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Publicado originalmente em inglês sob o título:

THE UNRESOLVED CONTROVERSY:

Unity With Non-Evangelicals

The Banner of Truth Trust, 3 Murrayfield Road,

Edinburgh EH 12 6EL

PO Box 621, Carlisle, Pensylvania 17013, USA

Copyright © Iain H. Murray

First Published 2001

ISBN 0 85151 810 9

]

Traduzido e Impresso com permissão da

The Banner of Truth Trust

A Controvérsia Não Resolvida:

Unidade com Não-EvangélicosIain Murray

1a Edição em português — Março de 2002

É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, sem autorização por escrito

dos editores, exceto citações em resenhas.

Edição em Português:

Manoel Sales Canuto

[email protected]

Tradução:

Wadislau Gomes

Revisão:

Humberto Freitas

Diagramação, Editoração e Capa:

Heraldo F. de Almeida

[email protected]

Editora: Os Puritanos

Telefax: (11) 6957-8566 / (11) 6957-3148

[email protected]

www.puritanos.com.br

Impressão:

Facioli Gráfica e Editora Ltda

Rua Canguaretama, 181 – Vila Esperança

CEP 03651-050 – São Paulo – SP

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A ControvérsiA não resolvidA:

UnidAde Com não-evAngéliCos

Na discussão e controvérsia que se seguiram à publicação de Evangelicalismo Dividido: Um Relato da Mudança Crucial nos anos 1950–20001, o autor foi convidado pelo Dr. John F. MacArthur para proferir uma palestra sobre o principal tema do livro. O que se segue é a essência dessa palestra proferida na Shepherds’ Conference em março de 2001.

odos os livros têm uma certa história por trás deles. Eles vêm à existência e tomam forma de muitas maneiras

diferentes. Talvez ajude se eu introduzir o assunto que temos à frente, dizendo algo sobre a origem de “Evangelicalism Divided” (“Evan gelicalismo Dividido”). Na Grã Bretanha, o ano de 1996 comemorou o trigésimo aniversário de um evento que se tornou um marco na história desse país. Trinta anos antes, em 18 de outubro de 1966,

T

1 Edinburgh: Banner of Truth, 2000. As referências a todas as citações feitas aqui serão encontradas no próprio livro.

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o Dr. Martin Lloyd-Jones falou na Assembléia Nacional dos Evangélicos em Londres. Seu tema foi Unidade Evangélica. No final de sua palestra o presidente da assembléia, Rev. John R. W. Stott, em vez de fechar a sessão, fez algo não agendado. Ele gastou vários minutos para deixar claro à assembléia que não concordava com o que havia ouvido, e deu algumas razões. Assim, a conferência que pretendia promover a unidade evan-gélica teve o resultado oposto. Foi dito que a unidade evangélica estava “fraturada”; alguns disseram que tinha “naufragado”. A quem cabia a culpa desse resultado? No aniversário desse evento, trinta anos depois, a questão foi, novamente, discutida tanto em revistas quanto em livros. Foi apresen-tada, proeminentemente, por exemplo, na biografia do Dr. James I. Packer, publicada em 1997. Meu interesse renovado nesse debate levou-me a proferir uma palestra sobre o tema, na Austrália, em 1998.

Nessa data, enquanto eu ainda estava na Austrália, achei uma simpática e definitiva biografia de Billy Graham, A Prophet With Honor (Um Profeta Com Honra), escrita por William Martin. Um dos principais propósitos dessa biografia escrita por um americano e sobre um americano não teria conexão com a divergência ocorrida entre os evangélicos ingleses, mas a biografia

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de Graham forneceu forte confirmação de que havia, de fato, uma conexão. À medida que o livro de Martin abria o assunto para mim, tornou-se claro que a discordância em Londres, em outubro de 1996, tinha de ser entendida num contexto mais lato, pois, numa extensão surpreendente, o tema principal foi o mesmo em ambos os lados do Atlântico. Isso me levou a pesquisar o assunto mais profundamente e, no curso de dois anos, minha palestra inicial desenvol-veu até transformar-se neste livro.

Há razões pessoais porque achei difícil lidar com este tema. Por alguma razão, Evangelicalism Divided é um livro triste. Entristeci-me ao pensar sobre o assunto e ao escrever o livro. Uma das razões é que o as-sunto tinha a ver com uma divergência, não entre o bom e o mau, mas entre genuínos e eminentes homens cristãos. Freqüentemen-te, o diabo tem usado a estratégia de desviar os crentes de seus trabalhos, provocando controvérsias entre eles. Dessa forma, em vez de juntar as forças contra um inimigo comum, as energias são sugadas e as opor-tunidades, perdidas. O livro de Gênesis nos diz que no tempo quando ocorreu a luta infeliz entre os servos de Abraão e os de seu sobrinho, Ló, “os cananeus e o ferezeus habitavam essa terra” (Gn 13.7). A Escritu-ra nos impele a ver as palavras e sermos

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advertidos por elas. Nosso primeiro dever é amar-nos uns aos outros, não lutar uns contra os outros. Quando as discordâncias entre cristãos não podem ser evitadas, isso deveria ser causa de dor, e deveríamos fazer o possível para não agravá-las. A sabedoria que vem do alto, diz Tiago, é “pacífica”. Assim, eu tenho tentado escre-ver com respeito e estima pelos evangélicos com os quais tenho de discordar. Mas para que ninguém ache Evan gelicalism Divided depressivo, devo acrescentar algo que é realmente óbvio. O livro, é claro, não pre-tende, em nenhum sentido, ser a história do evangelho nos últimos cinqüenta anos. Nesse período, houve grandes bênçãos espirituais ao redor do mundo e meu tema não nega essa realidade.

Uma dificuldade a mais para mim, na escrita desse livro foi: À medida que o assunto se desenvolvia, não fui capaz de relatar os eventos como mero especta-dor. Antes, achei-me confrontando uma profunda e humilhante questão. Como eu achava que outros evangélicos cometeram erros e erraram em seus julgamentos, eu era forçado a me perguntar como me sentiria se estivesse na mesma situação e sujeito às mesmas pressões que eles enfrentavam. Sucesso incomum, popularidade e posições eminentes são coisas perigosas. Para aque-

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les dentre nós que são pouco expostos a tais perigos, é fácil imaginar quão mais bem teríamos nos saído. Mas a realidade é que eu poderia ter feito bem pior do que aqueles dos quais discordo. Partilhamos de uma comum fragilidade e da mesma propen-são ao erro. Somos todos “servos inúteis”. “Todos tropeçamos em muitas coisas”, diz Tiago (3.2). Quanto mais eu via isso, mais achava que o meu tema era o da humilda-de. Às vezes podemos discordar de outros crentes e, mesmo, discordar energicamente, mas, ao mesmo tempo, é imperativo que nos vigiemos e aos nossos motivos. Somos conservos em Cristo e as palavras de Paulo são bem penetrantes:

Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus .... Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus (Rm 14:10,12).

Cheguei, então, ao âmago da questão: Quando falamos a respeito de evange-licalismo dividido, qual foi a causa da di-visão à qual estamos nos referindo? Sobre o que Lloyd-Jones e John Stott discordavam? Fazer esta pergunta nos coloca imediata-mente dentro da controvérsia porque, por

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mais estranho que isso soe, até hoje não há concordância sobre o que era, realmente, a divergência! Isto fica claro: Não foi sobre qualquer crença evangélica básica. Nenhu-ma verdade fundamental foi negada ou a ela se opuseram. Ambos os lados conserva-ram-se firmes na Escritura e à Pessoa e obra de Cristo. Como, então, poderia ter havido tão séria divergência? Para explicar isso, preciso dar aqui um breve resumo de parte da história da Grã-Bretanha.

LIBERALISMO, EVANGÉLICOS E O MOVIMENTO ECUMÊNICO

É ponto pacífico que o uso do ter-mo “evangélico” é, simplesmente, outra maneira de se descrever uma pessoa ou uma denominação que crê no evangelho. Em meados do século dezenove, todas as denominações protestantes na Inglaterra eram evangélicas em suas declarações de fé. Mas, então, iniciou-se um grande declínio. O Liberalismo entrou nos nossos púlpitos, e veio em nome de Cristo. Falou muito de devoção a Jesus. Usou a linguagem cristã tradicional. Cristo, dizia-se, deve ser ex-perimentado, admirado e seguido. Uma diferença crucial entre sua mensagem e a do cristianismo histórico, deixe-me lembrá-lo, era sobre como qualquer um entra na real experiência cristã. O Liberalismo pensava

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que a fé era proveniente de nossa própria intuição humana; tudo que era preciso seria um coração disposto. Isso quer dizer que poderia haver fé em Cristo sem a verdade revelada e sem uma Bíblia autoritária; as pessoas poderiam ter experiências genuínas com Cristo à parte de crenças doutrinárias. “Cristianismo é vida, não doutrina”, era o grande anseio. A promessa era a de que o cristianismo progrediria maravilhosamente se não fosse mais restringido por doutrina e crenças ortodoxas.

Essa espécie de ensino permeou todas as denominações inglesas e instituiu uma nova definição de cristão. Um descrente na queda do homem, ou na expiação, ou na deidade de Cristo, poderia agora ser chamado de cristão. Tal pensamento teve muitos representantes. Um professor de teologia de Edimburgo, falecido em 1960, afirmava que a pessoa poderia ser um “crente” sem saber disso. É possível, ele dizia, que indivíduos neguem a Deus com o “topo de sua cabeça” e, ainda assim, creiam no fundo de seu coração. No mesmo ano, 1960, um eminente político inglês morreu e, a despeito de seu ateísmo e indiferença ao Cristianismo, ele foi honrado na capela de Westminster, o principal santuário da igreja nacional inglesa. O Arcebispo Michael Ra-msey − a quem me referirei mais tarde com

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maior profundidade − defendeu essa ação com estas palavras: “O céu não é um lugar só para cristãos .... Espero ver lá, naquele dia, alguns dos ateus de hoje”.

Os verdadeiros crentes no evangelho − isto é, os evangélicos − estavam atôni-tos ante o que viam acontecer nas igrejas depois do surgimento do Liberalismo no século dezenove. Dois caminhos lhes foram abertos. Alguns deixaram as denominações principais. C. H. Spurgeon, o exemplo mais notório, deixou a União Batista em 1888. Outros permaneceram e, porque eram poucos para exercer qualquer disciplina, viveram, na maior parte, separados dos não-evangélicos de suas próprias denomi-nações, os quais, geralmente, ocupavam posições de liderança. Mais tarde, esses evangélicos, quer estivessem ainda nas grandes denominações quer fora delas, mantiveram uma ligação regular entre si por meio de uma participação comum em diversas organizações não-denominacio-nais. Nessas agências, as crenças bíblicas foram preservadas e os não-evangélicos eram excluídos. Assim, o evangelicalismo era uma unidade que transcendia as deno-minações, em muitos aspectos se aproxi-mando do fun damentalismo nos Estados Unidos; e, os fundamentalistas americanos eram bem recebidos pelos evangélicos no

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Reino Unido. Uma característica de um evangélico era que ele punha seus com-promissos evangélicos à frente da lealdade denominacional e, enquanto ele era feliz no trabalho de evangelismo e em convenções de evangélicos de outras denominações, evitava testemunho e atividade corporati-vas com aqueles que não tinham a mesma fé. Organizações evangélicas, como a Alian-ça Bíblica Universitária, tinham declarações de fé que, definitivamente, pretendiam prevenir a filiação de liberais.

Quando Billy Graham veio à Inglaterra, em sua primeira grande cruzada em Har-ringay, Londres, em 1964, ele foi recebido por evangélicos. Não foi, porém, recebido pelos líderes denominacionais. Nenhuma denominação concordou em apadrinhar sua cruzada. O Arcebispo Ramsey comparava o evangelicalismo com o fun damentalismo e classificou a ambos os movimentos de “he-resia”. A respeito de Graham, ele disse: “Ele tem ensinado as mais grosseiras doutrinas e lança sua fórmula: ‘A Bíblia diz’ enquanto ensina enfaticamente aquilo que a Bíblia não diz”.2 Algo marcante, porém, aconteceu. Quando a cruzada entrava já em seu terceiro mês, com milhares de pessoas atendendo

2 British Weekly, 9 de fevereiro de 1956. O veredicto de Ramsey ao final da Cruzada foi: “Ele se foi. Nosso funda-mentalismo inglês permanece. Isso é herético”.

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às reuniões, líderes religiosos e a imprensa religiosa começaram a demonstrar interesse e, no final, os liberais, que a princípio haviam ficado à parte da cruzada, se achavam até mesmo assentados na plataforma com o evan-gelista. Na última reunião, ninguém menos que o Arcebispo de Canterbury, Dr. Fisher, impetrara a bênção apostólica.

Por que essa mudança de atitude entre aqueles que não acreditavam na conversão e na pregação do evangelho? Esta questão é crucial para um entendimento do que se seguiu. Um grande número de evangélicos, especialmente aqueles que pertenciam à Igreja da Inglaterra, chegou à conclusão de que sabia a resposta. Esses evangélicos estavam persuadidos de que algo muito importante estava acontecendo; falavam de estarem testemunhando o começo de outro “Grande Avivamento” − um movimento que poderia mudar a face das igrejas. Criam que estavam vendo algo antes nunca visto e que, talvez, jamais esperassem ver, isto é, pregadores, que negavam a expiação subs-titutiva e a queda do homem, assentados quietos ao ouvir exatamente essa pregação e, aparentemente, aprovando o evangelis-ta. Esta era, certamente, uma evidência de que um ministro não-evangélico estava reconhecendo quão vazia era sua própria mensagem e buscando algo melhor.

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Esta era uma das explicações para a aparente mudança de atitude entre os não--evangélicos, e os que a aceitavam começa-ram a pensar que deveria haver também, de sua parte, uma mudança. Não uma mu-dança de crença, mas uma reavaliação da política de afastamento dos liberais. Talvez, se os evangélicos fossem mais dispostos à cooperação com aqueles que tivessem ou-tras perspectivas, poderiam até ganhá-los, tal como Graham parecia estar fazendo. Talvez fosse sua própria falta que tivessem tido pouca influência, comparada com as 38.000 decisões registradas em Harringay.

Exatamente nessa hora, outra poderosa influência estava em operação em todas as denominações principais e através de todo o mundo de língua inglesa. O movimento ecu-mênico estava em ascendência e prometendo que uma nova era de influência cristã estava à porta, se tão somente todos os cristãos se unissem. O ecumenismo defendia uma nova abertura que consistia do uso de caridade para com todas as opiniões. Um dos resulta-dos dessa caridade foi que, em vez de serem recebidos friamente, os evangélicos tinham uma nova experiência, a de serem convi-dados a tomar parte, plenamente, em suas denominações e no abrangente movimento de unidade. Se aceitassem essa oportunidade, estariam assegurando uma influência que

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anteriormente lhes havia fugido às mãos. Estiveram vivendo “num gueto”, dizia-se; deixem que saiam e serão bem recebidos para assumir seu lugar de liderança.

Enquanto o ecumenismo estava falan-do com eles dessa forma, simultaneamen-te, em ambos os lados do Atlântico, uma nova política evangélica nascia. Começou nos Estados Unidos e tomou conta da Inglaterra. Seus maiores advogados eram o Fuller Seminary, Christianity Today e a Billy Graham Evangelistic Association, e por algum tempo essas três organizações se tornaram uma trança de três cordas que não poderia ser partida. Os mesmos líderes estavam relacionados com essas três organizações. Juntos, eles partilharam a convicção comum de que o fundamen-talismo era muito separatista, muito ne-gativista e muito exclusivista. Os evangé-licos precisavam fazer sua voz ouvida nas denominações principais. Muitos cristãos deveriam ser encontrados aqui e ali e, com uma aproximação sábia, as denominações poderiam trazê-los de volta à fé. Essa po-lítica, durante algum tempo chamada de “neo-evan gelicalismo”, era a de concentrar sua atenção no positivo, especialmente na evan gelização e numa melhor educação. Buscava se aproveitar do ethos ecumênico para obter um novo respeito pela Escritura.

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Muitas coisas aconteceram que pare-ciam demonstrar o sucesso dessa política, e a cooperação de não-evangélicos nas cruzadas de Graham parecia também en-dossar seu acerto. Ninguém menos que o Arcebispo Michael Ramsey se tornou um apoiador. Em 1961, Dr. Graham aceitou um convite para a Conferência do Concílio Mundial de Igrejas, em Nova Deli. Ali, ele se encontrou com o homem que, em 1956, havia descrito suas crenças como heresia, e em sua autobiografia, Graham registra esta porção da conversa que tiveram:

Dr. Ramsey, poderíamos - você e eu - ser bons amigos pessoais? Devemos não ter comunhão porque discordamos em méto-dos e em teologia? Não é este o propósito do movimento ecumênico, ajuntar pesso-as de pontos de vista opostos?

A resposta, conforme Graham nos re-lata, foi esta: “Como um forte apoiador do movimento ecumênico, ele teve de sorrir e concordar com minha lógica”. Portanto, os dois homens se tornaram amigos.

Essa mesma política, agora, progride na Inglaterra, especialmente entre os evangéli-cos daquela Igreja. John Stott, um dos mais jovens dentre esses homens, é citado como tendo sido capelão não-oficial da equipe

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de Graham durante a cruzada em Harrin-gay. Ele se tornou o líder entre a geração mais nova de anglicanos evangélicos, e sua nova política era resumida nas palavras: “Cooperação sem comprometimento”. A operação dessa política conduziu, em 1967, ao primeiro Congresso Nacional de An glicanos Evangélicos, e o convidado para falar na abertura do Congresso foi Michael Ramsey. O Arcebispo aproveitou a ocasião para dizer aos seus ouvintes que “a experiência vem antes da teologia”, que deveriam aprender uns dos outros e, se os evangélicos estivessem preparados para desempenhar plena participação na vida da Igreja da Inglaterra, deveriam dar as costas para seu antigo exclusivismo. Quando tudo terminou, as declarações feitas no Congresso e publicadas incluíam estas palavras na seção sobre “Diálogo”: “A tarefa inicial para os cristãos divididos é o diálogo, em todos os termos e através de todas as barreiras”. Desejamos entrar completamente nesse diálogo ecumênico. Não estamos mais contentes com ficar à parte daqueles com quem discordamos”. Esse emocionante congresso foi citado como parte de uma nova “renascença” evangélica. Uma esquina foi dobrada e o velho isolacionismo - como é chamado hoje - tornou-se coisa do passado.

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Resumindo, repito que este evan-gelicalismo com nova aparência não era novo com respeito às crenças. Ele ficou fir-me e pretendeu ficar firme no cristianismo bíblico. Era novo, entretanto, em termos de política e estratégia e, em meu livro eu não argumento que isso tenha sido totalmente errado. O Antigo Evangelicalismo e o Fun-damentalismo não podem ser defendidos em todos os pontos. Alguma mudança era necessária. Sem dúvida, um grande número das influências que vieram da aliança do Fuller Seminary, Christianity Today e da Billy Graham Evangelistic Association, foi bom. Muitas almas foram trazidas à real fé em Cristo por meio do ministério de Billy Graham. Tudo isso deve ser lembrado com gratidão. Onde, então, está o problema? O que causou a divisão entre os evangélicos?

DUAS EXPLICAÇÕES PRINCIPAIS1. A nova ênfase na “abertura” e na lar-

ga cooperação dos evangélicos com outros falhou em atingir o problema fundamental nas principais denominações. O problema era a maneira como a definição de um cris-tão havia sido mudada e minada. Uma idéia diferente do que significava ser um cristão havia sido largamente espalhada, tanto nos púlpitos quanto nos bancos da igreja. A Escritura ensina que a fé no evangelho é

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indispensável para a salvação; o Liberalis-mo crê que homens e mulheres podem ter “vida cristã” sem a fé cristã. Charles Hodge declara a sua divergência nestas palavras:

Um homem que crê em certas doutrinas é um cristão. Se sua fé é mero assenti-mento, ele é um cristão es peculativo; se sua fé é cordial e apreciadora, ele é um verdadeiro cristão. Mas dizer que um homem pode ser um cristão sem crer nas doutrinas do Cristianismo, isso é uma contradição. Um homem pode ser amigável e benevolente sem qualquer forma definida de fé, mas como poderá ele ser um cristão?

Contrário a essas palavras, o ponto de

partida do movimento ecumênico é que todos que se dizem cristãos, numa mínima profissão de fé, devem ser aceitos como tais. Ela não vê razão para questionar essa suposição. Assim, a prioridade para as igrejas, segundo o ecumenismo, não é a recuperação da fé e das verdades essen-ciais à salvação, mas a unidade daqueles que já se dizem cristãos. Em dias quando o Liberalismo estava dominando quase a totalidade das denominações principais, os líderes eclesiásticos ecumênicos ignoravam o maior problema. A possibilidade de que

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professores e outras pessoas tivessem ado-tado o nome de cristãos sem jamais terem se encontrado com o Jesus ressurreto, não parece ter sido levada em conta.

Nessa situação, os evangélicos ficaram com um problema crucial. Se concordar com a regra básica, “Somos todos cristãos”, era algo necessário para se obter aceita-ção ecumênica e denominacional, como poderia tal concordância ser congruente com a singularidade de suas crenças? Se a crença evangélica é, na essência, crença evangélica, como pode a comunhão cristã existir independente de qualquer compro-misso comum com essa crença? E como pode a correta fé nos fundamentos reter a importância primária que a Escritura lhe confere; afinal, essa fé não é necessária para a salvação? Ou, colocando a mesma questão de modo diferente: Como pode, o evange licalismo, dizer que apresenta os pontos essenciais bíblicos, se alguém considera como cristãos e trabalha com aqueles que, na verdade, negam esses pontos essenciais?

Essa foi a posição que Lloyd-Jones to-mou em sua palestra na reunião de outubro de 1966, a qual trouxe a dissensão. Seu ponto central foi que, como comunhão e fraternidade em Cristo dependem da cren-ça no evangelho, a unidade com a qual os

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evangélicos deveriam estar preocupados deveria ser a evangélica, não a ecumênica. “Deveríamos nos perguntar: O que é um cristão? Como obtemos o perdão dos pe-cados? O que é uma igreja?” Ele cria que era totalmente errado que os evangélicos sequer parecessem estar aceitando o axioma do ecumenismo: “Somos todos cristãos”.

A mensagem de Lloyd-Jones foi direto ao ponto básico da política que estava se tornando popular nos círculos evangélicos. A resposta que lhe foi dada foi que o as-sunto não era, realmente, apenas sobre ser membro de igreja, e que Lloyd-Jones estava, simplesmente, repetindo a velha mensagem separatista que leva os homens a retroceder a uma posição de mínima influência? Não, ele replicou, o assunto era o da prática da fé evangélica. A fé pode ser minada pela práti-ca, advertiu, mesmo onde ela é mantida em princípio. Poucos líderes evangélicos julga-ram relevante essa advertência. Um que o fez foi Francis Schaeffer. No mesmo ano em que Lloyd-Jones proferiu sua palestra em Londres, Schaeffer falou no Congresso de Evangelismo de Berlin, onde disse:

Não nos esqueçamos jamais que nós, que permanecemos no ramo histórico do cristianismo, realmente cremos que falsa doutrina, nesses pontos cruciais em que a

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falsa doutrina é heresia, não é uma coisa pequena. Se não deixarmos clara por pala-vra e prática a nossa posição pela verdade como verdade e contra a falsa doutrina, estaremos construindo um muro entre a próxima geração e o evangelho.

Noutras palavras, se a prática da larga cooperação não parar, o que distingue o evangelho seria perdido. A diferença da convicção sobre esse ponto foi a principal causa da divisão.

2. Outra explicação da divisão diz respeito à diferença de opinião sobre a profundidade e a realidade da depravação humana. Não digo com isso que um dos lados tenha negado a pecaminosidade hu-mana, mas é possível ter-se uma definição correta da queda do homem e, ainda assim, agir de modo que se falhe em levar suficien-temente em conta o mandamento de Cristo: “Acautelai-vos dos homens” (Mt 10.17); “Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados de ovelhas...” (Mt 7.15). O ensino da Escritura sobre a en-ganosidade do coração humano nos é ofere-cido por razões práticas urgentes. “Atendei por vós” e “Vigiai”, são injunções bíblicas constantes (At 20:28-31; 1 Tm 4:16 etc.).

Creio que o sucesso das primeiras cru-zadas de Billy Graham e da nova política

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evangélica estava conectado com a falha em conceder peso suficiente às advertências da Escritura sobre a natureza humana. Tanto nos Estados Unidos quanto na Grã-Bre-tanha, o apoio de não-evangélicos e mesmo dos abertamente liberais veio a ser delibera-damente procurado nas cruzadas de evan-gelismo. Já dei uma explicação do porquê essa mudança de atitude ocorreu entre os evangélicos. A disposição dos não-evangé-licos de cooperar foi interpretada como o anúncio de uma significativa mudança de espírito. Acreditava-se que aqueles que um dia foram oponentes da crença evangélica estavam se tornando seus amigos. Assim, a cautela que anteriormente caracterizara o relacionamento dos evangélicos com outros foi substituída por abertura e otimismo.

Há, entretanto, uma outra interpretação da mudança de parte dos liberais e receio que seja verdadeira. Esta não é apenas a mi-nha opinião, pois, tantos anos depois, temos as biografias e escritos de um número de líderes eclesiásticos que foram apoiadores da cruzadas. Repetidas vezes eles reve-lam que não havia tido mudança alguma em suas crenças. Estavam, simplesmente, impressionados com o número de fre-qüentadores dos eventos promovidos pelo ministério de Billy Graham e interessados em encaminhar um pouco dessa população

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para as suas igrejas. Homens como o Dr. Leslie Weatherhead e o Arcebispo Ramsey também disseram quase o mesmo “O que importa a teologia fundamenta lista”, disse Weatherhead para companheiros liberais, “comparada com o ajuntamento das pesso-as que todos temos perdido”. Na cruzada de Londres em 1966, o Arcebispo Ramsey disse ao seu clero para receber aos que lhes fossem referidos, “o que quer que pensem sobre teologia”.

A biografia de Ramsey nos fornece uma história esclarecedora. Por coincidência, o Arcebispo havia planejado estar no Rio de Janeiro, e no Brasil, em 1974, ao mesmo tempo em que a cruzada de Graham era realizada na cidade. Quando Graham ouviu essa notícia, de pronto convidou Ramsey para dar uma pequena palavra na reunião de abertura. O biógrafo de Ramsey escreve que ele “Não acretidava em cruzadas”; não--obstante, aceitou o convite e Graham lhe escreveu para dizer que estava “cheio de gratidão .... viemos de ambientes religiosos tão diversos e ainda assim .... essa gloriosa unidade”. Antes da reunião o Arcebispo passou, com o intérprete para o português, pelas notas do que iria dizer. O homem, um pastor presbiteriano brasileiro, objetou que “não poderia traduzir aquilo tudo por motivo de consciência”. Nesse impasse, a

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questão foi levada a Graham, o qual insistiu que o Arcebispo era seu convidado e que o tradutor deveria interpretar cada palavra. Assim, entre outras coisas, a audiência da-quela noite ouviu estas palavras do inglês:

Você não pode vir a Cristo a menos que você traga seu irmão católico com você ... Se lhe for pedido que venha à frente para testemunhar a respeito de Cristo, não venha a menos que traga consigo a resolução de ser mais caridoso com seus irmãos Católicos.

Estas foram novas extraordinárias para

os cristãos brasileiros que haviam deixado a Igreja de Roma, onde não haviam co-nhecido nada acerca de fraternidade em Cristo.

Algumas vezes, sem dúvida, liberais foram convertidos sob o ministério de Graham, mas não será cinismo dizer que o amplo interesse de não-evangélicos em suas cruzadas era comumente relacionado às suas próprias agendas. Estavam-no usando, como um ocupante de um cargo no Concílio Mundial de Igrejas admitiu quando disse: “Não concordamos com a teologia de Billy Graham, mas estamos usando a ele para edificar igrejas”. Creio que não preciso lembrá-lo o quanto Graham defendeu o que

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ele chamava de “estratégia ecumênica”. “O que importava”, ele disse, “não é quem co-opera ou quem se associa às cruzadas, mas sim, que esses providenciaram para que a pregação ficasse nas mãos evangélicas”. Mas a verdade era que ele queria a coope-ração daqueles homens por causa da ajuda que a reputação deles dava ao seu trabalho, e porque, assim, estaria assegurando maior apoio denominacional. Ganhar a simpatia das principais denominações continuava sendo seu objetivo primário, e isso não poderia acontecer sem a boa vontade dos seus líderes. Assim, os dois lados eram impulsionados por um motivo anterior. Da parte de Graham o motivo era alcançar uma maior audiência para o evangelho, mas, a fim disso, ele adotou uma atitude quanto aos falsos mestres que não era compatível com o Novo Testamento.

O novo evangelicalismo em ambos os lados do Atlântico estava tão esperançoso de sucesso que palavras como “Acautelai--vos dos homens” parecia fora de lugar e sem caridade. Homens que nunca pregaram o evangelho em sua vida, agora eram consi-derados basicamente bons. “Billy não quer crer qualquer coisa má sobre uma pessoa”, disse seu associado, Robert Ferm. Mesmo em sua autobiografia, Dr. Graham parece não estar cônscio sobre a maneira como ele,

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repetidamente, estava sendo usado por ho-mens para seus próprios fins. Ele descreve, por exemplo, uma manhã na Casa Branca com o Presidente Clinton, nestes termos:

Foi um tempo de cálida comunhão com um homem que nem sempre foi aprovado pelos seus companheiros cristãos, mas que tem no coração um desejo de servir a Deus e fazer a sua vontade.

Este não é um exemplo isolado da in-genuidade na esfera da política. Depois de outro lapso de sua parte, Graham foi ouvi-do, dizendo: “Fui como um bebê na floresta; não sabia o que estava acontecendo”. Tais falhas se tornam mais perigosas quando envolvem avaliações de pregadores e o as-pecto espiritual. Para mim, as palavras mais infelizes na inteira biografia do evangelista, escrita por Martin, ocorrem na seguinte citação que ele inclui:

Aqueles que mais bem conhecem Billy dizem que é sua personalidade amável que o faz crer que ele pode se tornar um pontífice - ou construtor de ponte - entre os cristãos que crêem na Bíblia e aquelas personalidades atraentes que são pro-ponentes do evangelho não-redentivo. [Num recente encontro num café da

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manhã] ele rogou que reconhecêssemos que muitos liberais eram homens de bem, que amavam o Senhor e que, talvez, pu-dessem ser ganhos para a posição conser-vadora .... Billy quer atingir um campo vasto e, nisso, faz muito pouco; ele tenta não ofender ninguém de nenhuma forma .... Por não lutar por algumas coisas, ele tem ido ao extremo oposto, e feito a paz, não com a doutrina da apostasia, mas com aqueles que pregam doutrinas apóstatas. Isso, eu creio, é fatal e um dia derrotará a inteira causa pela qual esse homem de Deus está labutando.

A MUDANÇA EVANGÉLICA E SEUS RE-SULTADOS

Ofereço esses dois pontos como explica-ção da causa da divisão. Como já mencionei, uma explicação diferente é colocada, pelo outro lado, para a falta de unidade evangé-lica na Inglaterra. Depois de 1966, Lloyd--Jones começou a abster-se de cooperação pública com os evangélicos que estavam comprometidos com a promoção da unida-de com os não-evangélicos. Por causa disso ele foi muito acusado. Os evangélicos, por um lado, como John Stott e Jim Packer, reco-mendavam um duplo compromisso: Que-riam continuar com um compromisso com os companheiros evangélicos e, também,

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apoiar a discussão ecumênica geral sobre unidade cristã. A seus olhos, por declinar da cooperação com os companheiros evan-gélicos, Lloyd-Jones estava introduzindo uma divisão no evangelicalismo onde ela antes não existira.

Lloyd-Jones replicou que não fora ele quem trouxera a divisão; foram os que introduziram a política de duplo compro-misso. Permitir que tal política de duplo compromisso fosse tida como certa, seria, a seu ver, produzir mudança tal no evangeli-calismo que seu significado histórico seria perdido. Os evangélicos não deveriam, e não poderiam, defender uma unidade com homens que não criam na mesma mensa-gem. Conquanto soubesse que esses evan-gélicos que discordavam dele não tenciona-vam minar o evangelho, estava convencido que o evangelicalismo não permaneceria evangelicalismo a menos que sua prática fosse consistente com sua crença. A singu-laridade da mensagem do evangelho não poderia conviver com a política da abertura ecumênica. Ele via aqueles que promoviam essa política como apoiadores invo lun tários de uma situação na qual aquilo que era distintivo com respeito à crença evangélica seria progressivamente enfraquecido. Logo, em 1965, Lloyd-Jones já dizia:

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Temos a evidência diante dos nossos olhos que nossa permanência entre tais pessoas [i.é., os não-evangélicos] não parece que os está convertendo à nossa vi-são, mas, antes, [está conduzindo] a uma diminuição da temperatura daqueles que permanecem entre eles e a uma crescente tendência à acomodação doutrinária e ao comprometimento.

O que temos de avaliar aqui volta à questão do fato histórico. Será que o evangelicalismo, dos anos 60 em diante, permaneceu um movimento de convicções doutrinárias fortes, afirmando o sobrenatu-ral em oposição à centralidade do homem e a conveniência de haverem tantas religiões contemporâneas? Tem ela trazido à baila o que significa ser cristão em contraste com a visão popular que nega que estreita é a porta, estreito é caminho que conduz à vida, e poucos são os que chegam a ele? Creio que existe, em ambos os lados do Atlântico, evidência que prova que aquilo que Lloyd--Jones e Francis Schaeffer, e poucos outros, temiam, está aí.

Na Inglaterra isso pode ser visto, por exemplo, entre muitos evangélicos angli-canos que crêem que “abertura” era a polí-tica correta nos anos 1960. Um dos líderes afirmou em 1973: “Os evangélicos reconhe-

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cem outros anglicanos como companheiros cristãos, conquanto sejam críticos do evan-gelicalismo”. Outro líder foi citado como dizendo que àqueles que negam o nasci-mento virginal e a ressurreição corporal de Cristo “não lhes é negado o direito de serem chamados de cristãos”. No caso de um conhecido bispo, que nega a ressurreição de Cristo, os anglicanos evangélicos agora dizem que é indigno aceitar “um mínimo de suspeita de que isso não possa ser ge-nuíno cristianismo”. Num livro intitu lado Anglican Evangelicals, os dois reputados evangélicos que o escreveram, pediram a contribuição, para as suas páginas, do Bispo de Edinburgh, Richard Holloway, que foi um liberal anglo-católico. Holloway escre-veu o capítulo final do livro, no qual disse que a crença evangélica não tinha relevância em relação à questão de como alguém se torna cristão, porque “Somos incorporados a Cristo pelo batismo e pela graça”. Prosse-guiu escrevendo que era inadmissível fazer da “teoria da expiação um dos primeiros testes da pureza doutrinária”, e deplorou qualquer prática que pudesse torná-la um teste de unidade. As palavras de Holloway foram publicadas exatamente como eram, sem qualquer expressão de discordância da parte dos editores. Um dos homens en-volvidos no novo evangelicalismo entre os

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anglicanos foi George Carey. Ele é agora o Arcebispo de Canterbury, e seu alto ofício é, algumas vezes, apresentado como prova de como, agora, os evangélicos ganharam posições de liderança. Para Carey, porém, qualquer exclusividade em relação aos evangélicos é coisa do passado. Assim é que ele fala sobre a Igreja da Inglaterra:

Continuo convicto de que é uma ampla Igreja combinando o católico, o evangé-lico, o carismático e o liberal em jubilosa harmonia ... Para muitos de nós na Igreja, o liberalismo é hoje um elemento criativo e construtivo para a explora-ção da teologia ... Se perdêssemos esse ingrediente, isso constituiria o fim do anglicanismo como força no cristianismo mundial.

Ainda assim, tais opiniões não impe-diram que a organização de Graham con-vidasse o Arcebispo Carey para falar no congresso de Amsterdam em 2000. O triste fato é que Graham mesmo tem progressiva-mente deixado de lado qualquer insistência na defesa daquilo que faz um evangélico ser um evangélico. William Martin obser-vou seu “minguante dogmatismo” e sua “sempre-crescente” aceitação de outros que professam ser cristãos”. Graham diz: “O

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movimento ecumênico alargou meu ponto de vista”. Referindo-se às diferenças entre evangélicos e católicos romanos, ele pode dizer: “Não acho que as diferenças sejam importantes no que concerne à salvação”. “Sinto que pertenço a todas as igrejas. Sinto-me em casa nas igrejas anglicanas, batistas, dos irmãos unidos ou na católico--romana”. Em 1978, a revista McCall’s citou Graham dizendo: “Eu costumava crer que os pagãos em países distantes estavam perdidos se não tivessem o evangelho pre-gado a eles. Não creio mais nisso”. A Billy Graham Evangelist Association e Chris-tianity Today negaram a autenticidade des-sas palavras, mas em 1997, na televisão para que todos pudessem ver e ouvir, Graham repetiu a mesma declaração numa conversa com o liberal Dr. Robert Schüller. O corpo de Cristo, ele disse a Schüller,

seria formado de todos os grupos Cris-tãos ao redor do mundo, fora dos grupos cristãos. Penso que todos que amam ou conhecem a Cristo, quer estejam cônscios disso quer não, são membros do corpo de Cristo... talvez não conheçam o nome de Jesus, mas sabem em seu coração que precisam de algo que não têm, e se voltam para a única luz que têm, e eu acho que eles são salvos e estarão conosco no céu.

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Schüller, com indisfarçável prazer, questionou o evangelista nesse ponto: “Es-tou ouvindo você dizer que é possível para Jesus Cristo vir à alma, ao coração e à vida dos homens, mesmo que eles tenham nasci-do em trevas e jamais tenham sido expostos à Bíblia. Está correta a interpretação do que você está dizendo?” “Sim, está”, Graham respondeu em tom decidido. A que Schüller exclamou: “Fico muito comovido ao ouvir você dizer isto”.

PORQUE O ENTENDIMENTO DE LLOYD-JONES É DIFERENTE

Lloyd-Jones faleceu em 1981. Foi causa de grande dor para ele que precisamente aquilo contra o que ele havia advertido vinte anos antes estava patentemente acontecendo. Schaeffer sentiu o mesmo. Ele escreveu em 1984: “Qual a vantagem do Cristianismo parecer tão grande e abran-gente se um número suficiente sob o nome de evangélico não mais se atém ao que faz do evangélico um evangélico?”.

Minha posição é que essa “abertura”, introduzida e aplicada de 1950 em diante, levantou uma corrente que seus expoentes jamais anteciparam e que não têm sido capazes de fazer parar.3 Poucos pensaram 3 A conduta do Arcebispo Leighton, no século 17, sugere um paralelo com líderes mais recentes: “O caso de Leighton foi uma

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na década de 60 que trinta anos depois emi-nentes evangélicos chamariam o cabeça da Igreja Católica Romana de “um papa ma-ravilhoso”, ou que uma mensagem do pon-tífice seria lida numa reunião de Graham (em Amsterdan 2000), mas isso aconteceu.

Ele sabia que manter a pureza da fé e nossa própria segurança dela, não é algo que fazemos por nossa própria vontade. Não viemos à fé pela nossa inteligência ou pela nossa própria decisão. É pela iluminação do Espírito Santo que cremos naquilo que cremos. Não é tanto que os cristãos lançaram mão de convicções, mas, antes, que as convicções lançaram mão deles. Isso significa que onde o Espírito é entristecido, as convicções se enfraquecem ou mesmo se perdem. Quando o apóstolo diz: “Mantém o padrão das sãs palavras”, ele imediatamente acrescenta: “Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em vós” (I Tm 1:13, 14). Somos dependentes dele. Horácio Bonnar foi um verdadeiro leitor da Escritura e da História da Igreja quando disse: “Comunhão entre a fé e a descrença deverá, cedo ou tarde, ser fatal para a primeira”. Isto é assim não das muitas ocasiões em que um bom homem ajudou os inimigos, num aparente zelo por Cristo, com base na teoria de que isso lhe parecia quase sadio o suficiente, mas não calculou o efeito de sua ação”. W. G. Blaikie, The Preachers of Scotland (reedição, Edinburgh, Banner of Truth, 2001), p. 146.

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porque o erro é mais poderoso do que a verdade mas, porque se comungamos com os defensores do erro, seremos privados da ajuda do Espírito da verdade. Se não manti-vermos a ortodoxia na palavra, certamente perderemos seu poder.

O ensino errado acerca de Cristo e do evangelho, segundo a Escritura, é mortal-mente perigoso. Deixando os bons motivos, logo estaremos buscando conquistar influ-ência para o evangelho entre aqueles que não são seus amigos, mas quando o fazemos às expensas da verdade, não prosperaremos aos olhos de Deus. Eusébio, o cristão da igreja primitiva, escreveu:

Os apóstolos e seus discípulos tiveram essa cautela de nem mesmo ter comu-nhão, sequer em palavras, com aqueles que mutilavam a Palavra, segundo a declaração de Paulo: “Evita o homem faccioso depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada”.

Para Lloyd-Jones, o aspecto mais per-tur bador do evangelicalismo contempo-râneo foi a falha em depender somente de Deus. Ele creu que se a necessidade do poder do Espírito para o reavivamento da

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igreja tivesse sido posta em primeiro lugar, a tolerância da chamada “abertura” jamais teria ocorrido. Ele temia a existência de um evangelicalismo que buscava influenciar o pensamento do mundo pensando os pen-samentos do mundo e nas estratégias mun-danas. Relacionado a esse mundanismo, em sua mente, estava a pouca atenção que os evangélicos em geral estavam dando à reali-dade demoníaca. A habilidade de discer nir espíritos não era mais tratada como uma necessidade. Assim, no meio de um apa-rente sucesso, as pessoas não mais viam o perigo e não concebiam a possibilidade de que o diabo pudesse se travestir em anjo de luz e participar da renascença evangélica.

À medida que os anos passaram, houve muito mais coisas que deveriam fazer os evangélicos suspeitar de sua abertura otimis-ta e reconhecer o engano que operava no seu meio. Considere estas citações. James Davi-son Hunter, no livro Evange licalism (1987), escreveu acerca dos evangélicos:

É menos afiado, menos ousado e de con-formidade, há um tanto de opacidade em sua visão teológica, a qual não havia nas gerações anteriores (ao menos não na extensão de hoje). Parece que há uma dinâmica operando que atinge o próprio coração da auto-identidade evangélica.

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Comentando sobre o cenário evangélico da década de 1980, o Dr. Carl Henry cria que: “Grandeza numérica se tornou uma epidemia infecciosa”.

Ou, novamente, o Dr. David Wells, referindo-se à aparência da forca evangéli-ca, disse: “A percepção era uma miragem”.

Se essas avaliações não são negadas, elas devem sugerir a influência de quem? Uma estratégia evangélica que pretendia o melhor, mas, ainda assim, em importantes aspectos, acabou sendo o pior, foi, certa-mente, que o evangelicalismo foi afetado por outra influência que não a de Deus. O evangelicalismo estava concentrando de-mais sua atenção em números, em persona-lidades, em publicidade, em organizações, quando, segundo a Escritura, o real conflito não é na esfera do que é visível. O conflito maior é sobrenatural:

Porque nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os do minadores deste mundo tenebroso, contra as forças es-pirituais do mal, nas regiões celestiais (Ef 6:12).

O reconhecimento da presença de Satanás é extremamente importante. Ela mantém diante de nós o fato de que o mal

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não é meramente uma idéia, mas um gran-de poder pessoal. Ensina-nos que os erros em relação ao evangelho não é um engano inocente, mas são enganos demoníacos: há cristos falsos e evangelhos falsos. A exis-tência de Satanás, como dirigente de todos os homens e mulheres não-regenerados, é, também, prova de que a diferença entre cristãos e não-cristãos é absoluta e radical. Não podemos agradar aos homens nem temê-los, diz a Escritura. Por que não? Por uma razão: mesmo se agradarmos aos ho-mens e conquistarmos sua aprovação, ainda assim, nada ganhamos. “Afastai-vos, pois, do homem cujo fôlego está no seu nariz” (Is 2:22). Nenhuma influência, exceto a de Deus mesmo, pode vir ao encontro de nossa situação. Essa é a explicação da conduta de Paulo em Corinto: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de lin-guagem ou de sabedoria” (I Co 2:1).

A ALTERNATIVA POSITIVASeria um grande erro concluir das

minhas referências a Lloyd-Jones que seu papel foi, principalmente, o de um crítico. Pelo contrário, sua maior obra foi apresen-tar uma alternativa positiva à tendência popular. Ele defendeu a idéia de que os evangélicos tinham de escolher entre a

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cooperação ecumênica, por um lado, e, por outro, o isolamento. Outra opção se abriu, e sumamente necessária, isto é, a confiança no poder do evangelho. As igrejas em geral estavam no meio de uma decadência moral e social, a qual eles não tinham poder para alterar. Esse fato não o fez se desesperar, pois sabia que condições igualmente de-ploráveis já haviam ocorrido muitas vezes.

No início do século dezoito, reinava o materialismo, prevalecia a falsa caridade, e a convicção de pecado havia quase desa-parecido. Os Wesleys e George Whitefield enfrentaram essa situação por meio de um retorno direto e corajoso à Escritura. Em vez de buscar o apoio de membros de igreja, eles estavam prontos a permanecer sós, convencidos de que era por causa de uma pregação incrédula que a Igreja e o mundo haviam se misturado. Fizeram da reconquista do evangelho e do significado de ser cristão a grande necessidade. Em vez disso os tornar populares, trouxe-lhes grande oposição da parte dos líderes da Igreja da Inglaterra. William Warburton, Bispo de Gloucester, argumentou com John Wesley: “Por que você fala de sucesso do evangelho na Inglaterra, que já era um país cristão antes mesmo de você nascer?” Ao que Wesley replicou:

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Era mesmo? É, ainda hoje? - Se os homens não são cristãos até que sejam renovados à imagem de Cristo, e se o povo da Inglaterra em geral não é tão re-novado, por que o chamamos de cristão? “O deus deste século cegou seu coração”. Não façamos nada que lhes aumente a cegueira; antes, recuperemo-lo dessa grande ilusão para que não creiam mais numa mentira”.

Depois que Wesley pregou na Univer-sity Church, em Oxford, sobre o assunto “O Quase Cristão”, jamais lhe foi permitido que pregasse ali de novo. Ele demonstrou aos seus ouvintes, naquela ocasião, as marcas do verdadeiro cristão, e, então, an-tecipou a oposição que deveria surgir sobre a relevância das palavras de Paulo ao rei Agripa (At 26:28):

“Oh! Não é este um caso paralelo? Eles eram pagãos, mas eu sou cristão”, alguém diria. Cristão? Você é cristão? Você entende a palavra? Sabe o que é ser um cristão? Se você fosse cristão teria a mente de Cristo; e andaria como ele andou - você é interior e exteriormente santo? Temo que nem mesmo exterior-mente.

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Esse era o tema que os evangélicos en-fatizavam constantemente e em todos os lugares no reavivamento do século dezoito. Criam que a maior parte do clero havia caído sob a mesma condenação dos falsos profetas aos quais Deus disse: “Visto que com falsidade entristecestes o coração do justo, não o havendo eu entristecido, e for-talecestes a mão do perverso para que não desviasse do seu mau caminho e vivesse...” (Ez 13:22). Seus oponentes disseram deles: “Sua doutrina é muito ‘fechada’; eles tor-nam o caminho para o céu muito estreito”. Sobre essas palavras, Wesley fez este im-portante comentário: “Essa é, na verdade, a objeção original (e foi quase que a única por algum tempo) que, veladamente, está no fundo de outras milhares que aparecem de diversas formas”.

No mesmo espírito, Whitefield disse ao Bispo de Londres que ele estava tratando cristãos nominais como se estivessem num “estado de imperfeição” quando, na verda-de, eles não estavam sequer num “estado de cristianismo”.

O ministério do Dr. Lloyd-Jones exem-plificou essa mesma aproximação. Ele sabia que o progresso de hoje não é obstruído por um novo e singular problema a que uma aderência à Escritura não possa responder. O maior problema em cada era é que “o

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homem natural não discerne as coisas do Espírito de Deus”. A primeira necessidade dos homens e mulheres hoje é exatamente a mesma da era apostólica ou dos dias de Whitefield e Wesley: é a necessidade da regeneração. A natureza humana é envolvi-da em trevas espirituais mortais que nada, senão o Espírito de Deus, pode remover. Quando essa convicção prevalece, então a questão de como a oposição à verdade evangélica deve ser tratada assume uma resposta diferente:

Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação Sai-lhes o espírito e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia, perecem todos os seus desígnios. Bem aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio (Sl 146:3-5).

CONCLUSÕESJulgar situações principalmente pela

aparência das coisas é sempre perigoso. A opinião evangélica nesses últimos cin-qüenta anos tem sido grandemente in-fluenciada pelo que os homens crêem que vêem - números, personalidades atraentes, “reavi vamento” carismático, a amabilidade da nova política católico-romana, “muitos católicos romanos são cristãos verdadeiros”

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etc. Mas é a Escritura e não aquilo que se observa que é a regra de fé. Nosso próprio coração e nosso mesmo entendimento dos eventos não oferecem orientação segura. “Não julgueis segundo a aparência, e sim a reta justiça” (Jo 7:24). “Há caminho que para o homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte” (Pv 14:12). O argumento do sucesso aparente ou da popularidade é especialmente perigoso. A maioria religiosa, geralmente, usa palavras tais como as que a personagem de Bunyan, “Mr. By-endes” (Sr. Pelos-fins) descreve os fiéis:

Eles se dispõem a conservar suas noções ainda que todos os homens estejam con-tra eles; mas eu sou a favor da religião naquilo que, e enquanto, os tempos e minha segurança puderam suportar. Eles são a favor da religião mesmo quando em trapos e desdém, mas ou sou a favor daquele que anda de sapatos de prata, à luz do sol e com aplauso.

Nossa única segurança é a real e contí-nua comunhão com Cristo. A crença certa é essencial, mas não é o bastante. Podemos ser ortodoxos e ainda ser orgulhosos, frios e descuidados. Milhares de tentações nos rodeiam e, deixadas para que as enfrente-

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mos sós, qualquer delas será suficiente para nos derrubar. A autoconfiança é o maior perigo. “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (I Co 10:12). O único lugar seguro para se viver, onde podemos ter a segurança da presença de Deus, é o “vale da humilhação”, onde, diz Bunyan, o menino pastor canta:

Não teme a queda quem está embaixoNem o orgulho aquele que é humilhado.O homem que é humilde terá sempreO Senhor nosso Deus como seu guia.

Mas o homem para quem eu olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra (Is 66:1).

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Comentários de Resenhas sobre o livro EVANGELICALISMO DIVIDO:

O livro é daqueles que se vira as páginas sem parar, da primeira à última... Fiquei me per-guntando: “Será que os últimos cinqüenta anos viram os evangélicos abrirem tanto o caminho a ponto de tornar a mensagem cristã compro-metida e incerta?”.

Peter Breckwoldt, Church of England Newspaper

A crítica de Murray é do tipo revelador e dev-astador. Os ícones do evangelismo moderno são mostrados como quedados em estratégias egrégias que têm enfraquecido o cerne da fé evangélica. As pontes cons truídas para alcançar as denominações princi pais se tornaram uma avenida de mão dupla pela qual aqueles que procuram influenciar os liberais acabam eles mesmos influenciados.

R. C. Sproul, Table Talk

Nomes não são importantes… O que é im-portante é a avaliação da má estratégia. Mur-ray focaliza a estratégia adotada por uma orga nização evan gelística americana e por um segmento do partido evangélico da Igreja da Inglaterra. Ambos decidiram alcançar um maior número de ouvintes por meio do esta-belecimento da paz com os não-evangélicos. O preço dessa paz foi que os evangélicos tiveram de deixar de enfatizar suas diferenças com os outros ramos do cristianismo. Tiveram de con-ceder que as posições deles eram apenas “um

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ponto de vista a mais” a respeito das questões.Mark R. Talbot, Modern Reformation

Evangelicalismo Dividido é um grande livro, e todos que se preocupam com o dilema do evange licalismo – na verdade, com o futuro do Cristianismo − se beneficiarão grandemente fa-miliarizando-se com a informação nele contida.

Larry Pettergrew, Master’s Seminary Journal

Evangelicalismo Dividido é leitura importante para evangélicos professos que desejam enten-der a recente história [do evangelicalismo]. Não é, certamente, a história do evangelicalismo.

Tom Wells, Reformation Today

Murray apresenta um argumento convincente com evidência coerente. Sua habilidade de con-centrar na totalidade do quadro, sem ignorar detalhes necessários, assegura que ele conduza consigo o leitor. Não há dúvida de que haverá leitores deste livro que não aceitarão algumas de suas conclusões, mas a tese geral permanece firme. Este livro é, provavelmente, um dos mais importantes livros de história da igreja publi-cados em 2000 e cada líder de igreja deve lê-lo.

Bryan Talbot, Scottish Baptist Website

A análise surpreendente de Iain Murray acerca da deriva do evangelicalismo moderno é tanto informativa quando cheia de insight. Compar-tilho suas preocupações. Aprecio também sua coragem e clareza. Esta é uma palavra neces-sária de exortação à igreja de nossa geração. É um dos melhores e mais elucidativos livros que

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tenho lido recentemente.Dr. John F. MacArthur

É um aviso vital, e o evangelicalismo britânico deve prestar atenção.

John Benton, Evangelicals Now

Longe de ser um trabalho meramente aca-dêmico, é escrito com uma preocupação genu-inamente pastoral. Finda com seis con clusões:

• É difícil consertar uma falta sem correr para o extremo oposto.• Muito da confusão que divide os evan-gélicos se reporta à questão: “Quem é um cristão?”.• A Igreja não pode proceder como os par-tidos políticos.• Diferenças sérias e controvérsias podem surgir entre cristãos.• É duro, para os líderes, olhar para diferen-tes direções ao mesmo tempo.• As lutas e esperanças dos cristãos não devem ser entendidas em termos presentes e temporais.

Grace Magazine

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