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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS. Rudinei Borba Pesquisador Independente e Autodidata Fevereiro / 2013 RESUMO O propósito do nosso trabalho é estudarmos o ritual fúnebre conhecido como Arísùn no Batuque do Rio Grande do Sul, onde traçaremos um paralelo com a diáspora tradicional yorùbá, demonstrando que nosso culto preservou, mesmo que resumidamente, a ritualística não aculturada yorùbá. Através deste texto, talvez possamos entender melhor os conceitos que envolvem a morte e o culto dos Éégún. PALAVRAS CHAVES: Batuque, yorùbá, morte, arísùn, éégún, ìgbàlè , ìsinkú, ancestrais, funeral, velório, sono. ABSTRACT The purpose of our work is to study the funeral ritual known as Arísùn Batuque in Rio Grande do Sul, where outline a parallel with the traditional Yoruba diaspora, demonstrating that our worship preserved, even if briefly, the Yoruba acculturated not ritualistic. Through this text, perhaps we can better understand the concepts that involve death and the cult of Éégún. KEYWORD: Batuque, yorùbá, death, arísùn, éégún, ìgbàlè, ìsinkú, ancestors, funeral, wake, sleep.

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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS. Rudinei Borba Pesquisador Independente e Autodidata Fevereiro / 2013

RESUMO

O propósito do nosso trabalho é estudarmos o ritual fúnebre conhecido como

Arísùn no Batuque do Rio Grande do Sul, onde traçaremos um paralelo com a diáspora

tradicional yorùbá, demonstrando que nosso culto preservou, mesmo que

resumidamente, a ritualística não aculturada yorùbá. Através deste texto, talvez

possamos entender melhor os conceitos que envolvem a morte e o culto dos Éégún.

PALAVRAS CHAVES: Batuque, yorùbá, morte, arísùn, éégún, ìgbàlè, ìsinkú,

ancestrais, funeral, velório, sono.

ABSTRACT

The purpose of our work is to study the funeral ritual known as Arísùn Batuque

in Rio Grande do Sul, where outline a parallel with the traditional Yoruba diaspora,

demonstrating that our worship preserved, even if briefly, the Yoruba acculturated not

ritualistic. Through this text, perhaps we can better understand the concepts that involve

death and the cult of Éégún.

KEYWORD: Batuque, yorùbá, death, arísùn, éégún, ìgbàlè, ìsinkú, ancestors, funeral,

wake, sleep.

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SUMÁRIO

1. Introdução................................................................................................................5

2. A Importância do Culto Éégún................................................................................6

3. A Morte..................................................................................................................10

4. O Ìsinkú (o Funeral)...............................................................................................15

4.1. A Exposição do Corpo Morto................................................................................16

4.2. O Preparo do Caixão..............................................................................................18

4.3. O Velório................................................................................................................20

4.4. O Cortejo Fúnebre..................................................................................................21

4.5. O Sepultamento......................................................................................................22

5. O Arísùn.................................................................................................................23

5.1. O Sacrifício dos Animais na Noite do Sexto Dia..................................................25

5.2. A Mesa do Café: A primeira ou a última refeição com o morto?..........................26

6. O Ìgbalè..................................................................................................................27

7. Considerações Finais..............................................................................................29

8. Referências Bibliográficas.....................................................................................30

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SUMÁRIO DE IMAGENS

Imagem 1.........................................................................................................................33 Cortejo Fúnebre yorùbá (1) realizado na Rep. Pop. do Benin Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto Imagem 2.........................................................................................................................33 Cortejo Fúnebre yorùbá (2) realizado na Rep. Pop. do Benin Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto Imagem 3.........................................................................................................................34 Mulheres (Ìsokún) despedindo-se do morto na Rep. Pop. do Benin Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto Imagem 4.........................................................................................................................34 Bebida servida aos convidados do funeral na Rep. Pop. do Benin Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto Imagem 5.........................................................................................................................35 Um descendente tendo contado com Éégún na Nigéria Foto sem informação Imagem 6.........................................................................................................................35 Integrantes da aldeia levando tecidos novos para que fosse ofertado ao morto no momento do preparo de seu funeral.

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é estudarmos o nosso ritual fúnebre conhecido por

Arísùn1 no Batuque do Rio Grande do Sul, buscando explicações filosóficas e culturais

na religião tradicional yorùbá2, onde poderemos ter um entendimento mais amplo dos

nossos rituais, observarmos o quanto o nosso culto conseguiu preservar algumas

particularidades em relação ao praticado pela diáspora africana não aculturada.

Não adentraremos no vasto conteúdo ritualístico do nosso Batuque, como

número e cor de velas, cor das aves e da pelagem dos animais a serem sacrificados, de

como sacralizar um ìgbàlè3, como montar sacos do carrego, etc. Entendemos que este

assunto já foi discutido por outros autores afro-gaúchos.

Focalizaremos nosso trabalho no entendimento da importância do culto ancestral

no Batuque, tentando desmistificar o sentimento de medo do culto Éégún4 e

registrarmos o quanto preservamos sua ritualística. O trabalho se dividirá em cinco

partes, como segue:

A Importância do Culto Éégún;

A Morte;

O Ìsinkú (funeral);

O Arísùn;

O Ìgbalè.

1. Podendo ser traduzido como “Aquele que viu o sono” (a tradução é nossa), assunto que será

amplamente estudado no decorrer do nosso trabalho.

2. Os Iorubás (em iorubá: Yorùbá) são um dos maiores grupo étno-linguístico ou grupo étnico na África Ocidental, composto por 30 milhões de pessoas em toda a região. Constituem o segundo maior grupo étnico na Nigéria, com aproximadamente 21% da sua população total.

3. Casa dos mortos, Ilé-Éégun, podendo ser traduzido como “terra dos ancestrais” (a tradução é nossa).

4. Forma abreviada da palavra Egúngún, querendo dizer “Mascarado”, ou seja, espírito materializado de um ancestral, antepassado.

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A IMPORTÂNCIA DO CULTO ÉÉGÚN

Cultuar Éégún é a forma de manter viva nossa ancestralidade, pois sem a

presença desta não seríamos nada, não teríamos vivido e com certeza não estaríamos

escrevendo este texto. Acreditamos que existe a necessidade de colocarmos a

ancestralidade numa posição mais viva e presente, em um patamar digno, sem falsos

dogmas ou misticismos, para que a mesma deixe de ser temida, ou até mesmo deixar de

ser confundida e ou vinculadas a um Iwin5 ou até mesmo um Ajogun6.

Cultuar Éégún é o mesmo que cultuar o espírito de nossos mortos (ancestrais),

estes reverenciados em conjunto ou de forma individualizada no ìgbàlè. Ser

reverenciado como Éégún não é simples, pois o iniciado no culto de Òrìsà deve ter

passado por princípios de condutas exemplares no àiyé7, vivendo dentro dos princípios

básicos de honestidade, moral, ética e um caráter digno de ser louvável até mesmo após

a morte.

Abímbólá8 (1971, p. 03-04) descreve muito bem importância do culto Éégún

dentro do âmbito familiar e religioso, como segue:

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5. Espírito perturbador ou escurecido. Também conhecido como ser imaginário de forma humana.

6. São os Ajogun: Òfò – Prejuízos, Ègbà – Paralisia, Èjò – Problemas, Èpè – Maldição, Èwòn – Prisão, Èse – qualquer outro malefício que possa afetar os seres humanos, entre outras energias maléficas.

7. Espaço visível que habitamos e que coexiste paralelamente com o espaço abstrato (òrun).

8. Wándé Abimbólá recebeu da maioria dos Bàbáláwo o título Àwíse Àgbàiyé – Porta voz mundial da cultura yorùbá no mundo.

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Através da fala de Abímbólá compreendemos o papel importante de um

ancestral para sua família religiosa, bem como, na forma cultuada dos mesmos, presente

junto ao culto dos Òrìsà, nos ajudando, nos conduzindo a um bom caminho e dando

assistência as nossas vidas.

Percebemos também que os Éégún estão separados dos Ajogun, que é suficiente

para entendermos que os nossos ancestrais não estariam em posição de nos causar danos

as nossas vidas, muito pelo contrário, o autor mencionado diz que eles nos ajudam a

superarmos nossos obstáculos da vida, afinal, somos seus descendentes vivendo

paralelamente no mundo visível.

Pensamos que render culto a um Éégún é tão importante quanto cultuar nossos

Òrìsà, pois um yorùbá acredita que não há um sem o outro. Um Éégún só será honrado

após a morte se tiver tido uma vida digna, podendo se tornar mais tarde um protetor de

sua família.

Quando um patriarca ou matriarca de nossa família está viajando9, geralmente a

estrutura familiar fica abalada, mas com a ajuda contínua do ancestral que obteve o

9. Dentro do pensamento tradicional yorùbá, nunca se a expressão “morrer”, onde para os mesmos um

ancestral nunca morre, pois seria o mesmo que aniquilar sua existência. Acredita-se que a pessoa faz Sùn (dorme) e ou está viajando, o que dá o entendimento que poderá voltar de viagem a qualquer momento, ou seja, reencarnando num de seus descendentes.

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privilégio de anteceder do òrun10, acaba regrando os bons costumes e o caráter de seus

descendentes.

Muitas vezes quando um filho acaba caindo no submundo das drogas, no

alcoolismo, no roubo e todos os aspectos influenciados pelos Ajogun, são comuns até

mesmo dentro da nossa cultura familiar, escutar: “Se o seu (pai) e ou no caso sua (mãe)

estivesse vivo, queria ver o que o mesmo ou a mesma acharia de seu comportamento”

(o grifo é nosso).

Um ancestral insatisfeito com os comportamentos sociais inaceitáveis de sua

família, onde citamos o adultério, o desrespeito aos mais velhos, às transgressões de

interdições ou o não cumprimento de leis que regem a vida social do povo, muitas vezes

o Éégún poderá atuar como conselheiro, avaliando as situações, aconselhando seus

filhos e devotos, para que a ordem seja restabelecida. Além de prestar auxílio ligado à

ordem social, os ancestrais são evocados para auxiliar no progresso da agricultura,

garantindo chuvas e boas colheitas, etc.

A melhor maneira de ser reconhecido após a morte é vivendo uma vida justa,

com caráter e dignidade, podendo assim ser lembrado por seus descendentes, caso

morra acima dos setenta anos, estará maduro para fazer sua jornada de retorno até o

òrun, sem ser influenciado nesse caminho de volta.

Pensamos que assim que uma pessoa tenha alcançado o seu tempo de vida na

terra, teríamos que efetuar uma consulta oracular para saber qual a sua atual situação no

òrun, onde Ifá e ou Òrìsà mostrará se foi uma morte natural ou castigo por algum tipo

de transgressão. O oráculo também poderá mais tarde indicar se o “viajante” já foi

julgado merecedor, ou não, de ser cultuado como Éégún.

Corroborando nosso pensamento, temos a parte de um documentário chamado

“O mensageiro entre os dois mundos” onde o tema principal era mostrar as viagens de

Pierre Verger11 na África, explicando locais por onde passou quando efetuava suas

pesquisas. No final deste documentário mostra a partida12 de Verger para o òrun, onde

10. Além, espaço sagrado, mundo invisível onde habitam as divindades.

11. Nasceu em Paris, no dia 4 de novembro de 1902, mais tarde tornou-se fotógrafo e um estudioso do culto aos orixás. Foi na África que Verger recebeu o nome de Fatumbi, "nascido de novo graças ao Ifá", em 1953.

12. Verger parte em jornada ao Òrun em 11 de fevereiro de 1996.

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seu sacerdote consulta o oráculo de Ifá13 através dos ikin14 para saber qual era a situação

de Verger no outro mundo. O resultado da consulta causou grande emoção, tanto de

Gilberto Gil (responsável pela apresentação do documentário), como também das

demais pessoas envolvidas na gravação. Verger havia alcançado seu status de ancestral,

dando sequência aos seus rituais fúnebres.

Encontramos importante texto15 de autoria do Bàbáláwo Ifágbenusolà Aworeni,

demonstrando que não há malefício algum em cultuar Éégún, como segue:

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Através da fala de Ifágbenusolà podemos entender que o culto dos Eégún foi mal

compreendido na diáspora afro-brasileira, onde alguns adeptos acreditam ser prejudicial

tocar as roupas de Eégún. O autor nos ajuda a concluir o raciocínio dessa primeira parte

do nosso trabalho, descrevendo claramente a importância do culto ancestral, bem como,

desmistifica o algum tipo de perigo no culto.

Acreditamos que o medo pode estar dentro de nós, pois se não termos uma boa

conduta na terra, como poderemos cultuar nossos Éégún? Pensamos que atualmente

algumas pessoas não querem viver a vida de forma regrada, passando a ignorar algumas

formas comportamentais impostas por nossa sociedade e que também nossa

ancestralidade poderia desqualificar.

13. Oráculo sagrado de Òrúnmìlà, o Deus da adivinhação Yorùbá.

14. Caroço do fruto do dendezeiro, utilizado para adivinhação no oráculo de Ifá.

15. Disponível em INTERNET, ver in: <http://www.vodoo-beninbrazil.org/br/sintese.html>

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Temos a intenção de causar um questionamento, que possamos entender o

porquê não cultuar nossa ancestralidade? Por que temer os Eégún? Por que temer nosso

pai e ou mãe que não vivem mais neste mundo? Pensamos que a resposta a essas

perguntas se encontram no entendimento das diferenças entre um Éégún e um espírito

qualquer que não atingiu seus status de culto.

Também pensamos que o medo do culto Éégún possa estar associado ao fato de

se lidar com a morte, mas que na próxima parte do nosso texto poderemos estudá-la

melhor.

A MORTE

Na nossa sociedade o medo da morte faz parte do nosso cotidiano, onde fazemos

de tudo para aumentar nossos anos de vida, mas acabamos esquecendo que a melhor

maneira de se viver muitos anos é através do nosso caráter.

Omotobàtálá16 (informação pessoal) nos diz que: "Ser mentiroso não priva uma

pessoa de se fazer rico. Romper um contrato não priva alguém de ter uma idade

avançada. Porém o dia que morrer, aí terá problemas".

Na religião tradicional yorùbá acredita-se que teremos um julgamento após

nossa morte, pois os Òrìsà não apoiam os mentirosos, ladrões, injustos, degenerados,

adúlteros, assassinos, etc. Os Òrìsà mandam sempre seus seguidores dizer a verdade.

Omotobàtálá (informação pessoal) ainda diz: "[...] Seja sincero, mesmo que sozinho! Seja

verdadeiro, faça o bem! Aquele que é verdadeiro, as divindades o apoiarão! Diga a verdade,

mesmo que sozinho [...]”.

Através do pensamento de Omotobàtálá fica visível que a religião yorùbá possui

limites e é regrada no bem, deixando sempre de lado o mal.

Segundo a cultura Yorùbá o òrun, também conhecido como “espaço invisível” é

o nosso local de origem e onde devemos retornar. Dentro desta cultura, a melhor coisa é

estar vivo, portanto o àiyé seria o melhor lugar para vivermos. Segundo nossa crença,

esta é totalmente baseada na reencarnação, diferente um pouco do pensamento

16. Aworìsà e escritor Obalufon Osvaldo Omotobàtálá realizou pesquisas e se iniciou na Rep. Pop. do Benin, onde publicou diversos livros explicando a cultura Yorùbá Nàgó.

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kardecista que acredita numa reencarnação em qualquer parte do mundo, o yorùbá tem a

crença numa nova existência dentro do mesmo âmbito familiar.

Segundo (Bascom, 1960, p. 06) o fato dos humanos poderem escolher o seu

destino não se limita em saber quando de seu regresso a seu criador, ou seja, a o seu

local de origem. Portanto uma pessoa nunca saberá quando irá morrer, onde informa:

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Ao ler o material fornecido por Bascom, chegamos ao entendimento que fica um

tanto difícil saber quando uma pessoa morrerá, pois poderá ser através de seus atos na

terra, como também com influência de alguma dessas forças negativas, que

mencionamos anteriormente. À única divindade que sabe o momento de uma pessoa

partir (morrer) é Oló �run, pois este retira o Èmí17 no momento que decidir.

Segundo o texto18 do Olúwo Ifátókun Itaniy19, fornece claramente esse

pensamento quando diz:

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17. Traduzido como “Espírito”, ao contrário de èémí (respiração).

18. Disponível INTERNET, ver in: <www.edibere.com.ve>

19. Olúwo Ifátókun Itaniy é descendente religioso do atual Àràbà Àgbàiyé, o Chief Aworemi Awoyemi adisa mokoranwale, representante de todos Bàbáláwo no mundo.

20. O Yorùbá acredita num trajeto longo entre o òrun (mundo abstrato) e o àiyé (mundo físico), por isso chamam a pessoa que morreu de viajante (a citação da nota é nossa).

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Através da fala do bàbáláwo, realinhada com o pensamento de Omotobàtálá,

demonstra que existe crença de um julgamento após a morte. Ifátókun Itaniy ainda diz:

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�������������������������������������������(A tradução é nossa).

Ao ler a parte do texto, entendemos que existe um caminho longo a ser traçado

pelo indivíduo antes do nascimento, sendo importante que a pessoa esteja preparada

para viajem a caminho da terra. Estando este pensamento adequado à nossa crença,

pensamos que existe também o trajeto de retorno ao òrun após o término de nossa

existência aqui nesse plano.

Dentro da tradição yorùbá a morte é conhecida como Ikú, sendo uma entidade

muito temida por ser o “Rei dos Ajogun”. Entendemos que o medo da morte não deveria

ocorrer quando estamos vivendo de acordo com a filosofia imposta por nossa cultura,

onde podemos consultar as divindades através do oráculo e fazer as oferendas

recomendadas, onde possamos ser vitoriosos nos obstáculos de nossas vidas.

Ifátókun Itaniy informa também: “[...] O apego às coisas materiais do mundo

cria medo da morte. Quando um homem morre, se transforma em um Egúngún, ou seja,

em um mascarado [...]”. O bàbáláwo fortalece a crença que não devemos viver

apegados a bens materiais.

Bascom (1960, p. 403-404) nos ajuda a entender o caminho que um espírito

possa tomar após a morte:

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Através da fala do autor, temos um melhor entendimento do mundo abstrato

òrun, onde o mesmo chamou de céu, informando também às possíveis punições que

possamos sofrer após a morte. Através dos estudos apresentados, podemos falar mais

detalhadamente sobre “Ikú”, “o Rei dos Ajogun”, estando este encarregado de levar o

espírito da pessoa de volta ao òrun.

Ikú também é conhecido por Oníkó, este último era seu nome em tempos

primordiais e pela sua ação de causar a morte, a expressão Ikú ficou mais conhecida

atualmente, ou seja, Ikú é a sua qualidade e Oníkó é seu nome mais primitivo.

Segundo Ifátókun Itaniy, ainda em seu site na web, relata que “Ikú Oníkó é um

servente de Olórun, sendoi criado para trazer de volta à alma do viajante a cidade do

céu”. Informa ainda o itan do odù Ogbe Oyekún:

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14

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tradução é nossa).�

Ao ler o texto entendemos que Ikú realmente tinha um nome mais primitivo, e

também considerado muito importante para o cumprimento do ciclo natural da vida,

obedecendo apenas a Olórun.

Para nós a morte de uma pessoa jovem é vista como sendo uma tragédia, por não

ter alcançando seu tempo na terra, onde esta pode ter sido castigada por alguma

divindade ou influenciada por alguma força maligna, podendo ser ajogun e ou Àbíkú21.

Com essas informações mais detalhadas, podemos melhor compreender um essa

etapa do nosso ciclo de vida, onde acreditamos, assim como os yorùbá, a morte ser

apenas o recomeço de uma nova existência.

Nenhuma pessoa pode escapar de um dia morrer, ou seja, a morte é certa, a vida

não. É preciso encarar a morte como um fato natural e viver a vida plenamente, curtindo

ela da melhor maneira possível, de preferência respeitando todas as pessoas, amando o

próximo e na medida do possível perdoando quando preciso. Devemos consultar o

oráculo para saber quais as oferendas a executar, contando com ajuda de Èsù22 é claro.

21. Significa “Aquele que nasce para morrer”, uma sociedade que vive entre o òrun e o àiyé que traz

desgraça para famílias, enviando uma criança que brevemente retornará, morrendo antes de alcançar sua maior idade, estes estão ligados aos Ajogun. Para saber mais, ver: Verger, Pierre. La société egbé òrun des àbíkú, les enfants qui naissent pour mourir maintes fois. Bulletin de l'IFAN, vol. XXX, Série B, nº 4. (Dakar), 1968, pp. 1448-1487

22. No Batuque o Òrìsà Èsù é conhecido pela sua qualidade, onde é chamado de Bàrà.

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O ÌSINKÚ (O Funeral)

No nosso Batuque a palavra Ìsinkú23 não é muito conhecida, por não termos

ainda a vivência do idioma yorùbá, mas o funeral está muito presente no nosso culto.

Sabemos que quando um adepto do Batuque falece são executados os rituais

fúnebres, mas poderemos entender através do nosso estudo que conseguimos preservar,

mesmo que resumidamente, a forma ritualística herdada dos nativos yorùbá.

Analisaremos o quanto os cultos, o afrodescendente e o nativo, estão realinhados em

seus conceitos de rito.

A morte24 nas religiões Africanas é uma fase de transição da vida, e requerem

ritos de passagens. Para o yorùbá, morrer com idade avançada requer um funeral digno

(com muita festa), pois estes retratam uma boa morte e vista dessa crença, muitas

pessoas preparam de antemão o seu próprio funeral, guardando dinheiro e encarregando

pessoas para efetuarem a cerimônia fúnebre. Este pensamento não difere no Batuque,

onde muitas vezes o sacerdote também deixa algum descendente encarregado de

efetuarem seu funeral, antes mesmo de virem a partir em direção ao òrun.

A morte de um adepto do Batuque com idade avançada não interessa somente à

sua família e ao grupo de parentes e amigos, mas envolve todas as pessoas, uma vez que

este falecido gozava em vida de status, passando a ser reconhecido pelos seus atos por

toda sociedade religiosa, acabando envolvendo muitas pessoas de outras casas em seu

funeral.

Padre Toninho Nunes documentou um texto25 que vem de encontro com nosso

pensamento, onde relata um funeral tradicional na Costa do Marfim, onde relata:

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23. Traduzido como “ritual da morte”, ou seja, funeral, enterro, sepultamento.

24. Utilizaremos no nosso texto a expressão “morrer”, mesmo sabendo que esta não é usual pelos povos yorùbá, assim nosso texto ficará melhor entendível.

25. Disponível INTERNET, in: http://www.pime.org.br/mundoemissao/culturaculmorte.htm

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Através da fala do padre, fica evidente que são executados rituais semelhantes

do nosso Batuque, envolvendo dança, roda ritualística, festa e a presença do tambor nos

rituais.

A Exposição do Corpo Morto

Dentro dos rituais fúnebres do Batuque há uma exposição do corpo do morto que

teve grande destaque em sua vida. Utilizando ainda o texto de padre Toninho, temos

uma semelhança com o praticado pelos povos africanos não aculturados, como segue:

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Ao ler esta parte, percebemos que o Batuque também mantém vivo e presente a

forma de expor o corpo do morto, que é vestido com sua melhor vestimenta ritual, onde

os adeptos prestam suas últimas homenagens. Seguindo relato de padre Toninho, o

mesmo informa:

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Através do relato, entendemos que o culto do Batuque está muito próximo ao

tradicional africano não aculturado, onde os rituais fúnebres dos sacerdotes com nível

elevado são muito semelhantes entre ambas às culturas.

Segundo trabalho realizado pela Universidade da Geórgia26, mostra à

importância da cerimônia fúnebre dos yorùbá, como segue:

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26. Disponível INTERNET, ver in: http://www.africa.uga.edu/Yoruba/unit_18/cultureunit.html

Importance of ceremonies in Yoruba Culture (Illustrations of Yoruba Ceremonies: Naming; Wedding and Funeral).

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������+������N0������"������������������������$������������������-�����

������������������������������ (a tradução é nossa).

Ao ler o texto percebemos que o Batuque Afro-Sul preservou essa mesma forma

de prática no culto, onde efetua os rituais fúnebres apenas de pessoas que atingiram

idade avançada e que merecerão serem lembradas após seu final de vida.

O texto ainda registra que a morte prematura é considerada trágica entre ambas

as culturas, onde nos faz entender que nem todos os espíritos poderão se tornar Éégún.

O Preparo do Caixão

No Batuque o caixão pode ser preparado no templo religioso, vestindo o defunto

com suas roupas religiosas, mas na maioria dos casos não são efetuados banhos

ritualísticos antes de por o morto no caixão, diferenciando nessa parte do costume

tradicional yorùbá.

Corroborando nosso estudo, Elenito de Souza27, (2006, p. 59) registrou que: “só

são efetuados os rituais funerários completos se o iniciado possuir nível elevado dentro

do culto, caso contrário os rituais terminam no momento da preparação do caixão”.

Através da fala do autor, entendemos que não é realizado cortejo fúnebre nem

homenagens, caso à pessoa não tenha um nível elevado dentro da nossa sociedade

religiosa.

27. Hélio Elenito de Souza é conhecido no meio religioso do Batuque como “Pai Hélio de Xangô”,

sendo descendente religioso do saudoso Pai Adão de Bará (Èsù Bí-omi) e iniciado a mais de setenta anos. O autor é um dos poucos a escrever sobre o ritual de Éégún no Batuque do nosso Estado.

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Segundo Omotobàtálá (2003, p. 20) nos informa sobre os costumes yorùbá Nàgó

da preparação do corpo do morto, para posteriormente ser velado:

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����������������"������������"�������������������������������(a tradução é

nossa).

Através da fala de Omotobàtálá, percebemos que palavra Arísùn é traduzida

como Arésùn. Não é nossa intenção dizer qual a forma certa da tradução da palavra,

onde preferimos utilizar a nossa interpretação.

O autor informa que há um momento para se chorar no culto, onde pensamos

que seja feito uma consulta oracular para ver que tipo de morte a pessoa teve, como

vimos anteriormente. Entendemos que caso for uma morte natural seria dado um tipo de

cerimônia, a com honras, diferente de uma morte trágica, onde seria motivo de grande

tristeza e choros.

Essa mesma importância ritual de preparar o corpo do morto e dar o devido tipo

de enterro foi registrada por Babayemi (1980 p. 49), onde diz:

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����*�������������������������������(a tradução é nossa).�

Através da fala do autor percebemos que são feitos sacrifícios na cova do morto,

diferenciando do nosso culto do Batuque, onde vivemos numa cultura “social” diferente

da yorùbá. Ao estudarmos esse material tradicional, entendemos um pouco mais porque

efetuamos um funeral diferenciado dos demais cultos religiosos do Brasil.

Notamos também no texto a preocupação de se efetuarem rituais durante os

próximos dias após a morte do indivíduo, assegurando que seu espírito alcance o

caminho correto após sua morte. Esta parte será mais bem discutida na sequência do

nosso trabalho, quando abordaremos a mesa do café efetuada no Batuque.

O Velório

Segundo Elenito de Souza, (2006, p. 125) diz que: “[...] são servidas aos

visitantes do velório, bebidas alcoólicas, café, biscoitos, pães, etc.[...]”.

O autor em sua obra (p. 126) também relata que: “[...] é efetuado roda em volta

do caixão para serem entoados cantos de rezas fúnebres pelo Onílù [...]” e grifa que

este procedimento só é realizado quando o morto tenha nível elevado no culto. O

mesmo não nos fornece a explicação que esse procedimento serve para homenagear o

morto no momento do enterro, como feito pelos nativos yorùbá, focando sua explicação

apenas nos rituais praticados dentro do Batuque.

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O Cortejo Fúnebre

Após o velório, o caixão é levado até o cemitério através do cortejo fúnebre, este

realizado ao som do “tambor chocho28” para render homenagens ao falecido. O caixão é

embalado até sua chegada ao cemitério, onde os participantes seguem atrás, abanando

lenços brancos e despedindo-se do morto.

Omotobàtálá (2003, p. 22) atribui a posse dos lenços brancos às mulheres,

atribuindo as mesmas a qualidade Ìsokún, como segue:

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��������"����J�G+�'L�>����������?��������(a tradução é nossa).

No ritual do cortejo no Batuque o onílù entoa sempre o àdúrà-orin (reza

cantada) de despedida do morto, onde podemos informar sua transcrição fonética, bem

como uma “possível” tradução da mesma, como segue:

Onilù: A tè tè ko là’wo

Pronúncia: Atétéko láuô

(Nós veneramos, cultuamos, não desapareça para o culto).

Dáhùn (Resposta): Fà’ra fó rì là’nà a tè tè ko là’wo fà’ra fó rì là’nà

(Lentamente o corpo dança e é plantado, penetrando no caminho, nós veneramos,

cultuamos, não desapareça para o culto, lentamente o corpo dança e é plantado,

penetrando no caminho).�

Através do estudo da “possível” tradução, pensamos que o caixão é embalado

devido alusão à reza entoada pelo cortejo fúnebre. Entendemos também que o apelo

28. No Batuque o Onílù (tamboreiro) é encarregado do toque para o ritual fúnebre de Éégun, onde o

mesmo deixa soltas as cordas que esticam o couro do tambor, fazendo com que o mesmo produza um som chocho, diferente do som estridente tocado para o culto aos Òrìsà.

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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba

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feito através da reza cantada, serve para que o morto não se perca ou desapareça no

caminho de retorno ao òrun.

O Sepultamento

Como vimos anteriormente, no Batuque também se utiliza os lenços brancos

para despedida do morto, onde estes são depositados dentro do buraco onde o caixão é

colocado. Abímbólá (2000, p. 39) informa que:

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#����������������0���������������� (a tradução é nossa).

Ao ler Abímbólá, entendemos que esse buraco faz alusão ao acesso de um

ancestral ao outro mundo, o òrun. O sepultamento é parte importantíssima do culto,

tanto no Batuque, quanto na tradição yorùbá não aculturada, onde encontramos

importante texto29 de Laura Fortes, intitulado “Egúngún: The Masked Ancestors of the

Yoruba” que acreditamos ser de suma importância para completar nosso entendimento,

como segue:

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29. Disponível na INTERNET, ver in: <http://www.mythicarts.com/writing/Egungun.html>

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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba

23

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Segundo a fala de Laura Fortes30, podemos ver o quanto é importante dar um

funeral adequado para nossos ancestrais, pois os mesmos poderão não responder a nosso

favor do òrun. Somos em partes, responsáveis pelo caminho que um ancestral deve

tomar após sua morte, portanto devemos nós do Batuque sempre ter em mente o quanto

isso é importante e necessário. �

O ARÍSÙN

No Batuque a expressão Arísùn é usada para informar o dia em que serão

efetuados os rituais fúnebres, estes que geralmente tem seu início no sexto dia após a

morte do adepto religioso. Neste devemos ter adquiridos todos os animais, comidas e

apetrechos pertinentes para dar início a ritualística.

Entendemos que a expressão Arísùn faz alusão a aquelas pessoas que

participaram da primeira etapa do culto, ou seja, a parte do velório e do sepultamento,

que posteriormente poderão ser chamadas de “Aquele que viu previamente o sono”,

onde o espírito não morre e sim descansa (dorme), como vimos anteriormente.

Acreditamos que o Éégún só será homenageado após sabermos se o mesmo

alcançou seu status de ancestral, como vimos no caso do saudoso Verger apresentado

por nós. Caso seja positiva a resposta oracular, pensamos que o Éégún será acordado

neste sétimo dia, mencionado também por Omotobàtálá (2003, pg. 23) quando utiliza a

expressão: “fifa Éégún okú wàlé (trazemos o Éégún do morto a casa)”��

A expressão apresentada pelo autor dá o entendimento de trazermos o espírito do

morto de volta a casa, caso esse venha a ser instalado no ìgbàlè para ser homenageado

30. A autora do título em questão é PHD de uma universidade da Pensilvânia.

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por seus descendentes, bem como, para poder continuar agindo como intermediário

entre os adeptos do culto.

Pensamos que nesse instante o Éégún passa a ser um protetor de sua família

instalado no ìgbàlè, mas entendemos que o mesmo também poderá ajudar seus

descendentes mesmo que não instalado “individualmente”, onde passará a ser cultuado

na forma ancestral coletiva, desde que tenha merecimento é claro.

Thompson Drewel (1992, p. 41) menciona que o ritual é dividido em “sete”

partes, ou seja, em sete dias para ter êxito no envio do espírito do falecido ao òrun, pois

acredita também que o espírito não desaparece com a morte.�

Drewel diz que o funeral marca o fim e o começo de uma nova

vida, denominando o primeiro dia como “Ojo Ìsinkú” sendo o mais importante e

também o primeiro dia do ritual funerário. Classifica o terceiro dia de “Itaokú”, estando

reservado para a festa e celebração. O quarto dia, “Irenokú”, é o dia do jogo adivinha

tório e ao sétimo dia, o “Ijekú”, marca o fim da celebração ritual, que na qual

chamamos no Batuque de Arísùn.

O autor na mesma página, explica melhor a ritualística empregada nesses dias,

como segue:

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��������+@��������(a tradução é nossa).�

Através do texto do autor, pensamos que o Batuque conseguiu preservar os

rituais ao longo dos tempos, onde ambos envolvem sete dias para serem realizados os

preceitos. Chama-nos a atenção que Drewel também menciona o sétimo dia como sendo

o dia em que poderemos saber se o morto alcançou seu status de ancestral ou não,

igualmente como vimos anteriormente.

O Sacrifício dos Animais na Noite do Sexto Dia

Na noite do sexto para o sétimo dia no Batuque, são realizados os sacrifícios no

ìgbàlè para homenagear o ancestral, caso esse tenha merecimento. Nesta noite os

animais sacrificados são limpos para que sejam cozidos e preparados no dia seguinte.

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Ao sétimo dia são feitas as comidas ritualísticas, sendo uma parte das mesmas

oferecidas ao ancestral no Ìgbàlè e a outra aos participantes do culto. Neste sétimo dia,

bem cedo, será feita a “primeira” ou “última” refeição com o morto.

A Mesa do Café: A primeira ou a última refeição com o falecido?

Na manhã do sétimo dia é montada no chão do ilé, uma mesa de café para

homenagear o Eégún, onde apenas iniciados com grau elevado participam da refeição,

sendo reservada a cabeceira da mesa para o Eégún. São oferecidas como oferendas as

comidas que a pessoa mais gostava em vida, bem como, outras preparadas

ritualisticamente.

É comum escutarmos no nosso culto que o Eégún recebe suas “últimas”

refeições nos rituais do sétimo dia, por não termos ainda o “culto individualizado” de

Éégún no nosso Batuque, onde neste culto o espírito é “mascarado” e sentado no ìgbàlè.

Acreditamos que só cultuamos no Batuque os Éégún na sua forma ancestral

coletiva, usando o ìgbàlè para homenagear todos os ancestrais de uma só vez, diferente

da forma menos usual que mencionamos. Com esta prática “coletiva”, temos a

impressão que o Éégún recebe a oferenda pela última vez no ìgbàlè.

Pensamos que caso uma pessoa não tenha morte madura, morrendo muito cedo,

não deveríamos efetuar a mesa do café, terminando o culto no momento da preparação

do caixão.

Após o ritual da mesa do café, efetuamos refeições ao longo do dia, utilizando os

animais sacrificados na noite anterior, bem como, servimos bebidas alcoólicas e café

preto para os participantes. Esse nosso banquete é igualmente realizado nos funerais

yorùbá, onde tivemos o entendimento através dos trabalhos mencionados anteriormente.

No final deste dia também praticamos o ritual da preparação dos sacos do

carrego, que constam os pertences do morto, bem como, seus objetos ritualísticos de

culto aos Òrìsà. Estes objetos são quebrados e colocados dentro dos sacos, juntamente

com as oferendas propiciatórias, sendo levados de volta a sua origem, podendo ser no

mato, rio ou mar.

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O ÌGBÀLÈ

Ao pesquisarmos em dicionários tradicionais Yorùbá, não chegamos ao

entendimento da palavra Ìgbàlè, então efetuamos possíveis interpretações da mesma.

Dizemos “possíveis” porque não achamos material que comprove o verdadeiro

significado da palavra, então a tradução foi feita por nós.

Segundo o dicionário “A dictionary of the yoruba language” (2001, p. 110) a

palavra “IGBA” tem alguns significados dependendo de sua acentuação, como segue:

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Encontramos no mesmo dicionário o significado da palavra “ILE”:

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A�'�%/0�>��������������?��

Ao verificar as traduções das palavras, pensamos que poderia ter o significado

de i + àgbà + ilè traduzido como “terra ou chão dos anciões”, que nos pareceria mais

coerente devido à proposta do nosso trabalho, onde pensamos que somente os ancestrais

“dignos” que alcançaram a totalidade do tempo na terra, poderão assim ser

reverenciados.

O ìgbàlè é uma pequena casa feita geralmente no lado direito, da parte dos

fundos do templo Ilé-Òrìsà31, onde é escavado um buraco retangular no solo para serem

31. Casa dos Orixás, templo religioso.

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efetuados os sacrifícios para os Eégún. Para um yorùbá é através desse local que os

mortos seguem em viajem até o òrun.

Abímbólá (1997, p.71) atribui a terra como o local de descanso dos ancestrais,

como segue:

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���� ������� ������� �"�� #� ��������� ��� �#��� �� ��� �2�4�� �� ������� ������ (a

tradução é nossa).

Geralmente neste buraco dentro da casinha são depositadas velas, moedas,

comidas ritualísticas, bem como apetrechos que o ancestral mais gostava em vida. Não

acreditamos que este espaço sirva apenas para efetuarem rituais de desligamento do

morto, e sim num local onde poderá ser invocado o ancestral familiar de maneira

coletiva.

Não acreditamos que este local deva ser usado para algum uso de feitiços como

alguns acreditam, pois como poderemos usar este espaço sagrado, onde respondem

aqueles que após a morte julgam nossos comportamentos? Pensamos que seria o mesmo

que fazer algo errado e ser condenado neste mesmo momento, pois através do ìgbàlè, os

Eégún são os guardiões do Ilé contra espíritos maléficos e escurecidos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que através da nossa criação católica, acabamos criando medo de

lidar com o a “morte”, criando certo pânico em se lidar com nossos mortos. Temos que

ter em mente que diversas culturas religiosas homenageiam os mesmos.

O propósito do nosso trabalho foi tentar mudar a imagem negativa que a palavra

Éégún causa atualmente em algumas pessoas, onde acabamos generalizando qualquer

espírito que viveu nesse plano baixo esse nome. Entendemos que um espírito só recebe

o nome de Éégún por merecimento, passando a viver junto dos Òrìsà e de nossos

demais ancestrais no òrun.

Não foi nosso propósito discutir toda ritualística do Batuque, e sim tentar

mostrar o quanto conseguimos preservar nossos rituais através dos tempos, sem tentar

resgatar nada dos mesmos.

Tentaremos todos viver plenamente para que possamos ultrapassar os setenta

anos, para que tenhamos um funeral digno e merecedor de grandes homenagens, estas

podendo ser realizadas pela sociedade e a religião que pertencemos, ou seja, o Batuque

Afro-Sul.

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IMAGENS

Imagem 1- Cortejo Fúnebre yorùbá (1) realizado na Rep. Pop. do Benin

Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto

Imagem 2- Cortejo Fúnebre yorùbá (2) realizado na Rep. Pop. do Benin

Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto

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Imagem 3- Mulheres (Ìsokún) despedindo-se do morto na Rep. Pop. do Benin

Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto

Imagem 4- Bebida servida aos convidados do funeral na Rep. Pop. do Benin

Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto

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Imagem 5- Um descendente tendo contado com Éégún na Nigéria

Foto sem informação

Imagem 6- Integrantes da aldeia levando tecidos novos para que fosse ofertado ao morto

no momento do preparo de seu funeral.

Foto tirada por Padre Toninho e divulgada no site informado no nosso texto.