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A CAPELA DE SANTO AMARO DE BOTAFOGO: Reminiscência de um povoado
AMARO, MARINA ARAUJO POLONI DE. (1); REDINI, LUANA LARA SAFAR REDINI (2)
1. Instituto Federal de Minas Gerais. CODARES.
R. Capitão Luis Soares, 247. São Sebastião – SP. 11.600-000 [email protected]
2. Instituto Federal de Minas Gerais. CODARES.
Av. Nossa Senhora de Copacana, 756, Copacabana. Rio de Janeiro – RJ. 22,050-001 [email protected]
Resumo Santo Amaro de Botafogo está localizado à cerca de 10km do distrito sede de Ouro Preto, às margens da BR 356 (Rodovia dos Inconfidentes). Assim como em outros distritos da região, a localidade possui vasta riqueza cultural e histórica representada em sua arquitetura religiosa e nas tradições festivas locais. Este trabalho visa documentar os aspectos construtivos, arquitetônicos e iconográficos da Capela de Santo Amaro de Botafogo, afim de resguardar sua memória e documentar seus marcos ao longo dos anos, desde de sua construção. Foi desenvolvida pesquisa histórica, bibliográfica e executado o levantamento arquitetônico e fotográfico da capela em questão. Constatou-se intervenções em vários elementos da ermida, como nos forros da nave e capela-mor, no sistema estrutural da cobertura, no piso de azulejo hidráulico e no retábulo-mor. Não foi possível encontrar documentação que relatasse todas as intervenções, contudo foram colhidos relatos orais de moradores antigos da região e dos zeladores que por ali passaram. Palavras-chave: Patrimônio Histórico, Arquitetura Religiosa, História da Arquitetura, Conservação e Restauro, Capela de Santo Amaro de Botafogo.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Apresentação
A localidade de Botafogo teve sua formação no final do século XVII sendo configurada como
um dos mais antigos povoados do município de Ouro Preto, ao contrário do que se tem
divulgado em algumas bibliografias. Existem registros documentais e bibliográficos1 que
remontam a presença de uma estrada de terra batida que ligava a antiga Vila Rica até
Cachoeira do Campo, passando por este lugarejo. Além deste registro, Botafogo possui uma
Capela, que foi edificada em período próximo de sua constituição, a qual se assemelha em
demasia com a arquitetura da Capela de São João Batista de Ouro Preto. Esta última foi
edificada em meados de 1698 e será objeto de estudo comparativo nesta pesquisa a título
de compreender com maior verossimilhança a origem deste povoado, pois já é sabido de
todos que cada vila que se formava no período colonial estabelecia templos religiosos de
adoração.
A origem do nome possivelmente se deu da presença abundante da pedra de Canga na
região. Segundo relatos orais2 a pedra de Canga era popularmente conhecida por pedra
Botafogo uma vez que a fricção destas produzia faíscas. A região dispõe de uma bela
paisagem natural, com relevo montanhoso, matas, pequenos córregos e cachoeiras. Das
áreas mais elevadas é possível avistar os Picos do Itacolomi e do Itabirito. Sua localização
se dá às margens da rodovia dos inconfidentes (BR 356), a 9 km do distrito sede, com
formação de fazendas e sítios (Figura 1).
As principais atividades realizadas na região durante o século XVIII eram basicamente agro-
pastoris, ainda que em pequena escala. Essas atividades foram complementadas pela
exploração de minério, já que ali existia um córrego aurífero explorado nos séculos XVIII e
XIX e durante boa parte do século XX. Neste último século, ocorre a formação de uma vila
de operários que labutavam na exploração mineral e que aumentou o número de habitantes
locais, fato que repercutiu algumas modificações no contexto social, econômico, geográfico
e cultural da região. Após o encerramento destas atividades mineradoras, sobrevêm o
êxodo populacional, permanecendo tão somente as gêneses famílias.
Atualmente, Botafogo possui poucos habitantes em sítios e chácaras e a atividade turística é
quase inexistente. Há certo movimento durante os finais de semana quando os proprietários
de sítios e fazendas vêm em busca de descanso e tranquilidade. O tradicional festejo em
1 LIMA, A. Pequena História da Inconfidência de Minas Gerais.
2 Ailton Silva, Milton Silva e Assunção Ribeiro – Cuidadores da Capela.
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homenagem à Santo Amaro, que ocorre no mês de agosto, recebe cerca de mil pessoas a
cada ano.
Figura 1: Imagem aérea.
Fonte: Google Maps, janeiro de 2014.
Histórico
Subordinada à Paroquia do Pilar da cidade de Ouro Preto, a Capela de Santo Amaro de
Bota Fogo foi provavelmente erigida ainda no século XVII. A ausência de documentação
escrita e de referências bibliográficas firma o pretexto desta pesquisa para o melhor
entendimento deste templo religioso de suma relevância histórica e cultural no que tange às
suas configurações estilísticas, iconográficas e arquitetônicas.
Esta pesquisa é elaborada principalmente a partir de relatos orais de moradores e de
pessoas envolvidas diretamente com a Capela - zeladores, padres, ministros e diáconos -
assim como das interpretações arqueológicas e iconográficas da edificação.
A tradicional festa em homenagem à Santo Amaro ocorria exordialmente no mês de janeiro
e foi posteriormente transferida para o mês de agosto, devido aos intensos períodos de
chuva. No primeiro dia ocorrem as celebrações do Encerramento do Tríduo – Celebração
Especial – benção das Bandeiras e levantamento do mastro com os santos homenageados -
Santo Amaro, São Sebastião e Sagrado Coração de Jesus - e a presença dos mordomos da
festa. No segundo dia acontece a Missa Campal, em ação de graça aos devotos, à
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comunidade e à todos que auxiliam nas celebrações anuais: Paróquia do Pilar, os padres,
ministros, diáconos, corais e zeladores.
No decorrer dos anos sucederam diversas intervenções na Capela de Santo Amaro de
Botafogo, tanto na parte externa quanto na parte interna as quais não foram documentadas.
Interessante foi notar que na parede lateral direita (epístola), é presente um vão que
atualmente este não possui função alguma (Figura 2). Possivelmente este espaço foi
disposto para receber um altar lateral que nunca foi construído ali.
Figura 2: Vista interna do vão.
Fonte: Luana Redini. Janeiro, 2014
Ao longo do século XIX especialmente as capelas de planta simples foram adaptadas por
novas disposições em planta, a exemplo da construção de anexos como a sacristia e, em
alguns casos, da Capela do Santíssimo.
O lado externo da capela abriga um antigo cemitério, que ainda permanece com duas
lápides preservadas no local original com as datas de óbito de 1901 e 1903 – segundo
relatos orais, seriam as primeiras e portanto mais antigas. As outras lápides foram
remanejadas para uma área maior, mas ainda bem próxima da capela.
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O retábulo-mor peculiar ao Estilo Nacional Português provavelmente sofreu intervenções,
uma vez que possui elementos característicos de outros períodos, como os nichos laterais,
típicos do período joanino, e o uso de tonalidades mais claras. O piso de ladrilho hidráulico -
desenvolvido a partir do século XIX - deve ter substituído um piso de pedra primitivo. Além
destas alterações, recentemente foram retiradas duas colunetas de sustentação do coro
para ampliar o espaço da nave e foi adicionada uma estrutura horizontal de ferro para
exercer tal função.
As pinturas dos forros foram restauradas, parte do madeiramento substituído e os telhados
foram reformados3, assim como as instalações hidráulica e elétrica. A pia baptismal era
originalmente localizada no nártex, ao lado esquerdo da porta de entrada, e com a perda da
sua funcionalidade no século XX, esta foi realocada para um canto da nave próximo ao arco
do cruzeiro. Esta peça talhada em pedra sabão no século XVIII perdeu sua base e
atualmente está sobreposta em um cubo de madeira. A escada de acesso ao púlpito não
existe mais, provavelmente pela obsolescência de seu uso.
Descrição Física
A edificação da Capela de Santo Amaro de Botafogo está implantada num terreno plano
com adro gramado em área aberta, onde está locada a cruz de martírio. As áreas edificadas
em seu entorno imediato resumem-se à uma escola de ensino, a casa paroquial e um
pequeno cemitério que atende apenas aos poucos moradores da localidade. Sua planta
segue um modelo muito comum e simplificado de formato retangular com um anexo em seu
lado direito destinado ao uso da sacristia. A capela é subdividida em quatro ambientes
distintos: nave, capela-mor, coro acessível por uma escada helicoidal e sacristia (Figura 3).
3 Segundo informações obtidas junto à FAOP – Fundação de Arte de Ouro Preto, responsável pela obra de
intervenção.
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Figura 3: Planta da Capela.
Fonte: Arthur Vinícius. Janeiro, 2014.
A fachada frontal da capela é plana, sem portada, apresentando apenas uma porta principal,
duas janelas e um simples óculo circular vedado por uma placa de vidro translúcido. As
vergas das janelas são retas, de madeira, pintadas de branco e vermelho, com esquadria do
tipo de abrir. A verga, contra-verga e umbrais da porta principal são em cantaria de pedra-
sabão em formato arqueado no arremate. A cobertura possui duas águas compostas por
telhas coloniais, beirais e cimalhas reduzidas. As paredes são de espessura grossa, com
aproximadamente um metro, compostas de pedra, com acabamento de reboco e cal. As
quatro fachadas são hoje caiadas de branco, tendo seu primeiro terço pintado com tinta
acrílica cinza. Há ainda a presença de uma seteira em cada fachada lateral fechada por
esquadrias de madeira e placas vidro.
Ainda na fachada, é possível notar um traço muito particular desta construção. Ela possui
um campanário engastado em balanço em sua parede lateral direita. Este é feito em pedra-
sabão, constituído de seis peças esculpidas e encaixadas umas nas outras formando uma
figura de portal em arco pleno. O corpo do sino possui bacia lisa em bronze com o suporte
em madeira recortada e pintada de verde.
O interior da capela possui poucos ornamentos e ausência de altares laterais. O retábulo-
mor possui características pertencentes ao estilo Nacional Português. Nele estão presentes
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duas colunas torsas apoiadas em mísulas com arremate em capitéis compósitos e
arquivoltas concêntricas, cada uma delas intercaladas por pilastras. Os painéis laterais do
retábulo sustentam nichos que pressupõem uma alteração posterior, uma vez que esse
ornamento aparece posteriormente ao estilo Nacional Português.
Este retábulo de talha simples se diferencia da maioria dos outros retábulos de mesmo
período, que possuíam carregados adornos cobertos por folhas de ouro. As cores utilizadas
são: branco, ocre e tons claros de rosa, azul e verde. Seu sacrário é simples, tendo em sua
porta uma pintura simbolizada pelo cálice e a hóstia e o camarim é pouco profundo com
trono escalonado em formato de ânfora (Figura 4).
Figura 4: Retábulo-mor da capela dedicado à Santo Amaro.
Foto: Marina Poloni. Janeiro, 2014.
A ornamentação no interior da capela guarnece de uma pintura no forro da nave e outra no
forro da capela-mor. Ambos os forros são feitos com tábuas de aproximadamente 35cm de
espessura em madeira. A pintura da capela-mor foi feita sobre um forro de duas faces que
se encontram formando um leve arqueamento. Esta recebe a representação pictórica da
figura de Santo Amaro ao centro, tendo em sua mão esquerda o livro que simboliza as
regras de sua ordem religiosa e na mão direita o báculo de abade. A representação deste
santo é emoldurada por fingimento de relevo em perspectiva. Esta pintura possui cores
claras como rosa, o verde e o azul, com exceção do marrom que compõe o hábito do monge
beneditino (Figura 5).
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As cores e a perspectiva da pintura da capela-mor se repetem no forro da nave. Este, por
sua vez possui três faces com ângulos entre si bem definidos e retrata a imagem de uma
mulher sobre o planeta terra e uma serpente que morde uma maçã, símbolos do pecado
original (Figura 6).
Figura 5: Pintura forro capela-mor. Figura 6: Pintura forro nave.
Foto: Luana Redini. Janeiro, 2014. Foto: Luana Redini. Janeiro, 2014.
Existem duas possibilidades em torno da personagem nesta imagem. A primeira seria
Nossa Senhora das Graças, como acredita a comunidade local. Esta virgem é
tradicionalmente representada como apareceu à Irmã Catarina Labouré - noviça da
congregação das Filhas da Caridade de um convento de Paris, no dia 27 de novembro de
1830. Vestida de túnica branca e um manto azul, a mãe de Deus desce em uma espécie de
quadro oval, com suas mãos estendidas emanando raios de luz. Seus pés pisam sobre uma
serpente e o globo e abaixo aparecem letras de ouro que formam a frase: "Ó Maria
concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a vós"4. Contudo, o que se tem neste
forro, é a Virgem com o rosto levemente inclinado para baixo acompanhada de semblante
plácido e piedoso, com os braços estendidos e a ausências desses raios de luz, além da
seguinte frase representada em uma faixa na parte inferior: "Tota pucha es , Maria, et
macula originales non est in te" - vale dizer, referência à Nossa Senhora da Conceição. A
4 MEGALE, Nilza Botelho. Invocações da Virgem Maria no Brasil. Editora Vozes. Petrópolis, 2001.
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adoração à Nossa Senhora das Graças remonta ao século XIX, considerada recente para a
pintura do forro de uma capela de data muito anterior, além de ter sido difundida por
imigrantes italianos - que ainda não haviam sequer chegado em Vila Rica no século XVII. Ao
seu redor estão presentes nuvens e imagens de anjos fingindo perspectiva e arquitetura,
com a representação de platibandas nas suas extremidades.
A segunda possibilidade seria a representação de Nossa Senhora da Conceição. Sua
aparição se deu em Lourdes a Bernardete Soubirous. No Brasil, foi proclamada padroeira do
Império por D. Pedro I e todas as igrejas e capelas do período colonial guardam um altar ou
imagem desta Virgem no Estado das Minas Gerais, prova do gosto português por esta
Virgem. Entretanto, sua adoração foi difundida pelos frades franciscanos, entretanto, a
capela foi erigida em homenagem a um santo beneditino. Nossa Senhora da Conceição
também aparece pisando sobre a serpente e o globo, com as vestes nas cores branca e
azul5. Outrossim, sua representação iconográfica é composta por mão unidas ao centro do
peito em oração e os olhos voltados para o céu.
Ora, se o que está presente é uma pintura com elementos iconográficos mistos de duas
representações da mãe de Deus, pode-se supor algumas contestações. Possivelmente a
pintura deste forro é recente, do século XXI, já que foi observado um motivo de mesmo
plano iconográfico neste, e em outro executado na credência (Figuras 7 e 8) - pequena e
discreta mesa situada no presbitério para apoias objetos litúrgicos necessários às
cerimônias religiosas, como o cálice, as galhetas, os livros, a patena, entre outros -
caracterizando contemporaneidade entre estes dois e provavelmente a mesma autoria das
pinturas. Além desse fator corroborativo, as tábuas do forro são estreitas em comparação às
utilizadas no período colonial, ademais, as representações da Virgem sofreram algumas
adaptações ao longo dos anos. Seria a pintura uma confusão de representações pelo
artista? Seria a pintura original do forro, ou as diversas intervenções não documentadas
sofridas por ela interferiram no resultado apresentado atualmente? Faz-se necessário um
estudo mais profundo para responder tais incógnitas, bem como descobrir a possível autoria
e datação.
5 MEGALE, Nilza Botelho. Invocações da Virgem Maria no Brasil. Editora Vozes. Petrópolis, 2001.
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Figura 7: Detalhe da Pintura do Forro da Nave.
Foto: Luana Redini. Janeiro, 2014.
Figura 8: Detalhe de Pintura na Credência.
Foto: Luana Redini. Janeiro, 2014.
A capela apresenta ainda um único púlpito, localizado na nave e engastado na parede
referente ao lado do evangelho. O púlpito está localizado sempre do lado esquerdo - lado
falante da igreja - etem como função abrigar bispos ou padres que proferem sermões aos
fiéis. Este possui formato paralelepipédico, é feito em madeira, sem policromia e tem
arremate almofadado. Há uma abertura em sua lateral esquerda porém, não apresenta
escada de acesso.
Na face frontal do altar, está concentrada a fé cristã e o Mistério Pascal de Cristo com a
representação pictórica em tinta a óleo do cordeiro de Deus, "que vem tirar os pecados do
mundo".
Há também no interior da edificação peças em cantaria, a saber: pia de água benta, lavabo
e pia batismal. Esta última se fazia necessária uma vez que o povoado de Botafogo era
afastado das igrejas Matrizes de Ouro Preto. A pia de água benta encontra-se no nártex,
engastada em balanço na parede lateral referente ao lado do evangelho. Esta possui
formato semiesférico e superfície lisa, com borda saliente e arremate inferior em dois
ressaltos circulares. O lavabo encontra-se na sacristia embutido em uma de suas paredes.
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Possui face frontal retangular com friso losângico arrematada em semicírculo e cruz latina.
O espelho apresenta torneira certamente introduzida posteriormente à construção da
capela. A pia batismal remontada ao século XVIII possui formato semiesférico com gomos
salientes e sua extremidade superior marcada por friso de cordão largo. A extremidade
inferior é plana e atualmente está sobreposta a uma base de madeira quadrangular.
Comparação Estilística
Como já mencionado anteriormente, a capela de Santo Amaro do Botafogo em muito se
assemelha a outra capela da região, a capela de São João Batista de Ouro Preto. Logo na
fachada a proximidade estética é notável. Ambas possuem pórtico central com duas janelas
de verga reta em sua parte superior e um óculo central em formato circular. Além disso, a
cobertura de ambas se dá por telhado de duas águas arrematadas em dois pináculos nas
laterais e uma cruz latina no topo da cumeeira. Suas plantas propõem a mesma distribuição
do espaço: nave, capela-mor e sacristia ao lado direito. A presença do coro e o uso de três
faces no forro da nave também é comum a ambos, porém, no caso de São João, o forro não
possui pintura artística e parte da estrutura do telhado é visível (Figuras 9 e 10).
Figura 9: Fachada Frontal da Capela de Santo Amaro de Botafogo.
Foto: Luana Redini. Janeiro, 2014.
Figura 10: Fachada Frontal da Capela de São João Batista de Ouro Preto.
Foto: Luana Redini. Janeiro, 2014.
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Nenhuma das duas ermidas possui retábulos laterais. Ao invés disso, na capela de São
João, foram engastados nas paredes laterais, pequenos altares de pedra para a colocação
de imagens e no caso da capela de Santo Amaro, o que aparece é o púlpito no lado do
evangelho, segundo a tradição e o vão retangular e vertical do lado oposto. As capelas-
mores possuem as mesmas características: o altar eleva-se dois degraus ao nível da nave,
há uma porta de acesso à sacristia em suas laterais direitas e uma seteira nas laterais
esquerdas – no caso de Ouro Preto, fechada.
Há traços particulares à arquitetura de cada um dos templos que sugerem certo
distanciamento artístico e soluções tecnológicas locais. Na fachada frontal da capela de São
João, por exemplo, as vergas são destacadas por camada pictórica amarela assim como as
pilastras que delimitam a superfície. Além disso, o adro possui acabamento em lajotas de
pedra e é delimitado por muretas e o campanário se apoia a uma destas. Na capela de
Santo Amaro, a porta é a única que recebe destaque com verga arqueada de pedra e seu
campanário de cantaria foi colocado em balanço na lateral direita da fachada. Este, portanto,
sugere uma solução tecnológica mais avançada, pois a colocação de objetos em balanço
exige certa compreensão do funcionamento da estrutura.
As edificações possuem muitas outras peculiaridades entre si. Ambas sofreram intervenções
ao longo dos anos. O piso da capela de Santo Amaro, hoje acabado com ladrilhos
hidráulicos, provavelmente era como o da capela de São João, constituído de lajotas de
pedra. O mesmo ocorre no que se refere ao coro, que na edificação de Botafogo, teve suas
colunas de sustentação substituídas por estrutura metálica, sendo anteriormente, como a de
Ouro Preto. Esta última apresenta paredes curvas pouco comuns na época em que fora
construída dando indícios que provavelmente a capela de São João primitivamente possuía
traçado reta em planta como a de Santo Amaro.
Bibliografia
AVILA, Affonso. O Lúdico e As projeções do Mundo Barroco. São Paulo: Perspectiva, 1980.
AVILA, Affonso; GONTIJO, João M. e Machado; GUEDES, Reinaldo. Barroco Mineiro,
Glossário de Arquitetura e Ornamentação. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1996.
BAZIN, Germain. Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1983.
CANCLINI , Nestor Garcia. O Patrimônio Cultural e a Construção Imaginária do Nacional. In:
Revista do IPHAN. 23 (1994): 95-115.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
LIMA, Augusto. Pequena História da Inconfidência de Minas Gerais. Editora Itatiaia: Belo
Horizonte, 1968.
MEGALE, Nilza Botelho. Invocações da Virgem Maria no Brasil. Editora Vozes. Petrópolis,
2001.
RIBEIRO, Assunção. Entrevista: Botafogo, Ouro Preto. Janeiro de 2014.
SILVA, Ailton da. Entrevista: Botafogo, Ouro Preto. Janeiro de 2014.
SILVA, Milton da. Entrevista: Botafogo, Ouro Preto. Janeiro de 2014.
SMITH, Robert. A Talha em Portugal. Livros Horizonte: Lisboa.
Secretaria Municipal do Patrimônio e Desenvolvimento Urbano de Ouro Preto. Projeto de
Restauro da Capela de São João Batista. 2009/2010.
Secretaria Municipal do Patrimônio e Desenvolvimento Urbano de Ouro Preto. Inventário da
Localidade de Botafogo. 2009/2010.