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Sobral, ano 5, v.1, n. 9, Jul/Dez 2016, p. 58-72. ISSN: 2317-2649
4. PENSAR A HABITAÇÃO, VIVER A CIDADE:
DA REFLEXÃO À EXECUÇÃO.
THINKING OF THE HOUSING, LIVING THE CITY:
FROM REFLECTION TO IMPLEMENTATION.
RESUMO Esse trabalho é resultado de um projeto de extensão do curso de Arquitetura e Urbanismo das Faculdades INTA, no qual teve como proposta a elaboração de um projeto de habitações para a cidade de Camocim, Ceará, para concorrer a um concurso latino-americano de estudantes, com o tema “Pensar la Vivenda, Vivir la Ciudad”. O concurso foi organizado pela Facultad de Arquitetura, Urbanismo y Diseño de la universidad localizado em Córdoba, Argentina, patrocinado pela ONU-Hábitat ROLAC. O objetivo do concurso era promover no âmbito acadêmico, reflexões sobre os problemas contemporâneos vividos nas cidades, tendo como ponto de partida, as habitações. A ideia central era apresentar soluções inovadoras e sustentáveis para o tema das habitações coletivas, na América – Latina. De onde a partir desse desafio, foi elaborada uma proposta de projeto que buscou atender as exigências do concurso, ao mesmo tempo em que pudesse servir de proposta de projeto para pensar os problemas urbanos vivenciados em Camocim. OBJETIVOS: Apresentar, a partir das experiências do curso de extensão, os resultados alcançados com
o projeto habitacional e as soluções encontradas a partir da análise dos contextos. METODOLOGIA: Tendo por base a análise em que, Carlo Argan, faz em seu texto “A História na Metodologia do Projeto”, buscou-se desenvolver um projeto com olhar metodológico e crítico aos problemas projetuais e desafios que o concurso exigia. RESULTADOS: Foi formulado um complexo habitacional em dois lotes da cidade de Camocim, projetados de alvenaria de tijolos cerâmicos com três pavimentos, contendo em seu interior praças de integração, habitações para locação, lojas comerciais, creche e escola de ensino fundamental, um centro cultural e uma unidade de saúde básica. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Tendo em vista os objetivo do concurso e as experiências vividas no curso de extensão, a proposta de projeto desenvolvida, apresenta-se como solução viável aos desafios climáticos da região e propõe uma maneira a mais para se enfrentar os desafios do rápido crescimento populacional das cidades, a diversidade e a sustentabilidade. A culminância da proposta enquanto projeto acadêmico é de apresentar os resultados e a experiência obtida no curso de extensão. Palavras-chave: Arquitetura; Habitação; Desenvolvimento Sustentável.
ABSTRACT This work is the result of an “extension project” of the course of architecture and Urbanism of INTA Colleges, from which it proposes the development of a housing project for the city of Camocim, Ceará, to compete for a Latin American student competition, with the theme "thinking the home, living the city". The contest was organized by the Faculty of Architecture, Diseño y Urbanism University located in Cordoba, Argentina and sponsored by the UN-HABITAT ROLAC. The aim of the competition was to promote the academic reflections on contemporary problems experienced in cities, taking as a starting point, the dwellings. The central idea was to present innovative and sustainable solutions to the issue of collective housing in America - Latin. A project proposal was prepared, which sought to meet the requirements of the tender and, at the same time, could serve as a project proposal to think the urban problems experienced in Camocim. OBJECTIVES: To present, from the experiences of the extension course, the results achieved with the housing design and the solutions from the context analysis. METHODOLOGY: Based on the analysis in which Carlo Argan, makes in his text "The History of the Project Methodology", we sought to develop the project with a methodological and critical eye to project problems and challenges that the tender required. RESULTS: A housing complex was formulated in two lots of the city of Camocim, designed masonry ceramic brick with three floors, containing in its interior integration squares, houses for rent, shops, kindergarten, elementary school, a cultural center and a basic health unit. CONCLUSION: Considering the aim of the competition and the experiences of the extension course, the proposal developed project is presented as a viable solution to climate challenges in the region and proposes a way to meet the challenges of fast growth population of cities, diversity and sustainability. The culmination of the proposal as academic project is to present the results and the experience gained in the course of extension. Keywords: Architecture; Housing; Sustainable development.
RAFAELA ABREU
INTA
Arthur Rodrigues, Nelzuilton
Nascimento, Raul Araújo, Nadir
Bonaccorso
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INTRODUÇÃOA
Entre o termino do semestre 2015.2 e o início do semestre 2016.1, o professor de Projeto (I e II)
Nadir Bonaccorso, docente do curso de Arquitetura e Urbanismo do INTA, organizou o projeto de
extensão “Pensar a vida, Viver a cidade” que teve como propósito primário de reunir discentes que
estavam cursando ou que já tivesse cursado a cadeira de projeto, para refletir, discutir e desenvolver, um
projeto acadêmico com o tema: habitações. O desafio foi de participar do concurso “Pensar la Vivenda,
Vivir la Ciudad” organizado pela Facultad de Arquitetura, Urbanismo y Diseño de la universidad localizado
em Córdoba, Argentina, a ser realizado no primeiro semestre de 2016. A seleção dos participantes foi feita
a partir de uma breve avaliação das aptidões do aluno para com o desenho e habilidades com programas
computacionais em arquitetura como a exemplo, o CAD ou Skecthup, e especialmente pelo rendimento
nas cadeiras de projeto ao longo dos semestres, assim como pela, assiduidade, disponibilidade,
responsabilidade e comprometimento, necessário para a desenvoltura do projeto de extensão, uma vez
que a proposta era a de participar de um concurso a nível Latino-Americano em que as exigências requeria
um maior esforço com o programa de necessidade solicitado.
Visto isso, foram selecionados 5 discentes para participarem do curso, dentre eles: Rafaela Abreu
(3º semestre), Arthur Rodrigues (2º semestre), Raul Araújo (4º semestre), Nelzuilton Nascimento (4º
semestre) e Allan Kayque (3º semestre). Feita a selecão, o passo seguinte foi elaboração do projeto que
deu-se por encontros diários, inicialmente durante 2 semanas, coordenados pelo professor, pelo qual
nos reuníamos das 08:00 às 17:00, interruptas apenas pelos almoços, ocorridas na sala do Escritório
Modelo, do curso de Arquitetura do INTA.
O primeiro momento, ocasião em que nos reunimos para tomar conhecimento das propostas do
concurso, serviu para distribuirmos as primeiras tarefas, a ser seguidas pelo grupo e para com o professor,
assim como foi, nesse primeiro momento, lançada a proposta de aprofundar uma pesquisa sobre
temáticas semelhantes, que pudessem ajudar no desenvolvimento do projeto. Previamente selecionada
pelo professor, que distribuiu para cada um, casos de estudo (arquitetos de diferentes épocas e projetos
relevantes à ocasião). Com isso, para a realização do projeto, por base no programa de necessidades e
após uma prudente análise do lugar, escolhemos, pois, a cidade de Camocim – CE, uma região litorânea,
frequentada por turistas, com grande potencialidades, todavia desprovida de um planejamento urbano e
desenvolvimento adequado a realidade do cidade, com características evidentes de um rápido
crescimento populacional vividos nos últimos anos, altos índices de pobreza e desigualdade social,
acompanhada da presença de um sistema residencial heterópico à realidade climática da região.
Após os estudos e visita ao lugar, foi escolhido o espaço para a execução do projeto, lugar este
em que estava geograficamente localizado em frente ao mar, num vazio urbano, em uma malha urbana
em que estava centralizada com os principais pontos da cidade e com uma relação mais associada a
cultura local, aonde os pescadores realizam suas atividades.
Seguida de discussões e ideias, os passos seguintes foram o de execução do projeto e de acerto
sobre as decisões tomadas deste o partido arquitetônico, distribuição espacial das habitações, tipologias,
organogramas, fluxogramas a estratégias do controle climático do lugar. E além disso, elaborar desenhos
técnicos e maquetes que representasse um melhor léxico de informações ao qual estávamos dispostos a
apresentar no concurso.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do projeto foi proposta pelo Professor Nadir Bonaccorso, que sugeriu ao grupo a leitura e interpretação do livro do historiador e crítico de arquitetura Giulio Carlo Argan1. Visto que para Argan, é preciso primeiramente procurar os componentes do projeto que trazem uma informação detelhada do contexto, depois é preciso análisar o que se pretende fazer, levando em consideração todas as nuancias, mais a frente lancam-se as criticas ao que se pretende, e por fim, e é precisamente nesta fase, que se pode fazer uso da imaginação como processo criador, pois é a imaginação, antes de tudo uma memória, tardia ou póstuma ao presente, capaz de engendrar todas as ideias.
O segundo passo, também anterior ao começo do projeto de extensão, foi o “conhecer” o lugar, trazendo à superfície a problemática do lugar. Temos então, uma primeira camada: o conhecimento histórico. Uma segunda, a análise; uma terceira, as críticas; uma quarta, a imaginação, e eis que, ao dizer a palavra imaginação, já estabelecemos uma relação com a primeira, o conhecimento histórico. O que é um conhecimento histórico? O que é a história? A história é antes de tudo a memória. O que é a imaginação? A imaginação... O que é a memória? É a imaginação do passado. O que é a imaginação? É a memória da posteridade.” (ARGAN, 1993, p. 01).
Para mais, foram indicadas mais quatro referências a serem pesquisadas, trabalhadas e
apresentadas pelos membros da equipe, para que todos pudessem compartilhar o que cada pesquisa
trazia particularmente. As pesquisas foram trabalhos voltadas para o tema das habitações, desde a
concepção arquitetônica, a solução tipologicas das habitações, a disposição entre os espaços públicos e
privados à organização espacial das habitações. Deste modo, serviram como referencias os arquitetos:
Aldo van Eyck, Álvaro Siza, Moshe Safdie e Rem Koolhaas.
Houve para além disso uma pesquisa minuciosa da cidade de Camocim, facilitada pelo trabalho de
pesquisa das turmas de 3º semestre de projeto 02 que estudaram a cidade, tendo como objetivo ter o
mais amplo conhecimento do lugar a partir de sua configuração urbanística, histórica, sociocultural,
econômica e habitacional, que permitisse a todos um melhor entendimento dos problemas que a cidade
possui e as soluções propostas a tais questões. O aperfeiçoamento da pesquisa culminou em uma visita,
em grupo, ao local, escolhido para as habitações, de onde se pode ter uma observação espacial e
relevante ao que se pretendia fazer.
Figura 1 - Visita ao local escolhido, Camocim-CE.
1 ARGAN, C. A História na Metodologia do Projeto. Revista Caramelo, 1993. p. 156–170.
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Fonte: Rafaela Abreu
O início de todo nosso trabalho se deu com a primeira reunião de equipe, momento em que
construimos todo o cronograma de trabalho, com datas e organização das etapas e indicação das reuniões
marcadas até a data da entrega. O cronograma foi escrito no quadro a pincel, podendo ser visualizado e
atualizado sempre que necessário, de acordo com as tarefas realizadas. A ideia foi ter um instrumento em
que pudéssemos registrar os avanços e as etapas.
A primeira tarefa apresentada aos membros da equipe foi uma divisão com nomes de arquitetos e
respectivas obras que serviriam de referência para o projeto. Cada membro ficou responsável em fazer
uma pesquisa sobre o arquiteto escolhido por nosso professor Nadir Bonaccorso (orientador) e preparar,
em seguida, uma apresentação para saber de todos os membros da equipe incluindo nosso orientador.
ARQUITETOS
O processo de escolha dos arquitetos foi orientado, cada arquiteto referido serviu objetivamente
como base estruturante para nosso projeto, pois todos apresentavam soluções projetuais
complementares para o tema de habitações. Os arquitetos selecionados pelo orientador, foram:
a) Aldo Van Eyck – Amsterdam Orphanage em 1960. O programa consisti em um orfanato para crianças de todas as idades, incluindo quartos, uma cozinha, lavanderia, ginásio, biblioteca e um espaço administrativo. O orfanato é configurado como um nó urbano descentralizado, com diversos pontos de interação dentro do plano. Eyck pensa em um desenvolvimento urbano não hierárquico, com diferentes possibilidades de quebra dessa hierarquia de espaços. Um grande jardim é configurado diagonalmente aos espaços residenciais. A entrada e a área administrativa são conectadas à rua, ao jardim e também aos quartos. Sem um ponto central no plano, o arquiteto buscava uma conexão fluída entre os espaços, sem qualquer diferenciação de importância entre espaços. (FRACASSOLI, IGOR, 2016).
Figura 2 – Amsterdan Orphanage
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Fonte: Adaptado de Mays apud Greenhalg (1997)
b) Rem Koolhaas, Nexus World Housing, Fukuoka, Japão, 1991. Como propostas base,
Rem Koolhas, traz blocos sólidos e flexíveis, abertos e fechados, espaços públicos e
privados que moldam a estrutura e fluxos das habitações. Características bem
definidas, como aparece na figura 3, a área livre dos terraços, espaços privados e
espaços públicos bem definidos, pensadas como respostas para as necessidades dos
habitantes.
Figura 3 – Corte Nexus World Housing, 1991
Fonte: http://nexusworldhousing.blogspot.com.br/ acessado em 1/03/2016
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c) Álvaro Siza, Quinta da Malagueira, Évora, Portugal, 1973. Siza apresenta uma
proposta de um conjunto habitacional para uma comunidade suburbana na periferia
da cidade de Évora, uma antiga cidade romana, situada a 160 km de Lisboa. O projeto
foi construído em 27 hectares com construções de até dois pavimentos, configurando
uma construção de alta densidade populacional, com um total inicial de 1200
habitações. A construção durou aproximadamente 20 anos. O lugar do projeto e
marcado pela existência de dois bairros Santa Maria e Nossa Senhora da Glória e por
um rio que demarca os limites da construção. O conjunto habitacional foi desenhado
a partir da malha urbana preexistente nos bairros, de modo a concordar com
configuração urbana do local, exceto por novas ruas ortogonais que possibilitam a
existência de espaços públicos a ser utilizados pela comunidade. O projeto ainda
possui um aqueduto que passa por todas as habitações levando energia e água. As
habitações são do tipo Átrio em forma de “L” que através de um jogo de cheios e
vazios vão se configurando distintamente umas das outras. O projeto possibilita
também uma expansão em quase todas as habitações.
Figura 4 – Quinta da Malagueira, Évora, Portugal
Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-49523/classicos-da-arquitetura-quinta-da-malagueira-alvaro-siza acessado em 1/03/2016
Figura 5 – Tipologia, Quinta da Malagueira
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Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-49523/classicos-da-arquitetura-quinta-da-malagueira-alvaro-siza acessado em 1/03/2016
b) Moshe Safdie, Habitat 67, Montreal, Canadá. O cubo é a forma geométrica que compõe o
Habitat 67. Em seu sentido material, cubo é o símbolo da estabilidade. Já em seu
significado místico, simboliza a sabedoria, a verdade, a perfeição e a moral. 354 cubos
foram içados para a construção de 148 residências. Localizadas entre o céu e a terra, a
cidade e o rio, o verde e a luz. O conjunto se une em uma gigantesca escultura, de interiores
futurísticos, ruas de pedestres e terraços suspensos, clarabóias de diversos ângulos, grandes
praças e incontáveis aberturas.O conjunto de unidades forma uma grande escultura de
interior futurista. É uma mescla de terraços suspensos, vistas diferentes dependendo do
ângulo que se olha, grandes praças e monumentais torres de elevadores, sem se esquecer
das aberturas aqui e ali que se abrem para espaços que chamam os transeuntes à contemplar
e meditar.
Figura 6 – Moshe Safidie, Habitat 67
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Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-23132/classicos-da-arquitetura-habitat-67-moshe-safdie, acessado em 1/03/2016
CRITICA
Partindo da análise que Argan faz sobre o que é uma crítica, e como devemos categorizar um
projeto, buscou-se dividir as pesquisas, reflexões e críticas ao lugar de modo a selecionar aquilo que fosse
distinto e comum às pesquisas que realizamos. Destarte após a identificação dos problemas do lugar, foi
sugerido a proposta de utilizar uma infraestrutura organizacional às habitações, tal como vimos no projeto
Quinta da Malagueira de Álvaro Siza. A possibilidade de criar habitações que pudessem estar conectadas,
a formar um grande volume, assim como o uso de tipologias que permitissem uma expansão as habitações
sem comprometer, dessa forma, o uso demasiado de mais área, como vimos na possibilidade de expansão
do sistema do Habitat 67 de Moshe Safdie, e a criação zonas dentro dos conjuntos habitacionais, que
pudessem ser utilizados como espaços públicos, algo recorrente nos projetos de Aldo Van Eyck e de Rem
Koolhaas.
De certo, a proposta pensada, visou resolver os problemas da habitação ao mesmo tempo em que
servia-se de exemplo e incentivo para se pensar melhor a cidade de Camocim.“O projeto é um projetar
contínuo, é exercer sempre uma crítica sobre a existência, e supor qualquer coisa de diferente e
evidentemente melhor.” (ARGAN, 1993, p. 04).
Buscamos propor infraestruturas, espaços públicos diversificados que atendessem a população,
além de hortas comunitárias, creches comunitárias, espaços para valorização da pesca e de esportes
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aquáticos, chaminés de ventilação (para um melhor conforto térmico), espaços de transição e integração
dos habitantes com suas habitações e com a própria cidade. Assim, o objetivo final foi agregarmos valores
a proposta, com o objetivo de destinar-se a um conjunto plural de pessoas, partilhando um modos de vida
diferenciado e abraçando culturas distintas, para criar um “novo” Bairro, numa cidade regenerada.
PROJETO
Umas das principais importâncias do aprendizado foi a percepção e aplicação da metodologia e o
processo do projeto. Sua linearidade se estendeu-se desde o pensamento conceitual, a partir de
referências e orientações, até o desenvolvimento de desenhos, montagem do painel e maquete de
estudo.
Tendo como desafio a elaboração de um projeto que atendesse as necessidades do programa, foi
proposta a visita ao local, para determinar a escolha do terreno. No primeiro encontro pós visita à cidade,
escolheu-se um terreno com problemáticas semelhantes às referidas no concurso para resolução.
A análise focou a natureza do local, a sua (des)valorização, a história e cultura. Até mesmo o
tamanho e a percepção do comércio local da pesca foi importante. Tínhamos que garantir o mais
completo entendimento e domínio do local.
As pesquisas foram sempre muito criteriosas. No caso das tipologias, o processo não foi diferente.
Referencias, orientações e discussões se fizeram valiosas para um desenvolvimento adequado. Não só
isso, mas outras ferramentas nos foram importantes. Maquetes e desenhos.
A evolução da tipologia se estendeu desde o início até os últimos momentos. Suas alterações eram
sempre adaptativas, junto a necessidade do conjunto residencial. Referências foram constantemente
revisadas, afim de perceber as relações das tipologias e como elas se estruturavam. Sempre pensando no
fator de expansão-flexibilidade- e as relações público/privado estruturamos a proposta em temáticas
chave.
O LUGAR DOS ESPAÇOS
A proposta de projetar um conjunto habitacional em Camocim veio acompanhada de uma série de
desafios. O grande objetivo foi pensar no lugar, no clima, na cultura, na história, no habitar e nos
habitantes. Era preciso ter consciência de que tudo isso haveria de ser contemplado num projeto. Com
isso, foi decidido inicialmente escolher um lugar que tivesse uma forte ligação com o mar - a memória dos
habitantes - e que estivesse em uma posição que fosse possível se relacionar com os principais pontos
culturais da cidade, por exemplo, o mercado, a igreja, a beira mar e com o local de pesca dos moradores.
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Depois, veio à proposta de criar um espaço público que pudesse ser de fato vivido pelos habitantes,
desafio este que em meio ao clima constantemente ensolarado da região, quase nunca é praticado. Dessa
forma, a ideia deste espaço era de criar uma relação cultural entre os habitantes e turistas ao mesmo
tempo em que possibilitasse a vida de um comercio pesqueiro ativo na cidade, que hoje carece de um
espaço. Por fim, era preciso pensar que esse lugar deveria estar protegido da insolação abundante, era
necessário pensar em uma grande sombra, em que todos pudessem livremente, viver a vida de uma
grande comunidade.
Figura 7 – Testes iniciais para estruturas das habitações
Fonte: Rafaela Abreu
A solução para tudo teve início com o desenhar de um grande eixo central que atravessava desde
o início ao fim das habitações, por onde por ele passaria toda infraestrutura necessária para cada
habitação, visto que esse eixo não só conduz a infraestrutura, como ele próprio é um elemento estrutural,
que vai “amarrando” cada residência. A escolha desse eixo central possibilitou ramificar as habitações por
toda extensão do terreno, além de utilizar a mesma ideia para os demais pavimentos, o que tornou
possível criar várias passarelas por entre as habitações e isso contribuiu geometricamente, para que
houvesse uma considerável redução da insolação do lugar, sem comprometer a ventilação litorânea, ao
mesmo tempo em que serve de acesso a todos. Além disso, optou-se por colocar todas as habitações no
segundo e terceiro pavimento, para que no pavimento térreo fosse um grande espaço público permeado
de praças, pontos de comercio, escolas e de pessoas. A escolha acaba por definir que este generoso
espaço sirva de circulação, atração e contemplação, provocado quase que intuitivamente pela
continuidade espacial que o eixo central nos proporciona em relação ao mar, uma tensão que nos conduz
a olhar para os pescadores e para a paisagem.
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TIPOLOGIAS
As tipologias criadas a partir de uma medida exata 6m³ foi lançada tendo em vista a densidade exigida pelo programa de necessidades do concurso. Com a geometria escolhida fomos evoluindo da facilitação de recolhimento de água e esgoto até a melhor divisão de quartos e dos demais cômodos. A ideia de expansão da habitação de acordo com o crescimento familiar foi um tema relevante a nossa estrutura das tipologias.
Figura 8 – Planta baixa da área comercial
Fonte: Rafaela Abreu
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Figura 9 – Segundo pavimento com expansão
Fonte: Rafaela Abreu
Figura 10 – Terceiro pavimento com expansão
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Fonte: Rafaela Abreu
INFRAESTRUTURA
O projeto constrói se a partir de uma infraestrutura que organiza e alimenta todas as habitações.
Esta não só organiza todos os sistemas de circulação vertical e horizontal como concentra e distribui a
rede de água (caixas d’águas obrigatórias, a recolha seletiva de água pluvial e cinzenta), oferece ventilação
induzida através das torres de captação do vento e aloja um sistema de energia fotovoltaica. Ainda, toda
infraestrutura alberga o sistema de recolha de resíduos urbanos. As habitações são construídas em
alvenaria de tijolo comum, assente em estrutura de concreto armado, em fiadas alternada, de forma a
sombrear as paredes e permitir uma ventilação transversal através de cobogós (muxarabi).
Contudo, o que foi proposto enquanto projeto foi a possibilidade de expansão nas habitações, caso
houvesse a necessidade, para que as habitações conseguissem atender a todas as famílias de acordo com
o crescimento familiar sem que houvesse expansões desorganizadas e de forma aleatória, ou mesmo
culminassem na formação de guetos.
Além disso, os instrumentos por meio de peças de madeira que simulavam, em escala, o módulo
da habitação, facilitou na compreensão do volume, das reflexões, das possíveis expansões, circulações e
integração do local com a habitação. As ferramentas virtuais de desenho em três dimensões também
foram de total valia.
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Figura 11 – Planta baixa final da maquete volumétrica
Fonte: Rafaela Abreu
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após quatro semanas de realização do projeto e chegado ao termino do prazo para a submissão do
trabalho ao concurso, o resultado final não atingiu a todos os objetivos exigidos. De certo havia ainda
muitos requisitos a serem cumpridos, alguns desenhos a serem feitos e algumas decisões a serem
tomadas no projeto.
Tais impossibilidades deram-se por algums motivos especificos, um deles foi o curto intervalo de
tempo em que tivemos para desenvolver uma proposta de projeto para os requisitos do concurso, visto
que o programa de necessidades era demasiadamente complexo e exigia do grupo mais experiência e
conhecimento ao que estava sendo proposto.
Outro motivo a ser pontuado, foi a dificuldade em que os participantes tiveram em meio a pouca
disponibilidade de horários – após as férias – para desenvolver o projeto, o que evidentemente
corroborou para a não entrega dos desenhos minimos exigidos pelo programa do concurso. Contudo
mesmo com tais impossibilidades o projeto foi enviado ao concurso no tempo previsto para ser avaliado
pela comissão organizadora.
Por outro lado, ainda que o projeto não tenha chegado ao resultado almejado, é preciso destacar
o progresso em que o grupo teve ao longo do curso de extensão que, sem duvidas, foi uma experiência
que veio a enriquecer de conhecimento a todos, desde a estrutura organizacional do grupo, as discussões
em torno do desafio lançado, aos problemas encontrados ao longo do programa, às soluções encontradas
ao projeto. Tudo certamente provocou no grupo um relevante aprendizado e experiência em grupo, que
poderá mais a frente, ser aplicado em novos desafios lançados pela profissão de Arquiteto.
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Evidente que todo conhecimento obtido deveu-se ao arduo processo de reflexão, discussão e
aprendizado, liderado pelo professor, idealizador do curso de extensão, Nadir Bonaccorso, que com muita
dedicação e disposição esteve a frente em todos os momentos.
REFERÊNCIAS ARGAN, G.C. ; História na Metodologia do Projeto. Revista Caramelo, 1993. p. 156–170.
KOOLHAAS, Rem ; Werlemann, Hans; Mau, Bruce. S,M,L,XL. New York: The Monacelli Press, 1994 (2ª
edição, 1997)
RÉMILLARD, F. Montreal architecture: A Guide to Styles and Buildings. Montreal, Meridian Press, 1990.
Moshe S. For Everyone a Garden, Massachusetts, MIT Press. 1974.