6 - os peleadores pdf
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Coleção Memórias da FigueiraVolume VIAutor:Elio Eugenio MüllerEpisódios da Revolução Federalista e resenha da históriado povo do vale do rio Três Forquilhas, entre os anos de 1890 a 1895.TRANSCRIPT
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ELIO EUGENIO MÜLLER
Os Peleadores Coleção Memórias da Figueira
Volume: VI
Editora – AVBL
2012
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Índice para catálogo sistemático:
1. Contos: Literatura Brasileira - CDD-869.93
Copyright © - ELIO EUGENIO MÜLLER
[email protected] - [email protected]
OS PELEADORES
Coleção Memórias da Figueira - Volume: VI
ISBN: 978-85-98219-54-7
Direitos reservados segundo legislação em vigor
Proibida a reprodução total ou parcial
sem a autorização do autor.
EDITORA AVBL
www.editora.avbl.com.br
e-mail: [email protected]
MÜLLER, Elio Eugenio
“Os Peleadores” – Coleção Memórias da Figueira
– Volume: VI – Elio Eugenio Müller -- Curitiba/PR.
Editora AVBL, 2012. -- Bauru/SP
476p. il. 14,8 X 21 cm.
ISBN: 978-85-98219-54-7
1. Contos: Literatura Brasileira. I. Título.
08-07-11 CDD-869.93
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“OS PELEADORES” Coleção Memórias da Figueira
Volume: VI
Episódios da Revolução Federalista, na luta entre
Maragatos e Pica-paus.
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ÍNDICE
- AGRADECIMENTOS 10
- PALAVRA AO LEITOR 11
- OS PELEADORES 1ª PARTE 25
- O PASTOR ABENÇOA CANDINHO 26
- Major Voges quer evitar radicalizações 30
- Eram apenas bons peleadores 35
- Candinho com funções de chefia 37
- NAS CHARNECAS DE LABATUT 40
- Candinho se adapta ao terreno 41
- OS EFEITOS DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA 43
- O quadro político de 1890 44
- A figura do professor Nascimento 45
- O SANGUE DE ABEL CLAMARÁ AOS CÉUS 48
- Piquete Josaphat com status de Pelotão 49
- Major Azevedo promove Candinho 52
- Candinho acampa em Conceição do Arroio 54
- O AMBIENTE ESQUENTA 58
- Castilhistas locais se organizam 59
- O exterminador de espiões 61
- Altos e baixos dos republicanos 63
- Símbolos republicanos 65
- A reativação do Ritterverein 67
- UM SUCESSOR PARA PASTOR VOGES 70
- Novo contato com o Sínodo Riograndense 75
- A reunião com o Presidente do Sínodo 77
- A chegada do pastor Geisler 78
- Reunião com os líderes da Comunidade 81
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- MAJOR VOGES CONDUZ A TRANSIÇÃO 84
- PASTOR GEISLER ASSUME O CARGO 89
- Chega o dia do casamento 92
- Um pastor comunicativo 95
- A epidemia assusta 96
- Bina Rosina conforta Fraupfarrer 97
- O VELHO PASTOR TEM A SOLUÇÃO 100
- A saída precoce do novo pastor 103
- Pastor Voges reassume o pastorado 108
- Geisler avisa que não voltará 111
- Casa de Voges em destaque 112
- Último Batismo de Voges 116
- Fredo Voges na casa do irmão 118
- MALES QUE VEM PARA O BEM 120
- Polícia castilhista chega à Colônia 121
- Carlos Voges despista os policiais 125
- Prisão do Professor Nascimento 128
- A soltura do professor 130
- UM INTRUSO NO MEU TEMPLO 133
- MORREU O PASTOR VOGES 136
- A cerimônia fúnebre, no templo 137
- A homenagem dos Cavaleiros 139
- Major Voges fala outra vez 141
- A vitória seja da lealdade 144
- LÍDERES ARROIENSES ASSASSINADOS 146
- DADOS DA REVOLUÇÃO FEDERALISTA 152
- A morte de Luciano de Aguiar 153
- São eliminados mais dois 155
- Neto de Patrulha é morto 157
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- TÉDIO NA ESCOLTA POLICIAL 160
- O estratagema de Candinho 162
- Briga e morte na escolta 170
- A ESCOLTA PASSA PARA CANDINHO 173
- Sob o comando de Candinho 175
- O ESQUADRÃO JOSAPHAT 178
- a) - A formação do Esquadrão 178
- b) - O Efetivo do Esquadrão (cento e oito
homens)
179
- c) - Armamento, munição e tiro 179
- d) - Equipamento, subsistência e suprimentos 181
- e) - A arma do Esquadrão 182
- f) - A atuação do Esquadrão 182
- g) - Relação nominal dos integrantes 182
- GONÇALVES RECEBE PENA DE MORTE 185
- Brigadas no sobrado do pastor 187
- Erro de Baiano Candinho 189
- GUMERCINDO PASSA POR VACARIA 193
- OS EFEITOS DA REVOLUÇÃO 197
- A GUILHOTINA BRASILEIRA 200
- Lemão Galalau, o degolador 201
- Uma gravata vermelha pro padre 202
- Fim do avanço revolucionário 205
- MORREM ELISABETHA E MÃE MARIA 208
- “Ela foi o coração da Colônia” 209
- Pastor Von Braken itinerante 210
- GENERAL ARTUR OSCAR EM TORRES 212
- Formação do 16° RC em Torres 214
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- A MORTE DE GUMERCINDO SARAIVA 216
- “Yo me bato por la libertad” 217
- O TESOURO DE FREDO VOGES 219
- A ÚLTIMA VIAGEM DO MAESTRO 224
- O apelo ao Sínodo 225
- Gustavo Voges dá alerta de temporal 230
- O naufrágio na Lagoa da Pinguela 232
- Nuquinha desmaia 237
- A comoção na Colônia 239
- Sem enterros na Colônia 242
- Culto para os enlutados 244
- NOVA ESCOLTA PARA A COLÔNIA 247
- Morte de um Sargento Maragato 249
- CANDINHO REVELA CORAGEM 252
- A fuga do Alferes Boaventura 254
- Filho de Candinho pede benção 255
- HERMENEGILDO NA BOA UNIÃO 262
- AÇÃO DO 16º RC REFORÇADA 263
- Federalistas torrenses espionam 264
- Max Tietböhl, pego de surpresa 265
- Companheiros chegam tarde 268
- O herói de Três Forquilhas 269
- O velório de um bravo 271
- Cerimônia fúnebre sob a figueira 273
- Um sepultamento singelo 273
- A tristeza de Baiano Candinho 277
- Família Tietböhl traumatizada 278
- SUCESSOR PARA PASTOR VOGES 282
- Pretensão de salvar a Comunidade 283
- Apresentação do novo pastor 283
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- O primeiro Presidente da Comunidade 286
- Medidas administrativas 287
- Quem eram os Presbíteros? 289
- A primeira e santa tarefa 290
- O problema do banditismo 292
- CANDINHO REVELA SUA FORÇA 293
- Um plano ousado 295
- TOMADA DE CONCEIÇÃO DO ARROIO 299
- Deixando Conceição do Arroio 302
- Candinho na Casa das Telhas 305
- Dispensa do Pelotão Três Forquilhas 306
- Confronto em Passo dos Cornélios 309
- Confronto no Pântano do Espinho 314
- Capitão Luna segue rumo próprio 318
- REVOLUCIONÁRIOS CASAM NA COLÔNIA 321
- PASTOR LEMÃO LEVANTA MUROS 326
- O FIM DA REVOLUÇÃO FEDERALISTA 331
- Revolucionários Federalistas de Três (...) 332
- OS PELEADORES 2ª PARTE 363
- AS LIÇÕES DE BETO ESCRIVÃO 364
- O acervo do antigo cartório 365
- Importa conhecer a história 369
- A Escola da Comunidade 372
- O Plano de Educação 70 375
- Escola Nacional na Figueira 379
- O pupilo dos meus olhos 382
- Lançando o PADICAMI 384
- Um entrave ao pastorado 385
- Não fui por minha decisão 391
- Um Dom Quixote maluco 393
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10
- Indústria de Conservas Brehm 399
- INALTA em Terra de Areia 402
- Se vires alguém caído... 404
- HOMENAGEM A OLÍCIO E OLÍVIA BOBSIN 406
- CASAMENTO DE CANDINHO COM MARIA WITT 410
- Quem era Maria Witt? 414
- O lema de Maria Witt 415
- CANDINHO ERA CEARENSE 416
- Assim era Baiano Candinho 419
- História sobre Fredo Sapateiro 423
- A REVOLTA CONTRA OS CASTILHISTAS 427
- A CASA DO SOUZA NETO 430
- OS MENGER PATRULHA E OS CÂNDIDO 433
- Histórias de pessoas desaparecidas 437
- HERMENEGILDO PRUDÊNCIO TORRES 440
- Artigo do Professor Jussiê Hahn 441
- MILITARES SERRANOS ILUSTRES 446
- CONCLUSÃO 448 - NOTAS EXPLICATIVAS 453 - FIGURAS em OS PELEADORES 467 - FONTES DE CONSULTA 473 - COLEÇÃO MEMÓRIAS DA FIGUEIRA 476
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus fonte da vida e de toda a boa
inspiração, que me permitiu a realização desta obra. Que
estas memórias sirvam como um instrumento para a
edificação do Seu Reino sobre a terra.
À Doris, minha esposa, pelo permanente incentivo,
como companheira valorosa, ao longo destes 40 anos de
pesquisa e trabalho, que me ajudou a localizar e dar vida
aos personagens, muitos dos quais parentes dela, que
viveram esta saga contada em "Memórias da Figueira".
À Profa. Dra. Solange T. de Lima Guimarães (Sol
Karmel), amiga e conselheira, pela avaliação da obra e
orientação.
Ao publicitário Rodrigo Sounis Saporiti pela
orientação, na fase inicial, para a escolha do formato
literário da obra.
À escritora Maria Inês Simões, Presidente da
Academia Virtual Brasileira de Letras - AVBL, pela
orientação na fase de publicação do livro.
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PALAVRAS AO LEITOR
Volto, semelhante ao que fiz nos volumes anteriores
da Coleção Memórias da Figueira, para enaltecer a frondosa
figueira que se eleva altaneira no Sítio da Figueira. Quanta
coisa ela presenciou e tem guardado em seu passado.
Quero relatar um fato ocorrido em tempos atuais.
Em 1999, quando eu me aposentara pelo Exército
Brasileiro, Doris e eu pensamos em ir residir no Sítio da
Figueira.
Ficou, entretanto, evidente que iríamos atrapalhar
muito mais, do que ajudar aquele povo. E, hoje tenho a
certeza, pela experiência, de que na distância podemos
ajudar melhor, sem atrapalhar as lideranças comunitárias,
políticas e eclesiásticas, locais.
FIGURA 01: O autor também é um aluno da Escola do Meio Ambiente, e o vemos sentado aos pés da mestra,
a Figueira que Fala. Fonte: Ilustração feita pelo autor.
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Na condição de educadores, Doris e eu nos dispomos
a transformar o Sítio da Figueira numa sala de aula a céu
aberto, uma Escola do Meio Ambiente, onde a frondosa
figueira exerce a função da verdadeira mestra, educadora
por excelência, para falar às novas gerações, aos
estudantes e demais interessados.
Quero ilustrar isso um pouco melhor. No mês de abril
de 1999, próximo ao feriado da Páscoa, estava eu sentado,
escrevendo, num ponto discreto, ao lado da figueira. Em
certo momento escutei um ruído causado por alguém, no
lado oposto da figueira, que fica para a estrada. Era um
ruído estranho, como se alguém estivesse picando o tronco
da árvore.
É necessário explicar que a figueira tornara-se uma
parada de ônibus, natural, para os que aguardavam para
viajar. Afinal, a figueira acolhia sob sua sombra pessoas que
ali se postavam na espera pelo ônibus.
Silenciosamente levantei e, curioso, fui espiar para
verificar o que poderia causar tal ruído. Vi um jovem, com
talvez, dezoito anos de idade, munido de um canivete,
picando a casca do tronco da figueira, para gravar ali o seu
nome.
Dei um rápido passo à frente e fiquei diante daquele
jovem e reclamei: - “O que você pensa que vai fazer com
esse canivete?”.
Ele respondeu: - “Estou tascando o meu nome no
tronco da figueira. Quero deixar registrada a marca da
minha passagem...”.
Procurei orientar o rapaz e expliquei: - “Você não vê
que, na verdade, está machucando a figueira. Imagina se
cada pessoa que por aqui passa procede como você?”.
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A primeira reação do jovem foi de contrariedade,
dizendo: - “Essa figueira não é tua! Ela pertence à estrada e
aos que seguem pela estrada...”.
Retruquei: - “Tudo bem, se tu consideras que a
figueira não me pertence, concordo com isto, pois hoje em
dia penso que, sou eu quem pertence à figueira. Digamos
então que a figueira a todos pertence, aos que buscam
acolhida, proteção e abrigo. Mas então não deveriam
também todos assumir a responsabilidade pela figueira?
Não deveriam todos cuidar da figueira para protegê-la
contra danos? Concordo que ela é daqueles que dela
cuidam, bem como dela necessitam como abrigo, em
especial daqueles que para cá vem, a espera do ônibus, ou
que apenas seja para um momento de descanso ou para
uma meditação sobre a vida”.
O jovem passou a fechar o canivete. Aproveitei e fui
a cozinha de minha casa peguei uma caneca de água e, em
seguida me dirigi a um canteiro de flores e recolhi um
punhado de terra. Aproximei-me de novo da figueira... Fiz
lama com água e terra, e passei a esfregar isso sobre a
casca que havia sido danificada com o canivete do jovem. A
lama fechou as ranhuras e o dano foi sumindo debaixo da
camada de lama. Fiquei esfregando o local machucado,
como se estivesse fazendo um curativo.
O jovem ficou olhando com um misto de espanto e
de curiosidade. Em dado momento, falou: - “Desculpe
senhor, pelo que fiz com a figueira e pelo que lhe falei.
Concordo que a figueira é mais sua do que minha, pois vejo
que o senhor cuida dela e a protege”.
Nisso o ônibus chegou, parando diante do jovem e,
ele foi embarcando. Sorri satisfeito e aproveitei para ainda
dizer: - “Tenha uma boa viagem, meu amigo e retorne aqui
sempre que precisares de acolhida, proteção e, acima de
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tudo, de bons ensinamentos e de boas lições para a vida.
Fico feliz que reconheceste que a ninguém cabe o direito de
machucar esta figueira. Vá em paz, pois em nome da
figueira declaro que ela te perdoa e que ela te convida para
te unires aos protetores da figueira e de toda a natureza.
Siga em paz...”.
Jamais descobri o nome desse jovem... Afinal, isso
nem era tão importante. Fora bem melhor que ele
permanecesse em minha memória como um personagem
anônimo, que personifica todos os que não sabem o que
fazem, quando ferem, quando poluem ou quando
machucam elementos do nosso meio ambiente, sejam
árvores ou rio, o ar ou outros seres viventes.
Pensando neste jovem anônimo, o meu pensamento
viajou rumo ao passado. Voltei para Panambi, minha terra
natal, onde um dia, como jovem, quando saía da
adolescência, trabalhava no jornal local, o Jornal O
Panambiense. Eu também já fora um jovem bisonho, de
horizontes pequenos... Mas para minha felicidade, sempre
contei com pessoas dispostas a gastar tempo comigo, para
me conceder bons ensinamentos, com lições de vida e lições
para a vida.
Recordo com satisfação da minha aprendizagem no
jornal onde iniciei como impressor, passando a ser tipógrafo
e finalmente integrante da equipe de redação e reportagem.
Dentre as grandes lições aprendidas, cito os
ensinamentos que recebi da senhora Gertrud Schmitt Prym,
esposa de Wilhelm Schmitt Prym e mãe do proprietário do
jornal, o Miguel. Ela era uma judia cristã que com a família
tivera que fugir da Alemanha Nazista, onde ter ascendência
judaica, onde ser israelita era um risco de tormentos
terríveis ou mesmo a morte em câmaras de gás, nos
campos de concentração. Sabemos que milhares de judeus
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pereceram assassinados em massa e não tiveram a
possibilidade de alguns poucos que conseguiram fugir em
tempo.
Dona Gertrud escrevia o suplemento alemão, do
jornal. Ela valorizava o meu trabalho de tipógrafo, exigindo
que eu compusesse os textos tipográficos, para compor as
chapas de impressão. Ela dizia: - “Você é o único dos
nossos funcionários que domina bem a língua alemã e
consequentemente produz menos erros, quando compõe as
letras no componedor”.
Dona Gertrud era muito atenta e não apenas se
interessava pelo meu trabalho. Ela gastava tempo para
conversar comigo, para saber o que se passava em minhas
idéias, para ver o tamanho do meu universo intelectual e o
tamanho da minha cosmovisão. Eu falava com ela a
respeito dos meus sonhos e planos e invariavelmente eu
enfatizava: - “Quero me tornar alguém capaz de ajudar a
transformar a nossa sociedade para torná-la mais justa,
mais humana e mais fraterna”.
Inicialmente fiquei chocado com as avaliações que
ela fazia a respeito de minhas idéias. Ela insistia em dizer: -
“Elio, não existe um mundo bom. Lamentavelmente o
mundo sempre foi e sempre será dominado por pessoas que
se fazem de donos de tudo e de todos. Somos cercados de
maus poderes. Por isto, o mundo pode tornar-se um lugar
muito mau para as pessoas. Você precisa ampliar sempre
mais os seus horizontes e a sua cosmovisão. O mundo é
muito mais do que a família à qual pertence... O mundo é
também muito mais do que a escola que frequentas... O
mundo é muito mais do que o teu local de trabalho e a
cidade onde vives e, conforme vejo, da qual jamais saíste.
Tu não sabes o que te espera lá fora, no mundo mais amplo
e hostil... Por isso recomendo, procure conhecer bem
melhor o ser humano, procure saber mais sobre a natureza
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humana. Saberás que não existem pessoas perfeitas. Todos
são capazes de cometer erros. Todos são capazes de fazer
algo que é mau. Este é o motivo porque jamais teremos
uma sociedade boa e perfeita. Uma sociedade sempre está
em construção. Uma sociedade sempre está a necessitar de
transformação, para se tornar melhor do que está e para o
bem de todos, em particular das minorias discriminadas e
injustiçadas. As pessoas ao seu redor jamais serão tão boas
como gostaria que elas fossem... Você mesmo não é tão
bom como gostaria de ser... Mas não perca jamais o seu
idealismo, não perca jamais a sua inocência, como a de
uma criança que olha o mundo com olhos bons... Não
desista jamais de sonhar e trabalhar por um mundo
melhor... Acredite sempre que as pessoas e a sociedade
podem mudar, podem melhorar... Todos nós podemos
aprender, para participarmos da construção de um mundo
melhor para as novas gerações”.
Dona Gertrud também costumava enfatizar: -
“Precisamos de gente com fé, iniciativa e coragem que se
dispõe para lutar e trabalhar. Somente com esse espírito de
luta e de trabalho, pode acontecer algo novo no nosso
mundo...”.
Isto me faz lembrar o refrão de uma música
tradicionalista gaúcha, composta pelo pelotense Leopoldo
Rassier1, e que serve muito bem para indicar o enfoque do
presente volume de Os Peleadores.
"Não tá morto quem luta e quem peleia. Pois lutar é
a marca do campeiro!".
As lições de dona Gertrud Schmitt Prym tiveram
influência sobre meus interesses, sobre meu estudo e sobre
a minha atividade profissional.
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Por um lado entendi que Dona Gertrud fazia um
chamado, a quem aspirasse à liderança, para que se
mantivesse disposto a pelear com coragem - lutar
corajosamente - e se dedicar ao trabalho, com
perseverança. Ela e sua família foram um exemplo dessa
disposição para a luta e trabalho, se observarmos como
após perderem tudo na Alemanha Nazista, mesmo tendo
que fugir para se salvarem, vieram ao Brasil e aqui
refizeram a vida.
Escutando a história desta família, passei também a
querer conhecer melhor a história da minha própria família,
da minha terra, do meu povo, dos meus pais e avós. Passei
a ter um grande interesse para ter contato com os mais
idosos. Eu os via como potenciais contadores de histórias
por serem conhecedores da vida e dos problemas
enfrentados por aqueles que viveram antes de nós.
Tenho hoje um currículo que atesta meio século de
dedicação neste labor, no mister de escutar as histórias que
os mais velhos tem para contar, primeiro na minha própria
terra natal e, depois, nos lugares por onde passei. Em 1970,
ao chegar ao vale do rio Três Forquilhas, passei a alimentar
a idéia de transmitir as histórias que ia recolhendo junto aos
antigos “contadores de histórias”, com os quais cruzavam o
meu caminho de vida. Afinal, não é a Coleção Memórias da
Figueira a realização deste propósito?
Nessa minha nova condição, agora de escritor, não
me vejo no status de historiador. Não elaborei essa coleção
para fazer concorrência aos nossos historiadores, sejam eles
do meio eclesiástico ou de outras esferas do saber.
No meu entender, existe uma grande diferença entre
um contador de histórias e um historiador. O contador de
histórias é uma pessoa que ouve, e escuta os mais velhos.
Ele ouve aqueles que trazem consigo a tradição oral e que
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falam de casos e causos do passado, por terem ouvido isso
dos antepassados e desejam repassar isso às novas
gerações.
Já um historiador faz algo diferente, pois, em geral,
ele costuma, muito mais, ir em busca de arquivos, registros
e documentos, visando comprovar fatos, acontecidos no
passado, para elaborar a história de uma pessoa ou a
história coletiva de um grupo ou povo. Mas uma pergunta
aflora e me chama a atenção: - “São todas as fontes
primárias, arquivos, atas e registros, confiáveis, como
verdade absoluta de fatos e acontecimentos. São mais
confiáveis que as informações, que nos são dadas pela
tradição oral? Penso que, quem produz fontes primárias é,
também, apenas uma pessoa que pode ser tendenciosa ou
unilateral no que registra. As fontes primárias nada mais
são do que a visão ou modo de pensar de quem escreveu as
informações.
Sabendo que, os fatos que recebi através do relato
dos mais idosos, falam de uma época, que eu não vivi,
procurei sempre preservar a realidade que se vivia naquela
época. Porém os relatos vindos a mim através da tradição
oral - através dos contadores de história – eu os recebi
como sendo também arquivos. Afinal, não são os
contadores de história verdadeiros arquivos vivos?
Escutando os mais idosos, eu perguntava de
circunstâncias dos fatos relatados e sobre as datas dos
acontecimentos que nem sempre eram detalhadas com
exatidão. Por isso, quando possível, eu também ia em busca
de fontes primárias, de documentos, para esclarecer
dúvidas e situar as histórias no tempo e no espaço.
Encontrei documentos que ajudaram a comprovar
depoimentos da história oral. Consegui alcançar
informações precisas sobre personagens, sobre eventos e
![Page 20: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/20.jpg)
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sobre as instituições do passado. Procurei, desta forma,
localizá-los no espaço e no tempo.
Tive paciência, na busca e na análise de depoimentos
colhidos sobre a história que agora passa a compor a
Coleção Memórias da Figueira. Durante mais de quarenta
anos de minha vida dediquei-me a pesquisa sobre a Colônia
de Três Forquilhas. Mesmo assim, não posso considerar o
trabalho como concluído. Muita coisa poderá ainda vir a ser
encontrada por novos pesquisadores e que sirva para
corrigir ou complementar o meu trabalho. Porém, no papel
de menestrel das letras, como contador de casos e causos
ouvidos dos mais idosos – de contador de histórias - é certo
que apresento algo novo, sem fazer mera cópia do que
outros antes de mim escreveram sobre estes assuntos.
Em 1994 declarei: - “Sou um viajante no tempo, a
procura do conhecimento sobre o nosso passado - nossa
história - com vistas à construção de um mundo melhor
para as futuras gerações”.
Poderia o homem viajar no tempo?
Poderia uma pessoa se deslocar tanto para o
passado como para o futuro?
Seria isso possível? Será que em outra época
distante já foi inventado um equipamento que permita
realizar essa façanha?
Acredito que a pesquisa da história nos oportuniza
esse feito, de poder viajar no tempo. Tornei-me um desses
viajantes no tempo...
No papel de viajante no tempo, tenho por proposta
de contar a história, por mim pesquisada, de uma forma
divertida, quase lúdica, no intuito de fazer da leitura um
![Page 21: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/21.jpg)
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divertimento, em particular, através de diálogos criados
para os personagens, com base em fatos reais. O propósito
é de atiçar e prender a curiosidade do leitor, sempre
realçando lições que sirvam para ensinar de modo particular
as novas gerações, os estudantes, sobre a vida, sobre os
erros e sobre os acertos, de nossos ancestrais, ou, porque
não, também sobre os nossos próprios equívocos,
cometidos no passado ou no tempo presente. Mesmo que
tenhamos sido movidos pela intenção de produzir algo
confiável e bom.
Convido, pois o leitor a viajar um pouco no tempo,
através das páginas de Os Peleadores, conhecendo um
pouco mais sobre épocas passadas da Colônia de Três
Forquilhas, em particular o período da Revolução Federalista
que marcou dolorosamente todo o Sul do Brasil.
Em Os Peleadores o leitor pode observar Baiano
Candinho e seu efetivo de peleadores, que surgiu no vale do
rio Três Forquilhas. Considero que os integrantes desse
efetivo, em sua maioria, não eram soldados de fato, uma
vez que jamais haviam sido preparados para exercerem o
mister das armas. Dentre os integrantes do Esquadrão
Josaphat, apenas Baiano Candinho e seus camaradas
cearenses, que desertaram da guerra, haviam sido
soldados, que sabiam o que era um combate. Eles haviam
participado da Guerra do Paraguai. Haviam integrado o
Corpo de Voluntários da Pátria, do Ceará.
Baiano Candinho, além de soldado dos Voluntários da
Pátria, posteriormente também integrara a Escolta Policial
da Colônia de Três Forquilhas, sob o comando do
subdelegado Major Adolfo Felipe Voges, conforme foi
revelado em Face Morena, o quinto volume da Coleção
Memórias da Figueira. Candinho se destacou, sendo
guindado ao posto de capitão. Recebeu a maior confiança
![Page 22: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/22.jpg)
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do subdelegado, sendo designado para as missões mais
árduas e de maior responsabilidade.
No princípio da Revolução Federalista, Baiano
Candinho foi orientado pelo chefe federalista de Conceição
do Arroio para formar uma tropa, que foi denominada de
Esquadrão Josaphat. No princípio foi apenas um pelotão, o
Pelotão Protestante. Depois, durante a revolução, conseguiu
formar mais dois pelotões, o Serrano e o dos Brigadas.
Portanto, Baiano Candinho, o comandante do
Esquadrão Josaphat, possuía as noções básicas para
preparar a tropa, incluindo a prática de tiro e o manejo de
lanças, mesmo que rudimentares.
Conforme já frisamos, a maioria dos integrantes do
Esquadrão eram apenas colonos, tropeiros ou peões, porém
se fizeram peleadores dispostos para irem à luta, isso sem
que a grande maioria jamais tivesse sido soldado de fato.
Nossa intenção em Os Peleadores é de, também,
demonstrar a face mais autêntica de Baiano Candinho, um
homem honrado, que viveu durante quase vinte anos na
sede da Colônia de Três Forquilhas.
Precisa ser frisado que Candinho, a princípio, não foi
morar no Baixo Josaphat – Arroio Carvalho e Rio do Pinto -
conforme mais tarde tentaram fazer crer. Importa enfatizar
que o primeiro emprego de Candinho foi com o pastor
Carlos Leopoldo Voges, o patriarca espiritual da Colônia.
Depois foi o emprego de capataz na propriedade do
veterano Carl Daniel Gross, instalado à margem da
estradinha que leva de Três Forquilhas a localidade do
Morro do Chapéu. Finalmente, Candinho tornou-se homem
de confiança do subdelegado Major Adolfo Felipe Voges,
atividade que foi fundamental para a sua ascensão como
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líder forte no movimento federalista, na área do Litoral
Norte do Rio Grande do Sul.
Após estas informações deixamos que o leitor,
realize essa viagem no tempo e conheça as trilhas e os
caminhos percorridos pelos peleadores. Na maioria homens
dignos e de valor que foram derrotados nessa revolução.
Li em algum lugar que a nossa vida não oferece a
oportunidade para ficarmos fazendo ensaios. Ocorre apenas
um só espetáculo, no palco da nossa existência. Ou seja, o
palco que é a nossa própria vida...
FIGURA 02: O autor e a noiva, em 1970, quando ainda existia a 2ª figueira, cujos galhos aparecem à esquerda. Essa árvore
havia sido podada em demasia, pela CEEE e não resistiu, desaparecendo em 1971. Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
Breve, médio ou longo, cada um de nós viverá
apenas o seu papel.
![Page 24: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/24.jpg)
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Deus atribui, o que cada um ajuda a escolher, pois
não somos colocados diante de um destino cego. E, cada
um colherá apenas aquilo que plantar.
São poucas as pessoas que ao se deitarem ousariam
dirigir a Deus a prece: - “Senhor, trata-me amanhã como
tratei hoje o meu próximo. Se conseguir será feliz e saberá
como agir diariamente”!
Amar é libertar, seja na relação com a pessoa
amada, seja com os filhos e amigos. Libertar, deixar livre
pode doer, por isso importa libertar, mesmo se isto dói em
nós...
Além do mais, todos nós estamos apenas de visita
neste momento e neste lugar, onde nascemos ou onde mais
passarmos a morar e trabalhar. Estamos apenas de
passagem para observar, aprender, crescer, amar e
depois, certo dia que não sabemos quando será, temos que
ir embora desta vida terrena, tão passageira. Não vou falar
aqui para onde devemos e podemos ir. Isso fica para o
último volume, em E A VIDA CONTINUA.
Nunca percamos a esperança, pois as coisas
acontecem tantas vezes sem nada termos pedido ou
desejado ou quando menos esperávamos. Mas há também
aqueles que muito pedem e muito almejam, que sonham e
que lutam e não veem o esperado se concretizar. Existem
pessoas que lutam uma vida inteira e nada notam de
resultados que, às vezes, somente serão colhidos muitos
anos depois.
Li também um dia destes, que precisamos aprender
a falar sem aspas, a amar sem interrogação, a sonhar sem
reticências e a viver sem ponto final, permitindo que, o
nosso Criador e nosso Senhor, Ele mesmo, coloque o que
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25
ainda estiver faltando e ponha o ponto final onde este for
mais conveniente para os Seus planos divinos.
Desejo, a todos, uma boa leitura, ou leitorem salute,
conforme já diziam os romanos.
Itati – RS, 10 de julho de 2012.
Elio Eugenio Müller
Membro da Academia Virtual Brasileira de Letras – AVBL
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Os Peleadores 1ª Parte
O PASTOR ABENÇOA CANDINHO
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Era o final do ano de 1891.
Bahiano Candinho dirigiu-se ao sobrado do pastor
Voges à testa de seu grupamento de cavaleiros maragatos,
acompanhado por mais de cinquenta cavaleiros, integrantes
do Piquete Josaphat.
Pastor Voges, na época nonagenário, alquebrado e
trêmulo, apoiado em sua pesada bengala, assomou o
umbral da porta principal do sobrado em que residia para
atender o visitante inesperado, que não se fizera anunciar
com antecedência. Ao seu lado podiam ser vistos o seu filho
Major Adolfo Felipe Voges, antigo chefe do Partido Liberal
em Três Forquilhas e, como testemunha para a posteridade,
o bisneto Alberto Schmitt, ainda menino, agarrado às calças
do pastor.
O pai do menino, o escrivão Christovam Schmitt,
fazia anos, que recebera espaço para estabelecer o Cartório
na casa pastoral e estava discretamente postado atrás das
vidraças da janela fechada, olhando curioso para toda a
agitada movimentação.
Bahiano Candinho, apeando da montaria, aproximou-
se do pastor, com menção de beijar-lhe a mão, e depois
colocando um dos joelhos sobre a terra foi pedindo: - "A
benção, padim Voges".
O velho conhecendo o procedimento do beija-mão de
Candinho e como não aceitava tal costume, elevou logo os
braços trêmulos, lentamente, acima da cabeça do
nordestino, dizendo: - "Deus o abençoe, Baiano Candinho!".
![Page 28: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/28.jpg)
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FIGURA 03: O idoso Pastor Voges abençoa Baiano Candinho. Fonte: Gravura feita pelo autor.
Em seguida o pastor balbuciou mais algumas
palavras que apenas foram ouvidas por Candinho, pelo
Major Voges e pelo menino Alberto Schmitt, este que
segurava firmemente nas calças do seu bisavô.
Candinho ficou sério encarou o pastor,
demoradamente e então falou: - “O senhor não imagina
quão difícil é para mim este seu pedido. Mas prometo aqui
na sua presença que procurarei cumprir isso que me pede.
Caso tudo isso aí for mesmo acabar numa luta armada,
prometo que manterei cuidado pelo povo de Três Forquilhas
e jamais atacarei esta Colônia com a minha tropa
protestante. Cuidarei para que jamais aconteçam combates
nesta Vila e não farei nenhum mal aos moradores, também
para aqueles que são nossos adversários políticos. O senhor
poderá contar com esta promessa solene que faço nesta
hora, pois sempre cumpri com a palavra dada.
O rosto de Candinho iluminou-se com um sorriso
franco e completou: - “Desejei tanto receber a sua benção,
padim”.
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Baiano Candinho escutou com devoção as palavras
de resposta que o pastor ainda pronunciou e, novamente,
erguendo as mãos sobre o nordestino, balbuciou: - “Então
segue com a benção do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Fazendo o sinal da cruz sobre Candinho.
Este levantou agradecendo e, girando sobre os saltos
das botas, fez tilintar as esporas, encaminhando-se
lentamente para a sua montaria. O escrivão Christovam
Schmitt que casara com Antonieta, uma das filhas de Major
Voges, afastou-se da janela, sem conseguir entender a
situação, pois não ouvira a recomendação que o pastor
fizera ao nordestino. Procurando pela esposa, Christovam
reclamou: - “Hoje o teu avô saiu totalmente dos limites
possíveis. Imagine o absurdo de conceder uma benção para
o Baiano Candinho que amanhã poderá estar aqui matando
gente nossa. O velho está mesmo maduro para receber um
sucessor, no atendimento pastoral em nossa igreja”.
O escrivão fez uma pausa para conter a indignação e
depois acrescentou: - “O teu irmão Carlos e eu teremos que
ir outra vez a São Leopoldo, para insistirmos com os
dirigentes do Sínodo Riograndense para que se apressem
em nos enviar um novo pastor...”.
FIGURA 04: Sobrado do Pastor Carlos L. Voges. Fonte: Arquivo de fotos e gravuras do autor.
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Enquanto isso, na estrada, em frente da casa, vinha
também chegando o professor Serafim Agostinho do
Nascimento, que na época exercia mais uma vez o cargo de
subdelegado. Aproximou-se do Major Adolfo Felipe Voges,
antigo subdelegado, para cumprimentá-lo. E perguntou: -
“Que movimentação é essa?”.
Major Voges falou: - “Já volto para conversarmos
assim que eu me despedir do Candinho”.
Candinho estendeu a mão para o major, expressando
palavras de agradecimento pela atenção recebida e, depois,
colocando o pé no estribo jogou o corpo sobre a sela e saiu
à galope, à testa do piquete de cavaleiros.
Enquanto isso também o genro do major, o Johann
Peter Jacoby Neto veio chegando, movido pela curiosidade
ao ver a saída do Baiano à testa do seu grupamento de
cavaleiros maragatos.
Major Voges, Professor Nascimento e Jacoby Neto
permaneceram ali postados não querendo perder nada da
movimentação desses homens.
Os cavaleiros estavam munidos com estranhas
lanças rústicas, feitas com finos e longos galhos de árvore,
algo que a antiga Sociedade dos Cavaleiros de Três
Forquilhas, o Ritterverein, também costumara fazer.
O professor Nascimento comentou: - “Ainda bem que
isso que estamos vendo aqui é apenas um movimento
pacífico, dos nossos cavaleiros maragatos do Piquete
Josaphat, buscando o amparo da fé em Deus”.
Convém recordar que já fazia muito tempo, talvez
tivesse sido em 1871, quando Bahiano Candinho trabalhara
para o pastor, na reforma da atafona, época em que o
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nordestino também fizera um juramento para si e perante
Deus, de dar a vida pelo venerando patriarca espiritual da
Colônia de Três Forquilhas, caso isto algum dia se fizesse
necessário, Os anos passaram e, mais e mais, essa decisão
se fixara em seu íntimo. E, agora, pudera renovar esses
seus votos e juramento.
Candinho era um homem muito religioso e passara a
ver no Pastor Carlos Leopoldo Voges o representante de
Deus não só para os moradores da localidade, mas também
para a sua vida pessoal. Como nordestino Candinho era um
místico que de forma simplista espiritualizava tudo, os
problemas do cotidiano bem como os fenômenos da
natureza e todos os eventos naturais como o nascer, o amar
ou o morrer. Candinho também acreditava que as ações
humanas precisavam se basear sempre no bom conselho
dos homens de Deus.
Candinho se tornara conhecido como alguém que
não se curva diante de ninguém aqui na terra, a não ser
diante de Deus e de seus representantes - os santos
homens -.
Major Voges quer evitar radicalizações
Baiano Candinho e seu efetivo seguiram pela
estrada, tomando o rumo norte, levantando poeira. Major
Voges, seu genro Johann Peter Jacoby Neto e o professor
Serafim Agostinho do Nascimento ali continuaram por
algum tempo, numa animada troca de idéias.
Professor Serafim falou: - “Ouço colonos, em
particular os mais empobrecidos, comentando que nunca
pegaram em armas para fazer alguma guerra. Porém agora
dizem que, se for preciso lutarão em busca de uma vida
![Page 32: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/32.jpg)
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melhor. Eles estão prontos para ir ao campo de luta.
Alegam que pior do que está já não mais ficará...”.
Adolfo Voges prontamente interveio, dizendo: - “Isso
é preocupante, pois não será um conflito armado que
haverá de melhorar a vida dos nossos sofridos colonos. Na
qualidade de brasileiros, que todos somos, precisamos
entender que estamos, todos, no mesmo barco, sejam
republicanos ou maragatos, sejam castilhistas pica-paus ou
federalistas. Nós riograndenses precisamos aprender a
buscar caminhos de diálogo com cobranças bem firmes e
fortes para que os governantes nos ouçam e nos atendam
em nossas justas reivindicações”.
Jacoby Neto fez sinal afirmativo com a cabeça e
perguntou: - “Se existem tantos conflitos e
desentendimentos em nossa atual esfera política, e
administrativa da Província de São Pedro do Rio Grande do
Sul, não será exatamente o fato de terem esquecido que
todos nós estamos em um mesmo barco? Será que o
fracasso dos castilhistas reside no fato de imaginarem que
eles podem e devem ser os donos desse barco? Na verdade,
eles se mostram como sendo os donos da nossa Província!
Querem ser os donos absolutos para implantarem suas
idéias ditatoriais!”.
Professor Serafim aplaudiu as palavras de Jacoby
Neto e comentou: - “É verdade, pois podemos ver que os
castilhistas desconsideram os nossos justos apelos para
uma discussão conjunta das medidas administrativas do
Governo. Eles usam de uma agressividade injustificada, na
imposição de idéias a ferro e fogo. O resultado é o que
podemos ver agora, os federalistas são silenciados e
pisados. Penso que tal agressividade precisa ser devolvida
com a mesma agressividade, para inibir esse tratamento
hostil que nos concedem. Os antigos maragatos e
farroupilhas nunca foram covardes e nem agora os
![Page 33: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/33.jpg)
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federalistas haverão de sê-lo. Estamos prontos para
conceder respostas na altura, e pagando-os, se for
necessário, com a mesma moeda”.
Major Voges interrompeu o professor, dizendo: -
“Sou maragato e fui o chefe do Partido Liberal na Colônia de
Três Forquilhas, porém não me considero federalista. Tenho
uma grande dificuldade para tentar acompanhar os planos
de Silveira Martins. Do mesmo modo, não consigo aceitar o
ideário de Júlio de Castilhos. Ambos estão errados... As
atitudes de ambos apenas tendem a ampliar e multiplicar os
conflitos. Ambos os lados estão simplesmente adotando a
Lei do Talião, do < olho por olho e o dente por dente >...
Afirmo que, com tal procedimento a injustiça e a brutalidade
não serão varridas do nosso cenário político. A brutalidade
injustificada e a agressividade ditatorial dos castilhistas
precisam ser pagos com muito diálogo e com uma
inteligência, bem superior às atitudes deles. Afinal, não
temos nós sempre acreditado numa proposta de união de
todos, em torno do ideal de uma Província justa e fraterna,
berço da liberdade”.
FIGURA 05: Major Adolfo Felipe Voges. Fonte: Arquivo da Família Voges.
![Page 34: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/34.jpg)
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Jacoby Neto sorriu e perguntou: - “O meu sogro
então está querendo dizer que Júlio de Castilhos e seus
seguidores não são inteligentes?”.
Major Voges também sorriu de modo compreensivo e
explicou: - “Não digo que Júlio de Castilhos não tenha
inteligência, pois é um homem de apurado estudo. O que eu
digo é que se ele e os seguidores dele usassem a
inteligência corretamente, ele não teria necessidade de se
fazer acompanhar de tanta brutalidade e às vezes com
atrocidades, parecendo querer vencer os opositores pela
intimidação e incutindo-lhes o medo. A história da nossa
terra já nos mostrou como aconteceu durante a Guerra dos
Farrapos, que lidar com injustiças é difícil. Porém lidar com
idéias conflitantes é bem mais difícil. Então somando ainda
a utilização da intimidação e da brutalidade, na tentativa de
impor as idéias, isso levará a erros contínuos na esfera de
comunicação com a população e, em particular, com os
opositores. Os opositores não desejam se dobrar diante de
um governo ditatorial. No final os castilhistas fatalmente
cairão na distorção de fatos, gerando um corredor de
boatos, de farsas e de dissimulações, como isso, que agora
vem se revelando no cenário político da nossa Província. A
cizânia já está aí, alimentada pela constante distorção de
fatos, e as relações entre eles mesmos e com os opositores
vão de mal a pior...”.
O genro do Major Voges e o professor Nascimento
escutaram em silêncio. O professor pediu: - “Continue
nessa lição sobre a nossa situação política. Sei que as suas
palavras deveriam ser ouvidas em Conceição do Arroio e na
Capital da Província, pois com certeza encontraríamos um
modo de se evitar uma revolução e inibir o derramamento
desnecessário de sangue”.
Major Voges, diante desse pedido, continuou: - “Digo
a vocês que a fogueira das hostilidades já está ardendo. E
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muita lenha ainda será jogada nesse fogaréu. O que
adiantará para Júlio de Castilhos e para Silveira Martins e
seus seguidores, se alguém deles ganhar algumas batalhas
aqui ou ali. Ou mesmo se um dos dois pensar que venceu a
batalha decisiva A verdade é que não haverá vencedor, pois
a guerra eles já estão perdendo agora. Apenas afundarão a
Província na dor e no luto... O barco está fazendo água2 e
todos os riograndenses haverão de sofrer juntos. Na
verdade não existirá jamais um legítimo vencedor neste
confronto, pois ao romper uma guerra fratricida sempre
será o sangue de irmãos que será derramado. O apelo para
a força das armas e a truculência já são feridas abertas. É
notório que Júlio de Castilhos deseja nos impor a tal da
ditadura científica. Em virtude disso a revolta se manifestou
de imediato, pois os opositores desejam um lugar ao sol e a
possibilidade para participarem com suas idéias para dar ao
povo da nossa Província um governo justo, com todas as
garantias de liberdade de manifestação e a liberdade para
uma ação política, plena e legítima”. Professor Nascimento
pediu licença e retornou ao sobrado do pastor Voges onde,
no piso superior, funcionava a escola comunitária. O mestre
estava atrasado e com certeza os alunos já o aguardavam
ansiosos para o início de mais outra aula.
FIGURA 06: Johann Peter Jacoby Neto e esposa Luisa Henrietha Voges. Ela era filha do major Adolfo Felipe Voges.
Fonte: Acervo fotográfico da Família Voges.
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Jacoby Neto e o Major Voges foram se encaminhando
para o armazém deste, que se situava diante do templo, do
outro lado da estrada.
Eram apenas bons peleadores
Ninguém conseguia entender como Bahiano
Candinho conseguira reunir tão facilmente tantos cavaleiros
e passar a comandar um grupo tão heterogêneo, homens
que dera início através do Piquete Josaphat.
Eram tidos como tropeiros, colonos, peões mais
indisciplinados, sem preparo para o combate, quase todos
nativos da região das planícies do Rio do Pinto, do Arroio
Carvalho, do Baixo Josaphat e da Serra do Pinto. Todos
estavam afeitos à vida difícil, alguns da vida de tropeiros ou
de peões que viviam trabalhando em suas roças, outros
troteando pelas estradas com suas tropas, outros voltados
ao trabalho campeiro e, finalmente, muitos colonos,
descendentes dos pioneiros alemães que iniciaram a
colonização do vale do rio Três Forquilhas.
Eram quase todos bons de briga, porém só sabiam
lutar na base do facão ou da foice, prontos a enfrentar uma
onça, um javali ou de tentar pegar um touro brabo à unha.
Mas eles não eram soldados, eram apenas bons
peleadores3.
Muitos desses peleadores faziam seus próprios
chapéus, dentre os quais se citava o Pança de Burro.
Outros, que não quisessem andar descalços, faziam
grotescas botas, conhecidas por Pé de Potro. Apenas os de
maiores posses, e que eram poucos, tinham botas de boa
qualidade, armas de fogo e uma boa encilha. A maioria
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andava sem calçado, levando apenas esporas amarradas
contra o calcanhar.
FIGURA 07: Efetivo de peleadores federalistas. Fonte: Arquivo fotográfico de Alberto Schmitt.
Para compor a base do Piquete Josaphat uniram-se
os integrantes da antiga escolta policial de 1880, que havia
sido organizada, com eficiência, pelo Major Voges e naquela
época auxiliado por Baiano Candinho.
Eram homens de valor e de coragem, com destaque
para Martim Pereira dos Santos – o Baiano Candinho; Franz
Phillip Gross – o França Gross; Luiz Brandão Feijó – o Luiz
da Conceição e o Porfírio Martins Espíndola – o Martim
Piedade.
Os integrantes do Piquete Josaphat, nessa fase
inicial, foram cinquenta e quatro, que responderam ao
chamamento de Baiano Candinho e que assim ajudariam a
dar início ao movimento revolucionário federalista da
Colônia de Três Forquilhas.
Iniciando pelo próprio Bahiano Candinho, são
mencionados mais os seguintes peleadores: Luiz da
Conceição, França Gross, Martim Piedade, Luciano Cardoso
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de Aguiar, Baiano Tonho, José Baiano, João Baiano, Manoel
Cândido, João Gordo, Leonel Brandão, Henrique Baiano,
Pedro Juarte, Ignacinho, Miguel Cândido, Paraguaio Gross
Filho, Rico Marques, Macuco Lara, Firmino Velho, Miguel
Gralha, Firmino Cândido, Jovem França, Crispim França,
Felipe Brusch, Jacobe Fuero, Joaquim Baiano, Martinho
Canjo, Leo Canjo, Cala Barata, Jonas Barata, Carlos Girivá,
Dolfo Leão, Lemes Bugre, João Rico, Rico do Pilão, Lula
Fandango, Franciscão Velho, Jesus Crioulo, Manoel Geata,
Moço Peres, Nazário Santos, Chico Reata, Negro Campolino,
Pedro Sabino, José Sabino, Carlos Sabino, João Cabeleira,
João da Mula, Nico Flô, Chico Pinto, Henrique Bicudo, Beto
Guimaria e Joaquim Dezoito.
Uniram-se também ao Piquete Josaphat alguns
moços de menor idade, como foi o caso dos filhos do
falecido Pedro Baiano, portanto sobrinhos de Baiano
Candinho e ainda diversas mulheres conhecidas como
mulheres de aventura. Estas já eram acostumadas a
acompanhar os homens nas tropeadas, para cozinhar ou
servirem de companhia.
Candinho com funções de chefia
Recordemos que João Patrulha Menger morreu por
volta de 1883, aos setenta e dois anos de idade, portanto
dois anos antes do assassinato do seu genro Pedro Baiano,
irmão de Baiano Candinho. Era um homem que conhecera
como ninguém todas as trilhas e caminhos tanto do Alto
Josaphat bem como do Baixo Josaphat.
A morte de João Patrulha Menger havia sido sentida
em toda a Serra e também na Colônia de Três Forquilhas,
onde ele havia sido pessoa do mais alto conceito.
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Na Serra do Pinto era sentido um grande vazio, pela
ausência desse homem enérgico, valente, e amigo de todos.
Um homem que conhecera a liberdade da vastidão do alto
da Serra. Ele que sempre se mostrara pronto a lutar e para
dar a vida pelo nobre ideal da liberdade.
Os moradores falavam dos bons tempos, de João
Patrulha, quando havia paz e tranquilidade na Serra. Foram
quase quarenta anos, desde a Revolução Farroupilha, que
esse homem deixara a sua marca bem pessoal, de presença
e de serviço em favor dos tropeiros e dos viajantes e em
favor da segurança e tranquilidade naquela vasta região
serrana, desde o Arroio Carvalho e Rio do Pinto até Cima da
Serra, acompanhando tropeiros ou cuidando do serviço
campeiro em sua propriedade.
O espaço vazio deixado, passados tantos anos, foi
finalmente ocupado, quando Candinho assumiu diversas das
funções do seu antecessor, junto às trilhas serranas e no
serviço de segurança no Josaphat e na Colônia de Três
Forquilhas.
Na falta de um destacamento de policiais na
Subdelegacia de Três Forquilhas, Candinho recebera muitas
vezes, a tarefa de fazer, com os seus homens, a vez de
polícia, desempenhando o serviço de segurança em toda a
região serrana e na sede da Colônia.
No tocante ao serviço de segurança nas festas da
igreja, Candinho comentava: - “Faço esse trabalho como
minha contribuição para o altar. Desejo oferecer a
tranquilidade para o Padim Voges e para os festeiros, e a
para todos os moradores e visitantes da Colônia que
frequentam essas festanças da igreja”.
Jovens e velhos, todos apreciavam esse baiano
alegre e bonachão. Candinho revelava ser possuidor de boa
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capacidade de liderança, apto para dar apoio ao serviço de
segurança ao encargo da autoridade local. Passou a ser uma
espécie de auxiliar direto do subdelegado Tenente
Nascimento, que substituíra Major Voges no cargo.
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NAS CHARNECAS DE LABATUT
Baiano Candinho decidiu estabelecer uma base ou
espécie de acampamento para o seu Pelotão. A escolha
recaiu sobre o refúgio do Alto Josaphat, região que ele
aprendera a conhecer bem, através das andanças com
tropas de gado que o seu sogro Carl Witt volta e meia
conduzia para comercialização em Vacaria.
No Alto Josaphat havia uma vasta área que eles, na
época, denominavam como sendo as Charnecas de Labatut.
O falecido Miguel Barata Eberhardt é quem utilizara esse
termo em suas conversas, quando falava a respeito de
confrontos ocorridos no Alto Josaphat, durante a Guerra dos
Farrapos.
Barata explicava: - “O grande militar dos tempos
napoleônicos, o General Pedro Labatut, veio ao Brasil para
reforçar as forças imperiais e foi enviado ao sul para
combater as nossas forças farrapas. O velho general
Labatut chegou ao Alto Josaphat desejoso de acabar com o
General Davi Canabarro que em 1839 passou pela Colônia
de Três Forquilhas e foi subindo a serra com mais de dois
mil homens. Esse grandioso general napoleônico se
enchafurdou com os seus homens e canhões, num terreno
que ele não conhecia. De repente veio uma chuva intensa e
riachos se transformaram em rios. As charnecas que são
áreas mais baixas e fáceis de alagarem deixaram Labatut
prisioneiro de si mesmo, lutando com águas enfurecidas e
com os banhadais...”.
Baiano Candinho sempre estivera muito atento e é
quem melhor escutara tais histórias. Por isso ainda
recordava vivamente de tudo e de como também
costumava pedir a palavra para explicar ao Miguel Barata e
a todos os presentes, das dificuldades que os voluntários
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nordestinos haviam enfrentado durante a Guerra do
Paraguai. Candinho sempre reforçara as conversas do
Miguel Barata, dizendo: - “Eu e meus amigos nordestinos é
que sabemos o que significa estar despreparado para entrar
em combate numa terra estranha. Jamais esquecerei como
nós, Voluntários da Pátria do Ceará, sofremos nas terras
paraguaias. A natureza nos castigou muito com noites
geladas e vento frio. Também estranhamos a alimentação.
A diarréia e as doenças foram acabando com a nossa tropa,
com o nosso moral e pior, com a vida de muito nordestino
despreparado. Por isso que um dia, nós sobreviventes
fomos incluídos na cavalaria riograndense e ali conhecemos
o Miguel Patrulha que antes de morrer varado à bala, nos
fez o pedido de levar um recado para seu pai João Patrulha,
das bandas de Três Forquilhas e do Josaphat. Foi assim que
nosso destino passou a ser a Colônia de Três Forquilhas...”.
Candinho se adapta ao terreno
Quando Candinho chegou ao Alto Josaphat à testa do
Pelotão Três Forquilhas procurou localizar a área das
Charnecas de Labatut apontada por Miguel Barata como
sendo um terreno instável, capaz de trazer grandes
surpresas para incautos transeuntes.
Como primeira medida ele passou a adaptar a tropa
para familiarizá-la com o terreno, com uma geografia que
era tão diferente da planície. Ele desejava ter os elementos
naturais a seu favor como uma espécie de uma força
auxiliar, para rechaçar e derrotar um eventual inimigo, que
tivesse a coragem de querer atacá-los.
Candinho jamais acampou por muito tempo em um
mesmo lugar. Ele ia da região do rio Tainhas ao rio
Contendas e, além disso, vasculhava todas as trilhas e
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caminhos pelos quais, se necessário, pudessem descer ao
Morro do Forno, Três Forquilhas ou Maquiné.
Candinho também costumava dizer: - “Se alguém
quiser entrar em combate comigo eu escolherei o terreno e
será aqui no Alto Josaphat. Que venham esses pica-paus
para nos enfrentarem aqui nas Charnecas de Labatut”.
Os integrantes do Pelotão Três Forquilhas traçaram
trilhas novas, que conduziam para terrenos instáveis e
alagadiços. Ali estabeleceram planos de manobra e de
envolvimento de eventuais inimigos. Era a estratégia de
Baiano Candinho, que passou a ser aplicada em
treinamentos constantes, para deixar o seu efetivo pronto
para os eventuais combates da revolução que já se
anunciava.
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OS EFEITOS DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Conforme é sabido foi no ano de 1889 que
acontecera a Proclamação da República. Esse acontecimento
trouxe uma agitação bem ampla, atingindo todo o solo
brasileiro. Era um fervilhar de idéias políticas...
No Rio Grande do Sul, Júlio de Castilhos despontava
como um forte caudilho, um líder desejoso de assumir o
poder, de forma absoluta. Propunha um regime por ele
chamado de ditadura científica. O seu opositor Silveira
Martins em certo momento teve que buscar asilo,
refugiando-se na Inglaterra, para escapar da perseguição
política que se estabelecera.
Porém, voltando a comentar a situação existente na
região do Josaphat, ali quase não existiam castilhistas.
Eram quase todos, seguidores das idéias de Silveira Martins,
difundidas antigamente através do Partido Liberal, partido
que tivera, em suas fileiras, entre outros, o ilustre General
Osório4 - Marques do Herval, até sua morte, ocorrida em
1879, e no vale do rio Três Forquilhas, a eficiente liderança
exercida durante tantos anos pelo Major Adolfo Felipe
Voges.
Na Colônia Alemã de Três Forquilhas, a maioria dos
colonos ou eram do Partido Liberal ou neutros - apolíticos.
Os castilhistas e republicanos em minoria, eram em geral
jovens que retornavam dos estudos feitos em Porto Alegre,
entre os quais se destacavam Carlos Frederico Voges
Sobrinho, Christovam Schmitt, o primeiro filho do Chefe
Liberal Major Voges e, o outro, genro do mesmo. Parecia,
porém muito mais um simples problema a ser resolvido em
família. Não podemos esquecer do militar prussiano
Christian Tietboehl que, com toda a sua numerosa família
também era castilhista, convicto, porém moderado, sem
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jamais estabelecer discussões ou confrontos político-
partidários.
Já em direção às terras de areia, rumo as Lagoas
Itapeva e Quadros, muitos dos fazendeiros de origem
portuguesa eram castilhistas, mas sem grande influência
sobre a Colônia Alemã.
O quadro político de 1890
Em 1890, o cenário político riograndense já
prenunciava uma intensa luta pelo poder, com graves riscos
para confrontos armados.
Conforme já foi dito, por um lado apresentava-se o
Dr. Júlio Prates Castilhos propugnando a implantação de
uma ditadura científica, com base na filosofia positivista,
delineada nas propostas do francês Augusto Comte.
Do outro lado estava o Dr. Gaspar Silveira Martins
que defendia os ideais para a implantação de uma república
parlamentarista, no Brasil, sempre fazendo menção para os
segmentos discriminados da população riograndense.
Na Colônia Alemã de Três Forquilhas a princípio,
foram os discursos de Silveira Martins5 que alcançaram
maior eco, em particular quando ele fazia menção ao direito
de igualdade política para os protestantes, quando dizia <
Primeiro de tudo eu era representante do rio Grande do Sul,
Província que conta entre seus filhos para mais de
cinquenta mil acatólicos - protestantes. Eu faltaria à
comissão que do povo riograndense recebi se não
propugnasse pela igualdade de direito dos meus caros
concidadãos da raça germânica, que ficariam como o
governo os deixa ficar, somente porque professam religião
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diferente do Estado, inferiores a condição dos ingênuos
nascidos de ventre escravo >.
O líder Major Adolfo Felipe Voges, chefe maragato,
filho do venerando Pastor Voges, guardava um exemplar do
livro onde constavam pronunciamentos de Silveira Martins.
Major Voges, a princípio, utilizara tais citações em seus
discursos para enaltecer os ideais enunciados por Silveira
Martins. Porém, na medida em que Silveira Martins passou
a radicalizar seus discursos, formando o Partido Federalista,
Voges foi se distanciando, cauteloso, insatisfeito com os
rumos da política riograndense.
Baiano Candinho passou a ocupar o espaço vazio.
Era considerado integrante da Colônia de Três Forquilhas,
fato consolidado através do casamento com Maria Witt que
ocorrera em torno de quase dez anos. Era pai de diversos
filhos e os batizara com o pastor Voges. Integrou-se, assim,
plenamente na vida sócio-religiosa da Colônia. Tornou-se
um homem da maior confiança tanto do pastor Voges bem
como do Major Adolfo Felipe Voges.
No volume FACE MORENA apresentamos como
Candinho foi integrado ao efetivo da Escolta Policial da
Colônia de Três Forquilhas e como depois continuou sendo
procurado para prestar serviços de segurança, em particular
durante os três dias da tradicional Festa do Kerb, promovida
anualmente, pela Comunidade Protestante local. Ele passou
a ser visto ao natural, como um chefe, em potencial, para
assumir os interesses dos maragatos.
A figura do professor Nascimento
O mestre Serafim Agostinho do Nascimento, na
qualidade de professor, foi outro líder do vale do rio Três
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Forquilhas que alcançou o reconhecimento geral, de alunos,
de pais, do povo e do pastor Voges. As suas aulas de
português ajudaram muitos jovens a prosseguir nos
estudos. Ele foi citado pelo pastor Voges como: < o agente
que prepara a nova geração da Colônia, tornando-os aptos
a receber a boa formação, na Capital da Província >. Em
outro depoimento é dito: < professor Nascimento ensina os
moços a se integrar na vida da Pátria e a participar na
prática da política >.
Com toda a certeza, foi através do ensino
ministrado, que o professor Nascimento ajudou a
impulsionar a integração do povo da Colônia de Três
Forquilhas e dentro da realidade nacional, ajudando os
jovens para a efetiva participação na vida social e política
brasileira.
No tocante as questões políticas, tanto Professor
Nascimento bem como Major Voges foram partidários
convictos do Movimento Liberal, professado pelo insigne
General Osório, antes do surgimento do Partido Federalista,
de Silveira Martins.
Tanto o Major Voges, bem como o Professor
Nascimento foram reconhecidamente homens de paz e de
boa índole. Não aprovavam o estabelecimento de um
movimento revolucionário, assim como também mostravam
uma grande repulsa contra a ditadura castilhista. Essa
posição dos dois líderes era rejeitada por ambos os lados
em disputa e diziam: < Não queremos saber de gente que
fica em cima do muro >.
Esses dois líderes acreditavam em soluções políticas
negociadas. Davam valor para o jogo da pressão pacífica e
da luta no terreno ideológico. Afinal de contas Serafim era
um professor, e de boa formação, que sabia fazer um bom e
belo discurso, assim como Major Voges era um major
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honorário, um oficial superior, preparado pela antiga
Guarda Nacional de São Leopoldo, onde teve como
instrutor, o coronel e médico Dr. Daniel Hillebrand.
FIGURA 08: Professor Serafim Agostinho do Nascimento. Fonte: Arquivo fotográfico de Alberto Schmitt.
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O SANGUE DE ABEL CLAMARÁ AOS CÉUS
Toda a vez que Major Voges viajava a Conceição do
Arroio para participar de encontros promovidos pelo Major
Azevedo, ele insistia: - “O sangue de Abel clama aos céus.
Ninguém derrama impunemente o sangue de um irmão.
Todo o sangue derramado, sempre, haverá de clamar por
justiça. O Major Voges apenas repetia os ensinamentos que
recebera de seu pai, pastor, e se referia ao fato de que um
choque iminente entre castilhistas e maragatos estava se
desenhando no horizonte do cenário político riograndense”.
Já por volta de 1891, as posições começaram a se
radicalizar, na Província Riograndense. Major Voges tentou,
em vão, apaziguar os ânimos, nas reuniões dos maragatos,
em Conceição do Arroio.
Na sede da Comarca aparecera um padre castelhano,
Manoel da Paz Fernandes. Era um maragato e federalista
doente e também intolerante com os protestantes. Uma
coisa que ele não suportava, era o espírito conciliador de
Major Voges. O padre insistia em conclamar a todos, caso
necessário, de partirem para uma revolução armada.
Desta maneira todas as tentativas de amainar os
ânimos foram infrutíferas. O padre dizia que a Revolução
era coisa inevitável. Vaticinava dizendo que a luta armada
haveria de alcançar também a área de Conceição do Arroio,
bem como todo o solo riograndense. O castilhismo maligno
precisava ser varrido da face da terra.
Vieram consequências para a posição assumida pelo
Major Voges. Ele passou a ser relegado para um segundo
plano, com muita sutileza.
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Em novas reuniões convocadas, perdiam-se avisos,
convites ou cartas, dirigidas a ele e aos seus correligionários
da Colônia Protestante de Três Forquilhas. Entretanto, de
forma inexplicável, Baiano Candinho, tanto fazia se
estivesse no Baixo Josaphat ou no alto da Serra do Pinto,
sempre era localizado e convocado.
Atribuía-se essa retaliação contra o Major Voges
exatamente ao fato de ele ter insistido e repetido que o
sangue de Abel haveria de clamar aos céus, se eles
partissem para uma revolução armada.
Piquete Josaphat com status de Pelotão
Em 1891, Júlio Prates de Castilhos, Presidente do
Estado do Rio Grande do Sul, ou seja, o Governador do
Estado teve que renunciar ao cargo.
O motivo foi a sua adesão ao golpe, a nível nacional,
na tentativa de derrubar Deodoro da Fonseca, o primeiro
Presidente da República do Brasil.
Em consequência da renúncia do Governador Júlio de
Castilhos, formou-se, no cenário riograndense, um clima de
instabilidade política. Deodoro passou a nomear
governantes provisórios, para a administração do Estado.
O líder dos maragatos Gaspar Silveira Martins
aproveitou-se da situação, ordenando a reorganização de
todas as bases políticas do partido, nos mais diferentes
pontos do Rio Grande do Sul.
Também em Conceição do Arroio – Osório - RS, o
Major Luiz Henrique Moura de Azevedo, Chefe Federalista
da Comarca, procurou reunir homens de confiança, capazes
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de arregimentar forças. Por exemplo, na Colônia de Três
Forquilhas, com a indicação feita pelo Major Voges que não
desejava nenhum, cargo policial, o Professor Serafim
Agostinho do Nascimento foi guindado para ser o Sub-
Delegado.
O novo subdelegado recebeu ordens sigilosas, de
Major Azevedo, visando a convocação de Baiano Candinho
para a função de Oficial Ajudante para a condução de
eventuais diligências policiais.
Para Baiano Candinho foram expedidas orientações
secretas ordenando a organização de um grupo armado em
condições de ser mobilizado com rapidez e a qualquer
momento, para apoiar eventuais propósitos revolucionários,
com o objetivo de assumir o poder político administrativo,
no Rio Grande do Sul.
Baiano Candinho revelou uma extraordinária
eficiência. Reforçou de imediato, o Piquete Josapahat, um
grupo integrado por mais de cinquenta cavaleiros.
Eram, na maioria, homens rudes e analfabetos dos
quais poucos constavam no rol de eleitores.
Muitos eram colonos, descendentes dos pioneiros
imigrantes alemães, descendentes dos que colonizaram esta
área, além de tropeiros e inúmeros peões.
Chamava a atenção que muitos destes homens se
apresentavam mal vestidos quase todos sem botas e com
rústicas esporas, em geral, simplesmente amarradas nos
calcanhares nus.
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FIGURA 09: Peleador, pé descalço. Fonte: Gravura feita pelo autor, com base em imagem da Internet.
O Piquete Josaphat recebeu armamentos e passou a
ter a denominação de Pelotão Protestante de Três
Forquilhas ou simplesmente de Pelotão Três Forquilhas.
Esses homens passaram a sonhar em ser gente, de
participar da vida e dos acontecimentos políticos da Colônia
de Três Forquilhas e dos destinos da Comarca de Conceição
do Arroio, da Província e do Brasil.
Eis a relação dos integrantes do Pelotão Protestante:
1) – Baiano Candinho; 2) – Luiz da Conceição; 3) – Luciano
Aguiar; 4) – Baiano Tonho; 5) – Manoel Cândido; 6) – José
Baiano; 7) – João Baiano; 8) – Mano Jorge; 9) – Felipe
Bruxa; 10) – João Gordo; 11) – Leonel Brandão; 12) –
Henrique Baiano; 13) – Pedro Juarte; 14) – Ignacinho; 15)
– Miguel Cândido; 16) – Firmino Velho; 17) – Miguel
Gralha; 18) – Jovem França; 19) – Jacobe Fuero; 20) –
Joaquim Baiano; 21) – Martinho Canjo; 22) – Jorge Canjo;
23) – Leo Canjo; 24) – Cala Barata; 25) – Jonas Barata;
26) – Carlos Girivá; 27) – Dolfo Leão; 28) – Lemes Bugre;
29) - João Rico; 30) – Rico do Pilão; 31) – Lula Fandango;
32) – Crispim França; 33) – Franciscão Velho; 34) – Jesus
Crioulo; 35) – Manoel Geata; 36) – Moço Peres; 37) –
Macuco Lara; 38) - Nazário Santos; 39) – Chico Reata; 40)
– Negro Campolino; 41) – Bom Martim; 42) – Pedro Sabino;
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43) – José Sabino; 44) – Carlos Sabino; 45) – Paraguaio
Gross Filho; 46) – João Cabeleira; 47) – João Firmino; 48) –
Firmino Cândido; 49) – Dino Flôr; 50) – Chico Pinto.
Major Azevedo promove Candinho
Em dezembro de 1891, o Major Luiz Henrique Moura
de Azevedo, Chefe Maragato de Conceição do Arroio,
convocou Baiano Candinho, para participar de uma
demonstração de força, na sede da Comarca. Candinho foi
chamado para fazer uma entrada triunfal na cidade, na
frente do Pelotão Três Forquilhas. Foram também
convocados outros grupamentos dos diversos distritos de
Conceição do Arroio.
Baiano Candinho, de fato, entrou na cidade de
Conceição do Arroio, fazendo formaturas e evoluções com o
efetivo, parando diante da Intendência Municipal e, depois,
diante da Câmara Municipal.
O quadro visto pela população arroiense devia ser
bastante estranho. Era um grupamento de homens mal
vestidos, esfarrapados, talvez com aparência assustadora.
Enquanto o Pelotão formava diante da Intendência,
eis que surge uma figura que concentrou ainda mais as
atenções de todos. Era o padre Manoel da Paz Fernandes,
que veio caminhando, gesticulando ruidosamente, num
linguajar castelhano. Falava mais castelhano do que
português, e foi saudando o efetivo de Três Forquilhas.
Candinho desmontou, sendo recebido com um
efusivo abraço pelo Major Azevedo. Em rápida cerimônia o
Baiano foi declarado Oficial, no posto de Major e
Comandante do Pelotão Três Forquilhas, recebendo uma
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espada e uma jaqueta militar com divisas que ele, no
entanto, jamais chegou a usar.
FIGURA 10: Baiano Candinho promovido a Major. Fonte: Arquivo fotográfico de Alberto Schmitt.
Naquela hora, Major Azevedo cometeu um de seus
grandes erros, pois sem atender aos apelos pacifistas do
Major Adolfo Felipe Voges, chefe do antigo Partido Liberal e
maragato convicto, da Colônia de Três Forquilhas e sem
consultar o subdelegado da Colônia, mesmo que este
tivesse apenas o posto de Tenente, promoveu Baiano
Candinho ao posto de Major. Ao mesmo tempo Major
Azevedo oficializou um pelotão armado, designando-o com
o nome daquela antiga Colônia Alemã.
Essa manobra desastrosa de Major Azevedo teve um
forte impacto sobre as lideranças tanto dos maragatos e
mais ainda dos castilhistas da Colônia. O impacto aumentou
ainda mais quando Baiano Candinho retornou ostentando
uma autoridade superior a do subdelegado professor
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Nascimento. Candinho, na prática, passou a ser autoridade
em condições de dar ordens ao subdelegado.
As medidas do comando federalista de Conceição do
Arroio, sob a Chefia de Major Azevedo deixaram as
lideranças maragatas da sede da Colônia de Três Forquilhas
à margem das decisões e reclamavam: - “Os dois lados,
federalistas e pica-paus, estão cometendo erros atrás de
erros... O que será do povo?”.
No entanto, Candinho jamais fez uso da nova
prerrogativa de autoridade que lhe fora confiada pelo Major
Azevedo. Pelo contrário sempre fez questão de apresentar
um relato minucioso dos acontecimentos, quando se
encontrava com o Major Voges ou com o subdelegado
professor Serafim.
Baiano Candinho fazia questão de sinalizar com toda
a clareza de que desejava permanecer leal aos que ele
considerava seus amigos e mentores ideológicos, para, em
nome deles e sob a orientação deles, representar a Colônia
de Três Forquilhas.
Candinho acampa em Conceição do Arroio
Nos primeiros dias do mês de janeiro de 1892,
Candinho teve que retornar mais uma vez a Conceição do
Arroio com o seu Pelotão.
Major Azevedo desejava fazer um teste, para
verificar a capacidade de prontidão da força dos
revolucionários que estava a sua disposição. As tropas
ficaram acampadas na entrada da cidade.
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À noite, foi realizada uma reunião reservada, na
residência do Major Azevedo, dando lugar apenas para as
lideranças federalistas da cidade e dos comandantes dos
efetivos do interior da Comarca.
Major Azevedo expôs aos presentes a situação do
cenário político da Província. Comunicou que Silveira
Martins estava retornando do exílio e vinha trazendo novas
idéias, para o regime de governo da Província do Rio
Grande do Sul para serem aplicadas também nas demais
Províncias do Brasil. A Inglaterra havia sido um momento
importante e fecundo para o Chefe, que ali tivera tempo
para amadurecer planos bem concretos para a atividade
política no Brasil Por isto todas as Comarcas estavam sendo
mobilizadas, com o objetivo de reunir homens fiéis, capazes
e, caso necessário, de partirem para a luta.
Foram avaliadas, na oportunidade, as possibilidades
e a capacidade de combate, de cada efetivo presente.
Quando chegou a vez de avaliar o efetivo de Três
Forquilhas, comandado pelo Major Baiano Candinho, padre
Fernandes pediu a palavra. Argumentou que Candinho devia
precaver-se do antigo chefe do partido maragato em Três
Forquilhas, pois que se tratava do filho de um pastor
protestante, que misturava religião com política. Um
homem desses não servia para tão importante função.
Com certeza padre Fernandes estava recordando
vivamente do puxão de orelhas que Major Voges lhe dera,
ao alertar que o sangue de Abel haveria de clamar aos céus,
caso os riograndenses viessem ao ponto de derramar
sangue de irmãos.
O padre pediu que Candinho ignorasse as palavras
do Major Voges, uma vez que todos precisavam estar
unidos e preparados para o uso de armas, se necessário
fosse, para combater e matar. Não haveria outra opção, no
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caso de romper a revolução, a não ser, matar o inimigo ou
ser morto por ele. Eram frases muito ferozes, vindas de um
sacerdote que se dispusera a incentivar os federalistas para
a revolução.
Padre Fernandes, porém desconhecia os vínculos que
Candinho mantinha, tanto com pastor Voges bem como com
Major. Certamente o padre não soubera que Candinho se
unira com Maria Witt, uma mulher protestante e que
batizava os filhos na Igreja Protestante da Colônia Alemã de
Três Forquilhas. O padre não devia estar sabendo que
Candinho havia sido integrante da Escolta Policial sob o
comando do Major Voges que, há anos, o Baiano servia a
Comunidade Protestante fazendo o serviço de segurança
durante as festas da igreja.
Candinho escutou em silêncio e nada comentou
sobre o fato de que ele era um protestante, bem como
quase todos os integrantes do seu Pelotão. O que diria o
padre se soubesse que Candinho buscara recentemente a
benção do velho pastor, para si e para os integrantes do
efetivo.
No dia posterior, Candinho colocou-se a caminho,
pois era necessário retornar a Três Forquilhas com os seus
homens. Quando saíram do acampamento, foram
surpreendidos com a chegada do padre que explicou que ele
teria uma missa a ser celebrada fora da cidade, na direção
de Morro Alto, e assim desejava acompanhá-los por um
bom trecho do caminho.
Padre Fernandes era insistente em suas idéias e
voltou a recomendar a Candinho para que assumisse a
chefia de todos os revolucionários da Colônia de Três
Forquilhas e que cuidasse de se cercar por gente fiel, livres
da influência da família Voges.
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A única coisa que Candinho aceitou intimamente foi o
conselho de cercar-se de gente fiel. Quanto à orientação de
romper as relações com o Major Voges e com os
protestantes, isto ele não podia pensar em fazer, pois lhe
sobraria talvez uma meia dúzia de homens serranos.
Podemos imaginar o que tudo pode ter passado pela
mente de Candinho, não só naquela hora, mas desde 1871,
quando o haviam acolhido em Três Forquilhas, com tanta
consideração. Ele devia lembrar de que fizera o juramento
de jamais permitir que alguém viesse a tocar em um só fio
de cabelo do velho pastor Voges. Nem tocar nos familiares
dele e nem tocar no povo da Colônia de Três Forquilhas,
independente da cor partidária que eles professassem. Isso
ele jurara fazer e ele era cumpridor de sua palavra e dos
seus juramentos.
Em certa altura do caminho, próximo de Morro Alto o
padre despediu-se de Baiano, com um aperto de mãos.
Essa foi a última vez que Candinho viu esse padre,
que, meses depois, seria assassinado, não longe dali.
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O AMBIENTE ESQUENTA
Quando Candinho, dias depois, visitou o Major
Voges, na sede de Três Forquilhas, ele fez um relato
minucioso sobre a conversa de Padre Fernandes. Contou
também detalhes sobre a reunião promovida pelo Major
Azevedo com o objetivo de organizar as lideranças dos
efetivos maragatos. Alertou que uma revolução era tida
como coisa certa.
Major Voges procurou demover Candinho, sobre a
questão da mobilização desse efetivo federalista integrado
por moradores da Colônia de Três Forquilhas, no apoio a
essa revolução. Solicitou que Candinho, pelo menos,
mantivesse as garantias de que jamais haveria de promover
confrontos entre federalistas e castilhistas, na área da
Colônia de Três Forquilhas. Afinal, tal fato seria
transformado numa matança entre irmãos, havia gente de
uma mesma família, em lados opostos, como era a situação
da própria família Voges.
Candinho fez então questão de novamente repetir o
seu juramento, afirmando: - “Haverei de me empenhar para
que os moradores da Colônia jamais venham a sofrer
qualquer tipo de violência”.
Ele acentuou que, afinal, ele sabia muito bem, quem
eram os castilhistas na localidade e teria a maior facilidade
de eliminá-los, um por um, caso assim o pretendesse.
Candinho explicou que se comprometera com Major
Azevedo e com Padre Fernandes, somente de uma coisa.
Era de manter um grupo armado, em condições de
combate. Mas iria evitar combates e mais ainda evitar a
possibilidade de agressões contra moradores da Colônia,
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nem que para isso tivesse que subir para Contendas, no
município de São Francisco de Paula.
Candinho estendeu a mão ao amigo e voltou a
repetir com palavras ainda mais solenes: - “Respeitarei,
sempre, todos os moradores da Colônia de Três Forquilhas,
mesmo aqueles que, muito bem sei, são castilhistas
ferrenhos, como o caso do seu filho Carlos e do seu genro
escrivão”.
Major Voges sabia que o Baiano sempre cumprira a
palavra empenhada. Assim estava satisfeito, pois
continuava afastada toda e qualquer ameaça aos moradores
e principalmente do risco de surgirem combates na Colônia.
Castilhistas locais se organizam
Naquela mesma noite, Major Voges convocou uma
reunião de família reunindo os seus filhos e genros para
explanar a situação da Colônia. Na família Voges, apenas o
Major era maragato enquanto que os filhos e genros eram
castilhistas.
Adolfo Felipe relatou a respeito da reunião que tivera
com Candinho. O filho Carlos o interrompeu, e foi logo
alertando: - “Eu confio desconfiando”.
Carlos Frederico explicou então que, por não confiar
nos federalistas, já conseguira infiltrar dois espiões no
efetivo de Candinho. Eram o mulato Chico Reata e o Negro
Campolino.
O Chico ainda nesta manhã viera, bem cedo, para
contar a respeito de uma conversa que ele ouvira, quando o
Pelotão Três Forquilhas saíra de Conceição do Arroio. O
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espião relatara que um padre de fala castelhana havia
insistido com Candinho para que o mesmo deixasse de
acatar a autoridade do Major Voges bem como a do
subdelegado professor Serafim Agostinho do Nascimento.
Mas que felizmente Baiano nada prometera ao padre.
Candinho apenas aceitara organizar uma tropa federalista
da Colônia de Três Forquilhas, em condições de entrar numa
revolução, se preciso fosse.
Major Voges ficou em silencio, pois o próprio
Candinho lhe contara isso. Estava ciente que a situação se
complicara e decidiu que ordenaria ao Candinho que, para
cumprir o juramento de não molestar moradores da Colônia,
saísse de Três Forquilhas para se fixar definitivamente na
região do Alto Josaphat.
Em prosseguimento, Carlos Frederico pediu
permissão ao pai, para apresentar o seu plano de ação.
Explicou que tomara providências para estabelecer um
esconderijo castilhista, nos fundos do Sítio da Figueira, na
chamada Invernada dos Cavalos.
Informou que conduzira para lá as suas melhores
novilhas e cavalos. Sugeriu que o pai e os demais
familiares, genros e vizinhos, aproveitassem o mesmo local,
para também deixarem ali seus melhores animais ou bens e
valores, tudo o que fosse capaz de despertar a cobiça de
federalistas que viessem promover saques ou roubos.
Carlos Frederico completou, dizendo: - “Bem sei que
também as tropas republicanas que para cá vierem,
chegarão até as nossas casas para livremente praticarem o
confisco de cavalos e de novilhas para providenciar o
suprimento para seus efetivos.
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O exterminador de espiões
As lideranças castilhistas da Colônia de Três
Forquilhas infiltraram espiões que se apresentavam diante
de Candinho como peões sem trabalho e que desejavam
guarida e permissão para lutar contra os pica-paus.
Candinho, um homem precavido, experiente e
matreiro, se acautelava por desconfiar de tais intenções
vindas de peões desocupados.
Como medida de manter contato com todos,
Candinho reunia os seus homens, de tempos em tempos,
em particular quando novos elementos se apresentavam.
Ele alertava: - “Aqui no nosso reduto não temos guarida
para espião pica-pau. Temos conosco o Carniceiro para dar
fim aos falsantes...”.
Apesar dos constantes avisos do chefe, alguns
espiões vieram se juntar ao grupo, não acreditando nesse
risco de morte.
Major Baiano Candinho nomeou, em particular, um
homem para cuidar de uma espécie de serviço de
inteligência no grupo, com o auxílio de agregados, atuantes
no ofício de seleiros e artífices em couro. Tratava-se de
Fredo Sapateiro e seus empregados.
Invariavelmente todos os integrantes do grupo, em
algum momento, procuravam Fredo Sapateiro, fosse para o
conserto de arreios e encilhas, para a confecção de um laço
ou de botas ou chapéus rústicos, feitos em couro. Fredo e
seus agregados estavam assim em contato intenso com
todos os integrantes da tropa. Porém os novos que
chegavam não sabiam que era Fredo o catador de espiões.
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Quem foi Fredo Sapateiro? Ele foi um protestante,
descendente de imigrantes alemães, nascido na Colônia de
Três Forquilhas em 25 de dezembro de 1874 e batizado,
pelo pastor Voges, com o nome de Johann Friedrich Ludwig
– o João Frederico Ludwig, depois conhecido como Fredo
Sapateiro. Era um filho de Christian Ludwig e Margaretha
Eberhardt e em sua mocidade ajudara o pai no cultivo de
bananeiras, em escala comercial.
Diante da agitação política Fredo Sapateiro decidiu
abandonar a empreitada, passando a exercer somente a
profissão de sapateiro, que ele tivera oportunidade de
aprender, num período que ele passara na região de São
Leopoldo.
Ao casar com uma serrana Fredo foi fixar residência
na área do Josaphat. Ele ligou-se ao movimento federalista
como homem de confiança de Baiano Candinho, recebendo
o codinome de Carniceiro.
Os indivíduos novos que chegavam, para entrar no
efetivo ou Piquete, organizado por Candinho ouviam relatos
espantosos a respeito do Carniceiro que estaria rondando
constantemente o acampamento maragato à procura de
espiões infiltrados. Contavam histórias aterradoras sobre a
caça e extermínio de espiões. Isto fazia parte do claro
propósito de inibir a ação de eventuais espiões que
porventura estivessem ali presentes.
Fredo Sapateiro jamais se afastou da base do
acampamento6 do efetivo de Baiano Candinho, na área do
Josaphat e era um homem muito tranquilo, dedicado ao seu
trabalho com couro.
De igual modo, Fredo nunca acompanhou ações ou
confrontos, preferindo permanecer em seu refúgio seguro,
na sua Oficina de Couros, no Josaphat.
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Altos e baixos dos republicanos
Carlos Frederico Voges Sobrinho fazia algum tempo
que atuava como sendo o chefe do partido republicano, na
Colônia. O partido estava sofrendo de altos e baixos nesta
área geográfica, ao sabor do balançar dos acontecimentos
que ocorriam na Capital.
Na verdade, o chefe inconteste dos republicanos em
toda esta vasta área desde as praias até a Serra do Pinto
sempre havia sido o Tenente Coronel Antonio de Souza
Neto, morador da Casa da Pedra, próximo do Pântano do
Espinho.
Souza Neto sempre se revelara como um homem
elitista e bastante autoritário que não gostava da presença
dos imigrantes alemães, não por serem de origem alemã,
mas por professarem a religião protestante que os padres
consideravam herética.
A Casa de Pedra foi assim por diversos decênios, o
centro do poder republicano na área, assim como a casa do
Major Voges sempre foi vista como o centro do poder
maragato na área.
A Casa de Pedra se encontrava, na verdade, à
margem da área conhecida por Colônia Alemã. Ali no
Pântano do espinho iniciava a área conhecida por terras de
areia, onde residiam os chamados praianos, dali até a orla
do mar.
Antonio de Souza Neto não conquistava uma maior
aceitação entre os alemães, por causa de seu exclusivismo
religioso, na época do Império o catolicismo, era, de fato, o
credo oficial do Brasil e que ele pretendia defender e
manter.
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65
Souza Neto perdeu a oportunidade de conquistar a
adesão ao Partido Republicano, de homens cultos dentre os
quais merecem menção Wilhelm Schmitt e o maestro
Christian Tietboehl. Somente quando Souza Neto foi
acometido de grave enfermidade que a sua atividade caiu
em declínio gradativo.
Anos depois, quando ele finalmente faleceu, Christian
Tietboehl exclamou: - “Agora será a nossa vez de assumir o
espaço. A mão de ferro que nos deixou de fora deixou de
existir. O reinado da mão de ferro acabou, assim como
acabam todos os reinos e feudos da terra. Não percamos a
oportunidade para logo estabelecermos o nosso próprio
partido republicano, que oferecerá lugar para todos,
também para os descendentes de origem alemã da Colônia
de Três Forquilhas”.
FIGURA 11: Carlos Frederico Voges Sobrinho, comerciante, tropeiro e líder castilhistas da Colônia de Três Forquilhas.
Fonte: Arquivo fotográfico da família Voges.
Christian Tietboehl e seus filhos, mais Carlos
Frederico Voges Sobrinho, Christovam Schmitt e Gildo de
Aguiar se reuniram no Sítio da Figueira para um encontro
que eles designaram de Momento Histórico dos
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Republicanos de Três Forquilhas. Na oportunidade eles
elegeram Carlos Frederico Voges Sobrinho como chefe do
partido republicano e inscreveram o grupo junto à direção
geral do PRR em Porto Alegre.
Desde aquele momento os republicanos passaram a
ocupar espaços, conseguindo trazer às fileiras partidárias
particularmente os jovens, dentre os quais se viam alguns
que regressavam dos estudos na Capital e vizinhanças e
vinham contagiados pelas idéias professadas por Julio
Prates de Castilhos.
Símbolos republicanos
Os republicanos procuravam deixar sinais que
pudessem identificar suas residências. O símbolo mais
comum passou a ser o plantio de uma cameleira7 diante da
casa. Era, pois a identidade apresentada pelos republicanos
e abolicionistas.
Carlos Frederico Voges Sobrinho, de modo muito
ostensivo, não plantou apenas uma cameleira. Ele plantou
logo seis diante de sua morada, três na ala norte e outras
três na ala sul.
Christovam Schmitt plantou duas cameleiras diante
de seu Cartório e residência, na verdade, casa do pastor
Voges.
O maestro e professor Christian, no outro lado do
rio, também plantou duas cameleiras. Em poucos meses,
diante de inúmeras casas passaram a ser vistas cameleiras.
Alguns caixeiros viajantes constatando esse
repentino interesse por mudas de cameleiras e sabendo da
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inexistência das mesmas, disponíveis no vale passaram a
trazê-las, sendo disputadas como uma rara mercadoria, de
valor inestimável. A cameleira mais apreciada era a de
flores brancas, pois diziam ser o sinal da pureza dos ideais
republicanos e abolicionistas. Carlos Frederico Voges,
entretanto plantou três espécies diferentes, destacando
duas de flores brancas, duas de flores rosadas e duas
mescladas. A grande maioria da população, entretanto,
nada entendia disso e nem se interessavam pelo significado
ou simbolismo de uma cameleira, como identidade político-
partidária e ideológica e, inadvertidamente, adquiriam
alguma muda dessa flor e a plantavam diante das casas.
Em pouco tempo, na época da floração das cameleiras,
noivos republicanos passaram a utilizar uma flor de camélia,
prendendo-a no paletó, de modo ostensivo, no peito.
FIGURA 12: Cameleiras plantadas por CFVoges ainda existem no Sítio da Figueira, em Itati – RS.
Fonte: Foto batida pelo autor, 2010.
À medida que Carlos Frederico foi se firmando na
liderança do partido republicano, ele foi planejando com
seus partidários, medidas preventivas de defesa de seus
interesses. Ele colocou na Invernada dos Cavalos uma
guarnição armada, comandada pelo Negro Custódio e
integrada pelos peões Luciano Vicente, João Coruja, Chico
Moreira, João Moreira, Crioulo Alves e os Irmãos Colônia,
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que, em dois turnos, se revezavam na defesa do local.
Ninguém da população menos avisada observava nada
disso, pois tudo acontecia em total sigilo. Porém estava
iniciada a formação de uma força republicana local, em
condições de agir em caso de necessidade ou para um
enfrentamento direto com a força federalista comandada
por Baiano Candinho.
Um embate armado estava afastado à medida que
Baiano Candinho passou a manter a sua base também
escondida, num ponto distante da Colônia, em meio às
Charnecas de Labatut, no Alto da Serra.
Candinho aceitara a recomendação feita pelo major
Voges e afiançara: - “Concordo com o senhor que é bom e
necessário colocar uma grande distância entre a minha
força e o grupo de homens armados que o seu filho mantém
no Sítio da Figueira”. Candinho revelou assim que já sabia
de toda a movimentação dos castilhistas da Colônia.
A reativação do Ritterverein
Num domingo, pela manhã bem cedo, Major Voges
teve a atenção despertada pelo trotear de muitos cavalos,
em movimentação diante do templo, e em frente do seu
armazém. Levantou-se da cadeira, onde sentara para tomar
chimarrão e foi ver o que acontecia.
Surpreso, viu o seu filho Carlos, o seu genro
Christovam e muitos jovens das redondezas, inclusive o
maestro Christian Tietboehl e filhos, mais o Peter Feck e
tantos outros cavaleiros, no lombo de seus cavalos,
portando suas tradicionais lanças dos torneios equestres.
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Major Voges saiu para o pátio e perguntou: - “O que
está acontecendo, filho?”.
O jovem ouvindo o chamado do pai virou a montaria
e prestativamente, foi até ele para dar satisfação, conceder
explicações a respeito daquela movimentação, ele foi
dizendo: - “Pai, eu nada lhe falei, mas nós decidimos
reativar a atividade da nossa Sociedade de Cavaleiros. Isso
é coisa minha, do cunhado Christovam e do professor
Tietboehl. Bem sei que o senhor sempre presidiu a nossa
sociedade de cavaleiros, porém vendo que nada mais
acontecia, decidi reunir o pessoal para um torneio”.
Major Voges deu sinais de contrariedade e reclamou:
- “Filho, será que não tiveste tempo para chegar aqui em
casa para combinar isso comigo? Mas agora já está feito e
bem sei que a tua idéia nada tem a ver com torneios. Seja
sempre sincero com o teu pai, mesmo que não estamos nas
mesmas fileiras. Afinal, não me deves satisfação sobre o
que vocês castilhistas pretendem. Portanto sigam o ideal de
vocês e reúnam os correligionários castilhistas. Bem sabes
que não os acompanharei nessa empreitada. Mas confio em
vocês de que não haverão de afrontar os maragatos, que
foram para o Alto Josaphat para nos pouparem de combates
em nosso vale. Vejo ali o maestro Christian Tietboehl e
como eu tenho total confiança no que ele faz e no que ele
participa, sei que vocês se manterão em movimentação
pacífica”.
Carlos Frederico entendeu a reprimenda do pai e foi
logo demonstrando submissão: - “Pai, eu agradeço pela sua
confiança e prometo que nos manteremos desarmados,
apenas portando as nossas lanças de torneio. Porém quero
lhe pedir um favor. Nós aqui nos reunimos para buscar a
benção do meu avô pastor. O senhor poderia chamá-lo e
trazê-lo até a soleira da casa pastoral, para que ele nos veja
e nos diga algumas palavras?”. Major Voges encaminhou-se
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a casa pastoral e foi em busca do seu pai. Os cavaleiros
permaneceram ali perfilados, com o olhar fito na porta,
ansiosos pela vinda do idoso pastor Voges.
Passada mais de meia hora, finalmente o patriarca
espiritual assomou o umbral da porta de sua casa. Veio
amparando-se com uma mão na pesada bengala de madeira
e com a outra mão segurando o braço do seu filho. E,
segurando nas calças do velho, vinha também o menino
Alberto Schmitt, sempre muito agarrado com o seu bisavô e
curioso com os acontecimentos. Pastor Voges entregou a
bengala ao menino e então levantando lentamente o braço
direito foi balbuciando palavras que nenhum dos cavaleiros
conseguia entender, por causa da distância e em virtude do
resfolegar de um e outro cavalo.
Carlos Frederico, montado me sua mula predileta, foi
até a testa do grupamento e deu ordens de perfilar, de
levantar as lanças e gritou em alta voz: - “Que a vitória seja
da lealdade de todos nós, vivaaa!”.
Os cavaleiros balançando as lanças, fazendo as
bandeirolas drapejar ao vento, responderam: - “À vitória da
lealdade, vivaaa!”.
Carlos Frederico deu então ordem de marcha e os
cavaleiros dirigiram-se à trote lento, rumo ao potreiro de
Christian Barata Eberhardt, que ficava bem próximo, na
direção norte.
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UM SUCESSOR PARA PASTOR VOGES
Major Voges fazia questão de manter diálogo com os
seus genros e filhos castilhistas. Cada vez que algum destes
estivesse por perto os convidava para sorver um cafezinho
em seu armazém e para analisar as perspectivas e planos
para o futuro da Comunidade.
Quem mais vezes vinha para dar o ar da graça, era o
genro Johann Peter Jacoby Neto casado com Luisa Henrietta
Voges.
Numa dessas ocasiões aconteceu que também Peter
Feck ali compareceu, para fazer compras e, logo teve início
uma animada conversa.
FIGURA 13: Residência e casa comercial do Major Adolfo Felipe Voges, situada diante do templo.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
Peter Feck quis saber: - “Eu gostaria de entender o
motivo que levou o pastor Voges a dar aquela benção ao
Baiano Candinho e seu bando? O que será que o pastor viu
nesse homem?”. Peter era um castilhista e cavaleiro do
Ritterverein e recebera a benção do pastor, fazia poucos
dias.
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Major Voges explicou: - “Conheço bem o Candinho e
sei que ele sempre foi um nordestino muito religioso... Por
isso não é de se espantar que ele viesse decidido,
colocando-se diante do pastor com o objetivo único de
receber a benção dele. Além disso, o Candinho é membro
da nossa Igreja, pois casou com a Maria Witt diante de meu
pai e também tem batizado os seus filhos em nossa Igreja.
Não é isso motivo suficiente para explicar o comportamento
do Baiano?”.
Peter Feck, veterano da Guerra do Paraguai, que vira
o horror dos campos de batalha, passara a detestar a idéia
de um conflito armado na área da Colônia, reclamou: - “Por
que o pastor não aproveitou a ocasião para dar ordens ao
Candinho, exigindo que eles largassem ali mesmo todas as
idéias erradas e absurdas de fazerem planos para enfrentar
o nosso Governador Júlio de Castilhos? Em vez de se
rebelarem contra a autoridade legítima do nosso governo
riograndense, porque Candinho não foi simplesmente
aconselhado a dispensar esses pobres colonos, peões e
tropeiros que o acompanham, e mais ainda que eles são, na
maioria, também protestantes, pertencentes à nossa
Igreja?”.
Major Voges, diante do tom sarcástico do
interlocutor, ficou com um ar de seriedade nitidamente
desenhado no rosto e explicou: - “Já em 1891 o baiano foi
convocado pelo Major Azevedo, antigo chefe do Partido
Liberal e agora líder do Partido Federalista em nossa
Comarca de Conceição do Arroio. Existe um povo que não
aceita os planos de Júlio de Castilhos... Preciso esclarecer
que o Candinho foi convocado para servir a causa
Federalista. Além do mais Candinho foi lembrado pelos
maragatos de Conceição do Arroio em virtude da minha
recusa de comandar alguma força revolucionária do nosso
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vale, que ficasse em condições de entrar em combate,
quando convocada”.
- “O compadre fez bem!”, respondeu Peter Feck.
Enquanto rolava essa conversa, aproximou-se Bina
Rosina, esposa do Major, acompanhada por uma serviçal
doméstica. Ela passou a servir cafezinho para os três
homens.
FIGURA 14: Adolfo e Bina Rosina Voges. Fonte: Álbum fotográfico da Família Voges.
Peter Feck sorriu, cumprimentou Bina Rosina e falou:
- “Bom dia, tia Rosina. A minha esposa, sua sobrinha, pediu
que eu lhe transmitisse especiais cumprimentos. Ela só não
veio comigo para fazer essas compras porque está
envolvida na cozinha, no preparo do almoço”. Depois,
dirigindo-se novamente ao Major, reclamou: - “Que história
é essa que o seu filho Carlos, o seu genro Christovam e o
maestro Tietboehl estiveram em São Leopoldo, para
entregarem de mão beijada, a nossa igreja para um dito
Sínodo do Rio Grande? É isso verdade? Eles passarão então
a ser donos da nossa igreja?”.
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Bina Rosina colocou-se diante do Feck,
interrompendo o assunto levantado, como que reclamando
da afobação do mesmo, recomendou: - “Preste mais
atenção, Peter, pois que se a minha sobrinha pediu que aqui
viesses para ligeiro buscar umas compras, pode ser que ela
precise dessas mercadorias para completar o almoço de
hoje. Ela pode estar plantada na cozinha, aguardando a sua
volta... Não a deixe na mão...“.
Bina sorriu e postou-se ao lado do marido.
Major Voges também sorriu e explicou: - “Deixa
estar querida Bina Rosina que agora não posso deixar de
pelo menos dar uma resposta para essa questão que o
Peter levantou”.
Voges fez uma pausa e encarando o interlocutor com
ar de seriedade, falou: - “Amigo Peter Feck, tu que és um
homem vivido, que és alguém que sobreviveu a uma dura
guerra, não deverias dar crédito a conversa de rua e de
pessoas desinformadas. Posso adiantar que a necessidade
de buscarmos um sucessor para o meu pai já vem de mais
de quatro anos, a pedido de meu próprio pai. Ele notou que
as forças começaram a lhe faltar... Um dia eu mesmo,
numa viagem que tive que fazer a São Leopoldo, fui
procurar os pastores que dirigem o Sínodo Riograndense.
Explanei o nosso problema e recebi todas as orientações
para sermos incluídos no fornecimento de assistência
pastoral, providenciada por eles. Recebi um documento que
tivemos que ler diante de toda a nossa Comunidade para
ser aprovada e assinada. Fizemos isso e eu mesmo devolvi
a eles o documento, enviado através de um portador
confiável. No entanto, o tempo vai passando e, no último
contato, nos responderam: < não é fácil encontrar um
pastor em condições de trabalhar em vossa região inóspita!
>”.
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Jacoby Neto que, até então, estivera em silêncio,
pediu a palavra ao sogro e comentou: - “Eu estive presente
naquela reunião da Comunidade quando aprovamos nos
ligar ao Sínodo Riograndense e fui um dos que assinaram o
papel. Não sei por qual motivo o amigo Peter não veio se
juntar conosco e ajudar a dar força para mantermos a nossa
Igreja em atividade”.
Peter Feck sorriu e reclamou: - “Neto, não ralhe
comigo que isso não resolve nada. Além do mais não
aguento ficar por muito tempo naqueles bancos duros da
igreja. Quando sou obrigado a ir para um batizado ou
casamento, deves ter notado que logo levanto e me dirijo
até o lado de fora para enrolar um palheiro e colocar as
minhas idéias em dia”.
Todos riram e Bina Rosina aproveitou o momento
para pedir licença afim de retornar à cozinha, informando
que as serviçais poderiam estar necessitando de suas
ordens para fazer o almoço.
Peter Feck ficou sério, levantou também da cadeira e
segredou: - “Então é líquido e certo que o tal do Sínodo do
Rio Grande vai nos dar um pastor, para tomar o lugar do
nosso velho?”.
Major Voges sentenciou: - “Isso mesmo, é líquido e
certo e, é tão certo que o meu filho Carlos, o Christovam e
o professor Tietboehl já tem viagem marcada para seguirem
mais uma vez a São Leopoldo. Eles vão para ver se agora
conseguem apressar a vinda de um pastor novo, pois o
tempo urge...”.
Peter Feck esfregou as mãos demoradamente, como
se precisasse prepará-las para segurar o saco de compras e,
pedindo licença, agradeceu pela atenção. Ele saiu porta a
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fora, onde o seu cavalo, impaciente, esperava pelo dono,
para tomar o caminho de retorno à casa.
Novo contato com o Sínodo Riograndense
A comissão de membros da Comunidade, integrada
por Carlos Frederico Voges Sobrinho, Christovam Schmitt e
Christian Tietböehl preparou-se para a viagem a São
Leopoldo. Decidiram ir à cavalo, cortando caminho pela
Serra do Pinto, e prosseguindo num caminho que eles
conheciam muito bem.
Porém antes de sairem reuniram-se mais uma vez
com Major Voges, para receberem as instruções finais sobre
o modo de proceder no contato com a liderança do Sínodo.
Major Voges forneceu-lhes uma folha com itens
enumerados, como segue:
INFORMAÇÕES PARA OS DIRIGENTES
DO SÍNODO
1 – Informo que a Comunidade adquiriu um lote de
terra, igual ao que cada colono recebeu quando da
chegada ao vale, em 1826. O lote será doado para o
Sínodo Riograndense.
2 – A Comunidade construiu uma casa em estilo
enxaimel, edificada pelos pedreiros irmãos Pereira de
Souza e contando com a ajuda do carpinteiro Carl
Huyer.
3 – A exigência de uma garantia de moradia está,
portanto, concedida, conforme os itens 1 e 2.
4 – O templo conhecido como igreja de pedra
recebeu uma reforma recente e apresenta boas
condições de uso.
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5 – Foi eleito um grupo de liderança, forte e unido,
constituído de quatro membros (Carlos Frederico
Voges Sobrinho, Christovam Schmitt, João Pedro
Jacoby Neto e Christian Tietböhl) que são homens
preparados e em condições de ajudarem o pastor no
trabalho de organização da Comunidade, conforme
as exigências definidas pelo Sínodo Riograndense.
6 – O sustento do pastor será garantido desde o
momento de sua posse no cargo, com o
fornecimento de gêneros alimentícios doado pelo
comércio e com a arrecadação de dinheiro junto aos
membros ativos da Comunidade.
7 – O velho pastor Carlos Leopoldo Voges, com seus
noventa anos de idade, ainda atua prestando alguns
serviços, conforme pode e no modo que a sua força
física permite e, por isso, deverá ser tratado com
carinho pelo seu sucessor, pois que ele não consegue
mais entender de que ele precisa ser substituído.
Três Forquilhas, 08 de fevereiro de 1892
Assina:
Adolfo Felipe Voges – Dirigente (Vorsteher)
da Comunidade Evangélica de São Pedro de
Alcântara de Três Forquilhas.
Os integrantes da comissão receberam ainda de
forma oral, detalhes minuciosos de cada item, com
informações adicionais que poderiam vir a ser necessárias
nas conversações que deveriam ser mantidas com os
pastores do Sínodo.
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A reunião com o Presidente do Sínodo
Em São Leopoldo os três representantes da
Comunidade de Três Forquilhas foram muito bem acolhidos.
O impacto maior foi certamente a folha de papel que Major
Voges lhes fornecera. O pastor presidente pediu que o papel
lhe fosse entregue, para comprovar as medidas que ele
teria que tomar, de modo emergencial, sem consulta prévia
ao colegiado de pastores.
Concluídas as tratativas administrativas, os três
representantes da Comunidade de Três Forquilhas foram
colocados em contato com o pastor Gustav Geisler, que se
encontrava em São Leopoldo, em busca de um local de
trabalho.
O pastor presidente recomendou: - “Apresento-lhes
um candidato que poderá seguir a Três Forquilhas, isto se
os senhores forem capazes de mover o interesse dele, para
que se disponha a assumir aquele pastorado”.
Na sequência ocorreu um importante colóquio entre
a comissão de Três Forquilhas com o pastor Gustav Geisler8.
Este se mostrou vivamente empolgado com a descrição do
litoral norte do Rio Grande do Sul, das lagoas e do rico vale
de Três Forquilhas. Apreciou as informações a respeito da
casa nova, recém construída, e do grande lote de terras,
colocados à disposição, e comentou: - “Quem sabe, com a
ajuda de um ou dois peões, consigo implantar uma lavoura,
criar galinhas, patos e porcos e ter a minha vaca!”.
O jovem pastor explicou que a descrição da
Comunidade era bem convidativa, mas solicitava apenas
alguns dias ou, no máximo, duas semanas para resolver
alguns problemas pessoais, sendo o principal, o seu
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casamento, pois que era noivo de uma jovem de Santa Cruz
do Sul que ele conhecera recentemente.
Carlos Frederico Voges Sobrinho colocou uma mão
no ombro do pastor e sugeriu – “Case então em nossa
igreja de Três Forquilhas para selar de modo definitivo o seu
vínculo com a nossa gente”.
O pastor prazerosamente respondeu: - “Da minha
parte, a minha união matrimonial pode ser realizada em
Três Forquilhas, para marcar com força o início do meu
trabalho. Creio que a minha noiva não fará objeções e
quanto aos familiares dela e, afinal, as poucas pessoas que
convidaríamos bem podem viajar até lá, para nos
concederem apoio, na construção de nosso novo lar
pastoral. E caso isso venha a acontecer quero desde já
convidá-lo para que seja o meu padrinho de casamento,
uma vez que não tenho nenhum parente próximo aqui no
Brasil”.
O retorno da comissão foi marcado pela satisfação
por conta dessa notícia tão alentadora, que eles estavam
trazendo para todo o povo da Colônia de Três Forquilhas.
A chegada do pastor Geisler
Em pleno mês de outono, no tempo tão precioso da
natureza, quando as árvores frutíferas oferecem os seus
frutos saborosos, para todos, sejam os que as cultivaram,
ou sejam aqueles que as conseguem adquirir.
Veloz correu a notícia através de toda a Colônia: - “O
pastor novo chegou!”.
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Pessoas curiosas e residentes nas proximidades da
nova casa pastoral, velhos, jovens e mulheres
acompanhadas com seus filhos, saíam a passear pela
estrada, ao anoitecer. Desejavam ver, nem que fosse
apenas de longe a figura desse novo guia e cura d’almas.
O pastor ficou envolvido com a organização da casa
pastoral e com atividades para estabelecer nos fundos da
morada, um cercado para o seu cavalo e para uma futura
vaquinha que ele desejava adquirir. Ele recebeu o auxílio de
alguns peões que major Voges lhe cedera, homens
prestimosos e competentes, para esse tipo de trabalho. O
pastor decidiu preparar também um galinheiro, um cercado
onde as galinhas tivessem um bom espaço para ciscar na
grama. Os peões o demoveram de instalar um chiqueiro,
alertando que haveria um mau cheiro que não seria
agradável para uma casa pastoral.
Geisler decidiu que tudo deveria estar pronto, limpo
e bem organizado para o dia da chegada de sua noiva, dos
familiares dela e de alguns poucos convidados que se
dispuseram enfrentar tão difícil viagem.
Major Voges, no dia da chegada do pastor já avisara:
- “Enquanto o nosso novo pastor não estiver casado, fará
todas as refeições em minha casa, pois são apenas
duzentos metros de caminhada”.
O novo pastor procurou aproveitar bem todos os
momentos que lhe eram concedidos, em particular quando
podia estar em torno da mesa com Major Voges e Bina
Rosina, um momento propício para escutar ou para falar
com o casal que lhe dedicava tão cordial hospitalidade.
Geisler era uma pessoa calma e tranquila, seguro em
suas palavras e reconhecido pelas suas qualidades de
orador e de professor. Major Voges, observando o novo
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pastor, segredava para Bina Rosina: - “Esse pastor é a
pessoa certa para a situação que aqui enfrentamos, em
nossa Comunidade e na nossa Colônia. Ele sabe ouvir e
quando fala, nota-se que é inteligente e experiente.
Constato que ele dá valor para as pessoas desde as mais
simples e até para as idéias mais estranhas. Ele se entende
com os meus peões rudes. Fico satisfeito de poder ver como
ele aceitou os conselhos de peões, para fazer as instalações,
galpões e galinheiro, nos fundos da casa pastoral.
Uma pessoa que domina três línguas, o alemão, o
português e o inglês, pois que estudou teologia nos Estados
Unidos da América do Norte, deve ser muito culto. Porém o
que nos convém é que ele é também muito acessível, seja
para o preto ou o branco, seja para o pobre ou o rico, seja
para o filho desta terra, os descendente de alemães.
FIGURA 15: Pastor Gustav Geisler atuou em Curitiba,
Ponta Grossa, Argentina, Três Forquilhas, Montenegro e Monte Alverne. Faleceu em 22.10.1925, em Joinville-SC, onde foi sepultado.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
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Reunião com os líderes da Comunidade
Um dos momentos mais aguardados pelas lideranças
da Colônia de Três Forquilhas foi a anunciada primeira
reunião com o novo pastor. Enorme curiosidade tomou
conta de todos. Além dos líderes da Comunidade também
ali haviam comparecido curiosos, que permaneceram
sentados nos bancos do fundo do templo.
Os curiosos estavam ali presentes para ver e ouvir o
novo pastor, mesmo de longe. Haviam tomado
conhecimento que o primeiro culto, poderia demorar dois ou
três meses, tempo que o novo pastor necessitaria para
retornar ao vale do rio dos Sinos e tomar providências para
a sua mudança, que haveria de ser acompanhada por uma
pequena comitiva. Além da noiva o acompanhariam os
familiares dela, convidados e o pastor Wilhelm Mühlinghaus,
pároco de Montenegro – RS., convidado para celebrar a
benção matrimonial. O casamento, portanto, já estava
marcado para o dia 25 de junho de 1892, a ser realizado no
templo da Colônia de Três Forquilhas.
Major Voges iniciou a reunião, solicitando: - “O novo
pastor nos dirija numa prece de invocação a Deus!”.
Feita a oração pelo pastor, o major explicou: -
“Agora já ouvimos a voz do nosso novo pastor... Assim eu o
considero apresentado aos líderes de nossa comunidade,
muitos dos quais já tiveram a oportunidade de conversar
com ele em outros momentos. Peço que agora o pastor vos
fale um pouco sobre a sua origem, os seus estudos e sobre
a sua vinda ao Brasil e das comunidades de nossa igreja,
onde ele chegou a trabalhar”.
Pastor Geisler fez uma apresentação resumida
dedicando maior tempo para falar sobre a sua experiência
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em Curitiba, na Província do Paraná e da sua estada na
Argentina. O pastor falou sobre as suas expectativas e
finalizou dizendo: - “Declaro que me tornei um admirador
do vosso já idoso pastor Carlos Leopoldo Voges que neste
momento deve estar aqui bem perto de nós, recolhido à sua
casa, a talvez dez ou quinze metros do ponto onde eu estou
parado. Entendi muito bem quando o filho dele, o Adolfo
Felipe se desculpou explicando que o pai não aguentaria
uma reunião demorada e certamente também não aceitaria
a minha presença, para ser seu sucessor. Afinal, ele com
seus noventa anos de idade, e com, em torno de sessenta
anos de dedicação ao pastorado de Três Forquilhas tem, a
meu ver, todo o direito de se comportar deste modo. Quero,
pois dedicar a ele todo o respeito que a ele devemos, bem
como a minha grande admiração. Conforme os relatos de
Adolfo Felipe, o valor e a dedicação de pastor Voges são
inegáveis. Nesta hora quero citar um texto de Eclesiastes,
para reconhecer que tudo debaixo do céu tem o seu tempo
definido. Essa constatação me levou à decisão de permitir
que o pastor Voges, caso algum membro ainda queira
receber os seus serviços e se ele considerar em condições
de realizá-lo, que ele faça batismos, casamentos ou
enterros. Haverei de me manter bastante discreto, à
margem por entender de que é meu dever de zelar pela
consideração e pelo carinho que devemos ao vosso
verdadeiro patriarca espiritual”.
Os líderes reunidos exclamaram: - “Vivaaaa, pastor
Voges”!
Finalmente Geisler explicou que, a princípio, ele não
desejava fazer nenhuma modificação na vida e nos
costumes da Comunidade. Desejava ouvir e ver, conhecer e
saber, para somente depois estabelecer medidas previstas
no Estatuto do Sínodo Riograndense.
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Antes do término da reunião o major Voges retomou
a palavra agradecendo ao pastor e às lideranças pela boa
vontade e disposição demonstrada, ao conceder colaboração
no propósito comum, de dar continuidade ao trabalho
pastoral na Comunidade.
Todos voltaram aos seus lares demonstrando
satisfação, contentes com o modo de falar e de agir do novo
pastor. Igualmente expressaram alívio, de poderem contar
com a presença de um sucessor para o idoso pastor Voges.
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MAJOR VOGES CONDUZ A TRANSIÇÂO
Nas semanas após a viagem do novo pastor rumo a
São Leopoldo, para ultimar sua mudança, o Major Voges,
que ocupava a função de Vorsteher – dirigente da
Comunidade - aproveitou para fazer reuniões com
lideranças comunitárias. Vinham pessoas das mais
diferentes famílias, de quase todas as casas da Colônia.
Esse procedimento foi muito importante, pois serviu para
deixar a Comunidade bastante receptiva para as ações
administrativas que se fariam necessárias, assim que o
pastor assumisse o cargo. Ele teria que propor medidas
imediatas para atender as inúmeras exigências feitas pelos
dirigentes do Sínodo Riograndense, para tornar real o
vínculo eclesiástico estabelecido, por ora apenas no papel.
Na primeira reunião Major Voges apenas relembrou
um pouco sobre a história da Comunidade. Na reunião
seguinte, anunciou que falaria a respeito dos
acontecimentos que conduziram ao entendimento comum,
de que, o plano de transição no pastorado era urgente e a
busca pelo sucessor para o seu pai pastor teve que ser
agilizada, em caráter de urgência.
Nesta segunda reunião, Major Voges, iniciou fazendo
uma avaliação do trabalho pastoral desempenhado por seu
pai. Recordou a situação vivida desde 1890, explicando: -
“O meu pai deu mostras de não mais ter a força física
necessária para conduzir um culto ou para oficiar um
casamento ou um batismo. Ele não aguenta mais ficar em
pé por muito tempo e passou a solicitar a minha ajuda e a
do maestro Wilhelm Tietböhl para auxiliá-lo na realização de
serviços. Todos vocês acompanharam esse nosso drama e
dificuldade. Por isso passamos a preocupar-nos seriamente
com a sucessão pastoral, por causa da idade avançada do
meu pai. Ficou evidente que o pastor passou a enfrentar
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também muitas dificuldades para fazer uma simples
prédica. Ele passou a fazer uso de compêndios de
meditações e de sermões9 que ele um dia conseguiu
adquirir, junto ao Sínodo Riograndense e que ele agora
simplesmente passa a ler, na hora do sermão. Todos nós
certamente nos recordamos como o meu pai passou a pular
algumas páginas e continuar lendo em algum outro ponto
qualquer quando o sermão ali impresso era muito longo. Ele
precisou apoiar-se em material já elaborado e passou a
realizar simples cultos de leitura, algo que qualquer um de
nós também poderia fazer, com uma leitura talvez bem
melhor que a dele. Fiquei constrangido para reclamar,
quando notei que ele não tinha mais condições para
transmitir idéias próprias mais extensas ou aprofundadas, a
respeito de qualquer tema bíblico. Meu pai agora está
assim, depois de meia dúzia de frases, já não lembra direito
o que ele desejava falar. Não consegue mais apresentar
uma pregação coerente. Por isso é tão necessário que o
novo pastor assuma logo este pastorado...”.
Peter Feck ficou espantado com a revelação e disse:
- “Eu não havia notado esse detalhe, que o pastor Voges
passou a ler as suas prédicas...”.
Todos os presentes riram, pois bem notavam que o
Peter Feck não aguentava ficar sentado no templo, quieto,
para escutar um sermão. Ele além de vir poucas vezes aos
cultos, quando vinha não demorava sentado em seu banco.
Em dado momento simplesmente levantava, saía até o lado
de fora para enrolar um palheiro e fumar um pouco.
Certamente ele era como alguns frequentadores dos cultos,
que jamais notaram esse detalhe, que pastor Voges passara
a ler o seu sermão e que ele passara a pular páginas, ora
aqui e ora ali, para logo terminar a sua fala.
Major Voges continuou explicando: - “Tínhamos
também membros mais atentos, em nossa Comunidade que
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viram essas dificuldades do meu pai como essa de não mais
conseguir realizar um simples sermão. Talvez por causa
disso muitos de vocês passaram a se alertar mutuamente,
dizendo: < Nosso pastor está ficando caduco >. Mas bem
sabemos que ele não está caduco e todos sempre o
respeitamos muito. Ele é quase venerado pelo nosso povo
da Colônia de Três Forquilhas, pois todos ouviram seus pais
contando como ele, no passado, os conduziu de modo tão
incansável e com tanto devotamento, até essa idade
avançada”.
Major Voges fez uma pequena pausa e logo
continuou explicando: - “O Sínodo Riograndense, acatou o
nosso apelo depois de eu mesmo ter ido lá uma vez e,
depois da ida de nossa Comissão, em duas outras
oportunidades. Os dirigentes do Sínodo felizmente nos
atenderam e nos concederam o envio do pastor Gustav
Geisler, para ser o sucessor do meu pai. Posso lhes afiançar
que a escolha do pastor Geisler foi muito acertada, pois na
conversa com ele, durante as refeições em minha casa, eu e
Bina Rosina, meus filhos e cunhados, todos nós
constatamos que ele é um pastor altamente qualificado. É
um pastor experiente e se revela na altura de dar conta
dessa difícil tarefa. Ele conhece bem a realidade brasileira,
pois chega aqui depois de uma larga experiência no trato
com os delicados problemas vividos pelos alemães russos
do Volga que foram barrados de se estabelecerem no
Paraná, em particular, no relacionamento com as
autoridades brasileiras. Ele vivenciou a passagem do
Império para a República. Ele sabe de tudo a respeito das
renovadas promessas do Governo da nossa República, de
conceder uma maior liberdade de culto e um maior espaço
para o povo protestante para a participação efetiva na vida
pública, algo que ainda precisa ser melhorado muito mais,
para podermos nos sentir integrados como plenos cidadãos
da Pátria Brasileira...”.
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Major Voges fez outra pausa e depois continuou: -
“Certamente por eu ser filho do velho pastor, que recebi a
difícil tarefa de ajudar o novo pastor, particularmente no
sentido de ser abrandado o impacto que a presença
estranha causará ao espírito do meu pai nonagenário.
Sabemos que o Pastor Geisler aqui chega com a missão de
normalizar a situação da nossa Comunidade, para um pleno
vínculo com o Sínodo Riograndense. De acordo com a minha
opinião ele mostrou sua competência, pois procurou não
interferir nas atividades e na vida do meu pai. Deixou que o
mesmo continuasse ainda oficiando eventuais batismos ou
casamentos que lhe fossem solicitados, mesmo depois de o
novo pastor tomar posse no cargo e tiver assumido a total
responsabilidade pelo serviço pastoral em nossa
Comunidade”.
Antes de finalizar a reunião, Major Voges convidou
todos os presentes para o acompanharem a nova casa
pastoral e explicou: - “Gostaria que todos pudessem ver a
casa agora, antes da entrada do novo pastor. Haverão de
constatar que a casa do pastor comporta uma boa sala,
uma cozinha, dois dormitórios e uma pequena despensa. O
sótão também é aproveitável apresentando um quarto único
e bastante espaçoso, onde colocamos uma meia dúzia de
camas, para eventuais visitas que o pastor com certeza
receberá, para aqui realizar o seu casamento, em nosso
templo. Porém explico que a escola da Comunidade ainda
permanece sediada no piso superior do sobrado de meu pai.
O professor Serafim aqui presente, que, conforme todos nós
sabemos, já é aposentado pelo Estado, porém se dispôs a
continuar lecionando em nossa Escola da Comunidade,
enquanto as suas forças físicas e mentais o permitirem”.
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FIGURA 16: Nova casa Pastoral construída em 1892.
A mesma foi ampliada em 1912 com a construção de salas de aula. Fonte: Gravura do autor
Professor Serafim levantou-se e acrescentou: - “Não
só estarei lecionando enquanto as minhas forças físicas e
mentais o permitirem. Tenho mais medo é das mudanças
políticas que estão sendo desenhadas no horizonte, as quais
poderão deixar alguns de nós jogados de lado... Já constato
de que até aqui, na Colônia, surgem adversários que
querem me ver fora da Escola por eu não me dispor a
compactuar com certos planos e idéias que querem impor
sobre nosso povo riograndense... Eu sou contra toda a
forma de ditadura... Vivaaa a liberdade!”.
Algumas vozes discordantes foram ouvidas vindas de
castilhistas locais, que não suportavam a forte influência
que professor Nascimento exercia junto com a maioria dos
seus ex-alunos, que o admiravam.
Major Voges apressou-se em cortar o assunto, para
evitar o surgimento de alguma discussão mais acirrada.
O major convidou: - “Vamos agora ver a nova casa
pastoral, principalmente para vê-la como ela é por dentro.
Afinal esse é um presente que estamos dando ao Sínodo,
para selar o nosso vínculo eclesiástico. Eles receberão um
terreno e uma casa, exclusivos, para servir de morada para
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o pastor, mais o templo que agora também será
propriedade do Sínodo Riograndense”.
Uma voz ecoou: - “Estão entregando o nosso templo
para gente que não sabemos nem quem eles são!”.
Major Voges tentou ver quem assim reclamava e foi
logo explicando: - “Não estaremos perdendo nada, pois nós
somos ligados à nossa Igreja e como tal, também nós
estamos sendo integrados ao Sínodo, pertencendo a ele de
agora em diante. Porém, em contrapartida eles sempre
estarão zelando para termos assistência eclesiástica, para
nós, para nossos filhos e netos, enquanto aqui existir uma
Comunidade Luterana”.
Fêz-se silêncio, apenas se ouviam as passadas de
todos saindo do templo para buscar a estrada para a
caminhada a nova casa pastoral, que ficava a duzentos
metros dali.
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PASTOR GEISLER ASSUME O CARGO
Os meses de espera pela vinda definitiva de Pastor
Geisler foram repletos de expectativas. A Comunidade ficou
muito bem motivada pelo Major Voges para receber o
pastor com a sua noiva e familiares e, alguns convidados
que viriam para o casamento.
Essa motivação dera tão bons resultados que a
curiosidade se tornara generalizada, em todos os recantos
da Colônia.
Quando o inverno começou a mostrar a sua cara e o
frio minuano soprava intensamente, a Colônia foi
surpreendida com a chegada de uma comitiva de gente
estranha, tendo à frente uma carroça jamais vista, muito
leve, com um toldo armado e puxada por quatro cavalos
pretos. Nela vinham, no banco da frente os dois pastores
Geisler e Mühlinghaus, que eram amigos de longa data. No
banco de trás estavam acomodados a noiva com os seus
pais, todos muito bem agasalhados, procurando se proteger
do frio e do vento. Na parte traseira da carroça estavam
acondicionados muitos volumes, baús, caixas e malas,
certamente contendo roupas, livros teológicos do pastor e
algumas louças e talheres que a noiva já recebera de
presente para o casamento.
Seguindo a carroça vinham diversos cavaleiros
puxando cargueiros10 trazendo volumes muito bem
acondicionados e bem protegidos também trazendo
bagagens dos visitantes.
A comitiva seguiu direto até defronte a igreja da
Colônia de Três Forquilhas, porém não entraram nela.
Encostaram do outro lado da estrada, de onde se via a casa
do Major Voges.
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Dona Bina Rosina, já alertada para a chegada dessa
estranha comitiva, estava diante da casa, toda sorridente e
de braços abertos, saudando o pastor e seus
acompanhantes.
Entrando casa adentro lá já se via uma mesa posta
com uma panela de sopa fumegante no centro. Estava
decidido que todos fariam uma leve refeição para depois
seguirem aos seus destinos, previamente definidos. A noiva
com seus pais ficaria ali mesmo, hospedados na casa de
Major Voges e de Bina Rosina, até o dia do casamento.
Os dois pastores e alguns convidados foram a casa
pastoral, para ali se acomodarem e se sentirem em casa. E
o restante ao Sítio da Figueira, onde Carlos Frederico Voges
Sobrinho e Bininha Schmitt Voges os aguardavam, já com
os quartos de hóspedes prontos. Esse plano preestabelecido
funcionou perfeitamente.
Os dois pastores com alguns convidados já estavam
sendo aguardados por uma serviçal que Bina Rosina cedera
para o pastor Geisler, até que ele pudesse se casar e
organizar a sua vida doméstica. A despensa da casa
pastoral estava bem abastecida com gêneros alimentícios,
vendo-se baús, barricas e recipientes, onde Bina Rosina
mandara estocar arroz, feijão, farinha de trigo, fubá,
polvilho, farinha de mandioca, banha de porco, algumas
dúzias de ovos, tudo devidamente acondicionado para
aguentar muitas semanas.
No estábulo, num lado estava uma vaca leiteira com
o seu cocho, No outro lado do estábulo viam-se cocheiras
para cavalos e pasto, milho e forragem, acondicionados no
galpão anexo. No galinheiro se via uma galinha choca num
ninho chocando seus ovos e em outro ponto algumas
galinhas poedeiras, uns frangos e um galo vistoso. Esse
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galo já devia ter algumas funções importantes a cumprir e
uma delas seria de atuar como despertador do novo pastor.
Major Voges providenciara também um fogão para a
cozinha, duas mesas, uma para jantar e outra menor para
servir de escrivaninha do pastor. Viam-se cadeiras e
banquetas prontas para acomodar os visitantes cansados. E
nos quartos viam-se camas prontas com colchões de palha
e roupa de cama limpinha e cheirosa. O major e Bina Rosina
haviam pensado em todos os mínimos detalhes. Dois cachos
de banana maduros estavam pendurados na área dos
fundos, convidando para serem apreciados, não apenas com
os olhos, porém degustados.
Os dois pastores ficaram cada um, com um dos
quartos da casa, e, os visitantes subiram a escada do sótão
onde seis camas estavam enfileiradas.
Com o eficiente trabalho da serviçal os recém
chegados podiam sentir-se em casa. Bastava uma ordem do
pastor e a mulher os atendia, fosse com refeições, com
algum chá ou café quente e com a indicação do local para o
banho ou para outras necessidades.
Pastor Geisler virou-se para o seu colega
Mühlinghaus e comentou: - “Parece que eles se prepararam
para receber algum príncipe ou acompanhantes de uma
corte real”.
Chega o dia do casamento
O dia 25 de junho de 1892 amanheceu anunciando
frio constante, pois o céu estava nublado e, nada de o sol
mostrar o seu brilho e calor benfazejos. O minuano
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continuava soprando e as pessoas que tinham que sair de
casa, o faziam bem agasalhadas.
A noiva Alma Jaeger com seus apenas dezessete
anos de idade, acordou muito cedo, tomada pela tensão e
nervosismo. Os pais dela ainda estavam no quarto, debaixo
das cobertas quentinhas. Bina Rosina foi ao encontro da
moça e a abraçou longamente, dizendo: - “O dia tão
maravilhoso para a tua vida chegou finalmente. Venha até a
cozinha e tome um café ou chá quente...”.
Bina Rosina com toda a sua experiência cercou a
noiva com palavras de estímulo e de tranquilização do
espírito e o resultado logo se fez ver. Quando os pais
levantaram, encontraram a filha sorridente e tranquila.
Major Voges foi ao templo e deixou a porta aberta
para acolher os visitantes, assim que chegassem, para
estarem abrigados do vento frio. Os primeiros a chegar
foram os dois pastores, o noivo e o oficiante, seguidos por
integrantes da comitiva de convidados. Em seguida
chegaram Carlos Frederico Voges e esposa trazendo os
demais convidados dos noivos, vindos de São Leopoldo e
redondezas.
Também começaram a chegar muitas famílias
curiosas, da localidade, adultos e crianças, todos querendo
assistir esse casamento que prometia ser algo inédito. O
templo ficou logo lotado, todos esperando, pela noiva,
ansiosos.
A Banda de Música estava postada na entrada do
templo e passou a executar uma marcha nupcial quando da
entrada da noiva. Próximos ao altar estavam os integrantes
do coral da comunidade, também a postos para atender a
solicitação do oficiante para apresentarem seus cânticos,
especialmente escolhidos para essa ocasião.
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Pastor Mühlinghaus mostrava muita animação, com
essa oportunidade que ele recebera para oficiar o
casamento do amigo pastor Geisler, seu colega de estudos
teológicos, realizados nos Estados Unidos da América do
Norte.
A tocante alocução proferida pelo pastor Mühlinghaus
se baseou no texto de Rute 1,16-17: < Onde você for eu
irei; e onde você morar eu também morarei. O seu povo
será o meu povo, e o seu Deus será o meu Deus. Onde você
morrer, eu morrerei também e ali serei enterrada >.
A emoção tomou conta da noiva e seus pais.
Lágrimas suaves deslizaram pela face da jovem noiva que
ora olhava para o seu noivo e em seguida para os pais. O
que podia estar passando na mente dela?
O auge foi no momento da benção e troca de
alianças. Apenas alguns instrumentos da Banda de Música
sob a regência de Cristian Tietböehl executaram acordes
suaves de uma música de fundo. E, finalmente, a cerimônia
estava concluída.
Conforme todos já haviam tomado conhecimento,
não haveria festa, mas apenas uma recepção promovida
pela comunidade para os noivos, os familiares, os visitantes
e os padrinhos do casamento.
O padrinho do noivo era Carlos Frederico Voges
Sobrinho que orgulhoso e feliz se desdobrava em atenções
para com o novo casal. Lá também estava o jovem Gustavo
Jahn, de São João do Mundo Novo que a noiva escolhera
para ser sua testemunha de casamento.
Ao final da recepção, os noivos seguiram sozinhos
para a nova casa pastoral, para terem ali a sua noite de lua
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de mel. O pastor Mühlinghaus e seus acompanhantes já
haviam sido encaminhados, antecipadamente, para
pernoitarem em outras residências próximas. Os noivos
ficaram na mais perfeita privacidade, nem a serviçal ali
permaneceu.
Ela atendeu ao pedido dos noivos para que deixasse
um chazinho pronto na chaleira, e foi então para a casa de
sua patroa, dona Bina Rosina.
No dia seguinte, o pastor Mühlinghaus e demais
convidados já se puseram a caminho, de volta aos seus
lares.
Apenas sobrou o novo casal que agora precisava
encarar um enorme desafio, de desenvolver esse pastorado
e deixá-lo devidamente vinculado ao Sínodo Riograndense.
Um pastor comunicativo
O casal Gustav e Alma Geisler iniciaram um ótimo
relacionamento com toda a Comunidade. Eles passaram a
ser convidados pelas famílias para fazerem suas refeições
na casa de um e de outro. Eram lembrados para as
festinhas de aniversário.
Os cultos tornaram-se cada vez mais concorridos e o
templo passou a ficar lotado.
O pastor pelo fato de ser poliglota tinha facilitada a
sua comunicação. Quando apareciam jovens desejando
casar, porém não dominavam a língua alemã, ele aceitava
realizar ofícios no estilo bilíngues, como o pastor Voges
também viera fazendo há muitos anos.
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A epidemia assusta
A Colônia de Três Forquilhas passou a ser assolada
por duas epidemias ao mesmo tempo, a cólera que eles
denominavam de rote Ruhr, ou câimbra de sangue e o tifo.
O que a princípio pareciam ser alguns casos isolados, de um
momento para outro se alastrou e agravou, com famílias
inteiras infectadas.
Os moradores não contavam com adequada
assistência médica, apenas contavam com homeopatas,
xaropeiros e curandeiros.
A esposa do pastor entrou em pânico11, quando
soube da amplitude da epidemia, com alguns casos bem
próximos à casa pastoral. Ela passou a negar convites para
almoçar nas residências de vizinhos. Ela se enclausurou na
casa pastoral e raramente podia ser vista. Nem queria
acompanhar o marido para participar dos cultos dominicais.
Quando o marido retornava de alguma visita a
enfermos ou após a realização de sepultamentos, a mulher
ordenava ao marido que fosse direto pelos fundos à casa de
banhos. Lá ela deixava sabão e roupa limpa, para que o
pastor se banhasse e trocasse de roupa, para somente
então entrar na casa.
O pastor constatou que a esposa entrara num surto
de medo exagerado. Por isso, não viu outra alternativa do
que fazer contato por carta com o seu amigo pastor
Mühlinhaus, atuante em Montenegro. O pastor Mühlinghaus
sugeriu uma imediata transferência do casal e concedeu
informações bastante animadoras, comunicando que ele
estava em vias de transferência para outra Comunidade e
que Montenegro ficaria disponível para recebê-los. Lembrou,
porém que havia um pequeno entrave, pois ao levar a
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questão aos dirigentes do Sínodo Riograndense, os mesmos
não quiseram examinar o assunto. Eles eram de parecer
que uma saída tão precoce não era aceitável, pois isso viria
atrasar todo o trabalho em andamento para concluir os
passos necessários para o vínculo da Comunidade de Três
Forquilhas com o Sínodo.
Bina Rosina conforta Fraupfarrer
No dia em que a Fraupfarrer12 Geisler ouviu do
marido as informações enviadas por Mühlinghaus, em nova
correspondência, ela foi acometida de fortes crises de
choro. Na carta dizia claramente que uma transferência
precoce era considerada como inaceitável.
A mulher em choro dizia: - “Preciso da minha
mãe...”.
Geisler não sabendo mais o que dizer e o que fazer
diante das constantes crises de choro da esposa, decidiu
levá-la a casa de Adolfo Felipe e Bina Rosina Voges.
Na chegada a jovem senhora começou a soluçar e
em seguida caiu num pranto contínuo. Bina Rosina tomou-a
delicadamente pelo braço e a conduziu até a cozinha onde
então a envolveu num demorado abraço.
Bina falou: - “Minha querida filha, vamos nos sentar
aqui e conversar, pois eu acredito que para tudo existe uma
solução. Eu não te deixarei desamparada e me empenharei
para que possas ser ajudada...”.
Enquanto isso o pastor permaneceu na sala,
detalhando para Adolfo Felipe a situação da esposa e as
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correspondências mantidas com o colega pastor
Mühlinghaus.
Na cozinha a tranquilidade passou a ficar desenhada
no rosto da jovem Fraupfarrer. Ela passou então a
desabafar, contando todos os seus temores com a
epidemia, e, a vontade de mudar de residência para mais
perto da mãe e dos demais familiares.
Bina Rosina declarou: - “Prometo que eu e meu
marido iremos nos empenhar em favor de sua causa, pois o
seu marido terá grandes dificuldades para tratar esse
assunto com o povo da nossa Comunidade”.
Pastor Geisler quando viu sua esposa retornando
para a sala, agora já mais calma e com um pálido sorriso
que procurava aflorar em seu rosto, perguntou: - “Que
milagre é este? O que a dona Bina Rosina tem que eu não
tenha, para dizer ou para te confortar com a Palavra de
Deus?”.
Bina Rosina colocou as mãos nos quadris do jeito que
a mãe dela costumava fazer quando estava muito satisfeita
ou muito brava. Com um grande sorriso explicou: - “O
milagre leva o nome de amor de uma mãe! Isso você talvez
não tenha, pois são poucos os homens que aceitam ser
como uma mãe... Homem quer mostrar o quanto ele é
forte, e no máximo sabe expressar um pouco de amor
paterno. Mas tantos nem isso sabem conceder à família”.
O pastor enrubesceu diante da franqueza de Bina
Rosina, porém num gesto humilde veio e beijou-lhe a mão,
apenas dizendo: - “Muito obrigado!”.
Major Voges abraçou a esposa e declarou: - “Nós
dois iremos nos interessar pela situação da nossa jovem
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Fraupfarrer e esperamos que todas as aflições dela possam
cessar”.
O casal Geisler retornou à casa pastoral com o
espírito tranquilo e em paz, cheios de confiança e
alimentando a esperança por uma luz no fim do túnel. O
pastor Geisler murmurou: - “Querida Alma, vejo que Deus
escutou as minhas preces e sei que Ele nos ajudará para
sairmos dessa situação aflitiva!”.
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101
O VELHO PASTOR TEM A SOLUÇÃO
Adolfo e Bina Rosina Voges seguiram para a antiga
casa pastoral. Eles encontraram o velho pastor Voges, sua
esposa dona Elisabetha e mais Mãe Maria, todos sentados,
como nos tempos antigos, à sombra do frondoso e
centenário pé de cedro.
Quantas lembranças agradáveis para Adolfo Felipe
que, na infância, ali brincava e corria. Recordou em seguida
de sua vida adulta quando nesse local a família costumava
se reunir, ao entardecer, para escutar os conselhos do
pastor Voges e de dona Elisabetha ou para escutar as
histórias que Mãe Maria e Pai Vicente tinham para contar.
Adolfo Felipe pediu licença e juntamente com Bina
Rosina uniram-se ao círculo familiar. O netinho Alberto
Schmitt, vendo a chegada do avô, veio correndo e pediu
colo.
Pastor Voges revelou curiosidade com a chegada do
filho e quis saber: - “O que te traz à casa do pai e da
mãe?”.
Adolfo Felipe respondeu com outra pergunta: -
“Como vão a saúde e a força do meu pai e de minha mãe?
Como vai a força e a saúde da nossa Mãe Maria?”.
A negra sorriu e comentou: - “Esse vem com alguma
pulga nas calças. Fale de vez o seu problema ou se for
segredo me faz um sinal que saio de sorrateira”.
Adolfo Felipe pediu: - “Fique conosco Mãe Maria que
o assunto interessa a todos...”. Ele puxou sua cadeira e se
aproximou ainda mais do pai e falou: - “O nosso novo
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102
pastor está com um delicado e difícil problema doméstico,
que afeta a vida e o trabalho dele”.
Pastor Voges e dona Elisabetha com certa lentidão,
mas em uníssono reclamaram: - “Fale, filho!”.
Adolfo Felipe sorriu diante dessas palavras em
uníssono e relatou a respeito da visita que eles haviam
recebido, do pastor e de Fraupfarrer, pedindo ajuda para a
solução do difícil problema que essa jovem mulher
enfrentava.
Bina Rosina acrescentou: - “Prometi a essa jovem
mulher que nós a ajudaríamos a sair desse sofrimento. Ela
deseja ficar mais próximo da mãe e dos familiares. Além
disso, ela está morrendo de medo por causa das mortes
causadas pelo surto de cólera que se alastra pela Colônia”.
Pastor Voges explicou: - “Bina, você fez bem ao
tranquilizá-la”.
Dona Elisabetha em tom maternal à semelhança de
Bina Rosina opinou: - “Também concordo que precisamos
acolher o anseio dessa criança que necessita do colo da
mãe. Ela precisa receber a nossa permissão, para poder
voltar para casa e para novamente estar perto da mãe, que
a colocou no mundo”.
- “Mas o que nós podemos fazer, concretamente?”. -
Quis saber Adolfo Felipe.
O pastor olhou demoradamente o filho e orientou:
- “Procurem esse pastor e sua mulher e lhes concedam a
autorização para que retornem à casa dos pais dela. Esse
homem está enfrentando um grande dilema de escolher
entre o bem estar de sua esposa e o serviço em nossa
Comunidade. É claro que devemos orientar o pastor e dizer-
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103
lhe de que ele deve cuidar bem da mulher dele. Primeiro a
família e depois vem a Comunidade. Sempre preguei que
isso é do plano de Deus para as famílias cristãs”.
- “E a nossa Comunidade?”. Perguntaram Adolfo
Felipe e Bina Rosina. – “As pessoas da Comunidade nos
cobrarão isso?”.
Pastor Voges fez novamente um tempo de silêncio e
todos ficaram olhando para ele. O que ele, já com seus
noventa e um anos de idade ainda poderia aconselhar,
numa situação destas?
E, o pastor voltou a falar: - “Eu já passei dos
noventa anos de idade e nem eu e nem Elisabetha fazemos
grandes planos para o nosso futuro. Por isso não tememos
mais essa epidemia e poderemos receber aqui em casa as
famílias que necessitarem de conforto espiritual e de
assistência pastoral”.
Novamente parou de falar e depois continuou: - “Eu
posso assumir de novo a nossa Comunidade e assim liberar
esse novo pastor, para que ele cuide bem de sua mulher e
não permita que ela venha a definhar e morrer em nosso
meio. Esse tipo de sacrifício não fará bem nem para ele e
nem para nós”.
O pastor olhou demoradamente para cada um dos
presentes e explicou: - “Essa mulher, pelo que me
contaram, está com apenas dezessete anos de idade. Isso é
motivo suficiente para que vocês a autorizem para que viaje
em companhia do marido para ficar junto dos familiares
dela. Digam para ela que quando a epidemia tiver passado,
ela poderá retornar para cá... Digam apenas isso, também
para o nosso novo pastor... Digam a ele que poderão voltar
logo assim que a epidemia estiver debelada...”.
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104
Elisabetha, Bina Rosina e Mãe Maria fizeram sinais
afirmativos com a cabeça, concordando com o velho pastor.
Diante disso Adolfo Felipe e Bina Rosina se
encaminharam até a nova casa pastoral levando ao casal
Geisler a solução que o velho pastor sugerira.
Geisler e esposa se abraçaram fortemente e lágrimas
correram livremente pela face dessa mulher tão jovem e
que vivia tão assustada, em meio a um povo e uma região
tão diferente da sua. Ela talvez nem lembrasse mais do
lema bíblico que o pastor Mühlinghaus escolhera para eles,
por ocasião da benção matrimonial. E se ela recordava não
estava mais disposta de seguir um lema que a poderia
prender ao local onde o marido assumira o pastorado.
A saída precoce do novo pastor
Adolfo Felipe Voges convocou uma reunião das
lideranças da Comunidade com o assunto único de tratar da
situação vivida pelo casal Geisler e para comunicar-lhes
sobre a solução que o velho pastor sugerira.
Inicialmente major Voges explanou a respeito de
contatos que o pastor Geisler havia estabelecido por conta
própria com o seu colega Mühlinghaus, de Montenegro. Em
correspondência este comunicara que o Sínodo não aceitara
nem examinar essa solicitação de uma transferência
precoce e, portanto não havia nenhuma perspectiva de ser
designado um sucessor imediato, caso Geisler viesse a sair
de Três Forquilhas.
O primeiro a se pronunciar foi o escrivão Christovam
Schmitt que alertou: - “O que será da nossa Comunidade?
Ficaremos no abandono, sem podermos mais contar com
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uma assistência pastoral, logo agora que estamos
concluindo as medidas que firmam o nosso vínculo com o
Sínodo Riograndense?”.
Major Voges explicou: - “Eu e Bina Rosina fomos à
casa dos meus pais e com eles levantamos essa mesma
pergunta. O meu pai foi categórico em dizer que não
precisamos nos considerar em estado de abandono, pois ele
se coloca à disposição para receber em sua casa os
familiares enlutados e toda e qualquer pessoa que tiver
necessidade de consolo e orientação. Eu contrapus de
imediato que a idade avançada dele, era uma dificuldade
quase insuperável. E o meu pai recomendou que professor
Tietböhl e eu o amparássemos em meio à debilidade física
ou que viéssemos a assumir serviços tais como
sepultamentos, batismos de emergência ou de casamentos
agendados pelo civil...”.
Professor Christian Tietböhl ali presente interveio: -
“Eu, da minha parte, sempre me coloquei ao lado do nosso
velho pastor e o amparei e ajudei, quando necessário. Se
for para dar uma benção para noivos que vierem casar pelo
civil ou se for para conduzir um sepultamento, eu aceito a
tarefa, mas é claro, em parceria com o meu amigo Major
Voges. Todos já puderam ver como nós dois formamos uma
boa dupla de ajudantes pastorais, pelos serviços que
tivemos que dar conta, antes de o pastor Geisler aparecer
aqui”.
O escrivão, no entanto não se deu por satisfeito e
reclamou: - “A minha esposa também morre de medo da
possibilidade de a epidemia ser capaz de invadir o nosso lar
e acometer alguém de nós. Não quero pensar que pessoas
enlutadas e talvez doentes e infectadas irão entrar na casa
pastoral onde tenho o meu cartório e onde moro com a
minha família, para ali pedirem por assistência e orientação
pastoral...”.
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Major Voges encarou o genro com um olhar bastante
enérgico e ordenou: -“Então mude hoje mesmo o seu
cartório e sua morada para a minha casa para estar livre do
contato com as pessoas que vierem em busca do meu pai e
de palavras de orientação e consolo em meio ao luto, dor ou
medo da morte. Realmente aquela casa poderá vir a
parecer um sanatório pastoral e espiritual, pois fatalmente
muitas pessoas, mesmo algumas contaminadas pela cólera,
haverão de aparecer lá. Além disso, o nosso velho pastor e
a professora mantêm esse antigo costume de não permitir
que alguém vá embora sem antes sentar em torno da mesa
para um café com mistura. Acredito que foi o próprio pastor
que introduziu esse costume em nossa casa e o mostrou
para os moradores de toda a Colônia que agora também o
imitam.
O escrivão sentou-se em silêncio, mas enrubescido,
pois a reprimenda do sogro fora muito enérgica e dita
diante de todos.
Major Voges continuou: - “Fica a impressão, ou estou
errado, que nós só sabemos nos preocupar conosco e com
as nossas dificuldades. O meu pai foi muito enfático em
dizer que não podemos ficar pensando apenas em nós, mas
que precisamos pensar no pastor Geisler e na sua esposa
que está definhando, com crises de choro e saudades da
mãe. Trata-se de uma mulher muito jovem e façamos de
conta que é a nossa filha que ali está. O que vocês
recomendariam se ali estivesse a vossa filha?”.
Ninguém mais pediu a palavra e o silêncio tomou
conta do recinto.
Então o major continuou falando: - “O que interessa
nessa reunião é de tomarmos uma decisão a respeito da
situação vivida pela nossa jovem Fraupfarrer. Será ela
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consumida lentamente, sem que façamos alguma coisa para
oferecer uma solução adequada para tal situação? Ela já
perdeu peso e em pouco tempo ficará tão frágil e debilitada
que poderá apagar sem se tornar vítima de cólera ou tifo. O
que vamos dizer ao pastor Geisler, pois ele está na difícil
situação de escolher em ficar conosco e nos assistir
pastoralmente ou de se colocar ao lado da esposa e
conduzi-la de retorno, para colocá-la na proximidade da
mãe e dos familiares?”.
Agora novamente o professor Tietböhl se levantou e
falou: - “Também tenho observado que essa mulher, a
nossa Fraupfarrer, está definhando, tomada pela tristeza.
Não sei se constataram que ela não tem mais saído do
confinamento voluntário que ela assumiu dentro da casa
pastoral. Ela não mais tem aceitado convites para almoço
em casa de membros da nossa Igreja e o casal tem
recusado a participação em nossas festinhas familiares de
comemoração de aniversários e de casamentos. Estou de
acordo com a solução apontada pelo nosso velho pastor de
autorizar que o pastor Geisler viaje a São Leopoldo e leve a
sua jovem mulher para fora dessa situação em que nos
debatemos. Para a nossa Comunidade podemos dizer que o
pastor Geisler voltará assim que a epidemia tiver passado,
pois que a mulher dele está muito fragilizada. Mas alerto
que nisso temos que ter muito tato, para não criarmos entre
nosso povo um estado de pânico geral por causa do mal que
veio nos assolar de repente”.
Major Voges agradeceu e retomou a palavra: -
“Estamos agora indo na direção correta e levando em conta
o lado humano do problema e não apenas o nosso
interesse. Caso para o casal Geisler for possível e a jovem
mulher tiver vencido o estado de pânico e crises de choro,
eles poderão voltar a Três Forquilhas e serão acolhidos de
braços abertos. A nova casa pastoral permanecerá aqui toda
montada e preparada para quem tiver que morar nela, pois
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os meus serviçais estarão ali todos os dias para cuidar de
tudo que o pastor tiver que deixar para trás. A vaca dele, eu
a colocarei no meu estábulo e as galinhas, frangos e
pintinhos podem ser acolhidos por algum vizinho que tiver
lugar para eles em seu terreiro”.
As lideranças reunidas não sabiam que pastor Geisler
estava no lado de fora do templo aguardando para ser
convidado a participar da reunião. Diante do resultado da
reunião, mesmo que houvesse uma imposição das medidas
sugeridas, major Voges solicitou a presença do novo pastor
e falou a ele diante de todos: - “Pastor Geisler, o senhor
deve ter ouvido de onde se encontrava os debates e
palavras que aqui foram pronunciadas. Sabe então da nossa
decisão, de o liberarmos para que viaje com a esposa para
São Leopoldo e que tenha a total liberdade de se organizar,
pois terá que prover o seu sustento, com algum trabalho,
seja como professor, como pastor, ou seja, como for
possível. O senhor poderá retornar a Três Forquilhas logo
que constatarmos e pudermos lhe garantir de que a
epidemia passou e que esse mal foi superado”.
Pastor Geisler mostrou-se emocionado e com a voz
um pouco embargada falou: - “Os senhores não imaginam o
quanto de gratidão vai em meu coração, diante da vossa
atitude humana e compreensiva. Porém preciso ser sincero,
ser honesto com os senhores que representam a liderança
da nossa Igreja que aqui existe. Preciso dizer com clareza
que quando um pastor sai de um lugar do modo como
estamos saindo, minha esposa e eu, dificilmente haverá um
retorno para o mesmo pastorado”.
O escrivão moveu a cabeça e inclinando-se na
direção do seu cunhado Carlos Frederico Voges Sobrinho
murmurou: - “Ele devia nos poupar desse comentário. A
franqueza de dizer a verdade, nem sempre faz bem”.
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Geisler continuou: - “Ainda hoje darei início aos
preparativos para a viagem, pois é realmente importante e
necessário que isso seja feito antes que a minha esposa
entre em um estado de debilidade ou prostração que
dificultariam uma estrada tão longa. Iremos um trecho pelo
vapor, para nos pouparmos. Apenas necessitamos de apoio,
para sermos deixados no porto dos Diehl, com as nossas
poucas bagagens que haveremos de levar conosco.
Deixaremos roupas de cama para a casa pastoral para estar
à disposição de quem vier morar aqui...”.
Carlos Frederico Voges levantou-se e prazeroso e
sorridente falou: - “O pastor pode contar com este seu
padrinho de casamento para tudo o que for preciso. Sugiro
que o pastor não se alongue em explicações sobre a sua
saída ou sobre a impossibilidade de um retorno. Deixemos
no ar essa esperança de que o pastor que vai, só está
mesmo fazendo uma viagem, mas que voltará logo. Por isso
vamos todos juntos dizer < até logo >, pois logo queremos
nos rever para juntos cuidarmos da nossa Igreja no vale do
rio Três Forquilhas, que se estende até a Serra e também
entre os praianos, até a costa do mar”.
Todos se levantaram e em uníssono exclamaram: -
“Até logo, pastor Geisler!”.
Pastor Voges reassume o pastorado
O pastor Gustav Geisler e esposa, já no dia após
receberem a liberação por parte da Comunidade,
colocaram-se a caminho, de retorno à região de São
Leopoldo.
A despedida do casal foi pálida, sem muitas palavras
de ambas as partes. A Fraupfarrer mostrava grande
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ansiedade para se colocarem a caminho logo, como se
temesse alguma mudança de propósitos. Carlos Frederico
Voges com sua charrete estava ali a postos e levou casal ao
Porto dos Diehl.
No primeiro domingo após a saída do casal Geisler,
pastor Voges já realizava um culto. Ele estava ali no templo,
dizendo às lideranças: - “Quero garantir de que tudo está
dentro da normalidade e, que não se comece a criar algum
clima de preocupação entre os moradores”.
Voges estava sentado diante do altar em sua pesada
cadeira de madeira que mais parecia ser um trono
episcopal. Comoventes foram as suas palavras iniciais,
mesmo que marcadas pela lentidão, consequência de sua
dificuldade para refletir e expressar as suas idéias.
O pastor falou: - “Até aqui me trouxe Deus! Estou de
volta para servi-los até o dia que Ele permitir. Eu e
Elisabetha estamos ficando velhos, porém ainda podemos
fazer alguma coisa boa em favor de nossa querida Igreja”.
Pode ser ouvida uma risada discreta de alguém,
entre o público presente. Tal risada destoava da situação,
pois a hora não era de alegria e nem de euforia.
Voges continuou: - “Peço que o meu filho me ampare
para que eu os conduza numa oração. Quero fazer isso em
pé, diante do altar, pois acredito que os meus velhos ossos
precisam de exercício”.
Finalizada uma breve oração, o professor Christian
Tietböhl, aproximou-se do altar para a apresentação de
uma seleta sequência de cânticos espirituais. Esses cânticos
deixaram o ambiente bem acolhedor e envolvente para a
Comunidade. O professor aproveitou para fazer um e outro
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comentário a respeito da letra de um ou de outro hino ou
cântico.
Em seguida Voges passou a explicar: - “O nosso
novo pastor teve que levar a esposa enferma para
tratamento urgente em São Leopoldo. Lá ele haverá de
encontrar algum bom médico que seja capaz de descobrir
qual o mal dessa jovem mulher. Vamos orar por ela, assim
como temos orado em favor de todos os nossos enfermos
de nossa Comunidade. Caso alguém, durante a semana
queira, pode vir à minha casa, pois estou à disposição de
todos, para oferecer conforto e para orar com as pessoas”.
Novamente o pastor se ergueu, com a ajuda do filho
e fez uma oração pelos enfermos, citando a esposa do
pastor Alma Jaeger Geisler e mencionando as famílias de
Três Forquilhas que estavam com pessoas enfermas dentro
de casa.
Pastor Voges voltou a sentar e explicou: - “A nossa
Comunidade autorizou o pastor Geisler para se afastar e
tratar da saúde de sua mulher. Só nos resta esperar que ela
fique boa logo e que, felizes e bem dispostos, possam voltar
a ocupar a nova casa que vocês construíram com tanto
carinho para ser nossa nova casa pastoral”.
O pastor silenciou por um momento para alinhavar
suas idéias, pois facilmente se esquecia do assunto que
estava tratando e, seu filho tinha que sussurrar, para haver
uma continuidade nos assuntos.
O pastor pediu então que o seu filho lhe alcançasse o
compêndio de sermões que ele passara a utilizar nos
últimos tempos, para simplesmente ler a mensagem ali
impressa, pois não tinha mais a capacidade de concatenar
uma série de idéias próprias a respeito de um tema bíblico.
Ele começou a leitura e logo sentiu cansaço. Parou e voltou
![Page 112: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/112.jpg)
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a ler duas páginas adiante. Ele saltava páginas na intenção
de concluir mais rapidamente o seu sermão.
No rosto de Adolfo Felipe podia ser vista certa
aflição, como se tivesse vontade de assumir a leitura do
texto. Mas se continha, pois sabia que isso haveria de ferir
profundamente o seu pai. O velho fazia questão de ele
mesmo ainda oficiar o culto. Porém era notório que ele
estava ficando com a visão cada vez mais fraca. Apesar dos
bons e potentes óculos, que pareciam fundos de garrafa,
não acertava a leitura de todas as palavras. Às vezes saía
uma palavra errada que tirava o sentido da frase ou
distorcia a idéia em foco, mas ele teimosamente continuava
indo em frente na leitura.
Terminado o sermão, novamente o professor
Tietböehl se colocou diante do altar para conduzir mais
alguns cânticos.
Tudo aparentava a mais perfeita normalidade graças
ao empenho do filho do pastor, do professor Tietböhl e dos
integrantes do Coral, pois estes passaram a desempenhar o
papel central para a realização dos cultos que satisfaziam a
expectativa da Comunidade.
Geisler avisa que não mais voltará
Mesmo que as lideranças já previssem mostraram-se
surpreendidos por uma correspondência enviada pelo pastor
Geisler, onde ele comunicava que a sua volta estava
totalmente descartada. A esposa dele não aceitava mais a
idéia de acompanhá-lo de volta para Três Forquilhas e, além
disso, estava abrindo a vaga em Montenegro, com a saída
do seu amigo pastor Mühlighaus. Ele não desejava perder
![Page 113: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/113.jpg)
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essa possibilidade, pois conseguiria ficar bem mais perto da
família de sua esposa.
Na carta Geisler ainda alertou sobre as notícias a
respeito de que uma revolução armada seria péssima e que
todo o Rio Grande do Sul haveria de se afundar em
confrontos armados, com mortes e horror. Orientou a
Comunidade a intensificarem os contatos com o Sínodo
Riograndense, pois que os dirigentes já haviam aceitado a
sua transferência e a abertura da vaga na Colônia de Três
Forquilhas haveria de ser anunciada, também na Alemanha.
Carlos Fredrico Voges, Christovam Schmitt e
Christian Tietböhl se dispuseram, novamente a
estabelecerem tais contatos com o Sínodo, pois já vinham
de experiência anterior, a qual havia sido coroada de êxito.
Casa de Voges em destaque
Com a saída do pastor Geisler, o vazio não chegou a
ser sentido pela maioria dos moradores, pois como sempre
havia sido a casa do pastor Voges continuava a ser o
referencial para quem estivesse em dificuldade, de luto,
doente ou com outro tipo de problemas pessoais ou de
relacionamento com outras pessoas.
Todos apreciavam ir aquela casa, pois sabiam que
depois da conversa com o pastor não faltava aquele
convite: - “Vamos até a mesa que o café está servido!”.
Mãe Maria agora auxiliada por Rita, prazerosamente
mostrava as cadeiras vazias em torno da mesa e já servia
café com mistura13 como costumavam dizer.
![Page 114: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/114.jpg)
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O movimento na casa pastoral passou a tornar-se
cada vez mais intenso, pois muitas eram as preocupações
nas casas de muitas famílias, em particular ali onde pessoas
caíam de cama, afetadas pela epidemia que eles
denominaram de câimbra de sangue.
A neta do pastor, casada com o escrivão Christovam
Schmitt certo dia colocou-se diante do marido e sentenciou:
- “Não fico mais nenhum dia nesta casa, com tanta gente
doente entrando e saindo. Vou com os meus filhos para a
casa do meu pai, aí no outro lado da rua. Se quiseres
dormir comigo terás que mudar para lá”.
O escrivão olhou com aflição para a esposa e
perguntou: - “Você já combinou isso com a sua sogra Bina
Rosina e com o seu pai?”.
FIGURA 17: Christovam Schmitt, esposa e o filho Alberto. Fonte: Arquivo fotográfico de Alberto Schmitt.
Ela retrucou: - “Não preciso perguntar, pois sei que
as dependências para visitas estão livres. Vou para lá com
os meus filhos, agora! E lá foi ela reunindo roupas e
chamando pelos filhos, saindo porta a fora”.
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O major quando viu a filha chegando, carregada de
coisas, brincou: - “Brigaste com o teu marido?”.
Bina Rosina também chegou e foi ajudar a enteada,
para levar as coisas casa à dentro. Bina Rosina ainda
comentou com o marido: - “Não brinque, pois pode ser
coisa muito séria!”.
O major foi atrás da filha e quis saber: - “O que está
havendo?”.
Ela retrucou: - “Não fico mais um instante naquela
casa, pois estão chegando muitas pessoas doentes, fracas e
com sinais de terem contraído a câimbra de sangue. Eu
tenho medo que isso possa pegar em meus filhos...”.
O major não disse nada, saiu e foi até o outro lado
da rua e entrou pela porta que dava para o Cartório.
Cristovam Schmitt estava sentado atrás de uma mesa
anotando registros em seu livro de assentamentos. Parou
de escrever e olhou preocupado para o sogro, ansioso,
dizendo: - “Eu não mandei a sua filha para a sua casa. Ela
nem me perguntou e saiu daquele jeito. Ela voltará logo?”.
O major explicou: - “Não acredito que ela volte.
Creio que bem melhor será você pegar suas coisas e
também mudar para lá. Sugiro que leve seus poucos livros
de Cartório e papéis e se instale num canto do meu
armazém. Existe uma prateleira sem mercadorias e aquela
mesa que os homens da cerveja costumam utilizar nos
finais de tarde. Pregue uma tábua para te servir de balcão e
terás teu cantinho garantido”.
O escrivão olhou com admiração para seu sogro,
fechou o livro onde estava fazendo um registro, pegou
todas as suas coisas e mudou-se para o outro lado da rua,
dizendo: - “Sogro, isso só será assim até que essa epidemia
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tenha passado e já voltaremos para cá. Reconheço agora
que pastor Geisler não agiu tão erradamente como eu
julgava. Assim como me vi obrigado a fazer agora, ele
também não vira outra possibilidade do que acompanhar a
mulher dele. Vejo que o Pastor Geisler saiu na hora certa,
pois hoje o povo estaria batendo na porta da casa dele. E
ele não teria condições de fazer o que o nosso velho pastor
está fazendo. Bem sei que Geisler não poderia nem pensar
em abrir a porta da sala de sua casa e dar entrada para
doentes e enlutados”.
Antes de sair do sobrado que lhe servira de Cartório,
o escrivão volveu o olhar para o lado onde era a ala de
morada do pastor Voges, e gritou: - “Desculpe meu velho
pastor que eu te julguei mal. Você é um pastor raçudo e
que não foge do seu dever!”.
Major Voges permaneceu em silêncio e, em seguida,
foi para casa. Sentou ao lado de Bina Rosina, para ver com
ela o que seria dos velhos, do pai e da mãe dele. Não queria
deixá-los sozinhos naquela enorme casa apenas com Mãe
Maria também já alquebrada e se considerando uma mulher
velha, cheia de dores e reumatismos.
Bina Rosina se adiantou na conversa e falou: - “Sei o
que queres me perguntar e já vou dizendo que aceito ir lá
todas as noites para passarmos a dormir no quarto que era
de Christovam e de tua filha”.
Desta forma o Cartório foi parar por um breve
período no outro lado da rua, dentro do armazém de Adolfo
Felipe Voges.
E a tranquilidade e a paz voltaram a reinar na vida
de Christovam Schmitt e família.
![Page 117: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/117.jpg)
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Último batismo de Voges
A última criança batizada pelo pastor Voges foi,
possivelmente, a bisneta dele, Anna Emília Schmitt Voges14,
realizado no dia 02 de agosto de 1893.
Bárbara Schmitt Voges a mãe da criança, faleceu
durante o parto, deixando viúvo Frederico Voges, este que
era outro dos filhos do Major Voges.
FIGURA 18: Anna Emília Schmitt Voges, 1893.
Filha de Frederico Voges e Bárbara Schmitt. A pequenina perdeu a mãe no parto.
Fonte: Foto do Arquivo da Família Voges.
Anna Emilia nasceu saudável e tornou-se a quarta
criança, deste que parecia um casal tão feliz e cheio de
planos para o futuro.
Frederico viu-se, de um momento para outro,
sozinho com os seus quatro filhos, Pedro Antonio, Marcelino,
Irmelina e Anna Emilia. Ele não sabia o que fazer... Sentia-
se inseguro... E havia motivos para preocupações, pois a
epidemia se alastrava, fazendo vítimas em muitas casas,
![Page 118: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/118.jpg)
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também na sede da Colônia. Além disso, a revolução estava
deixando no ar um clima de insegurança.
O Fredo, como Frederico era chamado foi procurado
por Carlos Frederico e Bininha que propuseram: - “Venham,
por enquanto para a nossa residência, no Sítio da Figueira.
As tuas crianças contarão com os nossos cuidados enquanto
procuras reorganizar a tua vida”.
Fredo a princípio começou a rejeitar a idéia, dizendo:
- “E eu fico aqui sozinho?”.
Bininha que era irmã da falecida e casara com um
irmão de Fredo respondeu: - “Você virá junto com tuas
quatro crianças, pois temos acomodações para todos
vocês”.
Desta forma Fredo foi parar temporariamente na
casa do irmão. Enquanto ali estava veio de visita outro
irmão deles, o Carlos Leopoldo Voges Neto, residente em
Taquari, onde casara com Anna Emília Ribeiro. Eles não
podiam ter filhos.
O Leopoldo Neto, como era chamado, passou a pedir
insistentemente que Fredo lhes entregasse a pequena Anna
Emília, dizendo: - “A minha mulher não pode ter filhos e a
pequena Anna Emília virá ocupar o lugar da filha que
sempre desejamos ter. Fomos escolhidos para sermos os
padrinhos da pequenina a pedido da mãe que faleceu no
parto. Será que isso não foi o recado que a Bárbara deixou,
caso acontecesse algo?”.
Fredo respondia sempre com as mesmas palavras: -
“A proposta de vocês corta-me o coração!”.
![Page 119: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/119.jpg)
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Leopoldo Neto e Anna Emilia não desistiram e
insistiam: - “Você terá ainda os três para cuidar, o que já é
bastante. Permita que cuidemos apenas da Aninha”.
Diante de tanta insistência e diante de tantos
argumentos, finalmente Fredo foi entrando em acordo e
falou: - “Permito que levem a minha Anna Emilia, pois
tenho plena certeza de que ela ficará muito bem com vocês
e certamente bem melhor do que comigo”.
Leopoldo Neto com sua esposa Anna Emilia e mais a
pequena Aninha Emilia seguiram para Taquari.
Fredo Voges na casa do irmão
Frederico foi organizando aos poucos o seu pequeno
mundo numa ala da casa do irmão, no Sítio da Figueira.
Estava ao lado de apenas três dos filhos que ele
tivera com a Bárbara Schmitt e que ele desejava manter
sob os seus cuidados. Eram eles o Peter Anton, nascido em
26.02.1888, o Marcelino de 01.05.1889 e a Irmelina de
14.01.1891. Quanto à Anna Emília nascida em 02.08.1893,
Fredo tinha a plena certeza que ela estava bem melhor que
estes três, preservada do contato com a insegurança pela
qual a Colônia de Três Forquilhas estava passando, causada
pela câimbra de sangue e pelas agitações revolucionárias.
Fredo passou a ajudar o irmão atrás do balcão da
casa comercial, no atendimento aos fregueses.
Prontificou-se também para participar da guarnição
armada da Invernada dos Cavalos que Carlos Frederico
organizara em 1893, nos fundões do Sítio da Figueira.
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120
A guarnição era, quase na totalidade, formada por
negros tanto peões da casa bem como da vizinhança, que
tinham a tarefa de cuidar das melhores reses, dos melhores
cavalos e dos bens que para lá eram conduzidos, para
deixá-los fora das vistas e da cobiça de atacantes, quer
fossem federalistas ou republicanos, pois ambos os lados
confiscavam, tudo aquilo que entendessem que lhes servia.
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MALES QUE VEM PARA O BEM
É interessante olharmos um pouco para o quadro
político mais amplo daqueles tempos logo após a
Proclamação da República se quisermos entender os
acontecimentos que se desencadearam no Rio Grande do
Sul e no âmbito ainda menor, no vale do rio Três
Forquilhas.
Theodoro da Fonseca, o nosso primeiro Presidente da
República enfrentou desde o princípio do mandato muitas
dificuldades. Sofreu, desde cedo, uma sutil oposição, da
qual participava o vice Floriano Peixoto. Chegou um
momento que para Theodoro pareceu insustentável e, sob
pressão cada vez mais intensa decidiu renunciar.
Erradas foram, no entanto, as expectativas nas
fileiras do Partido Liberal no Rio Grande do Sul. Floriano
Peixoto que era tido como um fiel partidário das idéias
liberais, pois fora, integrante do Partido Liberal, passou a
estabelecer alianças, incompreensíveis, no entender dos
liberais. Floriano assim procedeu com o simples objetivo de
se fortalecer no poder, ao assumir, como vice, a Presidência
da República.
Ao invés de olhar para os anseios de Silveira Martins,
Floriano buscou o apoio dos castilhistas riograndenses. Em
outros pontos do País fez acertos com outras correntes
políticas na intenção de contornar e deter rebeliões que
passaram a se evidenciar.
Num desses acertos, Júlio de Castilhos viu-se
reconduzido à liderança da vida política do Rio Grande do
Sul.
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Esses altos e baixos causados em nível nacional
afetaram as Províncias.
Castilhos, um homem extremante ambicioso, atento
e inteligente, conseguiu garantir um valioso espaço de
poder político. Através de um lance magistral entregou, em
julho de 1892, o cargo de Presidente da Província do Rio
Grande do Sul ao seu amigo Vitorino Monteiro. Assim estava
livre para concorrer nas eleições15 marcadas para o Governo
Estadual.
Voltemos à situação que se estabeleceu no cenário
político riograndense no segundo semestre de 1892, após a
renúncia de Julio de Castilhos.
Os castilhistas, visando garantir a vitória de Júlio de
Castilhos, passaram a imprimir fortes retaliações contra os
maragatos.
Em Conceição do Arroio, o Major Azevedo e alguns
de seus correligionários tiveram que fugir para não serem
presos, ao tomarem conhecimento da aproximação de uma
poderosa força policial castilhista. Esconderam-se nos
domínios do Major Baiano Candinho, na área das Charnecas
de Labatut, no interior de São Francisco de Paula.
Polícia castilhista chega à Colônia
Sem se fazer anunciar chegou à sede da Colônia de
Três Forquilhas, uma força policial castilhista enviada pelas
autoridades da Capital e que ficaria vinculada, em suas
ações, à Comarca de Conceição do Arroio.
Os policiais chegaram direto ao armazém de Adolfo
Felipe Voges, pois o seu nome era o primeiro de uma lista
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de lideranças da Colônia de Três Forquilhas que teriam
ligação com os bandidos federalistas da Serra.
O Sargento devia localizar, identificar e se possível
levá-los para o cárcere em Conceição do Arroio.
Felizmente o major não se encontrava em casa, pois
tivera que viajar até a sua Fazenda de Capão Alto, no
interior de São Francisco de Paula. Viera o aviso trazido por
um peão, comunicando que algumas reses haviam sido
roubadas daquela propriedade.
Os policiais foram recebidos pelo escrivão
Christovam Schmitt que, para início de conversa, abriu uma
gaveta de sua escrivaninha e apresentou ao chefe da
escolta, uma carta patente que lhe conferia o posto de
Capitão da Guarda Nacional.
O Sargento perfilou e fez uma saudação atenciosa ao
oficial, seu superior na hierarquia militar.
O escrivão falou: - “Sargento, fique à vontade,
porém vá lá fora e chame a escolta, para que venha saciar a
sede e a fome, algo que os deve estar atormentando”.
Os soldados foram chamados e vieram felizes e
prestimosos. Beberam a água que devia parecer a mais
deliciosa da terra. Receberam fatias de rosca de polvilho
que a negra Amélia fora buscar, às presas, no outro lado da
rua, com Dona Elisabetha e Mãe Maria.
Os soldados estavam suados, empoeirados, sujos e
cansados. A viagem havia sido cansativa e às pressas.
Depois o escrivão ordenou aos soldados: -
“Retornem ao arvoredo onde deixaram os cavalos, e
aguardem ordens”.
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O sargento querendo mostrar que era ele o
comandante da escolta aproveitou e gritou: - “Procurem
uma aguada e dêem de beber aos nossos cavalos”.
Christovam Schmitt solicitou então que o sargento
concedesse explicações sobre o motivo de sua vinda à sede
da Colônia. O escrivão quis saber: - “Que papel é esse que
você estava consultando quando da sua chegada ao meu
cartório?".
O sargento explicou: - “Trago aqui a relação de
líderes desta Colônia que constam como bandidos ou
acusados de estarem acoitando bandidos. Eles precisam ser
inquiridos, identificados e se necessário levados ao cárcere
da Comarca de Conceição do Arroio”.
O escrivão, com autoridade, pegou o papel das mãos
do militar para verificar quais eram os nomes relacionados.
O primeiro nome arrolado era Major Adolfo Borges. Seguiam
os nomes do Professor Serafim Nascimento, do major
Baiano Candinho e do Padre Carlos Borges.
O escrivão meneou a cabeça e falou: - “Amigo,
lamento muito que os seus superiores lhe transmitiram
informações erradas a respeito das lideranças que mandam
aqui na Colônia de Três Forquilhas, aliás, um lugar muito
tranquilo e seguro sob o nosso domínio republicano”.
Explicou: - “consta aqui um Major Adolfo Borges. Não tenho
lembrança de nenhum Borges que tenha residência na sede
da Colônia. Entretanto, considero por bem, levá-lo a
residência do chefe do PRR e que também, como eu, é
Capitão da Guarda Nacional. Ele se chama Carlos Voges, e é
de origem alemã. Posso afirmar, na qualidade de escrivão
que bem conhece os nomes desse povo, que ele não é
nenhum Borges. Ele é o nosso chefe republicano... Convém
que o sargento vá com cuidado para não melindrar esta
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mais alta autoridade republicana da nossa localidade. Mas
sei que ele é atencioso e saberá orientá-lo na questão dessa
suspeita infundada que insinua, de termos bandidos
escondidos aqui. É uma história que parece bem estranha e
sem fundamento”.
Christovam Schmitt chamou um peão e pediu que
lhe trouxesse o cavalo encilhado, pois teria que sair.
Conduziu então o efetivo da polícia castilhista ao Sítio da
Figueira. Chegando pediu ao sargento para aguardar um
instante, pois iria chamar o chefe republicano.
O escrivão aproveitou para rapidamente relatar ao
cunhado sobre a difícil situação em que poderia ficar o
Professor Serafim e que neste momento devia estar
lecionando no sobrado do pastor Voges.
Antes de sair o escrivão falou em voz bem baixa: -
“Irei avisar o Professor Nascimento para que, se necessário,
se esconda por alguns dias ou que fuja, enquanto é tempo.
E, quanto ao velho pastor, creio que você os poderá
despistar e dar a entender que tal padre nunca existiu em
nossa localidade e que devem ter feito confusão quanto ao
endereço que lhes indicaram”.
O escrivão, no retorno foi direto ao sobrado do
pastor Voges e localizou o professor Serafim. Este ficou
assustado e imediatamente dispensou os alunos sem antes
avisá-los que as aulas estavam suspensas até segunda
ordem.
O professor mais que rapidamente foi para casa
colocou algumas roupas numa maleta, encilhou o cavalo e
rumou, a galope, para o Arroio do Padre onde residia o seu
filho Nico, um soldado castilhista.
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Carlos Voges despista os policiais
Carlos Frederico Voges Sobrinho recebeu a escolta à
sombra da figueira. Pediu explicações a respeito da missão
ordenada pela polícia castilhista da Capital e que os trazia a
sede da Colônia.
O Sargento mostrou a lista, dizendo: - “Aqui tenho
alguns nomes de líderes da Colônia de Três Forquilhas
considerados bandidos ou que acoitam bandidos”.
CFVoges tomou o papel e viu ali escrito o que o
cunhado já lhe dissera. Voltou-se então ao Sargento
dizendo: - “Eu estranho muito essa lista e não compreendo
o que pode ter levado as nossas autoridades, a enviá-los
para cá sem antes manterem contato comigo para, pelo
menos, confirmar as informações. Se eu sou a autoridade
republicana desta Colônia, devia ser consultado, antes de
mandarem a polícia para cá. O que o povo irá dizer de tal
situação? Eu sou Carlos Frederico Voges Sobrinho, o chefe
do PRR nesta Colônia e sou filho do Major Adolfo Felipe
Voges. Nós somos de origem alemã, mas brasileiros natos e
de fato. Meu pai já é brasileiro e Major honorário da Guarda
Nacional de São Leopoldo. Tenho certeza de que ele se
sentiria muito ofendido, se tomasse conhecimento de que
um nome parecido ao dele está na lista de bandidos ou
acoitadores de bandidos. Ainda bem que o sargento nos
encontrou antes. Quanto ao professor Serafim Agostinho do
Nascimento, ele de fato tem uma casinha em nossa vila. Ele
já é um homem idoso, um professor do Estado, aposentado,
com uma longa ficha de importantes serviços prestados em
nossa localidade. Ele jamais foi bandido ou acoitador de
bandidos. Pelo contrário, ele foi o nosso último subdelegado
de polícia. Depois, no tocante ao nome do Major Baiano
Candinho, este nome nos é bem conhecido, pois que essa
pessoa já foi moradora nesta localidade. Porém atualmente
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127
ele deve estar com morada no interior de São Francisco de
Paula, em local por mim ignorado. E no final vejo aqui o
nome de um tal Padre Carlos Borges. Não existe nenhum
padre católico residindo nesta localidade, pois não há capela
católica na Colônia de Três Forquilhas. O nome mais
parecido com Carlos Borges é o meu próprio nome, eu que
sou o chefe do PRR nessas bandas. Quando retornar à
Capital informe aos seus superiores da conversa que comigo
manteve e da minha estranheza que um nome parecido
com o meu, esteja nessa lista. Informe que considerei como
sendo muito desagradável como Chefe do PRR da Colônia
de Três Forquilhas, de ter uma força policial diante de
minha residência com ordens expressas para prender
pessoas, sem antes ter sido cientificado ou consultado a
respeito da veracidade dessas informações”.
O sargento pediu desculpas e explicou: - “Concordo
plenamente com o senhor, mas não tenho culpa por essa
situação tão desagradável. Porém, eu não posso retornar
agora, pois a ordem expressa que recebi é de
permanecermos durante sete dias na localidade de Três
Forquilhas, neste distrito de Conceição do Arroio, para levar
a cabo todas as diligências que se fizerem necessárias”.
Carlos Voges ordenou então: - “Se esta é a ordem
expressa, então chame os seus homens para que me
acompanhem. Preciso dar-lhes acolhida e boa hospedagem
O alojamento dos meus peões está desocupado, pois eles
andam espalhados em minhas invernadas, apartando
bezerros, tratando bicheiras e tantas outras coisas mais,
que necessitam de atenção”.
O chefe republicano fez uma pausa e perguntou: -
“Como está a ração de vocês? Quais os mantimentos que
vos foram concedidos?”.
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O Sargento explicou: - “Temos pouca coisa e a nossa
alimentação é bem fraca. Temos uma pequena sobra de
farinha, um pouco de rapadura e um pedaço de charque”.
Carlos Voges se fez de incomodado, dizendo: - “É
assim que, na Capital, tratam os nossos soldados da polícia?
Será que precisam vir ao interior para talvez confiscar
mantimentos junto aos moradores? Venham comigo, pois
que na pousada dos meus peões tem local para o fogo de
chão, tem chaleiras e cuias, tem erva mate, trempes e
panelas, existem estrados de madeira e são perfeitos para
improvisarem uma cama para cada qual. Além disso,
ofereço-lhes ainda uma boa manta de charque que dará
para os sete dias e concedo mais meio saco de feijão e uma
quantia de farinha de mandioca”.
O sargento olhou com admiração para esse oficial da
Guarda Nacional que se mostrava tão humano com eles e
disse: - “Agradeço-lhe de coração!”.
Voges decidira fazer este agrado, além do normal,
para ter aqueles homens em suas mãos e sob o seu
controle.
No dia seguinte quando a tropa estava descansada e
refeita da viagem, receberam o chamado de Voges que
ordenou: - “Me acompanhem que vou conduzi-los nestas
diligências”.
Levou-os à residência do professor Serafim
Nascimento e explicou: - “Já consultei o meu peão e ele me
informou que este professor não se encontra na localidade,
pois se sabe que viajou, para visitar familiares. Mas,
convém que vocês entrem na casa, pois que ele não tem o
costume nem de tocar a chave na porta”.
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129
O sargento e alguns soldados entraram na casa,
abriram algumas janelas e fizeram uma breve busca no
local. Voltaram desanimados dizendo: - “Esse professor
realmente não está aqui e pelo jeito nem dormiu aqui, pois
tudo está bem arrumado e guardado”.
- “É o que falei, esse homem é um honrado
professor, aposentado, que já cumpriu com o seu dever
para com a nossa sociedade. Tenho certeza que ele não tem
lugar para acoitar bandidos, aqui nesta pequena casa”.
O Sargento fez sinal afirmativo e concluiu: -
“Concordo, pois nesta casinha não existe espaço suficiente,
para acoitar bandidos”.
A escolta policial permaneceu durante o tempo que
lhes fora prescrito e solicitaram para irem em companhia de
Carlos Voges ao cartório, para as despedidas formais e os
agradecimentos pela boa acolhida que lhes havia sido
dispensada.
Quando a escolta sumiu pela curva da estrada, o
escrivão falou para o cunhado: - “Existem males que vem
para o bem! O fato de tua irmã ter saído de casa para
morar com o teu pai e tua madrasta, fez com que eu tivesse
que transferir o meu Cartório, provisoriamente, para
funcionar no armazém. Ainda bem que esses policiais
aparecem para topar aqui comigo. Ainda bem que eu os
recebi, naquela hora. E, ainda bem que o meu sogro teve
que viajar para a Fazenda de Capão Alto, lá na Serra”.
Prisão do Professor Nascimento
Conforme foi possível observar, a ordem expressa
para prender bandidos e acoitadores de bandidos chegou
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também à Colônia de Três Forquilhas, na época um distrito
arroiense. A Escolta Policial chegou com uma lista elaborada
pelos informantes, propondo identificar os bandidos e
acoitadores.
Pela primeira vez surgem os nomes do Major Voges,
do Professor Nascimento, do Pastor Voges que passam a ter
seus nomes relacionados ao federalista Bahiano Candinho.
Candinho era citado como sendo o chefe de um
bando ou chefe dos bandidos da Colônia de Três Forquilhas,
acoitado pelos chefes locais. O último subdelegado,
sucessor do Major Voges, professor Serafim Agostinho do
Nascimento não escapou da busca de informações do
serviço secreto castilhista. A polícia devia inquirir e se
necessário prender os acoitadores de bandidos. A acusação
contra o Professor Nascimento era, pois de acoitar
bandidos.
O professor, felizmente alertado em tempo,
conseguiu fugir antes de receber voz de prisão. Escondeu-se
nos matos do Arroio do Padre, junto à propriedade de Nico
Nascimento, um de seus filhos, e que havia sido alistado
nas forças castilhistas, organizado por Carlos Frederico
Voges Sobrinho.
Na primeira oportunidade, Professor Serafim
procurou fugir para mais longe, com o firme propósito de
seguir em direção da cidade de Rio Grande, onde residiam
diversos dos seus parentes. À noite foi a Barra dos Diehl.
Entrou clandestinamente numa barca e escondeu-se numa
barrica vazia.
Quando essa barca atracou em Conceição do Arroio,
foi flagrado. Um policial que subira a bordo, o viu no exato
momento em que saía da barrica. Diante de uma situação
tão suspeita, recebeu voz de prisão.
![Page 131: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/131.jpg)
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131
O professor Serafim foi levado à Delegacia de Polícia
e logo identificado, como acoitador de bandidos, procurado
na Colônia de Três Forquilhas, constante que era da relação
como sendo uma autoridade corrupta. Foi colocado na
prisão de Conceição do Arroio para ali aguardar
providências das autoridades responsáveis pela
investigação.
FIGURA 19: Professor Nascimento escondeu-se numa barrica vazia.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
A soltura do professor
Carlos Frederico Voges Sobrinho e seu cunhado
escrivão Christovam Schmitt, quando souberam da prisão
do Professor Serafim Agostinho do Nascimento, antigo
professor de ambos, que os familiarizara com o domínio da
língua nacional e recente Subdelegado de Polícia do Distrito
de Três Forquilhas, seguiram até Conceição do Arroio, para
providenciar a libertação do mesmo.
![Page 132: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/132.jpg)
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A situação estava complicada, pois já fazia muito
tempo que era falecido o General Osório (o Marquês do
Herval). Este havia sido um dos grandes líderes liberais no
Brasil e pessoa a quem tanto o Pastor Voges bem como seu
filho Major Voges sempre havia recorrido, como último
recurso, nas questões vitais da vida política local e da
Comarca.
Agora era preciso encontrar outra pessoa influente,
que soubesse do passado de dedicação do professor e capaz
de interceder por ele, para ordenar a sua imediata
libertação.
Foi, no entanto, o próprio professor Nascimento que
deu a esses seus antigos alunos, a indicação de um nome,
capaz de poder ajudar. Tratava-se do seu primo, o militar
Manuel do Nascimento Vargas, talvez na época Coronel ou
General do Exército Brasileiro.
Carlos Frederico Voges Sobrinho viajou à Capital
para localizar Vargas. Quando este soube da prisão do
primo, encaminhou imediato despacho ao Delegado de
Polícia de Conceição do Arroio, ordenando a soltura do seu
parente e afilhado.
Vamos ajudar os leitores a localizar o personagem
Manuel do Nascimento Vargas, primo de Professor
Nascimento. Ele era pai de Getúlio Dornelles Vargas. O
menino Getúlio, na época, contava com apenas nove anos
de idade.
Ninguém, na época, imaginaria que este seria mais
tarde Governador do Rio Grande do Sul e Presidente da
República. O pai de Getúlio Vargas, no entanto, era, na
época, um homem de grande influência não só na área da
fronteira gaúcha (São Borja) bem como em toda a Província
do Rio Grande do Sul. Com essa ajuda Professor Serafim foi
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133
finalmente libertado da prisão16 e conseguiu retornar ao seu
lar, para tentar retomar as aulas que ministrava na Escola
da Comunidade.
![Page 134: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/134.jpg)
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UM INTRUSO NO MEU TEMPLO
Devia ser o mês de setembro de 1893, no tempo da
primavera. O professor Christian Tietböhl com a ajuda do
Major Voges estavam realizando uma benção matrimonial
no templo.
O fato é que os noivos que estavam oficializando a
união pelo civil diante do escrivão e do Juiz da Paz, também
haviam decidido aproveitar a ocasião para receberem a
benção da Igreja.
Professor Tietböhl e Major Voges entenderam que o
pedido dos noivos podia ser atendido e assim procuraram
fazer o melhor que podiam.
Em determinado momento Adolfo Felipe sentiu
mãozinhas pequeninas puxando as suas calças. Virou-se e
viu ali, diante do altar o seu netinho Alberto Schmitt que,
agitado, pedia: - “Vovô, vem me ajudar, pois o bisopastor17
quer entrar aqui para limpar a igreja dele”.
Major Voges baixou-se ao nível do menino e
perguntou: - “Não consegui entender isso. É o meu pai que
está vindo para cá?”.
- “Sim, o biso pegou um porrete e vem vindo para
cá. Ele me disse que vai tirar o intrujão que invadiu o
templo dele, disse o menino”.
O major murmurou algumas palavras ao pé do
ouvido do professor Tietboehl e saiu rapidamente para
resolver a situação inesperada.
Chegando aos fundos do templo, a meio caminho do
sobrado, topou com o pai que bastante alquebrado e
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vacilante, vinha se movimentando em direção da igreja,
apoiado com uma mão na pesada bengala e na outra mão
trazendo um bastão de madeira que Mãe Maria utilizava
para amaciar carne.
O pastor murmurou: - “Filho, ainda bem que você
chegou. Vem comigo e vamos limpar a minha igreja, pois
ouvi que tem algum intrujão ali”.
Major Voges com delicadeza pegou o pai pelo braço e
explicou: - “É o professor Tietböhl que está ali no templo.
Ele e eu estamos dando a benção para um casal de noivos
que há pouco casaram pelo civil. Tudo está em ordem. Nós
estamos cuidando bem do templo e ninguém vai ter a
coragem de invadi-lo”.
Pastor Voges com os olhos fundos e o rosto
macilento de tão magro, marcado pelo cansaço, aceitou o
braço do filho e retornaram para o sobrado.
Deixou se conduzir ao dormitório e repousou sobre a
cama. O major aproveitou para afinar o ouvido e pode
constatar que, de fato, era possível ouvir as vozes que
vinham do templo.
A cama do pastor distava talvez dez metros da igreja
de pedra.
Com certeza o pastor acordara sobressaltado pelas
vozes vindas do templo e, levantando da cama, tomou a
bengala e pegou o bastão da cozinha, para defender o local.
Felizmente ele fora visto pelo bisneto Alberto e que
como sempre, não queria perder a oportunidade de
acompanhar o velho. Certamente disse: - “Posso ir com o
senhor, biso?”.
![Page 136: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/136.jpg)
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136
FIGURA 20: “Vou tirar o intrujão do meu templo”. O idoso pastor munido de um bastão se dirigiu ao templo.
Fonte: gravura do autor, 1980.
Esse mesmo problema repetiu-se mais vezes em
outras ocasiões, sempre que pessoas se reuniam no templo.
Era o sinal que o velho estava definitivamente com
as idéias confusas, algo natural aos noventa e dois anos de
idade.
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MORREU O PASTOR VOGES
Não bastassem as idéias que se tornaram confusas,
o pastor também se viu acometido pela cólera, ou câimbra
de sangue como os moradores designaram o mal.
O pastor durou pouco...
No dia 3 de outubro, de madrugada, finou em meio a
uma total fraqueza. Para o registro de óbitos da
Comunidade o major Voges forneceu como causa da morte
uma simples Alterschwäche - fraqueza da velhice.
Rápida correu a notícia através de toda a Colônia e
mesmo na direção da praia e da serra: - “Morreu o Pastor
Voges!”.
Nunca a Colônia de Três Forquilhas vira tantas
pessoas chegando, desejosas de ver pela última vez o tão
idoso patriarca espiritual e marcar presença no velório, para
as despedidas derradeiras.
Apesar do temor pelas epidemias de cólera e tifo e
apesar das recomendações que o próprio pastor Voges
costumava dar, o seu corpo foi velado no templo e deixado
para uma visitação pública.
O ataúde estava aberto para que todos pudessem
ver o corpo para a despedida. Felizmente major Voges
tomara uma providência importante, colocando uma fina
corda de cor preta, presa em suportes, colocada em volta
do ataúde, impedindo que os visitantes pudessem chegar
até o caixão. Todos tinham que se contentar em ficar
olhando de longe, sem poder tocar o corpo. Tratava-se de
uma precaução muito correta, já que haviam recebido
recomendações que em velórios de vítimas da epidemia, o
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menor número de pessoas viesse a tocar no falecido,
entendendo tratar-se de uma medida que diminuía a
possibilidade de contágio.
A cerimônia fúnebre, no templo
A cerimônia fúnebre, no templo, foi conduzida pelo
professor Christian Tietboehl. Ele concedeu grande ênfase
para cânticos comunitários conduzidos pelos integrantes do
Coral da Comunidade bem como inúmeras músicas
apresentadas pela Banda.
Em certa altura o Professor Tietboehl solicitou: -
“Peço que o filho do pastor, o major Voges, assuma agora o
altar e conduza uma liturgia da palavra, pois que já adquiriu
alguma experiência para fazer isso”.
Major Voges sabia que seria solicitado a fazer uso da
palavra durante as exéquias fúnebres e, por isso, se
preparara previamente. Postou-se ao lado do púlpito que
ele alegava ser de uso exclusivo para um pastor e passou a
falar: - “Estimadas irmãs e irmãos e valoroso povo de nosso
vale, além dos serranos e praianos que aqui vieram para
nos trazerem suas palavras de conforto. Todos nós, com
toda a certeza, já há alguns anos, sabíamos de que essa
hora que hoje aqui vivemos poderia vir de um momento
para o outro, tendo em conta a idade tão elevada do meu
pai. Nos últimos dias vendo que ele havia sido acometido
por extrema fraqueza, ficou claro que a hora de partir dessa
vida terrena estava sendo apressada. Eu sabia que me
caberia fazer uso da palavra nesta hora do velório e durante
a despedida derradeira. Quero iniciar declarando que, com
o falecimento do meu pai está se encerrando um tempo,
como um final de uma era e que poderá vir a ser
denominada, no futuro, de Era do Pastor Voges ou como já
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139
temos aqueles que começaram a dizer < no tempo do
pastor Voges, aconteceu isso ou aquilo >. Nesses mais de
sessenta anos de pastorado ele marcou a vida de diversas
gerações desde os imigrantes de 1826, bem como marcou
profundamente os seus filhos, netos e bisnetos. Podemos
testemunhar que aqui na terra tudo passa, pois aqui nesta
nossa vida terrena todas as coisas tem o seu tempo e o seu
fim, também as pessoas que lideram uma sociedade. Isso
nos ordena para estarmos preparados para as mudanças
que são consequência natural diante da ausência de
pessoas e de lideranças às quais estávamos acostumados,
cujas palavras nos eram caras e valiosas. Será que nós nos
preparamos devidamente para a falta do nosso velho
pastor? Como prosseguirão agora a Comunidade, a escola e
a nossa vida social? O pastor Voges nos educou para
sermos pessoas de mentes abertas, para acolher novas
lideranças e boas idéias, bem como nos ensinou a
praticarmos a hospitalidade como algo sagrado, fazendo de
nós uma igreja acolhedora. Ele nos ensinou a importância
de guardarmos nossos bons costumes e a nossa cultura,
trazidos da Europa pelos imigrantes, porém sem nos
fecharmos para o valor de dominarmos bem a língua, os
costumes e a cultura local, como filhos que somos da nossa
Pátria Brasileira”.
Major Voges fez uma pausa, pegou uma folha de
papel onde rascunhara algumas frases e continuou: - “O
meu pai, em momentos importantes no desenvolvimento da
nossa Colônia e da Igreja, costumava dizer < Até aqui nos
trouxe Deus > (1º Samuel 7, 12), sempre indicando para a
confiança de que nosso Senhor conclui as boas obras que
Ele inicia. Ontem fui colocar ordem em papéis eclesiásticos
que meu pai deixara sobre sua escrivaninha, como se
quisesse que eu os visse. Chamou-me a atenção um papel
contendo os seus últimos pensamentos Num desses papéis
estava escrito: < Até aqui nos trouxe Deus > com letra
trêmula ele escreveu aquelas palavras. Ali também pude ler
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o versículo 33 do Capítulo 16, do Evangelho de João que eu
passo a ler. Meu pai anotou um pensamento dele, baseado
nesse versículo: < Deus não nos desampara e não nos
deixa só. Em meio às aflições e dores, em meio dessa
epidemia e das mortes dolorosas de tantas pessoas que nos
são tão queridas, podemos confiar que o Consolador está
em nosso meio, afim de nos consolar em todo o tempo,
ontem, hoje e amanhã, e nos tempos mais distantes que
ainda nem foram anunciados >. Considero que essa
interpretação que papai fez com base naquele versículo
serve muito bem para esta hora, quando aqui nos reunimos
em busca de consolo e de fortalecimento em nossa fé e na
esperança cristãs. É como se ele soubesse que eu
necessitaria de alguma motivação, para apresentar uma
mensagem de conforto para a nossa família, ou para nossa
Colônia de Três Forquilhas, enlutada.
A homenagem dos Cavaleiros
Ao longo da estrada desde o templo ao Cemitério do
Passo viam-se cavaleiros do vale, integrantes da Sociedade
dos Cavaleiros e dos diferentes piquetes, fazendo uma longa
corrente de ginetes com suas montarias. O pastor era
respeitado e admirado por todos, quer fossem maragatos e
republicanos, ou fossem protestantes e católicos.
O primeiro grupamento era do Piquete Josapahat
tendo Baiano Candinho na chefia. Ele havia se arriscado ao
descer a Serra do Pinto, mas certamente confiava de que
nesse dia ninguém arriscaria qualquer ato de agressão. Era
uma espécie de trégua não estabelecida, porém assumida
por todos, no interesse comum de conceder uma
homenagem ao patriarca falecido. Quando o féretro fúnebre
passou, Candinho deu voz de comando ordenando aos
cavaleiros do seu piquete para erguerem as lanças com
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suas bandeirolas vermelhas, perfilando enquanto os
enlutados passavam.
Chegando mais perto do cemitério ali podiam ser
vistos os integrantes do Ritterverein, a Sociedade dos
Cavaleiros sob a chefia de Carlos Frederico Voges Sobrinho.
A bandeira era conduzida pelo escrivão Christovam
Schmitt, casado com uma neta do falecido pastor. Quando o
féretro passou diante deles Carlos Frederico, montado em
sua mula predileta deu comando de perfilar. Todos
ergueram as lanças ornadas com bandeirolas azuis e, o
porta-bandeira agitou lentamente a bandeira do
Ritterverein, desfraldada.
Os alunos da Escola da Comunidade conduzidos pelo
Professor Serafim Agostinho do Nascimento estavam diante
do portão do cemitério segurando a bandeira da Colônia18,
já um tanto surrada, mas com seus símbolos ainda bem
visíveis.
Diante da trilha do Arroio do Padre, no descampado
onde no passado estivera construída a morada e ferraria do
Sparremberger estava o piquete que fora criado pelo
falecido Paraguaio Gross.
Também podiam ser vistos cavaleiros açorianos de
Três Pinheiros, portando lanças, ornadas com bandeirolas
azuis e vermelhas.
No interior do cemitério praticamente não existia
mais espaço livre para permitir a entrada do caixão e dos
familiares enlutados. Com grande dificuldade os
carregadores chegaram diante da grande pedra sobre a qual
colocaram ao ataúde.
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O caixão não mais foi aberto, pois seria inviável
qualquer iniciativa para permitir a visualização do corpo.
Professor Serafim em companhia de dois ex-alunos
veio trazendo a Bandeira da Colônia e a estendeu sobre o
caixão, dizendo: - “A nossa Colônia de Três Forquilhas
homenageia o seu líder maior com o reconhecimento pelo
seu serviço, de dedicação e amor, de desprendimento e
sacrifício, sem distinção de credo ou cor, ou de partido
político, ou o que for. Por isso o nosso Vivaaa, dos alunos,
ex-alunos e professores, para o nosso mestre, diretor da
Escola e pastor, para que encontre descanso nas moradas
eternas!”.
Os integrantes do Coral e da Banda de Música não
haviam encontrado espaço suficiente dentro do cemitério e
por isso o maestro e regente Christian Tietböhl os reuniu na
lateral da cerca, no lado de fora, para dali entoarem
cânticos e apresentarem músicas e marchas fúnebres.
Dentro do cemitério podiam ser vistas famílias
inteiras, mulheres, crianças e homens, de diferentes pontos
do vale, serranos e praianos, desejosos de fazerem a
despedida ao patriarca espiritual que todos amavam e
respeitavam. Ele que por mais de sessenta anos os guiara
em meio aos altos e baixos da vida.
Quando o professor Serafim acabou de colocar a
bandeira sobre o caixão ouviu-se o choro e soluços das
mulheres sobressaindo, porém o acorde de uma marcha
fúnebre que a Banda sob a regência do professor Tietböhl
passara a executar.
Major Voges fala outra vez
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O major Adolfo Felipe Voges, filho do falecido, agora
líder inconteste da Comunidade Evangélica de Três
Forquilhas, postou-se diante do ataúde para novamente
dirigir uma palavra ao povo, em particular vendo as tantas
pessoas que não tinham conseguido entrar no templo,
durante o velório.
O major discursou: - “Senhoras e senhores, nós
estamos nos despedindo do pastor Carlos Leopoldo Voges.
O tempo da vida terrena dele findou ontem durante a noite.
Ele não conseguiu mais ver o raiar deste dia de hoje.
Tempos vem e tempos vão. Isso deve nos fazer perguntar
pelo nosso próprio tempo de vida. Se pego, por exemplo, a
minha vida, estou chegando quase aos sessenta anos
enquanto o meu pai alcançou noventa e dois anos de vida.
Não é concedido um tempo igual para todos. Como saber o
tempo que ainda nos resta? Tenho saúde e vontade de viver
e de trabalhar. Porém que garantia a mais recebemos tendo
saúde e vontade de viver? Basta olhar para o poder das
epidemias ou a força das armas empunhadas com ódio,
para reconhecer e tomarmos tento de que nada nos
garante, a não ser a proteção divina, do nosso Criador e
Senhor. Muitos de nós ficamos com temor diante do poder
destruidor das forças que podem se abater sobre a nossa
vida, num de repente em meio aos males e doenças e em
meio aos conflitos e confrontos armados. Venha o que vier,
aconteça o que tiver que acontecer, vale a fé de que os
anjos de Deus nos guiam e nos protegem. Lembro da frase
que meu pai deixou escrita num papel, que ficou sobre a
escrivaninha: < Até aqui nos trouxe Deus! O que importa é,
pois isso, de que o nosso Pai celeste está no comando da
nossa existência terrena e nos levará onde nos for permitido
existir”.
Major Voges fez uma pequena pausa para
reorganizar as suas idéias, pois estava visivelmente
emocionado e mostrava dificuldades para expor com clareza
![Page 144: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/144.jpg)
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o que lhe ia no pensamento. Ele continuou: - “A minha mãe
Elisabetha que no passado foi professora de muitos dos que
aqui se encontram, não teve forças para nos acompanhar.
Porém ela recomendou que eu vos falasse breves palavras
em nome dela. Ela mencionou que nesta hora ela recorda
do dia em que o meu pai e ela decidiram fixar morada
definitiva aqui na Colônia de Três Forquilhas, para se
dedicarem ao serviço em favor de todo o povo deste lugar.
Ela que trabalhou como professora e, meu pai como cura
d’almas, guia e conselheiro. Dona Elisabetha pediu para
lembrá-los que, para o pastor Voges e para ela, a maior
satisfação foi de poder liderar e servir todas as famílias
daqui, sem fazer distinção de credo ou cor, ou de pendor
político.
Major Voges silenciou mais uma vez e continuou em
seguida: - “Recordo do dia em que o meu pai, sentindo o
peso dos anos, relutante me pediu: < Adolfo, é preciso que
vocês chamem um novo pastor, pois o cansaço já começa a
me incomodar >. Ele estava se aproximando dos noventa
anos de idade e se preocupava com o futuro da nossa Igreja
neste lugar. Tivemos sucesso e o Sínodo Riograndense nos
enviou um novo pastor, em 1892. Porém esse novo pastor
veio, mas foi embora. Quem poderia acreditar que o velho
pastor Voges voltaria a ser novamente o nosso guia
espiritual? Mas foi ele quem pediu para voltar, pois desejava
servi-los enquanto um novo pastor pudesse ser encontrado.
Portanto ele faleceu no cargo de pastor, com noventa e dois
anos de idade. Quem no futuro conseguirá acreditar numa
história dessas? Finalmente quero ainda dizer que coube a
mim o serviço de fazer a encomendação do corpo do meu
pai. Não tenho preparo para isso e só saberei fazer o que vi
tantas vezes ser feito por ele, aqui neste cemitério”.
O major ergueu o braço e apontando para os morros
falou: - “Elevo os meus olhos para os montes, de onde me
virá o socorro?”.
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145
Depois, voltando o braço e apontando para a cruz de
madeira que se erguia no centro do cemitério completou: -
“O meu socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra”.
Ele concluiu o ato conduzindo os presentes para a
oração do Pai Nosso e, finalmente, o Coral apresentou mais
um hino de consolo.
A vitória seja da lealdade
Com grande dificuldade, os carregadores do caixão
conseguiram alcançar a cova e local do sepultamento.
Enquanto o caixão estava sendo baixado ao fundo da
cova, Carlos Frederico Voges Sobrinho, neto do pastor e
líder do Ritterverein conseguiu chegar ao local. Ele vinha
trazendo a bandeira da Sociedade dos Cavaleiros e
encaminhando-se a sepultura, parou diante da mesma para,
por três vezes inclinar a bandeira sobre o caixão. Olhando
na direção da estrada bradou: - “Para a vitória da lealdade,
vivaaa!”.
E lá da estrada os cavaleiros ergueram as lanças as
balançaram com força fazendo as bandeirolas drapejar ao
vento e responderam: - “Que a vitória seja da lealdade,
vivaaaa!”.
Na sequência, Carlos Frederico Voges Sobrinho
surpreendeu a todos quando fez uso da palavra, dizendo: -
“Um ginete, uma lança e a bandeirola drapejando ao vento
da amada liberdade. O vento da amada liberdade que está
soprando sobre nós19”.
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146
Ninguém, naquela hora, entendeu ao certo porque
ele falou isso e não souberam dizer o que ele, afinal
desejara dizer.
Na verdade, naquela hora do enterro, ali estavam
reunidos maragatos e pica-paus, federalistas e castilhistas
republicanos. Estavam vivendo uma trégua que duraria
apenas aquele dia, depois, tudo voltaria aos temores e
riscos de enfrentamentos, confrontos armados e com a
possibilidade de ocorrerem mortes sangrentas.
Enquanto ambos os lados erguiam ali suas lanças,
não o faziam apenas em homenagem ao patriarca espiritual
falecido. Todos sabiam muito bem que uma revolução
sangrenta quando desencadeada só costuma acabar com a
derrota ou vitória. O grito pela liberdade, presente na voz
de Carlos Frederico Voges Sobrinho foi, antes de tudo, um
grito unilateral, clamando pela vitória para os republicanos e
castilhistas. Ele sabia muito bem o que pairava no ar e das
medidas duras que Júlio de Castilhos haveria de
desencadear em breve, contra os federalistas. O que para
os castilhistas era liberdade, para os revolucionários
federalistas significaria a derrota e o risco para um
extermínio indiscriminado.
![Page 147: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/147.jpg)
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LÍDERES ARROIENSES ASSASSINADOS
As autoridades castilhistas de Porto Alegre decidiram
enfrentar com o maior rigor possível todos os federalistas
que passaram a ser desqualificados, como sendo meros
bandidos da sociedade.
O serviço de informações do Governo Castilhista
mantinha-se atento a tudo, em todos os quadrantes do
território riograndense. Recebiam relatórios de todos os
pontos estratégicos da Província. Sabiam assim que os
federalistas estavam se organizando, formando grupos
armados, visando recuperar o poder do qual, alegavam
terem sido desalojados através de maquinações
sórdidas.
Os castilhistas souberam que em Conceição do Arroio
um padre intrometido, de fala castelhana utilizava Missas e
cerimônias de casamento, para conclamar os moradores
para o uso das armas, se preciso fosse. Foram assim
nominados como sendo os cabeças do movimento
federalista arroiense, o Major Azevedo, e o Padre Fernandes
e, em plano secundário certo major, alcunhado de Baiano
Candinho.
É preciso lembrar que os federalistas, em fase
recente, por breves meses, haviam conquistado o Governo
da Província, no que se chamou de Governicho. Os
castilhistas, porém, conseguiram, numa manobra rápida,
retomar as rédeas do Governo. Para se consolidarem mais
firmemente no poder, passaram a organizar uma poderosa
polícia estadual, que passou a ser conhecida como Brigada
Castilhista e finalmente a Brigada Militar do Rio Grande do
Sul20.
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As medidas de repressão aos inimigos do Governo de
Julio de Castilhos foram imediatas. No tocante aos líderes
federalistas de Conceição do Arroio, o comando castilhista
decidiu pela eliminação sumária dos cabeças, entre os quais
constavam Major Azevedo, Padre Fernandes e Baiano
Candinho. O propósito era de amainar o fervor dos
federalistas.
O primeiro a ser assassinado fora Padre Fernandes,
no dia 19 de julho de 1892 com um tiro pelas costas. O
local onde o padre foi morto ficou conhecido por Várzea do
Padre, situada a aproximadamente seis quilômetros de
Osório.
Já com o Major Azevedo, usou-se uma forma muito
mais covarde e vil. O líder maragato recebeu voz de prisão,
em sua casa e, se entregou sem reagir, entendendo que
seria levado a Porto Alegre, para ser julgado.
Mas, já estava previsto que ele seria eliminado,
ainda nas proximidades de Conceição do Arroio.
No caminho, o Sargento Francisco Gonçalves da
Silva, responsável pela diligência policial, simplesmente
ordenou a degola do líder maragato21. O Sargento, sem
nenhum escrúpulo, ficou com o belo cavalo e com os
pertences do assassinado.
Esta mesma Escolta da Brigada Militar, comandada
pelo Sargento Gonçalves foi enviada, para a Colônia de Três
Forquilhas, com a incumbência de, naquela localidade,
procurar eliminar também o terceiro revolucionário de
Conceição do Arroio, o Major Baiano Candinho.
Eram vinte e cinco brigadianos que deviam
aproveitar para desbaratar o resto do bando de malfeitores,
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que na verdade agora já se tratava do Pelotão Protestante
de Três Forquilhas, porém eles não sabiam disso.
O Pelotão, no terreno onde se encontrava, jamais
poderia ser enfrentado por uma Escolta despreparada e que
desconhecia totalmente a geografia e o número de inimigos
a serem enfrentados.
São os seguintes os integrantes da escolta da
Brigada Militar enviada à Colônia de Três Forquilhas. 1) –
Sargento Francisco Gonçalves da Silva; 2) – Cabo João
Pedroso dos Santos; 3) – Cabo Remicio; 4) – Sd José Maria
da Silva; 5) - Sd David Feijó; 6) – Sd Reinécio do Prado
Antunes; 7) – Sd Arthur Manoel de Lima; 8) – Sd Francisco
Xavier Braga; 9) - Sd Zeferino Antonio Gomes; 10) – Sd
Valeriano Gonçalves; 11) – Sd Domingos Gonçalves
Meireles; 12) – Sd João Agapito Dutra; 13) – Sd Francisco
da Rosa; 14) – Sd Manoel Antonio Fernandes; 15) – Sd
Crescêncio Abade; 16) – Sd Fausto Militão, o Ruivo; 17) –
Sd Fausto Silva, o Caboclo; 18) – Sd Jorge José Correa
Toledo; 19) - Sd Manoel Glória da Silva; 20) – Sd Avelino
Soares; 21) – Sd Francisco Salustiano; 22) – Sd Pedro
Fagundes; 23) – Sd Paulino Silva, o Bruaca Velha; 24) – Sd
Casemiro Criuva; e 25) – Sd Corneteiro José Silveira.
Estes Policiais eram quase todos, nascidos na
fronteira, na divisa com o Uruguai e não possuíam nenhum
vínculo com a população nativa do litoral norte do Rio
Grande do Sul.
Baiano mantinha-se sempre muito bem informado,
através do serviço dos seus espiões e estafetas. Quando
soube da vinda dessa Escolta da Brigada, deslocou todos os
seus homens para a área das Charnecas de Labatut,
desejoso de atrair esses incautos, caso aceitassem e
viessem com muita vontade de levar uma boa surra, para
um confronto naquela área. Afinal ele havia prometido ao
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Pastor Voges de que jamais haveria de entrar em combates
e confrontos no território da antiga Colônia de Três
Forquilhas, por isso os desejava atrair para a Serra.
Sargento Gonçalves entrou na Colônia com grande
pompa, desfilando com o belo cavalo, que pertencera ao
Major Azevedo e do qual se apossara.
Já na chegada, o Sargento revelou-se como homem
vaidoso, truculento e autoritário, exigindo, de imediato,
novilhas e suprimentos, para suprir a Escolta, alegando que
os seus soldados estavam passando fome e que precisavam
ser sustentados pela população que eles haviam de proteger
e oferecer segurança contra a bandidagem da Serra.
Os colonos ficaram revoltados com o procedimento
do Sargento e quem ainda podia, escondeu rapidamente os
melhores cavalos, as novilhas e as vacas.
Por onde os brigadianos passavam, tomavam o que
lhes servia. Foi um verdadeiro saque aplicado no comércio
local e aos colonos indefesos, sendo depois muitas dessas
atrocidades atribuídas, pelos castilhistas, ao Major Baiano
Candinho, por causa de fatos que serão contados mais
adiante.
Sargento Gonçalves quando cobrava suprimentos
para o seu efetivo, insistia e de novo voltava a dizer que a
população do lugar devia bancar a manutenção da Escolta,
por ordem dos seus superiores. Afinal eles ali se
encontravam com o exclusivo propósito de defender a
Colônia de Três Forquilhas contra os bandidos federalistas.
É necessário explicar que os colonos de Três
Forquilhas, naquela época, não tinham nenhuma queixa
contra Baiano Candinho e seus homens. Candinho jamais
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permitira saques, nem contra comerciantes e nem a invasão
de moradias dos colonos.
Desta forma, os colonos diziam: - “Convém chamar o
Baiano Candinho, porque somente ele conseguirá nos
proteger contra a ladroeira desses soldados castilhistas”.
Afinal, o Baiano sempre os defendera e servira como
segurança, já no tempo em que Major Voges havia
assumido como subdelegado, em 1880. Candinho
desempenhara, naquela época, uma missão policial.
Portanto, confiavam mais nele do que nos soldados
castilhistas.
A Escolta de Sargento Gonçalves seguiu até a
confluência dos Arroios Carvalho e Pinto, no ponto onde
desembocam no rio Três Forquilhas. Ali se situava a antiga
propriedade dos Gross, mais especificamente do França
Gross. A casa, os galpões e currais foram tomados, para
servirem como quartel general da força castilhista.
O proprietário França Gross já há dias, buscara toda
a família, levando-os juntamente com alguns vizinhos,
antigos maragatos que agora decidiram aderir à tropa de
Candinho.
Nesse meio tempo, Candinho já descobrira os dois
espiões infiltrados no seu efetivo. O primeiro a ser flagrado,
foi o Negro Campolino, que sem querer se traíra, numa
conversa ao redor do fogo. Candinho ordenou uma
execução sumária, para desencorajar qualquer outro que
pensasse em fazer o mesmo.
Candinho, porém continuou desconfiando da
presença de outro espião. Deu ordens ao seu estado-maior
para estarem atentos. Não haviam passado dois meses
quando já estavam às vésperas do romper da Revolução
![Page 152: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/152.jpg)
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Federalista, quando foi mencionado o nome do Chico Reata
como sendo o outro espião. Este andara, por demasiadas
vezes, lá para os lados da sede de Três Forquilhas, tendo
sido visto no armazém do líder castilhista Carlos Frederico
Voges Sobrinho, em animada prosa.
Candinho encarregou o seu enteado Henrique Baiano
para preparar uma armadilha para o Reata. E não deu
outra... O infeliz caiu na conversa, traindo-se, esclarecendo
o papel duplo que desempenhava.
Ele foi morto no mesmo momento por Henrique e
deixado à margem da trilha, no alto da Serra.
![Page 153: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/153.jpg)
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DADOS DA REVOLUÇÃO FEDERALISTA
A Revolução Federalista teve início no dia 05 de
fevereiro de 1893, quando Joca Tavares invadiu o Rio
Grande do Sul à testa de três mil homens. A notícia se
espalhou rapidamente por todas as Comarcas e rincões do
solo riograndense.
No dia 03 de maio ocorreu a Batalha de Inhandú, em
Alegrete. Os castilhistas, em minoria, foram derrotados
fragorosamente.
No dia 18 de setembro, Gumercindo Saraiva colocou
dois mil homens em movimento. Escapando de um
confronto com Assis Brasil, resolveu adentrar o Estado de
Santa Catarina, com a intenção de avançar, rumo ao
Paraná.
Baiano Candinho tomou conhecimento desses
movimentos dos revolucionários. Porém ele não ensaiou
nenhum movimento. Não tinha intenções de entrar em
combate e nem se dispôs a acompanhar Gumercindo,
contrariando as exigências do comando federalista.
Muitos dos homens de Candinho, porém estavam
agitados e desejavam acompanhar Gumercindo Saraiva ou
outro líder, para ver a revolução mais de perto. Ele os
acalmava e exigia cautela, para que não se cometessem
atos que pudessem desgostar os líderes da Colônia de Três
Forquilhas.
Os homens do Pelotão Três Forquilhas transitavam
normalmente pelas trilhas da Serra e desciam para o Passo
do Josaphat e para a Colônia de Três Forquilhas, para visitar
os familiares ou para permanecerem em suas propriedades,
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154
durante algumas semanas, no intuito de auxiliar o pessoal
no corte de cana, na moenda e na confecção de rapadura.
No início se movimentavam, sem serem molestados
pela Escolta do Sargento Gonçalves. Diante disso
imaginaram que podiam continuar passando pela barreira
da Escolta, sem serem identificados como revolucionários.
Não sabiam eles que a Escolta contratara três olheiros
serranos, que recebiam pagamento pelo serviço.
Os integrantes do efetivo de Candinho haviam
passado a ser caçados, não na condição de revolucionários,
porém como bandidos da Serra, integrantes do denominado
bando do Baiano Candinho, com ordem de eliminação
sumária, sem ordem de detenção ou de prisão.
A morte de Luciano de Aguiar
Eram três os olheiros que Sargento Gonçalves
contratara, liderados por Chico Crioulo, para ajudá-los na
identificação dos homens do Baiano.
Desta forma, no dia 8 de maio de 1893, Luciano
Cardoso de Aguiar ao descer a Serra com a intenção de ver
como estavam a esposa e filhos, não chegou a sua
propriedade. Quando estava a aproximadamente um
quilômetro das terras que eram propriedade de Baiano
Candinho, portanto, já na planície do vale do rio Três
Forquilhas, ele foi surpreendido pela Escolta Policial do
Sargento. Os olheiros serranos o identificaram.
Luciano levava nas veias o sangue dos Cardoso, que
havia se firmado na Colônia, granjeando a estima de todos.
E quanto à família Aguiar, os homens dessa estirpe eram
considerados aguerridos e de muita coragem, para
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enfrentar perigos e dificuldades. Luciano sendo um Cardoso
Aguiar era estimado e respeitado, pois além das qualidades
ou defeitos dos antepassados trazia o temperamento de
homem tranquilo e comunicativo, carinhoso com as crianças
e cavalheiresco com as damas. Gostava de se vestir bem,
com bombachas e botas, mais um chapéu largo. Pelo fato
de ser cavalheiresco com as damas ele era bem-vindo em
domingueiras ou festas.
Luciano Cardoso de Aguiar era cunhado de França
Gross e se integrara na Comunidade Protestante buscando
sempre os serviços do pastor Voges para batizar filhos.
Luciano vinha, despreocupado, pensando em rever a
esposa e filhos, distraído, quando viu surgir dentre as
moitas da margem da estrada os vultos de policiais e
olheiros que lhe fecharam a passagem. Viu uma carabina,
nas mãos do sargento, já fazendo mira. Luciano decidiu
antecipar-se, tocou as esporas no cavalo e jogou-se sobre
os agressores. Se tivesse que morrer ele queria vender a
vida, pelo menos, por um preço bem alto. Desejava levar
consigo para a morte, pelo menos um, dois ou mais deles.
Com êxito, Luciano derrubou exatamente o chefe dos
olheiros, o tal de Chico Crioulo, que estava mais próximo.
Tirou-o do cavalo, simplesmente montando sobre suas
costas, assim como se monta um animal.
Foi uma luta rápida e Luciano mostrou de que era
bem mais ágil. Quando viu que Chico Crioulo portava uma
faca, com a bainha enfiada na cintura, atrás das costas, foi
fácil tomar a mesma. Penetrou-a totalmente, até o cabo, no
traseiro do Crioulo, que berrou como uma rês quando é
sangrada. As tripas começaram a sair pela fenda aberta. O
olheiro não tinha como sobreviver a tamanho ferimento.
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156
Pipocaram diversos tiros. Luciano caiu varado pelas
balas, disparadas por Sargento Gonçalves e outros policiais.
Luciano era pessoa muito conceituada em toda a
vizinhança e em toda a Comunidade Protestante de Três
Forquilhas. A sua morte chocou a todos.
O seu corpo foi recolhido pelos vizinhos e levado
para a Felisbina Charlota Gross, esposa de Luciano. Foi
grande o desespero naquela casa, mas não havia outra
coisa para fazer a não ser o velório e providências para o
enterro.
O sepultamento foi no Cemitério do Passo e grande
foi o acompanhamento de moradores da Colônia.
São eliminados mais dois
Dois meses mais tarde, Ignacinho e Pedro Juarte
também desciam para visitar as respectivas famílias.
Imaginavam que a morte de Luciano fora alguma mera
casualidade do destino, que o deixara ser identificado.
Eles não sabiam dos olheiros, que haviam se
colocado a serviço dos brigadianos. Os dois vinham
tranquilamente, conversando e fumando palheiro, quando
se viram barrados por elementos da Escolta.
Os dois olheiros que haviam sobrado os
identificaram dando seus nomes. Não tiveram nenhuma
chance de reação ou fuga. Foram eliminados a tiros, no
mesmo local e os corpos deixados estirados à margem da
estrada
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Novamente vizinhos prestimosos recolheram os
cadáveres levando-os para as casas das respectivas
famílias. Foram agora dois velórios simultâneos, em duas
casas distintas de colonos que eram vizinhos e
profundamente ligados por amizade e vida em comum.
O choque para estas famílias e vizinhos e para toda a
população da Serra e na Colônia de Três Forquilhas, foi
novamente muito grande.
Eram mais dois protestantes, membros da
comunidade, que foram levados ao Cemitério do Passo,
sendo sepultados ao lado de Luciano Cardoso de Aguiar.
Eram agora três cruzes, que passaram a ser um sinal
doloroso de que a Revolução Federalista chegara ao vale do
rio Três Forquilhas.
Baiano Candinho apesar dessas perdas dolorosas
decidiu não descer ao vale e não entrar em combate, pois
fizera uma promessa ao pastor Voges e ao filho deste de
jamais entrar em combate na área da Colônia de Três
Forquilhas.
Candinho esperava que os seus oponentes
aceitassem ir até o terreno que ele escolhera, nas
Charnecas de Labatut. Ali poderia ocorrer um combate, num
terreno que ele dominava como a palma de sua mão.
Candinho estava cumprindo rigorosamente a palavra
empenhada com o velho pastor e com o Major Voges. Os
seus homens estavam sendo abatidos como coelhos e ele
nada fez para acabar com seus inimigos.
Os integrantes do efetivo de Candinho eram agora
proscritos e declarados como sendo meros bandidos que
deviam ser caçados, por ordens dos castilhistas.
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Tentaram atribuir ao efetivo de Candinho as mais
diferentes acusações, desde reles ladrões de gado, a
assaltantes, assassinos e saqueadores.
Candinho reuniu seu efetivo, particularmente o
Pelotão Três Forquilhas e deu enérgicas recomendações.
Ninguém mais estava autorizado a sair sozinho, pelas trilhas
que davam para o vale do rio Três Forquilhas. Não havia
mais nenhuma possibilidade de visitarem esposa e filhos,
pais ou parentes. Ele queria evitar que a sua força fosse
dizimada, abatidos como coelhos ou como alguma outra
caça qualquer.
Neto de Patrulha é morto
Em 11 de novembro de 1893 o jovem Miguel
Cândido, também conhecido como Miguel Patrulha, por ser
neto do falecido João Patrulha, desobedeceu às ordens do
comandante, Major Baiano Candinho.
Ele sabia que a ordem era bem clara, porém mesmo
assim decidiu ir até a pousada dos tropeiros, na antiga
propriedade do seu falecido avô João Patrulha.
Lá estavam sua esposa e filhos, a mãe, a idosa avó e
as tias. Era gente querida que ele não via há tantos meses.
Afinal, ele não estava descendo ao vale, pois ficaria junto à
trilha da Serra.
Mas ele não chegou em casa. Um grupo de
brigadianos o surpreendeu. O olheiro o identificou, dando o
seu nome e sua filiação. Foi morto a tiros, e deixado jogado,
na trilha.
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O corpo de Miguel Cândido foi velado na antiga
pousada do falecido João Patrulha e depois trazido a sede
da Colônia, pelas mulheres da família e também sepultado
no Cemitério do Passo.
Agora já eram quatro as cruzes, enfileiradas, logo na
entrada do cemitério, chamando a atenção de todos.
Começara a acontecer, o que Major Voges tanto
quisera evitar. O luto começou a marcar a Colônia e, em
particular, a Comunidade Protestante, pois alguns de seus
filhos já estavam sendo abatidos de forma chocante.
Os colonos apostavam que agora Baiano Candinho
não mais seria capaz de deixar esses assassinatos impunes.
Diziam: < O sangue do neto do João Patrulha Menger está
exigindo uma desforra. Candinho vai descer e esmagar essa
escolta que não sabe distinguir entre gente de bem e
bandidos.
Baiano Candinho andava triste, de um lado para o
outro. Os seus homens pediam vingança e queriam descer
e armar emboscadas aos brigadianos. Pediam também
providências de Candinho para que os dois olheiros serranos
restantes fossem justiçados sumariamente, para acabar
com esse trabalho sujo de identificação de revolucionários.
Candinho enfrentou a sua tropa com muita energia.
Explicou que dera a sua palavra de jamais entrar em
combate no território da Colônia de Três Forquilhas e
enquanto ele fosse o comandante, esta ordem ficaria em
pé. Porém aceitou o pedido de armar uma estratégia para
acabar com esses olheiros, algo que não foi difícil, pois os
vizinhos do quartel da Escolta os identificaram e levaram a
informação para Candinho.
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Na primeira oportunidade em que esses olheiros
subiram a Serra para visitarem familiares, foram pegos e
crivados de bala, deixados para servirem de comida aos
urubus.
No quartel da Escolta nunca mais souberam do
paradeiro desses dois olheiros e, as famílias deles jamais
tiveram notícias, pois pareciam terem sidos evaporados no
ar.
A situação ficou novamente mais tranquila e os
espias e estafetas de Candinho puderam novamente circular
na região do Baixo Josaphat como se fossem simples peões
ou tropeiros serranos em suas atividades de rotina.
Quanto à Escolta, Candinho preferiu esperar.
Desejava estabelecer alguma estratégia, que evitasse riscos
para os moradores da Colônia e que concedesse um fim
para essa força policial da Brigada Castilhista.
Algo surpreendente no caráter de Candinho era que
ele desejava poupar vidas, de ambos os lados, pois sabia
que em qualquer confronto direto, de combate, com certeza
também ele haveria de perder alguns de seus homens, e
haveria mais luto e mais cruzes no Cemitério do Passo.
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TÉDIO NA ESCOLTA POLICIAL
Na Colônia de Três Forquilhas para Baiano Candinho,
valeu à pena aguardar com muita paciência no refúgio que
organizara no Alto Josaphat, pois o tédio começou a tomar
conta da Escolta da Brigada que se acomodara ao pé da
Serra do Pinto.
Eles não se preocuparam, mas nesse meio tempo
passara pela Colônia uma tropa de revolucionários
federalistas, vinda não se sabe de onde, a qual saqueara o
comércio e casas de colonos. Esses revolucionários assim
como vieram, se foram, deixando apenas um susto para a
população.
Sargento Gonçalves conseguiu contratar um novo
olheiro, porém não sabia que se tratava de um colono que
admirava Candinho. Este passou a dar informações erradas,
dizendo que não haviam aparecido mais federalistas na área
e nem na Serra.
Sargento Gonçalves passou a desleixar o seu
trabalho de comando. Ele conheceu, nesse meio tempo, em
suas andanças solitárias pela região, uma mulher pelas
bandas da Lagoa Itapeva.
No início ia até lá, para regressar no outro dia.
Depois foi passando cada vez mais tempo, ficando fora do
quartel, ajudando o futuro sogro em atividades na lavoura,
safrando cana e ajudando no alambique, pois ele gostava de
uma cachacinha boa.
Sargento Gonçalves passou a ser detestado pelos
integrantes do seu efetivo, que ficavam aliviados com estas
ausências.
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Comandante ausente, na verdade, não mais servia
de comandante. Cabo Pedroso passou a substituir o
sargento com grande eficiência e foi alcançando a
submissão espontânea de todo o efetivo.
Baiano Candinho tomou conhecimento de toda essa
situação. Os seus espiões não falhavam. Se não eram os
peões que por ali transitavam, eram as mulheres da
vizinhança do quartel, que mandavam as informações até a
Serra. Caixeiros viajantes, maragatos, que, apesar de
escassos, ainda tinham coragem de andar por essas trilhas
lhe serviam de informantes.
Baiano Candinho deixou claro para os seus homens
que a sorte do Sargento Gonçalves já estava traçada. Era
apenas questão de tempo. Baiano enfatizava com o
argumento que um brigadiano desses, era um militar sem
honra e acima de tudo um covarde, pois havia sido capaz de
assassinar o Major Azevedo, indefeso e ainda lhe roubar o
belo cavalo branco.
Candinho fazia questão de esclarecer o motivo de
estar qualificando o Sargento como um covarde e como um
homem sem honra. Simplesmente porque esse Sargento
fora o responsável pela morte de Major Azevedo em
Conceição do Arroio. Cumprira ele ordens? Mas por que teve
que degolar o Major e ainda roubar-lhe o cavalo e
pertences? Por que o Sargento entrou na Colônia de Três
Forquilhas, exibindo o cavalo roubado? Para provocar a
quem? Será que esperava que Candinho viesse correndo,
para enfrentá-lo, num combate direto?
Conforme as palavras de Baiano Candinho, a sorte
do Sargento Gonçalves, de qualquer forma, já estava
selada. Era só uma questão de tempo. Os enlutados de Três
Forquilhas, que haviam tido filhos abatidos por ordem desse
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Sargento, que tivessem paciência. Estas mortes também
seriam vingadas, na hora certa.
O estratagema de Candinho
Para Baiano Candinho a presença da escolta, ao pé
da Serra do Pinto, era como um espinho no pé, que o
incomodava dia e noite. Ele procurava saber de tudo o que
eles faziam.
Os colonos e vizinhos dos brigadianos ajudaram a
colher informações e transmitir às mulheres espiãs as
novidades que surgiam. Comunicaram que Sargento
Gonçalves passara a relaxar a tal ponto, o comando da
Escolta, de ficar por semanas na casa do futuro sogro.
Nestas ausências, era Cabo Pedroso quem era o
responsável pelo comando do efetivo. Os brigadianos já não
saíam mais para vasculhar a trilha da Serra. Haviam
dispensado o olheiro. Apenas mantinham uma barreira no
Passo do Pinto.
O descontentamento no Quartel improvisado era
grande. Os soldados queixavam-se da solidão dos fundões
da Colônia. Reclamavam da falta de festas, bailes ou
folguedos populares. Não existiam mulheres disponíveis que
pudessem ser visitadas.
Quando o Sargento Gonçalves aparecia, procurava
solucionar o problema. Ia a casa de algum colono e exigia a
realização de um baile. Os colonos da vizinhança recebiam
mal, tais ordens. Algumas das famílias estavam de luto,
causado exatamente pelos brigadianos. Basta lembrar-se do
Luciano, do Ignacinho, do Pedro Juarte e do Miguel Cândido.
Todos os vizinhos tinham algum tipo de parentesco com
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164
estes mortos. Os brigadianos já haviam notado que teriam
que cuidar, para não melindrar ainda mais a vizinhança.
Baiano Candinho decidiu fazer uma aproximação
indireta com os brigadianos. A opção foi de utilizar algumas
mulheres. A Poldia, filha do França Gross, iria ao Quartel
dos brigadianos. Evidentemente ela não poderia ir só. Seria
acompanhada pela Téia Fandango, pela Maria Juarte e as
Irmãs Salvadoras.
Já que o aquartelamento fora instalado na
propriedade de França Gross, a menina certamente não
despertaria nenhuma suspeita, caso alegasse que viera
buscar algumas roupas que haviam ficado em um baú, num
dos quartos da casa. O baú e as roupas de fato existiam.
Apenas eram da mãe de Poldia, mas isto com certeza não
seria notado.
Poldia devia ter dezoito anos de idade, quase uma
menina. Era loira e franzina, com uma pele muito branca.
Candinho reclamou da timidez da menina do França.
O pai dela, porém insistia que seria exatamente este o fator
que deixaria os brigadianos totalmente despreocupados.
O que encorajou Poldia era a possibilidade de contar
com a presença das amigas Téia e Maria Juarte, além das
escandalosas Salvadoras, que por si só valiam por um
Batalhão.
As Salvadoras eram, de fato, muito vividas e
tagarelas. Eram irmãs solteiras do finado Maneca Salvador,
que fora morto, por ter roubado gado, de fazendeiros
serranos. Mas elas diziam que nada tinham a ver com as
práticas erradas cometidas pelo irmão. A vida delas, afinal,
teria que continuar. Não eram bonitas, mas sabiam como
lidar com um homem.
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165
Téia Fandango tinha cabelo levemente ruivo e
algumas sardas no rosto. Já a Maria Juarte tinha o cabelo
preto, bastante longo, contrastando com uma pele muito
branca.
O plano era de escolher um daqueles períodos em
que Sargento Gonçalves sumia da área. A Poldia chegaria
com as amigas, pedindo autorização para entrar na
propriedade. Deviam apenas entrar e buscar a roupa e,
acima de tudo, travar amizade com os brigadianos e ir
embora, como se fossem umas mulheres medrosas.
O plano foi executado e a chegada das mulheres
trouxe um grande alvoroço no aquartelamento. Soldado
Reginaldo que cumpria o plantão da porteira, foi muito
atencioso. De forma cavalheiresca, prontificou-se a atendê-
las, caso ele pudesse ajudar em alguma coisa. Poldia
identificou-se e explicou a que viera.
Reginaldo franqueou a entrada para a menina. As
demais deviam aguardar do lado de fora. Ele a conduziu a
presença de Cabo Pedroso, que respondia pelo comando da
Escolta.
Poldia mais uma vez repetiu o motivo da visita.
Explicou que viera em companhia de algumas amigas para
buscar algumas peças de roupa, que lhe faziam muita falta.
Cabo Pedroso recriminou o Soldado Reginaldo, por
ter deixado as demais mulheres, na estrada e ordenou que
as buscasse imediatamente.
Poldia estava ali, diante do Cabo, muita tímida e
indefesa. Ele ficou com pena, pedindo que ela se acalmasse,
uma vez que as amigas dela haveriam de chegar logo.
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Quando as demais mulheres chegaram até a varanda
da casa, Cabo Pedroso conduziu Poldia aos aposentos, onde
estava o aludido baú. Deixou-a totalmente à vontade, para
reunir tudo o que desejasse levar. Enquanto isto ele
também foi até a varanda, curioso, para conhecer as
demais mulheres. Queria saber um pouco a respeito delas.
Seria bom, acautelar-se, pois podiam estar de alguma
forma, a serviço dos bandidos da Serra.
As Salvadoras foram se achegando, tagarelando,
sempre aos sorrisos. Em breves minutos, o gelo estava
quebrado. Os soldados, curiosos, foram se reunindo em
torno da varanda, todos eles interessados nas visitantes.
As mulheres souberam comportar-se com a maior
naturalidade. Era como se estivessem em casa. E realmente
estavam. Maria Juarte era a viúva de Pedro Juarte,
assassinado pelos brigadianos. A Téia Fandango prima do
falecido Ignacinho, também assassinado pelos brigadianos.
Poldia, por sua vez, era prima de Ignacinho e era parente
do falecido Miguel Cândido, também abatido pelos
brigadianos.
Elas, porém nada falaram desse parentesco. Pelo
contrário, fizeram referência apenas de parentescos com
outras famílias, residentes na vizinhança do
aquartelamento. Afinal eram todas elas parentes entre si,
menos as Salvadoras.
Poldia localizou as roupas que interessavam e fez
uma trouxa. Era muito peso. Foi então solicitar ajuda.
Queria que a trouxa fosse levada até os cavalos, que se
encontravam amarrados próximo da porteira.
Poldia continuava bastante assustada e trêmula. Era
tímida e ficava olhando para o assoalho da varanda. Queria
se despedir e voltar para a casa da mãe. Cabo Pedroso
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167
reclamou dessa pressa. Garantiu que elas estavam muito
seguras com ele. Afirmou que eles eram, todos, homens de
bem. Eram respeitadores das filhas dos outros.
Cabo Pedroso muito solícito designou quatro
soldados para acompanhá-las, pela trilha, Serra acima. Eles
dariam proteção, por alguns quilômetros, visando garantir a
elas um retorno na maior segurança, tendo em vista a
possibilidade da presença de bandidos, naquela área.
Ao se despedir, o Cabo voltou a insistir com Téia,
com Maria Juarte e com as Salvadoras, para retornarem
novamente, assim que fosse possível. Ele prometia fazer um
bom almoço para elas, e brindá-las com a hospitalidade do
Quartel da Escolta.
As mulheres agradeceram pela atenção e pela
gentileza da boa acolhida. Elogiaram Cabo Pedroso por ter
resolvido, tão bem, o problema da coitadinha da Poldia, que
ficara quase sem roupa, lá na Serra.
Soldado Reginaldo pediu permissão para integrar o
grupo de segurança, e acompanhar as mulheres. Ele
gostara de Poldia. Não tirava os olhos dela. Tão tímida e tão
assustada. Devia ser uma moça muito direita.
Os soldados fizeram o serviço de proteção, não só
por alguns quilômetros. Acompanharam as mulheres ao
destino que, surpreendentemente, era na pousada do
falecido João Patrulha, no platô da Serra.
Algo perigoso estava se projetando sobre aquele
cenário da Serra. Baiano Candinho havia descido com mais
de trinta homens, para aquele mesmo local, preocupado
com o que poderia acontecer com as mulheres. E agora ali
vinham estes quatro soldados, fazendo um inesperado
serviço de proteção.
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Felizmente Candinho, sempre muito precavido, tinha
levado os seus homens a um abrigo, nos fundos, atrás dos
galpões. Mesmo assim, meia dúzia de maragatos ainda
estava na porteira principal, proseando, como costumavam
dizer.
Quando notaram que as mulheres vinham
acompanhadas por brigadianos, a correria foi grande.
Esconderam as armas e fizeram de conta que eram peões,
fazendo alguns reparos na porteira.
Os brigadianos não desconfiaram de nada. Apearam
dos animais e pediram água. Os peões foram se espalhando
e cada qual procurando algum outro serviço para fazer.
Nisto já vieram algumas senhoras idosas da casa, tendo a
frente a mãe de Poldia. Convidaram os brigadianos para que
chegassem a sala da casa. Logo lhes serviram, além de
água, também alguma coisa para comer, acompanhado de
café.
Soldado Reginaldo reclamou então, que a noite já
vinha caindo. Sugeriu que pernoitassem naquela
propriedade. Qualquer canto em algum galpão já seria bom,
para acomodá-los. Os outros três discordaram. Não viam
motivo para ali pernoitar, uma vez que Cabo Pedroso já
devia estar preocupado com a demora deles. Além disso,
era uma bela noite, de lua cheia. A trilha serrana estaria
quase tão clara, quanto de dia.
O que Reginaldo queria, era apenas permanecer
mais um pouco, perto da menina Poldia. Porém, ela sumira
casa adentro. Ele desejava tanto vê-la, conhecê-la e falar
da sua admiração por ela. Os demais notaram o estado do
soldado e, por este motivo, mais ainda, insistiram para
retornar logo.
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Já era quase alta madrugada, quando os quatro
apareceram, de retorno ao aquartelamento.
Cabo Pedroso não conseguira dormir e ficara
andando pela varanda, querendo adivinhar as horas,
nervoso, imaginando muitas coisas. O que poderia ter
acontecido com os soldados? Podiam ter sido emboscados
pelos bandidos. De que forma ele conseguiria responder
por isto?
Quando os viu chegar, ergueu os braços, mostrando
todo o seu alívio. Aceitou prontamente as desculpas que
Soldado Reginaldo lhe apresentou. Eles apenas tinham se
assegurado, para que as mulheres realmente chegassem a
suas casas, sem problemas.
Cabo Pedroso ficou mais satisfeito ainda em saber
que as trilhas da Serra do Pinto estavam seguras e limpas.
O problema dos tais bandidos certamente fora algum
exagero das autoridades da Capital da Província ou então de
Conceição do Arroio.
Ninguém da Escolta conseguira ainda entender o
motivo real por que aqueles quatro homens, Luciano,
Ignacinho, Pedro Juarte e Miguel Cândido, tiveram que ser
abatidos a tiros. O que eles tinham feito de errado? Eram
eles realmente ladrões ou era perseguição política, vinda
com a Revolução.
Os integrantes da Escolta passaram a ouvir na
vizinhança, o quando aqueles quatro homens tinham sido
benquistos. Agora, lá no Cemitério Protestante, estavam
quatro cruzes, reclamando pela ausência deles. Esses
infelizes haviam sido simplesmente arrancados deste mundo
dos vivos, de forma muito cruel. Viajavam desarmados e
confiantes e, o que encontraram? Eles certamente tanto
quiseram estar do lado de mulher e filhos assim como eles,
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170
que haviam se alistado na Brigada Militar e tiveram que sair
para longe de suas casas.
Essas conversas com os vizinhos do aquartelamento
iam minando o espírito da Escolta. Eles já não tinham mais
certeza, de realmente terem feito o que era justo e certo. A
dúvida era destruidora. Perguntavam também a respeito do
tal de Baiano Candinho. Que tipo de pessoa era ele?
Os vizinhos elogiavam Candinho, dizendo que se
tratava de um homem correto e cumpridor da palavra, que
colocava a honra acima da fortuna. Se ele fosse bandido,
com toda a certeza já teria descido da Serra para acabar
com toda essa Escolta. Diziam: - “A Escolta tem vinte e
cinco homens, porém Candinho tem o dobro. Na verdade
Candinho tinha um efetivo com mais de cem homens”.
Os vizinhos descreveram Candinho como um bom
nordestino, alegre e bonachão, que tinha apenas um
defeito, o de querer ver toda a pessoa feliz. Era somente
por isto, que os brigadianos ainda não tinham sido mortos.
Explicaram que Candinho simplesmente segurara os seus
homens, para evitar mais mortes na Colônia de Três
Forquilhas.
Ele dera a palavra de jamais entrar em combate
nesta localidade. Todos sabiam que ele era homem de
cumprir a palavra empenhada.
Os brigadianos passaram a ter a sensação de terem
ficado do lado errado, nesta situação em que se
encontravam. Era um efetivo pronto para desertar da
missão recebida.
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171
Briga e morte na escolta
Cabo Remício andava insatisfeito. Ardia em ciúmes,
reclamando de Cabo Pedroso, que se destacara no comando
da Escolta. Parecia que mandava mais que o Sargento
Gonçalves. Mas este também não se importava mais.
Durante semanas, passava ausente. Dizia para a tropa que
já dera uma lição em todos os bandidos da Serra e que
Candinho devia estar escondido nos matos, com as
bombachas borradas.
Os brigadianos muito bem sabiam que isto não era
verdade. Os colonos da vizinhança já os haviam alertado
suficientemente. Só não conseguiam entender o motivo,
que levara o Baiano a ficar quieto, naquelas Charnecas do
Labatut, se era só ele querer, por que ele ainda não descera
para liquidar a Escolta?
Depois daquela visita das mulheres, Sargento
Gonçalves ainda não se dignara a aparecer no
aquartelamento. Ele devia estar ajudando o futuro sogro a
colocar uma roça nova, nas redondezas da Lagoa Itapeva
ou será que casara e abandonara seu cargo?
Cabo Remício, fazia semanas que não conseguira
mais dormir direito. Tinha constantes pesadelos. Vivia
irritado e nervoso, discutindo com todos, em particular com
Cabo Pedroso. Contava que à noite acordava, aos sustos e,
sempre lhe aparecia o Baiano Candinho. Eram pesadelos,
horríveis de homens espreitando pelos cantos da casa ou
caminhando pela varanda, arrastando as esporas. Os olhos
do Baiano eram terríveis, iguais a chispas vermelhas, como
de onça brava. Os demais olhavam para o Cabo fazendo um
sinal, como a dizer: - - “Este ficou doido!”.
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Cabo Pedroso não suportava mais a conversa do
companheiro. Que deixasse de ser um covarde e medroso.
Que tomasse cuidado para não prejudicar o espírito da
tropa. Neste caso teria que prendê-lo e enviá-lo para a
Capital, para ser julgado como covarde.
Numa das ocasiões em que Pedroso novamente lhe
chamou a atenção, Cabo Remício avançou vociferando,
pedindo briga. Puxou a pistola, ameaçando atirar. Prometia
acabar com o convencimento do companheiro, que também
não era nada mais que um cabo.
Soldado Feijó, vendo a situação saltou sobre
Remício, tentando desarmá-lo. Iniciou uma luta feroz. Feijó
estava levando a pior. Vieram outros soldados para ajudá-
lo. Em meio à confusão faiscou um facão e cabo Remício
caiu sangrando, com um furo na barriga. Ficou assim se
estrebuchando, em meio ao próprio sangue, até morrer.
A situação, sem dúvida, complicara para todos. Em
tais circunstâncias a ordem era bem clara. O assassino
devia ser preso e enviado para a Capital, para enfrentar um
julgamento.
Cabo Pedroso mostrou-se relutante, pois não
desejava prender ninguém, ele mesmo seria arrolado nas
sindicâncias. Era tempo de Revolução e as penas eram por
demais severas.
Sua primeira ordem foi de tomarem providências
para o enterro imediato de Cabo Remício. O local escolhido
foi um pequeno gramado, situado atrás dos currais dos
cavalos. O enterro foi em cova simples e sem honras.
Nenhuma cruz foi fincada e nenhuma reza foi feita pelo
defunto. Tinham pressa para se livrarem do cadáver.
Apenas uma pedra foi rolada sobra a terra ainda fofa, para
marcar a sepultura.
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173
Findo o triste enterro, cabo Pedroso reuniu o efetivo,
diante da varanda. Teriam que tomar alguma atitude, com
urgência, antes do retorno de Sargento Gonçalves. Pedroso
esclareceu que não tinha nenhum interesse em prender o
matador do Cabo. Possivelmente o soldado Feijó havia
salvado a sua vida, já que Cabo Remício estivera pronto
para atirar, ao ser subjugado. Por isto, precisava agradecer
ao soldado e, aos demais, pelas providências, mesmo que
tão desastrosas.
O ambiente não poderia ser pior, no aquartelamento.
Os soldados já não tinham mais uma noção clara da missão
que os mantinha ali. Aquela solidão era enervante. Algo
precisava acontecer.
Alguém quis saber por que ainda tinham que ficar ali,
esperando? Esperando que Baiano Candinho descesse até
aquela barreira, para acabar com a escolta? Em Porto
Alegre alguém esperava pela cabeça do bandido?
Concluíram que esse baiano não estava fazendo mal
para ninguém. Estava quieto lá na Serra. Nem descera para
vingar a morte dos seus homens.
O tempo estava mudando. Nuvens escuras cobriam o
céu. Com certeza, durante a noite, viria um forte temporal.
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174
A ESCOLTA PASSA PARA CANDINHO
Após uma noite mal dormida e de fortes ventos e
muita chuva, o novo dia amanheceu calmo e ensolarado.
Os soldados estavam mais tranquilos, porém,
constantemente olhando para a trilha da Serra. Era como se
esperassem por alguém ou alguma coisa.
E, realmente, surgem, lá longe, na curva da trilha,
quatro mulheres a cavalo que avançavam lentamente.
Soldado Reginaldo, estava novamente no plantão da
porteira aguçando o olhar. O seu coração batia mais forte.
Sofrendo sob a intensa expectativa, de ver a menina Poldia
entre as mesmas. Aquela menina linda e tão tímida,
chegando para fazer-lhe uma visita.
Quanto mais elas se aproximam mais ele precisa se
convencer de que Poldia não se encontra no meio delas.
Reconheceu Téia Fandango. Maria Juarte e as Salvadoras.
Com um assovio longo, ele deu o sinal de novidade à
vista. Cabo Pedroso foi alertado e veio ao portão, todo
prazeroso e cheio de gentilezas. Ele, em pessoa, abriu a
porteira.
Aquelas mulheres foram para ele a melhor visão que
ele poderia ter, depois daquela noite conturbada. Cada
palavra e cada sorriso dessas mulheres lhe significavam
muito. Elas passavam a representar um pouco do seu lar,
das suas irmãs e da sua mãe, que tinham se mudado para
Viamão, conforme as últimas notícias que delas recebera.
As quatro mulheres entregaram as rédeas das
montarias para os soldados prestativos. Sentaram sobre o
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assoalho da varanda, para descansarem da cavalgada. Cabo
Pedroso mandou trazer um banco, às pressas.
Enquanto isto ordenou providências para que o
cozinheiro, escolhesse o melhor charque, para preparar um
bom almoço para todos, em particular, para as visitantes.
Cabo Pedroso chamou Téia e Maria Juarte para um
lado. Queria conversar com elas. Relatou o triste ocorrido,
do dia anterior. Contou sobre o temor que sentia, de ser
preso e talvez fuzilado. Ele estivera no comando e teria
responsabilidade sobre a morte do companheiro.
Téia foi a primeira a falar. Sugeriu que todos
permanecessem ali na Serra, junto das famílias de
maragatos. Ninguém precisava ser preso ou punido.
Certamente o Baiano Candinho os acolhesse, caso lhe fosse
explicada a triste situação de todos eles.
Cabo Pedroso decidiu fazer uma formatura do
efetivo. Os soldados olhavam com curiosidade para aquelas
mulheres, ladeando o comandante. Era uma situação
bastante estranha, em termos do regulamento da Brigada.
Cabo Pedroso, com voz pausada e grave passou a
detalhar a situação da Escolta. Explicou que com o retorno
do Sargento Gonçalves, ele seria, certamente, o primeiro a
ser preso. Depois o matador de Cabo Remício e outros que
estiveram envolvidos na luta corporal. E o que os podia
esperar? Talvez prisão... Talvez o pelotão de fuzilamento...
Era tempo de revolução, e muita coisa mudara na Brigada.
As leis e os regulamentos eram agora bem mais severos.
Finalmente sugeriu que todos se juntassem ao
efetivo de Baiano Candinho. Porém, eles haviam liquidado
aqueles quatro maragatos. Mas, havia sido em cumprimento
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de ordens. Não tinham nada de pessoal contra aquela
gente. Pelo contrário, os admiravam.
Todos tiveram que se pronunciar. A concordância foi
por unanimidade, a favor da rendição diante de Candinho.
Um estafeta foi imediatamente colocado a caminho.
As mulheres indicaram o local onde o Baiano Candinho
poderia ser encontrado. Ele estava com mais de trinta
homens, acampado na propriedade que fora do falecido
João Patrulha.
A surpresa de Candinho foi muito grande, ao ouvir o
relato do estafeta da Escolta. A proposta de Cabo Pedroso
era irrecusável. Viria ele e mais vinte e três soldados, com
armas, munições, cavalos e víveres, para reforçar a tropa
federalista da Serra.
Sob o comando de Candinho
Major Baiano Candinho reuniu todo o seu Estado-
Maior. Comunicou-lhes a proposta vinda dos soldados da
Escolta e, a satisfação foi visível.
Ordenou que os trinta homens se preparassem para
acompanhá-lo. Ele queria ir imediatamente até aquele
aquartelamento.
A chegada do efetivo maragato foi solene. Cabo
Pedroso estava com os soldados em forma. No momento da
aproximação do Major Baiano Candinho, deu o comando de
sentido. Pedroso perfilou, fazendo sua apresentação
pessoal.
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Havia em todos eles a nítida sensação de estarem
diante de uma autoridade militar. Afinal de contas, Baiano
Candinho era um Oficial Superior do Exército Federalista. A
sua presença majestosa impunha respeito.
Major Candinho comunicou que não era o Cabo, mas
sim Sargento Pedroso, quem lhe apresentara a tropa. Que
se providenciassem as divisas para o uniforme do mesmo.
Em seguida, descendo do cavalo, passou a fazer uma
preleção aos brigadianos. Considerava perdoada a culpa que
eles carregavam pela morte de quatro de seus valorosos
homens. O mal não mais poderia ser desfeito. Creditava,
porém, doravante, essa culpa para o mandante da Escolta,
o Sargento Gonçalves que merecia uma punição.
Passou a conceder as primeiras ordens ao novo
efetivo. Eles seriam o Pelotão da Escolta ou Pelotão dos
Brigadas e integrados ao novo Esquadrão Josaphat.
Como segundo ponto, deveria ser formada uma
fração de soldados com a missão de encontrar o Sargento
Gonçalves. Este deveria ser morto, porém fora do território
da Colônia de Três Forquilhas, além de fazer o resgate do
cavalo e pertences roubados de Major Azevedo, em
Conceição do Arroio. O cavalo deveria ser entregue ao
Comandante do Esquadrão Josaphat, o mais breve possível.
Como terceiro ponto, todo o efetivo do Pelotão da
Escolta deveria seguir para a sede da Colônia de Três
Forquilhas e ali serem apresentados ao Major Voges. Por
esse motivo, desejava ver todos fardados.
Como quarto ponto, eles deveriam permanecer
durante sete dias, alojados no sobrado que pertencera ao
velho pastor Voges, na esperança de serem ali iluminados
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por Deus, para doravante fazer as coisas de forma mais
correta.
Como quinto ponto, passados sete dias, eles
deveriam apresentar-se ao Capitão Luna, em Contendas, já
que este também desertara da Brigada Militar e serviria
como novo Comandante do Pelotão. Apenas Sargento
Pedroso não deveria se apresentar ao Capitão Luna, pois
doravante haveria de participar do Estado-Maior do
Esquadrão.
Baiano Candinho ordenou ao Sargento Pedroso a
liberação dos soldados para que, cada qual, cuidasse dos
afazeres normais e se preparassem para o cumprimento das
ordens dadas.
Candinho, em companhia do seu Estado-Maior foi
verificar armas, munições, cavalos e víveres da Escolta.
Ordenou que a metade da munição fosse transportada, de
imediato, para o seu Quartel, na área das Charnecas de
Labatut.
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O ESQUADRÃO JOSAPHAT
Major Baiano Candinho passava a revelar tudo o que
aprendera, durante os quatro anos de Guerra no Paraguai.
A partir de um simples Pelotão, ele conseguira
formar um Esquadrão de Cavalaria. Recebera no princípio o
posto de Tenente, depois fora elevado a Capitão e já era
Major.
O Pelotão Três Forquilhas aumentara tanto, que fora
possível organizar um segundo pelotão, conhecido como
Pelotão Serrano.
Agora, Candinho, de fato fazia jus ao posto de Oficial
Superior, pois com a chegada dos brigadianos conseguira
compor o seu terceiro Pelotão, o dos Brigadas e assim
estava completo o Esquadrão Josaphat.
a) - A Formação do Esquadrão:
O Major Baiano Candinho, inteligentemente,
fora promovendo os seus melhores homens,
formando assim, o seu Estado-Maior Pessoal.
Ao posto de Capitão, promoveu o seu
cunhado Luiz da Conceição, e o companheiro de
Guerra do Paraguai, o Baiano Tonho.
Capitão Luna, que viera como foragido buscar
acolhida na fazenda serrana do Coronel Batista,
ostentava o posto de Capitão, que lhe fora outorgado
pela Brigada Militar da Província.
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Ao posto de Tenente, ele promoveu França
Gross que era tio da sua mulher. Promoveu ainda os
companheiros da Guerra do Paraguai: José Baiano e
João Baiano, bem como o Sargento Pedroso. O
Tenente Valdo Crespo, já viera com este posto, como
desertor da Brigada Militar e foi integrado ao Pelotão
dos Brigadas.
b) – O Efetivo do Esquadrão: (cento e oito homens).
- 1 Major Comandante;
- Pelotão Três Forquilhas - Pelotão
Protestante: 1 Capitão, 2 Tenentes, 2 Sargentos, 2
Cabos e 37 Soldados.
- Pelotão Serrano – com maioria de
protestantes: 1 Capitão, 2 Tenentes, 2 Sargentos, 2
Cabos e 32 Soldados.
- Pelotão da Escolta - Pelotão dos Brigadas: 1
Capitão, 2 Tenentes, 2 Sargentos, 4 Cabos e 23
Soldados.
O Esquadrão, ocasionalmente, era reforçado
por jovens que faziam questão de acompanhá-los
nas andanças, motivados pelo espírito de aventura.
c) – Armamento, munição e tiro:
Baiano Candinho, pessoalmente, além de
portar uma espada, usava um revólver de fabricação
americana e uma carabina Winchester. Os seus
oficiais não possuíam espada. Usavam duas pistolas
e uma arma de cano longo. Os sargentos, cabos e
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soldados também usavam uma arma de cano
comprido e, alguns poucos possuíam uma pistola.
Entre os serranos, a maioria portava uma lança, de
fabricação pessoal, feita com vara forte, tirada do
mato.
É difícil saber de onde vieram as primeiras
armas para o efetivo do Esquadrão. O Major
Candinho teria recebido as suas armas pessoais,
como um presente do Major Azevedo, em fins de
1891, em Conceição do Arroio.
Quando da vinda dos Brigadas para o lado de
Candinho, estes, por sua vez, também trouxeram
boas armas e farta munição, para reforçar o
Esquadrão.
Diversas armas eram antigas, do tempo da
Guerra do Paraguai. Não nos preocupamos em
descobrir qual era, exatamente, o tipo de arma,
utilizado pela Brigada Militar da Província do Rio
Grande do Sul, naquela época.
A munição para as pistolas e para as armas
mais antigas era confeccionada pelos próprios
integrantes do Esquadrão Josaphat. Apenas as armas
mais modernas contavam com munição pronta:
cartuchos ou balas.
A prática de tiro era proibida, com o objetivo
de economizar a munição, ao máximo. Apenas para
eventuais situações, como da caça, era oferecido um
exercício de tiro, para estes soldados revolucionários.
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d) – Equipamentos, subsistência e suprimentos:
Fato que chama a atenção é que nenhum dos
integrantes do Esquadrão Josaphat receberia
qualquer tipo de pagamento. Eram todos soldados
sem soldo.
Para prover a alimentação à tropa, Candinho
contava com a ajuda de Coronéis Serranos, com
destaque para o Coronel Baptista. Este chegara a
alojar em algumas ocasiões, todo o efetivo do
Esquadrão, nos galpões da sua fazenda em
Contendas.
Major Voges, da Colônia de Três Forquilhas
também forneceu charque e farinha, trazidos de sua
Fazenda de Capão Alto, de Cima da Serra, em
diversas oportunidades, para livrar os maragatos da
penúria da fome.
Os integrantes dos pelotões Três Forquilhas e
Serrano tiveram suas propriedades particulares, com
ranchos e lavouras. Contaram, desta forma, com a
ajuda de esposa, filhos e muitas vezes dos pais e
outros parentes, que ajudavam a supri-los com o
alimento necessário.
Apenas Capitão Luna e os integrantes do
Pelotão dos Brigadas estiveram fora desta regra. Ao
passarem para o lado federalista, deixaram de ter o
soldo garantido e criaram um delicado problema para
o efetivo. Eles não demonstravam disposição para
adotar a parca dieta dos serranos, que viviam
contentes com um pouco de charque, farinha de
mandioca, rapadura e cachaça. Os Brigadas
estranharam tal cardápio e passaram a reclamar da
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comida, pedindo que lhes fosse fornecida carne
fresca, pelo menos, algumas vezes por semana.
e) – A arma do Esquadrão:
Pelo termo Esquadrão fica definida a Arma do
mesmo. O comandante, Major Baiano Candinho, os
definiu como sendo da Arma da Cavalaria e lhes deu
os rudimentos de movimentação – estratégia – da
arma da cavalaria. Nos melhores momentos, eles
somaram um efetivo de aproximadamente 110
homens, o que não chega a ser, exatamente, o
número necessário para compor um Esquadrão da
Cavalaria, dos tempos modernos. Faltaria um
Pelotão, para estabelecer um efetivo, que devia ser
superior a cento e vinte homens.
f) – A atuação do Esquadrão:
O Esquadrão Josaphat jamais chegou a entrar
em combate. Mesmo mais tarde, na tomada da
cidade de Conceição do Arroio, não aconteceu
nenhum confronto bélico onde o próprio Candinho e
seu Estado Maior entrassem em combate. Afinal, os
moradores arroienses capitularam, sem resistência.
O Esquadrão Josaphat foi dissolvido, logo após a
assinatura do armistício, em agosto de 1895, ainda
intacto, plenamente armado e, em perfeitas
condições de combate.
g) – A relação nominal dos integrantes:
- Pelotão Três Forquilhas: Capitão Luiz da
Conceição, Tenente França, Tenente Manoel Cândido,
Sargento Firmino Cândido, Sargento Miguel Gralha,
Cabo Joaquim Bicudo, Cabo João Gordo e os
Soldados: Pedro Aribu, Mano Jorge, Jacobe Fuero,
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Jovem França, Cala Beca, Crispim França, Filipe
Ofes, Alemão Juarte, Naldo da Hora, Alemão
Cascudo, Geraldo Gralha, João Franco, Jesus Crioulo,
Serafim José, Jacó Cândido, Pedro Cândido, Patrulha
Filho, Firmino Velho, Rico Marques, João Cabeleira,
Chico da Onça, Chico Sovéu, Tatu Serrano, Lulu
Fandango, Carlos Girivá, Dolfo Leão, Lemes Bugre,
João Rico, Rico do Pilão, Chico Pinto, Martinho Canjo,
Jorge Canjo, Leo Canjo, Cala Barata, Jonas Barata e
Corneteiro Silva. (Nenhum destes integrantes usava
farda. Seus trajes eram os comuns de gaúchos ou
peões.
- Pelotão Serrano: Capitão Tonho Baiano,
Tenente José Baiano, Tenente João Baiano, Sargento
Bom Martim, Sargento Doinho Gaiteiro, Cabo Martim
Pistola, Cabo Martim Piedade e os Soldados: Fili
Beca, Gorgio Beca, João Guano, Tilico Beriva, José
Beriva, João da Mula, Tatu Viola, Rosa Baiano, Pedro
Sabino, José Sabino, Carlos Sabino, Joaquim Dezoito,
Beto Guimaria, Chico Brás, Francelino Brás, Lulu
Gaspar e Fredo Gaspar, José Nascimento, José Vidal,
Joca Dionísio, Antônio Gonçalves, José Ferreira,
Antônio Ferreira, Manoel Nascimento, Joaquim
Rescindo, Neco Serrano, Maneco Oliveira, Saturno
Queromana, Democa Cangalha, Emílio Cambará,
Estevam Cambará e Agostinho Bicudo.
- Nenhum destes integrantes usava farda. As
vestes eram as comuns, de gaúchos ou peões.
- Pelotão da Escolta: Capitão Luna, Tenente
Valdo Crespo, Tenente Pedroso, Sargento José Maria
da Silva, Sargento David Feijó, Cabo Franciscão
Velho, Cabo Moço Peres, Cabo Macuco, Cabo Manoel
Geatha e os Soldados: Henrique Baiano, Leonel
Brandão, Reinécio Prado Antunes, Arthur Manoel de
![Page 185: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/185.jpg)
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185
Lima, Francisco Xavier Braga, Zeferino Antônio
Gomes, Valeriano Gonçalves, Domingos Gonçalves
Meireles, João Agapito Dutra, Francisco da Rosa,
Manoel Antônio Fernandes, Crescêncio Abade,
Fausto Ruivo, Fausto Caboclo, Jorge José Corrêa
Toledo, Manoel Glória da Silva, Avelino Soares,
Francisco Salustiano, Pedro Fagundes, Paulino
Bruaca, Casemiro Criuva e o Corneteiro José Silveira.
A maioria dos integrantes do Pelotão da
Escolta haviam sido soldados da Brigada Militar, que
desertaram, bandeando-se para o lado federalista.
Em todas as aparições públicas, Major Candinho fazia
questão de vê-los usando a farda, para impressionar.
Apenas seis deles não usavam farda, por serem
nativos da Colônia de Três Forquilhas e Serra do
Pinto.
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186
GONÇALVES RECEBE PENA DE MORTE
Tenente Pedroso recebeu diversas tarefas, ao
passar-se para o Comando do Major Baiano Candinho. A
primeira era de organizar um grupamento, com a ordem
explícita de prender e logo eliminar o Sargento Gonçalves.
Assim como Major Azevedo havia sido sumariamente
executado, o matador ou assassino deste merecia a mesma
pena, pois o momento era de Revolução.
Pedroso pediu por voluntários e logo se
apresentaram Francisco Xavier Braga, Arthur Miguel de
Lima, David Feijó e Reinécio do Prado Antunes.
Pedroso repetiu as ordens de Candinho. Eles deviam
ir até a casa onde Sargento Gonçalves se hospedava
próximo da Lagoa Itapeva, na direção de Três Cachoeiras.
Deviam transmitir o aviso de que viera um estafeta de
Conceição do Arroio, com novas tarefas para a Escolta.
Orientou que, ao trazer o Sargento, deveriam abatê-lo,
antes da chegada ao território da Colônia de Três
Forquilhas. A forma de execução podia ser o fuzilamento,
para não ser a mesma que o Sargento Gonçalves aplicara
no Major Azevedo. Apenas o cavalo, as armas, os pertences
e as divisas de Sargento interessavam. O restante das
coisas, que as jogassem no mato. Quanto ao corpo, que o
deixassem insepulto para servir de pasto para os urubus.
No dia seguinte, o belo cavalo que pertencera ao
Major Azevedo estava sendo conduzido para o
aquartelamento do Esquadrão Josaphat, na Serra do Pinto.
Major Baiano Candinho afagou demoradamente o
cavalo, dizendo: - “Isto é montaria só para um
Comandante”.
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O Comando Geral do Movimento Federalista, bem
depressa tomou conhecimento dessa façanha do Major
Candinho. Mas o nome dele também passou a correr entre
os castilhistas, em Conceição do Arroio, em Torres e
particularmente na Capital da Província. Os castilhistas
roíam-se de raiva e passaram a exigir com insistência a
cabeça do bandido, que continuava a prêmio.
Baiano Candinho fez anunciar aos castilhistas de
Conceição do Arroio que o assassino do nobre Major
Azevedo, tão covardemente abatido em terras arroienses,
havia sido exemplarmente punido. Candinho mandou
também dizer que o valoroso Major Azevedo, Chefe
Maragato jamais merecera receber uma morte tão inglória,
pois reconhecidamente sempre fora um homem de bem.
Mandou acrescentar, que o aguardassem, pois estava
desejoso de vê-los algum dia, frente a frente, para
pessoalmente dizer tudo isto.
O novo Intendente castilhista de Conceição do Arroio
entendeu que existiam sérias ameaças no recado de
Candinho. Solicitou providências do Governo da Província e
comunicou que o Sargento Gonçalves sofrera uma morte
perversa, que não podia ser deixada impune.
Mas nada se falava de morte perversa do Major
Azevedo ou do tiro nas costas em Padre Fernandes ou dos
quatro homens de Candinho, que também haviam sido
eliminados de forma covarde, sem prisão e sem julgamento.
Os castilhistas entendiam que os bandidos podiam
ser mortos. Tudo o que fosse contra eles, era justo e
correto. Apenas o que os maragatos faziam, eram atos
perversos, cometidos por bandidos.
Em resposta ao apelo do Intendente de Conceição do
Arroio veio comunicado expresso, de Porto Alegre,
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comunicando que haviam sido ordenadas medidas
saneadoras, contra os bandidos da Serra do Pinto.
Brigadas no sobrado de pastor
A ordem de Major Candinho, para que o Pelotão da
Escolta ficasse por sete dias na sede de Três Forquilhas,
certamente visava impressionar a Colônia. Tenente Pedroso
levou o efetivo, com os uniformes bem limpos, e em
formação e postura militares.
Baiano estivera presente ao sepultamento do idoso
pastor Voges e sabia que o mesmo falecera, com noventa e
dois anos de idade, seguido em poucos meses pela esposa.
Esse pastor o recebera para casar na Igreja, com a Maria
Witt. O velho batizara também todos os seus filhos mesmo
aqueles que ele tivera com amantes.
Candinho estivera muitas vezes naquele sobrado,
sempre sendo bem recebido. Lembrava-se também, da
ocasião em que levou o Pelotão Protestante, de Três
Forquilhas, para receber a benção do velho. Por isto,
Candinho queria acreditar que, se o pastor ainda estivesse
em vida, certamente haveria de benzer também esses
homens.
Os vinte e quatro homens, conduzidos pelo Tenente
Pedroso, perfilaram diante do Armazém do Major Voges. O
dono da casa revelou espanto e convidou o brigadiano para
adentrar ao recinto, imaginando que ainda se tratava da
Escolta Castilhista. O escrivão Christovam Schmitt mostrou
inicialmente satisfação pela atitude cortês do comandante
do efetivo, que os visitava em atitude tão positiva.
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189
Tenente Pedroso fez um relato dos últimos
acontecimentos. Explicou os motivos que os levaram a
passar para o lado federalista. Comunicou que o novo chefe,
Baiano Candinho ordenara que ocupassem durante sete dias
o sobrado do pastor, como quartel.
Nem o Major Voges e nem Christovam gostaram do
pedido. Não tinham nenhuma disposição para colocar gente
estranha naquela que fora a casa pastoral, desde 1850.
Major Voges propôs então uma solução
intermediária. Os soldados poderiam ficar muito bem
alojados, nos galpões, nos fundos da casa. Apenas o
Tenente iria dormir no sobrado, já que no momento
respondia pelo comando do efetivo.
Tenente Pedroso concordou com a proposta dizendo
que esta era também a sua opinião, uma vez que não era
conveniente que soldados dormissem no mesmo alojamento
do comandante.
Major Voges chamou um peão, ordenando a
organização do galpão, para receber os soldados
brigadianos. Depois chamou uma das negras da casa,
ordenando que levasse roupa de cama limpa e preparasse o
quarto para o Tenente.
Pedroso saiu sorridente e procurou colocar ordem
nos soldados que já se mostravam impacientes. Eram
homens com escassa disciplina militar.
Os sete dias passaram rapidamente. Mesmo assim os
soldados já estavam por demais inquietos, temerosos da
vinda de alguma nova Escolta da Brigada Militar. Eles
desejavam subir a Serra logo e serem unidos ao efetivo de
Candinho, onde afinal estariam mais seguros.
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190
Chegou o momento da despedida. O Tenente colocou
a tropa mais uma vez em forma e ordenou que fizessem
uma continência ao Major.
A estrada estava repleta de curiosos. Ninguém
conseguia entender ao certo os acontecimentos. Uns
explicavam que a tropa castilhista invadira o sobrado do
falecido pastor. Já outros garantiam que se tratava de uma
força federalista, formada por brigadianos desertores.
Major Voges convidou o Tenente para uma breve
conversa, que aconteceu na presença do escrivão. Devia ser
bem a sós, apenas os três. Inicialmente Voges fez a entrega
de uma garrafa de vinho ao Tenente com a recomendação
para que a guardasse para algum momento muito especial.
Depois, em tom paternal, alertou que, sempre que o
Tenente quisesse tomar alguma providência em relação aos
moradores da Colônia, que primeiro consultasse o Major
Baiano Candinho. Jamais deveriam tomar nenhuma atitude
por conta própria, pois havia um entendimento para não
haver combates ou agressões a pessoas no território da
Colônia de Três Forquilhas.
Tenente Pedroso despediu-se, agradecendo pela
hospitalidade e pelas atenções e conselhos do Major. A
seguir montou seu cavalo e deu ordem de trote largo, rumo
a Serra.
Erro de Baiano Candinho
Baiano Candinho sempre escolhera com cuidado os
integrantes do seu efetivo. Desejara homens que lhe fossem
leais. Todo o espião devia ser eliminado e todo o elemento
não confiável não devia ser incorporado ao efetivo.
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Entretanto, com referência a Capitão Luna e ao
Tenente Valdo Crespo ele se descuidara. Se não foi
descuido, então foi por obedecer e aceitar a imposição do
Coronel Baptista que acolhera esses desertores e os
desejava ter em seu território.
Coronel Baptista explicou que Capitão Luna e Valdo
um belo dia, haviam chegado a sua fazenda, solicitando
refúgio. Eles haviam desertado da Brigada Militar para
escapar de punições que lhes seriam aplicadas e desejavam
servir a causa federalista.
Luna era um oficial indisciplinado, considerado cruel,
mas ninguém sabia dizer qual fora o crime dele na Brigada
Militar. Ele também não aceitava falar sobre o assunto.
Coronel Baptista o acolheu na esperança de poder contar
com os serviços do mesmo, no futuro. Certamente poderia
ser útil, para a defesa da fazenda, em caso de necessidade.
Candinho entregou a Luna todo um Pelotão dos
Brigadas. Ordenou que sempre mantivessem as fardas em
ordem, para serem trajadas em ocasiões especiais. Não era
isto uma mera vaidade, de Candinho? Será que não fora
talvez isto que o levara a entregar o Pelotão para um
desconhecido? Não tinha ele homens bem mais qualificados,
como José e João Baiano, seus companheiros do tempo da
Guerra do Paraguai?
Capitão Luna, já ao assumir o comando do Pelotão,
pediu permissão para estabelecer-se num lugar conhecido
por Grota da Onça, para ficar fora das vistas de Candinho.
Os seus argumentos pareciam corretos. Já que o Pelotão
Três Forquilhas mudara-se para a propriedade do falecido
João Patrulha e o Pelotão Serrano estava na área das
Charnecas de Labatut, ele teria também um ponto
particular, para o seu aquartelamento. Prometeu que
haveria de cuidar de munir a sua tropa com víveres, através
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do auxílio de fazendeiros e colonos maragatos de toda a
região. Seria uma preocupação a menos para o Comandante
do Esquadrão Josaphat. Estranhamente Baiano Candinho
não avaliou o risco que isso representava. Esse Pelotão teria
uma autonomia de movimentos muito grande. Mesmo
assim, com a aquiescência do Coronel Baptista, foram
aceitas as ponderações de Capitão Luna, e, este seguiu
rumo à Grota da Onça.
Luna passou imediatamente a trabalhar o espírito
dos seus subordinados. Sempre que podia, os humilhava
declarando que eles não eram homens de valor. Sempre
teriam estado em mãos de maus comandantes. Chamou-os
de pobres iludidos, pois que Candinho os havia subjugado
com artimanhas. Disse então o quanto eles estavam
servindo de motivo de riso, até para as mulheres. Na Serra
o comentário geral era que ao invés de farda, eles deveriam
usar saias coloridas e rendadas, como prendas dos peões.
A reação foi rápida e, em pouco tempo, os brigadas
ficaram totalmente sob o controle de Capitão Luna e de
Valdo Crespo, menos do Tenente Pedroso, que recebera
outra promoção de Candinho e estava integrado ao seu
Estado-Maior. Afinal Pedroso revelara ser um bom
cumpridor de ordens e Candinho garantia que, por isso,
aprendera o primeiro passo para ser um bom comandante.
Tenente Pedroso, alertou Baiano Candinho sobre a
situação dos Brigadas. Este, porém não deu grande
importância. Apenas enviou seu enteado Henrique Baiano e
o Leonel Brandão, para se juntarem ao Pelotão dos Brigadas
e o deixarem informado de qualquer problema naquele
efetivo. Imaginou que desta forma tudo haveria de ser
mantido sob o seu controle.
Capitão Luna, sempre que precisava chegar a
presença do Comandante do Esquadrão, fingia obediência e
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lealdade. Conseguia manter as aparências. A impressão de
um observador menos avisado era que Candinho tinha nas
mãos um Esquadrão bem disciplinado e coeso.
O filho Henrique, ao invés de se manter fiel ao
padrasto, passou a submeter-se à influência de Capitão
Luna. Era de opinião que Luna era bem mais arrojado e
corajoso. Era um homem de decisão. Deixou, por isto, de
levar ao conhecimento do padrasto, as manobras do
Capitão, que claramente estava montando um efetivo
particular e independente.
Diante de Henrique Baiano, Capitão Luna procurava
demonstrar franqueza e uma demonstração de confiança,
sempre elogiando o valor do jovem. Explicava que
precisavam contar com a hipótese de Major Candinho vir a
ser morto, em algum confronto, pois era caçado como
sendo um bandido. Eles então teriam que ter condições de
continuar com a Revolução, sem ele.
Capitão Luna, na verdade, tinha bem outra
preocupação. Não só ele, porém todos os desertores da
Brigada, somente podiam pensar em uma coisa: a vitória
dos federalistas. Uma derrota lhes seria fatal, pois não
teriam para onde ir. Eles só sabiam ser Brigadas.
Certamente, este era o maior motivo de Luna, para manter
para si, um espaço maior de ação e decisão e tentar
construir o seu futuro.
Major Baiano Candinho, contava com apenas dois
pelotões leais: Três Forquilhas e Serrano. Os Brigadas
estavam totalmente sob o controle de Capitão Luna.
Henrique Baiano e Leonel Brandão ficaram dominados, a tal
ponto que Tenente Pedroso passou a temê-los. Nada mais
falava com Candinho, sobre suas preocupações iniciais, pois
notou que o seu chefe colocava confiança demasiada nos
dois homens infiltrados junto ao efetivo de Luna.
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194
GUMERCINDO PASSA POR VACARIA
Major Voges perguntou: - “Por que Gumercindo
Saraiva e demais revoltosos maragatos estão cavalgando
rumo ao Rio de Janeiro se o destino correto deveria ter sido
Porto Alegre para derrubar Julio de Castilhos? O que Baiano
Candinho tem a ver com essa aventura da luta contra o
Governo Federal? A única justificativa que eu conseguia
aceitar para a mobilização de filhos de Três Forquilhas era a
intenção de tomar o poder do Governo Riograndense. Mas
agora a Revolução perdeu o seu rumo!”.
Major Voges estava reunido, em seu armazém, com
alguns amigos, todos antigos liberais e maragatos
convictos.
O major continuou com seus comentários: - “Para
que eu mesmo responda a minha pergunta, preciso voltar
no tempo, para vos fazer lembrar a situação que se formou
no cenário político nacional quando Marechal Deodoro da
Fonseca renunciou à Presidência da República, em 23 de
novembro de 1891. Deodoro sempre favoreceu as nossas
expectativas liberais, de maragatos riograndenses.
Desejávamos ficar livres do autoritarismo de Julio de
Castilhos. Porém, quem assumiu o Governo Federal?
Lamentavelmente esse vice Floriano assumiu e nos deixou
de lado. Esse Floriano passou a conceder apoio aos
castilhistas, mesmo que ele havia sido um liberal, no
passado. Floriano é um traidor de seus próprios ideais, pois
passou para o outro lado apenas para fortalecer a si
mesmo. Ele é hoje aquele que nos voltou as costas. Voltou
as costas aos liberais e maragatos. A última reserva de
paciência esgotou no início do ano de 1893 quando Julio de
Castilhos conseguiu retomar o Governo do Rio Grande do
Sul. Entendemos que o Governo Federal favoreceu os
castilhistas, de muitas maneiras, apesar de ser dito que a
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escolha seria feita pelo voto popular. Foi sob duras pressões
e brutalidades que Júlio de Castilhos alcançou o governo da
nossa Província e com isso provocou essa Revolução.
Através de todos os rincões gaúchos passaram a ecoar
vozes de revolta, também aqui em Conceição do Arroio e no
nosso vale do rio Três Forquilhas. Vocês sabem que sempre
fui contra a possibilidade de uma luta sangrenta,
ingenuamente acreditei que mostrando a nossa força
seríamos respeitados e aceitos, para recebermos nosso
espaço, sermos uma voz ativa na política. Hoje, nós
maragatos não vemos mais nenhuma perspectiva de
espaços para a participação política. A última gota de
esperança se desvaneceu, no momento em que Gumercindo
Saraiva seguiu na direção errada, rumando para o Rio de
Janeiro. Lá não temos nada para fazer... Agora a briga
deixou de ser com a política castilhista e daqui em diante
começará também uma luta ainda mais complicada, contra
a política e o governo florianista. Não acredito que isso foi
correto e bom. Se eu pudesse ter falado alguma coisa ao
Silveira Martins eu teria dito a ele: < você enlouqueceu de
vez? O objetivo não era apenas a derrubada do Castilhos?>.
Major Voges ao tecer tais comentários cuidava muito
e somente abordava esse assunto quando cercado de
pessoas de sua maior confiança, sem a presença de seu
filho Carlos e nem do seu genro escrivão.
Havia sido no dia 15 de fevereiro de 1893 que
Gumercindo Saraiva atravessara a fronteira, vindo do
Uruguai para o Rio Grande do Sul com cerca de quinhentos
homens. Alguns dias depois, foi seguido pelo general Joca
Tavares, que chegou com cerca de três mil homens.
Estavam adentrando o território de Santa Catarina e
apregoavam estarem a caminho da Capital Federal.
![Page 196: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/196.jpg)
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FIGURA 21: Gumercindo Saraiva. Fonte: Figura colhida na Internet.
Major Baiano Candinho se apressou recrutando
voluntários serranos e da Colônia de Três Forquilhas, com o
objetivo de reforçar a ação dos revoltosos gaúchos.
Reuniu mais de cinquenta voluntários, para esse fim
específico de conceder reforços para Gumercindo Saraiva,
porém apenas 24 desses nomes são conhecidos 1) – Carlos
Girivá, 2) – Dolfo Leão, 3) – Bugre Lemes, 4) – João Rico,
5) – Rico do Pilão, 6) – José Vidal, 7) – Joca Dionísio, 8) –
Antonio Gonçalves, 9) – José Ferreira, 10) – Antonio
Ferreira, 11) – Beto Guimaria, 12) – Lula Gaspar, 13) –
Tilico Beriva, 14) - Fredo Gaspar, 15) – Mila Gâmba, 16) –
Estevam Gâmba, 17) – Paraguaio Gross Filho, 18) –
Joaquim Rescindo, 19) – Maneco Oliveira, 20) – Negro
Democa, 21) - Saturno Queromana, 22) – José Sabino, 23)
– Carlos Sabino e 24) – José Beriva.
Estes homens participariam, no Estado do Paraná,
dos combates do Cerco da Lapa, partir de 14 de fevereiro
de 1894, e depois ajudaram a tomar a cidade de Curitiba.
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Sabemos que o Cerco da Lapa iniciou em 14 de
janeiro de 1894 e teve a duração de 28 dias. A tomada de
Curitiba ocorreu em 19 de janeiro de 1894.
Estes voluntários da Colônia de Três Forquilhas e da
Serra que participaram das lutas em solo paranaense, a
maioria deles sobreviveram à Revolução. Porém, muitos
deles só anos mais tarde se encorajaram a pisar novamente
em suas propriedades, no vale do vale do rio Três
Forquilhas.
Os federalistas permaneceram em Curitiba por um
período de um pouco mais de três meses. Abandonaram a
cidade no dia 01 de maio de 1894. Tiveram que bater em
retirada, rumo ao solo riograndense.
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OS EFEITOS DA REVOLUÇÃO
A partir de 1893 os estados do Sul do Brasil
passaram a sentir o clima de convulsão social, provocado
pela Revolução Federalista.
Em Três Forquilhas a situação confundiu a população
e diversas famílias ficaram divididas, uns aderindo ao
castilhismo em ascensão e outros se mantendo fiéis aos
ideais dos maragatos.
No passado a Colônia havia seguido, quase na
totalidade de sua população, as idéias liberais professadas
pelo General Osório e tantas lideranças insignes e de valor
patriótico.
O Major Adolfo Felipe Voges, filho do pastor, chefiara
o Partido Liberal desde o princípio. Quando, porém surgiu o
movimento federalista, ele foi se distanciando do novo
movimento encabeçado por Silveira Martins que criou o
Partido Federalista.
Bahiano Candinho, que lutara na Guerra do Paraguai
e que se refugiara em Três Forquilhas, fora acolhido pela
Comunidade. Ele assumiu inicialmente os ideais farroupilhas
inspirado pelas histórias que o combatente Miguel Barata
Eberhardt lhe contara. Integrou-se depois ao trabalho
policial sob o comando de Major Voges, chefe maragato da
Colônia. Finalmente aderiu ao movimento federalista e por
causa disso as lideranças desse partido em Conceição do
Arroio o elevaram ao posto de Major. Dali em diante ele
passara a circular em um vaivém entre a Serra e Conceição
do Arroio, fazendo o contato com as forças federalistas em
movimento nesta área22. Possivelmente Candinho alimentou
a idéia de assumir a um importante papel político nessa
região da Colônia Alemã de Três Forquilhas, uma vez que
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era casado com a alemã Maria Witt e se considerava bem
integrado à população local.
Nesse meio tempo surgiu uma força castilhista, da
própria Colônia. Eram os Capitães da República, os oficiais
da Guarda Nacional Carlos Frederico Voges Sobrinho, João
Carlos Pedro Strassburg, João Pedro Jacoby Neto,
Christovam Schmitt e Jacob Tietböhl. Eles passaram a se
organizar dentro dos ideais republicanos, sob a inspiração
de Julio de Castilhos.
A situação, porém tomou-se insustentável quando
em 1894, poucos dias após o falecimento de dona
Elisabetha e Mãe Maria, um grupo federalista invadiu o Vale
de Três Forquilhas. O sobrado do pastor estava em situação
de quarentena, com portas e janelas sempre abertas de
modos que os invasores facilmente se apossaram da casa.
Durante um dia e uma noite, ali fizeram seu Quartel
General. Era apenas uma tropa federalista de passagem a
caminho de Santa Catarina. Não tinham nenhuma ligação
com Baiano Candinho e certamente não o conheciam ou que
tivessem conhecimento do local onde este se fixara. Porém
eles aproveitaram a estada para exigir suprimentos,
charque, farinha e rapadura tiveram que ser entregues
espontaneamente para ficarem livres de pilhagens. Os
colonos e comerciantes se queixaram, alegando que outros
haviam passado antes deles e levado a maior parte dos
suprimentos disponíveis.
Era o chamado confisco sob a alegação da urgente
necessidade de levar ajuda e suprimentos para o Exército
Revolucionário sob o comando de Gumercindo Saraiva, que
se deslocava rumo à Capital Federal.
Candinho na ocasião se encontrava no Alto Josaphat,
também envolvido em providenciar reforços humanos para
Gumercindo Saraiva, através da formação de um Pelotão
![Page 200: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/200.jpg)
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200
Avulso, integrado por jovens da Colônia de Três Forquilhas,
dentre os quais se destacavam o filho do paraguaio Gross, o
Carl Daniel Gross Filho e os irmãos Rudolf, depois
conhecidos pelo sobrenome Rodolfo.
Felizmente Carlos Frederico Voges Sobrinho havia
organizado um esconderijo em sua propriedade, no local
conhecido por Invernada dos Cavalos deixando-os livres das
visitas e da cobiça dos atacantes. Os colonos haviam levado
para aquele esconderijo seus melhores cavalos, gado e
determinados bens.
Quando não eram os castilhistas vinham os
federalistas, requisitando gêneros alimentícios, cavalos e
novilhas para suprirem suas forças.
O esconderijo na propriedade de Carlos F. Voges
Sobrinho foi então reforçado com mais homens armados e
mantido desta forma durante todo o tempo da revolução.
Foi à maneira que encontraram para preservar seus
melhores animais e bens, deixando-os longe da cobiça de
eventuais invasores que passavam pelo território da
Colônia.
A situação somente começou a se normalizar a partir
do momento em que as forças federalistas entraram em
colapso em Curitiba e vieram em fuga, rumo à fronteira com
o Uruguai.
Os Capitães da República passaram então a assumir
firmemente as rédeas da política local. Carlos Frederico
Voges Sobrinho, alcunhado de O Dictador23, rapidamente
subiu no cenário recebendo o reconhecimento de todos
pelas medidas decididas e enérgicas, em favor do bem-estar
e do patrimônio da Colônia.
![Page 201: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/201.jpg)
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201
A GUILHOTINA BRASILEIRA
Quem pela primeira vez ouve sobre a crueldade da
Revolução Francesa, não imagina que no Brasil também
tivemos a nossa guilhotina em meio a uma revolução
sangrenta.
No Brasil, a guilhotina, apenas foi mais rústica. Foi
na base do facão, nas mãos destras de um degolador, foi a
guilhotina brasileira.
A prática da degola não pode ser atribuída apenas
aos maragatos. Os republicanos também eliminaram
pessoas, ou a tiros, ou, também, através da degola.
Nestas alturas, qual a diferença, se o condenado à
morte leva um tiro ou enfrenta a degola?
Eram, de qualquer forma, eliminados, tirados do rol
dos viventes.
FIGURA 22: Maragato Degolador Fonte - Acervo Casa da Memória – CURITIBA-PR.
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202
Lemão Galalau, o degolador
Já citamos que quatro irmãos Rodolfo integraram o
Pelotão Avulso, com talvez quarenta ou cinquenta
cavaleiros, enviado por Baiano Candinho, em 1893, para
reforçar o efetivo do General Gumercindo Saraiva.
Esse pelotão, colocado sob o comando do Capitão
Paraguaio Gross Filho contou com a presença de quatro
irmãos Rodolfo, conhecidos como: Lemão Carlos Galalau,
Dolfo Leão, Bugre Lemes, João Rico ou Rico do Pilão. Lemão
Carlos ou também conhecido como Lemão Galalau, o
degolador era o mais velho dos quatro irmãos.
Quem era Lemão Carlos, o Galalau? Ele nascera na
Colônia Alemã de Três Forquilhas em 17 de dezembro de
1863 e foi batizado pelo pastor Voges com o nome de Karl
Johann Rudolf. Era filho do mercenário prussiano August
Rudolf, (dos militares Brummer, trazidos em 1851 para
combater nas Guerras contra Oribe e Rosas), e de Catharina
dos Santos, filha do índio Manoel Santos.
Os irmãos Rodolfo foram sobrinhos de João Patrulha
- Johannes Menger - e trabalharam por longo tempo como
tropeiros, na Serra, sob a proteção do tio. Convém lembrar
que, na época, ser tropeiro era das melhores profissões,
bem remuneradas, além de permitir andar pelos caminhos,
até fora do Rio Grande do Sul, rumo a Santa Catarina,
Paraná e São Paulo.
O Pelotão Avulso, integrado pelos cavaleiros de Três
Forquilhas, Serra do Pinto e Josaphat, participou da
cavalgada e de combates através do Estado de Santa
Catarina e, depois, no Cerco da Lapa e participou da
Tomada de Curitiba, no Estado do Paraná, integrados ao
efetivo do General Gumercindo Saraiva.
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Uma gravata vermelha pro padre!
Em inícios de 1894 os federalistas chegaram a cidade
da Lapa, no Estado do Paraná. Colocaram o lugarejo sob
cerco total. Entre os atacantes encontravam-se os
integrantes do Pelotão Avulso, cedidos por Baiano Candinho
para reforçar o efetivo do General Gumercindo Saraiva.
Para relatar detalhes a respeito desse cerco à cidade
da Lapa, podemos dizer que o Comando Revolucionário ao
chegar lá, logo instalou seus canhões em dois pontos, o Alto
da Cruz e o Alto do Monge. Enviaram emissários para dar
alerta aos primeiros moradores, mais próximos, avisando
que um ataque seria iminente. Insistiram que a população
deveria sair, imediatamente, enquanto pudessem.
Gumercindo Saraiva esperava que o alerta fosse obedecido.
Ele desejava ter o caminho aberto e livre para a passagem
das tropas de assalto.
FIGURA 23: Comando Revolucionário Maragato Fonte: Acervo da Casa da Memória – Curitiba – PR.
O templo luterano da cidade da Lapa ficava
diretamente na mira dos canhões. O Pastor David Wiedmer
chamou a esposa e alguns paroquianos para organizarem
![Page 204: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/204.jpg)
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uma saída rápida. Entretanto, mal os emissários haviam
saído já os canhões passaram a troar de forma
ensurdecedora. Um certeiro tiro atingiu o templo luterano,
danificando-o visivelmente. Houve grande confusão.
O pastor, rapidamente, escondeu a esposa no porão
da igreja, através de um alçapão, que estava disfarçado sob
o estrado do harmônio. Ele desejava buscá-la mais tarde,
depois de reunir alguns paroquianos que desejavam
acompanhá-lo.
Porém Wiedmer não foi longe. Diante de uma
barricada, foi identificado por um morador da Lapa que
aderira aos revolucionários. Este alertou: - “Eis aí o padre
alemão, do qual lhes falei!”.
O que poderiam querer dele? Certamente não era
assistência religiosa.
O pastor foi conduzido preso e apresentado ao
General Gumercindo Saraiva. Para intimidá-lo o comandante
revolucionário falou: - “Vamos dar uma gravata vermelha
pro padre?”.
Wiedmer fazia poucos anos que estava no Brasil e
não dominava tal linguagem figurada, possivelmente em
portunhol (Gumercindo Saraiva falava a língua castelhana).
Inocentemente Wiedmer concordou, dizendo: -
“Pastor gosta, sim, de < kraffátha >”.
Todos riram.
Gumercindo Saraiva simpatizou com o pastor e deu-
lhe um elogio: - ”Padre peitudo, tche!”
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205
Gumercindo Saraiva mandou que chamassem um
tradutor. Queria solicitar um serviço ao pastor. Trouxeram o
Lemão Galalau, o degolador, que falava a língua alemã com
toda a fluência, para servir de tradutor, com o claro
propósito de intimidar o prisioneiro.
Lemão Galalau, porém, ao ver-se diante do pastor,
ficou sob forte emoção. Entendeu que este era cura d’almas
de sua igreja protestante. Nestas paragens distantes, tão
longe da Colônia de Três Forquilhas, lembrou-se do idoso
pastor Voges, aquele que o batizara, mas, que falecera fazia
poucos meses. Diante desta saudosa lembrança da terra
natal, Lemão Galalau se dispôs a fazer de tudo, e que
estivesse ao seu alcance, para que este pastor da Lapa, aí
indefeso, fosse respeitado e mantido com vida.
Lemão explicou ao prisioneiro que o Comandante
tomara conhecimento que o pastor entendia de medicina.
Eles necessitavam de atendimento para revolucionários
doentes e feridos. O Comandante o pouparia e lhe daria
liberdade de locomoção caso concedesse a palavra de honra
de não fugir e de conceder assistência médica ao efetivo
revolucionário.
Wiedmer, imediatamente, pensou na esposa,
escondida no porão da igreja. Ela morreria de fome e sede,
caso ele não conseguisse se manter com vida. Por este
motivo nem poderia mais pensar em fugir... Aceitou a
tarefa. Pediu que Lemão negociasse com o General, a
permissão para poder ficar estabelecido no templo, onde
mantinha uma pequena farmácia e remédios, que seriam
necessários para eventuais tratamentos.
Gumercindo Saraiva não vendo nenhum
inconveniente, concordou com o pedido do pastor. Já estava
antevendo que na manhã do dia que ia nascer, toda aquela
![Page 206: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/206.jpg)
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206
área em torno do templo luterano, deveria ficar sob o
controle dos revolucionários. Isto de fato aconteceu.
Desta forma, foi dado ao pastor Wiedmer, durante
aqueles longos dias de cerco, a oportunidade de passar
água e pão para a jovem e bela esposa, refugiada naquele
porão úmido e escuro.
Fim do avanço revolucionário
Lapa caiu diante das Forças Federalistas em fevereiro
de 1894.
O Pelotão Avulso cedido por Baiano Candinho, ali
tivera a primeira ação mais direta, em um combate mais
significativo e prolongado. Foi um mês de cerco.
Não encontramos nenhum registro sobre eventuais
baixas que pudessem ter ocorrido entre os homens de Três
Forquilhas. O que sabemos é que os revolucionários
maragatos perderam um tempo por demais precioso nesse
cerco demorado, num ponto aparentemente insignificante
para os propósitos da Revolução.
Eles não sabiam, mas, nós, hoje, sabemos que eles
desperdiçaram a possibilidade de avançar e chegar com
pressa a Capital Federal antes que Floriano Peixoto pudesse
se preparar para enfrentar os adversários.
Basta observar que os Revolucionários, ao deixarem
Lapa dominada, entraram em Curitiba, sem nenhuma
resistência mais significativa. Tomaram a Capital
Paranaense com a maior facilidade e ali ficariam mais uma
vez parados, gozando dos resultados dessa conquista. Eles
cobraram dos curitibanos um tributo de guerra, que o Barão
![Page 207: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/207.jpg)
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207
de Cerro Azul providenciou sob a garantia de ter a cidade
preservada, sem saques e nem mortes.
Gumercindo Saraiva estabeleceu o seu Quartel
General no aquartelamento que se situava junto à Praça
Osvaldo Cruz.
O Pelotão Avulso de Três Forquilhas, incorporado à
Força principal de Gumercindo Saraiva, ali também foi
alojado.
Imaginemos aqueles rudes colonos de origem alemã,
da Colônia de Três Forquilhas, e os peões serranos do
Josaphat, deslumbrados com o brilho de Curitiba, passando
a gozar a boa vida, em aparente segurança e fartura de
provisões.
Eles, bem como toda a tropa revolucionária,
perderiam ali o resto do ímpeto de combatividade e não
tiveram mais pressa para alcançar a Capital Federal.
Na verdade, a Revolução Federalista estava perdida.
O Presidente Floriano Peixoto encontrara o tempo
necessário para respirar e organizar uma Força da República
e passar a combater os federalistas com todo o rigor.
Gumercindo Saraiva, reconhecendo a impossibilidade
de avançar, ordenou uma retirada, ou melhor, uma
verdadeira fuga, de retorno ao Rio Grande do Sul.
A situação se inverteu completamente.
Os revolucionários passaram a ser perseguidos e
caçados, implacavelmente. A ordem era para uma
eliminação sumária, sem prisioneiros.
![Page 208: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/208.jpg)
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O Pelotão Avulso, de Três Forquilhas, ao entrar no
território de Santa Catarina, tomou rumo próprio, na fuga.
Desejavam alcançar o Litoral Norte do Rio Grande do Sul,
para se unirem de novo ao Esquadrão Josaphat, de Baiano
Candinho.
Os fugitivos se movimentaram por trilhas e
caminhos, ou pelos matos, para desviarem dos postos de
vigilância das forças federais. Passaram fome e enfrentaram
inimagináveis dificuldades e contratempos.
Quase todos eles chegaram de volta ao lar, com
disposição para manter a luta, pois não se consideravam
derrotados. Podemos imaginar os relatos que eles
apresentaram a Baiano Candinho e aos humildes
combatentes que haviam permanecido no Josaphat.
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MORREM ELISABETHA E MÃE MARIA
Três meses e dezenove dias após a morte do pastor
Carlos Leopoldo Voges, também dona Elisabetha
Diefenthaeler Voges foi colhida pela epidemia, no dia 22 de
janeiro de 1894. E alguns dias, ainda em janeiro, também
Mãe Maria foi vitimada, sendo ambas sepultadas no
Cemitério do Passo que, naquela época, era o único da
Colônia.
As pessoas mais idosas, bem como as crianças e os
negros ficaram sem resistência física para suportar a
contaminação pela cólera e tornaram-se principais vítimas
desse mal.
FIGURA 24: Elisabeth Diefenthaeler Voges Foi professora da Escola da Comunidade de
Três Forquilhas entre 1833 a 1850. Fonte: Gravura do Arquivo da Família Voges.
Ninguém consegue medir a tristeza que se abateu
sobre a Colônia com essas mortes seguidas de pessoas da
liderança comunitária. Propagou-se um clima de desamparo
geral, talvez intensificado pela ausência de um sucessor no
pastorado da Colônia.
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210
“Ela foi o coração da Colônia”
Somente quando a professora Elisabetha
Diefenthaler Voges, a viúva do pastor Voges faleceu, a
Comunidade despertou para refletir sobre o papel que esta
mulher desempenhara durante quase sessenta anos de sua
vida, na Colônia de Três Forquilhas. Era comum agora
escutar: - “Se foi o coração da Colônia”.
Em 1828 ela chegara recém casada com o pastor,
para uma breve estada na Colônia, retornando com o
marido para o Vale do rio dos Sinos, mais especìficamente
Campo Bom, durante alguns anos. Em 1833 o casal decidiu
radicar em definitivo em Três Forquilhas.
Elisabetha, uma mulher nascida na Europa, numa
cidade onde as mulheres costumavam receber uma boa
formação escolar e eclesiástica, tinha noções de música e
canto, de etiqueta, além da formação escolar básica, no
contato com boa literatura para tornar-se leitora regular de
livros.
Esse privilégio, naquela época, não era para muitas
mulheres, algo que no Brasil também era através de
educandários e internatos particulares, em geral, mantido
pelas Igrejas.
Com base em seu preparo intelectual e espiritual ela
conseguiu realizar um fecundo trabalho com as crianças e
com as mulheres da Colônia de Três Forquilhas. Coube a
ela, a princípio, um valioso trabalho de alfabetizadora de
crianças. No tocante às mulheres ela passou a realizar
reuniões regulares em sua casa para ensinar noções de
cuidados com recém nascidos, hoje falaríamos em
puericultura, ministrava orientação para cuidados com a
gestante, atividades de culinária, cursos de corte e costura,
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de tricô e trabalhos manuais, como a confecção de coroas
fúnebres24.
Elisabetha, portanto, dedicou-se às mulheres
imigrantes, suas filhas e netas. Ela deixou um pouco de si
mesma em várias gerações de mulheres da Colônia.
Nestas atividades Elisabetha sempre contou com o
valioso auxílio de Mãe Maria, pois que esta mulher africana
também tinha especiais conhecimentos em inúmeras áreas
da vida doméstica, inclusive no tratamento da saúde, com o
uso de ervas – folhas, raízes e cascas.
Estas duas mulheres, Elisabetha e Mãe Maria
morreram quase na mesma época, vitimadas pela epidemia
da cólera e também deixaram um grande vazio em toda a
Colônia.
Pastor Von Braken itinerante
Os dirigentes do Sínodo Riograndense conseguiram
providenciar que, em 1894, pelo menos o pastor itinerante
Rudolf August Von Braken25 fizesse uma viagem especial
para uma breve estadia em Três Forquilhas. Ele não poderia
assumir o pastorado, pois teria que visitar outras três
paróquias também sem pastor.
Na condição de pastor itinerante, a prioridade
colocada para Von Braken foi essa visita a Três Forquilhas,
em vista do horror da epidemia que estavam enfrentando.
Von Braken permaneceu por dois meses na Colônia.
Enfrentou a dolorosa missão de confortar a Comunidade
profundamente enlutada por causa dos falecimentos do
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pastor Voges e sua esposa Dona Elisabetha, além de mais
de uma dezena de pessoas vitimadas pela cólera.
A principal tarefa de Von Braken foi levar o consolo
para dezenas de lares enlutados. Fazia cultos no templo,
nos cemitérios e também em casas particulares, no interior
da Colônia.
Muitos dos falecidos haviam sido levados à sepultura
sem assistência pastoral, pois até mesmo os pastores leigos
de Três Forquilhas, entre os quais eram citados o Major
Voges, o maestro Christian Tietböhl e o agrimensor Carl
Huyer, não puderam estar em todos os enterros realizados.
![Page 213: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/213.jpg)
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GENERAL ARTUR OSCAR EM TORRES
A Divisão do Exército, sob o comando do General
Artur Oscar de Andrade Guimarães, estivera, desde
novembro de 1893, em solo catarinense, para ajudar a dar
combate ao efetivo revolucionário de Gumercindo Saraiva.
O General Assis Brasil viera do norte e Artur Oscar
pelo litoral gaúcho, na intenção de colocar os maragatos
entre dois fogos. A manobra não dera resultados.
Gumercindo Saraiva escapara, seguindo livremente rumo ao
Paraná.
FIGURA 25: General Artur Oscar de Andrade Guimarães. Fonte: Acervo do Arquivo Histórico RGS – Porto Alegre – RS.
General Artur Oscar recebeu ordens de fechar a
passagem do litoral, caso os federalistas intentassem
retornar por este caminho. O General decidiu então localizar
sua base de ação em Torres. Entrou na cidade, com três
batalhões, totalizando em torno de dois mil homens.
As autoridades de Torres fizeram de tudo para dar ao
efetivo as melhores condições, para um acantonamento
mais demorado. Logo também pressionaram o General,
![Page 214: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/214.jpg)
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214
solicitando providências contra grupos armados, de
revolucionários federalistas que estariam agindo em
diferentes locais da Serra do Mar, por exemplo, na Trilha do
Rala Coco, depois de Praia Grande – SC, os fundões de
Morro do Forno, a Trilha da Serra do Pinto, ao norte de
Três Forquilhas e mais a Trilha do Umbú, na Barra do Ouro,
Maquiné.
Explicaram que existiam diferentes grupos, agindo
naquelas áreas. As que mais preocupavam, eram as duas
primeiras, pois através dessas trilhas, poderiam descer e
atacar a população de Torres.
A preocupação, portanto, não era tanto com o Major
Baiano Candinho, do Josaphat e Serra do Pinto, mas com o
Capitão Ignácio Machado, que descia pela Trilha do Rala
Coco, na Praia Grande e requisitava suprimentos para a sua
tropa.
General Artur esclareceu que não estava disposto a
combater algum bando de insignificantes bandidos. Sua
missão devia ficar concentrada no General Gumercindo
Saraiva, que a qualquer momento poderia estar retornando
do Paraná. Caso ele resolvesse tomar o caminho do litoral,
haveria uma batalha pesada, nessa área de Torres.
O General apresentou porem uma solução. Propôs
que os moradores de Torres formassem um Regimento de
Voluntários, da Guarda Nacional, portanto, um efetivo
provisório.
As autoridades torrenses aceitaram a idéia e,
formou-se no princípio de 1894 o 16º Regimento de
Cavalaria. O comando foi conferido ao Tenente Coronel
Álvaro Capaverde.
![Page 215: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/215.jpg)
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Formação do 16º RC em Torres
As autoridades de Torres ficaram surpresas com o
eco positivo, para a conclamação de voluntários, para
compor o 16º Regimento de Cavalaria. Vieram jovens de
todos os distritos de Torres, mas de forma mais
significativa, da própria sede. Eram homens sem grande
preparo para uma atividade militar, mas mesmo assim
receberam farda, armamento e munição, para algum
eventual combate.
O 16º RC ficou assim constituído:
Comandante: Tenente Coronel Álvaro Afonso
Pereira Capaverde.
Sub-Comandante: Major Zeferino de Macedo
Couto. Este se desentendeu com coronel Capaverde
e foi substituído, em 1895, pelo Capitão Carlos
Augusto Welhauser.
Comandante do 1º Esquadrão: Tenente José
Kras Borges.
Comandante do 2º Esquadrão: Capitão Luis
Bauer.
Comandante do 3º Esquadrão: Tenente
Manoel Teixeira Fernandes.
Comandante do 4º Esquadrão: Capitão
Florindo Moraes Azevedo.
O General Artur traçou as seguintes missões
para o efetivo do 16º RC: 1 – manter uma Escolta na
trilha que leva à Serra da Praia Grande – SC; 2 –
![Page 216: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/216.jpg)
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guarnecer o Passo do Mampituba, próximo a Torres –
RS; 3 – manter uma Escolta em Três Forquilhas, no
lado torriense dessa antiga Colônia Alemã.
A Escolta de Três Forquilhas foi confiada ao
Alferes Boaventura Rodrigues da Silva, com mais 10
soldados, integrantes do 4º Esquadrão, do 16º RC.
Essa reduzida escolta destinada para Três Forquilhas
era um sinal evidente que o General Artur Oscar e o Coronel
Álvaro Capaverde estavam muito mal informados a respeito
do potencial de combate do efetivo de Baiano Candinho.
Eles tinham a informação que o efetivo mais forte da área
era o do Capitão Ignácio Machado que, na verdade, não
tinha nem um terço do efetivo de Candinho.
![Page 217: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/217.jpg)
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A MORTE DE GUMERCINDO SARAIVA
No cenário mais amplo, os revolucionários
federalistas começavam a contabilizar as primeiras grandes
derrotas. No dia 10 de abril de 1894, em Palmeira das
Missões, na Província do Rio Grande, os maragatos sofriam
a primeira grande e dolorosa derrota. Perderam em torno
de 300 homens, que após a rendição, foram degolados
pelos castilhistas.
No dia 1º de maio Gumercindo Saraiva decidiu
abandonar Curitiba, no Estado do Paraná. Tomou
conhecimento da fragilidade de toda a sua retaguarda, em
solo riograndense. Decidiu-se por isto para um retorno às
pressas. O desânimo tomava conta do seu efetivo. Na volta,
pelos caminhos, muitos foram desistindo da Revolução,
ficando pelos matos, procurando refúgio no território de
Santa Catarina.
No dia 10 de agosto Gumercindo Saraiva, peleando
em solo riograndense, foi mortalmente ferido. Era junto ao
Arroio Caravi, no município de Santiago do Boqueirão.
Gumercindo agonizou durante três dias. Seu enterro
foi às margens do Rio Camaquã.
Os castilhistas descobriram o local da sepultura.
Desenterraram o cadáver e cortaram-lhe a cabeça.
Decidiram enviá-la para o Governador Júlio de Castilhos
como se fosse algum troféu de guerra, que pudesse trazer
algum tipo de glória ou honra para alguém.
Pelo contrário, o próprio Governador deve ter sentido
repulsa, pois este gesto bestial apenas servia para provar o
quanto o movimento castilhista também sabia ser
sanguinário, cruel e desumano.
![Page 218: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/218.jpg)
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Quem afinal era os piores bandidos e assassinos? Os
federalistas? Os castilhistas não eram também bandidos da
mesma estirpe?
Em torno de quinhentos maragatos foram degolados,
na oportunidade da derrota total de todo o efetivo de
Gumercindo Saraiva.
“Yo me bato per la libertad”
O General Gumercindo Saraiva marcou o movimento
federalista com o seu arrojo e destemor. Na verdade, ele
não foi nenhum estrategista militar, porém, sabia lutar.
Um Oficial General dos tempos atuais, numa palestra
da qual participei, o qualificou apenas como tendo sido um
corajoso peleador. Este mesmo General diria que
Gumercindo Saraiva saíra com um considerável número de
homens para pelear contra a ditadura castilhista e contra os
republicanos brasileiros. Peleando chegara a Curitiba. Só
não fora mais bem sucedido, por nada entender de
estratégia militar. Perdera muito tempo em combates
desnecessários. Um exemplo típico teria sido a pequenina
cidadela da Lapa, no Paraná.
Gumercindo Saraiva perdeu praticamente um mês,
com o Comandante da Lapa, Gomes Carneiro, tempo que
teria sido suficiente para ir a Capital Federal e pegar o
Presidente Floriano Peixoto desprevenido.
Contaram-se muitas inverdades a respeito do
General Gumercindo Saraiva, ao longo dos anos. Logo após
a Revolução Federalista tentaram retratá-lo como um
homem insensível, bruto e sanguinário. O fato é que a
![Page 219: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/219.jpg)
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219
Revolução foi uma guerra sangrenta, manchando a todos os
envolvidos com o sangue fraterno derramado. Por isto
denominamos a Revolução Federalista como Guerra
Fratricida, que envolveu os irmãos brasileiros.
Entretanto, em meio a tal ambiente, Gumercindo
Saraiva se revelou como um chefe militar equilibrado,
buscando estabelecer em torno de si, dentro do possível,
um clima de dignidade e de respeito pelos adversários.
Chamam a atenção palavras atribuídas a Gumercindo
Saraiva, quando da conquista da cidade de Curitiba:
“Ora, mis amigos, ustedes estan enganados. Yo
heque at Paraná para pelear com Floriano e no para prender
pica-paus. Yo me bato per la libertad26 y no per lo captitero
de los vencidos”
Importante é que mencionemos aqui as
circunstâncias em que tais palavras teriam sido
pronunciadas. Gumercindo Saraiva teria sido rodeado por
alguns paranaenses, bajuladores do poder, que tentando
agradá-lo, teriam vindo delatar pessoas da cidade de
Curitiba, como sendo lideranças republicanas. Pensavam
que o General haveria de prender ou eliminar tais pessoas.
A reação de Gumercindo Saraiva, portanto, foi de repulsa a
tal ato indigno, reagindo com vigor. Neste sentido podemos
dizer que o General Gumercindo Saraiva procurou
estabelecer em torno de si, dentro do possível, a dignidade
e o respeito pelos adversários e, particularmente, pelos
vencidos.
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220
O TESOURO DE FREDO VOGES
Fredo Voges viúvo, perdera a esposa Bárbara
Schmitt no dia 02 de agosto de 1893 quando fizera trinta e
um anos de idade. Grande foi o abalo sofrido por ele, mais
intenso por causa dos filhos ainda pequenos.
As notícias vindas de Taquari onde a pequena Anna
Emília fora acolhida por Carlos Leopoldo Voges Neto
informavam muitas coisas boas, da alegria que ela dera
para o casal sem filhos.
Já a outra menina, a Irmelina, e os meninos Antonio
e Marcelino não estavam ligados ao pai assim como ele
desejava. Morar em casa estranha, mesmo que seja na casa
do irmão, não permite a formação de um pleno lar. Ele
sonhava poder encontrar uma nova companheira, para dar
uma nova mãe para eles.
A vida no Sítio da Figueira era agradável, pois a
cunhada Bininha se desdobrava em atenções também para
esses três orfãozinhos.
No princípio de 1894 Fredo pediu ao irmão para ser
integrado à guarnição armada que cuidava do refúgio da
Invernada dos Cavalos27, onde ele também guardara os
seus melhores cavalos e algumas cabeças de gado.
Prontamente Carlos Frederico lhe entregou uma arma de
guerra e falou: - “Se é isso que você quer, nada me impede
para também te transformar em soldado guardião, da nossa
Invernada”.
Frederico passava às vezes um ou dois dias lá, no
revezamento de guardas que eles haviam estabelecido. E
quando retornava, ficava contando sobre as experiências
que aquele ambiente lhe oferecia. Ele explicava: - “Eu passo
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horas e horas, sentado num ponto de onde posso observar
todo o vale. Vejo as casas pequeninas onde moram os meus
amigos e parentes. As pessoas parecem formigas, de tão
pequenas, quase imperceptíveis. Vejo as lavouras e
novamente olho para as casas. Fico imaginando o que se
passa em cada uma dessas moradas. Sei que existem
problemas na casa de cada família, mas lá do alto eles me
dão a impressão que devem ser bem pequenos, pois
pequenas parecem as pessoas, as casas e as árvores e
pequenos se tornam os problemas deles.
Carlos Frederico olhou para o irmão e perguntou: -
“Você está virando monge ou filósofo? É melhor que fiques
aqui no meio das pessoas, pois senão como irá encontrar
uma nova companheira?”
Bininha discordou e falou, sorrindo: - “Carlos, tu não
deves falar assim senão o Fredo poderá pensar que nós não
estamos dando conta dele e das crianças dele. Da minha
parte, já me acostumei com todos eles e Fredo não precisa
se apressar para encontrar uma mulher. Afinal, aqui na
Colônia, muitos casamentos são simplesmente arranjados
num acerto entre as famílias. Esses dias ainda alguém
esteve aqui querendo saber de mim se o Fredo não estaria
interessado em casar com a filha deles”.
Todos riram das palavras de Bininha e Fredo nem
quis saber quem teria sido o casal que estivera aí no Sítio
para propor um casamento para ele.
Em janeiro de 1895 ocorreu algo novo e inesperado e
que quebrou a rotina dos guardas do esconderijo da
Invernada. Carlos Frederico apareceu lá trazendo mais uma
pessoa e foi explicando: - “Trago a Leopolina Justin que terá
que ser guardada entre os nossos bens e tesouros,
escondidos na Invernada”.
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Carlos Frederico continuou explicando que essa
jovem viúva sofrera uma tentativa de rapto. O fato é que
um revolucionário federalista se apaixonara por ela e
sempre que conseguia, quando não havia escolta castilhista
na área, propunha levá-la para a Serra, para dela fazer sua
mulher.
FIGURA 26: Frederico Voges e Leopoldina Justin em elevada idade. Fonte: Arquivo fotográfico da Família Voges.
O serrano rondava a propriedade de Leopoldina e às
vezes mandava recados verbais pelos vizinhos, avisando
que viria raptá-la. Por este motivo Carlos Frederico
aconselhou a família para que Leopoldina fosse por algum
tempo para o esconderijo da Invernada onde seria mais fácil
dar-lhe a devida proteção.
Os pais a princípio recusaram, alegando que a filha
jamais aceitaria sair do aconchego e conforto do lar para ir
se esconder no meio dos morros e matos. Porém eles
estavam enganados, pois ela falou: - “Eu tenho medo de ir
dormir à noite, e sofro com muitos pesadelos. Sempre vejo
um homem mau de olhos vermelhos espiando pelas frestas,
dizendo que terei que ir com ele, para morar lá na Serra”.
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Com a concordância de Leopoldina tudo foi fácil.
Aprontaram um cargueiro com bruacas - malas de couro -
para acondicionar roupas e utensílios que poderiam ser
necessários naqueles fundões.
Com a chegada de Lepoldina Justin a vida na
Invernada dos Cavalos mudou completamente. Quem
pareceu mais animado foi o Fredo Voges que agora
aumentava o seu tempo de permanência no local, para
realizar o serviço de guarda e vigilância. Quando Fredo
descia a morada do Sítio da Figueira voltava com alimentos
e agrados para Leopoldina.
Bininha observou a mudança no jeito do cunhado e
comentou: - “O Fredo parece agora mais preocupado, com
algum tesouro que ele precisa guardar. O que poderia ser?”.
Ele sorria, dava um beijinho na sua menina e nos
dois meninos e lá seguia pela trilha rumo à Invernada, lá no
meio dos morros. Ele pensou: < Parece mesmo que
encontrei o meu tesouro e preciso guardá-lo bem.
O que ele tanto queria nestes últimos tempos era de
encontrar uma nova companheira e uma nova mãe para os
seus filhos.
Fredo e Leopoldina se enamoraram e um dia
noivaram ali mesmo, em meio aos peões.
No dia 16 de abril de 1895 já ocorreu o casamento
de Frederico Voges e Leopoldina Justin. Uniram-se pelos
sagrados laços do matrimônio.
O casal passou a planejar o futuro e concluíram que
no primeiro momento não poderiam morar na sede da
Colônia, pois que aquele revolucionário ainda fora visto e
perguntando por ela.
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Na intenção de acabar com os temores foram morar
em Três Pinheiros, onde Frederico procurou se estabelecer-
se com uma Olaria de Telhas. O que mais importava para
ele, porém, era a possibilidade de novamente conseguir
organizar o seu lar. Leopoldina era extremamente carinhosa
e conquistou logo o carinho das crianças de Fredo.
Fredo e Leopoldina, porém não se adaptaram com a
atividade da Olaria e só falavam em voltar para perto dos
familiares.
Fredo tinha um engenho que estava parado por
causa da agitação promovida pela revolução. Assim que
tudo acabasse ele queria reativar aquele engenho e voltar
àquela atividade que ele conhecia tão bem e com certeza
daria a renda suficiente para sustentar a família.
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A ÚLTIMA VIAGEM DO MAESTRO
No dia 18 de maio de 1894 o maestro e professor
Christian Tietböhl preparou os dois melhores cavalos e
seguiram, ele e Catharina sua esposa, rumo ao ancoradouro
dos Diehl que se situava junto à Lagoa dos Quadros,
próximo à Casa das Telhas, nas terras de areia.
A Casa de Telhas e o ancoradouro pertenciam a
Adolfo Diehl e sua esposa Dona Nuquinha Voges.
Ali o professor e esposa esperaram pela embarcação
do jovem Gustavo Adolfo Voges, irmão de Nuquinha, pois
era o único que aceitava o transporte de montarias, naquela
época.
O casal seguiu rumo à Capital para uma visita ao
filho professor Leopoldo. Entretanto, Christian Tietböhl
estava também com o plano traçado de aproveitar para
sozinho também fazer uma visita aos dirigentes do Sínodo
Riograndense, em São Leopoldo.
Após a morte do patriarca Voges, a preocupação pela
falta de um pastor para a Colônia de Três Forquilhas estava
tomando proporções cada vez maiores, com demonstrações
de descontentamento e de desânimo, diante dos inúmeros
falecimentos de pessoas vitimadas pela epidemia. A procura
por conforto espiritual avolumara.
Major Voges, na condição de dirigente – Vorsteher –
da Comunidade, com a ajuda do professor Tietböhl faziam o
melhor que podiam, mas nada parecia ser o suficiente.
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O apelo ao Sínodo
Professor Tietböhl e esposa haviam ido com o
principal objetivo de participar da festa promovida pelo filho
Leopoldo, que além de concluir o serviço militar, também se
formara professor, tendo assumido o seu primeiro emprego
para o exercício do magistério, em Porto Alegre.
FIGURA 27: Alferes Leopoldo Tietböhl, 1994. Dezenove anos de idade.
Fonte: Acervo do Arquivo da Família Voges.
O pai quando viu o filho vestindo a farda declarou: -
“Você, meu caçula, é o filho que mais se parece comigo,
pelo exercício do magistério e pela farda. É um orgulho
muito grande para a tua mãe e para mim de podermos
estar aqui contigo nesta conquista tão grande que acabas
de alcançar”.
Nos dias subsequentes Christian Tietböhl resolveu
ainda visitar alguns amigos da Capital, para somente então
fazer a planejada viagem a São Leopoldo, para um novo
contato com os dirigentes do Sínodo Riograndense.
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227
O resultado desse contato foi longe das expectativas
que o haviam enchido de grandes esperanças, pois contava
receber a boa notícia da indicação de um novo pastor, para
Três Forquilhas
Encontrou os dirigentes do Sínodo cheios de
precauções, alegando que a dupla epidemia de cólera e de
tifo que grassava na Colônia de Três Forquilhas assustava
qualquer pretendente àquele pastorado. Além disso, havia
também a Revolução em andamento e pelas notícias que
corriam, a região do Litoral Norte estava constando como
bastante insegura e com probabilidade de combates
iminentes. Por este motivo nenhum pastor, com esposa e
crianças, haveria de se dispor a levar a família para o meio
de tal situação.
Para o professor Tietböhl não poderia haver notícia
mais desanimadora e manteve a insistência, para saber se
não existiam pastores ainda solteiros?
A resposta foi pelo menos alentadora com a
informação que jovens pastores recém formados haveriam
de chegar em breve ao Brasil e talvez em meio a estes
pudessem encontrar um candidato disposto para assumir
essa difícil missão.
Ficou então acertado que a Comunidade de Três
Forquilhas seria colocada no topo da lista, para ser
contemplada com o primeiro pastor jovem e solteiro que
aportasse em São Leopoldo, mas que o suprimento da vaga
certamente se daria após o arrefecimento da Revolução
Federalista, pois, de sã consciência, não poderiam enviar
um obreiro para o meio de um conflito sangrento.
Os dirigentes do Sínodo procuraram motivar o
professor Tietböhl para que ele e o filho do falecido pastor
Voges continuassem, na prestação dos serviços de
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228
emergência, tais como batismos e sepultamentos.
Escutaram com satisfação que os dois líderes leigos de Três
Forquilhas estiveram oficiando a benção matrimonial para
noivos, que casavam pelo civil. Entregaram-lhe dois
manuais de ofícios, de uso atual para pastores do Sínodo
Riograndense.
Quando o professor Christian Tietböhl retornou a
Porto Alegre estava em um estado de um misto de
desânimo e de esperança. Reunido com a esposa e o filho
Leopoldo, queixou-se: - “Nunca em toda minha vida tive
sentimentos tão estranhos, como estes que agora afloram
no meu íntimo. A minha alma está inquieta e um temor pelo
desconhecido assalta o meu coração”.
Dona Catharina, esposa de Christian, uma mulher de
família extremamente dedicada à Igreja, abraçou o marido
e recomendou: - “Precisamos ter mais fé, meu amado, pois
estamos nas mãos de nosso Criador e Senhor. Ele não nos
desampara diante do infortúnio, de doenças, perigos ou
mesmo diante da nossa morte”
Christian agradeceu e correspondeu ao abraço,
dizendo: - “Tu disseste tudo, minha amada”.
O filho Leopoldo sorriu e comentou: - “Que quadro
mais belo, poder ver os meus pais com tanta ternura, se
admoestando para a vida na fé em nosso Senhor”.
Em seguida, o filho procurou animar o pai dizendo: -
“O pior para vocês não é a falta de pastor, pois você e o
major Voges, bem ou mal, estão assistindo aquele povo.
Fiquei tão feliz quando soube que vocês dois até benção
matrimonial estão celebrando para noivos que casam pelo
civil, para logo deixá-los quites seja diante da lei dos
homens ou diante da lei divina”.
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229
Christian o interrompeu, colocando muita ênfase, ao
dizer: - “O que me preocupa é a de nos enviarem um pastor
sem a devida experiência no Brasil, pois bem sabes que
somos uma Comunidade incomum, pelo mosaico de cores e
de costumes presentes em nosso templo. A nossa cultura se
mesclou faz muitos anos e agora temos adeptos que não
entendem uma só palavra da língua alemã. Felizmente o
pastor Gustav Geisler era bilíngue e se acertara tão bem
conosco. Mas, ele não vingou e saiu às pressas diante do
pavor causado pela epidemia e da insegurança diante de um
iminente conflito político, que se tornou sangrento. Penso
que o pastor Geisler era a pessoa ideal para nós e não
poderíamos querer ninguém melhor... Mas a epidemia
assustou a, tão jovem, mulher dele”.
O velho professor fez uma pausa em postura de
reflexão, com a mão cobrindo o rosto e continuou: - “Na
minha conversa com os dirigentes do Sínodo Riograndense
percebi que eles vão querer mexer bastante na estrutura da
nossa Comunidade, pois alegam que ela precisa se
enquadrar totalmente dentro das normas estabelecidas, que
precisam ser aplicadas e seguidas. Isso não me soou como
algo positivo, pois não aceito imposições unilaterais venham
de onde vierem, mesmo que supostamente emanadas das
leis da Igreja.
Leopoldo arrematou: - “Então, pai, não há outro jeito
do que esperar com fé, conforme mamãe o aconselhou a
pouco, e vamos aguardar para ver o que acontece”.
- “E eu sou homem de ficar esperando para ver o
que acontece?”, disse Christian. – “Eu sou um homem de
ação, que procura se antecipar aos acontecimentos para
não ser arrastado por eles, desprevenido. Penso que não
podemos deixar desmoronar o importante trabalho que o
velho pastor Voges desenvolveu nestes mais de sessenta
anos de pastorado. O legado que ele nos deixou, inseridos
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na terra brasileira, pode e deve ser mantido, custe o que
custar. Ele nos guiou com muita paciência reunindo gente
das mais diferentes procedências, costumes e idéias e
conseguiu estabelecer uma Comunidade que acolhe todas
as pessoas, não só os bons, mas também os considerados
maus. Isso, conforme eu soube, veio desde a chegada dos
colonos, quando ele acolheu inúmeros homens saídos de
prisões de Meckelmeburgo e Rostock e que ele costumava
dizer: < Não se falará mais em prisão ou delito, mas aqui
falaremos de nova oportunidade de vida para todos, nesta
nova terra que nos acolheu> Outra coisa que precisa ser
observada é que a miscigenação cultural e étnica hoje é
algo irreversível na Colônia de Três Forquilhas e, por isto,
não mais aceito que se fale de Colônia Alemã”.
Leopoldo quis saber: - “Mas papai, você explicou
tudo isso aos dirigentes do Sínodo? O que eles pensam
disso? Devias ter falado para eles que, pelo tipo de
Comunidade que nós somos, em Três Forquilhas,
certamente nos adaptaríamos melhor é na Igreja Episcopal
Brasileira, que existe aqui em Porto Alegre28. Será que
esses dirigentes do Sínodo Riograndense não observam
como os episcopais sabem se entrosar em nossa sociedade
brasileira? Eu ainda penso que o nosso povo da Colônia de
Três Forquilhas teria se dado melhor com pregadores
episcopais. E, afinal, quantas de nossas famílias nem eram
da tradição luterana, mas alguns eram calvinistas e outros
de diferentes ramos do protestantismo europeu, antes de
emigrarem para o Brasil...
O velho se queixou: - “Claro que não falei uma coisa
dessas! Eu nem sabia do trabalho desses protestantes
episcopais em nossa Província. Consigo imaginar o quanto
que eu teria magoado os dirigentes do Sínodo, pois desde o
princípio nós mesmos é que optamos em nos declarar como
sendo luteranos. O próprio pastor Voges sempre se
autodenominou como sendo um servidor da Igreja
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Evangélica. Descobri, com o passar dos anos que, sempre
que o velho Voges falava em Igreja Evangélica, na verdade
referia-se à Igreja Luterana. Ele sempre foi uma simples
extensão da vida eclesiástica, que ele iniciou em São
Leopoldo e transferiu para Três Forquilhas”.
Depois de uma breve pausa, o velho professor
continuou: - “Com as poucas coisas que eu tentei transmitir
aos dirigentes do Sínodo, a respeito da nossa comunidade
abrasileirada, eles só ficaram se entreolhando e um deles,
peremptoriamente, declarou: < A vossa Comunidade terá
que se adaptar às normas da Igreja Luterana da Alemanha,
para o desenvolvimento das atividades da Comunidade, em
Três Forquilhas e para receber um pastor >”.
Essa foi a última conversa que pai e filho tiveram a
respeito da Igreja na Colônia de Três Forquilhas, pois
Christian queixando-se de cansaço foi se recolher para o
descanso da noite.
Bem cedo, de manhã, o casal se preparou e saíram
de volta ao lar, no distante vale do rio Três Forquilhas.
Gustavo Voges dá alerta de temporal
Em Conceição do Arroio quando o professor Christian
Tietböhl e esposa foram até o ancoradouro, ali encontraram
o barqueiro Gustavo Adolfo Voges. Eles haviam combinado
dia e hora. A viagem correra de acordo com o plano
preestabelecido. Estavam no amanhecer do dia 1° de junho
de 1894.
O professor, erguendo os braços, falou: -
“Gustavinho, os nossos cavalos já estão sendo trazidos pelo
estalajadeiro, prontos para o embarque”
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Gustavo Voges reclamou: - “Hoje não será possível
levar os cavalos, pois o vento está soprando com muita
força e o tempo tende a ficar ainda pior. Temos que sair
rapidamente desta área da lagoa, que é de risco maior.
Temo que ainda hoje tenhamos temporal e chuva”.
O barqueiro estendeu o braço na direção das águas
da lagoa e explicou: - “Veja as fortes ondas, que o vento
consegue formar. Isso me faz lembrar das lições que um
velho barqueiro me concedeu me alertando que em mau
tempo e dia de muito vento não se deve levar animais na
embarcação. Animais são muito imprevisíveis e podem
transformar uma viagem em tragédia”.
O professor chegou ainda mais perto e, sorrindo,
disse: - “Meu aluno Gustavinho, eu não estou lhe pedindo
nada. Eu estou como seu antigo professor, ordenando que
nos leve a todos, eu, minha esposa e os dois cavalos, pois
temos pressa de chegar em nosso lar”.
Gustavo retribuiu o sorriso e voltou a insistir: - “Meu
antigo e querido professor, eu sei de uma solução muito
boa. Sugiro que pegue dois cavalos emprestados da sua
antiga aluna Nuquinha, minha irmã. Ela terá o maior prazer
de fazer isso”.
O professor, no entanto, desconsiderou a proposta
dizendo: - “Mesmo tendo a certeza de que a sua irmã
Nuquinha nos emprestaria dois cavalos, pois que eles tem
uma manada perto do ancoradouro, o fato é que eu não
quero deixar meus cavalos para trás”.
Nisto veio chegando o dono da estalagem puxando
os dois cavalos pelas cordas. Atrás vinham mais três
empregados da estalagem trazendo as encilhas dos animais
![Page 233: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/233.jpg)
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e os pezuelos29 recheados de roupas, presentes comprados
na Capital e pertences do casal Tietböhl.
O professor como que declarando uma vitória disse:
- “Agora já está decidido, pois os cavalos me foram
entregues e tudo está pronto para o nosso embarque”.
Muito a contragosto Gustavo Voges pegou as duas
cordas e levou os cavalos pela rampa, deixando-os presos
no cubículo destinado para esse fim.
O casal também embarcou e a viagem teve início.
O naufrágio na Lagoa da Pinguela
Quando eles se aproximaram de uma área da lagoa
conhecida por Pinguela, o vento começou a aumentar,
intensificando a ação das ondas contra o costado da
embarcação. Fortes respingos começaram a cair sobre os
cavalos que assustados, batiam com os cascos contra as
tábuas do cubículo. Um deles com um coice certeiro
arrebentou a portinhola que voou longe. Os dois animais
agora estavam soltos, correndo um para cá e outro para lá,
fazendo a embarcação pender perigosamente para um e
outro lado. Em dado momento ocorreu o pior, pois os dois
animais foram para o mesmo lado fazendo a embarcação
adernar e começar a pegar água.
Gustavo muito atento viu o perigo que se formara e
não encontrou nenhum modo de tirar os animais dali, pois
que ele com o seu corpo faria um peso ainda maior. E os
dois animais não tinham mais como sair dali por causa da
inclinação da embarcação que começou a fazer água,
rapidamente.
![Page 234: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/234.jpg)
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O barqueiro girando a cabeça para o professor
perguntou: - “O senhor sabe nadar?”.
- “Sei sim!”, respondeu ele. – “Mas a minha esposa
não sabe nadar. Cuide dela que eu cuido de mim”.
Havia uma prancha de cortiça na guarita de comando
e ele foi buscá-la rapidamente. Colocou-se diante de dona
Catharina e orientou: - “A senhora irá se agarrar
firmemente nestas argolas para que a tábua de cortiça fique
colada rente ao seu corpo. Desta forma poderei puxá-la a
margem, em segurança”.
A mulher obedeceu às instruções e já era hora, pois
a água se aproximava do local onde eles se encontravam e
em breve teriam que sair, pois a embarcação iria ao fundo,
com a força de arrastar tudo que estivesse nas
proximidades.
Os cavalos foram os primeiros a se colocarem à nado
e já também o foguista Teodoro se jogou na água,
segurando-se numa tábua qualquer que se desprendera do
barco.
Gustavo colocou a prancha de cortiça com dona
Catharina presa a ela, sobre o espelho d’água e
recomendou: - “Agora a senhora por nada largue essas
argolas”.
As ondas eram fortes e dificultavam a respiração.
Gustavo notou que a mulher engolia água e dava sinais de
engasgo, mas ela não largava as argolas. Ela certamente
não sabia que quando as ondas se elevam convinha
também erguer a cabeça para respirar, para depois descer
de novo e ser praticamente engolido pela água. Esse vai
vem é muito complicado para quem nunca foi orientado
sobre salvamentos em caso de naufrágio.
![Page 235: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/235.jpg)
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Gustavo olhou em torno e não viu o professor que,
aparentemente, havia sido tragado junto com a embarcação
quando esta foi ao fundo, sugando tudo consigo. Apenas o
foguista estava, lá longe, um tanto sem direção, porém
conseguindo ir rumo à margem.
O barqueiro Gustavo notou que aquela senhora
agarrada nas argolas da prancha de cortiça, segurando
firme como se os dedos fossem pinças de ferro, estava
inerte, rígida. Mesmo assim continuou a arrastá-la
alcançando finalmente a margem. Empurrou a tábua de
cortiça com o corpo da mulher para fora do alcance da
água. Voltou então para as águas da lagoa para dar atenção
para o professor, mas nada havia para fazer, pois o homem
não estava à vista.
Os dois cavalos já estavam na margem há algum
tempo e arrastando as cordas soltas, corriam na direção
norte. Ali havia o rancho de um peão de uma fazenda das
redondezas. Esse peão viu quando os dois cavalos passaram
e, curioso foi ver onde poderiam estar os donos dos
mesmos, pois que cavalo com corda sempre é considerado
cavalo fugido.
O peão encilhou seu animal e rumou ao sul, pela
margem. Não tardou chegou ao ponto onde estavam
estirados dois corpos, fora da água, mas sem vida. Olhou
para as águas da lagoa revolta para ver se não estaria ali
alguém precisando de socorro, mas nada viu, nem sinais de
barco e nem sinais de algum náufrago em perigo. Logo
imaginou o que devia ter acontecido.
A única providência cabível diante desse quadro
aterrador, era à busca da autoridade policial de Conceição
do Arroio e foi isso que ele fez.
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236
O próprio delegado, mais dois policiais e um médico
vieram ver a situação, para saber se existiam vítimas que
necessitassem de cuidados. Nada, porém havia para fazer,
pois os dois corpos ali estendidos estavam sem vida.
O médico fez a autópsia ali mesmo e declarou que a
mulher havia perecido por afogamento. Entretanto o jovem
não apresentava sinais de afogamento e devia ter perecido
de algum mal súbito pelo esforço despendido, pois era
presumível que ele havia arrastado aquela mulher, a
margem. Ela continuava com os dedos aferrados nas
argolas e que precisaram ser quebrados para desprendê-la
O delegado procurou por papéis ou documentos nos
bolsos do homem morto, mas nada encontrou. Lembrou-se
de solicitar uma busca nos bolsos do casaco que a falecida
trajava e ali foi encontrada uma carteira de couro contendo
certa quantia em dinheiro e alguns papéis. Eram
documentos que permitiram a identidade da mulher como
sendo Catharina Eigenbrodt Tietböhl, casada com Christian
Tietböhl, residente em Três Forquilhas, distrito de Torres.
Um dos policiais ali presentes chamou o delegado
dizendo reconhecer o corpo do homem e declarou: - “Esse é
o valente barqueiro Gustavo Voges que nasceu em Três
Forquilhas e lá possui morada. A irmã dele é dona do
ancoradouro na margem norte da Lagoa dos Quadros, junto
à tal da Casa de Telhas, nas terras de areia”. Agora já havia
duas indicações preciosas para notificar os familiares a
respeito do ocorrido e de providências para o sepultamento.
Imediatamente um dos policiais foi enviado a
Conceição do Arroio para solicitar a vinda de uma
embarcação e mergulhadores para ajudarem a vasculhar as
águas da Lagoa, em busca de sinais da embarcação ou de
outras vítimas.
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Em pouco tempo reuniram-se curiosos também
peões da fazenda mais próxima. Eles receberam ordens da
autoridade policial para ajudarem em buscas na margem da
lagoa, em ambas as direções para verificar se não existiam
outros cadáveres.
As buscas foram providenciais, pois eles encontraram
a uma distância de talvez quinhentos metros, o foguista
Teodoro, que ainda respirava, mas parecia desmaiado.
O médico e o delegado seguiram ao local para
ministrar cuidados ao homem. Aos poucos ele foi sendo
reanimado e finalmente ele conseguiu fazer um breve relato
do ocorrido.
Disse ser Teodoro, o foguista do vapor Itapeva e que
o seu patrão se chamava Gustavo Adolfo Voges com vinte e
dois anos de idade, residente em Três Forquilhas, distrito de
Conceição do Arroio e que podia ser considerado um
verdadeiro herói, pois que ao invés de salvar-se a si
mesmo, tudo fizera para tentar salvar aquela senhora.
O foguista informou que eles levavam apenas dois
passageiros, o professor Christian Tietböhl e sua mulher, de
Três Forquilhas, do distrito de Torres.
Diante dessas informações foram intensificadas as
buscas com a ajuda da embarcação que já viera de
Conceição do Arroio, trazendo mergulhadores, mas nada
conseguiram encontrar30.
Vieram mais tarde outras embarcações e uma delas
foi enviada para o ancoradouro da Lagoa dos Quadros, junto
à Casa das Telhas onde residia dona Nuquinha, a irmã do
barqueiro morto.
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Nuquinha desmaia
Quando aquela embarcação estranha aportou no
ancoradouro, Nuquinha teve um mau pressentimento,
aumentado pela presença de dois policiais fardados.
Um dos brigadianos veio e falou: - “A senhora deve
ser a dona Nuquinha irmã do barqueiro Gustavo. Eu sou um
amigo dele...”.
Ele parou de falar sem concluir o assunto,
demonstrando dificuldade para se expressar.
Nuquinha, aflita, perguntou: - “O que aconteceu com
o Gustavo? Fale logo, pois que a aflição me deixa com falta
de ar...”.
O soldado respondeu: - “A senhora precisa ser
forte!".
Quando Nuquinha soube da morte do irmão e do
casal Tietböehl, deu mais alguns passos e de repente
desabou, caindo desmaiada.
Infelizmente o marido de Nuquinha não se
encontrava no ancoradouro naquela hora, pois que ele
tivera que ir ao ancoradouro do rio Três Forquilhas para
cuidar de interesses da sua empresa, a Diehl de Navegação.
Não havia a quem chamar, além das serviçais da casa e que
vinham correndo, se aproximando aflitas. Os demais
empregados e peões estavam em um dos depósitos,
acondicionando cereais e encomendas, em barricas.
O dono do barco buscou uma padiola sobre a qual
repousaram a mulher desmaiada para conduzi-la de volta à
sua casa.
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239
Aguardavam enquanto as serviçais procuravam
reanimar dona Nuquinha, para saber dela as providências a
serem tomadas.
Passados alguns minutos as serviçais conseguiram
reanimar a mulher desmaiada com o uso de sais especiais
que elas sabiam serem bons para devolver a lucidez de uma
pessoa.
Dona Nuquinha repentinamente abriu os olhos e
vendo os policiais aí plantados, na sala de sua casa, teve a
certeza definitiva que seu irmão estava morto. Ela ordenou:
- “Chamem os empregados e peões da nossa empresa que
se encontram no depósito dos fundos e solicitem que
venham aqui”.
Nuquinha passou a explicar que eles tinham no
depósito alguns caixões especiais trazidos da Capital, para
atender eventuais solicitações dos fazendeiros das
redondezas e de moradores da Colônia e desejava que a
embarcação levasse por precaução, três caixões, pois que o
corpo do professor Tietböhl deveria ainda ser encontrado.
Um dos empregados recebeu ordens expressas para
seguir direto à casa do Major Adolfo Felipe Voges, tio de
Nuquinha, que com toda a certeza saberia bem melhor do
que ela, dos procedimentos que se fariam necessários,
inclusive o aviso do naufrágio para a sua mãe e para os
familiares Tietböhl e as providências para os sepultamentos.
Nuquinha ordenou que os três melhores caixões
fossem imediatamente preparados para receberem os
corpos.
De um momento para outro aquela frágil senhora
que no primeiro momento caíra desmaiada agora se
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desdobrava cheia de energia e decisão. Ela mandou
preparar sua charrete para conduzi-la primeiro ao
ancoradouro do rio Três Forquilhas e depois até a casa da
mãe, cujo armazém se situava a aproximadamente
duzentos metros do Sítio da Figueira. Dali também podia ser
vista a morada do casal Tietböhl, apenas no outro lado do
rio.
A comoção na Colônia
A notícia dessas três mortes trágicas, do professor
Christian Tietböhl e esposa Catharina e do barqueiro
Gustavo Adolfo Voges correu rapidamente través de toda a
Colônia. Formou-se um clima de comoção coletiva jamais
observada, nem pelas mortes causadas pela epidemia onde
em algumas casas desapareceram de um momento para
outros diversos integrantes de uma mesma família, ceifados
pela cólera e tifo. Do mesmo modo, nem as mortes
recentes, de vidas ceifadas pelo conflito sangrento dessa
revolução haviam atingido os moradores com tanta
intensidade.
Major Voges reuniu-se com alguns integrantes do
Coral da Comunidade e com músicos da Banda de Música da
Colônia de Três Forquilhas, para saber se poderia contar
com a presença deles, apesar da falta tão repentina do
regente e maestro Christian Tietböhl, caso os corpos
pudessem ser trazidos, para dar-lhes sepultamento no
Cemitério do Passo. Os cantores e os músicos foram
unânimes e apresentaram recusa alegando que não teriam
a mínima possibilidade de executar músicas ou apresentar
cânticos, pela prostração de que haviam sido tomados.
O major reuniu-se com Bina Rosina e explicou: -
“Também não terei condições de fazer qualquer ofício
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fúnebre e muito menos de dirigir a palavra aos
enlutados...”.
Enquanto ele assim falava, ouviu palmas do lado de
fora. Os músicos e cantores haviam retornado e com um ar
de resolução no rosto comunicaram: - “Pensamos melhor e
não podemos nos deixar derrubar agora. O nosso coral sem
regente e a nossa banda sem maestro estará lá nas casas
dos enlutados e depois no cemitério para atuar nessas
despedidas derradeiras. Grande será o risco de nos
apresentarmos mal, porém, faremos o melhor de que
somos capazes para homenagearmos o nosso regente e o
eterno maestro da Banda de Música de Três Forquilhas”.
Major Voges que também decidira nada fazer
durante o serviço fúnebre agradeceu e se despediu dos
visitantes, solicitando que fossem fazer seus ensaios,
imediatamente. Ele retornou para dentro da residência,
segurou Bina Rosina pela mão e sentaram-se no sofá da
sala. Inicialmente ficaram em silêncio, derramando lágrimas
de tristeza e dor, algo que ele não fizera nem por ocasião
da morte do seu idoso pai e nem na recente e derradeira
despedida de sua mãe. Agora, porém, essas três mortes
trágicas, não trazidas pela epidemia e nem ocasionadas em
confrontos armados da revolução, vinham como se lhe
trouxessem um recado de Deus. Ele explicou: - “Bina, é
como se eu ouvisse Deus falando comigo: < Uma era está
acabando, em definitivo. É preciso preparar de que um novo
tempo está batendo às vossas portas. Será um tempo que
parecerá ser, mas não será... Será um tempo que jamais
será de paz... Virá um tempo que será denominado de
tempo da liberdade, mas que não trará a liberdade que vos
é apregoada”.
Adolfo apertou a mão da esposa com mais força e
continuou: - “Minha amada Bina Rosina, temos que nos
preparar espiritualmente para estarmos prontos a carregar
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a cruz que nos será colocada sobre os ombros, um peso que
jamais desejamos ou sequer nós imaginamos. Pressinto que
hoje será talvez a minha última oportunidade, o momento
derradeiro, para atuar livremente e concluir o meu papel,
que Deus deixou sobre meus ombros. Em breve nós dois
ficaremos sós, em nosso modo de pensar e de ser. O mundo
muda, as pessoas passam e nós também passaremos.
Teremos que deixar o palco, pois outros já estão se
preparando para comandar o espetáculo...”.
Bina Rosina respondeu: - “Adolfo, eu entendi muito
bem o que queres dizer. Sei que o meu sobrinho
Christovam e o teu filho Carlos Frederico estão nesse meio,
com as casacas causando-lhes comichão e as mãos suando,
apenas esperando para tomar de vez o bastão de
comando”.
O casal se levantou e saindo da casa encontraram a
charrete pronta para se dirigirem às duas casas onde,
conforme imaginavam deveriam ser realizados velórios. No
antigo armazém do falecido Jacob Voges, agora dirigido pela
viúva Elisabetha König Voges foram direto para os fundos
da casa, local onde o velório do jovem barqueiro Gustavo
Adolfo Voges deveria ser realizado. Ali permaneceram
durante breve momento para fazer a oração do Pai Nosso
com os enlutados, na tentativa de confortar aquela mãe e
filhos desolados e afundados na dor.
Major Voges em breves palavras lembrou então de
uma cena que ocorrera naquele local, há quase dez anos
atrás, durante o velório de seu irmão Jacob. Naquele dia,
esse jovem barqueiro Gustavo, ainda criança, em dado
momento saíra para o interior da casa e retornara com um
trompete para alcançá-lo ao pai morto, deitado no caixão.
Afinal o pai dele fora o dono do trompete, da Banda, e ficara
conhecido como Jacob Trompeteiro31.
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Em seguida Adolfo Felipe e Bina Rosina seguiram
para o outro lado do rio, onde o casal Tietböhl residira e
onde os corpos seriam velados. Viram ali uma situação
deprimente de desamparo momentâneo, longe do retrato
que todos faziam daquele lar, que sempre estivera marcado
pela hospitalidade, pela alegria e pela felicidade, onde as
pessoas tinham a acolhida e a compreensão de um
professor e esposa exemplares.
Major Voges vendo um grupo de líderes da
Comunidade reunidos em um canto em conversa, pediu: -
“Consigam para mim um voluntário que se disponha a me
auxiliar durante o serviço fúnebre, quando tivermos que
atender a família Tietböhl”.
Momentos mais tarde alguém chegou diante do
major e sussurrou: - “Encontramos apenas um voluntário e
que aqui está ao meu lado. É o agrimensor e carpinteiro
Carl Huyer que está pronto para assumir qualquer tarefa
que a ele quiserem atribuir, pois que ele já teve que
sepultar vítimas da epidemia, nas ausências do senhor e
desse nosso professor que pereceu no naufrágio”.
Major Voges vendo aquela multidão que ali já
passava a se concentrar, conduziu todos na oração do Pai
Nosso.
Sem enterros na Colônia
Nuquinha chegou em companhia do marido e um dos
policiais que estivera na Pinguela e que reconhecera o corpo
de Gustavo Voges.
Adolfo Diehl explicou que viera pelo telégrafo um
aviso de Conceição do Arroio, de que não convinha trazer os
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corpos dos afogados para Três Forquilhas, conforme
orientação do delegado e recomendação do médico. Os
corpos simplesmente não poderiam aguardar por muito
tempo, havendo pressa para sepultá-los. Talvez o corpo do
professor Christian Tietböhl ainda viesse a ser localizado, de
modos que assim os três seriam levados à cova. O local
sugerido era um pequeno cemitério nas margens da Lagoa
da Pinguela, na direção de Morro Alto.
Diante dessas informações, todos os planos de
velórios e sepultamentos tiveram que ser deixados de lado.
Major Voges dispensou o Coral e a Banda e solicitou que os
familiares enlutados e vizinhos interessados, o
acompanhassem nesta viagem.
FIGURA 28: Adolfo Felipe Voges. Fonte: Acervo Fotográfico da Família Voges.
O plano exposto pelo policial era de conduzí-los na
embarcação ancorada nas proximidades da Casa das
Telhas, já que o mau tempo passara e as águas não
representavam mais riscos de naufrágio.
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245
Chegando ao local do naufrágio, a família Tietböhl
ficou desolada, pois souberam que o corpo do pai deles não
havia sido encontrado.
Estavam ali em dois caixões os corpos de Catharina
Eigenbrodt Tietböhl e do jovem Gustavo Adolfo Voges. O
terceiro caixão estava, vazio e seria deixado na fazenda
próxima para o caso de ainda terem sucesso nas buscas.
O enterro de Catharina e Gustavo foi rápido, sem
muitas palavras. Major Voges conduziu os presentes para a
oração do Pai Nosso e depois fez um singelo ato, como de
praxe, para baixarem os ataúdes à cova e cobrí-los com
terra.
No ponto onde os corpos de Catharina e Gustavo
foram encontrados, foram colocadas tres cruzes.
Enquanto isso o vento minuano soprava forte,
criando um ambiente que parecia ser mais gelado do que
era na realidade.
Culto para os enlutados
No domingo posterior ao naufrágio, Major Voges
realizou uma cerimônia fúnebre no templo, para as famílias
enlutadas. Os integrantes do Coral e os músicos da Banda
acorreram prontamente, apesar da falta que fazia o regente
e o maestro.
O major descreveu o importante papel
desempenhado por Christian Tietböhl e esposa, na Colônia
de Três Forquilhas, na Igreja, na Escola e na Colônia toda.
![Page 246: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/246.jpg)
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Em certa altura enfatizou: - No dia 1º de junho, na Lagoa
da Pinguela perdemos o nosso fiel da balança32.
Voges continuou explicando: - “Deus nos chacoalhou
duramente com a morte do professor Christian. Como
funcionará agora a balança sem o seu fiel? Quem poderá ser
agora, para nós, a pessoa de visão e coragem, com
sabedoria para falar e ensinar, capaz de intervir em meio a
diferenças de opinião ou de conflitos, para levar as pessoas
a refletir, para conciliar ou reconciliar, para apoiar e para
admoestar. Ele sabia fazer tudo isso e o fazia com
competência, em nossas reuniões e encontros, quer na
Igreja, quer na Política, quer na Sociedade. Talvez alguém
dirá <nossos filhos estão aí, para entrar em cena, para
tomar decisões, para trazer boas idéias e mostrar seus bons
propósitos. Se eles pensam que são capazes de entrar em
cena, por favor, recordem do saudoso regente, maestro,
professor, pai e amigo para guardarem na memória o seu
exemplo de vida, para poderem se espelhar em suas
atitudes e virtudes. Seus atos sempre foram bem
moderados e, acima de tudo, foi acolhedor para com todos.
Importa que procurem aplicar os tantos ensinamentos que
ele semeou com tanta ênfase, ao longo de sua existência.
Olhem em volta e verão ali tantos que foram seus alunos,
olhem acolá e verão outros tantos que como cantores foram
por ele regidos, e mais ali vemos os músicos que o tiveram
como maestro e, aqui diante de nós os seus filhos e filhas,
genros e noras, netos e netas, que o tiveram como pai e
avô prestimoso. Acredito que os cantores não me levarão a
mal se agora vou contar o que com eles ocorreu naquele dia
quando ainda pensávamos que os enterros seriam aqui
realizados. Eles vieram à minha casa e não se sentiam em
condições para entoarem alguns hinos, pois alegaram < não
temos mais regente >. O mesmo fato aconteceu com os
músicos que também queriam desistir alegando < não
temos mais maestro >. Confesso que eu mesmo quis
desistir e não falar nada, pensando que teríamos um corpo
![Page 247: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/247.jpg)
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247
para ser aqui velado. Eu tencionara vos dizer apenas: <
perdi o parceiro que me apoiava no serviço que
prestávamos na nossa Igreja, para batisar, para dar a
benção para noivos, para sepultar os mortos ou para reunir
a Comunidade nos cultos divinos. Decidi enfrentar a difícil
missão e com alívio constato a presença dos cantores e dos
músicos da Banda, para este culto de consolo para os
enlutados, para fazermos a nossa homenagem a alguem
que tanto e tão bem nos serviu. Christian Tietböhl sempre
teve tempo e sempre fez surgir o tempo necessário para
estar em nosso meio na Escola, na Igreja e em todos os
momentos mais importantes da vida da nossa Colônia. Que
nosso Senhor esteja agora com ele e com a finada
companheira dele, ela que jaz às margens e ele no fundo
das águas da Lagoa da Pinguela. Que nosso Senhor console
os filhas e filhos, os netos e familiares do casal falecido para
que se conservem firmes na fé que alimentamos da
ressurreição em Cristo. Que nosso Senhor ajude o povo do
nosso lugar, sendo Ele mesmo o nosso fiel da balança. Que
nosso Senhor tenha recebido Christian e Catharina e
Gustavo Adolfo Voges nas moradas celestiais.
Major Voges conseguiu manter-se tranquilo durante
a sua fala e, na sequência, anunciou um cântico do Coral e
para finalizar, a execução de uma marcha militar prussiana
executada pelos músicos da Banda.
![Page 248: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/248.jpg)
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NOVA ESCOLTA PARA A COLÔNIA
O General Artur Oscar saíra de Torres, rumo a Porto
Alegre, com seus três Batalhões, já no dia 6 de abril de
1894. Deixara, porém, farto armamento para o 16º RC.
Coronel Capaverde recebeu desta maneira, melhores
condições, para enfrentar as tarefas confiadas ao seu
Regimento. Os soldados pareciam mais confiantes, só pelo
fato de poderem manusear armas mais modernas.
Coronel Capaverde decidiu enfrentar, com mais rigor,
o chamado bando do Baiano Candinho, refugiado na Serra.
Entretanto, ele devia estar muito mal informado,
sobre a realidade existente na Serra. Ali não se encontrava
nenhum bando de assaltantes e bandidos. Era um
Esquadrão com um valor militar. Apenas um dos Pelotões,
seria suficiente para dar um fim na ridícula escolta policial,
composta por apenas 10 homens, colocada nas
proximidades da área do Ancoradouro de Três Forquilhas
O Alferes Boaventura, comandante da nova escolta,
felizmente foi um pouco mais discreto, do que o Sargento
Gonçalves. Chegou sem alarde. Instalar-se-ia inicialmente
na propriedade de Pacífico Cardoso, à margem da Colônia.
Ele desejava sondar a situação.
Quando, porém soube que a Escolta anterior, após a
deserção, tivera a petulância de se hospedar, por alguns
dias, no sobrado do falecido pastor Voges, ele reagiu com
raiva. Então ele também teria o direito de ter ali o seu
Quartel General, pois era uma tropa oficial da Província,
para proteger a Colônia contra os bandidos.
![Page 249: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/249.jpg)
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249
Seguiu com os seus 10 homens e os enfileirou diante
do Armazém do Major Voges. Quem apareceu foi o escrivão
Christovam Schmitt.
Boaventura já conhecia esse escrivão que era
Capitão da Guarda Nacional, e por isso deu voz de sentido e
fez uma continência. Apeou do cavalo e logo foi
esclarecendo os motivos que o haviam trazido até aquele
local.
Nisto também chegou o Major Voges e ouviu a
solicitação do Tenente. Não encontrou argumentos para
negar o pedido, porém aplicou a mesma recomendação que
concedera ao então Sargento Pedroso: - “O comandante
dorme na casa e os soldados fazem alojamento no galpão”.
Alferes Boaventura considerou que a proposta era
justa e instalou-se no quarto que antes já servira ao
Tenente Pedroso.
Alferes Boaventura reuniu-se com as lideranças
castilhistas da Colônia: Carlos F. Voges, Manoel Antônio
Alves, Christovam Schmitt e João Pedro Jacoby Neto, pois
desejava subir a Serra e ali prender Candinho.
Boaventura ficou espantado com as informações que
estas lideranças tinham para oferecer. Os castilhistas
sabiam que Candinho contava com quase mais de cem
integrantes e seria um suicídio tentar enfrentá-lo com
apenas dez policiais.
Propuseram que nestas circunstâncias a Escolta
permanecesse apenas na Vila, ajudando a manter a
segurança local. Não viam a necessidade de ser
estabelecido qualquer tipo de combate ou de provocação
aos revolucionários da Serra.
![Page 250: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/250.jpg)
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250
Alferes Boaventura agradeceu pelas informações e
conselhos. Decidiu, porém, assim mesmo, montar algumas
emboscadas, em pontos estratégicos, ao pé da Serra.
Escolheu as proximidades do Passo do Pinto. Ele esperava
poder abater pelo menos alguns maragatos, que se
arriscassem a descer a Serra.
Boaventura desejava dar satisfações aos superiores
do 16º RC, que haviam exigido a cabeça de Baiano
Candinho. Contratou um peão serrano, castilhista, para
servir de guia e olheiro. Queria ter a garantia de estar
eliminando, de fato, algum dos bandidos da Serra.
Alguns dos integrantes do Pelotão Três Forquilhas,
iam e vinham, imaginando que as trilhas ainda estivessem
seguras. Além disso, esperavam fazer-se passar por pacatos
colonos ou peões. Colonos e peões eles eram, porém não
tão pacatos assim, pois agora andavam armados.
Todos eles tinham familiares - esposa e filhos -
residindo na Pedra Branca, no Arroio Carvalho, no Josaphat
ou redondezas. Eles nada sabiam do olheiro serrano que
Alferes Boaventura contratara.
Morte de um Sargento Maragato
Certo dia, o Sargento Miguel Gralha, acompanhado
por Pedro Bruxa, Mano Jorge, Jesus Crioulo, Alemão Juarte
e João Franco tinham descido para visitar os familiares.
Aproveitaram para logo levar alguns cavalos e algumas
poucas reses, dos seus próprios pastos, para dar
suprimento ao efetivo.
Haviam descido bem cedo, ainda de madrugada.
Queriam aproveitar bem o dia. Os homens do Alferes
![Page 251: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/251.jpg)
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251
Boaventura ainda nem haviam saído da sede da Colônia. Os
policiais foram somente pela metade da manhã, na
disposição de armar uma emboscada, esperando que algum
bandido se aventurasse a descer.
Os soldados foram procurando o melhor ponto e ali
permaneceram na espreita. Quase foram surpreendidos pela
retaguarda. Esperavam os bandidos de um lado e estes
vieram era do lado oposto, da banda da Colônia. O olheiro
os alertou. Nervosos procuraram esconder-se da melhor
forma possível.
Miguel Gralha e companheiros já haviam apontando
na curva da trilha mas não notaram a movimentação dos
soldados. Assim vinham tranquilos, fumando palheiros e
proseando, tangendo os poucos animais com certo desleixo.
O olheiro avisou que estes eram do grupo mais
chegado do Baiano, dos mais fiéis. O nervosismo tomou
conta dos soldados. Eram jovens e inexperientes. Apesar de
estarem emboscados e serem dez contra seis, parecia que
um Batalhão inteiro os viesse enfrentar. Tinham a vantagem
da surpresa e a desperdiçaram. Um soldado mais nervoso
se antecipou. Com um disparo certeiro abateu Miguel Gralha
que vinha à frente.
Iniciou um tiroteio e os demais maragatos, mesmo
alguns gravemente feridos, conseguiram fugir por uma
trilha lateral, que levava a uma propriedade particular, pois
imaginavam que estavam sendo atacados por um efetivo
maior de policiais. Alferes Boaventura retornou à Colônia
alardeando o suposto grande feito de ter dado a primeira
lição nos bandidos. Certamente agora ninguém mais haveria
de descer a Serra, pois os seus homens já deviam estar
sendo vistos como gente de coragem e valor.
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252
Quanto ao sepultamento do corpo de Miguel Gralha,
aconteceram diversos problemas. O pior era o aviso de que
no Cemitério do Passo não haveria mais lugar para
sepultamentos.
Os novos dirigentes da Comunidade mostravam má
vontade, para atender a família do revolucionário morto,
pois eram agora todos castilhistas ferrenhos, com destaque
para Carlos Frederico Voges Sobrinho, Christovam Schmitt,
João Pedro Jacoby Neto e os irmãos Tietböhl: José Jacob,
Carl Wilhelm e Peter Anton.
Os federalistas haviam sido declarados como sendo
bandidos. Por isso, a família de Gralha foi orientada que
convinha que o defunto fosse, quem sabe, sepultado, lá no
Josaphat. Seria a melhor maneira para resolver a situação.
Na verdade, Baiano já contara com tal eventualidade, fazia
algum tempo. Desconfiava que lhe seria negada a
permissão de sepultar eventuais revolucionários mortos, no
Cemitério Protestante, da sede da Colônia de Três
Forquilhas. Por esse motivo, ele já deixara demarcado um
espaço de terreno, a aproximadamente cem metros do seu
rancho, numa faixa estreita entre a estrada e o rio.
Quando os familiares do Sargento Gralha receberam
o aviso da negativa para o sepultamento no Cemitério
Protestante, imediatamente procuraram Maria Witt, mulher
de Baiano Candinho, que permanecera no seu rancho com
as crianças, enquanto o marido conduzia a Revolução,
aquartelado no Alto Josaphat. Ele não poderia descer da
Serra, em hipótese alguma. As mulheres, portanto, viam-
se obrigadas a solucionar o problema.
Maria Witt prontamente indicou o local para a
sepultura de Gralha. Iniciara desta forma, o Cemitério do
Candinho, ou Cemitério dos Maragatos, do Esquadrão
Josaphat.
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253
CANDINHO REVELA CORAGEM
A morte de Miguel Gralha chocou o Pelotão Três
Forquilhas, além dos dois outros companheiros que foram
trazidos gravemente feridos, correndo risco de morrer.
O desejo geral dos integrantes do Pelotão era de
uma descida de todo o efetivo para dar o merecido castigo
ao Alferes.
Baiano Candinho reuniu o Pelotão Três Forquilhas e
justificou que eles seriam os únicos a tomar as dores,
causadas por essa morte lastimosa de Miguel Gralha. Os
demais integrantes do esquadrão Josaphat que se
acalmassem. Não podia haver nenhuma precipitação. Além
disso, ele dera a palavra de honra, já para o pastor Voges e
mais tarde para o Major Voges, de que jamais entraria em
combate, na Colônia. Além disso, o que os moradores de
Três Forquilhas tinham a ver com aquela Escolta? Era o
Governo castilhista quem caçava os maragatos e
federalistas. As autoridades castilhistas é que haviam
colocado a sua cabeça a prêmio.
Candinho ordenou que alguém que não fosse
conhecido na área, seguisse até a Colônia para fazer um
serviço de espionagem. Queria saber mais detalhes sobre a
movimentação do Alferes Boaventura. A Escolta Policial
tinha que ser posta a correr, de volta a Torres, porém sem
matar ninguém.
A iniciativa de Candinho deu resultados, pois em
poucos dias o espião retornou com importantes
informações:
1 – A Escolta Policial está, no momento,
aquartelada no sobrado do falecido pastor Voges.
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254
2 – A Escolta foi convocada pelo Juiz da Paz
para lhe conceder segurança na celebração de um
casamento a se realizar na localidade de “Chapéo”.
Os policiais aceitaram a tarefa e o alferes haverá de
ir pessoalmente acompanhado de quatro soldados.
3 – Os integrantes da Escolta são apenas dez
homens, todos uns meninos alguns com menos de
vinte anos de idade.
Candinho aproveitou para explicar como uma descida
em massa, de todo o Esquadrão Josaphat teria sido
estúpida. Seria um combate com um grupo de meninos.
Apenas seriam feitas vítimas, de forma inútil. Em Porto
Alegre o assunto seria utilizado para comprovar que na
Serra do Pinto estariam escondidos apenas bandidos
sanguinários.
A morte de um revolucionário federalista, como fora
o caso do Sargento Gralha, com certeza havia sido
aplaudida, pelo Governo, como sendo um ato em nome da
Justiça. Entretanto a morte de Sargento Gonçalves
continuava sendo explorada como um crime perverso
praticado contra um militar enviado pelo Governador.
Candinho reuniu apenas quinze dos seus melhores
homens, integrantes do Pelotão Protestante, de Três
Forquilhas. Eles o acompanhariam até localidade do
“Chapéo”.
Alferes Boaventura na sua inexperiência, nem queria
pensar em alguma iniciativa de Baiano Candinho. Convidou
quatro soldados, para o acompanharem ao local, da festa do
casamento. Os outros cinco deviam ficar, de serviço, em
prontidão no aquartelamento do sobrado dos Voges.
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255
A fuga do Alferes Boaventura
Ao anoitecer, o Juiz da Paz José Jacob Tietboehl
conduziu um ato solene para a união dos noivos, na casa de
Antônio Nunes, no Chapéo. Em seguida, o dono da casa
anunciou o início da festa.
Candinho nestas alturas já se encontrava no local,
protegido pela escuridão, em meio a um arvoredo próximo.
Desceu do cavalo, tirou as duas pistolas e as colocou no
bornal junto à sela e prendeu a espada e a arma de cano
longo junto à sela. Recomendou que Luis da Conceição
fosse aos fundos da moradia, junto aos galpões para
providenciar o recolhimento de armas e cavalos do alferes e
dos soldados. Lá já encontraria uma pessoa anteriormente
designada, que saberia indicar o local onde as armas e
cavalos estariam guardados.
Baiano Candinho, desarmado, foi então caminhando
tranquilamente na direção da casa. Bateu palmas e, o
próprio dono da casa Antonio Nunes veio a porta para saber
quem era. Logo reconheceu Candinho, pois haviam vivido
em boa vizinhança em tempos antigos, quando o nordestino
trabalhara como capataz na propriedade do quase vizinho
Paraguaio Gross. O dono da casa vendo Candinho
desarmado abriu os braços, revelando satisfação e logo foi
dizendo: - “Vem chegando Candinho, que aqui sempre há
lugar para um amigo, mais ainda em dia de casamento e de
festa”.
Os dois entraram, e o senhor Nunes foi indicando
uma cadeira livre, numa das extremidades onde se
encontravam os noivos e familiares. Na ponta oposta estava
o Juiz da Paz, castilhista ferrenho, que cerrou o semblante,
ao reconhecer o recém chegado.
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256
O Juiz da Paz, em dado momento, levantou-se
discretamente e foi conversar com o alferes Boaventura.
Explicou: - “Candinho está aqui, desarmado... não podemos
perder essa oportunidade para agarrá-lo, assim que ele sair
dessa casa. Providencie para que os soldados saiam e se
posicionem, junto da porteira, à margem da estrada, pois
ele terá que sair por lá...”.
Enquanto o Juiz da Paz voltava ao seu lugar, o
alferes orientou os soldados sobre a ação. Em primeiro
lugar um deles deveria ir ao galpão para verificar as armas
e selar os cavalos, para, em seguida, se posicionar junto à
porteira, aguardando a sua chegada em companhia dos
outros três militares.
O soldado levantou-se e discretamente, buscou a
saída para os fundos da casa, através da cozinha.
Filho de Candinho pede benção
Em certo momento, no transcorrer da festa, um
menino entrou na sala e dirigiu-se a Candinho, dizendo: -
“A benção, pai!”.
Candinho sorriu e respondeu: - “Deus o abençoe,
meu filho Manoel Candinho”.
O fato não despertou nenhuma curiosidade das
pessoas presentes à mesa, pois sabiam que a criança era
um dos filhos de Candinho, que ele tivera com a amante
Maria Gaspar. Essa mulher era viúva do ex-militar Brummer
Luis Stahlbaum falecido fazia mais de dez anos. A
propriedade da viúva ficava próximo da Ferraria de Wilhelm
Brehm, no núcleo sudeste da Colônia, portanto não muito
longe da localidade do Chapéu. A viúva estava na cozinha e
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257
liderara os preparativos da festa e agora comandava um
grupo de serviçais que serviam as mesas. Ela não aparecera
no recinto, porém enviou o menino para levar uma
mensagem para Candinho. Por isso o menino, depois de
pedir a benção ainda falou: - “Trago-lhe o recado de que o
serviço solicitado já foi feito...”.
Candinho sorriu fez um afago no pequeno, que saiu
do recinto. Enquanto isso, o soldado enviado para preparar
armas e cavalos retornou com ares de grande aflição e
segredou no ouvido do alferes: - “Comandante, as nossas
armas e os nossos cavalos sumiram... Além disso, observei
que há um movimento estranho em meio de um arvoredo,
com resfolegar de cavalos e pessoas pitando palheiros.
Devem ser os bandidos do Candinho”.
O alferes levantou-se e foi falar com o Juiz da Paz, e
aos sussurros, mas aflito, foi explicando que armas e
cavalos deles haviam sumido do galpão. Em seguida voltou
para junto de seus soldados e orientou: - “Três de nós saem
pela cozinha, pegam o milharal e vão para a sede da
Colônia buscar o reforço de nossos cinco companheiros.
Enquanto isso eu e meu ajudante de ordens sairemos pela
porta da frente. Buscaremos a estrada para seguir ao porto,
onde iremos aguardar a chegada de vocês”.
O tenente e seu ajudante saíram do recinto, pela
porta da frente, sem se despedirem, para dar a impressão
de normalidade, como se apenas estivessem buscando o
ambiente externo da casa. Os dois caminhando
vagarosamente rumo à porteira e, alcançando a estrada
saíram em desabalada corrida, tomando rumos diferentes.
Luis da Conceição, no comando do grupamento
maragato, identificando o Alferes Boaventura, ordenou: -
“Todos atrás do militar que está correndo para o sul.
Precisamos agarrá-lo, pois que Candinho quer ter uma
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258
conversa com ele. Porém, lembrem que ninguém saia
ferido, muito menos causar a morte desse alferes”.
Os cavaleiros saíram do meio do arvoredo onde
estavam escondidos e iniciaram a perseguição ao alferes. O
fugitivo estava com uma boa dianteira e em seguida decidiu
sair da estrada, tomando o rumo de um matagal próximo.
Um dos perseguidores, já bem próximo do fugitivo, vendo
que o mesmo estava prestes a se embrenhar no matagal
decidiu desferir um tiro nas pernas do mesmo. O homem
não era bom de pontaria, pois errou o disparo que foi um
pouco mais alto atingindo o braço do alferes. Porém o
ferimento não impediu que ele se embrenhasse no matagal,
ficando logo fora do alcance dos cavaleiros.
O outro soldado tomou rumo oposto e não foi
perseguido. Entretanto assim mesmo entrou através de um
potreiro, procurando se encaminhar ao destino fixado, ou
seja, o porto do rio Três Forquilhas.
Constatando a fuga do alferes, Luis da Conceição
repreendeu o atirador e avisou: - “Faça votos que os tiros
não tenham ferido o alferes, pois isso deixará o Candinho
muito incomodado”.
Na morada de Antonio Nunes o disparo feito por
arma de fogo foi ouvido por algumas pessoas. O Juiz da Paz
que estava muito atento para qualquer ruído foi o primeiro
a se levantar e tomou a dianteira para sair e se encaminhar
até a porteira. Os archotes acesos lançavam uma pálida luz,
iluminando o gramado e as imediações. Mas o silêncio agora
era intenso e nada se anormal podia ser percebido. Apenas
o dono da casa comentou com Candinho: - “Estou notando
a ausência dos soldados da escolta...”. Depois,
aproximando-se do Juiz da Paz repetiu o mesmo
comentário.
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259
Tietböhl explicou: - “Com certeza eles desconfiaram
de alguma presença indesejada e foram verificar se a
bandidagem anda solta por aí”.
Os três retornaram para o recinto da festa e a quase
maioria dos convidados não demonstrou a menor
preocupação com os tiros distantes que alguém dissera ter
ouvido. As danças seguiram animadas, noite adentro.
Candinho foi o primeiro a se despedir, dizendo aos
noivos e ao dono da casa: - “Já é hora de buscar o caminho
para o local que escolhi para passar a noite”.
O cavalo do nordestino continuava amarrado no
mesmo local onde o deixara, em meio ao arvoredo. Não
havia mais viva alma por ali e tranquilamente saiu porteira
a fora. Não longe dali, talvez a um quilômetro e meio
reencontrou-se com o seu grupamento Ficou muito
contrariado ao tomar conhecimento que os homens não
haviam agarrado o alferes e que um dos seus desferira um
tiro na direção do fugitivo. Diante disso, com severidade,
alertou: - “Só espero que tenha sido bem ruim na pontaria,
pois o que menos serve neste momento da Revolução é o
derramamento de sangue dos nossos adversários”.
O Juiz da Paz revelava uma grande preocupação com
a situação estranha, do sumiço de sua escolta. Decidiu
permanecer na festa com a desculpa: - “Os policiais devem
retornar a qualquer momento e por isso, vou aguardar por
eles neste lugar ao qual me escoltaram”.
O Juiz saiu somente ao amanhecer, ao clarear de
outro dia, acompanhando um grupo de convidados
retardatários que iam para a direção que ele também
precisava tomar.
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260
Enquanto isso, os outros três soldados aproveitaram
a confusão, e fugiram através de um milharal, nos fundos
da casa. Desta forma não mais puderam ser vistos pelos
homens de Candinho. Os três fugitivos nada mais
desejavam saber, de realizar o serviço policial. Ao invés de
procurar os companheiros na sede da Colônia, aquartelados
na antiga casa pastoral, decidiram rumar, de retorno a
Torres, sem cavalos e sem armas. Formavam, sem dúvida,
uma triste figura e não souberam conceder explicações
satisfatórias a respeito dos acontecimentos.
Quanto ao Alferes Boaventura, ele fora ferido, pois o
tiro acertara o seu braço, quebrando um osso. Estava
perdendo sangue. Com grande dificuldade alcançou o Porto
dos Diehl, na margem do rio.
O Alferes recebeu socorro de um dos funcionários da
Empresa de Navegação de José Adolfo Diehl que entendia
de enfermagem. Constataram que o Alferes necessitava de
cuidados médicos por causa do osso quebrado. Por isto
prepararam uma embarcação e o conduziram até Torres,
para ali receber melhores cuidados.
Já noite, Baiano Candinho depois de sair da festa,
seguiu até a sede da Colônia, da forma mais silenciosa
possível. Não desejavam acordar os moradores.
Chegaram diante do sobrado, do falecido pastor. Não
havia nenhuma luz de pixirica, que pudesse revelar a
presença de algum polícia de plantão.
Alguns homens entraram na casa, pois a porta não
estava chaveada. Não havia viva alma ali. Não havia nem
armamento e nem utensílios dos soldados.
A tropa de Candinho não sabia que o alojamento do
Alferes, na verdade não tinha ligação com a parte principal
![Page 261: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/261.jpg)
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261
do sobrado. Era apenas um quarto, com porta para os
fundos e que antigamente servira como alojamento, do
professor da Escola Protestante.
Quanto aos outros cinco soldados, eles estavam
dormindo no galpão, certamente em sono firme. Não
ouviram nada e escaparam assim da humilhação de serem
postos a correr, sem farda, sem cavalos e sem armas.
Baiano Candinho reuniu o efetivo e com o mesmo
silencio como haviam chegado, se retirou, seguindo rumo a
Serra do Pinto. Candinho sabia muito bem o que era uma
guerra. Porém insistia em dizer que uma Revolução era
ainda pior. Por isto era preciso manter a cabeça fria. Era
preciso evitar que inocentes viessem a pagar pelo ódio dos
insanos.
Ele retornou satisfeito, pois o Pelotão Três Forquilhas
tivera a desejada oportunidade para aplicar uma lição em
represália à morte do Sargento Gralha E, o mais
importante, o trabalho havia sido realizado sem tirar a vida
de ninguém. Quando o dia amanheceu, a notícia da fuga de
Alferes Boaventura foi trazida a sede da Colônia de Três
Forquilhas. Além de Boaventura, também os seus quatro
integrantes da escolta ao Juiz da Paz, não retornariam mais.
Surgiu um grave dilema para os outros cinco.
Estavam amedrontados e sem comando. Em virtude disso,
não quiseram mais permanecer no local. Reuniram seus
pertences e armas, montaram os cavalos, e rumaram de
retorno para Torres.
Uma grande calmaria se projetou sobre toda a
Colônia. Não se viu mais nenhum movimento de gente
armada, que pudesse denotar ser tempo de Revolução.
![Page 262: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/262.jpg)
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262
HERMENEGILDO NA BOA UNIÃO
Certo dia apareceu na Boa União um jovem professor
com um pezuelo recheado de livros e roupas, no lombo do
cavalo. Ele vinha com a tarefa de reativar a escola dessa
localidade. O professor logo foi avisando: - “O Governo me
contratou para novamente fazer funcionar a escola da Boa
União”.
Por diversos anos aquela escola ficara abandonada,
pois não aparecera professor disposto a trabalhar naquele
ermo ou fundão como outros diziam, além do receio da
epidemia e da presença de bandidos.
Ninguém entendia como é que um jovem promissor
vinha assumir uma escola tão precária. O fato é que
ninguém sabia que o Coronel Álvaro Capaverde do 16º RC
de Torres se empenhara para colocar um professor na Boa
União, porém com um serviço duplo. Capaverde necessitava
de alguém em condições de realizar um discreto serviço de
espionagem ou de coleta de informações sobre a presença e
de ações planejadas pelos revolucionários federalistas que
ali haviam recrutado combatentes para a formação do
bando do Candinho. Eles não sabiam da existência de um
esquadrão completo e continuavam falando em bando de
bandidos.
Professor Hermenegildo Prudêncio Torres, formado
em magistério na Capital da Província, era também um
alferes do 16º RC. Porém o nome dele não ficara
relacionado no efetivo militar. Havia sido preparado para
exercer um serviço de espionagem e, para tanto,
frequentara um curso militar rápido, ministrado por oficiais
do serviço de informações do General Artur Oscar, enquanto
este esteve acantonado na cidade de Torres.
![Page 263: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/263.jpg)
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263
Antes do envio do professor Hermenegildo para Boa
União, aconteceu uma reunião secreta no quartel do 16º
RC, para oficializar o envio. O encontro contou com a
presença de Carlos Frederico Voges Sobrinho e Christovam
Schmitt.
Professor Hermenegilgo foi apresentado para ser
conhecido pelos chefes republicanos de Três Forquilhas. O
jovem professor estava descaracterizado, ou seja, sem
uniforme militar, mas vestindo um simples traje civil, com
um cabelo basto e cavanhaque.
Coronel Capaverde explicou ao professor: -
“Apresento-lhe o chefe republicano de Três Forquilhas e o
escrivão da sede de Três Forquilhas, do lado arroiense. A
eles você somente poderá recorrer em última hipótese.
Melhor será fazer de conta que nunca os viu e nem sabe
quem eles são. O seu contato sempre será através de um
homem de ligação que nós colocamos para transitar
naquela área, regularmente e se apresentará como sendo
um caixeiro viajante especializado na venda de material
escolar. Ele oferecerá material a baixo custo dizendo que o
mesmo é patrocinado parcialmente pela Intendência de
Torres. Os relatórios a serem elaborados serão cifrados
conforme as instruções recebidas e serão entregues a esse
homem de ligação. Para quem olhar o relatório parecerá
uma simples descrição da situação escolar na Boa União.
Professor Hermenegildo estava muito tranquilo, pois
se sentia bem preparado para a dupla tarefa. Ele sabia que
teria que colher informações com a maior naturalidade,
prestando atenção nas conversas das crianças ou nos
diálogos que viesse a estabelecer com os pais de alunos,
para resolver eventuais problemas nos estudos, com
doenças e ou eventuais dificuldades das famílias.
![Page 264: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/264.jpg)
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264
AÇÃO DO 16° RC É REFORÇADA
Em novembro de 1894 o 5º Esquadrão do 16º RC,
sob o comando do major João José de Barros foi deslocado
para a Colônia de Três Forquilhas com o objetivo de
demonstrar força e mostrar a presença castilhista na área,
pois agora já sabiam que a força de Candinho era muito
superior ao que imaginavam.
O 5º Esquadrão acampou no sobrado que fora do
pastor Voges e agora propriedade do escrivão Capitão
Christovam Schmitt. O escrivão ainda se mantinha instalado
na casa do sogro, pois desejava fazer algumas reformas na
casa antes de voltar a ocupá-la.
Em dezembro do mesmo ano o Coronel Capaverde
ordenou que mais dois esquadrões fossem se juntar ao 5º
Esquadrão. Vieram o 3° e o 4° Esquadrões, ficando o
efetivo todo sob o comando do major Zeferino de Macedo
Couto que fixaram mais dois pontos de base para
acantonamento. O major Zeferino acampou nas
proximidades do Sítio da Figueira, montando barracas à
margem do rio. Outro efetivo seguiu até a Boa União
acantonando nas proximidades do sobrado de João Pedro
Jacoby Júnior.
Jacoby havia sido maragato e estranhou essa
presença maciça de castilhistas junto à sua propriedade.
Em fevereiro de 1895, Coronel Capaverde depois de
agitar a Colônia com esse maciço movimento de soldados,
num vaivém pelos diferentes recantos, chamou o efetivo de
volta a Torres, pois se desentendera com o major Zeferino e
desejava que o mesmo buscasse transferência para outra
cidade onde houvesse um aquartelamento militar.
![Page 265: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/265.jpg)
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265
Para guarnecer o vale do rio Três Forquilhas
permaneceu o 3° Esquadrão, deixado sob o comando do
jovem Tenente Frederico Maximiliano Tietböhl, conhecido
pela alcunha de Max Tiba. Este era filho do professor,
regente e maestro Christian Tietböhl que perecera nas
águas da Lagoa Pinguela em 1° de junho de 1894.
O Coronel Capaverde desejava valorizar o jovem
oficial e dar-lhe destaque diante da população de sua terra
natal
Federalistas torrienses espionam
O capitão federalista Ignácio Machado fixara a sua
base num ponto ermo entre a Serra do Faxinal e o Morro do
Forno. Ele sofrera ultimamente diversos reveses através de
ataques surpresa efetuados por piquetes do 16º RC. Por
este motivo desejava uma desforra para vingar seus
companheiros mortos. Ele passou a colocar espiões para
espionar todos os movimentos do 16º RC e soube da
intensa movimentação de tropas em Três Forquilhas.
Ignácio Machado contava com talvez trinta homens,
menos que um terço da numerosa tropa comandada por
Baiano Candinho. Mesmo assim ele conseguia levar sustos e
intranquilidade por onde quer que passasse, sempre
buscando o fator surpresa para o seu lado.
Quando o major Zeferino, do 16º RC voltou a Torres,
permanecendo apenas um pequeno efetivo de trinta
homens, colocados sob o comando do Tenente Max
Tietböhl, estava surgindo a oportunidade aguardada.
Capitão Ignácio Machado soube que os trinta homens
comandados pelo Tenente Tietböhl ficavam divididos em
![Page 266: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/266.jpg)
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266
dois postos distintos, com 10 homens fixos nas imediações
do sobrado da Boa União e outros 10 fixos no ancoradouro
do rio Três Forquilhas, e os outros 10 homens para fazer o
serviço de patrulha móvel. O propósito de Ignácio Machado
era de causar o maior número possível de baixas aos
castilhistas.
Max Tietböhl, pego de surpresa
Era o dia 2 de março de 1895. O Tenente Max
Tietböhl estava ali, na casa paterna, muito feliz pelo fato de
poder guarnecer a sua terra natal.
Ele ocupara a casa dos pais, por estar ainda
desabitada, mas toda mobiliada, assim como ficara quando
os velhos haviam partido para a última viagem deles. A
casa se situava no lado torriense, próximo ao Sítio da
Figueira, apenas no lado oposto do rio.
Max Tietböhl passava o maior tempo possível na
casa, pois a considerava seu lar, ainda nem casara e não
tinha namorada em vista. Essa residência ficava a meio
caminho entre os dois postos fixos de sua tropa, entre Boa
União e o Ancoradouro.
Quando a patrulha móvel subia ou descia,
observavam para ver se o comandante deles ali se
encontrava e iam se apresentar a ele. Capitão Ignacio
Machado tomou conhecimento dessa situação e assim veio
chegando com seus homens através de uma trilha que
vinha do Morro do Forno e dava para os fundões do Morro
do Chapéu. Ele contornou o Chapéu e desceu pela trilha que
desemboca na estrada principal a talvez 400 metros da casa
de Max Tietböhl. A intenção agora era muito mais de abater
o comandante do Esquadrão que seria pego de surpresa e
![Page 267: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/267.jpg)
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267
talvez desprevenido. De fato, Tenente Max estava bem
despreocupado, bem à vontade, sem seu dólmã e trajando
apenas a calça do uniforme. Decidiu fazer a manutenção de
sua arma de cano longo. Desmontou-a com a intenção de
lubrificá-la.
Ele estava entretido nessa atividade quando escutou
o trotear de diversos cavalos e imaginou, a princípio, que
eram os homens da patrulha móvel retornando da Boa
União. Vestiu a jaqueta militar e foi até a porta, visando
facilitar as coisas para os homens que desejavam se
apresentar e dizer que tudo estava em ordem. Surpreso
constatou que ali chegavam revolucionários federalistas, em
número elevado, talvez um pelotão completo.
Max volveu-se entrando na casa e trancando aquela
porta, enquanto buscava suas pistolas e afivelava a espada
embainhada na cintura. Capitão Machado deu ordens para
que a casa fosse cercada e invadida. Ele mesmo desejava
abater o tenente e por isso rebentou a porta e foi entrando.
O primeiro tiro desferido por Max foi direto na testa
do invasor que caiu, estrebuchando. Já os demais foram
entrando por janelas e pela porta dos fundos. Max ficou de
costas contra a parede da sala, esperando pelos inimigos.
Nesse meio tempo, pelo outro lado do rio, vinha a
patrulha móvel descendo da Boa União. Tinham tomado
naquele dia a estrada do outro lado do rio por considerá-la
melhor e já se encontravam na altura do Sítio da Figueira
quando escutaram aquele tiro. Eles apressaram os cavalos e
a galope se movimentaram até o passo do rio, quando
foram notados. Iniciou um tiroteio e os integrantes da
patrulha se viram em número bem inferior aos atacantes e
decidiram retornar, na decisão de buscar reforços no posto
fixo do Ancoradouro, para somente então enfrentar os
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revolucionários. Alguém do efetivo falou: - “E o nosso
Comandante, estará ele na casa?”.
Outro respondeu: - “Certamente que não, pois ele
ficou de ir ao Ancoradouro, nesta tarde”. E saíram todos em
galope disparado, rumo ao posto do Ancoradouro.
Tenente Max ficou em situação insustentável. Se no
primeiro momento ele respirou aliviado ao ouvir a troca de
tiros, pensando que a patrulha móvel iria conceder-lhe
apoio, enganou-se. O tiroteio parou e os atacantes voltaram
a se ocupar com ele, retornando de novo pela janela e pela
porta dos fundos, invadindo a casa.
Agora eram de novo em torno de quase 30 contra
um. De pistola em punho e a espada na outra mão foi agora
avançando na direção dos revolucionários mais próximos.
Com outro tiro certeiro ele abateu Agapito Ramos, o
ajudante de ordens do Capitão Machado, agora ali estirado,
morto.
Max passou a espada para a mão direita e desferiu
um golpe sobre a mão de outro agressor. O revolver e
alguns dedos deste voaram para um canto da sala e o
sangue passou a jorrar. Agora havia somente uma saída
para Max. Seria o corpo a corpo. Ele puxou da faca que ele
trazia na cintura e foi acertando agressores à sua volta,
ferindo seriamente diversos deles.
Tenente Max estava agora bastante vulnerável e logo
passou a receber disparos de tiro de pistola, quase à
queima roupa. Foram inúmeros os tiros e ele tombou sobre
o soalho de sua residência, inerte.
Os inimigos cercaram o seu corpo e deram-lhe
alguns chutes para se certificaram que ele de fato morrera.
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Os revolucionários, de repente, foram em busca do
corpo do Capitão Machado e se certificaram que morrera.
Também Agapito estava ali sem vida e diversos homens
gravemente feridos. Olharam agora com respeito para o
corpo do Tenente Max e alguém falou: - “Este foi um
valente!”.
Os atacantes amedrontados, temerosos pela
possibilidade da vinda de reforços dos castilhistas, bateram
em retirada, a galope, deixando para trás os cadáveres de
Machado e de Agapito. Levaram somente os feridos e
tomaram novamente o mesmo caminho, para encetarem a
fuga através da trilha do Chapéu.
Companheiros chegam tarde
Somente quarenta minutos mais tarde voltavam os
cavalarianos castilhistas, já tomados de profunda
ansiedade, pois constataram que o Comandante não
estivera no posto militar do Ancoradouro.
Triste foi o quadro que eles encontraram na velha
casa dos Tietböhl O Tenente estava morto, deitado numa
poça do seu próprio sangue. Mas na porta de entrada viram
e reconheceram o Capitão Ignacio Machado, morto. Num
ponto da sala viram o cadáver do Agapito Ramos e
disseram: - “O nosso comandante foi um valente, pois
acabou com as duas cabeças desse bando de facínoras”.
Eles depararam com muito sangue espalhado em
diversos pontos como sinal evidente que diversos outros
revolucionários saíram com graves ferimentos. Num canto
da sala viram uma pistola com um dedo no encaixe do
gatilho e outros dois dedos, caídos ao lado da arma. Alguém
![Page 270: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/270.jpg)
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saíra com os principais dedos da mão direita decepados e
nunca mais voltaria a empunhar uma pistola.
A providência imediata foi de levar ao conhecimento
do Comandante de Torres a terrível tragédia, da morte do
Comandante do 3º Esquadrão do 16° RC, tenente Frederico
Maximiliano Tietböhl. Notificaram também a respeito dos
dois cadáveres, de chefes do bando revolucionário.
O herói de Três Forquilhas
Os curiosos foram chegando até a casa que fora
morada do professor Christian Tieböhl. Também os irmãos e
vizinhos e moradores do outro lado do rio vieram para
buscar informações, assim que o tiroteio e o barulho da
refrega haviam terminado.
FIGURA 29: Tenente Frederico Maximiliano Tietböhl, o Max Tiba, com trinta anos de idade. Filho de Três Forquilhas e Herói Republicano. Recebeu
o comando do 3° Esquadrão do 16° RC. Fonte: Gravura do Arquivo da Família Voges.
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Carlos Frederico Voges e José Jacob Tietböhl ficaram
trocando impressões sobre os possíveis procedimentos para
o sepultamento do tenente Max.
De uma coisa eles tinham certeza, que o Coronel
Álvaro Capaverde jamais admitiria que o ofício fúnebre
viesse a ser dirigido pelo Major Adolfo Felipe Voges, um
líder maragato. Seria temerário colocar o major Voges
nessa situação, pois poderia acontecer dele receber voz de
prisão, diante da revolta da qual o comandante militar
deveria estar acometido.
Carlos Voges opinou: - “Eu não me sinto em
condições de conduzir um ofício fúnebre e não conheço
ninguém além do meu pai, aqui na Colônia, em condições
de assumir essa tarefa”.
José Jacob Tietböhl respondeu: - “Eu igualmente não
tenho e nunca tive aptidão para essa esfera da atividade
religiosa. Acompanhei o meu pai tantas vezes e ficava
admirado com a desenvoltura dele, para falar com o povo.
Mas, afinal ele era um mestre e dos melhores. Quanto ao
que disseste a respeito do teu pai, também acho que o
Major Voges nem deveria aparecer no velório e nem ao
sepultamento. Temos que aguardar a vinda do Comandante
do 16º RC. Por enquanto ninguém poderá mexer no corpo,
pois eles querem efetuar a autópsia de praxe e sei que
trarão um médico para fazer isso”.
Carlos Voges finalizou: - “Temos agora o nosso herói
republicano de Três Forquilhas!”.
Depois, colocando a mão sobre o ombro do amigo,
corrigiu: - “Peço desculpas, pois pode dar a impressão que
eu fico satisfeito com essa morte do teu querido irmão”.
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José Jacob Tieböhl ficou com lágrimas nos olhos e
falou: - “Não há necessidade de me pedir desculpas, pois
sei o que o amigo está pensando. Eu fico orgulhoso por este
meu irmão, tão valente e que vendeu bem caro a pele
dele”...
O velório de um bravo
Grande foi mais uma vez a consternação entre a
população do vale do rio Três Forquilhas, com tantas mortes
chocantes, ocorridas nos últimos tempos.
A morte do Tenente Frederico Maximiliano Tietböhl
dentro de sua própria casa, numa área nobre da Colônia
despertou grande revolta e posições exacerbadas contra os
revolucionários federalistas. Os federalistas foram todos
colocados sob severa condenação, declarados como sendo
meros bandidos desqualificados.
Carlos Voges procurou os oficiais do Estado Maior do
16º RC assim que eles chegaram ao local e sugeriu: -
“Considero que aqui não será um bom lugar para velarmos
esse filho da nossa terra que tombou no cumprimento de
sua tarefa militar. Por isso venho oferecer o Sítio da
Figueira que fica bem ali, no outro lado do rio. Sugiro que
levantem uma tenda grande, dessas que se encontram no
ancoradouro, para ali ser colocado o ataúde do oficial e
permitir que façam a guarda solene, com velório aberto
para todo o povo”.
Os oficiais confabularam por alguns instantes e em
seguida confirmaram o procedimento como adequado para
a finalidade prevista.
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Os militares buscaram a tenda ou uma espécie de
barraca grande e a levantaram sob a figueira maior. Foi
constituída uma guarda de honra fúnebre. Jovens soldados
trajando suas fardas de gala e munidos de arma, se
revezavam na vigília noturna, ao lado do caixão.
Carlos Voges colocou o seu grande galpão ao dispor
onde estavam armados estrados que normalmente serviam
de catre para os peões, que ali pernoitavam e mostrou o
lugar onde se encontravam cuias, bombas, chaleiras e erva
mate.
Grande foi o movimento de integrantes do 16° RC
que vieram de Torres para o último adeus. Também muitos
moradores de diferentes pontos do vale iam e vinham,
trazendo palavras de conforto para a numerosa família
Tietböhl, muito benquista na localidade.
Na grande sala de visitas da casa de Voges foi
armada uma enorme mesa onde era servido café,
acompanhado de rosca de polvilho e charque cozido, em
pequenas fatias. Ali se reuniram os oficias do efetivo.
Durante a noite chegou o comandante do 16º RC,
coronel Álvaro Capaverde que se uniu ao seu Estado-Maior.
A sua primeira orientação foi para com o dono do Sítio da
Figueira, dizendo: - “Em primeiro lugar agradeço pela
acolhida em sua propriedade para realizarmos o velório do
nosso bravo Tenente Frederico Maximiliano Tietböhl. Em
segundo lugar quero solicitar que não se faça nenhuma
cerimônia fúnebre em língua alemã devido ao fato de nós
estarmos em época de revolução e é importante que
possamos saber e entender tudo o que for feito e falado.
Para evitar problemas neste sentido sugiro que seja feita
uma cerimônia militar que, é evidente, meus oficiais
haverão de conduzir. Como é de praxe em nosso meio
militar nós sempre optamos pelas cerimônias simples e
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rápidas. Espero que isto seja compreendido pela sua
congregação protestante, cujos adeptos também aqui estão
em grande número, para prestar suas homenagens”,
Carlos Voges tranquilizou o Coronel Capaverde,
explicando: - “Os dirigentes gerais da minha igreja
protestante, em São Leopoldo, enviaram um novo pastor
para nós, porém ele deve estar, nesta hora, na Capital da
Província de onde irá despachar o seu baú de livros que
chegou da Alemanha e mais suas malas e pertences. Sei
que esse nosso novo pastor nada entende da nossa língua
nacional, e teria dificuldade de atender a sua exigência.
Portanto, nesta hora não teremos nenhum clérigo presente,
em condições de realizar o ofício fúnebre. Concordo de bom
grado que se faça um sepultamento simples com a presença
da nossa Banda de Música da nossa Colônia que estava sob
a regência do saudoso maestro e regente professor
Christian Tietböhl, aliás, que era pai do jovem tenente
morto. Também nós integrantes da Sociedade dos
Cavaleiros do Vale pretendemos fazer uma singela
homenagem. Falarei com os dirigentes da minha
Comunidade de Fé na qual o meu pai atua como principal
condutor desde a morte do meu avô. Tenho certeza que a
minha gente haverá de entender muito bem esta situação
extraordinária que acontece nestes tempos tumultuados da
Revolução”.
Cerimônia fúnebre sob a figueira
No dia seguinte, bem cedo, os integrantes do 16º RC
organizaram uma singela cerimônia fúnebre, momento em
que o Coronel Capaverde usou a palavra, dizendo: -
“Estamos todos chocados com este ato covarde praticado
contra um dos mais bravos oficiais do efetivo sob o meu
comando. Um jovem promissor, inteligente e dedicado aos
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estudos e ao cumprimento da missão militar. Filho de uma
família ilustre deste vale, aqui nasceu em 1865. Ele deve
ser visto por nós como um verdadeiro herói, pois sozinho
enfrentou 30 bandidos federalistas e soube mostrar para
eles o valor do nosso soldado republicano. Para encerrar
ordeno que o oficial encarregado leia a Ordem do Dia
contendo o meu elogio que escrevi para o Tenente Frederico
Maximiliano Tietböhl que serviu no 3º Esquadrão do 16º
Regimento de Cavalaria, de Torres, sob o meu comando”.
Depois da leitura do elogio foi também lido um
telegrama enviado pelo Comando Militar do Rio Grande do
Sul, recebido no quartel de Torres, através do serviço de
telégrafo.
Aproximou-se um grupamento de militares que sob
voz de comando perfilaram diante do caixão e depois
fizeram uma salva com tiro de festim.
Foi trazida uma carroça militar, enfeitada com flores
e puxada por quatro cavalos brancos, para nela ser
colocado o caixão, coberto pela Bandeira do Brasil.
O féretro saiu rumo ao Cemitério do Passo. Logo
atrás da carroça ia o Comandante do 16° RC e seu Estado
Maior seguidos de diversos esquadrões, de cavalarianos. Em
seguida juntaram-se cavaleiros do vale, em particular o
Ritterverein, tendo a testa Carlos Voges e ao seu lado o
cunhado Christovam Schmitt.
Um sepultamento singelo
Conforme já foi dito, a Comunidade Evangélica de
Três Forquilhas estava ainda sem pastor e nenhum líder da
Comunidade teria condições de tomar alguma iniciativa para
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um momento de fé. O único líder com a desenvoltura
adequada teria sido o major Adolfo Felipe Voges, mas o
nome dele nem podia ser pronunciado nesta ocasião, pois
era tido como um adversário dos republicanos e castilhistas,
conhecido como o chefe liberal e maragato de Três
Forquilhas a mais de três dezenas de anos. Deste modo o
sepultamento do Tenente Maximiliano Tietböhl foi muito
singelo.
Felizmente a Banda de Música de Três Forquilhas
compareceu ao local, mesmo sem seu maestro que morrera
afogado fazia nove meses, no naufrágio da Lagoa Pinguela.
Esse maestro que fora o pai do Tenente Max Tietböhl e que
certamente teria passado enorme dificuldade para reger os
músicos se vivo ainda estivesse. A Banda de música
aproximou-se e passaram a executar uma marcha militar
prussiana.
Chegando diante da cova, o comandante Álvaro
Capaverde ordenou: - “Eu gostaria muito que alguém
rezasse um Padre Nosso em favor do nosso Tenente morto.
Peço que um dos oficiais aqui presentes que tenha afinidade
com as coisas da fé e da religião venha até aqui e nos
conduza nessa prece”.
Certamente muitos moradores de Três Forquilhas
lembraram-se dos serviços prestados nos últimos tempos
pelo Major Voges e antes contando com a ajuda do
professor Christian Tietböhl. Este último estava morto,
porém Voges estava no refúgio sagrado de seu lar, ao lado
de Bina Rosina, sem poder aparecer em público. Ele
recebera de seu filho Carlos e do genro Christovam Schmitt
a recomendação rigorosa, com a proibição de sair de casa,
para não se deixar ver.
O filho do major Voges dissera: - “Pai, quem não é
visto, não é lembrado. E eu temo pela sua integridade física
![Page 277: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/277.jpg)
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e pela sua vida, pois neste momento todos os republicanos
estão por demais revoltados com os revolucionários
federalistas que estão sendo tachados de bandidos e de
covardes. Sei que você, pai, não é federalista, porém foi por
dezenas de anos o chefe liberal e maragato em nosso lugar.
Todos sabem disso, o Coronel Capaverde e seus oficiais. Por
favor, fique no refúgio do seu lar, que isso é pela sua
segurança”.
Major Voges com toda a certeza devia estar
desconsolado e triste, por ser impedido de livremente ir ao
velório e ao enterro de pessoa falecida que era integrante
da comunidade. Era muito triste estar impedido de levar
uma palavra de conforto espiritual, em nome da
Comunidade, para a família enlutada.
Um jovem oficial do 16° RC que não era filho desse
vale e era do credo católico, adiantou-se e falou: - “Fui
coroinha e sei rezar bem um Padre Nosso!”. Em seguida
passou a realizar a prece.
No momento em que o caixão foi baixado à sepultura
Carlos Frederico Voges Sobrinho aproximou-se com a
bandeira do Ritterverein e procedeu como de praxe quando
algum dos cavaleiros da sociedade era sepultado.
Na verdade, o jovem Maximiliano sempre participara
das atividades e torneios da Sociedade, desde jovem, em
companhia de seu pai e de seus irmãos. Portanto ele fazia
jus à homenagem.
Carlos Voges inclinou três vezes a bandeira sobre o
caixão e exclamou: - “Que a vitória seja da lealdade de
todos nós!”.
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Os cavaleiros perfilados na lateral do cemitério
agitaram as lanças que eles portavam e responderam: - “À
vitória da lealdade, vivaaa!”.
Coronel Álvaro Capaverde veio e estendeu a mão
para cumprimentar Carlos Voges e o escrivão Christovam
Schmitt, líderes republicanos que ele já conhecia e os
elogiou, dizendo: - “Apreciei muito este vosso cerimonial de
homenagem e de despedida, ao cavaleiro que morre fiel ao
seu ideal. Agradeço, pois por esta justa homenagem que
acabaram de fazer para este nosso herói de Três Forquilhas,
que foi um oficial valoroso do nosso 16º Regimento de
Cavalaria, de Torres”.
Os esquadrões do 16º RC saíram um após o outro,
rumo ao aquartelamento de Torres. Ficaram para trás
apenas dez homens, designados para fazer a segurança do
ancoradouro do rio Três Forquilhas.
A tristeza de Baiano Candinho
A notícia da morte de Max Tietböhl chegou bem
depressa as Charnecas de Labatut, em Cima da Serra, onde
Baiano Candinho estava acampado com dois pelotões do
Esquadrão Josaphat. Apenas o capitão Luna com os
Brigadas teimava ficar em outro ponto da Serra, fora das
vistas de Candinho.
Candinho lamentou a morte de Max, dizendo: - “Essa
morte é uma grande desgraça para nós, pois que esse filho
do mestre Cristiano da Banda de Música, cresceu em nosso
meio. Eu vi esse menino tornar-se homem e mostrar suas
qualidades de cavaleiro, em nossos torneios de tiro de laço
e campeiradas. O finado Capitão Machado não podia ter
tomado pior decisão do que essa, de atacar e matar um
![Page 279: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/279.jpg)
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homem solito, que estava no aconchego da casa que havia
sido de seus pais. Não havia necessidade para esse
absurdo, pois que é certo que apenas trouxe morte e dor
para uma família que todos aprendemos a querer bem. E o
pior de tudo que nada de bom acrescentou para o
movimento revolucionário. Ainda bem que Max Tietböhl deu
um tiro na testa do Capitão Machado, pois senão eu teria
que ir lá tomar-lhe satisfações e dar-lhe a lição que passara
a merecer”.
E Candinho finalizou, declarando: - “O finado Capitão
Machado se meteu em meu território, sem ser convidado.
Comprometeu a nossa justa causa que é contra a ditadura
castilhista e teve o justo castigo que ele passou a merecer”.
A maioria dos integrantes dos Pelotões Três
Forquilhas e dos Serranos haviam convivido com a família
Tietböhl em festas, casamentos e enterros onde o velho
mestre da banda sempre deixara seu toque musical e de
alegria para todo o povo. Todos compartilharam da tristeza
de Candinho e bem sabiam da severa ordem que o chefe
lhes concedera, pois volta e meia dizia: - “Jamais
atacaremos o povo da Colônia de Três Forquilhas porque
nós somos parte desse povo. Fiz a minha promessa para o
Santo Padre Voges e para o filho dele, de que seríamos
sempre uma defesa e um amparo para a população de Três
Forquilhas”.
Família Tietböhl traumatizada
Enquanto isso na Colônia de Três Forquilhas não só a
numerosa família Tietböhl, mas os amigos e povo em geral
também compartilhavam dos sentimentos de tristeza e de
revolta com essa morte injustificada do Tenente Maximiliano
Frederico Tietböhl.
![Page 280: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/280.jpg)
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Dali para frente apenas utilizavam o termo bandidos
para se referir aos revolucionários federalistas. Todos
sabiam muito bem que Capitão Machado viera dos fundões
de Morro do Forno apenas para infligir danos físicos aos
castilhistas torrienses. Ele escolheu uma força torriense
para se vingar de derrotas que sofrera em embates
anteriores, onde integrantes do 16º RC haviam abatido
revolucionários federalistas seus. Ódio gera ódio e vingança
amplia sentimentos de vingança e, uma revolução sempre é
um ambiente propício para que aflorem e se projetem tais
sentimentos que levam à destruição de vidas.
Quem ficou no caminho dessa sanha de vingança
logo teve que ser o tenente Max Tietböhl, um filho querido
da Colônia de Três Forquilhas. Ele na verdade não foi
nenhuma vítima inocente e se encontrava nesta revolução
de farda e de arma em punho, consciente do que lhe
poderia acontecer, de ter que dar a vida pela causa que ele
defendia.
Tenente Max teve uma percepção muito clara da
situação, pois procurou cortar a cabeça pensante desses
atacantes, ou seja, eliminar o chefe deles. Max escolheu
muito bem os seus alvos, pois o seu primeiro tiro foi na
testa do Capitão Machado e o segundo no peito do ajudante
de ordens deste, o Agapito.
Mesmo morrendo no combate de um homem contra
mais de trinta ele fez um verdadeiro justiçamento contra
seus atacantes. Ele deixou esse grupamento de
revolucionários sem chefe e sem subchefe de tal forma que
depois eles nem souberam ao certo para onde ir e onde se
esconder. Certamente tentaram se juntar com outros focos
federalistas da região sul de Santa Catarina e dos fundões
de Torres. Entretanto, não apareceram na presença de
Baiano Candinho e certamente nem teriam sido recebidos,
nem acolhidos.
![Page 281: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/281.jpg)
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Entre os castilhistas a morte de Max Tietböhl foi
qualificada como tendo sido apenas um vil e infame
assassinato e não foi visto como um ato em meio ao
confronto revolucionário.
Nada pior poderia ter acontecido a Baiano Candinho
do que o falatório que se espalhou em seguida. Surgiram
aqueles que procuravam responsabilizar Candinho pelo
ocorrido. Era um modo de tentar colocar a população contra
ele e seu efetivo. Todos sabiam muito bem que Candinho
contava com a estima e a admiração de muitos e a quase
totalidade dos integrantes do Pelotão Três Forquilhas eram
filhos de pioneiros imigrantes que colonizaram o vale.
O Tenente Maximiliano Frederico Tietböhl foi um
bravo. Ele revelou a coragem do soldado que não foge da
luta mesmo diante do risco iminente para a própria vida. Ele
não ensaiou nenhuma fuga, pois que isto não era de seu
feitio. Ele também não se acovardou para pedir piedade ou
qualquer coisa destas. A morte de Max ficou dali em diante
como um exemplo de bravura para todo o efetivo do 16º RC
e, enquanto existiu esse efetivo militar, o seu quadro estava
na parede do Comandante, em destaque, contendo o seu
nome e a data de sua morte em combate e em letras
douradas, constava: < Ele deu a vida pela causa
republicana >.
Os castilhistas procuraram explorar ao máximo a
morte do Tenente Max, falando do confronto de um contra
mais de trinta adversários. Eles procuraram também atribuir
o sangue derramado como um ato inglório praticado pelos
seguidores de Baiano Candinho mesmo que eles bem
sabiam que ele nada tivera com o ocorrido. Num folheto
distribuído na Colônia de Três Forquilhas se destacava a
frase: < Os bandidos federalistas lutam contra um governo
legítimo de nossa Província e esperamos que o sangue do
![Page 282: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/282.jpg)
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bravo Tenente Maximiliano Tietböhl sirva par unir a todos
em torno da nossa causa republicana, em busca da plena
vitória >.
Baiano Candinho era um líder inteligente e bom
observador e constatou bem depressa o quanto a ação do
Capitão Machado trouxera danos à imagem do movimento
revolucionário federalista. Mesmo que não foram os homens
do Esquadrão Josaphat os causadores dessa morte, a
responsabilidade por esse infortúnio que atingiu a família
Tietböhl passou a ser colocado sobre Baiano Candinho, que
dali em diante passou a ser descrito como sendo o chefe de
um Bando de Bandidos, que se escondem na Serra.
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SUCESSOR PARA O PASTOR VOGES
FIGURA 30: Pastor Gottfried Schlegtendal. Fonte: Arquivo fotográfico da Família Voges.
Pastor Schlegtendal nasceu no dia 14 de julho de
1866 na cidade de Bremen. Foi enviado ao Brasil em 1894
pela Evangelische Gesellschaft. Seguiu para Três Forquilhas
em março de 1895, no final da Revolução Federalista,
quando Gumercindo já era morto fazia um bom tempo.
Porém o pastor viera para ter um primeiro contato
com a Comunidade, e novamente retornar a São Leopoldo
para receber documentos, diretrizes e regulamentos do
Sínodo Riograndense que não estiveram disponíveis quando
do seu envio para a nova Paróquia.
Em São Leopoldo, o pastor teve que participar de
encontros de estudo e o debate de questões práticas com
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base nas novas diretrizes do Sínodo, visando uniformizar
toda a prática pastoral.
De São Leopoldo Schlegtendal seguiu a Porto Alegre
onde retirou seus baús contendo livros, outros contendo
roupas e objetos pessoais que seus familiares haviam
despachado da Alemanha.
Quando retornou a Três Forquilhas, encontrou a
população traumatizada com as recentes mortes, do
naufrágio do professor Tietböhl, esposa e o barqueiro
Gustavo Voges. O povo também lamentava as mortes em
confrontos revolucionários e as famílias se moviam em meio
a muitos sofrimentos, assolados pela epidemia de cólera
que vitimava principalmente crianças, velhos e negros.
A pretensão de salvar a Comunidade
Schlegtendal veio cheio de vontade para trabalhar,
dizendo que o seu papel seria o de salvar uma Comunidade,
que, conforme alegava, estava quase de todo perdida, pela
falta de zelo do pastor anterior. Lastimava constantemente
o desleixo para com a língua alemã.
Ele não foi feliz neste propósito, pois não encontrou o
eco esperado33 para as suas expectativas e exigências
pastorais.
Apresentação do novo pastor
Em março de 1895 correu por toda a Colônia uma
notícia de alento: a chegada do novo pastor enviado pelo
Sínodo Riograndense. A Comunidade, cheia de expectativas
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e esperanças, acorreu em massa, ao templo, para assistir
seu primeiro culto.
O que para a Comunidade foi festa e barulho, para o
jovem pastor foi decepção, conforme ele mesmo diria, ao
descrever esse primeiro culto, marcado por choradeira de
crianças, de pessoas apinhadas ocupando todo o espaço em
cada canto do templo.
Schlegtendal era um acadêmico com uma
aprimorada formação teológica e vinha com uma grande
ânsia por reformas e por atividades de renovação nessa
antiga Paróquia.
Ele não escondeu o seu desagrado com a
Comunidade. Já na primeira reunião, ao ser eleito o
primeiro Presbitério da Comunidade, ele se declarou
indignado com o comportamento dos membros da
Comunidade por ocasião do seu culto de apresentação.
Avisou que estava decidido e pronto para enfrentar
enèrgicamente este estado deplorável da vida comunitária,
alegando ser necessário devolver ao templo o status de
casa de oração, de lugar sagrado, lugar de silêncio e de
adoração a Deus, lugar de pregação da Palavra Divina, para
nutrir o rebanho com alimento espiritual.
O pastor resolveu acabar definitivamente com a
estrutura Colônia Paróquia que ainda se fazia presente,
depois de quase setenta anos. Considerava como muito
grave a situação da Comunidade abrasileirada e envolvida
com o meio católico. No seu entender, Três Forquilhas já
era um quase caso perdido.
Decidiu imprimir na Comunidade, com a maior
rapidez, todas as regras vigorantes na Igreja da Alemanha.
Mostrou-se, em constantes pronunciamentos, seriamente
preocupado com o abandono da língua alemã e com os
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costumes da Igreja Alemã, que deviam ser trazidos de
volta.
Por um lado, a iniciativa de Schlegtendal teve
aspectos positivos: a) firmou o vínculo com o Sínodo
Riograndense; b) garantiu a sucessão pastoral para o
futuro; c) buscou a base confessional claramente luterana
para a Comunidade.
Por outro lado, porém, em nenhum momento se
verificou em Schlegtendal um interesse maior pela longa
história da Comunidade e pela realidade em que ela foi
Igreja de Cristo. Ele não reconheceu a vivência comunitária
diferente e já firmada na realidade brasileira. Não
reconheceu a liderança temperada e amadurecida por
sofrimentos, privações e lutas, que conheciam melhor do
que ninguém as chances de se viver e participar da vida
sócio-política do Brasil. Ele estava diante de uma pequena
comunidade de diáspora que congregava diferentes raças,
em relativa harmonia com os católicos, e mesmo assim,
levando sua influência ao cenário nacional.
O Professor Serafim Agostinho do Nascimento, na
época já professor aposentado do Estado, também se
desligou da atuação que viera tendo como professor de
português na Escola Comunitária, mas não apenas por
causa desse pastor intolerante. O professor Serafim era,
antes de tudo, um perseguido político, sob ameaças
constantes de ser conduzido preso, e existia o risco de ser
sumariamente eliminado.
Convém ainda lembrar que a Escola Comunitária
deixara de funcionar por quase dois anos, pois o sobrado de
Voges fora deixado em quarentena por causa do
falecimento do pastor, sua esposa e Mãe Maria. Por estar
desocupado o sobrado foi tomado, primeiro pelos
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federalistas e depois pelos republicanos. A Escola
Comunitária não voltou mais a funcionar naquele local.
Schlegtendal decidiu organizar uma nova escola da
Comunidade, estabelecida em sua casa pastoral. Pelo fato
de ser solteiro, ele tinha espaço para instalar a sala de aula
naquele local. Mas esta escola não chegou nem perto do
que fora em outros tempos, com Voges e esposa, com Saul,
Sonntag e Nascimento.
A escola passou a servir apenas como uma espécie
de curso de língua alemã, para ministrar o ensino
confirmatório. O pastor era o único professor, mas com suas
constantes viagens, não teve a possibilidade de oferecer,
aos alunos, uma formação escolar que permitisse ao jovem
seguir seus estudos em centros maiores.
O Primeiro Presidente da Comunidade
A Comunidade foi orientada por Schlegtendal para a
eleição de um Presidente da mesma, em 1895. Era o
primeiro Presbitério da Paróquia, neste vínculo com o
Sínodo Riograndense.
Foi eleito o jovem João Pedro Jacoby Neto, nascido
em 13.10.1853, filho de João Pedro Jocoby Júnior e
Magdalena Schmitt. Jacoby Neto era casado com Luisa
Henrieta Voges, filha de Adolfo Felipe Voges. Para seu
eventual substituto foi colocado o Sr. João Becker Sobrinho.
Um Presbitério com apenas dois integrantes. Eles
receberam a difícil tarefa de absorver a disposição do jovem
e dinâmico teólogo, desejoso de salvar a Comunidade.
O relacionamento do novo Presbitério foi marcado
por constante e infindável tensão. O pastor não aceitava a
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Comunidade. Queria vê-la mudar e radicalmente. Queria
fazê-la de novo alemã. Por outro lado a Comunidade
resistia, desejavam permanecer um espaço acolhedor e livre
para todos que a procurassem, também para os brasileiros
ou abrasileirados. Queriam um espaço para o profano no
templo e nos cultos, tratar também dos seus problemas
terrenos como acontecera no tempo do pastor Voges e
esposa, quando podiam falar também de doença das vacas,
porcos e de galinhas.
Lideranças como Schmitt, Jacoby, Voges, Erling,
Tietböhl e outros, defendiam a importância que
representara a antiga Escola da Comunidade, que formara
jovens bilingues em condições de estudar em centros
maiores e assim se integrar na realidade brasileira.
Consideravam a nova escola insuficiente, pois ficara
direcionada somente para o ensino da língua alemã e quase
restrita ao simples ensino confirmatório.
Medidas administrativas
Não era fácil para o pastor encontrar um caminho
capaz de prover a Comunidade de recursos financeiros
suficientes para a manutenção do serviço pastoral. Voges se
auto-sustentara e agora a Comunidade devia prover os
recursos para garantir o sustento do pastor.
Foram trazidas de volta as taxas de serviços
eclesiásticos que Voges também utilizara há quase trinta
anos atrás. Depois, ele transformara os pagamentos de
serviços pastorais em gorjetas eventuais.
Ficou aprovada seguinte relação de taxas: Batismo
no templo 2$000, Batismo no lar 5$000, Casamento no
templo 2$500, Casamento no lar 5$000, Sepultamento sem
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ofício 2$000, Sepultamento com ofício fúnebre 5$000,
Sepultamento de crianças 2$500, Confirmações de criança
4$000, Atestados (sem selos) 2$000. Ficou acertado que a
Comunidade receberia 20% do valor de taxas de
casamentos e batismos e os outros 80% do valor seriam do
pastor.
Em 24.07.1895 o pastor trouxe novas exigências
para a Comunidade. Suprimiu a possibilidade da realização
de batismos em lares. Com esta medida o pastor desejava
melhorar a frequência aos cultos. A frequência passara a
diminuir visivelmente, deixando-o às vezes com apenas
uma dúzia de pessoas na participação aos cultos.
Apresentou como argumento que o batismo deveria ocorrer
durante o culto regular, com a Comunidade reunida. Ele,
porém não levou em conta que, em parte, a frequência aos
cultos passara a se reduzir em vista da epidemia e da
revolução, que intranquilizavam a colônia.
Voges visitava também os lares, no interior da
Colônia, para realizar ofícios, pois muitas vezes era mais
fácil o pastor viajar, indo ao encontro dos membros, que
colocar a família e vizinhança na estrada, deixando as
propriedades desguarnecidas. Posteriormente, outros
pastores voltaram a fazer novamente cultos, batismos e
casamentos em casas, no interior da Colônia, indo de novo
ao encontro dos membros.
Neste meio tempo João Pedro Jacoby Neto enfrentou
o flagelo da epidemia em seu lar. Perdeu diversas crianças e
passou a ficar com sua atenção voltada a Vacaria, onde ele
e outros moradores de Três Forquilhas haviam adquirido
fazendas. Passou a falar sobre eventual mudança de
domicílio. Sugeriu que fosse feita uma recomposição do
Presbitério. Por decisão da Comunidade, João Pedro Jacoby
Neto e João Becker Sobrinho foram mantidos na Diretoria,
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porém incluíram ainda Cristiano Eberhardt, Pedro Bobsin,
João Jacob Mauer Senior, João Schwartzhaupt e Carlos
Frederico Voges Sobrinho.
Quem eram os Presbíteros?
Já fizemos uma breve identificação de João Pedro
Jacoby Neto. Queremos, entretanto identificar também os
demais integrantes:
JOÃO BECKER SOBRINHO - Nasceu em 22.10.1861,
filho de Jacob Becker Senior e Elisabeta Bárbara Klein.
Mudou-se depois para Bom Jesus (na Serra).
PEDRO BOBSIN SENIOR - Nasceu em 12.04.1838,
filho do imigrante João Bobsin e Charlota Marlow. Casou em
1861 com Dorotea Jacoby. Mudou-se para
Cachoeira/Maquiné entre 1896 a 1898.
JOÃO MAUER (João Jacob Mauer Senior). Nasceu em
21.09.1845, filho do imigrante Cristiano Mauer e Cristina
Helbig. Em 1881 casara com Carolina Kellermann.
JOÃO SCHWARTZHAUPT - Nasceu em 15.10.1863,
filho de Carlos Schwartzhaupt e Anna Maria Beck. Casara
em 1889 com Maria Luisa Sparremberger.
CARLOS FREDERICO VOGES SOBRINHO - Nasceu em
04.02.1862, filho de Adolfo Felipe Voges e Guilhermina
Wetter. Casara com Felisbina Schmitt herdeira do Sitio da
Figueira que pertencera a Bina Rosina Schmitt que a criara
Bininha como filha.
Estes homens eleitos pela Comunidade para compor
o Presbitério eram pessoas experientes, porém diretamente
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marcados pela liderança que o pastor Voges exercera. Eles
estranharam o comportamento do novo pastor, que
sistematicamente combatia tudo que existira antes em Três
Forquilhas.
Com certeza várias questões passaram pela cabeça
desses homens. Possivelmente eles se perguntavam: < Que
comunidade nós fomos até hoje? São erradas nossas
expectativas quanto ao trabalho pastoral, para termos
serviços bilíngues, quando for conveniente? Que forma de
Comunidade o novo pastor pretende estabelecer? >.
Schlegtendal não fez nada de melhor do que Voges.
Se Voges se envolveu demais com o profano, ele por sua
vez se jogou em muitas exigências referentes à língua
alemã e costumes da Igreja Alemã e esqueceu que este
povo necessitava do anúncio da Graça de Deus em Cristo.
Importava trazer-lhes o Evangelho ao invés de
regras severas importadas de um meio diferente ou pior, de
uma mera condenação da vida e história anterior da
Comunidade.
A primeira e santa tarefa
Em fins de 1895 o Sr. Carlos Frederico Voges
Sobrinho sucedeu ao seu cunhado Jacoby Neto, na liderança
comunitária, pois este desejava transferir residência para
Cima da Serra e sair do meio do pesado luto que ele e sua
esposa carregavam com o recente falecimento de filhos.
Temiam perder mais crianças e julgavam ser sábio mudar
de ares.
Na primeira reunião do presbitério, em 17.11.1895,
o pastor voltou ao seu tema predileto: < a língua alemã >.
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Alertou que a mesma não devia ficar restrita ao uso no lar,
na igreja ou escola alemã. Ela deveria ser estendida
também para o relacionamento público. Enfatizou que a
primeira e santa tarefa de todo o evangélico é o zelo pela
língua alemã. Argumentou que a existência da própria
Comunidade Evangélica de Três Forquilhas estava em
perigo, em virtude da assimilação dos costumes e da língua
dos brasileiros.
Nesse encontro o pastor tocou em um ponto muito
delicado, pois a Comunidade se compunha de um elevado
número de membros miscigenados com pessoas de origem
portuguesa e de negros. Além disso, a maior parte dos
descendentes de alemães, residentes nos fundões da
Colônia, já haviam desde cedo assimilado o linguajar do
caboclo da região. O que haveria de ser de toda essa gente?
Teriam eles agora a obrigação de aprender a língua alemã,
para serem plenamente acolhidos?
O pastor não conseguia enxergavar, que além dele
não havia mais nenhum outro professor de língua alemã na
Colônia, e, de que forma haveriam de desencadear um
ensino intensivo da língua alemã nos diferentes e distantes
núcleos de colonos, residentes no vale? Além disso, a única
escola alemã passara praticamente a lidar apenas com uma
dúzia de confirmados a cada ano.
Carlos Frederico Voges Sobrinho levantou-se e falou
energicamente: - “Desta forma, com um punhadinho de
crianças recebendo aulas do pastor, com toda a certeza
essa primeira e santa tarefa de todo evangélico, imposta
pelo pastor, está fatalmente fadada ao fracasso”.
![Page 293: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/293.jpg)
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O Problema do Banditismo
A Comunidade sofreu com os efeitos da Revolução
Federalista nos diferentes momentos, dos altos e baixos da
presença ora dos revolucionários e ora dos policiais
castilhistas, no controle da Colônia.
O templo praticamente esvaziou, quanto a frequência
aos cultos dominicais. O pastor pregava, às vezes, para
meia dúzia de pessoas. Os colonos evitavam deixar suas
propriedades sem proteção. Inúmeros eram os casos de
famílias que haviam colhido a amarga experiência de
retomar do culto e encontrar os currais vazios ou a casa e
galpões saqueados.
A culpa pelos saques passou a ser cada vez mais
atribuída aos homens comandados por Baiano Candinho, o
que não era correto. Entretanto, os líderes castilhistas locais
desejando assumir um controle absoluto na vida política e
administrativa, aceitaram tais insinuações. Esperavam com
isto conseguir afastar Candinho definitivamente da região e
propunham que ele virasse fazendeiro no Alto Josaphat,
quando a revolução acabasse. < Será melhor para a saúde
dele, > brincavam eles.
Assim é possível compreender o motivo que levou os
líderes da Colônia a aceitar a idéia de ser necessário
erradicar o banditismo para devolver a paz para a Colônia.
Desejavam cortar o mal pela raiz, no sentido de eliminar
qualquer tipo de oposição política.
Porém não lembravam que ainda estavam em plena
Revolução Federalista, pois com a morte de Gumercindo
Saraiva as hostilizações e confrontos e choques entre
ambos os lados não cessara.
![Page 294: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/294.jpg)
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CANDINHO REVELA SUA FORÇA
Apesar da morte de Gumercindo Saraiva, a
Revolução continuou em andamento.
Um armistício seria assinado somente mais tarde, no
dia 23 de agosto de 1895. Por isto, o que a seguir é
relatado ainda está dentro do período revolucionário.
Baiano Candinho tomou conhecimento da morte de
Gumercindo Saraiva e das diversas derrotas federalistas,
subsequentes. Porém, ele não desejava acreditar que tudo
já pudesse estar perdido. Com certeza a grande maioria do
povo riograndense haveria de aproveitar o momento, que se
tornara tão propício, para pegar em armas. Finalmente
poderiam ficar livres da ditadura castilhista.
Mas Candinho não prestara atenção no vaticínio do
Major Voges que quando soube que Gumercindo Saraiva
seguira rumo ao Rio de Janeiro ao invés de atacar Júlio de
Castilhos, dissera: - “Gumercindo Saraiva errou o rumo,
pois cabia só derrubar Júlio de Castilhos, que então Floriano
Peixoto teria validado o novo governo, para ter seu apoio”.
Candinho não teve essa visão de estratégia política
e, só lhe sobrara uma coisa em mente. Tratava-se de um
plano arrojado e, para executá-lo, ele necessitaria do apoio
de outros chefes revolucionários da região.
Ele desejava tomar a cidade de Conceição do Arroio
e, pessoalmente, dizer àquele Intendente Castilhista, o que
até agora apenas mandara dizer, em forma de recados,
através de terceiros: - “A morte tanto do Major Azevedo
bem como do Padre Fernandes, foram crimes covardes, e o
povo arroiense nem se incomodou com tamanha covardia”.
![Page 295: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/295.jpg)
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Até aquele momento, o Intendente de Conceição do
Arroio e muito menos o Governo da Província haviam se
apercebido do verdadeiro potencial militar de Baiano
Candinho. Trataram o assunto como um mero problema de
banditismo, da Serra do Pinto, alardeando que um bando de
ladrões estaria à solta na Serra.
As forças policiais castilhistas, enviadas para dar
combate aos chamados bandidos apenas souberam somar
vexame após vexame. Verificara-se uma total
incompetência das escoltas, as quais haviam ido em busca
desse nordestino.
Baiano Candinho, entretanto, desejava aproveitar o
momento, para mostrar a todo o povo riograndense e para
o Brasil, que o seu problema não era uma mera questão
policial. Eles eram revolucionários de uma causa justa, que
ele não admitia que já estivesse perdida, apesar dos
reveses, recentemente enfrentados por importantes chefes
maragatos.
Desta forma, o Major Baiano Candinho procurou dar
a sua cartada derradeira. Para ele não interessavam
combates ou matanças. Ele desejava algo que pudesse ter
um alcance maior.
Ele manteve o seu Esquadrão sob constante controle,
evitando gastar a força com escaramuças insignificantes.
Não desejava enfrentamentos com essas fracas Escoltas
Policiais que haviam sido encaminhadas à Colônia de Três
Forquilhas, para prendê-lo. Esses eram apenas uns paus
mandados, sem conhecimento da realidade dos fatos.
Candinho reuniu todo o “Esquadrão Josaphat” na
fazenda de Coronel Baptista, em Contendas. Eram em torno
de cento e vinte homens. Estavam em perfeitas condições
de combate, com boas armas, com farta munição e bons
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cavalos. Além disso, o elemento humano é que contava
ainda mais. Os integrantes dos três Pelotões estavam
motivados para alguma ação mais arrojada.
Candinho planejou algo que pudesse mexer
profundamente com os castilhistas de Conceição do Arroio,
e por extensão com o Governo de Júlio de Castilhos, que ele
denominava de maléfica ditadura castilhista.
Um plano ousado
Candinho fez contatos com os chefes maragatos de
São Francisco de Paula, Santo Antonio da Patrulha e outros
locais da região, solicitando apoio para a execução do seu,
plano bastante pessoal: - era a tomada simbólica da cidade
de Conceição do Arroio.
Desde o assassinato de Major Azevedo, ele fora
tomado por essa idéia, uma verdadeira idéia fixa, que
ninguém mais conseguiria tirar. Ele falava como se todos os
moradores de Conceição do Arroio fossem responsáveis pelo
crime, como se fosse uma espécie de culpa coletiva dos
arroienses.
Os entendimentos de Baiano Candinho apresentaram
bons resultados. Foi possível marcar uma ação conjunta,
visando entrar em Conceição do Arroio, com mais de
quatrocentos homens armados, porém não deveria haver
mortes.
No dia 11 de abril de 1895, pela manhã, Candinho
colocou o Esquadrão Josaphat em movimento. Inicialmente
desceu o Pelotão Serrano, sob o comando de Baiano Tonho,
para fazer um trabalho de vanguarda. Não queria ser
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surpreendido por eventual força castilhista, que pudesse ter
se deslocado para a área, sem que o soubesse.
Em seguida, desceu ele, na qualidade de
Comandante Geral, unindo-se ao Pelotão Três Forquilhas
que estava sob o comando de Luiz da Conceição. Esse
efetivo vinha reforçado com a presença de diversos jovens
entre doze a dezoito anos de idade, dentre os quais se
mencionam seus sobrinhos Jovêncio Baiano e Martim
Baiano, filhos do falecido Pedro Baiano, seu irmão, e o
pequeno Mano Jorge, filho do compadre França Gross.
O Pelotão da Escolta, sob o comando do Capitão
Luna ficara encarregado de cobrir a retaguarda e por isso
estes desceriam da Serra apenas por volta do meio dia.
Tudo teria transcorrido sem problemas, não fosse a
desobediência de Capitão Luna. Ele sabia da ordem de
Candinho, de não causar aborrecimentos à população da
Colônia de Três Forquilhas. Os dois primeiros pelotões
passaram, de forma cordial, pois ainda contavam com a
estima da maioria dos colonos.
Capitão Luna, porém, quando entrou no vale, iniciou
um verdadeiro assalto a propriedades rurais. Com os
primeiros colonos, exigiu diversas mulas e cavalos. Na
sequência, foi escolhendo outras propriedades. Enviava
grupos de homens armados, com a ordem expressa de
solicitar contribuições para a Revolução. Os colonos tiveram
que entregar charque, farinha, rapadura, cachaça e outros
gêneros alimentícios. Em duas propriedades praticamente
esvaziaram as cozinhas, levando panelas, chaleiras e
trempes. Foram, na verdade, assaltos a mão armada. Qual
dos colonos poderia arriscar-se, e negar o solicitado?
Foram onze propriedades coloniais e dois armazéns
que sofreram prejuízos. Entre os assaltados constam: duas
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famílias Sparremberger, duas famílias Knewitz, família Beck.
família Gehrmann, família Klippel, família Triesch, duas
famílias Klein, família Justin e mais os armazéns de João
Pedro Jacoby Júnior, sobrado da Boa União, e Carlos
Eberhardt, na sede. Dos comerciantes, também pediram
dinheiro emprestado, com a promessa de devolvê-lo na
hora do regresso. Alguns dos assaltados haviam sido
maragatos, e, por este motivo revelavam maior
inconformidade.
A revolta entre os moradores da Colônia foi
generalizada. A notícia espalhou-se como rastilho de
pólvora.
Os colonos assaltados procuraram inicialmente o
Major Voges. Solicitaram alguma providência. O Major
aconselhou que aguardassem o retorno de Baiano
Candinho. Com certeza ele haveria de oferecer uma
solução, no sentido de providenciar alguma indenização aos
prejudicados.
Os colonos, não satisfeitos com a proposta, foram
até a presença da Diretoria Castilhista da Igreja. Estes se
mostraram escandalizados. Recriminaram com veemência
mais esse ato de tão claro banditismo. Rapidamente,
formaram uma Comissão de Auxílio aos Assaltados,
concedendo uma ajuda que foi imediata. Aos que tiveram as
cozinhas saqueadas, foram distribuídas panelas e chaleiras
novas. Apenas havia uma condição: nenhum colono haveria
de receber auxílio em moeda, em dinheiro. Somente objetos
ou utensílios, fossem para a cozinha ou lavoura seriam
doados. As lideranças castilhistas foram aplaudidas, por
este gesto solidário e generoso.
Ainda no caminho, Tenente Pedroso abandonou a
retaguarda, desligando-se do seu Pelotão dos Brigadas
Sozinho, foi à procura de Baiano Candinho, pois entendia
![Page 299: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/299.jpg)
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299
que o Comandante precisava tomar conhecimento, com
urgência, a respeito desse mau procedimento de Capitão
Luna. Além de relatar o acontecido, pediu para ser
desligado daquele Pelotão. Desejava ser integrado aos
Serranos. Entendia que não mais teria ambiente, para ficar
com Capitão Luna com medo de sofrer alguma violência, ou
mesmo ser morto.
Candinho escutou o relato, aborrecido. Deixou claro
que já não necessitava mais de nenhum confronto com os
inimigos castilhistas, pois bastavam os inimigos que ele
carregava, dentro de suas próprias fileiras.
Candinho autorizou que Tenente Pedroso se
integrasse aos Serranos. Quanto ao problema de Capitão
Luna, teria que deixar o assunto para mais tarde, para
depois da tomada de Conceição do Arroio. No retorno, na
passagem pela Colônia de Três Forquilhas, haveria de
oferecer alguns cavalos, no objetivo de indenizar os
colonos, que haviam sido assaltados, sob a ordem de
Capitão Luna.
Sem dúvida, o ato de Luna, ferira frontalmente, a
palavra que Candinho empenhara junto ao Major Voges. A
promessa fora, não só de jamais entrar em combate na
área da Colônia, mas também de evitar causar danos aos
moradores, através da ação da sua força revolucionária.
Agora o mal já estava feito. Mesmo assim, desejava
assumir toda a responsabilidade, sobre os seus ombros.
Desejava arcar com as consequências, pagando todos os
danos causados, da melhor forma possível.
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300
TOMADA DE CONCEIÇÃO DO ARROIO
No dia 12 de abril de 1895, as tropas revolucionárias
federalistas marcharam sobre a cidade de Conceição do
Arroio. Eram mais de quatrocentos homens, vindos
simultaneamente de Palmares, Santo Antonio da Patrulha,
São Francisco de Paula e Serra do Pinto - via Colônia de
Três Forquilhas.
Baiano Candinho vinha à testa do Esquadrão
Josaphat, com mais de cento e vinte homens. Contava com
o reforço dos sobreviventes do Pelotão Avulso que
acompanhara Gumercindo Saraiva na jornada até Curitiba e
que haviam retornado em fuga. Eram combatentes
experientes que haviam tomado parte do Cerco da Lapa e
da tomada da Capital do Paraná conforme segue: Paraguaio
Gross, Carlos Girivá, Dolfo Leão, Bugre Lemes, João Rico,
José Vidal, Rico do Pilão, Joca Dionísio, Antonio Gonçalves,
Beto Guimaria, Tilico Beriva, Lula Gaspar, Mila Gâmba,
Estevam Gâmba, Joaquim Rescindo, Maneco Oliveira, Negro
Democa, Saturno Queromana, José Sabino, Carlos Sabino e
José Beriva.
A cidade de Conceição do Arroio, não estava
preparada para tal invasão. As lideranças castilhistas se
apavoraram, procurando refúgio no prédio da Câmara
Municipal. Pareciam querer ensaiar algum tipo de
resistência.
Major Baiano Candinho passou a comandar as
negociações, exigindo a rendição da cidade. Ele desejava
somente ocupar simbolicamente a Intendência e a Câmara
Municipal. Ele haveria de poupar a vida de todos.
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301
Grande foi o abatimento da população quando viram
as horas transcorrendo sem que os revolucionários se
dispusessem a sair da cidade.
No período em que as negociações com as lideranças
castilhistas pareciam não progredir, Candinho autorizou os
integrantes do Pelotão Serrano a buscar suprimentos junto
ao comércio local. Interessavam apenas alimentos, armas e
munições.
Quando a visita aos estabelecimentos iniciou, os
comerciantes se apavoraram, mas não tinham como evitar
o saque.
Candinho decidira cobrar esse tributo que, no seu
entender, a cidade devia para o movimento federalista. Ele
levava em conta, que a morte de Major Azevedo e de Padre
Fernandes precisava custar alguma coisa aos arroienses,
que eles não pudessem esquecer jamais. As vidas daqueles
dois chefes revolucionários não poderiam jamais ser
devolvidas, é lógico. Porém, a cidade teria que ter
recordação, por muito tempo que, ele Baiano Candinho,
viera reclamar da atrocidade, cometida contra aqueles
homens de bem.
Diversos peões rudes e analfabetos do Pelotão
Serrano, que não havia, até então, conhecido botas ou
bombachas decentes, aproveitaram para também se
vestirem melhor. Além disso, duas carretas ficaram cheias
de suprimentos, com charque, farinha e rapadura,
munições, armas e cavalos.
Major Candinho proibira Capitão Luna e Brigadas, de
participarem dessa requisição de suprimentos. O motivo era
claro: < eles haviam desobedecido à ordem de poupar os
moradores da Colônia de Três Forquilhas >.
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302
Conforme a ordem dada por ocasião da saída, ainda
em Contendas, os Pelotões buscariam o que lhes fosse
necessário, em matéria de suprimentos, em Conceição do
Arroio. Capitão Luna ali estava com seis mulas, carregadas
com charque, farinha e outros víveres. Ele alegava ter
apenas confiscado suprimentos junto aos colonos de Três
Forquilhas.
Luna chamou os integrantes do seu Pelotão, e foi
postar-se à margem da cidade. Estava desgostoso, ficando
durante um longo tempo, confabulando com os Brigadas.
Em sua opinião, deviam desligar-se de imediato, do
Esquadrão Josaphat, para terem uma plena autonomia de
ação. Luna insistia em dizer que Candinho poupava em
demasia o inimigo castilhista. Desta forma jamais haveriam
de alcançar a vitória, nessa Revolução.
Depois de muita discussão, a decisão foi deixar a
questão, para quando estivesse de volta a Serra. Até lá, as
ordens de Candinho ainda seriam cumpridas.
Enquanto isto, as lideranças castilhistas procuravam
ganhar tempo, na esperança da vinda de algum socorro de
fora. Insistiam sempre numa mesma e única resposta: os
termos de rendição eram inaceitáveis. Jamais haveriam de
entregar o prédio da Intendência Municipal aos maragatos.
Finalmente o Capitão Estevão Brandão, comandante
das Forças Republicanas de Conceição do Arroio, mandou
atear fogo ao prédio. Enquanto o fogo ardia, eles fugiam
pelos fundos, através dos matos, em busca do refúgio nos
morros próximos.
Na oportunidade, as lideranças castilhistas
queimaram não apenas um prédio. Foi destruído todo o
acervo histórico da cidade. Preciosos documentos e arquivos
perderam-se desta maneira.
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303
Esse prejuízo poderia ter sido evitado. Os maragatos
não desejavam se apossar de nada disto. Apenas
desejavam a tomada simbólica do Governo Municipal, com
garantias de vida, para todos.
Deixando Conceição do Arroio
O Governo da Província encaminhou medidas
urgentes com o objetivo de socorrer Conceição do Arroio.
Foram convocados o 6º Corpo do Exército, de Porto Alegre,
sob o comando do Major Bráulio de Oliveira, o Esquadrão de
Cavalaria de Viamão, sob o comando do Tenente Coronel
Firmino Martins e o 18º Batalhão de Infantaria, da própria
cidade de Conceição do Arroio, sob o comando do Tenente
Coronel Pedro Mendonça Rodrigues, que, entretanto, se
encontrava na fronteira, realizando missões de combate aos
revolucionários federalistas.
Baiano Candinho tomou conhecimento da
movimentação dessas forças castilhistas, pois contava com
um bem montado serviço de espias e estafetas e de escutas
nos telégrafos. Tudo o que estes descobriam, levavam ao
conhecimento do chefe. Assim, avisado da vinda de tropas
castilhistas, decidiu que devia deixar a cidade.
Antes, porém, pediu uma sessão de fotos, algo que a
maioria dos serranos não sabia que existia. Foi chamado
um fotógrafo e alguns integrantes isoladamente, bem como
os efetivos dos pelotões Três Forquilhas e Serrano,
posaram.
Baiano Candinho teve que se posicionar diversas
vezes, para aparecer junto a cada efetivo e ao lado de
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304
determinados grupos de revolucionários. Afinal, ele era o
Comandante Geral do Esquadrão.
Estas fotos jamais foram recebidas por Candinho e
demais companheiros. Eles não puderam esperar pela
revelação das mesmas. Na necessidade de deixar a cidade
de Conceição do Arroio, apenas pagaram o fotógrafo, na
esperança de algum dia, poder ver o resultado desse
trabalho fotográfico.
Mais tarde, estas mesmas fotos, foram utilizadas
pelas autoridades castilhistas de Conceição do Arroio,
visando identificar os revolucionários do Esquadrão
Josaphat, para eliminá-los.
A cópia de uma das fotos, onde apareciam apenas os
principais homens do Esquadrão Josaphat, em torno de
trinta revolucionários, foi, mais tarde, entregue ao
Subdelegado Tenente Cardoso, e outra cópia ao coronel
Carlos Voges, líder castilhista da Colônia de Três Forquilhas.
Na mesma apareciam Major Baiano Candinho, Capitão Luis
da Conceição, Capitão Tonho Baiano, Tenente França Gross,
Tenente Pedroso, José e João Baiano e até o pequeno Mano
Jorge e os principais revolucionários do Esquadrão Josaphat.
Capitão Luna e seu Pelotão dos Brigadas não
participaram destas sessões de fotos, por terem se retirado
para as margens da cidade, talvez nem tendo tomado
conhecimento desta movimentação com o fotógrafo da
cidade.
Estavam em Conceição do Arroio, efetivos de
diversos municípios próximos. Cada efetivo tomou o rumo,
a seu destino de origem. Candinho seguiu em direção da
Colônia de Três Forquilhas. Parecia não ter nenhuma
pressa. Ele sabia que os efetivos do governo demorariam
um bom tempo para alcançar Conceição do Arroio.
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305
Um efetivo revolucionário de São Francisco de Paula,
sob o comando do Major Alípio, pensou em atrapalhar o
sossego das autoridades de Torres. Seguiram na
retaguarda do Esquadrão Josaphat, até próximo de Sanga
Funda, para, dali seguir até o sangradouro de Cornélios.
Ocuparam posição naquele ponto em sinal de flagrante
provocação.
Major Alípio procurou Candinho, solicitando-lhe apoio
para as ações que seriam levadas a efeito no Passo dos
Cornélios. De imediato Capitão Luna se antecipou,
oferecendo não apenas a sua colaboração bem como se
integrou com todo o Pelotão dos Brigadas à força desse
chefe revolucionário de São Francisco de Paula.
Capitão Luna fazia questão de mostrar a sua
insubordinação. Ele já fizera isso em Conceição do Arroio, e
desde então revelava o desejo de abandonar o Esquadrão
Josaphat.
Era, sem dúvida, um problema delicado que
Candinho ainda teria que tratar. Ele decidiu fazer isso na
presença de Coronel Baptista, assim que amainassem as
movimentações revolucionárias e estivessem de retorno a
Serra.
Major Alípio aceitou de bom grado o reforço oferecido
por Capitão Luna sem desconfiar dessa situação e deu
ordens para fixarem o acantonamento junto ao Passo dos
Cornélios, com mais de duzentos homens.
Não é de aceitar a idéia de que Alípio, de fato,
quisesse avançar sobre Torres, pois era sabido que naquela
cidade estava, em prontidão, o 16º Esquadrão de Cavalaria,
da Guarda Nacional, com aproximadamente trezentos
homens, os quais haviam recebido moderno armamento,
quando da passagem do General Arthur Oscar.
![Page 306: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/306.jpg)
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306
Baiano Candinho, com os dois Pelotões restantes do
Esquadrão, buscou abrigo na estância do Sr. José Adolpho
Diehl, ainda curtindo ressentimento contra a atitude de
Capitão Luna.
Candinho resolveu fazer essa parada não só para
descanso do seu efetivo, mas com o propósito de
acompanhar de longe, o que aconteceria no sangradouro de
Cornélios, com essa provocação inútil que Major Alípio
planejara efetuar.
Candinho revelava ter aprendido muitas coisas
valiosas sobre combates armados, durante a Guerra do
Paraguai. Ele continuou com o seu amplo serviço de espias
e estafetas que agora foram distribuídos desde o Morro Alto,
entrada de Maquiné, Sanga Funda, Pântano do Espinho,
Ancoradouro do Rio Três Forquilhas e na sede de Três
Forquilhas.
Candinho na Casa das Telhas
Baiano Candinho conhecia muito bem a chamada
pousada, da Estância da Casa das Telhas que naquele
tempo havia sido preparada para hospedar viajantes. Ele
não queria luxo e nem lugar em casas e ranchos de
pousada. Ele ficaria satisfeito em se acomodar nos galpões
e depósitos, quase vazios, por causa da dificuldade de
comercialização de produtos, diante da intranquilidade
trazida pela revolução. Para os cavalos existiam enormes
currais vazios, que foram prontamente colocados à
disposição por Dona Nuquinha Voges Diehl.
O dono da casa, José Adolfo Diehl não se encontrava,
pois seguira às pressas, de barco, para Conceição do Arroio,
![Page 307: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/307.jpg)
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307
preocupado com possíveis danos nas instalações de sua
Empresa de Navegação. Ele fora avisado da entrada dos
revolucionários, em Conceição do Arroio.
Na estância, encontrava-se Dona Nuquinha com os
funcionários e peões da empresa. Ela era sobrinha do Major
Voges.
Dona Nuquinha conhecia Baiano Candinho desde
criança e não o temia. Muitas vezes ele passara nessa
pousada, conduzindo mercadorias para serem
transportadas. Por isto, ela não se assustou, com a
presença desse chefe revolucionário. Pelo contrário acolheu-
o, autorizando a utilização das instalações, apenas com uma
exigência, que Candinho garantisse a integridade da
propriedade. Não deveriam ocorrer estragos nas instalações
e nem haver o abate de reses, a não ser que devidamente
adquiridos e pagos à vista.
Candinho aceitou a exigência, de bom grado, pois
traziam viveres suficientes, de confiscos feitos em
Conceição do Arroio, e que poderiam supri-los por um bom
tempo. E se precisasse de alguma novilha para abate tinha
recursos disponíveis para comprar um animal.
A estância de José Adolfo Diehl estava bem
localizada. Era um lugar relativamente seguro, oferecendo
diferentes opções de saída para Três Forquilhas, tanto pelas
trilhas da Sanga Funda como pela trilha do Pântano do
Espinho, próximo do rio Três Forquilhas.
Dispensa do Pelotão Três Forquilhas
Os dias passaram e nada de notícias sobre alguma
movimentação de tropas castilhistas, nem de Tôrres e nem
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de Conceição do Arroio. Mesmo assim, por precaução,
Baiano Candinho decidiu abandonar a área. Considerou que
as ações de Major Alípio não tinham nenhuma serventia
para a Revolução, além de deixarem os homens expostos
numa planície, onde facilmente poderiam ser cercados e
destruídos.
Caso houvesse a remota chance de invadir a cidade
de Tôrres, porém isso não o interessava. Pois, não tinha
nada contra as autoridades castilhistas ou contra a
população de Torres. E caso tivesse uma questão para ser
cobrada então seria ele, Candinho, que haveria de fazer
isso, a frente do seu Esquadrão, como fora na tomada de
Conceição do Arroio.
Candinho lutara na Guerra do Paraguai com um
inimigo muito aguerrido, cheio de manhas e emboscadas.
Por isto sabia que num campo de luta, sempre é preciso
pensar nos planos do inimigo. Além disso, também, é
sempre importante escolher o terreno onde deseja que
aconteça um enfrentamento.
Candinho sabia que era preciso buscar logo uma área
mais segura. Por este motivo decidiu seguir com os seus
homens em direção das Charnecas de Labatut. Decidiu
aproveitar o momento para fazer uma passagem de
vitorioso pela sede da Colônia de Três Forquilhas com o
maior número possível de homens e mantendo uma
formação militar.
Ordenou que fosse improvisada uma Banda,
composta por gaiteiros e violeiros. Era uma banda pouco
marcial e até estranha para um efetivo militar. O gaiteiro
Lauser e seus músicos tocavam modinhas e músicas
gauchescas da época.
![Page 309: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/309.jpg)
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309
Mesmo assim a passagem do efetivo chamou a
atenção dos moradores. Curiosos iam até a margem da
estrada para observar o movimento. Os revolucionários
aproveitaram para fazer relatos sobre a façanha da invasão
da cidade de Conceição do Arroio.
Informaram também sobre a provocação que nesta
hora Major Alípio estava aprontando para as autoridades de
Tôrres e de Conceição do Arroio, com apenas duzentos
homens, fechando a passagem de Passo dos Cornélios.
Os espias de Candinho se mantinham atentos, em
particular, cortando as linhas telegráficas, assim que eram
refeitas. O quartel do 16º RC de Torres estava, portanto
sem comunicação telegráfica não sabendo o que se passava
em Conceição do Arroio ou na Capital.
Tendo passado pela sede da Colônia, Candinho
cumpriu a promessa que ele fizera ao seu efetivo. Ele
dispensou todos os integrantes do Pelotão Três Forquilhas e
ficou com apenas vinte homens do Pelotão Serrano. Esse
Pelotão estava com o número assim reduzido, pois quinze
homens haviam sido deixados para trás, para dar
sustentação ao serviço de espias e estafetas e impedir um
cerco e massacre do Major Alípio.
Candinho planejou fazer uma parada no Armazém do
Major Voges, para pedir desculpas pelos prejuízos que
Capitão Luna causara a diversos colonos da Boa União.
Candinho escolheu doze dos melhores cavalos, que ele
havia confiscado dos castilhistas, em Conceição do Arroio.
Pediu que Major Voges fizesse chegar um cavalo a cada
colono que estivesse reclamando prejuízos, atribuídos à
passagem do efetivo do Esquadrão Josaphat através da
Colônia.
![Page 310: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/310.jpg)
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310
Major Voges, entretanto não se encontrava, pois
passava mais tempo na sua Fazenda de Capão Alto.
Os empregados do major, porém informaram
Candinho que a situação, na Colônia, ficara desfavorável
para os maragatos, por causa das tropelias que Capitão
Luna praticara com o Pelotão dos Brigadas quando da
recente passagem. Explicaram que os castilhistas haviam
socorrido os assaltados, através de campanhas de auxílio
feitas na igreja. Mesmo assim, os empregados do major
consideraram que a oferta dos cavalos, seria um atenuante
para muitas pessoas desgostosas, que tiveram propriedades
saqueadas e ainda faziam a soma dos prejuízos sofridos.
Confronto em Passo dos Cornélios
Coronel Capaverde foi avisado pelos seus estafetas
sobre a movimentação de efetivos revolucionários, junto ao
sangradouro de Cornélios. No dia 16 de maio, enviou o 3º
Esquadrão, do 16° Regimento de Cavalaria, sob o comando
do Capitão Boaventura, aquele mesmo Boaventura, que
Baiano Candinho havia colocado em fuga, na localidade de
Chapéo.
Desta vez Boaventura, estava ali com um efetivo de
trinta e dois homens, com a missão de fazer o
reconhecimento do terreno e localizar o inimigo. Não sabia o
Coronel Capaverde que tal efetivo era insuficiente para
enfrentar os duzentos homens do Major Alípio e mais os
vinte e oito homens do Capitão Luna.
Boaventura ocupou as instalações do Ancoradouro,
nas margens do Arroio do Chapéo, próximo da confluência
ao rio Três Forquilhas. O Ancoradouro pertencia à empresa
![Page 311: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/311.jpg)
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311
da Viúva Elisabeth Luiza Voges, mãe de Dona Nuquinha
Diehl e administrado pelo genro José Adolfo Diehl.
O ponto do ancoradouro era considerado local
estratégico, pois dali podia se movimentar tanto por terra
ou através de uma embarcação ancorada. E, quase sempre
havia alguma barcaça ou algum barco a vapor.
Daquele local Boaventura conseguiu enviar seus
espiões, para que tentassem localizar as posições e o
número de revolucionários. Estes trouxeram a informação
de que os homens de Baiano Candinho haviam saído da
estância da Casa das Telhas e, certamente estavam subindo
para o Alto Josaphat. Havia, porém o efetivo revolucionário
do Major Alípio, de São Francisco de Paula, com duzentos
homens, acantonado nas imediações do Passo dos
Cornélios. Eram iguais a uma lebre perdida no descampado
e poderiam ser facilmente cercados.
Boaventura não sabia que alguns dos peões que
transitavam pelos caminhos, ou conduzindo espigas de
milho acondicionadas em bruacas, colocadas no lombo de
mulas, ou peões tangendo algumas cabeças de gado, como
quem vai de uma fazenda para outra, em negócios
particulares entre fazendeiros eram homens de Candinho.
Esses espias do Esquadrão Josaphat logo
constataram a vinda do efetivo do 3° Esquadrão do 16° RC.
Foram enviando informações para Major Alípio para deixá-lo
prevenido, que a retaguarda na trilha para a Serra estava
sendo tomada e fechada pelo Capitão Boaventura.
Enquanto isto, Coronel Capaverde ganhou tempo,
para organizar uma estratégia para a sua força principal, do
efetivo republicano de Torres, visando enfrentar os
revolucionários estacionados no Passo dos Cornélios, pois
havia agora o contato entre Boaventura e seu quartel.
![Page 312: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/312.jpg)
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312
Somente no dia 05 de junho de 1895, a tropa de
Torres se colocou em movimento através do caminho da
praia e, no dia 07, aconteceu o primeiro confronto no Passo
dos Cornélios.
Os revolucionários estavam entrincheirados e
rechaçaram o ataque, causando baixas ao 16º RC. Houve a
morte de um Soldado e graves ferimentos no Cabo Pedro
Pinto, que diziam ser natural da Serra do Pinto.
O efetivo de Torres foi obrigado a retrair, pois o
inimigo era em número superior ao deles. Tiveram que
refazer os planos de combate e decidiram contatar, de
barco, o efetivo de Boaventura, pedindo que ele começasse
a estabelecer um cerco através do Pântano do Espinho.
Os efetivos de Torres estavam prejudicados pela
falta de notícias de Conceição do Arroio e da Capital. As
linhas telegráficas eram imediatamente cortadas pelos
revolucionários, mesmo antes de o serviço poder ser
utilizado. Os homens de comunicações saiam em busca do
local, onde supostamente estaria a avaria, mas já outros
dois ou três pontos eram cortados pelos espias de
Candinho.
O 18° Regimento de Infantaria, com duas
Companhias, tendo a testa o próprio Coronel, Comandante
do efetivo estava finalmente se aproximando da área.
Porém os espias e estafetas de Candinho logo constataram
essa presença e avisaram Major Alípio, alertando que em
breve ele estaria cercado e o efetivo poderia ser totalmente
dizimado.
O primeiro ataque mais organizado contra os
revolucionários, aconteceu no dia 08 de junho, um dia após
o insucesso do 16º RC. Porém Major Alípio, avisado
![Page 313: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/313.jpg)
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313
modificou rapidamente a sua posição e quem ficou em
situação complicada foi o 18° RI.
O próprio Comandante do 18º RI pensando estar
contando com o fator da surpresa, avançou de peito aberto
e recebeu um tiro, já por ocasião da primeira investida.
Rapidamente foi chamado o Tenente Coronel Firmino
Prates, que no momento cuidava da retaguarda. Quando ele
verificou a situação tão desfavorável para manter o
combate, ordenou uma retirada acelerada dos infantes, para
ser feita uma avaliação da situação e um contato com
outras forças republicanas que pudessem auxiliar para
estabelecer um cerco total aos revolucionários.
Tudo indica que estes dois efetivos da Guarda
Nacional, o 16° RC e o 18º RI, eram integrados por
militares apaisanados, sem a devida instrução militar.
Agora os republicanos já estavam ali com mais de
quatrocentos homens, porém continuavam sem a devida
comunicação entre si. A Cavalaria, desnorteada e a
Infantaria com o Comandante gravemente ferido e também
desnorteada.
Quando o Major Alípio foi informado de que esse
efetivo de quatrocentos homens daria início a um cerco
total, ele entendeu que não havia mais nenhum sentido
para ficar exposto de tal forma, pois que fatalmente sofreria
um massacre completo de sua força.
Quando a situação já se apresentava quase
insustentável, veio ainda a informação trazida por estafetas
de Candinho, comunicando que o efetivo da Cavalaria, de
Viamão, também chegara para as proximidades da área,
com o intuito de se unirem ao 16º Regimento de Cavalaria
de Torres.
![Page 314: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/314.jpg)
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314
Agora haveriam de ser em torno de oitocentos
homens contra os duzentos e trinta e dois do efetivo do
Major Alípio. É de se entender de que ele não tinha mais a
menor intenção de manter o combate com uma força tão
desproporcional e numerosa. Bastava que eles o cercassem,
mesmo sem contar com a efetiva e desejada comunicação
entre si.
Os estafetas e espias do Pelotão Serrano que Major
Candinho havia deixado para trás salvaram o Major Alípio
de uma total destruição. Assim que ele soube da situação
ordenou uma retirada estratégica.
Capitão Boaventura vinha com seus trinta e dois
homens, com ordem de impedir a passagem dos
revolucionários, caso tentassem uma fuga, rumo à Serra.
Porém isso foi constatado pelos estafetas de Candinho que
rapidamente alertaram Alípio. Desta forma, Capitão
Boaventura perdeu o elemento surpresa.
Quando o capitão se aproximou da estrada principal
que dava para Três Forquilhas, foi hostilizado pelos
estafetas e espias do Pelotão Serrano, que haviam ainda
permanecido na área, atentos a toda e qualquer
movimentação.
Diante do insucesso de surpreender o inimigo e
imaginando que já estava em contato com a força de Major
Alípio composta de mais de duzentos homens, isto levou
Boaventura a dar a ordem inusitada para retrair de novo.
Isso foi um erro lastimável, pois, na verdade, era apenas
meia dúzia de estafetas e espias do Pelotão Serrano que
haviam promovido todo o alarde.
O 3° Esquadrão sob o comando do capitão
Boaventura passou a noite, nas proximidades do Pântano do
Espinho, no caminho que leva ao ancoradouro. Eles
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315
desejavam ter esse caminho livre para escapar de um
ataque maciço dos revolucionários. No ponto onde se
esconderam, existia um estreito passo, que dava passagem,
rumo ao ancoradouro, bem como, se necessário também
para a Colônia de Três Forquilhas. Era o local perfeito para,
com poucos homens, causar grandes estragos, numa força
inimiga que tentasse transpor aquele passo. Porém jamais
Major Alípio haveria de querer tomar esse caminho estreito
rumo ao Ancoradouro. O caminho para seus mais de
duzentos homens teria que ser a estrada principal, rumo a
Serra.
Boaventura estava receoso para aventurar-se, em
qualquer tipo de ação, naquela situação. Ele não queria
colocar seu efetivo num terreno que lhe fosse desfavorável.
Ele sabia que os revolucionários eram os soberanos daquela
área geográfica, pois conheciam cada palmo do vale do rio
Três Forquilhas e muito mais ainda da área serrana. Ele
sabia também, que se os revolucionários alcançassem a
Serra do Pinto, e chegassem as Charnecas de Labatut,
poderiam vir dois ou três Regimentos, que todos eles
seriam derrotados
Confronto no Pântano do Espinho
Major Alípio ficou devendo muito ao Baiano Candinho
por lhe proporcionar um tão eficiente serviço de espias, hoje
diríamos, bom serviço de informações. Eles ainda se
encontravam e o alertaram sobre o local onde Capitão
Boaventura estabelecera a sua tocaia. Novamente os
republicanos perderam o elemento surpresa e estavam
expostos às manobras do Major Alípio que contava com
mais de duzentos e trinta homens enquanto Boaventura
contava com apenas trinta e dois, muitos deles jovens,
assustados e inexperientes.
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316
Major Alípio entendeu que era o momento propício
para uma retirada rápida, para fugir de um massacre,
diante de outro efetivo republicano, numeroso, contando
com mais de oitocentos homens, que estavam em vias de
chegarem àquela área.
Major Alípio entrou pelo caminho do Pântano do
Espinho, rumo a Colônia de Três Forquilhas, no dia 09 de
junho de 1895, bem cedo, quando ainda a escuridão
dominava e apenas as primeiras réstias de luz permitiam a
locomoção dos cavaleiros.
Sabendo do local exato da tocaia montada pelo
Capitão Boaventura, Alípio ordenou o rompimento da
barreira feita por apenas seis homens de Boaventura, a
qualquer custo.
A vanguarda devia aproximar-se com o maior
silêncio possível, para estabelecer um tiroteio e levar os
soldados republicanos a retrair, para a trilha que conduzia
ao Ancoradouro, desta forma a estrada principal que
conduzia rumo a Três Forquilhas ficaria novamente liberada
em sua totalidade e todo o efetivo revolucionário passaria
em bloco e a galope, para tomar o rumo da Serra.
Capitão Boaventura, sendo avisado que sua meia
dúzia de homens não conseguiria sustentar aquela posição
estratégica e imaginando que mais de duzentos e trinta
maragatos bem treinados poderiam vir a atacá-lo em sua
posição principal, ordenou uma nova retração insólita.
Após um breve tiroteio em que perdeu alguns
homens e matou três maragatos, o Capitão ordenou a
retirada rumo ao passo de um dos braços do rio Três
Forquilhas, que ficava nas proximidades. Ele queria manter
o caminho aberto a qualquer custo e que lhe permitisse
![Page 317: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/317.jpg)
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317
uma eventual fuga e o retorno garantido, para Torres.
Entretanto Major Alípio não tinha o menor interesse de se
aventurar numa perseguição ao reduzido esquadrão de
Boaventura. Os espias de Candinho já o haviam alertado de
um perigo bem maior que estava para chegar.
Porém Boaventura nada sabia das duas Companhias
do 18° RI, que se aproximavam, tendo na vanguarda um
Esquadrão do 16° RC, e que melhor conheciam o terreno.
Uma vez que Capitão Boaventura não tinha
informação sobre a posição da força republicana e como já
sofrera baixas, de três mortos e alguns feridos, ficou com
receio de ser esmagado pelos maragatos. Simplesmente
não reforçou aquela posição estratégica junto à estrada
principal e o caminho ficou totalmente livre para os
revolucionários.
Major Alípio, com isto, não pagou um preço elevado
que ele já imaginara ter que contabilizar. Deixou para trás
apenas três mortos e levou consigo uma dezena de feridos,
mas ficou agora com o caminho livre, rumo à Serra.
Os revolucionários saíram no momento adequado,
pois a vanguarda do 18° RI já vinha lá despontando numa
curva da estrada principal, tiroteando com alguns
maragatos retardatários. Mas para a Infantaria,
evidentemente a pé, não havia a menor possibilidade para
estabelecer uma perseguição. Na verdade, a estratégia
montada por Baiano Candinho salvara Major Alípio de uma
derrota ou de um cerco total e o aniquilamento completo.
O comando republicano frustrou-se com a malograda
missão, de cercar e destruir os revolucionários. Apenas
sobraram alguns cadáveres de maragatos, que tiveram que
ser recolhidos e levados a uma sepultura. O enterro
aconteceu naquela mesma tarde, sendo os corpos colocados
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318
em vala comum, no Cemitério do Pântano do Espinho em
terras que pertenciam ao Sr. Carlos Becker Filho.
Quanto aos três soldados mortos, do 16° RC, os
mesmos foram conduzidos a Torres, para serem sepultados,
com honras militares e com a presença de um padre
católico.
Baiano Candinho não chegou a participar
diretamente de nenhum desses confrontos, do Passo do
Cornélios e do Pântano do Espinho. Porém nos relatórios
feitos pelo Coronel Capaverde e pelo Comandante do 18°
RI, todo este confronto foi creditado como tendo sido obra
de Candinho. Cada qual queria ter a honra de ter enfrentado
Candinho e de tê-lo enxotado de volta para a Serra.
Nos relatos enviados a Porto Alegre, o nome do
Major Baiano Candinho foi intencionalmente mencionado
como o comandante da tropa que teria sido combatido em
Cornélios e no Pântano do Espinho, quando na verdade
haviam enfrentado somente o Major Alípio e o Capitão Luna.
Pelo simples fato de que esta área de Três Forquilhas
e Serra do Pinto eram consideradas como sendo território
de Candinho, mencionaram que os combates também
teriam sido em confronto direto com ele.
Naquelas alturas Candinho estava descansando,
tranquilamente, ou na propriedade do sogro, no Barreiro ou
então na Serra do Pinto.
Os efetivos republicanos não tiveram disposição para
perseguir os revolucionários, pois desconheciam por
completo aquela área da Serra onde um dia o General
francês Labatut, quando, em 1839, no enfrentamento com
os Farrapos, esse militar a serviço da coroa imperial
brasileira, se perdera em meio às charnecas serranas.
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319
Depois desses confrontos, todos os efetivos
republicanos regressaram para seus aquartelamentos.
Sobreveio para todo o Litoral Norte do Rio Grande do Sul
um período de grande calmaria. Os moradores da Colônia
de Três Forquilhas passavam a comentar entre si: - “Nem
mais parece que ainda estamos em tempo de Revolução”.
Capitão Luna segue rumo próprio
Um problema não resolvido incomodava Candinho,
por isso ele tinha pressa de retornar a Contendas.
Assim que o Major Alípio foi embora com sua tropa,
seguindo rumo ao interior de São Francisco de Paula, a
primeira providência de Candinho foi a de reunir os
comandantes dos pelotões, na presença de Coronel
Baptista. Desejava disciplinar Capitão Luna, por desacato
às ordens superiores.
A reunião, porém foi frustrante, pois Capitão Luna
decidiu fazer afrontas diretas e abertas contra Candinho.
Explicou que em tempos de Revolução os métodos mudam,
sendo permitido o saque aos moradores de determinado
lugar.
Luna utilizou como exemplo, o fato de Candinho ter
autorizado o saque ao comércio de Conceição do Arroio.
Explicou que não via nenhuma diferença com o que ele,
Capitão Luna e demais Brigadas haviam feito com os
moradores da Colônia de Três Forquilhas. Apenas haviam
exigido contribuições do povo, para a causa federalista,
visando prover o efetivo da subsistência necessária.
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320
Luna utilizou mais outro exemplo, invocando a
conduta de Major Alípio, argumentando que o mesmo
também saqueara, nos caminhos por onde passara. Este
sim era um verdadeiro revolucionário, pois soubera
provocar os castilhistas, entrando em confronto com eles
enquanto Candinho evitava combates.
Capitão Luna solicitou em seguida uma total
autonomia de ação. Autorizou que, caso alguns dos
Brigadas quisessem ficar com Candinho, teriam plena
liberdade para fazê-lo.
Coronel Baptista aceitou as ponderações de Capitão
Luna. Apenas ordenou que os Brigadas teriam que
abandonar o refúgio da Grota da Onça, bem como as
imediações de Contendas. Deveriam ir para longe da
presença de Candinho, na direção da divisa do município de
São Francisco de Paula com o município de Rolante. Ali
também existiam bons refúgios.
Capitão Luna esclareceu que este já fora o seu plano.
Ele e os demais Brigadas haviam feito amizade com Major
Alípio e outros líderes revolucionários de São Francisco de
Paula. Estes teriam informado sobre confiscos, feitos no
passado, em Rio da Ilha, Rolante e outras localidades,
sempre com bons resultados. Ali, portanto haveria amplo
espaço para as ações revolucionárias.
Para Major Candinho essa solução, a princípio,
poderia parecer satisfatória. Ele, no entanto, sabia que a
indisciplina de Capitão Luna, não punida, apenas protelaria
o surgimento de novos problemas. Mas não tinha escolha.
Afinal, Coronel Baptista dera sua decisão, concordando com
as ponderações de Capitão Luna. Pelo visto, o Coronel
desejava garantir a presença de Luna, na área de São
Francisco de Paula.
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321
Na hora da saída dos Brigadas, um novo fato
incomodou Candinho. O seu enteado Henrique e mais o
Leonel Brandão desejavam, de livre e espontânea vontade,
permanecer com Luna.
Baiano Candinho sabia que isto representava a perda
deste que ele sempre considerara como sendo um dos seus
filhos, e que ele prometera para Maria Witt de tratar o
menino com se filho fosse.
Nestas alturas já ficara bem evidente que Capitão
Luna só trouxera prejuízos para o Esquadrão Josaphat,
desde o primeiro instante. Candinho temia que outros
danos, ainda piores, podessem acontecer à causa
revolucionária, por conta desse espírito indisciplinado, de
Luna.
Com uma enorme ponta de insatisfação, Candinho
reuniu os homens que lhe haviam permanecido fiéis.
Desceram a propriedade do falecido João Patrulha.
Desejavam aumentar ainda mais a distância de Contendas e
da Fazenda do Coronel Baptista, e mais ainda de Capitão
Luna.
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322
REVOLUCIONÁRIOS CASAM NA COLÔNIA
Ainda no tempo da Revolução Federalista, quatro
soldados do Esquadrão Josaphat procuraram Candinho e
avisaram que desejavam casar. Queriam casar na Colônia
de Três Forquilhas.
Os três soldados pertenciam ao Pelotão Três
Forquilhas, ou também conhecido como Pelotão Protestante,
liderado pelo Capitão Luiz da Conceição e sob o Comando
Geral do Major Baiano Candinho.
Eram jovens, agora cheios de sonhos e de esperança
por um mundo mais feliz, sem revoluções e sem guerra,
para organizarem uma vida familiar e cuidando de suas
lavouras e criação.
O primeiro deles, conhecido como João Franco, era
filho do Capitão Luiz da Conceição, portanto um sobrinho de
Major Baiano Candinho. João nascera na Colônia de Três
Forquilhas em 13.12.1874. O pai o levara para o batismo
em 21.02.1875, diante do pastor Voges. Entre os padrinhos
de batismo constaram, o avô João Francisco e o tio-avô
França Gross. Era, também um afilhado do Tenente França
Gross. João Franco fizera vinte e um anos e era considerado
um dos soldados mais leais e aguerridos do Pelotão, um
espia de grande esperteza e um soldado versátil, pronto
para as missões mais difíceis. Ele disse para Candinho: -
“Agora a missão que eu quero é de ser permitida a união
com a minha amada...”.
O soldado Naldo da Hora era nada menos que o
Soldado Reginaldo, da Escolta desertora. Ele recebera esse
apelido, na época em que guarneceriam o posto de caça aos
bandidos, ao pé da Serra do Pinto. Naquela época ele vivia
disputando o plantão da porteira, sendo alcunhado com o
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323
nome de plantão da hora e passou a ser o Naldo da Hora.
Todos sabiam que ele disputara aquele serviço de plantão,
só para poder ver o movimento da estrada, talvez na
esperança de ver a sua amada Poldia, chegando para uma
visita. Quando todos eles passaram para o lado de Baiano
Candinho, Naldo da Hora pediu para servir no Pelotão Três
Forquilhas. Era a única maneira de ficar mais próximo da
menina Poldia. Ele também devia ter em torno de vinte e
um anos de idade.
O terceiro, Filipe Ofes, nascera na Colônia de Três
Forquilhas em 17.12. 1872. Fora batizado pelo pastor Voges
em 18.05.1873, tendo entre os padrinhos uma cunhada de
Baiano Candinho. Ele era também muito leal ao Pelotão.
Podemos imaginar da importância, para todo o
efetivo, do casamento desses três soldados maragatos. E o
Comandante Geral Major Baiano Candinho insistia, que se
aproveitasse o momento de calmaria, nesse andamento da
Revolução. Alertou que tal calmaria bem podia ser um
prenúncio de dias bem mais difíceis para todos. O barulho
poderia vir mais adiante, de forma redobrada.
Foram feitos os contatos com o Pastor Lemão, da
Colônia Protestante. Esse pastor era um jovem estrangeiro,
difícil de lidar. Não falava o português e andava cheio de
exigências novas, para qualquer coisa que tivesse que fazer.
Passaram a chamá-lo de Lemão Azedo, por causa disto.
Foi necessária a intermediação de Major Voges e do
escrivão Christovam Schmitt para que os casamentos
finalmente pudessem ser marcados e realizados.
No dia 09 de agosto de 1895, o Esquadrão Josaphtat,
agora integrado apenas por dois pelotões, veio acantonar
nas terras que Carlos Witt, sogro de Baiano Candinho e avô
do noivo João Franco
![Page 324: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/324.jpg)
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324
Carl Witt possuía uma faixa de terra herdada do pai,
próximo da entrada do Arroio do Padre, na chamada
Baixada dos Witt. É importante mencionar que, outra
morada e o engenho de Carlos Witt, situavam-se na
Limeira, em direção do caminho para o arroio do Pinto.
O efetivo veio armado e com todas as precauções de
segurança. Foi estabelecido um cinturão de defesa, ao
encargo do Pelotão Serrano, para manter sentinelas e
espias, junto à entrada para Três Forquilhas. Já o Pelotão
Três Forquilhas ficou totalmente liberado para participar da
cerimônia religiosa e da festança desses casórios.
Quando os noivos chegaram diante do templo, foram
rodeados pelos integrantes do Estado–Maior do Esquadrão.
O Pastor Lemão vendo a cena, ficou bastante nervoso, uma
vez que alguns desses homens estavam armados. Ele
estava a pouco tempo no Brasil e ainda não entendia direito
o que estava acontecendo, em matéria de disputas políticas
riograndenses. Ele ouvira dizer que esses maragatos eram
bandidos, e exatamente isto é que devia enchê-lo de
desconfianças.
Difícil imaginar, o que podia estar passando pela
cabeça do pastor, naquela estranha situação. Ele que
possivelmente sonhou trabalhar em uma Comunidade
Germânica, de língua alemã e, naquela hora, quanto mais
olhasse em torno de si e afinasse o ouvido, certamente
pouco conseguia ouvir de língua alemã e de rostos brancos.
Era a face morena, da Comunidade, com toda a sua força e
presença, na vida da Igreja local.
Os pares de noivos posicionaram-se diante do altar:
João Franco e Maria Rosalinda, Filipe Ofes e Maria Luisa,
Naldo da Hora e Poldia.
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325
As duas primeiras noivas eram irmãs, netas do
falecido João Patrulha. Deviam estar muito emocionadas,
lembrando do querido irmão que, entre os maragatos, fora
conhecido por Pedro Juarte, e covardemente assassinado,
em 1893, pelas forças castilhistas.
Elas quiseram ter Baiano Candinho e França Gross
como padrinhos de casamento, pois ambos haviam se
revelado muito solidários com a família, no tempo de luto.
Já o Naldo da Hora que conseguira conquistar o coração de
Poldia, pediu como padrinho o próprio Comandante do
Esquadrão, o Baiano Candinho e mais o Capitão Luiz da
Conceição, seu Comandante de Pelotão.
Quando a benção matrimonial foi concluída, Baiano
Candinho expressou insatisfação com o trabalho do Pastor
Lemão: - “O que esse infeliz ficou conversando, já que
ninguém de nós entende a língua que ele fala”.
É bem possível que quase três quartos dos presentes
não entendessem absolutamente nada da língua alemã.
França Gross pediu: - “Compadre Candinho, tenha
um pouco de paciência, pois os bons tempos do velho
pastor Voges não voltarão mais”. Ele muito bem sabia que
só restava adaptar-se a essa nova situação.
Candinho, no entanto, desabafou, salientando: - “Se
o velho pastor, até meio caduco fazia questão de sempre
falar alguma coisa em português, porque esse jovem não
pode fazer o mesmo”.
O velho pastor sempre procurara cativar todos os
brasileiros. Fora, com certeza, por causa disso, que o velho
Voges tivera interesse em também usar a língua nacional,
unicamente para estabelecer comunicação.
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326
Apesar dos apesares, foi um dia de festa, como a
Colônia, há muito tempo não mais vira, três casamentos em
uma só festa.
O churrasco foi servido debaixo de um grande
arvoredo, na propriedade de Carlos Witt, não longe das
margens do arroio do Padre. Houve música, conduzida pelo
gaiteiro Lauser, acompanhada por brincadeiras e folguedos.
As viúvas, de diversos maragatos mortos nos últimos
anos, estavam em um canto, olhando com grande tristeza,
para o cenário. Esperavam que essa Revolução acabasse de
uma vez, para que essas noivas não ficassem, quem sabe,
diante da mesma infelicidade em que elas viviam. Ficar com
filhos pequenos, sozinha, para também fazer o papel de pai,
era missão por demais difícil.
Os homens, no entanto, estavam em grupos,
tagarelando, falando dos rumos da vida política nacional.
Estavam desejosos de continuar a luta, até que o povo
riograndense pudesse encontrar um regime de Governo
mais adequado. Essa ditadura castilhista precisava ser
derrubada, nem que para isso, mais uma porção de
maragatos tivessem que sacrificar suas vidas.
![Page 327: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/327.jpg)
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327
PASTOR LEMÃO LEVANTA MUROS
Depois da morte de Pastor Voges, ocorrida em
03.10.1893, a Comunidade passou por um período de
vacância pastoral.
O atendimento aos membros passou a ser ministrado
pelo major Voges com a ajuda do professor Christian
Tietböhl.
Finalmente, em março de 1895, chegou da
Alemanha, o recém formado Pastor Gottfried Schlegtendal
que, por causa do nome difícil de ser pronunciado, passou a
ser denominado pelo apelido de Pastor Lemão. Ele recebeu
a tarefa de reorganizar a Comunidade, em pleno período da
Revolução Federalista.
Não transcorreu mais de um mês da chegada do
novo pastor, quando ocorreu a passagem do Esquadrão
Josaphat, pela Colônia, rumo a Conceição do Arroio.
Descrevemos anteriormente, a atitude de Capitão Luna,
que, desobedecendo às ordens do Major Baiano Candinho,
promoveu saques a moradas de colonos e comerciantes, a
título de arrecadar contribuições para a causa
revolucionária.
A partir desses saques de Luna, de uma vez por
todas, os federalistas passaram a ser descritos como
bandidos da Serra. E foi também desta forma, que Pastor
Lemão provavelmente só conseguiu ver o lado negativo do
movimento federalista. Prontamente, ele apoiou as medidas
propostas pela Diretoria Castilhista da Igreja, e, ao mesmo
tempo foi aplicando as suas próprias exigências pastorais,
no desejo de reorganizar a vida eclesiástica, na Colônia e
tentar colocar ordem ao caos social que se estabelecera.
![Page 328: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/328.jpg)
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328
Pastor Lemão conseguiu que fossem aprovadas
medidas administrativas visando a manutenção do serviço
pastoral, através de cobrança de taxas de serviço. Essa
cobrança tornou-se necessária, no sentido de prover o
sustento do pastor.
Em 24.07.1895, ele trouxe outra exigência, para
ordenar o trabalho eclesiástico. Ao mesmo tempo, procurou,
com a nova medida, melhorar a frequência aos cultos, que
havia decrescido muito. Ele suprimiu a possibilidade de
realizar batismos em lares. Todos os batismos teriam que
ocorrer no templo, durante o culto regular. Convém lembrar
que pastor Voges sempre procurou ir, até as diferentes
localidades, para oficiar cultos e realizar batismos. Ele fora
sempre ao encontro dos membros. O novo pastor teve a
intenção de trazer os membros para o templo.
Em fins de 1895 veio a questão mais polêmica,
levantada pelo Pastor Schlegtendal. Em 17.11.1895, ele
apresentou para a Diretoria a questão do uso da língua
alemã, na Igreja e na sociedade local. Enfatizou que: < A
primeira e santa tarefa de todo o evangélico, é a de zelar
pela língua alemã >. Esta medida não devia ficar restrita ao
uso no lar, mas também deveria ser utilizada na Igreja, na
Escola, bem como para o relacionamento público, em geral.
Ele insistia de que disto é que dependeria a existência da
Comunidade Luterana no Brasil.
Começaram discussões entre os próprios integrantes
da Diretoria e uma discussão que passou a se estender para
os lares e aos encontros de famílias e de vizinhos.
Não bastava a questão política, do choque das idéias
castilhistas e federalistas? Tinha que surgir outra briga, para
dividir, ainda mais, as pessoas, dentro dos próprios lares e
no templo? Uns consideravam que o uso da língua alemã
era uma simples questão de honra? Outros alegavam que a
![Page 329: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/329.jpg)
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329
língua alemã não podia ser colocada, como sendo uma peça
sagrada.
Essa situação me faz voltar até o ano de 1453.
Observemos o que aconteceu com os moradores da cidade
de Constantinopla. Uma discussão passara a dividir aquela
capital do Império do Oriente: < O que veio primeiro, o ovo
ou a galinha? >.
Ficaram em confronto, irmãos contra irmãos e
famílias contra famílias. Enquanto os bizantinos se dividiam
em torno de suas discussões, os turcos estavam acampados
do lado de fora dos muros.
Acreditavam os bizantinos, que os muçulmanos
jamais haveriam de romper a solidez de suas defesas.
Haviam levantado muros bem altos.
Entretanto, os esquadrões de engenheiros do sultão
encontraram uma maneira de entrar na cidade. Furaram um
túnel por baixo dos muros e, durante a noite, homens
conseguiram entrar e abrir os portões. Constantinopla virou
Istambul. Os moradores da cidade, na maioria tornaram-se
muçulmanos, para ter melhores chances de ali permanecer
e continuar em suas profissões e trabalho.
Voltemos à questão do novo pastor. O nome dele
Gottfried e o sobrenome Schlegtendal eram, de fato, muito
complicados para a maioria das pessoas. Passaram a
simplesmente dizer: - o Pastor Lemão.
O pastor e a Diretoria da Igreja, bem como as
famílias da até então Colônia Protestante, não prestaram
muita atenção para a investida dos padres jesuítas, que
passaram a fazer túneis por baixo dos muros, da ação
pastoral. Eles notaram que havia muita gente insatisfeita
com a recente taxação do serviço pastoral e das medidas
![Page 330: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/330.jpg)
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330
rígidas em torno de serviços pastorais e, particularmente,
pela língua alemã, que devia ser utilizada, com
exclusividade, por todos os membros da Comunidade
Evangélica.
Os jesuítas, a princípio, ofereceram serviços
gratuitos, para cativar o público. Depois, passaram a
espalhar a informação, que casamento ou batismo
ministrado pelo pastor, era considerado como sendo nulos.
Só tinham validade os sacramentos ministrados pela Santa
Madre Igreja.
Os padres jesuítas mostravam-se impiedosos, em
relação aos evangélicos tratando-os como meros inimigos
da fé verdadeira.
Transpareceu a clara intenção, nesta área de Três
Forquilhas, de que os padres desejavam estrangular a
Comunidade Protestante, lentamente. O plano foi bem
simples: - aos poucos, estabelecer locais para Missas e
depois levantar capelas.
O único problema, é que os jesuítas não conseguiam
manter uma adequada regularidade, nas visitas e missas.
Apareciam esporadicamente, nesta área da Colônia de Três
Forquilhas.
Pastor Lemão, sem imaginar e sem querer, ajudou os
padres jesuítas. Ao levantar muros entre os próprios
integrantes da Comunidade Protestante, na tentativa de
salvaguardar a doutrina luterana, através do uso da língua
alemã, ele, na verdade, passou a dividi-los. Os que
entendiam e dominavam a língua alemã passaram a ser a
nata da Comunidade. Os demais eram vistos como um mero
refugo eclesial.
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Os muros construídos basearam-se, pois, nas pedras
das rígidas exigências introduzidas. E, em particular, o
plano de impor uma língua estrangeira, como se a mesma
pudesse ser colocada acima da língua nacional, veio tornar-
se a pedra mais deslocada para a construção.
É preciso acentuar que muitas famílias nada
entendiam de alemão. Outros, como, por exemplo, nos
lares dos serranos, ou eram marcados pela miscigenação ou
eram totalmente de gente nativa. Eles simplesmente
passaram a ser discriminados, ficando, praticamente fora do
convívio normal, da Comunidade.
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O FIM DA REVOLUÇÃO FEDERALISTA
No ano de 1895. Baiano Candinho estava com os
seus dois pelotões, na Serra do Pinto. Tudo parecia bem
tranquilo. O Governo ainda não enviara nenhuma outra
Escolta da Brigada, para caçá-los. Estavam assim, na
expectativa dos acontecimentos.
Eis que no dia 23 de agosto de 1895, na cidade de
Pelotas, foi assinado o armistício, dando um fim à Revolução
Federalista. Foi depois de trinta e um meses de lutas e um
saldo de mais de doze mil mortos, sendo talvez a metade
pelo método da degola, praticada por ambos os lados.
Três dias após o armistício apareceu um estafeta na
Serra, com um comunicado urgente destinado ao Major
Baiano Candinho. Todos os oficiais rodearam o chefe. Eles
estavam curiosos, para saber qual seria a nova missão para
eles.
Baiano Candinho leu o comunicado. Era apenas um
lacônico aviso: < O armistício foi assinado, em Pelotas, no
dia 23 de agosto de 1895. A Revolução acabou. Deponham
as armas e cada qual retorne para a sua família e
propriedade. A ordem é de paz para todos >.
O efetivo do Esquadrão Josaphat não queria acreditar
na ordem. Devia ser algum engano. Eles estavam ali com a
força plena, em condições de continuar a Revolução. E como
haveriam de terminar com o movimento revolucionário se a
ditadura castilhista não fora derrubada?
Candinho teve que falar energicamente. Explicou que
não existia mais nenhuma possibilidade de continuar a
Revolução, pois em muitos lugares, os efetivos maragatos
haviam sido totalmente destroçados. Ordenou que todos
![Page 333: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/333.jpg)
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333
retornassem para as suas casas e lavouras ou ao trabalho
tropeiro
Candinho decidiu retornar para Contendas, onde
seria capataz de uma fazenda, seguindo uma sugestão que
Major Voges lhe dera.
Candinho desejava dedicar-se mais à família e de
maneira especial à sua esposa Maria Witt, que muito sofrera
com a vida errante no Baixo Josaphat e na Serra. A família
merecia receber agora uma atenção especial.
Todos aceitaram a dispensa, ficando definitivamente
extinto o Esquadrão Josaphat e, em consequência os
Pelotões Três Forquilhas e Serrano.
Revolucionários Federalistas de
Três Forquilhas - Dados Biográficos:
1 – BAIANO CANDINHO. Nome verdadeiro: Martim
Pereira dos Santos. Nomes falsos: Cândido Alves da Silveira
e Manoel Alves da Silva. Data nascimento: por volta de
1846. Local de nascimento: Província do Ceará. Filiação:
José Pereira dos Santos e Rosa Maria dos Santos. Época da
chegada a Três Forquilhas: 1871. Profissão: Construtor de
atafonas, mister aprendido no Ceará. Ele aperfeiçoou a
atafona do pastor Voges, conquistando um alto conceito
profissional, em toda a região. Tropeiro. Construtor de
Taipas de Pedra. Capataz de Fazenda. Pequeno criador de
gado, na Serra, em parceria com Johann Hoffmann.
Religião: Tornou-se Protestante, membro da Comunidade
Evangélica de e Três Forquilhas. Casamento: Uniu-se com
Maria Witt, pelo religioso em 15 de abril de 1879, sendo
padrinhos o Major Adolfo Felipe Voges e o professor Serafim
![Page 334: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/334.jpg)
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Agostinho do Nascimento. No dia 18 de maio daquele
mesmo ano Candinho procurou o escrivão para fazer
registrar a ocorrência deste casamento. Alegou ser
analfabeto e ter apenas vinte e cinco anos de idade e
apresentou o nome falso de Cândido Alves da Silveira,
conforme o Livro de Casamentos, número 01, folha 07, do
Registro Civil, hoje de Itati. Maria Witt morreu acidentada
em 1896. Filhos e descendência, tida com Maria Witt: F1 -
Ambrosina (16.12.1881) casou com Johann Nascimento
Hoffmann, em 27.07.1896 e tiveram os seguintes filhos:
N1 – José Hoffmann; N2 – João Cândido Hoffmann; N3 –
Fernando Hoffmann; N4 – Alzerino Hoffmann; N5 – Pedro
Hoffmann; N6 – Olávio Hoffmann; N7 – Ivo Hoffmann e N8
– Dorvalina Hoffmann. A família fixou residência em Caxias
do Sul – RS. F2 - Angelina (1883) casou com Luis Jorge
Hoffmann em 16.12.1897 e tiveram os seguintes filhos: N1
– Luisa Hoffmann; N2 – Virgínia Hoffmann; N3 – “Negra”
Hoffmann; N4 – Rosalina Hoffmann; N5 – João Hoffmann;
N6 – Santilino Hoffmann (“Santo”); N7 – Alzemiro
Hoffmann (“Miroca”); N8 – Andrade Hoffmann; N9 –
Edmundo Hoffmann. A família mudou-se para Caxias do Sul
– RS. F3 - Pasqualino (08.10.1886) casou com Maria Brando
e tiveram diversos filhos. A família fixou residência na Vila
Joá, no município de São Francisco de Paula. F4 - Avelino
(1888) casou com “Biluca” Hoffmann e tiveram apenas
filhas: N1 – Docelíria; N2 - Belmira; N3 - Elvira e N4 -
Zulmira. F5 – Julia (03.04.1890) os descendentes nada
souberam informar, sobre a vida desta filha. F6 - Realina
(10.10.1892) casou com Aldino de Oliveira Melo, em
Tainhas – São Francisco de Paula, e teve os filhos: N1 -
José Ivo de Oliveira Melo (13.09.1925) que casou com
Jovelina Klein, dando os seguintes bisnetos a Baiano
Candinho: BN1 – Eliseu Klein de Oliveira (22.06.1954); BN2
– Elisete Klein de Oliveira (02.08.1955) e que faleceu com 4
meses de idade; BN3 – Eleusa Klein de Oliveira
(12.08.1956) e BN4 – Eliane Klein de Oliveira (12.07.1960).
Retomando os filhos de Realina: N2 – Atalíbio de Oliveira
![Page 335: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/335.jpg)
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Melo (26.10.1927); N3 – Maria Leonida de Oliveira Melo e
N4 – Julio de Oliveira Melo. F7 – Ernestina (1893) casou
com Avelino Brando, tendo três filhos. A família mudou-se
para Caxias do Sul – RS. Maria Witt, antes da união com
Baiano Candinho, tivera dois filhos, (pai ignorado): F1 –
Henrique, em 19.05.1875 e que casou com Caquita “Bicudo”
Rodrigues, e F2 – Geraldino, no final de 1876 e que faleceu
em 1883, aos sete anos de idade. Baiano Candinho teve
três filhos extraconjugais: F1 - Constâncio Alves da Silva,
(Constâncio Candinho) com Maria Luisa da Silva, em
04.01.1876. F2 – Candio Beca, “João Candinho”, Johann
Candea Becker, em 29.10.1879, filho de Maria Dorothea
Becker (prima de França Gross). Cândio Beca casou com
Geraldina Preta e tiveram diversos filhos. Residiu por algum
tempo onde hoje mora o Júlio Baiano. Os descendentes
foram para Gravataí – RS. F3 - Manoel Alves da Silva
Júnior, (Candinho Gaspar) com a viúva Maria Stahlbaum
nascida Dresbach, em 16.09.1882. Em 1897, depois da
morte de Maria Witt, Baiano Candinho voltou a casar com
uma viúva das bandas da Lagoa Itapeva. Devia ser “Marieta
da Silva”, a viúva Maria Dresbach Stahlbaum, com quem já
tivera um filho em 1882. Ele levou a viúva para a sua casa
no Arroio Carvalho. Residência: no lado direito, da estrada
que margeia o arroio Carvalho, a aproximadamente 1,5
quilômetros do início da subida da Serra do Pinto. Posto ou
graduação na Revolução: Major. Função: Comandante do
Esquadrão Josaphat. Morte: 06.01.1898, assassinado, aos
cinquenta e dois anos de idade. Observações: Integrou o
26º Corpo de Voluntários da Pátria, da Província do Ceará,
na Guerra do Paraguai. Desertara quase no final da Guerra.
2 – BAIANO TONHO. Nome: Jorge João Antonio. Data
de nascimento: por volta de 1844. Local do nascimento:
Província do Ceará. Filiação: desconhecida. Época da
chegada a Três Forquilhas: 1871. Profissão: Criador de gado
e Tropeiro. Religião: Tornou-se Protestante, membro da
Comunidade Evangélica de Três Forquilhas. Casamento: Em
![Page 336: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/336.jpg)
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1871, uniu-se com a viúva Maria Catharina Becker prima de
França Gross. Filhos: F1 – Johann Louis Antonio,
(07.01.1872). F2 – Johann Peter Antonio (07.01.1872). F3 -
Johann Jacinto Antonio (06.08.1875). Residência: no Platô
do Patrulha, de João Menger, no Josaphat. Posto ou
graduação na Revolução: Capitão. Função: Comandante do
Pelotão Serrano, do Esquadrão Josaphat. Morte: 1898,
assassinado, aos cinquenta e quatro anos de idade.
Observações: Integrou o 26º Corpo de Voluntários da
Pátria, da Província do Ceará, na Guerra do Paraguai.
Desertara quase no final da Guerra.
3 – LUIZ DA CONCEIÇÃO. Nome: Luiz Brandão Feijó.
Data de nascimento: 1839. Local de nascimento: Província
de Santa Catarina. Filiação: filho natural de Maria Rosário
da Conceição, por isto recebendo o apelido de Luiz da
Conceição. Época da chegada a Três Forquilhas: em 1871
entrou na mesma época dos cinco Baianos. Profissão:
Fabricante de rapadura e cachaça. Lavrador. Religião:
Tornou-se Protestante, membro da Comunidade Evangélica
de Três Forquilhas. Casamento: uniu-se com Catharina Witt,
cunhada de Baiano Candinho. Filhos: F1 - Rosália
(04.02.1872). F2 - Johann Francisco (13.12.1874). F3 -
Branderiga ( 30.10.1878). F4 - Maria Antonia (05.09.1879).
F5 - Paulino (03.06.1882). Residência: na Limeira, em
terras cedidas pelo sogro Carlos Witt. Posto ou graduação
na Revolução: Capitão. Função: Comandante do Pelotão
Três Forquilhas, do Esquadrão Josaphat. Morte: 1898,
assassinado, aos quarenta e nove anos de idade.
4 – MANOEL CÂNDIDO. Nome: Manoel Francisco da
Cunha. Data de nascimento: por volta de 1839. Local do
nascimento: desconhecido. Época da chegada a Três
Forquilhas: por volta de 1854. Profissão: Tropeiro, voltado
às lides com cavalos e gado. Religião: tornou-se
Protestante, membro da Comunidade Evangélica de Três
Forquilhas. Casamento: uniu-se com Maria Menger, em
![Page 337: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/337.jpg)
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1863, filha de João Patrulha Menger. Foi homem de total
confiança do sogro. Filhos: F1 - Jacob Cândido Menger
(06.05.1856). F2 - Carl Peter Cândido Menger
(12.09.1862). F3 - Miguel Cândido Menger (10.11.1865).
Residência: Era tropeiro a serviço de João Menger – “João
Patrulha”, no Josaphat. Residia no Platô do Patrulha. Posto
ou graduação na Revolução: Tenente. Função: Oficial do
Pelotão Três Forquilhas do Esquadrão Josaphat. Morte:
desaparecido em 1898, aos cinquenta e nove anos de idade.
O seu cunhado Michel Menger consta da relação dos mortos
na Guerra do Paraguai.
5 – JOÃO BAIANO. Nome: João Rosa dos Santos.
Talvez tivesse sido um primo de Baiano Candinho. Data de
nascimento: por volta de 1842. Local do nascimento:
Província do Ceará. Época da chegada a Três Forquilhas:
1871. Profissão: Criador de gado e especialista na castração
de animais. Tropeiro. Religião: Tornou-se Protestante, em
Três Forquilhas. Casamento: Uniu-se com Maria Dorothea
Triesch (Téia Treis). Filhos: F1 – Joseph (23.06.1885). F2 –
Carl Johann (01.09.1889). Residência: residiam no Platô do
Patrulha. Posto ou graduação na Revolução: Tenente.
Função: Oficial do Pelotão Serrano, do Esquadrão Josaphat.
Morte: 1898, assassinado, aos cinquenta e sete anos de
idade. Observação: Integrou o 26º Corpo de Voluntários da
Pátria, da Província do Ceará, na Guerra do Paraguai.
Desertara quase no final da Guerra.
6 – JOSÉ BAIANO. Nome: José Rosa dos Santos.
Talvez tivesse sido primo de Baiano Candinho. Data de
nascimento: por volta de 1844. Local do nascimento:
Província do Ceará. Época da chegada a Três Forquilhas:
1871. Profissão: Criador de gado, especialista em castração
de animais. Tropeiro. Religião: Tornou-se Protestante, em
Três Forquilhas. Casamento: Uniu-se com Felisbina Triesch
(Bina Treis). Filhos: F1 – Bersalina (08.10.1884). F2 –
Johannes (17.10.1885). F3 – Idalina (12.02.1888).
![Page 338: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/338.jpg)
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Residência: residiam no Platô do Patrulha. Posto ou
graduação na Revolução: Tenente. Função: Oficial do
Pelotão Serrano, do Esquadrão Josaphat. Morte: 1898,
assassinado aos cinquenta e quatro anos de idade.
Observação: Integrou o 26º Corpo de Voluntários da Pátria,
da Província do Ceará, na Guerra do Paraguai. Desertara
quase no final da Guerra.
7 – PEDRO BAIANO. Nome verdadeiro: Pedro Pereira
dos Santos. Nome falso: Pedro Jovêncio Maria. Era irmão
de Baiano Candinho. Data de nascimento: por volta de
1844. Local do nascimento: Província do Ceará. Filiação:
José Pereira dos Santos e Rosa Maria dos Santos. Época da
chegada em Três Forquilhas: 1871. Profissão: Criador de
gado e Tropeiro. Religião: Tornou-se Protestante, membro
da Comunidade Evangélica de Três Forquilhas. Casamento:
Uniu-se com Margaretha Menger, filha de João Menger.
Filhos: F1 - Pedro Jovêncio (19.06.1876. F2 - Catharina
Juliana (08.11.1879). F3 - Martin Jovêncio (04.08.1881).
Posto ou graduação na Revolução: faleceu antes. Morte:
1885, assassinado através de emboscada, armada no Passo
do Cemitério, em virtude de uma rixa com Felipe Serrano,
que fugiu da região. Observação: Integrou o 26º Corpo de
Voluntários da Pátria, da Província do Ceará, na Guerra do
Paraguai. Desertara quase no final da Guerra.
8 – FRANÇA GROSS. Nome: Franz Philipp Gross.
Data de nascimento: 1845. Local do nascimento: São
Leopoldo - Lomba Grande. Filiação: Jacob Gross e Charlotta
Philippina Hubert, (imigrantes). França era neto do
carpinteiro Philipp Peter Gross. Profissão: Criador de gado,
moleiro, lavrador, curtidor e vendeiro. Religião: Protestante,
membro da Comunidade Evangélica de Três Forquilhas.
Casamento: Uniu-se com Elisabetha Luise Hoffmann em
06.06.1870. Filhos: F1 – Christian (1871). F2 – Maria
Gertrude (1873). F3 – Leopoldina (1875). F4 – Joventino
(1878). F5 – José Augusto (1879). F6 – Manoel Jorge
![Page 339: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/339.jpg)
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(1884). F7– Jacob (1887). F8 – Luise (1889). Posto ou
graduação na Revolução Federalista: Tenente. Função:
Oficial do Pelotão três Forquilhas, do Esquadrão Josaphat.
Morte: 1898, aos cinquenta e quatro anos de idade,
assassinado pelos integrantes da Escolta Policial.
9 – FIRMINO CÂNDIDO. Nome: Firmino da Cunha,
irmão de Manoel Cândido. Data de nascimento: por volta de
1840. Naturalidade: desconhecida. Época da chegada a Três
Forquilhas: por volta de 1854. Profissão: Tropeiro voltado
as lide com cavalos e gado. Religião: Tornou-se Protestante,
em Três Forquilhas. Casamento: uniu-se com uma mulher
serrana. Filhos: quatro (04), nomes desconhecidos.
Residência: Era tropeiro a serviço de João Patrulha, no
Josaphat. Posto ou graduação na Revolução: Sargento do
Pelotão Três Forquilhas, do Esquadrão Josaphat. Morte:
1898, assassinado, aos cinquenta e oito anos de idade.
10 – TENENTE PEDROSO. Nome: João Pedroso dos
Santos. Dados Pessoais: Chegou a Três Forquilhas em
1894, como integrante da Escolta Policial, enviada pelo
Comando da Brigada Militar. Na época era Cabo,
substituindo Sargento Gonçalves, em diversas ocasiões.
Liderou a deserção, quando todos eles passaram para o
efetivo do Major Baiano Candinho. Na condição de
revolucionário foi promovido a Sargento e, em seguida, a
Tenente, integrado ao Pelotão dos Brigadas. Insatisfeito
com Capitão Luna solicitou transferência para o Pelotão
Serrano, tendo sido atendido. Quando ocorreu a morte de
Baiano Candinho, Tenente Pedroso decidiu buscar refúgio
na cidade de Viamão, onde residiam sua mãe e seus
irmãos.
11 – HENRIQUE BAIANO. Nome: Heinrich Peter Witt,
nome constante no Livro do Registro de Batismos, anotado
pelo Pastor Voges. Data de nascimento: 19.05.1875. No
registro do batismo não consta o nome do pai; apenas
![Page 340: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/340.jpg)
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Maria Witt. Baiano Candinho teria sido padrasto de Henrique
e daí a revolta deste contra o pretenso e não verdadeiro
pai. Naturalidade: nasceu na Colônia de Três Forquilhas.
Profissão: ajudante de Baiano Candinho, no trabalho
campeiro. Religião: Protestante, batizado pelo pastor Voges,
membro da Comunidade Evangélica de Três Forquilhas.
Casamento: Uniu-se com Caquita Bicudo Rodrigues. Filhos:
três. Posto ou graduação na Revolução: Soldado do Pelotão
dos Brigadas, do Esquadrão Josaphat. Morte: 1898,
assassinado pelo sogro Bicudo, aos vinte e três anos de
idade.
12 – JOVÊNCIO BAIANO. Nome: Pedro Jovêncio
Maria. Data de nascimento: 19.06.1896. Naturalidade:
Colônia de Três Forquilhas. Filiação: Pedro Jovêncio Maria e
Margaretha Menger. Religião: Protestante batizado pelo
pastor Voges. Participou da Revolução Federalista, apesar
da pouca idade. Fazia questão de acompanhar o tio Baiano
Candinho, nas andanças do Esquadrão Josaphat. Morte:
1895, vitimado pela febre tifóide, aos dezenove anos de
idade.
13 – MARTIM BAIANO. Nome: Martim Jovêncio
Maria. Data de nascimento: 04.08.1881. Naturalidade:
nasceu na Colônia de Três Forquilhas. Filiação: Pedro
Jovêncio Maria e Margaretha Menger. Religião: Protestante,
batizado pelo pastor Voges. Apesar de ser uma criança,
vivia com a tropa de tio Candinho. Morte: 1895, vitimado
pela febre tifóide, aos catorze anos de idade.
14 – JOAQUIM BAIANO. Nome: desconhecido. Nada
se sabe sobre a época de sua chegada a Três Forquilhas. A
senhora Dindinha Pereira, tivera conhecimento que o
Joaquim Baiano teria vivido, por muitos anos, com Maria
Thereza Pereira de Souza, na Serra do Pinto. Ela tivera
cinco filhos, todos batizados pelo pastor Voges, porém, não
atribuídos à paternidade de Joaquim Baiano: F1 – Elia
![Page 341: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/341.jpg)
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(1873). F2 – Johann Peter (1878) e que casou com Isaura
Bernardes. F3 – Christoph (1880). F4 – Ereno (1882). F5 –
Heinrich Carl (1889). Joaquim Baiano integrou
temporariamente o Esquadrão Josaphat. Talvez por motivo
de saúde, permaneceu na sua propriedade, na Serra do
Pinto, sem ser molestado pelos castilhistas. Não
encontramos registro sobre sua morte que pode ter sido por
volta de 1910, conforme a tradição oral
15 – JACÓ CÂNDIDO. Nome: Philipp Jacob Menger.
Data de nascimento: 06.05.1856. Naturalidade: nasceu na
Colônia de Três Forquilhas (na área do Josaphat). Filiação:
Manoel Francisco da Cunha - Manoel Cândido e Maria
Menger. Profissão: Tropeiro e lavrador. Religião:
Protestante, batizado pelo pastor Voges. Casamento: uniu-
se com Maria Luisa Witt, em 04.11.1880. Religião:
Protestante, batizado pelo pastor Voges. Tinha a sua
primeira propriedade às margens do arroio Carvalho,
trocando as terras com Baiano Candinho. Desta forma, Jacó
Cândido passou a morar na Colônia de Três Forquilhas, no
lado de Tôrres, a um quilômetro do passo principal do rio.
Posto ou graduação na Revolução: Soldado do Pelotão Três
Forquilhas, do Esquadrão Josaphat.
16 – PEDRO CÂNDIDO. Nome: Carl Peter Menger.
Data de nascimento: 12.09.1862. Naturalidade: nasceu na
Colônia de Três Forquilhas na área do Josaphat. Filiação:
Manoel Francisco da Cunha - Manoel Cândido e Maria
Menger. Profissão: Tropeiro e lavrador. Religião:
Protestante, batizado pelo pastor Voges. Casamento: uniu-
se com Catharina Ettere, em 1881. Posto ou graduação na
Revolução: Soldado do Pelotão Três Forquilhas do
Esquadrão Josaphat.
17 – MIGUEL CÂNDIDO. Nome: Michael Menger
Cândido. Data de nascimento: 15.02.1866. Naturalidade:
nasceu na Colônia de Três Forquilhas. Filiação: Manoel
![Page 342: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/342.jpg)
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Francisco da Cunha - Manoel Cândido e Maria Menger.
Profissão: Tropeiro. Religião: Protestante, batizado pelo
pastor Voges. Casamento: uniu-se com Felisbina Rosina
Menger, em 19.12.1885. Esta Felisbina Rosina era irmã da
Charlotte, a qual geraria gêmeas, numa relação com Cala
Becker. Posto ou graduação na Revolução: Soldado,
integrante do Pelotão Protestante. Morte: 1893,
assassinado pela Escolta Republicana, aos vinte e sete anos
de idade.
18 – PATRULHA FILHO. Nome: Johannes Menger.
Data de nascimento: 12.08.1851. Naturalidade: nasceu na
Colônia de Três Forquilhas na área do Josaphat. Filiação:
Johannes Menger e Maria Catharina Gross. Profissão:
Tropeiro e Criador de gado. Religião: Protestante, batizado
pelo pastor Voges. Casamento: uniu-se com Maria Luisa
Witt. Posto ou graduação na Revolução: Soldado do Pelotão
Três Forquilhas, do Esquadrão Josaphat. Consta como
desaparecido, em 1898.
19 – MIGUEL GRALHA. Nome: Miguel Luiz da Silva.
O apelido Gralha tinha algo a ver com o pássaro existente
nos pinheirais paranaenses. Talvez os irmãos Gralha fossem
originários do Estado do Paraná. Sabe-se apenas que ele
fora um tropeiro, a serviço de França Gross. Naquele tempo
a profissão de tropeiro, era das mais importantes. Posto ou
graduação na Revolução: Sargento do Pelotão Três
Forquilhas, do Esquadrão Josaphat. Morte: 1894, durante a
Revolução Federalista.
20 – BOM MARTIM. Nome falso: Martinho dos
Santos. Sabe-se apenas que ele foi um tropeiro, a serviço
de criadores de gado, nesta região da Serra. Era vizinho de
Baiano Candinho, próximo ao arroio Carvalho. Posto ou
graduação na Revolução: Sargento do Pelotão Serrano, do
Esquadrão Josaphat. Era uma espécie de guarda-costas, ou
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ajudante de Baiano Candinho. Morte: 1897, assassinado
pela Escolta Policial da Colônia de Três Forquilhas.
21 – DOINHO GAITEIRO. Nome: Luis Antonio dos
Santos. O apelido Gaiteiro tinha algo a ver com a afinidade
de Doinho com a gaita de foles. Sabe-se apenas que ele
trabalhava como tropeiro, na Serra. Posto ou graduação na
Revolução: Sargento do Pelotão Serrano, do Esquadrão
Josaphat. Não se teve mais notícias dele, após 1898.
22 – JOAQUIM BICUDO. Nome: Joaquim Rodrigues.
O apelido Bicudo tinha algo a ver com o seu nariz
avantajado. Hoje talvez fosse Narigudo. Sabe-se que foi
tropeiro e peão de fazenda, na Serra. Na condição de viúvo,
casou com Carolina Pereira de Souza em 20.05.1890, aos
quarenta anos de idade. Tornou-se, pois cunhado de Rico
Marques. Foi sogro de Henrique Baiano. Protestante. Posto
ou graduação na Revolução: Cabo do Pelotão Três
Forquilhas, do Esquadrão Josaphat. Evadiu-se para o Estado
de Santa Catarina, em 1898.
23 – JOÃO GORDO. Nome: João José Brandão. O
apelido Gordo tinha algo a ver com seu aspecto corporal.
Parente do Capitão Luis da Conceição - Luiz Brandão Feijó.
Trabalhava em propriedades de colonos, em Três
Forquilhas. Era protestante. Residia no Barreiro. Posto ou
graduação na Revolução: Cabo do Pelotão Serrano, do
Esquadrão Josaphat. Morte: 1898, assassinado pelos
policiais castilhistas.
24 – FRANCISCÃO VELHO. Nome: Francisco Peres.
O apelido Velho servia para diferenciá-lo do filho que era
chamado de Moço. Tinha uma pequena propriedade, na
Chapada da Trilha das Mulas, onde plantava e criava
algumas cabeças de gado. Protestante. Posto ou graduação
na Revolução: Cabo do Pelotão dos Brigadas, do Esquadrão
![Page 344: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/344.jpg)
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Josaphat. Morte: 1898, assassinado pelos policiais
castilhistas.
25 – MOÇO PERES. Nome: Francisco Peres Filho.
Trabalhava com o pai, na Chapada da Trilha das Mulas.
Protestante. Posto ou graduação na Revolução: Cabo do
Pelotão dos Brigadas, do Esquadrão Josaphat. Morte: 1898,
assassinado pelos policiais castilhistas.
26 – MACUCO LARA. Nome: Augusto Lara. O apelido
tinha algo a ver com a ave serrana conhecida por Macuco
que o Lara sabia imitar muito bem. Natural da cidade de
Taquary. Tropeiro serrano. Cabo no Pelotão dos Brigadas,
do Esquadrão Josaphat. Morte: 1898, assassinado pelos
policiais castilhistas.
27 – MANOEL GEATHA. Nome: Manoel Geatha.
Tropeiro serrano. Cabo no Pelotão dos Brigadas, do
Esquadrão Josaphat. Morte: 1898, assassinado pelos
policiais castilhistas.
28 – PEDRO ARIBÚ. Nome: desconhecido. O apelido
Aribú tinha algo a ver com a ave de rapina conhecida como
urubú. De origem germânica. Sobrinho e peão de França
Gross. Religião: Protestante. Uniu-se com Jacobina Triesch.
Tiveram a filha Bárbara (12.08.1880). Soldado do Pelotão
Três Forquilhas, do Esquadrão Josaphat. Morte: 1898,
assassinado pelos policiais castilhistas.
29 – JORGE MANO. Nome: Manoel Jorge Gross. O
apelido Mano era na verdade o oposto de seu sentido.
Falava-se na Serra em burro mano, quando o animal era
manso. Nesse caso Jorge devia ser chamado de Jorge
Xucro. Data de nascimento: 18.05.1884. Naturalidade:
nasceu na Colônia de Três Forquilhas na área do Josaphat.
Filiação: Franz Philipp Gross - França Gross e Elisabetha
Hoffmann. Religião: Protestante, batizado pelo pastor
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Voges. Entrou na Revolução Federalista com apenas treze
anos de idade, sendo visto como uma espécie de mascote,
do Pelotão Três Forquilhas. Participou da tomada de
Conceição do Arroio. Morte: 1898, assassinado pelos
policiais castilhistas, aos quinze anos de idade.
30 – NALDO DA HORA. Nome: Reginaldo Carneiro da
Fontoura. Recebeu o apelido de Da Hora pelo fato de fazer
questão de tirar o serviço de guarda, na porteira do
aquartelamento. Data de nascimento: 1873, na fronteira
com o Uruguai. Entrou em Três Forquilhas, em 1894,
integrando uma Escolta da Brigada Militar do Estado, com a
missão da caçar os revolucionários federalistas da Serra.
Naldo e demais integrantes da Escolta passaram para o lado
dos maragatos. Naldo tornou-se soldado do Pelotão Três
Forquilhas, do Esquadrão Josaphat. Casou com Leopoldina
Gross, filha de França, em 09.08.1895. Morte: 1898,
assassinado pelos policiais castilhistas.
31 – LUCIANO AGUIAR. Nome: Luciano Cardoso de
Aguiar. Data de nascimento: 1846, Cima da Serra. Filiação:
José Cardoso de Aguiar e Maria de Aguiar. Profissão:
Criador de gado e Tropeiro. Religião: tornou-se protestante,
ao casar com Felisbina Charlotta Gross, em 20.10.1870.
Felisbina era tia do França Gross. Filhos: F1 – Maria
Magdalena (04.09.1871) e que casou com Pedro de Oliveira
Melo. F2 – Luciano (22.07.1873). F3 – Rosa Candinha
(08.06.1875) e que casou com Generoso de Oliveira Melo.
F4 – Johannes (27.02.1870). F5 – Maria Luisa
(20.03.1883). F6 – Joseph (08.01.1886). F7 – Castorina
(21.08.1888). Luciano Cardoso de Aguiar entrou na
Revolução como Sargento do Pelotão Protestante. Foi morto
durante a Revolução Federalista, em 08.05.1893, aos
quarenta e sete anos de idade.
32 – PEDRO JUARTE. Nome: Wilhelm Peter
Schwartzhaupt. O apelido Juarte era uma corruptela de seu
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sobrenome. Data de nascimento: 1856. Naturalidade:
nasceu na Colônia de Três Forquilhas na área do Josaphat.
Filiação: Peter Schwartzhaupt e Margaretha Menger.
Protestante, batizado pelo pastor Voges. Profissão:
Lavrador, Curtidor e Criador de gado. Casou com Maria
Luisa Gross (irmã de França Gross). Filhos: F1 – Maria Rosa
ou Rosalinda (28.03.1886). F2 – Johannes Wilhelm
(24.06.1887). F3 – Francisca Virgolina (03.12.1889). F4 –
Paulina (21.05.1890). F5 – José Leopoldo (29.12.1891).
Pedro Juarte integrou o Pelotão Protestante, sob o comando
de Baiano Candinho. Foi morto durante a Revolução
Federalista, em 1893, aos trinta e oito anos de idade.
33 – INÁCIO GROSS (INACINHO). Nome: Manoel
Ignácio Gross. Data de nascimento: 19.10.1859.
Naturalidade: nasceu na Colônia de Três Forquilhas, na área
do Josaphat. Filiação: Jacob Gross e Margaretha Hubert
(portanto, irmão de França Gross). Profissão: Lavrador e
Tropeiro. Religião: Protestante, batizado pelo pastor Voges.
Casou com Catharina Schwartzhaupt. Filhos: F1 – Manoel
Sipriano (28.11.1883). F2 – Joseph (28.01.1886). F3 Maria
Luisa (28.01.1888). Integrou o Pelotão Protestante sob o
comando de Baiano Candinho. Foi morto durante a
Revolução Federalista, em 1893, aos trinta e oito anos de
idade.
34 – FELIPE BRUXA. Nome: Philipp Peter Brusch. O
apelido Bruxa era apenas uma corruptela do sobrenome.
Data de nascimento: 27.05.1854. Naturalidade: nasceu na
Colônia de Três Forquilhas, na área da Bananeira. Filiação:
Joaquim Brusch e Sofia Gross. Profissão: Criador de gado e
Lavrador. Religião: Protestante, batizado pelo pastor Voges.
Casamento: uniu-se com Carolina Hoffmann, em
22.06.1875. Filhos: F1 – Maria Catharina (11.04.1876). F2
– Heinrich Justino (16.09.1877). F3 – Chritian Luis
(19.11.1879). F4 – João Manoel (08.01.1880). F5 – Maria
Bertolina (22.08.1882). F6 – Eliziário (28.09.1881). Posto
![Page 347: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/347.jpg)
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347
ou graduação na Revolução: Integrou o Pelotão Protestante,
sob o comando de Baiano Candinho. Morte: Foi morto em
1893, durante a Revolução Federalista, aos trinta e nove
anos de idade.
35 – LULU FANDANGO. Nome: Louis Triesch. O
jovem Lulu gostava de bailar e dançar, por isto era o
fandango. Data de nascimento: 04.11.1871. Naturalidade:
nasceu na Colônia de Três Forquilhas, na área do Josaphat.
Filho de Bárbara Triesch. Protestante, batizado pelo pastor
Voges. Peão foi soldado do Pelotão Três Forquilhas, do
Esquadrão Josaphat. Desapareceu da área em 1898.
36 – LEONEL BRANDÃO. Nome: Leonel Brandão.
Parente do Capitão Luiz da Conceição - Luiz Brandão Feijó.
Integrou o Pelotão dos Brigadas, do Esquadrão Josaphat.
Foi morto em 1898, por Henrique Baiano, no esconderijo,
do grupo de Capitão Luna.
37 – CHICO DA ONÇA. Nome: Francisco Mendonça. O
apelido era apenas troça ligado ao sobrenome Mendonça.
Era peão de João Menger, no Josaphat. Uniu-se com Maria
Sophia Menger. Integrou o Pelotão três Forquilhas, do
Esquadrão Josaphat. Morreu vitimado pela febre tifóide, em
1896.
38 – FIRMINO VELHO. Nome: Firmino Machado.
Tropeiro já idoso com cabelos brancos. Uniu-se com Maria
Margaretha Menger, viúva de Pedro Baiano. Tiveram os
gêmeos F1 – Carl e F2 – Luise, nascidos em 12.07.1891.
Firmino Velho tornou-se Protestante, batizando as crianças
com o pastor Voges. Integrou o Pelotão Três Forquilhas, do
Esquadrão Josaphat.
39 – JESUS CRIOULO. Nome: Bernardo de Jesus.
Tropeiro. Uniu-se com Maria Catharina Menger, filha de João
Menger. Tiveram a filha Maria Felisbina Cristina
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(21.09.1881). Jesus Crioulo tornou-se Protestante.
Integrou o Pelotão Três Forquilhas, do Esquadrão Josaphat.
40 – JACOBE FUERO. Nome: Jacob Brusch. Fuero era
uma haste de madeira que servia para deixar a carreta
levantada, ao desencangar os bois. Dali o apelido. Data de
nascimento: 11.12.1870. Naturalidade: nasceu na Colônia
de Três Forquilhas, na área da Bananeira. Filiação: Joaquim
Brusch e Sofia Gross. Profissão: Lavrador. Religião:
Protestante, batizado pelo pastor Voges. Posto ou
graduação na Revolução: Soldado do Pelotão Três
Forquilhas, do Esquadrão Josaphat.
41 – JOVEM FRANÇA. Nome: Joventino Gross. Data
de nascimento: 18.10.1878. Naturalidade: nasceu na
Colônia de Três Forquilhas na área do Josaphat. Filiação:
Franz Philipp Gross - França e Elisabetha Hoffmann.
Profissão: ajudava o pai, cuidando da criação de gado e
outras tarefas. Religião: Protestante, batizado pelo pastor
Voges. Integrou o Pelotão Três Forquilhas, do Esquadrão
Josaphat. Fugiu, em 1898, para escapar da caçada que lhe
fora movida pela polícia castilhista.
42 – CRISPIM FRANÇA. Nome: Christian Gross. Data
de nascimento: 11.09.1871. Naturalidade: nasceu na
Colônia de Três Forquilhas na área do Josaphat. Filiação:
Franz Philipp Gross (França Gross) e Elisabetha Hoffmann.
Profissão: Lavrador. Religião: Protestante, batizado pelo
pastor Voges. Casamento: uniu-se com Dorothea Pereira de
Souza, em 06.09.1891. Integrou o Pelotão Três Forquilhas,
do Esquadrão Josaphat. Fugiu para Rio do Peixe, em 1898,
para escapar da caçada que lhe fora movida pelos policiais
castilhistas.
43 – CARLOS GIRIVÁ. Nome: Karl Johann Rudolf.
Girivá é o nome dado a uma árvore muito alta. Carlos devia
ser de estatura elevada. Nascido em 17.12.1863, filho do
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militar prussiano – militar Brummer, August Rudolf, natural
de Berlim e de Catharina dos Santos, filha do índio Manoel
dos Santos. Os Irmãos Rodolfo eram, portanto, sobrinhos
de João Patrulha e passaram a trabalhar como tropeiros, da
Serra, sob a proteção desse tio. Convém lembrar
novamente que, na época, o trabalho tropeiro, era das
melhores profissões, permitindo inclusive andar pelos
caminhos, rumo a Santa Catarina e Paraná. Integrou a força
de Baiano Candinho, no Pelotão Três Forquilhas, do
Esquadrão Josaphat, em companhia dos irmãos. Conforme a
tradição oral, eles acompanharam Gumercindo Saraiva na
conquista de Lapa e Curitiba, no Paraná. Na fuga, de
retorno, ao Rio Grande do Sul, refugiaram-se na Vila dos
Bugres, hoje Caravagio, não longe de Três Forquilhas, à
margem da BR – 101.
44 – DOLFO LEÃO. Nome: Leopold Rudolf. O apelido
Dolfo é corruptela do sobrenome. Dolfo nasceu em
22.04.1866, filho de August Rudolf e Catharina dos Santos.
Ver dados do irmão, nr. 43.
45 – BUGRE LEMES. Nome: Wilhelm Rudolf, Wilhelm
puxara pela mãe, filha do índio Manoel Santos. Por isto era
chamado de bugre. Nasceu em 14.06.1868, filho de August
Rudolf e Catharina dos Santos. Ver outros dados com
personagem nr. 43.
46 – JOÃO RICO. Nome: Johann Friedrich Rudolf. O
apelido Rico era uma corruptela bem comum para Frederico.
Nasceu em 01.06.1870, filho de August Rudolf e Catharina
dos Santos. Ver outros dados com personagem nr. 43.
47 – RICO DO PILÃO. Nome: Friedrich Wilhelm
Rudolf. Certamente ele moía grãos no pilão de madeira.
Nasceu em 18.01.1873, filho de August Rudolf e Catharina
dos Santos. Ver outros dados com personagem nr. 43.
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48 – CHICO PINTO. Nome: August Christian
Hoffmann. O apelido tornou-se sinônimo de mentiroso.
Chico Pinto gostava de contar histórias absurdas a respeito
de caçadas e pescarias. Ficou também conhecido com Chico
Ventana. Nasceu em 18.05.1845 em Três Forquilhas como
filho de Andreas Hoffmann e Anna Maria Strach. Chico Pinto
era tio da mulher do Baiano Candinho. Profissão: tropeiro e
criador de gado, na Serra do Pinto. Religião: Protestante,
batizado pelo pastor Voges. Casou com Dorothea Klippel.
Filhos: Integrou o Pelotão Três Forquilhas, do Esquadrão
Josaphat.
49 – MARTINHO CANJO. Nome: Martin Klein. A
origem do apelido é desconhecida, nasceu em 1854, filho de
Carl Klein e de Maria Margaretha Jacoby. Casou com
Carolina Strassburg em 10.07.1875. Filhos: F1 – Cristiano
(12.08.1876). F2 – Luisa (29.05.1879). F3 – Carlos Pedro
(06.12.1880). F4 – Carolina (14.07.1883). F5 – Martin
(05.01.1885). Integrou o Pelotão Três Forquilhas, do
Esquadrão Josaphat.
50 – JORGE CANJO. Nome: Jorge Klein, nasceu a
13.10.1855, filho de Carl Klein e Maria Margaretha Jacoby.
Casou com Catharina Strassburg. Filhos: F1 - Johann Carl
(03.10.1877). F2 – Johann Leopold (06.07.1880). F3 –
Johann Georg (26.10.1884). F4 – Maria Luisa (15.12.1887).
Residiu por algum tempo no Lageado em Contendas e
depois veio morar no Carvalho no Vale do Três Forquilhas.
Integrou o Pelotão Três Forquilhas, do Esquadrão Josaphat.
51 – LEO CANJO. Nome: Leopold Klein, nasceu em
21.06.1858, filho de Carl Klein e Maria Margaretha Jacoby.
Casou com Maria Elisabetha Grassmann em 31.12.1880.
Teve residência no Lageado, em Contendas. Integrou o
Pelotão Três Forquilhas, do Esquadrão Josaphat.
![Page 351: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/351.jpg)
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52 – CALA BARATA. Nome: Carl Eberhardt, nascido
06.09.1851, filho de Michel Eberhardt e Magdalena Geb.
Estabeleceu-se no Josaphat, não longe dos Irmãos Canjo.
Casou com Dorothea Klein em 16.01.1870. Filhos: F1 –
Jacob (16.12.1870). F2 – Johann Georg Christian
(31.01.1872) e que casou com Maria Magdalena Gross. F3 –
Luisa (16.07.1873) e que casou com Henrique Witt. F4 –
Catharina Margaretha (20.03.1876) e que casou com
Cristiano Eberhardt. F5 – Carl Johann (28.08.1878). F6 –
Maria Felisbina (17.09.1880). F7 – Johann Friedrich
(31.08.1882). F8 – Leopold (02.09.1884). F9 – José Avelino
(10.11.1886). F10 - Realia (02.09.1889). Morava no
Josaphat. Integrou o Pelotão Três Forquilhas, do Esquadrão
Josaphat.
53 – JONAS BARATA. Nome verdadeiro: Johann
Eberhardt. O apelido é uma corruptela do sobrenome.
Nasceu em 1841, filho de Michel Eberhardt e Magdalena
Geb. Casou com Felisbina Pereira de Souza. Estabeleceu-se
na Serra do Pinto e após a Revolução fugiu para Barra do
Ouro, no Maquiné. Filhos: F1 – Cristiano (20.04.1876) e que
casou com Catharina Margaretha Eberhardt. F2 – Maria
Dorothea (30.08.1878). F3 – Johann Carl (14.04.1881). F4
– Luisa (27.11.1883). F5 – Johann Modesto (26.04.1886 e
que faleceu em 01.01.1902, aos dezesseis anos de idade).
F6 – Matilda (05.11.1889). F7 – Jacó Marcílio (07.04.1891).
Integrou o Pelotão Três Forquilhas, do Esquadrão Josaphat.
54 – FELIPE OFES. Nome: Philipp August Hoffmann.
O apelido é uma corruptela do sobrenome. Nasceu em
17.12.1872, em Cima da Serra, filho de Jacob Hoffmann e
Dorothea Kramer. Foi batizado pelo pastor Voges. Casou
com Maria Luiza Schwartzhaupt em 09.08.1895, tendo por
padrinhos Baiano Candinho e França Gross. Esse último era
tio da noiva. Morava a quatro quilômetros da casa de
Baiano Candinho, em direção de Bananeiras.
![Page 352: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/352.jpg)
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55 – LEMÃO JUARTE. Nome: Jacob Schwartzhaupt,
nascido em 27.04. 1861, filho de Peter Schwartzhaupt e
Margaretha Menger. Foi batizado pelo pastor Voges. Casou
com Sofia Gross em 10.04.1875. Era cunhado de Felipe
Ofes.
56 – LEMÃO CASCUDO. Nome: Christian
Schwartzhaupt. Christian não usava botas. Colocava as
esporas no calcanhar nu. Certamente tinha a sola dos pés
bastante dura, pelo fato de não usar calçados. Nasceu em
01.12.1871, filho de Peter Schwartzhaupt e Margaretha
Menger. Batizado pelo pastor Voges. Casou com Maria Luiza
Klein em 09.08.1895. Era irmão do Lemão Juarte e cunhado
do Felipe Ofes.
57 – CALA BECA. Nome: Carl Becker. O apelido é
uma corruptela do seu nome. Nascido em 25.06.1846, filho
de Carl Becker e Eva Helbig e batizado pelo pastor Voges.
Casou com Maria Dorothea Brehm em 01.10.1872. O casal
teve em 17.09.1873 a filha F1 – Catharina Margaretha, e
que, mais tarde, casaria com Guilherme Jacoby. O casal
adotou F2 – Constâncio Alves da Silva, o Constâncio
Candinho, em 04.01.1876. O pai desta criança fora o
vizinho Baiano Candinho, numa relação com Maria Luisa da
Silva. Já o Cala Becker, também teve relações
extraconjugais, com a jovem Charlote Menger, filha de
Catharina Menger e tiveram as gêmeas: F3 – Maria Sophia
Cristina. F4 – Maria Francisca, em 03.11.1878. A última
casaria com Johann Carl Westphalen, em 02.05.1893. Estas
gêmeas seriam também assumidas por sua esposa, como se
fossem suas filhas uma vez que Charlote Menger falecera,
por ocasião do parto, que fora muito difícil. Cala Beca e
esposa Dorothea teria depois mais um filho: F5 – Friedrich
Leopoldo, em 19.01.1881.
58 – GERALDO GRALHA. Nome: Geraldo Luiz da
Silva, um irmão do Sargento Miguel Gralha (19). Casou com
![Page 353: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/353.jpg)
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Maria Gertrud Gross em 1875. Tiveram a filha Carolina em
31.05.1876 e batizada pelo pastor Voges.
59 – SOLDADO ZEFERINO. Nome: Zeferino Antonio
Gomes. Soldado da Brigada Militar, componente da Escolta
Policial comandada pelo Sgt Gonçalves, enviada a Colônia
de Três Forquilhas, em 1893. Passou-se para o lado de
Baiano Candinho com os demais companheiros, passando a
integrar o Pelotão dos Brigadas, do Esquadrão Josaphat. Em
1898, fugiu para Barra do Ouro, Maquiné.
60 – CORNETEIRO SILVA. Nome: Antonio da Silva.
Casou com Maria Hoffmann, tornando-se Protestante. O
casal teve as filhas: F1 - Maria Elina (26.12.1887). F2 -
Maria Jacinta (1890) batizadas pelo pastor Voges. Integrou
o Pelotão Três Forquilhas do Esquadrão Josaphat.
61 – NAZÁRIO SANTOS. Nome: Nazário Santos.
Integrou o Pelotão dos Brigadas, do Esquadrão Josaphat.
Foi assassinado em 1898, pela Escolta Policial.
62 – SOLDADO JOSÉ MARIA. Nome: José Maria da
Silva. Soldado da Brigada Militar, componente da Escolta
Policial comandada pelo Sargento Gonçalves, enviada a
Colônia de Três Forquilhas em 1893. Ao passar para o lado
de Baiano Candinho, foi promovido a Sargento e integrou o
Pelotão dos Brigadas, do Esquadrão Josaphat. Foi morto
pela Escolta Policial em 1898.
63 – NICO FLOR. Nome verdadeiro: Adriano Flor da
Silva, nascido em 1874, filho do alfaiate Serafim Flor da
Silva e de Carolina Feck. Integrou o Pelotão Três Forquilhas,
na fase inicial, antes da Revolução Federalista,
acompanhando Baiano Candinho, nas andanças de 1891.
Nico Flor foi assassinado em 28.12.1892, junto a Trilha das
Mulas, no Arroio do Padre. Não há registro de quaisquer
conflitos, naquela época.
![Page 354: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/354.jpg)
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354
64 – JOÃO FRANCO. Nome: João Francisco Feijó,
filho do Capitão Luiz Brandão Feijó e de Catharina Witt. Foi
batizado pelo pastor Voges. Casou em 09.08.1895 com
Maria Rosalinda Schwartzhaupt, portanto um cunhado de
Alemão Cascudo e de Felipe Ofes. Integrou o Pelotão Três
Forquilhas do Esquadrão Josaphat.
65 – SERAFIM JOSÉ. Nome: Serafim José dos
Santos. Genro do Capitão Luiz da Conceição. Casou com a
negra Maria Antonia Feijó em 10.09.1895.
66 – RICO MARQUES. Nome: Friedrich Marques
Pereira de Souza. Nasceu em 12.09.1854, filho de José
Pereira de Souza e Maria Cristina Gross. Casou com Bárbara
Schwartzhaupt em 06.12.1873. Tornou-se vizinho de Baiano
Candinho, apenas separados pelo arroio Carvalho. Rico e
Bárbara tiveram os seguintes filhos: F1 – Carl Friedrich
(27.03.1875). F2 – Joseph (30.08.1876). F3 – Maria
Carolina (12.12.1872). F4 – Maria Catharina (12.11.1882).
F5 – Reduzina (02.05.1885). F6 – Marsilton (16.08.1887).
F7 – Vicente. F8 – Francisco. F9 – Adolfina.
67 – JOÃO CABELEIRA. Nome: João Sabino. Os
Sabino tornaram-se conhecidos por Os Cabeleiras por
usarem cabelo comprido, amarrado com um lenço. Até hoje
existe a Trilha dos Cabeleiras, no fundo de Rio Carvalho.
Cunhado de Rico Marques. Uniu-se com Bárbara Pereira de
Souza. Tiveram os filhos: F1 - José (02.01.1880). F2 - Maria
(01.02.1878). Moravam na Serra dois Cabeleiras, no fundo
do Carvalho.
68 – TATU SERRANO. Nome: Valentim Pereira. Nome
verdadeiro: Ferdinand Pereira de Souza. Casou com Balbina
Maria Menger. Filhos: F1 – Ortensio (15.07.1886). F2 –
Luisa (07.12.1889). Batizados pelo pastor Voges. Tropeiro.
![Page 355: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/355.jpg)
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355
69 – JOÃO DA MULA. Nome: João Firmino. Ele
jamais deixara de utilizar uma mula, durante todos os
tempos da revolução. Uniu-se com a preta Maria da Silva
Tiveram o filho: F1 - Manoel em 28.05.1884. F2 Rosalina.
Tropeiro Serrano.
70 – TATU VIOLA. Nome: André Espíndola. Exímio
tocador de viola. Atuava em Ternos de Reis fazendo o
repique da viola. Filho de José Antonio Espíndola e Doralina
Espíndola. Genro de João Firmino, pois casou com a filha do
mesmo: Rosalina Firmino (04.07.1891).
71 – PEDRO SABINO. Nome: Pedro Rodrigues Sábria.
Os irmãos Sábria ficaram conhecidos como Sabinos. Genro
de João Patrulha. Casou com Maria Margaretha Menger em
1876. Tiveram os gêmeos: F1 - Carl Johannes. F2 - Carl
Joseph Johannes em 20.12.1877. Batizados pelo pastor
Voges.
72 – JOSÉ SABINO. Nome: José Rodrigues Sábria.
Tropeiro Serrano. Integrou a Força Revolucionária de
Gumercindo Saraiva.
73 – CARLOS SABINO. Nome: Carlos Rodrigues
Sábria. Tropeiro Serrano. Integrou a Força Revolucionária
de Gumercindo Saraiva.
74 – JOAQUIM DEZOITO. Nome: Joaquim Rodrigues
Sábria. Não houve referência a respeito desse apelido. Ele
deveria ter sido também um Sabino. Nascido em 1850.
Cunhado de Rico Marques. Casou com Carolina Pereira de
Souza em 20.05.1890.
75 – BETO GUIMARIA. Nome: Alberto Cardoso de
Aguiar. Não recebemos explicação que definisse o apelido
Guimaria. Criador de gado, no Cima da Serra. Integrou a
Força Revolucionária de Gumercindo Saraiva.
![Page 356: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/356.jpg)
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76 – CHICO BRAZ. Nome: Francisco Braz. Casou com
Carolina Pereira de Souza. Tiveram o filho Alcino em 1889,
batizado pelo pastor Voges. Cunhado de Rico Marques.
Residia no Josaphat, hoje Rio do Pinto.
77 – FRANÇA BRAZ. Nome: Francelino Braz. Tio de
Francisco Braz. Residia no Josaphat, hoje Rio do Pinto.
78 – JOSÉ NASCIMENTO. Nome: José Nascimento,
nascido em 1859, filho de Maurício José de Barros e de
Cristina Maria da Conceição. Cunhado de Rico Marques, pois
casou com Luisa Pereira de Souza em 27.05.1879. Tiveram
o filho Johann Peter em 05.05.1878, batizado pelo pastor
Voges.
79 – AGOSTINHO BICUDO. Nome: Agostinho
Rodrigues. Narigudo. Irmão de Henrique Bicudo. Foi morto
pelos Valim, em 1898.
80 – HENRIQUE BICUDO. Nome: Henrique
Rodrigues. Narigudo. Casou com Maria Candinha Cardoso.
Criador de gado em Cima da Serra. Tiveram o filho Osório
(13.08.1871). Batizado pelo pastor Voges. Cunhado de
Luciano Cardoso de Aguiar.
81 – CHICO REATA. Nome: desconhecido. Apelido
sem explicação. Era negro liberto, algo raro na tropa de
Baiano Candinho. Perece que a maioria de negros fugia
dele. Espião infiltrado no efetivo de Baiano Candinho, pelos
castilhistas. Morto pelos revolucionários federalistas em
1893.
82 – NEGRO CAMPOLINO. Nome: desconhecido.
Apelido sem explicação. Era um negro liberto, da Colônia de
Três Forquilhas. Os castilhistas o infiltraram no efetivo de
![Page 357: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/357.jpg)
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357
Baiano Candinho. Foi descoberto e morto pelos
revolucionários federalistas em 1892.
83 – NECO SERRANO. Nome: João José do
Nascimento. Era um negro liberto. Casou com a preta
Virgínia Maria José. Tiveram a filha Maria Rosa em
01.01.1879. Batizada pelo pastor Voges.
84 – SOLDADO DUTRA. Nome: João Agapito Dutra.
Soldado da Brigada Militar, componente da Escolta Policial
comandada pelo Sargento Gonçalves, enviada a Três
Forquilhas em 1893. Quando passaram para o lado de
Baiano Candinho, Dutra integrou o Pelotão dos Brigadas, do
Esquadrão Josaphat. Permaneceu na Colônia de Três
Forquilhas, após 1898, colocando-se sob a proteção do
Coronel Carlos Voges.
85 – MARTIM PISTOLA. Nome: Guedes Martins
Espíndola. O Apelido deve ter sido uma corruptela de
Espíndola. Nasceu em 1855, filho de José Martins Espíndola
e Doralina Espíndola. Foi um solteirão.
86 – MARTIM PIEDADE. Nome: Porfírio Martins
Espíndola. Origem do apelido é desconhecida. Nasceu em
1852, filho de José Martins Espíndola e Maria Joaquina -
mãe natural. Casou com Belarminda Witt em 08.11.1879,
tornando-se cunhado de Baiano Candinho. Filhos: F1 –
Artírio (08.11.1879). F2 – Artírio (26.07.1883). F3 – Albert
(06.09.1886). F4 – Berlon (28.09.1888), todos batizados
pelo pastor Voges.
87 – MANO JOSÉ. Nome: Manoel José do
Nascimento. O apelido Mano era corruptela do nome
Manoel. Filho de Maurício José de Barros e Cristina Maria da
Conceição. Casou com Merencia Fraga Santos, a Dona
Merenciana. Filhos: F1 – Carlos (17.03.1872). F2 –
![Page 358: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/358.jpg)
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Francisca Maria (16.07.1874). F3 – Idalina (20.12.1872). F4
– Isclarea (26.07.1879), todos batizados pelo pastor Voges.
88 – ANTONIO SILISTRIO. Nome: Anton Schlitzer.
Nasceu na Colônia Católica de São Pedro de Alcântara,
próximo de Tôrres. Casou com Maria Joaquina da Silva
Becker, tornando-se protestante. Filho: F1 – João Silistrio
(04.06.1891), batizado pelo pastor Voges.
89 – JOSÉ VIDAL. Nome: José Vidal. Tropeiro
Serrano. Integrou a Força Revolucionária de Gumercindo
Saraiva. Paradeiro desconhecido.
90 – JOCA DIONÍSIO. Nome: desconhecido. Tropeiro
Serrano. Integrou a Força Revolucionária de Gumercindo
Saraiva. Paradeiro desconhecido.
91 – ANTONIO GONÇALVES. Nome: Antonio
Gonçalves de Souza. Foi peão de Luiz Brandão Feijó. Casou
com uma jovem de família alemã, de nome Catharina.
Tiveram o filho: F1 - Manoel Tibúrcio (02.04.1881), batizado
pelo pastor Voges. Integrou a Força Revolucionária de
Gumercindo Saraiva.
92 – JOSÉ FERREIRA. Nome: José Ferreira. Tropeiro
Serrano. Integrou a Força Revolucionária de Gumercindo
Saraiva. Paradeiro desconhecido.
93 – ANTONIO FERREIRA. Nome: Antonio Ferreira.
Devia ser irmão de José Ferreira. Tropeiro Serrano. Integrou
a Força Revolucionária de Gumercindo Saraiva. Paradeiro
desconhecido.
94 – JOAQUIM RESCINDO. Nome: Joaquim Rescindo.
Tropeiro Serrano. Integrou a Força Revolucionária de
Gumercindo Saraiva. Após a fuga de Curitiba retornou para
a Serra do Pinto.
![Page 359: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/359.jpg)
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359
95 - MANECO OLIVEIRA. Nome: pode ter sido o
Maurício de Oliveira que casou com Maria Eberhardt. Filhos:
F1 – Athegirdo (12.11.1874). F2 – Albert (28.03.1877),
batizados pelo pastor Voges. Integrou a Força
Revolucionária de Gumercindo Saraiva. Retornou para Três
Forquilhas após a saída de Curitiba.
96 – SATURNO QUEROMANA. Nome: Francisco
Benício de Azevedo. O apelido tinha algo a ver com um tipo
de dança que ele praticava. Uniu-se com Carolina Pereira de
Souza. Cunhado de Rico Marques. Filhos: F1 – Maria
Ludovina (16.08.1885). F2 – Bernardino (07.10.1886),
batizados pelo pastor Voges. Integrou a Força
Revolucionária de Gumercindo Saraiva e depois retornou
para a Serra do Pinto.
97 – NEGRO DEMOCA. Nome: Pedro José dos
Santos. Uniu-se com Maria Margarida Menger. Filhos: F1 –
Martim (04.08.1881). Batizado pelo pastor Voges. Integrou
a Força Revolucionária de Gumercindo Saraiva. Após a
derrota no Paraná, retornou ao Josaphat, onde se escondeu.
98 – MILA GAMBA. Nome: Emílio Cambará. Tropeiro
Serrano. Integrou a Força Revolucionária de Gumercindo
Saraiva. Paradeiro desconhecido.
99 – ESTEVAM GAMBA. Nome: Estevão Cambará.
Tropeiro Serrano. Integrou a Força Revolucionária de
Gumercindo Saraiva. Paradeiro desconhecido.
100 – CONSTÂNCIO CANDINHO. Nome: Constâncio
Alves da Silva. Nasceu em 04.01.1876, filho de Manoel
Alves da Silva - Baiano Candinho e de Maria Luisa da Silva,
filha do negro José Custódio da Silva. O menino foi batizado
pelo pastor Voges em 10.02.1877 e adotado por Cala Beca
e esposa.
![Page 360: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/360.jpg)
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360
101 – CHICO SOVÉU. Nome: Francisco Vieira. Era
Beriva, natural de São Paulo. Tropeiro e peão de João
Patrulha, no Josaphat no Rio do Pinto.
102 – DOLFO BECA. Nome: Adolf Becker. O apelido é
apenas uma corruptela do nome. Nasceu em 01.11.1871,
filho de Christian Johann Becker e Christina Hoffmann.
Casou com Florinda Velasques em 30.05.1893. Tornou-se
cunhado do Fessô Negirdo. Abandonou o efetivo federalista
em 1894.
103 – CANDIO BECA. Nome: Johann Candea Becker,
também conhecido como João Candinho, nascido em
29.10.1879, filho natural de Maria Dorothea Becker -
cunhada de Baiano Tonho. Candio Beca era filho de Baiano
Candinho e tomara conhecimento disso desde pequenino.
Por isto, quando o seu pai foi assassinado, em 1898, seguiu
imediatamente para estar presente ao velório e ao
sepultamento. Confeccionou, na oportunidade, uma cruz de
madeira, muito resistente, feita com madeira de cerne e a
colocou na cabeceira da sepultura de seu pai. Por este
motivo, a única sepultura que ficou claramente identificada,
ao longo dos anos, foi a de Baiano Candinho. Enquanto, em
torno, as demais cruzes decaíram apodrecidas, a de
Candinho se manteve intacta, até os nossos dias. Cândio
tornou-se auxiliar de Rico Marques para zelar pelo
Cemitério, assumindo depois a tarefa sozinho. Casou com
Geraldina Preta, passando a residir na Bananeira, onde hoje
mora Júlio Baiano. Tiveram diversos filhos, que se mudaram
para Gravataí – RS.
104 – JOSÉ VITORINO. Nome: José Victorino de
Oliveira. Tropeiro Serrano. Uniu-se com a Viúva Catharina
Bárbara Becker (do falecido Jacob Klein), em 1879.
Tiveram, em 02.11.1877, as filhas gêmeas: F1 – Maria
Felisbina, que casaria com Johann Manoel Siso, em
![Page 361: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/361.jpg)
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361
21.01.1893. F2 – Maria Luisa. José Vitorino tornara-se
cunhado de “Cala Becker”. A viúva Becker tivera com Jacó
Klein, o filho Carlos Klein, em 1863. Este filho casaria com
Maria Magdalena Sparremberger em 11.12.1883.
105 – ANTONIO GRALHA. Nome: Antonio Luis da
Silva. Irmão do Sargento Gralha. Uniu-se com Maria
Hoffmann. Filhos: F1 – Maria Elina (26.12.1886). F2 – Maria
Jacintha (1890). Em relação extraconjugal com Catharina
Moraes, Antonio teve ainda o filho F3 - Bernardino Frederico
em 04.05.1887, batizado pelo pastor Voges.
106 – MANOEL FIRMINO. Nome: Manoel Firmino.
Tropeiro serrano, irmão de João Firmino.
107 – CANDINHO GASPAR. Nome: Manoel Alves da
Silva Júnior. Nasceu em 16.09.1882, filho de Manoel Alves
da Silva (Baiano Candinho) e da viúva Maria Stahlbaum, a
Gaspar, nascida Dresbach. Residia no Chapéu.
108 – CRIOULO ALVES. Nome: João Antonio Alves.
Nasceu em 1860, filho de Manoel Antonio Alves e Amaria da
Silva. Uniu-se com a preta Maria Feijó, filha de Francisco de
Paula Feijó e Juvência Feijó. Tiveram a filha Josefa
(06.10.1887), batizada pelo pastor Voges.
109 – CRIOULO TONHO. Nome: José Antonio Alves.
Negro liberto Nasceu em 1862, filho do escravo Manoel
Antonio Alves e Maria da Silva. Criado no Engenho do velho
Manoel Antonio Alves, luso, estabelecido na Limeira.
110 – MANO ALVES. Nome: Manoel Antonio Alves
Júnior, nascido em 1857, filho do escravo Manoel Antonio
Alves e de Maria da Silva. Criado no Engenho do velho
Manoel Antonio Alves, luso, estabelecido na Limeira.
![Page 362: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/362.jpg)
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362
111 – ALVES VELHO. Nome: Manoel Antonio Alves.
Escravo liberto Casado com Maria da Silva. Não confundir
com o seu dono, cujo nome ele adotara. Baiano Candinho
usou parte desse nome, quando escolheu o nome falso de
Manoel Alves da Silva. Dava a impressão de que Candinho
manteve relacionamento com essa gente, que trabalhava no
Engenho do Velho Manoel Antonio Alves.
112 – LULA GASPAR. Nome: Johann Loudwich
Stahlbaum. Nasceu na Colônia de Três Forquilhas em
26.06.1861, filho de Luis Stahlbaum e Maria Dresbach.
Seguiu como voluntário para reforçar a tropa de
Gumercindo Saraiva. Não há notícias sobre o seu paradeiro,
após a Revolução.
113 – FREDO GASPAR. Nome: Friedrich Stahlbaum.
Nasceu na Colônia de Três Forquilhas em 09.09.1866, filho
de Luis Stahlbaum e Maria Dresbach. Seguiu como
voluntário para reforçar a tropa de Gumercindo Saraiva.
Paradeiro ignorado.
114 – FILI BECA. Nome: Philipp Becker. Nasceu na
Colônia de Três Forquilhas em 20.06.1863, filho de Jacob
Becker e Elisabetha Bárbara Klein. Casou com Felisbina
Gehrmann em 1889. Refugiou-se em Amola Faca, Santa
Catarina.
115 – GORGIO BECA. Nome: Jorge Becker. Nasceu
na Colônia de Três Forquilhas em 11.04.1858 filho de Jacob
Becker e Elisabetha Bárbara Klein. Fugiu para Cima da Serra
onde mais tarde casaria com Anna Domásio da Silva, em
07.08.1896, aos trinta e oito anos de idade. Passou a residir
em São Francisco de Paula.
116 – JOÃO GUANO. Nome: Johann Heinrich Leopold
Gehrmann. O seu apelido de Guano tinha algo a ver com
cheiro ou fedor, pois ele fumava muitos palheiros por dia.
![Page 363: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/363.jpg)
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363
Nasceu na Colônia de Três Forquilhas em 28.05.1861 filho
de Johann Anton Gehrmann e Carolina Rosa. Casou com
Catharina Elisabetha Becker em 11.09.1886. Filhos: F1 –
Carolina (07.06.1887). F2 – Johann Christian (01.09.1888).
F3 – Johann Albert (09.01.1890). F4– Paulina (18.06.1892).
Foi residir no Rio do Terra.
117 – ROSA BAIANO. Nome: Michel Rosa, nascido na
Colônia de Três Forquilhas por volta de 1845. O seu pai fora
soldado imperial, durante a Revolução Farroupilha e que
permaneceu na área de Torres. Rosa Baiano casou com
Catharina Gehrmann em 1855.
118 – LUIS BAIANO. Nome: Luis da Rosa. Devia ser
um irmão de Michel Baiano. Uniu-se com Luisa Engel, uma
filha de Johannes Engel e Dorothea Menger.
119 – TILICO BERIVA. Nome não identificado.
Beriva, natural de São Paulo. Tropeiro seguiu como
voluntário para reforçar o efetivo de Gumercindo Saraiva.
Paradeiro desconhecido.
120 – JOSÉ BERIVA. Nome não identificado. Beriva –
natural de São Paulo. Tropeiro seguiu para reforçar o efetivo
de Gumercindo Saraiva. Paradeiro ignorado.
![Page 364: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/364.jpg)
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364
Os Peleadores 2ª Parte
AS LIÇÕES DE BETO ESCRIVÃO
![Page 365: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/365.jpg)
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365
O Sr.Alberto Schmitt, alcunhado Beto Escrivão,
quando o conheci em janeiro de 1970, em Itati – RS era um
intelectual, silencioso, bastante retraído e quase solitário
feito um ermitão. Vivia rodeado apenas pela esposa, filhos e
netos que eram o maior chodó dele, conforme ele mesmo
dizia.
FIGURA 31: Alberto Schmitt, escrivão de Três Forquilhas. Na Comarca de Conceição do Arroio – Osório – RS.
Fonte: Arquivo da Família Voges.
Pela formação recebida no lar e durante seus estudos
na Capital, ele fora formado para ser um castilhista
fervoroso, semelhante ao tio Carlos Frederico Voges
Sobrinho e ao pai Christovam Schmitt.
Sua formação foi, portanto, lapidada nos bancos
escolares em Porto Alegre, durante a ditadura borgista. Foi
doutrinado para ser um bom cidadão da República,
conforme os ideais castilhistas, borgistas e getulistas.
Mesmo assim, ele se revelou um pensador sóbrio e
jamais perdeu as lições transmitidas pelo seu bisavô, um
![Page 366: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/366.jpg)
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366
líder fraterno, o pastor Carlos Leopoldo Voges e, em menor
escala, pelo avô paterno Wilhelm Schmitt, e avô materno
Major Adolfo Felipe Voges, que haviam sido expoentes na
condução dos interesses maiores da Colônia Alemã de Três
Forquilhas, na área do Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
Beto Escrivão sabia contar muitas histórias
interessantes sobre os tempos antigos da Colônia de Três
Forquilhas. É lastimável que não dedicávamos mais tempo
para ouvi-lo e para registrar o vasto cabedal de informações
que ele tinha para oferecer.
Pelo menos eu fiz a minha parte, pois dele fiz uma
das minhas mais valiosas fontes da tradição oral, o que me
permitiu dar início, em 1970, para as minhas pesquisas que
redundaram na redação dos livros desta Coleção Memórias
da Figueira.
Beto, ao me falar sobre a fase anterior à Revolução
Federalista, costumava enfatizar que o seu avô, Major
Voges insistira com ambos os lados, dizendo: - “O sangue
de Abel clamará aos céus. Ninguém derrama impunemente
o sangue de um irmão. Todo o sangue derramado, sempre,
haverá de clamar por justiça”.
Major Voges dizia tais palavras se referindo ao
possível choque entre castilhistas e maragatos, insistindo
que é o ódio que se acumula que gera os homicídios.
O acervo do antigo cartório
O fato que mais me chamou a atenção foi quando
Alberto Schmitt me conduziu até uma sala grande que
servira de Cartório Distrital de Três Forquilhas, da Comarca
![Page 367: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/367.jpg)
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367
de Conceição do Arroio e, me mostrou o acervo que vinha
desde a data em que Christovam Schmitt assumira o cargo.
Alberto explicou: - “Ainda bem que, no dia de
casamento de Major Voges com a Bina Rosina, lá no Sítio da
Figueira, o pastor Voges decidiu ceder este espaço para o
meu pai”.
Fiquei encantado com este acervo de documentos ali
guardados em prateleiras, armários e cômodas com
gavetas. Era um acervo completo de quase sessenta anos
de funcionamento desse Cartório Distrital, primeiro com
Christovam Schmitt e que depois passou para o filho.
Alberto, depois de aposentado, apenas entregou os livros
oficiais de registro e os documentos que por lei deviam
passar para o novo escrivão. O restante do material,
considerado de propriedade particular do escrivão, ali
estava bem organizado e fácil de ser consultado.
Parei diante de uma prateleira aberta, não
envidraçada e ele explicou: - “Este é o arquivo de
inventários que vem desde que meu pai, em 1886, assumiu
o Cartório”.
Alberto explicou: - “Aqui só temos inventários...”
Deviam ser centenas de inventários, que estavam
transformados em rolos, amarrados com um barbante e
empilhados, soltos, ocupando assim bastante espaço.
Perguntei: - “Esses papéis transformados em rolinhos
ocupam bem maior espaço do que se os mesmos tivessem
sido simplesmente empilhados, abertos, uns sobre os
outros?”.
Alberto explicou: - “É verdade, esse procedimento
aumenta o volume, ou ocupa maior espaço... Mas isso é
importante para a conservação desses documentos. Os
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papéis em rolos permitem maior ventilação e uma ação da
naftalina, para espantar eventuais traças”.
Em outro armário estavam guardados livros da
Justiça Eleitoral e processos para a inscrição de novos
eleitores, que vinham desde o ano em que os moradores de
Três Forquilhas puderam ser eleitores. Do acervo constavam
também algumas segundas vias de títulos eleitorais, todas
enroladas, uma por uma, amarrados com barbante.
Em outro armário estavam guardados processos de
casamento que vinham desde o tempo de Christovam
Schmiitt.
Ele mostrou mais duas simples prateleiras abertas,
sem porta envidraçada. Ali não eram rolos, mas pilhas de
processos. Ele explicou: - “Aqui são somente documentos
de intenção de venda de terras e algumas segundas vias de
escrituras de compra e venda de propriedades. Estes papéis
precisam ser guardados com muita responsabilidade, pois
poderiam servir para a prática de fraudes e vendas ilícitas
de terras”.
Estavam ali algumas cômodas altas, só de gavetas e,
ele apontou para uma delas, dizendo: - “Aqui estão
somente documentos pessoais do meu pai, também do
período em que ele foi secretário da nossa Igreja no vale do
rio Três Forquilhas”.
Em outra gaveta as cômodas guardavam poesias de
Alberto, cartas pessoais, documentos da família,
presentinhos e mimos que ele deu à sua amada, desde o
tempo de solteiro, de namoro, noivado e depois casamento
com Lúcia Jacoby que, quando ouviu seu nome, veio
prestimosa para nos servir um cafezinho.
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Na terceira cômoda de gavetas ele mostrou
documentos de valor histórico. Ele explicou: - O documento
mais antigo em meu poder é de 1853, assinado pelo meu
avô Comandante Philipp Peter Schmitt onde ele declara
inaugurado o templo de pedra. Mostrou outro documento
onde Philipp Peter Schmitt transferia a sua casa comercial
para Wilhelm Schmitt assim que ele viesse para casar com a
filha do Comandante. Era uma espécie de testamento ou
talvez um simples dote para o noivo
Havia mais outro documento onde o Comandante
definia os bens que caberiam a cada uma das outras filhas,
também em formato de testamento, pois começava assim:
< De posse plena de minha faculdade mental e com a fé
firme em nosso Senhor Jesus Cristo, transmito os seguintes
bens para as minhas filhas... >.
Finalmente fomos até um armário menor,
envernizado, fechado com portas envidraçadas. Eram quem
sabe quatro prateleiras. Alberto abriu o armário, pegou uma
pasta e mostrou: - “Aqui tenho guardadas cartas com o
envelope incluso. Sempre sonhei fazer algum dia uma
coleção de selos e pensei ser esta a melhor maneira de
conservá-los”.
Ele pegou uma pasta e explicou: - “Não abrirei esta
pasta, pois nela estão conservados documentos e cartas de
meu pai referentes à Maçonaria. Aqui constam os nomes
das pessoas do vale que se ligaram à Maçonaria e iam para
as reuniões da loja em Osório”.
Depois ele pegou outra pasta, abriu e explicou: -
“Aqui tenho só cartas endereçadas para o Coronel Carlos
Frederico Voges Sobrinho, o nosso Chefe do Partido
Republicano no vale do Três Forquilhas, eu servi de
secretário do partido em nossa localidade”.
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Alberto pegou um envelope e o mostrou para mim,
dizendo: - “Veja aqui, uma carta enviada por Fernandes
Bastos remetida, para o Carlos Voges alertando para graves
problemas da esfera político administrativa, da época da
ditadura do Borges de Medeiros”.
Onde foi parar todo esse rico acervo? Em 1990
alguém me segredou: - “Foi feita uma faxina e os papéis
velhos foram queimados, numa enorme fogueira, feita nos
fundos da casa, na direção do taquaral”.
Importa conhecer a história
Alberto Schmitt era considerado, em 1970, a pessoa
com maior conhecimento a respeito do povo do vale do rio
Três Forquilhas, da história local. Foi um homem que lia
muito. Descobri que ele era um dos poucos assinantes do
Correio do Povo e ele me levou a também ser assinante
desse jornal. Além disso, Alberto recebia revistas editadas
no Brasil e na Alemanha. Ele mostrou-me, um dia, uma
revista Der Spiegel, onde destacava uma matéria
interessante sobre os horrores praticados pelo nazismo, em
campos de concentração, na Alemanha.
Alberto Schmitt era pessoa de pensamento aberto e
não receava criticar a sua própria ideologia política,
mostrando que o erro não mora apenas na casa dos
opositores, mas tende a se instalar também na própria
casa, daquele que se acha cheio de razões.
Certo dia ele simplesmente disparou palavras, me
alertando: - “Não cometa o mesmo erro em que pastor
Schlegtendal, caiu em 1895”.
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Fiquei não só curioso, mas na defensiva, pois soava
um tom que servia como uma espécie de crítica ou de alerta
e perguntei: - “Qual teria sido o erro desse pastor e no que
devo cuidar para não incorrer nele?”.
- “Ele não deu valor para a história da Comunidade”,
explicou Alberto.
Depois ele continuou: - “Schlegtendal veio e logo se
comportou como aquele que sabe tudo, melhor que todos
juntos. Apregoava sobre a boa universidade que ele
frequentara e da formação na teologia da Igreja Luterana
da Alemanha. Isso era verdade, pois que de fato recebera
uma fina formação acadêmica. Mas ele não devia ter vindo
para impor de uma só vez as normas de crença e de
conduta, para um povo que vinha de uma história própria e
bem diferente e muito longa. Afinal foram mais de sessenta
anos de pastorado do Voges. E, eis que vem o Schlegtendal
querer que, de um momento para o outro, todos passassem
a rezar pela cartilha dele”.
O assunto relatado por Alberto tornou-se
extremamente interessante e eu só tinha mesmo a
aprender com o que ele queria me contar. Ele continuou,
explicando: - “A época de 1895 que Schlegtendal enfrentou
tem algumas semelhanças com o que você terá pela frente,
agora, em 1970”.
- “Isso me interessa”. - Falei. – “Que situações
Schlegtendal e eu temos em comum?”.
Alberto falou: - “Tem em comum o fato de serem
inexperientes e sem conhecimento da história e da situação
da Comunidade de Três Forquilhas. Ele enfrentou este
mesmo tipo de dificuldades, também em uma época de
transição. Schlegtendal entrou no vazio deixado pela morte
de importantes lideranças locais, como pastor Voges e
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esposa, mais o maestro e regente Christian Tietböhl e a
morte de Mãe Maria que era a líder dos negros. Em 1895 a
nossa Comunidade enfrentou um vazio gritante. Explico isso
melhor, pois é preciso ver como um homem, o major Adolfo
Felipe Voges, que tinha o melhor conhecimento da situação
na Comunidade foi simplesmente derrubado, assim como
fazem com a bananeira que já deu o seu cacho. Os jovens
políticos, do partido oposto, disputavam o espaço e queriam
ter o poder político. Você vive algo parecido neste tempo da
revolução dos militares. As lideranças de Osório
aproveitaram o regime militar para tirar os opositores do
poder. Por exemplo, o Eugenio Bobsin que ara nosso
subprefeito de Itati, perdeu o cargo. Ainda este mesmo
Eugenio Bobsin perdeu também a liderança comunitária,
havendo quem lembrasse que ele era bananeira que já deu
seu cacho”.
Fiquei escutando em silêncio, pois as explicações
eram consistentes e me interessavam muito. Alberto
Schmitt logo prosseguiu contando um pouco de história: -
“Schlegtendal e você tem em comum um momento de uma
Revolução, algo que mexe com todo o povo”.
Eu queria ouvir o pensamento desse homem, a
respeito de duas revoluções tão distintas, ocorridas em
épocas diferentes, mas que ele insistia em dizer que
ofereciam situações semelhantes para a atividade pastoral,
no caso, de um pastor jovem, inexperiente e solteiro, pois
esse era também o meu caso.
Alberto Schmitt explicou: - “Sou de opinião de que
os federalistas, entre 1893 a 1895 não souberam ao certo
para o que eles haviam se colocado em armas. A princípio
parecia que era para mostrar apenas força e se fazer
respeitar. Mas em seguida partiram para as vias de fato. O
que eu nunca entendi é que os federalistas, ao invés de
apenas derrubar Júlio de Castilhos, enquanto isso ainda era
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possível, para implantarem as idéias políticas que eles
defendiam, de repente eles saíram numa corrida
tresloucada tomando o rumo ao Rio de Janeiro. O que eles
conseguiram com isso? Deram a Julio de Castilhos um
refresco, pois a luta deixou de ser contra ele e ajudaram a
transformar esse caudilho num grande paladino
riograndense, que ajudou a socorrer Floriano Peixoto, a
manter o Governo da República do Brasil em andamento”.
Comecei a ficar cansado, pois a minha mente não
conseguia continuar recebendo tantas informações,
certamente interessantes, mas muito amplas e complexas.
Diante disso pedi: - “Seu Alberto, o dever da atividade
pastoral me chama. Peço licença e gostaria que esse
assunto pudesse ser retomado, em outra ocasião”.
Na verdade, eu só tinha a agradecer pela
disponibilidade demonstrada pelo antigo escrivão, em sua
admirável boa vontade, para me orientar e me ajudar,
contando histórias reais do passado, para não cometer os
mesmos erros já cometidos por outros, em outros tempos
da história local.
A Escola da Comunidade
Em outra visita que fiz a Alberto Schmitt perguntei
desejoso de saber: - “Como foi a Escola da Comunidade, na
sua infância, já que conheceu a mesma, já bem no final do
tempo do pastor Voges?”.
Ele explicou: - “Realmente, eu comecei a ser
alfabetizado quando o meu bisavô pastor Voges ainda era
vivo, mas já estava com quase noventa e dois anos de
idade. Pouco ainda existia da escola que ele um dia
organizara e desenvolvera nos bons tempos de sua
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atividade pastoral. Quando comecei a frequentar a escola já
haviam começado os tempos difíceis da revolução
federalista. Mas a escola do pastor ainda funcionava no
sobrado, no piso superior, onde existiam bancos escolares,
a mesinha do professor, mapas na parede e livros escolares.
Eu gostava de subir até ali só para olhar os mapas e tentar
entendê-los. Você sabe o que significava a oportunidade de
poder olhar um mapa do Rio Grande do Sul ou do Brasil
para ali procurar o nosso litoral e ver as lagoas e os rios
desenhados, com os nomes deles marcados?”.
Alberto observou por instantes a minha reação e
depois, satisfeito em ver o meu integral interesse,
continuou: - “Todas as escolas da Colônia haviam
estagnado, sem atividade pela falta de professores e pela
falta de uma segurança pública que era bastante instável. É
preciso explicar que a maioria dos professores foram
perseguidos por serem liberais indicados pelo meu avô
major Voges. Um exemplo para isso foi o caso do nosso
professor Serafim Agostinho do Nascimento que era o nosso
professor de língua nacional e que havia alfabetizado tantos
alunos na nossa escola da comunidade, que ele até já
perdera a conta. Eu felizmente ainda recebi a possibilidade
de ser alfabetizado pelo professor Serafim e isto fez depois
toda a diferença para a continuação dos meus estudos,
quando fui para a Capital da nossa Província”.
Fiz alguns apontamentos e Alberto ficou me
observando por um instante e depois continuou: - “Quando
o pastor Geisler chegou, pretendeu assumir aulas na escola
para oferecer também a possibilidade de uma alfabetização
na língua alemã. Tive, talvez dois meses de aulas com ele,
mas o pastor cancelava muitas dessas aulas e nós
esquecíamos a sequência das lições. O número de alunos foi
caindo muito e no final éramos menos de dez. Ficamos
muito tristes quando um dia o pastor Geisler avisou que
teria que viajar por algum tempo para cuidar da saúde da
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375
mulher dele. Ela estava muito atemorizada com as mortes
em nossa Colônia, trazidas pela câimbra de sangue – a rote
Ruhr”.
Pedi licença e solicitei mais explicações sobre essa tal
de câimbra de sangue e ele explicou: - “Era uma epidemia
que apresentava todos os sintomas da cólera, conforme
descobri mais tarde”...
Alberto só falou isso a respeito da epidemia e
continuou com o assunto da sua escolarização, dizendo: -
“Em 1894 não tivemos um dia de aula, pois o sobrado do
pastor ficou em estado de quarentena por causa da morte
de minha bisavó Elisabetha e mais de Mãe Maria. Quando
vinham tropas republicanas ou federalistas pediam para
ocupar o sobrado e meu avô major Voges permitia,
dizendo: < Eles vão ajudar a desinfetar a casa e que levem
embora, com eles, essa câimbra de sangue... >“.
Alberto sorriu, como para revelar que estava
exagerando no conto e que aumentara alguns pontos.
Depois continuou: - “Quando chegou da Alemanha o novo
pastor Gottfried Schlegtendal ele resolveu transferir a escola
para a casa dele, alegando que era mais prático. Ele
dispensou o professor Serafim que, mesmo aposentado
desejava oferecer a possibilidade de alfabetizar crianças na
nossa língua nacional. Nunca esquecerei o dia em que o
meu pai e o novo pastor discutiram aqui diante da porta do
sobrado, pois que aqui também era nossa morada e
cartório. O meu pai insistiu que era importante contratar um
professor de língua nacional, para possibilitar aos filhos dos
colonos, mais adiante pudessem enviar os filhos para
continuar os estudos. Depois eu soube que meu pai e o
pastor não discutiram apenas uma vez, mas diversas vezes.
O novo pastor teimava e dizia que na escola da comunidade
haveria apenas ensino na língua alemã e seria denominada
de Escola Alemã, da Comunidade, pois que escola de língua
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376
nacional deveria ser oferecida pelo Governo e não pela
Igreja. Essa decisão do pastor não foi boa para nós... Esses
tempos do pastor Schlegtendal depois pesaram sobre nós,
pela falta do domínio da língua nacional, por parte das
crianças que ingressavam na vida escolar.”
Esse assunto despertou o meu total interesse, pois
que eu estava com a atenção voltada para a situação atual,
de 1970, desejoso de movimentar a Comunidade em favor
da ampliação da atividade educacional em nossa localidade.
Considerei que era pouco o que se oferecia para alunos e
professores e que muita coisa poderia ser melhorada e
aperfeiçoada no vale do rio Três Forquilhas.
O Plano de Educação 70
Saindo da residência do Sr. Alberto Schmitt eu me
senti altamente motivado para priorizar as ações pastorais,
e colocar a educação como a opção preferencial, diante dos
inúmeros projetos que eu havia elaborado por sugestão dos
militares da Operação ACISO, que estivera durante quase
duas semanas em Itati.
Busquei os depoimentos de Eugenio Bobsin, Arthur
Gottlieb Erling, José Osvaldo Brusch e Octavio Becker para
saber algo mais sobre a atividade escolar desenvolvida
pelos meus antecessores, os pastores brasileiros Augusto
Ernesto Kunert, Oscar Hennig e Ernesto Fischer. As histórias
que consegui coletar foram muito interessantes.
Constam em meu registro os relatos a respeito do
tempo do pastor Augusto Ernesto Kunert – 1948 - 1954, um
líder que veio para uma comunidade quase desintegrada
pelos efeitos da II Guerra Mundial e de quase seis anos de
vacância pastoral.
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377
O pastor Kunert lançara o programa DESPERTAR
VOCAÇÕES, depois mantido pelos pastores Hennig, Fischer
e por mim.
Conforme esse programa, até bem simples, a
comunidade toda era convidada a participar em um
empenho coletivo para localizar e despertar vocações em
particular de jovens para serem enviados a Escolas Normais
da Igreja de São Leopoldo e Novo Hamburgo, para uma
formação e qualificação no exercício do magistério.
A primeira pessoa a atender ao apelo da campanha
de vocações encetada pelo pastor Kunert, foi alguém do
sexo feminino. As jovens Noely Becker e Nilza Huyer
responderam ao apelo e foram enviadas a São Leopoldo
para cursar a Escola Normal Evangélica, mantida pelo
Sínodo Riograndense.
Essas duas jovens depois de formadas retornaram ao
vale e receberam vaga na Escola Evangélica José de Alencar
que passou a funcionar no salão comunitário em Itati. Mais
tarde o pastor Kunert diria: - “A Noely Becker e a Nilza
Huyer são as meninas dos meus olhos e representam a
primeira conquista em nosso programa do Despertar
Vocações”.
Pastor Fischer, após 1960, concedeu um novo
impulso para este programa de vocações para o magistério
e diversos jovens saíram para São Leopoldo e Novo
Hamburgo. Para a Fundação Evangélica seguiram Doris
Voges Bobsin e Neli Brusch Erling. Para o Colégio Sinodal
em São Leopoldo foram Luis Carlos Voges Bobsin, Carlos
Jacó Bobsin, Odilon Becker Bobsin e Lizete Maria Voges
Bobsin.
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378
Outros jovens seguiram para continuar os estudos,
mas que escolheram caminhos menos onerosos. São
mencionados Lucia Maria Schmitt, filha do escrivão Alberto
Schmitt, o Pedro Osmar Schütt, a Maria Zeni Voges de
Oliveira, a Nerene Brusch Erling, a Marina Brusch e a Nelene
Gross.
Para a Base Aérea de Canoas seguiram os filhos de
Dona China Bobsin, que era vizinha da casa pastoral. Foram
os jovens Oscar e Edgar Bobsin que foram para seguir a
carreira militar.
Nos depoimentos coletados é muito interessante o
que o Sr. José Osvaldo Brusch dizia com orgulho: - “Eu
ajudei a alfabetizar as minhas filhas Marina e Maria Regina.
A Marina34 teve que ir fazer o ginásio em Osório no Colégio
Conceição. Depois fez Escola Normal, também em Osório e
veio lecionar em nossa Escola da Comunidade. Já a
Regina35, depois de também fazer o primário em Itati, fez
um ano no Ginásio Conceição em Osório, três anos no
Ginásio Evangélico Alberto Torres em Lajeado, depois a
Escola Normal La Salle em Osório. Ela fez estágio na Feitoria
Velha, pelo Colégio São José de São Leopoldo. Isso mesmo,
ela deu aula lá naquele prédio histórico onde os nossos
antepassados foram acolhidos, no tempo da imigração
desde 1824. Paralelamente a Regina começou a cursar
Letras, na Faculdade de Ciências e Letras de São Leopoldo.
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379
FIGURA 32: Na residência de Osvaldo e Elohy Brusch.
Maria Regina na espreguiçadeira, a direita Doris, de preto, a esquerda a professora Nelene Gross, e na cadeira ao centro Eva Maria Bobsin.
Na porta da residência Dona Lóia Brusch, dona da casa. Fonte: Acervo fotográfico do autor, 1970.
O Sr. Arthur Gotlieb Erling sempre insistia em
recordar das enormes dificuldades financeiras que eram
enfrentadas por colonos que desejavam proporcionar aos
filhos a possibilidade de viajar e continuar os estudos fora
de Itati. Ele lembrou: - “O meu filho Nilon36 trabalhava no
hotel do Osvaldo e da Lóia Brusch, ali na praia de Bom
Jesus para ganhar seu dinheirinho. Certo dia lá se hospedou
um militar da Base Aérea de Canoas, que perguntou: < Meu
caro jovem, você não gostaria de servir na nossa Base
Aérea? >. Para o Nilon pareceu ser um sonho, mas que se
concretizou. Quando já trabalhava na Base Aérea decidiu
que não podia se contentar apenas com isso. Desejava ter
um curso de nível superior Fez então o vestibular para
Medicina em Pelotas, passou e frequentou essa faculdade
com grande sacrifício, porque tinha de fazer trocas de
plantões da base e inclusive remunerar eventuais trocas”.
O Sr. Erling continuou explicando: - “O meu outro
filho, o Nei37, incentivado pelo irmão Nilon foi para Canoas
![Page 380: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/380.jpg)
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380
para a conclusão do curso secundário. Lá ele foi selecionado
e conseguiu fazer o Curso Superior de Cartografia”.
O Sr. Octavio Becker comentou: - “E eu consegui
enviar a minha filha Cenira para a cidade serrana de Canela
onde ela teve a possibilidade de ficar hospedada na casa do
meu irmão. Ali ela realizou seus estudos numa Escola
Normal e, agora em 1969, formou-se para o magistério”.
Deste modo descobri que existiam professoras que
haviam se formado nesse final de 1969 e que deveriam ser
trazidas, de volta, para o vale do rio Três Forquilhas.
Eram as professoras Doris e Cenira e que passaram a
receber uma motivação e apoio permanente da
Comunidade, para serem contempladas com uma vaga em
Itati, para o exercício do magistério. Em outro momento
esse assunto voltará à baila para maiores detalhes sobre
esse trabalho de apoio para professores recém formados.
Escola Nacional na Figueira
Retornando aos acontecimentos de 1895, conforme
Alberto Schmitt, as discussões acaloradas com o pastor
Schlegtendal, não foram apenas com Christovam Schmitt. O
chefe castilhista da Colônia Carlos Frederico Voges também
tinha filhos em idade de alfabetização e insistia que a Escola
da Comunidade se mantivesse bilíngue. Entretanto não
havia argumento que convencesse o novo pastor, a dar
espaço para a língua nacional, sempre insistindo: < O
sagrado dever de todo o evangélico é de zelar pela língua
alemã, pois disto é que depende o futuro da nossa Igreja
em terras brasileiras >.
![Page 381: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/381.jpg)
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381
Carlos Frederico Voges negociou um espaço ocioso
no Armazém da tia dele, que distava a duzentos metros do
Sítio da Figueira. A viúva Elisabetha König Voges diminuiria
consideravelmente as atividades comerciais de modos que o
salão dos fundos estava sem ocupação prática. Em 1895 ela
cedeu aquele espaço para a instalação de uma sala de aula
para a Escola Nacional para ali serem alfabetizadas crianças
que tencionassem continuar os estudos fora da Colônia.
Em 1899 Carlos Voges adquiriu toda a propriedade
comercial da tia e transformou a casa principal em escola de
língua nacional.
Enquanto isso a Escola da Comunidade permaneceu
atrofiada, na condição de Escola Alemã com um ensino para
dois anos. O primeiro ano era dedicado à alfabetização na
língua alemã. O segundo ano era dedicado para noções de
aritmética e conhecimentos gerais da cultura alemã. Havia
ainda um terceiro ano voltado exclusivamente para o ensino
confirmatório ou ensino da doutrina luterana.
Esta situação se manteve durante todo o período do
chamado tempo dos pastores alemães de 1895 até 1943,
quando, durante a II Guerra Mundial o pastor Schreiner foi
preso e conduzido para Novo Hamburgo. Durante esse
longo período a Escola Alemã de Três Forquilhas ajudou a
isolar uma grande camada da população evangélica desta
antiga Colônia Alemã, particularmente as famílias de
colonos mais humildes que não tinham recursos para
oferecer uma continuação nos estudos para os filhos.
Vieram gerações de pessoas isoladas, vivendo em seus
guetos de língua e cultura, bastante alienadas e divorciadas
de uma participação mais efetiva na vida social e política da
localidade e da região. Pessoalmente nunca consegui me
afinar com a corrente germanista38, às vezes exacerbada,
que dominou a Igreja à qual pertenço e sirvo.
![Page 382: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/382.jpg)
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382
A Guerra foi o sinal definitivo, quando as Escolas
Alemãs foram proibidas de funcionar, em todo o território
brasileiro, a Igreja havia tomado a carruagem errada, pois
de repente a língua alemã foi proibida e muitas famílias
passaram dificuldades desnecessárias, pelo simples fato de
não terem recebido as noções mais elementares da língua
nacional. Estiveram certas as lideranças que desejavam um
ensino bilíngue na escola mantida pela Igreja.
Com a prisão do idoso pastor Gustav Schreiner, já
alquebrado, doente, quase sem condições de andar a
cavalo, foi que a Comunidade ainda teve que amargar
diversos anos de vacância pastoral
Com a vinda do primeiro pastor brasileiro para a
Comunidade Evangélica de Três Forquilhas surgiram as
medidas necessárias para situar o ensino escolar dentro das
exigências governamentais.
O pastor Augusto Ernesto Kunert, como medida
imediata, criou a Escola Evangélica José de Alencar,
sucessora da Escola de Voges e da Escola Alemã. As aulas
passaram a ser integralmente na língua nacional. Pastor
Kunert lançou então o programa Despertar Vocações com o
objetivo prioritário de formar filhos desta localidade, para
assumirem o magistério em escolas mantidas pelo Sínodo
Riograndense.
Pastor Fischer, a partir de 1960 procurou reativar
esse programa, mas constatou que a maioria das famílias
sofria de dificuldades financeiras e, a princípio, enviaram os
filhos para Osório, onde havia uma Escola Normal. Apenas o
presidente da Comunidade, Arthur Gottlieb Erling e o
industrialista Emilio Bobsin39 corresponderam ao apelo e
enviaram filhas para a Fundação Evangélica de Hamburgo
Velho.
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Doris Voges Bobsin foi, em 1961, aos oito anos de
idade, para realizar o então chamado ensino ginasial, para
somente depois poder ingressar no Colégio Normal, no nível
secundário. Ela permaneceu durante oito anos fora de casa,
confinada no internato da Fundação Evangélica, em
Hamburgo Velho.
Doris concluiu o curso como professora do nível de
2º grau, em 1969, quando sua mãe veio a falecer. Talvez
este fato a motivou a permanecer em Itati, pois ficara o
irmãozinho dela, de apenas quatro anos de idade, agora
órfão de mãe e decidiu tomar o encargo desse cuidado por
ser madrinha de batismo do pequenino. Parecia até que a
mãe previra algum problema ao escolher a filha para ser
madrinha desse caçula.
O pupilo dos meus olhos
Entre 1970 a 1975 me foi dada a satisfação de
localizar diversos jovens que responderam ao programa de
Despertar Vocações, que eu havia reativado imediatamente
após a minha chegada em Itati, considerando isso como
medida de suma importância para a Comunidade.
A primeira vocação foi do jovem Oneide Bobsin40 que
estava se formando no Curso Ginasial de Osório. Sem
querer plagiar o pastor Kunert, que chamou Noely Becker e
Nilza Huyer de meninas dos olhos dele, eu escrevi: <
Oneide é o pupilo41, iris ou o preto dos meus olhos que veio
coroar o reinício desse fecundo trabalho de despertar
vocações na Comunidade de Itati >.
Oneide Bobsin foi o primeiro, depois do ano de 1970,
que decidiu seguir os estudos em uma escola eclesiástica,
para receber uma aprimorada formação em um educandário
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do mais alto nível para se tornar um obreiro cristão e
luterano.
Oneide foi em seguida para a Faculdade de Teologia
da IECLB.
Depois dele muitos jovens desejaram seguir-lhe os
passos e continuar os estudos.
Puderam ainda ser enviados para escolas da IECLB
os jovens: Carlos Henrique Mauer, Gilson Dahl, Eneu Voges
e Genésio Bobsin.
FIGURA 33: Jovens da Comunidade do vale do Três Forquilhas, prontos para a apresentação do Presépio ao Vivo. O jovem Oneide fez o papel do carpinteiro José. À direita: Oneide, em detalhe de zoom. Essa
Cantata de Natal foi ensaiada pela professora Doris Voges Bobsin. Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1972.
Mais adiante seguiram Gilmar Nascimento e suas
irmãs e primas, descendentes do dedicado professor
Serafim Agostinho do Nascimento.
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Seguiu também um jovem católico, o José Carlos
Torres42 apresentou-se desejoso de seguir os passos de
Oneide Bobsin.
Porém a Escola Normal Evangélica de Ivoti exigiu
que, para ser matriculado na Escola Normal Evangélica de
Ivoti, o jovem teria que tornar-se luterano, pois que o
educandário era de cunho confessional, voltado para a
preparação de obreiros eclesiásticos.
Lançando o PADICAMI
Às vezes alguém inventa uma sigla que não pega.
Isso aconteceu comigo em 1970, no vale do rio Três
Forquilhas quando lancei a idéia do PADICAMI.
Isto ocorreu durante um encontro de planejamento,
realizado na casa pastoral. Desde estudante sempre gastei
tempo com planos, projetos e criação de uma respectiva
sigla que melhor pudesse identificar o propósito.
O PADICAMI nada mais era do que simplesmente:
Plano de Ação Diaconal Catequético Missionário. Um plano
que visava implementar, maior amplitude e consistência
para o Projeto de Educação 70.
Os líderes reunidos simplesmente não se animaram
para repetirem o nome da sigla, e passaram a falar somente
em Projeto de Educação 70, como um termo certamente
bem mais agradável para os ouvidos deles, e, que definia
muito bem o que estava em jogo. Já que a nossa opção
prioritária havia sido pela educação, o que importava
mesmo era de, também, priorizar ações neste sentido.
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A etapa inicial foi de uma tomada de conhecimento
da situação. Para tanto foram reunidos diversos professores
com destaque para Pedro Osmar Schütt e, algumas
lideranças antigas da comunidade tais como Eugenio
Bobsin, Arthur Gottlieb Erling, José Osvaldo Brusch e
Octavio Becker.
Um entrave ao pastorado
De modo inesperado, em 1970 surgiu uma oposição
não imaginada ao meu trabalho pastoral. Eu muito bem
soubera quando do meu envio emergencial para servir a
Comunidade de Três Forquilhas, que o melhor para mim,
teria sido o caminho da Faculdade de Teologia, em São
Leopoldo e não a ida prematura para exercer o pastorado
em Itati onde eu deveria ter sido somente um auxiliar do
pastor local, para um estágio prático de aprendizagem.
Tanto o diretor Hans Günther Naumann bem como o
Pastor Augusto Ernesto Kunert, no entanto, haviam feito um
veemente apelo para que eu protelasse o ingresso na
Faculdade de Teologia, lembrando que um rebanho estava
mal assistido, com um pastor que desejava ter um pouco
mais de descanso.
Fui enviado para assumir funções pastorais e para
isso, eu e diversos de meus colegas, havíamos sido
previamente preparados, pois a Igreja estava consciente da
falta momentânea de obreiros, do ministério pastoral, em
diversas Comunidades da IECLB.
Os dirigentes da Igreja, no entanto, esperavam que,
mesmo aposentado, o pastor Ernesto Fischer pudesse ainda
aguentar pelo menos mais meio ano, para me dar tempo de
aprender, de conhecer e de saber um pouco mais a respeito
![Page 387: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/387.jpg)
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da realidade social e espiritual, bem como das exigências
pastorais para uma Comunidade em situação de quase
diáspora.
No dia 1º de janeiro de 1970 o meu antecessor
pastor Ernesto Fischer que se aposentara demonstrou um
forte grau de aflição e insistia em dizer: - “Eu e a Hanna
decidimos que chegou a hora de concedermos mais atenção
para o nosso filho Franz. Ele irá estudar em Taquara e lá
queremos organizar um lar e um aconchego para ele...
Portanto, sem tardar, até o mês de fevereiro quero ter a
minha morada definida, em Taquara”.
Naquele dia 1º de janeiro de 1970, em Assembléia
Geral Ordinária, o pastor Fischer falou: - “Apresento para a
Comunidade o seu novo pastor. O meu colega Elio Müller
aqui está, diante do altar, para receber a responsabilidade
pastoral pela Paróquia”.
Pela manhã, bem cedo. Eu já havia o alertado: - “Eu
não tenho nem batina, pastor Fischer!”.
Fischer emprestou-me então uma velha batina, toda
surrada e desbotada que ele tinha guardado num guarda
roupa. O pior não era o fato de ser já um pano velho e
surrado, mas sim o tamanho dessa batina. Ela era
demasiadamente curta, pois mal chegava até os meus
joelhos, como se fosse uma minissaia. Em tom de humor
comentei: - “Eu não sabia que o uso da minissaia, ou
melhor, de minibatina, chegou para esse interiorzão e aqui
já é permitida...”.
Pastor Fischer não achou graça no meu comentário e
me encarou com seriedade, dando sinal que esse tipo de
humor não era do seu agrado.
![Page 388: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/388.jpg)
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Só para explicar, duas semanas mais tarde viajei até
São Leopoldo e mandei fazer uma batina nova, enorme, que
cobria até os meus sapatos.
Parecia que aquela minibatina me traumatizara um
pouco. O preço dessa nova veste foi bem alto. Felizmente a
costureira oficial da IECLB ficou penalizada por causa de
minha extrema pobreza e me fez o preço à vista em cinco
vezes sem juros. Falo em extrema pobreza, pois eu recebia
quatrocentos cruzeiros por mês, insuficiente para pagar
uma batina, à vista.
Expliquei à costureira que além dessa batina eu
também precisava comprar, com urgência, alguns livros
essenciais para o desenvolvimento da tarefa de pregação e
orientação pastoral de crianças, jovens, adultos e idosos. Os
livros em português eram quase inexistentes... Os livros de
língua alemã eram importados, e o preço calculado na base
da conversão do marco alemão para o nosso cruzeiro.
Preciso confessar que em dezembro de 1969, quando
segui para o vale do rio Três Forquilhas, eu tinha poucas
coisas. Na verdade eu trouxera comigo apenas uma mala de
tamanho médio com minhas roupas e mais a minha Bíblia, o
meu hinário, um livro de doutrina e escassos cadernos para
a elaboração de aulas de catequese que a nossa Equipe de
Catequese elaborara recentemente. Eu não tinha
absolutamente nenhum livro teológico e nenhum material
de auxílio homilético.
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FIGURA 34: Em 1970, já com a minha nova batina.
Escrevi atrás desta foto: COM TEMOR E TREMOR ASSUMI O PÚLPITO E O ALTAR.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1970.
Com tremor e temor recebi o pesado encargo desta
tarefa pastoral que, como já comentei em outro ponto, ia
bem além da minha capacidade. Mas só sobrou uma
possibilidade para mim, naquelas circunstâncias: < Fazer o
melhor possível, com fé e confiança de que Aquele que me
enviara, também haveria de me conceder forças e
inspiração para realizar a missão >.
Meses depois o pastor Fischer apareceu
repentinamente em companhia dos pastores Augusto
Ernesto Kunert e Martin Reusch, avisando: - “Convoquei
uma reunião do Presbitério da Comunidade para revisarmos
a tua permanência no exercício do pastorado”.
Levei um susto, pois eu não havia sido notificado
dessa reunião e depois constatei que nem os presbíteros o
haviam sido e tiveram que ser avisados, às pressas, um a
um, para uma reunião emergencial. Nem todos vieram, pois
![Page 390: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/390.jpg)
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sempre há quem viaja ou quem não está em casa, mesmo
que seja um agricultor.
Pastor Fischer confidenciou para mim: - “Irmão Elio,
você não imagina as reclamações severas que recebi da
parte de alguns pastores ordenados da nossa IECLB que
alegam que cometi um grave erro ao entregar toda uma
Paróquia para um jovem despreparado e, além disso,
também inexperiente, para saber conduzir com
responsabilidade esse ministério principal da Igreja. Por isso
eu apelei para o pastor Kunert, que ele viesse com
urgência, para dar uma solução oficial para o problema que
eu criei, ao te entregar a responsabilidade pastoral por esta
Paróquia. Não precisas te preocupar, pois em caso de
necessidade, me sujeitarei a visitar Itati, duas vezes por
mês, para realizar batismos e cultos. Você ficará com
somente dois cultos por mês e atenderá somente enterros e
batismos de emergência”.
Quando a reunião iniciou, eu estava ali, afundado em
minha cadeira, assustado e sem entender nada do que
acontecia, pois afinal, não pedira para ser enviado e não
tinha ido por mim mesmo, para realizar essa tarefa
pastoral.
Fato que me surpreendeu foi a atitude firme,
tranquila e segura do pastor Kunert que conhecia muito
bem esta comunidade, pois a erguera quase do nada,
depois da II Guerra Mundial, após ela ter permanecido
durante quase seis anos em vacância pastoral.
Pastor Kunert, como primeira providência, pediu o
livro de Atas para fazer a leitura, em voz alta, da ata da
Assembléia Geral Ordinária do dia 1º de janeiro de 1970, e
falou: - “Aqui estamos para ajudar a resolver este impasse
que o meu colega Fischer nos comunicou, alegando que
colegas pastores ordenados da Igreja reclamam que o
![Page 391: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/391.jpg)
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colega Elio Müller, aqui estaria em situação irregular.
Felizmente verifico que tudo está claramente definido,
através desta ata. Aqui consta que o pastor Ernesto Fischer
entregou a responsabilidade pastoral da Comunidade
Evangélica de Três Forquilhas para o meu colega pastor Elio
Müller. A ata está assinada por um grande número de
Presbíteros e membros e até pelo próprio pastor que se
aposentou naquele dia. Fica, pois bem claro de que o pastor
Elio Müller é de fato e de direito, o vosso pastor e
continuará a executar todos os serviços, como, aliás, já vem
fazendo desde o dia em que assumiu esta Paróquia de Três
Forquilhas. Além do mais fiz também as minhas consultas
prévias aos presbíteros aqui presentes, antes do início desta
reunião e, nenhum deles revelou ter conhecimento de
qualquer reclamação que seja no tocante aos serviços
pastorais prestados pelo novo pastor desta Comunidade”.
Pastor Kunert chamou-me até a mesa que havia sido
armada diante do altar e me concedeu um forte aperto de
mão, conclamando: - “Não te abales e nem esmoreças, pois
sei que o teu trabalho é árduo e vai muito além das tuas
forças. Também passei um dia por isto, que você hoje
precisa suportar e muitos nesta hora, em outros lugares não
estão em situação melhor que a tua. Felizmente você está
acompanhado por uma Comunidade que pega firme no
serviço da Igreja”.
Em nenhum momento houve a necessidade para que
eu falasse qualquer palavra. Nada me foi perguntado e nem
me foi concedida a palavra.
Pastor Kunert conduziu a questão de tal forma que
eu estava ali quase como um mero espectador. Com esse
procedimento ele me poupou e me deixou numa situação
cômoda diante do Presbitério. Afinal todos eles estavam ali
para decidir e para definir o meu futuro pastoral que havia
sido colocado em dúvida.
![Page 392: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/392.jpg)
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Entendi que tudo precisava ficar perfeitamente
esclarecido, mas se tratava de algo que não dependia de
qualquer ato ou palavra que viesse da minha parte. Acredito
que saí fortalecido e apoiado para continuar me
empenhando na missão, com fé em Cristo e confiando na
Providência Divina.
Depois, pastor Kunert, voltando-se aos presbíteros
pediu: - “Estejam com o pastor Elio não só com palavras,
mas com gestos concretos, todos unidos, para bem
servirem o Povo de Deus deste vale do rio Três Forquilhas”.
Os pastores Kunert e Reusch despediram-se e
entraram no veículo da Região Eclesiástica IV apressados,
alegando que precisavam retornar logo a São Leopoldo.
Aliviado e cheio de admiração e de gratidão pela
firmeza demonstrada pelo pastor Kunert que não deixara
incertezas para trás, pensei: < Agora estou de vez com
toda a carga pastoral sobre os meus ombros, Mas bem sei
que não fui eu quem pediu esta missão. Esta missão me foi
entregue por vontade de Deus, expressa através do envio
feito pelos dirigentes da IECLB >.
Não fui por minha decisão
- “Não fui por minha decisão, porém foi a Igreja que
me enviou”, expliquei ao Sr. Alberto.
Alberto Schmitt, ex-escrivão distrital de Itati,
mostrou-se satisfeito com o relato dessas minhas memórias
bem recentes. Ele explicou que, há anos, também vinha
escrevendo um diário que algum dia bem poderia ser
![Page 393: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/393.jpg)
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393
transformado em livro. Empolgado foi até uma escrivaninha,
que ele alegou ter pertencido ao seu bisavô pastor Voges.
Abriu um tampo falso e retirou um volumoso
compendio, confeccionado com papel almaço e costurado
com barbante.
Com olhos cobiçosos olhei para aquele material
precioso. Mas, apenas consegui olhar à distância.
Rapidamente, ele recolocou aquele manuscrito, de volta ao
esconderijo.
Entretanto, Alberto voltou ao diálogo interrompido. -
“Você ainda não esclareceu, qual foi a sua real motivação ao
escolher a nossa isolada e pobre Paróquia de Três
Forquilhas, para o exercício do seu serviço eclesiástico?”,
reclamou ele.
Respondi: - “Seu Alberto, a questão não esteve
apenas sob a minha escolha. Em primeiro lugar, eu não
sabia que existia o vale do rio Três Forquilhas no mapa do
Brasil. E depois, eu não cheguei aqui por minha decisão
pessoal. Se fosse apenas conforme a minha vontade, digo-
lhe, com certeza, eu não teria vindo. Eu resisti contra o meu
envio. E o considerei prematuro. Aleguei, por diversas
vezes, ao Diretor Naumann e, por tabela, ao pastor regional
Kunert, de não estar ainda preparado e nem pronto para
esta missão. Foi a Igreja quem me chamou e decidiu me
enviar nestas condições, para estar a serviço do povo de
Deus, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul”.
Alberto revelou surpresa: - “Não consigo entender!
Você simplesmente se sujeitou, sabendo não estar pronto,
para ir onde esses homens bem entendessem te enviar?”.
- “Não foram apenas, aqueles, homens que me
enviaram. A Igreja de Cristo funciona de maneira diferente.
![Page 394: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/394.jpg)
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Não é como uma empresa comercial... Na verdade é Ele, o
Senhor da Igreja quem chama, prepara e envia os seus
mensageiros43, para o lugar onde deles necessita. Eu sou
um enviado de Deus. Depois que aceitei o chamado, eu não
consegui negar-me ao envio, apesar do meu temor e tremor
íntimo. Por este motivo estou aqui, em obediência ao nosso
Senhor!”.
Alberto olhou-me com ar de espanto. Ficou silencioso
e pensativo. Concluímos a conversa, naquele dia, com este
assunto. Despedi-me respeitosamente. Ele, com ares de
autoridade, concluiu: - “Não demore, para voltar. Tenho
assuntos que preciso te contar...“
Um Dom Quixote maluco
Semanas mais tarde, voltei, para continuar a
conversa com meu vizinho Alberto Schmitt, a Fonte da
História Oral – FHO - mais preciosa do lugar e que eu
jamais pensara existir.
Alberto começou a conversa pedindo explicações
sobre rumores que ele ouvira a respeito da linha de ação do
Projeto de Educação 70, que eu começara a desenvolver na
localidade, visando envolver e levar a população à
participação.
- “Porque esse alvoroço de alguma gente com o teu
serviço pastoral?”. Quis saber Alberto.
Questionei logo: - “Não entendi que alvoroço seria
esse! O senhor poderia explicar melhor o assunto?”.
Alberto continuou: - “Tem pessoas, entre elas até o
meu vizinho Octavio Becker, que alegam que o pastor é um
![Page 395: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/395.jpg)
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Dom Quixote maluco, Ele falou que agora o pastor pensa
em promover entre os nossos agricultores, o uso da pá de
cami. Que ferramenta é essa?
Pensei um pouco e tive então um lampejo de luz,
recordando de recente reunião onde eu lançara a sigla
PADICAMI, para a execução do Projeto de Educação 70.
Expliquei que de fato eu abraçara, com paixão, esse
ideal diaconal catequético e missionário, ou que seja apenas
de visionário.
Perguntei então: - “Será loucura, ou quixotismo,
viver por um ideal? Será quixotismo, servir os pobres e os
mais fracos? Ou seria maluquice, lutar com os gigantes e
convertê-los em moinhos de vento? Creio que todos juntos
podemos e devemos lutar, apaixonadamente sim, por um
mundo novo, mais humano e mais fraterno?”. - Mostrei uma
fotografia que eu tirara lá no fundo do Morro do Chapéu,
numa localidade na época pertencente ao município de
Torres – RS. Na foto aparecia um homem pobre, analfabeto
e descalço, com o corpo coberto com trapos de roupa,
posando para a minha máquina, com sua família e uma
carrocinha, puxada por cabras. Expliquei: - “Casualmente
tenho aqui em minha pasta esta fotografia que tirei do
Tonho das Cabras, há poucos dias. Se esse Tonho Das
Cabras, do Morro do Chapéu, no vale do Rio Três
Forquilhas, tem a coragem de atrelar cabras numa
minúscula carreta e tem a coragem de sair com a família
para buscar pasto na lavoura ou ir fazer compras no boteco,
por que haveria eu de ter vergonha de ser visto como
algum Quixote, pelo fato de lutar com o que parece
impossível de ser modificado na nossa sociedade desumana
e egoísta?”.
Fiz uma pequena pausa e continuei: - “Posso lhe
citar mais alguns fatos bem concretos, por exemplo, que
![Page 396: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/396.jpg)
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quase 90% dos membros, nas filiais, no vale do rio Três
Forquilhas comparecem aos cultos calçando chinelos de
dedo e tenho verificado alguns chegando sem calçado
algum nos pés. Já constatei que muitos adultos não sabem
ler e nem escrever. Li também textos escritos que o pastor
Kunert deixou para os sucessores dele, onde ele lastima a
precariedade da vida de muita gente, como que esquecidos
pelas nossas autoridades, vivendo ou vegetando em meio a
esses morros do vale do rio Três Forquilhas. Foi por isto que
eu propus uma intervenção bem prática e vigorosa, nesta
realidade. Foi nessa idéia que propus o PADICAMI e,
conforme constato parece que virou jacota, pois acredito
que todos os presentes entenderam que eu estava
colocando uma sigla, pois logo expliquei que se tratava de
um Plano de Ação Diaconal Catequético Missionário ou
então, de modo mais simples, o Plano de Educação 70”.
FIGURA 35: Tonho das Cabras do Morro do Chapéu.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1970.
Alberto riu e ele não era muito de rir. Porém ele
achou graça que a tal pá de cami, era uma simples sigla.
Ele revelou grande interesse no assunto e confirmou que
![Page 397: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/397.jpg)
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era da mesma opinião, de que algo deveria e poderia ser
feito para mudar tal realidade em que tanta gente sofrida
do vale do rio Três Forquilhas vivia.
O ex-escrivão pegou mais uma vez a fotografia do
Tonho das Cabras e comentou: - “Estou perplexo com esta
fotografia do Tonho das Cabras e família. Nunca imaginei
que pudesse existir tal coisa em nosso lugar. Qual é mesmo
o plano que você arquitetou para enfrentar isso? O que você
espera que a Comunidade assuma?”, quis saber Alberto.
Expliquei então: - “Um Plano de Ação só pode ser
executado quando todos aceitam a idéia e se dispõe a unir
forças para a realização do projeto. Eu já expliquei para as
lideranças reunidas de que precisamos, em primeiro lugar,
descobrir quais são as possibilidades, a capacidade, os
limites e as oportunidades das lideranças locais, para uma
participação neste plano de promover essa transformação
sócio-econômica e cultural no Vale do Rio Três Forquilhas.
Estou pensando, se os Presbíteros concordarem, em
organizar uma Associação para o Desenvolvimento de Itati
– ADITA. Eis outra sigla para aqueles que não gostam
delas...”.
Alberto Schmitt sorriu outra vez, mostrando que ele
se divertia um pouco com esse meu gosto em criar siglas.
Continuei explicando: - “A ADITA seria um bom
instrumento para mobilizarmos todas as forças vivas que
temos aqui na Colônia. Mostrei a idéia para o Prefeito
Coronel Azambuja e ele me deu a maior força e prometeu
que estaria nos concedendo assessoria de técnicos da
Secretaria da Agricultura, caso necessitássemos de algum
tipo de apoio. Ele citou o nome do engenheiro agrônomo Dr.
Wilson Castro, dizendo que se trata de uma pessoa de mais
alta qualificação e que já vem apoiando o distrito de Terra
de Areia. O prefeito contou que o Dr. Wilson Castro,
![Page 398: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/398.jpg)
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juntamente com Quirino Guazzelli, introduziram o cultivo do
abacaxi naquela localidade e, que é exatamente esse tal de
Quirino quem levou as primeiras mudas de abacaxi para
Terra de Areia e, lá as plantou...”.
Alberto Schmitt mexeu com a cabeça
afirmativamente e logo falou: - “Esse Dr. Wilson Castro é
muito competente e podes confiar na orientação dele. Esse
engenheiro tem feito um trabalho muito bom em favor de
nosso povo de Osório. Quando ao Quirino Guazzelli eu
acredito que isso seja mesmo verdade, pois esse homem
veio aqui em Itati, há uns dois anos atrás e promoveu o
cultivo de cenoura. Parecia que seria a solução para a
situação precária em que se encontrava, e ainda se
encontra, a nossa agricultura. E veja só que no primeiro ano
foi, tudo, muito bom de ver. A produção estava toda bem
amarrada para a venda e o lucro foi positivo. Mas no ano
seguinte, muita gente que não se ligou ao projeto do cultivo
de cenoura foi comprar sementes por conta própria e de
repente parecia que aqui estávamos no Vale das Cenouras.
Foi um drama para muitos agricultores, pois a produção em
excesso não tinha colocação. Faltou o contrato de uma
venda amarrada, feita de antemão. Contaram-me que muita
gente simplesmente passou o arado nas lavouras de
cenoura, pois não tinha para quem vender o produto... E,
então culparam o Quirino Guazzelli quando na verdade o
erro foi daqueles que saíram, por conta própria, enchendo
todas as lavouras com cenoura, sem estar incluídos em
contrato de venda da produção”
Naquele dia, antes de voltar para casa, ainda falei
para o Sr. Alberto: - “Decidi conhecer cada pessoa pelo
nome e, ainda, saber um pouco da história pessoal e
coletiva deles. Eu preciso diagnosticar a realidade social, na
qual vive o povo desta localidade”.
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Ele concordou, dizendo: - “Você é semelhante a um
escrivão, pois que eu, nestes meus trinta anos de atividade,
passei a conhecer praticamente todas as pessoas que vivem
em cada casa, neste nosso distrito...”.
Contando com tal incentivo, do Sr. Alberto Schmitt,
tomei ainda maior ânimo confiando que havia um caminho
aberto que podia ser restabelecido e atividades para serem
colocadas em andamento.
Dias depois, por casualidade, encontrei-me, com o
engenheiro agrônomo Wilson Castro, em Maquiné. Ele se
dispôs a nos apoiar no que fosse necessário. Os elos
estavam começando a se unir e uma corrente estava se
formando. Isso era muito gratificante, como experiência
num campo de trabalho recentemente assumido.
Procurei, também, o Sr. Quirino Guazzelli e fiquei
encantado com o tamanho do idealismo desse homem e da
vontade dele, em ver a nossa região florescendo e se
desenvolvendo. Tive a impressão que ele desejava ver,
logo, Terra de Areia emancipada, como um município e, ele
como primeiro prefeito do mesmo.
Em Itati e Três Forquilhas despertou um interesse
acentuado da parte das principais lideranças, citando:
Eugenio Bobsin, Arthur Gottlieb Erling, Olício Bobsin, Nestor
Becker, José Osvaldo Brusch, Vital Bobsin, Balduino
Mittmann, Lidurino Menger, Osvaldo Schmitt do
Nascimento, Ady Brehm, Avelino Menger, Clarestina Justin
Brehm, entre outros, cujos nomes não me recordo.
Até o escrivão Alcides Marques da Silva, vendo que
eu passava diante do Cartório, chamou-me e prontificou-se:
- “Pastor, caso eu puder ser útil, não me esqueça das
reuniões que vocês vierem a fazer. Eu posso servir de
escriba, caso necessitarem de um secretário”.
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400
Encontrei também uma análise que o meu
antecessor pastor Ernesto Fischer escrevera a respeito da
realidade em que se debatem os nossos pequenos
agricultores. E ele concluía o artigo: - “Assim como está não
pode ficar!“.
Junto às Fontes da História Oral – FHO -, procurei,
nas horas de folga, fazer uma identificação do contexto
sócio-histórico e cultural, em que eles vivem. Eu senti falta
de uma maior compreensão das relações institucionais
existentes no vale do rio Três Forquilhas, das relações de
grupo e das relações comunitárias. Eu desejava e até
precisava observar a situação da população, desde os
primórdios da colonização, que vinha desde o ano de 1826.
Só que isso seria um trabalho que poderia levar muitos
anos... E, eu tinha pressa, pois muito bem entendia que o
tempo se vai e, se nada se faz agora, certamente nada
acontece!
Indústria de Conservas Brehm
Uma realidade animadora surgiu para o vale do rio
Três Forquilhas no dia 13 de agosto de 1970. Passando na
Vila Brehm era possível ver um movimento diferente,
acontecendo no terreno que se situava atrás do armazém
de Antonio Clarestino Brehm.
Havia um ajuntamento de pessoas mostrando que
algum evento importante estava acontecendo. Chegando
perto foi possível ver o início de uma obra e o momento do
lançamento da pedra fundamental de uma nova construção.
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FIGURA 36: O jovem Enildo dos Santos Brehm. Diante do Armazém do seu pai Antonio Clarestino Brehm.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1972.
Darci Brehm, parado ao lado do irmão Helio,
explicava aos presentes: - “Aqui lançamos agora o começo
da nossa Indústria de Doces e Conservas Três Forquilhas. O
contrato social de formação da empresa foi assinado no dia
30 de junho. Se tudo correr conforme esperamos, no
máximo dentro de meio ano nós estaremos apresentando a
primeira lata de conserva produzida aqui no vale, para levar
a marca Brehm e Três Forquilhas para todo o nosso grande
Brasil”.
A família Brehm sonhava e sonhava grande e isso
era um bom sinal. Despedi-me deles desejando a benção de
Deus para esta valiosa obra. E acentuei: - “Este é um
momento propício para rendermos ações de graças ao
nosso Criador e Senhor, pelas coisas boas que ele nos
concede”.
O sonho de podermos ver fábricas surgindo no vale
estava se concretizando. Quando eu transmiti essa novidade
do surgimento de uma fábrica de conservas no vale, nas
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402
reuniões da igreja, foi notório como muitos não queriam
crer nessa possibilidade da construção de uma Indústria de
Conservas.
Talvez tivesse sido a tradição de engenhos de cana,
com a produção artesanal de açúcar mascavo, que colocara
viseiras em muita gente, fazendo-os pensar que a melhor
alternativa seria uma Usina Açucareira, para o vale. Um
agricultor, estendendo o braço na direção da planície
explicou: - “Imagine o nosso vale, se tornando um verde
mar de canaviais. Eu sonho, dia e noite, com isso!”.
Tal idéia fugia da verdadeira vocação de uma região
como a do vale do rio Três Forquilhas, onde o verde mar de
canaviais seria um desastre para todos os pequenos
agricultores, pois todos sabem que cana-de-açúcar pede
propriedades maiores, para serem rentáveis. O mais próprio
para um vale estreito baseado no minifúndio só poderia ser
a produção de hortifrutigranjeiros.
Eu fiquei pensando e concluí: - “Felizmente surgiu
este arrojado empreendimento de Brehm & Filhos e a
mudança para a produção intensiva de hortifrutigranjeiros
chegará ao natural, pelo mercado que eles estão oferecendo
aos nossos agricultores”.
No entanto um trabalho de conscientização teria que
ser desencadeado, pois encontrei ainda fumicultores se
lamentando e dizendo: - “Porque os Brehm não tentaram
trazer uma filial da Souza & Cruz para nós, para que o
tabaco que produzimos pudesse ser beneficiado e
industrializado aqui no vale?”.
A minha resposta foi espontânea, porém chocou,
quando falei: - “O que importa? Importa produzir alimentos
ou alimentar um vício?”.
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Constatei uma reação forte de desagrado e bem
sabia que os fumicultores eram numerosos, com suas
lavouras de fumo e estufas. Por questão de tática decidi não
mais entrar em choque direto com eles, pois acreditei que
um processo de mudança na produção agrícola, desta hora
em diante, haveria de chegar de modo natural, como
consequência da fábrica de conservas.
Seria a Indústria de Conservas em funcionamento
que representaria um convite direto a todos para a adoção
sistemática da produção de hortifrutigranjeiros e não
convinha estabelecer focos de desentendimento com
fumicultores ou devotos da produção de álcool.
INALTA em Terra de Areia
O Sr. Quirino Guazzelli soube com antecedência do
lançamento da pedra fundamental da Indústria de
Conservas dos Brehm. Ele procurou acelerar os planos para
as obras de uma Indústria de Conservas em Terra de Areia
que eles também haviam idealizado, mas, não conseguiram
vencer a data deles.
O amigo Quirino enviou um convite especial, para
todas as lideranças de Itati desejando presença maciça de
agricultores, no ato do lançamento da pedra fundamental
para a construção da Indústria Alimentícia Terra de Areia
S.A. – INALTA, < uma indústria de agricultores para
agricultores >, conforme foi anunciado no folheto.
O ato de lançamento da pedra fundamental teve
lugar no dia 22 de agosto de 1970 e contou com a presença
do Coronel Carlos Fernando Dorneles de Azambuja,
interventor federal responsável pela Prefeitura de Osório.
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Foi apregoado que a indústria pertenceria ao povo,
sendo todos conclamados a comprarem ações e assim
ajudar a levantar o capital social da empresa.
Também comprei 100 ações, quantia mínima para
aquisição apesar de que representava um gasto pesado na
situação financeira em que eu vivia. O amigo Quirino
Guazzelli notando o meu constrangimento, sorriu e falou: -
“Os melhores padres sempre são os pobres. Por isso não se
constranja, pegue as suas cem ações e as pague em dez
vezes, dez cruzeiros”.
A INALTA contratou o engenheiro agrônomo Dr. José
Büttow para ficar à disposição dos agricultores da região,
visando o incremento da produção de hortifrutigranjeiros. O
engenheiro Büttow era membro da Igreja Luterana de
Pelotas, IECLB, e logo buscou estabelecer um estreito
contato com a nossa Comunidade, em Itati.
Na primeira reunião em que Büttow compareceu,
anunciou: - “Um novo tempo está chegando para a
agricultura no vale do rio Três Forquilhas. O produtor terá
um mercado certo para a sua produção e também a
garantia de um preço justo, pois quase não mais haverá
intermediários. No início iremos propor a implantação de
culturas de curto ciclo evolutivo, fato que trará uma renda
imediata para o agricultor. No segundo passo virá a
implantação do cultivo de frutíferas, com um rigoroso
planejamento, onde estaremos fornecendo mudas e
acompanhamento técnico, sem custo para os nossos
agricultores acionistas ou cadastrados”.
Agora já era duas Indústrias novas em instalação e
voltadas para a produção de hortifrutigranjeiros, fato que
era muito animador.
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405
Isto nos serviu de incentivo para promover o plano
de criação de um Centro de Assistência Rural em Itati.
Em Pirataba localizamos o jovem Frederico Walter
Trein Lothammer, que viera de um estágio agrícola na
Alemanha, e na condição de técnico, se dispôs a assumir o
trabalho de assistência agrícola no vale do rio Três
Forquilhas.
Se vires alguém caído...
Alberto Schmitt (1886 – 1971)
Tranqueira que nos sobrevêm
não é somente coisa ruim.
Quando a gente leva tombo
ou fica jogado na lama
deve ser examinado
se existe possibilidade
de recuperação.
É pra transformar
tranqueira em trampolim;
a para buscar vida melhor
até neste nosso confim.
Se vires alguém caído,
ao teu lado, na lama, no desliz.
Pensa que poderia ser tu...
Pensa em ajudar para erguer o infeliz.
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406
Amanhã poderás estar, tu,
a depender de mão amiga
Amanhã poderás estar, tu,
a querer sair de uma caída.
Na esperança podemos seguir
de encontrar um novo rumo.
Seguir nos caminhos desta vida
de cabeça erguida, no prumo.
![Page 407: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/407.jpg)
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407
HOMENAGEM A OLÍCIO E OLÍVIA BOBSIN
Existem pessoas que, de repente, tornam-se
especiais na vida dos outros. Também para mim inúmeras
pessoas se tornaram importantes e valiosas e, vieram
aquelas que se tornaram especiais.
Neste 6º volume, em OS PELEADORES, eu quero
mencionar os compadres Olício e Olívia Bobsin, de Itati –
RS.
Quando assumi o pastorado, em 1969, ainda
solteiro, fui morar naquela enorme casa pastoral antiga, que
havia sido construída para ser a residência dos pastores
alemães. Eu tive diante de mim, além da casa, diversos
hectares de terra. Era uma terra muito boa e quase toda ela
cultivável. Eu não tinha a mínima possibilidade de dar
atenção para a instalação de lavouras, pois além de estar
iniciando uma atividade nova, no exercício do pastorado,
tinha que dar atenção, além da igreja na sede, para mais
vinte e uma comunidades filiais e pontos de pregação.
Arrendei então as terras de lavoura que estavam à
minha disposição para Olício Bobsin. Ele plantou soja,
milho, aipim, feijão, arroz sequeiro, batata doce e cana de
açúcar.
Em junho de 1970 ele veio e quis entregar a terça
parte de produtos por ele colhidos, dizendo que isso era de
praxe, numa parceria agrícola. Respondi que eu não tinha
como utilizar tais produtos e nem disposição para sair e
colocá-los à venda.
Quando em dezembro de 1970 casei com Doris ele
retornou e falou: - “Agora você terá uma família e irá
necessitar de alimentos”.
![Page 408: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/408.jpg)
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408
Ele me deixou um saco de arroz e uma lata de feijão,
talvez ¼ de saco. A Doris ficou espantada, porém feliz de
podermos contar, na dispensa, de arroz e feijão para muito
tempo, meus alimentos prediletos, pois sem feijão com
arroz, para mim, um almoço não está completo.
Falando sobre Olício e Olívia, quando nasceu o nosso
primeiro filho, decidimos que esse casal seria nossos
compadres, como padrinhos do Carlos Augusto. Vejo nesse
fato um exemplo de relações que vão se estreitando e que
unem pessoas num caminhar comum e de apoio mútuo.
Quando do falecimento da mãe da Doris que ocorreu
antes de minha chegada a Itati, pois ela foi sepultada na
manhã do dia 17 de dezembro de 1969 e eu cheguei às
quatro horas da tarde daquele dia. Encontrei uma
comunidade enlutada, pois a falecida Celina havia sido a 1ª
presidente do grupo de senhoras, OASE, e ficou nesta
função durante dez anos. Havia a necessidade de uma
senhora que assumisse essa liderança do grupo. E a
escolhida para se candidatar foi Olívia Bobsin que, eleita por
unanimidade de votos, passou a conduzir este valioso
trabalho em nossa Comunidade.
Olívia, semelhante a Lídia Porto Bobsin, mãe dela,
era uma mulher firme e muito humana, firmada na fé em
Cristo e corajosa para dizer e fazer, diante das tarefas e
serviços que precisavam ser realizados. Olívia revelava um
grande amor à Igreja e pelas pessoas e serviu assim de elo
firme e muito confiável para que a renovação da liderança
comunitária se concretizasse de forma segura e tranquila.
![Page 409: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/409.jpg)
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409
FIGURA 37: Olício e Olívia Bobsin, diante do templo da IECLB em Itati. Fonte: Acervo do autor, 1970.
Olício e Olívia desempenharam, assim, um
importante papel ao meu lado e de Doris para que o
desempenho da tarefa pastoral tivesse uma boa
continuidade, numa época bastante difícil. Poderá alguém
dizer: < Todos os tempos são difíceis, pois cada tempo vem
com suas dores e problemas >.
Diante disso devo esclarecer que existem momentos
que são mais difíceis do que outros, principalmente quando
ocorre uma transição, seja na esfera pessoal, familiar,
comunitária ou mais ampla no cenário sócio político.
E para mim, em 1969, todas estas áreas estavam
apresentando uma conjunção de inúmeras dificuldades: a) -
Na área pessoal, eu vinha inexperiente, jovem e
despreparado para a enorme missão que estava além das
minhas forças e capacidade e, eu tinha que dar conta da
tarefa. b) - Na área familiar, eu era um homem solteiro,
longe dos familiares, vivendo num meio desconhecido.
Afinal, eu nem sabia da existência do vale do rio Três
Forquilhas até o dia em que o pastor Augusto Ernesto
Kunert me avisou: - “Você irá para Três Forquilhas”. c) – Na
área comunitária estava de saída o pastor Ernesto Fischer
![Page 410: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/410.jpg)
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410
que aposentado iria me entregar o cargo pastoral no dia 1º
de janeiro de 1970. A OASE estava acéfala pelo falecimento
de Celina Voges Bobsin. O Presbitério iria receber novos
presbíteros no dia 1° de janeiro de 1970. d) – Na área
sócio-política o município de Osório, em outubro de 1968,
foi declarado Área de Segurança Nacional e recebera um
Interventor para exercer o cargo de Prefeito. No distrito de
Itati, também foi substituído o Sr. Eugenio Bobsin que
durante inúmeros anos atuara como Sub-Prefeito e foi
sucedido pelo Sr. Nestor Becker.
Enumero estes itens para mostrar essa conjunção
tão ampla de dificuldades que somadas traziam um
verdadeiro óbice44 que, para muitos incrédulos era visto
como intransponível, e sem condições de ser enfrentado por
um líder jovem e inexperiente, como era o meu caso.
![Page 411: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/411.jpg)
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411
CASAMENTO DE CANDINHO COM MARIA WITT
Interessante foi um encontro que aconteceu entre
Alberto Schmitt e Ivo Baiano, em 1970. Os dois passaram a
rememorar assuntos da história antiga do vale do rio Três
Forquilhas e revelaram dados bem interessantes a respeito
de Maria Witt e do próprio Baiano Candinho. Aproveitei a
ocasião para fazer apontamentos, coletando os casos e
causos que eles contaram. O meu amigo Ivo Baiano,
residente na região conhecida como Bananeiras, neto de
Baiano Candinho, tornou-se assim numa valiosa fonte da
tradição oral.
Dessas relembranças dos dois recolhi a seguinte
história que fala do casamento de Baiano Candinho com
Maria Witt. Para Ivo Baiano esse assunto era revestido de
especial importância, pois se tratava da avó dele, a Maria
Witt. Ele acentuou o modo como essa mulher amarrou o
Candinho, para a vida de um casamento. Afinal, Candinho
era visto como um inveterado mulherengo que ia deixando
filhos espalhados por toda a Colônia.
FIGURA 38: Ivo Mello de Oliveira, o Ivo Baiano. Em foto por ele sonhada45. Fonte: Foto do arquivo do autor, 1999.
![Page 412: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/412.jpg)
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412
Conforme Ivo Baiano a avó dele. Maria Witt
conseguiu transformar Baiano Candinho, para fazer dele um
homem casado e um pai de família.
A história foi a seguinte: - “Entre 1877 a 1878,
Baiano Candinho conheceu a Maria Witt, numa festa do
Kerb dos protestantes, na sede de Três Forquilhas. Ela viera
do Josaphat, em companhia dos pais e das irmãs. Ela só
tinha irmãs e todas elas desde cedo tiveram que aprender a
lida do campo, ao lado do pai, na fazenda que eles
possuíam no Alto Josaphat.
Quando Maria Witt conheceu Candinho, ela era
viúva, mãe de dois meninos, o Henrique e o Geraldino, o
fruto de uma relação com um tropeiro, o tal de Beriva46
Athaíde, nascido em São Paulo.
De passagem pelo Josaphat o beriva conheceu Maria
Witt. Mas não casaram, fato que contrariou muito os pais
dela. Apenas se amasiaram ou simplesmente se juntaram.
O velho Carl Witt autorizou que Maria e Athaíde,
viessem morar na propriedade do Barreiro, na Colônia de
Três Forquilhas, junto da trilha que leva ao Alto Josaphat.
A relação de Athaíde com Maria Witt foi boa, pois se
entendiam muito bem. No final do ano de 1876 ele aceitou
um serviço muito difícil, como tropeiro. Acompanhou na
condução de uma boiada até São Paulo. Lá ele ouviu falar
de um modo de fazer fortuna rápida, com o tal de ouro
negro que estaria sendo extraído em Minas Gerais.
Os tropeiros que depois de alguns meses retornaram
trouxeram uma triste notícia. O Beriva havia sido morto no
caminho às minas do ouro negro, em meio a uma luta com
alguns baianos.
![Page 413: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/413.jpg)
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413
Maria Witt tornou-se viúva muito cedo, sem ter
conseguido, conforme seu sonho, casar pelo civil e diante
do pastor Voges.
Quando Maria Witt se apaixonou pelo Candinho
ambos enfrentavam uma mesma situação: a viuvez47.
Maria, de luto, porém sem trajar luto, com duas
crianças penduradas na saia, era uma mulher loira, de
cabelos quase da cor do trigo maduro, de olhos azuis e uma
pele muito branca. Ela despertou a atenção do Candinho,
pois ele não tirava os olhos dela. Mostrava-se fascinado com
a beleza e energia dela.
Candinho não esteve errado, pois Maria sempre foi
uma mulher corajosa e dedicada ao trabalho, na lida com
tropas e no cuidado com a criação. Ela, apesar de viúva,
continuou residindo na antiga propriedade da família, no
Barreiro, com as duas crianças, dando conta de sua
pequena criação de gado.
Na hora do baile, Candinho conseguiu tirá-la para a
dança, enquanto as crianças ficaram ao lado do avô Carl e
da avó Catharina Witt.
Conversaram muito... Ele se dispôs, caso ela
quisesse, de ajudá-la fosse na lida com a criação ou até
mesmo, no corte de cana e no fabrico de rapadura e açúcar
mascavo ou para construir alguma taipa.
Maria divertia-se com a idéia, porém deixou claro: -
“Podemos viver juntos, mas terá que ser com a benção do
pastor Voges e com papel passado pelo escrivão”. Ela sabia
da fama de Candinho com as mulheres, em particular com
viúvas.
![Page 414: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/414.jpg)
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414
No final da tarde Candinho deu a resposta: - “Aceito
casar contigo, diante do padre Voges e diante do escrivão
Ximiti”.
Candinho mostrou-se disposto propondo já levar
Maria Witt e as duas crianças para viverem no seu rancho,
no Arroio Carvalho. Ela, entretanto insistiu: - “Eu disse,
somente com benção da igreja e com papel do escrivão”.
Era o seu sonho, desde menina! Sempre sonhara casar na
igreja!
Finalmente Candinho cedeu e já no dia 15 de abril de
1879 foi realizada a benção matrimonial oficiada pelo pastor
Voges. Não foi na igreja, mas na propriedade da noiva, no
Barreiro. Uma festa com muitos convidados, contando com
a presença de serranos e de gente do vale.
Dias depois, Candinho foi procurar o escrivão, e
marcou o dia da união civil. Escolheu duas testemunhas que
ele admirava muito, o Major Adolfo Felipe Voges e o
professor Serafim Agostinho do Nascimento. Fez registrar a
união, celebrada pelo pastor no registro no Cartório. Isto
aconteceu no dia 18 de maio de 1879. Até aí o relato de
Ivo Baiano.
Pode-se constatar, através desse registro existente
no cartório, que, na época, Candinho continuava fazendo
uso do nome falso de Manoel Alves da Silva.
Candinho casou no Cartório, foi sob a pressão de
Maria Witt. Ele evitava situações onde tivesse que se
identificar em público. Fato que chama a atenção é que o
escrivão da época, Christovam Schmitt, pai de Alberto,
sabia que o nordestino estava fornecendo nome falso e
mesmo assim aceitou a informação e a registrou.
![Page 415: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/415.jpg)
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415
Maria Witt que antes estivera temerosa de um dia
perder Candinho para uma das antigas namoradas ficou
satisfeita e realizada. Ela, por exemplo, sabia da relação
que Candinho vinha tendo com a Tedéia Beca que alardeava
pela Colônia, estar grávida do Baiano. E era verdadeiro, pois
nasceu um menino que foi batizado pelo pastor Voges com
o nome de Cândio Becker48.
Quem era Maria Witt?
Maria Witt nasceu em 11 de julho de 1855 filha de
Carl Witt e Catharina Hoffmann. Ela consta no Livro do
Registro de Batismos, de Pastor Voges, como Anna Maria
Witt, batizada em 09 de setembro de 1855.
Maria Witt era uma neta do pioneiro Carl Johann
Witt, um meclemburguês, que entrara na Colônia de Três
Forquilhas no princípio do ano de 1827, radicado a um
quilômetro acima das terras do pastor Voges, nas
adjacências do Passo do Cemitério. Aquela área até hoje é
conhecida como baixada dos Witt, nas proximidades onde
hoje existe o Cemitério dos Witt.
O filho do pioneiro imigrante, também Carl Witt, pai
de Maria Witt, ao casar, mudou-se ao Barreiro, e ali o casal
tivera somente filhas, como segue: F1 - Catharina Witt,
nascida em 20.11.1853 e que casou com o depois capitão
maragato “Luis da Conceição” (Luis Brandão Feijó). F2.
Anna Maria Witt, nascida em 11.07.1855 e que casou com o
depois major maragato “Baiano Candinho”. F3 - Catharina
Bárbara Witt, nascida em 09 de julho de 1857 e que casou
com o depois soldado maragato Joaquim Brusch. F4 -
Belarminda Witt, nascida em 1858 e que casou com o
soldado Porfírio Martins Espíndola. F5 - Felisbina Witt,
nascida em 04.01.1860 (faleceu solteira). F6 - Maria Luisa
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Witt, nascida em 12.05.1862 e que casou com o depois
soldado maragato Jacó Cândido (Philipp Jacob Menger).
As seis mulheres da casa de Carl e Catharina Witt
bem cedo tiveram que aprender a montar a cavalo e lidar
com gado xucro. Tornaram-se mulheres bastante
independentes e decididas.
Os pais de Maria Witt, Carl e Catharina, residiram
inicialmente, como já dissemos, na localidade do Barreiro,
no fundo da Boa União. Depois compraram terras no Alto
Josaphat, na Serra, para então se dedicarem, com
exclusividade, à criação de gado.
O lema de Maria Witt
Ivo Baiano explicou que Maria Witt quando se unira
ao tropeiro Beriva Athaíde, nem vinte anos fizera. Mesmo
assim recebera a permissão do pai, para ir residir, ao pé da
Serra, nas terras do Barreiro. Teve dois filhos e, ficou viúva
com apenas vinte e dois anos de idade.
Quando Candinho conheceu Maria Witt, ela, apesar
de viúva, era ainda bem jovem. Era uma mulher forte,
sofrida e muito decidida, que gostava da vida no campo,
das tropeadas, das cavalhadas e da aventura.
Baiano Candinho a apelidou de Maria Parvilha ou
Maria Pórvola, pois que ela era de um gênio explosivo, de
muita disposição para a luta, corajosa, e pronta para
enfrentar toda e qualquer dificuldade.
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CANDINHO ERA CEARENSE
MARTIM PEREIRA DOS SANTOS, que passou a ser
conhecido por BAIANO CANDINHO, nasceu na
verdade, conforme minhas pesquisas no Estado do Ceará
no ano de 1846. Era filho de José Pereira dos Santos e Rosa
Maria dos Santos.
Integrou o 26º Corpo de Voluntários da Pátria, da
Província do Ceará, para ir combater na Guerra do Paraguai.
Este efetivo cearense sofreu muito com as diferenças
climáticas do Sul, além de estranhar com a alimentação.
Grande parte do efetivo pereceu, sem condições para entrar
em combate. Quase no final da Guerra muitos desertaram,
constando entre eles Baiano Candinho, seu irmão e mais
três outros parentes, também cearenses.
Buscaram refúgio no vale do rio Três Forquilhas, em
1871, sendo acolhidos pelo Major Adolpo Felipe Voges.
Baiano Candinho assumiu nomes falsos por não ter
tomado conhecimento de uma anistia, que teria sido dada
para os desertores cearenses, sobreviventes do flagelo das
epidemias. Normalmente ele alegava ser o Cândido Alves da
Silveira e, outras vezes Manoel Alves da Silva.
Baiano Candinho teve várias profissões sendo o seu
destaque maior o de construtor de atafonas, mister
aprendido no Ceará. Ele aperfeiçoou a atafona de pastor
Voges e por causa disto conquistou alto conceito na Colônia.
Era também perito construtor de taipas de pedra. Durante
alguns anos, comandou um grupo de peões, para fazer
taipas em propriedades de muitos colonos. Muitas destas
taipas resistem até os dias de hoje.
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Logo depois do término da Revolução Federalista,
chegou a trabalhar como capataz de fazenda, na Serra.
Na verdade ele deveria ser considerado como um
pequeno criador de gado e de cavalos, atividade que ele
desenvolveu desde cedo, em parceria com o seu compadre
Johann Hoffmann.
Candinho teve muitas mulheres na Colônia. A
princípio viveu com a jovem viúva Anna Carolina Kratz,
nascida Müller. Ela não podia ter filhos e, além disso, ela
faleceu cedo. Candinho teria herdado a propriedade da
viúva.
Em 1879 ao se unir com a viúva Maria Witt ele
tornou-se protestante. Casou no dia 15 de abril de 1879 no
templo, diante do pastor Carlos Leopoldo Voges. Um mês
depois, foi ao Cartório, registrando essa união, no dia 18 de
maio. Na oportunidade alegou ser analfabeto e ter apenas
vinte e cinco anos de idade, apresentando o nome falso de
Cândido Alves da Silveira.
O assentamento do registro civil pode ser encontrado
no Livro de Casamentos nº 01, folha 07 do Cartório do
Registro Civil, de Itati. Foram testemunhas o Major Adolfo
Felipe Voges e o Professor Serafim Agostinho do
Nascimento.
Maria Witt trazia da união anterior, com o falecido
tropeiro Beriva Athaíde, paulista, os filhos Henrique
(19.05.1875) e Geraldino (1876 - falecido em 1883).
Filhos de Baiano Candinho com Maria Witt: F1 -
Ambrosina (16.12.1881), casou com Johann Nascimento
Hoffmann. F2 - Angelina (1883), casou com Luiz Jorge
Hoffmann. F3 - Pasqualino (08.10.1886), casou com Maria
Brando. F4 - Avelino (1888), casou com "Biluca" Hoffmann.
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F5 - Julia (03.04.1890), sem notícias sobre o que possa ter
acontecido com ela. F6 - Realina (10.10.1892) casou com
Aldino de Oliveira Mello. F7 - Ernestina (1893) casou com
Avelino Brando.
Sabe-se que Baiano Candinho teve, pelo menos, três
filhos extraconjugais: F1 - Constâncio Alves da Silva, tido
com Maria Luisa da Silva em 04.01.1876. F2 - Johann
Candea Becker, o Cândio Beca tido com Maria Dorothea
Becker em 29.10.1879. Cândio Beca casou com Geraldina
Preta, uma afrodescendente criada por Philipp Westphalen,
o Felipe Girivá. F3 - Manoel Alves da Silva Júnior, o
Candinho Gaspar tido com a viúva Maria Stahlbaum nascida
Dresbach, em 16.09.1882.
Conforme depoimento do neto Ivo Baiano, o seu avô
Baiano Candinho teve diversas propriedades, na Serra do
Pinto e no vale do rio Três Forquilhas. Ele era um homem
abastado, se comparado com a situação em que vivia a
maioria dos colonos, de descendência alemã, no vale do rio
Três Forquilhas.
No final, Candinho veio residir na propriedade que
mais lhe agradava, às margens do Arroio Carvalho, ao lado
da estrada rumo a Serra, aproximadamente a quase dois
quilômetros antes da subida da Serra do Pinto.
Seu posto e graduação na Revolução Federalista:
Major de Cavalaria e Comandante do Esquadrão Josaphat.
Foi assassinado aos cinquenta e dois anos de idade,
no dia 06 de janeiro de 1898, diante do seu rancho, numa
noite dos Reis Magos. O estratagema utilizado foi o de
incluir entre os cantores uma escolta armada. Ele estivera
marcado para morrer, por decisão das autoridades
castilhistas de Conceição do Arroio e da Capital do Estado,
sendo um dos motivos, que Candinho tivera o desplante de
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invadir a cidade arroiense, em 1895, causando uma dura
humilhação às autoridades castilhistas daquela cidade.
Foi degolado por um integrante da Escolta Policial da
Colônia de Três Forquilhas.
Assim era Baiano Candinho
Conforme depoimentos de Ivo Baiano e de Alberto
Schmitt, o Baiano Candinho era um tipo incomum. Era
esperto e o mais inteligente dos cinco baianos.
Candinho observava tudo e todos atentamente.
Escutava com atenção e curiosidade. Sabia reconhecer as
pessoas, distinguindo quais eram confiáveis e quais não.
Quando ele dizia: - “Este não é confiável”, podia estar certo
que mais adiante isso ficaria revelado.
Na Colônia, em particular duas pessoas haviam
chamado a atenção de Candinho. A primeira, que ele
venerava, como se fosse o seu pai, era o idoso pastor
Voges. Considerava-o um verdadeiro santo homem.
Entendia que se tratava de um pastor caridoso.
Observara o velho, constatando o interesse especial
que o mesmo concedia a todas as pessoas que o buscavam,
fosse gente estudada ou um rude peão, fosse um capitalista
ou um humilde colono, fosse liberto ou escravo.
Não só o velho pastor, mas admirava também a
velha Dona Lisbeta, e dizia: - “Esta é uma mulher
admirável”.
Pastor Voges e professora Elisabeth era um casal que
acolhia a todos com uma grande hospitalidade, e por isto
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dizia: - “Jamais vi em qualquer outro lugar, por onde já
andei um casal desses”.
Sempre que Candinho chegara à casa do pastor,
para tratar de algum assunto, jamais o deixaram sair sem
uma refeição ou pelo menos um café acompanhado com
mistura, ou até guloseimas de polvilho ou farinha,
preparadas pela Mãe Maria.
A mesa de refeição, no grande salão dos fundos, que
um dia já fora igreja, sempre estava com uma grande mesa
posta, como a esperar por algum eventual hóspede.
Outra pessoa que Candinho admirava era o Major
Voges, filho do velho pastor. Era o chefe político da Colônia,
mas que nada fazia sem consultar o pai.
Isso era tão bom de ser visto e Candinho dizia que
assim devia ser em todos os lugares e o mundo seria bem
melhor. Candinho propunha: - “Filho para se tornar em
homem correto e de palavra, precisa ter aprendido a dar
obediência aos bons conselhos dos pais”.
Candinho lembrava que o Major era desses homens
raros que colocam a palavra empenhada e a honra acima de
tudo. Era um chefe político que praticava também a Justiça,
na Colônia.
Sempre o vira agir com muita humanidade, cada vez
que o incumbiam do cargo de subdelegado de Três
Forquilhas. E ele, Candinho, se tornara homem de confiança
desse líder maragato e cavaleiro de valor.
Candinho, no que lhe fosse possível, queria espelhar-
se nesses dois líderes. Dizia para quem quisesse ouvir: -
“Dou a minha própria vida, se preciso fosse, para proteger a
vida do velho pastor e de seu filho”.
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Candinho também era um homem de palavra e
colocava a honra acima da fortuna. A liberdade acima de
tudo. Apenas por este motivo entrara nessa revolução,
desejando ajudar a combater a maligna ditadura castilhista
que estava fazendo vítimas em muitos lugares do solo
riograndense.
Lembrava da morte cruel de padre Fernandes e de
Major Azevedo, em Conceição do Arroio. Lembrava também
da morte de Luciano, Ignacinho, Pedro Juarte e Miguel
Cândido, que não haviam ameaçado a ninguém.
Candinho desejava ajudar ao povo do Rio Grande
para ter um Governo que soubesse fazer o bem para todo o
povo, onde a liberdade se tornasse boa para todos.
FIGURA 39: Eliseu Klein de Oliveira. Sentado diante da mesa de Prefeito do município de Itati – RS. Pelo fato de temporariamente ter
assumido o exercício desse cargo. Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
Candinho era natural do Estado do Ceará. Jamais
revelara o nome de sua cidade natal. Dizia que, para lá,
nunca mais poderia voltar, pois deviam ter espalhado a
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notícia, que ele e seus quatro amigos haviam decidido
abandonar aquela tão horrenda Guerra, no território do
Paraguai.
O seu rosto arredondado, um olhar tranquilo, o
sorriso fácil, os cabelos pretos e bastos e um grande bigode,
davam-lhe um ar bonachão. Sua cor era de um moreno
claro. Era levemente gordo e forte como um touro, capaz de
enfrentar três a quatro adversários de uma só vez.
Candinho era o mais forte dos cinco baianos e o
volume do seu corpo recebia ainda maior realce quando
usava bombachas, confeccionadas com bom tecido e
enfeitadas com botões de chifre. O seu chapéu de abas
largas, de cor marrom era o maior que já fora visto na
Colônia. Ninguém sabia dizer onde ele conseguira essa
interessante cobertura, que o protegia do sol e do frio.
A figura de Candinho, quando cavalgava a testa da
tropa, logo chamava a atenção. Devia ter 1,80 metros de
altura, algo incomum entre os nordestinos. Como cearense
ele podia ser considerado um homem bastante alto. Porém
na Colônia de Três Forquilhas havia muito colono alemão,
bem mais alto do que ele.
Candinho era um homem alegre e muito
comunicativo. Facilmente conquistava a estima das pessoas.
Onde aparecia, logo era cercado por crianças que se
penduravam em sua bombacha larga e faziam festa. Ele
tinha algo mais, talvez provindo do misticismo, tão peculiar
no povo nordestino, na busca de forças e amparo para
enfrentar as agruras da vida. Por isto, talvez, ele se
envolvera com tanta intensidade com o velho pastor Voges,
procurando nele as bênçãos e a proteção de Deus.
Beto Escrivão lembrava da figura de Candinho.
Também brincara com ele, diante do sobrado. Não vira nele
jamais a figura de um bandido.
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Era antes uma pessoa contemplativa, mas de muita
coragem, de decisão e de ação, mas amoroso e caridoso,
pronto a ajudar os mais desvalidos.
Foram os castilhistas que espalharam a imagem
negativa a respeito do adversário. Tinham colocado a
cabeça dele a prêmio, junto com as cabeças de padre
Fernandes e de Major Azevedo.
Estes dois últimos já haviam sido assassinados.
Sobrara o Baiano que mais parecia um gato, com sete
vidas.
História sobre Fredo Sapateiro
Conforme depoimentos do Sr. Vicente Pereira de
Souza, de Bananeiras, em Itati – RS o seu bisavô
revolucionário conhecido pelo apelido de Rico Marques foi do
efetivo de Baiano Candinho e amigo do Fredo Sapateiro,
com o qual comprava botas, encilhas e laços de couro
trançado.
Rico Marques havia sido batizado pelo pastor Voges
em 1854, com o nome de Friedrich Marques Pereira de
Souza e era filho do pedreiro açoriano José Pereira de Souza
e Maria Gross.
Rico Marques, em 1873 quando tinha dezenove anos
de idade, casou com Bárbara Schwartzhaupt que tinha
apenas quinze anos de idade. O padrinho dele foi o tropeiro
Bento Rodrigues de Azevedo e da noiva foi o João Patrulha
Menger.
![Page 425: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/425.jpg)
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Rico Marques sempre foi um protegido de João
Patrulha Menger e com ele começou a atividade de tropeiro
FIGURA 40: Vicente Pereira de Souza e o autor Fonte: Acervo fotográfico do autor.
Vicentinho explicou: - “Já o Fredo Sapateiro e meu
pai se criaram quase juntos, pois foram vizinhos, na
mocidade. Fredo foi dos Ludovicos, filho de Christian Ludwig
e de Margaretha Eberhardt que tinham um grande cultivo
de bananeiras e exportavam o produto para Conceição do
Arroio e até para Porto Alegre. Eram gente rica e com
condições de vida muito boas. Mas Fredo não quis seguir na
profissão do pai, que era de plantador de bananeiras.
Quando jovem, antes de casar, Fredo passou um bom
tempo em São Leopoldo e lá aprendeu a profissão de
sapateiro e de mestre de couro.
Fredo foi convidado pelo Baiano Candinho para ser o
sapateiro e seleiro do Esquadrão Josaphat com uma Oficina
de Couros, que foi instalada no Alto Josaphat. A tropa
precisava de artigos de couro a todo o momento, quando
não era apenas para consertar alguma coisa.
Vicente Pereira explicou que em torno de Fredo
Sapateiro foi criado o personagem fictício que passou a ser
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conhecido pelo apelido de Carniceiro, como sendo um
personagem ávido pelo sangue de espiões. E com poderes
sinistros. Diziam que era capaz de ler nos olhos ou no rosto
do indivíduo, se ele tivesse a falsidade escondida no coração
e na mente. Mas era só história, pois Fredo era um homem
de paz que nunca entrou num combate e não queria saber
de derramamento de sangue.
Vicente Pereira lembra também que Fredo Sapateiro
tornou-se depois um fugitivo, quando nesta região, em
1898, todos os antigos revolucionários federalistas
passaram a ser, sistematicamente, eliminados, apesar do
fim da guerra e da anistia total.
- “Fredo Sapateiro, ninguém soube por que, mas
constou da relação de revolucionários que estavam
marcados para morrer, conforme a decisão dos líderes
castilhistas de Conceição do Arroio e da Capital do Estado.
Diziam que ele estivera presente na invasão e da tomada de
Conceição do Arroio em abril de 1895 e que aparecia numa
das fotografias tiradas naquela ocasião. Quem aparecia
nessa foto era Rico Marques, porém ele deixou de ser
perseguido, pois em 1898 procurou o Carlos Frederico
Voges e se colocou sob a proteção dele, tornando-se
castilhista”.
Colhemos este depoimento de Vicente Pereira de
Souza, quando ele estava com noventa e três anos de
idade. Ele ficou entre os contadores de história confiáveis
por ser descendente de um revolucionário maragato.
Vicentinho exerceu durante muitos anos o trabalho de
zelador do cemitério onde Baiano Candinho estava
sepultado, no Carvalho. Ele informou: - “O meu antecessor
como zelador do Cemitério de Candinho foi o Cândio Becker,
um filho que o chefe maragato teve com a Tedéia Beca”.
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FIGURA 41: ADAIR KÖNIG, tropeiro e vaqueano Que me serviu de guia em muitas andanças pelo vale do Três
Forquilhas, em busca de depoimentos dos mais idosos. Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
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A REVOLTA CONTRA OS CASTILHISTAS
Inúmeras foram as vezes que me encontrei com
Alberto Schmitt para escutar as histórias que ele tinha para
contar, a respeito de uma época bem mais difícil do que
essa que eu enfrentava em 1970.
O assunto era muito amplo e não havia maneira de
resolver as tantas perguntas e dúvidas que afloravam ao
longo dos relatos. Porém importava escutar e sempre de
novo escutar mais um pouco, fazendo apontamentos, para
avaliação futura.
Numa dessas visitas eu quis saber: - “Por que
Gumercindo Saraiva e outros revoltosos maragatos
iniciaram a cavalgada rumo ao Rio de Janeiro, no princípio
de 1893 e por que não derrubaram simplesmente Júlio de
Castilhos?” Eu perguntei.
Ele não quis responder, pois certamente ninguém
saberia dizer o que se passou na cabeça de Gumercindo
Saraiva. Porém o escrivão colocou outra pergunta: - “O que
Baiano Candinho teve a ver com a Revolução Federalista e,
da luta contra o Governo Federal?”.
Somente então Alberto Schmitt explicou: - “Para
responder volto no tempo, para lembrar da situação que se
formou no cenário político nacional quando Marechal
Deodoro da Fonseca renunciou à Presidência da República,
em 23 de novembro de 1891. Recordamos que Deodoro
favorecera expectativas dos liberais e maragatos
riograndenses, que desejavam livrar-se do poder autoritário
de Julio de Castilhos. Assumiu o Governo Federal o vice
Floriano Peixoto. Este, porém reiteradas vezes, passou a
conceder apoio aos castilhistas. Mesmo tendo sido um
liberal, Floriano Peixoto passou a ser visto como aquele que
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voltou as costas aos liberais e maragatos. A última reserva
de paciência esgotou-se no início do ano de 1893 quando
Julio de Castilhos conseguiu retomar o Governo do Rio
Grande do Sul. Entenderam que o Governo Federal
favorecera os castilhistas, de muitas maneiras, apesar de
não ter sido, a princípio, esta escolha feita pelo voto
popular. Julio de Catilhos somente voltou ao poder através
do uso da força e de intimidação e que depois se refletiu
nas eleições de 1892”.
Alberto Schmitt continuou: - “Passaram a ecoar
vozes de revolta através de todos os rincões gaúchos.
Finalmente os maragatos não vendo nenhuma perspectiva
de mudanças, pois a última gota de esperança se
desvanecera, tomaram as armas, procurando aliar-se a
outros focos de revolta, surgidos em outros pontos da
Nação insatisfeitos com a política florianista”.
Realmente, em nossas pesquisas e leituras
verificamos que no dia 15 de fevereiro de 1893 Gumercindo
Saraiva atravessou a fronteira, vindo do Uruguai para o Rio
Grande do Sul com cerca de quinhentos homens, seguido,
alguns dias depois, pelo general Joca Tavares, com cerca de
três mil homens. O efetivo federalista era formado, na
maioria, por perseguidos pelo poder castilhista, refugiados
no Uruguai. A notícia espalhou-se por todo o território
riograndense.
Era líder dos maragatos no Litoral Norte do Rio
Grande do Sul o Major Azevedo, que vivia na ocasião,
escondido nas imediações da Serra do Pinto, um reduto do
Major Baiano Candinho. É de se supor que Major Azevedo
incumbiu de imediato, Baiano Candinho para recrutar
voluntários maragatos dessa área, com o objetivo de
reforçar a ação dos revoltosos gaúchos.
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Baiano Candinho então reuniu mais de cinquenta
voluntários, oriundos da antiga Colônia Alemã de Três
Forquilhas e redondezas, para o fim específico de conceder
reforços para o efetivo de Gumercindo Saraiva, porém, ele
mesmo, não desejava saber de ir rumo a Capital Federal.
Os depoimentos de Alberto Schmitt eram muito
interessantes, pois transcendiam ao âmbito local, colocando
o enfoque da questão para um âmbito amplo de província e
de nível nacional. Eu quis saber: - “O senhor tem alguma
relação de nomes dos integrantes do efetivo de Candinho e
daqueles que por ele foram enviados a Gumercindo Saraiva,
para seguirem rumo à Capital Federal?”.
Alberto Schmitt foi até a escrivaninha e trouxe um
calhamaço de folhas com apontamentos. Ele falou: - “Tenho
o nome de muitos dos voluntários, que se apresentaram
para reforçar o efetivo de Gumercindo Saraiva. Apresento
aqui nomes de voluntários maragatos da Serra do Pinto e
Três Forquilhas, que se juntaram ao efetivo de Gumercindo
Saraiva quando este cruzava a Serra, para adentrar com o
seu exército o Estado de Santa Catarina em 2 de novembro
de 1893: São eles: < Paraguaio Gross, Carlos Girivá Dolfo
Leão, Bugre Lemes, João Rico, José Vidal, Rico do Pilão,
Joca Dionísio, Antonio Gonçalves, Beto Guimaria, Tilico
Beriva, Lula Gaspar, Mila Gâmba, Estevam Gâmba, Joaquim
Rescindo, Maneco Oliveira, Negro Democa, Saturno
Queromana, José Sabino, Carlos Sabino e José Beriva >“.
Estes homens, portanto, participaram, mais tarde, no
Estado do Paraná, dos combates do Cerco da Lapa, a partir
de 14 de fevereiro de 1894 e, ajudaram a tomar a cidade de
Curitiba.
![Page 431: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/431.jpg)
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A CASA DO SOUZA NETO
Casa de pedra ou Casa de Santo Antonio
Por Jussiê Bittencourt Hahn
(Professor de Geografia e História da rede estadual
do RS, formado em geografia licenciatura pela FACOS e
mestrando na área do ensino de Geografia pela UFRGS).
Localizada as margens da rodovia Rota do Sol,
próxima a divisa os municípios de Itati e Terra de Areia, a
casa de pedra ou de Santo Antonio (como ela é conhecida)
por populares, guarda em meio as suas paredes de rocha
basalto talhadas a mão, revestidas de barro no estilo pau-a-
pique, madeiramento “farquejado” a machado e suas
enormes janelas, muitas histórias. Algumas transmitidas
pela história oral, outras desconhecidas, e até algumas
“lendas” assustadoras.
Segundo o escritor Elio Eugenio Müller, o primeiro
proprietário dessa casa foi um senhor conhecido por Antonio
de Souza Netto, proprietário de uma boa área de terra na
região conhecida como Pântano (próxima ao Cemitério do
Espinho na localidade de Costa do Morro).
Acredita-se que sua construção tenha ocorrido no
inicio do século XIX onde os escravos carregavam pedras de
basalto do próprio terreno para erguer as paredes, segundo
Elio Müller, os escravos, na parte da manhã antes de sair
para o trabalho ganhavam um gole de cachaça para meio
que anestesiar em caso de batidas nas pedras e farinha
como alimento.
A fachada da casa está voltada para o Rio Três
Forquilhas onde antigamente existia o caminho dos
tropeiros, que seguia o curso do rio e estabelecia a ligação
com os Campos de Cima da Serra.
![Page 432: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/432.jpg)
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FIGURA 42: Foto da parte frontal da casa. Fonte: Arquivo Fotográfico do prof. Jussiê Bittencourt Hahn
O proprietário recebeu o nome de Antonio por que
sua família era devota deste santo, o que fez dele também
um grande devoto de Santo Antonio e em homenagem
construiu um pequeno altar na parte interna da casa onde o
santo ficava exposto, além disso, a casa tinha dentre seus
cômodos o quarto reprodutor e o quarto do castigo.
Conta-se por pessoas mais antigas que o proprietário
tinha e também comercializava escravos, e em uma de suas
viagens enfrentou uma tempestade na lagoa Itapeva e fez
uma promessa a seu santo protetor que se escapasse com
vida e salvasse a mercadoria (os escravos) construiria uma
casa em sua homenagem.
Quanto a Antonio de Souza Netto perdeu-se o
contato com a descendência dele.
Mais tarde o pai de três irmãos; Marco Pinheiro
Prestes, Carlos Pinheiro Prestes e Artur Pinheiro Prestes
recebeu uma sesmaria de herança, qual tinha a casa de
pedra construída, após seu falecimento, foi feita a divisão
entre os três filhos e a casa passou a ser a propriedade de
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433
Marco Pinheiro Prestes este se casou com Carlota Alves
Prestes.
Segundo relatos de Carlota Nunes Hahn, filha de
Marco Pinheiro Prestes, a casa era famosa e recebia fiéis
que vinham rezar e pagar promessas para Santo Antônio.
Disse ainda que seu avô, qual não lembrava o nome, tirou
madeira de lei para fazer um caixão e pediu para ser
enterrado ali.
Após o falecimento de Marco Pinheiro Prestes e
passado alguns anos a casa se tornou encontro para as
domingueiras (bailes que ocorriam no domingo à tardinha)
sobre o comando de Manoel Adário de Souza, onde a sala,
local da dança, era dividido em duas partes, uma de
assoalho onde os brancos dançavam e outra de chão batido
onde os negros dançavam.
Segundo Antonio João Hahn, genro de Marco Prestes,
a casa tinha um forro que era pintado e o desenho formava
a bandeira do Brasil.
Atualmente a casa pertence à Izabel Prestes, viúva
de Neri Prestes (filho de Marco). A casa ainda preserva as
janelas e as paredes originais, bem como parte do
madeiramento superior, o quarto reprodutor e o quarto do
castigo, e um pequeno pedaço de uma divisória interna de
pau a pique. Infelizmente não apresenta as melhores
condições de conservação, parte do telhado já foi reformada
pelos atuais proprietários, e a outra está cedendo, uma
parede lateral cedeu, e as aberturas estão sendo corroídas
pela ação do tempo. Janelas e paredes que se falassem
teriam com certeza muitas coisas para nos revelar sobre a
nossa história.
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434
OS MENGER PATRULHA E OS CÂNDIDO
Era o mês de novembro de 1970. Uma terça-feira de
muito calor e muita poeira na estrada. Já fazia onze meses
que eu residia em Itati. Eu não possuía carro. Fazia uso da
linha de ônibus ou do meu cavalo baio, para as andanças
pela Colônia. Terça-feira era dia de ir até a localidade
conhecida por Três Pinheiros, para ministrar aulas de ensino
religioso para os alunos da Escola Rural dirigida pelo
professor Osmar.
Tornara-se quase que um ritual. Depois de ministrar
as aulas, dirigia-me, por volta das dezessete horas até o
Armazém do Barroso, para ali esperar pelo ônibus, com o
objetivo de voltar para casa. Naquela tarde saí bem mais
cedo da Escola. Os alunos estavam envolvidos em um
torneio esportivo. Seu Barroso, o dono do Armazém,
procedia sempre do mesmo modo, ao ver-me. Buscava uma
espiriteira - fogareiro a álcool - a chaleira, a cuia e a erva-
mate para fazer ou para renovar o chimarrão.
FIGURA 43: Barroso Menger, a esposa Olinda, a filha Neila e o autor.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1999.
Naquele dia estavam ali, também o Janguinha e o
Lema, dispostos para uma prosa. Lembrei-me do dito de
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435
Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu
nome, ali eu estarei com eles”.
Sobre o balcão, um jornal da Capital chamava a
atenção. O título falava de presos políticos e de
desaparecidos. Tal matéria não era comum. A censura ainda
era feita, de forma velada, em todo o País. Essa matéria
jornalística levou-nos a falar sobre presos políticos e sobre
desaparecidos.
O velho Lema parecia querer contar um segredo.
Chegou mais perto e falou quase aos sussurros: “Presos e
desaparecidos, os há e os houve em muitos lugares, mesmo
aqui na Colônia.”
Janguinha e Barroso se entreolharam. Pareciam
querer censurar o velho Lema. Ele não se importou com o
nervosismo dos dois.
Pessoalmente me vi tomado pela curiosidade. Uma
pergunta crucial aflorou em meus lábios: - “Alguém da
Colônia foi preso por questões políticas e que eu não
saiba?”.
A minha preocupação tinha lógica. O município de
Osório fora declarado Área de Segurança Nacional, não fazia
dois anos, por volta de 1968. Mas jamais eu ouvira falar a
respeito de algum político que tivesse sido preso nesta área.
O velho Lema corrigiu imediatamente a dúvida que
se formara em minha mente. Nada de problema político.
Fora um problema por suspeita de delito banal, de
latrocínio. O homem conhecido como “Motinho” fora preso
por volta de 1965 e levado preso de Terra de Areia para um
galpão localizado em direção aos fundos do Três Pinheiros.
A intenção fora de forçá-lo a confessar um delito, através de
uma leve sessão de tortura. Para isto amarraram uma corda
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436
nos tornozelos do infeliz, jogando a corda por sobre uma
travessa de madeira, do galpão.
O homem fora simplesmente dependurado, de
cabeça para baixo. No chão, de terra batida, haviam feito
fogo. O preso era então baixado até bem próximo das
chamas, que lhe sapecavam o cabelo. O homem chorava e
contorcia-se, com o rosto marcado pelo pavor. O vaivém
parecia não ter fim.
Inesperadamente, o suplício foi interrompido. O
preso deixara pender os braços, inertes. Procuraram
reanimá-lo. Alguém trouxe um balde com água, jogando-a
sobre o seu corpo. Ficou encharcado. Não ocorreu, porém
nenhuma reação. Pegaram-lhe o pulso: - “O homem
morreu!”.
O velho Lema interrompeu o relato. O silêncio ficou
tão profundo que nos assustamos com a nossa própria
respiração.
Lema voltou-se ao Barroso, reclamando: “Já contei o
que eu vi. Agora, você Barroso, diga alguma coisa. Você viu
o cadáver do homem, quando eles passaram aqui e
pararam por um momento diante deste Armazém”.
Barroso parecia estar congelado sobre a cadeira.
Estava com a cuia na mão e mudo. Como que acordado por
um raio, ele saiu finalmente do mutismo em que se fechara:
“Não quero esconder a verdade. Realmente, ele foi morto”.
Barroso explicou que quatro homens, apinhados na
cabina de uma “camioneta” amarela, pararam diante do
Armazém. Estavam muito nervosos. Pediram que Barroso
lhes cedesse cinquenta ou sessenta litros de gasolina.
Surgira-lhes uma viagem inesperada.
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437
Enquanto um empregado do Armazém providenciava
o combustível, Barroso, por curiosidade fora verificar se
havia carga na “camioneta”. Levantou a lona e ficou
horrorizado. Um homem morto, boca aberta e olhos
vidrados, parecia fitá-lo.
Barroso olhou em volta, para verificar se o seu ato
fora notado. Os homens estavam por demais nervosos e
apressados, procurando ajudar a encher um tambor com
gasolina, a ponto de nem terem se lembrado de deixar
alguém, para guardar a macabra carga que levavam.
Interrompi a narrativa do Barroso. Desejava saber
duas coisas: 1.) – Quem era o morto? 2.) – Quem eram os
assassinos?
Os três entreolharam-se. Finalmente Barroso
retomou a palavra. O nome do morto era Motinho. Porém
não soubera do nome completo dele.
Janguinha e Lema confirmaram, movimentando a
cabeça de forma afirmativa. Também desconheciam o nome
completo do Motinho. Quanto à segunda pergunta, Barroso
pediu que o desculpasse. Ele não poderia dar o nome dos
assassinos. Talvez algum outro dia...
Janguinha também pediu desculpas. Se o Barroso
não se dispunha a dar os nomes, então ele também teria
que manter silêncio.
Lema olhou para os dois amigos com ar de
reprovação: “É gente por demais conhecida. Pegaram a
mania de assumir papel de polícia, por aqui. Há anos que
eles vem figurando como ajudantes de subdelegado,
querendo fazer a lei, aqui na Colônia.”
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Barroso interveio, dizendo que renovaria o
chimarrão. Enquanto ele foi limpar a cuia, passei a preparar
o fogareiro, para voltar a esquentar a água da chaleira.
Histórias de pessoas desaparecidas
Barroso retornou com o chimarrão renovado. Ele
desejava conversar mais um pouco. Mostrava-se tenso.
Explicou que tinha outro assunto para comentar.
Barroso passou a contar um pouco da história de
João Patrulha Menger, seu trisavô, e do Manoel Cândido,
seu bisavô que residiram na Serra do Pinto. Lamentava não
saber o nome verdadeiro, deste seu antepassado.
Barroso, quando ainda menino, ouvira comentar que
houvera gente lá na Serra jurando que Manoel Cândido fora
um dos cinco desertores baianos, da Guerra do Paraguai,
que em 1871 se refugiaram na Colônia.
Porém, se o primeiro filho de Manoel Cândido já
nascera no princípio da Guerra do Paraguai, então ele não
poderia ter sido um desses baianos.
Barroso explicou que por volta de 1892 este seu
bisavô se tornara revolucionário federalista, juntamente
com seus dois filhos e um cunhado. Eles integraram o
famoso esquadrão de combate do Baiano Candinho. Eles
entraram nessa luta na idéia de poderem libertar o Rio
Grande do Sul da maléfica ditadura castilhista.
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439
FIGURA 44: Fontes da Tradição Oral – FTO. Da esquerda para a direita, Arquimimo König – Boa União, Osvaldo Schmitt do Nascimento – Três Pinheiros, Lidurino Barroso Menger – Três Pinheiros, Ady Brehm – Três
Forquilhas, José Idílio Jacoby – Três Forquilhas e o autor, reunidos na Boa União, na residência de Arquimimo e Nair König.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
Mas eis que eles perderam a revolução. Foram
declarados como sendo bandidos. Talvez em torno de vinte
outros companheiros de Manoel Cândido também foram
assassinados, depois de terminada a Revolução.
Quanto ao Manoel Cândido ele fora declarado como
evadido da área. A relação dos declarados evadidos era
grande, talvez uns cinquenta homens.
Entretanto surgira uma dúvida, exatamente a
respeito de Manoel Cândido. Se ele realmente tivesse fugido
da região, por que motivo teria deixado de dar notícias para
os familiares? Ele tinha esposa, filhos e netos. Todos esses
familiares moravam lá na Serra. Por esse motivo a família
sempre teve o pressentimento que Manoel Cândido havia
sido morto. Em algum lugar, nas trilhas da Serra, ele talvez
virara alimento de urubu, sem sepultura e sem nome.
Quantos outros desses ex-revolucionários, que foram
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440
contados na lista de evadidos, na verdade foram
eliminados?
Ser preso, naqueles tempos da Revolução
Federalista, para a maioria deles era sinônimo de eliminação
sumária, sem chance para receber um julgamento correto.
Essa havia sido a justiça castilhista para os adversários
revolucionários, considerados como sendo meros bandidos.
O que Barroso relatou foi uma história que se pode
escutar em qualquer parte do mundo, onde acontece uma
revolução. O vitorioso é o bom (mocinho) e o perdedor
passa a ser o mau (bandido).
Barroso contou que o seu avô tivera mais sorte. Ele
conseguira se refugiar nuns matos, lá na Serra, nas terras
da pousada que pertencera ao João Patrulha e somente
voltou para a família, quando as coisas acalmaram.
Seu avô fora conhecido pelo apelido de Jacó Cândido
Menger e que depois passaria a levar uma vida bem pacata,
primeiro como serrano, dedicado ao tropeirismo e à criação
de gado e depois veio residir em Três Forquilhas, não longe
da estradinha que leva ao Chapéu e que passava diante do
antigo Piquete, do falecido Paraguaio Gross.
Jacob Menger ou Jacó Cândido Menger, ao voltar
para a sua família, conseguiu contar as coisas que
aconteceram aos revolucionários derrotados. Porém, isso
deixamos, para o último volume da Coleção Memórias da
Figueira, no livro intitulado: E A VIDA CONTINUA.
![Page 441: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/441.jpg)
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441
HERMENEGILDO PRUDÊNCIO TORRES
Hermenegildo Prudêncio Torres nasceu no dia 30 de
fevereiro de 1865 na Vila de Torres, filho de Prudência
Torres, uma serviçal morena, do Hospital local. Seu pai que
se manteve anônimo foi o Coronel Álvaro Capaverde mais
tarde Comandante do 16° Regimento de Cavalaria, de
Torres.
Hermenegildo conseguiu contar com a atenção
paterna, pois foi enviado a Porto Alegre para aprimorar seus
estudos. Formou-se para o exercício do magistério,
regressando a Torres aos vinte e dois anos de idade.
Durante a Revolução Federalista tornou-se Alferes do
16º Regimento de Cavalaria e foi enviado para exercer o
magistério na área da Boa União, em Três Forquilhas e para
prestar ao Governo, um serviço de informações, sigiloso, na
espionagem do movimento dos federalistas. Ninguém sabia
que ele era filho do Coronel Capaverde. Ele também jamais
usou farda, pois não podia aparecer como sendo um militar.
Por causa dos relevantes serviços prestados à causa
castilhista, durante a revolução federalista, ele foi lembrado
para designações importantes. Carlos Frederico Voges
Sobrinho o trouxe para se radicar no lado torriense de Três
Forquilhas onde fazia falta professor que conhecesse a
língua nacional.
Em 1901, recebeu o título de Capitão da Guarda
Nacional.
Hermenegildo casou com Reginalda de Souza e com
ela teve os seguintes filhos: F1 – Dolores que faleceu aos
dezenove anos de idade. F2 – Mário, que faleceu aos vinte e
quatro anos de idade. F3 – Élio que ingressou nas fileiras do
![Page 442: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/442.jpg)
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442
Exército Brasileiro e casou em Pelotas – RS, onde passou a
residir. F4 – Maria que casou com Johann Feck.
Quando Reginalda faleceu, o professor pediu que ela
fosse sepultada no Cemitério da Comunidade Evangélica de
Três Forquilhas - hoje Itati. Plantou um cipreste sobre a
sepultura. Esta árvore, ainda hoje, está ali no cemitério,
como sinal do local onde Reginalda de Souza Torres foi
sepultada.
Em 1906, professor Hermenegildo voltou a casar.
Uniu-se com Idalina Becker, uma filha do serrano Christian
Johann Becker e de Christina Hoffmann. Neste segundo
matrimonio teve os seguintes filhos: F5 – Luis Torres que
casou com Guilhermina Jacoby. F6 – Miguelina, que casou
com Balduino Jacoby. F7 – Dalmira que casou com Lindolfo
Voges. F8 – Edemar que casou com Laurentina Jacoby. F9 –
José, que casou com Ema do Nascimento. F10 – Hilda que
casou com Oscar Becker. F11 – Hernande que casou com
Ionita Müller. F12 – Orlando que casou com Maria Boeira.
Quando faleceu foi, a seu pedido, sepultado ao lado
da primeira esposa, no Cemitério Evangélico de Itati.
Artigo do Professor Jussiê Hahn
O professor Jussiê Bittencourt Hahn escreveu:
Hermenegildo Prudêncio Torres era filho de uma mulher que
trabalhava em uma espécie de hospital que existia em São
Domingos das Torres, onde ela lavava roupas e cuidava do
vestuário dos médicos.
De descendência indígena, Pordencia, apesar de
nunca ter se casado concebeu e deu a luz a quatro filhos,
dois meninos: Amândio e Hermenegildo, e duas filhas
Minelvina e Alexandrina.
![Page 443: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/443.jpg)
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443
Por não ter se casado seus filhos não tiveram
paternidade reconhecida e por ela não ter sobrenome
devido a ser de origem indígena, quando foi até ao cartório
para registrá-los, o escrivão então lhe sugeriu: - Dona
Pordencia, para registrar seus filhos é necessário um
sobrenome. Como a senhora não tem um sobrenome
registrado sugiro-lhe que lhe dê como principal sobrenome
o nome do morro de pedra que existe ali na beira da praia,
ou seja, Torres. Como outro sobrenome a senhora pode
colocar o seu nome, Pordência. Assim seus filhos ficarão
registrados com o nome escolhido pela senhora, o
sobrenome Pordêncio Torres. Pordência concordou, e assim
surgiu o sobrenome de uma família Torres no Litoral Norte.
Segundo conversas do povo, o pai de Hermenegildo
era o Coronel Álvaro Capaverde, que lhe bancou estudos e
assim lhe deu a formação de Professor.
Quando enviado para a colônia de Três Forquilhas,
Professor Hermenegildo assumiu uma pequena escola na
localidade de Boa União, para começar a lecionar.
Além de professor Hermenegildo tinha outra tarefa
que era secreta, ou seja, de vigiar o movimento dos
federalistas e estar por dentro das idéias dos que estavam
acampados na Serra do Pinto.
Hermenegildo tornou-se depois em líder muito ativo,
quando foi trazido para lecionar no núcleo torriense da
Colônia de Três Forquilhas. Ele passou a ter palavra ativa
nas questões políticas e militares. Estava sempre
informado, pois com frequência recebia notícias através de
jornais e de seu irmão Amandio, este seguira carreira
militar e ficou por muito tempo morando em Porto Alegre,
seu filho Alberto Torres, que hoje dá nome a escola em
![Page 444: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/444.jpg)
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Lajeado teve uma filha por nome de Sueli que faleceu
quando pequena.
Hermenegildo casou-se com Reginalda de Souza e
teve os seguintes filhos: Hélio que seguiu carreira militar
em Pelotas teve um filho médico chamado Emeri Torres e
uma filha Alba que seguiu carreira de enfermagem.
Mário que também ficou conhecido como Xirú e
exerceu por muito tempo o ofício de contador - guarda livro
em Osório - falecendo em 1977 de tuberculose.
Olinto que faleceu ainda solteiro e foi sepultado no
cemitério evangélico de Itati.
Teve ainda três meninas, Maria que casou com João
Feck e tiveram os seguintes filhos: Diva, Glória e Emilio.
Albertina foi embora para Taquara não deixando
informações.
Dolores faleceu ainda solteira, sofria de tuberculose
e foi sepultada no cemitério evangélico de Itati.
Após a morte de Reginalda, Hermenegildo, sentindo-
se solitário, buscou uma nova companheira e casou-se com
Idalina Becker, filha do Cristhiano Becker e com esta teve
os seguintes filhos: Edemar, Luiz, Minelvina, José, Ernandi,
Orlanda, Ilda e Dalmira:
Na sua infância tinha como grande amigo Carlos
Frederico Voges Sobrinho, filho do major Adolfo Felipe
Voges e bisneto de Carlos Leopoldo Voges ou Pastor Voges.
Quando fez sua casa construiu uma peça maior que
designou para servir de sala de aula onde começou a
exercer a profissão de professor, sendo então o primeiro
professor de língua nacional, do núcleo torriense de Três
![Page 445: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/445.jpg)
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445
Forquilhas. Entre seus alunos destacam Alberto Schmitt que
se tornaria escrivão do cartório da colônia, Justino Tietbohl,
que seguiu o ofício de professor e Balduíno Jacoby que foi
juiz de paz na colônia.
Devido às dificuldades de transporte, Hermenegildo
ia no lombo de seu cavalo até o distrito de Torres de dois
em dois meses para receber seu pagamento. Sua residência
ficava aos fundos de onde é hoje a Fábrica de Conservas
Brehm, de Três Forquilhas.
Além de professor juntamente com o escrivão Luiz
Gonzaga Capaverde lançaram em 1912 a pedra
fundamental da Igreja Católica de São Sebastião no
município de Três Forquilhas, foi integrante da Banda do
seu Dunga, tocando por diversos lugares na redondeza da
colônia.
Com idade já avançada Hermenegildo entregou suas
cadernetas ao professor Justino Alberto Tietbohl que seguiu
seus passos. Onde funcionava sua escola passou a funcionar
um comércio de secos e molhados e a escola foi transferida
para a área depois conhecida por Barragem, em terras da
Família Tietböhl.
Hermenegildo faleceu vítima de tuberculose e Idalina
sofria de angina e faleceu de infarto. Hermenegildo foi
sepultado com sua primeira esposa no cemitério evangélico
protestante de Itati e Idalina foi sepultada no cemitério dos
pobres na entrada do Morro do Chapéu em Três Forquilhas,
pois era católica e dizia em vida que não queria ser
enterrada no cemitério dos alemães protestantes.
Seus filhos não seguiram seu caminho educacional,
mas a partir de seus netos a vocação aflorou novamente
nas veias. De sua descendência são professores: netos:
Cerlene, Marlei, Gilmar Torres filhas de Edemar. Zulma,
![Page 446: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/446.jpg)
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Noeli, Lenir filhas de Hilda, Claúdia Jacoby filha de
Minelvina. Já seus bisnetos, Nara filha de Suely, Marilete,
Fátima filha de Maria, José Carlos e André filhos de
Lindomar Torres. Nara e Jussara filhas de Nelcy Torres, de
seus tataranetos: Jussiê bisneto de Luiz Becker.
![Page 447: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/447.jpg)
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MILITARES SERRANOS ILUSTRES
O assunto sobre militares serranos ilustres foi
abordado em FACE MORENA, volume anterior, na página
68, ao verificar que o General Rubem Ludwig nascera em
Lagoa Vermelha – RS. Dentre os leitores daquele volume,
um amigo fez um gentil contato enviando comentários
esclarecedores a respeito do General Ludwig e que
merecem registro. São informações que contribuem para a
exatidão dos dados históricos.
Aquele amigo escreveu:- “Quanto ao General Rubem
Ludwig, o Rubão, eu creio haver um pequeno equivoco no
breve curriculum em FACE MORENA, pois não me consta
que ele tenha sido do magistério. Quando promovido, a
general, Ludwig foi designado para comandar a Academia
Militar das Agulhas Negras - AMAN, cargo exclusivo de
general combatente. Em seguida, ele foi nomeado ministro
da Educação, sendo muito bem aceito por toda a
comunidade acadêmica que, inclusive, não queriam que
voltasse para a tropa e permanecesse no ministério. Foi um
excepcional militar”.
Ainda com referência a militares serranos ilustres eu
recebi dados a respeito de outro general serrano, nascido
em Vacaria – RS. Trata-se do General Nelson Borges
Molinari49, aliás, amigo meu de longa data, que em 1983,
no Comando da 5ª RM/5ª DE, foi chefe do meu estágio para
o ingresso no Serviço de Assistência Religiosa do Exército –
SAREx. Em contato com o General Molinari eu recebi
algumas informações básicas a respeito de suas origens
que recebem espaço nesta Coleção Memórias da Figueira.
Conforme o depoente a Família Molinari é oriunda da Itália.
Vieram ao Brasil pela metade do século XIX. Eram quatro
irmãos que se localizaram um em cada estado a partir de
São Paulo para o Sul. Estes quatro irmãos nunca mais
![Page 448: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/448.jpg)
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tiveram contato entre si. Para o Rio Grande do Sul seguiu
Bepo Molinari, fixando morada em Santa Maria.
General Molinari explica: - “Meu pai servia em Santa
Maria e foi transferido para Vacaria, mais ou menos em
1935. Ali encontrou minha mãe, da família Borges, e
casaram. A família Borges era tradicional na região
pertencente à estirpe de fazendeiros da região de Vacaria. O
bisavô Borges teve dezesseis filhos e filhas”.
FIGURA 45: General de Divisão NELSON BORGES MOLINARI. Nasceu a 27 de outubro de 1937, em Vacaria – RS
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
General Molinari explicou ainda: “Quando eu
tinha entre três a quatro anos de idade o batalhão no qual o
meu pai servia foi transferido para Lagoa Vermelha. Em
1950, quando ele se aposentou, voltamos para Vacaria e ali
terminei o ginásio. Em 1953 consegui ingresso na Escola
Preparatória de Porto Alegre para depois seguir para a
Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN”.
![Page 449: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/449.jpg)
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449
CONCLUSÃO
Nesta obra vimos um pouco do que ocorreu em
nossa sociedade, nos tempos de revolução sangrenta e
bélica entre 1893 e 1895. Os embates revolucionários
afetaram a tranquilidade da sociedade, afetaram a atividade
produtiva e a atividade escolar das crianças.
Os embates revolucionários interromperam as
atividades das caravanas que exportavam os seus produtos
e assim afetaram o comércio que foi enfraquecido.
A população sentiu-se pressionada, pois cada lado
queria que o indivíduo viesse a aderir na luta. A
neutralidade era mal vista, como sendo o pendor para o
lado do inimigo e, no mínimo, tornava o indivíduo, um
suspeito.
Constatamos que o movimento guerrilheiro afetou
exatamente as regiões menos habitadas, onde vivia a
população mais sofrida, mais humilde e mais desprotegida.
O movimento dos guerrilheiros afetou o trabalho nas
lavouras e a criação de animais – cavalos e gado.
O movimento guerrilheiro deixou atrás de si paióis
saqueados, casas reviradas e muitos depósitos de
agricultores, vazios.
Quando falo em movimento guerrilheiro, falo tanto
de federalistas bem como de castilhistas, pois ambos os
lados praticaram confiscos.
Precisamos conhecer esse nosso passado, mesmo
que não possamos mais reescrevê-lo, pois, o que aconteceu
já se foi e virou história.
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Quando digo que precisamos conhecer esse nosso
passado é mais no propósito de conseguirmos fazer as
pazes com ele. Poderá alguém querer me dizer: - “Aquele
não foi meu passado. Foi o passado de avós, que
vivenciaram aqueles acontecimentos ou deles participaram”.
É verdade, foi o passado deles, porém, por extensão,
transformou-se em nosso passado, pois somos herdeiros de
nossos antepassados e podemos estar carregando tantas
coisas que deles recebemos, desde os nossos gens ou quem
sabe até ideais, crenças e o modo de lidar conosco, com os
outros e com toda a natureza que nos cerca.
Fazer as pazes com o passado significa conhecê-lo,
entendê-lo, para compreender um pouco mais das
motivações que levaram estes e aqueles a fazer o que
fizeram e evitar que venhamos a repetir em nossa vida,
hoje, o que eles fizeram no passado, seja como indivíduo,
como família ou na situação coletiva de comunidade ou
sociedade.
Não quero ser o dono da verdade e nem ter a
pretensão de estar relatando toda a realidade e toda a
verdade daqueles acontecimentos que ocorreram entre
1893 a 1895. Porém quero legar às novas gerações o meu
trabalho de pesquisa, como um contador de histórias que
relata casos e causos, recebidos dos mais velhos, dos
antecessores na nossa existência.
Talvez aquela experiência dolorosa tenha levado as
lideranças castilhistas e federalistas locais, bem depressa,
para o estabelecimento de um acordo de não agressão, que
vigorasse para o território geográfico da Colônia de Três
Forquilhas.
Sabemos, através dos relatos recolhidos, que Baiano
Candinho prometeu e cumpriu o acordo de jamais entrar em
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combate na área do vale do rio Três Forquilhas. Ele que
chegou a ter sob o seu comando todo o Esquadrão Josaphat
e poderia ter descido da Serra para eliminar e varrer da
existência terrena as principais lideranças castilhistas locais,
pois ele sabia quem eles eram e onde eles residiam, mas
não o fez.
Do mesmo modo os castilhistas locais poderiam ter
entregue Baiano Candinho e lideranças liberais às Escoltas
Castilhistas quando aqui apareciam. Um exemplo para isto
foi quando da chegada à Colônia da primeira escolta policial
castilhista e que tinham ordens de prender Major Voges,
Professor Serafim Nascimento, Pastor Voges e Baiano
Candinho. Os líderes castilhistas Carlos Frederico Voges
Sobrinho e Christovam Schmitt procuraram despistar os
policiais, para conceder proteção aos adversários que eram
procurados pelas autoridades da Província.
Por que os protegeram? É que entre os supostos
inimigos constava o nome paterno e até o avô paterno do
líder máximo dos castilhistas da Colônia, além de dois
outros amigos. Eles sabiam muito bem que estas quatro
pessoas não haviam cometido nenhum ato criminoso. Era
simples perseguição política movida contra os adversários.
O objetivo desta obra é, tão somente, a intenção de
trazer à luz depoimentos dos antigos, dos mais velhos, para
saber o que eles tinham para contar a respeito da
Revolução Federalista, que ocorreu entre 1893 a 1895.
Alberto Schmitt explicou que a sua intenção era
meramente de ajudar o autor para não cometer os mesmos
erros do passado, cometido por um pastor, antecessor
neste pastorado. O foco principal desta obra continuou, pois
sendo a Revolução Federalista, do começo até o final.
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Finalmente, uma palavra sobre a escolha de OS
PELEADORES para título, desta obra.
O título OS PELEADORES serviu para colocar um fio
vermelho, para que na obra ficasse em destaque a
importância e a necessidade de se manter o espírito de luta,
para ir em busca da realização dos ideais mais nobres,
baseados em nossos princípios mais sagrados. Porém, de
preferência, conquistados por meios pacíficos,
primordialmente através da Educação.
Peleador é um termo bem gaúcho e que indica para a
importância e da disposição de lutar, mesmo que
inexperiente, mesmo que despreparado, mesmo ainda não
pronto, mesmo sem ser um lutador profissional, para ir e
fazer o trabalho que precisa ser feito, visando arregimentar
gente com o mesmo ideal na busca de um movimento
transformador da sociedade na qual vivemos. Importam
sim, os meios, mesmo que em tempos revolucionários se
ouça dizer: - “Não importam os meios, pois vale é
conquistar o alvo proposto, de qualquer modo”.
Não vale qualquer meio em nossa luta, não vale
sequestrar e cometer atos de terrorismo, não vale matar e
destruir vidas humanas, seja de que lado for.
Não será através de uma desestabilização social que
um bom peleador buscará a transformação da sociedade,
mas será através da educação, de leis mais justas e mais
humanas e de garantias e de direitos iguais para todos,
porém preservando valores maiores da sociedade, com
destaque para a família, pai e mãe unidos e dedicados na
formação de seus filhos, como base de uma Nação onde
governam a paz e a justiça.
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OS PELEADORES quer ser um relato despretensioso
através de histórias e estórias, através de casos e causos,
num simples convite para a reflexão.
OS PELEADORES também vem para estabelecer um
elo entre FACE MORENA com E A VIDA CONTINUA, títulos
anterior e posterior, nesta Coleção Memórias da Figueira.
Assim, afirmamos E A VIDA CONTINUA na esperança
de revê-los em breve, com este título final.
Elio Eugenio Müller.
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NOTAS EXPLICATIVAS
(1) Leopoldo Rassier: Leopoldo Souza Soares Rassier
era bisneto do Visconde de Sousa Soares. Rassier nasceu e
se educou em Pelotas. Nascido e criado em estância, era
campeiro sem bravatas, mas homem de pé no estribo. Não
por acaso, era um dos Cavaleiros da Paz, e os companheiros
recordam sempre suas façanhas e causos na 1ª Cavalgada
Internacional da Paz, cabresteando três ou quatro cavalos,
desafiando a feroz enchente no braço e na raça para salvar
o chapéu novo de um companheiro. O músico e advogado
Leopoldo Rassier, faleceu aos sessenta e três anos, no dia
06 de fevereiro de 2000 no Hospital de Clínicas, em Porto
Alegre. O cantor foi enterrado, num final de tarde, no
Cemitério Jardim da Paz.
(2) O barco está fazendo água: Termo
da terminologia náutica, utilizado para dizer que um barco
tem furos no casco e a água passa a invadir seu interior,
colocando os passageiros em risco.
(3) Eram apenas bons peleadores: Peleadores, termo
gauchesco derivado de peleia ou briga.
(4) Partido Liberal, partido que tivera, em suas
fileiras, entre outros, o ilustre General Osório: Conforme
Helga Iracema Landgraf Piccolo, em Anais do 5º Simpósio
da Imigração Alemã, p. 23.
(5) Discursos de Silveira Martins: MARTINS, José
Mariano – Gaspar Silveira Martins – Tipografia do Jornal do
Brasil, Rio de Janeiro, RJ, 1891, Página 104.
(6) Fredo Sapateiro jamais se afastou da base do
acampamento: Vicente Pereira, hoje com 93 anos de idade
garante que o dia-a-dia de Fredo foi todo na Serra, ao norte
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da Colônia de Três Forquilhas. Explica que em torno de
“Fredo Sapateiro” foi criado o personagem fictício do
Carniceiro, ávido pelo sangue de espiões. Seria um homem
com poderes sinistros, capaz de ler nos olhos ou rosto do
indivíduo, se alguém viesse com falsidade escondida no
coração e na mente. Vicente Pereira lembra também que
Fredo Sapateiro ficou depois incluído na relação de
evadidos, como fugitivo, quando, em 1898, nesta região,
todos os antigos revolucionários federalistas passaram a
ser, sistematicamente, eliminados, apesar do fim da guerra
e de uma anistia total. Fredo Sapateiro constara da relação
de revolucionários que ficaram marcados para morrer, por
decisão dos líderes castilhistas de Conceição do Arroio e da
Capital do Estado e por isso evadiu-se da região.
(7) Cameleira: Arbusto floral que produz a conhecida
flor da camélia.
(8) Pastor Gustav Geisler: Nasceu em Schmiegel.
Posen, em 13.12.1857, filho de Ferdinad Geisler e Joana
Kresse, conforme o Registro Eclesiástico de Três
Forquilhas. Formou-se em Teologia nos Estados Unidos da
América do Norte e dominava fluentemente a língua inglesa.
Veio ao Brasil em tomo de 1884. Ocupou o cargo de
professor da Escola Alemã de Curitiba, no Paraná durante
dois anos. Em 1886 seguiu para Ponta Grossa, com a
missão de assistir os alemães russos do Volga que ali
formavam uma área de colonização. Com a proclamação da
República, no Brasil, surgiram dificuldades para esses
colonos no tocante à posse de terras. Um grupo decidiu
então emigrar para a Argentina e Geisler assumiu a
liderança dos mesmos, dando-lhes assistência espiritual.
Geisler, porém não desejava permanecer na Argentina, e
em 1892 retornou ao Brasil.
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(9) Compêndios de meditações e de sermões: Esses
compêndios ainda existem e estão em mãos de
descendentes do pastor, que os guardam como lembrança.
(10) Cargueiros: Consistiam de mulas de carga com
bruácas ou balaios no lombo, visando o transporte de
mercadorias e utensílios durante uma viagem.
(11) A esposa do pastor entrou em pânico: Conforme
depoimento de Dona Saturnina Eberhardt, bisneta de Miguel
Barata, a jovem esposa do pastor Geisler, com apenas
dezesete anos de idade, não teve estrutura psicológica para
manter um relacionamento normal e pleno com a
Comunidade, onde a cólera passara a vitimar pessoas em
muitos lares, até na vizinhança da casa pastoral.
(12) Fraupfarrer: Termo da língua alemã que significa
“esposa de pastor”.
(13) Café com mistura: O termo mistura era uma
designação para a presença de carne, charque ou salame,
além do pão, rosca, rosquete ou pão de ló. O café podia
tanto ser preto ou misturado com leite. Entretanto não era
descartada a possibilidade de tomar chá caso assim alguém
o quisesse. Pessoalmente, passei problemas iniciais com
esse termo mistura, pois cheguei a entender mal o termo
numa ocasião em que almocei na casa de uma família.
Diante da insistência do dono da casa comecei a mexer e
misturar feijão e arroz, com o garfo. O dono da casa,
achando graça pegou o garfo dele e puxou um bom pedaço
de carne para colocá-lo em meu prato dizendo: - “Agora,
sim, pode começar a comer, pois a mistura está no seu
prato”.
(14) Anna Emília Schmitt Voges: Filha de Frederico
Voges e Bárbara Schmitt Voges, nascida em 02.08.1893.
Ela foi adotada pelos tios Carlos Leopoldo Voges Neto e
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Anna Emília Ribeiro Voges, que não podiam ter filhos, e a
levaram para Taquari onde foi criada. Anna Emilia Schmitt
Voges casou depois, em Taquari, com Homero Canabarro
Cunha e tiveram os seguintes filhos: F1 – Maria Voges
Cunha que casou com Victor Pereira Agra e tiveram os filhos
Angela Beatriz, Alba Marília, Homero, Maria Aparecida e
Anna Cristina. F2 – João Carlos Voges da Cunha que casou
com Maria de Lourdes Álvares e não tiveram filhos. João
Carlos foi Prefeito em Taquari. F3 – Homero Voges da
Cunha que casou com Lizete Schilling e tiveram os filhos
Homero Canabarro Cunha Neto e Maria Elisa Schilling da
Cunha. F4 – Anna Voges Cunha que casou com Carlos
Modesto Motta Dornelles e tiveram os filhos Anna Lúcia,
Maria Inês, Oscar e Marília.
FIGURA 46: João Carlos Voges da Cunha, ex Prefeito de Taquari, seu tio Fernando Voges e o autor, num encontro promovido em Itati, em 1986.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
(15) Livre para concorrer nas eleições: Julio de
Castilhos saiu vitorioso, reeleito, assumindo o Governo
Estadual em janeiro de 1893.
(16) Professor Serafim fora libertado da prisão:
Contou-nos o Sr. Hernando do Nascimento, morador em
Três Pinheiros, no município de Itati – RS, que seu bisavô
![Page 458: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/458.jpg)
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realmente estivera preso em Conceição do Arroio, talvez
duas ou até três vezes, porém, sempre conseguiu sair logo
de detrás das grades. Numa destas circunstâncias, o
Professor Serafim, salvara tanto a vida da mulher e bem
como de uma criança, do Intendente Municipal. A história
teria se desenrolado da seguinte forma: < A mulher do
Intendente estava em processo de parto. Já passara do
tempo, mas a mulher não conseguia parir. A notícia chegou
até a cadeia. Professor Nascimento pediu que os guardas
levassem recado ao Intendente. Que dissessem a ele de que
na cadeia se encontrava um professor da Colônia de Três
Forquilhas, perito em assuntos de parto, que teria como
salvar tanto a mãe bem como a criança. O Intendente teria
vindo pessoalmente abrir a porta da sela. Aceitara os
serviços do professor, já que ninguém mais sabia o que
fazer >. A verdade é que Serafim Agostinho do Nascimento
realmente trazia, há muitos anos, a fama de bom parteiro.
Ali, apenas recebeu a oportunidade para aumentar sua
fama. Com extrema perícia conduziu mais aquele parto,
fazendo a criança vir ao mundo. Quando Professor
Nascimento foi libertado da prisão, teve uma surpresa. O
Intendente estava ali oferecendo ao professor um cavalo,
com uma bela encilha revestida de prata. O professor não
aceitara pagamento pelo serviço do parto. O Intendente,
entretanto, viera até ali para afirmar, em alto e bom som, a
sua eterna gratidão e imorredoura amizade pelo homem
que salvara a sua esposa, na hora do parto.
(17) Bisopastor: O menino queria dizer bisavô pastor.
(18) Bandeira da Colônia: Conforme Alberto Schmitt
esta havia sido a última vez que a bandeira da colônia foi
vista, pois houve quem dissesse que a mesma depois de
colocada sobre o ataúde, ali ficou esquecida na hora de
baixar o caixão à sepultura, coberta por coroas e flores.
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(19) O vento da amada liberdade que está soprando
sobre nós: Conforme Alberto Schmitt, sobrinho de Carlos
Frederico, este apenas fez um desabafo de algo que saiu do
fundo da sua alma e do seu coração, no desejo de ver o fim
rápido para a revolução, que rompera no início de 1893.
(20) Brigada Militar do Rio Grande do Sul: “A guerra
civil de 1893 dotara o Rio Grande do Sul da necessidade de
constituir e armar uma poderosa milícia, a Brigada Militar,
que tornaria sangrenta qualquer medida capaz de perturbar
a autonomia estadual”. (Raymundo Faoro, Os Donos do
Poder, p. 583). A Brigada ficou desta forma, aparelhada
para cuidar dos interesses da ideologia do Estado. Podia ser
simplesmente designada como Brigada Castilhista.
(21) A degola do líder maragato: Essa morte inglória
de Major Azevedo talvez tenha acontecido um mês após o
golpe castilhista, de 17.06.1892, quando Júlio de Castilhos
reassumiu o Governo da Província. Não chegamos a fazer
uma pesquisa minuciosa que nos pudesse oferecer uma
exatidão cronológica dos acontecimentos. Recebemos
depoimentos que abrangem um tempo muito amplo.
Simplesmente reunimos os diferentes relatos e histórias
colhidas, os casos e causos que nos foram contados, para
transmiti-los aos leitores e pesquisadores. Permaneceu um
problema que não conseguimos resolver, ou seja, a tarefa
de estabelecer uma cronologia dos fatos, que teria sido
desejável, para esta obra.
(22) Federalistas em Movimento nesta área: Para
saber mais sobre essa fase de convulsão social, eu sugiro a
leitura de Terra de Areia, Idéias, Sonho e Realidade, onde o
autor Dr. Generi M. Lipert abordou esta fase, nas páginas
72 até 78, e a obra Noite de Reis, de Femandes Bastos -
Editora Globo, 1935.
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(23) O Dictador: Carlos Frederico Voges Sobrinho
passou a se vestir à semelhança de Julio de Castilhos e
diziam que até o corte do cabelo era idêntico. Era portanto
um republicano fervoroso. No Século XX, Carlos Frederico
Voges, contudo, seguiria os passos de Borges de Medeiros,
imprimindo uma política ainda mais rígida, de mão de ferro,
dominando toda a área do Vale do Rio Três Forquilhas como
se fosse um território republicano exclusivo. A alcunha de O
Dictador se firmou ainda mais em virtude desse estilo de
chefia política. Olhando para o passado e fazendo
comparações verifica-se que, no tempo do Pastor Voges, o
Partido Liberal, que dominara a vida e atividade política de
Três Forquilhas sob a liderança do major Adolfo Felipe
Voges, filho do pastor, o fizera à sombra da autoridade
pastoral. Já com Carlos F. Voges a situação se inverteu, e a
atividade pastoral foi relegada a um plano secundário, à
sombra da autoridade política.
(24) Coroas Fúnebres: A Sra. Luiza Virgínia
Maschmann Pereira de Souza costumava dizer que a avó
dela aprendera a confeccionar coroas fúnebres com a
professora Elisabetha Diefenthaeller Voges e que ela,
Virgínia, aprendera essa atividade através da avó. Ainda
conheci o trabalho de Luiza Virgínia na confecção de coroas,
entre 1970 a 1975.
(25) Pastor itinerante Rudolf August Von Braken: Ler
em Estudos Teológicos nº 2/3, de 1966, pag. 105 e 106 em
"Die Anfannge der Reisepredigt und Diáspora-Arbeit in der
Riograndenser Synode", Von Dr. Joachim Fischer.
(26) Yo me bato per la libertad: Dicionário Histórico
e Geográfico do Paraná, Volume II, Fascículo III, p. 820.
(27) Invernada dos Cavalos: No fundo do Sítio da
Figueira, além do sopé do morro existia um terreno mais
plano, onde foi feita uma Invernada, fazia já diversos anos.
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O local passou a ser conhecido por Invernada dos Cavalos.
Tratava-se de um local escondido, de difícil acesso e fácil
para ser defendido. Carlos Frederico ali mandara construir
currais, um grande galpão e diversos ranchos de moradia,
destinado para os peões. Quando rompeu a Revolução
Carlos Frederico dizia: - “Ali é um local perfeito para
escondermos os nossos animais. Se algum dos amigos
quiser fazer uso do local me avise para conduzirmos os
cavalos ou novilhas para lá. Somente haverá uma paga a
fazer, pois terão que fornecer forragem: aipim, milho e
cana, principalmente no inverno, pois os animais precisam
de alimento”.
(28) Igreja Episcopal Brasileira, que existe aqui em
Porto Alegre: Leopoldo Tietböhl fazia referência ao fato que
em 1º de junho de 1890, pastores episcopais haviam
realizado na cidade de Porto Alegre, o primeiro culto da
Igreja Protestante Episcopal no Sul dos Estados Unidos do
Brasil, que foi o primitivo nome da Igreja Anglicana em
terras brasileiras. Esse acontecimento despertara a atenção
de muitos intelectuais protestantes residentes na capital
gaúcha que, talvez por mera curiosidade, iam assistir o
trabalho dos clérigos ingleses.
(29) Pezuelos: Alforges que consistem em dois sacos
ou malas de couro, unidos ao centro em que, em viagem a
cavalo, são levados à garupa do animal, atrás da sela.
(30) Nada conseguiram encontrar: mesmo nos dias
seguintes, as buscas foram infrutíferas de modos que
Christian Tietböhl teve que ser declarado como
desaparecido, no trágico naufrágio, sem haver corpo para
ser sepultado.
(31) Jacob Trompeteiro: Livro FACE MORENA, volume
5° da Coleção Memórias da Figueira, página.
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(32) Fiel da balança: a) haste situada no meio do
braço da balança, perpendicular a ele, e destinada a regular
a exatidão do peso; b) figurado: tudo o que nos serve de
guia em nossas decisões, pela confiança que nos merece.
Ser o fiel da balança: ser aquele de quem depende decisões
importantes e bons conselhos.
(33) Não encontrou o eco esperado: As lideranças da
Comunidade começaram a discutir com o pastor pleiteando
que a Escola da Comunidade voltasse a ser bilíngue.
Quando a Colônia, em 1897, foi assolada por uma enchente
de proporções jamais vistas, que destruiu lavouras e até o
cemitério da Comunidade, deixando muitos colonos
arruinados, sobreveio o auge da insatisfação. A enchente
nada tinha a ver com língua ou diretrizes do Sínodo, mas
levou o pastor a sair, em busca de outro campo de trabalho
que estivesse firmado na Germanidade.
(34) Marina: Marina Brusch, filha de José Osvaldo
Brusch e Elohy de Souza Neto Brusch, nascida em Itati, fez
mais tarde Educação Física no IPA em Porto Alegre.
(35) Regina: Maria Regina Winterle, nasc. Brusch,
concluiu seu curso superior, depois de casada em Santa
Cruz do Sul - RS. Ela conta: - “Lecionei durante algum
tempo. Depois Oscar Winterle, o meu marido, ficou
envolvido intensamente com a criação da
Faculdade/Universidade da ULBRA em Santa Cruz do Sul, e
quando tivemos o feliz advento de meninas gêmeas, optei
pela família”. Regina também gosta de frisar: - “Quanto ao
sair para estudar o meu grande incentivador sempre foi
meu querido pai. Ele me ensinou a ler e sempre falava da
importância da gente saber bem de tudo o que se passa em
volta de nós e no mundo”.
(36) Nilon: Nilon Erling conseguiu ser transferido
para a Faculdade Católica, em Porto Alegre, onde concluiu o
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curso de medicina. Fez especialização em Anestesiologia.
Hoje é o Chefe do Departamento de Anestesiologia da Santa
Casa de Misericórdia em Porto Alegre e militar aposentado
da Aeronáutica.
(37) Nei: Nei Erling é hoje um dos poucos cartógrafos
que existem no Brasil. Ele trabalhou na Ponte Rio Niterói, na
Holanda, no Canal do Panamá, mas principalmente em solo
brasileiro. Reside com a família no Rio de Janeiro e dedica-
se a divulgar o trabalho e a arregimentar novos
interessados em Cartografia.
(38) Corrente Germanista: O meu bisavô Johann
Müller que chegou ao Brasil em 1877 era católico,
proveniente da Boêmia, do Império Austro Húngaro.
Inicialmente o bisavô residiu por breve tempo em
Candelária – RS, depois ele mudou-se para a Picada Pfeiffer,
da Comarca de Cachoeira do Sul. Por ser católico o meu avô
Ernesto Leopoldo Guilherme Müller, quando foi alfabetizado,
em 1884, ele frequentou uma escola que oferecia formação
bilíngue. Deste modo ele passou a dominar bem as duas
línguas, alemã e nacional. Isto certamente contribuiu para
que o meu avô não ficasse preso ao espírito germanista que
foi incutido nos imigrantes evangélicos e que dominou o
meio eclesiástico dos imigrantes evangélicos – protestantes.
De modo especial, quando o avô casou a protestante Luise
Schumann, ao mudar-se para Neu Württemberg, hoje
Panambi – RS, ele servia, com muita satisfação, de
intérprete para colonos que não conheciam a língua
nacional. Convém explicar que, quando casou, ele não
assumiu a Igreja Luterana por convicção, mas apenas por
conveniência.
(39) Industrialista Emilio Bobsin: Emílio Bobsin
instalou um moderno Curtume para beneficiamento de
couros. Além disso, aperfeiçoou a Selaria Bobsin herdada
dos antepassados imigrantes, passando a contar com mais
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de uma dezena de empregados, um caminhão e
equipamentos trazidos de São Leopoldo, para a atividade do
curtume.
(40) Oneide Bobsin: Oneide Bobsin filho de Olício e
Olívia Bobsin, neto de Eugenio e Lidia Bobsin e descendente
do colono mais forte que um touro, nascido em Itati e que
saiu para estudar e nunca mais deixou de ser um estudante,
pois cursou a Escola Superior de Teologia da IECLB, em São
Leopoldo, fez doutorado e hoje ele exerce o cargo de Reitor
da Escola Superior de Teologia, da IECLB, guiando as novas
gerações de obreiros eclesiásticos que são despertadas e
vão à busca de uma boa formação. Apenas para ilustrar um
pouco a respeito da vocação de Oneide, quando ele era
ainda menino e quando com os pais ia aos cultos, sempre
insistia: - “Também quero ir lá no altar fazer aleluia”!
Portanto, desde criança ele mostrou predileção pelo serviço
do altar de Deus e um forte pendor pelo púlpito.
(41) Pupilo: Aqui se trata de um mero jogo de
palavras, referenciando a abertura do centro da Iris dos
olhos. Pupila serve, pois como sinônimo popular para
menina dos olhos. Porém, direcionei o termo também para
o sentido de pupilo – aluno. Conforme o dicionário, pupila
ou pupilo também pode servir de sinônimo para educando,
aluno, protegido ou afilhado.
(42) José Carlos Torres: É um descendente do
dedicado professor Hermenegildo Prudêncio Torres. O jovem
José Carlos era muito promissor, porém teve que buscar
outro caminho para a sua formação e para conseguir
abraçar o exercício do magistério. Hoje ele é formado
inclusive em nível superior e durante diversos anos lecionou
na Escola Estadual Pastor Voges, em Itati – RS. José Carlos
casou com a professora Elisete Mauer, que foi minha
confirmanda e é descendente de uma tradicional família
evangélico protestante, chegados ao vale em 1826.
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(43) O Senhor da Igreja quem chama, prepara e
envia os seus mensageiros: A IECLB não se esqueceu
desses obreiros, enviados em caráter emergencial, pois lhes
concedeu a oportunidade de concluir a devida formação, em
nível superior.
FIGURA 47: O autor e seu colega Clóvis Nähr, após a formação concluída, são ordenados em 03 de novembrro de 1981, em Ivoti – RS.
(44) Óbice: Fato ou circunstância que pode impedir a
realização de um ato ou a consecução de um objetivo.
Sinônimos de óbice: empecilho, obstáculo; dificuldade,
impedimento.
(45) Em foto por ele sonhada: Ivo Baiano sofria de
bócio conhecido popularmente como papo, e que é um
aumento do volume da tiróide ou tireóide, em virtude da
falta de iodo no organismo. Em virtude disso temos hoje sal
de cozinha, iodado, para evitar o surgimento desse
problema. Ivo Baiano sempre desejara fazer uma cirurgia.
Ele dizia: - “O preço de uma cirurgia é proibitivo. E, quando
fiquei velho não deu mais para fazer essa tal plástica”.
Prometi então que eu faria uma foto em meu Photoshop,
para que pelo menos pudesse visualizar como seria a
aparência livre do bócio. Mas quando eu ia levar a
reprodução para que a visse, ele faleceu, sem poder ver
esta imagem.
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(46) Beriva: O termo beriva identificava pessoas
nascidas ou vindas do Estado de São Paulo. No caso do
Beriva Athaíde, ele passara a trabalhar no Alto do Josaphat,
primeiro como peão de fazenda e depois como tropeiro,
passando a levar gado para o Paraná e até Sorocaba, no
Estado de São Paulo.
(47) Enfrentavam uma mesma situação, a viuvez: A
viuvez de Candinho foi algo totalmente novo e que, no final,
não ficou devidamente esclarecida. O nome dessa mulher
teria sido Catharina Kras, nascida Müller. Não encontrei
esse nome nos registros do pastor Voges. Porém sabendo
que muitas folhas tanto do registro de batismos bem como
do registro de casamentos se perderam, é possível que
tenha existido essa pessoa. Porém fica a pergunta: - < Ela
era filha de qual dos Müller que viveram na Colônia e depois
saíram? Quem era o Kras com o qual ela se casara e com o
qual não tivera filhos? >
(48) Cândio Becker: No Livro do Registro de
Batismos do pastor Voges se encontra o assentamento de
que no 29.10.1879 Dotothea Becker deu à luz um menino,
que foi batizado com o nome de Johann Candea Becker, ou,
em português, João Candinho Becker, como nascido de mãe
solteira. Este menino cresceu, ouvindo da mãe, ser ele um
filho do Baiano Candinho. Ele passou a ter um grande
orgulho disso. Na vizinhança passou a ser chamado de
Cândio Beca ou João Candinho. O apelido que vingou foi de
Cândio Beca e quando em 1898 o seu pai foi assassinado foi
ele que colocou na sepultura uma cruz cerne de madeira. O
autor conheceu esta cruz e por ocasião do centenário da
morte de Candinho o autor e Ivo Baiano a substituíram por
uma cruz de concreto.
(49) General Nelson Borges Molinari: General de
Divisão Nelson Borges Molinari, da Arma de Engenharia,
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nascido em Vacaria - RS. Chegou ao posto de general de
divisão. Comandou a 15ª Brigada de Infantaria em
Cascavel, depois a 7ª RM/DE no Recife, a 2ª DE em São
Paulo e finalmente foi Sub Chefe do Estado Maior do
Exército e Sub Secretário de Economia e Finanças do
Exército, onde passou para a reserva.
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FIGURAS em OS PELEADORES.
FIGURA 01: Página 11 - O autor também é um aluno da
Escola do Meio Ambiente, e o vemos sentado aos pés da
mestra, a Figueira que Fala. Fonte: Ilustração feita pelo
autor.
FIGURA 02: Página 22 - O autor e a noiva, em 1970,
quando ainda existia a 2ª figueira, cujos galhos aparecem à
esquerda. Essa árvore havia sido podada em demasia, pela
CEEE e não resistiu, desaparecendo em 1971. Fonte:
Arquivo fotográfico do autor.
FIGURA 03: Página 27 - O idoso Pastor Voges abençoa
Baiano Candinho. Fonte: Gravura feita pelo autor.
FIGURA 04: Página 28 - Sobrado do Pastor Carlos L.
Voges. Fonte: Arquivo de fotos e gravuras do autor.
FIGURA 05: Página 32 - Major Adolfo Felipe Voges. Fonte:
Arquivo da Família Voges.
FIGURA 06: Página 34 - Johann Peter Jacoby Neto e
esposa Luisa Henrietha Voges. Ela era filha do major Adolfo
Felipe Voges. Fonte: Acervo fotográfico da Família Voges.
FIGURA 07: Página 36 - Efetivo de peleadores federalistas.
Fonte: Arquivo fotográfico de Alberto Schmitt.
FIGURA 08: Página 47 - Professor Serafim Agostinho do
Nascimento. Fonte: Arquivo fotográfico de Alberto Schmitt.
FIGURA 09: Página 51 - Peleador, pé descalço. Fonte:
Gravura feita pelo autor, com base em imagem da Internet.
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FIGURA 10: Página 53 - Baiano Candinho promovido a
major. Fonte: Arquivo fotográfico de Alberto Schmitt.
FIGURA 11: Página 64 - Carlos Frederico Voges Sobrinho,
comerciante, tropeiro e líder castilhistas da Colônia de Três
Forquilhas. Fonte: Arquivo fotográfico da família Voges.
FIGURA 12: Página 66 - Cameleiras plantadas por
CFVoges. Ainda existem no Sítio da Figueira, em Itati – RS.
Fonte: Foto batida pelo autor, 2010.
FIGURA 13: Página 70 - Residência e casa comercial do
Major Adolfo Felipe Voges, situada diante do templo. Fonte:
Arquivo fotográfico do autor.
FIGURA 14: Página 72 - Adolfo e Bina Rosina Voges.
Fonte: Álbum fotográfico da Família Voges.
FIGURA 15: Página 80 - Pastor Gustav Geisler atuou em
Curitiba, Ponta Grossa, Argentina, Três Forquilhas,
Montenegro e Monte Alverne. Faleceu em 22.10.1925, em
Joinville-SC, onde foi sepultado. Fonte: Arquivo fotográfico
do autor.
FIGURA 16: Página 88 - Nova casa Pastoral construída em
1892. A mesma foi ampliada em 1912 com a construção de
salas de aula. Fonte: Gravura do autor
FIGURA 17: Página 113 - Christovam Schmitt, esposa e o
filho Alberto. Fonte: Arquivo fotográfico de Alberto Schmitt.
FIGURA 18: Página 116 - Anna Emília Schmitt Voges,
1893. Filha de Frederico Voges e Bárbara Schmitt. A
pequenina perdeu a mãe no parto. Fonte: Foto do Arquivo
da Família Voges.
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FIGURA 19: Página 130 - Professor Nascimento escondeu-
se numa barrica vazia. Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
FIGURA 20: Página 135 - “Vou tirar o intrujão do meu
templo”. O idoso pastor munido de um bastão se dirigiu ao
templo. Fonte: Gravura do autor, 1980.
FIGURA 21: Página 195 - Gumercindo Saraiva. Fonte:
Figura colhida na Internet.
FIGURA 22: Página 200 - Maragato Degolador. Fonte -
Acervo Casa da Memória – CURITIBA-PR.
FIGURA 23: Página 202 - Comando Revolucionário
Maragato. Fonte: Acervo da Casa da Memória – Curitiba –
PR.
FIGURA 24: Página 208 - Elisabeth Diefenthaeler Voges.
Foi professora da Escola da Comunidade de Três Forquilhas
entre 1833 a 1850. Fonte: Gravura do Arquivo da Família
Voges.
FIGURA 25: Página 212 - General Artur Oscar de Andrade
Guimarães. Fonte: Acervo do Arquivo Histórico RGS – Porto
Alegre – RS.
FIGURA 26: Página 221 - Frederico Voges e Leopoldina
Justin em elevada idade. Fonte: Arquivo fotográfico da
Família Voges.
FIGURA 27: Página 225 - Alferes Leopoldo Tietböhl, 1994.
Dezenove anos de idade. Fonte: Acervo do Arquivo da
Família Voges.
FIGURA 28: Página 243 - Adolfo Felipe Voges. Fonte:
Acervo Fotográfico da Família Voges.
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FIGURA 29: Página 269 - Tenente Frederico Maximiliano
Tietböhl, o Max Tiba, com trinta anos de idade. Filho de Três
Forquilhas e Herói Republicano. Recebeu o comando do 3°
Esquadrão do 16° RC. Fonte: Gravura do Arquivo da Família
Voges.
FIGURA 30: Página 282 - Pastor Gottfried Schlegtendal.
Fonte: Arquivo fotográfico da Família Voges.
FIGURA 31: Página 365 - Alberto Schmitt, escrivão de Três
Forquilhas. Na Comarca de Conceição do Arroio – Osório –
RS. Fonte: Arquivo da Família Voges.
FIGURA 32: Página 378 - Na residência de Osvaldo e Elohy
Brusch. Maria Regina na espreguiçadeira, à direita Doris, de
preto, à esquerda a professora Nelene Gross, e na cadeira
ao centro Eva Maria Bobsin. Na porta da residência Dona
Lóia Brusch, dona da casa. Fonte: Acervo fotográfico do
autor, 1970.
FIGURA 33: Página 384 - Jovens da Comunidade do vale
do Três Forquilhas, prontos para a apresentação do
Presépio ao Vivo. O jovem Oneide fez o papel do carpinteiro
José. À direita: Oneide, em detalhe de zoom. Essa Cantata
de Natal foi ensaiada pela professora Doris Voges Bobsin.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1972.
FIGURA 34: Página 388 - Em 1970, já com a minha nova
batina. Escrevi atrás desta foto: COM TEMOR E TREMOR
ASSUMI O PÚLPITO E O ALTAR. Fonte: Arquivo fotográfico
do autor, 1970.
FIGURA 35: Página 396 - Tonho das Cabras do Morro do
Chapéu. Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1970.
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FIGURA 36: Página 400 - O jovem Enildo dos Santos
Brehm. Diante do Armazém do seu pai Antonio Clarestino
Brehm. Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1972.
FIGURA 37: Página 408 - Olício e Olívia Bobsin, diante do
templo da IECLB em Itati. Fonte: Acervo do autor, 1970.
FIGURA 38: Página 410 - Ivo Mello de Oliveira, o Ivo
Baiano. Em foto por ele sonhada44. Fonte: Foto do arquivo
do autor, 1999.
FIGURA 39: Página 421 - Eliseu Klein de Oliveira. Sentado
diante da mesa de Prefeito do município de Itati – RS. Pelo
fato de temporariamente ter assumido o exercício desse
cargo. Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
FIGURA 40: Página 424 - Vicente Pereira de Souza e o
autor. Fonte: Acervo fotográfico do autor.
FIGURA 41: Página 426 - ADAIR KÖNIG, tropeiro e
vaqueano. Que me serviu de guia em muitas andanças pelo
vale do Três Forquilhas, em busca de depoimentos dos mais
idosos. Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
FIGURA 42: Página 431 - Foto da parte frontal da casa.
Fonte: Arquivo Fotográfico do prof. Jussiê Bittencourt Hahn.
FIGURA 43: Página 433 - Barroso Menger, a esposa
Olinda, a filha Neila e o autor. Fonte: Arquivo fotográfico do
autor, 1999.
FIGURA 44: Página 438 - Fontes da Tradição Oral – FTO.
Da esquerda para a direita, Arquimimo König – Boa União,
Osvaldo Schmitt do Nascimento – Três Pinheiros, Lidurino
Barroso Menger – Três Pinheiros, Ady Brehm – Três
Forquilhas, José Idílio Jacoby – Três Forquilhas e o autor,
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reunidos na Boa União, na residência de Arquimimo e Nair
König. Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
FIGURA 45: Página 447 - General de Divisão NELSON
BORGES MOLINARI. Nasceu a 27 de outubro de 1937, em
Vacaria – RS. Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
FIGURA 46– Página 456 - João Carlos Voges da Cunha, ex
Prefeito de Taquari, seu tio Fernando Voges e o autor, num
encontro promovido em Itati, em 1986. Fonte: Arquivo
fotográfico do autor.
FIGURA 47: Página 464 - O autor e seu colega Clóvis Nähr,
após a formação concluída, são ordenados em 03 de
novembrro de 1981, em Ivoti – RS.
![Page 474: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/474.jpg)
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FONTES DE CONSULTA
Livros do Registro Eclesiástico da COMUNIDADE
EVANGÉLICA DE TRÊS FORQUILHAS, em Itati – RS.
(Registro de Batismos, Casamentos e Óbitos).
Elio E. Müller, em TRÊS FORQUILHAS 1826 – 1899,
Fonte: Gráfica e Editora Ltda, Curitiba, 1992.
Acervo documental do Pastor CARLOS LEOPOLDO
VOGES. Pastas de documentos, livros, relatórios, fotografias
e papéis avulsos.
Depoimentos e arquivo pessoal do escrivão ALBERTO
SCHMITT e de seu pai, o escrivão CHRISTOVAM SCHMITT.
Depoimentos de Alberto Schmitt vindos da tradição oral.
Depoimentos de ARTUR DANIEL GROSS, um homem
irrequieto, de espírito errante, conhecido como Paraguaio
Gross, descendente do veterano da Guerra do Paraguai,
Carl Daniel Gross. Nasceu em Três Forquilhas - RS em
28.07.1910, filho de Carlos Daniel Gross Júnior e de
Carolina Bobsin Gross. Faleceu em Curitiba – PR, no
Instituto de Medicina em 25.08.1986. Foi sepultado no dia
26 de agosto, no Cemitério de Santa Cândida. O falecido
não tinha vínculo eclesiástico por isso a família solicitou a
assistência do Capelão Militar Protestante. No entanto o
mesmo estava ausente de Curitiba participando de
manobras militares. Em consequência a esposa do capelão
militar, Doris Bobsin Müller oficiou a cerimônia fúnebre.
Artur Daniel Gross ficou durante três meses em tratamento
médico, na cidade de Curitiba. Isso permitiu que ele
recebesse inúmeras visitas do capelão, que aproveitou para
escutá-lo, já que o enfermo desejava contar a sua história,
bem como dos antepassados. Foram tocantes histórias
sobre o avô Carl Daniel Gross, veterano da Guerra do
Paraguai, sobre o pai Carlos Daniel Gross Júnior, um
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revolucionário que aos dezenove anos ingressou nas fileiras
maragatas para lutar na Revolução Federalista, tendo
acompanhado Gumercindo Saraiva no Cerco da Lapa e na
tomada de Curitiba.
Depoimentos de IVO DE OLIVEIRA MELLO, o IVO
BAIANO, neto de Baiano Candinho, um bom conhecedor da
história do legendário avô Baiano Candinho.
Depoimentos de VICENTE PEREIRA DE SOUZA, o
Vicentinho Pereira, descendente de Friedrich Marques
Pereira de Souza, revolucionário federalista que foi vizinho
de Baiano Candinho e integrante do esquadrão Josaphat.
Depoimentos de LIDURINO BARROSO MENGER,
bisneto de João Patrulha Menger e que guardou a tradição
oral da família.
Depoimentos de EUGENIO BOBSIN, com memórias
sobre os seus antepassados Eberhardt e Bobsin. Eugenio
Bobsin foi criado pelo avô Cristiano Eberhardt, com o qual
colheu memórias valiosas sobre a história da Colônia de
Três Forquilhas.
Depoimentos de CLARESTINA JUSTIN BREHM, sobre
a numerosa Família Justin e Brehm. Dona Clara, como era
chamada, guardou muitas histórias interessantes sobre os
antepassados e sobre a vida na Colônia.
Depoimentos de ADY BREHM, descendente do
ferreiro Wilhelm Brehm, um conhecedor profundo do
passado da família e das relações de famílias e grupos na
vida da Colônia De Três Forquilhas.
GENERI MÁXIMO LIPPERT, natural de Sanga Funda,
em Terra de Areia-RS, advogado, político e escritor, que
incentiva a realização de Saraus de História, para a permuta
![Page 476: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/476.jpg)
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476
de conhecimentos na pesquisa sobre a história do vale do
Rio Três Forquilhas.
RODRIGO TRESPACH, natural de Osório - RS,
historiador e pesquisador que já lançou diversos livros sobre
a pesquisa histórica da colonização de Três Forquilhas e
participa regularmente do Encontro de História sob a
Figueira, para a troca de idéias a respeito de casos e causos
da história de Três Forquilhas.
JUSSIÊ BITTENCOURT HAHN, professor de geografia
na Escola Estadual de Ensino Médio Pastor Voges, e na
Escola Estadual Guilherme Schmitt, ambas no município de
Itati – RS. Professor Jussiê passou a trabalhar com alunos
sobre conteúdos dos livros da Coleção Memórias e da
Figueira. Enviou sugestões para serem incluídas neste
volume OS PELEADORES com matéria sobre a CASA DE
SOUZA NETO e dados biográficos sobre o Professor
HERMENEGILDO PRUDÊNCIO TORRES.
MARINA RAYMUNDO DA SILVA, em Navegação
Lacustre Osório – Tôrres – D.C. Luzzato Editores – Porto
Alegre – RS, 1985.
FERNADES BASTOS, em Noite de Reis. Editora Globo,
Porto Alegre - RS, 1935. Trata-se de uma obra de ficção
histórica, onde Baiano Candinho é colocado, desde a sua
chegada ao vale do rio Três Forquilhas, num meio onde ele
não viveu e com relacionamentos que ele não teve. Com
isto a figura de Candinho, a partir desta obra, ficou
distorcida diante de leitores mais desavisados.
GESMAR BORGES, Historiador de Cambará do Sul –
RS nos presenteou com o livro RAÍZES DE CAMBARÁ DO
SUL, 2006, onde escreveu a dedicatória: < Ao amigo Elio
Müller, escritor socorrista de pesquisadores da história
serrana do Rio Grande do Sul >.
![Page 477: 6 - Os Peleadores PDF](https://reader034.vdocuments.net/reader034/viewer/2022050618/55cf9c41550346d033a933f0/html5/thumbnails/477.jpg)
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COLEÇÃO MEMÓRIAS DA FIGUEIRA
Autor: Elio Eugenio Müller
Volume: I
De Pés e a Ferros
O nascer da Colônia de Três Forquilhas.
Volume: II
Sangue de Inocentes
Episódio da Revolução Farroupilha.
Volume: III
Dos bugres aos pretos
A tragédia de duas raças.
Volume: IV
Amores da Guerra
Histórias da Guerra do Paraguai.
Volume: V
Face Morena
A miscigenação na Colônia de Três Forquilhas.
Volume: VI
Os Peleadores
Um episódio da Revolução Federalista.
Volume: VII
E a vida continua...
O drama humano diante do flagelo da epidemia.
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