a conjectura de poincare em dimensoes altas

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  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    A Conjectura de Poincaréem Dimensões Altas

    Tatiana Fernandes Sodero

    Dissertação de Mestrado apresentada ao

    Programa de Pós-graduação do Instituto

    de Matemática, da Universidade Federal do

    Rio de Janeiro, como parte dos requisitosnecessários à obtenção do t́ıtulo de Mestre

    em Matemática.

    Orientador: Alexander Eduardo Arbieto Mendoza

    Rio de Janeiro

    Setembro de 2009

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    A Conjectura de Poincaréem Dimensões Altas

    Tatiana Fernandes Sodero

    Orientador: Alexander Eduardo Arbieto Mendoza

    Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação do Instituto de

    Matemática, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisi-

    tos necessários à obtenção do t́ıtulo de Mestre em Matemática.

    Aprovada por:

    Presidente, Prof. Alexander Eduardo Arbieto Mendoza - IM/UFRJ

    Prof. Leonardo Macarini - IM/UFRJ

    Prof. Paul Alexander Schweitzer - PUC/RJ

    Profa. Walcy Santos - IM/UFRJ

    Rio de Janeiro

    Setembro de 2009

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    Agradecimentos

    Agradeço ao meu orientador, Professor Alexander Eduardo Arbieto Mendoza, por

    todo seu apoio, incentivo e paciência.

    À minha orientadora na graduação, Professora Alice Kimie Miwa Libardi, por me

    guiar nos meus primeiros passos.

    À minha famı́lia e aos meus amigos.

    À Capes pelo apoio financeiro na realização deste trabalho.

    iii

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    Ficha Catalográfica

    Sodero, Tatiana Fernandes.

    A Conjectura de Poincaré em Dimensões Altas/ Tatiana Fernandes

    Sodero. - Rio de Janeiro: UFRJ/ IM, 2009.

    ix, 135f; 30cm.

    Orientador: Alexander Eduardo Arbieto Mendoza

    Dissertação (mestrado) - UFRJ/ IM/ Programa de Pós-

    graduação do Instituto de Matemática, 2009.

    Referências Bibliográficas: f.134-135.

    1. Topologia. 2. Cobordismo. 3. Teoria de Morse - Tese

    I.Arbieto, Alexander Eduardo II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    Instituto de Matemática, Programa de Pós-graduação do

    Instituto de Matemática. III. T́ıtulo.

    iv

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    A Conjectura de Poincaré em Dimensões Altas

    Tatiana Fernandes Sodero

    Orientador: Alexander Eduardo Arbieto Mendoza

    O principal objetivo deste trabalho foi demonstrar a conjectura de Poincaré Gener-

    alizada em dimensões altas. A conjectura de Poincaré afirma que qualquer variedade dedimensão 3, compacta, sem bordo e simplesmente conexa é homeomorfa a  S 3. A conjec-

    tura generalizada de Poincaré diz que qualquer   n-variedade compacta, sem bordo, com

    o mesmo tipo de homotopia de uma  n-esfera  S n é homeomorfa a  S n. Em 1960 Stephen

    Smale demonstrou a conjectura generalizada de Poincaré para o caso  n ≥ 5 em seu artigoentitulado Generalized Poincaré’s Conjecture in Dimension Greater than Four    [18].

    Neste trabalho, introduziremos o conceito de cobordismo e, usando uma versão do Teo-

    rema de Cancelamento de Pontos Cŕıticos, demonstraremos o teorema de  h-cobordismo.

    O Teorema de Cancelamento de Pontos Crı́ticos de Smale é, originalmente, enunciado para

    ”handlebodies”, a versão deste teorema será dada na linguagem da teoria de Morse como

    apresentada por Milnor. Como corolário, obteremos a prova da conjectura de Poincaré

    generalizada no caso citado acima.

    v

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    The Poincaré’s Conjecture in High Dimensions

    Tatiana Fernandes Sodero

    Advisor: Alexander Eduardo Arbieto Mendoza

    The main purpose of this work was to prove the Generelizad Poincaré’s Conjecture

    in high dimensions. The Poincaré’s Conjecture states that any manifold of dimension 3,

    closed, simply connected is homeomorphic to  S 3. The Generalized Poincaré’s Conjecture

    states that any n-manifold, closed, with the same homotopy type of  S n is homeomorphic

    to  S n. Stephen Smale, in 1960, proved the conjecture for the case   n ≥   5 in his paperGeneralized Poincaré’s Conjecture in Dimension Greater than Four    [18].

    In this work, we introduce the concept of cobordism and, using a version of Critical

    Points Cancellation Theorem, we prove the   h-cobordism theorem. The Critical Points

    Cancellation Theorem due to Smale is, originally, set to ”handlebodies”, a version of this

    theorem is given in the language of the Morse Theory as presented by Milnor. As a

    corollary, we obtain the proof of the generalized Poincaré’s conjecture for the case above.

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    Sumário

    Introdução 1

    1 Identificando esferas 3

    1.1 Funções de Morse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

    1.2 O Teorema de Reeb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

    2 Cobordismo 21

    2.1 Funções de Morse Sobre Tŕıades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

    2.1.1 Colares e Cobordismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

    2.2 Cobordismo Visto Como Categoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    2.3 Isotopia e Pseudo-isotopia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

    3 Cobordismos Elementares e Rearranjo de Cobordismos 41

    3.1 Cobordismos Elementares e Cirurgias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

    3.2 Rearranjo de Cobordismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

    Como Atacar a Conjectura de Poincaré em Dimensão Alta? 56

    4 O Primeiro Teorema do Cancelamento 58

    4.1 Um Pouco Sobre Transversalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

    vii

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    A.2.3 Fibrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

    A.2.4 Teorema de Van Kampen . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

    A.2.5   C r-proximidade e  C r-continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

    A.2.6 Função Bump e Partição da Unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

    ix

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    Introdução

    A conjectura de Poincaré afirma que qualquer variedade de dimensão 3, compacta, sem

    bordo e simplesmente conexa é homeomorfa a S 3. A conjectura inicial formulada por Henri

    Poincaré em 1900 afirmava que qualquer variedade de dimensão 3 compacta, sem bordo

    e com a homologia da esfera era homeomorfa a  S 3, porém esta foi refutada pelo próprio

    Poincaré em 1904 com um exemplo de variedade nestas condições mas não homeomorfa

    a uma esfera, esta foi então denominada a esfera homológica de Poincaré. A conjectura

    generalizada de Poincaré diz que qualquer  n-variedade compacta, sem bordo, com o mesmo

    tipo de homotopia de uma   n-esfera   S n é homeomorfa a   S n. Em 1960 Stephen Smale

    demonstrou a conjectura generalizada de Poincaré para o caso   n ≥

      5 em seu artigo

    entitulado Generalized Poincaré’s Conjecture in Dimension Greater than Four    [18].

    Neste trabalho, introduziremos o conceito de cobordismo e, usando uma versão do Teo-

    rema de Cancelamento de Pontos Cŕıticos, demonstraremos o teorema de  h-cobordismo.

    O Teorema de Cancelamento de Pontos Crı́ticos de Smale é, originalmente, enunciado para

    ”handlebodies”, a versão deste teorema será dada na linguagem da teoria de Morse como

    apresentada por Milnor. Como corolário, obteremos a prova da conjectura de Poincaré

    generalizada no caso citado acima.

    No decorrer deste texto, essencialmente nos caṕıtulos 5 e 6, serão destacados alguns

    momentos onde a hipótese dimensional é necessária para a prova, ou seja, poderemos

    verificar porque esta demonstração não pode ser utilizada para dimensões menores.

    No primeiro caṕıtulo deste trabalho definiremos funções de Morse sobre uma var-

    iedade e mostraremos que algumas caracteŕısticas topológicas desta variedade podem ser

    determinadas apenas conhecendo propriedades destas funções.

    1

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    No segundo caṕıtulo provaremos a existência e a densidade de funções de Morse e

    introduziremos os conceitos de cobordismo, isotopia e pseudo-isotopia.

    No terceiro caṕıtulo demonstraremos resultados que nos permitirão, sob determinadascondições, reordenar pontos cŕıticos em uma variedade perturbando a função de Morse.

    Ao final deste caṕıtulo provaremos a existência de uma função de Morse  f  tal que para

    todo ponto cŕıtico   p,   f ( p) = ı́ndice( p). Esta função será denominada função de Morse

    boa e terá sua importância verificada nos teoremas de cancelamento.

    No caṕıtulo 4 será introduzida a teoria de transversalidade e esta nos auxiliará a

    demonstrar o Primeiro Teorema do Cancelamento que terá, no capı́tulo 5, suas hipóteses

    enfraquecidas. Para isso usaremos, além de teoria de transversalidade, resultados de

    topologia algébrica e de geometria.

    No sexto caṕıtulo definiremos homologia de Morse e usaremos resultados até aqui

    demonstrados para finalmente cancelar pontos cŕıticos em variedades com caracteŕısticas

    especı́ficas.

    E finalmente no último caṕıtulo enunciaremos e demonstraremos o teorema do   h-

    cobordismo obtendo, como corolário, a Conjectura de Poincaré Generalizada para o caso

    n ≥ 5.

    2

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    Caṕıtulo 1

    Identificando esferas

    Neste caṕıtulo, primeiramente, definiremos as funções de Morse e provaremos o lema de

    Morse, esta será uma ferramenta básica e fundamental no desenvolvimento deste texto.

    Provaremos, em seguida, o teorema de Reeb que é um teorema de classificação topológica,

    este teorema terá grande importância na demonstração da conjectura de Poincaré

    1.1 Funções de Morse

    Seja f   : U  → R uma função diferenciável em um aberto U  ⊂ Rn. Um ponto a ∈ U  chama-se ponto crı́tico de f   quando df (a) = 0 e a imagem de tal ponto é denominado  valor crı́tico

    de f . Dizemos que o número real  c  é um  valor regular   de  f  quando não existirem pontos

    crı́ticos de  f  no nı́vel  c, isto é, em  f −1(c). O ponto cŕıtico diz-se  n˜ ao-degenerado  quando

    a matriz Hessiana neste ponto é invertı́vel, isto é, det(  ∂ 2f 

    ∂xi∂xj (a)) = 0.Um  sistema de coordenadas   de classe   C k num aberto   U  ⊂   Rn é um difeomorfismo

    ξ   :  V  →  U , de classe  C k, definido num aberto  V  ⊂  Rn. As coordenadas de um ponto p ∈ U  no sistema de coordenadas ξ  são os números y1, · · · , yn tais que y  = (y1, · · · , yn) ∈ V e  ξ (y) = p.

    Por exemplo, seja   ρ   = {(x, 0) ∈   R2; x ≥   0}. Em   U   =   R2 − ρ   podemos introduzir

    um sistema de coordenadas  ξ   : V  → U , definido em  V   = (0, +∞) × (0, 2π) por  ξ (r, θ) =

    3

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    (r cos θ, r sin θ), onde r   é a distância de p  à origem e θ  mede em radianos, o ângulo 0 p  com

    o semi-eixo positivo das absissas. Os números  r,  θ  são chamados as coordenadas polares

    de  p = (x, y).

    O Lema de Morse nos diz que na vizinhança de um ponto cŕıtico não-degenerado

    de uma função  f , é possivel obter um sistema de coordenadas que simplifica bastante a

    função, na verdade, podemos exprimir   f   como uma forma quadrática com coeficientes

    constantes. Para este fim, precisamos analisar a seguinte aplicação:

    Exemplo 1.1.1.   Seja   f   :   Rn2 →   Rn2 definida por   f (X ) =   X k ,   k ∈   N   fixado e   X k

    a k-ésima potência da matriz   X n×n. A aplica瘠ao   f   é de classe   C ∞ e sua derivada,

    em cada ponto   X , é a transforma瘠ao linear   df (X ) :   Rn2 →   Rn2 dada por   df (X ).V   =k

    n=1 X i−1V X k−1. No ponto X   =  I   temos  df (I ).V   =  kV , ent˜ ao vemos claramente que 

    df (I ) :  Rn2 → Rn2 é um isomorfismo. Pelo Teorema da Fun瘠ao Inversa, existem abertos 

    U   e  W  ∈  Rn2, ambos contendo  I   =  f (I ), tais que   f   :  U  →  W   é um difeomorfismo de classe  C ∞. Ent˜ ao, se a matriz  Y   est´ a suficientemente pr´ oxima da identidade,  Y  ∈  W ,ela possui uma raiz k-ésima  X  ∈ U   que, como  f   é um difeomorfismo, é  ́unica.

    Teorema 1.1.2. (Lema de Morse)   Seja   a  um ponto cŕıtico n˜ ao degenerado de uma 

     fun瘠ao   f   :   U  →   R  de classe   C k (k ≥   3)  num aberto   U  ⊂   Rn. Existe um sistema de coordenadas  ξ  :  V  → W , de classe  C k−2, com  a ∈ W  ⊂ U ,  0 ∈ V   e  ξ (0) = a, tal que 

    f (ξ (y)) − f (a) =n

    i,j=1

    aijyiy j

    para todo  y = (y1, . . . , yn) ∈ V , onde  aij  =   12 ∂ 2f 

    ∂xi∂xj(a).

    Demonstra瘠ao.  Para simplificar, suporemos  a = 0 = f (a).

    Seja  W   = B(0, r) ⊂ U , para algum r > 0. Pela Fórmula de Taylor com resto integral,temos que f (a+v) = f (a)+df (a).v +r1(v) onde r1(v) =

     10 (1−t)d2f (a+tv)v2dt, sabendo

    que  d2f (a)v2 =n

    i,j=1∂ 2f 

    ∂xi∂xj(a)xix j . Então, se  x ∈ W , temos que o segmento que liga 0

    a  x pertence a  W  e como  f   é de classe  C k temos que

    f (x) = r1(x) =  

      1

    0

    (1−

    t)  n

    i,j=1 ∂ 2f 

    ∂xi∂x j(tx).x

    ix j dt =

    4

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    ni,j=1

    xix j

       10

    (1 − t)   ∂ 2f 

    ∂xi∂x j(tx)dt =

    ni,j=1

    aij(x)xix j

    onde  aij(x) =  1

    0 (1

    −t)   ∂ 

    2f ∂xi∂xj

    (tx)dt. Note que cada  aij(x) é uma função de classe  C k−2

    definida na bola  W .

    Devido ao Teorema de Schwarz, a matriz  A(x) = (aij) é simétrica. Note que podemos

    escrever f (x) = A(x) · x, x ∀x ∈ W.

    Seja  A0  = A(0) = (aij(0)) =  12

      ∂ 2f ∂xi∂xj

    (0)

    , onde

      ∂ 2f ∂xi∂xj

    (0)

      é a Hessiana de  f   em 0.

    Como 0 é um ponto cŕıtico não-degenerado, temos que det Hess(0) = 0, logo é invert́ıvele consequentemente  A0   é simétrica e invert́ıvel.

    Então, para cada   x ∈   W , podemos escrever   A(x) como   A(x) =   A0 ·  D(x), ondeD(x) =   A−10   · A(x), note que,   D(x) é uma matriz que depende de  x   em classe   C k−2 equando  x = 0 temos  D(0) = A−10   · A0 = I .

    Seja g  : Rn2 → Rn2 definida por g(x) = x2. Pelo exemplo anterior sabemos que existem

    abertos M   e  N  contidos em  Rn2

    tal que  g :  M  → N   é um difeomorfismo  C ∞ e portanto,se a matriz X  ∈ N  estiver suficientemente próxima de I   então existe um único Y  ∈ M   talque  Y  2 = X . Basta que tomemos o raio da bola  W   tão pequeno tal que  D(x) ∈ N   parapodermos concluir que existe  B(x) ∈  M   tal que  A(x) =  A0 · B(x)2, com  B   :  W  →  Rn2

    sendo de classe  C k−2.

    Como  A0  e  A(x) são simétricas, tomando transpostas temos que

    A =  A∗ = (A0 · B2)∗ = (B∗)2 · A∗0  = (B∗)2 · A0,

    portanto  B

    2

    = A

    −1

    0   · (B∗

    )

    2

    · A0 = (A−1

    0   · (B∗

    ) · A0)2

    .

    Ora,   D(x) =   B2(x) = (A−10   · B∗(x) · A0)2, como   A−10   · B∗(x) · A0 ∈   M   temos, pelaunicidade imposta pelo difeomorfismo, que  B(x) = A−10   · B∗(x) · A0, ou seja,  A0 · B(x) =B∗(x) · A0  e  A(x) = A0 · B2(x) = B∗(x) · A0 · B(x). Assim se  x ∈ W   então

    f (x) = A(x) · x, x = B∗(x) · A0 · B(x) · x, x = A0 · B(x) · x, B(x) · x .

    Afirmação:   Se o raio da bola  W   for tomado suficientemente pequeno, a aplica瘠ao  ϕ   :

    W  →   Rn definida por   ϕ(x) =   B(x) · x   é um difeomorfismo de classe   C k−2 sobre sua 

    5

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    imagem.

    Supondo provada a afirmação,  f (x) = A0 · ϕ(x), ϕ(x)  para todo  x ∈ W   e  ξ  = ϕ−1 :

    V  →  W   é um sistema de coordenadas de classe  C k−2

    , como  ϕ(0) =  B(0) · 0 = 0, temosque ξ (0) = ϕ−1(0) = 0 e f (ξ (y)) = A0 · ϕ(ξ (y)), ϕ(ξ (y)) = A0 · y, y . Isto prova o Lemade Morse.

    Demonstra瘠ao da Afirma瘠ao.   Para todo  x ∈ W  e todo  v ∈ Rn, temos

    ϕ′(x)·

    v  = ∂ϕ(x)

    ∂v  =

     ∂B

    ∂v  ·x + B(x)

    ·v,

    se  x = 0 temos ϕ′(0) · v = B(0) · v =  v.

    Notemos que  ϕ′(0) :  Rn →  Rn é a aplicação identidade que é um isomorfismo, logo,pelo Teorema da Função Inversa, se o raio de   W   for tomado suficientemente pequeno,

    obteremos um difeomorfismo ϕ :  W  → V  de classe  C k−2 com  ϕ(x) = B(x) · x e  ϕ(0) = 0.

    Corolário 1.1.3.  Nas condi瘠oes do Lema de Morse, existe um sistema de coordenadas 

    ς   : V 0 → W   de classe  C k−2, com  a ∈ W  ⊂ U ,  0 ∈ V 0,  ς (0) = a  e 

    f (ς (y)) − f (a) = −y   21  − . . . − y   2i   + y   2i+1   + . . . + y   2n

    Demonstra瘠ao.  Basta compor o sistema de coordenadas   ξ   com uma mudança linear de

    coordenadas que torna a forma quadrática

    aijyiy j  uma soma de quadrados.

    Sabemos pelo teorema espectral que dada uma matriz simétrica A0   existe uma base

    ortonormal {u1, . . . , un}  tal que   A0 · u j   =   λ j · u j   ( j   = 1, . . . , n). Como  A0   é invert́ıveltemos que  λ j = 0 ∀ j. Seja  i  tal que  λ1   0. Seja umabase  β  = {v1, . . . , vn}  tal que  v j  =   uj√ 

    −λjse  j ≤ i  e  v j  =   uj√ 

    λjse  j > i. Desta forma

    A0 · v j, vk = 0 se   j = k,

    A0

    ·v j, v j

    =

    −1 se   j

     ≤i,

    A0 · v j, v j = 1 se   j > i

    6

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

    16/144

    Seja T   : Rn → Rn a transformação linear (invertı́vel) tal que  T ·e1 =  v1, . . . , T  ·en =  vn.Pondo   V 0   =   T 

    −1(V  ) onde   V   é o aberto obtido pelo Lema de Morse, o difeomorfismo

    ς  = ξ 

    ◦T   : V 0

     →W   cumpre:

    f (ς (y)) =   f (ξ (T  · y)) = A0 · T  · y, T  · y=

    A0 ·

    y jv j ,

    ykvk

    = j,k

    yiyk A0v j, vk

    = j

    y   2 j   A0v j, v j = −y   21  − . . . − y   2i   + y   2i+1   + . . . + y   2n

    O número i  que aparece no corolário anterior é denominado  ́ ındice  do ponto cŕıtico  a.

    Quando  i =  n, o ponto  a  é um máximo local para  f ; se   i = 0,  a  é um ponto de mı́nimo

    local; para 0 < i < n, tem-se um ponto de sela de ı́ndice  i.

    Figura 1.1: Figura A Figura 1.2: Figura B

    Seja   f   :  U  →   R  uma função suave definida num aberto  U   do plano. Seja  a ∈  U   oponto crı́tico de  f . Se   i  = 0 ou   i  = 2 então  f (ς (y)) − f (a) = ±(y   21   + y   22  ) e as curvasde ńıvel na vizinhança deste ponto tem a forma da figura A, pois próximas de   a   essas

    curvas são imagens pelo difeomorfismo   ς   dos ćırculos   y   21   + y  22   = constante. Se   i   = 1

    então  f (ς (y))

    −f (a) =

     −y   21   + y

      22   e as curvas de ńıvel na vizinhança de  a  tem a forma

    da Figura B.

    7

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    Proposição 1.1.4.   Dado   0 ≤   λ < n   existe uma aplica瘠ao suave   g   :   Rn →   R   tal que, fora de um conjunto compacto,  g(x1, . . . , xn) =  x1  e tal que  g  possui apenas dois pontos 

    cŕıticos  p1,  p2, n˜ ao-degenerados, de ı́ndices  λ,  λ + 1   respectivamente com  g( p1) < g( p2).

    Demonstra瘠ao.   Identificaremos  Rn com  R × Rλ × Rn−λ−1, denotaremos por (x,y,z ) umponto genérico de  Rn e por  y2 o quadrado do comprimento de  y  em  Rλ.

    Seja s(x) uma função com suporte compacto tal que  x +s(x) tenha dois pontos crı́ticos

    não degenerados  x0  e  x1.

    x

    x + s(x)

    x0   x1

    Figura 1.3:

    Primeiro considere a função   h(x , y, z  ) =   x +  s(x) − y2 + z 2 em   Rn. Como ∇h   =(1 + s′(x), −2y, 2z ) temos que os pontos cŕıticos de  h  são (x0, 0, 0) e (x1, 0, 0) e estes sãonão-degenerados.

    Os pontos cŕıticos de  x + s(x) tem ı́ndice 0 e 1. Suponha que o ı́ndice de  x0   é 0 e o de

    x1   é 1, então, pelo lema de Morse, em uma vizinhança destes pontos podemos mudar o

    sistema de coordenadas de modo que e função possa ser escrita com  x2 (próximo de  x0)

    ou −x2 (próximo de  x1) e desta forma  h(x) tem pontos cŕıticos (x0, 0, 0) com ı́ndice  λ  e(x1, 0, 0) com ı́ndice  λ + 1.

    Tome três funções  α,  β ,  γ  : R → R+  com suporte compacto tais que:

    1.   α(t) = 1 para |t| ≤ 1

    8

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    2. |α′(t)| <   1max |s(x)|

     para todo  t

    3.   β (t) = 1 sempre que  α(t) = 0

    4.   γ (x) = 1 sempre que  s′(x) = 0

    5. |γ ′(x)| <   1max(tβ(t))

    Agora tome

    g(x,y,z ) = x + s(x)α(y2 + z 2) + γ (x)(−y2 + z 2)β (y2 + z 2)

    e observe que:

    a)   g − x tem suporte compacto

    b)   no interior da região onde α  = 1 e γ  = 1 temos que  g  = h  e possui os pontos cŕıticos

    (x0, 0, 0) e (x1, 0, 0).

    c)   gx = 1 + s′(x)α(y2 + z 2) + γ ′(x)(−y2 + z 2)β (y2 + z 2).

    O terceiro termo de  gx  tem valor absoluto menor que 1 pois |γ ′(x)| <   1max(tβ(t)) , assimse  s′(x) = 0 ou  α(y2 + z 2) = 0 teremos  gx = 0. Logo temos que verificar apenas a regi ãoonde  s′(x) = 0 (nesse caso  γ   = 1) e  α(y2 + z 2) = 0 (nesse caso  β   = 1) para sabermosquais são os pontos cŕıticos.

    d)   Na região  γ  = 1,  β  = 1 temos

    ∇g = (1 + s′(x)α(y2 + z 2), 2y(s(x)α′(y2 + z 2) − 1), 2z (s(x)α′(y2 + z 2) + 1)).

    Mas s(x)α′(y2 + z 2) − 1 = 0 pois |α′(t)| <   1max |s(x)|

    . Assim o gradiente pode ser nulo

    apenas quando  y  = 0,  z  = 0 e, portanto,  α   = 1. Mas esse caso já foi descrito na

    segunda observação.

    Com essas considerações segue o lema.

    9

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    Definição 1.1.5.   Seja M  uma variedade diferenciável  n-dimensional. Uma função suave

    f   :   M  →  R   é dita ser uma  Fun瘠ao de Morse  se todos os seus pontos cŕıticos são não-degenerados.

    Uma consequência imediata do Lema de Morse é que pontos cŕıticos de uma função

    de Morse são isolados. Se a variedade é compacta então a função possui no máximo um

    número finito de pontos crı́ticos.

    1.2 O Teorema de Reeb

    O objetivo desta seção é provar um teorema de classificação topológica, ou seja, dadas

    certas condições em uma variedade  n-dimensional, podemos mostrar que esta é homeo-

    morfa à esfera  S n. Na verdade podemos provar ainda mais, a variedade é difeomorfa à

    S n a menos, possivelmente, de um único ponto.

    Proposição 1.2.1.   Sejam  M  uma variedade diferenci´ avel n-dimensional ,   f   :  M  →  Rsuave e  a < b. Suponha que o conjunto f −1([a, b])  é compacto e n  ̃ao possui pontos crı́ticos 

    de  f . Ent˜ ao  M a := f −1((−∞, a]) = { p ∈ M   : f ( p) ≤ a}   é difeomorfo a  M b.

    Demonstra瘠ao.   Escolha uma métrica Riemanniana em  M  e seja X, Y  o produto internode dois vetores tangentes, como determinado por essa métrica. O gradiente de   f   é o

    campo de vetores ∇f   em  M   que é caracterizado pela identidade X, ∇f  =  X (f ), ondeX (f ) é a derivada direcional de  f  ao longo de  X  para algum campo de vetores  X .

    Note que este campo de vetores  ∇f   se anula precisamente nos pontos cŕıticos def , e também que se   c   :   R →   M   é uma curva com velocidade   dc

    dt  temos a identidade

    dcdt

    , ∇f  =   d(f ◦c)dt

      .

    Seja  ρ :  M  → R  uma função suave que é igual a   1∇f,∇f 

     por todo conjunto compacto

    f −1([a, b]), que se anula fora de uma vizinhança compacta deste conjunto. Então o campo

    de vetores   X   definido por   X q   =   ρ(q )∇f (q ) gera um único grupo de difeomorfismos a1-parâmetro  ϕt  :  M 

     →M .

    10

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    Para   q  ∈   M   fixado considere a função   t  →   f (ϕt(q )). Se   ϕt(q ) está no conjuntof −1([a, b]) então

    df (ϕt(q ))

    dt   = dϕt(q )dt   , ∇f  = X, ∇f  =   1∇f, ∇f ∇f, ∇f  = 1Desta forma vemos que f (ϕt(q )) = t+k e que f (ϕt(q )) é monótona crescente. Mas sabemos

    que  ϕ0(q ) =  q   e portanto  f (ϕt(q )) =  t + f (q ). Seja  x ∈  f −1{a}  então  f (ϕb−a(x)) =  b  eassim concluimos que  ϕb−a   leva  M 

    a difeomorficamente em  M b.

    Definição 1.2.2.  Uma deforma瘠ao retr´ atil  do espaço X  no subespaço A é definida como

    sendo uma famı́lia de aplicações   ϕt   :   X  →   X ,   t ∈   [0, 1] cont́ınua tal que   ϕ0   =   Id,ϕ1(X ) =  A  e  ϕt|A  =  Id ∀t ∈  [0, 1]. Neste caso  A   é chamado   retrato por deforma瘠ao  deX .

    Corolário 1.2.3.   M a é um retrato por deforma瘠ao de  M b.

    Demonstra瘠ao.   Defina:

    ψt  : M b

    → M b

    por

    ψt(q ) =

    q    se   f (q ) ≤ a,ϕt(a−f (q))(q ) se   a ≤ f (q ) ≤ b.então  ψ0  =  id   ,  ψt|M a  =  id  e, se  q  ∈  f −1([a, b]),  f (ψ1(q )) =  f (ϕ(a−f (q))(q )) =  a − f (q ) +f (q ) = a. Sendo assim segue o resultado.

    Definição 1.2.4.  Dizemos que duas variedade  M   e  N   tem o  mesmo tipo de homotopia se existirem aplicações  f   : M  → N   e g  :  N  → M  tais que g ◦ f   : M  → M   e f ◦ g :  N  → N são homotópicas às aplicações identidade correspondentes. Neste caso f   chama-se uma

    equivalência homot´ opica   e  g  a sua  inversa homot´ opica .

    Note que se   ϕt   :   X  →   X   é uma deformação retrátil sendo   A ⊂   X   o retrato pordeformação de   X   então   X   e   A   possuem o mesmo tipo de homotopia. De fato, seja

    i   :  A →   X   a aplicação inclusão, então   ϕ1 ◦ i   :   A →   A   é a aplicação identidade em  A

    11

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    e   i ◦ ϕ1   :  X  →  X   que é igual a   ϕ1   :   X  →  X   é homotópica à identidade em   X , bastadefinirmos

    H   : [0, 1] × X   →   X (t, x)   →   H (t, x) = ϕt(x)

    e lembrarmos que  ϕ0 =  I d.

    Proposição 1.2.5.   Seja   f   :  M  →   R  uma fun瘠ao suave e seja  p   um ponto crı́tico n˜ aodegenerado com ı́ndice   λ. Sendo   f ( p) =   c, suponha que para algum   ǫ >   0,   f −1([c −ǫ, c + ǫ])   é compacto e n˜ ao contém pontos crı́ticos de  f   aĺem de  p. Ent˜ ao para algum   ǫ

    suficientemente pequeno, o conjunto  M c+ǫ

    tem o mesmo tipo de homotopia de  M c−ǫ

    com uma  λ-célula anexada.

    Demonstra瘠ao.  Sabemos pelo corolário do Lema de Morse 1.1.3 que existe uma vizinhança

    U   de  p e um sistema de coordenadas  u1, . . . , un  tal que

    f (q ) = c − (u1(q ))2 − . . . − (uλ(q ))2 + (uλ+1(q ))2 + . . . + (un(q ))2

    para todo  q ∈

    U .

    Defina  ξ, η :  U  → [0, ∞) por:

    ξ    = (u1)2 + . . . + (uλ)

    2 e

    η   = (uλ+1)2 + . . . + (un)

    2

    assim f |U  = c − ξ  + η.

    Escolha  ǫ > 0 tal que:

    1. A região  f −1([c − ǫ, c + ǫ]) seja compacta e não contenha pontos crı́ticos de  f   alémde  p ;

    2. A imagem de  U  pelo mergulho difeomorfo

    (u1, . . . , un) : U  → Rn

    contenha a bola fechada de raio 2ǫ   , ou seja, se  q   é tal que  ξ (q ) + η(q )

     ≤2ǫ, então

    q ∈ U .

    12

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

    22/144

    Agora definimos a λ-célula fechada  eλ como sendo o conjunto de pontos em  U  tais que

    ξ  ≤ ǫ   e (uλ+1)2 = . . . = (un)2 = 0

    O diagrama a seguir ilustra esquematicamente os conjuntos   M c−ǫ,   f −1([c −  ǫ, c]),f −1([c, c + ǫ]) e  eλ.

    O

    O

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    OO O

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    O O

    O

    O O

    eixo (u1, . . . , uλ)

    eixo (uλ+1, . . . , un)

    f  = c + ǫ

    f  = c + ǫ

    f  = c − ǫ

    f  = c − ǫ

    f  = cf  = c

     p

    Figura 1.4: Diagrama 1

    As linhas coordenadas representam os planos uλ+1 = . . . =  un = 0 e  u1  =  . . . =  uλ  = 0.

    O ćırculo representa o bordo da bola de raio√ 

    2 ǫ. As hipérboles representam as hiperfı́cies

    f −1(c − ǫ) e  f −1(c +  ǫ). A região  M c−ǫ é representada pela região coberta de bolinhas,

    f −1([c − ǫ, c]) é representada pela região quadriculada e f −1([c, c + ǫ]) é representada pelaregião hachurada. A linha preta horizontal passando por  p representa a célula  eλ.

    O conjunto  eλ ∩ M c−ǫ = {q  ∈  M   :  ξ (q ) = ǫ   e (uλ+1)2 = . . . = (un)2 = 0}   é o bordode  eλ, portanto  eλ está anexado em M c−ǫ como queŕıamos. Queremos agora mostrar que

    eλ ∪ M c−ǫ é um retrato por deformação de  M c+ǫ.

    Para isso construiremos uma função auxiliar  F   : M  → R  como segue.

    Seja  µ : R → R  suave tal que:

    13

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    µ(0) > ǫ

    µ(r) = 0 se   r ≥ 2  ǫ−1 <   dµ(r)dr   ≤ 0   ∀   r ∈ R.

    Agora seja  F  tal que:

    F (q ) =

    f (q ) se   q /∈ U f (q ) − µ(ξ (q ) + 2  η(q )) se   q  ∈ U.Denote  F −1((−∞, c − ǫ]) por  M c−ǫ ∪ H   onde  H  = F −1((−∞, c − ǫ]) − M c−ǫ.

    Afirmação 1:   F −1((−∞, c + ǫ]) = M c+ǫ.

    Afirmação 2:   Em  F −1([c − ǫ, c + ǫ])  n˜ ao existem pontos cŕıtico de  F .

    Afirmação 3:   M c−ǫ ∪ eλ é um retrato por deforma瘠ao de  M c−ǫ ∪ H .

    Supondo provadas as Afirmações 1 e 2 e usando o Teorema 1.2.1 e seu corolário vemos

    que a região  M c−ǫ

    ∪ H   é um retrato por deformação de  M c+ǫ

    . Agora supondo provada aAfirmação 3 verifica-se que  M c−ǫ∪ eλ é de fato um retrato por deformação de M c+ǫ comoqueŕıamos demonstrar.

    Provemos agora as afirmações:

    Demonstra瘠ao da Afirma瘠ao 1:   Se  x  é tal que  ξ − 2  η ≥ 2  ǫ, então  F (x) = f (x).

    Suponha agora que x  seja tal que  ξ 

    −2 η

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    Note que  dF  =   ∂F ∂ξ

     dξ  +   ∂F ∂η

    dη  e que

    ∂F ∂ξ

      =   −1 − µ′(ξ  + 2  η ) <  0∂F 

    ∂η   = 1 − 2  µ′

    (ξ  + 2  η) ≥ 1Portanto dF  = 0 se, e só se,  dξ  e dη  forem simultaneamente nulos. Este fato só ocorre

    quando  u1(x) = . . . =  un(x) = 0, logo, somente quando  x  =  p. Desta forma  F   e f  tem os

    mesmos pontos cŕıticos em  U  e consequentemente em  M   já que  F   = f   fora de  U .

    Agora considere a região F −1([c−ǫ, c+ǫ]). Pela Afirmação 1, F −1([c−ǫ, c+ǫ]) ⊂ M c+ǫ.Como F  ≤ f  temos que c−ǫ ≤ F (x) ≤ f (x), portanto F −1([c−ǫ, c+ǫ]) ⊂ f −1([c−ǫ, c+ǫ]).Consequentemente esta região é compacta e não pode conter pontos cŕıticos de  F   exceto

    possivelmente p. Mas  F ( p) = c − µ(0) < c − ǫ. Disto segue a afirmação.

    Demonstra瘠ao da Afirma瘠ao 3:   Primeiramente provemos que  eλ ⊂ H .

    Note que  x ∈ H  ⇔ F (x) ≤ c − ǫ   e    f (x) ≥ c − ǫ.

    Se  x∈

    eλ então  f (x) = c−

    ξ (x) + η(x)≥

      c−

    ǫ.

    Agora, como   ∂F ∂ξ

     

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    O

    OO

    O O

    O

    O

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    OO

    OO

    OO

    O

    OOO

    f  =  F   = c  + ǫ

    Figura 1.5: Diagrama 2

    Caso 2:  Dentro da região  ǫ ≤ ξ  ≤ η + ǫ.

    Seja  rt(x) = (u1(x), . . . , uλ(x), st  uλ+1(x), . . . , st  un(x)) onde

    st  =  t + (1

    −t)( ξ−ǫ

    η  )

    12   para  t

    ∈[0, 1].

    Note que st ≤ 1 e usando a mesma ideia do caso 1 é fácil ver que rt leva F −1((−∞, c−ǫ])nele mesmo.

    Neste caso,   r1   é novamente a identidade e   r0   leva toda região dentro da hiperf́ıcie

    f −1(c − ǫ) poisf (r0(x)) = c − ξ (x) +  ξ (x) − ǫ

    η(x)  · η(x) = c − ǫ.

    Observe que esta definição coincide com o caso 1 quando  ξ  = ǫ.

    Caso 3:  Dentro da região  η + ǫ ≤ ξ , isto é, dentro de  M c−ǫ.

    Seja  rt  a identidade. Esta coincide com a definição precedente quando  ξ  = η  + ǫ.

    Podemos concluir então que  M c−ǫ ∪ eλ possui o mesmo tipo de homotopia que  M c+ǫ,e com isso termina a prova do teorema.

    16

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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      }    

    caso 1

    caso 2

    caso 3

    Figura 1.6: Diagrama 3

    Observação 1.2.6.   Uma simples modifica瘠ao na demonstra瘠ao anterior mostra que o

    conjunto  M c é também um retrato por deforma瘠ao de  M c+ǫ.

    De fato,  M c é um retrato por deforma瘠ao de  F −1((−∞, c]), que por sua vez é retratopor deforma瘠ao de  M c+ǫ. Combinando este fato com a proposi瘠ao anterior obtemos que 

    M c−ǫ

    ∪eλ é retrato por deforma瘠ao de  M c.

    Corolário 1.2.7.  Mais geralmente suponha que existem  k  pontos crı́ticos n  ̃ao degenerados 

     p1, . . . , pk   com ı́ndices  λ1, . . . , λk  em  f −1(c). Ent˜ ao uma demonstra瘠ao similar nos mostra 

    que  M c+ǫ tem o mesmo tipo de homotopia de  M c−ǫ ∪ eλ1 ∪ . . . ∪ eλk.

    Proposição 1.2.8.   Seja   M  uma variedade diferenci´ avel, n-dimensional e   f   :   M  →   Ruma fun瘠ao suave possuindo apenas um ponto de mı́nimo  p  onde  p  é um ponto crı́tico n  ̃ao-

    degenerado. Ent˜ ao existe  ε > 0  tal que para  a ∈ (f ( p), f ( p) + ε)  o conjunto  f −1((−∞, a])é difeomorfo a uma bola fechada de dimens˜ ao n.

    Demonstra瘠ao.  Pelo Lema de Morse podemos encontrar uma vizinhança aberta  U   de  p

    em  M   e um difeomorfismo (representação local)  ϕ   :  U  →  V   em uma vizinhança abertaV   da origem em   T  pM   tal que   f  ◦ ϕ−1(v) =   f ( p) + x21  + x22  + . . . +  x2n   para todo   v   =(x1, x2, . . . , xn) ∈ V . Como x21 + x22 + . . . + x2n > 0 e  f ( p) é mı́nimo, ent̃ao existe  ε > 0 talque  x21 + x

    22 + . . . + x

    2n < ε implica (x1, x2, . . . , xn) ∈ V  . Então:

    f −1((−∞, f ( p) + ε]) = f −1((−∞, f ( p) + ε]) ∩ U  = ϕ−1( B̄),

    17

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    onde  B ⊂ V  representa a bola fechada:

    B̄  = {v ∈ T  pM   : x21 + x22 + . . . + x2n ≤ ε}

    Tomando  a =  f ( p) + ε  segue o resultado.

    Observação 1.2.9.   Uma demonstra瘠ao an´ aloga nos mostra que se  f  possui apenas um 

    ponto de m´ aximo   q , onde   q   é um ponto crı́tico n  ̃ao-degenerado. Ent˜ ao existe  ε >  0   tal 

    que para  b ∈ (f (q ) − ε, f (q )) o conjunto  f −1([b, +∞))   é difeomorfo a uma bola fechada de dimens˜ ao n.

    Corolário 1.2.10.   Seja   M   uma variedade diferenci´ avel, n-dimensional e   f   :   M 

     →  R

    uma fun瘠ao suave cujos pontos de mı́nimo s˜ ao pontos cŕıticos n˜ ao-degenerados. Ent˜ ao

    existe  ε > 0  tal que para  a ∈ (m, m + ε)  o conjunto  f −1((−∞, a])   é homeomorfo a soma topol´ ogica de  r  bolas fechadas de dimens˜ ao n, onde  m = minf   e  r   é o n  ́umero de pontos 

    de mı́nimo  pi   tais que  f ( pi) = m.

    Teorema 1.2.11. (Teorema de Reeb)   Sejam   M   uma variedade diferenci´ avel, com-

    pacta, n-dimensional e sem bordo e   f   :   M  →   R   uma fun瘠ao suave com apenas dois 

    pontos cŕıticos, sendo eles n˜ ao-degenerados. Ent˜ ao  M   é homeomorfa à n-esfera  S n.

    Demonstra瘠ao.   Como   M   é uma variedade compacta sem bordo e   f   é contı́nua, então

    f   admite máximo e mı́nimo e consequentemente estes são exatamente os únicos pontos

    crı́ticos da hipótese.

    Sejam  p  e   q  ∈  M   tais que   f ( p) =  α   e  f (q ) =  β  os pontos de máximo e de mı́nimorespectivamente.

    Sabemos pela Proposição 1.2.8 e a observação 1.2.9 que existem  β < b < a < α  tais

    que  f −1([β, b]) e  f −1([a, α]) são difeomorfos ao disco unitário n-dimensional  Dn.

    Sabemos também pela Proposição 1.2.1 que, como em  f −1([a, b]),  f  não possui pontos

    crı́ticos, então  f −1([a, α]) é difeomorfa a  f −1([b, α]) que é, portanto difeomorfa ao  Dn.

    Agora temos algo semelhante na esfera  S n, ou seja, sendo  pn  e  ps  os pólos norte e sul

    respectivamente e C n  e  C s  as calotas superior e inferior fechadas da esfera, temos que  C n

    e  C s  são difeomorfas ao  Dn.

    18

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    Defina os difeomorfismos:   h1 : f −1([β, b]) → Dn ;  h2  :  f −1([b, α]) → Dn;  h3 : C n → Dn

    e h4 : C s → Dn. Note que estas aplicações levam bordo em bordo difeomorficamente, que∂f −1([β, b]) = ∂f −1([b, α]) e que  ∂C n = ∂C s  = S 

    n−1.

    Afirmação:   Um homeomorfismo  g0   :  S n−1 →  S n−1 pode ser estendido a um homeo-

    morfismo  g : Dn → Dn.

    Seja então  h :  M  → S n definido da seguinte maneira:

    h(x) =

    h   −14   ◦ h1(x) se   x ∈ f −1([β, b])

    h

      −1

    3   ◦ g ◦ h2(x) se   x ∈ f −1

    ([b, α])onde  g   é uma extensão de  g0  :  S 

    n−1 → S n−1 com

    g0  =  h3|∂C n ◦ h   −14   |∂Dn ◦ h1|∂f −1([β,b]) ◦ h   −12   |∂Dn.

    Agora é fácil notar que   h   é um homeomorfismo de   M   em   S n  já que   h   −14   ◦  h1   eh   −13   ◦ g ◦ h2  são homeomorfismos e estes coincidem nos bordos de f −1([β, b]) e  f −1([b, α])respectivamente.

    Demonstra瘠ao da Afirma瘠ao:   O homeomorfismo  g0 pode ser estendido do seguinte modo:

    g(x) =

    |x| g0(   x|x|) se   |x| = 00 se   |x| = 0

    Observação 1.2.12.   Note que, nesta demonstra瘠ao podeŕıamos usar que   S n = (S n −{ pn}) ∪ { pn}   e  M   = (M  − {α}) ∪ {α}   ao invés de   S n =  C n ∪ C s   e   M   =  f −1([β, b]) ∪f −1([b, α]). Neste caso provamos que   M   é difeomorfa a   S n a menos, possivelmente, de 

    um ponto. E mais, se  g0 = id,  M   é, de fato, difeomorfa a  S n.

    Não é sempre posśıvel encontrar um difeomorfismo entre   M   e   S n. Em 1956, John

    Milnor [13] encontrou um exemplo de uma variedade de dimensão 7 que é homeomorfa

    mas não é difeomorfa à  S 7.

    19

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    Porém, como veremos no Caṕıtulo 2, existe uma condição mais fraca para   g0   que

    garante o difeomorfismo entre  M   e  S n.

    Um resultado mais descritivo que o teorema de Reeb, porém em categoria homotópicaé o teorema a seguir:

    Teorema 1.2.13.  Se  f   é uma fun瘠ao diferenci´ avel em uma variedade  M  compacta cujos 

    pontos crı́ticos s˜ ao todos n˜ ao-degenerados, ent˜ ao  M   tem o mesmo tipo de homotopia de 

    um CW-complexo, com uma célula de dimens˜ ao  λ  para cada ponto crı́tico de ı́ndice  λ.

    Este teorema é quase uma generalização do teorema de Reeb já que este conclui

    equivalência homotópica que é uma condição mais fraca que o homeomorfismo conclu-

    ido em Reeb. Mas quando se trata de grupos de homologia, equivalência homotópica é

    suficiente para concluir isomorfismos entre os respectivos grupos, e é nesse ponto que o

    teorema será importante. Sabendo que grupos de homologia celular e singular de CW-

    complexos são isomorfos, concluimos que os grupos de homologia singular de   M   são

    isomorfos aos grupos de homologia celular do CW-complexo associado.

    A demonstração completa deste teorema será dada no apêndice.

    20

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    Caṕıtulo 2

    Cobordismo

    2.1 Funções de Morse Sobre Tŕıades

    Seja W  uma variedade n-dimensional, compacta e suave. Denotaremos por  Bd(W ) (bordo

    de  W ) o conjunto de todos os pontos em  W   que não tem vizinhança homeomorfa a  Rn.

    Se  W   é tal que  Bd(W ) é a união disjunta de duas subvariedades abertas e fechadasV 0  e  V 1, definimos (W ; V 0, V 1) como sendo uma  tŕıade de variedades suaves .

    Definição 2.1.1.  Dadas duas  n-variedades suaves fechadas (compactas sem bordo) M 0  e

    M 1, definimos o cobordismo de M 0 a M 1 como sendo uma quı́ntupla (W ; V 0, V 1; h0, h1) onde

    (W ; V 0, V 1) é uma trı́ade de variedades suaves e  hi : V i → M i,  i  = 0, 1 são difeomorfismos.

    h0h1

    V  0   V  1M 0   M 1

    Figura 2.1:

    Definição 2.1.2.  Uma f un瘠ao de Morse sobre uma tŕıade de variedades suaves  (W ; V 0, V 1)

    é uma função suave  f   : W  → [a, b] tal que

    21

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    1.   f −1(a) = V 0   ,  f −1(b) = V 1

    2. Todo ponto cŕıtico de  f   é ponto interior e são todos não-degenerados.

    Como consequência do Lema de Morse, os pontos cŕıticos de uma função de Morse são

    isolados, e se a variedade for compacta existirão, no máximo, um número finito de pontos

    cŕıticos.

    Definição 2.1.3.  O n´ umero de Morse  µ de (W ; V 0, V 1) é a quantidade mı́nima de pontos

    crı́ticos de  f  sobre todas as funções de Morse  f .

    Existência de Fun瘠oes de Morse

    Lema 2.1.4.  Existe uma fun瘠ao suave  f   : W  → [0, 1]  com  f −1(0) = V 0,  f −1(1) = V 1, tal que  f   n˜ ao possui pontos cŕıticos em uma vizinhança do bordo de  W .

    Demonstra瘠ao.   Sejam U 1, . . . , U  k  uma cobertura de  W  por vizinhanças coordenadas. As-

    sumiremos que para todo i  = 1, . . . , k se  U i∩V 0 = ∅ então U i∩V 1  = ∅ e se  U i∩V 1 = ∅ entãoU i ∩ V 0  = ∅. Assumiremos também que se  U i ∩ Bd(W ) = ∅   então a função coordenada

    hi  :  U i → Rn+   leva  U i  na interseção da bola unitária aberta com  R

    n+.

    Em cada conjunto  U i  definimos a aplicação  f i  :  U i → [0, 1] como segue:

    Se  U i ∩ V 0 = ∅  (respectivamente   V 1) então  f i   =  Lhi   onde  L   é a aplicação  Lx  =  xn(respectivamente 1 − xn), onde  x = (x1, . . . , xn).

    Se  U i ∩ V 0 = ∅  e  U i ∩ V 1  = ∅  então  f i ≡   12 .

    Escolha uma partição da unidade

     {ϕi

    }  subordinada a cobertura

     {U i

    }  e defina a

    aplicação   f   :   W  →   [0, 1] por   f ( p) =   ϕ1( p)f 1( p) + · · · + ϕk( p)f k( p) . Assim   f   é umafunção suave bem definida com  f −1(0) = V 0  e  f 

    −1(1) = V 1.

    Verifiquemos agora que  df  = 0 em  Bd(W ).

    Seja  q  ∈  V 0  (respectivamente  q  ∈  V 1). Então, para algum  i,  ϕi(q )  >  0 e  q  ∈  U i. Sejahi( p) = (x1( p), . . . , xn( p)). Então

    ∂f 

    ∂xn =

    k j=1

    f  j∂ϕ j∂xn + {ϕ1

    ∂f 1∂xn + · · · + ϕk

    ∂f k∂xn}.

    22

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    Já sabemos que f  j(z ) tem o mesmo valor 0, (respectivamente 1) para todo  j  ek

     j=1∂ϕi∂xn

    =

    ∂ ∂xn

    {k j=1 ϕ j} = 0. Então, em  q , o primeiro somatório é zero.A derivada

      ∂f i

    ∂xn (q ) = 1 (respectivamente −1) e estas possuem todas o mesmo sinal,então   ∂f 

    ∂xn(q ) = 0. Segue então que  df  = 0 em B d(W ) e assim df  = 0 numa vizinhança de

    Bd(W ) por continuidade.

    Teorema 2.1.5.   Toda tŕıade de variedades suaves   (W ; V 0, V 1)   possui uma fun瘠ao de 

    Morse.

    Primeiramente mostraremos que em um caso particular, quando a variedade é com-

    pacta sem bordo, as funções de Morse formam um subconjunto aberto denso de F (M, R)na topologia  C 2 onde F (M, R) é o conjunto das funções suaves a valores reais definidasna variedade compacta  M . Disto seguirá a existência neste caso.

    No caso com bordo já sabemos que existe uma função  f   : W  → [0, 1] tal que f −1(0) =V 0, f 

    −1(1) = V 1 e f  não possui pontos crı́ticos numa vizinhança de Bd(W ). Perturbaremos

    f  de modo a encontrar uma função que preserve as propriedades acima, porém não possua

    pontos cŕıticos degenerados, ou seja, encontraremos uma função de Morse definida na

    trı́ade provando sua existência.

    Lema 2.1.6.   Se  f   é uma aplica瘠ao  C 2 de um subconjunto aberto  U  ⊂  Rn na reta real,ent˜ ao, para quase todo funcional linear  L : Rn → R, a fun瘠ao  f  + L  possui apenas pontos crı́ticos n  ̃ao degenerados.

    Por quase toda aplica瘠ao  entendemos: exceto num conjunto de medida nula em

    HomR(Rn

    ,R) ∼=  Rn

    .

    Demonstra瘠ao.  Consideremos a variedade  U  × HomR(Rn,R). Esta possui uma subvar-iedade  M  = {(x, L)/d(f (x) + L(x)) = 0}.

    Em  M ,  L(x) = −df (x) e a correspondência  x →  (x, −df (x)) é um difeomorfismo deU   em M .

    Cada (x, L)

     ∈  M   corresponde a um ponto cŕıtico de   f   +  L, e este é degenerado

    precisamente quando a matriz (   ∂ 2f 

    ∂xi∂xj) é singular.

    23

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

    33/144

    Temos também uma projeção   π   :   M  →   Hom(Rn,R) levando (x, L) em   L. Estaprojeção nada mais é que a correspondência  x → −df (x), e note que  π   é  C 1. Assim  π   écrı́tico em (x, L)

    ∈M  precisamente quando a matriz  dπ =

    −(   ∂ 

    2f ∂xi∂xj

    ) é singular.

    Desta forma,  f  + L  tem um ponto cŕıtico degenerado (para algum  x) se e só se  L  é a

    imagem de um ponto cŕıtico de  π. Mas, pelo Teorema de Sard, a imagem do conjunto de

    pontos crı́ticos de  π  tem medida nula em  Rn e disto segue o lema.

    Lema 2.1.7.   Seja   K   um subconjunto compacto de um conjunto aberto   U  ⊂   Rn. Se 

    f   :   U  →  R

      é   C 

    2

    e possui apenas pontos cŕıticos n˜ ao-degenerados em   K , ent˜ ao existe δ >  0   tal que se   g   :  U  →   R   é   C 2 e   Dg   é   δ -C 1-pr´ oximo de   Df , ent˜ ao   g   possui apenas pontos crı́ticos n˜ ao degenerados em  K .

    Demonstra瘠ao.   Como   f   possui apenas pontos cŕıticos não-degenerados em   K , df  +|det(   ∂ 2f 

    ∂xi∂xj)| > 0 onde df  = [(  ∂f 

    ∂x1)2 + · · · + (   ∂f 

    ∂xn)2]

    12 , e seja  µ > 0 seu mı́nimo em  K .

    Escolha   δ >   0 tão pequeno tal que o fato de   Dg   ser   δ -C 1-próximo de   Df   implica

    df  − dg <  µ

    2   e | |det(  ∂ 2f ∂xi∂xj )| − |det(

      ∂ 2g∂xi∂xj )| | <

      µ2 .

    Então dg + |det(   ∂ 2g∂xi∂xj

    )| > df  + |det(   ∂ 2f ∂xi∂xj

    )| − µ2− µ

    2 ≥ 0 para todos os pontos em

    K . Assim segue o resultado.

    Lema 2.1.8.   Suponha   h   :  U  →  U ′ um difeomorfismo de um subconjunto aberto de  Rnsobre outro que leva o compacto  K  ⊂ U   em  K ′ ⊂ U ′. Ent˜ ao a aplica瘠ao

    ψ   :   C ∞(U ′,R)  −→   C ∞(U,R)f    −→   f  ◦ h

    é  C 2-contı́nua em  f  ≡ 0.

    Demonstra瘠ao.   Seja

    A ≥ max { sup p∈K 

    |Dh( p)|,   sup p∈K 

    |D2h( p)|,   1}.

    Dado  ǫ >  0 seja  δ  =  ǫ

    2A

    . Então, se  f 

     ∈ C ∞(U ′,R) é tal que

     |f ( p)

    | < δ ,

     Df ( p)

     < δ   e

    D2f ( p)  < δ   para  p ∈  K ′, temos que, como  h(q ) ∈  K ′ para  q  ∈  K , |f  ◦ h(q )|  < δ  ≤  ǫ

    24

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    ∀q  ∈ K .

    D(f  ◦ h)(q ) = D(f (h)(q )) · Dh(q ) ≤ Df (h(q ))Dh(q ) ≤ δA < ǫ   ∀q  ∈ K 

    e

    D2(f  ◦ h)(q ) ≤ D2f (h(q ))Dh(q ) + Df (h(q ))D2h(q )

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    Afirmação:   Se os coeficientes da aplica瘠ao linear  L  s˜ ao suficientemente pequenos,

    ent˜ ao  f 1  pertencer´ a a uma dada vizinhança  N   de  f .

    Demonstra瘠ao da Afirma瘠ao:  Primeiramente note que  f 1  difere de f  apenas em um

    conjunto compacto K  = supp(λ) ⊂ U 1.

    Sendo  L(x) = L(x1, . . . , xn) =

    lixi, note que

    f 1(h  −11   (x)) − f (h   −11   (x)) = λ(h   −11   (x))

    lixi

    para todo   x ∈   h1(K ). Então, escolhendo   li   suficientemente pequeno, podemosgarantir que esta diferença, junto com a primeira e a segunda derivada, é menor

    que algum ǫ > 0 pré determinado no conjunto  h1(K ). Agora, se  ǫ   é suficientemente

    pequeno, então segue do Lema 2.1.8 que  f 1  pertence a vizinhança  N .

    Encontramos então, uma função  f 1  em  N  que é não degenerada em  C 1. Aplicando

    o Lema 2.1.7 novamente, podemos escolher uma vizinhança  N 1  de  f 1,  N 1 ⊂ N , talque qualquer função em N 1   é ainda não degenerada em  C 1.

    Agora repetimos o processo com   f 1   e   N 1, para obter uma função   f 2   em   N 1   não

    degenerada em C 2, e uma vizinhança N 2  de  f 2 N 2 ⊂ N 1, tal que qualquer função emN 2   é ainda não degenerada em  C 2. A função  f 2   é automaticamente não degenerada

    em  C 1.

    Repetindo o processo encontramos uma função  f k ∈  N k ⊂  N k−1 ⊂ ·· · ⊂  N 1 ⊂  N que é não degenerada em  C 1 ∪ · · · ∪ C k  = M .

    O caso com bordo

    Demonstra瘠ao do Teorema 2.1.5.   Pelo Lema 2.1.4, existe uma fução  f   :  W  →   [0, 1] quesatisfaz:

    (1)   f −1(0) = V 0,  f −1(1) = V 1  e

    (2)   f   não possui pontos cŕıticos numa vizinhança de  Bd(W ).

    26

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    O objetivo é eliminar os pontos cŕıticos degenerados em W −Bd(W ), sempre preservandoas propriedades (1) e (2) da  f .

    Seja U  uma vizinhança aberta de Bd(W ) onde f  não possui pontos crı́ticos. Como W   énormal1 podemos encontrar uma vizinhança aberta V   de Bd(W ) tal que V  ⊂ U . Seja {U i}uma cobertura finita de W  por vizinhanças coordenadas tal que o conjunto  U i  ou está em

    U  ou em W −V  . Tome um refinamento compacto {C i} de {U i} e seja C 0 a união de todosos  C i’s que estão em U . Assim como para a variedade compacta e sem bordo do teorema

    2.1.10, podemos usar o Lema 2.1.7 para mostrar que numa vizinhança suficientemente

    pequena N   de  f , nenhuma função pode possuir pontos crı́ticos degenerados em  C 0.

    Temos também que 0  < f <  1 no compacto  W  − V  . Assim, em uma vizinhança  N ′de  f , toda função  g  satisfaz a condição 0 < g

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    Demonstra瘠ao.  Construa uma função suave λ  :  W  → [0, 1] tal que λ  = 1 numa vizinhançaU   de   p1   e  λ   = 0 fora de uma grande vizinhança   N , onde  N  ⊂  W  − Bd(W ) e o únicoponto crı́tico de  f  contido em  N   é  p1.

    Escolha  ǫ1  >  0 tão pequeno tal que  f 0  = f  + ǫ1λ  assume valores em [0, 1] e  f 0( p1) =f 0( pi),  i = 1.

    Introduza uma métrica Riemanniana para  W  e encontre  c e c′ tais que 0 < c ≤ ∇f em todo compacto  K  = λ−1((0, 1)) e ∇λ ≤ c′ em K.

    Seja 0   < ǫ < min{ǫ1,   cc′}. Então   f 1   =   f  + ǫλ   é novamente uma função de Morse,

    f 1( p1) =  f 1( pi) para   i = 1 e  f 1   possui exatamente os mesmo pontos cŕıticos de  f , pois,em  K 

    ∇(f  +  ǫλ) ≥ ∇f  − ǫ∇λ ≥ c − ǫc′ > 0

    e, fora de  K , ∇f  = 0, então ∇f 1 = ∇f .

    Encontramos assim, uma função de Morse  f 1 com os mesmo pontos crı́ticos de  f  e que

    f 1( p1) = f 1( pi),  i = 1. Continuando indutivamente encontramos uma função  g  de Morseque separa todos os pontos cŕıticos. Isso completa a prova.

    2.1.1 Colares e Cobordismos

    Definiremos agora um campo de vetores que é uma generalização do campo gradiente.

    Provaremos que, dada uma função de Morse numa tŕıade, existe um campo deste tipo

    associado. Por isso e devido às interesantes propriedades deste campo, ele será frequente-

    mente usado no decorrer deste texto.

    Definição 2.1.13.   Seja f  uma função de Morse para a tŕıade (W n; V, V ′). Um campo de

    vetores ξ  em  W n é um campo de vetores tipo gradiente de  f   se:

    1.   ξ (f ) >  0 no complemento do conjunto de pontos cŕıticos de  f   e

    2. Dado qualquer ponto cŕıtico  p  de  f  existem coordenadas (x1, . . . , xλ, xλ+1, . . . , xn) =

    (x, y) numa vizinhança   U   de   p   de modo que   f   =   f ( p)

     − x

    2 +

     y

    2 e   ξ   tem

    coordenadas (−x1, . . . , −xλ, xλ+1, . . . , xn) em U.

    28

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    Lema 2.1.14.  Para toda fun瘠ao de Morse  f   na trı́ade   (W n; V, V ′)   existe um campo de 

    vetores tipo gradiente  ξ .

    Demonstra瘠ao.   Para simplificar a prova assumiremos que   f   possui apenas um ponto

    cŕıtico, a demonstração do caso geral é análoga já que o conjunto de pontos cŕıticos é

    discreto.

    Podemos escolher coordenadas (x, y) = (x1, . . . , xλ, xλ−1, . . . , xn) numa vizinhança  U 0

    de  p de modo que  f  = f ( p) − x2 + y2 em  U 0  devido ao Lema de Morse. Seja  U   umavizinhança de  p tal que  U  ⊂ U 0.

    Cada ponto p′ ∈ W −U 0 não é ponto crı́tico de  f . Usando a Forma Local da Submersão,vemos que existem coordenadas  x′1, . . . , x

    ′n   numa vizinhança  U 

    ′ de  p′ tal que  f   =  c  + x′1

    em  U ′ onde  c  é uma constante.

    Usando isso e o fato que  W − U 0  é compacto, encontramos vizinhanças U 1, . . . , U  k  taisque:

    1.   W  − U 0 ⊂ U 1 ∪ · · · ∪ U k;

    2.   U  ∩ U i  = ∅,  i  = 1, . . . , k;

    3.   U i  possui coordenadas  xi1, . . . , x

    in  e  f  = c + x

    i1  em  U i,  i = 1, . . . , k.

    Existe um campo de vetores cujas coordenadas são (−x1, . . . , −xλ, xλ+1, . . . , xn) em  U 0,e em U i  existe um campo

      ∂ ∂xi1

    com coordenadas (1, 0, . . . , 0),  i  = 1, . . . , k. Juntando esses

    campos e usando partição da unidade subordinada à cobertura  U 0, U 1, . . . , U  k, obtemos

    um campo  ξ  em  W .

    O campo  ξ  encontrado é o campo de vetores tipo gradiente requerido.

    Observação 2.1.15.   Daqui em diante identificaremos a tŕıade  (W ; V 0, V 1)  com o cobor-

    dismo  (W ; V 0, V 1; i0, i1)  onde  i0 : V 0 → V 0   e  i1  : V 1 → V 1  s˜ ao as aplica瘠oes identidade.

    Definição 2.1.16.  A trı́ade (W ; V 0, V 1) é dita ser um  cobordismo produto  se esta é difeo-

    morfa à trı́ade (V 0 × [0, 1]; V 0 × {0}, V 0 × {1}).

    29

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    Corolário 2.1.17.  Se o n´ umero de Morse da tŕıade  (W ; V 0, V 1)  é zero, ent  ̃ao  (W ; V 0, V 1)

    é um cobordismo produto.

    Demonstra瘠ao.  Da demonstração da Proposição 1.2.1, sabemos que existe um único grupo

    de difeomorfismos a 1-parâmetro  ϕt  :  W  → W  e que este satisfaz  f (ϕt(q )) = t + f (q ).

    Seja então   h   :  W  →   V 0 × [0, 1] onde  h(y) = (ϕ−f (y), f (y)) e   h−1(y0, s) =  ϕs(y0). aaplicação  h  é o difeomorfismo requerido.

    Teorema 2.1.18 (O Colar de uma Variedade).  Seja  W  uma variedade suave compacta 

    com bordo. Existe uma vizinhança de   Bd(W )   (chamado o colar de   W ) difeomorfa a 

    Bd(W ) × [0, 1).

    Demonstra瘠ao.  Pelo Lema 2.1.4, existe uma função suave  f   : W  → R+  tal que  f −1(0) =Bd(W ) e  df  = 0 numa vizinhança  U   de  Bd(W ).

    Então  f   é uma função de Morse em f −1([0,   ǫ2

    ]), onde ǫ > 0 é uma cota inferior para  f 

    no conjunto compacto  W  − U .

    Assim o Corolário 2.1.17 garante um difeomorfismo de  f −1

    ([0,  ǫ

    2 )) com Bd(W )× [0, 1).

    Uma subvariedade fechada conexa  M n−1 ⊂  W n − Bd(W ) tem  dupla face   se algumavizinhança de  M n−1 em  W n é dividida em duas componentes quando  M n−1 é retirada.

    Teorema 2.1.19   (  Bicolar).  Suponha que toda componente de uma subvariedade suave 

    M   de   W   é dupla face. Ent˜ ao existe uma vizinhança de   M   em   W   (chamado bicolar)

    difeomorfa a  M  × (−1, 1)  de tal modo que  M  corresponde a  M  × 0.

    Demonstra瘠ao.   Como as componentes conexas de  M  podem ser cobertas por conjuntos

    abertos disjuntos em W , é suficiente considerar o caso onde  M  possui uma única compo-

    nente conexa.

    Seja U  uma vizinhança aberta de  M   em W − Bd(W ) tal que U   é compacto e pertence

    a uma vizinhança de  M   a qual é dividida em duas componentes quando M   é retirada.

    30

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    Então  U  claramente se divide como uma união de duas subvariedades   U 1   e  U 2  tais que

    U 1 ∩ U 2  =  M   é o bordo de cada. Como na demonstração do Lema 2.1.4 podemos usarcoberturas coordenadas e uma partição da unidade para construir uma aplicação suave

    ϕ :  U  → R  tal que  dϕ = 0 em  M ,  ϕ  0 em  U  − U 2.

    Podemos escolher uma vizinhança aberta  V   de  M , com V  ⊂ U , na qual  ϕ não possuipontos crı́ticos.

    Seja 2ǫ′′ > 0 o ı́nfimo de  ϕ  no compacto  U 1 − V .

    Seja 2ǫ′  0,  T (x, t) ≥ 0então, próximo de zero,  T (x0, t) é crescente ou constante para  x0   fixado. Mas, pela não

    singularidade de f , temos que   ∂T (x,0)

    ∂t

      > 0.

    31

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    Escolha uma função  C r positiva ǫ(x) <  1 em  M   tal que   ∂T (x,t)∂t

      > 0 para 0 ≤ t ≤ ǫ(x)e 1 > ǫ(x)∂T (x,0)

    ∂t  > 0 para 0 ≤ t ≤ β (x).

    Defina uma aplicação  g : W  → W  pela equação  g(x, t) = (x, ψ(x, t)), onde:ψ(x, t) =

    1 − α

      t

    β (x)

    ǫ(x)t + α

      t

    β (x)

    t

    Aqui   α(t) é uma função monótona  C ∞ que é igual a zero para   t ≤   13

      e igual a 1 para

    t ≥   23

    .

    Note que  g (x, 0) = (x, 0),  g (x, t) = (x, t) para  t ≥   2β(x)3

      , e

    ∂ψ(x, t)

    ∂t   = (1 − α) ǫ(x) + α + (1 − ǫ(x))   tβ (x)α′ > 0para t <   2β(x)

    3  , assim, pelo Teorema da Função Inversa,  g   é um difeomorfismo local. Mas

    como  g   é também uma bijeção,  g   é um difeomorfismo global.

    Seja  f 1  =  f  ◦ g. Então  f 1   é um difeomorfismo de  W   em  f (W ) que é igual a  f   pertode  W  − W . Além disso, se tomarmos  f 1(x, t) = (X 1, T 1), então

    0 <

     ∂T 1(x, t)

    ∂t    0 para   t <

     β (x)

    3  .

    Esta última desigualdade segue do fato que

    ∂ϕ(x, t)

    ∂t   = α + (1 − α) ∂T 1(x, t)

    ∂t   + 1 −  T 1(x, t)t 2tα′β 32

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    que é positivo pois   ∂T 1(x,t)∂t

      > 0 e pelo Teorema do Valor Médio

    T 1(x, t)

    t  =

     T 1(x, t) − T 1(x, 0)t

    −0

      = ∂T 1(x, t

    ′)

    ∂t 

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    Para definir uma estrutura diferenciável na variedade é suficiente definir estruturas

    suaves compat́ıveis nos abertos de uma cobertura da variedade. Temos que  W  ∪h W ′ écoberta por  j(W 

     −V 1),  j

    ′(W ′

    −V ′1 ) e  g(V 1

    ×(0, 2)) e queremos mostrar que a estrutura

    suave definida nesses conjuntos por  j,  j′ e  g, respectivamente, são compatı́veis.

    Todas as vizinhanças coordenadas em   j(W  −  V 1) tem interseção vazia com as em j′(W ′ − V ′1 ), logo estas são compatı́veis.

    Sejam (g(U ), ϕ ◦ g−1) e ( j(V ), h ◦ j−1) vizinhanças coordenadas quaisquer em  g(V 1 ×(0, 2)) e j(W −V 1) respectivamente , onde (U, ϕ) e (V, h) são vizinhanças coordenadas emV 1

    ×(0, 2) e  W  respectivamente. Suponha que  g(U )

    ∩ j(V  )

    =

    ∅. A aplicação

    h ◦ j−1 ◦ g ◦ ϕ−1 : ϕ ◦ g−1(g(U ) ∩ j(V  )) → h ◦ j−1(g(U ) ∩ j(V ))

    é suave já que a aplicação   g   restrita a tal interseção é igual a   j(g1(x, t)) que é suave.

    Logo j (W  − V 1) e  g (V 1 × (0, 2)) são compatı́veis. Analogamente temos que  j ′(W ′ − V ′1 ) eg(V 1 × (0, 2)) são compat́ıveis. Isso completa a prova da existência.

    Unicidade:

    Seja   S    a estrutura diferenciável constrúıda acima e seja  S  ′ uma outra estrutura

    qualquer de  W  ∪h W ′ que é compat́ıvel com as estruturas dadas em  W   e  W ′.

    Pelo Teorema do Bicolar 2.1.19, existem bicolares  V   e  V  ′ de  V 1   em (W  ∪h W ′,S  ) e(W  ∪h W ′,S  ′) respectivamente.

    Note que que em  j ′(W ′ − V ′1 ) e em j (W  − V 1) as vizinhanças coordenadas de S    e S  ′coincidem.

    Sejam  P   : V  → V 1 × (−1, 1) e  P ′ : V ′ → V 1 × (−1, 1) os difeomorfismos dos bicolaresacima. Tome  U  uma vizinhança de  V 1 × 0 em  V 1 × (−1, 1) tal que  P −1(U ) ⊂ V ′ e seja aaplicação P ′◦P −1|U   : U  → V 1×(−1, 1). Note que P ′◦P −1|V  1×0 ≡ id e é um difeomorfismoquando restrito aos subconjuntos (V 1 × [0, 1) ∩ U ) = U +  e (V 1 × (−1, 0]) ∩ U ) = U −  de U .

    Pelo Lema 2.1.20, existe um homeomorfismo  ψ  de  U   com  P ′ ◦ P −1(U ) que é igual aP ′ ◦ P −1 numa vizinhança do complemento de  U , é um difeomorfismo quando restrito aU +  e  U −, e é igual a identidade numa vizinhança de  V 1 × 0.

    34

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    Então  f  = (P ′)−1 ◦ ψ ◦ P   está definida na vizinhança  P −1(U ) de  V 1  em  W  ∪h W ′ e éigual a identidade numa vizinhança do complemento de  P −1(U ).

    Assim, f  pode ser estendida a um homeomorfismo de (W ∪hW ′

    ,S  ) em (W ∪hW ′

    ,S  ′

    )sendo a identidade fora de  P −1(U ).

    Note que, na realidade,   f   é um difeomorfismo e isso completa a demonstração do

    teorema.

    h

    W ′V  0   V   ′0V  1   V  

     ′1

    W  ∪h W ′

    Figura 2.2:

    Suponha agora que são dadas as tŕıades (W ; V 0, V 1) e (W ′; V ′1 , V 

     ′2 ) com funções de

    Morse f   e f ′ em [0, 1] e [1, 2] respectivamente. Construa campos de vetores tipo gradiente

    ξ   e  ξ ′ em  W   e  W ′, respectivamente, normalizados tais que   ξ (f ) = 1 e  ξ ′(f ) = 1 exceto

    numa pequena vizinhança de cada ponto crı́tico. Feita tal construção podemos provar o

    Lema a seguir:

    Lema 2.1.22.  Dado um difeomorfismo  h  :  V 1 → V ′1  existe uma ´ unica estrutura suave em W  ∪h  W ′, compat́ıvel com as estruturas em   W   e   W ′ dadas, tal que   f   e   f ′ geram uma  fun瘠ao suave em  W  ∪h W ′ e  ξ   e  ξ ′ geram um campo de vetores suave.

    Demonstra瘠ao.   A prova é a mesma que a do teorema 2.1.21 acima, exceto que a estrutura

    35

  • 8/16/2019 A Conjectura de Poincare Em Dimensoes Altas

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    suave no bicolar deve ser escolhida de modo a colar as curvas integrais de   ξ   e   ξ ′ nas

    vizinhanças colares de  V 1  e  V  ′1 . Esta condição também prova a unicidade.

    Esta construção nos fornece uma demonstração para o resultado seguinte.

    Corolário 2.1.23.   ´ E v´ alida a seguinte desigualdade:  µ(W ∪hW ′; V 0, V ′2 ) ≤ µ(W ; V 0, V 1)+µ(W ′; V ′1 , V 

    ′2 )  onde  µ  é o n  ́umero de Morse da tŕıade.

    2.2 Cobordismo Visto Como Categoria

    Definição 2.2.1.   Dizemos que dois cobordismos (W ; V 0, V 1; h0, h1) e (W ′; V ′0 , V 

    ′1 ; h

    ′0, h

    ′1)

    são equivalentes se existe um difeomorfismo  g :  W  → W ′ levando  V 0  em V  ′0 ,  V 1  em  V ′1   talque o seguinte diagrama comuta.

    V ig|V  i       

    hi

                    

    V  ′i

    h′i

                   

    M i

    Desta forma obtemos uma categoria onde os objetos são variedades fechadas e os

    morfismos são classes de equivalência   c  de cobordismos. Isso significa que cobordismos

    satisfazem as duas seguintes condições que seguem imediatamente do Teorema 2.1.21 e

    do Teorema 2.1.18 respectivamente:

    1. Dados classes de equivalência  c  de cobordismo de  M 0  a  M 1  e  c′ de  M 1  a  M 2, existe

    uma classe bem definida  cc′ de  M 0  a  M 2. Esta operação composição é associativa.

    2. Para toda variedade fechada  M   existe a classe de cobordismo identidade   lM   que é

    a classe de equivalência de (M × I ; M × 0, M × 1; p0, p1), com pi(x, i) = x,  x ∈ M   e

    i = 0, 1.

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    Assim, se  c  é uma classe de cobordismo de  M 1  a  M 2, então  lM 1c =  c  =  clM 2.

    Dado um difeomorfismo  h  :  M  → M ′, defina  ch  como a classe de (M × I ; M × 0, M ×

    1; j, h1) onde  j(x, 0) = x  e  h(x, 1) = x,  x ∈ M .Teorema 2.2.2.  Para quaisquer dois difeomorfismos  h :  M  →  M ′ e  h′ : M ′ → M ′′ vale que  chch′  = ch′h.

    Demonstra瘠ao.   Seja  W   = M  × I  ∪h M ′ × I   e sejam  jh   : M  × I  → W jh′   :  M ′ × I  → W as aplicações inclusão. Defina a aplicação  g : M  × I  → W  como segue:

    g(x, t) =  jh(x, 2t) se 0 ≤ t ≤   12 , jh′(h(x), 2t − 1) se   12 ≤ t ≤ 1.Então  g  está bem definida e é a equivalência requerida.

    Observação 2.2.3.   Seja  f   : (W ; V 0, V 1) → ([0, 1];0, 1)  uma fun瘠ao de Morse, e suponha que  0  < c <  1  onde  c  n˜ ao é um valor crı́tico de  f . Ent˜ ao ambos  f −1([0, c])   e  f −1([c, 1])

    s˜ ao variedades suaves com bordo. Assim o cobordismo (W ; V 0, V 1; id, id)  de  V 0  a  V 1  pode ser expresso como a composi瘠ao de dois cobordismos, um de  V 0  a  f 

    −1(c) e outro de  f −1(c)

    a  V 1.

    A observação acima junto com o Lema 2.1.12 nos mostra o importante resultado:

    Corolário 2.2.4.  Qualquer cobordismo pode ser expresso como uma composi瘠ao de cobor-

    dismos com n´ umero de Morse 1.

    2.3 Isotopia e Pseudo-isotopia

    Definição 2.3.1.  Dois difeomorfismos  h0,   h1   de  M   a  M ′ são suavemente   isot´ opicos   se

    existe uma aplicação  f   : M  × I  → M ′ tal que:

    1. a aplicação  f   é suave;

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    2. cada  f t, definido por  f t(x) = f (x, t), é um difeomorfismo e

    3.   f 0 = h0,  f 1  = h1.

    Dois difeomorfismos h0,  h1  de  M   a  M ′ são  pseudo-isot´ opicos  se existe um difeomorfismo

    g :  M  × I  → M ′ × I  tal que  g(x, 0) = (h0(x), 0) e  g(x, 1) = (h1(x), 1).

    Observação 2.3.2.   Se  h0   :  M  →  M ′ e  h1   :  M  →  M ′ s˜ ao isot´ opicos, ent˜ ao s˜ ao pseudo-isot´ opicos. De fato, seja  f   :  M  × I  → M ′ a isotopia entre  h0   e  h1. Defina  f̃   : M  × I  →M ′ × I   de modo que  f̃ (x, t) = (f t(x), t). Temos, pelo Teorema da Fun瘠ao Inversa, que f̃   é um difeomorfismo e note também que  f̃ (x, 0) = (f 0(x), 0) = (h0(x), 0)   e  f̃ (x, 1) =

    (f 1(x), 1) = (h1(x), 1), o que mostra que  h0  e  h1   s˜ ao pseudo-isot´ opicos.

    Lema 2.3.3.  Isotopia e pseudo-isotopia s˜ ao rela瘠oes de equivalência.

    Demonstra瘠ao.  A simetria e a reflexividade são claras tanto na isotopia quanto na pseudo-

    isotopia.

    Transitividade da isotopia:

    Sejam  h0, h1, h2   :  M  → M ′ difeomorfismos e  f, g   : M  × I  → M ′ as isotopias entre  h0e  h1  e entre  h1  e  h2  respectivamente.

    Seja  m   :   I  →  I   uma aplicação monótona suave tal que  m(t) = 0 para 0 ≤   t ≤   13

      e

    m(t) = 1 para   23 ≤ t ≤ 1.

    A isotopia entre  h0  e  h1  será dada por  k :  M  × I  → M ′ definida por:

    k(x, t) = f (x, m(2t)) se 0 ≤ t ≤   12 ,g(h(x), m(2t − 1)) se   12 ≤ t ≤ 1.

    Note que foi preciso usar a função auxiliar  m  para garantir a suavidade de  k  e, desta

    forma, da existência da isotopia.

    Transitividade da pseudo-isotopia:

    A fim de demonstrar a transitividade da pseudo-isotopia não podemos usar a mesma

    técnica usada acima pois a função auxiliar  m  é constante em 0 ≤ t ≤   13

      e em   23 ≤ t ≤ 1,

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    logo, se contruı́ssemos  k′(x, t) com a mesma técnica, esta seria constante em 0 ≤  t ≤   16

    e em   56 ≤   t ≤  1, por essa razão  k   não seria uma bijeção e portanto não terı́amos uma

    pseudo-isotopia. Para que possamos provar a transitividade neste caso usaremos o lema

    2.1.20 como segue.

    Sejam, novamente,  h0, h1, h2   :  M  →  M ′ difeomorfismos e  f, g   :  M  × I  →  M ′ × I   aspseudo-isotopias entre  h0  e  h1  e entre  h1  e  h2  respectivamente.

    Defina   h−11   × 1 :   M ′ × I  →   M  × I   por   h−11   × 1(x, t) = (h−11   (x), t). Note que estaaplicação é um difeomorfismo.

    Seja ḡ  = (h

    −1

    1   × 1) ◦ g. Note que ḡ   é difeomorfismo e portanto é um mergulho ondeḡ|M ×0 =  id.

    Pelo Lema 2.1.20 existe um difeomorfismo g̃   de   M  × I   em ḡ(M  × I ) que é igual aḡ  numa vizinhança do complemento de   M  × I   em  M  × R+  e igual a identidade numavizinhança de  M  × 0

    Defina agora g ′ = (h1 × 1) ◦ g̃  onde (h1 × 1)(x, y) = (h1(x), t).

    A aplicação  g′ é um difeomorfismo que é igual a  h1 × 1 numa vizinhança de  M  × 0 eque em  M  × 1,  g′ = h2.

    Usando racioćınio análogo em  f , encontramos  f ′ tal que em  M  × 0,  f ′ =  h0  e numavizinhança de  M  × 1,  f ′ = h1 × 1. Defina  k : M  × I  → M ′ × I   por:

    k(x, t) =

    f ′(x, 2t) se 0 ≤ t ≤   1

    2,

    g′(x, 2t − 1) se   12 ≤ t ≤ 1.

    Esta aplicação  k   é a pseudo-isotopia requerida.

    Teorema 2.3.4.   As classe de equival̂encia   ch0   e   ch1   s˜ ao iguais se, e somente se, os 

    difeomorfismos  h0   e  h1   s˜ ao pseudo-isot´ opicos.

    Demonstra瘠ao.   Seja  g : M  × I  → M ′ × I  a pseudo isotopia entre  h0  e  h1.

    Defina  h−10   × 1 : M ′ × I  → M  × I   por  h−10   × 1(x, t) = (h−10   (x), t).

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    Seja f  = (h−10   ×1) ◦ g. Como h−10   é difeomorfismo temos que, pelo Teorema da FunçãoInversa,  h−10   × 1 é um difeomorfismo, logo  f   é a equivalência desejada.

    Suponha agora que f   é uma equivalência entre  ch0  e ch1. Seja h0 ×1 : M ×I  → M ′

    ×I definida por  h0 × 1(x, t) = (h0(x), t) e seja  g = (h0 × 1) ◦ f .

    Note que  g   é um difeomorfismo e que este define a pseudo-isotopia entre h0  e  h1.

    Lema 2.3.5.   Sejam  f, g   :  ∂Q →  ∂P   difeomorfismos isot´ opicos. Ent˜ ao existe um difeo-morfismo entre  P  ∪f  Q  e  P  ∪g Q.

    A demonstração deste resultado está feita em [4] caṕıtulo 8, seção 2.

    Na observação 1.2.12 mostramos que se  g0  = id  então  M   é, na verdade, difeomorfa à

    esfera. Mostraremos agora que basta que  g0   seja isotópica à identidade para termos tal

    difeomorfismo.

    Lembremos que

    g0  =  h3|∂C n ◦ h   −14   |∂Dn ◦ h1|∂f −1([β,b]) ◦ h   −12   |∂Dn   : S n−1 → S n−1.

    Suponha que  g0  seja isotópico à identidade, então

    k  =  h   −11   |∂Dn ◦ h4|∂C s ◦ h   −13   |∂Dn ◦ h2|∂f −1([b,α])

    é também isotópico à identidade. Note que M  = M 1 ∪id M 2 onde M 1  = f −1([b, α]) e M 2 =f −1([β, b]). Pelo Lema 2.3.5 conclúımos que M   é difeomorfa a  M 1 ∪kM 2. Usando a mesmademonstração do Teorema de Reeb 1.2.11 para verificar que  M 1 ∪k M 2   é homeomorfa aS n