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  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013

    Breves consideraes acerca das teorias do imperialismo e da

    dependncia ante a financeirizao do capitalismo contemporneo1

    Marisa Silva Amaral2

    As breves consideraes aqui reunidas na forma de ensaio pretendem suscitar um

    debate em torno da necessidade e urgncia de retomada e atualizao das principais

    categorias analticas trazidas pelos tericos vinculados corrente marxista da Teoria da

    Dependncia. Longe de desejarmos oferecer neste espao respostas prontas ou solues

    para os problemas que se colocam, pretendemos to somente situar o debate em torno das

    transformaes ocorridas no sistema capitalista, particularmente a partir dos anos 1970, e

    suscitar questes que justificam no s o interesse pela Teoria Marxista da Dependncia,

    mas tambm a percepo em torno de seu vigor terico, entendendo a permanente

    necessidade de se retomar e repensar os conceitos abstratos correspondentes a situaes

    concretas especficas estas ltimas sempre em mutao no curso histrico de

    desenvolvimento do capitalismo. Sendo assim, pretendemos, ainda que embrionariamente,

    sugerir alguns caminhos nesta tarefa de atualizao/complexificao das categorias, abrindo

    espao, inclusive, para propostas de incorporao de novas formas de manifestao das

    mesmas que nos levam a robustecer sua validade e caminhar no sentido da proposta de

    Osrio (2012) quanto necessidade de historicizar a teoria.

    1. Introduo: falando de imperialismo e de dependnciaA teoria clssica do imperialismo inaugurada a partir do trabalho do economista

    britnico John A. Hobson (1902), que, ainda que escrevendo a partir da perspectiva

    ideolgica dominante, exerceu enorme influncia sobre as principais contribuies marxistas

    acerca do tema. Quanto a estas, nos referimos aqui aos trabalhos de Rudolf Hilferding

    (originalmente publicado em 1910), Rosa Luxemburg (1912), Karl Kautsky3 (1914), Nicolai

    Bukhrin (produzido em 1915 e publicado em 1917) e Vladimir Lenin (escrito em 1916 e

    1 Este artigo representa uma verso modificada dos textos levados a debate no 35 Encontro Anual da ANPOCS, em 2011, e no XVII Encontro Nacional de Economia Poltica, em 2012.2 Doutora em Economia do Desenvolvimento pelo IPE-FEA/USP e Professora Adjunta do IE/UFU. E-mail: [email protected] Kautsky tido por Lenin como um ex-marxista em razo de seus posicionamentos poltico-ideolgicos assumidos no mbito da II Internacional. No captulo 9 de seu Imperialismo, fase superior do capitalismo, ao fazer uma crtica do imperialismo, Lenin dedica uma parte importante de seus esforos para desenvolver e fundamentar seu rebatimento em relao s ideias propostas por Kautsky, esclarecendo as razes pelas quais enxerga o afastamento deste autor em relao ao marxismo. Mesmo Hilferding mencionado por Lenin como um antigo marxista, atualmente companheiro de armas de Kautsky e um dos principais representantes da poltica burguesa, reformista, no seio do Partido Social-Democrata Independente da Alemanha (LENIN, 1917/2009, p. 13, Prefcio s Edies Francesa e Alem). No vem ao caso avaliar aqui a validade ou no destas afirmaes, mas vale o registro, apenas para que fique claro que a vinculao desses autores ao marxismo no consenso; pelo menos no durante toda a sua trajetria terico-poltica.

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013publicado em 1917), adquirindo maior importncia para o estudo aqui proposto os escritos

    de Hilferding (O Capital Financeiro), Lenin (Imperialismo, fase superior do capitalismo)

    e Bukhrin (A Economia Mundial e o Imperialismo), posto que se dedicam a apontar as

    caractersticas essenciais do capitalismo (convertido em imperialismo) naquele momento

    histrico presente no escopo de sua anlise, isto , o perodo que se estende de 1860 at o

    ano de publicao de suas respectivas obras.4

    Tais caractersticas podem ser sintetizadas a partir de Lenin (1917/2009), que as

    identifica como os cinco traos fundamentais do imperialismo, tal como segue:

    1. a concentrao da produo e do capital levada a um grau to elevado de desenvolvimento que criou os monoplios, os quais desempenham um papel decisivo na vida econmica; 2. a fuso do capital bancrio com o capital industrial e a criao, baseada nesse capital financeiro, da oligarquia financeira; 3. a exportao de capitais, diferentemente da exportao de mercadorias, adquire uma importncia particularmente grande; 4. a formao de associaes internacionais monopolistas de capitalistas, que partilham o mundo entre si; e 5. o termo da partilha territorial do mundo entre as potncias capitalistas mais importantes (Lenin, 1917/2009, p.90).

    Esta caracterizao o leva a definir o imperialismo como

    o capitalismo na fase de desenvolvimento em que ganhou corpo a dominao dos monoplios e do capital financeiro, adquiriu marcada importncia a exportao de capitais, comeou a partilha do mundo pelos trusts internacionais e terminou a partilha de toda a terra entre os pases capitalistas mais importantes (Lenin, op. cit., p. 90).

    Como complementao necessria teoria do imperialismo, surge a teoria da

    dependncia em meados da dcada de 1960 (entre 1964-67), num contexto histrico de

    superao do processo de substituio de importaes e emergncia do processo de

    integrao da economia mundial intermediado pela hegemonia norte-americana. Retomando

    as ideias de Valencia (2007, p. 29), poderamos afirmar que os pressupostos doutrinrios e

    econmico-polticos da teoria do imperialismo em sua formulao clssica

    [] fueran insuficientes para caracterizar al mundo que se desarrollaba en la periferia del sistema capitalista dominante, particularmente en su funcin histrica para viabilizarlo. Es de esta manera que el concepto dependencia [...] representa un complemento necesario de la teora del imperialismo para

    4 H aqui uma completa impreciso de nossa parte, uma vez que as principais ideias de Lenin, Hilferding e Bukhrin so ainda vlidas para explicar o momento atual, mesmo que com algumas insuficincias decorrentes do fato de que o capitalismo teve um sculo de histria aps a publicao dessas anlises e, portanto, um sculo de transformaes em sua estrutura de funcionamento. Isto, evidentemente, seguindo o mtodo marxista da necessria fuso entre os planos concreto e abstrato, exigiria alteraes na teoria que se prope a explicar a realidade, de modo que no poderamos desejar simplesmente reproduzir no presente, de maneira linear, os apontamentos realizados por aqueles tericos clssicos. A essas questes, nos dedicaremos com mais cuidado adiante.

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013dar cuenta de la naturaleza de las sociedades que se desarrollan de manera subordinada en la periferia del sistema, como es el caso de Amrica Latina,

    embora, devemos reconhecer, Lenin, Bukhrin e o prprio Hobson

    tenham apontado em suas discusses sobre o imperialismo aquelas que seriam as bases ou as prerrogativas essenciais da dependncia, quais sejam: o parasitismo econmico e a subordinao da classe trabalhadora dos pases perifricos s necessidades de enriquecimento e acumulao por parte das classes dominantes dos pases imperialistas. (AMARAL, 2013, p. 36)

    Tais intuies, no entanto, no avanaram para alm do plano emprico, limitando-

    se mera (mas no pouco importante) constatao dos fenmenos esforo que, diga-se

    de passagem, no deve, sob nenhuma hiptese, ser desprezado, j que abre as portas para

    um campo de discusso bastante amplo e frtil dentro do marxismo , sem um maior

    aprofundamento do ponto de vista categorial, deixando teoria da dependncia, portanto, o

    espao para levar a cabo essa construo.

    O propsito da teoria da dependncia era, ento, o de compreender os efeitos que

    o processo de internacionalizao do capital provocou na estrutura interna dos pases ditos

    perifricos, a partir do desenvolvimento do capitalismo em seu interior. Isto nos induz

    concluso de que, portanto, a explicao e caracterizao dos fenmenos mais gerais

    ocorridos em nvel mundial teria ficado a cargo da teoria do imperialismo, enquanto que a

    percepo de como esses fenmenos mais gerais interferem na estrutura interna (tanto

    econmico-poltica quanto sociocultural) dos pases perifricos teria se convertido em tarefa

    prpria da teoria da dependncia,5 com a construo de categorias tericas especficas que

    oferecessem suporte a tal investigao (AMARAL, 2013, p. 36).

    Seguindo essa linha, a teoria da dependncia aparece como uma crtica

    tradicional viso do subdesenvolvimento como uma ausncia de desenvolvimento, que

    considerava que o atraso dos pases subdesenvolvidos era explicado pelos obstculos que

    neles existiam a seu pleno desenvolvimento ou modernizao (DOS SANTOS, 2000, p. 21).

    A compreenso at ento difundida acerca das desigualdades promovidas pelas relaes econmicas internacionais girava em torno da ideia de que os pases avanados se encontravam no extremo superior de um continuum evolutivo que se caracteriza pelo pleno desdobramento do

    5 Autores como Cueva (1974) e Castaeda & Hett (1978) advogam em favor da redundncia da teoria da dependncia, afirmando que os tericos desta corrente no fazem nada mais do que reafirmar a teoria do capitalismo, de Marx, e a do imperialismo, de Lenin. No cabe aqui discutir a validade dos argumentos, mas vale mencionar que um importante rebatimento a esta desqualificao foi oferecido por Marini (1990).

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013aparelho produtivo, ao passo que os pases atrasados se veriam num estgio inferior de desenvolvimento, com baixa expresso em termos desse desdobramento. O ponto chave que estas condies de desenvolvimento e as respectivas disparidades entre as naes apenas eram captadas no mbito quantitativo da questo, sem maior aprofundamento no que diz respeito aos aspectos estruturais que fundamentam estas desigualdades. (AMARAL, 2012, p. 68)

    Neste sentido, a teoria da dependncia pretendia demonstrar que o

    subdesenvolvimento est estreitamente conectado com a expanso dos pases

    industrializados, de tal modo que desenvolvimento e subdesenvolvimento aparecem como

    aspectos distintos de um mesmo todo. Sendo assim, o subdesenvolvimento no pode ser

    considerado como a condio primeira para um processo evolucionista que tem o

    desenvolvimento como fim.

    Em sua vertente marxista denominada teoria marxista da dependncia (TMD) ,

    cujos principais expoentes so Ruy Mauro Marini, Theotnio dos Santos, Vnia Bambirra,

    Andr Gunder Frank e Samir Amin, a viso a de que as relaes de produo

    (desenroladas a partir do processo de integrao das economias nacionais ao mercado

    global) so baseadas no controle do mercado por parte das naes hegemnicas e isto leva

    constituio de mecanismos de transferncia de valor entre as economias perifrica e

    central, de modo que a mais-valia produzida na periferia apropriada e acumulada no

    centro.

    O raciocnio que fundamenta essa concluso6 a ideia de que a acumulao de

    capital no interior dos pases dependentes caracterizada pela existncia de um mercado

    de trabalho barato, combinado com uma tecnologia capital-intensiva, o que, sob o ponto de

    vista da mais-valia relativa, resulta numa violenta explorao da fora de trabalho, que se d

    como consequncia de relaes desiguais em termos do intercmbio entre naes

    dependentes e centrais e dos mecanismos de transferncia de valor reforados por relaes

    dessa natureza.

    Ocorre que o resultado imediato destes mecanismos uma forte sada estrutural de

    recursos tanto na forma de lucros, quanto na forma de juros, patentes, royalties,

    deteriorao dos termos de troca, dentre outras , provocando uma espcie de interrupo

    da acumulao interna de capital nos pases dependentes7 que precisa ser completada e,

    6 Toda essa discusso extrada da obra de Ruy Mauro Marini em especial Marini (2000) , que, a nosso ver, ao lidar com o tipo especfico de desenvolvimento perifrico, oferece a interpretao mais rigorosa e bem acabada do ponto de vista categorial entre os demais autores de tradio marxista vinculados TMD.7 Com isto pretendemos dizer apenas que o processo de acumulao na periferia temporariamente obstrudo pelas remessas de recursos ao exterior. Em nenhum momento pretendemos afirmar, com isso, que na periferia temos um capitalismo pouco avanado ou pouco desenvolvido em termos de processualidade, para que fique claro. Ao contrrio, justamente o avano das relaes capitalistas num nvel global mais geral e no interior das estruturas perifricas, em especfico, que determina a constituio de relaes de dependncia, intransponveis dentro dos marcos do capitalismo, diga-se de passagem, dado que so caractersticas prprias deste sistema.

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013para tanto, mais excedente precisa ser gerado. E a nica atitude que viabiliza s economias

    perifricas o prosseguimento de sua dinmica interna de acumulao o aumento da

    produo de excedente atravs da superexplorao da fora de trabalho,8 que se d pelo

    acrscimo da proporo excedente/gastos com fora de trabalho, ou, [pela] elevao da

    taxa de mais-valia, seja por arrocho salarial e/ou extenso da jornada de trabalho, em

    associao com aumento da intensidade do trabalho (CARCANHOLO, 2004, p. 11).

    Deste modo, em linhas gerais, a expropriao de valor caracterstica do intercmbio

    desigual s pode ser compensada e incrementada no prprio plano da produo

    justamente atravs da superexplorao e no no nvel das relaes de mercado, por meio

    do desenvolvimento da capacidade produtiva e da criao de estruturas capazes de romper

    com os mecanismos de transferncia de valor.

    Com isto, Marini define a primeira categoria essencial do ponto de vista da

    necessria diferenciao entre o tipo de desenvolvimento capitalista levado a cabo nos

    pases da periferia do sistema e aquele que se desenrola no centro capitalista. Para alm

    desta, o autor formula tambm o conceito de subimperialismo, definindo-o como

    [...] la forma que asume la economa dependiente al llegar a la etapa de los monopolios y el capital financiero. El subimperialismo implica dos componentes bsicos: por un lado, una composicin orgnica media en la escala mundial de los aparatos productivos nacionales y, por otro lado, el ejercicio de una poltica expansionista relativamente autnoma, que no slo se acompaa de una mayor integracin al sistema productivo imperialista sino que se mantiene en el marco de la hegemona ejercida por el imperialismo a escala internacional. Planteado en estos trminos, nos parece que, independientemente de los esfuerzos de Argentina y otros pases por acceder a un rango subimperialista, slo Brasil expresa plenamente, en Latinoamrica, un fenmeno de esta naturaleza (MARINI, 1977, p. 17).

    Trata-se do desenvolvimento de centros medianos de acumulao ou de

    potncias capitalistas medianas (MARINI, 1977, p. 8) que se formam como resultado da

    expanso, diversificao, integrao e consequente concentrao da indstria manufatureira

    em escala mundial. Esse movimento consequncia de um intenso processo de

    internacionalizao da indstria manufatureira (e, portanto, de sua desnacionalizao) em

    alguns pases tidos como centros medianos de acumulao, seja atravs de Investimentos

    Diretos Estrangeiros (IDEs) consolidados especialmente via operaes de fuso e

    aquisio por parte de grandes grupos multinacionais (ou transnacionais como preferem

    8 A categoria superexplorao do trabalho foi desenvolvida por Marini no sentido de apontar para uma caracterstica prpria e definidora da condio dependente. Trata-se da violao do valor da fora de trabalho como consequncia da necessidade de intensificar a acumulao de capital na periferia, considerando o fato de que esse processo comprometido pelas remessas de excedentes para o exterior dadas pelo tipo de insero externa dessas economias no mercado mundial.

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013alguns analistas) , seja por meio dos laos tecnolgicos e financeiros que ligam empresas

    de propriedade nacional ao capital externo.

    O ponto chave destacado por Marini (1977) o de que tal processo, iniciado no

    perodo do ps-guerra, vai tendendo, ao longo do tempo, a priorizar as indstrias vinculadas

    produo de bens de consumo sunturio, destinados s classes de mais alta renda. Este

    o caso, por exemplo, do crescimento da indstria de automveis de passeio e indstrias

    relacionadas, tais como as de materiais de transporte, qumica e metalrgica. Por outro lado,

    a tendncia verificada do ponto de vista da classe trabalhadora : i) a ampliao do exrcito

    industrial de reserva (EIR), dada por uma composio orgnica do capital mais elevada nas

    indstrias que se desenvolvem nesse perodo; e ii) o rebaixamento salarial, por conta das

    presses exercidas pelo EIR e tambm em funo de uma queda do poder de compra do

    salrio mnimo percebida nas anlises que se referem ao perodo em questo.

    Nestes termos, percebe-se que a indstria que se desenvolve no interior dos tais

    centros medianos se depara com problemas de realizao decorrentes do no

    desenvolvimento ou da no ampliao do mercado interno de massas, fazendo-se evidente

    a necessidade de ampliao dos mercados e, portanto, a abertura do comrcio ao exterior

    pela via das exportaes de produtos manufaturados, encabeadas especialmente por

    empresas estrangeiras, algo que ganha importncia especialmente a partir da segunda

    metade da dcada de 1960.

    O que particularmente interessante o fato de que essa prtica de exportao de

    capitais tambm vlida para recursos provenientes da esfera financeira. exatamente

    este o caso dos eurodlares que, em busca de expandir seus espaos de realizao,

    passam a ingressar nas economias latino-americanas a partir da dcada de 1970,

    especialmente sob a forma de emprstimos externos com o objetivo de financiar planos de

    investimento na indstria nacional desses pases. Ocorre que, na impossibilidade de

    assimilar o alto montante de recursos ingressantes pela via produtiva, esses capitais

    precisaram ser reintegrados ao movimento internacional de capitais, consolidando a entrada

    de alguns pases subimperialistas latino-americanos, em especial o Brasil, na etapa da

    exportao de capitais.

    O subimperialismo, ento, pode ser entendido como uma forma de compensar, no

    plano interno (isto , nas relaes entre pases dependentes), as perdas sofridas nas

    relaes estabelecidas em nvel mundial entre naes subordinadas e centrais. Trata-se de

    uma espcie de ao imperialista dentro do campo dependente, exercida por determinados

    pases perifricos cuja integrao/incorporao lgica imperialista mundial se encontra

    num estgio bastante avanado, mas, contraditoriamente, ainda dentro dos marcos da

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013dependncia. Grosso modo, trata-se de uma espcie de imperialismo dependente, uma vez

    que os mecanismos aos quais recorrem as naes subimperialistas so, ao mesmo tempo,

    consequncia e causa de sua condio dependente e das relaes que estabelecem no

    plano mais geral.

    Portanto, percebe-se que a noo de subimperialismo deixa ainda mais evidente a

    ideia de complementaridade da teoria da dependncia em relao teoria do imperialismo.

    A isto nos referamos quando, anteriormente, dissemos que a teoria clssica do imperialismo

    no havia se detido num tratamento categorial acerca da situao vivida pelos pases

    perifricos nos marcos do capitalismo imperialista e que, assim sendo, no havia dado

    conta de situaes bastante particulares vividas no seio das estruturas perifricas do

    capitalismo mundial.

    Feita esta recuperao acerca das teses clssicas sobre o imperialismo e da teoria

    da dependncia em sua verso marxista, passamos nossa proposta de discusso

    propriamente dita.

    2. Falando de financeirizao como o trao distintivo da nova fase do

    capitalismoGrande parte das mais conhecidas anlises marxistas acerca do imperialismo

    contemporneo, para alm de evidenciarem aspectos polticos, militares e culturais da nova

    fase do imperialismo, ressaltam a inquestionvel importncia que a esfera financeira e os

    circuitos financeiros internacionais bem como seus novos instrumentos de dominao

    passam a adquirir do ponto de vista da internacionalizao do capital,9 com o

    reconhecimento de que, embora seja inequvoca a intensificao do comrcio de bens e

    servios entre os pases e uma maior participao das operaes de empresas

    transnacionais por toda a economia, a internacionalizao financeira se deu de forma mais

    rpida que a comercial e produtiva. Isto e o brutal crescimento da riqueza fictcia entre 1980

    e 200610 constituem-se em elementos preliminares que apontam para a predominncia de

    um tipo de acumulao e reproduo de capital que tem na sua dianteira a esfera financeira,

    ou, usando categorias marxistas, a forma capital portador de juros e sua forma

    autonomizada, o capital fictcio.

    Tal movimento tem sido chamado na literatura de processo de financeirizao da

    economia e envolve a percepo de que o mundo vem atravessando uma mudana

    9 Nos referimos aqui, em especial, s interpretao de Panicth e Gindin (2006a e 2006b), Albo (2006), Callinicos (1994, 2005 e 2009), Born (2006), Valencia (2007), Harvey (2004) e Gowan (2003).10 A riqueza fictcia aqui analisada com base no estoque mundial de ativos financeiros relativamente renda real mundial no perodo compreendido entre 1980 e 2006. Nessas bases, dados da McKinseys Global Institute e do FMI, elaborados por Paulani (2009), mostram que o PIB mundial cresce 314% enquanto a riqueza financeira mundial aumenta em 1292%.

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013estrutural e sistmica desde a crise da dcada de 1970. O entendimento o de que, do

    imediato ps-guerra at os anos iniciais da dcada de 1970, a economia mundial

    caracterizava-se por uma dinmica ascendente e virtuosa conhecida como os anos de ouro

    do capitalismo. Concludo esse perodo, o quadro se inverte e as economias avanadas do

    globo, seguidas evidentemente pelas economias perifricas, passam a enfrentar uma

    espcie de espiral descendente e a vivenciar profundas e frequentes crises, especialmente

    de carter financeiro11. Este giro repentino de 180, que conduz a economia mundial do topo

    ao vale, tem, evidentemente, razo de ser.

    Uma importante interpretao para esse movimento aquela desenvolvida por

    Robert Brenner em seu O Boom e a Bolha. O objetivo declarado de Brenner (2003)

    inclusive no prprio ttulo da obra explicar qual a verdadeira natureza da expanso

    econmica norte-americana nos anos 1990 cravada num contexto de duradoura

    estagnao internacional entre 1973 e 1995 , como se deu a formao da bolha no

    mercado de aes a partir da e os desdobramentos em termos de declnio cclico quando

    do estouro da bolha.

    Para cumprir com tal objetivo, o autor parte justamente da anlise do longo declnio

    ou do perodo de crescimento lento iniciado por volta de 1973 , na tentativa de

    compreender at que ponto seus elementos esto ainda em funcionamento, seja de maneira

    direta ou indireta. Mais propriamente, a questo que se coloca : o que muda na dcada de

    1970 para que essas novas tendncias se apresentem? Ou seja, quais foram as foras que

    no s converteram o longo boom ps-guerra (verificado do final de 1940 ao incio de 1970)

    em declnio, como sustentaram essa fase depressiva, marcada por uma sucesso de

    recesses e crises financeiras, at meados da dcada de 1990?

    O argumento que conduz a discusso o de que esse perodo de estagnao foi

    determinado pela existncia de um excesso de capacidade no setor manufatureiro

    internacional, que, combinado a uma queda acentuada da lucratividade das empresas do

    setor no financeiro algo que aparece, inclusive, como consequncia imediata do prprio

    excesso de capacidade , foi responsvel por minar o crescimento econmico e, portanto,

    dificultar a retomada do dinamismo. Neste sentido, Brenner (Ibid., p. 77) esclarece que os

    estmulos keynesianos levados a cabo pela economia norte-americana tiveram como

    11 A caracterizao das crises capitalistas recentes como sendo crises financeiras no consenso na literatura marxista recente sobre o tema. H uma importante corrente de analistas (ver, por exemplo, Caputo, 1998 e 2007) que ressalta o predomnio do capital produtivo em relao s outras formas de capital e que, por isso, entende que as crises tm sua origem nas condies de produo e realizao das mercadorias, sendo resultado da tendncia superproduo mundial que decorre da concorrncia. O que leva tais autores a reforarem o predomnio do capital produtivo a ideia de que s assim no se perde de vista o ncleo da anlise marxista acerca das relaes de dominao do capital sobre o trabalho. De nossa parte, como no compartilhamos da percepo de que as teses sobre a financeirizao como um todo conferem pouca importncia a tais relaes de dominao, no nos opomos queles que visualizam a irrupo das crises recentes a partir da esfera financeira. Esperamos que as razes para tal adeso sejam aclaradas um pouco mais adiante.

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013consequncia a perpetuao do excesso de capacidade e de produo, impedindo que a

    depresso pudesse atuar no sentido de limpar o terreno para novos perodos de expanso,

    como historicamente acontece.

    O cenrio que se desenhava no momento era, ento, caracterizado por crescimento

    dos investimentos, elevao dos preos das aes e queda da lucratividade. Quanto a isso,

    Brenner (Ibid., p. 20) aponta, mais especificamente, que o boom que se segue ao perodo

    de estagnao no foi resultado de lucros (verificados ou esperados) crescentes, mas sim

    do acesso das corporaes a financiamentos de baixssimo custo, o que levou a um

    excesso de investimento e de capacidade, de modo que teria sido a bolha no mercado de

    aes norte-americano com especial nfase para os setores de alta tecnologia, como o

    caso das TICs (Tecnologias de Informao e Comunicao) a responsvel pela exploso

    global, sustentada pela alta demanda advinda da expanso da economia dos EUA.

    Quanto a isto, o autor mostra que a alta nos preos das aes cria um efeito de

    prosperidade que estimula artificialmente a demanda. Tal estmulo artificial justamente

    porque a subida nos preos das aes tambm o , uma vez que ocorre atravs de um

    aumento no endividamento corporativo, isto , as empresas levantam recursos via

    emprstimos justamente para efetuar a recompra de suas prprias aes no mercado,

    recolocando-as mais tarde a um preo evidentemente mais alto. Ento, o preo das aes

    sobe exatamente porque a retirada de aes do mercado cria a ideia de que as mesmas so

    escassas e, portanto, de que a demanda por elas alta, o que estimula a ideia subjacente

    de que a demanda alta porque a empresa lucrativa e, assim sendo, a rentabilidade

    oferecida pelas aes tenderia a ser elevada. Ocorre que isto pode ser falso, ilusrio, uma

    vez que a subida nos preos das aes foi criada artificialmente.

    Em nossa viso, encontra-se aqui o principal argumento de Brenner: a percepo

    de que a expanso das economias norte-americana e mundial verificada a partir de meados

    da dcada de 1990 deixa de ser garantida pelos dficits keynesianos do governo e passa a

    ser conduzida pelos dficits privados (de empresas e famlias), que s so possveis em

    funo do crescente valor das aes. Ocorre que o valor dos ativos vai se distanciando em

    muito do crescimento dos lucros, comprimidos pelo excesso de capacidade e pela queda de

    produtividade. Portanto, no h uma melhora na economia real que justifique a subida nos

    preos das aes. O que se configura , na verdade, uma bolha financeira. O movimento

    que Brenner descreve, portanto, o desatrelamento entre preos das aes e lucros (ou a

    desconexo entre o aumento da riqueza em papis e o crescimento da produo), isto , o

    fato de que o aumento dos primeiros se d independentemente do que ocorre com os

    segundos. Deste modo, a acelerao da compra de aes ocorre, pura e simplesmente, em

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013funo da expectativa de que os seus preos subam mais, sem nenhuma considerao

    pelas taxas de retorno das empresas.

    Partindo de outra perspectiva, autores como Dumnil & Lvy (2003 e 2004) e

    Chesnais (2003 e 2005) tambm identificam essa espcie de desvinculao ilusria entre a

    esfera financeira e a produtiva,12 com a consequente constituio de um espao financeiro

    internacional, de uma finana sem ptria, sem territrio, deslocalizada, para usar um termo

    dos prprios autores. Esta percepo, assim como a de Brenner, d vazo noo de que a

    financeirizao, seguindo Lapavitsas (2011), representa uma transformao estrutural e

    sistmica das economias capitalistas maduras, ou uma mudana da economia rumo ao

    setor financeiro, definio a partir da qual o autor oferece um quadro bastante preciso de

    quais seriam os traos fundamentais deste processo:

    First, large non-financial corporations have reduced their reliance on bank loans and have acquired financial capacities; second, banks have expanded their mediating activities in financial markets as well as lending to households; third, households have become increasingly involved in the realm of finance both as debtors and as asset holders (LAPAVITSAS, op. cit., p. 2).

    A partir desses pontos, Lapavitsas (op. cit., p. 13) nota que a abordagem de

    Hilferding validada pelo predomnio das grandes corporaes multinacionais na economia

    mundial ainda hoje, mas j no consegue explicar a habilidade que essas grandes

    corporaes tm adquirido no sentido de financiar seus investimentos sem recorrer

    pesadamente figura dos bancos, de modo que aquela noo de capital financeiro

    entendido como a fuso entre o capital industrial e o capital bancrio apontada por

    Hilferding em seus escritos perde sentido no momento atual.

    Os mecanismos que eximem as empresas no financeiras do recurso aos bancos

    envolvem a reteno de seus prprios lucros e, em maior medida, o acesso aos mercados

    financeiros abertos, enormemente facilitado pela flexibilidade conferida s operaes

    realizadas e pelo baixo custo das mesmas, fazendo com que [...] monopoly capitals have

    become 'financialised', i.e., they are more independente from banks and more heavily

    involved in financial activities on their own accounts (Ibid., p. 14).

    Esse movimento fora os bancos a reestruturarem suas atividades, voltando-se

    com maior vigor para as famlias e indivduos que se apresentam como importantes fontes

    12 E fizemos questo de cham-la de ilusria porque, tal como sugerido por Carcanholo & Nakatani (1999) e Carcanholo & Sabadini (2009), a separao entre o produtivo e o financeiro s pode ser usada como um instrumento analtico e jamais como uma representao da realidade, uma vez que, embora a esfera financeira produza um lucro que gerado como que por mgica, sem nenhuma substncia real ou solo firme no qual se assentar, a realizao desse lucro se d sobre algo substantivo, ela real e, portanto, depende da produo de valor e, assim, de trabalho.

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013de lucratividade, uma vez que a ampliao dos mecanismos de crdito faz com que parte

    significativa de suas rendas passe a ser dedicada ao pagamento de juros e para as

    atividades de mediao financeira atravs das quais os bancos recebem taxas e comisses.

    O impacto dessa reestruturao o que Lapavitsas identifica como a financeirizao dos

    rendimentos do trabalho resultante do crescimento dos emprstimos tomados para o

    pagamento de hipotecas, gastos com educao, sade, bens de consumo, etc., assim como

    com a aquisio de ativos financeiros tais como fundos de penso, seguros, dentre outros,

    revelando o extenso movimento de privatizao do consumo dos trabalhadores, que, alm

    do mais, passa a contar, quase que infalivelmente, com a mediao do sistema financeiro.

    Deste modo se configura a extrao de lucros por parte dos bancos e demais instituies

    financeiras diretamente dos salrios em lugar da mais-valia. Esta seria a caracterstica mais

    gritante e mais perniciosa do processo de financeirizao que emblematiza a atual fase de

    desenvolvimento do sistema capitalista.

    A questo que o movimento acima descrito ilustra o caso das economias centrais.

    O modo como as economias perifricas, em particular as latino-americanas, se inserem

    neste processo de financeirizao subordinado desde a sua origem. Tal insero se coloca

    quando do recurso ao capital externo durante o perodo desenvolvimentista na Amrica

    Latina e da forte entrada desses capitais, fruto da alta liquidez internacional e do processo

    de reciclagem dos petrodlares, de tal forma que o endividamento externo das economias

    latino-americanas salta para nveis sem precedentes, inicialmente por conta das

    necessidades criadas pelo choque do petrleo em 1973, depois pelo processo de

    realimentao produzido pelo chamado choque dos juros internacionais, dando origem

    crise da dvida dos anos 1980.

    O fato que a necessidade de rolagem da dvida e, portanto, a contnua

    necessidade de atrao de capital externo, colocou as economias perifricas inicialmente

    numa posio passiva diante do movimento financeiro internacional, dado que sua insero

    nesta lgica se deveu fundamentalmente a movimentos externos alheios sua esfera de

    deciso, e, posteriormente, numa posio ativa, considerando que um profundo processo de

    desregulamentao e abertura financeira introduzido nessas economias, demonstrando

    sua ampla adeso ao iderio neoliberal. Vale notar que, ainda que tal insero tenha

    passado a se dar de maneira consciente e politicamente definida, trata-se de uma dinmica

    altamente subordinada, uma vez que no se encontram na periferia os espaos de deciso

    a respeito dos movimentos do capital financeiro especulativo. A imperativa adoo de

    polticas que favorecem os fluxos de entrada e sada de recursos elemento comprobatrio

    de que, na ausncia de flexibilizao e de desregulamentao, esses capitais externos

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013certamente recorreriam a outros espaos de valorizao, de modo que estas so condies

    sine qua non para a atrao e manuteno desses capitais no interior das economias

    dependentes.

    Muito mais poderia ser dito a respeito da virada ps-1970 que abrange toda a

    economia mundial, mas os elementos discutidos at aqui nos bastam, por ora, para que

    possamos voltar nossos olhares para alguns caminhos possveis do ponto de vista de uma

    tentativa de repensar a teoria da dependncia.

    3. Apontamentos sobre uma nova fase da dependncia: guisa de conclusoSe estamos corretos quanto percepo de que uma nova fase do capitalismo se

    constitui a partir dos anos 1970 e se isto conduz constituio de uma igualmente nova fase

    do imperialismo,13 estamos, inexoravelmente, vivenciando uma nova fase da dependncia.14

    A primeira categoria exposta pela TMD que parece se confirmar nesta fase

    contempornea, embora sob uma nova roupagem, a extrao de excedentes das

    economias dependentes pelas centrais. diferena do que ocorria anteriormente, as

    relaes externas estabelecidas pelos pases da periferia no perodo atual levam a que

    estas ltimas transitem de uma situao onde as formas de extrao de excedentes so

    principalmente orientadas pelos termos de troca para uma outra situao na qual ganham

    importncia relativa os tipos de extrao de excedentes concentrados na Balana de

    Rendas, de tal modo que a Balana Comercial perde importncia relativa nas relaes entre

    centro e periferia.

    A categoria superexplorao da fora de trabalho parece igualmente se reafirmar no

    presente. Ela vem, no entanto, potencializada pela crescente participao das despesas

    com juros nos oramentos das famlias trabalhadoras, percepo, como se v, no estranha

    nova fase do capitalismo financeirizado que vimos defendendo. O argumento o de que

    essas despesas constituem um retorno daquilo que foi pago como salrio para o domnio da

    mais-valia. Tal como definido anteriormente por Lapavitsas (2011), trata-se da

    financeirizao dos rendimentos do trabalho, algo que, por sua natureza, pode ser

    entendido como uma espcie de expropriao financeira dos salrios, constituindo-se,

    assim, uma relao na qual parte das rendas do trabalho direcionada aos bancos e s

    instituies financeiras de um modo geral, tanto na forma de juros, quanto pelo pagamento

    de taxas e comisses referentes prestao de servios financeiros. Considerando que

    13 Esta avaliao se deve compreenso de que o capitalismo se apresenta como um modo de produo que evolui e que, por isso, pode, ao longo do tempo, assumir diferentes formas histricas, mantendo intacto seu contedo. Se assim , por deduo, podemos entender o imperialismo como uma fase particular do capitalismo tal como propunha Lenin que comporta dentro de si vrios momentos histricos.14 Vale relembrar aqui a relao de complementaridade entre a teoria da dependncia e a teoria do imperialismo.

  • REVISTA pensata | V.3 N.1 NOVEMBRO DE 2013Marini deixa explcita a ideia de que um dos mecanismos de superexplorao diz respeito

    expropriao de parte do trabalho necessrio ao operrio para repor sua fora de trabalho

    (MARINI, 2005, p. 156), nos parece cabvel denominar de superexplorao do trabalho a

    expropriao financeira fruto da insero das famlias e indivduos em atividades financeiras,

    como devedores ou como detentores de ativos. E, para aqueles que entenderem que esta

    relao absurda ou fere os termos definidos por Marx quanto categoria explorao da

    fora de trabalho, ainda assim no pouco considervel o fato de que, se uma parcela

    maior dos salrios deve ser reservada para o pagamento de juros ou outras taxas relativas a

    operaes financeiras, este se torna um mecanismo indireto de forar os trabalhadores a

    aceitarem condies de trabalho cada vez mais precrias como uma forma de minimizarem

    as perdas sofridas em funo da compresso salarial que a expropriao financeira produz.

    Sendo assim, direta ou indiretamente como queiram , a expropriao financeira dos

    rendimentos do trabalho conduz superexplorao da fora de trabalho.

    Por fim, se retomamos a categoria subimperialismo, esta tambm parece se

    recolocar no atual momento histrico, particularmente no que se refere ao processo de

    internacionalizao de capitais brasileiros, tanto pela via da compra de aes de empresas

    latino-americanas conduzidas com capital de origem nacional, quanto atravs dos processos

    de fuso e aquisio de firmas ou atravs de Investimentos Diretos Estrangeiros (IDEs)

    brasileiros na Amrica Latina, procedimentos claramente acoplados lgica da

    financeirizao.

    Esperamos, com isso, ter lanado alguns elementos para debate e reflexo em

    torno de como se configuraria a atual fase da dependncia, enfatizando sua relao com a

    nova etapa do capitalismo e do imperialismo.

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