a construção das políticas sociais
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UNOPAR
Serviço Social – 4º semestres
Vera Maria Vieira
A relação questão social, políticas sociais e intervenção profissional.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo levantar dados bibliográficos a respeito do
processo histórico da construção do serviço social no Brasil, tendo como eixo
destacável a atuação do profissional do serviço social. Analisando as características
das políticas sociais brasileiras no período de 1960 a 1980. Compreendendo nestes
períodos da história as posturas dos profissionais frente às políticas sociais. Sobre o
enfoque no comportamento dos grupos no mesmo, de acordo com algumas
informações disponibilizadas pela psicologia social. Abordando de forma crítica a
posição do Brasil neste período em análise.
Este trabalho discute política social e serviço social e os desafios que esta relação
apresenta para a intervenção profissional. Enfatiza o florescimento e o
aprofundamento desse debate ao longo da história do Brasil, e a sua consolidação,
que se expressa através da consistente produção de conhecimento e da inserção
peculiar dos órgãos representativos da categoria profissional no processo de luta pela
institucionalização das políticas públicas compatíveis com os valores contidos no
Código de Ética Profissional dos assistentes sociais. O enfoque maior recai sobre a
questão da intervenção dos assistentes sociais, no campo da política social, ao
implementar o projeto profissional, comprometido com a defesa dos direitos sociais de
caráter universal.
2 DESENVOLVIMENTO
No Brasil, as políticas sociais tem sua origem estreitamente ligada ao desenvolvimento
urbano industrial, no qual o Estado redefiniu suas funções e passou a utilizar
mecanismos institucionais de controle, até então fora de sua esfera de intervenção.
Com o processo de desenvolvimento industrial, aliado à expansão urbana, agravou-se
a questão social que aqui é entendida como “conjunto de expressões das
desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura”. (Iamamoto,
2001, p.16). Com grandes aglomerados em torno das cidades, que por sua vez
atestam o crescimento da pobreza, do desemprego e da exclusão com privações
social, econômica, cultural e política para a classe que vive do trabalho. E, por um
outro lado, se tem uma enorme concentração de renda e riqueza para um pequeno
grupo, os grandes proprietários.
Diante de tantas mudanças e diferenças o Estado é requisitado para o enfrentamento
das expressões da questão social, reconhecendo as necessidades de novas formas
de enfrentamento dessa desigualdade.
Segundo Galper (1986), a política social na concepção liberal gera a ideia de
intervenção coletiva ou estatal no mercado privado para promover o bem estar e
social; tem provisão e oferta de serviços sociais; sua técnica social é de caráter
compensatório, preventivo e redistributivo. Nesse sentido, entende-se que as políticas
sociais aparecem como projetos e programas variados, implementados por
instituições, objetivando minimizar as desigualdades sociais e a pobreza decorrentes
do modo de produção.
Situando historicamente, observou-se que no período de 1930 a 1960 as políticas
sociais desenvolveram-se mais direcionadas à “proteção” aos trabalhadores, com o
objetivo de criar condições para garantir a força de trabalho adequada, que atendesse
as exigências do mercado emergente.
O conservadorismo do serviço social pode ser identificado na prática profissional
dessa época, onde a ação profissional consistia em forma de intervir na vida dos
trabalhadores ainda que sua base fosse à atividade assistencial; porém seus efeitos
eram essencialmente políticos: através do “enquadramento dos trabalhadores nas
relações sociais vigentes, reforçando a mútua colaboração entre capital e trabalho”.
(Iamamoto, 2004,p.20).
Os primeiros anos da década de 60 desencadeiam um início de mudanças
significativas, nas políticas sociais brasileiras e também no serviço social, em uma
conjuntura de aprofundamento do debate político na sociedade diante do agravamento
da questão social.
“A nova qualidade que assume a questão social nos grandes centros urbano-
industriais deriva, assim do crescimento numérico do proletariado, da solidificação dos
laços de solidariedade política e ideológica que perpassaram seu conjunto, base para
a construção e para a possibilidade objetiva e subjetiva de um projeto alternativo à
dominação burguesa”. ( Iamamoto e Carvalho, 2006, p.127).
Com o governo João Goulart, abre-se um período de ampliação do espaço de
participação política e de luta por transformações estruturais na sociedade brasileira,
simbolizadas pelas “reformas de base”. O debate político se radicaliza e aglutina
partidos, sindicatos, movimentos sociais e diferentes atores da sociedade civil.
A mobilização política atinge o campo (Ligas Camponesas e sindicalismo rural) e a
cidade (Movimento de Educação de Base – MEB, Centros de Cultura Popular). As
classes populares se organizam e se politizam crescentemente. Esse intenso
movimento político-cultural reúne defesa de um projeto nacional-desenvolvimentista.
Destacam-se a intervenção ativa do movimento estudantil, e as transformações da
Igreja Católica na América Latina, agora sob os influxos do Concílio Vaticano II (1962),
que dá origem à chamada Igreja Popular, primeiro passo para a formulação da
“teologia da libertação”.
O serviço social recebe as influências dessa conjuntura e, pela primeira vez, observa-
se no meio profissional um movimento inicial de crítica às práticas tradicionais,
assistencialistas e integradoras desenvolvidas até então. Começa a despontar nomeio
profissional a necessidade do serviço social sintonizar-se com uma sociedade em
mudança e responder a demandas macrossocietárias. “A renovação implica a
construção de um pluralismo profissional, radicado nos procedimentos diferentes que
embasam a legitimação prática e a validação teórica, bem como nas matrizes teóricas
a que elas se prendem”. ( Netto,2005 p.131).
No entanto, o golpe militar de 1964 e a ditadura determinaram um período que se
traduz de extrema importância na evolução do serviço social no país, pois sob a ótica
profissional, essa renovação torna-se a expressão mais característica desse momento
político.
O golpe militar impôs ao Brasil uma nova ordem político-institucional, apoiada em um
extraordinário fortalecimento do Estado, voltado estrategicamente para a consolidação
da chamada modernização conservadora. Para a implantação deste “modelo”, o
Estado moderniza e amplia suas funções econômicas, sociais, políticas e culturais. A
orientação política geral foi a de integrar a economia brasileira aos padrões
internacionais definidos pelo capitalismo monopolista para os países da periferia do
sistema capitalista, processo que vinha se desenvolvendo no Brasil desde a época do
governo de JK. Para tanto, o Estado comprimiu violentamente o espaço político da
sociedade civil, especialmente daqueles que se opunham ao novo padrão de
desenvolvimento, a classes trabalhadoras e populares.
Ao mesmo tempo, uma rede de relações autoritárias e repressivas penetrou todas as
dimensões da vida social, criminalizando a sociedade civil, desarticulando as
instituições políticas existentes. Nesse contexto, a questão social passa a ser tratada
através do binário da repressão/ assistência e um leque de políticas sociais e
assistenciais é implantado pelo Estado de forma centralizada, autoritária e burocrática.
Entretanto, apesar da asfixia provocada pela ditadura nos países chaves da América
Latina, Netto destaca que:
“ [...] esta inconclusividade não fez do movimento algo intransitivo, que não remeteria
mais que a si mesmo. Ao contrário, durante mais de dez anos, na sequência da
década de 1970, a parte mais significativa do espírito renovador da reconceituação,
processado criticamente, alimentou o que houve de mais avançado no processo
profissional latino-americano. (2005, p.15)”.
A crise do serviço social tradicional, não se limitou ao contexto histórico da política
social brasileira manifestando-se sob vários aspectos em muitos países dado ao seu
envolvimento na organização social do trabalho e da união com bases na legitimação.
Esse amplo processo de mudanças, que atinge também as tradicionais entidades
assistenciais filantrópicas, é responsável pelo alargamento, diversificação e
nacionalização do mercado de trabalho dos assistentes sociais, levando a profissão a
modernizar-se, a incorporar nova nacionalidade técnica e a modificar o perfil da
formação profissional.
Contribuíram para isso a inserção do serviço social no circuito universitário, o diálogo
mais estreito com as disciplinas das ciências sociais e a criação e expansão da pós-
graduação, com implantação dos cursos de mestrado e doutorado no início dos anos
70.
As transformações que começaram a emergir no debate teórico e na pesquisa foram
acompanhadas de significativa mudança nas instâncias organizativas e nos fóruns
coletivos da categoria dos assistentes sociais. O pensamento marxista emerge mais
claramente. A partir desse aumento de pensamentos mais pluralista, o marxismo cria
espaço para interlocução com os assistentes sociais e realizar análises críticas da
realidade social.
Com a reativação dos movimentos sociais e operários nos meados de 1970 a 1980,
em meio ao clima político de discussão e de luta pela redemocratização do país, a
cultura crítica é favorecida e assumida pelos setores profissionais. No serviço social,
este contexto é responsável pelo impulso ao processo de ruptura com o
tradicionalismo, em uma parcela de assistentes sociais, que passam a investir tanto na
organização da categoria profissional como na formação teórica e metodológica
orientada pelo método-dialético marxista. Conforme Netto:
“ [...] o desenvolvimento de uma perspectiva crítica, tanto teórica quanto prática, que
se constituiu a partir do espírito próprio da Reconceituação. Não se tratou de uma
simples continuidade das ideias reconceituadas, [...] antes, o que se operou foi uma
retomada da crítica ao tradicionalismo a partir das conquistas da reconceituação”.
(2005,p.17).
No início da década de 80 o serviço social começa a se gestar em um projeto
profissional comprometido com os direitos humanos e sociais, com a ampliação da
democracia social e econômica, com a qualificação das políticas públicas e a
construção da cidadania para todos. “A década de 1980 foi extremamente fértil na
definição de rumos técnico-acadêmicos e políticos para o Serviço Social”. (Iamamoto,
2005,p.50).
As atividades desenvolvidas no final da década de 70 e durante a década de 80
permitiram as pesquisas, seminários, aumento das publicações para a conscientização
e enriquecimento da análise crítica do serviço social latino-americano.
A ideia de seguridade social, direitos humanos e políticos ganham importância na
década de 80 com os movimentos sociais, pois visam garantir necessidades aos
indivíduos e seus dependentes. Aliás, necessidades geradas pela dependência ao
sistema capitalista. O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é um marco na
historia do Brasil abrindo uma nova era da assistência social que sempre foi tratada
como “não política”. Pois nos anos 80, o debate apontava para o partidarismo e
assistencialismo.
Foram fundamentais a revisão do projeto de formação profissional conduzida pelo
Centro de Documentação e Pesquisa em Serviço Social e Políticas Sociais,
destacando-se a elaboração do Código de Ética de 1986 comprometido com um novo
projeto ético-político profissional. A criação da Constituição Federal em 1988,ofereceu
a oportunidade de reflexão e mudança, inaugurando um padrão de proteção social
afirmativo de direitos que superasse as práticas assistenciais e clientelistas, além do
surgimento de novos movimentos sociais objetivando sua efetivação. A Constituição
só veio reafirmar a defesa de direitos sociais e da participação dos usuários no
contexto democrático, como uma definição mais clara dos direitos e deveres
profissionais.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente o Brasil está em constante desenvolvimento econômico, o que é de muita
importância para o país, mas em se tratando de desenvolvimento social, ele não evolui
na mesma proporção, muito pelo contrário, a exploração da força de trabalho por parte
das indústrias capitalistas, as quais só pensam em acelerar o ritmo de produção
visando somente os lucros, só contribui para o aumento da desigualdade social. Não
há eficiência em atingir os objetivos de erradicar a pobreza nos diferentes segmentos
sociais das políticas públicas no país, como consta na Constituição Federal de 1988.
As contradições sociais existentes, as discriminações, as diversas formas de violência,
a exclusão e a falta de acesso as oportunidades, ainda integram o contexto da
sociedade brasileira. Essa realidade aponta a necessidade de criar e recriar políticas
sociais interventivas e capazes de propiciar e assegurar melhores condições de vida à
população. Portanto o nosso olhar deve estar atento e direcionado para o
enfrentamento da situação munidos de compromisso e lealdade.
4 REFERÊNCIAS
BENRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e
história. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2007.
GALPER, J. Política social e trabalho social. São Paulo: Cortez, 1986.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. A questão social no Capitalismo. In: Temporalis/ ABEPSS.
Ano 2, n.3 (jan./jun. 2001). Brasília: ABEPSS, Grafline, 2001.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de
uma interpretação histórico-metodológica.19 ed., São Paulo: Cortez; [Lima, Peru]:
Celats, 2006.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social.
Ensaios críticos. 7 ed., São Paulo: Cortez, 2004.
IMAMOTO, Marilda Vilela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e
formação profissional, 11 ed. São Paulo: Cortez, 2005.
NETTO, Paulo José. Ditadura e serviço social: uma análise do social no Brasil pós 64.
9 ed. São Paulo: Cortez, 2005.
NETTO, Paulo José. O movimento de Reconceituação- 40 anos depois. Ver. Serviço
Social e Sociedade, n.84. São Paulo: Cortez, 2005, p. 21-36.