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Este trabalho refere-se a um estudo com base na Psicologia Ambiental sobre jovens do meio rural, egressos do CEDEJOR (Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural), localizado no município de Lauro Müller – SC. Criado em 2002, caracteriza-se como uma entidade não-governamental denominada de OSCIP (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) que é constituída por uma rede de parceiros públicos e privados. A missão da instituição é contribuir com a formação do jovem do campo em diversos aspectos: humano, técnico e gerencial, pautados no desenvolvimento local sustentável. O programa atende a filhos de agricultores que concluíram o Ensino Médio em que os ciclos de formação duram dois anos, e o método de ensino utilizado é a Pedagogia da Alternância. O objetivo deste estudo é compreender como os jovens egressos do Cedejor tem se apropriado de seus espaços e construído sua identidade de lugar. A metodologia utilizada para desenvolver a pesquisa foi qualitativa, empregando como instrumeTRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE PSICOLOGIA
CLAYTON NUNES DA SILVA
JOVENS DO CAMPO - O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE DE LUGAR
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009
1
CLAYTON NUNES DA SILVA
JOVENS DO CAMPO - O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE LUGAR
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Bacharel no curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC.
Orientador(a): Prof. Dra. Teresinha Maria Gonçalves.
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009
CLAYTON NUNES DA SILVA
JOVENS DO CAMPO - O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE DE LUGAR
Trabalho de Conclusão de Curso, aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel no Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com linha de pesquisa em Meio Ambiente.
Criciúma, 25 de junho de 2009.
BANCA EXAMINADORA
Prof ª. Teresinha Maria Gonçalves – Doutora – UNESC – Orientadora
Prof. Dimas de Oliveira Estevam – Mestre em Administração – UNESC
Prof ª. Patrícia Martins Goulart – Doutora – UNESC
2
Dedico este trabalho a meu pai, minha mãe,
meus irmãos e a amada de minha alma.
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço ao meu Deus, que me deu saúde em todos os
sentidos para eu poder concluir esta fase da minha vida. Aos mestres e professores
que me ensinaram muito durante estes cinco anos. A todos os meus colegas da
turma que durante estes cinco anos estiveram juntos, compartilhando alegrias e
superando tristezas. Em especial, aos meus amigos. À equipe de profissionais do
Cedejor (ESG) por toda a atenção e ajuda a mim proporcionada durante o tempo
que estava atuando com minhas pesquisas.
Um agradecimento especial aos jovens, a todos os egressos que
participaram desta pesquisa e aos demais que, de alguma forma também me
ajudaram. A todos os jovens da turma quatro pelos momentos juntos durante a
pesquisa do PIC 170 em 2008.
E, por fim, agradeço enormemente a todos que me ajudaram de alguma
forma, durante as minhas pesquisas de campo.
.
4
“Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear.
E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e
a comeram.
Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu,
visto não ser profunda a terra.
Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinh a raiz, secou-se.
Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos c resceram e a
sufocaram, e não deu fruto. Outra, enfim, caiu em b oa terra e deu fruto, que
vingou e cresceu, produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um.
E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.
Bíblia Sagrada - Marcos, 4. 1-9.
5
RESUMO
Este trabalho refere-se a um estudo com base na Psicologia Ambiental sobre jovens do meio rural, egressos do CEDEJOR (Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural), localizado no município de Lauro Müller – SC. Criado em 2002, caracteriza-se como uma entidade não-governamental denominada de OSCIP (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) que é constituída por uma rede de parceiros públicos e privados. A missão da instituição é contribuir com a formação do jovem do campo em diversos aspectos: humano, técnico e gerencial, pautados no desenvolvimento local sustentável. O programa atende a filhos de agricultores que concluíram o Ensino Médio em que os ciclos de formação duram dois anos, e o método de ensino utilizado é a Pedagogia da Alternância. O objetivo deste estudo é compreender como os jovens egressos do Cedejor tem se apropriado de seus espaços e construído sua identidade de lugar. A metodologia utilizada para desenvolver a pesquisa foi qualitativa, empregando como instrumento para o levantamento das informações a entrevista semi-estruturada individual. O total de jovens entrevistados foi de cinco. Destes, três são do sexo feminino e dois do sexo masculino, com idades entre 19 e 26 anos. Os resultados obtidos pela pesquisa demonstram que o processo de construção da identidade de lugar se deu na interação dos jovens com o seu entorno sociofísico, na relação com a natureza, na sensação de liberdade, no sentimento de pertença, afeição pelos animais e laços com o lugar. Palavras-chave: Apropriação do espaço. Cedejor. Família. Jovens do Campo. Identidade de Lugar. Psicologia Ambiental.
6
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Localização e municipios de abrangência do Cedejor..............................14
Figura 2 – Bezerro de dois meses..............................................................................31
Figura 3 – A vizinhança .............................................................................................35
Figura 4 – O rio ..........................................................................................................38
Figura 5 – Plantação de feijão ...................................................................................39
Figura 6 – A paisagem ..............................................................................................41
Figura 7 – Visão da propriedade rural........................................................................42
Figura 8 – O quarto ...................................................................................................44
Figura 09 – Sala e cozinha ........................................................................................46
Figura 10 – Jardim......................................................................................................48
Figura 11 – O trabalho ...............................................................................................55
Figura 12 – Sistema Voisin ........................................................................................56
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADR – Agente de Desenvolvimento Rural
AGRECO – Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral
CEDEJOR – Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento
ESG – Encostas da Serra Geral
EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
ISC – Instituto Souza Cruz
IBGE – Instituto Brasileiro Geográfico e Estatística
OSCIP – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
PIC – 170 – Programa de Iniciação Cientifica
PEJR – Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural
PJER – Projeto do Jovem Empreendedor Rural
PR – Estado do Paraná
RJ – Estado de Rio de Janeiro
RS – Estado do Rio Grande do Sul
SC – Estado de Santa Catarina
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense
UNB – Universidade Nacional de Brasília
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande Norte
USP – Universidade de São Paulo
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................9
2 PROBLEMA DE PESQUISA ............................. ....................................................13
3 OBJETIVOS........................................ ...................................................................15
3.1 Objetivo geral ................................. ...................................................................15
3.2 Objetivos Específicos .......................... .............................................................15
4 METODOLOGIA ...................................... ..............................................................16
4.1 Natureza da pesquisa........................... .............................................................16
4.2 Coleta de dados................................ .................................................................16
4.3 Análise dos dados.............................. ...............................................................17
5 REFERENCIAL TEÓRICO.............................. .......................................................19
5.1 A Psicologia Ambiental......................... ............................................................19
5.2 Apropriação de espaço e identidade de lugar .... ............................................21
5.3 Jovens do campo ................................ ..............................................................22
6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA..... ........................27
6.1 Jovens e suas raízes com o lugar ............... ....................................................27
6.2 A Comunidade onde os Jovens Vivem.............. ..............................................32
6.3 O Jovem e a propriedade rural.................. .......................................................39
6.4 A Casa e a propriedade rural – um lugar que faz bem...................................43
6.5 Formas de apropriação do espaço ................ ..................................................47
6.6 A família e o PJER............................. ................................................................49
6.7 A cidade ou o campo? ........................... ...........................................................52
7 CONCLUSÃO ........................................ ................................................................57
REFERÊNCIAS.........................................................................................................60
APÊNDICES .............................................................................................................68
APÊNDICE A – Questionário aplicado aos 05 Jovens eg ressos do Cedejor
(ESG) ........................................................................................................................69
APÊNDICE B – Entrevistas Transcritas na integra (co mo relatadas) .................70
9
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho refere-se a um estudo sobre jovens do campo. Foi inspirado
na experiência do Programa de Iniciação Cientifica - PIC 170, realizado entre
períodos de abril de 2008 a março de 2009, e que teve como tema “O papel da
família na emancipação do jovem do campo numa perspectiva interdisciplinar: a
experiência do Cedejor das Encostas da Serra Geral (ESG)”. Foi a partir desta
experiência, mais focada em compreender o papel da família e na emancipação dos
jovens, que surgiu o interesse em levar adiante os estudos sobre a juventude do
campo. Por ser uma temática que permite diferentes desdobramentos, foi possível a
elaboração de outro artigo intitulado: “Invisibilidade dos jovens do campo: a
experiência do CEDEJOR de Santa Catarina”. Ambos os trabalhos não seriam
concluídos e nem publicados sem a orientação, atenção e dedicação do professor
Dimas de Oliveira Estevam.
Durante a trajetória acadêmica, foram enfrentadas muitas incertezas até
chegar o momento de construir o Trabalho de Conclusão do Curso. Foi durante um
momento, em que este “menino serrano”, já em suas últimas passadas, vendo a reta
final da formação - porém sem ter um foco de pesquisa definido e, além disso,
pensando em parar de estudar, devido ao alto custo financeiro -, que a amiga
Patrícia Bonassa o apresentou ao professor Dimas ao qual lhe proporcionou contato
com este primeiro projeto (PIC). Assim foi o seu primeiro contato com esta temática
relacionada ao campo.
Com o término do trabalho de iniciação cientifica percebeu-se que se
poderia buscar responder questões voltadas à Psicologia Ambiental. A motivação
maior para este estudo foi sedimentada pelas aulas de Psicologia Ambiental no
Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC
ministrada pela professora Teresinha Gonçalves. Durante estas aulas, se buscava
compreender como se daria o processo de apropriação do espaço dos jovens, aos
quais havia conhecido em viagens ao interior das Encostas da Serra Geral. No
entanto, o que causou surpresa, ao aprofundar o assunto, foi constatar que a
Psicologia Ambiental e mesmo a Psicologia Social tem parcos estudos sobre o tema.
Neste sentido, parafraseando a professora Patrícia Goulart (2003), quando o
pesquisador busca responder suas inquietações e trabalha mais intensamente
10
naquilo que se identifica, e ao estudar mais sobre o seu objeto de estudo, percebe
que a cada passo dado, há ainda muitos a serem trilhados. Percebendo-se que se
não “colocar as mãos e os pés no barro” e trabalhar, não é possível transformar a
realidade que se apresenta. Foi sob este enfoque que surgiu a necessidade de
investigar mais este assunto.
Assim, esta pesquisa visa compreender, a partir da Psicologia Ambiental,
como os jovens do Cedejor têm se apropriado de seus espaços e construído suas
identidades de lugar.
Segundo Gonçalves (2009), o pesquisador ao escolher o seu objeto de
pesquisa, utiliza um repertório pessoal que orienta o olhar para os problemas de sua
área de estudo. A problemática do jovem rural sempre foi o motivo de preocupação
desta pesquisa. Ao consultar algumas literaturas existentes sobre jovens, percebe-
se que há uma profusão de livros, pesquisas e artigos sobre a juventude urbana e
uma escassez sobre a juventude rural. Dar visibilidade a estes jovens esquecidos no
campo foi o motivo principal para a realização deste estudo. A Psicologia Ambiental
com os conceitos de apropriação de espaço e de lugar fornece os instrumentos
metodológicos para a compreensão do problema de pesquisa. Este estudo se insere
na linha de campo Meio Ambiente/Psicologia Ambiental.
Neste trabalho, a referência ao jovem rural se dará com os termos
utilizados por alguns autores, dentre eles se destacam Capelo, Martins, Amaral
(2007). Em concordância com estes autores, pensa-se que o termo campo utilizado
como opção conceitual, pode possibilitar uma abrangência de todas as situações
que estão presentes no mundo rural. Também para esquivar da armadilha que
considera o rural como espaço privativo da agricultura ou da pecuária, em oposição
à modernidade industrial do urbano. Neste sentido, essa oposição não satisfaz a
necessidade de compreender o campo em toda a sua complexidade e diversidade.
Entretanto, se reconhece que há heterogeneidade conceitual do termo Rural e
Campo e Juventude Rural e Juventude do Campo.
A preocupação deste trabalho é investigar como estes jovens constroem o
processo de identidade de lugar e a forma com que se apropriam do espaço em que
vivem.
A identidade de lugar é um conceito trabalhado por Claval (1999) e Tuan
(1983). Ambos conferem ao sujeito, a incorporação do lugar no seu universo
11
simbólico, compondo assim, um elemento do seu processo de construção da
identidade.
O ponto referencial desta pesquisa são os jovens que passaram pela
formação educacional do Cedejor (Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural) do
município de Lauro Müller – SC, criado em 2002. Este Centro tem atuado na região
Sul do país em três territórios distintos: Centro-Sul do Paraná/PR, Encostas da Serra
Geral/SC e Vale do Rio Pardo/RS. A sua missão é contribuir para o desenvolvimento
do jovem rural, através de iniciativas que promovam a participação cidadã, o
empreendedorismo e o desenvolvimento local sustentável. A instituição se
caracteriza como uma organização não governamental, de caráter civil, e faz
parcerias com órgãos do governo, como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e
Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), a Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), prefeituras municipais, além do Instituto Sousa Cruz, localizado na
cidade do Rio de Janeiro – RJ, que é seu principal parceiro.
A formação é voltada para os filhos dos agricultores que concluíram o
Ensino Médio e os ciclos de formação que duram dois anos e que, ao final do curso,
o jovem recebe a certificação de ADR (Agente de Desenvolvimento Rural). A
Pedagogia da Alternância é a metodologia utilizada na formação destes jovens.
Esta Pedagogia é a combinação de um processo que alterna os períodos
de vivência na propriedade e na escola em que o jovem passa três semanas na
propriedade e uma semana no Cedejor. Ou seja, é a combinação de um processo
de formação, no qual o jovem do meio rural convive em períodos na escola e na
propriedade ou na comunidade, alternando a formação prática com a formação
teórica (ESTEVAM, 2003; ZAMBERLAM, 2003 e RIBEIRO, 2008).
Para a sua manutenção, o Cedejor realiza parcerias com diversas
instituições governamentais e não governamentais que realizam atividades voltadas
para o desenvolvimento do meio rural. Desta forma, nos seis anos de atuação, o
Núcleo estabeleceu acordos de cooperação com inúmeras instituições, dentre as
quais se destaca a participação das famílias no processo de formação dos jovens, o
apoio das prefeituras municipais dos onze municípios da área de abrangência do
Cedejor - com destaque para Grão Pará, Lauro Muller, Santa Rosa de Lima e Rio
Fortuna - que desenvolvem ações diretas e efetivas com os jovens do
campo. Também contam com o apoio da Associação dos Agricultores Ecológicos
das Encostas da Serra Geral (AGRECO) que colabora no desenvolvimento dos
12
projetos dos jovens a base de "Leite a pasto" e da CONAB (Companhia Nacional de
Abastecimento) que participa na compra dos produtos dos jovens. Outro apoio
importante é a da Acolhida na Colônia, cujas ações são desenvolvidas através dos
projetos dos jovens ligados ao agroturismo. No entanto, o principal colaborador
financeiro do Programa é o Instituto Souza Cruz (ISC) que patrocina a execução do
PEJR (Programa de Empreendedorismo do Jovem Rural).
A formação dos Jovens se dá, entre outras, através de ações
educacionais e culturais em alternância. Podem-se destacar: estágios, visitas
técnicas, viagens de estudo em propriedades, empreendimentos e empresas, com o
objetivo de desenvolver habilidades para que o jovem seja protagonista nos campos
cultural, social, político, humanístico, técnico e gerencial.
O presente trabalho está organizado com uma primeira seção de caráter
introdutório; o item dois apresenta a problemática da pesquisa com dados que
preocupam e despertam questionamentos sobre o foco da pesquisa; na seção três
estão os objetivos do estudo; a metodologia de estudo e enquadramento
metodológico estão na seção quatro; seção cinco aborda o Referencial Teórico de
forma sucinta com a produção acadêmica sobre o tema; no item seis é feita a
apresentação e análise dos resultados da pesquisa; o item sete apresenta a
conclusão, abordando os resultados finais, limitações da pesquisa e sugestões para
outras investigações. Por fim, as Referências utilizadas e as entrevistas transcritas.
13
2 PROBLEMA DE PESQUISA
Desde há muito tempo sabe-se que o êxodo rural se constitui em um
problema, principalmente no caso do Brasil, um país/continente. Segundo o IBGE
(2007), entre os Censos de 1940 e 2000, a população brasileira cresceu quatro
vezes. Os jovens dos 15 aos 24 anos somavam em 1995, no país 28,8 milhões de
pessoas representando em torno de 20% da população total brasileira. Estudos
apontam que o Brasil rural tornou-se urbano (31,3% para 81,2% de taxa de
urbanização). Na década de 40, a população que morava nas cidades totalizava,
menos de um terço (31,3%), enquanto em 2000 já eram 81,2%. No ultimo censo, a
população urbana atingiu 137,9 milhões e em 1940 correspondia a 12,8 milhões de
habitantes. Já a população rural em números absolutos, no entanto, cresceu de 28,2
milhões para 31,8 milhões de habitantes, entre as duas épocas.
Alguns autores, como Milton Santos (1997) e Acselrad (1999), afirmam
que os problemas urbanos são intensificados por esta população que se desloca as
cidades sem a devida qualificação profissional com expectativas que não se
concretizam por estes e outros fatores.
Na tentativa de minimizar este problema, criou-se em 2002, no município
de Lauro Muller, o Cedejor, uma organização não governamental que se caracteriza
por ser uma entidade de caráter civil. Faz parcerias com órgãos do governo, como a
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI),
a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e outros, como as empresas
privadas do Instituto Sousa Cruz.
14
Figura 1: Localização e municipios de abrangência d o Cedejor
Fonte: Cedejor – 2008
Nossa preocupação é compreender este problema à luz da Psicologia, e,
no caso desta, pesquisa o recorte teórico é dado pela Psicologia Ambiental. Nossa
hipótese é que o processo de fixação do jovem no campo se dá, entre outros fatores
pelo processo de apropriação do espaço e pela identidade de lugar.
15
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Compreender o processo de identidade de lugar de jovens rurais
participantes do programa do Cedejor.
3.2 Objetivos Específicos
• Compreender, a partir da Psicologia Ambiental, a concepção de
apropriação do espaço para o jovem rural;
• Investigar se a identidade de lugar do jovem do campo contribui
para a sua permanência no meio rural;
• Investigar, por meio dos conceitos de pertença, cultivação,
personificação se ocorre há construção da identidade de lugar nos sujeitos
pesquisados.
16
4 METODOLOGIA
4.1 Natureza da pesquisa
Trata-se de uma pesquisa de campo, de natureza exploratória qualitativa,
tendo como método o estudo de caso. Este estudo compreende que a análise
holística é a que mais se aproxima dos propósitos desta pesquisa, pois ele considera
a unidade social estudada como um todo, seja um indivíduo, uma família, uma
instituição ou uma comunidade, com o objetivo de compreendê-los em seus próprios
termos (Goldenberg, 2000). O total da população estudada foi composta por 5
jovens, sendo identificados da seguinte forma: os três informantes do sexo feminino
são apresentados por: jovem (1), com 23 anos; jovem (2), com 23 anos e jovem (3),
26 anos. Os outros dois informantes do sexo masculino são chamados de: jovem (4),
22 anos e jovem (5), 19 anos. O critério para a escolha dos jovens foi intencional,
sendo escolhidos por indicação da equipe do Cedejor. A pesquisa de campo
realizou-se nas propriedades rurais dos jovens, localizadas nas cidades de Rio
Fortuna e Grão Pará em Santa Catarina.
4.2 Coleta de dados
A coleta de dados realizou-se no mês de abril de 2009, nas propriedades
rurais dos jovens, localizadas nas cidades de Grão Pará e Rio Fortuna em Santa
Catarina. Para o deslocamento até estas cidades, o pesquisador utilizou o transporte
escolar que desloca os estudantes destas cidades para na Unesc. Foram duas
viagens. Na primeira, foram entrevistados os jovens (2, 4 e jovem 5) de Grão Pará.
Na segunda viagem foram os jovens (1 e jovem 3) de Rio Fortuna.
Nestes trajetos, o pesquisador obteve auxílio nas Prefeituras, Câmara de
Vereadores, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, escolas públicas e cooperação
dos jovens selecionados para as entrevistas e suas famílias. Na primeira viajem, o
pesquisador obteve o apoio da escola municipal pois utilizou a biblioteca da escola
para organizar as entrevistas iniciais. Em seguida, a Prefeitura da cidade o auxiliou
17
com o transporte, fornecendo um veículo e motorista para chegar às propriedades
rurais dos jovens. Na segunda viagem, o apoio veio primeiramente da Câmara de
Vereadores - que forneceu o automóvel - e posteriormente o apoio do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais que possibilitou um motorista para levar o pesquisador até as
propriedades rurais e realizar as entrevistas com os jovens.
Nos dois momentos de pesquisa - realizados através destas duas viagens
- os jovens e suas famílias foram acolhedores e forneceram toda a ajuda possível.
Sem todos estes colaboradores citados acima, não seria possível a realização deste
estudo.
Os jovens selecionados, ao participarem da pesquisa, concordaram e
assinaram o termo de consentimento de Livre Esclarecido recomendado pelo comitê
de ética da Unesc. Para a coleta de dados foi utilizado como técnica a entrevistas
semi-estruturada individual e registros de imagens.
4.3 Análise dos dados
Segundo Gil (1994), a análise dos dados tem por objetivo organizar e
sumariar as informações, possibilitando o fornecimento de respostas à problemática
de investigação. Para esta análise, foi realizado um ordenamento das entrevistas e
dos registros fotográficos, buscando os conceitos-chave a partir das informações
produzidas no discurso dos entrevistados. De acordo com Bauer & Gaskell (2002) os
conceitos-chave a partir da análise do discurso, acentuam a funcionalidade e a ação
que o discurso do sujeito possui. As narrativas possibilitam a orientação da interação
social do sujeito consigo mesmo e com o mundo. As imagens registradas têm a
função de método auxiliar. O inventário fotográfico é outra possibilidade de leitura da
confirmação do processo de apropriação. O critério para a escolha do que foi
fotografado consistem em lugares, paisagens e objetos que tenha sentido para o
sujeito. Desta forma o inventário fotográfico realizou-se após as entrevistas.
Entende-se que os registros visuais ampliam o conhecimento do estudo
pois possibilitam documentar momentos ou situações que ilustram o cotidiano, ou
seja, o vivido (NETO, 2003 apud MINAYO, 2003). A duração aproximada das
entrevistas variou de trinta a quarenta minutos. Depois de gravadas, as entrevistas
18
foram transcritas na íntegra, para atender as normas éticas da pesquisa com as
devidas autorizações formais para imagens e áudio. O pesquisador utilizou como
instrumentos um gravador portátil, uma câmera digital, um caderno de anotações e
canetas.
19
5 REFERENCIAL TEÓRICO
5.1 A Psicologia Ambiental
De início, a explanação de alguns conceitos fundamentais será
necessária para entender a Psicologia Ambiental. Assim, esboça-se aqui o conceito
e o surgimento desta área do conhecimento.
A Psicologia Ambiental se caracteriza inicialmente “como a disciplina que
se ocupa de analisar as relações que, em nível psicológico, se estabelecem entre as
pessoas e seus entornos.” (GONÇALVES, 2004, p.17)
Segundo Valera (1998) a Psicologia Ambiental é uma ciência considerada
jovem, recente e que teve suas primeiras publicações nos Estados Unidos na
década de 70. Na França as publicações se deram na década de 80 e na Europa
houve duas vertentes de formação da Psicologia Ambiental - a Arquitetura foi uma
delas -, e também na Inglaterra e nos países nórdicos, a origem da Psicologia
Ambiental veio dos arquitetos. Entretanto, nos países como Itália, Alemanha, França
e Espanha, a raiz da Psicologia Ambiental foi a Psicologia Geral (MOSER, 1998). A
primeira referência clara da Psicologia Ambiental foi em 1924 na publicação do
Manual de Métodos Biológicos, cujo terceiro volume, compilado pelo próprio Willy
Hellpach (1877-1955), tem o título de Psychologie der Umwelt (GONÇALVES, 2007).
No Brasil, a Psicologia Ambiental é uma abordagem que está começando
a caminhar como uma derivação da Psicologia Social. As primeiras pesquisas se
iniciaram na Universidade de São Paulo na década de 90 do século passado
(GONÇALVES, 2004; 2007). Atualmente já existem pesquisas e práticas em
algumas universidades brasileiras como a Universidade Nacional de Brasília – UnB,
Universidade Federal do Rio Grande Norte – UFRN, Universidade de São Paulo –
USP, Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, onde são realizadas
pesquisas no Laboratório de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Psicologia
Ambiental. Uma destas pesquisas foi realizada em Criciúma (SC), resultou no livro
Cidade Poética de Teresinha Maria Gonçalves (2007).
Para Moser (1998) a Psicologia Ambiental tem como objetivo estudar os
seres humanos, tendo como ponto de partida o seu contexto. O tema central são as
20
inter-relações deste sujeito, tendo como fenômeno de pesquisa, não somente as
relações entre a pessoa e o meio ambiente físico e social.
Para Freire e Vieira (2006), as vertentes na Psicologia Ambiental ocorrem
em uma multiplicidade de perspectivas. Por ser uma ciência que trabalha com a
relação pessoa/ambiente, a Psicologia Ambiental é, por natureza, interdisciplinar1 e
multidisciplinar, dialogando com outras áreas do conhecimento. Podem-se apontar
duas grandes raízes teóricas para a Psicologia Ambiental (PINHEIRO, 1997): uma
externa à Psicologia e outra interna. Na vertente externa, há a aproximação de
disciplinas até então distantes da Psicologia, como a Arquitetura e Planejamento
Ambiental, Geografia e Ciências Bio/Ecológicas. Na interna a aproximação se dá
com a Psicologia Social. Neste primeiro grupo influenciador, a Arquitetura e
Planejamento Urbano tinham como foco a ação dos espaços edificados sobre o
comportamento humano. Segundo Pinheiro (1997), a influência externa veio da
Geografia nos anos 40, tendo como tema central, o papel dos fatores socioculturais
na conformação do comportamento espacial humano.
Uma terceira influência para o surgimento da Psicologia Ambiental foi uma
crescente preocupação com os "problemas ambientais" em que o foco é a ação do
ser humano nesse contexto. Assim, essas dimensões - espacial e temporal - são
somadas à percepção ambiental. Este é o fenômeno psico-social, em que processos
cognitivos e afetivos estão implicados na representação do ambiente, tanto na
esfera individual como na coletiva (PINHEIRO, 1997).
Essa dupla vinculação ao estudo de problemas de degradação ambiental
e elaboração de projetos para ambientes construídos, como subárea da Psicologia,
evoluiu de tal forma que tem abarcado muitos outros tipos de problemas no âmbito
do ser humano. Segundo Ferreira (2004, p. 25), com base nos estudos de Gunther
(1991) reporta-se aos seguintes tipos de problemas:
[...] desde a percepção e cognição do ambiente; efeito do ambiente no comportamento; ambientes diferenciados (de crianças, jovens, adultos, trabalhadores etc.); ambientes específicos (como cidades); construção de determinados ambientes para obter determinados efeitos sobre o comportamento; mudanças de atitude, percepções e comportamento frente ao ambiente; até mudanças e planejamento do ambiente e preservação do
1 Para Valera (1998) o trabalho interdisciplinar da Psicologia Ambiental é considerado um traço típico, pois ressalta com base nos estudos de Holahan, (1982) e Proshansky, (1990): “resultado de ello es que la participación interdisciplinar es considerada generalmente como uno de los rasgos definidores de la propia Psicología Ambiental” (p.2). De Young (1999), considera a Psicologia Ambiental como um campo de atuação bastante amplo, nos apontando as características multidisciplinares.
21
meio ambiente [...] (GUNTHER, 1991, p. 01).
Pode-se observar o tamanho da expansão e da área de abrangência, a
Psicologia Ambiental quase incorporou todas as possibilidades de estudo da área da
psicologia.
Considerá-la uma área nova ou velha não é nosso objetivo, mas busca-se
entender a contribuição desta área para a ciência. Percebe-se que as limitações em
buscar algo que inquieta, exige alternativas viáveis, alternativas concretas e
pautáveis, fundamentadas que respondam questões emergentes fizeram surgir a
Psicologia Ambiental. Os propósitos desta pesquisa também não são de
desconsiderar melhor ou pior as outras áreas da psicologia, como por exemplo, a
psicologia social. Pensa-se que “a interlocução de inter áreas do conhecimento, e
intra área da própria psicologia, tem se mostrado como a única saída possível para
fazer avançar a ciência e, como consequência, seu significado social” (PINHEIRO;
GUNTHER; GUZZO, 2004, p. 07).
As ligações que as pessoas estabelecem com seu entorno é fundamental
para o pleno desenvolvimento e funcionamento de suas aptidões psíquicas. Portanto
cada pessoa percebe, avalia e tem atitudes individuais em relação ao seu ambiente
físico e social, apropriando-se deste ou não, e é isso que estaremos investigando
neste trabalho.
5.2 Apropriação de espaço e identidade de lugar
Os termos utilizados pela Psicologia Ambiental focados neste trabalho,
ocupam um lugar central para que se possa entender como os jovens se apropriam
ou não do espaço em que vivem. Os conceitos de apropriação de espaço e
identidade de lugar foram trabalhados, embora se percebesse que estes dois
conceitos sejam diferentes na sua construção teórica, na prática eles estão
interligados. Para Pinheiro, Günther e Guzzo (2004, p. 08), a noção de espaço e
lugar são termos fundamentais, pois auxiliam a melhor compreensão do homem com
seu ambiente. “Trata-se, portanto de uma posição nova, uma diferente e mais
recente maneira de entender o desenvolvimento humano e social”.
22
Gonçalves (2007, p. 58) diferencia espaço de lugar. O espaço é um
conceito amplo e segundo ela, o espaço está cheio de lugares. É nestes lugares que
o sujeito efetiva o processo de significação, e pergunta: “quais são os lugares de
produção da subjetividade no espaço?”. A autora responde que são nos lugares
próximos onde o sujeito trabalha, habita, passeia e relaciona-se.
Segundo Gonçalves (2007), com base em diversos autores pesquisados,
abre-se a visão para as noções de apropriação de espaço e modelos de como os
sujeitos se identificam com o ambiente onde vivem. Para que ocorra o processo de
apropriação com a identidade de lugar - neste caso o sujeito tem uma identificação
com o lugar -, ele o incorpora à própria identidade do seu “eu”. Este processo tem
uma dinâmica em dois sentidos: o primeiro está relacionado em como a pessoa vai
conquistar o espaço desejado. No segundo, relaciona as suas necessidades em que
a pessoa vai atuar, adaptando o espaço para si. Neste segundo contexto, o sujeito
passa a dar características próprias no seu espaço.
Para a Psicologia Ambiental, a apropriação do espaço envolve processos
cognitivos, simbólicos e afetivos. Os processos cognitivos se referem em como o
sujeito se localiza, se movimenta nos espaços em que vive. Nos processos
simbólicos destacam-se as diferentes formas que a pessoa se identifica com o seu
entorno, se esta valoriza e preserva o lugar e os processos afetivos, se estão
relacionados à atração ao lugar, e, se este, lhe proporciona bem estar pessoal. A
importância de todos os componentes tem suas variações durante o ciclo da vida no
ser humano. Assim, a pessoa passa a ser conhecedora do ambiente em que vive e
habita, sentindo-se pertencente àquele lugar (GONÇALVES, 2007).
Com esta leitura sobre as diferentes fontes pesquisadas no referencial
teórico e outros que surgirão no decorrer desta pesquisa, busca-se compreender o
processo de apropriação do espaço e identidade de lugar do jovem do campo.
5.3 Jovens do campo
Neste contexto, abordar-se-á, primeiramente, o jovem de forma geral e o
foco nos estudos sobre os jovens do campo, contextualizando com diferentes dados,
a condição destes na sociedade atual. Nas linhas abaixo objetiva-se enxergar e
compreender como está o debate sobre o jovem do campo no Brasil e como ele é
visto pelas diferentes pesquisas. Também se busca compreender os critérios para
23
conceber o nosso objeto de estudo e seus problemas enfrentados ao longo dos
tempos.
O debate sobre o jovem do campo no Brasil vem aos poucos despertando
o interesse de pesquisadores. Contudo, a maioria dos estudos tem priorizado os
aspectos mais gerais, ligados à agricultura familiar e ao mundo adulto. Com
referência aos jovens, são mencionados apenas como força de trabalho dentro da
unidade familiar ou como trabalhadores fora da propriedade, ou ainda, somente
parte das estatísticas oficiais. A população jovem continua invisível para a maioria
dos pesquisadores e das políticas públicas. Desta maneira os projetos direcionados
a juventude do campo continuam ausentes. Esta faixa etária populacional pode ser
compreendida como uma categoria sócio-histórica e se percebe que existem muitos
grupos juvenis que constroem suas próprias formas de se identificar no seu meio
social (JEOLÁS, PAULILO, CAPELO, 2007 e AGUIAR, 2006).
Estudos demonstram que a juventude é um tema cada vez mais presente
nos espaços acadêmicos como fonte de pesquisa. Quando se busca focalizar os
jovens como fenômeno de investigação, entende-se que este foco representa um
desafio ao se considerar esta categoria como sociologicamente problemática. Ao
estudar os fenômenos nos grupos juvenis é impossível abstraí-los da classe social
em que estão inseridos. Já não se poderia revelar a classe sem localizar os
pertencimentos culturais dos jovens. A situação de classe entre os grupos pode
revelar as condições objetivas que marcam suas subjetividades, tais como o local de
moradia, o estudo, o trabalho, as rotinas, ou seja, as práticas e as representações
que caracterizam os grupos juvenis (STROPASOLAS, 2006; JEOLÁS, PAULILO,
CAPELO, 2007).
Entende-se que um dos grandes problemas no campo, é o êxodo rural;
assim, o resultado que se percebe é o aumento desordenado das cidades. No meio
urbano surgem outros problemas para os jovens enfrentarem, ficando evidente e
mais espantoso quando se assiste a um noticiário, que tem como pauta do dia, a
criminalidade, o uso abusivo de drogas, o desemprego e uma série de outros
problemas sociais que continuam desafiando a capacidade de se manter uma
qualidade de vida saudável. Estes resultados tem reforçado a retomada de reflexões
sobre a juventude brasileira (SILVA, OLIVEIRA, 2007).
24
Quando se busca focar os jovens do campo, os estudos demonstram que
a faixa etária compreendida entre 16 e 24 anos não é o suficiente para definir o
jovem rural. De acordo com Guigou (1968, apud CAPELO, MARTINS, AMARAL,
2007) é preciso que o jovem tenha uma identidade firmada e a assuma, se
declarando como tal. Assim, tem-se a necessidade de analisar as relações destes
jovens com a sociedade mais ampla, bem como de definir historicamente as
continuidades e as descontinuidades, que permitem caracterizar os jovens do campo
de cada época. O autor aponta que para se considerar um jovem do campo, é
preciso atentar para critérios a serem avaliados, tal como o local de moradia. O
jovem precisa residir numa comunidade de menos de 40% de população ativa,
vivendo apenas de seus rendimentos agrícolas e trabalhando efetivamente na
agricultura.
Para Sustaita (1968, apud CAPELO, MARTINS, AMARAL, 2007, p.206), o
jovem do campo é aquele que se localiza na faixa etária dos 15 aos 24 anos e “que
viveu aproximadamente até a idade de 15 anos no meio rural”. Este é o período ao
qual o jovem teve experiências, se socializou com pautas de ações de relação rural.
O autor divide o jovem do campo em dois grupos: os jovens residentes rurais e os
migrantes que vivem na cidade; e ainda cruza estas variáveis com a estrutura
econômica de países desenvolvidos ou subdesenvolvidos. Desta forma, os
problemas dos jovens migrantes campo-cidade, tanto em países desenvolvidos,
quantos em subdesenvolvidos, podem ser analisados em relação à situação de
classe social e à integração no contexto sócio-cultural urbano. No que tange ao
“marco referencial”, no meio rural as referências tendem a ser mais concretas, como
pontos de referência físicas como montanhas, lagos, rios, fontes e as plantas. Por
outro lado, no meio urbano as referências tendem a ser mais abstratas e o sujeito
tende a se localizar, através da compreensão dos símbolos.
Pesquisas realizadas pela EPAGRI, no Oeste Catarinense (SILVESTRO
et al., 2001), detectaram conflitos entre gerações. As famílias do campo creditam
grande importância à formação de seus filhos. Mas não com a intenção de que os
mesmos permaneçam no campo, e sim, como uma possibilidade de ascender
socialmente, através de outra profissão, que seja melhor remunerada e menos
desgastante que a de agricultor. Isso foi detectado como objetivo dos pais, que
desejam ver seus filhos em outras ocupações menos trabalhosas do que a sua.
Desta forma, a formação é vista como uma alternativa para sair do campo, e que se
25
confirma a asserção dos jovens segundo o qual “ou se estuda, ou se fica no campo”
(p. 49).
O vínculo entre a agricultura e o baixo nível educacional resiste até as
diferenças de renda entre as famílias, segundo os autores supracitados, pois não
existem diferenças entre as famílias de menos renda e as mais abastadas. Nesse
sentido, educar os filhos está associado a deixar a atividade, porque ainda
permanece o desprezo pela formação para continuar na agricultura. Os autores
verificaram que a formação dos jovens migrantes é superior a dos que permanecem
nas atividades rurais, pois as expectativas de retorno financeiro no meio urbano são
superiores em relação ao meio rural, pois no campo o retorno deste investimento é
quase inexistente financeiramente (ESTEVAM, 2007).
Isso ocorre em grande parte por que o sistema educacional é
incompatível com a realidade do campo. Os indicadores educacionais do campo no
Brasil estão entre os piores da América Latina (DURSTON, 1994), não se trata
somente do ensino formal. A questão, segundo o autor, é que o meio rural conserva
a tradição escravista que dissociou a formação do trabalho, de maneira que “quem
trabalha não conhece e quem conhece não trabalha”. Tanto é, que tendem a ficar na
atividade agrícola aqueles jovens que alcançam o pior desempenho escolar. Assim,
cria-se um círculo vicioso em que, permanecer no meio rural, associa-se a uma
espécie de incapacidade pessoal de trilhar o suposto “caminho do sucesso” que
consiste em migrar. E não se investe na valorização do conhecimento nas regiões
interioranas, pois se identificam, cada vez mais, como um reduto dos que “não
conseguem sair”, dos velhos e dos aposentados (CARNEIRO, 2005).
Desta forma os jovens do campo, de acordo com a autora, são vistos nas
pesquisas sobre o tema ou no meio familiar apenas na condição de aprendiz de
agricultor dentro do processo de socialização por meio da divisão social do trabalho
na unidade familiar, tornando-os adultos precocemente. Todavia, em relação aos
jovens rurais, continuam em situação de invisibilidade decorrente desse olhar
estereotipado que dificulta a compreensão de sua complicada inserção num mundo
agora globalizado. Segundo Durston (1994) o que caracteriza a faixa etária juvenil e
sua ascensão gradual - até o desempenho de seus plenos papéis de adultos, tanto
sociedades rurais como urbanas - é a constituição do casamento e a formação de
um lar autônomo.
26
Segundo Günther, Cunha (2004), em relação aos artigos e livros
encontrados com estudos sobre os jovens e seus ambientes, a maioria seguiu - ou
pelo menos tentou seguir - a recomendação de pesquisadores de diferentes áreas
da psicologia, visando desenvolver pesquisas voltadas para o “mundo real”,
enfatizando o contexto da vida real da forma como apresentado por Proschansky
(1976) e Sommer (1977).
Aguiar (2006) identificou que são várias as problemáticas de pesquisa
que emergem tendo a juventude como foco central. O autor verificou - ao fazer um
levantamento bibliográfico sobre artigos na América Latina, bem como sobre as
dissertações - teses de várias áreas do conhecimento no Brasil e principalmente no
Estado de Santa Catarina que tem se destacado nas pesquisas sobre jovens.
Segundo Estevam (2007), os jovens rurais sofrem com o peso do
preconceito, que muitas vezes, vem deles mesmos. Estes estigmas podem afetar a
autoestima, a autoimagem dos sujeitos, levando-os até mesmo ao estado de
invisibilidade. Assim, percebe-se que estes resultados podem produzir a não
apropriação dos espaços.
27
6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA
6.1 Jovens e suas raízes com o lugar
De início buscaram-se as ligações dos jovens com o lugar, as raízes que
eles estabelecem com o ambiente onde vivem. A ligação com o entorno é de suma
importância para se poder entender como o jovem se identifica com o seu ambiente
físico e social.
Todos os jovens pesquisados relataram que nasceram na área rural e que
todo o seu desenvolvimento foi dentro da propriedade rural - o que, para Sustaita
(1968 apud CAPELO; MARTINS; AMARAL, 2007), é um dos critérios a ser avaliado
ao se considerar o jovem do campo. As ligações com o lugar onde passaram sua
infância estão carregadas de significados e modelos identificatórios com seu
ambiente. Para o autor acima citado, o jovem deve ter permanecido até os 15 anos
no campo. Este é o período do qual o jovem teve experiências, se socializou com
pautas de ações de relação rural. Estas ligações e o sentimento de estar bem nos
ambientes onde habita - a casa, a propriedade rural dos pais, a comunidade que o
viu crescer e a escola onde estudou - é difícil esquecer e cria um sentimento de
pertencer ao lugar.
Depoimentos: “a gente se criou aqui desde pequena. Estudei por aqui
nunca saí, só sai para estuda. [...] eu me criei aqui com minha família” (jovem 2). “[...]
E desde piquena, trabalhando com os pais aqui, eu tô sempre aqui” (jovem 3). “[...]
Desdi os 6 anos quando nois vimo morar aqui” (jovem 4). “Eu nasci aqui no
Município de Rio Fortuna, estudei ali também. Sempre morei aqui, nunca saí daqui,
sempre trabalhei na roça”[...] (jovem 1). “Quando eu nasci nós morava lá naquela
casa atrás do morro [...] Quando eu tinha três anos daí [...] nóis viemu morá pra cá.
[...] Ai eu me criei aqui aprendendo junto com os pais os serviço que eles fazia,
trabalhando com eles” (jovem 5).
O termo “morar” representa uma relação com o ambiente vivido, porém,
morar se difere de habitar. Morar está relacionado a localizar-se em algum lugar;
habitar está relacionado à apropriação dos diferentes espaços - físico, simbólico,
emocional e cultural - nos quais estão todos os lugares, as pessoas, as coisas e os
28
objetos com os quais o ser humano estabelece uma interação. Assim pensa-se que
a casa poderá ser habitada ou meramente ocupada (GONÇALVES, 2007).
A análise dos depoimentos dos jovens acima, faz pensar no
enraizamento, ao mesmo tempo espacial e cultural, este tende a ser mais fácil de se
realizar no campo do que na cidade (GONÇALVES, 2007).
Segundo Moser (1998), os conceitos como espaço físico e a dimensão
temporal também são utilizados pela Psicologia Ambiental. Para o autor, entende-se
que o espaço físico vivenciado concretamente e representado simbolicamente pelo
sujeito influenciará na maneira como vai perceber, agir e interagir consigo e com o
seu ambiente, assim, o espaço é o primeiro conceito importante. Na dimensão
temporal, imaginário e memória comporão o lugar simbólico. Este se entende ao
mesmo tempo como projeção no futuro e referência ao passado, à história da
pessoa.
Quando se pensa no futuro, no que ser na vida, qual a profissão escolher,
se reflete se os jovens do campo também enfrentam estas mesmas preocupações:
se estuda para ficar ou para sair da propriedade rural? Sabe-se que um dos grandes
problemas nas cidades e também do/no campo, é o êxodo rural. No campo (França,
Brasil e outros), há um problema chamado de “masculinização”, devido à saída
acelerada das jovens (STROPASOLAS, 2006). Na França, conforme Roux, há um
número maior de mulheres que saem de suas comunidades rurais para viverem na
cidade (1998 apud STROPASOLAS, 2006, p.165). Segundo o autor, é entre os 20
aos 29 anos que as pessoas, normalmente se casam. No ano de 1995 existiam 140
homens para 100 mulheres, em 1979 havia 22% de indivíduos celibatários com
menos de 40 anos, contra 32% em 1995. Estes dados demonstram que tem se
acentuado o celibato masculino. Porém, para a jovem (2), nos seus 23 anos, a saída
da propriedade rural dos pais, será para viver na sua propriedade, pois é noiva e
está feliz em continuar no campo, comenta:
E trabalhar na agricultura não sei se foi porque o pai me motivou desde pequena, que eu gosto disso né. Mas eu sempre gostei de ficar a aqui, té por isso que eu vou casar e vou morar na agricultura também. E aí eu estudei no Cedejor que foi o que me motivo mais ainda né. A gente estudou dois anos que é voltado para isso.
Quando a pessoa se sente bem, gosta e se identifica com seu ambiente
já apresenta os requisitos para que o sujeito possa estar bem psiquicamente. Um
29
ambiente estressante, do qual a pessoa não gosta, é um dos indícios para
problemas futuros. Neste sentido, o lugar é onde ocorre a representatividade
simbólica, e assim, a jovem (2) comenta as suas raízes como o lugar, e sua busca
na resolução de problemas para o melhoramento da renda familiar:
Eu nasci aqui. [...] Eu sempre morei aqui (eu vou sair daqui agora). [...] a gente vive desde só trabalhando com a agricultura né. É só uma atividade onde vinha dando um pouco de problemas [...] e não tem outra renda para entrar para a família. Daí foi ondi eu procurei estudá para ajudar na família para que a gente tenha uma nova atividade prá ajuda o pai com uma idéia nova prá gente podê ficá aqui [...]
Neste relato, verifica-se que a jovem (2), ao perceber o problema, buscou
no conhecimento, alternativas viáveis para não sair do campo. No depoimento desta
jovem pode se identificar a alternativa viável pela fala: “eu vou casar e vou morar na
agricultura”. Em outro momento da entrevista, comenta que seu esposo ganhou a
casa para eles morarem, um presente dos seus pais. De acordo com os estudos de
Piccini, “pode-se notar que a constituição de novo núcleo familiar independente está
relacionada à construção de nova moradia. Percebe-se também que a casa é um
dote a ser dado ao filho homem [...]” (PICCINI, 1996, p. 112).
Pode-se também refletir que, ao adquirir uma morada, ou seja, a compra
da casa própria, o sujeito passa a mobiliá-la de acordo com os seus gostos e
atitudes. Estudos (SILVA, GONÇALVES, 2008, c) demonstram que, quando o sujeito
se identifica com o lugar onde habita, sai do seu habitat de origem e vai para a
cidade - por exemplo, como é o caso da dona Nascimenta2, que reproduziu no seu
terreno, no exterior e interior de sua casa, no bairro Universitário em Criciúma (SC),
as lembranças da sua vida quando jovem, tempo que viveu e sua propriedade rural
no interior de Jacinto Machado (SC) – o mesmo sujeito tem uma identificação
simbólica, afetiva com o lugar e conquista o espaço desejado moldando-o aos seus
gostos e desejos, dando características próprias ao ambiente.
Ou ainda, como se percebe nas cidades, os edifícios, em que tudo é igual
externa e internamente, porém, ao se entrar num cômodo, identifica-se a
constituição do ambiente condizente com o seu habitante. Isso evidencia como o
2 Uma amável Senhora, viúva de 80 anos. Entrevista concedida no dia 15.09.2008, ao acadêmico, para elaboração do trabalho acadêmico, apresentado a Disciplina de Cultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento do Curso de Psicologia. – UNESC, orientado pela Profª Dª Maria Terezinha Gonçalves. (ver em Referências)
30
processo de apropriação do espaço é registrado, e, consequentemente, a
identificação do sujeito com o lugar (DE YOUNG, 1999).
A jovem (3) comenta sua ligação com o ambiente onde vive. [...] “eu tô
sempre aqui. Eu aprendi as coisas aqui com meus pais, como plantar e cuidar das
coisas, do gado”. Conta que não gostou muito de ter saído da propriedade rural para
trabalhar na cidade, pois se sentia desconfortável em um ambiente que não lhe
oferecia a liberdade que tinha no campo. Relata que:
Eu nunca saí daqui, eu já fui trabalhar em Tubarão (SC), eu já foi trabalhá em apartamento coisa assim né. Aí a hora que eu foi trabalhar, assim, nestes lugares aí eu percebi que aquilo ali não era para mim, que eu não me sentia bem fazendo aquilo dali, tipo aqui tu abre a porta e tu bareia a puera pra fora e lá tu não podi fazer isso né. Tem qui pegá um apazinho e botá no lixo. Então, sei lá, dá uma sensação de está presa assim, di afobia assim de coisa presa.
Neste relato se identificam as ligações como, estar bem no ambiente, e a
liberdade. Quando o sujeito se sente bem em seu habitat, o local faz bem e assim se
assegura uma apropriação do espaço.
Segundo Tuan (1983), o lugar é específico, concreto, conhecido e
familiar. Tuan concebe o espaço de duas formas, a primeira chamou de “lugar” e a
segunda de “espaçamento ou espaciosidade”, uma corresponde aos valores básicos
de afeto e a outra à liberdade, ao uso livre do espaço. A espaciosidade ou
espaçamento equivaleria ao sentimento de estar livre, de se projetar no espaço, real
e ou imaginário.
Rabinovich (2004, p. 95), em seus estudos, apresenta a rua, de modo
geral, considerando um lugar de socialização das crianças; porém, este lugar -
devido à vida corrida das pessoas - que antes era um lugar de encontro, agora é o
lugar da passagem. Na visão da autora, a criança parece, atualmente, estar se
desenvolvendo em um ambiente que considera “ilhas”. Este é um reflexo da
sociedade atual, em que a violência das ruas e o aumento do tráfego de veículos,
têm dificultado a acessibilidade e a atratividade, dificultando assim, tanto
familiaridade quanto a apropriação, pois “na cidade a rua é um lugar de todos os
perigos” (GONÇALVES, 2007, p. 73).
Entretanto, no campo, a apropriação afetiva é uma das formas pelas quais
o jovem busca uma identificação com o entorno. A ligação afetiva com os animais
31
resulta na sensação de bem estar. Para a jovem (3), no contato com os animais e
com o seu ambiente, percebe-se a identificação emocional no cuidado com os
animais do campo.
E eu não vou durmi sem sabe se eu fui tratá dos animais e ter visto que ele tá bem e eu gosto de todos os animais. Eu tô sempre colocando a mão, chamando. Mais os mais íntimo assim tem novilhinha assim né, que eu chego elas ficam parada e eu faço carinho e é bem tranquilo. É porque é desde piquininho eu acostumei a ir com eles né, eu trato, cuido limpo então eu chamo eles e eles atendi. [...] e ele vêm e eles têm um carinho muito bom. Às vezes, a gente tem a compania de um animal assim é bem melhor né. Às vezes, a gente entende mais um animal que um ser humano.
Figura 2: Bezerro de dois meses. Fonte: Silva, 2009.
Neste sentido, se pode observar que, conforme Gonçalves (2007), a
jovem passou a se reconhecer e cuidar do seu ambiente, pois a mesma se identifica
afetivamente.
Assim, quando o jovem tem suas raízes e se identifica com o lugar, ele
passa a buscar resolução para os problemas, busca cuidar e permanecer no seu
território. Além disso, o campo é visto como um lugar que possibilita a liberdade, e
32
esta liberdade não só se expressa pelo mundo físico, mas psíquico. A sensação
desconfortável, de estar preso em um espaço restrito, foi percebida quando a jovem
comenta que saiu de um ambiente, um espaço amplo e com diversidade e não
compactado e verticalizado.
6.2 A Comunidade onde os Jovens Vivem
As comunidades do campo representam um desafio para o saber
científico. Os estudos estão voltados para compreender os agrupamentos sociais,
que se reproduziram a partir da integração sociocultural local. A noção de
comunidade rural compõe a organização e o tamanho do povoamento, a forma de
organização do espaço, as relações constitutivas de seu espaço. A comunidade
rural exerce uma função de proporcionar as famílias uma vida coletiva, mobilizando
ações sociais, conquistando direitos e também fortalecendo manifestações culturais
que identificam os diferentes grupos (STROPASOLAS, 2006).
As relações que os jovens estabelecem com as pessoas na comunidade
onde vivem (os vizinhos, os amigos, estes e outros laços de interações sociais)
fazem com que se identifique com o lugar, pois todos têm atividades semelhantes
pois trabalham no campo (uma característica forte, do trabalho, na região, é a
comercialização de Laticínios).
A jovem (2) comenta que participa das atividades desenvolvidas na sua
comunidade e tem um bom relacionamento com a vizinhança e com os outros
jovens, os quais se reúnem para atividades diversas. Relata:
Ah! A gente convive sempre junto na comunidade, eu participo de grupo de jovem. Aqui em cada comunidade tem um grupo de jovem. A gente sempre participa deste grupo. Estou envolvida na igreja. Eu era líder do grupo de família. Eu sempre participo e procuro participar destas coisas e tem os vizinhos que a gente tem uma convivência muito boa. Tem os amigos e a gente vive assim.
Verifica-se que nas fortes ligações dos jovens com as instituições, a igreja
torna-se um espaço para atuar junto à comunidade e de se identificar com os
diferentes grupos. Segundo Stropasolas (2006) um espaço social priorizado na vida
dos agricultores (as) é a comunidade e/ou a sociedade da capela. A capela tem uma
forte ligação com a cultura dos colonizadores europeus. O centro de uma
33
comunidade sempre serviu de espaço de ligação entre as manifestações diversas,
entre elas “de manifestações do sagrado, do lúdico, da transmissão e intercâmbio de
informações, de reconstrução do mundo cultural” (p.130). Pode-se apontar que nos
centros urbanos encontram-se estas manifestações com frequência, e que nestes
ambientes (as praças, os jardins dos centros urbanos), não raras vezes, também são
esquecidos pelos gestores e pelas pessoas que vivem nas proximidades. Por outro
lado, estes ambientes são lembrados pelos mendigos e pessoas que migram de
cidade em cidade, e para estes, o local representa segurança e abrigo durante a
noite (SILVA, 2008, a).
Quando se pensa nas redes de relações que as pessoas estabelecem
umas com as outras e com diferentes grupos, remete a reflexão da importância do
que Stropasolas (2006, p. 98-112) escreve sobre “o conceito de capital social”.
Segundo o autor, tendo como base diferentes fontes de estudos - dentre eles damos
destaque para Bourdieu (1979) - que concebem o capital social como um recurso de
poderes efetivamente utilizáveis, constitui-se o conjunto de recursos atuais ou
potenciais que estão ligados a posse de relações que se vinculam a um grupo. Estas
relações são construídas a partir de interações objetivas, por residirem umas
próximas, por terem a mesma atividade econômica e também social, existindo
assim, uma troca de recursos, seja material e/ou simbólico, o que se supõe a
proximidade, ocorrendo um reconhecimento, uma identidade grupal, fundamental
para o desenvolvimento do capital social.
O jovem (4) comenta também que não tem problemas com a vizinhança e
que tem um ambiente saudável com os mesmos. Relata que: “com a vizinhança
sempre tive um bom convívio, um ajuda o otro aqui”. Quando o jovem fala em “um
ajuda o outro”, está falando das relações da vizinhança. Sobrevinda do campo, estas
relações entre as famílias são apresentadas como uma forma de cooperação. Em
relação aos vizinhos existe um consenso nos dias de trabalho que exige mais
pessoas trabalhando, ou como em algumas situações excepcionais, um fenômeno
meteorológico, “uma doença grave numa família” (STROPASOLAS, 2006, p.131) em
que ocorre uma das manifestações de reciprocidade mais conhecidas entre as
famílias de agricultores, o chamado “mutirão”. Relata a jovem (1) que: “na época do
fumo a gente troca dia. Eu ajudo ali o vizinho”. Este “trocar dia” é trabalhar na
propriedade do vizinho, “um tipo de ajuda mais comum ainda e consiste em uma
família recorrer à ajuda dos vizinhos para executar uma tarefa para a qual só a força
34
de trabalho familiar não é suficiente” (STROPASOLAS, 2006, p.131), em seguida
este trabalho é retribuído com o mesmo gesto, que envolve certo grau de
espontaneidade. Assim se percebe o sentimento de familiaridade com a
comunidade.
Segundo Heidi Keller (1998, p.460 apud RABINOVICH, 2004, p.76), a
familiaridade aponta para uma construção de apego, seguro ou inseguro,
influenciando o comportamento social ou exploração do meio físico. No que se refere
ao “apego de lugar” como base da construção identitária, sugere que a
familiarização pode levar à identificação e esta ao apego.
Neste sentido, é perceptível um aspecto importante, que resulta no
pertencimento. Para Rabinovich (2004 p.76) com base nos estudos de Gabriel
Moser (in press) este sentimento de familiaridade e solidariedade expressado, seria
a apropriação que resulta em um estado de bem estar e segurança. Vale ressaltar
que um aspecto importante de sua reflexão é a extensão do que a pessoa considera
como sua comunidade e está ligada a qualidade da ancoragem local.
Análogo à internalização da qualidade de apego desenvolvida em relação a uma pessoa como um modelo interno de trabalho, o apego ao lugar em termos de segurança existencial se torna parte do auto conhecimento, da identidade de uma pessoa (KELLER, 1998, p.460 apud Rabinovich, 2004, p. 76).
Neste sentido ocorre uma identificação simbólica com o lugar, pelos seus
vínculos ali estabelecidos. Em concordância com Pol (1996 apud FREIRE, VIEIRA,
p. 32) percebe-se que “o espaço se torna lugar pela identificação” do jovem com seu
grupo social.
Segundo Gonçalves (2007, p. 58) o lugar é “o ponto de práticas sociais
específicas que nos moldaram e nos formaram, e com as quais nossas identidades
estão estritamente ligadas”. Assim, constata-se que este é concreto, conhecido e
familiar.
A jovem (1) comenta o distanciamento entre o rural e o urbano na sua
região. Para ela, na cidade, as pessoas possuem mais vantagens, estão próximas
de um supermercado ou uma padaria; mas no campo, se falta alguma coisa para
terminar um alimento, o vizinho mais próximo é a alternativa viável para solucionar o
problema. Relata que na cidade: “tá perto para ir buscar no mercado ou na padaria.
35
Já no meio rural, aqui a gente não tem muito disso, mas tem. Caso falte o açúcar,
para fazer o bolo, tu vai no vizinho e pédi”.
Figura 3: A vizinhança Fonte: Silva, 2009.
Entretanto, nos dias atuais o campo tem estreitado as suas fronteiras com
a cidade. Hoje já se fala em “rurbano”, devido à fusão entre estes dois ambientes.
Para Silva (2002, p.111) os jovens estão transitando entre “o rural e o urbano,
continuando suas leituras destes dois universos, o que culmina num ideal de vida
rurbano”. A separação entre o rural e o urbano sempre foi um problema social?
Longe de ter uma posição afirmativa, a intenção é refletir sobre os efeitos desta
separação, nas relações que se fazem presentes entre o campo e a cidade.
Conforme os estudos de Martins et al (2009), baseado em diferentes
autores, a primeira concepção de campo é marcada pela negação do espaço rural,
estando este relacionado em contraposição ao espaço urbano. O “meio rural” ainda
é percebido como um local atrasado, inferior, pobre, arcaico; criando a ilusão de que
a urbanização e a industrialização desses espaços seria o único caminho para o
36
desenvolvimento, o progresso, o sucesso econômico, tanto para os indivíduos como
para a sociedade. Neste sentido, as pessoas que vivem no campo são
representadas, pela figura do “Jeca-Tatu”, sujeitos fáceis de serem enganados e
manipulados. Já o espaço urbano fica marcado pelo desenvolvimento, progresso,
sabedoria, produção de conhecimentos, modernidade e riqueza. Quanto ao futuro do
espaço rural, quando se observa que este será gradualmente urbanizado, estaria
longe dizer que este está caminhando para extinção? Segundo os autores citados,
essa perspectiva vem sendo reforçada pela mídia atual, principalmente a televisiva,
através de novelas, desenhos, filmes, programas de humor, dentre outros. O
resultado disso é uma condição de invisibilidade (SILVA, ESTEVAM, 2009b),
“reforçando uma configuração de ‘campo’ atrasado e de um ‘urbano’ ultramoderno,
contribuindo para a supervalorização dos centros urbanos e a desvalorização do
espaço rural” (MARTINS et al., 2009, p. 04).
Porém, se é um ambiente atrasado, não valorizado em alguns momentos
- ou quase sempre, pelo urbano -, para os povos do campo, os jovens que moram,
nasceram e vivem nas comunidades rurais, seria muito pouco expressar em
palavras o valor ao qual atribuem a estes lugares. A comunidade do meio rural é
vista como um lugar de encontro dos jovens, para seus diferentes programas, entre
eles, o lazer no campo. Estas atuações, festas, encontros esportivos, teatro são
também uma forma dos jovens organizarem outros eventos para fora de seus
territórios, com o objetivo de conhecer novos ambientes. Comenta a jovem (2) “a
gente tem o lazer, é para ajudar a comunidade. A gente faz festas e o dinheiro vai
para a comunidade como para fazer assim para viagens”.
Neste sentido percebe-se que de certa forma os jovens do campo buscam
satisfazer suas necessidades de interações sociais, e o lazer é uma delas.
Entretanto, quando eles se organizam e realizam suas atividades, esta é uma das
formas pelas quais eles buscam a visibilidade frente ao esquecimento da maioria
dos pesquisadores e dos projetos governamentais de apoio, quer sejam de
formação, lazer ou infraestrutura. Portanto, os projetos de desenvolvimento
relacionados para o mundo juvenil rural ainda continuam ausentes. Até mesmo como
categoria é imprecisa, variável e heterogênea (CARNEIRO, 2005; SILVA,
ESTEVAM, 2009. b).
Em todo lugar, em toda comunidade, sempre haverá um local de encontro
dos jovens. Na cidade se percebe que os parques e as ruas estão sendo
37
substituídos pelos ambientes fechados. Estes ambientes são as Lan House’s (local
específico para acessar a internet e diferentes tipos de jogos virtuais). No contexto
urbano, os jovens se movimentam para buscar nestes locais, um momento de
encontro entre os amigos, uma forma de diversão e lazer na cidade (SILVA, 2005).
No campo encontram-se diferentes ambientes naturais, como por
exemplo, um rio e sua caída de água, uma bela vista de um monte, etc. O homem
pode se relacionar com seu ambiente de muitas formas. Nos ambientes naturais
pode-se pensar em relacionamentos temporários e permanentes. As pessoas
estabelecem um relacionamento temporário com um ambiente natural quando
visitam um parque nacional, por exemplo. Uma visitação para conhecer a serra
geral, uma área virgem ou área de recreação, para muitas pessoas pode representar
um relacionamento temporário, porém, para os guardas de um parque e outras
pessoas associadas à área em questão, representariam uma ligação com o lugar de
forma permanente. Entretanto, é importante ressaltar que a intensidade, destes
relacionamentos entre homem e natureza, varia de acordo com a circunstância
individual (HEIMSTRA, 1930).
Silva (2008a), com base em diferentes autores, dentre eles ressalta-se
Elali (2007), declara que a paisagem natural é um produto de destaque e tem sido
usado para se obter lucro, como produto a ser comercializado. Para a autora os
ambientes assumem um importante significado na vida das pessoas, pois podem
facilitar ou dificultar a movimentação, favorecendo ou simplesmente inibindo
comportamentos.
Segundo o jovem (5), o rio era - em suas lembranças da infância na
comunidade - o lugar onde todos se reuniam, para nadar e pescar. Comenta: “Ah!,
este rio aqui foi tomado muito banho. [...] de vez em quandu nóis ia pescá, aquela
veis animava mais pescá que daí pegava mais, há uns quantos anos atrás nós ía
pescá pa fritá os pexe di noiti pa come [...]”
Nestes depoimentos observa-se que ocorre uma identificação simbólica
com o lugar, pelos vínculos ali estabelecidos. Assim, em concordância com Pol
(1996 apud FREIRE, VIEIRA, p. 32) percebe-se que “o espaço se torna lugar pela
identificação” do jovem com seu grupo social”. No que se refere a estes diferentes
grupos nas comunidades do texto comentado acima, e compreendido durante as
viagens pelo interior da região de abrangência do Cedejor, os jovens do campo têm
38
se organizado, formando grupos em suas comunidades, as quais desenvolvem
iniciativas voltadas, entre outras, ao lazer. (SILVA, ESTEVAM 2009b)
Figura 4: o rio Fonte: Silva, 2009.
Os modelos identificatórios dos jovens do campo já se iniciam em sua
infância, pois estão envolvidos com o seu mundo real. Este mundo vivido pode ser
simbolizado de diferentes formas: um rio, uma nascente, o gado leiteiro, a montanha,
a paisagem, a casa, a propriedade rural, um objeto, a plantação entre outros. No que
se refere “a plantação”, ela é vista como o lugar de onde a família retira seu alimento
e também, o meio de obter lucro comercializando o produto. Assim, o gosto pela
plantação se dá entre outros “porque ela me dá um retorno [...] até pra ti si mante né”
relata a jovem (1).
Identifica-se que o meio rural sempre foi visto como produtor de matéria
prima de alimento e insumos, ao passo que o urbano, na modernidade, associou-se
a ideia de “avanço”, progresso. O rural se aproxima da ideia de retrocesso e atraso.
Porém, esta ideia tem seus resultados negativos, uma delas é a distribuição de
verbas e incentivo governamentais. O campo, ao longo da história, sofre com a
invisibilidade, falta de políticas públicas e serviços básicos. Tem-se então um
problema que também é urbano (SILVA, ESTEVAM, 2009b).
39
Contudo, observa-se que a comunidade é um local onde os jovens
desenvolvem suas interações com o grupo em que se identificam. Assim, a
comunidade tem entre suas funções, proporcionar a socialização. Estas interações
com os vizinhos e amigos fazem com que se desenvolva o “capital social”
identificando-se com o lugar, seja pelo fato de todos terem atividades semelhantes
ou não.
Figura 5: Plantação de feijão. Fonte: Silva, 2009.
6.3 O Jovem e a propriedade rural
Os jovens, ao relatarem seus registros históricos com o lugar onde vivem,
remetem a pensar no resultado de um encruzamento de sua história social e
individual. Neste sentido, o espaço e o lugar são incorporados, pelas dimensões
subjetivas, despertando o mundo simbólico que se recria no processo de
apropriação.
Para a jovem (1), a propriedade rural sempre foi o local em que buscou
estar presente com a família. Ela comenta que “[...] eu sempre ajudei o pai e a mãe
40
[...]”. Sempre buscou ajudar no que pode e lembrando-se do que mais fazia, no
início das atividades da família, que era cuidar do gado de leite, “tirar o leite e ajudar
buscar os tratos pras vaca”. Comenta que esta era a primeira atividade da família.
O jovem (5) narra que as lembranças do passado, no que diz respeito à
propriedade rural, estão relacionadas com os avós, uma ligação com as antigas
gerações. O jovem relata que quando pensa na propriedade rural, logo se lembra da
saída do avô da propriedade e a chegada de seu pai na casa onde seu avô morou
durante muito tempo, mas que foi embora para a cidade deixando seus pais para
cuidarem das atividades do campo. Outro fato marcante na propriedade foi o
nascimento do seu irmão, o caçula da casa.
Relacionando os diversos depoimentos sobre a ligação com a
propriedade rural, foram selecionados alguns, para melhor compreender o sentido
de lugar e o modo pelo qual os jovens se identificam com o lugar onde vivem.
No depoimento do jovem (4), ele fala sobre o lugar da propriedade com o
qual se identifica e gosta: “O rio, ir para a beira do rio, tomar banho. [...] O rio é um
lugar de lazer, agora nem tanto, mas quando eu era mais novo tomava bastante
banho di rio, pescava. [...] Tem muitas coisas boas. [...] (sorri) eu aprendi a nadar ali,
(sorri)”. Comenta que também gosta de trabalhar com os animais: “é di tá
trabalhando assim com u gado de leite. É aqui na ordenhadeira que eu gosta mais
de trabalhar. Di ta trabalhandu com os animais, [...] as vacas, de tá levando elas
para os piquetis é o cuidado com os animais”.
O jovem (1) cita: “Eu gosto da plantação, porque ela me dá um retorno.
[...] eu gosto de tirar leite [...]. Também gosto da casa enfim, eu gosto de tudo, o
gado de leite”. E um lugar da propriedade com o qual se identifica é o local
específico para o trabalho com o gado de leite: “O rancho. É um lugar que eu tô todo
dia e gosto de tirar leite”.
Para a jovem (2), na propriedade o que gosta mais é o trabalho na
lavoura ou “roça”, comenta: “E da propriedade o que eu gosta é eu gosto de
trabalhar na roça. [...] eu prefiro mais ficá na roça”.
41
Depoimento do jovem (5) sobre a Propriedade:
Um lugar que eu mais gosto específico não tem. Mais é lá pro morro que tu tem a visão da comunidade tu vê u movimento. Tu podi para e pensa como as coisa mudaru, como era antes. Uma vez tu via ali de cima como que era a comunidade uma vez e como é que tá hoje. Tu pode para pensar e coisa. Pensar no tempo como o tempo passa, pensa na vida assim, estas coisas assim. É um lugar bem interessanti o lugar lá em cima.
Figura 6: A paisagem Fonte: Silva, 2009 .
Neste sentido, esta “visão do lugar”, está relacionada à paisagem, que
para a Psicologia Ambiental está intrinsecamente ligada ao mundo intrapsíquico.
Este conceito, em Psicologia, se difere de outras áreas do conhecimento, como por
exemplo, na Arquitetura, em que a paisagem é vista como a organização de
imagens no mundo externo (GONÇALVES, 2007).
Também neste depoimento do jovem (5), quando fala que “Uma vez tu via
ali de cima como que era a comunidade uma vez e como é que tá hoje”, assemelha-
se ao constatado por Rabinovich (2004, p. 95), que em seus estudos na cidade de
São Paulo, com os moradores do bairro, “pode-se observar que na infância em que
‘os limites (de exploração) eram os limites da cidade’ reproduziu-se na idade adulta,
por um crescimento pessoal que acompanha o crescimento da cidade”.
42
Semelhantemente, as diretrizes da formação (UPM, 2007), em seus objetivos
buscam na formação dos jovens, o desenvolvimento do território onde ele vive.
O lugar da propriedade em que a jovem (3) gosta de ficar é em um lugar
que a possibilita visualizar a propriedade rural e criar estratégias para futuras
modificações: “é lá no morro. [...] É onde tem a visão geral [...] dá pra ver a
propriedadi e vê como ela tá, onde tem que arrumá [...]”. Além disso, tem a
possibilidade de se sentir livre, e “ficá sentindo o ventinho fresquinho”. Outras
identificações com o lugar são percebidas no discurso da jovem: “E também no meio
da mata assim, ficá olhando os passarinhos, ficá sentado em baixo de um di arvi [...]
de andar por aí”. Por fim, comenta que estes passeios em contato com a natureza e
com aquilo que ela gosta, “até dá ânimo de voltar para casa e trabalhar mais”.
Figura 7: Visão da propriedade rural Fonte: Silva, 2009.
Rabinovich (2004), com base nos estudos de Louise Chawla (1995), nos
permite uma reflexão sobre a vida das pessoas durante a infância, que parecem
desejar árvores e lugares verdes, pessoas amigáveis, paz, segurança, limpeza e
lugares próximos, onde possam encontrar-se e sentir-se parte de um centro ativo.
Em Londres, os jovens estão lutando para conquistar o espaço público para o
cidadão comum, plantando canteiros e flores, com o objetivo de lutar contra o
43
automóvel. A autora comenta que no Brasil, um estudo da Associação Nacional de
Transporte Público de São Paulo, mostrou que os espaços dedicados aos
automóveis para rolamento e estacionamento público e privado, já correspondem a
mais de 50% do espaço total.
Nesta parte, se busca compreender como o jovem vê sua propriedade
rural, quais são as ligações com este ambiente que marca sua história com o lugar.
Entretanto, mais focado em entender como estes jovens se localizam no seu espaço
- como se apresenta o que se chama de “marco referencial” (SUSTAITA, 1968) -
percebe-se que o campo oferece diferentes atrativos. Assim, o que se ressalta é
que, no campo ou na cidade, estes diferentes espaços são batizados - pois, quando
se encontra um local ainda não conhecido - existe a tendência em logo marcá-lo
com um nome, permitindo assim, a sua localização no espaço. No campo, os jovens
se orientam tendo como referência a natureza, as pegadas dos bichos, a posição do
sol, o cume das montanhas (a Serra Geral), um rio, uma árvore ou uma floresta.
6.4 A Casa e a propriedade rural – um lugar que faz bem
No que se refere ao lugar de maior preferência entre os jovens, constatou-
se nos depoimentos que, na maioria das vezes, o jovem não tem aparentemente um
lugar específico que goste mais, porém comentam alguns ambientes de que
gostavam.
Segundo a jovem (3) o lugar ao qual chama de “cantinho” é o quarto.
Relata: “eu vou dizer assim, o meu cantinho é o quarto, como se diz eu vou ficar no
quarto né. O quarto é o meu cantinho né. Não é meu, mas a mãe deixô lá pra mim
né”.
Para a jovem (1) também o lugar onde ela se sente bem, e que possibilita
momentos de reflexões é o seu quarto, e comenta:
o quarto[...] o quarto é uma coisa que tu tá a bastante tempo, por causo que durante o dia tu anda para cima e para baixo, tu anda por tudo e no quarto tu fica mais tempo, às vezes a gente faz a análise da propriedadi, a prestação de conta. Ou mesmo meditação uma coisa assim. Não é que é especial assim tal, mas é ondi eu me sinto a vontade, bem.
44
O jovem (4) também relata que seu lugar de descanso é “o quarto que é
lugar di discanso e também di tá pensando né, di tá refletindo sozinho do que eu fiz,
do que poderia ter feito melhor [...]”. Assim, o quarto também é um local de
planejamento das tarefas diárias do jovem. O quarto se torna um espaço privado que
possibilita uma introspecção.
Segundo Cavalcante (2004, p.134), quando se pensa na distribuição dos
espaços construídos e seus arranjos interiores, percebe-se que são marcados por
“desejos e necessidades”. As fronteiras que demarcam cada espaço dentro de uma
casa podem ser percebidas por móveis, paredes e portas. Em suas funções buscam
corresponder à satisfação de necessidades que se repetem no tempo. Quando a
pessoa entra em seu quarto e fecha a porta, “o homem cria um espaço em volta de
si”.
Figura 8: O quarto Fonte: Silva, 2009.
Este espaço pode ser percebido de diferentes formas: do sentido de
apropriação, quando a pessoa pode apropriar-se e defende-se de todos os intrusos.
45
Dentro deste espaço, fechado pela própria vontade humana, torna-se pessoal, uma
idéia de apropriação, como relata a jovem (3) “o quarto é o meu cantinho né”; Pode
ser um momento, no qual a pessoa pode estar só e satisfazer a necessidade de se
retrair da sociedade e buscar a intimidade pessoal. Como narrou o jovem (4) “di tá
refletindo sozinho,” e a jovem (2), “na casa eu fico quase mais tempo no meu quarto
onde eu fico lendo é um lugar de eu estudar, então eu fico lá né”. Também pode
estar só, com quem e tudo quanto escolheu para aproveitar o que este quadro, o
espaço, ou outra pessoa pode oferecer-lhe, ou seja, busca de uma intimidade
compartilhada (CAVALCANTE, 2004).
Segundo Piccini (1996) nas casas mais antigas construídas em 1960,
entre as características mais comuns destas moradias, o autor percebe que o piso é
executado no concreto liso, não existindo lajotas nem madeiramento. A estrutura é
de alvenaria e não se utilizavam pilares de concreto. O telhado das casas era
sustentado pelas vigas de madeira. Assim, os cômodos das casas tendiam a ser
menores, e não eram fechados por portas, a não ser o banheiro. No que se refere
aos quartos, existiam cortinas para o uso noturno. Segundo o autor “os espaços de
uso comum cotidiano da família é sempre aberto e com livre circulação,
transformando-se em um único espaço amplo e polifuncional (p.129)”.
Nos espaços dentro de uma casa, de um modo geral, estando abertos ou
fechados, as portas criam um ritmo que dá compasso à vida cotidiana das pessoas.
Neste sentido, satisfazendo necessidades opostas e essenciais ao homem no
espaço, proporcionando momentos de isolamento, de passagem e comunicação
(CAVALCANTE, 2004).
Segundo o jovem (4), a cozinha é um lugar de interação entre os
membros da sua família nuclear: “a cozinha assim é um lugar ondi a gente senta
para tomar chimarrão, a gente bate papo com a família assim, vê televisão”. É
comum encontrar-se a cozinha ligada a sala, ocupando um módulo específico da
construção, sendo um espaço maior que aquele reservado para o fogão. Assim, este
ambiente considerado polifuncional, tem em suas funções a recepção de
convidados. Segundo Piccini (1996, p.143), o binômio, cozinha-estar, foi uma das
características da habitação rural no Brasil, desde as mais antigas moradias rurais,
visto que “a cozinha sempre foi, desde o Brasil colônia, uma peça importante da vida
cotidiana da família rural”.
46
colocar uma cor clara. Mas o que eu queria fazer eu já consegui que era tirar a parede que tinha aqui e o quarto e trazê os sofá aqui para a cozinha. Porque tinha um sofá lá na sala, mas ninguém usava né, e aqui na cozinha tinha assim um quartinho aqui e era tudo meio quase fechado e era tudo muito apertado. Quando chegava alguém ficava neste cantinho assim. Ai nóis conversamos com o pai, que é mais fácil convencer o pai primeiro, daí depois tiramos a parede e colocamos o sofá para cá.(jovem 2).
Neste sentido, a cozinha tem um significado “de estar unida, assim a
família. [...] dialogando cum a família [...] Não tá num lugá isolado né, sempre tá cum
as pessoas”. A cozinha além de ser o lugar de saciar as necessidades de
alimentação, o lugar de preparação da comida, é ou era, o lugar em que as
mulheres passavam a maior parte do seu dia (PICCINI, 1996). Acrescenta-se que
nas diversas viagens para o interior, percebeu-se que no campo as famílias tendem
a ser mais unidas e o momento das refeições se torna um momento para toda a
família se reunir.
Figura 09: Sala e cozinha Fonte: Silva, 2009.
Nos estudos de Piccini (1996), um espaço comunitário da família se dá
entre a copa-cozinha-sala de jantar, um grande espaço único que de certa forma, em
momentos especiais, se transforma em lugar semiprivativo, que recebe os estranhos
e os convidados da família. Já os outros espaços da casa ficam fechados aos
olhares indiscretos. A cozinha tem um lugar de destaque e representa o espaço
47
comunitário mais usado pelos membros do sistema familiar. Em outros casos, a sala
fica afastada da cozinha, estando preservada para ocasiões especiais.
Para o jovem (5) a sala da casa é “o lugar onde a família ta junto e coisa.
É ondi a família mais tá junto, mais conversa, mais fica junto, conversando, vendo
televisão. Passando o tempo junto, é mais na sala”. Esta parte da casa é
normalmente e um ponto central para receber as pessoas, e para a jovem, é um
local de encontro da família, em se estabelecem as interações do sistema familiar.
Nestes depoimentos se percebe que o ser humano procura ajustar seus
comportamentos, conscientemente, imaginando o ritmo de seus desejos e
necessidades buscando satisfazê-los. Segundo Cavalcante (2004), toda casa tem
suas zonas funcionais como os quartos, a cozinha, o banheiro, a varanda etc, assim,
o ser humano busca a privacidade em sua casa, que construiu para dispor de
espaços arranjados especificamente para satisfazer suas necessidades. O fato de
passar aproximadamente oito horas por dia em quartos de dormir, também é para
buscar satisfazer convenientemente esta necessidade orgânica.
6.5 Formas de apropriação do espaço
Percebe-se que existem diferentes formas de se apropriar do espaço e
que o olfato exerce uma influência significativa.
No relato da jovem (3) percebe-se que está presente, entre as
percepções, a percepção olfativa “E tem mais assim o lugá, a tranquilidadi, clima,
cheirinhu de terra, de chuva, o verde, a água, é esta tranquilidade”.
Tuan (1983), questiona: as fragrâncias e os perfumes podem constituir um
mundo? Os sentidos permitem as pessoas, sentimentos intensos pelos espaços.
Segundo o autor, o espaço é experienciado. Constata-se assim, que no espaço, o
corpo é espraiado, ele se move, dá direção. Neste sentido, enfatiza-se que os
sentidos formam e dão a sinistesia (percepção entre a visão, o tato e o olfato).
Nolivro “Cidade Poética” (GONÇALVES, 2007) encontramos o
depoimento da Dona Olga. Ela identifica o cheiro do espaço serrano pelo perfume
das flores, pelo cheiro de comida, embalada pelas cantigas ao redor do fogo.
Também sente o frio na pele. Entretanto, na cidade de Criciúma, um clima mais
quente, percebe sua pele pegajosa, porque está sempre suando. Neste sentido, o
paladar, o olfato, a sensibilidade da pele, audição, não podem individualmente - e
48
talvez nem juntos - fazer com que a pessoa fique ciente de um mundo exterior
habitado por objetos (TUAN, 1983). Porém, em concordância com as faculdades
“espacializantes” da visão e do tato, esses sentidos, essencialmente, são
distanciadores, pois enriquecem muito a apreensão do caráter espacial e geométrico
do mundo (GONÇALVES, 2007, p.142).
No que se refere a estar bem no local, a jovem (3) fala que: “a gente se
sente bem aqui”. Então, quando ocorre a apropriação, como processo de
identificação com o lugar, a pessoa passa ser um agente transformador, pois ao
apropriar-se do espaço, o sujeito deixa sua marca, seja na casa, com a mudança em
uma parte dela, no jardim com o plantio de plantas, grama, no cuidado com o gado.
Ao transformar o lugar, ocorre “um processo de reapropriação constante que vai
desde o entorno, a casa e os objetos dentro dela” (GONÇALVES, 2004, p.19).
Figura 10: Jardim Fonte: Silva, 2009.
Assim, identifica-se que o ser humano tende a buscar um lugar
apropriado, e este é o que satisfaz suas necessidades. A jovem (3) relata que: “Tudo
que planta aqui dentro eu sei como é que se fais, tudo então para mim plantá
verdura, fruta, pra mim não é problema, o problema é eu sai na cidade e não sabê o
que fazê”. Sua maior dificuldade é estar num ambiente desconhecido, ou seja, não
49
familiar. Finaliza comentando que: “[...] Então se for para mim ficar na cidade, aí sim,
eu não conseguiria sobrevivê, aqui eu consigo”. Relacionando a capacidade de uma
pessoa se manter e ter autonomia para viver com dignidade, a vida na cidade tem
apresentado diferentes dificuldades, uma delas é a falta de perspectiva e
oportunidade de emprego (GOULART, 2003). No campo, o jovem busca a
autonomia conversando com seus pais, para que este tenha uma participação nos
rendimentos da propriedade rural. Assim relata o jovem (5) quando questionado
sobre sua independência financeira: “tenho, eu tenho uma porcentagem”.
A independência financeira está relacionada com a tão sonhada
“autonomia” que pode ser analisada “como uma apropriação e internalização dos
espaços pelo corpo/sujeito”. Neste sentido, possibilita uma imagem corporal e de si,
que vai permitir a “apropriação que se dá, neste percorrer, das experiências”
(RABINOVICH, 2004, p. 58). Não se poderia deixar de acrescentar, a importância da
família na construção desta autonomia para o jovem do campo (SILVA, ESTEVAM,
2009, a).
6.6 A família e o PJER
Estudar a contribuição da família para o jovem do campo apropriar-se de
seu espaço, não poderia deixar de se ressaltado neste trabalho. Entende-se que
quando se fala em família, podem-se ter diferentes modos de pesquisar a
importância desta para a vida do ser humano. A família, na área da saúde, é
compreendida como fonte para a saúde ou à doença, do sucesso de uma pessoa ou
fracasso (SILVA, 2009,c) Porém, nesta parte do trabalho se identificará como a
família tem contribuído para que o jovem do campo se aproprie de seu ambiente.
Nos estudos de Silva (2002, p. 101) no Vale do Jequitinhonha - (MG),
percebe-se uma das funções da família:
As observações realizadas em Chapada do Norte também apontam para tal fato, além de demostrarem a importância da família na vida dos jovens. Pois é neste laço afetivo-familiar tão estreito que os jovens vão mediando e formando suas personalidades, construindo suas identidades e suas maneiras de se verem e de se auto-representarem.
Neste sentido, se procurou nos depoimentos dos jovens, compreender
como a família tem contribuído no processo de apropriação do espaço da
50
propriedade rural. Observando que durante a formação, o jovem aprende a realizar
diagnósticos da sua realidade, perceber o que pode ser feito e explorado na sua
região, na propriedade em que habita e assim, possibilitando uma visão mais ampla
da perspectiva de renda para ele e sua família. Depois deste diagnóstico, o jovem
elabora seu projeto, chamado de PJER, neste processo de construção, o projeto
deve resultar em um instrumento efetivo de viabilização de oportunidades de
geração de trabalho e renda.
No depoimento da jovem (3), nota-se que tem se apropriado de seu
espaço. Comenta com autonomia e autenticidade, finalizando, dizendo que tem o
apoio da mãe: “Mas na verdade, eu tenho o meu espaço, eu tenho o meu respeito,
eu faço as coisas, eu tenho o apoio da mãe [...]”. Constata-se que a família é
importante, porém as iniciativas do jovem são fundamentais para a conquista de seu
espaço.
A jovem (1) comenta que sua família procura passar seus saberes da
terra, e recebe liberdade para executar seus planos na propriedade rural. Estes
planos tornam-se o seu projeto. Por fim, a jovem ressaltou a importância do diálogo
e o respeito:
Sim, porque a gente trabalha todo mundo juntu [...] Não é que eles não querem fazê mais, é que eles querem que a gente aprende também. Eu acho que eles me ajudu bastanti e também nesta questão di as coisas para mim fazê na propriedadi eu tenho bastanti liberdadi. Só que sempre há uma conversa, vê si vale a pena ou não, até por eles terem mais experiência que a gente né. Quantos anos eles já tão vivendo? Quantos anos eles já tão trabalhandu? Eles vão sabê se dá lucro ou não.
Carneiro (1998) apresenta em pesquisa realizada na região de Nova
Pádua, Caxias do Sul (RS), com jovens rurais numa “colônia italiana”, que o
compromisso moral é muito forte, e se dá em reconhecimento pela ajuda familiar, o
que gera um sentimento de dívida jamais quitada.
Sobre a participação da família, durante e depois da formação do
Cedejor, a jovem (1) relata que sua família tem se demonstrado participativa, e
recebe apoio dos pais para desenvolver seu projeto na propriedade rural, um projeto
com o gado de leite: “A minha família também me apoiô bastante, eles também
queriam”.
51
A jovem (2) buscou colocar em prática seus conhecimentos e sua família
deu abertura para os experimentos durante a execução do seu projeto: “eu acho que
eles dão a chance e sempre ajudaram para mim tentar. [...] Sempre deram a
oportunidade para mim, de tar construindo, todas as coisas que eu precisei e disse
que queria tentar, eles sempre me deram a chance”.
Conforme o jovem (5), sua formação ajudou, entre outras coisas, para que
a família reconhecesse o seu trabalho, ele conta que tem uma parte dos lucros:
Ah! é tudo conversadu. E depois que eu entrei lá (Cedejor) que eu tenho esta parte da porcentagem do aviário, eu conversei com eles sobre que eu estava só trabalhando em casa e de eu ter uma porcentagem. Então, agora é o meu salário né, antes eu não tinha. Antes quando precesava pedia. E conversando assim eles dão todo o apoio que eu preciso para fazer as coisas aqui dentro né. [...] Para ganhar o espaço na propriedade [...]
No que se refere à experiência no Cedejor, estes jovem relatam que
houve uma mudança na forma com que viam seus ambientes. Durante a formação,
além de poder ter outro olhar sobre sua realidade e melhor se identificarem com o
lugar, eles adquirem conhecimento voltado para as suas necessidades. O Cedejor
trabalha utilizando temáticas voltadas para os eixos: humano, técnico e gerencial. No
eixo humano existem, basicamente, temáticas que são voltadas, para a ética,
sexualidade, meio ambiente, direitos humanos; essencialmente, valores básicos
para estimular a cidadania e o protagonismo juvenil. No eixo técnico, encontram-se
os conceitos e métodos para avaliação das práticas atuais, também estimulando a
construção e realização de empreendimentos rurais, podendo ser com base na
agricultura ou não. Por fim, os trabalhos com temáticas no eixo gerencial, têm as
noções de gestão com ênfase na visão estratégica, aplicada à agricultura familiar e
aos pequenos empreendimentos, com estímulos para a construção de projetos
sociais direcionados para o espaço rural (UPM, 2007).
O jovem (5) relata que obteve:
uma visão mais detalhada da propriedadi. O que nesta área pode ser feito, o que nesta outra pode ou não ser feitu. A gente tem um conhecimento mais detalhadu, na formação foi passada esta visão de ver a propriedade mais detalhada.
Para o jovem (4) o trabalho na propriedade rural foi despertado e
motivado com o início da formação, comenta que:
52
Trabalhava por trabalhar não era assim muito motivado a ficar no meio rural e depois que eu entrei no Cedejor qui me motivou a permanecer a ver as possibilidades, que tinha possibilidades de ter futuro no meio rural. Antes parece que o cara não queria ver que tinha, mas parece que lá mostro que eu tinha condições de permanecer no meio rural e hoje já não me vejo fora do meio rural.
A jovem (1) conta que foi “depois do Cedejor, nu casu, eu tive mais
vontadi di ficar na propriedadi e [...] eu aprendi bastanti coisa”.
Segundo o jovem (5), em sua formação aprendeu muitas coisas que seus
pais demorariam a passar para ele: “E dependendo talvez, dos pais é que demora
mais para passar isso para os filhos. Não é tão já assim que eles pega e passu.”
Com o desenvolvimento das habilidades no Cedejor, a jovem (3) comenta
que tem planos de implantar novos projetos na comunidade.
E no Cedejor eu aprendi di tudo, pessoal, di propriedadi, tipo eu não sabia o que era fazê um projeto. Eu só ouvia na rádio que tal vereador mandou tal projeto para ser feita tal coisa né. E agora tu tem a idéia né, fico melhor, eu até posso montar eu um projeto para a comunidadi. Eu tinha idéia de montar um parquinho aqui na comunidade [..]
Com estes depoimentos observa-se que o apoio da família é fundamental
para que o jovem se aproprie do ambiente onde vive, sinta-se pertencente ao lugar,
atue concretamente, modificando e moldando seu entorno de acordo com seus
ideais ou projetos de vida. Neste sentido, a família representa uma forte ligação de
incentivo e motivação para que o jovem possa, ao final de sua formação,
desenvolver seu PJER, na propriedade rural, alcançando uma autonomia financeira.
Assim, pode-se ressaltar que a autonomia pode ser vista como um sinal de
apropriação do espaço. Este projeto pode ser um projeto do jovem ou também
representar um projeto da família.
6.7 A cidade ou o campo?
O que tem motivado os jovens a permanecer no campo e não ser mais
um na referência dos dados estatísticos do IBGE sobre o êxodo rural? Esta foi uma
das perguntas que os jovens responderam, e constatou-se que eles têm buscado
53
meios para trabalhar no campo e não na cidade. No texto a seguir, busca-se
compreender qual a motivação do jovem para continuar no campo.
Vale ressaltar o que se compreende por cidade. Cidade é um conjunto de
grande concentração de diversidade de objetos geográficos, capazes de oferecer e
acomodar grandes contingentes populacionais em distâncias mínimas, além de atuar
como propulsora das relações ali estabelecidas (GONÇALVES et al, 2007).
Na visão da jovem (3) a cidade representa a imagem de um local fechado.
Ela apresenta a cidade retratando-a como, “a praça”:
E na praça é todo mundo infiado dentro de casa, é claro que tem as cidades grande que tem mais lazer, mas aqui na cidade não tem lazer, então o pessoal fica infiado dentro de casa. Então, eu prefiro ficar aqui sem todo aquele dinheirão e me sentir bem, tranquila, sem doença, do que ficá morando trancada dentro de casa.
Diante disso, entende-se que um dos grandes problemas no campo é o
êxodo rural, tendo como resultado um aumento desordenado das cidades. No meio
urbano surgem outros problemas para os jovens (população no geral) enfrentarem,
ficando evidente e mais espantoso quando se assiste um noticiário, que tem como
pauta do dia, a criminalidade, o uso abusivo de drogas, o desemprego e uma série
de outros problemas sociais que, de certa forma, deixam as pessoas enclausuradas
em suas casas e apartamentos. Estes conflitos continuam a desafiar a capacidade
de se manter uma qualidade de vida saudável. Contudo, os resultados têm reforçado
a retomada de reflexões sobre a juventude brasileira (SILVA, OLIVEIRA, 2007).
Também, quando se pensa na sociedade e na forma como se organiza,
concorda-se com Gonçalves (2007) no que diz respeito a ter-se consciência da
valorização das expressões estéticas dos seres humanos. Fazendo esta tentativa
valoriza–se a construção de um novo pensamento, que leva em consideração o
simbólico, o mundo subjetivo das pessoas. Pensar em planejamento urbano é
pensar na construção de alternativas que valorizem a subjetividade dos moradores
que ali habitam. Corrobora-se com Siqueira (2007) quando trata do ponto de vista
psicológico, em que se podem ver os problemas sociais, como o desenvolvimento da
cidade, sem se pensar na qualidade da segurança, o conforto social da sua
população. O que para o autor, torna a cidade fragilizada pela falta de projetos
54
direcionados para a cidade, visto que possui o sonho de enquadrar-se nos modelos
de consumo pós-moderno.
Conforme Santos (2008), atualmente os estudos buscam identificar o que
é rural e o que é urbano, embora estes termos, com o passar dos anos, tenham
perdido uma definição clara, as quais, o autor explica, a partir de fatos históricos
ocorridos na Europa, que se refletiram no Brasil. A colonização e a organização do
espaço brasileiro têm a sua gênese relacionada aos interesses europeus e, em
particular, aos de Portugal. A autora com base nos estudos de Lefebvre (1991),
explica que o surgimento das cidades se deu através da industrialização, porém não
deixa de salientar a relação intrínseca da cidade com o campo; “a cidade precisa do
meio rural” (jovem 1).
Entretanto, buscando o objetivo principal deste trabalho, que é o de
compreender qual a motivação do jovem para continuar no campo, encontram-se os
seguintes depoimentos:
É de ter o meu próprio negócio, di tá trabalhando no que é meu né. Isso é o qui mi motiva a tar todo dia trabalhando aqui. Tu sabe que vai ter um retorno cum isso e que é da família isso aqui e que é pra nóis que tamo trabalhando né. É o qui mutiva nóis a tá trabalhando aqui e tá permanecendo no meio rural. [...] é saber que estou trabalhando no que é para mim. [...] o serviço é teu, tu sabe que tu é o patrão, né. Nós trabalhamos com a família né, mas tudo é combinado com a família, não é nada só um que manda, é todos que são iguais né. (jovem 4)
55
Figura 11: O trabalho Fonte: Silva, 2009.
[...] o cara tá trabalhandu no que é du cara né. Não tá trabalhandu pra um patrão para manter os outros. [...] E o cara na verdade tá mais livre, se o cara tem que sair um dia, tem um compromisso é só se programá, o cara podi i, não precisa tá pedinho permissão pá outro, o cara memu a ali né. Pa isso o cara tem mais liberdadi pa isso né.(jovem 5)
O jovem (2) também ressalta que: “[...] a gente poder ter as nossas idéias
e se mandar próprio, não ter ninguém, porque patrão é uma coisa eu já acho que
não conseguia trabalhar numa firma fechada coisa assim. Aqui a gente tem o ar [...]”.
Percebe-se com os depoimentos, que os jovens têm buscado uma autonomia
financeira com a apropriação do “próprio negócio”. Uma idéia de trabalho voltado
para a união da família; um trabalho em contato com a natureza, que neste sentido,
poder-se-ia destacar, a liberdade. Também se pode refletir sobre o individualismo,
típico do mundo capitalista. O que remete a pensar em como o trabalho na
agricultura familiar desta região tem procurado a idéia de economia solidária, e como
tem se dado o trabalho voltado as cooperativas entre os agricultores?
56
Figura 12: Sistema Voisin (Leite a pasto) Fonte: Silva, 2009.
57
7 CONCLUSÃO
Ao buscar compreender como o jovem do campo tem se apropriado do
lugar onde vive, a pesquisa procurou a alcançar a dimensão psicológica do sujeito,
bem como, os processos simbólicos, cognitivos, afetivos e interativos. Foi o desafio
que se propôs nas linhas iniciais deste trabalho. Assim, ao se abordar estes jovens
em seus ambientes, procura-se dar visibilidade aos hábitos de vida. Entende-se que
espaço é um conceito amplo, mas neste trabalho buscou-se compreendê-lo como o
continente de vários lugares, onde o jovem efetiva o processo de significação. O
termo “habitar”, está relacionado à apropriação dos diferentes espaços - físico,
simbólico, emocional e cultural - nos quais estão todos os lugares, as pessoas, as
coisas e os objetos com os quais o ser humano estabelece uma interação.
O objetivo deste estudo foi alcançado no momento em que os objetivos
específicos foram contemplados na seção seis: ‘Apresentação e análise dos dados
da pesquisa’, - na qual se buscou responder as inquietações vindas de outros
estudos; compreender a partir da Psicologia Ambiental, a concepção de apropriação
do espaço para o jovem do campo; tendo como problemática o êxodo campo/cidade;
investigar se a identidade de lugar do jovem do campo contribui para a sua
permanência no meio rural; identificar, por meio dos conceitos de pertença,
cultivação e personificação se ocorre a construção da identidade de lugar nos
sujeitos pesquisados.
Na análise do estudo vigente, identificaram-se os seguintes resultados:
relacionados à identidade de lugar, em concordância com os diferentes autores
estudados, os jovens pesquisados apresentam laços significativos com o lugar em
que vivem, pois as raízes com o lugar resultam a incorporação à identidade do “eu”.
Este processo foi detectado quando os jovens atuam com ações concretas no seu
entorno, relacionado à conquista do espaço desejado, adaptando-o, colocando
neste, as características pessoais.
Este processo de ações e interações com o ambiente, de acordo com os
conceitos da Psicologia Ambiental, a apropriação do espaço envolve diferentes
processos: cognitivos, simbólicos e afetivos. Estes processos foram ao longo da
análise apresentados. Assim, percebe-se claramente a presença destas
características nos jovens entrevistados. Dá-se destaque para os processos
58
simbólicos em que se destacam as diferentes formas com as quais os jovens se
identificam com o seu entorno, valorizando e preservando o lugar; e aos processos
afetivos relacionados à atração ao lugar, resultado de um ambiente apropriado que
foi considerado pelos jovens, em diferentes momentos, um lugar (o campo) que lhes
proporciona “bem estar” psíquico. Neste sentido, o lugar é onde ocorrem as
representatividades simbólicas. Contudo, no campo, a apropriação afetiva é uma das
formas pelas quais o jovem se identifica. A ligação afetiva com os animais resulta na
sensação de bem estar. Esta interação/contato com os animais é manifesta à
identificação emocional intrínseca no cuidado com os animais do campo.
Ao estudar a importância do ambiente apropriado para os jovens,
compreende-se que quando a pessoa se sente bem, gosta e se identifica com seu
ambiente, este é um dos requisitos para que o sujeito possa estar bem
psiquicamente.
Neste sentido, detectamos a presença do “enraizamento” com o lugar,
visto que os jovens se sentem pertencentes ao lugar, resultado da apropriação nos
aspectos físico, simbólico, emocional e cultural. Os processos cognitivos ou “marco
referencial” para os jovens do campo é marcado por referências de localização: as
montanhas, bosques, lagos, rios, fontes, árvores e as plantas naturais. Foi possível
compreender que o espaço físico apropriado e vivenciado concretamente e
representado simbolicamente pelos jovens, influenciará na maneira como vai
perceber, agir e interagir consigo e com o ambiente, resultante da sua permanência
no campo.
Assim, quando o jovem tem suas raízes e se identifica com o lugar, ele
passa a buscar a resolução para os problemas, busca cuidar e permanecer no seu
território. Para o jovem do campo, seu habitat é visto como um lugar que possibilita a
liberdade, não só expressa pelo mundo físico, mas psíquico.
Nas diferentes fontes utilizadas neste estudo, não se poderia deixar de
falar nestas linhas finais, sobre a importância da comunidade e da família para a
apropriação e identificação com o lugar. Como relatado, a comunidade rural exerce a
função de proporcionar as famílias e aos jovens uma vida coletiva, mobilizar ações
sociais, conquistar direitos e também de fortalecer manifestações culturais que
identificam os diferentes grupos. Neste sentido, as relações que os jovens
estabelecem com as pessoas na comunidade onde vivem, como os vizinhos, os
59
amigos e outros, fazem com que desenvolva o sentimento de familiaridade. A
familiaridade é a apropriação que resulta de um estado de bem estar e segurança.
Nessa pesquisa, ficou evidente a importância e o valor que as pessoas
que vivem no campo abrolham ao termo, que há muito tempo Bourdieu (1979),
chama de “capital social”. Assim, observou-se que os jovens desta região, por
residirem próximos, por terem, entre outras afinidades e habilidades, atividades
semelhantes, estabelecem laços de interações sociais, existindo naturalmente trocas
de recursos, seja material, simbólico ou cultural, o que se supõe a proximidade,
ocorrendo um reconhecimento, uma identidade grupal, essencial para o
desenvolvimento do capital social.
Por fim, na análise das entrevistas, tornou-se visível que o jovem tem
buscado sua autonomia financeira, e a apropriação do “próprio negócio” é a
motivação para o jovem continuar na propriedade rural. A idéia de trabalho está
voltada para união da família; em contato com a natureza e neste sentido, pode-se
destacar o sentimento de “liberdade”. Também se pode refletir sobre o
individualismo, típico do mundo capitalista. Esta visão capitalista, a qual preocupa
este pesquisador em pensar como o trabalho na agricultura familiar desta região tem
procurado a idéia de economia solidária, e como tem se dado o trabalho voltado as
cooperativas entre os agricultores? Ressalta-se assim, a necessidade de se criarem
redes cooperativas entre os agricultores, que possibilitem uma luta mais igualitária
com as grandes indústrias monopolizadoras do comércio de produtos, outrora típicos
dos povos do campo. Neste sentido, valorizar o produto não só na visão capitalista,
mas expandir para uma coletividade e porque não, uma economia solidária?
Todavia, como limitações da pesquisa, apontam-se os seguintes
aspectos: uma questão não abordada neste trabalho e que possibilita novas
pesquisas é investigar quais os impactos de uma economia solidária para esta
região no comércio dos produtos; analisar mais detalhadamente como o jovem do
campo percebe a importância dos valores culturais, suas tradições, costumes de
antigas gerações; abordar as dimensões cognitivas de crianças que vivem no campo
para o desenvolvimento de habilidades escolares; estudar mais profundamente
sobre o significado da casa, investigando quais as relações com a colonização do
Sul do Estado Catarinense. São questões para possíveis reflexões futuras.
60
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SILVESTRO, Milton Luiz et al. Os impasses sociais da sucessão hereditária na agricultura familiar . Florianópolis: EPAGRI, 2001. SIQUEIRA, Marina Toneli. De cidade atrasada a capital de melhor qualidade de vida. In: XII Encontro da associação Nacional de Pós-Graduaçao e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, de 21 a 25 de maio de 2007, Belém – PA (Pará). Anais do XII Encontro da associação Nacional de Pós-Graduaçao e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, 2007. STROPASOLAS, Valmir Luiz. O mundo rural no horizonte dos jovens. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2006. TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. S. P.: DIFEL, 1983. UPM. Programa Empreendedorismo do Jovem Rural. UNIDADE POLÍTICO-METODOLOGICA. Instituto Souza Cruz, Maio de 2007. VALERA, S. Psicología Ambiental: bases teóricas y epistemológicas. En L. Íñiguez y E. Pol (Eds.), Cognición, representación y apropiación del espacio. Psico-socio Monografies Ambientals, 9. (pp. 1-14). Barcelona: Publicacions Universitat de Barcelona, 1996. Disponível em: http://www.ub.es/dppss/psicamb/5_Monogr9.pdf. Acesso em: 12 nov. 2008. ZAMBERLAN, Sergio. O lugar da família na vida institucional da Escola -Família: Participação e Relações de Poder. Dissertação de Mestrado apresentada no Curso de Ciências da Educação, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Educação da Universidade Nova de Lisboa, 2003.
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APÊNDICES
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APÊNDICE A – Questionário aplicado aos 05 Jovens eg ressos do Cedejor
(ESG)
Dados de identificação
Nome:
Idade: Data de nascimento: Sexo:
Projeto PJER:
Formação: conclusão data: Posição entre os irmãos:
Filiação
Pai:
Mãe:
Número de filhos:
Endereço:
Telefone:
Local da entrevista:
Tamanho da propriedade:
Instrumento utilizado:
Duração da Entrevista:
Roteiro da entrevista
1. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as
suas relações com as pessoas deste lugar.
2. Qual o local da casa e da propriedade que mais gosta?
3. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa? E em sua propriedade?
4. O que te motiva morar em sua propriedade rural?
5. O que tem desmotivado a viver no campo?
6. Comente sobre sua experiência no Cedejor e como era sua visão da propriedade
rural antes do Cedejor e depois da formação, qual é?
7. Sua família tem ajudado de que forma neste processo de conquista do seu
espaço?
Data da entrevista: ___/ ___/ ____
Entrevistador:____________________________
70
APÊNDICE B – Entrevistas Transcritas na integra (co mo relatadas)
Obs.: A inicial (P.) no texto foi à fala do pesquisador e a fala dos jovens são
identificadas após a letra (R:).
Jovem (1)
Dados de identificação
Nome: E. E.
Idade: 23 anos. Data de nascimento: 12. 10 1985 Sexo: F
Roteiro da entrevista
1. P. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as
suas relações com as pessoas deste lugar.
R: Eu nasci aqui no Município de Rio Fortuna, estudei alí também. Sempre morrei
aqui, nunca saí daqui, sempre trabalhei na roça eu estudava em Rio Furtuna e no
outro período eu ajudava os pais e fazia as tarefas. Depois eu a formação no
Cedejor ficava uma semana lá e as outras três aqui em casa. Nunca trabalhei fora
assim ter exemplo de trabalhar fora nada, sempre trabalhei aqui.
P. Qual é a tua ligação com esta propriedade assim sua historia com ela?
R: eu acho que é num todo geral, porque eu sempre ajudei o pai e a mãe, mas eles
nunca deixaro eu trabalhar nu veneno, assim era passado poucos ou se não de
maquina e o pais era quem passava ou pagava outro para passar. Mais nos demais
serviços eu ajudei em tudo assim e o que eu mais fazia era tirar o leite e ajudar
buscar os tratos pras vaca porque esse era o primeiro meio de viva primeiro né. Ai
depois a gente começou a plantar fumo daí eu comecei a ajudar no fumo também e
em si eu ajudo em tudo.
P. E com esta casa, ela sempre foi assim, qual é a sua historia com ela?
R: Ela antes era um pouco diferente, em 94 acho, quando eu tinha 8 anos quando foi
reformada assim. Mas a minha ligação com esta casa eu não tenho lembranças só
sei que ali era a casa e aqui era mais para lavar roupa estas coisas assim. Como eu
te disse antes quando eu e minha irmã nascemos a mãe tinha intenção de morar
deste lado e no outro morava os meus avos. Mas eu não me lembro de muita coisa.
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Mas como a minha a vô já era assim de idade foi morar todo mundo junto assim. Daí
sempre foi assim, nunca foi reformado, pintado nada.
P. E como é sua relação com as outras pessoas de sua comunidade, os vizinhos,
você tem amigos, como é suas relações com as pessoas aqui desta comunidade?
R: eu tenho bastante amigo porque assim eu sou bastante conversadeira eu
converso bastante coisa ai fica mais fácil. Mas é como se diz pode ter um monte de
amigo, mas verdadeiro mesmo é difícil assim que eu considero verdadeiro,
verdadeiro eu tenho bem poucos. Eu confio bastante na mãe, pessoas assim que eu
mais confio é na mãe assim que eu converso e troco coisas assim, mas no geral eu
conheço bastante gente até porque eu convivo com eles. Eu faço parte ali da liturgia,
sou ministra então eu to bastante presente com eles. Na época do fumo a gente
troca dia eu ajudo alí o vizinho. Então a gente conversa bastante assim, que nem
agora a gente não conversa tanto com as pessoas que plantam fumo porque a gente
ta trabalhando. E aqui em casa é assim às vezes um fala alguma coisa mais é leve
não tem ressentimento com ninguém.
2. P. Qual o local da casa e da propriedade que mais gosta?
R: eu acho, eu gosto de tudo assim. Eu gosto da plantação, porque ela me da um
retorno. E dos serviços em tudo assim eu gosto de tirar leite, só que quando tem
bastante leite, quando não tem, não é que a gente não gosta, mas é que tem
pouquinho leite aí a não ti anima. Também gosto da casa em fim eu gosto de tudo,
eu não tenho assim um espaço preferido. Por causa que eu acho assim, tudo tem
que ir bem se uma coisa não vai bem não, qui nem se a plantação não deu certo,
tipo no milho se não chuveu na época certa, tipo assim. Isso já vai me prejudica lá
no ranho porque não vai te tanto pra produção pras vacas. Então eu acho qui em si
eu gosto de tudo.
P. E tem assim um lugar onde você se sente bem estando lá, que você gosta?
R: eu acho que o quarto, não que é, eu acho que é o quarto, que é em si pode ser a
cozinha, mas eu acho que o quarto é uma coisa que tu ta a bastante tempo, por
causo que durante o dia tu anda para cima e para baixo, tu anda por tudo e no
quarto tu fica mais tempo, as vezes a gente faz a analise da propriedadi, a prestação
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de conta. Ou mesmo meditação uma coisa assim. Não é que é especial assim tal,
mas é ondi eu me sento a vontade, bem.
P. E da propriedade?
R: O rancho. É um lugar que eu to todo dia e gosto de tirar leite. No caso é de
ordenhadera.
3. P. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa? E em sua propriedade?
R: Eu gostaria de reformar a casa pintar, como eu disse nunca foi reformada a ultima
foi a mais de 10 anos. Eu gostava de coloca piso que nossa casa é açualho, eu
gostava não de se chique, coisa assim, mas eu gostava assim que fosse mais
pequena, no casu a casa fosse menor e também pra fica mais fácil de limpa. Aí eu
podia ter mais tempo para fazer outras coisa que nem hasveis eu levo quase um día
para deixa tudo limpu e até que passe em toda a casa, todo o lugar. Então eu
gostava se fosse assim mais pequeno e que tivesse pisos estas coisas assim que
seria mais fácil para trabalhar que não custava tanto tempo assim.
P. E da propriedade?
R: eu gostava de melhora, há eu gostava de melhora bastante coisa, o ranchu,
gostava de melhora a pastagem, gostava de melhora assim tem uma roça que tem
pedra e era preciso uma drenagem para limpa. São tudo coisas que com o tempo a
gente pode fazer não é de uma hora para outra, mas com o tempo a gente fais. E
daí era mais fácil para a gente trabalha qui nem agora eu gostava de ter aquela
espinha de peixe, é que eu gostava que o leite fosse direto para o resfriado, que a
gente não precisava ta carregando o leite só que como a gente agora esta tirando
pouco leite daí não compensa, não traria lucro. Eu gostava de aumentar a produção
de leite e investi na espinha de peixe que daí o leite ia direto para o resfriado. São
coisas que eu quero ter que terna as coisas mais fácil para a propriedade.
P. O que você já fez em sua propriedade no geral?
R: Assim em si eu acho que não é só eu, eu acho que todo isso que eu falei, que
gostava de mudar não é só eu, a família toda em si. E o que eu já fiz? Eu já cuidei
para aumentar a produção de leite, nóis tamo cuidandu das novilhinha, já fizemu
mais uma roça ali atrais é uma roça de feijão ali na pastagem pra aumenta as roça,
73
nos já fizemu 20 piqueti que foi idéia minha do meu projeto. A minha família também
me apoio bastante, eles também queriam. Assim agente não tivemu estágio, mas
tivemo visita técnica em quatro produtores e a gente podia levar acompanhante e
cum isso eu levei o pai e a mãe e eles viru e gostaru da idéia e me ajudaru a faze.
Então já temu mais fácil e já melhoro na produção, nas roça i a pastagem em si não
que teve um melhoramento, mais já teve assim um começo a gente já compremo a
roçadera pra roça os piquetes. Então em si como eu disse antes, com o tempo tu vai
conseguindo assim, eu acredito. E na casa, o que eu gostaria de mudar que também
é uma idéia de doto mundo, não é que não foi feito nada tem a questão financeira e
nóis não podemu tirar o dinheiro de um luga para te a casa bunita i coisa chiqui e
fica devendo. Então é melhor a casa como ta e a gente i trabalhando e depois
quando tem dinheiro tem as condições ai da pra faze, não é que é uma coisa que
não foi feito mas é faltou condições.
P. Você se sente bem aqui na casa e na propriedade?
R: me sinto, mi sintu porque eu gostu e eu to assim serviço que eu gosto, eu gosto
de lida com os animais. E assim eu não saberia saber assim como me dá num
serviço na cidade porque eu nunca trabalhei até no começo tinha gente que dizia pra
não ir pro Cedejor e procurar um emprego para mim ver se eu queria mesmo ficar na
propriedade ou trabalhar, mas eu nunca quis sai assim da propriedade e aqui eu mi
do bem, só que parece que tem um ar pesado uma coisa assim. Não sei se isso é
por causa de antigamente aqui era muita briga e isso fico aqui, mas se não eu me
sinto bém. Eu só acho assim um ar pesado, mas vezes isso pode ser até o próprio
tempo assim, até como o mundo tá indo e coisa. Mas se não eu me sinto muito bem
aqui porque eu to ondi eu gosto e todo mundo assim, procura fazer o bem um pro
outro assim aqui em casa para não te discussão de um querendo uma coisa o outro
outra é conversado e visto o que é melhor.
4. P. O que te motiva morar em sua propriedade rural?
R: É quando tu planta alguma coisa assim uma variedade, assim qualquer coisa que
for, o milho, o fumo e aquilo te da retorno. É quando investi em alguma coisa e
aquilo te da um lucro um dinheiro. Eu acho que é isso. E eu acho que é em tudo
assim, porque eu acredito que aqui no meio rural tu tem mais diálogo, todo o dia tu
senta com a família, na hora do café, na hora do almoço, na janta. Já na cidade eu
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vejo que um trabalha um período o outro notro. Então, em si eu gosto quando a
gente investe em alguma coisa e te dá o retorno, até pra ti si mante né. Eu gosto de
ta todo dia com minha família de sentar a mesa e poder almoçar todo mundo juntu.
Gosto de que nem aqui, na cidade as vezes tu ta fazendo uma comida e falta
alguma coisa tu ta pertinho, tu ta perto para ir buscar no mercado ou na padaria. Já
no meio rural, aqui a gente não tem muito disso, mas tem caso falte o açúcar para
fazer o bolo tu vai no vizinho e pedi. Tudo me motiva a fica aqui assim.
5. P. O que tem desmotivado a viver no campo?
R: muita gente fala assim que no meio rural, que estas crise que esta dando que vai
atingi muito o meio rural que não vai ter retorno. A gente já se preocupa será o que
vai acontece com o meio rural ou se não as pessoas em si os outros jovens. Mas, o
que mi dismotiva a ficar aqui é quando o tempo não ajuda é nu caso assim, na
plantação depende do tempo. Não mais isso não mi dismotiva porque é uma coisa
continua. O que me dismotiva assim não tem nada que me faça mudar de idéia só
que às vezes tem aquelas pessoas que dizem que na cidade é melhor e se tivesse
lá todo mês tinha o teu dinheirinho ou podia fazer o que queria. Que nem aqui todo
mundo trabalha junto. Se eu vou sair em algum lugar e o pai me da tanto em
dinheiro, todo mundo trabalha e quando precisa avisa que ta pegando o dinheiro
para isso. Eu acho que nesta questão financeira não mi dismotiva. O que pode me
desmotiva é as pessoas de fora que dizem que na cidade da mais lucro, que todo
mês tu recebe ou tipo eles falam que no meio rural não da nada e coisa. Mas é isso
se não tem uma coisa seria que mi dismotiva a ficar aqui.
P. O que você esta falando seria assim, também o preconceito?
R: O que eu lembro assim, mais era na escola que eu era menina e quem mais
sentia era os meninos assim, era que tinha mais alunos da cidade e hasveis eles
vinha e diziam que era os cabloclo, mas eu nunca senti assim por eles falarem
assim, porque se eles falam isso como é que eles estão né, e se eles falam é porque
eles mesmos queriam ser o que a gente é. Mas eles falam isso de nóis e se nóis for
pra cidade também o que eles vão come lá é que quase 80 90 % da comida vem do
meio rural. Tudo é uma plantação, uma coisa feita é claro que a maioria é de
grandes fazendeiro que tem trigo, soja estas coisa estas são de grandes fazenderos.
Só que um dia eles também vão precisa destes pequenos produtores.
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6. P. Comente sobre sua experiência no Cedejor, e como era sua visão da
propriedade rural antes do Cedejor e depois da formação, qual é?
R: eu via assim a propriedade rural como uma coisa assim para a subsistência para
a vida, porque em si a cidade precisa do meio rural. Eu achava assim, que no casu
eu via a propriedadi importanti por causa que ela pudia sustentar outras pessoas. E
antes a propriedade eu achava que era uma coisa normal que tinha que produzir
alimentos produtos e a partir disso tinha que obter uma renda para ti sustentar e
sustentar as outras pessoas da cidade. E depois do Cedejor, nu casu eu tive mais
vontadi di ficar na propriedadi e acredito que é estas mesmas coisas, de trabalhar
para ti ter lucro e também tem que trabalhar para sustentar as pessoas da cidadi. Só
qui daí eu tive mais vontadi di ficar na propriedade eu aprendi bastanti coisa.
7. P. Sua família tem ajudado de que forma neste processo de conquista do seu
espaço?
R: eu acho que sim, porque a gente trabalha todo mundo juntu e quando a gente
começa assim, numa plantação ou em qualquer um serviço não é qui elis chama a
gente pra ajuda eles, é que eles querem que a gente aprenda pra depois a gente
faze. Então a mãe faz bastante isso comigo e a minha irmã, e se a gente quer ir
junto para ela mostra para nos na próxima vez faze. Não é que eles não querem
faze mais é que eles querem que a gente aprende também. Eu acho que eles me
ajudu bastanti e também nesta questão di as coisas para mim faze na propriedadi eu
tenho bastanti liberdadi. Só que sempre a uma conversa, vê si vale a pena ou não
até por eles terem mais experiência que a gente né, quantos anos eles já tão
vivendo, quantos anos eles já tão trabalhandu eles vão sabe se dá lucro ou não. Qui
nem eu, sempre quis planta melancia eles sempre mi deixavam planta melancia. Daí
o primeiro ano eu plantei, deu lucro o segundo ano aí eu entreguei pra AGRECO,
mas também foi difícil porque a melancia numa semana ela fica tudo madura e a
AGRECO não aceitava pega mais de 500 kg por veis. Então eu tive que apanhar e
deixar ela apanhada pa depois entrega pra eles. E daí no outro ano estrago da
pedra. Então eu queria muito faze, eles me ajudavu faze e fizerum com que eu
percebesse que não que a melancia não da lucro. Ela da assim para ti planta, pra ti
come assim pra subsistência. Agora pra vende e coisa pra fora é preferível planta o
fumo eu acho no luga da melancia, nu luga da roça de melancia tu planta uns 3 mil
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de fumo a mais. Mas é como eu disse não adiante planta um monti di fumo e depois
a estufa não da conta a gente não da conta de passa pelo fumu tudo i coisa assim.
P. E quais são as dificuldades de se plantar fumo?
R: A maior dificuldadi da gente mesmo é a sementi, porque em si começa ali se
semente nasce bem e se disenvolve bem eu acho que é vantagem. Mas muita gente
fala que a maior dificuldade é colhe, é que é dois dias só e é bem quente, mas eu
acho que é só dois dias pra colhe ou si não de tira lenha assim que é pesado. Qui
nem este ano nois fizemo de eucaliptu, nois disbastemu o eucaliptu e queimemu
eucaliptu, mas tem ano que a gente faz com lenha nativa mesmo. Eu acho difícil na
parte de queima lenha pra estufa e a sementi. Em si são se tu tem vontade de faze
nada é difícil, mas num todo assim tudo é difícil, porque tu tem que judiá pra faze,
assim eu acho.
P. O que hoje o produtor rural tem mais lucro?
R: eu acho que no fumo e no leite. Por causo que o leite, pode assim faze uma
pesquisa assim o leite é pra ti si mante e daí tu plante uma outra coisa pra tu investí.
Eu acho assim, o fumu é qui da mais retormo por causa qui tu planta u fumu, em si o
sindicato e a empresa eles tem um preso fixo. Ele não a alteração de preço e tu
pode entregando de acordo com o teu serviço e tempo. Qui nem o ano passado a
gente termino de entrega o fumo no final de maio e começo de junho. E este ano
nos já acabemo. Então se ta passando bem a gente manda se não a gente vai
esperando.
P. Tu teria mais alguma outra coisa para falar que já não tenhamos conversado e
que você gostaria de falar?
R: eu só gostaria de agradecer a tua presença de tu ter vindo aqui para fazer a tua
pesquisa, porque em si eu falo bastanti mas eu falo assim o que eu penso e o que
eu acho. Eu também achei estas pergunta bem elaborada eu achei que nenhuma
era difícil de responder elas eram bem objetiva. Você perguntava e eu já sabia o que
responde assim. Às vezes faz pensa assim, o que eu ia responde, será que eu
prefiro aquilo, ou será que eu prefiro isso. Eu digo fácil de responde por causa que é
no meio ondi a genti vive e o que a gente faz, mas as vezes a gente tem que pensa
um poiquinho no que vai responde.
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P. Eu também agradeço. Muito grato.
Data da entrevista: 24/ 04/ 2009
Entrevistador:____________________________
Jovem (2)
Dados de identificação
Nome: Ad. S.
Idade: 23 anos Data de nascimento: 06.08.1985 Sexo: F
Roteiro da entrevista
1. P. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as
suas relações com as pessoas deste lugar.
R: Eu nasci aqui. O pai comprou este terreno, e nos morávamos aí em baixo. Então
foi quando ele casou e comprou a prestação e terminou de paga. Eu sempre morei
aqui eu vou sair daqui agora. Mas a gente vive desde só trabalhando com a
agricultura né. É só uma atividade onde vinha dando um pouco de problemas por
que a gente passa a ter umas dividas e umas coisas assim né. Porque é só aquilo ali
e não tem oputra renda para entrar para a família. Daí foi ondi eu procurei estuda
para ajudar na família para que a gente tenha uma nova atividade pra ajuda o pai
com uma idéia nova pra gente pode fica aqui, mais o restante é bom.
P. E a historia assim com este lugar assim como foi?
R: a gente se criou aqui desde pequena. Estudei por aqui nunca saí, só sai para
estuda.
P. E esta casa qual é sua história com ela?
R: Esta casa é do pai, mas eu me criei aqui com minha família.
P. E tua história assim com a vizinhança, com a comunidade, os amigos como é?
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R: há a gente convive sempre junto na comunidade eu participo de grupo de jovem.
Aqui em cada comunidade tem um grupo de jovem a gente sempre participo deste
grupo. Estou envolvida na igreja eu era líder do grupo de família eu sempre participo
e procuro participar destas coisas e tem os vizinhos que a gente tem uma
convivência muito boa. Tem os amigos e a gente vive assim.
P. E como surgiu estes grupos?
R: o Reginaldo de Grão Pará quando ele era vereador ele teve esta idéia de ser
estes grupos. Onde a gente tem o lazer, é para ajudar a comunidade. A gente faz
festas e o dinheiro vai para a comunidade como para fazer assim para viagens aí
divide e vê quantos que dá para assim.
P. Tudo voltado para o jovem?
R: É.
P. E tem muitos jovens aqui nesta região?
R: tem muito, só no grupo tem quase 40, assim tem também pessoas mais novos
que daí não participa. Tem bastante.
2. P. Qual o local da casa e da propriedade que mais gosta?
R: na casa eu fico quase mais tempo no meu quarto onde eu fico lendo é um lugar
de eu estudar então eu fico lá né. E da propriedade o que eu gosta é eu gosto de
trabalhar na roça.
P. É
R: Arram, qui até quando precisa alguém fica em casa quem fica sempre é a mãe
porque eu vo acompanhar lá e ela fica em casa eu prefiro mais fica na roça.
P. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa, é agora você vai para a outra
casa né? E em sua propriedade?
R: a agora eu não sei, mas eu já consegui muda muita coisa. Para fazer é uma
pintura que já ta meia mau, colocar uma cor clara. Mas o que eu queria fazer eu já
consegui que era tirar a parede que tinha aqui e o quarto e traze os sofá aqui para a
cozinha. Porque tinha um sofá lá na sala, mas ninguém usava né, e aqui na cozinha
79
tinha assim um quartinho aqui e era tudo meio quase fechado e era tudo muito
apertado. Quando chegava alguém ficava neste cantinho assim. Ai nóis
conversamos com o pai, que é mais fácil convencer o pai primeiro daí depois tiramos
a parede e colocamos o sofá para cá. Então eu já vi e já fiz.
P. E agora tu ta indo para outra casa?
R: É vou ter outro lar, vou ter uma propriedade só para mim. A saca a gente
começou fazer esta semana.
P. É muito longe daqui?
R: é uns 6 km.
P. Então me fale um pouco desta sua nova casa, o que você mais gostou dela?
R: há de tudo (sorri), é uma propriedade rural, a gente ganho 15 hequitares o meu
noivo adquiriu de herança do pai dele. Ai a gente ganho esta propriedade e vamos
ganha a casa a cozinha a gente vai ganha do pai, mais a casa é bem grandinha é
como eu queria.
P. E o derredor dela, você gostou?
R: é é bem legal, mas eu tenho que ir la e arrumar ela né, tem que fazer um jardim
assim. É que a gente ta construindo agora.
P. E aqui você fez alguma coisa assim?
R: pouco, (sorri)
P. A Mãe comenta: ela não gosta muito de jardim.
R: é assim eu não gosto de muita coisa assim tudo impilhadu, é que a mãe costa de
assim uma flor aqui e ali, eu já não gosto de duto impilhado eu gosto mais das coisa
separada. Daí as palmeiras foram plantadas ali ondi tem um barranco alí foi eu que
fiz.
P. Mas como foi isso assim, você percebeu que tinha que fazer e colocar mais flores
como foi?
R: coloca mais nada. Eu acho que o que eu coloquei ficou assim aquela coisa muito
tampada, tem uma visão maior, não tem muita coisa num espaço só. É assim que eu
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gosto e ali na frente tinha assim um monte de variedades num espaço só e aos
pouquinho eu foi conseguindo tira.
P. E na propriedade como fica as mudanças?
R: A eu já convenci o pai de nos fazer a reserva na beira do rio de mata nativa.
Porque é tudo limpo só tem um pouquinho de mato e eu quero uns 5 a 10 metros de
mata nativa plantada porque na propriedade tem pouca. E a nascente alí é que tem
uma nascente no meio do pasto e eu quero preservar também né. Agora o pai já
planto umas coisinhas alí mais precisa cercá em roda e planta mais e é preciso ir
conversar com a secretaria da agricultura porque o ano passado a gente já foi lá
mas não conseguiu as arvores nativas, a gente tinha pedido 200 mudas para colocar
em volta das nascente. E é isso que eu quero mudar na propriedade para te um
ponto positivo alí né. Eu acho que as coisas que devem ser mais cuidada é a mata
nativa e as nascenti é que a gente tem que preserva porque se não daqui uns anos
começa a falta.
P. Então você esta agora se preparando para ir para outro espaço e este aqui como
fica?
R: este agora fica para a mãe. Mas eu não vou esquecer é que eu vivi aqui 23 anos
e eu o pai nos entendemos super bem, então vai ser difícil esquecer.
4. P. O que te motiva morar em sua propriedade rural?
R: a gente poder ter as nossas idéias e se mandar próprio, não ter ninguém, porque
patrão é uma coisa eu já acho que não conseguia trabalhar numa firma fechada
coisa assim. Aqui a gente tem o ar, se esta bem vai trabalha se não esta pode ficar
em casa não é obrigada a ir. E trabalhar na agricultura não sei se foi porque o pai
me motivou desde pequena, que eu gosto disso né. Mas eu sempre gostei de ficar
na aqui, te por isso que eu vou casar e vou morar na agricultura também. E aí eu
estudei no Cedejor que foi o que me motivo mais ainda né. A gente estudou 2 anos
que é voltado para isso.
5. P. O que tem desmotivado a viver no campo?
R: tem é o mau tempo. Porque às vezes quando a gente começa a planta o fumo e
quando chega agosto, setembro o fumo ta vindo ai ta uns quatro dia de chuva,
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pronto acaba com tudo. As vezes perde 1, 2, 3 mil perde de fumo que as vazes
deixa a gente na mão, mas a única coisa que desanima é isso aí. Mais outra coisa
não. Pur isso que tinha que ter uma nova alternativa de renda, que nem este projeto
que eu fiz da produção de ovos ali. Porque se caso lá der mau a gente tem a renda
por mês ali e não tendo só aquilo dali e entrando em divida.
6. P. Comente sobre sua experiência no Cedejor, e como era sua visão da
propriedade rural antes do Cedejor e depois da formação, qual é?
R: o meu PEJR, foi de galinha de postura, mas não foi implantado ainda. É que
como a safra não foi muito boa e eu vou casar agora no mês que vem eu tenho que
ter dinheiro para o casamento e não deu para implantar. Até tem um mercado que é
do meu tio que ele perguntou se eu não ia vender os ovos para ele e ele precisa
deste produto e com certeza a gente vai ter um renda boa.
7. P. Sua família tem ajudado de que forma neste processo de conquista do seu
espaço?
R: eu acho que eles dão a chance e sempre ajudaram para mim tentar. Até no
estudar no Cedejor, era difícil sair uma semana por mês fora algum evento que a
gente tinha que ir e eles tinham que ficar trabalhando né. Eu saia e dava um queda
muito grande na propriedade, mas eles sempre deram a oportunidade para mim de
tar construindo, todas as coisas que eu precisei e disse que queria tentar eles
sempre me deram a chance.
Data da entrevista: 17/ 04/ 2009
Entrevistador:____________________________
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Jovem 3
Dados de identificação
Nome: An. H.
Idade: 26 anos Data de nascimento: 12.08.1982 Sexo: F
Roteiro da entrevista
1. P. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as
suas relações com as pessoas deste lugar.
R: É e desde piquena, trabalhando com os pais aqui, eu to sempre aqui. Eu aprendi
as coisas aqui com meus pais, como plantar e cuidar das coisas, do gado. Eu nunca
sai da qui, eu já foi trabalhar em Tubarão (SC), eu já foi trabalha em apartamento
coisa assim né. Ai a hora que eu foi trabalhar assim nestes lugares ai eu percebi que
aquilo ali não era para mim, que eu não me sentia bem fazendo aquilo dali, tipo aqui
tu abre a porta e tu bareia a puira pra fora e la tu não podi fazer isso né tem qui pega
um apazinho e bota no lixo. Então sei lá da uma sensação de esta presa assim, di
afobia assim de coisa presa. Pra mim eu tenho que tar solta por ai, e é isso. E assim
não tem uma coisa que eu faça sozinha aqui na propriedade, é que todo mundo faz
junto. O mais comigo, assim é tudo, na roça eu ajudo, mas a casa assim fica mais
pra mim, né. A limpeza lava e coisa assim né. E eu sempre fiz de tudo aqui nesta
propriedade, de manha eu vou pro rancho tira leiti, depois tem que trata do porco, da
galinha, bota o trato no cocho dos amimais. E depois que acaba ai vai limpando.
Depois vamos toma café, ai mais ou menos a gente já sabe qual é o dia que tem
que bosca o trato verde e é assim depois que todo mundo toma café vai todo mundo
pra roça. A noite tira leite de novo. E eu não vou durmi sem sabe se eu fui trata dos
animais e ter visto que ele ta bem e eu gosto de todos os animais. Eu to sempre
colocando a Mão, chamando. Mais os mais intimo assim tem novilhinha assim né,
que eu chego elas ficam parada e eu faço carinho e é bem tranquilo. É porque é
desde piquininho eu acostumei a ir com eles né, eu trato, cuido limpo então eu
chamo eles e eles atendi. Tipo os gato e o cachorro então eu chamo o nome do gato
e ele vem e eles tem um carinho muito bom. Às vezes a gente tem a compania de
um animal assim é bem melhor né. Às vezes a gente entende mais um animal que
um ser humano.
83
Há tem muita historia para contar. Ho dentro de casa é a questão de organização
assim né. Dentro de casa é arrumar, antes era aquelas coisas tudo antiga então com
o tempo a gente foi retirando, foi limpando e isso era tudo comigo e com a mãe.
Então coisa velha assim era tudo tirando e limpando assim. Agora é tudo mais
organizado. Tipo assim a grama era uma coisa que nunca tinha, então eu foi
plantando a faca ai a grama foi crescendo divagazinho ai depois este rancho aqui foi
feito. E a mãe vio que ficara bonito e foi plantando a grama e foi crescendo sozinha.
Ai meu tio deu uma maquina das antigas mas não durou muito tempo. Mas nos
compramos outra nova. E hoje é eu que faço, tipo tudo é eu que faço limpa organiza
é tudo eu. E aqui nesta parte quando foi construída todo mundo ajudo assim para
colocar os tijolo. Porque era tudo velho né antigo mas é que nos tinha um engenho
de fazer açúcar, melado estas coisas né. Então a gente resulveu fazer este ranho
aqui. E o rancho ali do gado foi nois que fezemo, tudo. Eu ajudeu também. Tudo o
que tem aqui desde piquininha já dos 8 anos eu já ia pro rancho tira leiti eu fazia o
que eu podia eu era pequena.
P. E como é sua relação com as pessoas deste lugar?
R: eu não fiz nada para eles. A nossa relação é boa. E os jovens assim da minha
idade é eles tem muito respeito assim. Eu também respeito eles porque por aqui era
só eu de menina e os outros eram meninos da minha idade assim da época. E até
hoje assim né. A gente as vezes sai em aniversario com a turma. E eu nunca briguei
com ninguém assim sabe. E os amigos eu não sei se eles sentem a mesma coisa,
mas eu sinto que tenho bastante amigos. Eu só não sei se eles pensam a mesma
coisa se eles gostam de mim. Mas eu também não tenho saído muito eu fico mais
em casa.
P. E o lazer?
R: a quando tem aniversario, quando tem algum baile por aqui e eu tenho vontade
de ir eu vou né. E as vezes na sesta feira a noite ali nos vamos joga bocha, joga
uma sinuca se tem vaga, e se não tem vaga eu venho em borá é que fica cheio né.
E joga futebol eu não jogo mais. Então é isso um pouco parado mais é assim. E
agora já tem um pessoal mais novinho e os da minha idade alguns já foram trabalhar
fora, outros casaram, e nos domingos assim é da família né. Nos domingos aqui era
84
mais agitado tinha a turma toda né agora não tem mais a turma já ta quase todo
casado e com filho.
2. P. Qual o local da casa e da propriedade que mais gosta?
R: há é tudo. Não tem um lugal assim, mas eu vou dizer assim o meu cantinho é o
quarto como se diz eu vou ficar no quarto né. O quarto é o meu cantinho né. Não é
meu, mas a mãe deixo lá pra mim né. A cozinha assim pra falar a verdade eu não
gosto muito de fica na cozinha é que eu não gosto muito de fica parado é que tem
que ter paciência e eu não gosto muito da cozinha e outra coisa assim, é legal fica
aqui na área sentado para descansa assim aqui na área. Não tem um lugar
especifico assim a gente esta sempre correndo.
Assim eu gosto deste modelo da casa assim. Tipo tem uma parte que é a cozinha e
a outra é os quartos e uma sala grandi. É que antes era bastanti filho e as casas
eram assim né. Aqui na região só tem esta e a do vizinho lá, está tem um corredor
nomeio para separar e lá não é tudo junto. É que tem gente que tem vergonha de
chamar alguém porque casa é assim né. Eu também gosto de preserva assim as
coisas antigas dos meus avos, assim maquinas e motor assim eu gosto. Então pra
mim ta bom eu não sou assim muito chique.
P. E um lugar onde você gosta de ficar?
R: há é lá no morro. É onde tem a visão geral daqui né. Dali da pra ver a propriedadi
e vê como ela ta, onde tem que arruma. É no morro subi no morro e ficar
observando o que mudo e ficar pensando o que pode faze, fica sentindo o ventinho
fresquinho. Da pra vê o vizinho e vê o que ele esta fazendo, é interessante. E
também no meio da mata assim, fica olhando os passarinhos, fica sentado em baixo
de um di arvi, dentro da mata assim eu gosto muito de andar por ai. E às vezes até
da animo de voltar para casa e trabalhar mais.
3. P. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa? E em sua propriedade?
R: nuda ela de lugar não, sem o modelo dela. O que eu queria era reforma ela, pinta
ela, troca o telhado, tinta assim de verde que eu gosto ou branco.
P. O no teu quarto o que você mudaria?
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R: ele já é verde então ta bom, mas é aquele verde assim meio velho. É tudo bem
antigo ainda sabe. Os quartos são verde, daí é azul por dentro nas paredi da casa, o
forro é azul, por fora é amarelo e a ária é rosa. E eu gostaria de mudar a cor pra fica
mais bonito e o telhado que já faz anos que tem, mas o modelo dela em si não o
modelo dela não.
P. O que você mudaria na propriedade? Ou o que você já mudou?
R: é que antes era mais assim largado, agora é mais organizado as coisas. É mais
de organização mesmo né. E o que tem que arruma mais é que tem que fazer mais
piquete planta mais verdi, mais fruta, coisa assim ne, e i arrumandu. E tira uma
muda do mato e planta ali e assim vai. E flor eu gosto de verde, e a mãe quando sai
para um lugar ela traz uma muda e planta ali né. Eu só do a idéia assim. Na hora de
planta é ela, mas na hora de cuida sou eu. Aqui é eu e a mãe até a gente tinha
plantado umas flores ali no caminho para ca e ficou bonito ali na entrada. Aqui de
fora a fora na estrada. E tem uma parte ali que a gente colocou pedra e foi com o
carrinho de mão, a idéia foi do meu irmão e eu e a mão colocamos ali. E eu mudaria
também o rancho, é que pra tira leite ali é de chão batido ainda né, não tem piso.
Então a idéia era essa de arruma, de bota um piso assim. E essas são as idéias né e
vamos arrumando como podi.
P. Você se sente preparada para continuar na propriedade?
R: se for para ficar com a mãe eu continuo, mas eu não sei se sem a mãe como eu
ficaria. Mas se for para mim ficar aqui eu fico sozinha, plantando eu me viro, se for
para, assim eu sei como cuidar da grama dos animais assim, as vacinas que tem
que ser feita que eu mesmo faço nos ternerinho. Tudo que planta aqui dentro eu sei
como é que se faiz, tudo então para mim planta verdura, fruta, pra mim não é
problema, o problema é eu sai na cidade e não sabe o que faze. O computador
assim eu tenho muita pouca experiência. Então se for para mim ficar na cidade ai
sim eu não conseguiria sobrevive, aqui eu consigo. E eu gostaria de saber mais né,
de ter um computador em casa para ter contato com o pessoal de fora, dos
sindicato. E agora é tudo pela Internet então eles estão colocando um poste ali
encima do morro é uma antela e quando eu comprar um computador eu já posso
acessar porque pega dali.
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4. P. O que te motiva a permanecer em sua propriedade rural?
R:a é cuida, e a gente se sente bem aqui. E se for para mim sair daqui eu não
consigo deixa os animais assim com os outros assim, eu tenho a sensação que eles
não sabem, ai eu vou sair e será que eles estão comendo bem? Então é assim uma
coisa bem legal assim. (Uma ligação com os animais ) . Eu podia não ter abrido mão
de varias coisas, eu foi chamada para trabalhar em uma empresa, ai eu pensei que
tinha que todo dia trabalhar aquele horário ai eu tenho que deixar tudo isso aqui para
os outros ai tudo isso aqui que eu construí eu vou larga assim? Há eu não consigo
larga. Talvez eu trabalhe por necessidade mesmo né. Mas se for para mim trabalhar
pela minha vontade fora da propriedade é difícil. E tem mais assim o luga, a
tranquilidadi, clima, feirinhu de terra, de chuva, o verde, a água, é esta tranquilidade.
Tipo para mim eu não quero ter aquela vida patrão assim de ter qui ser mandada por
patrão de coisa assim. Não é ruim para quem gosta. Mas sei lá assim, tranquilidade
é fundamental assim. Tu se alevanta a hora que quer e não precisa ninguém ta ali
pedindo isso para ti né. A gente tem o dever de ta fazendo o que come o que gasta.
Então tem muita coisa aqui e não precisa compra, tem água, essas coisa assim. A
gente sabe o que come, sabe esta plantando. Então tudo o que eu já aprendi desdi
piquena aqui achu que eu vou levar pru resta da minha vida.
5. P. O que tem desmotivado a viver no campo?
R: é quando não tem união na família né. Isso quando não tem da vontade de larga
tudo e eu conheço muitos jovens que saem por isso. Eu as vezes a gente tem uma
discussão assim ai eu penso em sair mas aqui eu gosto. E depois na cidade eu
gosto assim de i um dia e já volta. Assim o clima lá, tipo aqui no domingo eu posso
estar sozinha, mas eu tenho os animais é este o clima daqui né. E na praça é todo
mundo infiado dentro de casa, é claro que tem as cidades grande que tem mais
lazer, mas aqui na cidade não tem lazer então o pessoal fica infiado dentro de casa.
Então eu prefiro ficar aqui sem todo aquele dinheirão e me sentir bem, tranqüila, sem
doença do que fica morando trancada dentro de casa. Então essa é a minha idéia, é
a minha visão. Então aqui se der para mim terminar o serviço hoje eu termino e na
praça não tem que fazer porque o patrão manda né. A única coisa que tem certeza é
o salário. Aqui é difícil o salário, quando precisa de alguma cosia pede ou vai e
pega.
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6. P. Comente sobre sua experiência no Cedejor, e como era sua visão da
propriedade rural antes do Cedejor e depois da formação, qual é?
R: há pra mim foi bom né. Eu não consegui assim o projeto em si, assim aplicar tudo
certinhu como eu quiria mais a sensação de esta com outras pessoas, de saber lida
com elas, com as diferenças assim principalmenti tu aprendi para a questão pessual
tua né. Tu sabe lida com outras coisas também, em casa também né. Sabe
conversar melhor, se é mais tímida agora já passa um pouco mais disso. Porque tu
tem estas diferenças e eles lá dão a oportunidade pra tu fala. Não é qui nem colégio
que tem as vezes que a professora não ta nem aí né. E a experiência assim foi
ótima, não me arrependo di nada.
P. Como era sua visão da propriedade antes e depois do Cedejor?
R: Antes era um pouco relaxada né. Só que antes de entrar para o Cedejor eu já
tinha a idéia da questão do Voasan, de ta organizando aqui né. O laticínio aqui na
região tem bastanti e o clima é bom para se trabalhar também né. E depois com o
Voasam tu tira a renda mais tranquilo, tu não tem mais aquela preocupação com os
animais tem menos problema. E no Cedejor eu aprendi di tudo, pessoal, di
propriedadi, tipo eu não sabia o que era faze um projeto. Eu só ouvia na radio que
tal vereador mandou tal projeto para ser feita tal coisa né. E agora tu tem a idéia né,
fico melhor eu até posso montar eu um projeto para a comunidadi. Eu tinha idéia de
montar um parquinho aqui na comunidade ali no centrinho no Rio Branco. Ali é ondi
tem a canha de docha e nas sestas feira à noite e nos domingos às vezes quando
tem festa assim de aniversario a gente se reuni tudo alí. Mas o meu projeto PJER foi
o Voasan para o gado de leite. E é assim né eu to instalando eu to fazendo divagar,
já tem uns 12 piquetes já.
P. E a tua visão da propriedade depois do Cedejor?
R: É de continuar melhorando cada vez mais, né. Ta vendo o que já tem e ver quais
as possibilidades de ta melhorando né. E por inquanto se for para mim escolher eu
escolho ficar aqui na propriedade, mas se por acaso tiver muita necessidade né de
não ter muita renda daí sim eu procuraria alguma coisa fora, mas só aquele período
o outro eu já fico em casa.
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7. P. Sua família tem ajudado de que forma neste processo de conquista do seu
espaço?
R: eu queria morar sozinha junto com a mãe. Mas como meu irmão é home a idéia
era que ele quando casasse tivesse a casa deles. Mas como ele é home a mãe
ajudo ele com a casa e como aqui é muito grande e tem espaço para mais gente ele
fico aqui. Então há uma certa discussão por isso aqui né.
Mas na verdade eu tenho o meu espaço eu tenho o meu respeito eu faço as coisas,
eu tenho o apoio da mãe, meu irmão já mais difícil e depois que ele caso então, ai
fico mais difícil ainda.
P. Como é o processo de decisão na propriedade?
R: É assim já existe aquela regra, que no mês tem isso e no outro mês tem aquilo.
Então as pessoas que estão aqui já sabem como é. Então daí um pergunta pro otro
o que vai ser feito ou não, é assim.
P. Você teria mais alguma coisa para falar que já não foi falado?
R: por mim eu acho que ta bom, é isso então.
Data da entrevista: 25/ 04/ 2009
Entrevistador:____________________________
Jovem (4)
Dados de identificação
Dados de identificação
Nome: M. B.
Idade: 22 anos Data de nascimento: 10.11.1986 Sexo: M
Questionário
1. P. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as
suas relações com as pessoas deste lugar.
R: Eu estou aqui nesta propriedade desdi os 6 anos quando nois vimo morar aqui.
Até hoje e sempre estudei até a quarta série aqui na comunidade. Depois fui estuda
no colégio em Grão Para. E com a vizinhança sempre tive um bom convívio, um
ajuda o otro aqui, com os vizinhu não tenho nada para reclamar. Na comunidade
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ajudo bastante na parte di igreja i coisa né. Então eu sou coodenador da
comunidade que coordena a comunidade maior das pastorais da igreja.
2. P. Qual o local da casa e da propriedade que mais gosta?
R: O lugar que eu mais gosto, assim? a é di ta trabalhando assim com u gado de
leite. É aqui na ordenhadeira que eu gosta mais de trabalhar. Di ta trabalhandu com
os animais, de ta assim andando de ta trabalhando assim com as vacas, de ta
levando elas para os piquetis é o cuidado com os animais. Eu cuida mais mesmo é
das vacas na ordenha e as criação de perneiro é mais o pai.
3. P. E tem assim outro local que você se identifica, e que quando você esta feliz ou
triste você gosta de olhar ou ir para perto?
R: O rio, ir para a beira do rio, tomar banho. Este rio que faz diviza com o terreno, o
terreno vai até no rio né. O rio é um lugar de lazer, agora nem tanto mas quando eu
era mais novo tomava bastante banho di rio, pescava.
P. Tem a tua historia ali então?
R: Tem, tem muitas coisas boas.
P. Não se afogo nem uma vez não né?
R: Não, (sorri) eu aprendi a nadar alí, (sorri).
Silencio
P. Eu percebi assim que quando você falou no cuidado com as vacas tu meio que
ficou assim. Me parece que você ficou com medo de falar com o que trabalha? Tu
tem preconceito do que faz?
R: Não não é preconceito. É que assim é meio istranho tu nunca ouviu fala assim,
vaca coisa assim é meio istranho. A certo um preconceito meio assim um pouco.
P. Mas este é o seu trabalho e você se sente satisfeito, contente fazendo isso?
R: sim.
P. Então são questões que você gosta e que são suas, né é para você pensar
depois mas, e o local da casa que você mais gosta?
90
R: sei lá, não tem assim um lugar especifico. Há a cozinha assim é um lugar ondi a
gente senta para tomar chimarrão a gente bate papo com a família assim, vê
televisão. É um luga ondi ta com o convívio com toda a família. O quarto que é lugar
di discanço e também di ta pensando né, di ta refletindo sozinho do que eu fiz, do
que poderia ter feito melhor, as vezes assim eu penso eu fiz isso mas podia ser
diferente as veis. Du que eu vou fazer amanhã, como eu posso fazer isso né, ti ta
refletindo, é um lugar di refletir di ficar pensandu.
P. E o que significa isso para ti?
R: de estar unida assim a família. É um lugar di nois combunr as coisas di serviço na
propriedadi nu dia, na semana, di ta sempre batendo papo colocando a conversa em
dia. Di sempre esta ali dialogando cum a família, né. Não tá num luga isolado né,
sempre ta cum as pessoas. É então é um dos mais importante assim. É mais o mais
importante é tudo assim né. Complicadinhu é que a gente nunca pensa nisso.
P. E o que te motiva mais a acordar pela manhã e vir para cá?
R: é de ter o meu próprio negocio, di ta trabalhando no que é meu né. Isso é o qui mi
motiva a tar todo dia trabalhando aqui. Tu sabe que vai ter um retorno cum isso e
que é da família isso aqui e que é pra nóis que tamo trabalhando né. É o qui mutiva
nois a ta trabalhando aqui e ta permanecendo no meio rural.
P. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa? E em sua propriedade?
R: O aqui esta parte é nova e eu ajudei a fazer tudo. Nas semanas que eu não
estava em alternância no Cedejor eu tava aqui ajudandu.
P. E como foi para ti estar ajudando a construir isso aqui ( local de ordenhar as
vacas)?
R: Foi legal, motivação ne. Coloca tudo novo, ia melhora pa nois a ordenha pa fazer
a ordenha que era uma coisa que tava precisando pra nois isso aqui. Eu tava bem
motivado pa que era o que tava precisando.
Na casa eu não vejo nada que possa mudar assim. Mas de assim esta ageitando pra
propriedade fica mió di da um jeito de ta di facilita u nosso serviço, di ta a gente não
se judia tanto, de ta si isforçandu, di ta, di continua trabalhandu mas qui de uma boa
renumeração, mas qui não precisa ta se isforçando. É tanto o meu projeto que fiz no
91
Cedejor é por causa disso di ta melhorando o gado de leite pa consegui te uma
renda melho e pa ta cuidando né. Ta se cuidando mais do meio ambiente também,
de tar preservando as águas na propriedade.
P. Tem bastante nascente?
R: Tem, tem bastante nascente, e também cuidadar do reflorestamento da
propriedade.
P. Como assim embelezamento, como você vê isso?
R: É de ta protegendo as nascentes e que vai planta umas arvi e deixa ela cresce e
já fica um lugar mais bunito. É o que eu vejo assim, tendo o cuidado dela ao redor.
P. E vocês já estão fazendo isso?
R: Alguma coisa a gente já esta fazendo outras vai com o tempo. Vai divagarzinho.
Pai: as arvore demora uns anos, é que já ta começado.
4. P. O que te motiva morar em sua propriedade rural?
R: é saber que estou trabalhando no que é para mim. De saber que não tenho que
depender de horário para cumprir para tudo. Aqui é nosso, o dia que precisa sai sai
mais cedo, o dia que tem que trabalha até mais tarde tu trabalha é o serviço é teu tu
sabe que tu é o patrão né. Nos trabalhamos com a família né, mas tudo é combinado
com a família, não é nada só um que manda é todos que são iguais né.
5. P. O que tem desmotivado a viver no campo?
R: é a falta di incentivo que o meio rural tem. Pouco incentivo, a discriminação, tu é
agora ta mudando mas antigamente nas escolas, tu nunca tem apoio para o meio
rural qui o professor na escola já fala que tem que ter estudo de fazer uma faculdadi
mas nunca fala que tem que ter estudo para ficar no meio rural. E é ali que o meio
rural sustenta a turma da praça, quem bota comida na mesa deles é quem trabalha
no meio rural né. Se não tiver como eles vão se manter né, então a minha ideía é
essa.
P. E o lazer, qual é o teu lazer no campo?
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Não tem muito lazer o meu é jugar futebol com us amigu que joguemu por aí. I festas
i coisa mas não é muito assim.
6. P. Comente sobre sua experiência no Cedejor, e como era sua visão da
propriedade rural antes do Cedejor e depois da formação, qual é?
R: A minha visão quanto a propriedade mudou muito, é que antes de eu entrar para
o Cedejor, eu não tinha muito interesse em permanecer no meio rural. Trabalhava
por trabalhar não era assim muito motivado a ficar no meio rural e depois que eu
entrei no Cedejor qui me motivou a permanecer a ver as possibilidades que tinha
possibilidades de ter futuro no meio rural. Antes parece que o cara não queria ver
que tinha, mas parece que la mostro que eu tinha condições de permanecer no meio
rural e hoje já não me vejo fora do meio rural.
P. Então esta formação te fez ver a propriedade rural de forma diferente e como era
antes esta visão?
R: antes parece que não tinha futuro de permanecer, eu não via assim algo que me
motivava muito assim para ficar. Hoje eu seu da dificuldade que tem em permanecer
no meio rural, mas vejo que se tu ir pra cidadi tu também vai ter dificuldadi la a
dispesa vai ser maior, não é tão fácil assim para conseguir um emprego também.
Tem que depender de tudo e de todos.
P. Este problemas quais seriam, que você percebe que os jovens encontram no
campo?
R: as dificuldades que os jovens tem? Tem muitos casos que o jovem não tem
espaço e a discriminação por ser jovem. Que nem muitos tem falta de espaço com a
família se for permanecer no meio rural. Para assim ganhar veis, assim que ele quer
fazer alguma coisa e os pais não deixam. E que eu via assim com alguns colegas do
Cedejor que aprendia alguma coisa la no Cedejor mas tinha muita resistência da
família né. Que eles não aceitavam, que eles tinham toda uma educação que os pais
deles eram da quele tipo né e eles não aceitvam. Eu não tinha este problemas mas
outros colegas tinham.
P. E a discriminação que tipo de discriminação, como assim?
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Eu falei por ser jovem né. É que tipo tu vai querer um financiamento, uma carta de
credito e as veis tu não consegue porque é jovem, não tem experiência.
Principalmente na praça para conseguir um emprego é já perguntam se tem
experiência ai não pode porque não tem experiência. Se ai não dar a primeira
oportunidade ai nunca vai ter a experiência né.
7. P. E tu me falou da família, mas a sua família tem ajudado de que forma neste
processo de conquista do seu espaço?
R: A minha família foi uma das coisas mais importantes que me ajudou na formação
no Cedejor e que ta me ajudando. Eles sempre me deram total apoio quando eu
tava la nas alternâncias, sempre quando eu vinha com as novidades de la eles
sempre escutavam i quiriam saber e eu contava, já botava em pratica alguma coisa i
nunca teve resistência nenhuma tanto do pai e da mãe e o irmão também. Melhoro
muito a conversa entre a família, assim ta dialogando para fazer as ações. Ai eu
também mi envolvi mais, fiquei mais interessado pela propriedade. Meus pais viram
isso e davam mais espaço para mim, pra mim ta expondo minhas idéias também.
P. E no que se refere as mudanças que você já implantou aqui nos espaços da
propriedade, quais foram as mudanças que você implantou?
R: foi o meu projeto, o de gado de leite. E esta já era uma atividade que a gente já
tava aqui trabalhando na propriedade a muito tempo né, só faltava se melhorada né.
Era um coisa que já tava bem incaminhado só faltava uns ajustes pra da uma
melhorada. Antes era lá embaixo no rancho veio lá. No comecinho era tirado leiti a
mão, depois foi a ordenha mecânica, ma daí foi bastante vaca e a ordenha era
piquena i daí o espaço também era piqueno temem i demorava muito, a higieni
também não era boa, era precário. E aí aqui é um luga mió e era necessário para
continua na propriedade.
P. E como é que foi feito?
R: foi feito mas pela quantidade que a propriedade suporta né, pelo tamanho, pelo
tanto de animais que nos temos.
P. É bastante?
R: É mais ou menos, qui nem hoje as vacas tirando leiti temu 22 mas é esta média.
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P. Então tá, para mim estou satisfeito. Você teria mais alguma coisa para falar que já
não tenhamos conversado?
R: não, já foi bastanti coisa (sorri).
Data da entrevista: 17/04/2009
Entrevistador:____________________________
Jovem (5)
Dados de identificação
Nome: R. W.
Idade: 19 anos Data de nascimento: 30/05/1989 Sexo: M.
Questionário
1. P. Comente sobre sua historia com este lugar, com a propriedade, com a casa, as
suas relações com as pessoas deste lugar.
R: Quando eu nasci nos morava lá naquela casa atrás do morro que eu ti mostrei.
Quando eu tinha três anos daí meu vô foi para Joinvile, aí nois viemu mora pra cá.
Daí isso, depois de um tempo, nóis ainda trabalhava lá no morro, plantava fumo. Ai
foi botado agregado lá e ele plantava fumo cum nóis e depois nois trabalhava aqui
com gado de leiti e o fumo lá. Depois foi parado, com o agregado só incomodava aí
foi parado o fumo e tocado um tempo só o gado de leiti. Daí nóis boto o aviário, pra
te duas atividade, não fica só no gado de leiti pra não fica ó numa atividade na
propriedadi. Ai eu me criei aqui aprendendo junto com os pais os serviço que eles
fazia, trabalhando com eles.
P. E a tua historia com este lugar com a casa aqui, o que tu lembra?
R: o que eu lembro, a primeira coisa que eu lembro, do dia que garregaru a
mudança du meu vô para ir para Joinvile. Eu lembro aquele dia. Aquele dia é a
primeira lembrança desta casa. Aquilo, desde piqueno eu lembro.
95
P. Mas em que sentido, triste?
R: Não, não tem, um sentido positivo e nem negativo foi a primeira lembrança que
veio, que eu tenho na cabeça da casa foi aquela veis que eles foram para Joinvile.
Daí outra lembrança que eu tenho assim di mais novo é di quando o meu irmão mais
novo nasceu, daí nois já morava aqui nesta casa né. Que eu tenho lembrança
assim, di mais novo assim eu não tenho muita lembrança assim.
Bom eu também me lembro que quando o meu irmão nasceu nois já trabalhava com
vaca di leiti e nois tirava e não tinha o resfriador pá guarda e nois tinha qui por na
geladera da casa que é nesta parte aqui, que nos estamos. Depois que a mãe veio
do hospital eu lembro das visitas que veio visita ele, a mãe que ainda estava
deitada. Assim estas coisas que eu lembro assim.
P. E como foi assim com estas pessoas, seus amigo, os jovens deste lugar,este rio
aqui na frente, fale um pouco de sua historia com eles, com as pessoas desta
comunidade?
R: há, este rio quei foi tomado muito banho. Quando era mais antigamente, quando
aqui era manos correnteza, que era uma água mais parada foi tomado uns quantos
banho de rio. Um tempo atrás quando tinha o meu primo alí nóis de vez em quandu
nóis ia pesca, aquela veis animava mais pesca que daí pegava mais, a uns quantos
anos atrás nós ía pesca pa frita os pexe di noiti pa come aqui ou lá na casa dele foi
umas quantas vezes isso aí.
P. Tu tem muitos amigos que por aqui, assim da tua infância?
R: da minha idade que se criaram comigo assim não tem muito. Assim tem muitos
que, eu morro aqui e tem muitos que moram lá do outro lado da comunidade. Daí tu
não tinha muito contato quando era mais novo, féis amizade depois de um tempo.
P. E agora?
R: Agora tenhu. Aqui dentru da comunidade conversu cum todo mundu não tem, tem
alguns que o cara é mais chegado e a gente sai pa festa junto. E tem outros que a
gente chega aí nas festa e comprimenta, por aí. É assim tem aqueles que são mas
amigo du cara né.
96
2. P. E voltando aqui na propriedade, mais focado primeiro na sua casa. Qual o local
da casa e da propriedade que mais gosta?
R: Olha não tenhu um local pa mim dize, assim di preferência da casa. Não tenhu
um lugar específico da casa, assim que é a minha preferência.
P. Mas um lugar que tu gosta assim que tu se sente bem?
R: Um lugar que me chama mais a atenção é a sala, é a mais parte que a família ta
vunto né. A sala da casa. Onde é o lugar onde a família ta junto e coisa. É ondi a
família mais ta junto, mais conversa, mais fica junto, conversando, vendo televisão.
Passando o tempo junto é mais na sala. Notro lugar pode ta junto mais ta
trabalhando é um pouco mais diferente, ali ta mais sossegado, discansandu é um
lugar que me chama mais atenção assim.
P. E na tua propriedade?
R: a questão é que um lugar que eu mais gosto específico não tem. Mais é lá pro
morro que tu tem a visão da comunidade tu vê u movimento. Tu podi para e pensa
como as coisa mudaru, como era antes. Uma vez tu via ali de cima como que era a
comunidade uma vez e como é que ta hoje. Tu pode para pensar e coisa. Pensar no
tempo como o tempo passa, pensa na vida assim, estas coisas assim. É um lugar
bem interessanti o lugar la em cima.
3. P. Tem algo que você gostaria de mudar na sua casa? E em sua propriedade?
R: Não, não tem assim, mudar. Eu não tenho interesse em mudar as coisas assim.
Como ta assim, as vezes muda coloca um moveis novo na casa, um negocia assim.
E que uns moveis novo na casa esta precisando, qui nem tem a istante, coloca uma
melhor assim né. Muda coisa assim, mas não muita coisa assim, é coisa de
necessidade de mudar né. É coisas básicas.
P. E na propriedade? Tu pode comentar o que tu já fez, pensaria em ter feito mas
não fez e o que tem para fazer no futuro?
R: É aqui a gente tinha as criação, as vacas soltas no pasto tudo. Foi feito o
piquetiamento que eu aprendi no Cedejor. Fiz o projeto no sistema racional Voasan,
foi feito o projeto e elaborado o projeto, daí eu pedi auxilio para adiantar este projeto.
Daí foi implantado aí, colocado água nos piquetis, pus animais e coisa. Melhorado
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para a pastagem, foi feito o plantiu de outros tipos de grama, pu gado. O que tinha
de ser feito e tinha um pedaço que tinha que ter melhorado esta parte dos piquetes é
que o projeto era para um área e ficou um pedaço sem ser implantado. Ainda tem
que implantar nesta área o piquetiamento é o que precisa melhorá.
P. E como foi assim, foi sua própria iniciativa, como foi que você teve a idéia de fazer
isso?
R: a gente viu por aí que com os piquetis dava mais resultados e daí entrandu no
Cedejor conhecemu bem com era isso, la eu estudei, conheci bém com é que
funcionava isso daí eu vi que poderia dar certo na minha propriedade também. Teve
um interesse meu junto com a família de fazer isso. Di implanta este projetu na
propriedadi pa melhora a propriedadi né. Melhora a produção de leiti. Mas tem muito
ainda a melhora nesta parti de piquetiamento, tem uns luga que nois queremu troca
as grama, fazer semiadura no inverno estas coisas assim que tem que ir melhorando
né. O cara começou agora divaga o cara vai melhorandu os piquetis estas coisas
assim.
P. E tu pretende investir neste sentido, tu gosta de trabalhar com o gado?
R: Arram eu gosto, é inverti nisso aí pa continua morando aqui né. Continua
trabalhando vivendo disso aqui né. Para mim não tem pensar em trabalhar de
empregado.
P. Tu tem o seu salário?
R: tenho, eu tenho uma porcentagem. Nois temu um negocio no aviário é uma
porcentagem do aviário que eu ganho.
4. P. O que te motiva morar em sua propriedade rural?
R: porque o cara ta trabalhandu no que é du cara né. Não ta trabalhadu pra um
patão para manter os outros. O cara ta trabalhandu no que é du cara e o cara ta
investindu, vai melhora é pru cara não é pa outro. E o cara na verdade ta mais livre,
se o cara tem que sair um dia, tem um compromisso é só se programa o cara podi i
não precisa ta pedinho permição pa outro, o cara memu a alí né. Pa isso o cara tem
mais liberdadi pa isso né.
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5. P. O que tem desmotivado a viver no campo?
R: o que dismotiva o cara é os jovens por aí na agricultura de tu ir trabalhar na cidadi
te salário todo mês, sabi que vem o salário aquele todo mês. Na área rural depende
do que tu produzi. Não tem aquele, tu vai produzir ente tanto, mim ou dois mim de
leiti, tu ganha este tanto, não tem isso é a quantia que produzir é a que tu vai
receber. Se não produzir nada não recebe nada. É a questão é que te vez que fica o
final de semana um pouco mais preso, tem que tirar o leiti, a vaca não da folga.
Quando tem o aviário, o frango não da folga. E tem a questão do empregado de da
àquela hora tu ta livre né, e na área rural tem que trabalhar o dia inteiro né, no casu.
Tem os ternero, tem di i lá e dependendo di noiti tem também. É isso que eu vejo
que dismotiva muito a juventude da área rural.
P. É tem que gosta né?
R: tem que gosta se não si para pensa tu vai se dismotiva mesmo, porque tu vai
pensa que la na cidade eles ganham tanto e podi faze isso e tem tempo. Aqui não
tem, mas se o cara se planeja arruma o tempo também.
P. Um tem isso então?
R: arruma um tempo ou até mais tempo do que na cidade.
6. P. E sobre a tua experiência no Cedejor, como era sua visão da propriedade rural
antes do Cedejor e depois da formação, qual é?
R: antes eu via que era um negócio e que trabalhava pa si mante na propriedadi qui
pra si mante, trabalhandu, gerandu um lugru também, mas só que depois que eu fi a
formação a gente tem outra visão, uma visão mais detalhada da propriedadi. O que
nesta área pode ser feito, o que nesta outra pode ou não ser feitu. A gente tem um
conhecimento mais detalhadu, na formação foi passada esta visão de ver a
propriedade mais detalhada. Que nem às vezes o dinheiro passa e a gente não vê
nada, mas lá no Cedejor com os conhecimentos que a gente tem lá a gente vê que
tem este tanto de dinheiro, mas circula, não é que entrava e ficava como pai, mas só
passava pela mão dele. A questão a gente também vê a parte administrativa
também, de gerencia a propriedadi de sabe o que entra o que sai o que da de lucro.
Eles incentivo a vê isso também.
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P. Então a formação ajudou você a ver de outra forma?
R: ajudo e no caso da administração é que nem uma empresa né. Não se diferencia
de uma empresa. Se não souber controlar vai entrar em divida e coisa é a mesma
parte de uma empresa daí.
P. Para você foi bom então?
R: foi bom, porque gente entra nesta formação e eles passam esta visão mais
detalhada em quanto a gente é jovem. E dependendo talvez dos pais é que demora
mais para passar isso para os filhos. Não é tão já assim que eles pega e passu. Mas
entrando nesta formação né, que eu tive o apoio dos pais para entrar lá e com o
aprendizado os pais tiveram mais confiança pra isso pro cara conhecer mais de tudo
na propriedadi né, dos serviços, da parte administrativa destas parte tudo.
7. P. Sua família tem ajudado de que forma neste processo de conquista do seu
espaço?
R: há é tudo conversadu. E depois que eu entrei lá que eu tenho esta parte da
porcentagem do aviário eu conversei com eles sobre que eu estava só trabalhando
em casa e de eu ter uma porcentagem. Então agora é o meu salário né, antes eu
não tinha. Antes quando precesava pedia. E conversando assim eles dão todo o
apoio que eu preciso para fazer as coisas aqui dentro né. Tem coisa que eu acho
que eu acho certo e eles errado e é conversado e achado a melhor forma. A gente
tem o apoio para na maioria da coisas que eu quero eu tenho o apoio deles. Para
ganhar o espaço na propriedade nas coisas da família. Quando eu tenho que sair
alguma coisa assim é só conversar um pouco antes é que se não vai atrapalha o
serviço, mas conversa um pouco antecipado e coisa e tal, sempre se da certo né.
P. Tem mais alguma coisa que você gostaria de comentar que já não tenhamos
conversado que gostaria de falar?
R: Não é isso né.
P. Então, obrigado.
Data da entrevista: 18/ 04/ 2009
Entrevistador:____________________________