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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PSICOLOGIA CLAYTON NUNES DA SILVA JOVENS DO CAMPO - O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE LUGAR CRICIÚMA, JUNHO DE 2009

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Este trabalho refere-se a um estudo com base na Psicologia Ambiental sobre jovens do meio rural, egressos do CEDEJOR (Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural), localizado no município de Lauro Müller – SC. Criado em 2002, caracteriza-se como uma entidade não-governamental denominada de OSCIP (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) que é constituída por uma rede de parceiros públicos e privados. A missão da instituição é contribuir com a formação do jovem do campo em diversos aspectos: humano, técnico e gerencial, pautados no desenvolvimento local sustentável. O programa atende a filhos de agricultores que concluíram o Ensino Médio em que os ciclos de formação duram dois anos, e o método de ensino utilizado é a Pedagogia da Alternância. O objetivo deste estudo é compreender como os jovens egressos do Cedejor tem se apropriado de seus espaços e construído sua identidade de lugar. A metodologia utilizada para desenvolver a pesquisa foi qualitativa, empregando como instrume

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE PSICOLOGIA

CLAYTON NUNES DA SILVA

JOVENS DO CAMPO - O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA

IDENTIDADE DE LUGAR

CRICIÚMA, JUNHO DE 2009

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CLAYTON NUNES DA SILVA

JOVENS DO CAMPO - O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE LUGAR

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Bacharel no curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC.

Orientador(a): Prof. Dra. Teresinha Maria Gonçalves.

CRICIÚMA, JUNHO DE 2009

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CLAYTON NUNES DA SILVA

JOVENS DO CAMPO - O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA

IDENTIDADE DE LUGAR

Trabalho de Conclusão de Curso, aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel no Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com linha de pesquisa em Meio Ambiente.

Criciúma, 25 de junho de 2009.

BANCA EXAMINADORA

Prof ª. Teresinha Maria Gonçalves – Doutora – UNESC – Orientadora

Prof. Dimas de Oliveira Estevam – Mestre em Administração – UNESC

Prof ª. Patrícia Martins Goulart – Doutora – UNESC

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Dedico este trabalho a meu pai, minha mãe,

meus irmãos e a amada de minha alma.

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3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço ao meu Deus, que me deu saúde em todos os

sentidos para eu poder concluir esta fase da minha vida. Aos mestres e professores

que me ensinaram muito durante estes cinco anos. A todos os meus colegas da

turma que durante estes cinco anos estiveram juntos, compartilhando alegrias e

superando tristezas. Em especial, aos meus amigos. À equipe de profissionais do

Cedejor (ESG) por toda a atenção e ajuda a mim proporcionada durante o tempo

que estava atuando com minhas pesquisas.

Um agradecimento especial aos jovens, a todos os egressos que

participaram desta pesquisa e aos demais que, de alguma forma também me

ajudaram. A todos os jovens da turma quatro pelos momentos juntos durante a

pesquisa do PIC 170 em 2008.

E, por fim, agradeço enormemente a todos que me ajudaram de alguma

forma, durante as minhas pesquisas de campo.

.

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4

“Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear.

E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e

a comeram.

Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu,

visto não ser profunda a terra.

Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinh a raiz, secou-se.

Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos c resceram e a

sufocaram, e não deu fruto. Outra, enfim, caiu em b oa terra e deu fruto, que

vingou e cresceu, produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um.

E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.

Bíblia Sagrada - Marcos, 4. 1-9.

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RESUMO

Este trabalho refere-se a um estudo com base na Psicologia Ambiental sobre jovens do meio rural, egressos do CEDEJOR (Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural), localizado no município de Lauro Müller – SC. Criado em 2002, caracteriza-se como uma entidade não-governamental denominada de OSCIP (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) que é constituída por uma rede de parceiros públicos e privados. A missão da instituição é contribuir com a formação do jovem do campo em diversos aspectos: humano, técnico e gerencial, pautados no desenvolvimento local sustentável. O programa atende a filhos de agricultores que concluíram o Ensino Médio em que os ciclos de formação duram dois anos, e o método de ensino utilizado é a Pedagogia da Alternância. O objetivo deste estudo é compreender como os jovens egressos do Cedejor tem se apropriado de seus espaços e construído sua identidade de lugar. A metodologia utilizada para desenvolver a pesquisa foi qualitativa, empregando como instrumento para o levantamento das informações a entrevista semi-estruturada individual. O total de jovens entrevistados foi de cinco. Destes, três são do sexo feminino e dois do sexo masculino, com idades entre 19 e 26 anos. Os resultados obtidos pela pesquisa demonstram que o processo de construção da identidade de lugar se deu na interação dos jovens com o seu entorno sociofísico, na relação com a natureza, na sensação de liberdade, no sentimento de pertença, afeição pelos animais e laços com o lugar. Palavras-chave: Apropriação do espaço. Cedejor. Família. Jovens do Campo. Identidade de Lugar. Psicologia Ambiental.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Localização e municipios de abrangência do Cedejor..............................14

Figura 2 – Bezerro de dois meses..............................................................................31

Figura 3 – A vizinhança .............................................................................................35

Figura 4 – O rio ..........................................................................................................38

Figura 5 – Plantação de feijão ...................................................................................39

Figura 6 – A paisagem ..............................................................................................41

Figura 7 – Visão da propriedade rural........................................................................42

Figura 8 – O quarto ...................................................................................................44

Figura 09 – Sala e cozinha ........................................................................................46

Figura 10 – Jardim......................................................................................................48

Figura 11 – O trabalho ...............................................................................................55

Figura 12 – Sistema Voisin ........................................................................................56

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADR – Agente de Desenvolvimento Rural

AGRECO – Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral

CEDEJOR – Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

ESG – Encostas da Serra Geral

EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

ISC – Instituto Souza Cruz

IBGE – Instituto Brasileiro Geográfico e Estatística

OSCIP – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

PIC – 170 – Programa de Iniciação Cientifica

PEJR – Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural

PJER – Projeto do Jovem Empreendedor Rural

PR – Estado do Paraná

RJ – Estado de Rio de Janeiro

RS – Estado do Rio Grande do Sul

SC – Estado de Santa Catarina

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense

UNB – Universidade Nacional de Brasília

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande Norte

USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................9

2 PROBLEMA DE PESQUISA ............................. ....................................................13

3 OBJETIVOS........................................ ...................................................................15

3.1 Objetivo geral ................................. ...................................................................15

3.2 Objetivos Específicos .......................... .............................................................15

4 METODOLOGIA ...................................... ..............................................................16

4.1 Natureza da pesquisa........................... .............................................................16

4.2 Coleta de dados................................ .................................................................16

4.3 Análise dos dados.............................. ...............................................................17

5 REFERENCIAL TEÓRICO.............................. .......................................................19

5.1 A Psicologia Ambiental......................... ............................................................19

5.2 Apropriação de espaço e identidade de lugar .... ............................................21

5.3 Jovens do campo ................................ ..............................................................22

6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA..... ........................27

6.1 Jovens e suas raízes com o lugar ............... ....................................................27

6.2 A Comunidade onde os Jovens Vivem.............. ..............................................32

6.3 O Jovem e a propriedade rural.................. .......................................................39

6.4 A Casa e a propriedade rural – um lugar que faz bem...................................43

6.5 Formas de apropriação do espaço ................ ..................................................47

6.6 A família e o PJER............................. ................................................................49

6.7 A cidade ou o campo? ........................... ...........................................................52

7 CONCLUSÃO ........................................ ................................................................57

REFERÊNCIAS.........................................................................................................60

APÊNDICES .............................................................................................................68

APÊNDICE A – Questionário aplicado aos 05 Jovens eg ressos do Cedejor

(ESG) ........................................................................................................................69

APÊNDICE B – Entrevistas Transcritas na integra (co mo relatadas) .................70

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho refere-se a um estudo sobre jovens do campo. Foi inspirado

na experiência do Programa de Iniciação Cientifica - PIC 170, realizado entre

períodos de abril de 2008 a março de 2009, e que teve como tema “O papel da

família na emancipação do jovem do campo numa perspectiva interdisciplinar: a

experiência do Cedejor das Encostas da Serra Geral (ESG)”. Foi a partir desta

experiência, mais focada em compreender o papel da família e na emancipação dos

jovens, que surgiu o interesse em levar adiante os estudos sobre a juventude do

campo. Por ser uma temática que permite diferentes desdobramentos, foi possível a

elaboração de outro artigo intitulado: “Invisibilidade dos jovens do campo: a

experiência do CEDEJOR de Santa Catarina”. Ambos os trabalhos não seriam

concluídos e nem publicados sem a orientação, atenção e dedicação do professor

Dimas de Oliveira Estevam.

Durante a trajetória acadêmica, foram enfrentadas muitas incertezas até

chegar o momento de construir o Trabalho de Conclusão do Curso. Foi durante um

momento, em que este “menino serrano”, já em suas últimas passadas, vendo a reta

final da formação - porém sem ter um foco de pesquisa definido e, além disso,

pensando em parar de estudar, devido ao alto custo financeiro -, que a amiga

Patrícia Bonassa o apresentou ao professor Dimas ao qual lhe proporcionou contato

com este primeiro projeto (PIC). Assim foi o seu primeiro contato com esta temática

relacionada ao campo.

Com o término do trabalho de iniciação cientifica percebeu-se que se

poderia buscar responder questões voltadas à Psicologia Ambiental. A motivação

maior para este estudo foi sedimentada pelas aulas de Psicologia Ambiental no

Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

ministrada pela professora Teresinha Gonçalves. Durante estas aulas, se buscava

compreender como se daria o processo de apropriação do espaço dos jovens, aos

quais havia conhecido em viagens ao interior das Encostas da Serra Geral. No

entanto, o que causou surpresa, ao aprofundar o assunto, foi constatar que a

Psicologia Ambiental e mesmo a Psicologia Social tem parcos estudos sobre o tema.

Neste sentido, parafraseando a professora Patrícia Goulart (2003), quando o

pesquisador busca responder suas inquietações e trabalha mais intensamente

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naquilo que se identifica, e ao estudar mais sobre o seu objeto de estudo, percebe

que a cada passo dado, há ainda muitos a serem trilhados. Percebendo-se que se

não “colocar as mãos e os pés no barro” e trabalhar, não é possível transformar a

realidade que se apresenta. Foi sob este enfoque que surgiu a necessidade de

investigar mais este assunto.

Assim, esta pesquisa visa compreender, a partir da Psicologia Ambiental,

como os jovens do Cedejor têm se apropriado de seus espaços e construído suas

identidades de lugar.

Segundo Gonçalves (2009), o pesquisador ao escolher o seu objeto de

pesquisa, utiliza um repertório pessoal que orienta o olhar para os problemas de sua

área de estudo. A problemática do jovem rural sempre foi o motivo de preocupação

desta pesquisa. Ao consultar algumas literaturas existentes sobre jovens, percebe-

se que há uma profusão de livros, pesquisas e artigos sobre a juventude urbana e

uma escassez sobre a juventude rural. Dar visibilidade a estes jovens esquecidos no

campo foi o motivo principal para a realização deste estudo. A Psicologia Ambiental

com os conceitos de apropriação de espaço e de lugar fornece os instrumentos

metodológicos para a compreensão do problema de pesquisa. Este estudo se insere

na linha de campo Meio Ambiente/Psicologia Ambiental.

Neste trabalho, a referência ao jovem rural se dará com os termos

utilizados por alguns autores, dentre eles se destacam Capelo, Martins, Amaral

(2007). Em concordância com estes autores, pensa-se que o termo campo utilizado

como opção conceitual, pode possibilitar uma abrangência de todas as situações

que estão presentes no mundo rural. Também para esquivar da armadilha que

considera o rural como espaço privativo da agricultura ou da pecuária, em oposição

à modernidade industrial do urbano. Neste sentido, essa oposição não satisfaz a

necessidade de compreender o campo em toda a sua complexidade e diversidade.

Entretanto, se reconhece que há heterogeneidade conceitual do termo Rural e

Campo e Juventude Rural e Juventude do Campo.

A preocupação deste trabalho é investigar como estes jovens constroem o

processo de identidade de lugar e a forma com que se apropriam do espaço em que

vivem.

A identidade de lugar é um conceito trabalhado por Claval (1999) e Tuan

(1983). Ambos conferem ao sujeito, a incorporação do lugar no seu universo

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simbólico, compondo assim, um elemento do seu processo de construção da

identidade.

O ponto referencial desta pesquisa são os jovens que passaram pela

formação educacional do Cedejor (Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural) do

município de Lauro Müller – SC, criado em 2002. Este Centro tem atuado na região

Sul do país em três territórios distintos: Centro-Sul do Paraná/PR, Encostas da Serra

Geral/SC e Vale do Rio Pardo/RS. A sua missão é contribuir para o desenvolvimento

do jovem rural, através de iniciativas que promovam a participação cidadã, o

empreendedorismo e o desenvolvimento local sustentável. A instituição se

caracteriza como uma organização não governamental, de caráter civil, e faz

parcerias com órgãos do governo, como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e

Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), a Universidade Federal de Santa

Catarina (UFSC), prefeituras municipais, além do Instituto Sousa Cruz, localizado na

cidade do Rio de Janeiro – RJ, que é seu principal parceiro.

A formação é voltada para os filhos dos agricultores que concluíram o

Ensino Médio e os ciclos de formação que duram dois anos e que, ao final do curso,

o jovem recebe a certificação de ADR (Agente de Desenvolvimento Rural). A

Pedagogia da Alternância é a metodologia utilizada na formação destes jovens.

Esta Pedagogia é a combinação de um processo que alterna os períodos

de vivência na propriedade e na escola em que o jovem passa três semanas na

propriedade e uma semana no Cedejor. Ou seja, é a combinação de um processo

de formação, no qual o jovem do meio rural convive em períodos na escola e na

propriedade ou na comunidade, alternando a formação prática com a formação

teórica (ESTEVAM, 2003; ZAMBERLAM, 2003 e RIBEIRO, 2008).

Para a sua manutenção, o Cedejor realiza parcerias com diversas

instituições governamentais e não governamentais que realizam atividades voltadas

para o desenvolvimento do meio rural. Desta forma, nos seis anos de atuação, o

Núcleo estabeleceu acordos de cooperação com inúmeras instituições, dentre as

quais se destaca a participação das famílias no processo de formação dos jovens, o

apoio das prefeituras municipais dos onze municípios da área de abrangência do

Cedejor - com destaque para Grão Pará, Lauro Muller, Santa Rosa de Lima e Rio

Fortuna - que desenvolvem ações diretas e efetivas com os jovens do

campo. Também contam com o apoio da Associação dos Agricultores Ecológicos

das Encostas da Serra Geral (AGRECO) que colabora no desenvolvimento dos

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projetos dos jovens a base de "Leite a pasto" e da CONAB (Companhia Nacional de

Abastecimento) que participa na compra dos produtos dos jovens. Outro apoio

importante é a da Acolhida na Colônia, cujas ações são desenvolvidas através dos

projetos dos jovens ligados ao agroturismo. No entanto, o principal colaborador

financeiro do Programa é o Instituto Souza Cruz (ISC) que patrocina a execução do

PEJR (Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural).

A formação dos Jovens se dá, entre outras, através de ações

educacionais e culturais em alternância. Podem-se destacar: estágios, visitas

técnicas, viagens de estudo em propriedades, empreendimentos e empresas, com o

objetivo de desenvolver habilidades para que o jovem seja protagonista nos campos

cultural, social, político, humanístico, técnico e gerencial.

O presente trabalho está organizado com uma primeira seção de caráter

introdutório; o item dois apresenta a problemática da pesquisa com dados que

preocupam e despertam questionamentos sobre o foco da pesquisa; na seção três

estão os objetivos do estudo; a metodologia de estudo e enquadramento

metodológico estão na seção quatro; seção cinco aborda o Referencial Teórico de

forma sucinta com a produção acadêmica sobre o tema; no item seis é feita a

apresentação e análise dos resultados da pesquisa; o item sete apresenta a

conclusão, abordando os resultados finais, limitações da pesquisa e sugestões para

outras investigações. Por fim, as Referências utilizadas e as entrevistas transcritas.

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2 PROBLEMA DE PESQUISA

Desde há muito tempo sabe-se que o êxodo rural se constitui em um

problema, principalmente no caso do Brasil, um país/continente. Segundo o IBGE

(2007), entre os Censos de 1940 e 2000, a população brasileira cresceu quatro

vezes. Os jovens dos 15 aos 24 anos somavam em 1995, no país 28,8 milhões de

pessoas representando em torno de 20% da população total brasileira. Estudos

apontam que o Brasil rural tornou-se urbano (31,3% para 81,2% de taxa de

urbanização). Na década de 40, a população que morava nas cidades totalizava,

menos de um terço (31,3%), enquanto em 2000 já eram 81,2%. No ultimo censo, a

população urbana atingiu 137,9 milhões e em 1940 correspondia a 12,8 milhões de

habitantes. Já a população rural em números absolutos, no entanto, cresceu de 28,2

milhões para 31,8 milhões de habitantes, entre as duas épocas.

Alguns autores, como Milton Santos (1997) e Acselrad (1999), afirmam

que os problemas urbanos são intensificados por esta população que se desloca as

cidades sem a devida qualificação profissional com expectativas que não se

concretizam por estes e outros fatores.

Na tentativa de minimizar este problema, criou-se em 2002, no município

de Lauro Muller, o Cedejor, uma organização não governamental que se caracteriza

por ser uma entidade de caráter civil. Faz parcerias com órgãos do governo, como a

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI),

a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e outros, como as empresas

privadas do Instituto Sousa Cruz.

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14

Figura 1: Localização e municipios de abrangência d o Cedejor

Fonte: Cedejor – 2008

Nossa preocupação é compreender este problema à luz da Psicologia, e,

no caso desta, pesquisa o recorte teórico é dado pela Psicologia Ambiental. Nossa

hipótese é que o processo de fixação do jovem no campo se dá, entre outros fatores

pelo processo de apropriação do espaço e pela identidade de lugar.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Compreender o processo de identidade de lugar de jovens rurais

participantes do programa do Cedejor.

3.2 Objetivos Específicos

• Compreender, a partir da Psicologia Ambiental, a concepção de

apropriação do espaço para o jovem rural;

• Investigar se a identidade de lugar do jovem do campo contribui

para a sua permanência no meio rural;

• Investigar, por meio dos conceitos de pertença, cultivação,

personificação se ocorre há construção da identidade de lugar nos sujeitos

pesquisados.

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16

4 METODOLOGIA

4.1 Natureza da pesquisa

Trata-se de uma pesquisa de campo, de natureza exploratória qualitativa,

tendo como método o estudo de caso. Este estudo compreende que a análise

holística é a que mais se aproxima dos propósitos desta pesquisa, pois ele considera

a unidade social estudada como um todo, seja um indivíduo, uma família, uma

instituição ou uma comunidade, com o objetivo de compreendê-los em seus próprios

termos (Goldenberg, 2000). O total da população estudada foi composta por 5

jovens, sendo identificados da seguinte forma: os três informantes do sexo feminino

são apresentados por: jovem (1), com 23 anos; jovem (2), com 23 anos e jovem (3),

26 anos. Os outros dois informantes do sexo masculino são chamados de: jovem (4),

22 anos e jovem (5), 19 anos. O critério para a escolha dos jovens foi intencional,

sendo escolhidos por indicação da equipe do Cedejor. A pesquisa de campo

realizou-se nas propriedades rurais dos jovens, localizadas nas cidades de Rio

Fortuna e Grão Pará em Santa Catarina.

4.2 Coleta de dados

A coleta de dados realizou-se no mês de abril de 2009, nas propriedades

rurais dos jovens, localizadas nas cidades de Grão Pará e Rio Fortuna em Santa

Catarina. Para o deslocamento até estas cidades, o pesquisador utilizou o transporte

escolar que desloca os estudantes destas cidades para na Unesc. Foram duas

viagens. Na primeira, foram entrevistados os jovens (2, 4 e jovem 5) de Grão Pará.

Na segunda viagem foram os jovens (1 e jovem 3) de Rio Fortuna.

Nestes trajetos, o pesquisador obteve auxílio nas Prefeituras, Câmara de

Vereadores, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, escolas públicas e cooperação

dos jovens selecionados para as entrevistas e suas famílias. Na primeira viajem, o

pesquisador obteve o apoio da escola municipal pois utilizou a biblioteca da escola

para organizar as entrevistas iniciais. Em seguida, a Prefeitura da cidade o auxiliou

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com o transporte, fornecendo um veículo e motorista para chegar às propriedades

rurais dos jovens. Na segunda viagem, o apoio veio primeiramente da Câmara de

Vereadores - que forneceu o automóvel - e posteriormente o apoio do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais que possibilitou um motorista para levar o pesquisador até as

propriedades rurais e realizar as entrevistas com os jovens.

Nos dois momentos de pesquisa - realizados através destas duas viagens

- os jovens e suas famílias foram acolhedores e forneceram toda a ajuda possível.

Sem todos estes colaboradores citados acima, não seria possível a realização deste

estudo.

Os jovens selecionados, ao participarem da pesquisa, concordaram e

assinaram o termo de consentimento de Livre Esclarecido recomendado pelo comitê

de ética da Unesc. Para a coleta de dados foi utilizado como técnica a entrevistas

semi-estruturada individual e registros de imagens.

4.3 Análise dos dados

Segundo Gil (1994), a análise dos dados tem por objetivo organizar e

sumariar as informações, possibilitando o fornecimento de respostas à problemática

de investigação. Para esta análise, foi realizado um ordenamento das entrevistas e

dos registros fotográficos, buscando os conceitos-chave a partir das informações

produzidas no discurso dos entrevistados. De acordo com Bauer & Gaskell (2002) os

conceitos-chave a partir da análise do discurso, acentuam a funcionalidade e a ação

que o discurso do sujeito possui. As narrativas possibilitam a orientação da interação

social do sujeito consigo mesmo e com o mundo. As imagens registradas têm a

função de método auxiliar. O inventário fotográfico é outra possibilidade de leitura da

confirmação do processo de apropriação. O critério para a escolha do que foi

fotografado consistem em lugares, paisagens e objetos que tenha sentido para o

sujeito. Desta forma o inventário fotográfico realizou-se após as entrevistas.

Entende-se que os registros visuais ampliam o conhecimento do estudo

pois possibilitam documentar momentos ou situações que ilustram o cotidiano, ou

seja, o vivido (NETO, 2003 apud MINAYO, 2003). A duração aproximada das

entrevistas variou de trinta a quarenta minutos. Depois de gravadas, as entrevistas

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foram transcritas na íntegra, para atender as normas éticas da pesquisa com as

devidas autorizações formais para imagens e áudio. O pesquisador utilizou como

instrumentos um gravador portátil, uma câmera digital, um caderno de anotações e

canetas.

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5 REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 A Psicologia Ambiental

De início, a explanação de alguns conceitos fundamentais será

necessária para entender a Psicologia Ambiental. Assim, esboça-se aqui o conceito

e o surgimento desta área do conhecimento.

A Psicologia Ambiental se caracteriza inicialmente “como a disciplina que

se ocupa de analisar as relações que, em nível psicológico, se estabelecem entre as

pessoas e seus entornos.” (GONÇALVES, 2004, p.17)

Segundo Valera (1998) a Psicologia Ambiental é uma ciência considerada

jovem, recente e que teve suas primeiras publicações nos Estados Unidos na

década de 70. Na França as publicações se deram na década de 80 e na Europa

houve duas vertentes de formação da Psicologia Ambiental - a Arquitetura foi uma

delas -, e também na Inglaterra e nos países nórdicos, a origem da Psicologia

Ambiental veio dos arquitetos. Entretanto, nos países como Itália, Alemanha, França

e Espanha, a raiz da Psicologia Ambiental foi a Psicologia Geral (MOSER, 1998). A

primeira referência clara da Psicologia Ambiental foi em 1924 na publicação do

Manual de Métodos Biológicos, cujo terceiro volume, compilado pelo próprio Willy

Hellpach (1877-1955), tem o título de Psychologie der Umwelt (GONÇALVES, 2007).

No Brasil, a Psicologia Ambiental é uma abordagem que está começando

a caminhar como uma derivação da Psicologia Social. As primeiras pesquisas se

iniciaram na Universidade de São Paulo na década de 90 do século passado

(GONÇALVES, 2004; 2007). Atualmente já existem pesquisas e práticas em

algumas universidades brasileiras como a Universidade Nacional de Brasília – UnB,

Universidade Federal do Rio Grande Norte – UFRN, Universidade de São Paulo –

USP, Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, onde são realizadas

pesquisas no Laboratório de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Psicologia

Ambiental. Uma destas pesquisas foi realizada em Criciúma (SC), resultou no livro

Cidade Poética de Teresinha Maria Gonçalves (2007).

Para Moser (1998) a Psicologia Ambiental tem como objetivo estudar os

seres humanos, tendo como ponto de partida o seu contexto. O tema central são as

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20

inter-relações deste sujeito, tendo como fenômeno de pesquisa, não somente as

relações entre a pessoa e o meio ambiente físico e social.

Para Freire e Vieira (2006), as vertentes na Psicologia Ambiental ocorrem

em uma multiplicidade de perspectivas. Por ser uma ciência que trabalha com a

relação pessoa/ambiente, a Psicologia Ambiental é, por natureza, interdisciplinar1 e

multidisciplinar, dialogando com outras áreas do conhecimento. Podem-se apontar

duas grandes raízes teóricas para a Psicologia Ambiental (PINHEIRO, 1997): uma

externa à Psicologia e outra interna. Na vertente externa, há a aproximação de

disciplinas até então distantes da Psicologia, como a Arquitetura e Planejamento

Ambiental, Geografia e Ciências Bio/Ecológicas. Na interna a aproximação se dá

com a Psicologia Social. Neste primeiro grupo influenciador, a Arquitetura e

Planejamento Urbano tinham como foco a ação dos espaços edificados sobre o

comportamento humano. Segundo Pinheiro (1997), a influência externa veio da

Geografia nos anos 40, tendo como tema central, o papel dos fatores socioculturais

na conformação do comportamento espacial humano.

Uma terceira influência para o surgimento da Psicologia Ambiental foi uma

crescente preocupação com os "problemas ambientais" em que o foco é a ação do

ser humano nesse contexto. Assim, essas dimensões - espacial e temporal - são

somadas à percepção ambiental. Este é o fenômeno psico-social, em que processos

cognitivos e afetivos estão implicados na representação do ambiente, tanto na

esfera individual como na coletiva (PINHEIRO, 1997).

Essa dupla vinculação ao estudo de problemas de degradação ambiental

e elaboração de projetos para ambientes construídos, como subárea da Psicologia,

evoluiu de tal forma que tem abarcado muitos outros tipos de problemas no âmbito

do ser humano. Segundo Ferreira (2004, p. 25), com base nos estudos de Gunther

(1991) reporta-se aos seguintes tipos de problemas:

[...] desde a percepção e cognição do ambiente; efeito do ambiente no comportamento; ambientes diferenciados (de crianças, jovens, adultos, trabalhadores etc.); ambientes específicos (como cidades); construção de determinados ambientes para obter determinados efeitos sobre o comportamento; mudanças de atitude, percepções e comportamento frente ao ambiente; até mudanças e planejamento do ambiente e preservação do

1 Para Valera (1998) o trabalho interdisciplinar da Psicologia Ambiental é considerado um traço típico, pois ressalta com base nos estudos de Holahan, (1982) e Proshansky, (1990): “resultado de ello es que la participación interdisciplinar es considerada generalmente como uno de los rasgos definidores de la propia Psicología Ambiental” (p.2). De Young (1999), considera a Psicologia Ambiental como um campo de atuação bastante amplo, nos apontando as características multidisciplinares.

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21

meio ambiente [...] (GUNTHER, 1991, p. 01).

Pode-se observar o tamanho da expansão e da área de abrangência, a

Psicologia Ambiental quase incorporou todas as possibilidades de estudo da área da

psicologia.

Considerá-la uma área nova ou velha não é nosso objetivo, mas busca-se

entender a contribuição desta área para a ciência. Percebe-se que as limitações em

buscar algo que inquieta, exige alternativas viáveis, alternativas concretas e

pautáveis, fundamentadas que respondam questões emergentes fizeram surgir a

Psicologia Ambiental. Os propósitos desta pesquisa também não são de

desconsiderar melhor ou pior as outras áreas da psicologia, como por exemplo, a

psicologia social. Pensa-se que “a interlocução de inter áreas do conhecimento, e

intra área da própria psicologia, tem se mostrado como a única saída possível para

fazer avançar a ciência e, como consequência, seu significado social” (PINHEIRO;

GUNTHER; GUZZO, 2004, p. 07).

As ligações que as pessoas estabelecem com seu entorno é fundamental

para o pleno desenvolvimento e funcionamento de suas aptidões psíquicas. Portanto

cada pessoa percebe, avalia e tem atitudes individuais em relação ao seu ambiente

físico e social, apropriando-se deste ou não, e é isso que estaremos investigando

neste trabalho.

5.2 Apropriação de espaço e identidade de lugar

Os termos utilizados pela Psicologia Ambiental focados neste trabalho,

ocupam um lugar central para que se possa entender como os jovens se apropriam

ou não do espaço em que vivem. Os conceitos de apropriação de espaço e

identidade de lugar foram trabalhados, embora se percebesse que estes dois

conceitos sejam diferentes na sua construção teórica, na prática eles estão

interligados. Para Pinheiro, Günther e Guzzo (2004, p. 08), a noção de espaço e

lugar são termos fundamentais, pois auxiliam a melhor compreensão do homem com

seu ambiente. “Trata-se, portanto de uma posição nova, uma diferente e mais

recente maneira de entender o desenvolvimento humano e social”.

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22

Gonçalves (2007, p. 58) diferencia espaço de lugar. O espaço é um

conceito amplo e segundo ela, o espaço está cheio de lugares. É nestes lugares que

o sujeito efetiva o processo de significação, e pergunta: “quais são os lugares de

produção da subjetividade no espaço?”. A autora responde que são nos lugares

próximos onde o sujeito trabalha, habita, passeia e relaciona-se.

Segundo Gonçalves (2007), com base em diversos autores pesquisados,

abre-se a visão para as noções de apropriação de espaço e modelos de como os

sujeitos se identificam com o ambiente onde vivem. Para que ocorra o processo de

apropriação com a identidade de lugar - neste caso o sujeito tem uma identificação

com o lugar -, ele o incorpora à própria identidade do seu “eu”. Este processo tem

uma dinâmica em dois sentidos: o primeiro está relacionado em como a pessoa vai

conquistar o espaço desejado. No segundo, relaciona as suas necessidades em que

a pessoa vai atuar, adaptando o espaço para si. Neste segundo contexto, o sujeito

passa a dar características próprias no seu espaço.

Para a Psicologia Ambiental, a apropriação do espaço envolve processos

cognitivos, simbólicos e afetivos. Os processos cognitivos se referem em como o

sujeito se localiza, se movimenta nos espaços em que vive. Nos processos

simbólicos destacam-se as diferentes formas que a pessoa se identifica com o seu

entorno, se esta valoriza e preserva o lugar e os processos afetivos, se estão

relacionados à atração ao lugar, e, se este, lhe proporciona bem estar pessoal. A

importância de todos os componentes tem suas variações durante o ciclo da vida no

ser humano. Assim, a pessoa passa a ser conhecedora do ambiente em que vive e

habita, sentindo-se pertencente àquele lugar (GONÇALVES, 2007).

Com esta leitura sobre as diferentes fontes pesquisadas no referencial

teórico e outros que surgirão no decorrer desta pesquisa, busca-se compreender o

processo de apropriação do espaço e identidade de lugar do jovem do campo.

5.3 Jovens do campo

Neste contexto, abordar-se-á, primeiramente, o jovem de forma geral e o

foco nos estudos sobre os jovens do campo, contextualizando com diferentes dados,

a condição destes na sociedade atual. Nas linhas abaixo objetiva-se enxergar e

compreender como está o debate sobre o jovem do campo no Brasil e como ele é

visto pelas diferentes pesquisas. Também se busca compreender os critérios para

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23

conceber o nosso objeto de estudo e seus problemas enfrentados ao longo dos

tempos.

O debate sobre o jovem do campo no Brasil vem aos poucos despertando

o interesse de pesquisadores. Contudo, a maioria dos estudos tem priorizado os

aspectos mais gerais, ligados à agricultura familiar e ao mundo adulto. Com

referência aos jovens, são mencionados apenas como força de trabalho dentro da

unidade familiar ou como trabalhadores fora da propriedade, ou ainda, somente

parte das estatísticas oficiais. A população jovem continua invisível para a maioria

dos pesquisadores e das políticas públicas. Desta maneira os projetos direcionados

a juventude do campo continuam ausentes. Esta faixa etária populacional pode ser

compreendida como uma categoria sócio-histórica e se percebe que existem muitos

grupos juvenis que constroem suas próprias formas de se identificar no seu meio

social (JEOLÁS, PAULILO, CAPELO, 2007 e AGUIAR, 2006).

Estudos demonstram que a juventude é um tema cada vez mais presente

nos espaços acadêmicos como fonte de pesquisa. Quando se busca focalizar os

jovens como fenômeno de investigação, entende-se que este foco representa um

desafio ao se considerar esta categoria como sociologicamente problemática. Ao

estudar os fenômenos nos grupos juvenis é impossível abstraí-los da classe social

em que estão inseridos. Já não se poderia revelar a classe sem localizar os

pertencimentos culturais dos jovens. A situação de classe entre os grupos pode

revelar as condições objetivas que marcam suas subjetividades, tais como o local de

moradia, o estudo, o trabalho, as rotinas, ou seja, as práticas e as representações

que caracterizam os grupos juvenis (STROPASOLAS, 2006; JEOLÁS, PAULILO,

CAPELO, 2007).

Entende-se que um dos grandes problemas no campo, é o êxodo rural;

assim, o resultado que se percebe é o aumento desordenado das cidades. No meio

urbano surgem outros problemas para os jovens enfrentarem, ficando evidente e

mais espantoso quando se assiste a um noticiário, que tem como pauta do dia, a

criminalidade, o uso abusivo de drogas, o desemprego e uma série de outros

problemas sociais que continuam desafiando a capacidade de se manter uma

qualidade de vida saudável. Estes resultados tem reforçado a retomada de reflexões

sobre a juventude brasileira (SILVA, OLIVEIRA, 2007).

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24

Quando se busca focar os jovens do campo, os estudos demonstram que

a faixa etária compreendida entre 16 e 24 anos não é o suficiente para definir o

jovem rural. De acordo com Guigou (1968, apud CAPELO, MARTINS, AMARAL,

2007) é preciso que o jovem tenha uma identidade firmada e a assuma, se

declarando como tal. Assim, tem-se a necessidade de analisar as relações destes

jovens com a sociedade mais ampla, bem como de definir historicamente as

continuidades e as descontinuidades, que permitem caracterizar os jovens do campo

de cada época. O autor aponta que para se considerar um jovem do campo, é

preciso atentar para critérios a serem avaliados, tal como o local de moradia. O

jovem precisa residir numa comunidade de menos de 40% de população ativa,

vivendo apenas de seus rendimentos agrícolas e trabalhando efetivamente na

agricultura.

Para Sustaita (1968, apud CAPELO, MARTINS, AMARAL, 2007, p.206), o

jovem do campo é aquele que se localiza na faixa etária dos 15 aos 24 anos e “que

viveu aproximadamente até a idade de 15 anos no meio rural”. Este é o período ao

qual o jovem teve experiências, se socializou com pautas de ações de relação rural.

O autor divide o jovem do campo em dois grupos: os jovens residentes rurais e os

migrantes que vivem na cidade; e ainda cruza estas variáveis com a estrutura

econômica de países desenvolvidos ou subdesenvolvidos. Desta forma, os

problemas dos jovens migrantes campo-cidade, tanto em países desenvolvidos,

quantos em subdesenvolvidos, podem ser analisados em relação à situação de

classe social e à integração no contexto sócio-cultural urbano. No que tange ao

“marco referencial”, no meio rural as referências tendem a ser mais concretas, como

pontos de referência físicas como montanhas, lagos, rios, fontes e as plantas. Por

outro lado, no meio urbano as referências tendem a ser mais abstratas e o sujeito

tende a se localizar, através da compreensão dos símbolos.

Pesquisas realizadas pela EPAGRI, no Oeste Catarinense (SILVESTRO

et al., 2001), detectaram conflitos entre gerações. As famílias do campo creditam

grande importância à formação de seus filhos. Mas não com a intenção de que os

mesmos permaneçam no campo, e sim, como uma possibilidade de ascender

socialmente, através de outra profissão, que seja melhor remunerada e menos

desgastante que a de agricultor. Isso foi detectado como objetivo dos pais, que

desejam ver seus filhos em outras ocupações menos trabalhosas do que a sua.

Desta forma, a formação é vista como uma alternativa para sair do campo, e que se

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25

confirma a asserção dos jovens segundo o qual “ou se estuda, ou se fica no campo”

(p. 49).

O vínculo entre a agricultura e o baixo nível educacional resiste até as

diferenças de renda entre as famílias, segundo os autores supracitados, pois não

existem diferenças entre as famílias de menos renda e as mais abastadas. Nesse

sentido, educar os filhos está associado a deixar a atividade, porque ainda

permanece o desprezo pela formação para continuar na agricultura. Os autores

verificaram que a formação dos jovens migrantes é superior a dos que permanecem

nas atividades rurais, pois as expectativas de retorno financeiro no meio urbano são

superiores em relação ao meio rural, pois no campo o retorno deste investimento é

quase inexistente financeiramente (ESTEVAM, 2007).

Isso ocorre em grande parte por que o sistema educacional é

incompatível com a realidade do campo. Os indicadores educacionais do campo no

Brasil estão entre os piores da América Latina (DURSTON, 1994), não se trata

somente do ensino formal. A questão, segundo o autor, é que o meio rural conserva

a tradição escravista que dissociou a formação do trabalho, de maneira que “quem

trabalha não conhece e quem conhece não trabalha”. Tanto é, que tendem a ficar na

atividade agrícola aqueles jovens que alcançam o pior desempenho escolar. Assim,

cria-se um círculo vicioso em que, permanecer no meio rural, associa-se a uma

espécie de incapacidade pessoal de trilhar o suposto “caminho do sucesso” que

consiste em migrar. E não se investe na valorização do conhecimento nas regiões

interioranas, pois se identificam, cada vez mais, como um reduto dos que “não

conseguem sair”, dos velhos e dos aposentados (CARNEIRO, 2005).

Desta forma os jovens do campo, de acordo com a autora, são vistos nas

pesquisas sobre o tema ou no meio familiar apenas na condição de aprendiz de

agricultor dentro do processo de socialização por meio da divisão social do trabalho

na unidade familiar, tornando-os adultos precocemente. Todavia, em relação aos

jovens rurais, continuam em situação de invisibilidade decorrente desse olhar

estereotipado que dificulta a compreensão de sua complicada inserção num mundo

agora globalizado. Segundo Durston (1994) o que caracteriza a faixa etária juvenil e

sua ascensão gradual - até o desempenho de seus plenos papéis de adultos, tanto

sociedades rurais como urbanas - é a constituição do casamento e a formação de

um lar autônomo.

Page 28: 9000041a1clayton nunes da silva jovens do campo 2009 pdf

26

Segundo Günther, Cunha (2004), em relação aos artigos e livros

encontrados com estudos sobre os jovens e seus ambientes, a maioria seguiu - ou

pelo menos tentou seguir - a recomendação de pesquisadores de diferentes áreas

da psicologia, visando desenvolver pesquisas voltadas para o “mundo real”,

enfatizando o contexto da vida real da forma como apresentado por Proschansky

(1976) e Sommer (1977).

Aguiar (2006) identificou que são várias as problemáticas de pesquisa

que emergem tendo a juventude como foco central. O autor verificou - ao fazer um

levantamento bibliográfico sobre artigos na América Latina, bem como sobre as

dissertações - teses de várias áreas do conhecimento no Brasil e principalmente no

Estado de Santa Catarina que tem se destacado nas pesquisas sobre jovens.

Segundo Estevam (2007), os jovens rurais sofrem com o peso do

preconceito, que muitas vezes, vem deles mesmos. Estes estigmas podem afetar a

autoestima, a autoimagem dos sujeitos, levando-os até mesmo ao estado de

invisibilidade. Assim, percebe-se que estes resultados podem produzir a não

apropriação dos espaços.

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27

6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA

6.1 Jovens e suas raízes com o lugar

De início buscaram-se as ligações dos jovens com o lugar, as raízes que

eles estabelecem com o ambiente onde vivem. A ligação com o entorno é de suma

importância para se poder entender como o jovem se identifica com o seu ambiente

físico e social.

Todos os jovens pesquisados relataram que nasceram na área rural e que

todo o seu desenvolvimento foi dentro da propriedade rural - o que, para Sustaita

(1968 apud CAPELO; MARTINS; AMARAL, 2007), é um dos critérios a ser avaliado

ao se considerar o jovem do campo. As ligações com o lugar onde passaram sua

infância estão carregadas de significados e modelos identificatórios com seu

ambiente. Para o autor acima citado, o jovem deve ter permanecido até os 15 anos

no campo. Este é o período do qual o jovem teve experiências, se socializou com

pautas de ações de relação rural. Estas ligações e o sentimento de estar bem nos

ambientes onde habita - a casa, a propriedade rural dos pais, a comunidade que o

viu crescer e a escola onde estudou - é difícil esquecer e cria um sentimento de

pertencer ao lugar.

Depoimentos: “a gente se criou aqui desde pequena. Estudei por aqui

nunca saí, só sai para estuda. [...] eu me criei aqui com minha família” (jovem 2). “[...]

E desde piquena, trabalhando com os pais aqui, eu tô sempre aqui” (jovem 3). “[...]

Desdi os 6 anos quando nois vimo morar aqui” (jovem 4). “Eu nasci aqui no

Município de Rio Fortuna, estudei ali também. Sempre morei aqui, nunca saí daqui,

sempre trabalhei na roça”[...] (jovem 1). “Quando eu nasci nós morava lá naquela

casa atrás do morro [...] Quando eu tinha três anos daí [...] nóis viemu morá pra cá.

[...] Ai eu me criei aqui aprendendo junto com os pais os serviço que eles fazia,

trabalhando com eles” (jovem 5).

O termo “morar” representa uma relação com o ambiente vivido, porém,

morar se difere de habitar. Morar está relacionado a localizar-se em algum lugar;

habitar está relacionado à apropriação dos diferentes espaços - físico, simbólico,

emocional e cultural - nos quais estão todos os lugares, as pessoas, as coisas e os

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objetos com os quais o ser humano estabelece uma interação. Assim pensa-se que

a casa poderá ser habitada ou meramente ocupada (GONÇALVES, 2007).

A análise dos depoimentos dos jovens acima, faz pensar no

enraizamento, ao mesmo tempo espacial e cultural, este tende a ser mais fácil de se

realizar no campo do que na cidade (GONÇALVES, 2007).

Segundo Moser (1998), os conceitos como espaço físico e a dimensão

temporal também são utilizados pela Psicologia Ambiental. Para o autor, entende-se

que o espaço físico vivenciado concretamente e representado simbolicamente pelo

sujeito influenciará na maneira como vai perceber, agir e interagir consigo e com o

seu ambiente, assim, o espaço é o primeiro conceito importante. Na dimensão

temporal, imaginário e memória comporão o lugar simbólico. Este se entende ao

mesmo tempo como projeção no futuro e referência ao passado, à história da

pessoa.

Quando se pensa no futuro, no que ser na vida, qual a profissão escolher,

se reflete se os jovens do campo também enfrentam estas mesmas preocupações:

se estuda para ficar ou para sair da propriedade rural? Sabe-se que um dos grandes

problemas nas cidades e também do/no campo, é o êxodo rural. No campo (França,

Brasil e outros), há um problema chamado de “masculinização”, devido à saída

acelerada das jovens (STROPASOLAS, 2006). Na França, conforme Roux, há um

número maior de mulheres que saem de suas comunidades rurais para viverem na

cidade (1998 apud STROPASOLAS, 2006, p.165). Segundo o autor, é entre os 20

aos 29 anos que as pessoas, normalmente se casam. No ano de 1995 existiam 140

homens para 100 mulheres, em 1979 havia 22% de indivíduos celibatários com

menos de 40 anos, contra 32% em 1995. Estes dados demonstram que tem se

acentuado o celibato masculino. Porém, para a jovem (2), nos seus 23 anos, a saída

da propriedade rural dos pais, será para viver na sua propriedade, pois é noiva e

está feliz em continuar no campo, comenta:

E trabalhar na agricultura não sei se foi porque o pai me motivou desde pequena, que eu gosto disso né. Mas eu sempre gostei de ficar a aqui, té por isso que eu vou casar e vou morar na agricultura também. E aí eu estudei no Cedejor que foi o que me motivo mais ainda né. A gente estudou dois anos que é voltado para isso.

Quando a pessoa se sente bem, gosta e se identifica com seu ambiente

já apresenta os requisitos para que o sujeito possa estar bem psiquicamente. Um

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29

ambiente estressante, do qual a pessoa não gosta, é um dos indícios para

problemas futuros. Neste sentido, o lugar é onde ocorre a representatividade

simbólica, e assim, a jovem (2) comenta as suas raízes como o lugar, e sua busca

na resolução de problemas para o melhoramento da renda familiar:

Eu nasci aqui. [...] Eu sempre morei aqui (eu vou sair daqui agora). [...] a gente vive desde só trabalhando com a agricultura né. É só uma atividade onde vinha dando um pouco de problemas [...] e não tem outra renda para entrar para a família. Daí foi ondi eu procurei estudá para ajudar na família para que a gente tenha uma nova atividade prá ajuda o pai com uma idéia nova prá gente podê ficá aqui [...]

Neste relato, verifica-se que a jovem (2), ao perceber o problema, buscou

no conhecimento, alternativas viáveis para não sair do campo. No depoimento desta

jovem pode se identificar a alternativa viável pela fala: “eu vou casar e vou morar na

agricultura”. Em outro momento da entrevista, comenta que seu esposo ganhou a

casa para eles morarem, um presente dos seus pais. De acordo com os estudos de

Piccini, “pode-se notar que a constituição de novo núcleo familiar independente está

relacionada à construção de nova moradia. Percebe-se também que a casa é um

dote a ser dado ao filho homem [...]” (PICCINI, 1996, p. 112).

Pode-se também refletir que, ao adquirir uma morada, ou seja, a compra

da casa própria, o sujeito passa a mobiliá-la de acordo com os seus gostos e

atitudes. Estudos (SILVA, GONÇALVES, 2008, c) demonstram que, quando o sujeito

se identifica com o lugar onde habita, sai do seu habitat de origem e vai para a

cidade - por exemplo, como é o caso da dona Nascimenta2, que reproduziu no seu

terreno, no exterior e interior de sua casa, no bairro Universitário em Criciúma (SC),

as lembranças da sua vida quando jovem, tempo que viveu e sua propriedade rural

no interior de Jacinto Machado (SC) – o mesmo sujeito tem uma identificação

simbólica, afetiva com o lugar e conquista o espaço desejado moldando-o aos seus

gostos e desejos, dando características próprias ao ambiente.

Ou ainda, como se percebe nas cidades, os edifícios, em que tudo é igual

externa e internamente, porém, ao se entrar num cômodo, identifica-se a

constituição do ambiente condizente com o seu habitante. Isso evidencia como o

2 Uma amável Senhora, viúva de 80 anos. Entrevista concedida no dia 15.09.2008, ao acadêmico, para elaboração do trabalho acadêmico, apresentado a Disciplina de Cultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento do Curso de Psicologia. – UNESC, orientado pela Profª Dª Maria Terezinha Gonçalves. (ver em Referências)

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30

processo de apropriação do espaço é registrado, e, consequentemente, a

identificação do sujeito com o lugar (DE YOUNG, 1999).

A jovem (3) comenta sua ligação com o ambiente onde vive. [...] “eu tô

sempre aqui. Eu aprendi as coisas aqui com meus pais, como plantar e cuidar das

coisas, do gado”. Conta que não gostou muito de ter saído da propriedade rural para

trabalhar na cidade, pois se sentia desconfortável em um ambiente que não lhe

oferecia a liberdade que tinha no campo. Relata que:

Eu nunca saí daqui, eu já fui trabalhar em Tubarão (SC), eu já foi trabalhá em apartamento coisa assim né. Aí a hora que eu foi trabalhar, assim, nestes lugares aí eu percebi que aquilo ali não era para mim, que eu não me sentia bem fazendo aquilo dali, tipo aqui tu abre a porta e tu bareia a puera pra fora e lá tu não podi fazer isso né. Tem qui pegá um apazinho e botá no lixo. Então, sei lá, dá uma sensação de está presa assim, di afobia assim de coisa presa.

Neste relato se identificam as ligações como, estar bem no ambiente, e a

liberdade. Quando o sujeito se sente bem em seu habitat, o local faz bem e assim se

assegura uma apropriação do espaço.

Segundo Tuan (1983), o lugar é específico, concreto, conhecido e

familiar. Tuan concebe o espaço de duas formas, a primeira chamou de “lugar” e a

segunda de “espaçamento ou espaciosidade”, uma corresponde aos valores básicos

de afeto e a outra à liberdade, ao uso livre do espaço. A espaciosidade ou

espaçamento equivaleria ao sentimento de estar livre, de se projetar no espaço, real

e ou imaginário.

Rabinovich (2004, p. 95), em seus estudos, apresenta a rua, de modo

geral, considerando um lugar de socialização das crianças; porém, este lugar -

devido à vida corrida das pessoas - que antes era um lugar de encontro, agora é o

lugar da passagem. Na visão da autora, a criança parece, atualmente, estar se

desenvolvendo em um ambiente que considera “ilhas”. Este é um reflexo da

sociedade atual, em que a violência das ruas e o aumento do tráfego de veículos,

têm dificultado a acessibilidade e a atratividade, dificultando assim, tanto

familiaridade quanto a apropriação, pois “na cidade a rua é um lugar de todos os

perigos” (GONÇALVES, 2007, p. 73).

Entretanto, no campo, a apropriação afetiva é uma das formas pelas quais

o jovem busca uma identificação com o entorno. A ligação afetiva com os animais

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resulta na sensação de bem estar. Para a jovem (3), no contato com os animais e

com o seu ambiente, percebe-se a identificação emocional no cuidado com os

animais do campo.

E eu não vou durmi sem sabe se eu fui tratá dos animais e ter visto que ele tá bem e eu gosto de todos os animais. Eu tô sempre colocando a mão, chamando. Mais os mais íntimo assim tem novilhinha assim né, que eu chego elas ficam parada e eu faço carinho e é bem tranquilo. É porque é desde piquininho eu acostumei a ir com eles né, eu trato, cuido limpo então eu chamo eles e eles atendi. [...] e ele vêm e eles têm um carinho muito bom. Às vezes, a gente tem a compania de um animal assim é bem melhor né. Às vezes, a gente entende mais um animal que um ser humano.

Figura 2: Bezerro de dois meses. Fonte: Silva, 2009.

Neste sentido, se pode observar que, conforme Gonçalves (2007), a

jovem passou a se reconhecer e cuidar do seu ambiente, pois a mesma se identifica

afetivamente.

Assim, quando o jovem tem suas raízes e se identifica com o lugar, ele

passa a buscar resolução para os problemas, busca cuidar e permanecer no seu

território. Além disso, o campo é visto como um lugar que possibilita a liberdade, e

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esta liberdade não só se expressa pelo mundo físico, mas psíquico. A sensação

desconfortável, de estar preso em um espaço restrito, foi percebida quando a jovem

comenta que saiu de um ambiente, um espaço amplo e com diversidade e não

compactado e verticalizado.

6.2 A Comunidade onde os Jovens Vivem

As comunidades do campo representam um desafio para o saber

científico. Os estudos estão voltados para compreender os agrupamentos sociais,

que se reproduziram a partir da integração sociocultural local. A noção de

comunidade rural compõe a organização e o tamanho do povoamento, a forma de

organização do espaço, as relações constitutivas de seu espaço. A comunidade

rural exerce uma função de proporcionar as famílias uma vida coletiva, mobilizando

ações sociais, conquistando direitos e também fortalecendo manifestações culturais

que identificam os diferentes grupos (STROPASOLAS, 2006).

As relações que os jovens estabelecem com as pessoas na comunidade

onde vivem (os vizinhos, os amigos, estes e outros laços de interações sociais)

fazem com que se identifique com o lugar, pois todos têm atividades semelhantes

pois trabalham no campo (uma característica forte, do trabalho, na região, é a

comercialização de Laticínios).

A jovem (2) comenta que participa das atividades desenvolvidas na sua

comunidade e tem um bom relacionamento com a vizinhança e com os outros

jovens, os quais se reúnem para atividades diversas. Relata:

Ah! A gente convive sempre junto na comunidade, eu participo de grupo de jovem. Aqui em cada comunidade tem um grupo de jovem. A gente sempre participa deste grupo. Estou envolvida na igreja. Eu era líder do grupo de família. Eu sempre participo e procuro participar destas coisas e tem os vizinhos que a gente tem uma convivência muito boa. Tem os amigos e a gente vive assim.

Verifica-se que nas fortes ligações dos jovens com as instituições, a igreja

torna-se um espaço para atuar junto à comunidade e de se identificar com os

diferentes grupos. Segundo Stropasolas (2006) um espaço social priorizado na vida

dos agricultores (as) é a comunidade e/ou a sociedade da capela. A capela tem uma

forte ligação com a cultura dos colonizadores europeus. O centro de uma

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33

comunidade sempre serviu de espaço de ligação entre as manifestações diversas,

entre elas “de manifestações do sagrado, do lúdico, da transmissão e intercâmbio de

informações, de reconstrução do mundo cultural” (p.130). Pode-se apontar que nos

centros urbanos encontram-se estas manifestações com frequência, e que nestes

ambientes (as praças, os jardins dos centros urbanos), não raras vezes, também são

esquecidos pelos gestores e pelas pessoas que vivem nas proximidades. Por outro

lado, estes ambientes são lembrados pelos mendigos e pessoas que migram de

cidade em cidade, e para estes, o local representa segurança e abrigo durante a

noite (SILVA, 2008, a).

Quando se pensa nas redes de relações que as pessoas estabelecem

umas com as outras e com diferentes grupos, remete a reflexão da importância do

que Stropasolas (2006, p. 98-112) escreve sobre “o conceito de capital social”.

Segundo o autor, tendo como base diferentes fontes de estudos - dentre eles damos

destaque para Bourdieu (1979) - que concebem o capital social como um recurso de

poderes efetivamente utilizáveis, constitui-se o conjunto de recursos atuais ou

potenciais que estão ligados a posse de relações que se vinculam a um grupo. Estas

relações são construídas a partir de interações objetivas, por residirem umas

próximas, por terem a mesma atividade econômica e também social, existindo

assim, uma troca de recursos, seja material e/ou simbólico, o que se supõe a

proximidade, ocorrendo um reconhecimento, uma identidade grupal, fundamental

para o desenvolvimento do capital social.

O jovem (4) comenta também que não tem problemas com a vizinhança e

que tem um ambiente saudável com os mesmos. Relata que: “com a vizinhança

sempre tive um bom convívio, um ajuda o otro aqui”. Quando o jovem fala em “um

ajuda o outro”, está falando das relações da vizinhança. Sobrevinda do campo, estas

relações entre as famílias são apresentadas como uma forma de cooperação. Em

relação aos vizinhos existe um consenso nos dias de trabalho que exige mais

pessoas trabalhando, ou como em algumas situações excepcionais, um fenômeno

meteorológico, “uma doença grave numa família” (STROPASOLAS, 2006, p.131) em

que ocorre uma das manifestações de reciprocidade mais conhecidas entre as

famílias de agricultores, o chamado “mutirão”. Relata a jovem (1) que: “na época do

fumo a gente troca dia. Eu ajudo ali o vizinho”. Este “trocar dia” é trabalhar na

propriedade do vizinho, “um tipo de ajuda mais comum ainda e consiste em uma

família recorrer à ajuda dos vizinhos para executar uma tarefa para a qual só a força

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34

de trabalho familiar não é suficiente” (STROPASOLAS, 2006, p.131), em seguida

este trabalho é retribuído com o mesmo gesto, que envolve certo grau de

espontaneidade. Assim se percebe o sentimento de familiaridade com a

comunidade.

Segundo Heidi Keller (1998, p.460 apud RABINOVICH, 2004, p.76), a

familiaridade aponta para uma construção de apego, seguro ou inseguro,

influenciando o comportamento social ou exploração do meio físico. No que se refere

ao “apego de lugar” como base da construção identitária, sugere que a

familiarização pode levar à identificação e esta ao apego.

Neste sentido, é perceptível um aspecto importante, que resulta no

pertencimento. Para Rabinovich (2004 p.76) com base nos estudos de Gabriel

Moser (in press) este sentimento de familiaridade e solidariedade expressado, seria

a apropriação que resulta em um estado de bem estar e segurança. Vale ressaltar

que um aspecto importante de sua reflexão é a extensão do que a pessoa considera

como sua comunidade e está ligada a qualidade da ancoragem local.

Análogo à internalização da qualidade de apego desenvolvida em relação a uma pessoa como um modelo interno de trabalho, o apego ao lugar em termos de segurança existencial se torna parte do auto conhecimento, da identidade de uma pessoa (KELLER, 1998, p.460 apud Rabinovich, 2004, p. 76).

Neste sentido ocorre uma identificação simbólica com o lugar, pelos seus

vínculos ali estabelecidos. Em concordância com Pol (1996 apud FREIRE, VIEIRA,

p. 32) percebe-se que “o espaço se torna lugar pela identificação” do jovem com seu

grupo social.

Segundo Gonçalves (2007, p. 58) o lugar é “o ponto de práticas sociais

específicas que nos moldaram e nos formaram, e com as quais nossas identidades

estão estritamente ligadas”. Assim, constata-se que este é concreto, conhecido e

familiar.

A jovem (1) comenta o distanciamento entre o rural e o urbano na sua

região. Para ela, na cidade, as pessoas possuem mais vantagens, estão próximas

de um supermercado ou uma padaria; mas no campo, se falta alguma coisa para

terminar um alimento, o vizinho mais próximo é a alternativa viável para solucionar o

problema. Relata que na cidade: “tá perto para ir buscar no mercado ou na padaria.

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35

Já no meio rural, aqui a gente não tem muito disso, mas tem. Caso falte o açúcar,

para fazer o bolo, tu vai no vizinho e pédi”.

Figura 3: A vizinhança Fonte: Silva, 2009.

Entretanto, nos dias atuais o campo tem estreitado as suas fronteiras com

a cidade. Hoje já se fala em “rurbano”, devido à fusão entre estes dois ambientes.

Para Silva (2002, p.111) os jovens estão transitando entre “o rural e o urbano,

continuando suas leituras destes dois universos, o que culmina num ideal de vida

rurbano”. A separação entre o rural e o urbano sempre foi um problema social?

Longe de ter uma posição afirmativa, a intenção é refletir sobre os efeitos desta

separação, nas relações que se fazem presentes entre o campo e a cidade.

Conforme os estudos de Martins et al (2009), baseado em diferentes

autores, a primeira concepção de campo é marcada pela negação do espaço rural,

estando este relacionado em contraposição ao espaço urbano. O “meio rural” ainda

é percebido como um local atrasado, inferior, pobre, arcaico; criando a ilusão de que

a urbanização e a industrialização desses espaços seria o único caminho para o

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36

desenvolvimento, o progresso, o sucesso econômico, tanto para os indivíduos como

para a sociedade. Neste sentido, as pessoas que vivem no campo são

representadas, pela figura do “Jeca-Tatu”, sujeitos fáceis de serem enganados e

manipulados. Já o espaço urbano fica marcado pelo desenvolvimento, progresso,

sabedoria, produção de conhecimentos, modernidade e riqueza. Quanto ao futuro do

espaço rural, quando se observa que este será gradualmente urbanizado, estaria

longe dizer que este está caminhando para extinção? Segundo os autores citados,

essa perspectiva vem sendo reforçada pela mídia atual, principalmente a televisiva,

através de novelas, desenhos, filmes, programas de humor, dentre outros. O

resultado disso é uma condição de invisibilidade (SILVA, ESTEVAM, 2009b),

“reforçando uma configuração de ‘campo’ atrasado e de um ‘urbano’ ultramoderno,

contribuindo para a supervalorização dos centros urbanos e a desvalorização do

espaço rural” (MARTINS et al., 2009, p. 04).

Porém, se é um ambiente atrasado, não valorizado em alguns momentos

- ou quase sempre, pelo urbano -, para os povos do campo, os jovens que moram,

nasceram e vivem nas comunidades rurais, seria muito pouco expressar em

palavras o valor ao qual atribuem a estes lugares. A comunidade do meio rural é

vista como um lugar de encontro dos jovens, para seus diferentes programas, entre

eles, o lazer no campo. Estas atuações, festas, encontros esportivos, teatro são

também uma forma dos jovens organizarem outros eventos para fora de seus

territórios, com o objetivo de conhecer novos ambientes. Comenta a jovem (2) “a

gente tem o lazer, é para ajudar a comunidade. A gente faz festas e o dinheiro vai

para a comunidade como para fazer assim para viagens”.

Neste sentido percebe-se que de certa forma os jovens do campo buscam

satisfazer suas necessidades de interações sociais, e o lazer é uma delas.

Entretanto, quando eles se organizam e realizam suas atividades, esta é uma das

formas pelas quais eles buscam a visibilidade frente ao esquecimento da maioria

dos pesquisadores e dos projetos governamentais de apoio, quer sejam de

formação, lazer ou infraestrutura. Portanto, os projetos de desenvolvimento

relacionados para o mundo juvenil rural ainda continuam ausentes. Até mesmo como

categoria é imprecisa, variável e heterogênea (CARNEIRO, 2005; SILVA,

ESTEVAM, 2009. b).

Em todo lugar, em toda comunidade, sempre haverá um local de encontro

dos jovens. Na cidade se percebe que os parques e as ruas estão sendo

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substituídos pelos ambientes fechados. Estes ambientes são as Lan House’s (local

específico para acessar a internet e diferentes tipos de jogos virtuais). No contexto

urbano, os jovens se movimentam para buscar nestes locais, um momento de

encontro entre os amigos, uma forma de diversão e lazer na cidade (SILVA, 2005).

No campo encontram-se diferentes ambientes naturais, como por

exemplo, um rio e sua caída de água, uma bela vista de um monte, etc. O homem

pode se relacionar com seu ambiente de muitas formas. Nos ambientes naturais

pode-se pensar em relacionamentos temporários e permanentes. As pessoas

estabelecem um relacionamento temporário com um ambiente natural quando

visitam um parque nacional, por exemplo. Uma visitação para conhecer a serra

geral, uma área virgem ou área de recreação, para muitas pessoas pode representar

um relacionamento temporário, porém, para os guardas de um parque e outras

pessoas associadas à área em questão, representariam uma ligação com o lugar de

forma permanente. Entretanto, é importante ressaltar que a intensidade, destes

relacionamentos entre homem e natureza, varia de acordo com a circunstância

individual (HEIMSTRA, 1930).

Silva (2008a), com base em diferentes autores, dentre eles ressalta-se

Elali (2007), declara que a paisagem natural é um produto de destaque e tem sido

usado para se obter lucro, como produto a ser comercializado. Para a autora os

ambientes assumem um importante significado na vida das pessoas, pois podem

facilitar ou dificultar a movimentação, favorecendo ou simplesmente inibindo

comportamentos.

Segundo o jovem (5), o rio era - em suas lembranças da infância na

comunidade - o lugar onde todos se reuniam, para nadar e pescar. Comenta: “Ah!,

este rio aqui foi tomado muito banho. [...] de vez em quandu nóis ia pescá, aquela

veis animava mais pescá que daí pegava mais, há uns quantos anos atrás nós ía

pescá pa fritá os pexe di noiti pa come [...]”

Nestes depoimentos observa-se que ocorre uma identificação simbólica

com o lugar, pelos vínculos ali estabelecidos. Assim, em concordância com Pol

(1996 apud FREIRE, VIEIRA, p. 32) percebe-se que “o espaço se torna lugar pela

identificação” do jovem com seu grupo social”. No que se refere a estes diferentes

grupos nas comunidades do texto comentado acima, e compreendido durante as

viagens pelo interior da região de abrangência do Cedejor, os jovens do campo têm

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se organizado, formando grupos em suas comunidades, as quais desenvolvem

iniciativas voltadas, entre outras, ao lazer. (SILVA, ESTEVAM 2009b)

Figura 4: o rio Fonte: Silva, 2009.

Os modelos identificatórios dos jovens do campo já se iniciam em sua

infância, pois estão envolvidos com o seu mundo real. Este mundo vivido pode ser

simbolizado de diferentes formas: um rio, uma nascente, o gado leiteiro, a montanha,

a paisagem, a casa, a propriedade rural, um objeto, a plantação entre outros. No que

se refere “a plantação”, ela é vista como o lugar de onde a família retira seu alimento

e também, o meio de obter lucro comercializando o produto. Assim, o gosto pela

plantação se dá entre outros “porque ela me dá um retorno [...] até pra ti si mante né”

relata a jovem (1).

Identifica-se que o meio rural sempre foi visto como produtor de matéria

prima de alimento e insumos, ao passo que o urbano, na modernidade, associou-se

a ideia de “avanço”, progresso. O rural se aproxima da ideia de retrocesso e atraso.

Porém, esta ideia tem seus resultados negativos, uma delas é a distribuição de

verbas e incentivo governamentais. O campo, ao longo da história, sofre com a

invisibilidade, falta de políticas públicas e serviços básicos. Tem-se então um

problema que também é urbano (SILVA, ESTEVAM, 2009b).

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Contudo, observa-se que a comunidade é um local onde os jovens

desenvolvem suas interações com o grupo em que se identificam. Assim, a

comunidade tem entre suas funções, proporcionar a socialização. Estas interações

com os vizinhos e amigos fazem com que se desenvolva o “capital social”

identificando-se com o lugar, seja pelo fato de todos terem atividades semelhantes

ou não.

Figura 5: Plantação de feijão. Fonte: Silva, 2009.

6.3 O Jovem e a propriedade rural

Os jovens, ao relatarem seus registros históricos com o lugar onde vivem,

remetem a pensar no resultado de um encruzamento de sua história social e

individual. Neste sentido, o espaço e o lugar são incorporados, pelas dimensões

subjetivas, despertando o mundo simbólico que se recria no processo de

apropriação.

Para a jovem (1), a propriedade rural sempre foi o local em que buscou

estar presente com a família. Ela comenta que “[...] eu sempre ajudei o pai e a mãe

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[...]”. Sempre buscou ajudar no que pode e lembrando-se do que mais fazia, no

início das atividades da família, que era cuidar do gado de leite, “tirar o leite e ajudar

buscar os tratos pras vaca”. Comenta que esta era a primeira atividade da família.

O jovem (5) narra que as lembranças do passado, no que diz respeito à

propriedade rural, estão relacionadas com os avós, uma ligação com as antigas

gerações. O jovem relata que quando pensa na propriedade rural, logo se lembra da

saída do avô da propriedade e a chegada de seu pai na casa onde seu avô morou

durante muito tempo, mas que foi embora para a cidade deixando seus pais para

cuidarem das atividades do campo. Outro fato marcante na propriedade foi o

nascimento do seu irmão, o caçula da casa.

Relacionando os diversos depoimentos sobre a ligação com a

propriedade rural, foram selecionados alguns, para melhor compreender o sentido

de lugar e o modo pelo qual os jovens se identificam com o lugar onde vivem.

No depoimento do jovem (4), ele fala sobre o lugar da propriedade com o

qual se identifica e gosta: “O rio, ir para a beira do rio, tomar banho. [...] O rio é um

lugar de lazer, agora nem tanto, mas quando eu era mais novo tomava bastante

banho di rio, pescava. [...] Tem muitas coisas boas. [...] (sorri) eu aprendi a nadar ali,

(sorri)”. Comenta que também gosta de trabalhar com os animais: “é di tá

trabalhando assim com u gado de leite. É aqui na ordenhadeira que eu gosta mais

de trabalhar. Di ta trabalhandu com os animais, [...] as vacas, de tá levando elas

para os piquetis é o cuidado com os animais”.

O jovem (1) cita: “Eu gosto da plantação, porque ela me dá um retorno.

[...] eu gosto de tirar leite [...]. Também gosto da casa enfim, eu gosto de tudo, o

gado de leite”. E um lugar da propriedade com o qual se identifica é o local

específico para o trabalho com o gado de leite: “O rancho. É um lugar que eu tô todo

dia e gosto de tirar leite”.

Para a jovem (2), na propriedade o que gosta mais é o trabalho na

lavoura ou “roça”, comenta: “E da propriedade o que eu gosta é eu gosto de

trabalhar na roça. [...] eu prefiro mais ficá na roça”.

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Depoimento do jovem (5) sobre a Propriedade:

Um lugar que eu mais gosto específico não tem. Mais é lá pro morro que tu tem a visão da comunidade tu vê u movimento. Tu podi para e pensa como as coisa mudaru, como era antes. Uma vez tu via ali de cima como que era a comunidade uma vez e como é que tá hoje. Tu pode para pensar e coisa. Pensar no tempo como o tempo passa, pensa na vida assim, estas coisas assim. É um lugar bem interessanti o lugar lá em cima.

Figura 6: A paisagem Fonte: Silva, 2009 .

Neste sentido, esta “visão do lugar”, está relacionada à paisagem, que

para a Psicologia Ambiental está intrinsecamente ligada ao mundo intrapsíquico.

Este conceito, em Psicologia, se difere de outras áreas do conhecimento, como por

exemplo, na Arquitetura, em que a paisagem é vista como a organização de

imagens no mundo externo (GONÇALVES, 2007).

Também neste depoimento do jovem (5), quando fala que “Uma vez tu via

ali de cima como que era a comunidade uma vez e como é que tá hoje”, assemelha-

se ao constatado por Rabinovich (2004, p. 95), que em seus estudos na cidade de

São Paulo, com os moradores do bairro, “pode-se observar que na infância em que

‘os limites (de exploração) eram os limites da cidade’ reproduziu-se na idade adulta,

por um crescimento pessoal que acompanha o crescimento da cidade”.

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Semelhantemente, as diretrizes da formação (UPM, 2007), em seus objetivos

buscam na formação dos jovens, o desenvolvimento do território onde ele vive.

O lugar da propriedade em que a jovem (3) gosta de ficar é em um lugar

que a possibilita visualizar a propriedade rural e criar estratégias para futuras

modificações: “é lá no morro. [...] É onde tem a visão geral [...] dá pra ver a

propriedadi e vê como ela tá, onde tem que arrumá [...]”. Além disso, tem a

possibilidade de se sentir livre, e “ficá sentindo o ventinho fresquinho”. Outras

identificações com o lugar são percebidas no discurso da jovem: “E também no meio

da mata assim, ficá olhando os passarinhos, ficá sentado em baixo de um di arvi [...]

de andar por aí”. Por fim, comenta que estes passeios em contato com a natureza e

com aquilo que ela gosta, “até dá ânimo de voltar para casa e trabalhar mais”.

Figura 7: Visão da propriedade rural Fonte: Silva, 2009.

Rabinovich (2004), com base nos estudos de Louise Chawla (1995), nos

permite uma reflexão sobre a vida das pessoas durante a infância, que parecem

desejar árvores e lugares verdes, pessoas amigáveis, paz, segurança, limpeza e

lugares próximos, onde possam encontrar-se e sentir-se parte de um centro ativo.

Em Londres, os jovens estão lutando para conquistar o espaço público para o

cidadão comum, plantando canteiros e flores, com o objetivo de lutar contra o

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automóvel. A autora comenta que no Brasil, um estudo da Associação Nacional de

Transporte Público de São Paulo, mostrou que os espaços dedicados aos

automóveis para rolamento e estacionamento público e privado, já correspondem a

mais de 50% do espaço total.

Nesta parte, se busca compreender como o jovem vê sua propriedade

rural, quais são as ligações com este ambiente que marca sua história com o lugar.

Entretanto, mais focado em entender como estes jovens se localizam no seu espaço

- como se apresenta o que se chama de “marco referencial” (SUSTAITA, 1968) -

percebe-se que o campo oferece diferentes atrativos. Assim, o que se ressalta é

que, no campo ou na cidade, estes diferentes espaços são batizados - pois, quando

se encontra um local ainda não conhecido - existe a tendência em logo marcá-lo

com um nome, permitindo assim, a sua localização no espaço. No campo, os jovens

se orientam tendo como referência a natureza, as pegadas dos bichos, a posição do

sol, o cume das montanhas (a Serra Geral), um rio, uma árvore ou uma floresta.

6.4 A Casa e a propriedade rural – um lugar que faz bem

No que se refere ao lugar de maior preferência entre os jovens, constatou-

se nos depoimentos que, na maioria das vezes, o jovem não tem aparentemente um

lugar específico que goste mais, porém comentam alguns ambientes de que

gostavam.

Segundo a jovem (3) o lugar ao qual chama de “cantinho” é o quarto.

Relata: “eu vou dizer assim, o meu cantinho é o quarto, como se diz eu vou ficar no

quarto né. O quarto é o meu cantinho né. Não é meu, mas a mãe deixô lá pra mim

né”.

Para a jovem (1) também o lugar onde ela se sente bem, e que possibilita

momentos de reflexões é o seu quarto, e comenta:

o quarto[...] o quarto é uma coisa que tu tá a bastante tempo, por causo que durante o dia tu anda para cima e para baixo, tu anda por tudo e no quarto tu fica mais tempo, às vezes a gente faz a análise da propriedadi, a prestação de conta. Ou mesmo meditação uma coisa assim. Não é que é especial assim tal, mas é ondi eu me sinto a vontade, bem.

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O jovem (4) também relata que seu lugar de descanso é “o quarto que é

lugar di discanso e também di tá pensando né, di tá refletindo sozinho do que eu fiz,

do que poderia ter feito melhor [...]”. Assim, o quarto também é um local de

planejamento das tarefas diárias do jovem. O quarto se torna um espaço privado que

possibilita uma introspecção.

Segundo Cavalcante (2004, p.134), quando se pensa na distribuição dos

espaços construídos e seus arranjos interiores, percebe-se que são marcados por

“desejos e necessidades”. As fronteiras que demarcam cada espaço dentro de uma

casa podem ser percebidas por móveis, paredes e portas. Em suas funções buscam

corresponder à satisfação de necessidades que se repetem no tempo. Quando a

pessoa entra em seu quarto e fecha a porta, “o homem cria um espaço em volta de

si”.

Figura 8: O quarto Fonte: Silva, 2009.

Este espaço pode ser percebido de diferentes formas: do sentido de

apropriação, quando a pessoa pode apropriar-se e defende-se de todos os intrusos.

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Dentro deste espaço, fechado pela própria vontade humana, torna-se pessoal, uma

idéia de apropriação, como relata a jovem (3) “o quarto é o meu cantinho né”; Pode

ser um momento, no qual a pessoa pode estar só e satisfazer a necessidade de se

retrair da sociedade e buscar a intimidade pessoal. Como narrou o jovem (4) “di tá

refletindo sozinho,” e a jovem (2), “na casa eu fico quase mais tempo no meu quarto

onde eu fico lendo é um lugar de eu estudar, então eu fico lá né”. Também pode

estar só, com quem e tudo quanto escolheu para aproveitar o que este quadro, o

espaço, ou outra pessoa pode oferecer-lhe, ou seja, busca de uma intimidade

compartilhada (CAVALCANTE, 2004).

Segundo Piccini (1996) nas casas mais antigas construídas em 1960,

entre as características mais comuns destas moradias, o autor percebe que o piso é

executado no concreto liso, não existindo lajotas nem madeiramento. A estrutura é

de alvenaria e não se utilizavam pilares de concreto. O telhado das casas era

sustentado pelas vigas de madeira. Assim, os cômodos das casas tendiam a ser

menores, e não eram fechados por portas, a não ser o banheiro. No que se refere

aos quartos, existiam cortinas para o uso noturno. Segundo o autor “os espaços de

uso comum cotidiano da família é sempre aberto e com livre circulação,

transformando-se em um único espaço amplo e polifuncional (p.129)”.

Nos espaços dentro de uma casa, de um modo geral, estando abertos ou

fechados, as portas criam um ritmo que dá compasso à vida cotidiana das pessoas.

Neste sentido, satisfazendo necessidades opostas e essenciais ao homem no

espaço, proporcionando momentos de isolamento, de passagem e comunicação

(CAVALCANTE, 2004).

Segundo o jovem (4), a cozinha é um lugar de interação entre os

membros da sua família nuclear: “a cozinha assim é um lugar ondi a gente senta

para tomar chimarrão, a gente bate papo com a família assim, vê televisão”. É

comum encontrar-se a cozinha ligada a sala, ocupando um módulo específico da

construção, sendo um espaço maior que aquele reservado para o fogão. Assim, este

ambiente considerado polifuncional, tem em suas funções a recepção de

convidados. Segundo Piccini (1996, p.143), o binômio, cozinha-estar, foi uma das

características da habitação rural no Brasil, desde as mais antigas moradias rurais,

visto que “a cozinha sempre foi, desde o Brasil colônia, uma peça importante da vida

cotidiana da família rural”.

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colocar uma cor clara. Mas o que eu queria fazer eu já consegui que era tirar a parede que tinha aqui e o quarto e trazê os sofá aqui para a cozinha. Porque tinha um sofá lá na sala, mas ninguém usava né, e aqui na cozinha tinha assim um quartinho aqui e era tudo meio quase fechado e era tudo muito apertado. Quando chegava alguém ficava neste cantinho assim. Ai nóis conversamos com o pai, que é mais fácil convencer o pai primeiro, daí depois tiramos a parede e colocamos o sofá para cá.(jovem 2).

Neste sentido, a cozinha tem um significado “de estar unida, assim a

família. [...] dialogando cum a família [...] Não tá num lugá isolado né, sempre tá cum

as pessoas”. A cozinha além de ser o lugar de saciar as necessidades de

alimentação, o lugar de preparação da comida, é ou era, o lugar em que as

mulheres passavam a maior parte do seu dia (PICCINI, 1996). Acrescenta-se que

nas diversas viagens para o interior, percebeu-se que no campo as famílias tendem

a ser mais unidas e o momento das refeições se torna um momento para toda a

família se reunir.

Figura 09: Sala e cozinha Fonte: Silva, 2009.

Nos estudos de Piccini (1996), um espaço comunitário da família se dá

entre a copa-cozinha-sala de jantar, um grande espaço único que de certa forma, em

momentos especiais, se transforma em lugar semiprivativo, que recebe os estranhos

e os convidados da família. Já os outros espaços da casa ficam fechados aos

olhares indiscretos. A cozinha tem um lugar de destaque e representa o espaço

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comunitário mais usado pelos membros do sistema familiar. Em outros casos, a sala

fica afastada da cozinha, estando preservada para ocasiões especiais.

Para o jovem (5) a sala da casa é “o lugar onde a família ta junto e coisa.

É ondi a família mais tá junto, mais conversa, mais fica junto, conversando, vendo

televisão. Passando o tempo junto, é mais na sala”. Esta parte da casa é

normalmente e um ponto central para receber as pessoas, e para a jovem, é um

local de encontro da família, em se estabelecem as interações do sistema familiar.

Nestes depoimentos se percebe que o ser humano procura ajustar seus

comportamentos, conscientemente, imaginando o ritmo de seus desejos e

necessidades buscando satisfazê-los. Segundo Cavalcante (2004), toda casa tem

suas zonas funcionais como os quartos, a cozinha, o banheiro, a varanda etc, assim,

o ser humano busca a privacidade em sua casa, que construiu para dispor de

espaços arranjados especificamente para satisfazer suas necessidades. O fato de

passar aproximadamente oito horas por dia em quartos de dormir, também é para

buscar satisfazer convenientemente esta necessidade orgânica.

6.5 Formas de apropriação do espaço

Percebe-se que existem diferentes formas de se apropriar do espaço e

que o olfato exerce uma influência significativa.

No relato da jovem (3) percebe-se que está presente, entre as

percepções, a percepção olfativa “E tem mais assim o lugá, a tranquilidadi, clima,

cheirinhu de terra, de chuva, o verde, a água, é esta tranquilidade”.

Tuan (1983), questiona: as fragrâncias e os perfumes podem constituir um

mundo? Os sentidos permitem as pessoas, sentimentos intensos pelos espaços.

Segundo o autor, o espaço é experienciado. Constata-se assim, que no espaço, o

corpo é espraiado, ele se move, dá direção. Neste sentido, enfatiza-se que os

sentidos formam e dão a sinistesia (percepção entre a visão, o tato e o olfato).

Nolivro “Cidade Poética” (GONÇALVES, 2007) encontramos o

depoimento da Dona Olga. Ela identifica o cheiro do espaço serrano pelo perfume

das flores, pelo cheiro de comida, embalada pelas cantigas ao redor do fogo.

Também sente o frio na pele. Entretanto, na cidade de Criciúma, um clima mais

quente, percebe sua pele pegajosa, porque está sempre suando. Neste sentido, o

paladar, o olfato, a sensibilidade da pele, audição, não podem individualmente - e

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talvez nem juntos - fazer com que a pessoa fique ciente de um mundo exterior

habitado por objetos (TUAN, 1983). Porém, em concordância com as faculdades

“espacializantes” da visão e do tato, esses sentidos, essencialmente, são

distanciadores, pois enriquecem muito a apreensão do caráter espacial e geométrico

do mundo (GONÇALVES, 2007, p.142).

No que se refere a estar bem no local, a jovem (3) fala que: “a gente se

sente bem aqui”. Então, quando ocorre a apropriação, como processo de

identificação com o lugar, a pessoa passa ser um agente transformador, pois ao

apropriar-se do espaço, o sujeito deixa sua marca, seja na casa, com a mudança em

uma parte dela, no jardim com o plantio de plantas, grama, no cuidado com o gado.

Ao transformar o lugar, ocorre “um processo de reapropriação constante que vai

desde o entorno, a casa e os objetos dentro dela” (GONÇALVES, 2004, p.19).

Figura 10: Jardim Fonte: Silva, 2009.

Assim, identifica-se que o ser humano tende a buscar um lugar

apropriado, e este é o que satisfaz suas necessidades. A jovem (3) relata que: “Tudo

que planta aqui dentro eu sei como é que se fais, tudo então para mim plantá

verdura, fruta, pra mim não é problema, o problema é eu sai na cidade e não sabê o

que fazê”. Sua maior dificuldade é estar num ambiente desconhecido, ou seja, não

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familiar. Finaliza comentando que: “[...] Então se for para mim ficar na cidade, aí sim,

eu não conseguiria sobrevivê, aqui eu consigo”. Relacionando a capacidade de uma

pessoa se manter e ter autonomia para viver com dignidade, a vida na cidade tem

apresentado diferentes dificuldades, uma delas é a falta de perspectiva e

oportunidade de emprego (GOULART, 2003). No campo, o jovem busca a

autonomia conversando com seus pais, para que este tenha uma participação nos

rendimentos da propriedade rural. Assim relata o jovem (5) quando questionado

sobre sua independência financeira: “tenho, eu tenho uma porcentagem”.

A independência financeira está relacionada com a tão sonhada

“autonomia” que pode ser analisada “como uma apropriação e internalização dos

espaços pelo corpo/sujeito”. Neste sentido, possibilita uma imagem corporal e de si,

que vai permitir a “apropriação que se dá, neste percorrer, das experiências”

(RABINOVICH, 2004, p. 58). Não se poderia deixar de acrescentar, a importância da

família na construção desta autonomia para o jovem do campo (SILVA, ESTEVAM,

2009, a).

6.6 A família e o PJER

Estudar a contribuição da família para o jovem do campo apropriar-se de

seu espaço, não poderia deixar de se ressaltado neste trabalho. Entende-se que

quando se fala em família, podem-se ter diferentes modos de pesquisar a

importância desta para a vida do ser humano. A família, na área da saúde, é

compreendida como fonte para a saúde ou à doença, do sucesso de uma pessoa ou

fracasso (SILVA, 2009,c) Porém, nesta parte do trabalho se identificará como a

família tem contribuído para que o jovem do campo se aproprie de seu ambiente.

Nos estudos de Silva (2002, p. 101) no Vale do Jequitinhonha - (MG),

percebe-se uma das funções da família:

As observações realizadas em Chapada do Norte também apontam para tal fato, além de demostrarem a importância da família na vida dos jovens. Pois é neste laço afetivo-familiar tão estreito que os jovens vão mediando e formando suas personalidades, construindo suas identidades e suas maneiras de se verem e de se auto-representarem.

Neste sentido, se procurou nos depoimentos dos jovens, compreender

como a família tem contribuído no processo de apropriação do espaço da

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propriedade rural. Observando que durante a formação, o jovem aprende a realizar

diagnósticos da sua realidade, perceber o que pode ser feito e explorado na sua

região, na propriedade em que habita e assim, possibilitando uma visão mais ampla

da perspectiva de renda para ele e sua família. Depois deste diagnóstico, o jovem

elabora seu projeto, chamado de PJER, neste processo de construção, o projeto

deve resultar em um instrumento efetivo de viabilização de oportunidades de

geração de trabalho e renda.

No depoimento da jovem (3), nota-se que tem se apropriado de seu

espaço. Comenta com autonomia e autenticidade, finalizando, dizendo que tem o

apoio da mãe: “Mas na verdade, eu tenho o meu espaço, eu tenho o meu respeito,

eu faço as coisas, eu tenho o apoio da mãe [...]”. Constata-se que a família é

importante, porém as iniciativas do jovem são fundamentais para a conquista de seu

espaço.

A jovem (1) comenta que sua família procura passar seus saberes da

terra, e recebe liberdade para executar seus planos na propriedade rural. Estes

planos tornam-se o seu projeto. Por fim, a jovem ressaltou a importância do diálogo

e o respeito:

Sim, porque a gente trabalha todo mundo juntu [...] Não é que eles não querem fazê mais, é que eles querem que a gente aprende também. Eu acho que eles me ajudu bastanti e também nesta questão di as coisas para mim fazê na propriedadi eu tenho bastanti liberdadi. Só que sempre há uma conversa, vê si vale a pena ou não, até por eles terem mais experiência que a gente né. Quantos anos eles já tão vivendo? Quantos anos eles já tão trabalhandu? Eles vão sabê se dá lucro ou não.

Carneiro (1998) apresenta em pesquisa realizada na região de Nova

Pádua, Caxias do Sul (RS), com jovens rurais numa “colônia italiana”, que o

compromisso moral é muito forte, e se dá em reconhecimento pela ajuda familiar, o

que gera um sentimento de dívida jamais quitada.

Sobre a participação da família, durante e depois da formação do

Cedejor, a jovem (1) relata que sua família tem se demonstrado participativa, e

recebe apoio dos pais para desenvolver seu projeto na propriedade rural, um projeto

com o gado de leite: “A minha família também me apoiô bastante, eles também

queriam”.

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A jovem (2) buscou colocar em prática seus conhecimentos e sua família

deu abertura para os experimentos durante a execução do seu projeto: “eu acho que

eles dão a chance e sempre ajudaram para mim tentar. [...] Sempre deram a

oportunidade para mim, de tar construindo, todas as coisas que eu precisei e disse

que queria tentar, eles sempre me deram a chance”.

Conforme o jovem (5), sua formação ajudou, entre outras coisas, para que

a família reconhecesse o seu trabalho, ele conta que tem uma parte dos lucros:

Ah! é tudo conversadu. E depois que eu entrei lá (Cedejor) que eu tenho esta parte da porcentagem do aviário, eu conversei com eles sobre que eu estava só trabalhando em casa e de eu ter uma porcentagem. Então, agora é o meu salário né, antes eu não tinha. Antes quando precesava pedia. E conversando assim eles dão todo o apoio que eu preciso para fazer as coisas aqui dentro né. [...] Para ganhar o espaço na propriedade [...]

No que se refere à experiência no Cedejor, estes jovem relatam que

houve uma mudança na forma com que viam seus ambientes. Durante a formação,

além de poder ter outro olhar sobre sua realidade e melhor se identificarem com o

lugar, eles adquirem conhecimento voltado para as suas necessidades. O Cedejor

trabalha utilizando temáticas voltadas para os eixos: humano, técnico e gerencial. No

eixo humano existem, basicamente, temáticas que são voltadas, para a ética,

sexualidade, meio ambiente, direitos humanos; essencialmente, valores básicos

para estimular a cidadania e o protagonismo juvenil. No eixo técnico, encontram-se

os conceitos e métodos para avaliação das práticas atuais, também estimulando a

construção e realização de empreendimentos rurais, podendo ser com base na

agricultura ou não. Por fim, os trabalhos com temáticas no eixo gerencial, têm as

noções de gestão com ênfase na visão estratégica, aplicada à agricultura familiar e

aos pequenos empreendimentos, com estímulos para a construção de projetos

sociais direcionados para o espaço rural (UPM, 2007).

O jovem (5) relata que obteve:

uma visão mais detalhada da propriedadi. O que nesta área pode ser feito, o que nesta outra pode ou não ser feitu. A gente tem um conhecimento mais detalhadu, na formação foi passada esta visão de ver a propriedade mais detalhada.

Para o jovem (4) o trabalho na propriedade rural foi despertado e

motivado com o início da formação, comenta que:

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Trabalhava por trabalhar não era assim muito motivado a ficar no meio rural e depois que eu entrei no Cedejor qui me motivou a permanecer a ver as possibilidades, que tinha possibilidades de ter futuro no meio rural. Antes parece que o cara não queria ver que tinha, mas parece que lá mostro que eu tinha condições de permanecer no meio rural e hoje já não me vejo fora do meio rural.

A jovem (1) conta que foi “depois do Cedejor, nu casu, eu tive mais

vontadi di ficar na propriedadi e [...] eu aprendi bastanti coisa”.

Segundo o jovem (5), em sua formação aprendeu muitas coisas que seus

pais demorariam a passar para ele: “E dependendo talvez, dos pais é que demora

mais para passar isso para os filhos. Não é tão já assim que eles pega e passu.”

Com o desenvolvimento das habilidades no Cedejor, a jovem (3) comenta

que tem planos de implantar novos projetos na comunidade.

E no Cedejor eu aprendi di tudo, pessoal, di propriedadi, tipo eu não sabia o que era fazê um projeto. Eu só ouvia na rádio que tal vereador mandou tal projeto para ser feita tal coisa né. E agora tu tem a idéia né, fico melhor, eu até posso montar eu um projeto para a comunidadi. Eu tinha idéia de montar um parquinho aqui na comunidade [..]

Com estes depoimentos observa-se que o apoio da família é fundamental

para que o jovem se aproprie do ambiente onde vive, sinta-se pertencente ao lugar,

atue concretamente, modificando e moldando seu entorno de acordo com seus

ideais ou projetos de vida. Neste sentido, a família representa uma forte ligação de

incentivo e motivação para que o jovem possa, ao final de sua formação,

desenvolver seu PJER, na propriedade rural, alcançando uma autonomia financeira.

Assim, pode-se ressaltar que a autonomia pode ser vista como um sinal de

apropriação do espaço. Este projeto pode ser um projeto do jovem ou também

representar um projeto da família.

6.7 A cidade ou o campo?

O que tem motivado os jovens a permanecer no campo e não ser mais

um na referência dos dados estatísticos do IBGE sobre o êxodo rural? Esta foi uma

das perguntas que os jovens responderam, e constatou-se que eles têm buscado

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meios para trabalhar no campo e não na cidade. No texto a seguir, busca-se

compreender qual a motivação do jovem para continuar no campo.

Vale ressaltar o que se compreende por cidade. Cidade é um conjunto de

grande concentração de diversidade de objetos geográficos, capazes de oferecer e

acomodar grandes contingentes populacionais em distâncias mínimas, além de atuar

como propulsora das relações ali estabelecidas (GONÇALVES et al, 2007).

Na visão da jovem (3) a cidade representa a imagem de um local fechado.

Ela apresenta a cidade retratando-a como, “a praça”:

E na praça é todo mundo infiado dentro de casa, é claro que tem as cidades grande que tem mais lazer, mas aqui na cidade não tem lazer, então o pessoal fica infiado dentro de casa. Então, eu prefiro ficar aqui sem todo aquele dinheirão e me sentir bem, tranquila, sem doença, do que ficá morando trancada dentro de casa.

Diante disso, entende-se que um dos grandes problemas no campo é o

êxodo rural, tendo como resultado um aumento desordenado das cidades. No meio

urbano surgem outros problemas para os jovens (população no geral) enfrentarem,

ficando evidente e mais espantoso quando se assiste um noticiário, que tem como

pauta do dia, a criminalidade, o uso abusivo de drogas, o desemprego e uma série

de outros problemas sociais que, de certa forma, deixam as pessoas enclausuradas

em suas casas e apartamentos. Estes conflitos continuam a desafiar a capacidade

de se manter uma qualidade de vida saudável. Contudo, os resultados têm reforçado

a retomada de reflexões sobre a juventude brasileira (SILVA, OLIVEIRA, 2007).

Também, quando se pensa na sociedade e na forma como se organiza,

concorda-se com Gonçalves (2007) no que diz respeito a ter-se consciência da

valorização das expressões estéticas dos seres humanos. Fazendo esta tentativa

valoriza–se a construção de um novo pensamento, que leva em consideração o

simbólico, o mundo subjetivo das pessoas. Pensar em planejamento urbano é

pensar na construção de alternativas que valorizem a subjetividade dos moradores

que ali habitam. Corrobora-se com Siqueira (2007) quando trata do ponto de vista

psicológico, em que se podem ver os problemas sociais, como o desenvolvimento da

cidade, sem se pensar na qualidade da segurança, o conforto social da sua

população. O que para o autor, torna a cidade fragilizada pela falta de projetos

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direcionados para a cidade, visto que possui o sonho de enquadrar-se nos modelos

de consumo pós-moderno.

Conforme Santos (2008), atualmente os estudos buscam identificar o que

é rural e o que é urbano, embora estes termos, com o passar dos anos, tenham

perdido uma definição clara, as quais, o autor explica, a partir de fatos históricos

ocorridos na Europa, que se refletiram no Brasil. A colonização e a organização do

espaço brasileiro têm a sua gênese relacionada aos interesses europeus e, em

particular, aos de Portugal. A autora com base nos estudos de Lefebvre (1991),

explica que o surgimento das cidades se deu através da industrialização, porém não

deixa de salientar a relação intrínseca da cidade com o campo; “a cidade precisa do

meio rural” (jovem 1).

Entretanto, buscando o objetivo principal deste trabalho, que é o de

compreender qual a motivação do jovem para continuar no campo, encontram-se os

seguintes depoimentos:

É de ter o meu próprio negócio, di tá trabalhando no que é meu né. Isso é o qui mi motiva a tar todo dia trabalhando aqui. Tu sabe que vai ter um retorno cum isso e que é da família isso aqui e que é pra nóis que tamo trabalhando né. É o qui mutiva nóis a tá trabalhando aqui e tá permanecendo no meio rural. [...] é saber que estou trabalhando no que é para mim. [...] o serviço é teu, tu sabe que tu é o patrão, né. Nós trabalhamos com a família né, mas tudo é combinado com a família, não é nada só um que manda, é todos que são iguais né. (jovem 4)

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Figura 11: O trabalho Fonte: Silva, 2009.

[...] o cara tá trabalhandu no que é du cara né. Não tá trabalhandu pra um patrão para manter os outros. [...] E o cara na verdade tá mais livre, se o cara tem que sair um dia, tem um compromisso é só se programá, o cara podi i, não precisa tá pedinho permissão pá outro, o cara memu a ali né. Pa isso o cara tem mais liberdadi pa isso né.(jovem 5)

O jovem (2) também ressalta que: “[...] a gente poder ter as nossas idéias

e se mandar próprio, não ter ninguém, porque patrão é uma coisa eu já acho que

não conseguia trabalhar numa firma fechada coisa assim. Aqui a gente tem o ar [...]”.

Percebe-se com os depoimentos, que os jovens têm buscado uma autonomia

financeira com a apropriação do “próprio negócio”. Uma idéia de trabalho voltado

para a união da família; um trabalho em contato com a natureza, que neste sentido,

poder-se-ia destacar, a liberdade. Também se pode refletir sobre o individualismo,

típico do mundo capitalista. O que remete a pensar em como o trabalho na

agricultura familiar desta região tem procurado a idéia de economia solidária, e como

tem se dado o trabalho voltado as cooperativas entre os agricultores?

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Figura 12: Sistema Voisin (Leite a pasto) Fonte: Silva, 2009.

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7 CONCLUSÃO

Ao buscar compreender como o jovem do campo tem se apropriado do

lugar onde vive, a pesquisa procurou a alcançar a dimensão psicológica do sujeito,

bem como, os processos simbólicos, cognitivos, afetivos e interativos. Foi o desafio

que se propôs nas linhas iniciais deste trabalho. Assim, ao se abordar estes jovens

em seus ambientes, procura-se dar visibilidade aos hábitos de vida. Entende-se que

espaço é um conceito amplo, mas neste trabalho buscou-se compreendê-lo como o

continente de vários lugares, onde o jovem efetiva o processo de significação. O

termo “habitar”, está relacionado à apropriação dos diferentes espaços - físico,

simbólico, emocional e cultural - nos quais estão todos os lugares, as pessoas, as

coisas e os objetos com os quais o ser humano estabelece uma interação.

O objetivo deste estudo foi alcançado no momento em que os objetivos

específicos foram contemplados na seção seis: ‘Apresentação e análise dos dados

da pesquisa’, - na qual se buscou responder as inquietações vindas de outros

estudos; compreender a partir da Psicologia Ambiental, a concepção de apropriação

do espaço para o jovem do campo; tendo como problemática o êxodo campo/cidade;

investigar se a identidade de lugar do jovem do campo contribui para a sua

permanência no meio rural; identificar, por meio dos conceitos de pertença,

cultivação e personificação se ocorre a construção da identidade de lugar nos

sujeitos pesquisados.

Na análise do estudo vigente, identificaram-se os seguintes resultados:

relacionados à identidade de lugar, em concordância com os diferentes autores

estudados, os jovens pesquisados apresentam laços significativos com o lugar em

que vivem, pois as raízes com o lugar resultam a incorporação à identidade do “eu”.

Este processo foi detectado quando os jovens atuam com ações concretas no seu

entorno, relacionado à conquista do espaço desejado, adaptando-o, colocando

neste, as características pessoais.

Este processo de ações e interações com o ambiente, de acordo com os

conceitos da Psicologia Ambiental, a apropriação do espaço envolve diferentes

processos: cognitivos, simbólicos e afetivos. Estes processos foram ao longo da

análise apresentados. Assim, percebe-se claramente a presença destas

características nos jovens entrevistados. Dá-se destaque para os processos

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simbólicos em que se destacam as diferentes formas com as quais os jovens se

identificam com o seu entorno, valorizando e preservando o lugar; e aos processos

afetivos relacionados à atração ao lugar, resultado de um ambiente apropriado que

foi considerado pelos jovens, em diferentes momentos, um lugar (o campo) que lhes

proporciona “bem estar” psíquico. Neste sentido, o lugar é onde ocorrem as

representatividades simbólicas. Contudo, no campo, a apropriação afetiva é uma das

formas pelas quais o jovem se identifica. A ligação afetiva com os animais resulta na

sensação de bem estar. Esta interação/contato com os animais é manifesta à

identificação emocional intrínseca no cuidado com os animais do campo.

Ao estudar a importância do ambiente apropriado para os jovens,

compreende-se que quando a pessoa se sente bem, gosta e se identifica com seu

ambiente, este é um dos requisitos para que o sujeito possa estar bem

psiquicamente.

Neste sentido, detectamos a presença do “enraizamento” com o lugar,

visto que os jovens se sentem pertencentes ao lugar, resultado da apropriação nos

aspectos físico, simbólico, emocional e cultural. Os processos cognitivos ou “marco

referencial” para os jovens do campo é marcado por referências de localização: as

montanhas, bosques, lagos, rios, fontes, árvores e as plantas naturais. Foi possível

compreender que o espaço físico apropriado e vivenciado concretamente e

representado simbolicamente pelos jovens, influenciará na maneira como vai

perceber, agir e interagir consigo e com o ambiente, resultante da sua permanência

no campo.

Assim, quando o jovem tem suas raízes e se identifica com o lugar, ele

passa a buscar a resolução para os problemas, busca cuidar e permanecer no seu

território. Para o jovem do campo, seu habitat é visto como um lugar que possibilita a

liberdade, não só expressa pelo mundo físico, mas psíquico.

Nas diferentes fontes utilizadas neste estudo, não se poderia deixar de

falar nestas linhas finais, sobre a importância da comunidade e da família para a

apropriação e identificação com o lugar. Como relatado, a comunidade rural exerce a

função de proporcionar as famílias e aos jovens uma vida coletiva, mobilizar ações

sociais, conquistar direitos e também de fortalecer manifestações culturais que

identificam os diferentes grupos. Neste sentido, as relações que os jovens

estabelecem com as pessoas na comunidade onde vivem, como os vizinhos, os

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amigos e outros, fazem com que desenvolva o sentimento de familiaridade. A

familiaridade é a apropriação que resulta de um estado de bem estar e segurança.

Nessa pesquisa, ficou evidente a importância e o valor que as pessoas

que vivem no campo abrolham ao termo, que há muito tempo Bourdieu (1979),

chama de “capital social”. Assim, observou-se que os jovens desta região, por

residirem próximos, por terem, entre outras afinidades e habilidades, atividades

semelhantes, estabelecem laços de interações sociais, existindo naturalmente trocas

de recursos, seja material, simbólico ou cultural, o que se supõe a proximidade,

ocorrendo um reconhecimento, uma identidade grupal, essencial para o

desenvolvimento do capital social.

Por fim, na análise das entrevistas, tornou-se visível que o jovem tem

buscado sua autonomia financeira, e a apropriação do “próprio negócio” é a

motivação para o jovem continuar na propriedade rural. A idéia de trabalho está

voltada para união da família; em contato com a natureza e neste sentido, pode-se

destacar o sentimento de “liberdade”. Também se pode refletir sobre o

individualismo, típico do mundo capitalista. Esta visão capitalista, a qual preocupa

este pesquisador em pensar como o trabalho na agricultura familiar desta região tem

procurado a idéia de economia solidária, e como tem se dado o trabalho voltado as

cooperativas entre os agricultores? Ressalta-se assim, a necessidade de se criarem

redes cooperativas entre os agricultores, que possibilitem uma luta mais igualitária

com as grandes indústrias monopolizadoras do comércio de produtos, outrora típicos

dos povos do campo. Neste sentido, valorizar o produto não só na visão capitalista,

mas expandir para uma coletividade e porque não, uma economia solidária?

Todavia, como limitações da pesquisa, apontam-se os seguintes

aspectos: uma questão não abordada neste trabalho e que possibilita novas

pesquisas é investigar quais os impactos de uma economia solidária para esta

região no comércio dos produtos; analisar mais detalhadamente como o jovem do

campo percebe a importância dos valores culturais, suas tradições, costumes de

antigas gerações; abordar as dimensões cognitivas de crianças que vivem no campo

para o desenvolvimento de habilidades escolares; estudar mais profundamente

sobre o significado da casa, investigando quais as relações com a colonização do

Sul do Estado Catarinense. São questões para possíveis reflexões futuras.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Questionário aplicado aos 05 Jovens eg ressos do Cedejor

(ESG)

Dados de identificação

Nome:

Idade: Data de nascimento: Sexo:

Projeto PJER:

Formação: conclusão data: Posição entre os irmãos:

Filiação

Pai:

Mãe:

Número de filhos:

Endereço:

Telefone:

Local da entrevista:

Tamanho da propriedade:

Instrumento utilizado:

Duração da Entrevista:

Roteiro da entrevista

1. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as

suas relações com as pessoas deste lugar.

2. Qual o local da casa e da propriedade que mais gosta?

3. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa? E em sua propriedade?

4. O que te motiva morar em sua propriedade rural?

5. O que tem desmotivado a viver no campo?

6. Comente sobre sua experiência no Cedejor e como era sua visão da propriedade

rural antes do Cedejor e depois da formação, qual é?

7. Sua família tem ajudado de que forma neste processo de conquista do seu

espaço?

Data da entrevista: ___/ ___/ ____

Entrevistador:____________________________

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APÊNDICE B – Entrevistas Transcritas na integra (co mo relatadas)

Obs.: A inicial (P.) no texto foi à fala do pesquisador e a fala dos jovens são

identificadas após a letra (R:).

Jovem (1)

Dados de identificação

Nome: E. E.

Idade: 23 anos. Data de nascimento: 12. 10 1985 Sexo: F

Roteiro da entrevista

1. P. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as

suas relações com as pessoas deste lugar.

R: Eu nasci aqui no Município de Rio Fortuna, estudei alí também. Sempre morrei

aqui, nunca saí daqui, sempre trabalhei na roça eu estudava em Rio Furtuna e no

outro período eu ajudava os pais e fazia as tarefas. Depois eu a formação no

Cedejor ficava uma semana lá e as outras três aqui em casa. Nunca trabalhei fora

assim ter exemplo de trabalhar fora nada, sempre trabalhei aqui.

P. Qual é a tua ligação com esta propriedade assim sua historia com ela?

R: eu acho que é num todo geral, porque eu sempre ajudei o pai e a mãe, mas eles

nunca deixaro eu trabalhar nu veneno, assim era passado poucos ou se não de

maquina e o pais era quem passava ou pagava outro para passar. Mais nos demais

serviços eu ajudei em tudo assim e o que eu mais fazia era tirar o leite e ajudar

buscar os tratos pras vaca porque esse era o primeiro meio de viva primeiro né. Ai

depois a gente começou a plantar fumo daí eu comecei a ajudar no fumo também e

em si eu ajudo em tudo.

P. E com esta casa, ela sempre foi assim, qual é a sua historia com ela?

R: Ela antes era um pouco diferente, em 94 acho, quando eu tinha 8 anos quando foi

reformada assim. Mas a minha ligação com esta casa eu não tenho lembranças só

sei que ali era a casa e aqui era mais para lavar roupa estas coisas assim. Como eu

te disse antes quando eu e minha irmã nascemos a mãe tinha intenção de morar

deste lado e no outro morava os meus avos. Mas eu não me lembro de muita coisa.

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Mas como a minha a vô já era assim de idade foi morar todo mundo junto assim. Daí

sempre foi assim, nunca foi reformado, pintado nada.

P. E como é sua relação com as outras pessoas de sua comunidade, os vizinhos,

você tem amigos, como é suas relações com as pessoas aqui desta comunidade?

R: eu tenho bastante amigo porque assim eu sou bastante conversadeira eu

converso bastante coisa ai fica mais fácil. Mas é como se diz pode ter um monte de

amigo, mas verdadeiro mesmo é difícil assim que eu considero verdadeiro,

verdadeiro eu tenho bem poucos. Eu confio bastante na mãe, pessoas assim que eu

mais confio é na mãe assim que eu converso e troco coisas assim, mas no geral eu

conheço bastante gente até porque eu convivo com eles. Eu faço parte ali da liturgia,

sou ministra então eu to bastante presente com eles. Na época do fumo a gente

troca dia eu ajudo alí o vizinho. Então a gente conversa bastante assim, que nem

agora a gente não conversa tanto com as pessoas que plantam fumo porque a gente

ta trabalhando. E aqui em casa é assim às vezes um fala alguma coisa mais é leve

não tem ressentimento com ninguém.

2. P. Qual o local da casa e da propriedade que mais gosta?

R: eu acho, eu gosto de tudo assim. Eu gosto da plantação, porque ela me da um

retorno. E dos serviços em tudo assim eu gosto de tirar leite, só que quando tem

bastante leite, quando não tem, não é que a gente não gosta, mas é que tem

pouquinho leite aí a não ti anima. Também gosto da casa em fim eu gosto de tudo,

eu não tenho assim um espaço preferido. Por causa que eu acho assim, tudo tem

que ir bem se uma coisa não vai bem não, qui nem se a plantação não deu certo,

tipo no milho se não chuveu na época certa, tipo assim. Isso já vai me prejudica lá

no ranho porque não vai te tanto pra produção pras vacas. Então eu acho qui em si

eu gosto de tudo.

P. E tem assim um lugar onde você se sente bem estando lá, que você gosta?

R: eu acho que o quarto, não que é, eu acho que é o quarto, que é em si pode ser a

cozinha, mas eu acho que o quarto é uma coisa que tu ta a bastante tempo, por

causo que durante o dia tu anda para cima e para baixo, tu anda por tudo e no

quarto tu fica mais tempo, as vezes a gente faz a analise da propriedadi, a prestação

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de conta. Ou mesmo meditação uma coisa assim. Não é que é especial assim tal,

mas é ondi eu me sento a vontade, bem.

P. E da propriedade?

R: O rancho. É um lugar que eu to todo dia e gosto de tirar leite. No caso é de

ordenhadera.

3. P. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa? E em sua propriedade?

R: Eu gostaria de reformar a casa pintar, como eu disse nunca foi reformada a ultima

foi a mais de 10 anos. Eu gostava de coloca piso que nossa casa é açualho, eu

gostava não de se chique, coisa assim, mas eu gostava assim que fosse mais

pequena, no casu a casa fosse menor e também pra fica mais fácil de limpa. Aí eu

podia ter mais tempo para fazer outras coisa que nem hasveis eu levo quase um día

para deixa tudo limpu e até que passe em toda a casa, todo o lugar. Então eu

gostava se fosse assim mais pequeno e que tivesse pisos estas coisas assim que

seria mais fácil para trabalhar que não custava tanto tempo assim.

P. E da propriedade?

R: eu gostava de melhora, há eu gostava de melhora bastante coisa, o ranchu,

gostava de melhora a pastagem, gostava de melhora assim tem uma roça que tem

pedra e era preciso uma drenagem para limpa. São tudo coisas que com o tempo a

gente pode fazer não é de uma hora para outra, mas com o tempo a gente fais. E

daí era mais fácil para a gente trabalha qui nem agora eu gostava de ter aquela

espinha de peixe, é que eu gostava que o leite fosse direto para o resfriado, que a

gente não precisava ta carregando o leite só que como a gente agora esta tirando

pouco leite daí não compensa, não traria lucro. Eu gostava de aumentar a produção

de leite e investi na espinha de peixe que daí o leite ia direto para o resfriado. São

coisas que eu quero ter que terna as coisas mais fácil para a propriedade.

P. O que você já fez em sua propriedade no geral?

R: Assim em si eu acho que não é só eu, eu acho que todo isso que eu falei, que

gostava de mudar não é só eu, a família toda em si. E o que eu já fiz? Eu já cuidei

para aumentar a produção de leite, nóis tamo cuidandu das novilhinha, já fizemu

mais uma roça ali atrais é uma roça de feijão ali na pastagem pra aumenta as roça,

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nos já fizemu 20 piqueti que foi idéia minha do meu projeto. A minha família também

me apoio bastante, eles também queriam. Assim agente não tivemu estágio, mas

tivemo visita técnica em quatro produtores e a gente podia levar acompanhante e

cum isso eu levei o pai e a mãe e eles viru e gostaru da idéia e me ajudaru a faze.

Então já temu mais fácil e já melhoro na produção, nas roça i a pastagem em si não

que teve um melhoramento, mais já teve assim um começo a gente já compremo a

roçadera pra roça os piquetes. Então em si como eu disse antes, com o tempo tu vai

conseguindo assim, eu acredito. E na casa, o que eu gostaria de mudar que também

é uma idéia de doto mundo, não é que não foi feito nada tem a questão financeira e

nóis não podemu tirar o dinheiro de um luga para te a casa bunita i coisa chiqui e

fica devendo. Então é melhor a casa como ta e a gente i trabalhando e depois

quando tem dinheiro tem as condições ai da pra faze, não é que é uma coisa que

não foi feito mas é faltou condições.

P. Você se sente bem aqui na casa e na propriedade?

R: me sinto, mi sintu porque eu gostu e eu to assim serviço que eu gosto, eu gosto

de lida com os animais. E assim eu não saberia saber assim como me dá num

serviço na cidade porque eu nunca trabalhei até no começo tinha gente que dizia pra

não ir pro Cedejor e procurar um emprego para mim ver se eu queria mesmo ficar na

propriedade ou trabalhar, mas eu nunca quis sai assim da propriedade e aqui eu mi

do bem, só que parece que tem um ar pesado uma coisa assim. Não sei se isso é

por causa de antigamente aqui era muita briga e isso fico aqui, mas se não eu me

sinto bém. Eu só acho assim um ar pesado, mas vezes isso pode ser até o próprio

tempo assim, até como o mundo tá indo e coisa. Mas se não eu me sinto muito bem

aqui porque eu to ondi eu gosto e todo mundo assim, procura fazer o bem um pro

outro assim aqui em casa para não te discussão de um querendo uma coisa o outro

outra é conversado e visto o que é melhor.

4. P. O que te motiva morar em sua propriedade rural?

R: É quando tu planta alguma coisa assim uma variedade, assim qualquer coisa que

for, o milho, o fumo e aquilo te da retorno. É quando investi em alguma coisa e

aquilo te da um lucro um dinheiro. Eu acho que é isso. E eu acho que é em tudo

assim, porque eu acredito que aqui no meio rural tu tem mais diálogo, todo o dia tu

senta com a família, na hora do café, na hora do almoço, na janta. Já na cidade eu

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vejo que um trabalha um período o outro notro. Então, em si eu gosto quando a

gente investe em alguma coisa e te dá o retorno, até pra ti si mante né. Eu gosto de

ta todo dia com minha família de sentar a mesa e poder almoçar todo mundo juntu.

Gosto de que nem aqui, na cidade as vezes tu ta fazendo uma comida e falta

alguma coisa tu ta pertinho, tu ta perto para ir buscar no mercado ou na padaria. Já

no meio rural, aqui a gente não tem muito disso, mas tem caso falte o açúcar para

fazer o bolo tu vai no vizinho e pedi. Tudo me motiva a fica aqui assim.

5. P. O que tem desmotivado a viver no campo?

R: muita gente fala assim que no meio rural, que estas crise que esta dando que vai

atingi muito o meio rural que não vai ter retorno. A gente já se preocupa será o que

vai acontece com o meio rural ou se não as pessoas em si os outros jovens. Mas, o

que mi dismotiva a ficar aqui é quando o tempo não ajuda é nu caso assim, na

plantação depende do tempo. Não mais isso não mi dismotiva porque é uma coisa

continua. O que me dismotiva assim não tem nada que me faça mudar de idéia só

que às vezes tem aquelas pessoas que dizem que na cidade é melhor e se tivesse

lá todo mês tinha o teu dinheirinho ou podia fazer o que queria. Que nem aqui todo

mundo trabalha junto. Se eu vou sair em algum lugar e o pai me da tanto em

dinheiro, todo mundo trabalha e quando precisa avisa que ta pegando o dinheiro

para isso. Eu acho que nesta questão financeira não mi dismotiva. O que pode me

desmotiva é as pessoas de fora que dizem que na cidade da mais lucro, que todo

mês tu recebe ou tipo eles falam que no meio rural não da nada e coisa. Mas é isso

se não tem uma coisa seria que mi dismotiva a ficar aqui.

P. O que você esta falando seria assim, também o preconceito?

R: O que eu lembro assim, mais era na escola que eu era menina e quem mais

sentia era os meninos assim, era que tinha mais alunos da cidade e hasveis eles

vinha e diziam que era os cabloclo, mas eu nunca senti assim por eles falarem

assim, porque se eles falam isso como é que eles estão né, e se eles falam é porque

eles mesmos queriam ser o que a gente é. Mas eles falam isso de nóis e se nóis for

pra cidade também o que eles vão come lá é que quase 80 90 % da comida vem do

meio rural. Tudo é uma plantação, uma coisa feita é claro que a maioria é de

grandes fazendeiro que tem trigo, soja estas coisa estas são de grandes fazenderos.

Só que um dia eles também vão precisa destes pequenos produtores.

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6. P. Comente sobre sua experiência no Cedejor, e como era sua visão da

propriedade rural antes do Cedejor e depois da formação, qual é?

R: eu via assim a propriedade rural como uma coisa assim para a subsistência para

a vida, porque em si a cidade precisa do meio rural. Eu achava assim, que no casu

eu via a propriedadi importanti por causa que ela pudia sustentar outras pessoas. E

antes a propriedade eu achava que era uma coisa normal que tinha que produzir

alimentos produtos e a partir disso tinha que obter uma renda para ti sustentar e

sustentar as outras pessoas da cidade. E depois do Cedejor, nu casu eu tive mais

vontadi di ficar na propriedadi e acredito que é estas mesmas coisas, de trabalhar

para ti ter lucro e também tem que trabalhar para sustentar as pessoas da cidadi. Só

qui daí eu tive mais vontadi di ficar na propriedade eu aprendi bastanti coisa.

7. P. Sua família tem ajudado de que forma neste processo de conquista do seu

espaço?

R: eu acho que sim, porque a gente trabalha todo mundo juntu e quando a gente

começa assim, numa plantação ou em qualquer um serviço não é qui elis chama a

gente pra ajuda eles, é que eles querem que a gente aprenda pra depois a gente

faze. Então a mãe faz bastante isso comigo e a minha irmã, e se a gente quer ir

junto para ela mostra para nos na próxima vez faze. Não é que eles não querem

faze mais é que eles querem que a gente aprende também. Eu acho que eles me

ajudu bastanti e também nesta questão di as coisas para mim faze na propriedadi eu

tenho bastanti liberdadi. Só que sempre a uma conversa, vê si vale a pena ou não

até por eles terem mais experiência que a gente né, quantos anos eles já tão

vivendo, quantos anos eles já tão trabalhandu eles vão sabe se dá lucro ou não. Qui

nem eu, sempre quis planta melancia eles sempre mi deixavam planta melancia. Daí

o primeiro ano eu plantei, deu lucro o segundo ano aí eu entreguei pra AGRECO,

mas também foi difícil porque a melancia numa semana ela fica tudo madura e a

AGRECO não aceitava pega mais de 500 kg por veis. Então eu tive que apanhar e

deixar ela apanhada pa depois entrega pra eles. E daí no outro ano estrago da

pedra. Então eu queria muito faze, eles me ajudavu faze e fizerum com que eu

percebesse que não que a melancia não da lucro. Ela da assim para ti planta, pra ti

come assim pra subsistência. Agora pra vende e coisa pra fora é preferível planta o

fumo eu acho no luga da melancia, nu luga da roça de melancia tu planta uns 3 mil

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de fumo a mais. Mas é como eu disse não adiante planta um monti di fumo e depois

a estufa não da conta a gente não da conta de passa pelo fumu tudo i coisa assim.

P. E quais são as dificuldades de se plantar fumo?

R: A maior dificuldadi da gente mesmo é a sementi, porque em si começa ali se

semente nasce bem e se disenvolve bem eu acho que é vantagem. Mas muita gente

fala que a maior dificuldade é colhe, é que é dois dias só e é bem quente, mas eu

acho que é só dois dias pra colhe ou si não de tira lenha assim que é pesado. Qui

nem este ano nois fizemo de eucaliptu, nois disbastemu o eucaliptu e queimemu

eucaliptu, mas tem ano que a gente faz com lenha nativa mesmo. Eu acho difícil na

parte de queima lenha pra estufa e a sementi. Em si são se tu tem vontade de faze

nada é difícil, mas num todo assim tudo é difícil, porque tu tem que judiá pra faze,

assim eu acho.

P. O que hoje o produtor rural tem mais lucro?

R: eu acho que no fumo e no leite. Por causo que o leite, pode assim faze uma

pesquisa assim o leite é pra ti si mante e daí tu plante uma outra coisa pra tu investí.

Eu acho assim, o fumu é qui da mais retormo por causa qui tu planta u fumu, em si o

sindicato e a empresa eles tem um preso fixo. Ele não a alteração de preço e tu

pode entregando de acordo com o teu serviço e tempo. Qui nem o ano passado a

gente termino de entrega o fumo no final de maio e começo de junho. E este ano

nos já acabemo. Então se ta passando bem a gente manda se não a gente vai

esperando.

P. Tu teria mais alguma outra coisa para falar que já não tenhamos conversado e

que você gostaria de falar?

R: eu só gostaria de agradecer a tua presença de tu ter vindo aqui para fazer a tua

pesquisa, porque em si eu falo bastanti mas eu falo assim o que eu penso e o que

eu acho. Eu também achei estas pergunta bem elaborada eu achei que nenhuma

era difícil de responder elas eram bem objetiva. Você perguntava e eu já sabia o que

responde assim. Às vezes faz pensa assim, o que eu ia responde, será que eu

prefiro aquilo, ou será que eu prefiro isso. Eu digo fácil de responde por causa que é

no meio ondi a genti vive e o que a gente faz, mas as vezes a gente tem que pensa

um poiquinho no que vai responde.

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P. Eu também agradeço. Muito grato.

Data da entrevista: 24/ 04/ 2009

Entrevistador:____________________________

Jovem (2)

Dados de identificação

Nome: Ad. S.

Idade: 23 anos Data de nascimento: 06.08.1985 Sexo: F

Roteiro da entrevista

1. P. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as

suas relações com as pessoas deste lugar.

R: Eu nasci aqui. O pai comprou este terreno, e nos morávamos aí em baixo. Então

foi quando ele casou e comprou a prestação e terminou de paga. Eu sempre morei

aqui eu vou sair daqui agora. Mas a gente vive desde só trabalhando com a

agricultura né. É só uma atividade onde vinha dando um pouco de problemas por

que a gente passa a ter umas dividas e umas coisas assim né. Porque é só aquilo ali

e não tem oputra renda para entrar para a família. Daí foi ondi eu procurei estuda

para ajudar na família para que a gente tenha uma nova atividade pra ajuda o pai

com uma idéia nova pra gente pode fica aqui, mais o restante é bom.

P. E a historia assim com este lugar assim como foi?

R: a gente se criou aqui desde pequena. Estudei por aqui nunca saí, só sai para

estuda.

P. E esta casa qual é sua história com ela?

R: Esta casa é do pai, mas eu me criei aqui com minha família.

P. E tua história assim com a vizinhança, com a comunidade, os amigos como é?

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R: há a gente convive sempre junto na comunidade eu participo de grupo de jovem.

Aqui em cada comunidade tem um grupo de jovem a gente sempre participo deste

grupo. Estou envolvida na igreja eu era líder do grupo de família eu sempre participo

e procuro participar destas coisas e tem os vizinhos que a gente tem uma

convivência muito boa. Tem os amigos e a gente vive assim.

P. E como surgiu estes grupos?

R: o Reginaldo de Grão Pará quando ele era vereador ele teve esta idéia de ser

estes grupos. Onde a gente tem o lazer, é para ajudar a comunidade. A gente faz

festas e o dinheiro vai para a comunidade como para fazer assim para viagens aí

divide e vê quantos que dá para assim.

P. Tudo voltado para o jovem?

R: É.

P. E tem muitos jovens aqui nesta região?

R: tem muito, só no grupo tem quase 40, assim tem também pessoas mais novos

que daí não participa. Tem bastante.

2. P. Qual o local da casa e da propriedade que mais gosta?

R: na casa eu fico quase mais tempo no meu quarto onde eu fico lendo é um lugar

de eu estudar então eu fico lá né. E da propriedade o que eu gosta é eu gosto de

trabalhar na roça.

P. É

R: Arram, qui até quando precisa alguém fica em casa quem fica sempre é a mãe

porque eu vo acompanhar lá e ela fica em casa eu prefiro mais fica na roça.

P. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa, é agora você vai para a outra

casa né? E em sua propriedade?

R: a agora eu não sei, mas eu já consegui muda muita coisa. Para fazer é uma

pintura que já ta meia mau, colocar uma cor clara. Mas o que eu queria fazer eu já

consegui que era tirar a parede que tinha aqui e o quarto e traze os sofá aqui para a

cozinha. Porque tinha um sofá lá na sala, mas ninguém usava né, e aqui na cozinha

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79

tinha assim um quartinho aqui e era tudo meio quase fechado e era tudo muito

apertado. Quando chegava alguém ficava neste cantinho assim. Ai nóis

conversamos com o pai, que é mais fácil convencer o pai primeiro daí depois tiramos

a parede e colocamos o sofá para cá. Então eu já vi e já fiz.

P. E agora tu ta indo para outra casa?

R: É vou ter outro lar, vou ter uma propriedade só para mim. A saca a gente

começou fazer esta semana.

P. É muito longe daqui?

R: é uns 6 km.

P. Então me fale um pouco desta sua nova casa, o que você mais gostou dela?

R: há de tudo (sorri), é uma propriedade rural, a gente ganho 15 hequitares o meu

noivo adquiriu de herança do pai dele. Ai a gente ganho esta propriedade e vamos

ganha a casa a cozinha a gente vai ganha do pai, mais a casa é bem grandinha é

como eu queria.

P. E o derredor dela, você gostou?

R: é é bem legal, mas eu tenho que ir la e arrumar ela né, tem que fazer um jardim

assim. É que a gente ta construindo agora.

P. E aqui você fez alguma coisa assim?

R: pouco, (sorri)

P. A Mãe comenta: ela não gosta muito de jardim.

R: é assim eu não gosto de muita coisa assim tudo impilhadu, é que a mãe costa de

assim uma flor aqui e ali, eu já não gosto de duto impilhado eu gosto mais das coisa

separada. Daí as palmeiras foram plantadas ali ondi tem um barranco alí foi eu que

fiz.

P. Mas como foi isso assim, você percebeu que tinha que fazer e colocar mais flores

como foi?

R: coloca mais nada. Eu acho que o que eu coloquei ficou assim aquela coisa muito

tampada, tem uma visão maior, não tem muita coisa num espaço só. É assim que eu

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80

gosto e ali na frente tinha assim um monte de variedades num espaço só e aos

pouquinho eu foi conseguindo tira.

P. E na propriedade como fica as mudanças?

R: A eu já convenci o pai de nos fazer a reserva na beira do rio de mata nativa.

Porque é tudo limpo só tem um pouquinho de mato e eu quero uns 5 a 10 metros de

mata nativa plantada porque na propriedade tem pouca. E a nascente alí é que tem

uma nascente no meio do pasto e eu quero preservar também né. Agora o pai já

planto umas coisinhas alí mais precisa cercá em roda e planta mais e é preciso ir

conversar com a secretaria da agricultura porque o ano passado a gente já foi lá

mas não conseguiu as arvores nativas, a gente tinha pedido 200 mudas para colocar

em volta das nascente. E é isso que eu quero mudar na propriedade para te um

ponto positivo alí né. Eu acho que as coisas que devem ser mais cuidada é a mata

nativa e as nascenti é que a gente tem que preserva porque se não daqui uns anos

começa a falta.

P. Então você esta agora se preparando para ir para outro espaço e este aqui como

fica?

R: este agora fica para a mãe. Mas eu não vou esquecer é que eu vivi aqui 23 anos

e eu o pai nos entendemos super bem, então vai ser difícil esquecer.

4. P. O que te motiva morar em sua propriedade rural?

R: a gente poder ter as nossas idéias e se mandar próprio, não ter ninguém, porque

patrão é uma coisa eu já acho que não conseguia trabalhar numa firma fechada

coisa assim. Aqui a gente tem o ar, se esta bem vai trabalha se não esta pode ficar

em casa não é obrigada a ir. E trabalhar na agricultura não sei se foi porque o pai

me motivou desde pequena, que eu gosto disso né. Mas eu sempre gostei de ficar

na aqui, te por isso que eu vou casar e vou morar na agricultura também. E aí eu

estudei no Cedejor que foi o que me motivo mais ainda né. A gente estudou 2 anos

que é voltado para isso.

5. P. O que tem desmotivado a viver no campo?

R: tem é o mau tempo. Porque às vezes quando a gente começa a planta o fumo e

quando chega agosto, setembro o fumo ta vindo ai ta uns quatro dia de chuva,

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pronto acaba com tudo. As vezes perde 1, 2, 3 mil perde de fumo que as vazes

deixa a gente na mão, mas a única coisa que desanima é isso aí. Mais outra coisa

não. Pur isso que tinha que ter uma nova alternativa de renda, que nem este projeto

que eu fiz da produção de ovos ali. Porque se caso lá der mau a gente tem a renda

por mês ali e não tendo só aquilo dali e entrando em divida.

6. P. Comente sobre sua experiência no Cedejor, e como era sua visão da

propriedade rural antes do Cedejor e depois da formação, qual é?

R: o meu PEJR, foi de galinha de postura, mas não foi implantado ainda. É que

como a safra não foi muito boa e eu vou casar agora no mês que vem eu tenho que

ter dinheiro para o casamento e não deu para implantar. Até tem um mercado que é

do meu tio que ele perguntou se eu não ia vender os ovos para ele e ele precisa

deste produto e com certeza a gente vai ter um renda boa.

7. P. Sua família tem ajudado de que forma neste processo de conquista do seu

espaço?

R: eu acho que eles dão a chance e sempre ajudaram para mim tentar. Até no

estudar no Cedejor, era difícil sair uma semana por mês fora algum evento que a

gente tinha que ir e eles tinham que ficar trabalhando né. Eu saia e dava um queda

muito grande na propriedade, mas eles sempre deram a oportunidade para mim de

tar construindo, todas as coisas que eu precisei e disse que queria tentar eles

sempre me deram a chance.

Data da entrevista: 17/ 04/ 2009

Entrevistador:____________________________

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Jovem 3

Dados de identificação

Nome: An. H.

Idade: 26 anos Data de nascimento: 12.08.1982 Sexo: F

Roteiro da entrevista

1. P. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as

suas relações com as pessoas deste lugar.

R: É e desde piquena, trabalhando com os pais aqui, eu to sempre aqui. Eu aprendi

as coisas aqui com meus pais, como plantar e cuidar das coisas, do gado. Eu nunca

sai da qui, eu já foi trabalhar em Tubarão (SC), eu já foi trabalha em apartamento

coisa assim né. Ai a hora que eu foi trabalhar assim nestes lugares ai eu percebi que

aquilo ali não era para mim, que eu não me sentia bem fazendo aquilo dali, tipo aqui

tu abre a porta e tu bareia a puira pra fora e la tu não podi fazer isso né tem qui pega

um apazinho e bota no lixo. Então sei lá da uma sensação de esta presa assim, di

afobia assim de coisa presa. Pra mim eu tenho que tar solta por ai, e é isso. E assim

não tem uma coisa que eu faça sozinha aqui na propriedade, é que todo mundo faz

junto. O mais comigo, assim é tudo, na roça eu ajudo, mas a casa assim fica mais

pra mim, né. A limpeza lava e coisa assim né. E eu sempre fiz de tudo aqui nesta

propriedade, de manha eu vou pro rancho tira leiti, depois tem que trata do porco, da

galinha, bota o trato no cocho dos amimais. E depois que acaba ai vai limpando.

Depois vamos toma café, ai mais ou menos a gente já sabe qual é o dia que tem

que bosca o trato verde e é assim depois que todo mundo toma café vai todo mundo

pra roça. A noite tira leite de novo. E eu não vou durmi sem sabe se eu fui trata dos

animais e ter visto que ele ta bem e eu gosto de todos os animais. Eu to sempre

colocando a Mão, chamando. Mais os mais intimo assim tem novilhinha assim né,

que eu chego elas ficam parada e eu faço carinho e é bem tranquilo. É porque é

desde piquininho eu acostumei a ir com eles né, eu trato, cuido limpo então eu

chamo eles e eles atendi. Tipo os gato e o cachorro então eu chamo o nome do gato

e ele vem e eles tem um carinho muito bom. Às vezes a gente tem a compania de

um animal assim é bem melhor né. Às vezes a gente entende mais um animal que

um ser humano.

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83

Há tem muita historia para contar. Ho dentro de casa é a questão de organização

assim né. Dentro de casa é arrumar, antes era aquelas coisas tudo antiga então com

o tempo a gente foi retirando, foi limpando e isso era tudo comigo e com a mãe.

Então coisa velha assim era tudo tirando e limpando assim. Agora é tudo mais

organizado. Tipo assim a grama era uma coisa que nunca tinha, então eu foi

plantando a faca ai a grama foi crescendo divagazinho ai depois este rancho aqui foi

feito. E a mãe vio que ficara bonito e foi plantando a grama e foi crescendo sozinha.

Ai meu tio deu uma maquina das antigas mas não durou muito tempo. Mas nos

compramos outra nova. E hoje é eu que faço, tipo tudo é eu que faço limpa organiza

é tudo eu. E aqui nesta parte quando foi construída todo mundo ajudo assim para

colocar os tijolo. Porque era tudo velho né antigo mas é que nos tinha um engenho

de fazer açúcar, melado estas coisas né. Então a gente resulveu fazer este ranho

aqui. E o rancho ali do gado foi nois que fezemo, tudo. Eu ajudeu também. Tudo o

que tem aqui desde piquininha já dos 8 anos eu já ia pro rancho tira leiti eu fazia o

que eu podia eu era pequena.

P. E como é sua relação com as pessoas deste lugar?

R: eu não fiz nada para eles. A nossa relação é boa. E os jovens assim da minha

idade é eles tem muito respeito assim. Eu também respeito eles porque por aqui era

só eu de menina e os outros eram meninos da minha idade assim da época. E até

hoje assim né. A gente as vezes sai em aniversario com a turma. E eu nunca briguei

com ninguém assim sabe. E os amigos eu não sei se eles sentem a mesma coisa,

mas eu sinto que tenho bastante amigos. Eu só não sei se eles pensam a mesma

coisa se eles gostam de mim. Mas eu também não tenho saído muito eu fico mais

em casa.

P. E o lazer?

R: a quando tem aniversario, quando tem algum baile por aqui e eu tenho vontade

de ir eu vou né. E as vezes na sesta feira a noite ali nos vamos joga bocha, joga

uma sinuca se tem vaga, e se não tem vaga eu venho em borá é que fica cheio né.

E joga futebol eu não jogo mais. Então é isso um pouco parado mais é assim. E

agora já tem um pessoal mais novinho e os da minha idade alguns já foram trabalhar

fora, outros casaram, e nos domingos assim é da família né. Nos domingos aqui era

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84

mais agitado tinha a turma toda né agora não tem mais a turma já ta quase todo

casado e com filho.

2. P. Qual o local da casa e da propriedade que mais gosta?

R: há é tudo. Não tem um lugal assim, mas eu vou dizer assim o meu cantinho é o

quarto como se diz eu vou ficar no quarto né. O quarto é o meu cantinho né. Não é

meu, mas a mãe deixo lá pra mim né. A cozinha assim pra falar a verdade eu não

gosto muito de fica na cozinha é que eu não gosto muito de fica parado é que tem

que ter paciência e eu não gosto muito da cozinha e outra coisa assim, é legal fica

aqui na área sentado para descansa assim aqui na área. Não tem um lugar

especifico assim a gente esta sempre correndo.

Assim eu gosto deste modelo da casa assim. Tipo tem uma parte que é a cozinha e

a outra é os quartos e uma sala grandi. É que antes era bastanti filho e as casas

eram assim né. Aqui na região só tem esta e a do vizinho lá, está tem um corredor

nomeio para separar e lá não é tudo junto. É que tem gente que tem vergonha de

chamar alguém porque casa é assim né. Eu também gosto de preserva assim as

coisas antigas dos meus avos, assim maquinas e motor assim eu gosto. Então pra

mim ta bom eu não sou assim muito chique.

P. E um lugar onde você gosta de ficar?

R: há é lá no morro. É onde tem a visão geral daqui né. Dali da pra ver a propriedadi

e vê como ela ta, onde tem que arruma. É no morro subi no morro e ficar

observando o que mudo e ficar pensando o que pode faze, fica sentindo o ventinho

fresquinho. Da pra vê o vizinho e vê o que ele esta fazendo, é interessante. E

também no meio da mata assim, fica olhando os passarinhos, fica sentado em baixo

de um di arvi, dentro da mata assim eu gosto muito de andar por ai. E às vezes até

da animo de voltar para casa e trabalhar mais.

3. P. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa? E em sua propriedade?

R: nuda ela de lugar não, sem o modelo dela. O que eu queria era reforma ela, pinta

ela, troca o telhado, tinta assim de verde que eu gosto ou branco.

P. O no teu quarto o que você mudaria?

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R: ele já é verde então ta bom, mas é aquele verde assim meio velho. É tudo bem

antigo ainda sabe. Os quartos são verde, daí é azul por dentro nas paredi da casa, o

forro é azul, por fora é amarelo e a ária é rosa. E eu gostaria de mudar a cor pra fica

mais bonito e o telhado que já faz anos que tem, mas o modelo dela em si não o

modelo dela não.

P. O que você mudaria na propriedade? Ou o que você já mudou?

R: é que antes era mais assim largado, agora é mais organizado as coisas. É mais

de organização mesmo né. E o que tem que arruma mais é que tem que fazer mais

piquete planta mais verdi, mais fruta, coisa assim ne, e i arrumandu. E tira uma

muda do mato e planta ali e assim vai. E flor eu gosto de verde, e a mãe quando sai

para um lugar ela traz uma muda e planta ali né. Eu só do a idéia assim. Na hora de

planta é ela, mas na hora de cuida sou eu. Aqui é eu e a mãe até a gente tinha

plantado umas flores ali no caminho para ca e ficou bonito ali na entrada. Aqui de

fora a fora na estrada. E tem uma parte ali que a gente colocou pedra e foi com o

carrinho de mão, a idéia foi do meu irmão e eu e a mão colocamos ali. E eu mudaria

também o rancho, é que pra tira leite ali é de chão batido ainda né, não tem piso.

Então a idéia era essa de arruma, de bota um piso assim. E essas são as idéias né e

vamos arrumando como podi.

P. Você se sente preparada para continuar na propriedade?

R: se for para ficar com a mãe eu continuo, mas eu não sei se sem a mãe como eu

ficaria. Mas se for para mim ficar aqui eu fico sozinha, plantando eu me viro, se for

para, assim eu sei como cuidar da grama dos animais assim, as vacinas que tem

que ser feita que eu mesmo faço nos ternerinho. Tudo que planta aqui dentro eu sei

como é que se faiz, tudo então para mim planta verdura, fruta, pra mim não é

problema, o problema é eu sai na cidade e não sabe o que faze. O computador

assim eu tenho muita pouca experiência. Então se for para mim ficar na cidade ai

sim eu não conseguiria sobrevive, aqui eu consigo. E eu gostaria de saber mais né,

de ter um computador em casa para ter contato com o pessoal de fora, dos

sindicato. E agora é tudo pela Internet então eles estão colocando um poste ali

encima do morro é uma antela e quando eu comprar um computador eu já posso

acessar porque pega dali.

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86

4. P. O que te motiva a permanecer em sua propriedade rural?

R:a é cuida, e a gente se sente bem aqui. E se for para mim sair daqui eu não

consigo deixa os animais assim com os outros assim, eu tenho a sensação que eles

não sabem, ai eu vou sair e será que eles estão comendo bem? Então é assim uma

coisa bem legal assim. (Uma ligação com os animais ) . Eu podia não ter abrido mão

de varias coisas, eu foi chamada para trabalhar em uma empresa, ai eu pensei que

tinha que todo dia trabalhar aquele horário ai eu tenho que deixar tudo isso aqui para

os outros ai tudo isso aqui que eu construí eu vou larga assim? Há eu não consigo

larga. Talvez eu trabalhe por necessidade mesmo né. Mas se for para mim trabalhar

pela minha vontade fora da propriedade é difícil. E tem mais assim o luga, a

tranquilidadi, clima, feirinhu de terra, de chuva, o verde, a água, é esta tranquilidade.

Tipo para mim eu não quero ter aquela vida patrão assim de ter qui ser mandada por

patrão de coisa assim. Não é ruim para quem gosta. Mas sei lá assim, tranquilidade

é fundamental assim. Tu se alevanta a hora que quer e não precisa ninguém ta ali

pedindo isso para ti né. A gente tem o dever de ta fazendo o que come o que gasta.

Então tem muita coisa aqui e não precisa compra, tem água, essas coisa assim. A

gente sabe o que come, sabe esta plantando. Então tudo o que eu já aprendi desdi

piquena aqui achu que eu vou levar pru resta da minha vida.

5. P. O que tem desmotivado a viver no campo?

R: é quando não tem união na família né. Isso quando não tem da vontade de larga

tudo e eu conheço muitos jovens que saem por isso. Eu as vezes a gente tem uma

discussão assim ai eu penso em sair mas aqui eu gosto. E depois na cidade eu

gosto assim de i um dia e já volta. Assim o clima lá, tipo aqui no domingo eu posso

estar sozinha, mas eu tenho os animais é este o clima daqui né. E na praça é todo

mundo infiado dentro de casa, é claro que tem as cidades grande que tem mais

lazer, mas aqui na cidade não tem lazer então o pessoal fica infiado dentro de casa.

Então eu prefiro ficar aqui sem todo aquele dinheirão e me sentir bem, tranqüila, sem

doença do que fica morando trancada dentro de casa. Então essa é a minha idéia, é

a minha visão. Então aqui se der para mim terminar o serviço hoje eu termino e na

praça não tem que fazer porque o patrão manda né. A única coisa que tem certeza é

o salário. Aqui é difícil o salário, quando precisa de alguma cosia pede ou vai e

pega.

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6. P. Comente sobre sua experiência no Cedejor, e como era sua visão da

propriedade rural antes do Cedejor e depois da formação, qual é?

R: há pra mim foi bom né. Eu não consegui assim o projeto em si, assim aplicar tudo

certinhu como eu quiria mais a sensação de esta com outras pessoas, de saber lida

com elas, com as diferenças assim principalmenti tu aprendi para a questão pessual

tua né. Tu sabe lida com outras coisas também, em casa também né. Sabe

conversar melhor, se é mais tímida agora já passa um pouco mais disso. Porque tu

tem estas diferenças e eles lá dão a oportunidade pra tu fala. Não é qui nem colégio

que tem as vezes que a professora não ta nem aí né. E a experiência assim foi

ótima, não me arrependo di nada.

P. Como era sua visão da propriedade antes e depois do Cedejor?

R: Antes era um pouco relaxada né. Só que antes de entrar para o Cedejor eu já

tinha a idéia da questão do Voasan, de ta organizando aqui né. O laticínio aqui na

região tem bastanti e o clima é bom para se trabalhar também né. E depois com o

Voasam tu tira a renda mais tranquilo, tu não tem mais aquela preocupação com os

animais tem menos problema. E no Cedejor eu aprendi di tudo, pessoal, di

propriedadi, tipo eu não sabia o que era faze um projeto. Eu só ouvia na radio que

tal vereador mandou tal projeto para ser feita tal coisa né. E agora tu tem a idéia né,

fico melhor eu até posso montar eu um projeto para a comunidadi. Eu tinha idéia de

montar um parquinho aqui na comunidade ali no centrinho no Rio Branco. Ali é ondi

tem a canha de docha e nas sestas feira à noite e nos domingos às vezes quando

tem festa assim de aniversario a gente se reuni tudo alí. Mas o meu projeto PJER foi

o Voasan para o gado de leite. E é assim né eu to instalando eu to fazendo divagar,

já tem uns 12 piquetes já.

P. E a tua visão da propriedade depois do Cedejor?

R: É de continuar melhorando cada vez mais, né. Ta vendo o que já tem e ver quais

as possibilidades de ta melhorando né. E por inquanto se for para mim escolher eu

escolho ficar aqui na propriedade, mas se por acaso tiver muita necessidade né de

não ter muita renda daí sim eu procuraria alguma coisa fora, mas só aquele período

o outro eu já fico em casa.

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7. P. Sua família tem ajudado de que forma neste processo de conquista do seu

espaço?

R: eu queria morar sozinha junto com a mãe. Mas como meu irmão é home a idéia

era que ele quando casasse tivesse a casa deles. Mas como ele é home a mãe

ajudo ele com a casa e como aqui é muito grande e tem espaço para mais gente ele

fico aqui. Então há uma certa discussão por isso aqui né.

Mas na verdade eu tenho o meu espaço eu tenho o meu respeito eu faço as coisas,

eu tenho o apoio da mãe, meu irmão já mais difícil e depois que ele caso então, ai

fico mais difícil ainda.

P. Como é o processo de decisão na propriedade?

R: É assim já existe aquela regra, que no mês tem isso e no outro mês tem aquilo.

Então as pessoas que estão aqui já sabem como é. Então daí um pergunta pro otro

o que vai ser feito ou não, é assim.

P. Você teria mais alguma coisa para falar que já não foi falado?

R: por mim eu acho que ta bom, é isso então.

Data da entrevista: 25/ 04/ 2009

Entrevistador:____________________________

Jovem (4)

Dados de identificação

Dados de identificação

Nome: M. B.

Idade: 22 anos Data de nascimento: 10.11.1986 Sexo: M

Questionário

1. P. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as

suas relações com as pessoas deste lugar.

R: Eu estou aqui nesta propriedade desdi os 6 anos quando nois vimo morar aqui.

Até hoje e sempre estudei até a quarta série aqui na comunidade. Depois fui estuda

no colégio em Grão Para. E com a vizinhança sempre tive um bom convívio, um

ajuda o otro aqui, com os vizinhu não tenho nada para reclamar. Na comunidade

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89

ajudo bastante na parte di igreja i coisa né. Então eu sou coodenador da

comunidade que coordena a comunidade maior das pastorais da igreja.

2. P. Qual o local da casa e da propriedade que mais gosta?

R: O lugar que eu mais gosto, assim? a é di ta trabalhando assim com u gado de

leite. É aqui na ordenhadeira que eu gosta mais de trabalhar. Di ta trabalhandu com

os animais, de ta assim andando de ta trabalhando assim com as vacas, de ta

levando elas para os piquetis é o cuidado com os animais. Eu cuida mais mesmo é

das vacas na ordenha e as criação de perneiro é mais o pai.

3. P. E tem assim outro local que você se identifica, e que quando você esta feliz ou

triste você gosta de olhar ou ir para perto?

R: O rio, ir para a beira do rio, tomar banho. Este rio que faz diviza com o terreno, o

terreno vai até no rio né. O rio é um lugar de lazer, agora nem tanto mas quando eu

era mais novo tomava bastante banho di rio, pescava.

P. Tem a tua historia ali então?

R: Tem, tem muitas coisas boas.

P. Não se afogo nem uma vez não né?

R: Não, (sorri) eu aprendi a nadar alí, (sorri).

Silencio

P. Eu percebi assim que quando você falou no cuidado com as vacas tu meio que

ficou assim. Me parece que você ficou com medo de falar com o que trabalha? Tu

tem preconceito do que faz?

R: Não não é preconceito. É que assim é meio istranho tu nunca ouviu fala assim,

vaca coisa assim é meio istranho. A certo um preconceito meio assim um pouco.

P. Mas este é o seu trabalho e você se sente satisfeito, contente fazendo isso?

R: sim.

P. Então são questões que você gosta e que são suas, né é para você pensar

depois mas, e o local da casa que você mais gosta?

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90

R: sei lá, não tem assim um lugar especifico. Há a cozinha assim é um lugar ondi a

gente senta para tomar chimarrão a gente bate papo com a família assim, vê

televisão. É um luga ondi ta com o convívio com toda a família. O quarto que é lugar

di discanço e também di ta pensando né, di ta refletindo sozinho do que eu fiz, do

que poderia ter feito melhor, as vezes assim eu penso eu fiz isso mas podia ser

diferente as veis. Du que eu vou fazer amanhã, como eu posso fazer isso né, ti ta

refletindo, é um lugar di refletir di ficar pensandu.

P. E o que significa isso para ti?

R: de estar unida assim a família. É um lugar di nois combunr as coisas di serviço na

propriedadi nu dia, na semana, di ta sempre batendo papo colocando a conversa em

dia. Di sempre esta ali dialogando cum a família, né. Não tá num luga isolado né,

sempre ta cum as pessoas. É então é um dos mais importante assim. É mais o mais

importante é tudo assim né. Complicadinhu é que a gente nunca pensa nisso.

P. E o que te motiva mais a acordar pela manhã e vir para cá?

R: é de ter o meu próprio negocio, di ta trabalhando no que é meu né. Isso é o qui mi

motiva a tar todo dia trabalhando aqui. Tu sabe que vai ter um retorno cum isso e

que é da família isso aqui e que é pra nóis que tamo trabalhando né. É o qui mutiva

nois a ta trabalhando aqui e ta permanecendo no meio rural.

P. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa? E em sua propriedade?

R: O aqui esta parte é nova e eu ajudei a fazer tudo. Nas semanas que eu não

estava em alternância no Cedejor eu tava aqui ajudandu.

P. E como foi para ti estar ajudando a construir isso aqui ( local de ordenhar as

vacas)?

R: Foi legal, motivação ne. Coloca tudo novo, ia melhora pa nois a ordenha pa fazer

a ordenha que era uma coisa que tava precisando pra nois isso aqui. Eu tava bem

motivado pa que era o que tava precisando.

Na casa eu não vejo nada que possa mudar assim. Mas de assim esta ageitando pra

propriedade fica mió di da um jeito de ta di facilita u nosso serviço, di ta a gente não

se judia tanto, de ta si isforçandu, di ta, di continua trabalhandu mas qui de uma boa

renumeração, mas qui não precisa ta se isforçando. É tanto o meu projeto que fiz no

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91

Cedejor é por causa disso di ta melhorando o gado de leite pa consegui te uma

renda melho e pa ta cuidando né. Ta se cuidando mais do meio ambiente também,

de tar preservando as águas na propriedade.

P. Tem bastante nascente?

R: Tem, tem bastante nascente, e também cuidadar do reflorestamento da

propriedade.

P. Como assim embelezamento, como você vê isso?

R: É de ta protegendo as nascentes e que vai planta umas arvi e deixa ela cresce e

já fica um lugar mais bunito. É o que eu vejo assim, tendo o cuidado dela ao redor.

P. E vocês já estão fazendo isso?

R: Alguma coisa a gente já esta fazendo outras vai com o tempo. Vai divagarzinho.

Pai: as arvore demora uns anos, é que já ta começado.

4. P. O que te motiva morar em sua propriedade rural?

R: é saber que estou trabalhando no que é para mim. De saber que não tenho que

depender de horário para cumprir para tudo. Aqui é nosso, o dia que precisa sai sai

mais cedo, o dia que tem que trabalha até mais tarde tu trabalha é o serviço é teu tu

sabe que tu é o patrão né. Nos trabalhamos com a família né, mas tudo é combinado

com a família, não é nada só um que manda é todos que são iguais né.

5. P. O que tem desmotivado a viver no campo?

R: é a falta di incentivo que o meio rural tem. Pouco incentivo, a discriminação, tu é

agora ta mudando mas antigamente nas escolas, tu nunca tem apoio para o meio

rural qui o professor na escola já fala que tem que ter estudo de fazer uma faculdadi

mas nunca fala que tem que ter estudo para ficar no meio rural. E é ali que o meio

rural sustenta a turma da praça, quem bota comida na mesa deles é quem trabalha

no meio rural né. Se não tiver como eles vão se manter né, então a minha ideía é

essa.

P. E o lazer, qual é o teu lazer no campo?

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Não tem muito lazer o meu é jugar futebol com us amigu que joguemu por aí. I festas

i coisa mas não é muito assim.

6. P. Comente sobre sua experiência no Cedejor, e como era sua visão da

propriedade rural antes do Cedejor e depois da formação, qual é?

R: A minha visão quanto a propriedade mudou muito, é que antes de eu entrar para

o Cedejor, eu não tinha muito interesse em permanecer no meio rural. Trabalhava

por trabalhar não era assim muito motivado a ficar no meio rural e depois que eu

entrei no Cedejor qui me motivou a permanecer a ver as possibilidades que tinha

possibilidades de ter futuro no meio rural. Antes parece que o cara não queria ver

que tinha, mas parece que la mostro que eu tinha condições de permanecer no meio

rural e hoje já não me vejo fora do meio rural.

P. Então esta formação te fez ver a propriedade rural de forma diferente e como era

antes esta visão?

R: antes parece que não tinha futuro de permanecer, eu não via assim algo que me

motivava muito assim para ficar. Hoje eu seu da dificuldade que tem em permanecer

no meio rural, mas vejo que se tu ir pra cidadi tu também vai ter dificuldadi la a

dispesa vai ser maior, não é tão fácil assim para conseguir um emprego também.

Tem que depender de tudo e de todos.

P. Este problemas quais seriam, que você percebe que os jovens encontram no

campo?

R: as dificuldades que os jovens tem? Tem muitos casos que o jovem não tem

espaço e a discriminação por ser jovem. Que nem muitos tem falta de espaço com a

família se for permanecer no meio rural. Para assim ganhar veis, assim que ele quer

fazer alguma coisa e os pais não deixam. E que eu via assim com alguns colegas do

Cedejor que aprendia alguma coisa la no Cedejor mas tinha muita resistência da

família né. Que eles não aceitavam, que eles tinham toda uma educação que os pais

deles eram da quele tipo né e eles não aceitvam. Eu não tinha este problemas mas

outros colegas tinham.

P. E a discriminação que tipo de discriminação, como assim?

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Eu falei por ser jovem né. É que tipo tu vai querer um financiamento, uma carta de

credito e as veis tu não consegue porque é jovem, não tem experiência.

Principalmente na praça para conseguir um emprego é já perguntam se tem

experiência ai não pode porque não tem experiência. Se ai não dar a primeira

oportunidade ai nunca vai ter a experiência né.

7. P. E tu me falou da família, mas a sua família tem ajudado de que forma neste

processo de conquista do seu espaço?

R: A minha família foi uma das coisas mais importantes que me ajudou na formação

no Cedejor e que ta me ajudando. Eles sempre me deram total apoio quando eu

tava la nas alternâncias, sempre quando eu vinha com as novidades de la eles

sempre escutavam i quiriam saber e eu contava, já botava em pratica alguma coisa i

nunca teve resistência nenhuma tanto do pai e da mãe e o irmão também. Melhoro

muito a conversa entre a família, assim ta dialogando para fazer as ações. Ai eu

também mi envolvi mais, fiquei mais interessado pela propriedade. Meus pais viram

isso e davam mais espaço para mim, pra mim ta expondo minhas idéias também.

P. E no que se refere as mudanças que você já implantou aqui nos espaços da

propriedade, quais foram as mudanças que você implantou?

R: foi o meu projeto, o de gado de leite. E esta já era uma atividade que a gente já

tava aqui trabalhando na propriedade a muito tempo né, só faltava se melhorada né.

Era um coisa que já tava bem incaminhado só faltava uns ajustes pra da uma

melhorada. Antes era lá embaixo no rancho veio lá. No comecinho era tirado leiti a

mão, depois foi a ordenha mecânica, ma daí foi bastante vaca e a ordenha era

piquena i daí o espaço também era piqueno temem i demorava muito, a higieni

também não era boa, era precário. E aí aqui é um luga mió e era necessário para

continua na propriedade.

P. E como é que foi feito?

R: foi feito mas pela quantidade que a propriedade suporta né, pelo tamanho, pelo

tanto de animais que nos temos.

P. É bastante?

R: É mais ou menos, qui nem hoje as vacas tirando leiti temu 22 mas é esta média.

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P. Então tá, para mim estou satisfeito. Você teria mais alguma coisa para falar que já

não tenhamos conversado?

R: não, já foi bastanti coisa (sorri).

Data da entrevista: 17/04/2009

Entrevistador:____________________________

Jovem (5)

Dados de identificação

Nome: R. W.

Idade: 19 anos Data de nascimento: 30/05/1989 Sexo: M.

Questionário

1. P. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as

suas relações com as pessoas deste lugar.

R: Quando eu nasci nos morava lá naquela casa atrás do morro que eu ti mostrei.

Quando eu tinha três anos daí meu vô foi para Joinvile, aí nois viemu mora pra cá.

Daí isso, depois de um tempo, nóis ainda trabalhava lá no morro, plantava fumo. Ai

foi botado agregado lá e ele plantava fumo cum nóis e depois nois trabalhava aqui

com gado de leiti e o fumo lá. Depois foi parado, com o agregado só incomodava aí

foi parado o fumo e tocado um tempo só o gado de leiti. Daí nóis boto o aviário, pra

te duas atividade, não fica só no gado de leiti pra não fica ó numa atividade na

propriedadi. Ai eu me criei aqui aprendendo junto com os pais os serviço que eles

fazia, trabalhando com eles.

P. E a tua historia com este lugar com a casa aqui, o que tu lembra?

R: o que eu lembro, a primeira coisa que eu lembro, do dia que garregaru a

mudança du meu vô para ir para Joinvile. Eu lembro aquele dia. Aquele dia é a

primeira lembrança desta casa. Aquilo, desde piqueno eu lembro.

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P. Mas em que sentido, triste?

R: Não, não tem, um sentido positivo e nem negativo foi a primeira lembrança que

veio, que eu tenho na cabeça da casa foi aquela veis que eles foram para Joinvile.

Daí outra lembrança que eu tenho assim di mais novo é di quando o meu irmão mais

novo nasceu, daí nois já morava aqui nesta casa né. Que eu tenho lembrança

assim, di mais novo assim eu não tenho muita lembrança assim.

Bom eu também me lembro que quando o meu irmão nasceu nois já trabalhava com

vaca di leiti e nois tirava e não tinha o resfriador pá guarda e nois tinha qui por na

geladera da casa que é nesta parte aqui, que nos estamos. Depois que a mãe veio

do hospital eu lembro das visitas que veio visita ele, a mãe que ainda estava

deitada. Assim estas coisas que eu lembro assim.

P. E como foi assim com estas pessoas, seus amigo, os jovens deste lugar,este rio

aqui na frente, fale um pouco de sua historia com eles, com as pessoas desta

comunidade?

R: há, este rio quei foi tomado muito banho. Quando era mais antigamente, quando

aqui era manos correnteza, que era uma água mais parada foi tomado uns quantos

banho de rio. Um tempo atrás quando tinha o meu primo alí nóis de vez em quandu

nóis ia pesca, aquela veis animava mais pesca que daí pegava mais, a uns quantos

anos atrás nós ía pesca pa frita os pexe di noiti pa come aqui ou lá na casa dele foi

umas quantas vezes isso aí.

P. Tu tem muitos amigos que por aqui, assim da tua infância?

R: da minha idade que se criaram comigo assim não tem muito. Assim tem muitos

que, eu morro aqui e tem muitos que moram lá do outro lado da comunidade. Daí tu

não tinha muito contato quando era mais novo, féis amizade depois de um tempo.

P. E agora?

R: Agora tenhu. Aqui dentru da comunidade conversu cum todo mundu não tem, tem

alguns que o cara é mais chegado e a gente sai pa festa junto. E tem outros que a

gente chega aí nas festa e comprimenta, por aí. É assim tem aqueles que são mas

amigo du cara né.

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2. P. E voltando aqui na propriedade, mais focado primeiro na sua casa. Qual o local

da casa e da propriedade que mais gosta?

R: Olha não tenhu um local pa mim dize, assim di preferência da casa. Não tenhu

um lugar específico da casa, assim que é a minha preferência.

P. Mas um lugar que tu gosta assim que tu se sente bem?

R: Um lugar que me chama mais a atenção é a sala, é a mais parte que a família ta

vunto né. A sala da casa. Onde é o lugar onde a família ta junto e coisa. É ondi a

família mais ta junto, mais conversa, mais fica junto, conversando, vendo televisão.

Passando o tempo junto é mais na sala. Notro lugar pode ta junto mais ta

trabalhando é um pouco mais diferente, ali ta mais sossegado, discansandu é um

lugar que me chama mais atenção assim.

P. E na tua propriedade?

R: a questão é que um lugar que eu mais gosto específico não tem. Mais é lá pro

morro que tu tem a visão da comunidade tu vê u movimento. Tu podi para e pensa

como as coisa mudaru, como era antes. Uma vez tu via ali de cima como que era a

comunidade uma vez e como é que ta hoje. Tu pode para pensar e coisa. Pensar no

tempo como o tempo passa, pensa na vida assim, estas coisas assim. É um lugar

bem interessanti o lugar la em cima.

3. P. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa? E em sua propriedade?

R: Não, não tem assim, mudar. Eu não tenho interesse em mudar as coisas assim.

Como ta assim, as vezes muda coloca um moveis novo na casa, um negocia assim.

E que uns moveis novo na casa esta precisando, qui nem tem a istante, coloca uma

melhor assim né. Muda coisa assim, mas não muita coisa assim, é coisa de

necessidade de mudar né. É coisas básicas.

P. E na propriedade? Tu pode comentar o que tu já fez, pensaria em ter feito mas

não fez e o que tem para fazer no futuro?

R: É aqui a gente tinha as criação, as vacas soltas no pasto tudo. Foi feito o

piquetiamento que eu aprendi no Cedejor. Fiz o projeto no sistema racional Voasan,

foi feito o projeto e elaborado o projeto, daí eu pedi auxilio para adiantar este projeto.

Daí foi implantado aí, colocado água nos piquetis, pus animais e coisa. Melhorado

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para a pastagem, foi feito o plantiu de outros tipos de grama, pu gado. O que tinha

de ser feito e tinha um pedaço que tinha que ter melhorado esta parte dos piquetes é

que o projeto era para um área e ficou um pedaço sem ser implantado. Ainda tem

que implantar nesta área o piquetiamento é o que precisa melhorá.

P. E como foi assim, foi sua própria iniciativa, como foi que você teve a idéia de fazer

isso?

R: a gente viu por aí que com os piquetis dava mais resultados e daí entrandu no

Cedejor conhecemu bem com era isso, la eu estudei, conheci bém com é que

funcionava isso daí eu vi que poderia dar certo na minha propriedade também. Teve

um interesse meu junto com a família de fazer isso. Di implanta este projetu na

propriedadi pa melhora a propriedadi né. Melhora a produção de leiti. Mas tem muito

ainda a melhora nesta parti de piquetiamento, tem uns luga que nois queremu troca

as grama, fazer semiadura no inverno estas coisas assim que tem que ir melhorando

né. O cara começou agora divaga o cara vai melhorandu os piquetis estas coisas

assim.

P. E tu pretende investir neste sentido, tu gosta de trabalhar com o gado?

R: Arram eu gosto, é inverti nisso aí pa continua morando aqui né. Continua

trabalhando vivendo disso aqui né. Para mim não tem pensar em trabalhar de

empregado.

P. Tu tem o seu salário?

R: tenho, eu tenho uma porcentagem. Nois temu um negocio no aviário é uma

porcentagem do aviário que eu ganho.

4. P. O que te motiva morar em sua propriedade rural?

R: porque o cara ta trabalhandu no que é du cara né. Não ta trabalhadu pra um

patão para manter os outros. O cara ta trabalhandu no que é du cara e o cara ta

investindu, vai melhora é pru cara não é pa outro. E o cara na verdade ta mais livre,

se o cara tem que sair um dia, tem um compromisso é só se programa o cara podi i

não precisa ta pedinho permição pa outro, o cara memu a alí né. Pa isso o cara tem

mais liberdadi pa isso né.

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5. P. O que tem desmotivado a viver no campo?

R: o que dismotiva o cara é os jovens por aí na agricultura de tu ir trabalhar na cidadi

te salário todo mês, sabi que vem o salário aquele todo mês. Na área rural depende

do que tu produzi. Não tem aquele, tu vai produzir ente tanto, mim ou dois mim de

leiti, tu ganha este tanto, não tem isso é a quantia que produzir é a que tu vai

receber. Se não produzir nada não recebe nada. É a questão é que te vez que fica o

final de semana um pouco mais preso, tem que tirar o leiti, a vaca não da folga.

Quando tem o aviário, o frango não da folga. E tem a questão do empregado de da

àquela hora tu ta livre né, e na área rural tem que trabalhar o dia inteiro né, no casu.

Tem os ternero, tem di i lá e dependendo di noiti tem também. É isso que eu vejo

que dismotiva muito a juventude da área rural.

P. É tem que gosta né?

R: tem que gosta se não si para pensa tu vai se dismotiva mesmo, porque tu vai

pensa que la na cidade eles ganham tanto e podi faze isso e tem tempo. Aqui não

tem, mas se o cara se planeja arruma o tempo também.

P. Um tem isso então?

R: arruma um tempo ou até mais tempo do que na cidade.

6. P. E sobre a tua experiência no Cedejor, como era sua visão da propriedade rural

antes do Cedejor e depois da formação, qual é?

R: antes eu via que era um negócio e que trabalhava pa si mante na propriedadi qui

pra si mante, trabalhandu, gerandu um lugru também, mas só que depois que eu fi a

formação a gente tem outra visão, uma visão mais detalhada da propriedadi. O que

nesta área pode ser feito, o que nesta outra pode ou não ser feitu. A gente tem um

conhecimento mais detalhadu, na formação foi passada esta visão de ver a

propriedade mais detalhada. Que nem às vezes o dinheiro passa e a gente não vê

nada, mas lá no Cedejor com os conhecimentos que a gente tem lá a gente vê que

tem este tanto de dinheiro, mas circula, não é que entrava e ficava como pai, mas só

passava pela mão dele. A questão a gente também vê a parte administrativa

também, de gerencia a propriedadi de sabe o que entra o que sai o que da de lucro.

Eles incentivo a vê isso também.

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P. Então a formação ajudou você a ver de outra forma?

R: ajudo e no caso da administração é que nem uma empresa né. Não se diferencia

de uma empresa. Se não souber controlar vai entrar em divida e coisa é a mesma

parte de uma empresa daí.

P. Para você foi bom então?

R: foi bom, porque gente entra nesta formação e eles passam esta visão mais

detalhada em quanto a gente é jovem. E dependendo talvez dos pais é que demora

mais para passar isso para os filhos. Não é tão já assim que eles pega e passu. Mas

entrando nesta formação né, que eu tive o apoio dos pais para entrar lá e com o

aprendizado os pais tiveram mais confiança pra isso pro cara conhecer mais de tudo

na propriedadi né, dos serviços, da parte administrativa destas parte tudo.

7. P. Sua família tem ajudado de que forma neste processo de conquista do seu

espaço?

R: há é tudo conversadu. E depois que eu entrei lá que eu tenho esta parte da

porcentagem do aviário eu conversei com eles sobre que eu estava só trabalhando

em casa e de eu ter uma porcentagem. Então agora é o meu salário né, antes eu

não tinha. Antes quando precesava pedia. E conversando assim eles dão todo o

apoio que eu preciso para fazer as coisas aqui dentro né. Tem coisa que eu acho

que eu acho certo e eles errado e é conversado e achado a melhor forma. A gente

tem o apoio para na maioria da coisas que eu quero eu tenho o apoio deles. Para

ganhar o espaço na propriedade nas coisas da família. Quando eu tenho que sair

alguma coisa assim é só conversar um pouco antes é que se não vai atrapalha o

serviço, mas conversa um pouco antecipado e coisa e tal, sempre se da certo né.

P. Tem mais alguma coisa que você gostaria de comentar que já não tenhamos

conversado que gostaria de falar?

R: Não é isso né.

P. Então, obrigado.

Data da entrevista: 18/ 04/ 2009

Entrevistador:____________________________