedade com as pessoas, independente do credo. Enfim, depois de sculos dando nfase instituio, as religies so desafiadas para a ao, testemunho, a ser constantemente recriada: um mosaico em construo.

    BIBLIOGRAFIA -AZEVEDO, Marcelo C. de. Dinmicas atuais da cultura brasileira. Estudos da CNBB n 58. So Paulo: Paulinas, 1990. -BETTENCOURT, Estevo Tavares. Crenas, religies, igrejas & seitas: quem so? Santo Andr, SP: Mensageiro de Santo Antnio, 1995. -BBLIA DO PEREGRINO. Lus Alonso Schkel. Trad. Ivo Storniolo e Jos Bortolini. So Paulo: Paulus, 2002. -BINGEMER, Maria Clara L. A Seduo do sagrado. In. A Seduo do Sagrado. O fenmeno religioso da virada do milnio. Org. Cleto Caliman. Petrpolis, RJ: Vozes, p. 79-115, 1998. -CASPAR, Robert. Cristianismo/Islamismo. Trad. Maia da Rocha. Porto Portugal: Editorial Perptuo Socorro. -COMBLIN, Jos. Cristos rumo ao sculo XXI. So Paulo: Paulus, 1996. -CRESPI, Franco. A Experincia religiosa na ps-modernidade. Trad. Antonio Angonese. Bauru, SP: Editora Universidade do Sagrado Corao. -KNG, Hans. Ser cristo. Trad. Jos W. Filho. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1974. -LIBNIO, Joo Batista. O Sagrado na ps-modernidade. In. A Seduo do Sagrado (org. Cleto Caliman). Petrpolis, RJ: Vozes, p. 61-78, 1998. -______. As Lgicas da cidade. Impacto sobre a f e sob o impacto da f. So Paulo: Loyola, 2001. -PINTO, Valmir Flores. O Ser humano entre o sagrado e o secular. Dissertao de mestrado em teologia sistemtica pela PUC-RS. Porto Alegre, 2005. -SEGUNDO, Juan Luis. Que mundo? Que homem? Que Deus? Aproximaes entre cincia, filosofia e teologia. Trad. Magda Furtado. So Paulo: Paulinas, 1995.

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    VITRINE

    SUGESTO DE LEITURA

    A INTERPRETAO DAS CULTURAS

    Clifford Geertz

    Livros Tcnicos e Cientficos Editora RESUMO: A totalidade dos quinze captulos que compem este volume, relaciona-se com o conceito de cultura. So em grande parte estudos empricos do que considera proximidade das imediaes da vida social. A leitura do livro importante mesmo que resolvamos abandon-la no primeiro captulo, onde o autor realiza um panorama de sua contribuio s Ceincias Sociais. SUMRIO: Por uma teoria interpretativa da cultura; O impacto do conceito de cultura sobre o conceito de homem; O crescimento da cultura e a evoluo da mente; A religio como sistema cultural; Ethos, viso de mundo, e a anlise de smbolos sagrados; A ideologia como sistema cultural; A poltica do significado; Pessoa, tempo e conduta em Bali; Um jogo absorvente. reas de interesse: Histria, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Cincia Poltica. Palavras-chave: cultura, antropologia, smbolo, interpretao.