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... _----"" ~ Brasil EM ACAO Informativo do Centro Nacional de Pesquisa de Florestas - Ano 7- n013 - jan/fev/mar - 1999 Florestas produzem energia e solucões sociais I Detentos do Paraná participam do Programa de Amparo e Profissionalização do Interno, plantando mudas florestais na Embrapa. pag. 6. Resíduo industrial vira alimento de plantas. A pesquisa da Embrapa cria alternativa para fábrica de celulose. pago3 Serraria portátil da Embrapa é utilizada por pequenos produtores, permitindo maior agregação de renda. pag.8

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~BrasilEM ACAO

Informativo do Centro Nacional de Pesquisa de Florestas - Ano 7 - n013 - jan/fev/mar - 1999

Florestas produzem energiae solucões sociais

I

Detentos do Paranáparticipam do Programade Amparo eProfissionalização doInterno, plantando mudasflorestais na Embrapa.pag. 6.

Resíduo industrial viraalimento de plantas.A pesquisa da Embrapacria alternativa parafábrica de celulose.pago3

Serraria portátil daEmbrapa é utilizada porpequenos produtores,permitindo maioragregação de renda.pag.8

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Editorial

RESERVA LEGAL E SUSTENTABILIDADE

A medida Provisória n" 1.736-31, publicada no Diário Oficial da União de 15.12.98, promove substanci-

ais alterações nos Artigos 3°, 16 e 44 da Lei 4. 771/65 (CódigoFlorestal Brasileiro) e revoga tanto o artigo 99 da Lei 8. 171/91(Lei de Política Agrícola) como a Medida Provisória 1.605-30,de 19.11.98. Dentre outras alterações introduzidas naqueles di-plomas legais, as seguintes são particularmente importantes:

Proprietários rurais ficam agora desobrigados de recompora área de Reserva Florestal Legal, naquilo que Ihes era pertinen-te, em cada caso. Anteriormente, o Artigo 99 da Lei de políticaAgrícola estabelecia, aos proprietários rurais, a obrigatoriedadeda recomposição da Reserva Legal, no que fosse pertinente, apartir de 1992, a uma taxa anual de um trinta avos da áreanecessária para recompor a referida Reserva Legal, até que fos-sem atingidos 20% da área de uma propriedade (50% para pro-priedades localizadas na região Norte);

Na região Norte e na parte norte da região Centro-Oeste,mediante autorização e a critério do órgão federal de meio am-biente, pode-se agora "compensar" a eventual inexistência dareferida reserva legal em uma propriedade, através da averbaçãoem cartório de uma área equivalente, localizada em outro imó-vel. Esta "compensação", no entanto, se autorizada, poderá serefetivada apenas dentro do mesmo ecossistema, no mesmoEstado e desde que a área seja de importância ecológica igualou superior à área a ser compensada:

No cálculo do percentual de reserva legal de cada proprie-dade, em todo o território nacional, serão computadas, tam-bém, as "florestas e demais formas de vegetação natural consi-deradas de preservação permanente" que continuarão dispen-sadas de averbação à margem da matrícula do/móvel.

Pode-se antecipar que estas alterações trarão consequenciastanto para a atividade produtiva nos setores agrícola e florestal,como para a realidade presente (e futura) dos recursos ambientaisdo País. O cenário é muito complexo, verificando-se, na atuali-dade, a existência de um conflito de muitos interesses: paraalguns, a MP 1.731-31, trouxe uma "grande avanço Ir, para ou-tros, implica em "retrocesso".

Vele lembrar que o disposto na MP 1.736-31 deverá serregulamentado em uma prazo de 120 dias, a partir de sua publi-cação. Certamente, a "compensação" não será um mero proce-dimento contábil, mas exigirá, a consideração rigorosa de diver-sos critérios, na medida em que tanto o poder público como asociedade estão comprometidos com a sustentabilidadeambiental do desenvolvimento econômico.

Sérgio ArhensEngenheiro Florestal

Pesquisador da Embrapa Florestas

Filandeses visitam a Embrapa

A Embrapa Florestas e a Universidade Fe-deral de Viçosa, organizaram a visita de umgrupo de finlandeses a instituições de pes-quisa e empresas florestais brasileiras, for-mado por dois professores, um aluno da Es-cola de Engenharia Florestal de Pieksâmâki,um técnico da empresa de equipamentospara inventário florestal Sunit Forest., e aaluna de engenharia florestal, Terhi Karisalmi,que veio ao Brasil para fazer estágio naEmbrapa Florestas e no Departamento de En-genharia Florestal da Universidade de Viço-sa. Segundo Erich Schaitza, pesquisador res-ponsável por seu estágio na Embrapa, Tehriestudou o desenvolvimento de rachadurasde topo em Eucalyptus ao longo do tempo,analisando imagens digitais de toras deeucalipto tomadas periodicamente. Em Vi-çosa, ela acompanhará estudos na área deagrossilvicultura com o Professor LaércioCouto.

Os professores Erkki Tillikainen e" AnoTeittinen vieram propor um intercâmbio en-tre alunos finlândeses e brasileiros. Ofere-ceram a possibilidade de treinamento para20 estudantes de engenharia florestal visita-rem a Finlândia, recebendo um treinamentode quatro meses a um custo de aproximada-mente US$600 para cada estudante. Estecusto é muito baixo, já que incluí ensino,hospedagem e alimentação. Os alunos in-teressados podem contatar Erich([email protected]) ou o Prof. Laércio([email protected]).

O engenheiro florestal Henrik Luikko daSunit, fez demonstrações de modernos equi-pamentos para inventário florestal e discu-tiu possibilidades de negócios com empre-sas brasileiras.

Segundo Erich Schaitza, é muito impor-tante promover o intercâmbio entre paísestão diversos como a Finlândia e o Brasil."Temos muito que aprender com eles emtermos de organização e tecnologia. Por ou-tro lado, a diversidade de nossas florestas ea velocidade com que fenômenos naturaisocorrem aqui fazem do Brasil um campo deestudos ímpar no mundo. Além disto, nossasilvicultura de produção é uma das mais avan-çadas do mundo", diz o pesquisador.

EXPEDIENTE - Folha da Floresta é uma publicação do Centro Nacional de Pesquisa de Florestas - CNPF da Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Chefe Geral: Carlos Alberto FerreiralChefe Adj.de P&O: HeltonOamin da Silva/Chefe Adj.de Apoio Técnico: A.Paulo Mendes Galvão IChefe Adj.de Apoio Administrativo: João Alfredo Sotomaior Bittencourt.Pedro Jorge Fasolo - Supervisor Área de Comunicação e Negócios - ACNEndereço: Estrada da Ribeira km 111 - Caixa Postal 319 - Cep 83411-000 Colombo,PR. Fone (041) 766-1313 Fax (041) 766-1692.Editor: Jorn. Nádia Fontana - 1072/-7/38 - Mtb-PRProdução e diagramação: Cleide Fernandes de OliveiraFotos: Arquivo da Embrapa Florestas e Vera EiflerArte Final, fotolito e impressão: Gráfica Radial Ltda. Fone (041) 333-9593Tiragem 8000 exemplares. Este informativo é editado pela Área de Comunicação e Negócios da Embrapa Florestas. É permitida a reprodução dasmatérias aqui contidas, no todo ou em parte. Solicitamos mencionar a fonte e enviar cópia ou exemplar.

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Casca de Pinus e Lodo viramnutrientes para produção de mudas

Pesquisa desenvolvida em parceria com indústria de papel ecelulose consegue reciclar resíduos e estabelece uma nova

alternativa de substratos para viveiros

R eciclar e transformar. Esses são os conceitosque parecem predominar entre os trabalhosdesenvolvidos pelas pesquisas no final deste

século. Um bom exemplo desse novo estilo adotadona área científica, aplicado na prática, é o projetoque está sendo concluído pela Embrapa Florestas emparceria com a empresa Iguaçu Celulose Papel S/A.,no interior do Paraná.

"Existe hoje um interesse mundial em sistemasde produçãoagroflorestaissustentáveis en-volvendo a utili-zação eficientede insumos e aredução de rejei-tos ou resíduos.Neste contexto,seria desejávelconverter os resí-duos em materi-ais úteis por pro-cessos comorecilagem de nu-trientes, manu-tenção de maté-ria orgânica desolos ou geraçãode energia", afir-ma a pesquisadora Claudia Maia, da Embrapa Flores-tas, que coordena esse trabalho. Essa pesquisa estátransformando a casca de Pinus e o lodo biológicoem substrato para a produção de mudas de Pinustaeda.

Com essa preocupação, a Iguaçu Celulose esta-beleceu uma parceria com a Embrapa Florestas paraestudar a viabilidade técnica do uso do lodo biológi-co e da casca de Pinus sp. como substrato paramudas. Claudia Maia relata ainda que nestes estu-dos testaram-se diferentes misturas contendo cas-ca de Pinus sp., lodo biológico e solo: "A espécieindicadora foi Pinus taeda, semeada no viveiro daempresa, em Piraí do Sul (Paraná). Os resultados

mostraram que apresença do solo nosubstrato é dispen-sável, o que veio deencontro às expecta-tivas da empresa emnão utilizar mais estematerial substrato".Sobre o lodo, a pes-quisadora explicaque, "não deve serusado puro porque,apesar de sua relati-va fertilidade, prova-velmente, promoveuma baixa aeraçãodo meio. A presen-ça da casca, por suavez, melhora estacaracterística" .

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Produção de mudas de Pinus taeda com substratos, a partir de resíduos da fábrica.

De acordo com a pesquisadora, ambos -a casca eo lodo - são fontes ricas em matérias orgânicas epodem ser usadas como componentes de substratospara a produção de mudas de espécies florestais. "AIguaçu Celulose gera cerca 2.500 toneladas/mês decasca de Pinus e 400 toneladas/mês de lodo biológi-co para uma produção de cerca de 6.000 toneladas/mês de celulose.

Esses resíduos, anteriormente descartados em de-pósitos à céu aberto, a partir deste ano, serão apro-veitados nos viveiros da empresa, dentro de um pro-cesso de gestão de resíduos com um enfoque quebusca qualidade ambiental e redução de custos", ex-plica.

Durante a pesquisa foi constatado que há pelomenos três misturas de casca e lodo viáveis, o quepossibilita à empresa manejar seus resíduos de acordocom suas maiores ou menores disponibilidades. Clau-dia Maia diz ainda que para conhecer outras propor-ções, que também podem ser adequadas, deve-seproceder estudos mais detalhados que levem em con-sideração, igualmente, as características físicas dosubstrato.

"Com a tecnologia gerada pela Embrapa Flores-tas, a empresa substituiu o solo anteriormente usa-do como substrato no viveiro, pela mistura casca/lodo. Como atualmente as. mudas são produzidasem sacos plásticos, a empresa vai poder dispor decerca de 3,6 toneladas de resíduos por canteiro ou acada 10.000 mudas produzidas. Além disso, a em-presa deixando de utilizar solo substrato, estará di-minuindo os impactos negativos causados no ambi-ente, pelas atividades do viveiro", conclui.

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Florestas produze", eneo Brasil investe em inúmeros projetos e tecnok:integração das pequenas propriededee, de tor,

"A geração de energia com produtosde origem florestal, desenvolvidas para talfim, equilibram a emissão de C02 (gáscarbônico), é ambientalmente adequada seforem tomadas precauções e certamente,é mais sustentável que os demais siste-mas". A afirmação é dos pesquisadoresArnaldo José de Conto e Vítor AfonsoHoeflich, da Embrapa Florestas, quedesenvolveram um estudo sobre o uso deflorestas como fonte de energia. O trabalhomostra que a queda no consumo tradicionalde lenha no Paraná vem se modificando etambém provocando problemas sociais, pelodesaparecimento de pequenas unidades deprodução.

Segundo os pesquisadores, nos últimosanos, em especial a partir da década de90, ocorreu uma crescente mistificação deque o uso da floresta, em especial para finsenergéticos, não é ecologicamenteadequado e que deve ser combatido deforma sistemática. "Essa percepçãoincorreta induz consumidores a buscaremoutras fontes, muitas não sustentáveis,ambientalmente frágeis e com balanço deC02 deficitário", alertam. Citam, comoexemplo os derivados de petróleo e outrosminerais fósseis, que são os que maisliberam C02 para a atmosfera; ashidroelétricas, muito questionáveis sob oponto de vista ambiental; e as usinastermonucleares, que têm um potencialde risco muito elevado.Na avaliação de Conto e Hoeflich, o quetorna difícil aceitar é que não estão sendointensificados estudos sobre sistemasconsiderados ambientalmente sustentáveis,como o sistema que envolve a bracatinga,de grande importância para municípios daRegião Metropolitana de Curitiba (RMC) -em especial para os Municípios de Colombo,Almirante Tamandaré e Bocaiúva do Sul,bem como identificadas as causas que têmlevados os produtores a abandonar sua

Rotação de bracatinga com culturas anuais na pequena propriedade

atividade florestal". Destacam, ainda, que Dados levantados mostram que, entre 1991é importante que sejam avaliadas alter- a 1996, houve um retração no consumonativas para um melhor aproveitamento do de lenha equivalente a 50%, o quepotencial energético madeireiro, fibras e corresponderia a produção de apro-outras matérias-primas de base florestal ximadamente 23.000 hectares".como, por exemplo, as para uso medicinal.

Acrescentam, a título de exemplo, que"a bracatinga é uma das poucas espéciesflorestais nativas em processo dedomesticação. Nesse processo, deverão sergerados resultados que possibilitam ummelhor desempemho florestal e industrial(energia, fibras, madeiras, etc.l". A buscade substitutos para a lenha de bracatingatem feito com que 60.000 hectares debracatinga manejados da RMC estejamsendo subutilizados. Há áreas que já foramabandonadas. Isto porque essa lenha vemsendo substituída por resíduos de serrariase movelarias. Os pesquisadores citam o casoda indústria de cal da região que utiliza alenha como principal fonte de energia.

Lenha é uma alternativa de renda parapequenas propriedades

Umapesquisa realizada no Município de Guarapuava, região central do Estadodo Paraná, mostrou que a lenha passou a ser a principal fonte de renda parapequenos proprietários rurais. Procurando agregar maior valor ao produto, essesprodutores o comercializam diretamente com consumidores urbanos, na formaadequada á sua utilização nos tradicionais fogões a lenha. Além disso, apesquisacomprovou que, diante da perda de competitividade na produção de grãos,devido à inadequação dos solos (fertilidade, declividade e pedregosidadeJ e àdimensão da propriedade, os pequenos produtores também estão sendopressionados a utilizar, de forma indevida, o que Ihes resta de áreas comvegetação nativa.

De acordo com os autores, há duasquestões importantes nesse quadro: aomesmo tempo em que se deve destacar acapacidade dos empresários de encontraruma alternativa economicamente viávelpara o tradicional consumo de lenha, deve-se, também, considerar a necessidade dese preocupar com a situação do pequenoprodutor dessa região e que sobrevive daextração de lenha. Dados de pesquisarealizada no final da década de 80mostraram que o corte de bracatingachegava a representar 90% da rendaagrícola útil e mais de um terço da rendalíquida efetiva dos produtores que acultivavam. Essa mesma pesquisa revelouque a área média dos bracatingais daspequenas propriedades especializadas etecnificadas era de 15 a 20 hectares. "Issoeqüivale dizer que, por várias razões, teriamsido eliminados ou tornadas inviáveiseconomicamente 1.320 propriedades daRMC".

Assim, ressalta-se como de grandeimportância a busca de um melhorentendimento das variáveis que têmdeterminado a manutenção da atividadeflorestal nos distintos estratos de áreade produção. Vale igualmente acentuarque a implementação de sistemasagroflorestais torna-se de elevadarelevância econômica e social.

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ergia e soluções sociais»toçlee, mas não considera as possibilidades daorma expreesive, no desenvolvimento florestal.

A tividade florestal pode viabilizar a pequena propriedade

A análise das informações coletadas junto a propriedades ea fontes secundárias evidencia que a geração de energia atra-vés da biomassa de origem florestal, sob o ponto de vistasocial, pode ser muito mais favorável. "Enquanto ashidroelétricas desalojam pequenos produtores de seu meio, aprodução e o uso da biomassa florestal pode viabilizar peque-nas propriedades diante da perda da competitividade da Agri-cultura comercial de grãos (soja, milho, trigo, etc.)". argumen-tam Arnaldo José de Conto e Vitor Afonso Hoeflich. "Para issoé importante considerar a atividade florestal como uma opçãopara as pequenas e médias propriedades e não somente paragrandes empreendimentos voltados à produção de matéria-pri-

ma". Os pesquisadores também lembram que grande par-cela das pequenas propriedades, em especial na região maisao Sul do Estado do Paraná, estão situadas em áreas aci-dentadas (de difícil mecanização) e de fertilidade média àbaixa onde a atividade florestal apresenta-se mais viáveldo ponto de vista de produção e renda e com menor im-pacto ambienta!. "Um projeto de desenvolvimento florestalmais amplo poderia perfeitamente envolver parcerias entreos setores industriais de base florestal e produtores compequenas dimensões de áreas, sem eliminar a agriculturade auto-sustentação das famílias rurais, observadas as nor-mas legais", afirmam Conto e Hoeflich.

A tividade Florestal na pequena propriedade pode ser umasolução para a questão energética ?

Os pesquisadores Arnaldo de Conto eVítor Hoeflich entendem que, diante doquadro de redução de consumo de lenha,torna-se urgente o desenvolvimento deestudos e programas que tornem atrativae competitiva a produção florestal com finsenergéticos ou de uso múltiplo. No que serefere à energia, tem sido considerado que"o Estado do Paraná, assim como outrasUnidades da Federação, estãopróximos ao esgotamento deseu potencial hidrelétrico.Restam somente os pequenosreservatórios que não atraíamos investimentos estatais(monopolistas do sistema)",indicam os pesquisadores.Acentuam que quando surgea necessidade de se buscarnovas fontes alternativas, temsido considerada a implan-tação de termelétricasmovidas a carvão originário deoutras regiões ou países e,mais recentemente, autilização do gás natural.Quanto à primeira alternativa,chegou-se a prever suainstalação, no Litoral doParaná, em área de equilíbrioambiental tênue. "Logica-mente, a lembrança do uso determelétricas movidas a lenha deixam deser interessantes na medida em que podemser vinculadas a processos dedesmatamento" .

Defendem, igualmente, que as instituiçõesgovernamentais e da iniciativa privadadeveriam desenvolver avaliações de ordemtécnica, econômica, ecológica e socialsobre este importante tema. Para isso, citamo projeto Brazilian Wood BIG-GT Demons-tration Projet I Sistema Integrado de Gasei-ficação de Madeira para Geração deEletricidade (WBP/SIGAME), em andamento

Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e aSHELL (Shell Brasil & Shell International(SHELU. O Global Environmental Facility(GRF), órgão ligado a FAO, que atua comofinanciador de ações relacionadas ao meioambiente, vem apoiando este projeto comrecursos a fundo perdido, já que o mesmoestá voltado para a geração de novas

tecnologias con-sideradas ambi-entalmente cor-retas. "Será que omesmo tipo definanciamentonão poderia serutiliza-do em

Uso da lenha de bracatinga na produção de tijolo em pequena olaria

Diante deste quadro, os pesquisadoressugerem que se deve desenvolver estudosmais amplos para analisar o que estáocorrendo e qual o potencial e restriçõesdo uso da lenha como geradora de energia.

na região Nordeste do Brasil, para aconstrução de uma termelétrica com o usode tecnologia de gaseificação de madeiraacoplada a uma turbina de gás. Participamdeste projeto, na forma de um Consórcio,a ELETROBRÁS (Centrais ElétricasBrasileiras S/A), a Companhia Hidroelétricado São Francisco (CHESF), a Fundação deCiência e Tecnologia do RS (CIETEC), a

outras alter-nativas, como asque se utilizam defontes renováveisou alternativas deenergia (hidro-elétrica, biomas-sa, solar ou eóli-ca)?", indagam ospesquisadores.Eles observam,ainda, que "não

bastassem esses argumentos, empresasprivadas ligadas ao setor madeireiro, porexemplo, já estão projetando sistemas degeração de energia, que se utilizam do vaporproduzido em caldeiras alimentadas porresíduos e cavacos de madeira". Ressaltam,também, que "nenhuma empresa investirianestes sistemas alternativos, se estes nãofossem economicamente viáveis".

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Turra sugere plantio de árvorescomo pena para infratores

o ministro da Agricultura,Francisco Turra, participou no dia26 de janeiro, deste ano, da criaçãoda Confederação Nacional dasAssociações de Reposição Flores-tal, formada pelas associaçõesflorestais de todo o país, repre-sentantes dos Ministérios daAgricultura e do Meio Ambiente,centros de pesquisa, instituiçõesde educação e setor privado.Durante o evento, o ministro disseque irá sugerir ao Ministério da

Justiça que seja incluída na lei da pena alternativa oplantio de mudas de árvores, o que poderá favorecer aConfederação, além de oferecer ao detento oportunidadede aprendizado. A pena alternativa é utilizada paradiminuir a superlotação nas penitenciárias brasileiras.Ao invés da detenção, os presos prestam serviçossociais. A Confederação irá estimular o desenvolvi-mento de uma política florestal voltada ao pequeno emédio produtor rural e criar alternativas de renda com aatividade florestal, de forma a manter o produtor nocampo. A implantação de uma moderna estrutura deviveiro que servirá para a produção de plantas mediei-

Francisco Turra,Ministro da Agricultura

nais, flores e frutas, além da elevação da oferta dematéria-prima florestal adequada ao consumo, sãoalguns dos resultados esperados da nova Confede-ração. Um dos programas de recuperação ambiental,desenvolvido pelas associações, reúne recursos própriosdos usuários que optam pelo pagamento direto com oIbama. Eles pagam uma taxa de R$ 0,90 por árvorederrubada, que o Ibama reverte em mudas e assistênciatécnica. Com a Confederação, os produtores ruraisdisponibilizarão de instrumentos tecnológicos emetodológicos auxiliando desde a produção da mudaaté a reposição por um baixo custo e alta produtividade.A idéia é investir R$ 30 mil por ano para produção de400 mil mudas, possibilitando maior agilidade nareposição de mudas. Atualmente, o Brasil tem cerca de4 milhões de hectares de florestas auto-sustentáveis. Osetor florestal oferece aproximadamente 1,2 milhão deempregos diretos e indiretos, o que siquifica que cadahectare de floresta plantada gera de 4 a 5 empregos. OProjeto Novas Fronteiras para o DesenvolvimentoSustentável, do Ministério da Agricultura, já vem atuandonestes objetivos nos Estados do Espírito Santo, MatoGrosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, SantaCatarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo,Goiás e Rondônia. A meta é atingir todo o território nacional.

Detentos cumprem pena plantandomudas na Embrapa

Contribuir para reeducar o interno e a sua reintegração internos também mantêm limpos os experimentos.na sociedade, possibilitar a conclusão dos trabalhos de Moreira diz que o relacionamento é respeitoso e que,produção de mudas florestais produzidas na Embrapa sem a atual estrutura, não seria possível manter essaFlorestas para reflorestamento, priorizar uma qualidade produção.de vida permanente, além de custos reduzidos, está Osvaldo Rodrigues, interno, trabalha há 10 mesessendo o resultado da parceria entre a Empresa Brasi- na Embrapa Florestas, aprendeu a produzir mudas,leira de Pesquisa Agrope- lavagem e enchimento dos tube-cuária - Embrapa e o Depar- tes. preparo do substrato, sele-tamento Penitenciário, da cão. classificação e preparo paraSecretaria do Estado da o plantio no campo. Osvaldo afir-Justiça e da Cidadania- ma "estou orgulhoso por saberSEJU/FUPEN, do Estado do que meu trabalho está contri-Paraná. Esta parceria tem buindo com o reflorestamento etrazido mútuos benefícios, que ao se derrubar uma árvoree excelentes resultados deve-se plantar duas". Sente-separa a Embrapa Florestas, feliz pela oportunidade de par-que vem utilizando essa ticipar do programa de Amparomão-de-obra na área de e Profissionalização aos Internosapoio (mecânica, elétrica, e aprender muito sobre produçãomar-cenaria, pedreiros etc.) Detentos trabalhando no viveiro da Embrapa de mudas, "é muito bom trabalhare também para o interno que a cada três dias trabalhados na Embrapa Florestas", diz Osvaldo.reduz um dia em sua pena. Eles recebem alimentação, O secretário da Justiça e da Cidadania do Paraná,transporte e 70% de um salário mínimo. Por outro lado, José Tavares, acredita que o trabalho é a ferramentaa empresa é contemplada com excelente mão-de-obra, mais importante na ressocialização do preso. Grandeafirma João Alfredo Sotomaior Bittencourt, Chefe incentivador do projeto, o secretário já determinouAdjunto de Administração da Embrapa Florestas. estudos para ampliação de frentes de trabalho e criação

Segundo José Benedito Moreira Antunes, responsável de novos convênios.pelo Setor de Campos Experimentais, a mão-de-obra Tavares diz que além do benefício da diminuição dadesses detentos possibilita que a Embrapa Florestas pena e da ressocialização, o trabalho proporciona aoatinja a capacidade máxima de seu viveiro em produzir preso a possibilidade de contribuir com a sociedade e340 mil mudas anualmente. Além das mudas, os ajudar no sustento da família.

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Florestas: atividade para o cenáriode unia nova nlatriz energética

As tendências nesta área apontam para a inexorabilidade ressalta, entre outros aspectos, que nos países emdo processo de esgotamento das reservas de petróleo desenvolvimento, os obstáculos para se estender o uso(internas e externas) e dos recursos hídricos de grande porte. de gaseificadores de madeira são totalmente distintos dosIsto deverá resultar em modificações de longo prazo na predominantes nos países industrializados. O empregoestrutura de oferta desses equi-de energia, com a pamentos pare-ampliação do uso de ce ser muitofontes alternativas promissor nosou não convencio- países com bai-nais (energia nu- xos custos comclear, biomassa, so- mão-de-obra elar, eólica, etc.) que, elevados preçosentão, se justifi- de petróleo.cariam em termos Ressaltam oseconômicos e autores que aambientais. Na não dispo-questão energética, nibilização deo cenário prevê que combustível ao conjunto das partir de bio-fontes renováveis massa poderá(hidro-eletricidade e ser obstáculob io mas sa, Ienha, Produção de lenha de bracatinga por pequeno produtor g rav e emcana de açúcar e seus derivados) manterá seu maior peso alguns países, havendo em outros potencial técnico parana matriz, comparativamente às fontes alternativas como sua melhor utilização mediante a conservação (fogõesa solar e eólica. Esta tendência poderá ser fortalecida nas melhorados) ou produção (plantações para energia).próximas décadas, na medida em que o governo brasileiro Igualmente, tem sido destacada nestes estudos adecida retomar programas de produção de energia a partir percepção de planejadores e pesquisadores florestais deda biomassa. Pode-se prever, assim, a necessidade de que, se o potencial econômico dos produtos florestais nãoimportação de grãos pela substituição de áreas com estes é integralmente obtido em termos sustentáveis, as florestasprodutos, principalmente por lavoura canavieira. A questão certamente serão substituídas por usos da terra maissocial, neste caso, ganhará novos contornos pela lucrativos. Assim, a maioria dos especialistas concordamintensificação da mão-de-obra itinerante, podendo-se agravar que a produção de energia a partir de lenha precisa sea utilização da mão-de-obra juvenil e infantil nas diversas tornar uma regra para o conjunto de produtos florestaisatividades produtivas, desde que não sejam adotadas novas obtidos com sustentabilidade e que, além disto, astecnologias de mecanização e automação. comunidades participem de um acesso mais aberto às

O desenvolvimento tecnológico, em especial no segmento florestas e o direito de usar e manejá-Ias, adotando atitudesde componentes de processamento e de transformação da de cuidado e proteção em relação às fontes de energialenha, parece ser de grande importância para que os derivadas da madeira. Essasquestões devem ser analisadasconsumidores finais tenham maiores facilidades no processo desde já com o desenvolvimento de tecnologias e busca dede utilização desse insumo energético. Estudo da FAO estratégias adequadas ao processo produtivo como um todo.

Amaldo José de Conto,Pesquisador da Embrapa Florestas

Confira no Encarte desta' edicão:I

Lançamento de publicações eoferta de produtos com a

qualidade Embrapa Florestas ..

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Produtor gaúcho avalia benefícios do usode moderna serraria portátil

Serrar na propria propriedade permite maior agregaçãode renda para pequenos produtores.

o Centro Nacional de Pesquisa deFlorestas (Embrapa Florestas) e a CooperativaTríticola de Erechim, (Cotrel), localizada no RioGrande do Sul estão desenvolvendo umapesquisa que estuda a viabilidade daindustrialização da madeira em pequenaspropriedades rurais. O objetivo do projeto écomprovar que o fato de serrar a madeira napropriedade, com a utilização dos resíduos desseprocesso em novas alternativas de produção,aumenta a renda do produtor rural.

De acordo com o pesquisador da EmbrapaFlorestas, Erich Schaitza, que integra acoordenação do projeto, a Cotrel comprou e dooua Embrapa Florestas uma serraria portátil, comcapacidade de produzir até 10 metros cúbicos/dia de madeira serrada. Assim, uma serrariadestas pode transformar diariamente oequivalente a R$300,OO em toras emR$1.500,OO em tábuas e resíduos. Essa serrariapossui características tecnológicas avançadaspara o mercado brasileiro: anda com sua própriasrodas, pois já vem montada em uma carreta.Dessa forma, é só engatá-Ia em umacaminhonete e deslocar-se até a floresta. Alémdisso, trabalha com uma fita de serra muito fina,o que reduz a perda na forma de serragem, e étotalmente controlada por um sistema hidráulico.Uma equipe de duas pessoas treinadas conse-gue operá-Ia tranquilamente.

Esse estudo começa a ser desenvolvidopor uma equipe integrada,que realiza a análise eco-nômica do negócio e apre-senta os dados que devemdeterminar se o investi-mento é viável para umpequeno produtor ou umgrupo. "A vantagem des-se sistema é que quemvai para a floresta é a ser-raria. Com isto, o produtorpode ser beneficiado fi- ~cando com a parte do di-nheiro que seria gasto notransporte das toras",explica Schaitza. Além

Desdobro na propriedade evita o transporte da madeira bruta.

disso, numa segunda fase do projeto, tecnolo-gias para produção do shitake (cogumelojaponês) usando serragem como substrato efabricação de carvão em pequena escala serãotransferidas para os produtores envolvidos.

Desse processo de corte de árvores,participarão somente áreas de reflorestamento:"Na Região Sul, há poucas florestas aindacom capacidade de produção comercial demadeira e os pesquisadores envolvidos noprojeto acreditam que estas devem ser usadaspara lazer, conservação genética, manuten-ção da bio-diversidade, proteção de águas

e do solo", alertaErich Schaitza,especialista em

. tecnologia da ma-deira.

A serragem pode serusada para aprodução decogumelos ou decarvão.