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República Oligárquica (1894-1930) Conflitos rurais e militares Prof. Cristiano Pissolato

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República Oligárquica (1894-1930)

Conflitos rurais e militares

Prof. Cristiano Pissolato

Conflitos rurais

• Apesar das modificações sociais e o desenvolvimento inicial das indústrias, o Brasil ainda tinha a maior parte da população na área rural.

• Esse conflitos são chamados de messiânicos, derivado da palavra Messias “o enviado por Deus”, “o salvador”.

Um dos principais problemas que acarretaram os conflitos, foi a posse da terra, a violência dos coronéis e seus jagunços.

Revolta de Canudos (1893-1897)

• Os últimos anos do século XIX agravou-se a situação dos sertanejos nordestinos.

• Constantes secas, declínio da produção açucareira, opressão dos coronéis-fazendeiros.

Área sobre influência de Antônio Conselheiro no sertão nordestino.

• Nesse contexto de desesperança surgiu a figura de Antônio Conselheiro com suas pregações político-religiosas.

• Conselheiro chegou em 1893 a uma fazenda abandonada no sertão baiana, às margens do rio Vasa-Barris. Ali liderou a formação do povoado de Canudos.

Antônio Vicente Mendes Maciel (1830-1897) nascido no sertão cearense, ficou mais conhecido como Antônio Conselheiro. Sua pregação era essencialmente religiosa onde o Messias estava para retornar e assim a justiça, a bondade e a fraternidade voltaria a reinar. Estátua de Conselheiro na Serra do Mirante.

• Um de seus lemas era “A terra não tem dono, a terra é de todos.”

Povoado de Canudos recebeu camponeses sem-terra ou pequenos proprietários pobres, ex-escravos e perseguidos pelos coronéis. Em pouco tempo tinha em torno de 20 a 30 mil habitantes. Gravura da época.

• Comandada por Antônio Conselheiro a população vivia em um sistema comunitário, somente havia propriedade privados dos bens de uso pessoal.

• A prostituição e a venda de bebidas alcoólicas eram proibidas.

• Não eram cobrados impostos.

Os latifundiários (coronéis-fazendeiros) ficaram preocupados diante da situação e ficaram com medo de mais e mais sertanejos saíssem de seu controle.

A Igreja Católica não tinha controle das pregações de Antônio Conselheiro, portanto Canudos se contrapunha a estrutura católica.

OPOSIÇÃO A ANTÔNIO CONSELHEIRO

• Armou-se várias especulações sobre Canudos, até mesmo que Antônio Conselheiro estava preparando um ataque a cidades vizinhas e até mesmo a tomada da capital do estado para formar um governo monarquista.

Caricatura de Antônio Conselheiro barrando a República da Revista Ilustrada. Os revoltosos aparecem armados com antigos bacamartes.

Conflito armado

• De novembro de 1896 a janeiro de 1897 duas expedições comandadas pela polícia local foram facilmente derrotadas pelos “fanáticos” de Conselheiro.

Fotografia do arraial de Canudos em 1897, tirada pelo fotografo do Exército.

• A terceira expedição organizada pelo Exército com 1.300 homens foi repelida pelas tropas de Canudos.

Batalhão do Exército em ação durante confrontos na região de Canudos.

• A quarta expedição organizada pelo ministro da Guerra em duas frentes com em torno de 7 mil homens.

Batalhão do Exército na região de Canudos em 1897, o Exército brasileiro tinha dificuldades de manter uma infra-estrutura básica para a linha de frente. Os soldados chegaram a passar fome.

Marechal Carlos Machado Bittencourt (1840-1897), militar gaúcho e ministro da Guerra foi até o sertão baiano e instalou-se na cidade de Monte Santo.

• Os sertanejos de Conselheiro resistiram de junho a outubro de 1897 quando definitivamente o arraial de Canudos foi destruído.

Mulheres e crianças seguidores de Antônio Conselheiro feitos prisioneiros nos últimos dias do cerco ao arraial.

Fotografia de Antônio Conselheiro que faleceu devido a ferimentos durante o conflito. Foi enterrado no santuário de Canudos, logo após a rendição seu corpo foi exumado.

Igreja em Canudos, a imagem mostra ela destruída depois do ataque do Exército.

Guerra do Contestado (1912-1916)

• O nome da região se dá pelo fato de ser uma região disputada (contestada) entre dois estados Santa Catarina e Paraná.

• Também é um movimento messiânico.

A Argentina também reivindicava o território, a disputa ficou conhecida como Questão de Palmas, o Brasil saiu vitorioso em 1895.

• Pouco a pouco a região foi sendo ocupada por camponeses pobres, o a presença do Estado era praticamente nula.

• Os camponeses (sem escritura da posse das terras) começaram a entrar em conflito com os coronéis-fazendeiros.

O segundo “monge” João Maria antecessor do “monge” José Maria.

• A situação agravou-se quando o governo decidiu construir a Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande.

Para a construção da obra o governo firmou um contrato onde cedia 15km de cada lado da ferrovia a companhia construtora.

• A empresa Brazil Railway Company de propriedade de Percival Farquhar que encampou a construção da ferrovia que durou de 1908 a 1910.

Percival Farquhar (1864-1953)

Locomotiva levando funcionários para a frente de trabalho.

• Depois de inaugurada a ferrovia, começou a exploração e exportação de madeira pela empresa Southern Brazil Lumber & Colonization Company, também de Farquhar.

Poderosos guinchos arrastavam toras de araucárias e imbuias de um raio de 500 metros da ferrovia.

• Consequentemente a expulsão dos camponeses e a venda de lotes a imigrantes europeus.

Seguranças da Lumber.

Geradores utilizados em uma serraria da Lumber.

Conflitos

• Por volta de 1911 os sertanejos do Contestado começaram a organizar-se sob a liderança de um “monge” José Maria.

Antes de José Maria, apareceram na região do Contestado outros dois “monges” que ficaram conhecidos como João Maria.

Miguel Lucena Boaventura, mais conhecido como “monge” José Maria. Realizava curas e dava conselhos, misturava em seu discurso elementos religiosos com lendas sobre Carlos Magno. Foto o monge José Maria e três virgens.

• José Maria reuniu em torno de 20 mil sertanejos que fundaram alguns povoados.

• Era chamada de “Monarquia celeste” e tinha um governo próprio com normas igualitárias, não obedecendo as autoridade republicanas.

Bandeira da “Monarquia celeste” tendo como a primeira aldeia santa Taquaruçu (atual município de Curitibanos-SC).

• Perseguidos pelos coronéis-fazendeiros, pela empresa estrangeira e por tropas federais.

• “Monge” José Maria foi morto em combate em 1912 e santificado pelos seus fieis que continuaram a luta.

Grupo de caboclos armados dispostos a se defender contra o avanço da empresa estrangeira na região.

Hospital militar durante a campanha do Contestado.

Acampamento de tropas federais em Iracema.

• Em 1916 todos os núcleos da “Monarquia celeste” foram arrasados por um Exército formado de 7 mil homens armados com metralhadoras e canhões.

Revoltosos feitos prisioneiros pelas tropas federais. Adeodato último líder dos “fanáticos”

foi preso e condenado a 30 anos de prisão. Acabou morto em 1923.

Cangaço

• As condições de opressão dos coronéis-fazendeiros, constantes secas e fome levou a formação de grupos armados chamados de cangaceiros.

• Para muitos o cangaço foi uma forma pura e simples de banditismo e criminalidade.

• Para outros foi uma forma de banditismo social, uma revolta legítima contra a opressão.

• Entre os mais importantes bandos de cangaceiros destacamos: Antônio Silvino (1875-1944) e Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

Bando cangaceiro de Antônio Silvino (segundo em pé a partir da esq.) que foi preso em 1914 pelo governo da Paraíba.

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Nasceu por volta de 1898 em Serra Talhada-PE. Sua família envolve-se em conflitos mortais com outras famílias no sertão nordestino. Seu pai foi morto pela polícia em 1919. Por volta deste período formou seu grupo de cangaceiros.

Lampião e sua esposa Maria Bonita, que passou acompanhar o grupo à partir de 1930.

Preço por Lampião vivo ou morto.

Chapéu de couro de vaqueiro ou chapéu de Lampião tradicional indumentária nordestina.

• Depois que a polícia massacrou o bando de Lampião em 1938, o cangaço praticamente desapareceu do Nordeste.

Extermínio do grupo de Lampião. Entre as cabeças está além do líder, sua companheira Maria Bonita.

Conflitos com os militares

Revolta da Chibata (1910)

• Em novembro de 1910 teve início uma revolta de aproximadamente dois mil marujos da Marinha brasileira.

• Liderada pelo marinheiro João Cândido. João Cândido (1880-1969) também

conhecido como “Almirante Negro” líder da revolta. Foi preso e expulso depois da Marinha. Em 1912 é libertado, acaba sendo perseguido ao longo de sua vida.

• Tomaram o controle do encouraçado Minas Gerais, e posteriormente os navios São Paulo, Bahia e Deodoro.

• Apontaram os canhões para a cidade do Rio de Janeiro e enviaram um comunicação ao presidente da República, Hermes da Fonseca.

Encouraçado Minas Gerais (Minas Geraes) de fabricação britânica (Armstrong Whitworth) foi incorporado a Marinha em 1910.

Encouraçado São Paulo de fabricação britânica (Vickers, Sons & Maxim) incorporado a Marinha em 1910.

O líder do movimento e um marinheiro durante a leitura do manifesto dos revoltosos.

Exigências dos revoltosos:

• Mudanças no código de disciplina da Marinha;

• Fim do uso de chibatadas para punição dos marinheiros;

• Reclamavam da alimentação e dos baixos soldos.

João Cândido e demais marinheiros à bordo de um navio durante a revolta.

• O governo sem muita opção, extinguiu os castigos corporais e concedeu anistia aos revoltosos.

Manchete do Jornal do Brasil de novembro de 1910.

• A anistia foi esquecida e vários marinheiros foram presos na ilha das Cobras, entre eles João Cândido. Muitos marinheiros foram

enviados para a Amazônia.

Alegando o início de uma nova rebelião a ilha das Cobras foi intensamente bombardeada e muitos marinheiros revoltosos foram mortos.

João Cândido sendo escoltado para a prisão.

Tenentismo

• Foi um movimento militar formado principalmente por tenentes e capitães.

• Rejeitavam o domínio político das elites agrárias.

• Voto secreto e justiça eleitoral.

• Defendiam a modernização econômica do país e um Estado forte e centralizado.

X

Revolta do Forte de Copacabana (1922)

• Movimento deflagrado após a prisão do marechal Hermes da Fonseca e o fechamento do Clube Militar.

Também conhecido como Revolta dos 18 do Forte.

Forte de Copacabana inaugurado em 1914 era uma das mais modernas defesas da capital federal. Portão de Armas do Forte.

• Tropas fieis ao governo bombardearam o forte, a maior parte dos tenentes rendeu-se.

Forte e praia de Copacabana na cidade do Rio de Janeiro.

• Contudo resistiram dezessete militares e um civil, estes saíram a luta pelas ruas do Rio de Janeiro.

A partir da esquerda o tenente Eduardo Gomes, Siqueira Campos, Nilton Prado e o civil Otávio Correia.

Tenente Eduardo Gomes (1896-1981) aviador e político fluminense. Ficou gravemente ferido durante a revolta e foi preso, posteriormente participará da Revolução de 1924 e da Revolução de 1930. Será candidato a presidência pela UDN em 1945 e 1950.

• Nessa luta suicida apenas dois sobreviveram:

Antônio de Siqueira Campos (1898-1930) militar paulista e sobrevivente dos Dezoito do Forte. Acaba falecendo devido a um desastre aéreo em 1930. Busto em frente ao forte “A pátria tudo se deve dar, a pátria nada se deve pedir, nem mesmo compreensão”.

Revoltas de 1924 (SP e RS)

• Os tenentes comandados pelo general Isidoro Dias Lopes toma a cidade de São Paulo durante o alguns dias de julho.

• Sem condição de resistir ao avanço de tropas do governo, os tenentes paulistas (Coluna Paulista) partiram em direção a Foz do Iguaçu-PR.

• No Paraná os paulistas unem-se a coluna gaúcha formada por militares comandados pelo capitão Luís Carlos Prestes.

Luís Carlos Prestes (1898-1990) militar e político gaúcho. Formando-se na Escola Militar em 1919, quando da revolta tenentista em São Paulo (1924) lidera um grupo que adere ao movimento em Santo Ângelo e posteriormente parte para o Paraná. Ficará conhecido como “Cavaleiro da Esperança”.

Miguel Costa (1885-1959) major da Força Pública Paulista foi um dos líderes tenentes paulista e participou da Coluna Prestes. Aderiu a Revolução de 1930 e chegou ao posto de general no governo Vargas.

Coluna Prestes (1924-1927)

• Após a união das duas colunas sob comando de Prestes, eles partiram para o interior do território.

• Formada por um pouco mais de mil homens.

Destacam-se entre os lideres Luís Carlos Prestes (terceiro sentado à partir da esq.), Miguel Costa, Juarez Távora.

• A Coluna Miguel Costa-Prestes em poucas oportunidades enfrentou grandes efetivos de tropas do governo.

A Coluna comandada por Prestes partiu de Santo Ângelo.

Grupo de revolucionários da Coluna Prestes.

Obra de Cândido Portinari (1903-1962) denominada Coluna Prestes de 1950.

• Não conseguindo o apoio necessário para derrubada do governo e isolados, a maioria dos “soldados revolucionários” se refugiaram na Bolívia em 1927.

Foi na Bolívia e Argentina que Luís Carlos Prestes entra em contado com os ideais comunistas. Foto de Prestes na Argentina em 1928.

Extra

Livro Os Sertões

• Lançado em 1902 por Euclides da Cunha correspondente de guerra do jornal O Estado de São Paulo durante a Guerra de Canudos.

• O livro baseia-se na sociedade messiânica e o massacre de Canudos.

Euclides da Cunha (1866-1909) escritor, jornalista, geógrafo e engenheiro carioca.