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A abordagem do tema Inspeção Predial à nível de graduação nas Instituições de Ensino
Superior do Estado do Paraná
Julho/2019
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019
A abordagem do tema Inspeção Predial à nível de graduação nas
Instituições de Ensino Superior do Estado do Paraná
Guilherme Bastos Balbinot – [email protected]
Auditoria, Avaliações & Perícias de Engenharia
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Londrina/PR, 26/11/2018
Resumo
A Inspeção Predial, definida sucintamente como uma avaliação técnica da edificação baseada
no tripé “aspectos construtivos, aspectos de manutenção e aspectos de uso”, com propósito de
definir o estado de conformidades da mesma, vem ganhando relevância no meio profissional
no últimos anos, retornando aos holofotes, infelizmente, sempre que ocorrem sinistros em
obras públicas e/ou privadas. Apesar da recente atenção dada a temática, o seu estudo parece
estar se desenvolvendo prioritariamente fora dos cursos de graduação de Engenharia Civil,
sendo abordado com profundidade quase que exclusivamente no âmbito dos cursos de pós-
graduação, especilizações e cursos de extensões nas áreas de Perícias e Auditorias de
Engenharia. Com o objetivo de verificar a realidade da abordagem do assunto no meio
acadêmico, em especial nos cursos de graduação de Engenharia Civil, buscou-se através de
pesquisa exploratória analisar a grade (ou matriz) curricular dos setenta e oito (80) cursos de
Engenharia Civil, nas modalidade presencial ou à distância, ofertados por Instituições de
Ensino Superior (IES) no Estado do Paraná, com a finalidade de verificar, quantitativa e
qualitativamente, a relevância e aprofundamento da abordagem do tema “Inspeção Predial”
aos futuros profissionais da área de engenharia civil, que ao egressarem estarão aptos a
projetar e executar edificações, as quais devem atender às normas técnicas vigentes, não
apresentarem anomalias e falhas sérias e serem manuteníveis, justamente o objetivo das
verificações realizadas através da técnica de Inspeção Predial. Conclui-se que é necessário
uma abordagem mais efetiva do tema em nível de graduação, com apresentação da técnica em
seu completo escopo, preparando os futuros engenheiros civis para a realização de obras cada
vez mais seguras e duradouras.
Palavras-chave: Inspeção predial. Engenharia Civil. Graduação. Engenharia Diagnóstica.
Manutenção.
1. Introdução
Sinistros e acidentes de grande porte em edifícios, ocasionados por anomalias no processo
construtivo ou falhas de manutenção, tais como desabamentos, quedas de marquises,
incêndios, rupturas de muros de arrimo, quedas de revestimentos de fachadas, infiltrações,
etc., os quais levam a grandes prejuízos (materiais e humanos), podem ser evitados com
medidas preventivas simples, de longo prazo, através de um planejamento que se inicia com a
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Inspeção Predial, para a posterior implantação do plano de manutenção (NEVES e BRANCO,
2009).
Previamente a apresentação da pesquisa e resultados obtidos, é imprescindível que alguma
conceituação seja apresentada. Isto se deve a necessidade inerente de transmitir ao leitor os
conceitos centrais de Inspeção Predial, para que se possa entender sua definição, a
importância da ferramenta, sua metodologia e processos, como se desenvolve, quais suas
etapas e procedimentos, quais são os produtos que dela se devem extrair, quem deve
desenvolver e como deve ser apresentada ao consumidor/cliente final.
Esta definição é fundamental para que se possa verificar como a mesma é abordada (ou não) a
nível de graduação, vez se tratar de atividade técnica que possui norma e método próprios
(IBAPE-SP, 2015).
Outras definições serão apresentadas ao longo deste trabalho, buscando conceituar o leitor e
fornecer o arcabouço teórico necessário ao pleno entendimento dos propósitos e resultados
obtidos com esta pesquisa. Serão também apresentados, além dos conceitos de Inspeção
Predial, os conceitos de Engenharia Diagnóstica, Manutenção Predial, componente curricular
e grade curricular.
A Engenharia Diagnóstica, definida pelo Instituto de Engenharia (2016) como sendo a arte de
criar ações proativas, através de diagnósticos, prognósticos e prescrições técnicas, constitui-se
de investigações científicas das patologias prediais, através de metodologia que possibilita
obter dados técnicos para caracterização, análise, atestamento, apuração de causa,
prognósticos e prescrição do reparo da manifestação patológica predial em estudo.
Conforme explicitado por Apolonio et al. (2017), a Engenharia Diagnóstica visa à qualidade
total da edificação, objetivando, através dos preceitos acima indicados, mitigar as
manifestações patológicas nas edificações.
A metodologia da Engenharia Diagnóstica consiste em estudos lógicos sequenciais, através da
utilização das ferramentas diagnósticas (INSTITUTO DE ENGENHARIA, 2016). Estas
ferramentas são, de acordo com a sequência de sua aplicação na metodologia diagnóstica, a
vistoria, a inspeção predial, a auditoria, a perícia e a consultoria.
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Figura 1 – Sequência de utilização das ferramentas diagnósticas
Fonte: Instituto de Engenharia (2016)
Uma das principais causas de eventos patológicos e acidentes em edificações é justamente a
falta de cuidados técnicos, tanto na hora da execução das obras quanto no pós-ocupação
(manutenção, uso e operação da edificação). A Inspeção Predial, ferramenta da Engenharia
Diagnóstica, se apresentam justamente para este fim, qual seja de reduzir os riscos e mitigar
patologias, garantindo maior segurança e durabilidade ao edifício (INSTITUTO DE
ENGENHARIA, 2016).
Considerando-se que a segurança, qualidade, sustentabilidade e valorização das edificações
dependem da manutenção predial, de muita importância se mostra a criação, publicação e
aplicação das normas técnicas de manutenção e desempenho das edificações (NBR 5674 e
NBR 15575), recentemente revisadas e publicadas. Atualmente em processo de normatização
pela ABNT (através do projeto de norma ABNT NBR 16747), a Inspeção Predial tem suas
definições e conceitos apresentados, em especial, pelas publicações e normas do IBAPE
Nacional e IBAPE-SP. No entanto, como colocado pelo Instituto de Engenharia (2016), tais
diplomas técnicos só se viabilizam com base em diagnósticos seguros, realizados por
profissionais habilitados e especializados, mediante utilização de metodologias e critérios
técnicos de aplicação prática. A esta metodologia se dá o nome de Inspeção Predial,
ferramenta diagnóstica fundamental no enfoque da qualidade das edificações.
Segundo IBAPE-SP (2015), a Inspeção Predial é uma atividade que possui norma e método
próprios. Classifica as deficiências constatadas na edificação com visão sistêmica e gera lista
de prioridades técnicas com orientações ou recomendações para a sua correção.
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Por possuir metodologia para sua aplicação, o que possibilita sua replicação por qualquer
interessado, a Inspeção Predial pode ser considerada um procedimento cientifico, e como tal,
na prática, é uma avaliação com o objetivo de identificar o estado geral da edificação e se seus
sistemas construtivos, observados os aspectos de desempenho, funcionalidade, vida útil,
segurança, estado de conservação, manutenção, utilização e operação, considerando as
expectativas dos usuários (IBAPE-SP, 2012). A inspeção predial requer um conhecimento
técnico específico, e um domínio de distintas áreas do conhecimento (BIGOLIN et al, 2014).
Ainda de acordo com Bigolin et al (2014), no cerne dos procedimentos de conservação,
durabilidade e vida útil das edificações, a Inspeção Predial busca a qualidade e desempenho
satisfatório das edificações através de vistorias - realizadas por profissionais formados em
Engenharia Civil ou Arquitetura e habilitados por seus respectivos conselhos de classe -, onde
são identificadas eventuais anomalias ou falhas (identificadas, normalmente, através de
manifestações patológicas).
A importância da Inspeção Predial, objetivando maior segurança e durabilidade das
edificações, muito bem abordada por Parissenti (2016), fica clara com base nos inúmeros
casos de sinistros prediais ocorridos nos últimos anos em nosso país, amplamente noticiados
nas mídis impressas e digitais nacionais, podendo-se exemplificar com a queda do Edifico
Palace II (Rio de Janeiro - RJ), do Edifício Liberdade (Rio de Janeiro - RJ), queda da
cobertura da Igreja Universal do Reino de Deus (Osasco – SP), ruptura de arquibancada do
antigo estádio da Fonte Nova (Salvador – BA), desabamento do teto de um templo da igreja
evangélica Renascer em Cristo (São Paulo – SP), desabamento do Edifício Real Classic
(Belém – PA), e mais recentemente os casos de desabamento de parte de um viaduto no Eixo
Sul (Brasília – DF), e mais recentemente com o colapso parcial de viaduto na Marginal
Pinheiros (São Paulo – SP) e desabamento do Prédio Wilson Paes de Almeida (São Paulo –
SP).
A Inspeção Predial deve ser entendida como uma avaliação técnica do “estado de
conformidades de uma edificação”, com base nos aspectos de desempenho, vida útil,
segurança, estado de conservação, manutenção, utilização, operação, observado sempre o
atendimento às expectativas dos usuários (IBAPE-SP, 2012). Trata-se, segundo o Instituto de
Engenharia (2016), portanto, de uma avaliação tridimensional baseada nos aspectos
construtivos (técnica), de manutenção e de uso e ocupação da edificação.
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Figura 2 – Esquema da visão Sistêmica Tridimensional da Inspeção Predial
Fonte: GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES NETO (2006) apud NEVES e BRANCO (2009)
Segundo IBAPE-SP (2012), Inspeção Predial baseia-se, sucintamente, na determinação das
anomalias (defeitos e patologias ligadas ao processo construtivo) e falhas (defeitos e
patologias ligadas ao processo de manutenção) de uma edificação e seus sistemas.
Por ser uma ferramenta/técnica com procedimentos e metodologia específica, é redundante
afirmar que o seu desenvolvimento se dá por etapas muito bem definidas. Estas etapas estão
muito bem abordadas nos trabalhos do IBAPE-SP (2012) e (2015), e também no texto de
Neves e Branco (2009).
A ideia da Inspeção Predial remonta no Brasil a década de 1960 quando já se pensava em
como melhorar o desempenho das edificações (CREA-PR, 2016). O aprofundamento no
assunto, na década de 1970, também se deve pela edição e publicação da primeira versão da
norma de manutenção predial, a NBR 5674 no ano de 1977, que apesar de não ser intitulada
como uma norma de inspeção predial teve grande vinculação com a temática central neste
trabalho.
Em 1997, o CREA/SP em parceria com o IBAPE/SP, publicaram o livro “Saúde dos
Edifícios”, onde o tema Inspeção Predial passa a ser abordado em material impresso
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divulgado ao meio técnico. No entanto, o real desenvolvimento desta temática, em ambiente
científico, iniciou-se com o trabalho “A Inspeção Predial Periódica deve ser obrigatória?”,
apresentado no X COBREAP (Congresso Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia,
realizado me Porto Alegre no ano de 1999.
Na esteira deste trabalho, o IBAPE-SP editou e publicou, em 2001, a primeira norma técnica,
daquele instituto, sobre o tema Inspeção Predial. Constantemente esta norma técnica tem
passado por revisões, sendo a última datada de 2011.
Na vanguarda de desenvolvimento dos conceitos de Inspeção Predial, o IBAPE-SP publicou,
ainda em 2015, Cartilhas de Inspeção Predial abordando tópicos específicos desta disciplina,
tais como: mecanização, acessibilidade, sistemas de prevenção e combate a incêndio, sistemas
e elementos complementares e equipamentos e espaços de lazer.
No Estado do Paraná a tratativa deste assunto iniciou-se no final do ano de 1998, quando o
tema passa a ser discutido pelos peritos do INAPAR (hoje IBAPE PR), de maneira ampla,
tendo como motivação as diversas demandas judiciais entre Condomínios e Construtoras,
entre Condôminos e Condomínios e entre Condôminos. De uma maneira generalizada
observaram os peritos naquela época que essas demandas aconteciam principalmente por falta
de manutenção nas edificações principalmente em edifícios residenciais (CREA-PR, 2016).
A utilidade da Inspeção Predial, ainda que as definições acima pareçam indicar ser
unicamente a realização de uma vistoria para levantamento de anormalidades e
desconformidades em uma edificação, é também a de incutir responsabilidades nos gestores e
proprietários das edificações, através de levantamento e compilação de dados a respeito dos
sistemas construtivos do imóvel e instalações, permitindo que aqueles promovam a
elaboração ou revisão do Plano de Manutenção, Uso e Ocupação da obra vistoriada (CREA-
PR, 2016)
As informações apuradas durante a Inspeção Predial são compiladas em um documento
(produto) chamado Laudo de Inspeção Predial, o qual deve ser entregue aos proprietários,
gestores e/ou síndicos, bem como eventualmente para as prefeituras que o exigem para
cumprimento à legislação local.
O Laudo de Inspeção Predial, documento elaborado por profissional da área da Engenharia ou
Arquitetura responsável técnico pela vistoria, corresponde a etapa final do processo executivo
da Inspeção Predial, e segue diretrizes mínimas, em observância à Norma Técnica ABNT
NBR 13752 e à Norma Específica do IBAPE/SP.
A referida peça técnica, segundo IBAPE-SP (2015), deve ser composta minimamente dos
seguintes tópicos:
1. Identificação do solicitante;
2. Classificação do objeto da inspeção;
3. Localização;
4. Datas das vistorias e equipe;
5. Descrição técnica do objeto:
Tipologia e Padrão Construtivo;
Utilização e Ocupação;
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Idade da Edificação;
6. Nível utilizado de inspeção;
7. Documentação analisada;
8. Critério e metodologia da inspeção;
9. Das informações:
Lista de verificação dos elementos construtivos e equipamentos vistoriados
com a descrição e localização das respectivas anomalias e falhas;
Classificação e análise das anomalias e falhas quanto ao grau de prioridade;
10. Lista de prioridades;
11. Classificação da qualidade de manutenção;
11. Lista de recomendações técnicas;
12. Lista de recomendações gerais e sustentabilidade;
13. Relatório fotográfico (este pode ser anexo ao Laudo ou, ainda, junto de cada
problema constatado e descrito no item 9);
14. Recomendação do prazo para nova Inspeção Predial;
15. Data do laudo;
O Laudo de Inspeção Predial apesar de ser uma peça técnica muito ilustrativa e gráfica, do
que se extrai a importância do profissional responsável pela vistoria dispor de boa técnica de
fotografia, conforme relatado por FIKER (2011), não é um simples check-list com fotos,
devendo caracterizar-se por ser um documento completo que permita uma visão holística e
detalhada das condições físicas da edificação (ao menos dos sistemas e instalações
vistoriados), contendo todas as etapas descritas para a realização do trabalho (IBAPE-SP,
2015).
A legislação a respeito da obrigatoriedade da Inspeção Predial, em obras públicas ou privadas,
apesar da evolução dos últimos anos em nível nacional, conforme abordagem apresentada por
Neves e Branco (2009), Neto (2015) e Oliveira e Filho (2008), ainda se mostra incipiente e é
inexistente atualmente nos 399 municípios paranaenses, vide não haver leis municipais ou
estaduais específicas para o tema (CREA-PR, 2016).
Em suma, a importância primordial da Inspeção Predial reside na diferenciação entre as
deficiências constadas na edificação, as quais permitiram a apresentação de um plano de
reparo ou de manutenção (IBAPE-SP, 2012). Trata-se de uma ferramenta técnica, que possui
métodos e procedimento específicos, deve ser executada por profissional(is) habilitado(s)
(pode ser multidisciplinar), onde além da caracterização das anomalias e falhas do imóvel, se
estabelecem avaliações sobre seu estado de manutenção e sua condição de uso, constituindo
assim uma peça técnica (O Laudo de Inspeção Predial) ao gestor/proprietário, responsável
pela qualidade, durabilidade e segurança da edificação, para tomada de decisão acerca de
procedimentos de manutenção, reparação, reforma ou até demolição (parcial ou total) do bem
imóvel.
Não é possível precisar, vez não haver estudos que apresentem tal informação, quando e onde
ocorreu o primeiro curso específicos sobre Inspeção Predial. Acredita-se que tenham surgido
a partir das publicações e estudos do IBAPE-SP (a mais de uma década), tendo ocorrido em
nível de especialização ou cursos de extensão, ofertados pelo IBAPE Nacional e o IBAPE-SP.
Igualmente não é possível determinar qual a primeira vez que este tema passou a ser abordado
em nível de graduação no Brasil e com qual profundidade. Salienta-se porém não ser este o
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foco deste trabalho, mas sim a verificação da abordagem do tema a nível de graduação nos
cursos de Engenharia Civil no Estado do Paraná.
Verifica-se, com rápida pesquisa pela world wide web, que há uma série de instituições que
ministram cursos de Inspeção Predial, no entanto todos em nível de especialização, pós
graduação ou cursos de extensão. Não se evidencia, em pesquisa online superficial, cursos de
graduação de Engenharia Civil que possuam o assunto “ Inspeção Predial” como componente
(disciplina) de sua grade (matriz) curricular.
O Conselho Nacional de Educação – órgão associado ao MEC e que tem como missão
auxiliar o Ministério da Educação na formulação e avaliação das políticas nacionais de
educação, com foco no cumprimento da legislação e na qualidade -, por meio da sua Câmara
de Educação Superior, instituiu através da Resolução CNE/CES 11 (de 11 de Março de 2002)
as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia.
Referido documento estabelece, em suma, de acordo com seu art. 2º:
“(...) os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de
engenheiros, estabelecidas pela Câmara de Educação Superior do Conselho
Nacional de Educação, para aplicação em âmbito nacional na organização,
desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em
Engenharia das Instituições do Sistema de Ensino Superior” (CNE/CES, 2002).
No artigo 4º da referida Resolução ficam estabelecidas as competências e habilidade do qual o
graduando deve ser dotado através do curso de Engenharia Civil, destacando-se em especial
os tópicos VI, VII e VIII, que versam:
“(...)
VI - supervisionar a operação e a manutenção de sistemas;
VII - avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas;
VIII - comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica;
(...)”
A Resolução ainda apresenta os requisitos mínimos para a grade curricular do curso de
Engenharia Civil, vez que em seu artigo 6º determina que todo o curso de Engenharia,
independentemente de sua modalidade, deve possuir em seu currículo um núcleo de
conteúdos básicos, um núcleo de conteúdos profissionalizantes e um núcleo de conteúdos
específicos que caracterizem a modalidade (CNE/CES, 2002).
No texto “Currículo, conhecimento e cultura”, Moreira e Candau (2006) definem currículo
como: conjunto de práticas que proporcionam a produção, a circulação e o consumo de
significados no espaço social e que contribuem, intensamente, para a construção de
identidades sociais e culturais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de grande
efeito no processo de construção da identidade do estudante. Currículo refere-se, portanto, a
criação, recriação, contestação e transgressão (Moreira e Silva, 1994).
Segundo se extrai da Wikipédia, “componente curricular” é definido como a disciplina
acadêmica que compõe a grade curricular de um determinado curso de um determinado nível
de ensino. É obrigatória sua inclusão e ministração com a carga horária mínima determinada
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na grade, a fim de que o curso tenha eficiência e validade. No Brasil o componente curricular
pode ser denominado de matéria, disciplina ou cadeira.
Com base nas constatações acima, e dada a importância que o tema “Inspeção Predial” tem
atualmente no meio profissional, conforme se extrai dos inúmeros incidentes com edifícios
por todo o país, reforçada pelos trabalhos de Parissenti (2016) e Rocha (2007), pretende-se
com este trabalho abordar a temática do ensino de Inspeção Predial em nível de graduação de
Engenharia Civil, em especial junto as instituições de ensino superior (IES) que oferecem o
curso (na modalidade presencial ou EAD) no Estado do Paraná, por ser o assunto de elevada
relevância na preparação dos futuros profissionais da área.
Utilizando-se de uma pesquisa exploratória, buscou-se relacionar as IES, que possuem o curso
de Engenharia Civil, e que em sua grade/matriz curricular ofertam a disciplina de Inspeção
Predial, ou matérias afetas a este tema (tais como Perícias, Manutenção, Auditoria,
Patologias, etc.), segregando esta amostra entre as que ofertam a disciplina de forma
exclusiva, as que ofertam de forma parcial (como assunto dentro de outra disciplina) e as que
não ofertam a matéria aos graduandos. Obtido estes dados, será possível tecer algumas
conclusões sobre o status quo, buscando elencar possíveis hipóteses para a situação aferida e
sugerindo procedimentos de aprimoramento.
2. Metodologia
Segundo definição dada por Robson (2002), este trabalho apresenta a característica de ser um
projeto flexível, uma vez que o planejamento inicial se limita ao foco da pesquisa e a definir
alguns aspectos gerais sobre esta. Os detalhes da pesquisa mudam dependendo de descobertas
feitas. Na maioria das vezes apresentam a característica de serem pesquisas com coleta de
grande quantidade de dados qualitativos (embora também sejam gerados dados quantitativos).
A estratégia de pesquisa adotada para este artigo pode ser entendida como exploratória, a qual
por definição de Robson (2002) é motivada a entender o comportamento observado em
situações particulares, obter novas observações sobre o tópico e colocar novas perguntas
sobre o tema e gerar novas oportunidades de pesquisas sobre o assunto, ou seja, abrir o leque
de pesquisa.
A pesquisa será desenvolvida com base em revisão da bibliografia (pesquisa bibliográfica) e
pesquisa documental.
A revisão bibliográfica, base de todo trabalho cientifico, busca apresentar o que já foi
desenvolvido por outros pesquisadores sobre o tema em estudo. Assim, o estudo da literatura,
contribui em muitos sentidos: definição dos objetivos do trabalho, construções teóricas,
planejamento da pesquisa, comparações e validação da pesquisa (RIBEIRO, 2007). Para este
artigo a revisão bibliográfica foi centrada nos temas: Inspeção Predial, Engenharia
Diagnóstica, Manutenção Predial e matriz curricular.
Por sua vez, a pesquisa documental se baseia em materiais que não receberam tratamento
analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa
(GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Segundo os meus autores citados, esta tipologia de
pesquisa se baseia em documentos de dois tipos principais: fontes de primeira mão e fontes de
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segunda mão. Gil (2008) define os documentos de primeira mão como os que não receberam
qualquer tratamento analítico, como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas,
contratos, diários, filmes, fotografias, gravações etc. Os documentos de segunda mão são os
que, de alguma forma, já foram analisados, tais como: relatórios de pesquisa, relatórios de
empresas, tabelas estatísticas, entre outros.
Para o presente artigo, a pesquisa documental se desenvolveu com levantamento de dados e
análise de relatórios (portanto materiais de fontes de segunda mão, cfe. definição de Gil
[2008]) , durante os meses de setembro a outubro de 2018, obtidos junto ao portal do
Ministério da Educação – MEC, através do sítio eletrônico http://emec.mec.gov.br/. As
informações obtidas, referentes as Instituições de Ensino Superior que disponibilizam o curso
de Engenharia Civil, foram utilizadas para acessar a matriz curricular dos cursos ofertados e
levantar dados a respeito da oferta de disciplinas de Inspeção Predial ou correlatas,
possibilitando análise posterior da abrangência do tema à nível de graduação no Estado do
Paraná.
2. Desenvolvimento, análise e discussão
Conforme já delineado anteriormente, o objetivo principal desta pesquisa é a verificação da
abordagem da temática Inspeção Predial, a nível de graduação nos cursos de Engenharia
Civil1 (Presencial ou EAD) ofertados em IES no Estado do Paraná, com propósito de
correlacionar esta abordagem com a importância do tema em nível profissional no cenário
nacional.
Cabe esclarecer que a pesquisa se limitou ao curso de Engenharia Civil, a despeito do fato de
a ferramenta Inspeção Predial poder ser aplicada por profissionais da área de Arquitetura,
Engenharia Mecânica ou Elétrica, por exemplo, por ser muito mais difundida (em nível de
pós-graduação e extensão) para esta classe de profissionais. Ademais como a Inspeção Predial
envolve vistoria técnica em diversos sistemas e instalações das edificações, entende-se que o
curso de graduação que mais abrange o projeto e execução da maior parte dos sistemas
prediais, e possibilita entender quais condições representam desconformidades em tais
sistemas, é a Engenharia Civil.
A pesquisa se limitou ao Estado do Paraná por mera opção do autor deste trabalho, que
buscou regionalizar sua pesquisa facilitando suas conclusões e aproximando de sua realidade
profissional.
Através de consultas online, realizadas entre os meses de setembro e outubro de 2018, ao
portal eletrônico do e-MEC (http://emec.mec.gov.br/), definido pelo MEC (Ministério da
Educação) como base de dados oficial e única de informações relativas às Instituições de
Educação Superior – IES e cursos de graduação do Sistema Federal de Ensino, buscou-se
obter relação das IES no Estado do Paraná que ofertam, em sua relação de cursos da
graduação, o curso de Engenharia Civil.
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Figura 3 – Tela principal da busca interativa no portal e-MEC
Fonte: Autor (adaptado de www.emec.gov.br)
Nestas consultas, realizadas através do menu “Consulta Interativa” do referido portal,
selecionando-se o estado do Paraná (cfe. indicado na Figura 3), se acessa uma dashboard
divida em três campos: Cursos, Munícipio e Instituições. Esta tela inicial expõe alguns dados
interessantes, tais como: o número de cursos ofertados em IES situadas no Estado do Paraná
(total de 435) e a distribuição destas instituições no Estado (as IES estão situadas em 210
municípios paranaenses).
Com a escolha do curso Engenharia Civil, no campo “Cursos” da referida dashboard, o
campo “Instituições” passa a apresentar o número total de IES que, no Estado do Paraná,
ofertam o curso de Engenharia Civil, o qual é de 79 Instituições de Ensino Superior.
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Figura 4 – Dashboard da consulta interativa do portal e-MEC
Fonte: Autor (adaptado de www.emec.gov.br)
No entanto, a pesquisa para este artigo abrangeu um universo de 80 instituições (vide Anexo
I), já que por opção e análise do pesquisador, por haver semelhança considerável da grade
curricular entre os cursos, foi considerada também uma IES que oferta o curso de Engenharia
Civil de Infraestrutura.
No Anexo I é possível ver a relação da IES, bem como sua localidade, modalidade de oferta
do curso de Engenharia Civil, endereço de sítio eletrônico, link para acessar grade curricular
de engenharia civil (quando disponível no portal da IES) ou e-mail/telefone do contato que
dispõe da grade curricular do curso atualizada.
Com base na relação de instituições, após os filtros de cursos aplicados, tabulou-se as mesmas
e buscou-se obter as grades/matrizes curriculares do curso de Engenharia Civil (ou
Engenharia Civil e Infraestrutura, no caso de uma das instituições pesquisadas).
Com acesso as grades curriculares, foi possível verificar as disciplinas ofertadas e ter acesso
pontual às ementas de algumas disciplinas onde a temática tivesse relação com o estudo deste
artigo.
A coleta destes dados (componentes da matriz curricular) foi pautada na análise de disciplinas
intituladas ou que possuíssem como termo, em sua denominação, as seguintes palavras
chaves: “Inspeção Predial”, “Perícias”, “Patologias”, “Recuperação”, “Manutenção”,
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“Desempenho”, “Avaliação”, Pós-Ocupação”, “Auditoria”, “Normatização”, Engenharia
Diagnóstica” e “Laudos”.
Evidentemente buscou-se segregar os cursos de Engenharia Civil pesquisados naqueles que o
tema “Inspeção Predial” é abordado de forma plena e em disciplina exclusiva e dedicada ao
assunto, onde seus conceitos, conteúdo métodos, procedimentos e resultados são apresentados
ao graduando com base nas publicações técnicas (normas, artigos, orientações, etc.) sobre o
assunto, ou seja, o grupo de IES que atendem plenamente o escopo da ferramenta diagnóstica
estudada. Foram agrupadas as IES onde o assunto é debatido parcialmente, ou seja, por meio
de outras disciplinas que não focadas exclusivamente em apresentar os conceitos e conteúdos
pertinentes à Inspeção Predial. Foi ainda criado um terceiro grupo de IES, as quais o tema
não é debatido nem superficialmente dentro de outra matéria ou de forma dedicada, ou seja,
a temática não é discutida em nível nenhum dentro da graduação de Engenharia Civil. Com
isto criou-se três grupos de instituições de ensino distintos, àqueles onde o tema é abordado
plenamente, outro onde o tema é abordado parcialmente (vinculado a outro componente
curricular) e àquele onde o tema não é abordado em nível de graduação (Anexo I).
Durante consulta às IES, ocorreram de não se obter informações sobre as grades curriculares
de três (03) instituições, cfe. indicado no Anexo I.
3. Resultados
Tabulados os dados, cfe. apresentado no Anexo I, e com base em informações extraídas da
plataforma e-MEC do Ministério da Educação, é possível obter as seguintes informações e
resultados:
a) O Estado do Paraná concentra 42,32% das IES (total de 80), com oferta de curso de
Engenharia Civil (e similares), da região Sul do território brasileiro (189 IES somados os
três estados da região);
b) No Paraná se encontram 6,57% do total das IES, que ofertam cursos de Engenharia Civil
(e correlatos), do Brasil (1216 IES no total);
c) Duas (02) das Instituições de Ensino Superior pesquisadas não forneceram, e não possuem
em seu site/portal, a grade/matriz curricular do curso de Engenharia Civil ofertado,
portanto impossibilitando análise da abordagem da temática Inspeção Predial no curso
estudado;
d) Nenhuma das Instituições de Ensino Superior pesquisadas ofertam uma disciplina
(obrigatória ou eletiva) com abordagem exclusiva à temática “Inspeção Predial”, no curso
de Engenharia Civil (ou curso equivalente, como Engenharia Civil de Infraestrutura);
e) Quarenta e uma (41), das 80 IES pesquisadas, abordam parcialmente a temática, porém de
forma superficial e como parte do conteúdo programático de outras disciplinas do curso de
Engenharia Civil;
f) Trinta e sete (37), das 80 IES levantadas, não abordam a temética “Inspeção Predial”,
mesmo que superficialmente ou junto à outras disciplinas, em seus cursos de Engenharia
Civil;
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Figura 5 – Número e percentual de Instituições de Ensino Superior onde a temática “Inspeção Predial” é
abordada na graduação de Engenharia Civil – Resultados brutos
Fonte: Autor
Figura 6 – Número e percentual líquido de Instituições de Ensino Superior onde a temática “Inspeção Predial” é
abordada na graduação de Engenharia Civil (PR) – Resultados líquidos
Fonte: Autor
Os resultados acima demonstrados indicam que o Estado do Paraná é bastante representativo
na oferta de cursos de Engenharia Civil, à nível regional e nacional. Logo, é de se esperar que
a temática “Inspeção Predial”, se profunda e corretamente abordada à nível de graduação,
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teria alto potencial de permeabilidade no meio técnico (em especial com os novos
profissionais).
De forma geral, cerca de 97% das Instituições de Ensino Superior do Estado do Paraná,
possuem de forma acessível, ou ao menos com facilidade de obtenção, a grade/matriz
curricular dos cursos de Engenharia Civil.
Verifica-se que a abordagem da Inspeção Predial ainda é incipiente à nível de graduação no
Estado do Paraná, vez não haver nenhuma IES, e curso de Engenharia Civil (ou correlato),
pesquisada com disciplina dedicada exclusivamente ao assunto.
O debate do assunto, sua apresentação e prática didática, ainda não são devidamente
difundidos para os estudantes de Engenharia Civil, a despeito de sua importância e sua
corrente normatização, sendo abordado apenas em conjunto com assuntos de manutenção,
desempenho, patologias das construções ou outras ferramentas da Engenharia Diagnósticas
(como a Perícia).
Acredita-se que o tema, ainda quase exclusivamente debatido em cursos de pós-graduação e
extensão, poderá ser mais aprofundado com os estudantes a partir de sua normatização
(Projeto ABNT NBR 16747), contribuindo assim para as aplicações desta nova norma e de
complementando a aplicação de outras, tais como a NBR 5674:2012, NBR 15575:2013, NBR
14037:2014, NBR 16280:2015, etc.
Uma justificativa para a baixa discussão deste tema em nível de graduação pode ser atribuída
a suposta necessidade de experiência pelo profissional vistoriador, responsável pelo
desenvolvimento do Laudo de Inspeção Predial. Não se nega que a experiência do
profissional inspetor, especialmente para detecção das anomalias e falhas nas edificações
(relação causa x efeito), é primordial, tal como já colocado pelo IBAPE-SP (2012) e IBAPE-
SP (2015), mas só ela (a experiência) não permite por si só que o profissional responsável
técnico aplique a ferramenta diagnóstica em questão de forma plena.
É fundamental que o profissional, seja ele recém-formado ou a mais tempo no mercado de
trabalho, conheça a metodologia, os procedimentos e etapas, bem como a forma de
apresentação de um Laudo de Inspeção Predial, e este tópicos podem (e devem) ser abordados
à nível de graduação, capacitando os profissionais a aplicarem a Inspeção Predial de forma
multidisciplinar, não apenas em termos de saberem atuar com outros profissionais de outras
áreas, mas sabendo unir os componentes da sua própria grade curricular aos conceitos da
Inspeção Predial.
5. Conclusão e sugestões
Tendo em vista os aspectos apresentados na revisão bibliográfica e os resultados obtidos pela
pesquisa exploratória empreitada, conclui-se que a discussão sobre a Inspeção Predial ainda
ocorre de forma muito superficial nos cursos de graduação em Engenharia Civil no Estado do
Paraná, sendo que quando abordada aos estudantes, assim é feita como pequena parte do
conteúdo de outras disciplinas.
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A despeito da disseminada importância do tema ao meio profissional, e na sociedade como
um todo, vez que custos materiais e humanos com sinistros de obras parecem ser multiplicar
no cenário nacional nos últimos anos, a academia parece não dividir da mesma tendência.
A Inspeção Predial deve ser entendida, cfe. já abordado neste trabalho, como um check up da
edificação, aplicável à qualquer tipo de edificação, seja esta de uso residencial, comercial,
pública, industrial, estádios de futebol, arenas diversas, aeroportos, praças, parques, pontes,
viadutos, barragens, etc. Dada a profundidade de aplicação, sua discussão deve ser abordada
no meio acadêmico, de modo a permitir o egresso de profissionais preparados a performá-la.
A Inspeção Predial desponta como uma solução à minimização de custos, objetivando a
melhoria significativa da qualidade, durabilidade e a segurança de edificações e usuários
destas, impactando inclusive no meio ambiente, indicando assim sua importância em termos
econômicos, sociais, ambientais e incorporando em sua abrangência aspectos de
sustentabilidade, manutenabilidade, acessibilidade e funcionalidade.
A já difundida Lei de Sitter (ou Lei dos Cinco), cfe. apresentada em Sitter (1984, apud
CREA-PR, 2016), descreve a evolução dos gastos com manutenção no imóvel (custos com
manutenção preventiva são cinco vezes menores que gastos com manutenções corretivas), de
acordo com a etapa em que se encontra o imóvel, e denota a importância econômica e
financeira da Inspeção Predial como ferramenta diagnóstica que subsidia as ações e
intervenções de manutenção do empreendimento.
A importância da capacitação dos profissionais em Inspeção Predial, em especial desde o
nível da graduação, fica evidente na necessidade da difusão do tema no meio público e
privado, vez os eventos de sinistro de obras e edifícios ocorridos no Brasil nos últimos anos.
O egresso, logo que formado e habilitado, pode exercer as atividades de projeto e execução de
obras, e o deve fazer dentro das metodologias, definições e procedimentos normativos
pertinentes a cada área de atuação. Apto a planejar, projetar e a construir ele deve pensar na
durabilidade, vida útil, manutenabilidade, sustentabilidade e seguranças das obras as quais se
torna responsável, e a ferramenta da Inspeção Predial, quando abordada em nível de
graduação, irá permitir esta visão tridimensional do edifício: técnica, funcional e de uso
(manutenção).
Não abordar a temática na graduação parece ser caminho inverso à tendência do meio técnico,
que vem sendo a de se planejar, projetar e executar obras mais duráveis e com manutenção
mais facilitada, programada e preventiva. Com advento de importantes normas técnicas, tais
como ABNT NBT 5674, ABNT NBR 14037, ABNT NBR 15575 e ABNT NBR 16280,
verifica-se a necessidade dos profissionais, sejam estes recentemente egressos ou com maior
tempo de atuação (vez que as normas não fazem esta distinção a tempo de formado do
profissional), em projetar e executar obras duradouras e manuteníveis, reduzindo assim custos
do pós-ocupação e garantindo integridade das edificações e de seus usuários.
A mudança cultural, quanto aos aspectos da necessidade de manutenção das edificações, uma
das finalidades da Inspeção Predial, se mostra cada vez mais necessária em nossa sociedade.
Cabe ao MEC, as IES e, em especial, as coordenações dos cursos de Engenharia Civil (não só
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do Estado do Paraná, apesar deste trabalho ter esta limitação geográfica), serem agentes
atuantes neste processo, e a forma mais eficaz é a discussão da metodologia e aplicação da
Inspeção Predial ainda no nível de graduação.
De nada adiantará a discussão sobre a implementação de leis específicas, que tornem
obrigatório a realização periódica de vistorias de Inspeção Predial, se não for possível
preparar a “mão-de-obra” responsável pela aplicação desta ferramenta da Engenharia
Diagnóstica.
Dotar os futuros engenheiros deste conhecimento se mostra mais interessante e menos custoso
a sociedade como um todo, pois incorporará neste futuro profissional este conhecimento e a
preocupação de se pensar e planejar obras onde a vida útil de projeto seja maior e os
procedimentos de manutenção sejam melhor detalhados aos usuários, sua forma de realização
seja adequadamente explicitada no Plano de Manutenção ou Manual de Uso e Operação, e sua
periodicidade adequadamente atendida pelos gestores/proprietários/responsáveis pelas
edificações.
Por fim, deixa-se de sugestão, como continuidade deste trabalho, duas linhas de estudo para
novas pesquisas:
• Ampliação deste estudo às demais Unidades da Federação e Distrito Federal, de forma
a permitir analisar em nível nacional a abrangência do tema Inspeção Predial na
graduação dos cursos de Engenharia Civil; e
• A realização do mesmo estudo, a nível regional ou nacional, após decorrido tempo
determinado (de pelo menos 1 ano) da publicação da nova norma ABNT NBR 16747,
atualmente em fase de projeto e com previsão de publicação em 19/07/2019;
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Anexos
Anexo I - Quadro representativo das Instituições de Ensino Superior (IES) no Estado do
Paraná, com oferta de curso de Engenharia Civil