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SITES ATEUS DO FACEBOOK: o boom de uma disputa simblica Rogrio Fernandes da Silva

1. Introduo Nos fins do ano de 2011 uma exploso no Facebook de sites ateus promovidos

pelo crescimento rpido da pgina da ONG ATEA.1 Vrias pginas de filosofia neoatesta (definirei o conceito de neoatesmo daqui a algumas linhas) sugiram nessa rede social da internet. Obviamente havia pginas ateias existente antes, mas surgiram diversas novas, principalmente de humor blasfmico. Entre elas esto a Humor Ateu, Deus maconheiro, Sem deus no corao, Jesus bbado, Ateus do Brasil, etc. Claro que esse crescimento no passou despercebido por grupos testas da rede. E houve e ainda h confrontos na rede social, especialmente por causa das imagens de contestao dos ateus. A pgina do Facebook do ATEA no o da organizao, podemos encontr-la na internet fora da rede social Facebook. No site as linhas de grupo ATEA so definidas segundo seu estatuto os objetivos:

Congregar ateus e agnsticos, defendendo seus interesses e direitos, em todo o territrio nacional, bem como nos pases ou estados independentes onde o Estado Brasileiro possui representao diplomtica; Combater o preconceito e a desinformao a respeito do atesmo e do agnosticismo, dos ateus e dos agnsticos; Auxiliar a auto-afirmao dos ateus e agnsticos frente ao preconceito e a rejeio sociais; Apontar o atesmo e o agnosticismo como caminhos filosficos viveis, consistentes e morais; [...] Promover a laicidade efetiva do Estado, combatendo em todas as esferas legais qualquer tipo de associao que seja contrria ao descrito na Constituio da Repblica Federativa do Brasil; Promover o pensamento crtico e o mtodo cientfico; [...].2

A pgina dos ATEA no Facebook um exemplo de exploso de uma demanda antirreligiosa existente nas redes sociais. A pgina do ATEA cresceu de 27 mil participantes, em inicio de janeiro de 2012, para 70 mil at meados de fevereiro do mesmo ano. O ATEA tem origens nas ONGs Sociedade da Terra Redonda e da Ateus do Brasil, de 1999 e 2006 respectivamente, organizaes no-governamentais brasileiras atesta nos mesmos moldes. Porm, com a popularidade da onda do neoatesmo no mundo viu-se necessrio uma atualizao, nasce a ATEA que partilha dos mesmos ideais de militncia atesta. Aproveitando a onda neo-ateia conseguiu um aumento nos nmeros de adeptos.

Por que isso? Primeiro, nos ltimos onze anos no Brasil percebe-se um aumento do nmero dos sem religio nas pesquisas do Censo/IBGE que incluem ateus e

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agnsticos. O grupo dos sem religio aumentou na ltima duas dcadas revelando mudanas no papel das religies tradicionais como o afastamento de parte da juventude em relao a elas. Esses nefitos ateus precisavam de um espao para expo suas ideias e questionamentos. O movimento neoateu cresceu consideravelmente o nmero de ateus que expem sua condio de descrena em divindades.

Fig. 1 - Imagem da campanha brasileira de 2010 da ATEA para os nibus de algumas capitais brasileiras (Salvador, Porto Alegre, etc.3) e acabaram sendo rejeitadas por algumas empresas4

Fonte: http://www.facebook.com/ATEA.ORG.BR?ref=ts

2. Pequena histria do atesmo Segundo MATA, a definio de ateu na Antiguidade Idade Moderna no era

algo bem definido, mais como uma acusao vaga (2010, p. 96). Perante a histria, ao atesmo que entendemos hoje muito recente. O esforo de Richard Dawkins5para ampliar o atesmo pelo mundo tem seus problemas, pois esta crena ou falta de crena sempre foi restrita a poucos (Idem, p. 97). Mas o que atesmo como o percebemos hoje? Uma definio seria Em sentido fraco, descrena na existncia de uma entidade sobrenatural particular [...]. Em sentido forte, a crena na inexistncia do divino em geral.6

O atesmo, portanto, antigo, mas com diferenciaes do que temos hoje, no incio do sculo XXI temos o surgimento da militncia neoatesta, tambm no nova, pois relatos, como o exemplo Diderot, mostram como j houve deturpaes contra a religio. Como essa militncia neoatesta usa um discurso anti-religioso, intencional ou no. A obra La Religieuse um texto panfletrio que faz uma deliberada distoro do sentimento religioso (GORDON, 2011, p. 7) em pr dos ideais Iluministas. Segundo Flvio Gordon o atesmo atual herdeiro do iluminismo e da Revoluo francesa:

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Suponho que Linker tivesse em mente duas variantes do pensamento iluminista: uma primeira, que no literalmente atesta (posto que, entre seus expoentes, havia cticos e destas, mas tambm cristos no sentido tradicional), mas que fundamenta o imaginrio secularista moderno, propriamente filosfica ou teortica (no sentido da busca intelectual pela verdade). Ela remete, sobretudo, a nomes como Locke, Hume e Kant. E uma segunda vertente, mais dedicada crtica cultural, polmica jornalstica e ao ativismo anti-religioso, que tem nos Philosophes franceses (em especial Voltaire, La Mettrie, Diderot, dAlambert, Helvtius e dHolbach) sua mais perfeita expresso [...] (Idem, p. 8-9).

Entretanto, o neoatesmo parece ser resposta aos que achavam que com o avano da cincia e do secularismo a religio acabaria. A religio no acabou e continua sendo elemento de explicao e consolo como tambm justificativa para atitudes extremadas. Ento cabe ao neoatesmo de maneira didtica toar frente e tentar acabar com a influncia da religio na sociedade. Quem so os neoateus?

The New Atheists are authors of early twenty-first century books promoting atheism. These authors include Sam Harris, Richard Dawkins, Daniel Dennett, and Christopher Hitchens. The New Atheist label for these critics of religion and religious belief emerged out of journalistic commentary on the contents and impacts of their books. A standard observation is that New Atheist authors exhibit an unusually high level of confidence in their views. Reviewers have noted that these authors tend to be motivated by a sense of moral concern and even outrage about the effects of religious beliefs on the global scene. It is difficult to identify anything philosophically unprecedented in their positions and arguments, but the New Atheists have provoked considerable controversy with their body of work.7

O livro de Sam Harris, The End of Faith: Religion, Terror, and the future of Reason (2004), o precursor do movimento neoatesta. O autor culpa os fundamentos da religio, neste o caso Isl, por ser responsvel pelo ataques as torres gmeas, mas fazem um ataque tambm as demais religies. Harris faz um ataque literal e pouco aprofundado dizendo que a ignorncia e falta de conhecimento cientfico leva ao obscurantismo cientfico. Esquece, entretanto, que vrios do suicidas eram de classe mdia e fizeram universidades, algumas Ocidentais e conheciam os cdigos culturais da modernidade ocidental. O atentado de 11 de setembro o catalisador para o surgimento e sucesso editorial das obras neoatestas.

A ideia de Gordon que os neoateus advogaram o direito de serem os professores da humanidade (Idem, p.178). Os intelectuais seculares do ocidente que ocupar o lugar do deus judaico cristo, mundo secularizado isso no difcil de ser ver. O cientista tomou o lugar dos pastores e padres na orientao e conduo das almas na sociedade.

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Podemos classificar Richard de Dawkins (zologo), Sam Harris (filsofo e neurocientista), Christopher Hitchens (jornalista) e Daniel Dennett (filsofo), como intelectuais orgnicos de direita, que justificam as intervenes militares nos pases islmicos, pois ambos apoiaram a Invaso do Iraque. Essas aes militares parecem como uma continuao da obra civilizadora Ocidental secular, democrtica e liberal. Que tenta orientar atravs da fora o Oriente a chegar o nvel das civilizaes nascidas das ideias iluministas. O perigo, para esses pensadores, era uma religio no purificada pelas ideias seculares levassem o mundo a uma barbrie. O fundamentalismo religioso perigoso, pois pode desestabilizar o Status quo econmico do mundo globalizado. Afinal, aps o ataque terrorista de 11de setembro de 2001, a economia americana sofreu um forte baque afetando todo o planeta.

Usando o argumento de Seneraro, podemos pensar Richard Dawkins e companhia como especialistas de suas reas que procuram assegurar sua hegemonia cultural de sua classe sobre a sociedade (SENERARO, 2006, p. 378). Eles tm o projeto de consenso para sua classe social de pensadores que almejam uma sociedade purificada do obscurantismo religioso e governada por pessoas instrudas. Como os Philosophes iluministas, o neoatesmo acredita na sua superioridade intelectual. Num vdeo intitulado eles reclamam de que h de expresso polticos de Direita ateus.8 Os vdeos e internet so uns dos instrumentos principais de propagao do neo-ateismo. Neste contexto, na falta de intelectuais orgnicos engajados com causa populares interessante a reflexo de Semeraro:

[] Por toda parte, despontam gestores, intelectuais cticos e polticos pragmticos. As convices de princpio, a viso de conjunto e a revoluo so suplantadas pela incerteza e o pensamento da errncia (Vattimo, 1996, p. 182), pelo gosto do particular e o narcisismo privado. Sob a forte influncia do neoliberalismo na economia e da ps-modernidade na cultura, muitos intelectuais foram gradualmente deslocados do cho da fbrica e dos movimentos de massa para o campo do marketing, da esttica e do fantasmagrico cenrio da vdeo-esfera (Idem, p. 382).

A sociedade moderna fragmentada em diversos grupos sociais e esses grupos lutam pela supremacia simblica para imporem a definio que se acredita (BOURDIEU, 2010, p. 11). O atesmo apesar de minoritrio tem grande influncia cultural no Ocidente. Muito dos banners9 do Facebook tem como objetivo passar a mensagem e valores dos grupos ateus e os legitimarem diante de uma sociedade majoritariamente religiosa. Porm, no caso do neoatesmo, seu discurso acaba sendo usado para mascarar o poder dominante, pois os principais nomes, como Christopher

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Hitchens e Richard Dawkins, depois dos atentados de 11 e dos de Londres aumentaram seus discursos contra a religio: justificando que ela origem de todos os males e intolerncia. O neoatesmo nasce anglo-saxo e anti-islmico, mas acaba englobando as demais religies. Como o sucesso dos livros Deus no grande e Deus: um delrio e esses autores acabam ganhando adeptos pelo mundo Ocidental.

3. As redes sociais

Fig. 2 Grfico representando a distribuio dos frequentadores do site Humor Ateu segundo idade

Fonte: http://www.facebook.com/HumorAteu?ref=ts

Sobre o perfil dos frequentadores dos sites ateus do Facebook, segundo pesquisa informal feita pela pgina Humor Ateu, formada, principalmente, por jovens com at 20 anos, cerca de 80% dos participantes (fig. 2.). Muitos deles possuem uma militncia atia concentrada em meios virtuais. A idade dos frequentadores varia, segundo a pgina, entre 13-15 anos, com 181 votos computados; 16- 17, com 277 votos; 18-20 com 340 votos; 21-23 com 90 votos; 24-30 com 76 votos e finalmente com mais de trinta anos (+30) com 32 votos. Portanto, em sua maioria so jovens, muitos ainda no Ensino Fundamental e Mdio, outros iniciando o curso universitrio. Parece que a maturidade e com ela as exigncias da fase adulta h um afastamento do atesmo. Veremos que esses nmeros correspondem tanto na pgina do ATEA quanto em outras pginas. Se compararmos com os frequentadores do ATEA, na faixa de idade de 18-24 anos (fig. 6) podemos supor que a faixa majoritria composta por 43%, quase metade nas duas pginas. Segundo o grfico abaixo 80% dos frequentadores da pgina tem at vinte anos e somente 3% tm mais de trinta.

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Pensemos que a construo das identidades dentro do mbito desterritorizado das redes sociais. As antigas concepes identitrias ligadas s religies tradicionais com laos comunitrios fortes ficaram esvaziadas na realidade urbana e com o avano de novos meios de comunicao, neste caso a internet. As identidades que antes eram estveis e douradoras hoje se tornaram mutvel (HALL, 2001, p. 13). A oferta de bens e servios, concepes religiosas, ou no, muito diversificada atualmente. As identidades modernas hoje so descentradas, fragmentadas, um sujeito pode optar por diversas formas de ser representar durante a vida (idem, p. 8). Portanto, no de espantar que indivduos criados em concepes religiosas tradicionais mudem de credos diversas vezes na vida, ou simplesmente neg-las e depois retornarem para elas. Sendo assim, possvel que muitos dos jovens que aderem ao atesmo com o passar dos anos no sero sempre ateus.

Fig. 3 exemplos de cartazes (banners) anti-religiosos estes recolhidos de uma nica fonte, mas eles so compartilhados e criados por diversos sites e pginas

Fonte: http://www.facebook.com/ATEA.ORG.BR?ref=ts

Os sites ateus nunca foram muito populares em outras redes sociais como so no Facebook. Esta substituiu a preferncia dos brasileiros pelo Orkut (outra rede social e

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antigamente a mais usada no Brasil). As pginas de contedo ateu ficaram mais conhecidas e, em vez de afirmar a identidade do atesmo contra o preconceito, faz isso se faz atravs de uma alteridade humorstica e agressiva contra os religiosos nas redes sociais. Os neoateus do Facebook atacam com imagens e textos as religies, uma caracterstica do neoatesmo a maneira com eles exeram o direito de criticar e menosprezar as religies. Propem que uma sociedade democrtica um direito de zombar das delas, conforme as ideias do neoatesmo, como a proclamao do dia internacional da Blasfmia, institudo por uma organizao dos EUA, para o dia 30 de setembro (GORDON, 2011, p. 345).

Geralmente essas pginas esto cheias de banners que criticam exaustivamente os religiosos e religies, principalmente o cristianismo (fig.3). Acompanhando alguns debates pude perceber que a esmagadora maioria dos participantes de sites neo-ates no conseguem compreende religiosidade fora do padro judaico-cristo (exemplo: os debates sobre a espiritualidade de ateus famosos, que ao mesmo tempo so budistas). Uma das ideias neo-ateia o combate a todas as religies vista como origens de todos os males sociais. Podemos perceber que eles procuram legitimidade contra o preconceito. Contudo, a questo interessante que ao tentaram se legitimar acaba recorrendo ao mesmo preconceito que so vitimas. Percebe-se certa luta simblica contra testas.

Fig.4 perceba grupos dos sem religio no Brasil e a suas transformaes durante os anos Fonte: NERI, 2011, p. 21.

Sobre o fenmeno neoatesta no Brasil precisamos pensar as questes sobre juventude e interpretando os dados dos Censos e POF (Pesquisa de Oramentos Familiares) ambos do IBGE os dados mostram o crescimento da camada brasileira dos sem religio. O aumento destes foi de 4,8%%, em 1991 para 7,4% em 2000. Lembrando que este grupo no formado por ateus somente, muitos exercem uma

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religiosidade sem est vinculado as religies tradicionais. Segundo uma pesquisa de Regina de Novaes, antroploga, pesquisadora da rea de religio, sobre jovens de quinze a 24 anos, apenas 1% dos jovens se declarou ateus em uma pesquisa nacional complementar do Projeto juventude/ Instituto cidadania, a maioria deste 1% eram homens (NOVAES, 2004, p 322). Na pesquisa feita com os jovens a predominncia dos 50% de ateus tendo entre 18 a 20 anos. A pesquisa parece confirmar a informal feita na figura 2.

Os sem religio, cuja participao caiu de 7, 44% para 5, 1% mas sobem para 6, 72 3m 2009 (NERI, 2011, p.8) so um grupo heterogneo, que inclui uma ampla maioria de religiosos sem serem adeptos formais de religies e no somente ateus. Essas variaes demonstram que a espiritualidade ainda muito forte no Brasil. Porm, apesar das pesquisas dos rgos oficiais os sem religio incluem os ateus sem diferenci-los dos demais e por causa disso no sabemos exatamente qual o porcentagem de ateus no pas. Muito desses jovens alimentados pelas ideias neo-ateias questionam os padres das religies estabelecidas e como a populao brasileira predominantemente crist, este segmento religioso o mais visado.

Na verdade o neoatesmo nasceu anti-islmico, entretanto, acaba estendendo suas crticas a todas as religies. Muitos desses jovens nefitos ateus tendem a uma negativa completa do sentimento religioso na sociedade. No se consideram o sagrado fazendo parte de suas vidas. Neste caso pertinente o a crtica de Mircea Eliade.

[...] o homem a-religioso no estado puro um fenmeno muito raro, mesmo na mais dessacralizada das sociedades modernas. A maioria dos "sem-religio" ainda ser comporta religiosamente, embora no esteja consciente do fato. No se trata somente da massa das '"supersties" ou dos "tabus" do homem moderno, que tm todos uma estrutura e uma origem mgico-religiosas. O homem moderno que se sente e se pretende a-religioso carrega ainda toda uma mitologia camuflada e numerosos ritualismos degradados. Conforme mencionamos, os festejos que acompanham o Ano Novo ou instalao numa casa nova apresentam, ainda que laicizada, a estrutura de um ritual de renovao. Constata-se o mesmo fenmeno por ocasio das festas e dos jbilos que acompanham um casamento ou um nascimento de uma criana, a obteno de um novo emprego ou uma ascenso social etc. (ELIADE, 2010. p 166-187).

H uma disputa pelo espao virtual nas redes sociais, mas para este trabalho opta por descrever as disputas simblicas no Facebook. H uma luta dos homens que aceitam o sagrado e dos homens que preferem recus-lo. Sendo que o espao virtual a fronteira

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de embate religioso. O ciberespao esse termo foi criado pelo escritor de fico-cientfica William Gibson, no livro Neuromancer, de 1984. Segundo Lvy:

O ciberespao [...] o novo meio de comunicao que surge da interconexo mundial de computadores. O termo especifica no apenas a infra-estrutura material de comunicao digital, mas tambm o universo ocenico de informaes que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo (2000, p. 17).

A comunicao entre os seres humanos est ancorada nos meio de produo de seu tempo, no relacionamento entre o homem e a natureza e entre ele e seu semelhante.

Isso se faz em territrios determinados (fsicos ou virtuais) e assim geram culturas e coletividade especficas (CASTELLS, 2005, 52). A tecnologia tem como base vrias relaes com os meios de produo, conhecimentos e informao. As novas tecnologias de informao, neste caso o surgimento das redes socias, criaram vrias comunidades virtuais, com identidades prprias.

Considerando o que Pierre Lvy escreve, pode haver um engano pensando que h uma oposio entre o virtual e a realidade (LEVY, 1996, p. 15). O virtual no se ope ao real. No espao ciberntico a realidade virtual. Neste caso, o ciberespao, que um espao desterritorizado, um espao do Sagrado ou do Profano? Sendo que no conflito entre ateus e religiosos quem vencer essa disputa pela conceitualizao dele? Nem um nem outro, pois um espao virtual sem presena fsica, um espao de informaes alimentadas pelas diversas tendncias da sociedade. O espao sagrado tem um valor existncia para o homem religioso (ELIADE, 2011, p. 26). E o a-religioso moderno? Conforme algumas figuras apresentadas por eles tendem a determinar o espao virtual como livre da religiosidade.

A isso gera uma luta pela predominncia simblica na rede, gera banners, postes, comentrios e vdeos no youtube (como os produzidos pela Tropa dos Lanternas verdes, grupo de blogueiros e vlogueiros10 cticos11) que declaram explicitamente que a internet dominada pelos ateus.12 O que no deixa de ser verdade, para ateu vlogueiro. A rede proporciona, conforme os interesses, uma leitura parcial da realidade que o leva a pensar dessa maneira. Coisa que tambm um religioso poderia dizer de maneira triunfalista tambm: a internet dominada por religiosos. Temos muita propaganda crist nas redes sociais o que levarei algum a pensar desta forma.

No caso dos vdeos do youtube um detalhe h mais que diferencia as redes. Diferentemente do Orkut, onde os vdeos ficavam estagnados nas pginas pessoais, no

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Facebook eles transitam com mais liberdade e podem ser postados com mais frequncia e podem atingir um pblico maior (teoricamente).

Fig. 5 - nvel de associao da entidade ATEA13 em 29/03/2012 Fonte: ATEA: http://www.facebook.com/ATEA.ORG.BR?ref=ts

Portanto, esse aparente sucesso de pginas atestas fenmeno recente no cenrio religioso brasileiro, graas ao avano dos sem religio no Brasil e a propaganda neo-atia pelo mundo, via livros e pginas da internet (com vdeos, vlogs, blogs e redes sociais). At a concluso deste artigo, no dia 30 de abril de 2012 havia 123 mil pessoas curtindo a pgina dela do Facebook e segundo a entidade havia apenas 5400 associados entidade ATEA.14 O que levar a crer que apesar do intenso proselitismo neoateu o grau de comprometimento no muito grande, afinal e a pgina tem diversos fakes15, que demonstra que muito dos frequentadores tem medo de assumir sua descrena. Outra coisa que podemos perceber a grande quantidade de jovens com 18 a 24 anos (fig, 6) aproximando-se dos dados levantados na pesquisa para este artigo.

Fig. 6 - Idade mais popular do frequentadores da pgina ATEA Fonte: http://www.facebook.com/ATEA.ORG.BR?ref=ts

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4. Concluso Os movimentos de neoatesta tiveram um grande avano graa s campanhas

pela internet, atravs de vdeo e textos. O compromisso do historiador tambm com os acontecimentos do presente. Como testemunha do calor da hora sem nunca ignora rigor cientfico. Apesar de no haver um recuo necessrio do tempo e dos acontecimentos muito prximos, o neoatesmo no prope nada de novo. Eles so os herdeiros das ideais dos filsofos iluministas. Talvez a maior aqui novidade seja os uso Internet. O ciberespao virou tambm um campo de lutas simblicas pela hegemonia cultural nas sociedades.

Finalmente, tudo est em pleno andamento e se transformando. Este trabalho no pretendente descrever todas as aes da entidade ATEA e nem dos diversos grupos atestas do Facebook. No possvel, alm do humor, h a luta contra o preconceito, ainda tem as reivindicaes de Estado laico, da maneira que eles entendem, com aes na justia. Porm, fica ideia que o espao virtual deve ser apreciado pelos historiadores como campo de estudo e observao do movimento dinmico da religiosidade brasileira.

BIBLIOGRAFIA

BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. Rio de Janeiro: Bretrand Brasil, 2010.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Trad. Roneide Venncio Majer. 8 ed. So Paulo: Editora Paz e Terra, 2005.

CHAUVEAU, Agns & TTART, Phillipe (orgs.). Questes para a histria do presente. Bauru, SP: EDUSC,1999.

DAWKINS, Richard. Deus, um delrio. Traduo de Fernanda Ravagnani. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.

ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a essncia das religies. So Paulo: Martins Fontes, 2011.

GORDON, Flvio. A Cidade dos Brights: Religio, Poltica e Cincia no Movimento Neo-atesta. 2011. 424 f.. Tese (Doutorado em Antropologia Social). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.

HALL, Stuart. A identidade cultural na ps-modernidade. 5 ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2001.

LVY, Pierre. Cibercultura. So Paulo: Editora 34, 2000.

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___. O que o virtual? Trad. Paulo Neves. So Paulo: Editora 34, 1996.

MATA, Srgio da. Histria & Religio. Belo Horizonte: Autntica, 2010.

NERI, Marcelo (coord.). Novo mapa das religies. Rio de Janeiro: FGV, 2011.

NOVAES, Regina. Os jovens sem religio: ventos secularizantes, esprito de poca e novos sincretismos. Notas preliminares. Estudos Avanados 18 (52), 2004. p. 321-330.

SEMERARO, Giovanni. Intelectuais orgnicos em tempos de ps-modernidade. Cad. Cedes, Campinas, vol. 26, n. 70, p. 373-391, set./dez. 2006

ENDEREOS DE PGINAS ATESTAS

ATEA: http://www.facebook.com/ATEA.ORG.BR?ref=ts;

Ateus do Brasil: http://www.facebook.com/ateusdobrasil?ref=ts;

Ateus.net: http://www.facebook.com/ateus.net;

Deus maconheiro: http://www.facebook.com/pages/Deus-Maconheiro/272062346182058?ref=ts;

Humor ateu: http://www.facebook.com/HumorAteu?ref=ts;

Jesus bbado: http://www.facebook.com/JesusBebado;

Liga humanista Secular do Brasil: http://www.facebook.com/groups/ligahumanista/?ref=ts;

Sem Deus no corao: http://www.facebook.com/semdeusnocoracao;

Sociedade da terra redonda: http://str.com.br/principal.php.

NOTAS

1 Alfredo Spinola, Mauricio Palazzuoli e Daniel Sottomaior criaram uma associao de ateus e agnsticos

(ATEA). Disponvel em: . Acesso: 02/02/2012. 2 Disponvel em:

. Acesso: 02/02/2012. 3 Notcia do jornal Zero Hora: A partir deste domingo, a chamada campanha dos nibus ateus ter incio

na Capital. nibus exibiro mensagens expondo o ponto de vista de ateus e agnsticos sobre temas como f e moralidade. [...]. A campanha deveria sair em Porto Alegre e Salvador, mas foram rejeitadas houve alegaes de problemas jurdicos e no foram vinculadas em nibus, sendo transformadas mais tarde em Outdoors pela ATEA. Disponvel em: . Acesso: 28/04/2012. 4 Algumas empresas alegaram problemas jurdicos e outras como a empresa de Florianpolis rejeita [...]

o material, alegando que ele era "ofensivo". Disponvel em: . Acesso: 28/04/2012.

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5 Professor de Oxford e zologo que escreveu diversos livros entre eles o best seller Deus: um delrio, e

diversos livros cientficos. 6 Dicionrio escolar filosfico. Disponvel em: < http://www.defnarede.com/a.html>. Acesso:

02/02/2012. 7 Disponvel em: . Acesso: 10/03/2012.

8 Vdeo: Discussions with Richard Dawkins, Episode 1: The Four Horsemen 2008.

9 Cartazes com imagens e mensagens.

10 So os que fazem vdeos e os postam em videoblogues (Videoblog, Videolog ou Vlog) uma variante

de weblogs cujo contedo principal consiste de vdeos, geralmente esto num site e podem ser visto sem download. 11

Disponvel em: . Acesso: 02/04/2012. 12

Yuri Grecco. In: DEIXAR OS RELIGIOSOS QUIETOS? #EuSouUmAteuRevoltado. Disponvel em: . Acesso: 02/04/2012. 13

Cito como exemplo para demonstrar o rpido crescimento. 14

Disponvel em: . Acesso: 18/04/2012. 15

Perfil falso onde qualquer pessoa criar uma conta na rede social assumindo personalidades e opinies que normalmente no fariam fora do ciberespao.