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3 6 Certa vez, em um encontro com estudantes, me fize- ram uma pergunta que até hoje ecoa em meus pensamen- tos. Foi ela: “Como é que você sabe que uma ideia vai resultar num conto, peça de teatro, num livro ou numa música?” Na hora, milhares de coisas se passaram pela minha cabeça e fui elaborando uma resposta. Refleti sobre tudo o que eu produzira até então, pois já havia, de fato, transitado por todas as áreas mencionadas. Bem, até agora não conheço muito bem qual é a “mágica” que transforma um pensamento meu em determinado tipo de manifestação cultural, mas sei, com certeza, que todos eles passam pela palavra. Em qualquer situação, imagino primeiramente as palavras, quais e como irei utilizá-las. Dependendo da forma com que se “montam” em minha imaginação, deixo que se transformem em canção ou literatura. E, para ganhar essas palavras, me exponho cada vez mais às artes, à música, ao teatro, à literatura e ao mundo ao meu redor. Acho que manter aceso o desejo de aprender é o que nos transforma em melhores criadores, sempre. Manuel Filho – escritor Só Deus sabe como navegamos. Nós autores, vamos de um lugar a outro, sobre ondas, com bons e maus ventos, sol, frio, tem- pestades e, claro, muitos hori- zontes abrindo aqui e lá. Nos hotéis, quando me pedem para preencher os dados na parte de profissão, fico na dúvida. Algumas vezes escrevo –- professora uni- versitária, escritora, conferencista- Numa oportunidade, faz muito tempo, escrevi: “lavrapalavreira”. O moço do hotel me olhou de um jeito que não conseguiria descrever aqui... Sei que vou fiando por fileiras de muitos fios, em por- tuguês e em espanhol. Pelos caminhos encontro muitos dos meus pares, os outros escritores. Esta é a melhor recompensa de nosso trabalho. Não aguardo os direitos autorais dos livros com muita ansiedade. Quando eles chegam substanciosos sempre são recebidos com muita alegria. Quando chegam magros, espero melhores tempos, com serenidade. Mas um dia, quando a lei da grave idade não me permita as proezas físicas que significam uma viagem, gostaria viver dos meus livros. Gabriela Mistral, a poeta chilena, recomenda o oficio paralelo. Ela que foi ganhadora do prêmio Nobel de Literatura e fez a Reforma da Educação no México foi tam- bém professora, conferencista e poeta. Penso nisto quando assumo muitos cursos e atividades extras na vida acadêmi- ca e na literária. Fico feliz quando estou escrevendo poesia, crônicas, histórias e também quando estou orientando pesquisas acadêmicas. Tiro férias como professora. Como escritora e “lavrapalavreira”, nunca. Aqui faz sentido a frase de Confúcio: "Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida". Gloria Kirinus – escritora Ser autora é... ...viver emoções reno- vadas e variadas, ora positi- vas, ora negativas. Começo pelas ruins: as angústias que às vezes precedem uma nova criação ou as que se seguem à publicação; as críticas que consideramos injustas; as baixas vendas de um livro em que apostávamos tanto; os prêmios que acalentávamos ganhar e não obtivemos. Felizmente, as alegrias pesam bem mais no outro prato da balança. A emoção que sentimos ao ter nas mãos cada novo “filho”, seja ele texto ou ilustrações, é um dos maiores ganhos que o traba- lho de autoria proporciona. Mas quem escreve para o público infantojuvenil conhe- ce ainda outro tipo de emoção: são as constantes visitas que fazemos a escolas onde algum de nossos livros é adotado. Conversar com esses leitores até então desconhecidos, ter deles um feed- back sincero da leitura e constatar, enfim, que conseguimos nos comunicar com “alguém” e que, de algum modo, o tocamos, eis uma oportunidade de ouro que esse ofício per- mite. Certo dia, chegando a uma escola para falar com cri- anças de 8, 9 anos, uma professora veio me pedir que esperasse enquanto ia buscar sua filha, que também estu- dava lá e queria conversar comigo. Voltou acompanhada por uma adolescente de 16 anos. Quando nos abraçamos, senti que ela tremia. Depois, ainda sob forte emoção, me contou que jamais havia esquecido de um livro meu, que leu quando estava na quarta série. Ângela Leite Souza – Escritora e Ilustradora AUTORA DA CAPA Sou do Rio e me formei na Escola de Belas Artes da UFRJ em Desenho Industrial. Depois que meus filhos nasceram e de ter trabalhado muitos anos com design, redescobri o mundo da literatura infanto juvenil e achei a minha praia. Para ver meus desenhos: www.crisalhadeff.com Para falar comigo: [email protected] Foto de arquivo pessoal. A AEILIJ continua recolhendo depoimentos de seus associados sobre as diversas facetas do nosso ofício. Confira: Boletim AEILIJ nº17 – Novembro 2011 A Regional Rio, em parceria com o Solar Meninos de Luz, tem promovido desde abril, encontros de escritores e ilustradores da AEILIJ com crianças e jovens. Até o fim do ano, cerca de 20 autores terão visitado a Instituição. O Solar fica num casarão de Copacabana doado pelo seu antigo habitante, o con- sagrado escritor Paulo Coelho. Conheça esta importante instituição cultural que atende às crianças da Comunidade do Pavão e Pavãozinho em: http://www.meninosdeluz.org.br AEILIJ Solidária: Solar Literário Foto de Thais Linhares A quinta edição da exposição foi inaugurada no 13º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, no Rio de Janeiro, em junho de 2011. Em agos- to, participou da 1ª FELIT, em São Bernardo do Campo, SP, de onde seguiu para a Biblioteca Alceu Amoroso Lima, onde ficou exposta de 01 de setembro a 15 de outubro de 2011. Agora, a expo está em terras gaúchas participando da 57ª Feira do Livro de Porto Alegre. Em paralelo, a quarta edição ainda continua viajando: de 1 a 20 de setem- bro, esteve no Espaço de Leitura PraLer, em SP e voltou para o Rio de Janeiro, para ficar exposta na Biblioteca do Solar Meninos de Luz. A exposição Cores e Formas que Contam Histórias continua viajando pelo Brasil... Arquivo pessoal de T. Linhares Nossa exposição foi planejada para estar ao alcance dos olhos e das mãos dos leitores, que podem tocar e trocar ideias sobre as artes e os livros também expostos.

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Page 1: 6 3 Boletim AEILIJ nº17 – Novembro 2011 A AEILIJ continua ... · Só Deus sabe como navegamos. Nós autores, vamos de um ... esteve no Espaço de ... muita persistência e uma

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Certa vez, em um encontro com estudantes, me fize-ram uma pergunta que até hoje ecoa em meus pensamen-tos. Foi ela: “Como é que você sabe que uma ideia vairesultar num conto, peça de teatro, num livro ou numamúsica?” Na hora, milhares de coisas se passaram pelaminha cabeça e fui elaborando uma resposta. Refleti sobretudo o que eu produzira até então, pois já havia, de fato,transitado por todas as áreas mencionadas. Bem, até agoranão conheço muito bem qual é a “mágica” que transformaum pensamento meu em determinado tipo de manifestaçãocultural, mas sei, com certeza, que todos eles passam pelapalavra. Em qualquer situação, imagino primeiramente aspalavras, quais e como ireiutilizá-las. Dependendo daforma com que se “montam”em minha imaginação, deixoque se transformem emcanção ou literatura. E, paraganhar essas palavras, meexponho cada vez mais àsartes, à música, ao teatro, àliteratura e ao mundo ao meuredor. Acho que manter acesoo desejo de aprender é o quenos transforma em melhorescriadores, sempre.

Manuel Filho – escritor

Só Deus sabe comonavegamos. Nós autores,vamos de um lugar a outro,sobre ondas, com bons emaus ventos, sol, frio, tem-pestades e, claro, muitos hori-zontes abrindo aqui e lá.

Nos hotéis, quando mepedem para preencher osdados na parte de profissão,fico na dúvida. Algumas vezes escrevo –- professora uni-versitária, escritora, conferencista- Numa oportunidade, fazmuito tempo, escrevi: “lavrapalavreira”. O moço do hotel meolhou de um jeito que não conseguiria descrever aqui...

Sei que vou fiando por fileiras de muitos fios, em por-tuguês e em espanhol. Pelos caminhos encontro muitosdos meus pares, os outros escritores. Esta é a melhorrecompensa de nosso trabalho.

Não aguardo os direitos autorais dos livros com muitaansiedade. Quando eles chegam substanciosos sempresão recebidos com muita alegria. Quando chegam magros,espero melhores tempos, com serenidade. Mas um dia,quando a lei da grave idade não me permita as proezas físicasque significam uma viagem, gostaria viver dos meus livros.

Gabriela Mistral, a poeta chilena, recomenda o oficioparalelo. Ela que foi ganhadora do prêmio Nobel deLiteratura e fez a Reforma da Educação no México foi tam-bém professora, conferencista e poeta. Penso nisto quandoassumo muitos cursos e atividades extras na vida acadêmi-ca e na literária.

Fico feliz quando estou escrevendo poesia, crônicas,histórias e também quando estou orientando pesquisasacadêmicas. Tiro férias como professora. Como escritora e“lavrapalavreira”, nunca. Aqui faz sentido a frase deConfúcio: "Escolhe um trabalho de que gostes, e não terásque trabalhar nem um dia na tua vida".

Gloria Kirinus – escritora

Ser autora é......viver emoções reno-

vadas e variadas, ora positi-vas, ora negativas. Começopelas ruins: as angústias queàs vezes precedem uma novacriação ou as que se seguemà publicação; as críticas queconsideramos injustas; asbaixas vendas de um livro emque apostávamos tanto; osprêmios que acalentávamosganhar e não obtivemos.Felizmente, as alegriaspesam bem mais no outroprato da balança. A emoçãoque sentimos ao ter nas mãoscada novo “filho”, seja eletexto ou ilustrações, é um dosmaiores ganhos que o traba-lho de autoria proporciona.Mas quem escreve para opúblico infantojuvenil conhe-ce ainda outro tipo de

emoção: são as constantes visitas que fazemos a escolasonde algum de nossos livros é adotado. Conversar comesses leitores até então desconhecidos, ter deles um feed-back sincero da leitura e constatar, enfim, que conseguimosnos comunicar com “alguém” e que, de algum modo, otocamos, eis uma oportunidade de ouro que esse ofício per-mite. Certo dia, chegando a uma escola para falar com cri-anças de 8, 9 anos, uma professora veio me pedir queesperasse enquanto ia buscar sua filha, que também estu-dava lá e queria conversar comigo. Voltou acompanhadapor uma adolescente de 16 anos. Quando nos abraçamos,senti que ela tremia. Depois, ainda sob forte emoção, mecontou que jamais havia esquecido de um livro meu, queleu quando estava na quarta série.

Ângela Leite Souza – Escritora e Ilustradora

AUTORA DA CAPA

Sou do Rio e me formei na Escola de Belas Artes da UFRJem Desenho Industrial. Depois que meus filhos nascerame de ter trabalhado muitos anos com design, redescobri omundo da literatura infanto juvenil e achei a minha praia.

Para ver meus desenhos: www.crisalhadeff.comPara falar comigo: [email protected]

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A AEILIJ continua recolhendo depoimentos de seus associados sobre as diversas facetas do nosso ofício.Confira:

Boletim AEILIJ nº17 – Novembro 2011

A Regional Rio, em parceria com o Solar Meninosde Luz, tem promovido desde abril, encontros deescritores e ilustradores da AEILIJ com crianças ejovens. Até o fim do ano, cerca de 20 autores terãovisitado a Instituição. O Solar fica num casarão deCopacabana doado pelo seu antigo habitante, o con-sagrado escritor Paulo Coelho.

Conheça esta importante instituição cultural queatende às crianças da Comunidade do Pavão ePavãozinho em:

http://www.meninosdeluz.org.br

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A quinta edição da exposição foi inaugurada no 13º Salão FNLIJ do Livropara Crianças e Jovens, no Rio de Janeiro, em junho de 2011. Em agos-to, participou da 1ª FELIT, em São Bernardo do Campo, SP, de ondeseguiu para a Biblioteca Alceu Amoroso Lima, onde ficou exposta de 01de setembro a 15 de outubro de 2011. Agora, a expo está em terrasgaúchas participando da 57ª Feira do Livro de Porto Alegre.Em paralelo, a quarta edição ainda continua viajando: de 1 a 20 de setem-bro, esteve no Espaço de Leitura PraLer, em SP e voltou para o Rio deJaneiro, para ficar exposta na Biblioteca do Solar Meninos de Luz.

A exposição Cores e Formas que Contam Históriascontinua viajando pelo Brasil...

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Nossa exposição foi planejada para estar ao alcance dosolhos e das mãos dos leitores, que podem tocar e trocarideias sobre as artes e os livros também expostos.

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Jornalista formada pela PUC/RS e produtoracultural, Sônia Zanchetta integra a ComissãoExecutiva da Feira do Livro de Porto Alegre desde1997. Coordena a Área Infantil e Juvenil e o ciclo AHora do Educador do evento, além da ÁreaInternacional. Sua equipe se ocupa, ainda, dos pro-gramas Adote um Escritor (parceria SMED PortoAlegre), Lendo pra Valer (parceria Secretaria deEstado da Educação) e Fome de Ler (parceriaCursos de Letras ULBRA Guaíba e Canoas,prefeituras de Canoas e de doze municípios daRegião Centro-Sul do Estado e Rede ULBRA deEscolas).

AEILIJ – Sônia, fale um pouco sobre esta paixãoque te impulsiona para toda uma dedicação eempenho nas ações voltadas à literatura infantil einfanto-juvenil no Estado.

Sônia Zanchetta – Minha paixão pela leitura epela literatura começou cedo, antes mesmo de eu irà escola, pois tive a sorte de vir ao mundo em umafamília que dava valor aos livros.

Minha mãe havia guardado, “para quando tivessefilhos”, duas preciosidades: a coleção completa deMonteiro Lobato e os 18 volumes do Thesouro daJuventude. Apesar da ortografia ultrapassada, li e reliinúmeras vezes todas as histórias daqueles livros. Eisso não me dificultou em nada a aprendizagem daLíngua Portuguesa; ao contrário, fez com que pas-sasse a amar a leitura e a escrita. Por isto, não con-sigo aceitar que livros sejam triturados ou doadospara reciclagem cada vez que há uma reformaortográfica.

Meu pai, que havia frequentado a escola por ape-nas três anos, redescobriu o prazer da leitura juntoconosco, quando começou a febre das enciclopé-dias. Passava horas mergulhado naqueles livros e,de vez em quando, levantava os olhos e nos chama-va para contar algo interessante que acabara dedescobrir. Ali estava a prova de que uma pessoa quesai da escola plenamente alfabetizada pode seguiraprendendo por conta própria até o fim de seus dias.

AEILIJ – Tens encontrado, com certeza, algunsdesafios no desenvolvimento de projetos que visamincrementar a leitura entre crianças e jovens. Dentreeles, qual o maior desafio?

SZ – Creio que o grande desafio está, justamente,em se promover a valorização da leitura no imagi-nário coletivo. Quando a família, a escola, o poderpúblico e a sociedade como um todo entendem aimportância da leitura, as coisas começam a andar.

Através do meu trabalho, na Câmara Rio-Grandense do Livro, tenho acompanhado vários pro-gramas e projetos de leitura desenvolvidos noEstado. Não conheço nenhum caso em que ocomeço tenha sido fácil. Em termos gerais, é precisomuita persistência e uma grande capacidade de per-suasão para fazer um gestor público destinar verbasem volume suficiente para esta área.

Menos mal que esta situação começa a se rever-ter em vários municípios gaúchos, que construírampolíticas públicas claras e consistentes para o livro ea leitura, tornando-se referência em nível nacional.

AEILIJ – E na Feira do Livro de Porto Alegre queacontece a cada ano, na área infantil, podes citar asquestões mais desafiadoras?

SZ– Um dos maiores desafios que a equipe daÁrea Infantil e Juvenil enfrenta é o de sensibilizar asescolas para que a Feira seja compreendida como oponto culminante, mas não final, de um processosério e contínuo de formação e qualificação deleitores. Ao agendarem suas turmas para encontroscom escritores e ilustradores de LIJ, os professoresassumem o compromisso de promover a leituraprévia de ao menos uma obra de sua autoria portodos os alunos e por todos os adultos que os acom-panharão na visita à Feira.

A Feira é a grande festa do livro. Além de partici-parem das atividades oferecidas pela programação,as escolas encontram, ali, espaço para mostrar o tra-balho desenvolvido, ao longo do ano, nas áreas daleitura e da escrita. Para acolher esta produção,foram criados o teatro Território das Escolas; o Largoda Escrita, onde ocorrem sessões de autógrafos, e aVitrina da Leitura, que dá visibilidade a projetos quese destacam por sua consistência, constância ecaráter inovador. Há escolas que levam à Feira cen-tenas de membros da comunidade escolar, o que éfundamental para reforçar a importância da leitura nocontexto familiar. Mas é preciso, também, enfrentar odesafio de qualificar os professores como leitores emediadores da leitura. Com este objetivo, a CRL real-iza ou apoia a realização, ao longo do ano, de váriosencontros que têm sua culminância na Feira, com ociclo A Hora do Educador. Este ano, estão previstosnove seminários, além de várias oficinas e palestrasindependentes.

AEILIJ – Consideras que as novas tecnologiasajudam ou afastam os pequenos e os jovens da leitu-ra? Onde, na tua opinião, é possível a leitura secoadunar às novas tecnologias ou, se for o caso, pre-venir o afastamento?

Boletim AEILIJ nº17 – Novembro 2011Entrevista: Sônia Zanchetta por Jacira FagundesCoordenação conjunta com Christian DavidAEILIJ – Regional RS

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al.SZ – Embora o livro de papel continue sendo o único

suporte de leitura em boa parte das escolas brasileiras etudo indique que ainda terá uma longa vida, é essencialque os professores se preparem para tirar proveito dasnovas tecnologias, que tanta curiosidade desperta entreseus alunos.

Não basta equipar as escolas com laboratórios deinformática, telecentros ou salas de aula do futuro. Épreciso romper a resistência de muitos professores comrelação a seu uso, fazendo com que se conectem aotempo de seus alunos. Só assim poderão fazer a medi-ação necessária para que seus alunos se tornem aptosnão só a consumir, mas também a criticar e a produzirconteúdos digitais.

AEILIJ – Vimos acompanhando expressivo aumentodo número de obras direcionadas à infância e juventudeno âmbito da literatura gaúcha. Até onde tal fato épromissor e significativo de qualidade?

SZ – A LIJ produzida no Rio Grande do Sul deu umsalto de qualidade incontestável nos últimos tempos.Autores gaúchos de LIJ circulam com desenvoltura nosgrandes eventos literários do País; têm obras sele-cionadas pelo PNBE e por outros programas deaquisição; conquistam prêmios importantes, espaços namídia especializada e nas estantes das megalivrarias.

Há algum tempo, podemos observar na Área Infantile Juvenil da Feira do Livro de Porto Alegre a atuação de“olheiros” de editoras do centro do País, que vêm conhe-cer de perto os nossos autores.

Mas é essencial que as escolas adotem critériosclaros para a aquisição de acervo e a adoção de obrasa serem lidas por seus alunos, pois, nestes tempos emque é tão fácil publicar um livro, abundam também ostextos de baixa ou nenhuma qualidade literária.

AEILIJ – Neste momento profícuo para a literaturainfantil e infanto-juvenil, vês visibilidade para os novos –tanto escritores quanto ilustradores?

SZ – Aqui no Sul, há poucas editoras que apostam napublicação de LIJ com recursos próprios, o que dificultaa entrada de novos autores no mercado e, no caso dasobras publicadas de forma independente, mesmo queseja incontestável sua qualidade, a distribuição costumaser bastante difícil.

No entanto, temos o exemplo de autores que surgi-ram através de concursos literários ou que construíramsua reputação literária na Internet e, só depois de teremconquistado uma legião de leitores, foram em busca deuma editora ou publicaram um livro de forma indepen-dente. Oficinas literárias ministradas por grandesescritores, como Luiz Antônio de Assis Brasil e Charles

Kiefer, entre outros, também têm contribuído de formadecisiva para o surgimento e a qualificação de autoresno RS. Atualmente, contamos com excelentes ilus-tradores no RS, mas, também no seu caso, o começonão é fácil, sobretudo pela escassez de editoras espe-cializadas em LIJ.

AEILIJ – Ainda, no que se refere à obra literária dequalidade, como vês a atual profissionalização deescritores e ilustradores? A AEILIJ pode auxiliar na pro-fissionalização destes autores de texto e ilustração? Deque maneira?

SZ – A AEILIJ vem colaborando para a profissionali-zação de escritores e ilustradores associados ou não,através da promoção de debates e reflexões sobre aquestão da produção e da leitura de LIJ.

É o caso do seminário Por um Espaço Especial paraa Literatura na Escola, que terá sua terceira edição de 8a 10 de novembro, na 57ª Feira do Livro de Porto Alegre.

Mas, no RS, e provavelmente em vários outros esta-dos, seria importante que a entidade pudesse promover,também, oficinas de criação, ministradas por ilus-tradores ou escritores de renome, visando a profissiona-lização de novos autores.