a alegoria do amor - c. s. lwis

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    Editora Mundo CristoSo Paulo

    Traduzido por:Glauco Barreira Magalhes Filho

    na obra de C. S. Lewis

    O imaginrio

    C. S. LEWIS

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    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos reservados pela:

    Associao Religiosa Editora Mundo Cristo

    Rua Antnio Carlos Tacconi, 79 CEP04810-020 So Paulo SP Brasil

    Telefone: (11) 5668-1700 Home page: www.mundocristao.com.br

    Editora associada a:

    Associao Brasileira de Editores Cristos

    Cmara Brasileira do Livro

    Evangelical Christian Publishers Association

    A 1 edio foi publicada em dezembro de 2005, com uma tiragem de 2.000 exemplares.

    Impresso no Brasil

    O IMAGINRIOEMASCRNICASDENRNIACATEGORIA: LITERATURA / ENSAIO

    Copyright 2005 por Glauco Barreira Magalhes Filho

    Coordenao editorial:Silvia JustinoColaborao:Rodolfo OrtizPreparao de texto: Vernculo Ass. EditorialReviso:Renata BoninSuperviso de produo:Lilian MeloProjeto grfico:Sonia PeticovCapa:Douglas LucasImagem da capa: Foto de Phil Bray Buena Vista Internacional

    Os textos das referncias bblicas foram extrados da verso Almeida Revista e Atualizada, 2 ed.(Sociedade Bblica do Brasil), salvo indicao especfica.

    Este livro foi produzido com o apoio da Tyndale House Foundation.

    10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 05 06 07 08 09 10 11 12

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Magalhes Filho, Glauco Barreira

    O imaginrio em As crnicas de Nrnia / Glauco Barreira Magalhes Filho So

    Paulo : Mundo Cristo, 2005.

    Bibliografia

    ISBN 85-7325-421-1

    1. Espiritualidade 2. Imaginao 3. Lewis, Clive Staples, 1898-1963 - Crtica e

    interpretao 4. Signos e smbolos 5. Valores (tica) I. Ttulo.

    CDD820.905-8161

    ndice para catlogo sistemtico

    1. Literatura inglesa : Autores irlandeses : Histria e crtica 820.9

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    A

    Jlia Miranda, sociloga, de quem colhi

    preciosas lies sobre o imaginrio

    Carolina Campos e Antonino Fontenelede Carvalho, com os quais entretenho

    inspiradores dilogos literrios

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    Prefcio 9

    Introduo 15

    Primeira Parte: O IMAGINRIO E O PENSAMENTO RELIGIOSO

    CRISTO IMPORTNCIA E PERIGOS DA SIMBOLOGIA

    1. O smbolo e a linguagem religiosa 25

    2. O imaginrio como elemento intrnseco ao ser

    humano: importncia e perigos 37

    3. O imaginrio e sua relao com a realidade 59

    Segunda Parte: O IMAGINRIO NA LITERATURA DE

    C.S. LEWIS IDENTIDADE COM A SIMBOLOGIA BBLICA

    4. O imaginrio e o cristianismo 81

    5. A simbologia celestial em C.S. Lewis 119

    6. A simbologia do imaginrio emAs crnicas

    de Nrnia 133

    Concluso 159APNDICE Sinopse de O leo, a feiticeira

    e o guarda-roupa 165

    Bibliografia 171

    Sobre o autor 175

    Sumrio

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    Mas, como est escrito: As coisas que o olho no viu, e o

    ouvido no ouviu, e no subiram ao corao do homem

    so as coisas que Deus preparou para os que o amam.

    Apstolo Paulo, 1Corntios 2:9

    As imagens desempenham um papel em nossa vida. Vitali-

    zam-nos. Por elas a palavra, o verbo, a literatura so promo-

    vidos categoria da imaginao criadora. O pensamento,

    exprimindo-se numa linguagem nova, se enriquece ao mes-

    mo passo que enriquece a lngua. O ser torna-se palavra. A

    palavra aparece no cimo psquico do ser. A palavra se reve-

    la como devir imediato do psiquismo humano.

    Gaston Bachelard, O ar e os sonhos1

    As imagens mticas expressam a necessidade de transcender

    os contrrios, de abolir a polaridade que caracteriza a con-

    dio humana, para alcanar a realidade ltima.

    Glauco Barreira Magalhes Filho,O imaginrio em As crnicas de Nrnia

    Prefcio

    1Ensaio sobre a imaginao do movimento.

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    10 O imaginrio em As crnicas de Nrnia

    Sinto-me bastante lisonjeado, por dois motivos pelo me-

    nos, da incumbncia de preparar os caminhos da obra O

    imaginrio em As crnicas de Nrnia, de Glauco BarreiraMagalhes Filho, que a editora Mundo Cristo publica. O

    primeiro deles diz respeito ao valor do tema imaginrio, to

    caro s cincias sociais atualmente. luz do cristianismo b-

    blico, o autor lhe d um tratamento arguto, corajoso e origi-

    nal, ao analisar a obra do escritor irlands C. S. Lewis.

    O segundo motivo, decorrente em certa medida do pri-meiro, est relacionado grandeza da obra e do escritor ana-

    lisado. Embora Lewis dispense longas apresentaes, preciso

    mencionar suas credenciais como poeta, filsofo, apologista

    cristo, escritor, professor e crtico literrio.

    J h algum tempo, C. S. Lewis goza de grande populari-

    dade, principalmente em pases de lngua inglesa. Entre ns,vem ganhando notoriedade em especial por sua literatura

    crist. A obra de Glauco Filho vem reforar, portanto, esta

    merecida posio de destaque alcanada por Lewis.

    Partindo de uma discusso bem amparada teoricamente,

    este trabalho analisa o imaginrio como elemento constituidor

    da literatura ficcional do autor norte-irlands, to afeito literatura fantstica, com maior ateno para As crnicas de

    Nrnia, mais especificamente para O leo, a feiticeira e o guar-

    da-roupa.

    Ainda que o livro aborde com maior fora a construo

    do imaginrio na esfera do cristianismo e avente hipteses de

    natureza teolgica para explicar os mais diferentes aspectosque envolvem a questo, ele ultrapassa seus limites. O alcan-

    ce terico pode interessar a outros campos do saber graas

    ao dilogo travado com uma pliade de pensadores que Glauco

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    Prefcio 11

    Filho toma como seus interlocutores. Trata-se de nomes como

    Herclito, Santo Agostinho, Descartes, Kant, passando por

    Jung, Bachelard, Feurbach, Marx e chegando a Castoriadis eDurand. Se uma obra, portanto, pode assumir seu valor pela

    referncia apropriada a autores consagrados, O imaginrio

    em As crnicas de Nrnia possui grande relevncia, seja numa

    relao de aliana ou conflito.

    Dado seu carter polifnico, o livro assume um tom mul-

    tifacetado, constituindo um debate fecundo sobre o imagi-nrio, debate esse pontuado de exemplos extrados sobretudo

    da obraAscrnicas de Nrnia.

    Este trabalho pode interessar tambm, explcita e direta-

    mente, aos estudiosos de teologia que se concentrarem no

    que chamo de Teologia da Nostalgia. Ao remontar aos msti-

    cos medievais, Glauco Filho aposta na idia de que h umaespcie de sentimento saudosista, consciente ou inconscien-

    temente, inerente raa humana de um lugar em que reina

    a paz e a felicidade, um anseio por uma espcie de lugar de

    onde emana leite e mel. Tal pensamento foi alegorizado na

    literatura pela idia do Paraso e ganhou fora no imaginrio

    cristo com a figura do cu. Na literatura lewisiana, essa ima-gem est bem representada pelo mundo de Nrnia.

    Uma reflexo de carter epistemolgico perpassa todo o

    livro. Como jusfilsofo que , questes dessa natureza no

    lhe poderiam ser estranhas. Influenciado pelas idias de

    Bachelard, o autor investe numa concepo terica do ima-

    ginrio que solapa a viso positivista da percepo da realida-de fundada exclusivamente no conhecimento emprico. Nessa

    direo, seria preciso desfalcar a idia de que o conhecimen-

    to mtico no sentido abordado pelo autor, ancorado por

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    12 O imaginrio em As crnicas de Nrnia

    sua vez nas idias de Jack fruto de mente enfraquecida

    e inculta, resultado de iluses e deformaes cultivadas por

    uma imaginao baseada em enganos e erros.De acordo com o autor, a racionalidade se alimenta do

    imaginrio, do contrrio a esquizofrenia ganharia grande es-

    pao no cenrio social. Do ponto de vista fenomenolgico,

    haveria uma espcie de conscincia imaginrio-imaginativa

    que percebe a realidade, no pela inteligibilidade da razo

    objetiva, mas pelas representaes mentais fomentadas peloimaginrio.

    Contribuio sria a obra tem a oferecer sobre aspectos

    concernentes linguagem, envolvidos no imaginrio. Como

    professor de Hermenutica e de Lgica e Argumentao, dis-

    ciplinas em que a discusso com os elementos da linguagem

    imprescindvel, Glauco Filho conhece bem o assunto. Na

    verdade o trato com a questo do imaginrio no pode des-

    prezar o aspecto lingstico, pois o imaginrio contribui tam-

    bm para mostrar os limites de linguagem a que estamos

    submetidos. A precariedade inerente linguagem pode ser

    minimizada pelo simblico.

    Assim, se concordamos com Cassirer, a via de acesso ao

    real se d pelo simblico. Ora, no se pode esquecer que o

    imaginrio deita razes no simblico, no alegrico. Para

    Durand, terico contemplado pelo autor na discusso sobre

    o imaginrio, o smbolo seria a maneira de expressar o imagi-

    nrio, pois tem a funo transcendental de permitir extrapolar

    o mundo material objetivo.

    Por conseguinte, ao discutir sobre o imaginrio, o autorresvalou no debate sobre a ficcionalizao da realidade atra-

    vs do conceito de alegoria, pelo qual possvel falar de algo

    por associao a outro. Glauco, portanto, escolheu bem seu

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    Prefcio 13

    objeto de anlise: uma narrativa literria de fundo alegori-

    zante, em que, por efeito associativo Nrnia, por exemplo,

    est para o cu, como o Leo Aslam para Jesus.Como quer Le Goff, uma das fontes principais em que o

    imaginrio se manifesta a literatura, considerada, portanto,

    uma das fontes privilegiadas para o estudo do imaginrio. Aobra de Glauco Filho vem reforar essa premissa.

    Se nos alongssemos, poderamos ainda dizer que O ima-

    ginrio em As crnicas de Nrnia traz discusses que inte-ressam antropologia ao mostrar que, nas mais diversificadas

    culturas, existem arqutipos universais da imagem divinasemelhantes, em vrios pontos, idia de Deus criada pelo

    cristianismo bblico.

    Existem ainda, neste livro, questes relevantes para as cin-cias do Direito e da Psicologia (pelo menos para uma certa

    psicologia), para a Sociologia da Religio, a Pedagogia, a His-

    tria etc. que o tempo e o espao nos impedem de considerar

    mais longamente. O leitor mais arguto, porm, descobrir medida que for se encaminhando pelas entrncias da obra.

    Por seu perfil, O imaginrio em As crnicas de Nrnia

    exige uma leitura mais acurada. O leitor interessado na obra

    de C. S. Lewis vai deparar com discusses que o conduziro aum enfrentamento intelectual. Apesar disso e embora a obrarevele a grande formao intelectual de seu autor, a acessibi-

    lidade garantida graas clareza das argumentaes e di-

    dtica com que Glauco Filho constri o texto.

    Tudo isso prepara os caminhos para o entendimento de

    uma obra literria que indubitavelmente se constitui numgrande exemplar da literatura universal:As crnicas de Nrnia.

    Esta, por sua vez, preparou os caminhos para que o autor

    de O imaginrio em As crnicas de Nrnia conhecesse o

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    14 O imaginrio em As crnicas de Nrnia

    livro maior: as Escrituras Sagradas, e por elas chegasse a co-

    nhecer no sentido bblico do termo aquele que lhe d

    sentido e para o qual todo o texto bblico aponta:Jesus Cristo.

    JOOBATISTACOSTAGONALVESMestre e doutorando em Lingstica

    pela Universidade Federal do Cear (UFC)

    Professor da Universidade Estadual do Cear

    e da Faculdade da Grande Fortaleza (FGF

    )

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    Quando criana,costumava brincar sozinho, por ser o nico

    menino da casa. Meus companheiros de brincadeiras eramcriados pela imaginao. Muitos eram personagens bblicos,

    pois comecei a ler a Bblia aos oito anos de idade.Certa vez, na poca de Natal, tive a oportunidade de assis-

    tir pela televiso ao desenho O leo, a feiticeira e o guarda-

    roupa.Eu ainda no era cristo evanglico, nem muito menossabia que o autor da obra em que o desenho se baseara era

    cristo. Aquela histria, entretanto, ficou-me to profunda-

    mente gravada na memria, que acabou entrando em mi-nhas aventuras imaginrias. Acredito que a mensagem cristsubliminar ali presente entrou-me no inconsciente e passou

    a integrar o conjunto de fatores implcitos que contriburam

    para conduzir-me a Cristo.

    Aos quatorze anos, converti-me ao evangelho. Ao ingres-

    sar mais tarde na Universidade como aluno e, depois, comoprofessor, deparei com aqueles que procuravam refutar as

    doutrinas crists com argumentos que presumiam ser racio-

    nais. Voltei-me, ento, para o estudo da apologtica crist edescobri que poderia argumentar de dois modos.

    Introduo

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    16 O imaginrio em As crnicas de Nrnia

    O primeiro consistia em apontar as contradies dos ar-

    gumentos levantados contra o cristianismo para demonstrar,

    em seguida, a razoabilidade de verdades evanglicas. O se-gundo, seria mostrar que aqueles anseios existenciais que

    passaram a integrar o ser humano aps a queda encontramresposta na mensagem crist.

    A realidade que as necessidades mais profundas do ser

    humano no podem ser traduzidas em linguagem cientfica.

    As respostas que esto ao alcance da razo no so satisfat-rias. A Bblia traz promessas que devem ser recebidas por f.

    Elas falam de um suprimento espiritual que s pode ser co-

    municado por figuras e metforas, ou seja, pela transposiodo sentido literal de uma palavra para o sentido figurado.

    Tanto as figuras como as metforas podem ser vistas nas

    mensagens de Jesus e nas descries que a Escritura faz do

    cu. Nesse escopo, portanto, a pregao precisa ser acompa-

    nhada mais pela imaginao do ouvinte que pela razo. As-sim, necessrio que mostremos o valor da imaginao como

    meio para expressar nossos anseios superiores e para inter-

    pretar o suprimento que preencher o vcuo existente em

    nosso ser.

    A descoberta que fiz da importncia do imaginrio me trou-xe lembrana meus dias de infncia. Mostrou-me ainda

    que pregar o evangelho envolve tambm a tentativa de des-

    pertar a criana adormecida em cada pessoa. Afinal, foi o pr-

    prio Jesus quem disse que aquele que no compreender seuReino como uma criana o faz, dele no poder participar.1

    Logo percebi que combater argumentos racionais con-tra o evangelho no era o bastante. Era preciso combater o

    1V. Lucas 18:17.

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    Introduo 17

    racionalismo, um movimento que tratou com muito despre-

    zo a imaginao humana em nome de uma razo tcnica,

    fria e mrbida. No entanto, essa razo mostrou-se incapazde captar o mago da realidade, o qual transcende as catego-

    rias da razo e pode ser desvendado apenas por intuio emo-

    cional pura. O cerne da realidade que a intuio atinge, por

    sua vez, s pode ser anunciado por metforas. nesse mo-

    mento que percebemos a utilidade da imaginao para o co-

    nhecimento da verdade.C. S. Lewis explica que o valor do mito2 tomado no

    sentido de construir uma representao mental do inefvel

    restaura o significado mais profundo do conhecimento

    que se manteve despercebido por excesso de familiaridade. A

    criana que reencontra gosto por um frio pedao de carne,

    ao lembrar que se trata de um bfalo morto em uma caada,mostra-se sbia. O verdadeiro sabor da carne ser restitudo

    ao ser inserido em uma histria.3 Assim, o mito revela o no

    dito pelo dito.

    tentando mostrar isso que Lewis, em seu livro O leo, a

    feiticeira e o guarda-roupa, pertencente a uma de suas obras

    mais famosas denominadaAs crnicas de Nrnia,4

    refere-se aum guarda-roupa mgico cujo lado interno maior que o

    externo.

    2Entre as definies de mito, o Dicionrio Houaissmenciona: Relato

    simblico, passado de gerao em gerao dentro de um grupo, que narra

    e explica a origem de determinado fenmeno, ser vivo, acidente geogrfico,

    instituio, costume social etc.. Nesta acepo, por exemplo, podemos cha-

    mar de mito o relato da Criao, passado de gerao em gerao entre o

    povo judeu primitivo.3C. S. LEWIS. On stories,p. 90.4A coleo publicada no Brasil pela editora Martins Fontes.

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    18 O imaginrio em As crnicas de Nrnia

    C. S. Lewis foi poeta, filsofo, apologista cristo, escritor,

    professor e crtico literrio. Embora polgrafo escreveu

    sobre filosofia, poesia, crtica literria, literatura fantstica efico cientfica , foi sua produo no campo da literatura

    fantstica que mais ganhou destaque. Atravs de figuras tra-dicionais dos contos infantis, o evangelho pde ser apresen-

    tado s crianas.

    Utilizando-se de imagens oriundas da mitologia grega e

    nrdica, e dos contos de fadas, Lewis sempre procurou trans-mitir os valores cristos em seus escritos. Foi grandemente

    influenciado pelas obras de George MacDonald, que escre-

    veu sobre a importncia da fantasia, e G. K. Chesterton, quedestacou a influncia moral positiva dos contos de fada. Tan-

    to MacDonald como Chesterton sempre professaram a f

    crist em suas obras.

    Lewis foi ainda amigo pessoal de J. R. R. Tolkien, autor da

    conhecida obra O senhor dos anis, adaptada tambm para ocinema. Tolkien pertencia aos Inklings, um grupo de catedr-

    ticos que discutia filosofia, literatura e mitologia, ao qual Lewis

    tambm se associou, em 1939. Ele costumava confessar que

    seu lado imaginativo era o mais amadurecido:

    O homem imaginativo em mim mais velho, mais conti-

    nuamente ativo e, nesse sentido, mais fundamental que qual-

    quer um dos outros, o religioso e o crtico. Ele me fez, pela

    primeira vez, aventurar-me como poeta. Ele que, numa

    rplica poesia dos outros, tornou-me um crtico e, em

    defesa a essa rplica, tornou-me muitas vezes um crtico pa-

    radoxal. Foi ele que, aps a minha converso, levou-me a

    encarnar a f religiosa do modo simblico ou mitopotico

    de um screwtape, at um tipo de fico cientfica teolgica.

    Tambm claro que foi ele quem me levou, nos ltimos

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    Introduo 19

    anos, a escrever a srie de contos narnianos, destinados s

    crianas; no porque eu estivesse preocupado com o que elas

    queriam ouvir, ou que me comprometeria a fazer adapta-es [...], mas porque o conto de fadas foi o melhor gnero

    literrio que encontrei para expressar o que pretendia dizer.5

    Clive Staples Lewis ou Jack, como gostava de ser chamado

    pelos amigos, nasceu em Belfast, Irlanda do Norte, em 29 de

    novembro 1898, numa famlia protestante (presbiteriana).

    Cresceu em meio a uma atmosfera de frtil imaginao ecriatividade, compartilhando com o irmo, Warren, a leitura

    de livros clssicos obtidos na seleta biblioteca da famlia.

    Lewis perdeu a me aos dez anos de idade, o que o levou a

    um relativo isolamento estimulado pelas muitas dificul-

    dades do pai para recuperar-se do trauma advindo da prema-

    tura viuvez e a buscar refgio nas histrias infantis.Ao tornar-se adulto, perdeu a f em Deus e viu-se pro-

    cura da alegria que usufrura na infncia. Tal busca levou-o

    a aprofundar-se no estudo de vrias filosofias, o que o con-

    duziu de volta a Deus. No incio, sentiu dificuldade em crer

    num Deus pessoal e na encarnao de Cristo, mas acabou

    vencido pelo cristianismo e vinculou-se igreja anglicana.6

    Lewis ensinou no Magdalen College, de 1925 a 1954, tam-

    bm foi professor de Literatura Medieval e Renascentista na

    Universidade de Cambridge. Muitos de seus trabalhos foram

    significativamente premiados, como A alegoria do amor e Altima batalha.Tornou-se popular pelas palestras transmiti-

    das pela BBCde Londres.

    5W. HOOPER, Letters of C. S. Lewis, p. 444.6Para mais detalhes sobre sua autobiografia, ver o livro Surpreendido

    pela alegria.

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    20 O imaginrio em As crnicas de Nrnia

    Este famoso escritor irlands morreu em 23 de novembrode 1963,7 no mesmo dia de John Kennedy e Aldous Huxley,8

    mas deixou um grande legado. Seus trinta e oito livros, tra-duzidos para mais de trinta idiomas, venderam mais de du-zentos milhes de exemplares.

    O imaginrio, to celebrado na obra de Jack, tambmobjeto de anlise neste livro. A primeira parte examina a im-portncia da imaginao humana confrontando-a com odesprezo injusto que lhe concedeu o racionalismo, hoje em

    decadncia e o elo existente entre ela, a verdade e os valo-res tico-polticos.

    A segunda parte ressalta a relevncia do imaginrio na re-ligiosidade, em especial no cristianismo, e a manifestao dopensamento cristo atravs da criao literria de C. S. Lewis,particularmente em seu livro O leo, a feiticeira e o guarda-

    roupa. Sobre a associao de Aslam, o leo, figura de Cris-to, Lewis comenta:

    No claro que no foi inconsciente, mas, at onde consigo

    recordar, nem mesmo foi, a princpio, intencional. Isto ,

    quando comecei O leo, a feiticeira e o guarda-roupa, no

    creio que tenha previsto o que Aslam iria fazer ou sofrer.

    Acredito que ele apenas insistiu em comportar-se de seuprprio jeito, como Jesus. claro que compreendi isso, e

    toda a srie de crnicas [Nrnia] tornou-se crist.9

    7A vida de C. S. Lewis com sua esposa Joy Gresham foi retratada no filmeShadowlands, no qual o escritor representado por Anthony Hopkins. Suavida tambm foi tema de outro filme intitulado The life of C. S. Lewis:

    through joy and beyond.8John Fitzgerald KENNEDY foi presidente dos Estados Unidos de 1961 a

    1963, ano em que foi assassinado, em Dallas, Texas. Aldous Leonard HUXLEY(1894-1963), escritor e ensasta ingls, autor de Admirvel mundo novo(1932)e A ilha (1962), entre outros.

    9HOOPER, op. cit., p. 486.

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    Introduo 21

    Um breve resumo desse conto de Lewis integra o anexo

    da obra, visando a oferecer, quele que ainda no teve opor-

    tunidade de l-lo, elementos que lhe permitam compreendermelhor a argumentao desenvolvida.

    Devemos, pois, cingir os lombos com a verdade. Na Bblia apalavra lombosimboliza a fertilidade e, nessa citao, ela re-

    mete fertilidade da mente. Deus no condena, portanto, a

    imaginao criativa no campo religioso, afinal ela consiste

    num dos traos da imagem e semelhana que temos comaquele que fez o cu e a terra. Enquanto Deus cria do nada,

    ns criamos a partir das imagens armazenadas na mente. O

    importante que nossa imaginao esteja cingida com a ver-dade, isto , comprometida com o evangelho.

    Se voc que l este livro compreender que a importncia

    da imaginao transcende o prazer dos momentos de diver-

    so e lazer, ento terei alcanado meu objetivo. H uma di-

    menso da realidade que ser revelada na viso beatfica, masque, agora, s podemos dela nos aproximar por representa-

    es e figuras.

    A imaginao , portanto, uma faculdade que faz parte do

    tudo que h em nsque deve glorificar e bendizer ao Senhor.