37 práticas dos bodhisattvas - ensinamento

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Sob a Autoridade Espiritual de S.E. Kalu Rinpoche Texto de Thokme Zangpo Comentriospor Khempo Dny Rinpoche e Sua Santidade o Dalai Lama Thokme Zangpo Centro Budista Tibetano Kagy Pende Gyamtso - DF 425 - Condomnio Jardim Amrica - Lotes F1/F3 - G2/G4Sobradinho II - DF - Cep: 73070 - 023 -Fone: (61)34 85 06 97 - Email: [email protected] 1 Sob a Autoridade Espiritual de S.E. Kalu Rinpoche Texto de Thokme Zangpo ComentriosporKhempo Dny Rinpoche e Sua Santidade o Dalai Lama A traduo destes textos em lngua portuguesa provisria. Devem ser utilizados somente para estudos pessoais : No devem ser publicados./No devem ser difundidos. KPG 08-06-2007 Centro Budista Tibetano Kagy Pende Gyamtso - DF 425 - Condomnio Jardim Amrica - Lotes F1/F3 Sobradinho II - DF - Cep: 73070 - 023 -Fone: (61)34 85 06 97 - Email: [email protected] : www.kalu.org.br+http://geocities.yahoo.com.br/kpgbudismo VIVENDO COMO OS FILHOS DO BUDA ndice AssuntosEstnciasPg. Apresentao O ideal do bodhisattva Thokme Zangpo As 37 prticas do filhos dos vencedores Khempo Deunyeu Rinpoche 5 Introduo15 As 37 prticas dos filhos dos vitoriosos Texto ecomentrio 19 I Preliminares2 estrofes 19 II Corpo do texto 37 estrofes 1] Causas sobre as quais se fundamenta a bodhichitta1 - 921 2] Gerao da bodhichitta 1031 3] Prtica da bodhichitta _A troca de si mesmo e dos outros1134 _A integrao das situaes prtica12 - 2437 _As seis paramitas25 - 3049 1) Generosidade2549 2) tica2650 3) Pacincia2751 4) Energia2853 5) Meditao2954 6) Conhecimento transcendente3055 _A rejeio das condutas errneas31 - 3656 _A dedicatria3761 III Final 4 estrofes 62 Sua Santidade o Dalai Lama AS TRINTA E SETE PRTICAS DOS BODHISATTVAS 67 5VIVENDO COMO OS FILHOS DO BUDA APRESENTAO O Ideal do Bodhisattva ParacompreenderotextodeThokmZangpoaquitraduzido,bemcomoo comentriotrazidoporKhempoDnyRinpoche,precisosaberoqueatradio budista do grande veculo (Mahayana) entende pelo termo bodhisattva. Digamos,resumidamente,queobodhisattvaaquelequeassumeparasio objetivo mais amplo que possa existir e deseja se dedicar inteiramente ao meio mais poderoso que houver para alcan-lo. Queobjetivoesse?Ajudartodososseresasairdosofrimento,seja temporariamente,pormeiodabuscadesoluesparaasdificuldadesque encontramnociclodasexistncias,oudeformadefinitiva,aoconduzi-lospelo caminho da liberao. Que meio esse? Alcanar o estado de Buda, que, numa expanso espontnea de amor infinito, oferece conhecimentos e capacidades infinitas para ajudar os seres. Obodhisattva,ento,aquelequeinvestesuaenergianoserviodesse projeto:ajudarosseresepossibilitarasimesmodefaz-lo,pormeiodeuma ascenso espiritual que o leve a galgar os graus do amor universal, do abandono do eu e do conhecimento da verdadeira natureza das coisas. Oprojetodobodhisattvachamadodebodhichitta,mentedoDespertar, quepodeserdefinidadaseguinteforma:amentevoltadaparaaobtenodo Despertar pelo bem dos seres. A bodhichitta compreende dois aspectos: _a bodhichitta intencional, que define o desejo e a vontade de ajudar os seres e, dessa forma, de progredir at o estado de Buda; _abodhichittaaplicada,quedesignaaprticadosmtodosquepermitem atingir esse ideal. AsTrintaeSetePrticasdosFilhosdosVitoriososse dedicam a esses dois aspectos,maisespecialmenteaosegundo,comosugereottulo.Elasresumeme evocamtudoaquiloquedevesaberaquelequesecomprometecomocaminhoda bodhichitta. Existemvriosnveisdebodhisattvas,quepodemserreagrupadosemduas grandes categorias: _deumlado,aquelesquepodemoschamardeaprendizesdebodhisattvas, ouseja,aspessoasemcujasmentesseformouoidealqueacabamosdedefinir, mas que continuam sendo seres ordinrios, no sentido em que, estando presos ao samsara, ainda no alcanaram a liberao; _dooutrolado,osbodhisattvasdasterras,ouseja,aquelesqueatingirama liberaoeatravessamprogressivamenteosdeznveis,oudezterras,queos separam do estado de Buda. O texto de Thokm Zangpo se destina a ambos, mas, sem dvida, mais aos primeiros. Nesse aspecto, o comentrio de Khempo Rinpoche permite que se faa a distino entre o que diz respeito aos iniciantes e aquilo que concerne os praticantes avanados. Ao longo de sua obra, Thokm Zangpo no utiliza a palavra bodhisattva, mas, emseulugar,aexpressoFilhosdosVitoriosos,umequivalenteusual.Otermo VitoriososdenominaosBudas,queobtiveramavitriasobretodasasimpurezas da mente e sobre a ignorncia. Os bodhisattvas, que seguem o caminho que permite alcanar seu estado sublime, so ento legitimamente chamados de seus filhos. 6 7 8 9Thokm Zangpo ThokmZangpo(1295-1369)nasceunaregiodograndemonastriode Sakya,naprovnciatibetanadeTsang.ComonomeoriginaldeKeuncho Zangpo,suaprimeirainfnciafoimarcadapeladificuldadeepeloluto:aostrs anos, perdeu sua me; aos cinco, seu pai. Acolhido por sua av paterna, teve a dordev-lamorrer,porsuavez,quandoaindanotinhanoveanos.Umtio materno assumiu sua educao e ensinou-lhe a ler e a escrever. Emborativessecomotarefaprincipalpastorearosiaques,ojovem Keuncho Zangpo sentiu-se to fortementeatrado pelo dharma que um dia fugiu decasae,aos14anos,ingressounomonastrioparareceberaordenao menor, enquanto esperava completar 29 anos, para tomar a ordenao maior.Duranteseusestudosnomonastrio,logosemostrouumaluno extremamentebrilhante.Foiporsuavivacidademental,alis,querecebeuseu novonome,ThokmZangpo,peloqualserchamadodaquiparafrente.Na pocaemqueumdeseusprofessoresensinavaoAbhidharmasamuccaya,do grande erudito indiano Asanga (cujo nome em tibetano Thokm), ele perguntou a seus alunos o significado de uma expresso do texto particularmente difcil, que podiasignificarsofrimentosemconfusoousofrimentosemmatria.SomenteojovemKeunchoZangpo,entocom15anos,podeencontrara soluo. Ele explicou que a expresso se referia aos sofrimentos pelos quais um arhat poderia passar, pois mesmo estando liberado da confuso e da matria dasemoesperturbadorasdamente,aindacolhiaoresultadodekarmas negativosanteriores.Omestreficoutoadmiradocomarespostaquedeclarou que seu aluno era um novo Asanga (Thokm), e o nome ficou. Ao longo dos anos, Thokm Zangpo estudou os grandes temas da filosofia budista o vinaya, a prajnaparamita e o madhyamika. Diz-se que ele aprendeu a totalidade dos textos j traduzidos do snscrito para o tibetano. Sua erudio era imensa. Longedeseconfinarnumintelectualismoabstrato,eletinhaaomesmo tempoacompanhiaconstantedosdoentes,mendigosepobres,eseesforava semcessarparaaliviarseussofrimentos.Conta-seque,aotomarosvotosdo bodhisattva,ouseja,ocompromissodealcanaroDespertarpelobemdos seres, a terra tremeu e arco-ris iluminaram o espao. Vriosepisdiosregistramaimensacompaixoeagrandesabedoriade Thokm Zangpo. Por volta de seu trigsimo aniversrio, ele morava no monastrio de , no Tsang,afimdeaperfeioarseusestudos,etinhaohbitodealimentarum mendigoquevivianosarredoresdainstituio.Umdia,noviuseuprotegidoe acabouencontrando-onumrecantoescondidodosolhosdetodos.Omendigo explicouqueestavatosujoetocobertodepulgasquecriavaumsentimento de repulsa em todos aqueles que o viam. Por isso, preferiu se esconder. Thokm Zangpo levou-o, ento, para dormir em seu quarto, alimentou-o com fartura e lhe deu roupas limpas. Assim que o mendigo saiu, o monge perguntou-se o que fazer com os farrapos cheios de parasitas que ele tinha largado. Se os jogasse fora, os parasitasnoteriammaisnadacomquesealimentar;seosqueimasse,eleos mataria. Decidiu ento alimentar as pulgas com seu prprio sangue, vestindo as roupasdeixadaspelomendigo.Tornou-seentoimpossvelparaelefreqentar asaulas,preferindoseisolaraselivrardosinsetos,comoseuscolegaslhe pediam para fazer. Ele esperou que as pulgas morressem antes de retomar seus estudos. ThokmZangpo,emtodasascircunstncias,viaapenasseusprprios defeitos. No falava jamais dos defeitos dos outros, mas valorizava sempre suas 10qualidades.Aforadoamoredacompaixoqueohabitavameratalqueas pessoassuavoltatinhamnaturalmenteamenteserena;atosanimais, segundo a tradio, perdiam seu medo e sua agressividade. Os animais ferozes, ascoras,ospssaros,osceseosgatospareciamesquecersuahostilidade mtua. Ele distribua todos os seus bens entre os necessitados, no guardando o que quer que fosse para uso prprio. Doava suas roupas ou mesmo a esteira em que estivesse sentado, se visse que um pobre precisava dela.Tododia,faziacemprosternaes,cemcircumbulaesnumastupae recitava21vezesalouvaodeTara.Passou vinte anos de sua vida em retiro, fazendo os nyoung-n (jejuns), meditando sobre a bodhichitta. Porsuasimensasqualidadesdebodhisattva,ThokmZangpofoi consideradopelostibetanoscomoumamanifestaodeAvalokiteshvara(tib. Tchenrezi),adivindadequepersonificaoamoreacompaixodetodosos Budas. O que se sabe sobre a sua experincia da meditao, alis, revela a que ponto era estreito o elo que o unia divindade. QuandopraticavaasseisjunesdeKalachakra,seulamainstrutor revelou-lheque,aolongodenumerosasexistncias,eletinhatido Avalokiteshvaracomodivindadedemeditaoprincipal;elelhedeuvrias iniciaesdeAvalokiteshvara,juntamentecomnumerosasinstruessobrea prtica. Umdia,teveumavisodeAvalokiteshvaradeonzefaces,oquefez nasceremsuamenteumaprofundarealizaodavacuidade-compaixo.Trewo Tekden,umdosgrandesdiscpulosdoTerceiroKarmapa,lhedisseento: Avalokiteshvara,oGrandeCompassivo,nonemumafrescosobreuma parede, nem uma figura sobre uma thangka; Avalokiteshvara , tal qual nasa na mentedeumser,acompaixo-vacuidadequefluisobretodoscomomesmo ardor que o amor de uma me sobre seu nico filho. Exprimindo-se dessa forma, elesereferiadefatoaoprprioThokmZangpo,considerandoqueelese tornava uno com o Avalokiteshvara absoluto. Vrios de seus discpulos que tinham um karma puro viam Avalokiteshvara verdadeiramente nele. QuandoThokmZangpotevecertezadahoradesuamorte,algunsde seusdiscpuloslheperguntaramonderenasceria.Elerespondeuque,seisso fossepossvel,almejavanascernosinfernos,ondeosseresmaissofreme, portanto, onde havia mais necessidade de ajuda; que no tinha desejo algum de renascernoscampospuros.Poressepropsito,exprimiuumaltimavezseu total compromisso de bodhisattva. 11As Trinta e Sete Prticas dos Filhos dos Vitoriosos ThokmZangpoescreveumuitasobras,comdestaqueparaos comentrios do Sutralankara de Maitreya, do Bodhicharyavatara de Shantideva e oTreinamentodaMenteemSetePontos,deAsanga.AsTrintaeSetePrticas dos Filhos dos Vitoriosos constituem sua obra mais conhecida, muito renomada e estudadanouniversomonsticotibetano,marcanteporsuaconciso,clarezae vigor.EleacompsquandovivianolugarconhecidocomoGrutadoVif-Argent (tib.Ngulchou),oqueolevouserfreqentementedesignadopelonomede Ngulchou Thokm. Otextosedivideemtrsgrandespartespreliminares,corpodotextoe final,numtotalde43estrofes.As37prticasdosFilhosdosVitoriosos propriamenteditasocupamasegundaparte(ocorpodotexto),umaestrofe dedicada a cada prtica. A estrutura geral da obra, portanto, a seguinte: * Preliminares2 estrofes * Corpo do texto37 estrofes . causas sobre as quais se fundamenta a bodhichitta 1-9 . gerao da bodhichitta10 . prtica da bodhichitta11-37 - a troca de si mesmo e dos outros11 - a integrao das situaes prtica12-24 - as seis paramitas25-30 - a rejeio das condutas errneas31-36 - a dedicatria37 * Final4 estrofes Vemos aqui que o texto perfeitamenteconstrudo, permitindo a Thokm Zangpoque,lembremos,eraumgrandeeruditotratarseutemademaneira completa e lgica. 12 Khempo DnyRinpoche Khempo Dny e Bokar Rinpoche KhempoDnyRinpoche,quecomentaasTrintaeSetePrticasdos Bodhisattvas, o mais prximo discpulo de Bokar Rinpoche, que por sua vez reconhecidoatualmentecomooprincipalmestredemeditaodaordem Kagyupa.Osdoislamasdesenvolveramumarelaomuitoestreitadesdesua infncia, e nunca se afastaram desde ento. Em sua biografia (A Vida de Bokar Rinpoche), Bokar Rinpoche consagrou um captulo ao Khempo, no qual nos baseamos para apresent-lo. Assim como Bokar Rinpoche, Khempo DnyRinpoche nasceu nos altos plats de clima muito hostil que se estendem sobre o oeste do Tibete, em 1943, trsanosdepoisdaquelequesetornariaseumestre.Desuafamliahaviam sado, no passado, vrios grandes lamas, particularmente dois eruditos: Mendong Tsampa Rinpoche, ao qual se devem vrios de tratados, e Sourou Khempo. Seuspaiserampessoasdeextremapobreza,apontodelhesserdifcil garantir a subsistncia de seus trs filhos. Como se fazia nesses casos no Tibete, preferiramdeix-losnomonastrio,escolhendoodeBokarRinpoche,queno ficava longe. Khempo era o mais velho. Devia ter, na poca, doze anos. Nomonastrio,ascrianasnotinhamquemseocupassedelasnem tinhamumquarto.noite,dormiamnochomesmo,muitasvezesjuntoaos cachorros, para se aquecer. Bokar Rinpoche e seu tutor, Lama Teundroup Tachi, moravam no mesmo cmodo. A cada noite, Lama Teundroup Tachi preparava, no fim da refeio, um tchambou,ouseja,umabolademassaespremidamo,imprimindo-lhea marcadosdedos,equeerajogadadoladodefora,consagradaaosespritos. KhempotinhatopoucooquecomerqueespreitavaomomentoemqueLama TendroupTachilanavaotchambou,precipitava-separapeg-loefugiapara com-lo. NyerpaTratcheu,oadministradordomonastrio,logoreparounaquele meninotopobre,eseapiedoudele.SugeriuaBokarRinpochecoloc-loa serviodoladrang(aresidnciadolama),paraque,emtrocadeseutrabalho, recebesse o que comer e o que vestir. O jovem monge tornou-se ento servidor noladrang,encarregado,deacordocomasnecessidades,detarefasvariadas: cozinha, manuteno do fogo, superviso dos carneiros e iaques etc. 13Elenosabialermuitobem,masmanifestavaumfortedesejode aprender.Algunsachavamquenoconseguiria,ouqueissonolheserviriade nada,maseleinsistiumuito.Finalmente,oprprioBokarRinpochecomeoua lheensinarasletrasdoalfabetoeviuqueeleasassimilavacomgrande facilidade.Rapidamente,ojovemcomeoualerostextoseconseguiu compreenderseusentido.Suaintelignciaserevelouextremamenteviva.Ele compreendia imediatamente tudo o que Bokar Rinpoche lhe explicava. Sua sede desabereratoardenteque,semprequetinhaummomentolivre,aproveitava para pegar um livro e estud-lo, e gravava uma quantidade enorme de coisas de cor.Todavezqueviaumanovaobra,querial-la.Aocontrriodamaioriadas crianas,nohavianenhumanecessidadedefor-loparaqueestudasse.Era preciso,aocontrrio,refre-lo,poistinhaatendnciadenegligenciarseu trabalho para satisfazer seu desejo de conhecimento. ChegandondianacompanhiadeBokarRinpoche,depoisdemuitas dificuldadesdecorrentesdafugadoTibeteedosprimeirostemposdeexlio, KhempoRinpochefreqentouentoaescolatibetanadeDarjeeling,durante cincoanos.Estudavaotibetanoclssicodostextos,otibetanooraleoingls. Obteveacadaanooprimeirolugarnosexamesfinais.Emseguida,foiparaa universidadetibetanadeBenares,ondeseguiuumciclodenoveanosde estudos, saindo, mais uma vez, como o primeiro da turma. Recusandoemseguidaumconvite,emvirtudedeseusresultados brilhantes, para ocupar um bom cargo em Dharamsala, a sede do Dalai Lama e do governo tibetano no exlio, Khempo Rinpoche preferiu juntar-se a seu precioso mestre,queterminavanapocaumretiroemSonada,nomuitolongede Darjeeling. Desdeento,continuouaassistirBokarRinpoche,agoraestabelecidono monastrio de Mirik, em todas as suas tarefas: formao dos monges e lamas do monastrio,ensinamentosparaosocidentais,realizaoderituaisetc.Amante tantodaprticaquantodosestudos,ele consagra grande parte de seu tempo meditao. Oensinamentoquetranscrevemosnapresenteobrafoitransmitido oralmente na Espanha (no centro Dag Shang Kagyu, nos Pirineus espanhis), no curso de vero de 1996. Se o texto reproduz as palavras, no pode, infelizmente, transmitiroarrebatamentodeKhempoRinpochequandoensina,suaface brilhante,suaalegriaevidentedetransmitirocaminhodoBuda,seuamorao Dharma,suasimpatiaprofundaportodososseres,suavivacidadeintensa,seu bom humor comunicativo etc., todas essas qualidades que encantam os ouvintes. Oleitor,desuaparte,deverfazerumesforodeimaginaoparaevoc-las, quando ler as palavras que vm a seguir. 1415INTRODUO Osensinamentosdadosaquipertencemaomahayana,ograndeveculo. Nossa motivao, deve, portanto, a mesma do grande veculo, muito importante compreender bem do que se trata. A motivao inicial tem um papel fundamental naprticadodharma:seforjusta,aprticaserfrutfera;seforinadequada,a prticaserequivocadadesdeocomeo,nopodersedesenvolver corretamente e no produzir os resultados esperados. Daperspectivadograndeveculo,devemospensardaseguinteforma: Quero levar todos os seres ao estado perfeito de Buda. Para ser capaz de faz-lo,almejoreceber,inicialmente,osensinamentosdosmestresqualificados;em seguida, vou refletir sobre eles, depois quero coloc-los em prtica at que tenha alcanado o estado de Buda. Ento, trabalharei para levar todos os seres a esse mesmo estado. essa a motivao pura que devemos ter. dito que, para receber adequadamente um ensinamento, preciso estar livredosTRSDEFEITOSDORECIPIENTE,ouseja,serumouvinteatentoe receptivo. 1) O primeiro desses trs defeitos o do recipiente emborcado. Assistimos ao ensinamento,mas,comamentedistradaportodasortedepensamentos,na realidade no escutamos de jeito nenhum o que dito. Estar presente no serve, ento, de nada. como um recipiente emborcado: nem uma gota de gua vertida sobre ele vai penetr-lo. 2) O segundo defeito o do recipiente furado. Escuta-se o ensinamento assim que ele transmitido, mas, nos dias seguintes, no se reflete sobre aquilo que se ouviuenohesforoparareteroquefoiensinado,demodoque,muito rapidamente, a pessoa esquece o contedo. como a imagem de um recipiente furado:aguaqueestdentrodeleseesvaie,logo,norestamaisnada. preciso, ao contrrio, no apenas escutar bem o ensinamento, mas tambm, em seguida, refletir sobre ele de forma a assimil-lo corretamente. 3)Oterceirodefeitoodorecipientesujo.Apessoavaiaoensinamento, escuta-ocomateno,nosdiasseguintesrefletesobreeleafimdeassimil-lo, mas no tem confiana total no dharma nem no lama que o ensina. Esse estado de mente impede a pessoa de receber e assimilar corretamente o ensinamento, e pode ser comparado a uma sujidade. Aquilo que se verte dentro de um jarro sujo, ou que conserva os resduos de um veneno qualquer, no pode ser ingerido sem quecauseproblemas.Paraqueoensinamentonossejaverdadeiramentetil, devemos assimil-lo pressupondo sua veracidade e tendo confiana no lama que o ensina. dito ainda, que preciso estar livre dos SEIS DEFEITOS que impedem o recebimento correto do ensinamento. 1)OorgulhoApessoaachaquesabemaisdoqueolamaqueensina,ou ento pensa que ele no ensina tudo como deveria, ou ainda que ele se engana. Resumidamente,crqueelaprpriamaissbiaqueaquelequeensina.Esse estadodeespritoimpedetotalmentequeserecebaoensinamentodeforma proveitosa. Cada um de ns deve examinar bem se essa forma de orgulho nasce em nossa mente para, se for o caso, nos esforarmos para rejeit-la. 162)EstardistradopeloexteriorSeassistimosaoensinamento,masnossa menteestdistradaportudooquesepassanossavolta,nenhuma compreenso verdadeira daquilo que dito pode se instaurar. 3)EstarobscurecidopelointeriorSeapessoameditaduranteo ensinamentoeameditaoaleva a um estado no qual a mente obscurecida, elaperdeaconscinciadascoisasenoouvemaisnada,achando-semais prxima do sono que da receptividade da viglia. 4)Adisperso De modo geral, recitar o mantra OM MANI PADME HUNG ou outros mantras, ou ento fazer a meditao de shine, ou permanecer num estado de meditao profunda so aes muito positivas e virtuosas exceto durante os ensinamentos, quando conveniente deixar tudo isso de lado. Por qu? Porque toda a ateno deve estar disponvel para escutar. No o que acontece quando apessoafazoutracoisa.Quandoaplicamostodaanossaatenosobreo ensinamento, ele pode verdadeiramente se fixar em nossa mente. 5) A falta de aspirao O quinto defeito consiste em no ter a aspirao pelo dharma. Nesse caso, a pessoa no sente necessidade do ensinamento para seu prprioaperfeioamentointerior,nemparasuaprpriameditao,masvem movidapelasimplescuriosidade.umaformaincorretaderecebero ensinamento. 6) No suportar as dificuldades O sexto defeito no suportar as pequenas dificuldadesquepodemocorrerduranteoensinamento,como,porexemplo,as doresnaspernas,ouumacertaincompreensoemrelaoaovocabulriodo dharma,queparececomplicado.Nosedevepensar,ento,quetudoisso difcil demais para ns, que no vale a pena continuar, que seria melhor no ficar noensinamento.preciso,aocontrrio,dizer:Minhaspernasdoem,masisso no grande coisa, porque estou aqui para escutar o dharma, que muito mais importantequeaminhador.precisosabersuportarcompacinciaos pequenos desconfortos durante o ensinamento. Quersetratemdostrsdefeitosdorecipienteoudosseisdefeitosem geral, precisamos estar livres deles. Se nada disso nos aflige, tanto melhor. Mas sedetectamosumaououtradessasimperfeies,precisonosesforarpara desfaz-las. Enfim, conveniente observar um certo comportamento quando se assiste a um ensinamento. Ao entrar na sala onde est o mestre, da tradio, antes de qualquer coisa, prosternar-se diante dele, em sinal de respeito. Depois, antes que elecomeceaensinar,oferece-seumamandala,ouseja,oferece-se,em imaginao, todos os bens do universo. Emseguida,duranteasesso,respeitam-secertoscostumesdodharma que na verdade so, antes de qualquer coisa, aspectos de civilidade, que podem ser modulados de acordo com o contexto. Assim, segundo a tradio, as pessoas devemsentar-senochoenomanteraspernasnadireodolama,esim dobradas.Ostibetanosestobastanteacostumadosaessapostura,masos ocidentais,acostumadoscomcadeiras,podemach-ladifcilesentirdoresde verdade.Emborasejamuitodeselegante,porpartedeumtibetano,esticaras pernas,apoiar-secontraaparedeousentar-senumacadeira,esses comportamentosnosorealmenteconsideradosdeselegantesnacasadeum ocidental,porqueohbitoculturaldiferente.Seapessoarealmentenotem problemas nas pernas, prefervel mant-las cruzadas, sabendo que se servir de 17umacadeiraouseseencostaraumaparedeparaestend-lasdurantealguns minutos no ser considerado uma incorreo. Uma outra forma de considerar o modo justo de receber o ensinamento enunciada pelas QUATRO CONSIDERAES: 1.Considerar-sedoente.Umapessoaestdoentenosentidoque,desde sempre, nosso esprito afligido pelas emoes perturbadoras. 2. Considerar o dharma como um remdio que permitir curar essa doena. 3. Considerar o Buda, o Grande Mdico, aquele que preparou o remdio e que o ensinou. 4.Consideraraprticadodharmacomoogestodetomaroremdioquenos libera da doena das emoes perturbadoras. Essasso,brevementeresumidas,amotivaoeacondutaquedevem ser mantidas quando se deseja receber um ensinamento. OtextodasTrintaeSetePrticasdosFilhosdosVitoriosos,que vamosestudar,foiescritonosculoXIIIporumlamadalinhagemSakyapa, Thokm Zangpo, cuja mente era muito aberta e que tinha uma grande confiana em todas as escolas do budismo tibetano. Ele estudou bastante, especialmente, atradiodeAtisha,alinhagemKadampa,aprofundandoosensinamentosde lodjong, a transformao da mente. De modo geral, o mahayana, o grande veculo, to vasto e to profundo que,pararealmenteestud-loemdetalhe,emtodaasuaextensoesobseus mltiplosaspectos,parameditarsobreele,paraassimil-lo,precisodisporde muito tempo. Nos dias atuais, no apenas as pessoas so um pouco preguiosas para estudar o dharma, para refletir sobre ele e para pratic-lo, mas, tambm, a maioriatemumtrabalhoemltiplasocupaesquenolhesdeixamtempo nenhumdisponvel.Sendoassim,asTrintaeSetePrticasdosFilhosdos Vitoriososapresentamavantagemdeserumtextomuitoprofundoqueresume, empoucaspalavras,oessencialdomahayana,almdeserdefcil compreenso.,portanto,bastanteproveitosoestud-lo,porque,seo compreendermosbem,teremoscompreendidoaessnciadograndeveculo,a essncia daquilo que ensinam seus grandes tratados. 18 19

* __________________________As Trinta e Sete Prticas dos Filhos dos Vitoriosos Thokme Zangpo ____rHomenagem a Lokeshvara __________________________________________________________Apesar de verdes com vossa sabedoriaQue todos os fenmenosNo tem ida ou vinda, Vs vos esforais unicamente no bem de todos os seres. Diante de vs, supremo lama e protetor Tchenrezig, Respeitosamente, com o corpo, a palavra e a mente, Prosterno-me ininterruptamente. Pensamos,aqui,quenossoprpriolama-raizindiferenciadodeTchenrezi. Imaginamos que nos prosternamos com o respeito do corpo, da palavra e da mente diante dele, indiferenciado de Tchenrezi e do prprio Thokme Zangpo. ___________________________________________________ Os Buddhas, fonte de todo benefcio e felicidade, Surgem da prtica do Santo Dharma. Como isso depende do compreenso da prtica, Vou explicar a dos Filhos dos Vitoriosos. Esta estrofe expe as finalidades do texto e a utilidade de seu estudo. A fonte de todo benefcio seja do ponto de vista temporal ou absoluto, o prprio Buda. Se quisermos alcanar a perfeio, devemos chegar ao estado de Buda e, para isso, precisoseguirumcertomtodo.Seignorarmosamaneiradeproceder,no disporemos de nenhum meio para obter sucesso. O ensinamento dasTrinta e Sete PrticasdosFilhosdosVitoriosostemporobjetivonosforneceromtodoque permite seguir em direo ao estado de Buda e, sobretudo, de faz-lo sem erro. 20AafirmaosegundoaqualoBudaafontedetodobenefcioedetoda felicidadenodeveserinterpretadadeformaerrnea.Elapoderiadaraentender que aquilo que nos acontece no tem origem crmica, mas provm do Buda, o que noscolocarianaperspectivadeumDeuscriador,provedordefelicidadeede infelicidade.Estanoumanoobudista.Ecertamenteno,portanto,o significado desse verso. O que se quer dizer, aqui, que a fonte de todo benefcio e de toda felicidade o ensinamento pelo qual o Buda indica o caminho da felicidade. Maselenocriaessafelicidade,nemtampoucocrianossossofrimentos.Deonde vm,naverdade,nossossofrimentos?Docarma.Deondevemocarma?Das emoes perturbadoras (o desejo, a raiva, a inveja, o orgulho etc.). De onde vm as emoes perturbadoras? Da ignorncia. issooqueensinaoBuda,que,aomesmotempo,doremdioeexplica como agir corretamente para evitar o sofrimento e para alcanar a felicidade. Ele diz, emessncia:Sevocsqueremobteraliberaoeoestadodebuda,aquiesto caminho a ser seguido. Se, ao contrrio, vocs seguirem aquele outro caminho, no iro rumo liberao, no iro rumo ao estado de buda. Ao mostrar o caminho que conduzliberao,oBudaexatamenteafontedetodobenefcioedetoda felicidade. Paraseguirocaminhoqueconduzliberao,aprimeiracoisaafazer aprendernoqueeleconsiste,oquenecessrioparareceberosensinamentos. Instala-seassim,emnossamente,umconhecimentoquechamamosde conhecimento pela escuta. Isso,noentanto,insuficiente,mesmoserecebemososensinamentosdevrios lamas diferentes. preciso, em seguida, refletir sobre os ensinamentos recebidos e assimil-los, o que desenvolve o conhecimento pela reflexo. Ainda assim, isso no suficiente. necessrio ter compreendido sem erros o que o dharma, mas preciso tambm aplic-lo, coloc-lo realmente em prtica. precisomeditar,fazerasdiferentesprticasquelevaroaumprogresso verdadeiro. o conhecimento proveniente da meditao. Setomarmosascoisaspelosentidoinverso,poderamosdizerque,para alcanaraliberao,necessriaumaprticaautnticadodharma;parapoder sediment-lo,precisoumareflexoquepermitacompreendereassimilaraquilo querealmenteodharma;essareflexosebaseianoensinamentorecebidodos lamas. a nica maneira garantida de seguir um caminho sem erros. 21- 1 - _______________________________________________________ Sendo dotados das [oito] liberdades e [dez] aquisies,Difceis de obter e semelhantes a um grande barco, Para nos liberarmos e aos outros do oceano do samsara, Escutar, refletir e meditar (praticar) Noite e dia, sem distrao, a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. O suporte que nos permite praticar o dharma sem erro a condio humana, mais especialmente aquilo que denominamos de preciosa existncia humana.Comparamos,comfreqncia,aexistnciahumanaembarcaoquepermite atravessarooceanodosamsaraatamargemdaliberao.evidentequeas condiesdeexistncianohumanasanimais,porexemplonooferecem possibilidades de praticar o dharma. Mas a condio de existncia compartilhada por toda a humanidade no pode ser qualificada como preciosa a no ser por algumas condies:agrandeconfiananosensinamentosdoBuda,aforteaspiraoa querer estudar e praticar o dharma, o fato de esses fatores favorveis a essa prtica estaremreunidos,eosfatoresdesfavorveisestaremafastados.Almdisso,para quenossaexistnciahumanasejarealmentepreciosa,devemosterdiligncia.Diz-se que devemos nos dedicar dia e noite prtica do dharma. Noconseguimosapreciosaexistnciahumanadequehojedispomospor acaso.Elaresultadofatodeaolongodenumerosasvidaspassadas,termos acumuladomuitosmritospelaprticadagenerosidade,pelaobservaodeuma certatica,pelocultivodapacincia,pelodesenvolvimentodadiligncia,pelofato aindadenossaaspiraotersidoautnticaedeestarmosembudosdeintenes puras. muito importante dispor desta preciosa existncia humana, porque ela nos dumacertaliberdade.Temosapossibilidadedecompreenderascoisasede escolheraquiloquequeremosfazer.Podemos ver o que justo ou, ao contrrio, o que no o , o que bom e o que mau. Um animal no tem essa liberdade; ele totalmenteprisioneirodeseusinstintosenotemescolhasobresuaconduta, enquantoquensnoestamoscompletamentesobainflunciadasemoes perturbadoras. Podemos escolher nosso caminho. Uma vez que possumos, agora, essa preciosa existncia humana, preciso tirar proveito dela para praticar o dharma. Se desperdiarmos a chance que temos e no fizermos nada de til nessa vida, da prxima vez nossa existncia ser humana? Nadagarante.Nadagaranteaformaqueternossaprximavida.Atualmente, estamoscertosdoquetemoseignoramosotempoqueelavaidurar.agoraque precisamos realmente fazer o esforo para praticar o dharma. 22- 2 - ________________________________________________Diante dos amigos,O desejo e o apego nos agitam como a gua. Diante dos inimigos,A clera nos queima como o fogo. Para aquele cuja obscuridade da ignorncia faz com que esquea o que deve ser adotado e o que deve ser rejeitado, Abandonar sua terra natal a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. O que dito aqui deve ser abordado de forma prudente. No o caso de se pensar:Seeuquiserrealmentepraticarodharma,devoentolargartudo, abandonar tudo e partir sozinho para um eremitrio! Mas no posso fazer isso! Sou casado,tenhofilhos,amigos,parentes,trabalho...entoimpossvel,paramim, praticarodharmadeformaautntica.Issoseriadesencorajador.preciso compreender bem que essa estrofe no se aplica aos principiantes como ns. Ela se destina aos praticantes dos nveis superiores, onde se aborda de maneira profunda aquilo que chamamos de viso superior, a prtica da sabedoria profunda. Para isso, efetivamente, necessrio se retirar do mundo. Osensinamentossosempredadosdeacordocomaspossibilidades,as aspiraes e as condies de existncia de cada um. Dar um ensinamento que nos seria inacessvel e no corresponderia quilo que poderamos fazer no tem nenhum sentido. O mahayana comporta uma variedade muito grande de mtodos, adaptados a todas as condies individuais. Para aqueles cujas capacidades mentais so muito grandesequepodemseaplicarmuitoprofundamenteaosdiferentesaspectosda meditao (a pacificao mental e a viso superior), so propostos alguns mtodos queexigem,defato,queopraticanteseretirecompletamentedetodaatividade temporal.Masexistemtambmmtodosparaaquelesquenotmtais capacidades, ou que se encontram em outras condies, e graas a esses mtodos eles podem progredir muito bem no caminho. Nosnossosdias,particularmente,osocidentaisgeralmentetmfamlia, trabalho,vriasatividades.Aindaassim,noimpossvelprogredirnessas condies,sehouverdedicao.Aprimeiracoisaafazerestabeleceruma continuidadenaprtica:queelasejaregularaolongodosdias,dosmesesedos anos. Sobre essa base, veremos que a vontade de praticar o dharma aumenta por si mesma,porquecompreenderemoscadavezmaissuanecessidade,aomesmo tempo em que, progressivamente, aprenderemos a apreciar seu sabor. Ento, no teremosmaisnecessidadedeincitaesexteriores,enossoesforosesustentar por si mesmo. Issonoquerdizerquesejaimpossvel,nosdiasdehoje,seguiroexemplo de Milarepa, que rejeitou toda atividade ordinria e abandonou sua regio natal para se dedicar exclusivamente prtica. Mas um modo de vida como s se aplica a um nmeromuitopequenodepessoas.NascondiesatuaisdevidanoOcidente, integraraprticavidacotidiana,paraamaioriadosindivduos,umaforma excelente e segura de avanar. 23- 3 - _______________________________________________ Abandonando-se os maus lugares,As paixes diminuem gradualmente. Na ausncia de distrao,A prtica da virtude se desenvolve. Graas a uma inteligncia aberta e clara,Se desenvolve a certeza no Dharma. Ficar na solido a prtica dos Filhos dos Vitoriosos Aqui ensinado que, quando se vive num lugar isolado, os trs venenos odesejo,aaversoeaignorncia,bemcomoadistrao,diminuem gradualmente. Como vivemos no mundo, nossos amigos, nosso trabalho, nossas ocupaessohabitualmentefontesdedistrao;numlocalisolado,elas diminuem.Ento,instala-seespontaneamenteemnossamenteumacerta clareza, a partir da qual se desenvolve uma confiana maior no dharma. Comomoramosemcidades,somossubmetidosamltiplassolicitaes. Cadahoraquepassadedicadaaumanovaocupao.Almdisso,oque vemoseouvimosnoprademudar,eissogeradispersoecriaumagrande confuso na mente dos principiantes como ns. Se, em reao a isso, pudermos nosretirar,aindaqueporalgunsdias,paranosafastardasdistraesenos dedicarmosmeditao,veremospelaprpriaexperinciaquenossamentese tornamaisclaraenossameditaomelhora.Soessasasqualidadesdeum local afastado. No est em questo, para ns, abandonar de repente os amigos, afamlia,otrabalhoenosassentarmoscompletamentenasolido.Issoseria difcil demais. Mas podemos, com certeza, de tempos em tempos, durante alguns dias,nosinstalarnumlugarsolitrio.Gradualmente,poderemosfazerissocom mais freqncia e por mais tempo. 24- 4 - ___________________________________________________ Um a um, nos separamos de amigos e parentesCom quem nos relacionamos por muito tempo. Os bens materiais adquiridos com esforoSo deixados para trs. Mesmo a pousada do corpo rejeitada pela conscincia,Sua hspede. Rejeitar mentalmente [todo apego a] esta vida a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Asalegriasefelicidadesdessemundo,daformacomoaspercebemos,no tmumaverdadeprofundaesoimpermanentes.Soapenasaparncias,algo superficial. A natureza das coisas a de que nada dura, tudo muda. Temos amigos, parentes, colegas, companheiros pelos quais podemos sentir muita afeio e apego. Noentanto,quaisquerquesejam a nossa afeio e o nosso apego, de toda forma, maiscedooumaistarde,ocorreumaseparao.Tendoporcertoqueaprpria naturezadascoisastornaessaseparaoinevitvel,serapegadodemaisnofaz nenhum sentido. Podemos, ao longo da nossa existncia, acumular muitas riquezas ebensmateriais.Masnopodemosguard-loseternamente.Maisdia,menosdia, deveremosnosseparardissotudo.Apegarmo-nosaelesemexcessotambmno faz nenhum sentido. Nodevemosapenasnosseparardaquelesqueamamosedenossas riquezas, mas tambm do nosso corpo, que no imortal. A mente imortal, mas o corpono.Ocorpopodesercomparadoaumhotel,noqualoviajantens pernoita um momento, antes de partir para outro lugar. Ir para um hotel pensando em passarltodaasuavidaeseapegardetodocoraoaoestabelecimentoseria estpidodemais.Paramosummomentonessecorpo,comopassamosalgunsdias num hotel. Depois, preciso partir, ir para outro lugar. Quandodeixamosocorpo,ocarmanoslevanadireodeoutras experincias felizes, se o carma for positivo; dolorosas, se for negativo. uma lei: as coisas se passam inevitavelmente desta forma. preciso compreender, portanto, que nossos apegos no tm grande importncia e no podem nos ligar s alegrias e felicidadesdestemundo,passageirasesuperficiais.melhorprocurarafelicidade autntica, a felicidade absoluta da realizao qual a prtica do dharma conduz. Renunciar aos apegos dessa vida, como aconselhado, significa abandonar toda a atividade temporal e se retirar completamente para a solido para se dedicar unicamente prtica do dharma. isso o que recomenda Thokme Zangpo, mas no necessariamente algo do qual sejamos capazes. certo que, se desejamos obter o estado de Buda no espao de uma s vida, impossvel faz-lo de outra forma que noabandonandotudoenosdedicandoexclusivamentemeditaonumlugar isolado. oquefezMilarepa.Eleoexemploperfeitodoqueoabandonodessa vida,oretironoslocaissolitrioseadedicaoexclusivaprtica.Milarepadizia: Seeumorrersemqueningumsaiba,semeucorpodesaparecersemdeixar vestgios,minhaaspiraodeioguetersidosatisfeita.Esteeraograudesua 25determinao.Elequeriapermaneceremtotalsolido.Queelemorressesemque ningumsedessecontanotinhanenhumaimportnciaparaele.Uma determinaotopotentenofreqenteela,naverdade,muitorara.Milarepa viveuhmuitossculos;desdeento,algumaspessoaspodemtertidouma determinao igual sua. pouco, e aquilo que j era difcil no passado o ainda mais na poca contempornea. Nopodemos,semdvida,seguirperfeitamenteoexemplodeMilarepa,de abandonartudoevivernumlugarondeningumsaiba.Maspodemos, certamente, encontraremnossavidacotidiana,apesardonossotrabalho,umtempoparanos dedicarmos prtica. Agindo assim, progrediremos sem dvida nenhuma. - 5 - __________________________________________________ Se, ao nos associarmos a algum,Os trs venenos aumentam, E a atividade da escuta,Reflexo e meditao (prtica) se deterioram, Pondo fim ao amor e compaixo, Abandonar as ms companhias a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Abandonarosmausamigosumanecessidade.Dopontodevistado caminho,essesamigossoaspessoascujacondutaoumododepensarso contrrios ao dharma. Ao conviver com eles, arriscamos sofrer a sua influncia e nos afastarmos, tambm ns, do dharma. Se tivermos algum interesse pelo caminho, cair sobainflunciadeamigosnocivosfaresseinteressedesaparecer.Se experimentarmosumacertacompaixoeumcertoamorpelosoutros,essas qualidades vo se apagar. Isso ser muito ruim para ns. Mesmo do simples ponto de vista ordinrio, os amigos nocivos so igualmente perigosos. Por qu? Porque podem nos envolver numa conduta negativa. Podemos ser bons no incio e nos tornarmos maus sob uma influncia nefasta. Nemsemprefcildistinguiroqueum amigo nocivo. Podem muito bem ser includas nessa categoria pessoas de boa apresentao, de convivncia bastante agradvel,emcujacompanhianossintamosbem.Massuponhaqueumapessoa dessas diga: um pouco entediante passar tanto tempo ouvindo ensinamentos do dharma!Sefssemosfazerumpoucodeturismoenosdivertir,seriamuitomais agradvel,no?Deixar-seinfluenciardessamaneiraseriaumgraveobstculoao dharma. Piorainda,omesmoamigonocivo,sempretosolcito,podenospropor experimentaralgumadroga.Pagamosporela,atomamos,repetimos.Logo tombamos sob sua influncia e perdemos nossa sade e nosso dinheiro. Isso seria extremamentenocivo.,portanto,importantequetenhamosboascompanhias, porque os maus amigos so um entrave importante prtica do dharma, bem como ao bem estar em nossa vida cotidiana. por isso que nos ensinado a no conviver com eles. 26- 6 - ___________________________________________ Se, ao nos associarmos a algum,Os erros se exaurirem E as qualidades aumentarem como a lua crescente, Mais do que o prprio corpo, Cuidar de tal amigo espiritual a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Depoisdenostermoscolocadoemguardacontraainflunciadosamigos nocivos, somos instrudos sobre a necessidade de buscar a companhia dos amigos dobem.Osbonsamigosso,demodogeral,aspessoascujacondutajusta,o mododepensarcorreto.Dopontodevistaespiritual,sooslamasautnticos. Nossa mente muito influencivel. Se convivermos com maus amigos, sua fora nos jogarparabaixo,aopassoque,convivendocombonsamigos,suaforanos impulsionarparaoalto.Setivermosdefeitos,osbonsamigostmumainfluncia positiva e podem nos ajudar a melhorar. Seria tolo pensar que temos a liberdade de seroquesomos.Issoverdadeparaosseresquechegaramaumnvelmuito elevadoeaumagranderealizao:elesnosoinfluenciveis.Masnsaindao somos. Nossascompanhiassoparansdamaisaltaimportncia.Teramigosdo bemmuitoproveitoso,porque,pelapalavraepeloexemplo,elesnosmostramo que bom para ns e para os outros. Do ponto de vista ordinrio, eles nos ensinam aterumaatividadebenficaparanossafamlia,paraolugaremquevivemose mesmo para o conjunto da sociedade do nosso pas. Mesmo que no digam nada de especial, temos vontade de seguir o exemplo de seu comportamento e sua maneira deser.Dopontodevistadodharma,elessoaindamaisnecessrios.Omelhor amigo,nessesentido,olamaquenosensinaodharma.porissoqueotexto insiste na necessidade de segui-lo. Podemos facilmente verificar a influncia que os outros podem exercer sobre nstomandooexemplodonossogrupo.Formamosumacomunidade,reunidaem funo do dharma, e vemos bem que cada um est aqui para estudar e para meditar. Issonosdenergiaenosincitaanoagirdemododescuidadooupreguioso. Assim,convivercomaquelesquetmesseimpulsoemrelaoaodharmanos favorvel.Maissimplesmentesuponhaqueestamostodosprestesameditareque voc sente um pouco de cansao e uma forte vontade de dormir. Ao ver todo mundo meditar sua volta e temendo dar um mau exemplo, voc no se rende ao sono. O comportamento dos outros ter sidobenfico. A influncia de uma outra pessoa pode ainda ser ilustrada pelo que acontece nosmosteiros.Emgeral,osmongesnotmumacelaindividualedividemum quartocomvriosoutros.Imaginequetrsmongesestejamreunidos,edoisdeles tm o ardor pela prtica, enquanto o terceiro bastante preguioso. Esse ltimo vai sesentirobrigadoaseguiroexemplodosoutros,queselevantamtodamanh, fazem sua prtica e estudam. Ele no vai poder, de jeito nenhum, fazer outra coisa que no seja seguir o movimento. Inversamente, em contato com dois preguiosos, 27aquelequediligentecontinuarassimtalvezdurantealgunsdias,edepoiscair sob a influncia dos outros; ele comear a dormir e a ser descuidado como eles. Nossanaturezainfluencivelimpequesigamosummestreespiritual. importantequeofaamosporque,pornsmesmos,notemosacapacidadede descobrir o que nos convm ou no fazer. O lama nos transmite esse ensinamento. Ele nos leva a fazer aquilo que deve ser feito e a evitar o que deve ser evitado. precisosabersereportaraumlama,umamigoespiritual,tendototal confiananele,compreendendoqueseuensinamentotemporfinalidadeonosso bemequeelequernosajudar.Podemos,evidentemente,compreenderumcerto nmerodecoisasatravsdaleituraouemdiscussescomoutraspessoas,mas jamaiscompreenderemosalgumacoisatobemquanto o compreendemos quando nosreportamosaummestre,eoprogressosermuitomaisdifcil.Seseguirmos bemecorretamenteoensinamentodeumlama,nossasimperfeies necessariamentediminuiroe,aocontrrio,nossasqualidadescrescero.Essa estrofe nos convida a seguir um lama, e a faz-lo da maneira correta. - 7 - ________________________________________________ Os deuses mundanos,Eles prprios confinados priso do samsara, A quem podem eles proteger? Eis porque, se buscamos proteo em algo infalvel, Tomar refgio nas Trs Jias a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Encontrarumrefgio,colocar-sesobaproteodeumsersuperioruma tendncia de qualquer pessoa. Por isso, nos tempos antigos, era comum a crena de que as divindades habitavam certos lugares, como uma montanha, uma rvore, um cursodguaouumlago.Essasdivindadesligadasaoslugaresasdivindades locaissoseresmaispoderososqueoshumanos,enenhumdelestema aspiraopelaliberao,permanecendonosamsara.Eracomumquese estabelecessecomessasdivindadesumarelaosemelhanteaumatomadade refgio,namedidaemqueaspessoasoravamparaelasesecolocavamsobsua proteo. A ajuda que elas podiam dar era, no entanto, limitada ao domnio temporal, considerando-sequenotinhamdeixadoosamsaraenotinhamacessoao domnio da liberao. O apoio procurado era, portanto, muito relativo. Aocontrriodisso,oapoiodadoporumBudanodomniotemporale, sobretudo, no domnio espiritual suscetvel de nos levar at a liberao. Um Buda possui,naverdade,qualidadesquenenhumoutroserdosamsarapossui.Ele inteiramente liberado de todo sofrimento. Tem o poder de guiar os outros no caminho daliberaodosofrimento.Temamorecompaixoportodososseres.Possui equanimidade,queconsisteemdesejarajudartodososseressemexceonem discriminao. Essas so as quatro grandes qualidades de um Buda: estar alm do sofrimento; poder liberar os outros do sofrimento; possuir amor e compaixo; prover uma ajuda equnime. por isso que, se buscamos refgio, no precisamos invocar 28seres por mais poderosos que sejam cuja atividade se limita ao temporal, e sim noscolocarmossobaproteodosBudas.Elessimpodemnosajudar,tantono plano temporal quanto no plano absoluto. Trata-se da verdadeira tomada de refgio. Colocar-se sob a proteo de um Buda no significa, no entanto, que, depois denossatomadaderefgio,oBudanospegarsuavementeemsuasmosenos assentarnoestadodeBuda.Tambmnoquerdizerquenospoupardetodo sofrimento.Ascoisasnosepassamdessamaneira.TomarrefgionoBuda significaterconfiananele,logo,terconfiananoseuensinamento,segui-loe coloc-lo em prtica. S ento estaremos efetivamente no caminho que nos leva ao fim dos sofrimentos e ao estado de Buda. Somosnsquedevemosseguiressecaminho.Noocasodenoseter mais nada a fazer, de esperar tranqilamente que tudo se ajeite, que tudo v bem, e derecorrermosaoBudapararesolvernossosproblemas.Tudobem,agraaeas bnosdoBudanosacompanham.Masissonosignifica,deformaalguma,que nodevamostrabalhar,seguirosensinamentos,avanarnocaminho,senono estaremos na direo do fim dos sofrimentos. Paradarumexemplo,suponhamosqueeutenhoproblemasnomeupas, que os inimigos me perseguem e que eu pea abrigo poltico na Espanha. O que vai acontecer?Eunosereiacolhidosuntuosamente,hospedadonumbomhotele perfeitamentealimentado,compermissoparafazeroquequiser.Elesmedaro asilopoltico,maseudevereirespeitarasleisespanholas,arranjarumtrabalho, prover minhas necessidades. Eu recebo uma proteo, no interior da qual devo agir paraomeuprpriobem.Deformasemelhante,oBudanosdsuaproteo,mas devemos percorrer ns mesmos o caminho. Se,tendoobtidooasilopoltico,possometornarcidadoespanholeme ajustar s leis, se trabalhar bem, estudar bem, pode ser que eu acabe por conseguir umasituaodedestaque.Decertamaneira,tereichegadoaotopo.umpouco comoatomadaderefgio.Seseguirmoscorretamenteocaminhoefizermos corretamente as prticas, chegaremos ao topo, que a obteno do estado de Buda. - 8 - ___________________________________________________ O Sbio ensinou que o sofrimento dos reinos inferiores, Extremamente difcil de suportar, fruto das aes negativas. Mesmo arriscando a prpria vida, Jamais cometer atos negativos a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Afelicidadeeosofrimentoqueexperimentamosnosodevidosaoacaso: eles tm por causa os atos, o carma, que acumulamos desde tempos sem incio. O carmanegativoproduzosofrimento;ocarmapositivoproduzafelicidade.Existem mltiplaspossibilidadesdeexistncia;elassotodascondicionadaspeloscarmas anteriores. 29Algumas dessas possibilidades no nos so perceptveis, como as existncias infernais ou dos espritos famintos. Se observarmos bem aquelas que podemos ver osanimaise os humanos , constatamos, entretanto, muito sofrimento. Os animais sofrem por sua capacidade reduzida de compreenso em relao aos humanos, por ter de viver com medo, por serem privados da liberdade etc. A espcie humana tambm conhece todo tipo de sofrimento. Vemos pessoas muitoafortunadassofrendomuitointeriormente,oupessoasinteriormentepacficas comgrandesdificuldadesmateriais.Nopodemosdizer,emrelaoanenhumser humano,queelenosofredeumamaneiraoudeoutra,deformamaisoumenos intensa. a conseqncia dos atos passados, do carma, e no fruto do acaso. Oensinamentodessaestrofeseposiciona,assim,naperspectivadas prximasvidas.Aocompreendermosaleidocarmaeaocrermosnela, compreendemosqueafelicidadedenossasvidasfuturasdependedenossosatos presentes.Somosprofundamenteestimuladosaterumaatividadepositivanesta vida. - 9 - _________________________________________________ A felicidade dos trs reinos da existncia,Como o orvalho numa folhinha de grama, Pode ser destruda em apenas um instante. Buscar verdadeiramente o supremo estado de liberao, Que nunca muda, a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Afelicidadeeasalegriasdestemundosoimpermanentesenotmmuita realidade.Socomparveisaumagotadeorvalhosobreapontadeumafolha: quandoosolbrilha,agotaseevapora,norestanadadela.Essasfelicidadese alegriassosimplesaparncias,semprofundidadereal.Logo,intilnos apegarmosaelas.Devemosprocurar,aocontrrio,afelicidadeeaalegriano submetidasimpermanncia,quesoaquelasdaliberao.Precisamos, ardentemente,procuraraquelaalegriaimutvelenonosapegarmossalegrias ilusrias desse mundo. Pergunta:Diz-seque,deumamaneirageral,nossasexperinciasdefelicidadeou sofrimentodependemtodasdenossocarma.Entretanto,vemosgrandeslamasexperimentaro sofrimento, as doenas ou outras coisas, ainda que, teoricamente, eles estejam livres do carma... Resposta: Precisamos considerar vrios casos. Antes de qualquer coisa, preciso saber que os lamas, ainda que grandes, no esto necessariamente livres do carma. Na verdade, no seficatotalmentelivredocarmaanoseratingindo-seoestadodeBuda.Somenteentoas emoesperturbadorasserototalmenteexauridaseofluxodocarmatotalmenteinterrompido. Os lamas, portanto, podem muito bem experimentar o fruto de algum carma.Por outro lado, pode acontecerqueoslamastenhamefetivamentealcanadooestadodeBudae,notendomais carma algum, paream sofrer. Neste caso, esse sofrimento, que toma a aparncia de uma doena ouqualqueroutracoisa,noumsofrimentoverdadeiro.umaformadoslamasensinarem. Dizemosqueelesmanifestamumsofrimento,mas,narealidade,osofrimentonoexistepara 30eles. Dito isso, para ns, seres humanos comuns, impossvel saber se o sofrimento de um lama somenteofrutodocarmaouumaformadeensinaratravsdessaaparnciadesofrimento. Precisamos, porm, compreender que, at o estado de Buda, mesmo para os lamas, resta algum carma, e, conseqentemente, possibilidades de sofrimento. Pergunta:KhempoRinpochepoderiadesenvolverumpoucoessanoodeabandonar seu pas e se retirar para um lugar isolado? Resposta: Por que se retirar para um lugar isolado? Por que os objetos de distrao so bemmenosnumerosos,damesmaformaqueosobjetosdedesejo,deaversooumesmode cegueira. Esta a verdadeira razo para que esse isolamento oferea as melhores condies de prtica. Dito isso, para poder meditar e praticar sozinho e distncia, preciso no apenas ter, deincio,tomadorefgio,mastambmterrecebidointeiramenteasinstruesdapartedeum lamaautnticoet-lasassimiladoperfeitamente.Umavezquesetenhacompreendido perfeitamente qual o caminho e o que preciso fazer, que no se tenha mais qualquer dvida nemqualquerhesitao,sentoapessoapodeseretirardomundo.Massealgum,semter aindacompreendidotudo,seafastadetudo,arrisca-seapenasacriarmuitosproblemase dificuldades. No tem, portanto, utilidade nenhuma. Isso seria mais negativo que positivo. Pergunta: Quais so os critrios que permitem reconhecer um lama autntico? Resposta:Dizemosque,parareconhecerseumlamaautntico,precisamos, inicialmente,observ-lo.Ostextosmencionamumcertonmerodequalidadesedefeitosque devem ser examinados. Isso no quer dizer, porm, que se possa com certeza encontrar um lama provido de todas as qualidades. Na nossa poca, tal encontro pode ser muito difcil e muito raro. Mas precisamos avaliar se, sob o ponto de vista do dharma, as qualidades do lama se sobrepem aos defeitos. Se for este o caso, trata-se certamente de um lama cujos ensinamentos podem ser seguidos.Ditoisso,sempredelicadodecidirseumlamaautnticoouno.Naverdade, dizemosque,mesmoqueumlamasejatotalmentepuro,quenotenhamaisnenhumdefeito, projetamossobreelenossosprpriosdefeitos.Dissosesegueque,svezes,ondeexistem qualidades, ns vemos defeitos. Na realidade, isso nada mais que nossa prpria projeo, mas muito difcil nos darmos conta disso. Pergunta:Somosensinadosanonosapegarmossalegriasefelicidadedesse mundo. No pode haver algum apego em relao ao dharma? Se vivermos num lugar agradvel como esse onde estamos, se praticamos um pouco, no podemos tambm nos apegar ao fato de ser agradvel nos encontrarmos numa situao como essa? Resposta: Tudo depende daquilo que se busca. Se uma pessoa vem aqui em busca da satisfaoquelhepodedarumlugaragradvel,asetratadeumapegoordinrio.Masseela vem a esse lugar em funo do dharma, nossas emoes perturbadoras vo diminuir levemente graas ao estudo e prtica, e nossa mente se acalmar. verdade que um pouco de felicidade surge nessas circunstncias. Apegar-se ao dharma porque ele traz qualquer tipo de coisa boa consideradocomoumapegobranco,porqueeleagenosentidodeaumentarasqualidades. No se trata de um defeito. um apego positivo. 31- 10 - ___________________________________________________________ Se todas as mes que, desde tempos sem comeo, Me amaram Sofrem, de que serve minha prpria felicidade? Eis porque, liberar um nmero ilimitado de seres, Desenvolver a bodhicitta (mente do despertar) a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Depois de ter de alguma forma estabelecido, nas nove estrofes precedentes, aprticadoBodhisattvaquepermitegerarabodhichitta,ThokmZangpo desenvolve agora os preceitos da bodhichitta, que so o corao da prtica. Oquesignifica,literalmente,aexpressogerarabodhichittaougerara mente do Despertar? A raiz de todos os nossos sofrimentos a fixao no eu. No momento, nossa mente muito suscetvel de valorizar a si mesma, e no tem mais do que uma fraca tendnciaavalorizarosoutros.Gerarabodhichittaconsisteemfazercomquese valorize menos a si mesmo, e, ao contrrio, que se d mais importncia aos outros. Pouco a pouco, a felicidade e a paz aumentam em ns e nossa volta. Essaatitudeimplicalevaremconsideraoainfinidadedosseres. Lembremo-nosquetodos,aolongodenossasinumerveisvidaspassadas,se relacionaramconosco.Todos,nummomentoouemoutro,tiveramafeioporns. Todos nos ajudaram de uma maneira ou de outra. Devemos, agora, retribuir-lhes. E mesmo que desejemos vir em sua ajuda, constatamos, entretanto, que no temos o poderdefaz-loverdadeiramente.SaobtenodoestadodeBudaconfereo poder ilimitado de ajudar verdadeiramente todos os seres. Gerarabodhichitasignifica,portanto,assumirocompromissodeatingiro estadodeBudaparateracapacidadedeajudartodososseres.Essamotivao alcanaroDespertarparapoderajudartodososseresfundamental.a motivao do mahayana. ela que d todo o seu valor e todo o seu poder s aes positivas que possamos realizar. Graas a ela, essas aes se tornam perfeitamente puras e ganham bastante amplitude, sejam elas, por si ss, modestas ou grandiosas. Senotivermosessamotivao,ouseelaforerradase,porexemplo, visamosaonossoprpriobem,algumanotoriedadeouoquequerquesejaem nosso prprio interesse , nossas aes positivas no tero grande alcance, mesmo que exteriormente paream muito importantes. Ao contrrio, recitar todo dia nem que sejam sete ou dez mantras de Tchenrezi, com a motivao de fazer o bem a todos os seres do universo, uma ao extremamente virtuosa. Quandopensamos:Queeupossarealizarobemdetodososseres,nos comprometemosemrelaoaeles,mastivemosadificuldadedefazeranossa prpriafelicidade.Ocompromissopareceentomuitodifcildesermantido. Entretanto,aaspiraoquetemosagoracomoumasemente.Umdia,ela amadurecer e frutificar. Sem semente, no h fruto. preciso uma semente hoje paraquesetenhaumfrutoamanh.TodososBudasetodososBodhisattvasdo passadoseencontraram,inicialmente,nomesmoestadodeserordinrioemque estamos.Elesaspiraramrealizarobemdetodososseresedesejaramalcanaro 32estado de buda naquele incio. Essa foi a semente que, se desenvolvendo pouco a pouco, fez com que eles finalmente atingissem o Despertar e que tenham, agora, a capacidade de ajudar todos os seres.O mesmo ocorre conosco. Precisamos plantar asemente para que, ao fim do processo, o fruto possa amadurecer. isso que diz essa dcima estrofe. Ela diz mais: Quando aqueles que, desde tempos sem princpio, foram uma meparamimemanifestaramseuamor,estoemsofrimento,dequevaleminha prpria felicidade? No mahayana, consideramos que, na infinidade de nossas vidas passadas, cada ser j foi nossa me num momento ou em outro, cada um deles teve afeio por ns e nos ajudou. Sabendo disso, temos uma dvida em relao a eles. porissoqueabsolutamenteimpossvelusufruirmospessoalmenteafelicidade enquanto todos esses seres continuam atormentados pelo sofrimento. Podemosencontraressemesmotipodesituaonanossavidacotidiana. Suponhamosqueumapessoaleveumavidadediversoenegligencie completamenteoscuidadoscomsuame,oucomumamigomuitoprximoque estejagravementedoenteeprecisedeajuda.Todomundojulgariaessapessoa indignaesuacondutavergonhosa.Sepensarmos:Precisoalcanaralibertao porquequerosairdosofrimento,enosesquecermoscompletamentedetodos aquelesquenosajudaramaolongodenossasvidaspassadas,estaremosnos colocando na mesma situao vergonhosa. por isso que devemos sempre ter em mente que queremos estabelecer na felicidadeatodososseres,anossasmesemvidaspassadas,quequeremos libert-los dos sofrimentos e estabelec-los ao estado de Buda. Esta a motivao essencial. Afimdedemonstraroquantotodososseresmostraramsuabondadeem relao a ns, dizemos que todos eles foram nossa me em nossas vidas passadas, porque o amor de uma me por seu filho o exemplo tradicional da afeio que um ser pode ter por outro. Na grande maioria dos casos, de fato, a relao me-filho uma relao de afeto: a me ama seu filho, os filhos amam sua me. a natureza das coisas. Tanto a natureza das coisas que, mesmo entre os animais, cuja mente muito menos gil e muito menos desenvolvida que a nossa, as mes tm tambm atendnciadeamarseusfilhoteseosfilhotesdeamarsuame.Mesmoentreos animais mais ferozes, como os tigres, leopardos ou outros, encontramos o amor da me por seus filhotes e destes por sua me. Entreoshumanos,entretanto,podeacontecerdessarelaoserruim:uma me pode tratar seu filho com hostilidade ou, ao contrrio, um filho pode ver na sua me uma inimiga. um caso pouco comum. Quando isso ocorre, pode-se dizer que setratadeummaucarmaocasional,equeasituaofrutodeperturbaes interioresmomentneas.Issonosignificaquetodasasrelaesentremeefilho em vidas passadas tenham sido ruins. Nos nossos dias, verdade, certas pessoas ficam enfurecidas com a simples visodesuame,oumesmoquandoelamencionada.Taispessoasatquerem cogitardefazerobematodososseres,masnoasuame!Diramosqueeles pensamassim:Estouinteiramentedeacordoemtentarlevartodososseresao estadodeBuda;issonomeparecemuitodifcil.Masmepareceimpossvel, absolutamenteimpossvel,levaraesteestadoaminhame,queeunoamo! VejamqueBodhisattvasmaisinteressantes!Elesqueremquetodososseres alcancem a felicidade, exceo de um deles a sua me! Todos os Bodhisattvas do passado, no entanto, formularam a aspirao: Que eu possa levar todos os seres ao estado de Buda, em primeiro lugar minha prpria me.Aspirar o inverso, ou seja, desejarfazerfelizestodososseresexcetosuaprpriame,seriaumvotode Bodhisattva totalmente novo e realmente estranho. Setivermosrelaesconflituosascomnossame,seachamosqueelafoi muito dura conosco, ou que nos tratou mal, isso motivo para que tenhamos ainda mais compaixo por ela, para aspirarmos ajud-la ainda mais e para estabelec-la ela, particularmente no estado de Buda. isso que importa. Se sentirmos que no 33temosumaboarelaocomnossame,precisonosesforarparainverteras coisas e, pelo menos naquilo que nos diz respeito, fazer tudo o que nos for possvel, aindaque no nvel das aspiraes, para ajud-la e desejar estabelec-la no estado deBuda.Outrasaspiraesseriamtotalmentecontrriasaospreceitosda bodhichitta. Essadcimaestrofenosapresenta,portanto,amaneiradeimpregnarmos nossamentecomanoodamentedoDespertar,bemcomocomocompromisso que ela implica. Essa mente do Despertar, ou Bodhichitta, tem duas vertentes: a bodhichitta intencional; a bodhichitta aplicada. A bodhichitta intencional corresponde aspirao de alcanar o estado de Buda para que possamos ajudar todos os seres. Ela tem como meta a faculdade de assistirtodososserese,comomeio,aobtenodoDespertar.Pensamosassim: Da mesma forma que os Budas do passado, ao entrarem na Via espiritual, geraram amentedoDespertar,eugeroagoraessamentedoDespertar.Fazemosa promessa de nos tornarmos Buda para o bem de todos. Abodhichittaaplicadaconsisteemtransformaremaoaquiloque precisamosefetivamentepraticarparaalcanaressefim:asseisparamitas,ou,de ummodogeral,ospreceitosdabodhichitta,comomostradosnasTrintaeSete Prticas dos Filhos dos Vitoriosos, que estamos estudando, ou em outros textos. 34-11- ____________________________________________________________Todo sofrimento, sem exceo,Provm do desejo de felicidade para si mesmo Enquanto que os perfeitos BuddhasNascem de uma mente altrusta Por isso, trocar completamente a prpria felicidade Pelo sofrimento dos outros a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Thokm Zangpo comea a explicitar aqui os preceitos que devemos observar a conduta a ser adotada depois de termos tomado o voto do Bodhisattva. A raiz de todos os sofrimentos a busca egosta da felicidade e do bem-estar parasimesmo.Araizdetodafelicidadeconsisteemfazerobemaosoutros. Portanto,somosaconselhadosaprocederquiloquesechamaatrocadesi mesmo com outrem, que consiste em desejar que a felicidade da qual usufrumos setorneafelicidadedosoutroseque,nosentidoinverso,ainfelicidadeeo sofrimentoqueassolamosoutrossetornemnossos.Ostextosdotreinamento espiritualdoaessaprticaonometibetanodetonglen,quesignificadar(tong)e tomar(len).Oqueprecisodar?Nossafelicidade.Oquedevemostomar?O sofrimento dos outros. Certamente,notemos,nomomento,opoderdeverdadeiramente proporcionar felicidade a outrem, nem podemos tomar para ns seu sofrimento. Mas fazer essa aspirao faz plantar uma semente; ela amadurecer e, uma vez madura, teremos efetivamente a capacidade de dar a felicidade ou de tomar o sofrimento. Osefeitosdessaprtica,chamadosdedoareassumirofardosomuito benficos. Diz-se que, para termos uma idia, basta considerar que todos os Budas e todos os Bodhisattvas do passado no pensaram em nada a no ser no bem dos outrosenaobtenodoestadodeBuda.Quantoans,que,desdetempossem comeo, no pensamos em nada a no ser no nosso prprio bem, o que alcanamos o sofrimento! Essa a diferena de resultado entre os dois. Basta consider-la. Apartirdomomentoemqueestivermoshabitadospelopensamentode quererpraticarpelobemdetodososseres,estamosnocaminhoqueconduzao estadodeBuda.EsemantivermosessepensamentodoDespertarpresentesna mente,nosaproximamosdameta.Umavezqueatenhamosperdido,ouse desejamossimplesmentefazeroprpriobem,noestamosmaisnocaminhodo Despertar. No temos mais nenhuma chance de nos aproximar do estado de Buda. EstaranimadopelamentedoDespertarnoimplica,noentanto,que possamos,desdej,ajudarverdadeiramenteosseres,umavezquenotemos ainda a capacidade para tal. No tentemos, portanto, fazer o que nos impossvel. Faamosoquepodemos.Sevocsmepediremparapilotar,hoje,umavio,isso nofarsentidoalgum,porqueeunoseifaz-lo.Masexistemmeiosemtodos quepermitemaprenderavoar.Deformaanloga,aindaquenotenhamos atualmenteoestadodeBuda,poderemosalcan-losecolocarmosemaoos meios e os mtodos adaptados. No so necessariamente coisas complicadas. Um simplespensamento,aoacordar,comoQueeupossarealizaraquiloquebom 35para os outros, que eu possa realizar aquilo que virtuoso e positivo para os outros, vaiimpregnartodoonossodia.Issonosignificaqueodiaserplenodeatos exteriormentepositivos.Realizaremosnossasatividadescotidianascomode costume,masosimplesdesejomatinalter,necessariamente,umefeitobenfico sobrenossodia.porissoqueasimplesmotivaoparaobemdosoutros bastante benfica. Osbenefciosdotonglenatrocadesimesmocomoutrosoimensos. Como compreend-los? Partamos do fato de que a raiz de todo sofrimento a mente quevalorizademaisasimesma.Issoverdadetantoparansquantoparaos outros.Senoshabituarmoscomaidiadequererdaronossoprpriobemaos outros e, ao contrrio, de querer tomar para ns seus sofrimentos, a busca do nosso prpriobemperdersuafora,etambmacausadosofrimentodiminuir.Por conseqncia,numprimeiromomento,oenfraquecimentodoegosmoum benefcio muito grande do doar e do tomar a si o fardo. Por hora, no podemos realmente tomar o sofrimento dos outros nem lhes dar nossa felicidade. Estamos no nvel da semente. Mais tarde, num segundo momento, umavezqueessasementetenhaamadurecidoequealcancemosasterrasde Bodhisattva,outrasqualidadestambmsedesenvolvero.Teremosapossibilidade de produzir um nmero muito grande de emanaes de ns mesmos que trabalharo pelafelicidadedosseres.Teremosfaculdadessupranormaisdeconhecimentoque poderemos utilizar para o bem de todos os seres. Poderemos ento tomar realmente o sofrimento dos outros e dar realmente aos outros a nossa felicidade. O que um pouco paradoxal, talvez, que tomaremos realmente para ns o sofrimentodosoutrossemqueissonosseja,deformaalguma,prejudicial,e daremos realmente nossa felicidade aos outros e, entretanto, isso no enfraquecer jamais a nossa felicidade. Estes so os benefcios que resultam da atitude de trocar a si mesmo com os outros: excelente, ao mesmo tempo, para ns e para os outros. A prtica de doar e de tomar para si o fardo uma das prticas essenciais do mahayana.Comoelamencionadanotextoqueestamosestudando,gostariade explic-la para as pessoas que no a conhecem. Fazemos tonglen em relao a todos os seres do universo, que se encontram nooceanodosamsara:prisioneirosdeseusprpriosatosnegativos,eles experimentam,todotipodesofrimento.Imaginamosdiantedensessamultido. Depois, pensamos em nosso prprio carma positivo. Acumulamos, em nossas vidas passadas, certa quantidade de carma positivo, da qual uma parte teve por resultado nos fazer experimentar agora alegrias, felicidade e bem estar. Outra parte representa afelicidadefutura,nossafelicidadepotencial.Pensemosquedoamosatotalidade destecarmapositivoaoconjuntodeseresqueimaginamosdiantedenseque sofre. Fazemos isso sob a forma de uma luz branca que vai tocar a todos. Simultaneamente, pensamos que doamos um nmero incalculvel de corpos semelhantes ao nosso, que so colocados a servio dos seres que sofrem. Isso no querdizerqueoferecemosnossocorponaformaquetemhoje;talvezelepossa serviraalguns,mastalvezsejaintiloumesmonocivoaoutros,quemsabe?Isso querdizersimplesmenteque,pensandoqueemessnciasetratadenossocorpo, doamosaosoutrostudoaquiloquebomparaeles,tudoaquilodequeprecisam, tudo que lhes favorvel. Podemos pensar que doamos as jias que realizam todos osdesejos,porexemplo.Pensamosqueosseresrecebem,efetivamente,todas essas oferendas, que ficam felizes, se tornam virtuosos, que recebem todo o nosso mrito. Essa fase da oferenda se pratica durante a expirao. Depois,nainspirao,imaginamosqueumanuvemnegracarregadada totalidade do sofrimento, do carma negativo, dos erros, das emoes perturbadoras dosseresnossafrentepenetraemns.Pensamosquensainspiramoseque aceitamos sofrer em seu lugar.Essa a troca: damos felicidade, recebemos sofrimento. uma visualizao quepodeserfeitaacadadia.Noincio,possvelquenossintamosumpouco 36reticentes, que tenhamos algum medo de praticar, mas, pouco a pouco, nossa mente se acostuma, e no nos sentiremos mais apreensivos. Se,umavezquepratiquemosregularmenteodareoreceber,acontecede experimentarmos algumas dificuldades ou alguns sofrimentos em nossa existncia porexemplo,umaperturbaointerior,umadoena,umrevsprofissional podemos ficar tentados a v-los como resultado de nossa prtica e achar isso muito inquietante. provvel, na verdade, que nossas inquietaes no resultem de nossa prtica,mas,sobretudo,denossocarma.Trata-se,entretanto,deumaboacoisa pensarassim.Podemos,comefeito,nosdizer,ento:Aest!Consegui,meu desejo de tomar o sofrimento dos outros foi finalmente satisfeito! Eu realmente sofro no lugar dos outros! o momento de desejar ir mais longe: Bom, tanto melhor! Que meu prprio sofrimento seja suficiente. No necessrio que os outros sofram. Se voc estiver doente e sofrer fisicamente, o sofrimento fsico est l, mas ao menos a menteestsatisfeita,amenteestfelizgraasaessasaspiraes.Sempreque surgir um sofrimento, ele se torna como um recipiente de ouro para o bem estar da mente. Perguntamoscomfreqnciaqueprticasdevemosrealizaracadadia. Naquiloquedizrespeitosprticasespecificamenterelacionadascomotextoque estamos estudando, a resposta a seguinte: o mahayana est exposto em tratados muitovolumososemuitasvezescomplexos,masasTrintaeSetePrticasdos FilhosdosVitoriososresumemasuaessnciaemtrintaeseteestrofes.Aprtica cotidianaconsisteemaplic-lastodas,sepudermosfaz-lo.Masseacharmosque trintaeseteestrofessodemais,pelomenosmuitoimportante,emesmo essencial,aplicaraquiloqueensinadonadcimaenadcima-primeiraestrofes. Issonocomplicadonemdifcil,epodemosfaz-loatodoomomento.Basta lembrardelas.intilcolocartormassobreumaltar,ouadotarumapostura especfica, ou fazer preparativos complicados. A nica coisa da qual precisamos a respirao, que nunca pra e que temos sempre conosco. Dizemos que, ao longo de umdia,realizamos21.600respiraes.Temos,portanto,aocasiodepraticar 21.600 vezes o doar e o receber. muito cmodo, no tem nenhuma dificuldade e, no entanto, os benefcios so enormes. Se existe uma nica prtica que deve ser feita regularmente, todos os dias, justamente esta. Os seis versos seguintes desenvolvem o tema da dcima-primeira estrofe, ao mencionar algumas das numerosas formas de aplicar o doar e o receber. 37- 12 - _________________________________________________________ Para aqueles que esto sob a influnciaDe uma grande paixo, Outros roubem ou incitem a roubar todos os meus bens, Dedicar a essas pessoas o prprio corpo, riquezas E virtudes acumuladas nos trs tempos a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Suponhamosqueladresvenhamnosroubartudoaquiloquepossumos, quer eles ajam por conta prpria ou mandados por outrem. Nessa situao, a atitude correta no seria ficar com raiva deles, mas, ao contrrio, ter por eles muito amor e compaixo.Serianecessrio,nocaso,desejarsinceramente:Agoraqueelestm tudo o que eu possua, tanto melhor para eles. Espero que tudo lhes seja til e que, graasatudoaquilo,elessejamfelizes.Depois,dedicamosa eles tambm todo o nossomrito,tudooquehdebomemns.Dedicamo-lhesabsolutamentetudo. Essa a maneira de praticar tonglen numa ocasio concreta da nossa existncia. Um lama kadampa do passado, um geshe, ficou muito rico graas s muitas oferendas que recebia. Ele possua ouro, prata, sedas diversas, brocados, tropas de iaques,decavalos,etc.Umdia,umassaltantemuitopoderosochegoucomseu bandoelherouboutudo,pegandoiaques,cavalos,ouro,prata,brocados.Levou tudo. No sobrou nada para o lama, nem mesmo uma moedinha. O lama kadampa ps-seentoarefletir:Oh,comoissobom!,disseasimesmo.Atagora,de fato,eununcapudepraticarodharmacorretamente,porqueminhamenteestava sempre preocupada com todos esses bens materiais. Agora vou poder ficar em paz, livre do peso de todas essas posses. Ditoisso,eleseretirouparaumagrutaafimdemeditar.L,desenvolveu muitoamorecompaixopeloassaltante,noparandodedesejar,deformamuito sincera, sem hipocrisia: Que esse assaltante possa ser feliz, que possa conhecer a felicidade,quepossaterumavidaplenaderiquezas.Graaspurezadessas aspiraes, o lama kadampa pde realizar a natureza de sua prpria mente, realizar a vacuidade. Ele se deu conta, ento, que seu verdadeiro lama-raiz era, na verdade, oassaltanteolama-raizaquelequenosconduzrealizaodanaturezada mentee,desdeento,passouameditarvisualizandooassaltanteacimadesua cabeaeorandoporelecommuitoreconhecimento.Quandoaspessoaslhe perguntavam quem era seu lama-raiz, ele respondia: o assaltante que mora l no vale. preciso,dizemosensinamentosdomahayana,aprenderatransformaros infortnios em fontes de virtude. isso que ilustra a histria do lama e do assaltante. Ofatodetersidodespojadodetodososseusbenspoderiapareceruminfortnio para o lama. Essa perda se revelou, no entanto, um enorme benefcio para ele, uma vez que lhe permitiu chegar realizao. Sem dvida enfrentaremos dificuldades em adotarumcomportamentosemelhante.Sefssemosfurtados,certamente morreramosderaiva,tentaramosfazercomqueoladrofossepegoepunido... Esforcemo-nos, no entanto, para gerar um pouco de compaixo. 38- 13 - ____________________________________________________ Mesmo que algum no tenha me feito nenhum mal, Ou at me corte a cabea, Tomar para mim, pelo poder da compaixo, Todas os defeitos dessa pessoa a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Quando algum vier a nos atingir de uma maneira ou de outra, com uma arma ou com os punhos, ou nos cortar uma mo, por exemplo, mesmo que no tenhamos cometidonenhumafaltaequesejamosperfeitamenteinocentes,precisamosreagir semdioedesenvolveroamoreacompaixoporaquelequenostratardessa forma,desejandosinceramentetomarparanstodooseumaucarmapassadoe presente,desejandoqueapessoasejafelizepossaconhecerocaminhoda felicidade. Uma pacincia desse tipo extremamente proveitosa, tanto do ponto de vista dodharmanemserianecessriodiz-loquantonaquiloqueconcerneanossa vidaordinria.Suponhaquealgumnosataque.Devolvergolpeagolpelogose torna perigoso: algum o atinge, voc responde; ele o atinge de novo, voc reage ao golpe; a pessoa possivelmente vai lhe dar um terceiro golpe, e assim por diante. Mas sevocnoresponde,seuadversrioseencontrardesarmado.Deumsimples ponto de vista pragmtico, voc estar se protegendo. Todo mundo se lembra do exemplo do Mahatma Gandhi, quando a ndia era uma colnia inglesa. O Mahatma Gandhi no respondeu nunca aos golpes, nem s injrias, nem aos maus tratos. Quando algum lhe batia na face esquerda, ele virava acabeasorrindoeapresentandoafacedireita.Sebatessemnadireita, apresentavaaesquerda.OMahatmaGandhitinha,semdvida,umagrande compaixo pelos ingleses, mas, deixando isso de lado, o resultado concreto de sua atitude foi a independncia da ndia. um exemplo da eficcia de uma atitude no-violenta.As duas estrofes a seguir tm praticamente o mesmo sentido: elas ensinam a no responder crtica com crtica. 39- 14 - __________________________________________________ Ainda que algum proclame por um bilho de universos Coisas desagradveis sobre mim, Falar em retorno das boas qualidades dessa pessoa, Com uma mente benevolente, a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Esseversoevocaasituaoemqueestaramosse,semquetivssemos nadaaserditocontrans,algumespalhasseaosquatroventoscrticasanosso respeito.Suponhamos,porexemplo,quealgumvenhaaclamarportodosos cantos que Khempo Rinpoche ladro, mentiroso, hipcrita, um mau monge, e que isso chegasse at os jornais, que fosse falado no rdio e em todas as redes de TV domundo.Oqueeudeveriafazernessecaso?Bem,admitindoqueogozadorse chamasse Fulano, eu deveria fazer com que todos soubessem o quanto Fulano tem de qualidades, o quanto respeitvel, o quanto merece ser ouvido, o quanto merece serhonrado.Seriaprecisoqueessamensagemfosseveiculadanosjornais,nas rdios, nas TVs, para que se falasse bem de Fulano em todos os cantos. Alm disso, eu deveria agir assim com um amor e uma compaixo sinceras, e no me contentar com galanteios hipcritas.No mahayana, o que conta no o nosso discurso, mas o que pensamos em nosso foro ntimo. Eu deveria, ento, ter realmente amor e compaixo por Fulano, e tentarrealmentefazerobemaele.Essaaatitudeensinadapeladcima-quarta estrofe. - 15 - ________________________________________________ Mesmo que algum, no meio de uma grande assemblia, Revele minhas faltas secretas e fale mal de mim, Inclinar-me respeitosamente diante dele, Considerando-o um amigo espiritual, a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. A situao evocada desta vez, bastante prxima da anterior, , por exemplo, aquela em que, estando duzentas ou trezentas pessoas reunidas, algum se levanta de repente e diz publicamente: Diga a, Khempo Rinpoche, voc um ladro da pior 40espcie e um tremendo mentiroso e, apesar disso, ousa dar ensinamentos sentado numtronoetransmitirodharma!!Quemvocpensaque?Qualdeveriasera atitude de Khempo Rinpoche? Seria a de no ficar com raiva, ter amor e compaixo e considerar esse interpelador como seu prprio lama raiz. Sealgumnosacusa,caraacara,deroubo,nossavergonhanoser grandedemais,porquenovaihaverningumparaescutar.Massealgumnos chamadeladrodiantedeumagrandeassemblia,avergonhaquesentimos forte,porcausadapresenadopblico.Naverdade,nonecessrioteresse sentimento de vergonha. Devemos pensar: Essa pessoa, sem dvida, tem razo; eu no me lembro quando roubei, mas ela parece saber. Devo ter roubado um dia, logo, elatemrazodediz-lo.Ascoisasseacalmaro,ento.Massevoccomeaa responderaoseuacusadorque,naverdade,oladroele,todososseusamigos votomaropartidodele,todososseusprpriosamigosvoficardoladodele,a disputavaisedesenvolver,ganharproporesenormes,semqualquerutilidade. Isso, do simples ponto de vista da atividade ordinria. intil falar dos benefcios da pacincia do ponto de vista do dharma. - 16 - ______________________________________________________ Mesmo que uma pessoa que eu tenha amadoE protegido como um filho Considere-me um inimigo Como uma me a um filho doente, Am-lo mais ainda a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Pode acontecer que uma pessoa a quem tenhamos ajudado muito, pela qual tenhamosmuitaafeio,sevoltecontransepasseanosvercomouminimigo, tentando nos prejudicar de uma forma ou de outra. Sem dvida, uma reao comum seriaaderejeitaressapessoa,trat-latambmcomoinimiga,censurando-apor esquecer tudo o que pudemos fazer por ela. Se seguirmos o compromisso dos Bodhisattvas, entretanto, no assim que devemosreagir.Devemosconsiderarcomaindamaisamoraquelequetentanos prejudicar apesar da bondade com que lhe havamos tratado, pensando que ele no livredeseusatos,masseencontramomentaneamenteprisioneirodas perturbaes internas que agitam sua mente. Numafamlia,ametratacomigualamoratodososseusfilhos,tentando atenderatodosdeacordocomsuasnecessidades.Seumdelesserevoltacontra ela, lhe fala duramente ou mesmo a agride, provvel que ela tenha, em relao a ele,aindamaisamor,queelaprocureaindamaissoluesparapoderajud-lo.A meagedessaformaporquecompreendenaturalmentequeseufilhotemainda maisnecessidadedeapoio,poisseencontracomdificuldadesinteriores.Elaov comoumdoentequeprecisadecuidados,enocomouminimigoquepreciso aniquilar.Damesmaforma,oBodhisattvanorejeitaningum,masbuscasempre ajudar a todos, qualquer que seja sua atitude. 41 17 _________________________________________________ Ainda que um indivduo igual ou inferior a mim Sob a influncia do orgulho,Trate-me com desprezo, Coloc-lo no alto de minha cabea com respeito, Como um mestre, a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Essaestrofe,comoaanterior,nosensinaanocederanossosimpulsos ordinriosnumasituaodifcil.Quandoalgumqueconsideramos,sejaporsua posiosocial,porseusconhecimentossobreumaououtrarea,comoinferiorou mesmoigualanssepeanosdesprezar,comotenderamosareagir?Muito provavelmente com raiva e desprezo. Aestrofe,estranhamente,nosconvidaaimaginarapessoasobreanossa cabeaoqueumsinaldeprofundorespeito,comosesetratassedenosso prpriolama.Isso,simplesmente,porqueapessoa,porseupropsitoouporsua atitude,nosdegrandeajudanodesenvolvimentodeduasqualidades indispensveis:apacinciaeahumildade.Nessesentido,elanosdum ensinamento e merece ocupar o lugar do mestre. 18 _______________________________________________________ Mesmo que fssemos destitudos de nosso sustento, constantemente desprezados pelas pessoas, Afligidos por uma terrvel doena ou por demnios, Tomarmos para ns os sofrimentosE as negatividades dos outros, Sem nos desencorajarmos, a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Noprecisamosficardesencorajadosquandonosvemosnumasituaoem que encontramos enormes sofrimentos fsicos ou psquicos. Se, por exemplo, no se tem nada para comer, nada para vestir, se no se tem abrigo, nem amigos em quem confiareningumaquemrecorrerembuscadeajuda,mesmoassim,longedese desencorajar, preciso pensar: Agora que suporto todos esses sofrimentos, aspiro 42aqueelessejamsuficientes,equeainfinidadedeseresquesofremdetodasas maneiraspossveisnotenhamaisnecessidadedesofrer.Aceitoreceber,nomeu sofrimento atual, aqueles dos outros, para que eles sejam liberados. Aspessoasquenoconhecemodharmaouquenoseguemocaminho espiritualentramfacilmentenumestadodepressivoquandovivemsituaesmuito difceis.Nolevandoemconsideraonadaalmdoprpriosofrimento,novem utilidadeemsuaexistncia,achamcadavezmaisqueviveroumorrernofaz diferena, e podem vir a se suicidar. Se, depois da morte, as pessoas encontrassem a felicidade, a, efetivamente, o suicdio seria uma excelente soluo. Mas, depois da morte, o carma continua, e a pessoa encontrar na vida futura, no mnimo, o mesmo sofrimento,senomais,quenavidapresente;cometersuicdio,portanto,notem qualquerutilidade.Aquelequeconheceodharmasabeeaceitacomcorageme seguranaossofrimentosquesuporta,aspirandoquesirvamparaaliviaros sofrimentos de todos os seres. Eis a atitude de um Bodhisattva; ela muito corajosa. Quando h sofrimento e no conseguimos adotar a atitude de tomar para ns ossofrimentos,osatosnegativos,osvuseasfaltasdetodososseres,devemos pelomenosnosesforarpararefletirsobrealeidocarmaeaimpermanncia. Pensar que somos os autores das dificuldades que encontramos nos ajuda a aceit-los. Elas foram criadas por nossos prprios atos negativos; nosso carma pessoal. Pensarnaimpermanncia,compreenderquenadadefinitivonosfaz,por outrolado,verquenossosofrimento,maisdia,menosdia,desaparecer.A felicidadeeatristezasopassageiras;umafelicidadevemdeumsofrimento,um sofrimentovemdeumafelicidade;aquelequeestnoaltoacabaporcair,aquele queestembaixoacabasubindo;oricosetornapobre,opobresetornarico.A mudanaumfluxocontnuo,enopodemosnosacomodardefinitivamentea nenhuma situao. Se comeamos a pensar: Sou a pessoa mais infeliz da terra! Tenho a sorte maistristedetodososhomens!Comosofro!Comodifcil!,acrescentamos sofrimento ao sofrimento. Ruminamos desesperadamente: duro, eu sofro; duro, eusofro;duro,eusofro...,comoserecitssemosummantraoumeditssemos. Mas em vez de nos habituarmos a apaziguar a mente, nos acostumamos a aumentar o sofrimento, de forma que ao fim de um certo tempo, de tanto nos convencermos de quesomostoinfelizes,acabamosporperderarazo.Tambmnoprecisose comportardessamaneirafrenteaosofrimento.necessrio,aocontrrio,tera atitudecorajosadoBodhisattva,ourefletirbemsobrealeidocarmaea impermanncia.Decertaforma,utilizamososofrimento,eelesetornacomose costuma dizer um amigo no caminho. comum,noOcidente,queessaatitudetemerosadeclausurasobreo prpriosofrimentoresultenumanecessidadedefalarsobreele,express-lo, exterioriz-lo. A consultamos um terapeuta, a quem contamos em detalhes o que se passa,oquantosofremos,ecomo,eporqu,etc.Nafaltadeumterapeuta,nos voltamos para um amigo para explicar-lhe quanto, por que e a que ponto sofremos. Podemosmesmonosabrircomumlama.Todosessesinterlocutorespodem, eventualmente,trazerumacertaajuda,maselaserlimitada.Onicomtodo verdadeiro ter a atitude corajosa do Bodhisattva: o sofrimento vem? Tanto melhor, o momento de pensar: Tomo para mim o sofrimento de todos os seres. Ou, ainda, de refletir sobre a lei do carma e a impermanncia. Eis o que realmente til. Devemosdesenvolverumamentecorajosa.Emtibetano,Bodhisattvasediz djangtchoupsempa,quesignificacorajoso(pa)namentedoDespertar(djang tchoupsem).OBodhisattva,portanto,aquelequeadotaumaatitudecorajosana prtica da mente do Despertar, a bodhichitta. um heri do Despertar, um cavaleiro do Despertar. Longe de ser uma mente temerosa, , ao contrrio, uma mente forte e audaciosa, nobre e vasta. Devemos nos esforar para desenvolver essa atitude. 43 19 ________________________________________________ Ainda que fssemos clebres, com muitas pessoas nos reverenciando, E que tivssemos obtido riquezas semelhantes as do Deus da Riqueza, Tendo visto que as glrias mundanas so desprovidas de essncia, No ter arrogncia a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Asituaocontrriadaestrofeanterioragorainvocada.Oexemplo escolhido no mais o de um infeliz, mas o de algum que tem tudo o que se busca nomundo.Orisco,aqui,oorgulho.Orenomepodeseradquiridoemtodosos tipos de domnio. Algum pode ter orgulho de si mesmo por ser o homem mais rico domundo,ouentoporseronmeroumdofutebolinternacionaloudeoutro esporte,ouaindaporqueconsideradonomundointeirocomoomelhoremsua especialidade,mdicaoucientfica,porexemplo.Umaposiodedestaquepode facilmentecriaravaidade.Essavaidade,noentanto,trazemsiseuprprio sofrimento.Tudonaverdadetransitrio,inclusiveoprimeirolugaremqualquer domnioqueseja,emuitodolorosopassardostatusdenmeroumaumstatus inferior.Vocpodetermuitoorgulhodeserohomemmaisricodomundo,ede repentedescobrequeumoutroqualquermaisricoquevoc.muito desagradvel!Ouento,piorainda,vocomelhorjogadordefuteboldomundo, masosjornalistascomeamadivulgarquevocestacabado,que um jogador de outro pas melhor que voc. Que sofrimento! OBodhisattva,aocontrrio,quandomuitoricooumuitofamoso, compreende a impermanncia de sua posio. Assim, sabe que a vaidade no tem nenhuma razo de ser, porque as coisas no tm o valor que podemos lhes atribuir habitualmente; ele renuncia assim vaidade e aos sofrimentos que ela provoca. Oorgulho,juntamentecomodesejo,araiva,ainvejaeaignorncia,uma das cinco principais emoes perturbadoras, chamadas de os cinco venenos, e por isso so prejudiciais nossa prpria mente. Ele ocupa toda a mente, enrijece e torna asrelaescomosoutrosdifceis.Senossoorgulhoprovmdeumaqualidadeou de um bem material que tenhamos, nos tornamos automaticamente invejosos de que outropossadesenvolveramesmaqualidade,oupossuiramesmacoisa.Ainveja, por si s, bastante dolorosa para nossa mente. OBodhisattva,noquelhedizrespeito,compreendequetodasasriquezas, toda a celebridade, todo o bem estar desse mundo no tm mais realidade que um sonho ou uma iluso mgica. Conseqentemente, ele no experimenta nem vaidade nem inveja nem orgulho. Ao contrrio, quando v algum se elevar ao mesmo nvel que ele, ou mesmo ultrapass-lo no campo de suas prprias qualidades, fica feliz. Todapessoapossuialgumasqualidadesnasquaissedestaca.Masno precisoterorgulhodesuasqualidades;aocontrrio,precisoficarfelizsem,no entanto,encherdevaidade.Ficamossatisfeitosemteralgumasqualidades,que sabemosserresultadodomritoacumuladonasvidaspassadas.Ento,nos regozijamoseaspiramos,aomesmotempo,quetodospossamigualmentepossu-las.Esseestadodeespritobenficoporquepermiteestabelecerumequilbrio interior ao mesmo tempo em que relaxamos em relao aos outros. tambm uma fonte de mrito para o futuro. 44 20 ___________________________________________ No dominando o inimigo que sua prpria clera, Combatem-se os inimigos externos,Mas eles aumentam. Eis porque, com o exrcito do amor e da compaixo, Dominar o prprio continuum mental a prtica dos Filhos dos Vitoriosos. Essaestrofeparticularmenteimportante;mesmoumadasmais importantesdotexto.Porquerazo?Osmltiplosensinamentosdadosparao Bodhisattva no mbito do pequeno veculo, do grande veculo ou do vajrayana visam eliminarasemoesperturbadoras.Quandoestassototalmenteeliminadas, quando estamos totalmente livres, chegamos ao estado de Buda. Atingir o estado de Budanosignificaquesamosdeumlugarparachegaraoutro.Atingimoso Despertarquando,emnossamente,todasasemoesperturbadorastenhamsido eliminadas. Todos os mtodos ensinados pelo Buda se reportam a essa luta contra as emoes perturbadoras, e, no mahayana, existem algumas muito poderosas. Este o tema da vigsima estrofe. Supondo que tenhamos um nico inimigo exterior e que consigamos domin-lopelafora,provvelquetenhamos,emseguida,doisinimigosaenfrentar.Se eliminarmosessesdois,viroquatro;depoisdetereliminadoosquatro, encontraremos oito, e logo eles sero uma centena, talvez mais. A situao no ter nunca uma soluo satisfatria. Pelo contrrio: se, frente a um inimigo, procuramos a raiz verdadeira do sentimento de inimizade que nos anima, veremos que se trata da nossaprpriaraiva,nossaprpriaagressividade.elaquecriaoinimigo,elaque designaooutrocomoinimigo.Deondevemessaviolnciainterior?Danoode ego. Diz-se que a apreenso de um eu a raiz de todos os nossos sofrimentos. Quando compreendemos isso, compreendemos que o verdadeiro inimigo no aquelequepercebemoscomotalnoexterior,massimqueeleinterior.As emoesperturbadoras,araiva,oegoeisaosinimigosqueprecisamos identificar.aprimeiracoisaafazer.Depoisdisso,poderemosempreendera verdadeiraguerra,aguerratil.Poderemosatacaressesinimigos,atingi-los,tentar submet-los completamente at alcanarmos a vitria. NadenominaotibetanadoBodhisattva,djantchoupsempa,apalavrapa, ou sua equivalente, pao, que, como j vimos, quer dizer corajoso, significa tambm guerreiro.OBodhisattvatrava,naverdade,umcombatecontraasemoes perturbadoras.UmBuda,desuaparte,qualificadodeVitorioso.Quevitriaele obteve? Ele no foi combater um outro pas cujo exrcito derrotou, como um general quetrazosestandartesdavitria;umBudaumvencedorporquetriunfou completamentesobreosinimigosinteriores,quesoaignornciaeasemoes perturbadoras.porissoqueochamamostambmdearhat(tib.Dratchompa): aquelequevenceuoinimigo.Osverdadeirosvencedoresnessemundonoso aquelesquevencemosinimigosexteriores,masaquelesqueobtmavitria autnticasobreamente,osBudas.Praticarapacinciaparacomosinimigos exterioresnecessrioemuitobenfico,masseriainoportunoaplicaramesma estratgiadiantedosinimigosinteriores.Apacinciaacabaporconverteroinimigo 45exterioremamigo.Emcontrapartida,elafazcomqueosinimigosinterioreso desejo,araiva,oorgulhoetc.setornemcadavezmaisfortes,invasivose poderosos.Nodomesticamososinimigosinteriorescomapacincia:preciso combat-los e venc-los. Quando estiverem totalmente derrotados, no haver mais inimigos exteriores. Porque, na realidade, estes so criaes dos inimigos interiores. MesmoquesurjaumapessoaquetenteincomodarumVitorioso,aquiloque chamamos comumente de inimigo, ela ser impotente diante dele. Mesmo as armas noconseguiroferirumBuda.Suponhaquealgumatirenelecomumfuzilou algumaoutraarma:asbalaspassaropeloseulado;seoatingirem,tocarosuas roupas sem poder feri-lo. Conhecemos exemplos de muito grandes lamas, no Tibet, quelevaramtirosdefuzil:asbalas ficaram em suas roupas sem conseguir ir alm. Ou ainda quando, uma tarde, o futuro Buda Shakyamuni, Gautama, estava sentado sob a rvore Bodhi para alcanar o Despertar na manh seguinte, ao amanhecer, e todos os demnios da terra compreenderam o que iria acontecer. Eles se reuniram e searmaram,cercaramarvoreBodhietentarammatarGautamacomflechas, lanas,pedras,armasdetodotipo.MasoBudapermaneceu,comamore compaixo,numestadodeabsorotalquenenhumaarmapoderiaatingi-lo.Mais ainda,todososprojteislanadoscontraelesetransformaramemflores.OBuda estava sozinho. Ele enfrentou uma multido de demnios agressivos e armados. No entanto,foielequeobteveavitria;nenhumdaquelesdemniospdelhefazero menormal.Porqu?Porqueinteriormenteelehaviavencidocompletamentea agressividade, vencido completamente as emoes perturbadoras. 21 __________________________________________ Os prazeres dos sent