9. afecções do sistema digestivo iv
Embed Size (px)
TRANSCRIPT

CLÍNICA DE
RUMINANTES
AFECÇÕES DO SISTEMA DIGESTIVO IV

INDIGESTÃO SIMPLES

ETIOLOGIA
As causas mais comuns são as forragens de pouca digestibilidade, principalmente quando a ingestão de proteínas é baixa e também pela ingestão moderadamente excessiva de grãos e concentrados:
Ocorre quando animais tem acesso acidental a grandes quantidades de grãos ou são bruscamente introduzidos nesses tipos de dieta.
É comum em vacas pesadamente alimentadas que recebem maiores quantidades de concentrados do que elas podem digerir adequadamente;
Mudanças bruscas para novas fontes de grãos;
A limitação da quantidade de água disponível pode contribuir;
Utilização de antimicrobianos via oral por períodos prolongados (inibição da flora ruminal);

PATOGENIA
Hipomotilidade ruminal
Alteração do PH ruminal: Acidose – ingestão excessiva de grãos
Alcalose – dietas ricas em proteína (leguminosas e uréia)
Atonia ruminal
Alimentos estragados
Acúmulo de grande quantidade de alimento indigerível (impedimento físico da artividade)
Putrefação protéica Aminas e amidas (histamina) – atonia ruminal

ACHADOS CLÍNICOS
Sinais repentinos:
Redução do apetite (parcial ou completa)
Queda na produção de leite
Moderada depressão e apatia
Parada na ruminação
Contrações ruminorreticulares diminuídas ou ausentes
Outros sinais:
Timpanismo moderado
Rumen normalmente cheio
Fezes diminuídas em quantidade no 1º dia e mais secas que o normal
É comum o aparecimento de diarréia 24-48 h depois e a fezes podem estar molengas e malcheirosas
O desconforto normalmente se resolve quando os movimentos ruminais e o rúmen retornam ao normal;
A maioria dos casos se resolve espontaneamente ou com tratamento simples em 48 h

DIAGNÓSTICO DIFERENCAL
Acetonemia
Cetonúria
RPT
Febre moderada
Dor à prova do bastão
Estase ruminal com aumento de gás na porção superior
Sobrecarga por Carboidratos
Desidratação
Taquicardia e taquipnéia
Andar cambaleante
Decúbito esternal
Estase ruminal com ruído de chapinhar n’água
PH do líquido ruminal abaixo de 5
Patologias do abomaso
Cetonúria
Víscera distendida ao lado direito à palpação retal
Indigestão Vagal
Inicialmente hipermotilidade ruminal, seguida de timpanismo espumoso e atonia ruminal
Atonia Ruminal Secundária
Toxemia e Septicemia
Hipocalcemia
Atonia ruminal moderada com aumento do conteúdo gasoso
Alergia e Anafilaxia
Atonia ruminal

TRATAMENTO
Oferecimento de pequenas quantidades diárias de alimentos frescos, de boa qualidade e palatabilidade, estimulando a comer e incitar a atividade ruminorreticular.
Parassimpaticomiméticos Metoclopramida (0,1-1,0 mg/kg, 6-12 h, IV/IM)
Agentes alcalinizantes e acidificantes Sempre proceder a coleta e medida de PH do líquido ruminal
Acidose ruminal (grãos) – Hidróxido de magnésio (400 g para 450 kg PV) dilúidos em 10-15 l de água morna
Alcalose ruminal (concentrados com altas taxas de proteína) – 5–10 litros de ácido acético ou vinagre
Reconstituição da Flora Ruminal Retirada de bolo alimentar de animal sadio durante a ruminação ou
sifonagem do rumen
Obtenção de líquido ruminal em abatedouros
Reposição do líquido ruminal no animal doente por sonda estomacal

INGURGITAMENTO AGUDO POR
CARBOIDRATOS

ETIOLOGIA
Ingestão de grandes quantidades de carboidratos altamente fermentáveis (grãos)
Ocorre, na grande maioria em gado leiteiro alimentado com altos níveis de grãos e carneiros confinados
Cursa com grave acidose metabólica

EPIDEMIOLOGIA
Animais alimentados com dietas pobres em energia são mais suscetíveis quando de mudança alimentar brusca
Consumo acidental excessivo de grãos
Rebanho leiteiro
Tentativa do produtor de minimizar o balanço negativo de energia no início da lactação, maximizando a ingestão de concentrado
Rebanhos de corte
Consumo de quantidades tóxicas em rações ad libitum
Rápidas alterações barométricas e de temperatura (para o frio), podem alterar o consumo, determinando ingestão de dose tóxica
Animais confinados que ficaram de 12 – 24 h sem se alimentar podem estar famintos e ingerir doses tóxicas
Cordeiros confinados
Cordeiros em regime de engorda, quando recebem ração com alta concentração de grãos sem período de adaptação prévio
Indicadores de gravidade
Morbidade – 10 – 50 %
Mortalidade dos não tratados – até 90 %
Mortalidade dos tratados – 30 – 40 %

Dose tóxica
Trigo, cevada e milho são os mais tóxicos quando ingeridos em grandes quantidades
Aveia e sorgo são menos tóxicos
Todos os grãos se tornam mais tóxicos quando moídos ou triturados
Gado leiteiro habituado a dietas ricas em grãos, pode consumir de 10 – 20 kg e apenas desenvolver doença moderada
Gado de corte e animais de engorda, podem desenvolver doença aguda após ingerir 10 kg de grãos 25 – 62 g/kg PV de grãos de cereais ou milho podem produzir
grave acidose

PATOGENIA
Mudanças na microflora ruminal
Ingestão de altas quantidades de alimentos altamente fermentáveis
De 2- 6 h depois ocorre acentuada alteração na população microbiana ruminal
Aumento significativo do número de Streptococcusbovis, que utiliza carboidratos para produzir grandes quantidades de ácido lático
Queda drástica do ph ruminal (abaixo de 5), resultando na destruição das bactérias celulolíticas e protozoários

Ácidos graxos voláteis e ácido lático no rumen
Rápido aumento na concentração de AGV, contribuindo para queda do ph ruminal
PH baixo permite aos lactobacilos utilizarem grandes quantidades de carboidratos e produzirem ácido lático, resultando em acidose lática ruminal
Com aumento da osmolaridade ruminal, ocorre drenagem de água do sistema circulatório para o rumen, causando hemoconcentração e desidratação
Grande parte do ácido lático é tamponada pelo rumen, sendo que outra parte é absorvida pelo intestino, causando acidose metabólica
Com a queda drástica do ph ruminal, ocorre atonia ruminal

Acidose lática sistêmica
Quantidades não-tóxicas de ácido lático são neutralizadas pelo sistema tampão de bicarbonato e eliminação de dióxido de carbono pela respiração aumentada
Quando há ingestão de doses tóxicas, ocorre queda drástica do ph do sangue arterial, bem como queda de pressão, diminuição da perfusão tecidual e queda da oxigenação dos tecidos periféricos
Esse estado de hipoperfusão determina respiração celular anaeróbica e conseqüente produção de ácido lático, contribuindo assim para agravar a acidose metabólica

Rumenite química e micótica
Alta concentração de ácido lático causa rumenitequímica, precursora de rumenite micótica, cerca de 4 –6 dias depois do quadro agudo de ingurgitação
Baixo ph ruminal favorece a proliferação de Mucor, Rhizopus e Absidia spp., que invadem os vasos da parede ruminal, causando trombose e infarto
A lesão visceral determina completa atonia, toxemiaresultante da gangrena, podendo levar rapidamente à morte
Anorexia e atonia, associada a doença sistêmica primária, podem predispor à infecção fúngica, por causa de refluxo abomasal do ácido e uso prolongado de drogas antimicrobianas

Abscesso hepáticos
Ocorrem, comumente, como resultado de complicação por combinação de rumenite causada por acidose lática e por invasão dos vasos ruminais por Fusobacterium necrophorum e Arcanobacter(Corynebacterium) pyogenes, que alcançam o fígado
Causam, no fígado, já bastante agredido pela acidose lática, graves áreas de necrose de coagulação difusa, hiperplasia do epitélio dos ductos biliares, evoluindo aos abscessos hepáticos

Grau da doença
Estado geral Grau desidratação
Distensão do abdome
FC (bpm) Tº C Estado do rumen
Super-aguda • Bastante deprimido efraco• decúbito lateral• cegueira aparente• pupilas dilatas• resposta lenta
8 – 12 Proeminente 110 -130
35,5 –38,0
• Distendido com líquido• estase completa• ph abaixo de 5• sem protozoários
Aguda • Deprimido• atáxico• consegue andar• anoréxico• pupilas pouco dilatadas• resposta lenta
8 - 10 Moderada 90 - 100 38,5 –39,5
• Distendido com líquido• estase completa• líquido com cheiro agridoce• ph entre 5 – 6• ausência de protozoários
Sub-aguda • Vivo e alerta • consegue andar • sem ataxia• pode comer e beber• pupilas normais
4 - 6 Leve ou nenhuma
72 - 84 38,5 –39,5
• Moderada distensão com líquido• alguma massa ruminalpastosa• fraqueza nas contrações ruminais• ph entre 5,5 – 6,5• alguns protozoários vivos
Leve • Vivo e alerta• capaz de andar• sem ataxia• come e bebe normalmente
Não detectável clinicamente
Não significativa Normal 38,5 –39,5
• Conteúdo ruminalpalpável• contrações ruminais presentes com pouca força• ph entre 6,5 -7• atividade dos protozoários quase normal
ACHADOS CLÍNICOS

DIAGNÓSTICO DIFERENCAL
Quando ocorre em um único animal, sem história de ingurgitamento Anorexia, depressão, andar cambaleante, estase ruminal com
líquidos e sons borbulhantes, TºC normal – são característicos de sobrecarga ruminal
Paresia puerperal Fezes firmes e secas, não ocorre desidratação grave, resposta a
tratamento com cálcio
Mastite aguda por coliformes e Peritonite Difusa Aguda Exame clínico revela a causa da toxemia
Indigestão simples Rumen cheio, movimentos reduzidos na freqüência e amplitude,
moderada dor abdominal por distensão, ph e atividade dos protozoários normais

TRATAMENTO
Grau da doença Tratamento
Super-aguda • Rumenotomia• Bicarbonato de sódio a 5%, 5 litros IV (450 kg) seguido por• Líquidos isotônicos e eletrólitos na base de 150 ml/kg IV por 6 – 12 h
Aguda • Considerar abate imediato• Lavagem ruminal ou rumenotomia• Bicarbonato e líquidos IV como no caso super-agudo• Alimentação com forragem verde ou feno
Sub-aguda • Hidróxido de magnésio 500 g/450 kg no rumen• Terapia hidroeletrolítica IV• Alimentação com forragem verde ou feno• Pode voltar à dieta normal em 24 – 36 h
Leve • Alimentação com forragem verde ou feno• Observação cuidadosa para verificar anorexia

Tratamento auxiliar
Anti-histamínicos Prevenção da laminite
Prometazina (Fenergan® - ampola 50 mg/2ml) 1 mg/kg IM, IV
Gliconato de Cálcio a 20% Melhora a motilidade visceral e corrige a hipocalcemia
100 – 300 ml, IV, lento (diluído em soro)
Metoclopramida Auxilia na melhoria da motilidade intestinal
Plasil® (ampola 2 ml com 10 mg/ml) 0,3 – 0,5 mg/kg, SC, IM, IV, 6/6 ou 8/8 h

Cuidados e Prevenção
Adaptação gradativa da flora e fauna ruminal
Mistura de rações
7 – 10 dias com mistura de ração moída com 50 – 60% forragem e 40 – 50% de grãos
Com resultado satisfatório, pode-se diminuir o nível de forragem em 10% a cada 2 dias, até um nível de 10 – 15% (de forragem), completando o restante com grãos
Pequenos aumentos crescentes
Pequenas quantidades de grãos – 8 – 10 g/kg PV
Aumento a cada 2 – 4 dias em quantidades de 10 – 12%
Tampões na ração
Bastante discutida sua eficácia
Muitas desvantagens, tais como aumento na incidência de cálculos urinários, timpanismo e deficiência de vitaminas
Nível de 2% de bicarbonato (pedra calcária) pode promover alguma proteção
Ionóforos
Monensina
Diminui a população de Streptococcus bovis do rumen, podendo reduzir a acidose ruminal
Altera o perfil dos AGV, produzindo mais propionato, que induz a glicogênese
Aumenta a produção leiteira, diminuindo a porcentagem de gordura e reduzindo a incidência de acidose