a construção da hegemonia e a hegemonia da construção · a construção da hegemonia e a...

22
A construção da hegemonia e a hegemonia da construção: o grupo da indústria da construção pesada e o Estado brasileiro, 1956-1984 – notas de pesquisa Pedro Henrique Pedreira Campos 1 Resumo: O presente trabalho versa sobre as empresas do setor de indústria de construção pesada no Brasil e suas formas de organização no âmbito da sociedade civil. Voltando ao período do governo de Juscelino Kubitschek, tenta-se diagnosticar as formas de organização das empreiteiras em aparelhos privados de hegemonia, a partir da utilização do aparato conceitual e metodológico do pensador italiano Antonio Gramsci. Com isso, pretende-se estabelecer uma compreensão do Estado e das políticas públicas não a partir restritamente de um aparelho estatal que esteja sobre ou fora da sociedade, mas sim a partir dos grupos sociais organizados em disputa na sociedade civil e na sociedade política, ou melhor, no Estado ampliado. Fica explícita a grande importância dos interesses inerentes a esse setor para entender as políticas públicas a partir dos anos 1950. Palavras-chave: indústria de construção; período ditatorial; sociedade civil Abstract: The issue of this article is related to the companies of heavy construction sector in Brazil and their organization forms among the civil society. Analyzing Juscelino Kubitschek's government's period, the article intends to interpretate the forms of organization of the construction enterprises in private apparels of hegemony, from Antonio Gramsci’s conceptual and methodological apparatus. Hence, it intends to settle down an understanding of the State and the public politics not as if it was in or out of the society, but starting from the organized social groups in dispute in the civil society and in the political society, or in the enlarged State. A better understanding of the inherent interests of this economic sector will help to interpretate 1950´s economic policies. Key-words: construction industry; dictatorial period; civil society 1 Doutorando em História pela UFF e bolsista do CNPq.

Upload: duongtram

Post on 08-Nov-2018

237 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A construção da hegemonia e a hegemonia da construção: o grupo da indústria da construção pesada e o Estado brasileiro, 1956-1984 – notas de pesquisa

Pedro Henrique Pedreira Campos1

Resumo: O presente trabalho versa sobre as empresas do setor de indústria de construção pesada no Brasil e suas formas de organização no âmbito da sociedade civil. Voltando ao período do governo de Juscelino Kubitschek, tenta-se diagnosticar as formas de organização das empreiteiras em aparelhos privados de hegemonia, a partir da utilização do aparato conceitual e metodológico do pensador italiano Antonio Gramsci. Com isso, pretende-se estabelecer uma compreensão do Estado e das políticas públicas não a partir restritamente de um aparelho estatal que esteja sobre ou fora da sociedade, mas sim a partir dos grupos sociais organizados em disputa na sociedade civil e na sociedade política, ou melhor, no Estado ampliado. Fica explícita a grande importância dos interesses inerentes a esse setor para entender as políticas públicas a partir dos anos 1950. Palavras-chave: indústria de construção; período ditatorial; sociedade civil Abstract: The issue of this article is related to the companies of heavy construction sector in Brazil and their organization forms among the civil society. Analyzing Juscelino Kubitschek's government's period, the article intends to interpretate the forms of organization of the construction enterprises in private apparels of hegemony, from Antonio Gramsci’s conceptual and methodological apparatus. Hence, it intends to settle down an understanding of the State and the public politics not as if it was in or out of the society, but starting from the organized social groups in dispute in the civil society and in the political society, or in the enlarged State. A better understanding of the inherent interests of this economic sector will help to interpretate 1950´s economic policies. Key-words: construction industry; dictatorial period; civil society

1 Doutorando em História pela UFF e bolsista do CNPq.

2 A construção da hegemonia e a hegemonia da construção: o grupo da indústria da construção pesada e o Estado brasileiro, 1956-1984 – notas de pesquisa

“Já está incorporado ao pensamento empresarial contemporâneo o chamado tripé da sustentabilidade, que, da tradução do inglês, é formado pelas palavras pessoas, planeta e lucros. [...] Na nossa organização (a Odebrecht), não paramos por aí. Acrescentamos mais duas dimensões: a cultural e a política. [...] [A] dimensão política consiste na busca permanente de oportunidades de contribuição com as instituições governamentais, visando ao bem comum. Isso se dá, principalmente, no apoio à formulação de políticas públicas, para as quais nossa experiência multinacional e diversificada pode ser útil.”1

Nesse artigo, como sua epígrafe suscita, tentamos desenvolver uma reflexão sobre o

papel das empresas presentes no setor da indústria da construção pesada e de suas formas de

organização para a adoção de políticas públicas para o setor de infra-estrutura. As políticas

analisadas estão circunscritas ao período da ditadura civil-militar, mas são analisadas também,

em período anterior, as formas de aproximação e relacionamento entre as empreiteiras e a

estruturação de seus aparelhos privados de hegemonia.

A perspectiva teórico-metodológica que norteia nossa análise decorre das elaborações

de Marx, Gramsci e Poulantzas, já especificadas em outro trabalho2. A proposta se resume na

compreensão do Estado e das políticas públicas não como algo a parte da sociedade, sobre a

mesma, ou como tomada de decisão de indivíduos não condicionados socialmente, mas sim

entendendo o Estado como parte e fruto da sociedade3. Nessa perspectiva, ao contrário do que

fazem outros autores, não se parte do Estado para entender a sociedade, mas é feito o caminho

inverso, pesquisando-se a dinâmica social e a correlação de forças vigente para a

compreensão do aparelho estatal e das políticas públicas. Apesar de os numerosos e valiosos

trabalhos que enfocam a indústria de construção no Brasil no dito período terem dado

importância à ação do Estado para a explicar a força das empresas do setor4, nenhum deles

utilizou esse referencial teórico-metodológico.

A importância central que teve o Estado para a formação do grande capital da

indústria de construção pesada já foi indicada na historiografia sobre o assunto5. Aqui,

entende-se por construção pesada o capital empregado nas obras realizadas por empreiteiras

no ramo de infra-estrutura. Como destacamos naquele trabalho, durante a Primeira República,

o capital privado nacional se restringia ao subsetor de edificações, especialmente na

3 construção de vilas operárias e moradias populares para o proletariado das cidades industriais

brasileiras, especialmente Rio e São Paulo. No período, as obras de infra-estrutura estavam a

cargo de firmas estrangeiras, como a sueca Christiani-Nielsen, responsável, dentre outras

obras, pelo píer Mauá no Rio de Janeiro. Dois dos principais tipos de obras de infra-estrutura

realizadas naquele momento eram as ferrovias e as hidrelétricas, sob encomenda de empresas

como a Light e a Amforp, ambas realizadas quase que exclusivamente por empreiteiras de

origem estrangeira, na falta de empresas nacionais com capacidade técnica para construir tais

empreendimentos6.

Os dois marcos para o impulso do capital privado nacional na indústria de construção

pesada são a lei Joppert, de 1945, e a criação da Eletrobrás, em 1962. Ambos abririam as

portas para os principais ramos de investimentos das empreiteiras, quais sejam, as obras

rodoviárias e o mercado das barragens e hidrelétricas. A lei de 1945 reformulou o

Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), dotando-o dos recursos do Fundo

Rodoviário Nacional (FRN), que eram adquiridos através da cobrança do Imposto Único

sobre Combustíveis Líquidos e Lubrificantes Minerais (IUSCL). Essa reforma impulsionou a

construção e pavimentação de rodovias federais no país, além de ter incentivado os programas

estaduais de estradas, executados pelos DERs (Departamentos de Estradas de Rodagem

estaduais). Já a criação da Eletrobrás marcou o início de um período de grandes projetos

hidrelétricos elaborados em todo o país, reforçando também o modelo do Estado como

demandante das obras, e não como executor das mesmas, o que havia vigorado, por exemplo,

na construção da usina de Paulo Afonso, nos anos 19507.

Nessa trajetória, o Estado se mostrou importante para a consolidação do setor como

um todo, mas também no particular. Isso porque os contatos de certos empresários com

políticos ou a sua própria representação direta no aparelho de Estado fez com que suas

empresas fossem favorecidas em determinadas encomendas estatais. Exemplar nesse sentido é

o caso da empreiteira mineira Andrade Gutierrez, que tinha como um dos sócios Flávio

Gutierrez, pessoa ligada a Juscelino Kubitschek. Por conta dos laços da empresa com o líder

político mineiro, suas primeiras obras, logo após a fundação, seriam realizadas para o

município de Belo Horizonte, em 1948, quando o prefeito da cidade era JK. As primeiras

empreitadas fora da capital mineira foram realizadas no interior do estado, com obras

rodoviárias, quando o governador era novamente Juscelino. E as primeiras encomendas à

empresa feitas além das fronteiras mineiras só viriam após 1956, na época da gestão de

4 Kubitschek na presidência da República, com a rodovia federal Régis Bittencourt e a antiga

BR-3, atual BR-40, recentemente renomeada, muito propriamente, rodovia Juscelino

Kubitschek8.

Mas o Estado que favorece também pode fazer o contrário, dependendo da conjuntura

política e da correlação de forças vigente. Um exemplo notável é o da construtora Rabello,

uma das maiores empreiteiras do país nos anos 1950 e 1960, que tinha Marco Paulo Rabello

como principal acionista e presidente. A construtora havia sido uma das principais a erguer os

edifícios e o plano piloto da nova capital brasileira e seu presidente era amigo pessoal de

Juscelino. Após 1964, com o novo contexto político estabelecido, a empreiteira passou a ser

derrotada em quase todas as licitações, perdendo também as indicações para obras realizadas

sem concorrências. O que lhe deu uma breve sobre-vida foi o convite realizado indiretamente

pelo arquiteto Oscar Niemeyer para algumas construções na recém-independente Argélia,

como a Universidade de Constantine e uma barragem. Porém, uma reviravolta política no país

africano, ocasionada pela morte de uma importante liderança política com contatos com a

Rabello, enfraqueceu a força da construtora, que acabou por falir alguns anos mais tarde9.

Casos similares são o das empreiteiras cariocas Sociedade Brasileira de Urbanismo

(SBU) e Quatroni. A primeira era uma tradicional empresa de construção da cidade, tendo

sido responsável pelo erguimento do Cristo Redentor, da estrada da Tijuca, do Jardim de

Allah, do viaduto das Canoas e do forte de Copacabana. Criada por Paulo de Frontin em 1932,

a SBU era ligada ao PSD e perdeu todos os seus 28 contratos na cidade quando da chegada de

Carlos Lacerda ao poder no estado da Guanabara, sendo que o mesmo ocorreu com a

Quatroni. Ambas logo deixaram de existir10.

Outra característica visível na trajetória dessas empresas é a passagem por seus

acionistas e dirigentes por funções públicas. Isso pode ser visto na entrevista do empresário

Horácio Ortiz, dono da empreiteira paulista Conspaor: “Trabalhamos há vinte anos em obras

públicas. Os primeiros dez anos como engenheiro do Estado e os últimos do outro lado do

guichê, isto é, como empreiteiro.”11 Da mesma forma, José Mendes Júnior trabalhou como

engenheiro público da Estrada de Ferro Central do Brasil antes de montar uma empresa de

terraplanagem em 1928 e a empreiteira Mendes Júnior em 194212. Geralmente, o percurso é

exatamente esse: sai-se da área pública, onde foi adquirida a experiência e o conhecimento

dos trâmites políticos e burocráticos para depois se atuar na área privada, tendo como cliente

o antigo empregador.

5 No percurso desenvolvido pelo setor de infra-estrutura, o governo de Juscelino

Kubitschek guarda uma importância fundamental. Além de ter feito encomendas numerosas a

diversas empreiteiras, muitas vezes sem concorrência pública devido à pressa com que se

buscava a finalização do Plano de Metas, o período guarda também significado especial para a

organização dessas empresas em aparelhos privados de hegemonia. São aproximadamente

desse período três das principais associações setoriais, como a ABDIB (1955), a CBIC (1957)

e o Sinicon (1959). Para compreender esse processo, faz-se necessário observar certas

condicionantes do período.

No ano de 1952, o FRN foi reformulado com a majoração das alíquotas do IUSCL, o

que viria a potencializar a capacidade de construção rodoviária no período da gestão de

Kubitschek. Além disso, o DNER, com o fito de acelerar as obras, dispensou as concorrências

no período e encomendou as obras com o mecanismo da seleção prévia, dividindo os lotes

entre as empreiteiras já conhecidas de JK, do presidente do DNER, Lafayete Salviano do

Prado e dos ministros do MVOP, Lúcio Meira e Ernani do Amaral Peixoto, ambos do PSD do

Rio. Da mesma forma, as obras para a construção de Brasília envolveram várias empresas,

que dividiram as tarefas e etapas da construção da nova capital. Essa política resultou em uma

aproximação das empreiteiras, que acabaram atuando em consórcios e em regime de

colaboração, sendo esse um impulso para a organização dessas firmas em associações

patronais13.

Um claro exemplo disso foi a formação da Associação dos Construtores e

Empreiteiros de Brasília (ACEB), órgão que reunia empreiteiras de todo o país que estavam

envolvidas com as obras encomendadas pela empresa Novacap. A entidade foi formada como

uma espécie de reação à organização dos operários da construção que trabalharam no

erguimento da cidade, tendo como objetivo confrontar as reivindicações coletivas dos

trabalhadores e lutar por bandeiras compartilhadas por todos os seus membros, como, por

exemplo, a condenação de aumentos elevados no salário mínimo, dado o caráter intensivo na

utilização de força de trabalho por esse setor14.

Pode-se dizer, portanto, que políticas públicas postas em prática no período JK

possibilitaram o encontro de empreiteiras de diversas partes do país em grandes rodovias

nacionais e na construção da nova capital, o que impulsionou as formas de organização dessa

fração do capital. Antes, as empreiteiras tinham um cunho marcadamente regional, sendo os

mercados de obras de cada estado praticamente restrito às companhias locais e inexistindo

6 grandes obras de envergadura nacional em que atuassem companhias de capital brasileiro.

Também as formas de organização dos trabalhadores foram importantes para acelerar o

processo de construção de entidades patronais da construção, que se juntavam em torno de

objetivos comuns contra esses operários. Há de ser lembrado que esse é um período de

inflação crescente e de mobilização e sindicalização acelerada da classe trabalhadora15. É esse

quadro que irá condicionar a formação de importantes aparelhos privados de hegemonia e

essas circunstâncias permitirão ao setor da construção elaborar, pela primeira vez, um projeto

nacional.

É possível afirmar que esse é um período em que a sociedade brasileira está em veloz

processo de ‘ocidentalização’, ou melhor, deixando de ser uma sociedade ‘oriental’, com uma

fraca sociedade civil, e passando a contar com uma complexa organização de interesses em

aparelhos privados de hegemonia. Não se pode dizer, portanto, que a sociedade civil é fraca

no Brasil, desorganizada e passiva diante de um Estado hipertrofiado ou ainda que ela começa

a ser visível apenas nos anos 198016. Também não se pode falar de um empresariado que não

tem interesse por atividades públicas na história brasileira17, sendo exemplos contrários a essa

afirmação citados adiante.

A primeira entidade setorial do ramo de construção surge na Primeira República, no

Rio de Janeiro. A Associação da Indústria da Construção Civil (AICC), formada em 1919 na

antiga capital federal, reunia inicialmente 92 construtores, geralmente empenhados na

construção habitacional. Eram liderados por Antonio Januzzi, construtor especializado na

construção de casas populares e vilas operárias. Em 1935, em função da legislação então

criada, a associação foi transformada em sindicato e, registrada no Ministério do Trabalho,

Indústria e Comércio em 1941, passou a ser denominada Sindicato da Indústria de

Construção, ou Sinduscon-Rio. A entidade era poderosa e teve grande poder no governo de

Henrique Dodsworth na prefeitura da capital durante o Estado Novo18.

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), fundada em 1957, reúne os

sindicatos patronais e associações regionais e estaduais ligadas ao mercado imobiliário e à

indústria de construção. Em geral, seus sócios são constituídos pelos sindicatos de indústria de

construção estaduais e regionais (SINDUSCON), pelas associações dos dirigentes de

empresas de mercado imobiliário espalhadas pelo país (ADEMI) e pelos sindicatos de

comércio e serviço imobiliário (SECOVI). Além disso, tem hoje como sócios também a

Associação Brasileira das Empresas de Engenharia e Manutenção Predial (ABEMPI), a

7 Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (ANEOR) e o Sindicato da

Indústria de Construção Pesada do Estado do São Paulo (SINICESP)19.

Na área de construção pesada, foi fundado, em 1959, o Sindicato Nacional da

Indústria de Construção de Estradas, Pontes, Portos, Aeroportos, Barragens e Pavimentação

(SINICON), que depois, em 1998, mudou seu nome para Sindicato Nacional da Indústria da

Construção Pesada, mantendo a mesma sigla. Com sede no Rio, ganha projeção em relação ao

tema da infra-estutura por reunir as principais empresas nacionais da indústria de construção

pesada. Com 450 empresas filiadas e 104 associadas mantenedoras, a agência afirma ter por

objetivo a “consolidação e expansão da infra-estrutura física do País”. É interessante notar

que apesar de agregar sindicatos estaduais da construção pesada do Paraná, Rio Grande do Sul

e outros estados, o SINICESP, sindicato da construção pesada de São Paulo, não é filiado ao

SINICON20.

A Associação Brasileira de Engenharia Industrial, a ABEMI, foi fundada em 23 de

maio de 1964, sob o nome de Associação Brasileira de Engenharia e Montagens Industriais

(ABEMI). Dentro da divisão tradicional do setor de indústria de construção nos subsetores de

edificações, construção pesada e montagem industrial21, a ABEMI tem como foco a terceira

dessas áreas, sendo especializada em obras de estruturas industriais, como dutos, plataformas,

plantas industriais, refinarias e outros. Historicamente, no entanto, a entidade foi veículo das

empresas que prestam serviços para a Petrobrás, reunindo empreiteiras ligadas à construção

de oleodutos e gasodutos, perfuração de poços de petróleo, produção e pesquisa no setor,

construção naval e outras encomendas requeridas pela estatal. Trata-se de um caso singular, o

de uma associação de empresas que trabalha basicamente junto a uma empresa controlada

pelo Estado. Reunindo 100 empresas do setor de montagem industrial, a ABEMI tem como

associadas também as maiores empreiteiras de construção pesadas nacionais (Odebrecht,

Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Mendes Júnior, Queiroz Galvão, OAS e Santa

Bárbara)22, também atuantes no setor de obras industriais que, no caso, adquirem

características de empreendimentos de construção pesada.

Apesar da existência de todas essas associações reunindo empresas do setor de

construção pesada e de montagem industrial, nenhuma delas reúne apenas as grandes

empreiteiras. Entidades como o Sinicon, APEOP (Associação Paulista de Empreiteiros de

Obras Públicas) e Sinicesp reúnem grandes quantidades de empreiteiras médias e pequenas

que, mesmo com a presença das empresas monopolistas nessas entidades, prevalecem em suas

8 demandas e projetos públicos. É comum a reclamação desses aparelhos privados em relações

às concorrências dirigidas e às políticas públicas direcionadas para as grandes empreiteiras, as

quais eles denunciam como o intransponível “clube das barrageiras”23, ou melhor, o grupo das

empresas com um tamanho e desenvolvimento técnico que as capacita a fazer o mais

complexo dos empreendimentos do subsetor, as hidrelétricas e barragens.

Ao longo da pesquisa, foi possível observar que essas grandes empreiteiras estão

presentes em diversas entidades empresariais, mas há duas em que suas opiniões e bandeiras

prevalecem com mais força. A Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Indústrias

de Base (ABDIB) foi criada em 1955 e hoje reúne um grupo seleto de 160 grupos

empresariais dos setores de energia elétrica, petróleo, gás e derivados, transportes, construção

e engenharia, saneamento ambiental, telecomunicações, indústria de base (mineração,

cimento, siderurgia, papel e celulose), além de bancos de investimentos e outras empresas de

serviços que se relacionem com o setor de infra-estrutura, perfazendo, em 2006, o equivalente

a 15% do PIB e sendo responsável, segundo a apresentação institucional da entidade, por 318

mil postos de trabalho diretos. É interessante notar a presença de grandes empresas

multinacionais na associação e também nos quadros mais elevados de sua diretoria atual, com

postos-chaves controlados por grupos como a Alusa, Siemens, GE, Telefônica, Repsol YPF e

outros. Representantes da Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e

OAS também se fazem representados na diretoria, mas pode-se perceber que, dentre as

associadas do ramo de construção, não figura nenhuma empresa de pequeno ou médio porte,

apenas as caracterizadamente monopolistas24. O órgão tem a importância central de ser um

produtor de interesses não de um reduzido setor apenas, mas de projetos que expressam as

combinações de diferentes frações do capital e ramos econômicos, como a indústria da

construção pesada associada aos interesses de indústria siderúrgica e outras do setor de bens

de capital, empresas de energia elétrica e bancos. Isso permitiu, por exemplo, que no período

de distensão da ditadura, a entidade fizesse uma proposta que incluía amplos investimentos

públicos em obras de infra-estrutura, o que correspondia aos interesses das diversas empresas

representadas no órgão25.

Para além da ABDIB, uma entidade conseguiu, tardiamente, reunir o ‘clube das

barrageiras’. A Associação das Construtoras de Centrais Elétricas (ACCE) surgiu em 1992 e

reunia as poucas firmas que tinham em sua trajetória a experiência de terem realizado a

9 construção de usinas hidrelétricas e outras usinas de geração de energia. A criação da

associação finalmente instituiu em um único órgão o ‘clube das barrageiras’26.

Além das entidades de classes criadas pelas empresas do setor de indústria de

construção, segundo as reflexões de Antonio Gramsci, um dos objetivos do aparelho privado

de hegemonia é a generalização para toda a sociedade de um interesse particular e de suas

concepções de mundo, sendo que diversos instrumentos podem ser usados para tal. Assim,

através de criação de um projeto nacional, determinada entidade pode funcionar como um

partido ou fração de partido. Para Gramsci, também jornais ou revistas podem ser “partidos”,

“frações de partidos” ou “funções de um determinado partido”27, o que parece contar com um

exemplo válido no objeto estudado.

Dentro do pacto político posto em prática a partir de 1964, as empreiteiras e suas

formas de organização tinham um vigoroso posicionamento e amplo poder no bloco de poder

instituído. Os jornais ‘Última Hora’ e ‘Correio da Manhã’ foram perseguidos desde os

primeiros anos do novo governo, passando a sofrer recorrentes censuras e estrangulamento

econômico por parte dos órgãos de repressão. Por fim, seus donos, Samuel Wainer e Niomar

Moniz Sodré Bittencourt, foram ‘pressionados’ a arrendar seus jornais a um grupo de

empreiteiros. Antes disso, o ‘Última Hora’ chegou a ser depredado, o que fez com que seu

dono se visse obrigado a entregar o veículo de imprensa, ocorrendo situação similar com o

‘Correio da Manhã’. Com esses jornais sob o controle dos empreiteiros, os periódicos foram

transformados em porta-voz dos interesses do empresariado do setor, com ampla divulgação

para a população. Assim, em 1972, quando o ministro dos Transportes era Mário Andreazza,

que tinha ótima ligação com os empresários da construção, o ‘Correio da Manhã’ pediu a

prorrogação do mandato presidencial de Médici, o que convinha diretamente aos

empreiteiros28.

Além desses jornais, são conhecidas as revistas e periódicos voltados

especificadamente para o setor de atuação das empreiteiras. Revistas como ‘Construção

Pesada’, ‘O Empreiteiro’ e ‘Dirigente Construtor’ trazem notícias do ramo, anúncios de

concorrências públicas, novas tecnologias e técnicas para minimização de custos e outros

temas de interesse para os construtores. Novamente, no entanto, essas são publicações

voltadas preferencialmente para os pequenos e médio construtores, não sendo um veículo de

difusão dos interesses e projetos da grande engenharia brasileira, mas sobretudo de

empreiteiros rodoviários.

10 Através dessas formas de organização, criação de propostas e projetos políticos e

difusão de suas opiniões e objetivos comuns, o grupo dos empreiteiros conseguiu diversas

políticas favoráveis ao longo do período ditatorial. Há de se destacar que os vinte anos de

ditadura civil-militar foram em geral benéficos para todas as frações do grande capital,

nacional, associado e estrangeiro, com políticas benéficas na área fiscal, tributária, salarial,

sindical e judiciária29.

No tocante à indústria de construção, é necessário citar a reformulação ministerial

posta em prática nos anos 1960, que teve grandes conseqüências para o setor. O Ministério de

Minas e Energia havia sido criado no início da década e, em 1967, entraria em funcionamento

o ministério dos Transportes, que teve como primeiro titular da pasta, até 1974, Mário

Andreazza, espécie de intelectual orgânico da construção rodoviária, agraciado com o título

de ‘homem de construção do ano de 1973’ pela revista O Empreiteiro30.

É interessante notar, porém, que a divisão ministerial realizada no período iria cindir

as áreas de atuação dos empreiteiros, separando institucionalmente as instâncias

governamentais que tratam de obras de transportes, sobretudo rodoviárias – alvo preferencial

das pequenas e médias empreiteiras –, das obras ligadas ao setor de energia elétrica, sobretudo

de usinas hidrelétricas – realizadas por empresas com maior capacidade técnica e de montante

de capital. Ou melhor, a cisão do Ministério de Viação e Obras Públicas iria corresponder à

divisão no seio dos construtores de obras públicas entre os pequenos e médios empreiteiros e

o ‘clube das barrageiras’ – o grande capital, que estava sendo ainda gestado no período –,

determinando a área de influência de cada um dos grupos no aparelho de estado.

Na análise das principais decisões governamentais que tiveram ampla influência sobre

o setor de construção e infra-estrutura durante o regime ditatorial, é possível verificar a

importância da sociedade civil e a articulação entre empresas para a efetivação dessas

medidas. O caso mais emblemático dessa movimentação nas entidades do setor foi a

mobilização existente durante toda a década de 1960 em torno da ‘defesa da engenharia

nacional’, campanha lançada pelo Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, CBIC e pela

recém-fundada ABEMI. A Revista do Clube de Engenharia, que já havia naquele momento

deixado de ser uma publicação voltada apenas para engenheiros e construtores e passado a ser

veículo de difusão de propostas vendidos ao público geral em jornaleiros, expôs em diversas

matérias as demandas de que houvesse igualdade de tratamento para empresas de engenharia

nacionais e estrangeiras. Além das reportagens, eles realizaram o lançamento dos livros “A

11 Luta pela Engenharia Brasileira” e “Em Defesa da Engenharia Brasileira”, em 1967, na sede

do Clube de Engenharia, contando com a presença de ministros de Estado, como Mário

Andreazza e Albuquerque Lima31.

Em virtude da mobilização das empresas e entidades do setor, foi instituído por meio

do decreto 61.795, de 29 de novembro de 1967, o “grupo de trabalho para tomar medidas de

política tecnológica que promovessem o desenvolvimento da engenharia brasileira”. Apesar

da participação dos expoentes do setor e das propostas levantadas, as decisões que deram a

resposta para os anseios dos empreiteiros só saem em 196932.

Na reunião de 13 de dezembro de 1968 do Conselho de Segurança Nacional, o

ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto fez a proposta de usar o ato institucional número 5

para que o presidente legislasse em matéria econômica e tributária:

Estou plenamente de acordo com a proposição que está sendo analisada no Conselho. E se Vossa Excelência me permitisse, direi mesmo que creio que ela não é suficiente. Eu acredito que deveríamos atentar e deveríamos dar a Vossa Excelência a possibilidade de realizar certas mudanças constitucionais que são absolutamente necessárias para que esse país possa realizar o seu desenvolvimento com maior rapidez.”33

A proposta foi elogiada pelo presidente Costa e Silva e seu resultado pôde ser visto no

Decreto 64.345, de 10 de abril de 1969, que instituiu a reserva de mercado em todas obras

públicas realizadas no país. Segundo o decreto, as grandes obras públicas contratadas pela

União, estados e municípios só poderiam ser realizadas por

pessoas jurídicas, regularmente constituídas no país, [que] tenham aqui sua sede e foro, esteja sob controle acionário de brasileiros natos ou naturalizados, residentes no País, e tenham pelo menos metade de seu corpo técnico integrado por brasileiros natos ou naturalizados.34

O decreto criava a tão sonhada exclusividade de todas as obras públicas no país para os

empreiteiros brasileiros, antigo anseio do grupo e que havia sido exposto nas campanhas do

Clube de Engenharia, CBIC e ABEMI. Trata-se da institucionalização da setorização da

economia em áreas com origem de capital demarcados. Assim como a privatização da FNM

pelo primeiro governo da ditadura sinalizava que a produção automobilística deveria ser

reservada para o capital privado multinacional, o decreto impunha a construção pesada como

lócus de atuação do capital privado nacional, consolidando processo que vinha se gestando

12 desde os anos 1940, o do domínio desse capital sobre as grandes obras. É preciso reforçar que

o decreto só foi realizado em função do fechamento do Congresso nacional e dos poderes

extraordinários conferidos ao presidente da República com o AI-5, havendo outras reformas

econômicas realizadas a partir do Ministério da Fazenda no período, como a redução do

Fundo de Participação dos Municípios, o corte de verbas de custeio e aumento dos recursos

disponíveis para investimento público, o que acabou reforçando o dinheiro direcionado para a

encomenda de obras. Segundo o próprio Delfim Netto, que era muito ligado ao empreiteiro

Sebastião Camargo: “Com o AI-5, eu aproveitei para fazer tudo o que precisava fazer.”35

A reserva de mercado instituída a partir de então fez com que todas as grandes obras

da ditadura fossem realizadas quase que exclusivamente por empreiteiras de origem nacional.

Apesar da permissão de associação de construtoras brasileiras a empresas estrangeiras para a

realização de obras públicas, essas deveriam ter no consórcio construtor a participação

majoritária de firmas brasileiras. A exclusividade do mercado de infra-estrutura às empresas

de engenharia brasileiras é fator central para a compreensão da consolidação das empreiteiras

de grande porte e para a formação do capital monopolista no ramo da construção pesada, bem

como para entender a capacidade técnica e financeira alcançada por essas companhias para

que elas pudessem competir posteriormente no mercado internacional.

Assim, maturava o processo de compartimentalização da economia brasileira em áreas

de atuação quase exclusivas das diferentes formas de capital: privada nacional, privada

multinacional e estatal. Como ficou evidente na exposição sobre o setor da construção pesada

em particular, tal divisão de mercados não foi obra única ou prioritária de um planejamento

econômico de cunho técnico feito de cima. Trata-se de um modelo construído historicamente

e nunca acabado, com idas e vindas, sendo fruto direto da organização, pressão e corrrelação

de forças desses grupos econômicos no interior do Estado ampliado, ou melhor, tanto na

sociedade civil, como na sociedade política.

É preciso ressaltar também que o decreto foi emitido mediante ato do Executivo, com

o Parlamento fechado e em função dos poderes extraordinários concedidos ao presidente da

República com o ato institucional. Uma aprovação de tal proposta no Congresso teria que

passar por um sólido e adverso interesse organizado das empresas estrangeiras. O fechamento

do mercado de obras públicas acabou por reduzir a competição entre empresas, elevando o

valor geral das construções, o que só potencializou ainda mais o lucro das empreiteiras

nacionais, aumentando o repasse de verbas públicas para o capital privado alocado no setor.

13 A primeira pré-qualificação de uma empresa brasileira para uma obra no exterior data

de 196836, ano usado como marco inicial do ‘milagre brasileiro’, período de amplas

encomendas realizadas pelo Estado às construtoras nacionais. Apesar dessas numerosas

demandas por parte dos órgãos estatais, as empreiteiras só reforçaram a tendência de

investimentos no exterior ao longo dos anos logo seguintes, o que faz da explicação de busca

de mercados no exterior como fuga de uma conjuntura interna ruim uma explicação inválida.

Mesmo nessas incursões em outros países, o Estado e a atuação de diversas instâncias

governamentais foi fundamental para o êxito da transnacionalização37 das empreiteiras

brasileiras. E essa política pública favorável ao grande capital da construção novamente não

veio de forma autônoma, sendo precedida lógica e formalmente de forte organização e

mobilização por parte do empresariado presente no subsetor.

Logo que o movimento começou a se mostrar mais sólido, as empresas nele

envolvidas se organizaram em uma entidade específica, o Conselho Nacional de Exportação

de Serviços de Engenharia, o Consese38. Da mesma forma, um importante empreiteiro,

Eduardo Celestino Rodrigues, desenvolveu uma proposta de política para a saída das

empreiteiras do Brasil. Principal acionista da Cetenco, assessor do Minstro de Minas e

Energia César Cals e ex-presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo, Celestino

Rodrigues fez com que sua empresa elaborasse um ‘memorial’ para política de amparo às

empresas de engenharia nacionais que tinham obras no exterior e a enviasse ao então ministro

da Fazenda, Delfim Netto. As propostas de política por ele desenvolvidas foram as seguintes:

1) Necessidade de fornecimento, através de órgão do governo brasileiro, Banco do Brasil, BNDE e outros, do ‘Bid-Bond’ e ‘Performance-Bond’ e de outras garantias a serem prestadas na apresentação da proposta e na assinatura do contrato; 2) Concessão de facilidades para envio de equipamentos e materiais de construção para obras no exterior; 3) Solução de problemas de imposto de renda, sobre os resultados da empresa lá fora e sobre a remuneração dos empregados que trabalham no exterior; 4) Solução do problema da continuidade da vinculação dos mesmos empregados, à Previdência Social no Brasil; 5) Ajuda para capital de giro das empresas; 6) Melhoramento nas condições de competição, no sentido de forçar projetos também brasileiros, com o que haveria melhora das condições para as empresas nacionais; 7) Estabelecimento de empresas tipo ‘overseas’ para o trabalho exclusivo no exterior, às quais seriam atribuídos todos os tratamentos administrativos e fiscais incentivadores da exportação de serviços; 8) Apoio diplomático das embaixadas brasileiras nos respectivos países.39

14 Como se vê, trata-se de uma proposta completa de política de beneficiamento dos empresários

que empregam suas companhias para realizar obras no exterior, sendo importante também

destacar que a questão do financiamento corresponde à primeira proposta elaborada pela

empresa de Celestino Rodrigues.

A materialização de parte dessas propostas em uma política de Estado veio em 1975

com o Decreto-lei no 141-8/75 que estabelecia estímulo às exportações de serviços de

engenharia para empresas nacionais, que teriam o direito de reduzir de seu lucro tributável

resultados com a venda de serviços no exterior. Trata-se de um período – o governo Geisel,

após o primeiro choque do petróleo – em que as exportações passaram a ser incentivadas

também em função dos crescentes déficits comerciais auferidos em função da elevação do

preço do petróleo no mercado internacional, correspondendo às diretrizes da política

econômica estabelecidas a partir do choque de 197340.

Além disso, a principal reivindicação de Celestino Rodrigues e dos demais

empreiteiros que atuavam no exterior foi atendida pela Estado ditatorial. A Carteira de

Comércio Exterior do Banco do Brasil (Cacex), que contava com representantes da ABDIB e

de outras entidades41, passou a financiar a maior parte das exportações de serviços de

engenharia por parte de empresas nacionais42.

Esses tipos de incentivo e beneficiamento geral através de políticas de Estado não

excluem outras formas de favorecimento, individualizadas e direcionadas para determinada

empresa. As formas de obtenção de uma obra por uma dada firma podem incluir métodos

ilícitos condenados por lei, sendo a fama das empresas do subsetor de construção pesada nada

favorável. Essas formas de tentativa de obtenção de uma construção através de mecanismos

ilegais para determinada empreiteira podem ser entendidas através da competição capitalista

entre as mesmas e, apesar de condenadas pelas leis vigentes, são comuns no ambiente de

conflito entre empresas privadas por determinado mercado no ambiente capitalista.

Transpondo o período analisado, mas remetendo a práticas realizadas pelas empresas

em questão no recorte escolhido, o empresário Emílio Odebrecht deu a primeira entrevista de

sua vida, tentando limpar o nome da empresa, após escândalo envolvendo a empresa e o

governo Collor:

Jornal do Brasil – As acusações contra a Odebrecht falam de suborno. O ex-ministro Antonio Rogério Magri teria sido subornado pela Odebrecht, o governo do

15 Acre também teria sido subornado para que sua empresa conseguisse a obra. O senhor já subornou alguém? Emílio Odebrecht – Essa é a pergunta que... primeiro vamos analisar o que é subornar?43

Seguindo a entrevista realizada pelo jornalista do Jornal do Brasil de 24 de maio de 1992, o

empresário acabaria respondendo à primeira questão implicitamente:

Então, o que é hoje a corrupção nesse país? Eu acho que a sociedade toda é corrompida e ela corrompe. Hoje para o sujeito resolver alguma coisa, para sair de uma fila do INPS, encontra os seus artifícios de amizade, de um presente ou de um favor. Isso é considerado um processo de suborno. O suborno não é um problema de valor, é a relação estabelecida.44

Em momento seguinte da entrevista, Emílio Odebrecht acabou admitindo que agia para que

um determinado “processo [não] durma na mesa”, afirmando que “[s]e for preciso a gente

banca o funcionário para levar de um andar para o outro e assim por diante”. E além de

admitir a execução de aliciamento, passou, em seguida, a tentar legitimar o ato:

Jornal do Brasil – O ex-ministro Magri diz na fita transcrita pela polícia federal que recebeu US$ 30 mil para fazer as coisas andarem. É assim que funciona no Brasil? Emílio Odebrecht – Isso é coisa de quem está querendo deformar a ação do ‘prestador de serviços’45

A utilização do recurso da propina e do suborno são instrumentos comuns para fim de

competição capitalista no subsetor de obras públicas, sendo também fonte de dinheiro para

campanhas políticas e para os candidatos, políticos e funcionários que exercem cargos-chave

no aparelho de Estado.

Quanto aos funcionários do Estado que recebem recursos por esse meio, pode-se dizer

que, em geral, a mais-valia gerada no setor de construção pesada e obras públicas não é retida

apenas pelos proprietários diretos dos meios de produção empregados na obra e pelos

proprietários de capital envolvidos na fase de circulação do capital (financiamento etc), mas

uma cota-parte é repassada, através de métodos judicialmente ilegais, para burocratas que

exercem funções no aparelho de Estado, ficando assim mais pulverizada a mais-valia obtida.

Isso parece ser um dos fatores que leva ao encarecimento da obra e à grande quantidade de

mais-valia obtida nesse ramo da produção industrial.

16 Outros casos de utilização de métodos ilegais para obtenção de obras podem ser

citados como exemplos. O chefe do SNI no governo Geisel, general Figueiredo, em ligação

telefônica para o general Golbery em 1973, denuncia um caso de corrupção na ditadura:

Eu tive uma documentação que eu levei para o presidente há uns meses atrás, do Delfim, de que antes da concorrência, aquela da Água Vermelha, ele afirmava a um grupo francês que queria entrar no financiamento, de que a firma construtora seria a Camargo Corrêa. Antes da concorrência. Então está aí, na cara. É Camargo Corrêa, é Bradesco, é tudo a mesma panela.46

A denúncia se refere à construção da usina hidrelétrica de Água Vermelha, no rio Grande,

obra realizada pela construtora Camargo Corrêa. Apesar do tom do chefe da espionagem

brasileira naquele período, Delfim Netto seria escolhido para a pasta da Fazenda no governo

Figueiredo.

As denúncias envolvendo Camargo Corrêa e Delfim Netto não pararam aí. Quando o

ex-ministro da Fazenda se tornou embaixador do Brasil na França, foi acusado de intermediar

um empréstimo de bancos franceses para a compra de equipamentos elétricos para a

hidrelétrica de Tucuruí, também realizada pela Camargo Corrêa. Como Delfim exigia uma

taxa de intermediação por esse serviço, houve desavença na negociação e foi feita uma

denúncia pública da propina pelo coronel Raimundo Saraiva, que contou com confirmação e

novas informações da funcionária da embaixada em Paris, Mariza Tupinambá. A funcionária

foi demitida da representação brasileira na capital francesa e foi viver em Londres, sendo

custeada através de uma ‘mesada’ enviada pela empreiteira Norberto Odebrecht no valor de

700 libras mensais.

Esse caso serve para a ilustração de como o jogo de presentes, propinas, denúncias

públicas e utilização de veículos de imprensa ou parlamentares – no caso do relatório Saraiva,

forma como ficou conhecida essa última denúncia, o objeto foi discussão da CPI da Dívida

Externa, realizada em meados dos anos 1980 no Congresso – funciona como mecanismo de

concorrência e competição entre as empresas, sendo esse um artifício comum usado

principalmente no período de redemocratização e também após o fim da ditadura.

Também comum no período ditatorial foi a inclusão de militares como funcionários e

dirigentes de grandes empresas nacionais e estrangeiras. O caso clássico da passagem do

general Golbery do Couto e Silva pela Dow Chemical não foi único e essa tendência foi

visível entre as empreiteiras. Pode ser citado, por exemplo, o caso do general Arthur Moura,

17 que trabalhou na Mendes Júnior em 1972, no mesmo momento em que era adido militar

norte-americano47. Esse mecanismo, a utilização de militares de alta patente nos quadros de

grandes companhias, estava inserido na estratégia empresarial de conseguir um bom trânsito

junto a funcionários e ministros do aparelho de Estado, tendo elas, assim, trunfos para a

competição com outras empresas do setor, no caso, para o sucesso na obtenção de grandes

obras. Da mesma forma, acabava transformando esses militares em empresários e dirigentes

empresariais, ao lhes conceder poder de decisão dentro das políticas da empresa, o que

acabava por ser uma síntese do pacto político estabelecido na ditadura, o de uma aliança entre

militares de alta patente com grandes empresários, em um regime empresarial-militar.

Em vias de conclusão: ‘Por um Estado forte’

O objetivo do artigo foi indicar a formação de um interesse organizado a partir do

subsetor de construção pesada, com empresas que se reúnem em aparelhos privados de

hegemonia e elaboram diretrizes, projetos e propostas políticas menos ou mais acabadas, e

que acabaram por desaguar nas políticas públicas postas em prática no período de 1964 a

1984. Se antes do golpe civil-militar, existiam relativamente poucas agências empresariais

que organizavam os interesses e concepções de mundo do setor específico da construção

pesada, sendo algumas então nascentes, a partir de 1964 elas se mostraram organizadas,

preparadas e com bandeiras claras de suas reivindicações e demandas. Assim, elas se

inscrevem finalmente para elaborar projetos hegemônicos nacionais, que acabam por se

materializar em políticas públicas que protegem o setor da concorrência estrangeira,

determinando a formação do capital monopolista no setor e, ao mesmo tempo, permitindo e

dando respaldo à transnacionalização dessas empresas.

Foi com a ampla demanda de obras realizada durante o governo de JK que as

empresas se organizaram em aparelhos privados para elaborar os seus projetos de hegemonia.

E os projetos hegemônicos do grupo da indústria de construção têm uma peculiaridade, a de

conceber um ideal de Estado forte, interventor, com política fiscal elástica e grande soma de

investimentos públicos, tendo as organizações do setor diversos confrontos e disputas com os

empresários que exigem austeridade e controle dos gastos estatais.

Assim, em 1968, o empreiteiro paulista Horácio Ortiz, da empresa Conspaor,

reclamou em entrevista à revista O Empreiteiro da falta de estrutura e autonomia financeira da

18 prefeitura da capital paulista, propondo a criação de um banco municipal de São Paulo para

deixar a administração da cidade mais arrojada e para realizar o pagamento às prestadoras de

serviço e às empreiteiras em dia48.

De forma similar, durante o governo Geisel, boa parte dos empresários se mostrava

indisposta com a política econômica do governo e reclamava do excesso de estatização e

centralização das decisões, o que ficou materializado na frase de Antonio Gallotti, dono e

presidente da Light: “O governo passado torturava pessoas físicas, o atual tortura pessoas

jurídicas.” No meio dessa série de queixas em torno das políticas da gestão Geisel, o

empresário Sebastião Camargo, da Camargo Corrêa, reclamou do aperto financeiro e do

abandono do II PND e do programa de obras públicas planejadas no plano, em sentido oposto

aos queixumes de boa parte do empresariado49.

Outro caso interessante e ilustrativo do caráter particular dos projetos e concepções de

mundo dos empreiteiros pode ser dado pelo título do artigo de Eduardo Borges de Andrade,

da Andrade Gutierrez, sobre a abertura de mercado realizada pelo governo Collor no ano de

1991, que acabou invalidando o decreto de 1969: “Abertura de mercado é inoportuna no

momento”. No artigo, o representante da empresa do setor criticou a política liberalizante do

governo, afirmando que naquele contexto de política fiscal restritiva, não era o caso de abrir o

mercado de obras públicas a empresas estrangeiras50.

Os empreiteiros, em função de sua área específica de atuação e da peculiaridade de seu

principal demandante ser o aparelho de Estado, têm propostas e concepções de mundo que

apontam para a defesa de um Estado forte, com política fiscal dotada de amplos recursos,

principalmente voltados para os investimentos, em particular os de infra-estrutura. Criam

ideologias específicas que ressaltam a necessidade premente de uma infra-estrutura sólida

como pré-condição para o desenvolvimento econômico.

A partir da compreensão dessa especificidade, é possível entender as idéias que

norteiam o artigo publicado pelo presidente da ABEMI, Carlos Maurício de Paula Barros, no

jornal O Globo publicado em 28 de agosto de 2009, acerca da CPI no Congresso com o título

“A Petrobrás não pode parar”:

Não podemos deixar que interesses políticos venham frustrar esta possibilidade real de melhoria. Esperamos que a CPI da Petrobrás se concentre nos tópicos de real interesse para a sociedade brasileira, sem travar os projetos, permitindo ao país aproveitar essa oportunidade histórica. E desejamos que o TCU venha a

19 desempenhar seu trabalho de forma a divulgar para a sociedade, apenas os fatos com conclusões definitivas. Qualquer empresa controlada pelo poder público deve estar sujeita à fiscalização da sociedade, porém a divulgação pela imprensa de suposições ou opiniões pessoais, como tem ocorrido, vem denegrir a imagem da Petrobrás, principal empresa brasileira, mas também vem para a opinião pública condenar, sem julgamento, importantes empresas de engenharia nacional. O resultado é o adiamento dos projetos, que traz graves repercussões negativas no setor de engenharia industrial brasileira, especialmente nos segmentos que se preparam para trabalhar no desenvolvimento da exploração e produção das jazidas de pré-sal. O adiamento de projetos vai também atrasar a saída da crise que nos afeta e, mais uma vez, adiar a oportunidade e o sonho de melhorarmos o país.51

1 ODEBRECHT, Emílio. Artigo “Pilares do sustentável”. In: Folha de São Paulo. Edição de 13 de setembro de 2009. p. 2. 2 Artigo ‘Marx, Gramsci e a análise do Estado brasileiro’, que, brevemente será apresentado em simpósio. 3 Ver, dentre outros textos da mesma autora, MENDONÇA, Sônia Regina de. Estado e sociedade. In: MATTOS, Marcelo Badaró de (org.). História: pensar & fazer. Rio de Janeiro: Laboratório de Dimensões da História, 1998. p. 14-24. 4 Podemos citar CHAVES, Marilena. Indústria da Construção no Brasil: desenvolvimento, estrutura e dinâmica. Dissertação de Mestrado em Economia. Rio de Janeiro: IE/UFRJ, 1985; CAMARGOS, Regina Coeli Moreira. Estado e Empreiteiros no Brasil: uma análise setorial. Dissertação de mestrado em Ciência Política. Campinas: IFCH/Unicamp, 1993; ALMEIDA, Julio Sergio Gomes de (org.). Estudo Sobre a Construção Pesada no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ/ANPEC, 1983; ALMEIDA, Julio Sergio Gomes de et al. Indústria de Construção e a

Política Econômica Brasileira do Pós-Guerra. Rio de Janeiro: UFRJ/Finep, 1982; FERRAZ Filho, Galeno Tinoco. A Transnacionalização da Grande Engenharia Brasileira. Dissertação de mestrado em Economia. Campinas: IE/Unicamp, 1981. 5 CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira. A formação do grande capital brasileiro no setor da indústria de

construção: resultados preliminares de um estudo sobre causas e origens. In: Trabalho Necessário. Ano 7, no 8, 22p. 6 Ver CHAVES, Marilena. Indústria da Construção no Brasil. op. cit. p. 78-137. 7 CAMARGOS, Regina Coeli Moreira. Estado e Empreiteiros no Brasil. op. cit. p. 65-136. 8 CHAVES, Marilena. Indústria da Construção no Brasil. op. cit. p. 29-77; http://www.andradegutierrez.com.br/ acessado em 20 de agosto de 2007. 9 FERRAZ Filho, Galeno Tinoco. A Transnacionalização... op. cit. p. 111-228. 10 FERRAZ Filho, Galeno Tinoco. A Transnacionalização... op. cit. p. 31-109. 11 Revista O Empreiteiro. Edição de março de 1968, no 2, ano VII. 12 PAULA, Dilma Andrade de. Fim de Linha: a extinção de ramais da estrada de ferro Leopoldina, 1955-1974. Tese de doutorado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2000. p. 120-88. 13 CAMARGOS, Regina Coeli Moreira. Estado e Empreiteiros no Brasil. op. cit. p. 65-136. 14 SOUSA, Nair Heloísa Bicalho de. Operários e Política: estudo sobre os trabalhadores da construção civil em Brasília. Dissertação de mestrado. Brasília: UnB, 1978. p. 7-64. 15 Para isso, ver, dentre outros, IANNI, Octavio. O Colapso do Populismo no Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. p. 53-115. 16 Como afirma COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 202-7; COUTINHO, Carlos Nelson. Contra a Corrente: ensaios sobre democracia e socialismo. São Paulo: Cortez, 2000 apud ALMEIDA, Mônica Piccolo. O Programa Nacional de

Desestatização do Governo Collor: uma leitura gramsciana. Texto apresentado no laboratório Polis. Niterói: 2007. p. 1. 17 Assim entendido por CARDOSO, Fernando Henrique. Empresário Industrial e Desenvolvimento Econômico

no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Difel, 1972, especialmente cap. 5 apud CERQUEIRA, Eli Diniz; BOSCHI, Renato Raul. Empresariado Nacional e Estado no Brasil. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1978. p. 186. 18 LEAL, Maria da Glória de Faria. A Construção do Espaço Urbano Carioca no Estado Novo: a indústria de construção civil. Dissertação de mestrado em História. Niterói: PPGH/UFF, 1987. p. 40-96. 19 http://www.cbic.org.br/ acessado em 26 de julho de 2007. 20 http://www.sinicon.org.br/ acessado em 20 de agosto de 2007. 21 CHAVES, Marilena. Indústria da Construção no Brasil. op. cit. p. 1-28.

20

22 http://www.abemi.org.br/ acessada em 5 de abril de 2007. 23 FERRAZ Filho, Galeno Tinoco. A Transnacionalização... op. cit. p. 31-109. 24 http://www.abdib.org.br/ acessado em 08 de fevereiro de 2009. 25 BRANDÃO, Rafael Vaz da Motta. ABDIB e a Política Industrial do Governo Geisel, 1974-1979. Texto apresentado ao laboratório Polis. Niterói: 2007, p. 1-22; MANTEGA, Guido; MORAES, Maria. Acumulação

Monopolista e Crises no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. p. 98-101. 26 CAMARGOS, Regina Coeli Moreira. Estado e Empreiteiros no Brasil. op. cit. p. 159-66. 27 GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. Vol. 2. p. 197-213. 28 GASPARI, Elio. A Ditadura Escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 207-21; GASPARI, Elio. A Ditadura Derrotada. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 197-213. 29 Ver IANNI, Octavio. A Ditadura do Grande Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. 30 PAULA, Dilma Andrade de. Fim de Linha. op. cit. p. 120-88. 31 PAULA, Dilma Andrade de. Fim de Linha. op. cit. p. 189-247. 32 PAULA, Dilma Andrade de. Fim de Linha. op. cit. p. 189-247. 33 DELFIM Netto, Antonio. Fala na Ata da Quadragésima Terceira Reunião do Conselho de Segurança Nacional apud GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 336. 34 Decreto 64.345 de 10 de abril de 1969 apud CAMARGOS, Regina Coeli Moreira. Estado e Empreiteiros no

Brasil. op. cit. p. 47. 35 GASPARI, Elio. A Ditadura Escancarada. op. cit. p. 225-41. 36 O Empreiteiro. Edição de setembro de 1968, no 8, ano VII. 37 O termo transnacionalização é preferido ao de internacionalização para não fazer confusão com o fenômeno inverso, ou melhor, da entrada de multinacionais estrangeiras na economia brasileira. 38 CHAVES, Marilena. Indústria da Construção no Brasil. op. cit. p. 138-206. Apesar da citação da entidade pela autora, não foi possível verificar ainda a data de sua criação, sua atuação ou sua existência hoje. 39 Exportação de serviços de engenharia – a experiência da Cetenco Engenharia S.A. apud FERRAZ Filho, Galeno Tinoco. A Transnacionalização... op. cit. p. 257-8. 40 FERRAZ Filho, Galeno Tinoco. A Transnacionalização... op. cit. p. 315-22. 41 Como lembram CERQUEIRA, Eli Diniz; BOSCHI, Renato Raul. Empresariado Nacional e Estado no Brasil. op. cit. p. 170-85. 42 FERRAZ Filho, Galeno Tinoco. A Transnacionalização... op. cit. p. 111-228. 43 Entrevista com Emílio Odebrecht. In: Jornal do Brasil. Edição de 24 de maio de 1992 apud CAMARGOS, Regina Coeli Moreira. Estado e Empreiteiros no Brasil. op. cit. p. 60. 44 Entrevista com Emílio Odebrecht. In: Jornal do Brasil. Edição de 24 de maio de 1992 apud CAMARGOS, Regina Coeli Moreira. Estado e Empreiteiros no Brasil. op. cit. p. 60-1. 45 Entrevista com Emílio Odebrecht. In: Jornal do Brasil. Edição de 24 de maio de 1992 apud CAMARGOS, Regina Coeli Moreira. Estado e Empreiteiros no Brasil. op. cit. p. 62-3. 46 Citado por GASPARI, Elio. A Ditadura Derrotada. op. cit. p. 273. 47 GASPARI, Elio. A Ditadura Encurralada. op. cit. p. 369-98. 48 O Empreiteiro. Edição de março de 1968, no 2, ano VII. 49 GASPARI, Elio. A Ditadura Encurralada. op. cit. p. 45-66. 50 Revista O Empreiteiro. Exemplar de julho de 1991; ano XXX; no 280. 51 O GLOBO. Edição de 28 de agosto de 2009, p. 25. ‘A Petrobras não pode parar’. Informe publicitário da ABEMI, assinado pelo seu presidente, Carlos Maurício de Paula Barros. Referências:

Fontes primárias:

Jornal Folha de São Paulo.

Jornal O Globo.

Revista O Empreiteiro.

http://www.abdib.org.br/ acessado em 08 de fevereiro de 2009.

http://www.abemi.org.br/ acessada em 5 de abril de 2007.

http://www.andradegutierrez.com.br/ acessado em 20 de agosto de 2007.

21

http://www.cbic.org.br/ acessado em 26 de julho de 2007.

http://www.sinicon.org.br/ acessado em 20 de agosto de 2007.

Fontes secundárias:

ALMEIDA, Julio Sergio Gomes de (org.). Estudo Sobre a Construção Pesada no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ/ANPEC, 1983.

ALMEIDA, Julio Sergio Gomes de et al. Indústria de Construção e a Política Econômica Brasileira do Pós-

Guerra. Rio de Janeiro: UFRJ/Finep, 1982.

ALMEIDA, Mônica Piccolo. O Programa Nacional de Desestatização do Governo Collor: uma leitura gramsciana. Texto apresentado no laboratório Polis. Niterói: 2007.

BENEVIDES, Maria Victoria. UDN e Udenismo: ambigüidades do liberalismo brasileiro, 1945-1964. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

BRANDÃO, Rafael Vaz da Motta. ABDIB e a Política Industrial do Governo Geisel, 1974-1979. Texto apresentado ao laboratório Polis. Niterói: 2007.

CAMARGOS, Regina Coeli Moreira. Estado e Empreiteiros no Brasil: uma análise setorial. Dissertação de mestrado em Ciência Política. Campinas: IFCH/Unicamp, 1993.

CAMPOS, Pedro Henrique Pedreira. A formação do grande capital brasileiro no setor da indústria de

construção: resultados preliminares de um estudo sobre causas e origens. In: Trabalho Necessário. Ano 7, no 8, 22p.

CARDOSO, Fernando Henrique. Empresário Industrial e Desenvolvimento Econômico no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Difel, 1972.

CERQUEIRA, Eli Diniz; BOSCHI, Renato Raul. Empresariado Nacional e Estado no Brasil. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1978.

CHAVES, Marilena. Indústria da Construção no Brasil: desenvolvimento, estrutura e dinâmica. Dissertação de Mestrado em Economia. Rio de Janeiro: IE/UFRJ, 1985.

COUTINHO, Carlos Nelson. Contra a Corrente: ensaios sobre democracia e socialismo. São Paulo: Cortez, 2000.

COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

FERRAZ Filho, Galeno Tinoco. A Transnacionalização da Grande Engenharia Brasileira. Dissertação de mestrado em Economia. Campinas: IE/Unicamp, 1981.

GASPARI, Elio. A Ditadura Derrotada. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

GASPARI, Elio. A Ditadura Escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

IANNI, Octavio. O Colapso do Populismo no Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.

IANNI, Octavio. A Ditadura do Grande Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

LEAL, Maria da Glória de Faria. A Construção do Espaço Urbano Carioca no Estado Novo: a indústria de construção civil. Dissertação de mestrado em História. Niterói: PPGH/UFF, 1987.

MANTEGA, Guido; MORAES, Maria. Acumulação Monopolista e Crises no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

MENDONÇA, Sônia Regina de. Estado e sociedade. In: MATTOS, Marcelo Badaró de (org.). História: pensar & fazer. Rio de Janeiro: Laboratório de Dimensões da História, 1998.

PAULA, Dilma Andrade de. Fim de Linha: a extinção de ramais da estrada de ferro Leopoldina, 1955-1974. Tese de doutorado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2000.

22

SOUSA, Nair Heloísa Bicalho de. Operários e Política: estudo sobre os trabalhadores da construção civil em Brasília. Dissertação de mestrado. Brasília: UnB, 1978.