a crise do amor romântico na contemporaneidade
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15/03/2015 A Crise do Amor Romântico na Contemporaneidade
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Webartigos.com Publicação de artigos e monografiasTítulo: A Crise do Amor Romântico na ContemporaneidadeAutor(a): Karla RolimEndereço da publicação: http://www.webartigos.com/artigos/acrisedoamorromanticonacontemporaneidade/21686/
Publicado em 20 de julho de 2009, às 00h00min em Psicologia
A Crise do Amor Romântico na ContemporaneidadeKarla Salgado Rolim Rodrigues*
Maria Inês Detsi de Andrade Santos Dra.**
RESUMO
Pesquisa bibliográfica cujo objetivo tem como escopo uma reflexão sobre a crise do amor romântico na
contemporaneidade. Para tal, adota uma perspectiva histórica juntamente com uma análise da problemática
atual das relações amorosas. Discutemse questões associadas às relações entre homens e mulheres, as
quais são vistas numa nova versão social. Dividido em quatro seções, o artigo iniciase pelo amor
romântico, seguido do relacionamento na perspectiva de gênero, continua com a crise desse tipo de amor e
as novas formas de amar e, enfim, ressalta as modernas formas de vínculo entre homens e mulheres e a
ambigüidade desse fenômeno.
Palavraschave: Reflexão. Contemporaneidade. Relações amorosas. Fenômeno.
ABSTRACT
Literal research whose purpose is to scope a reflection on the crisis in the contemporary romantic love. To
this end, adopts a historical perspective along with an analysis of current problems of love relationships. It is
a discussed issues related to relations between men and women, who are seen in a new version. Divided
into four sections, the article starts by the romantic love, followed by the perspective of gender relations, the
crisis continues with this kind of love and new forms of love and, finally, highlights the modern forms of
relationship between men and women and the ambiguity of this phenomenon.
Key word: Reflection. Contemporary. Love relationships. Phenomenon.
A CRISE DO AMOR ROMÂNTICO NA CONTEMPORANEIDADE
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2.O amor romântico e sua especificidade histórica. 3.Relacionamento amoroso na
perspectiva de gênero. 4. A crise do amor romântico e as novas formas de amar. 5. Considerações Finais.
Referências.
1 INTRODUÇÃO
O amor costuma ser visto como um sentimento natural, espontâneo e universal. Estudos, porém, nos
esclarecem sobre sua condição histórica. Os seres humanos têm a capacidade de criar laços, demonstrar
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afeto, de amar. Mas o que chamamos de amor não existiu desde sempre, tampouco está presente em
todos os contextos. Por ser histórico, o amor é uma construção social, e varia de forma, de significado e de
valor. Assim como todas as culturas elegem suas formas de viver, de sofrer, de gozar, de morrer, também
elegem suas formas de amar.
Neste artigo propõese a discutir questões associadas às relações entre homens e mulheres, a partir de
uma pesquisa bibliográfica. Nossa análise adota uma perspectiva histórica, tomando a relação amorosa
como um fenômeno social.
A pertinência dessa reflexão decorreu da observação, em nossa área profissional, e mesmo na vida
cotidiana. Impulsionadas por esta experiência, permitimonos falar sobre a problemática das relações
amorosas no contexto atual.
Por ordem metodológica, o artigo está dividido em quatro seções. Na primeira, intitulada de o amor
romântico e sua especificidade histórica, discorremos sobre o modelo de amor que tem servido de
referência às relações afetivas entre homens e mulheres, apontando suas raízes históricas, especificidades
e implicações para a vida. Na segunda seção, relacionamento amoroso na perspectiva de gênero,
procuramos refletir a respeito dos diferentes lugares e representações do masculino e do feminino no
decorrer da história e sua relação com o contexto social. Na terceira, a crise do amor romântico e as novas
formas de amar, tratamos dos acontecimentos ocorridos que produziram mudanças, e as novas
necessidades no concernente aos papéis anteriormente inquestionáveis. Na quarta e última seção,
considerações gerais, destacamos as novas formas de vínculo entre os homens e as mulheres e a
ambigüidade existente nesse fenômeno da atualidade.
2O AMOR ROMÂNTICO E SUA ESPECIFICIDADE HISTÓRICA
Nas sociedades ocidentais, desde o século XVIII, o modelo de amor predominante na esfera das relações
entre homens e mulheres é o "amor romântico". Antes, porém, de definilo falaremos brevemente sobre
outras formas de amor que precederam o amor romântico, como o amor cortês e o amour passion.
Também chamado de amor de cavalaria, o amor cortês prevaleceu inicialmente no século XII, e se
caracterizava por um jogo entre um homem e uma mulher. A mulher devia ser uma dama casada e o
homem, um celibatário que se interessava por ela[1]. Nesta época, a mulher não dispunha livremente do
seu corpo, o qual pertencia primeiramente ao seu pai e, depois, ao seu marido.
Os homens esperavam pelos favores advindos dessas damas, e tais favores eram concedidos em etapas:
primeiro ela se deixava abraçar, depois se deixava beijar. Estes homens continham seus ímpetos, pois
deveriam manter o controle sobre seu corpo. Desse modo, esta situação se arrastava indefinidamente.
Então, o homem desejava e esperava. Seu prazer atingia o clímax neste desejo, tornando o amor cortês
onírico, ou seja, um sonho. O amor cortês serviu, então, para a consolidação de uma moralidade, fundada
em duas virtudes: moderação e amizade. Decididos a servir esta "amiga", os cavaleiros esqueciam de si
próprios, eram fiéis, abnegados e mantinhamse a seu serviço; em síntese, tornavamse seus vassalos.
Outro modelo de amor que precedeu o amor romântico foi o denominado amour passion. Este era
caracterizado por uma urgência que colocava os amantes à parte das rotinas da vida cotidiana. O
envolvimento emocional com o outro era invasivo, especificamente perturbador das relações pessoais e
gerava uma propensão às opções radicais e aos sacrifícios. Por estas razões, encarado sob o ponto de
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vista da ordem e do dever sociais, ele era perigoso.
A qualidade do amour passion é que ele colocava à parte as instituições existentes, introduzindo nos laços
emergentes a questão da liberdade e da autorealização. Contudo, "o amor apaixonado tem sido sempre
libertador, mas apenas no sentido de uma quebra da rotina e do dever" (GIDDENS,1993, p. 50).
Historicamente, o amor romântico começou a existir no século XVIII. Tal modelo de amor dá sustentação
ideológica ao casamento monogâmico e à família nuclear burguesa. Ele possui pressupostos, a exemplo da
complementaridade entre os gêneros, fidelidade mútua, atração sexual, reciprocidade e a intenção de
constituir família e perpetuála.
O amor romântico utilizase de ideais cristãos como o altruísmo e a compaixão, e incorpora também
elementos do amour passion. Apesar disso, tornouse distinto deste. Segundo Giddens (1993), o amor
romântico rompe com a sexualidade livre do amor apaixonado, embora a abarque; nele "a virtude" assume
um novo sentido para ambos os sexos, não mais significando apenas inocência, mas qualidade de caráter
que distingue a outra pessoa como "especial". Conforme se considera, o amor romântico gera atração
instantânea ("amor à primeira vista"), um processo que torna a vida do sujeito "completa", e se coloca
totalmente separado das compulsões sexuais/eróticas do amor apaixonado.
Ao longo do tempo, a idéia de uma narrativa para uma vida individual passou a ser introduzida com o
estabelecimento do romance.[2] Este, cada vez mais, tornavase individualizado com novas idéias
associando amor com liberdade, considerandoos aspectos desejáveis. Nesse período, percebese forte
cisão entre o ocorrido na esfera do privado, onde havia a experimentação e o trasbordamento dos desejos, e
na esfera do público, onde o amor estava preso às regras da sociedade e ao bem do cidadão democrático e
cristão.
O amor romântico quando se estabilizou como norma de conduta emocional na Europa, respondeu anseios
de autonomia e felicidade pessoais inequivocamente criativos e enriquecedores. Sua íntima associação
com a vida privada burguesa o transformou em um elemento de equilíbrio indispensável entre o desejo de
felicidade individual e o compromisso com os ideais coletivos. (COSTA, 1998, p. 19).
De acordo com Giddens (1993), a idéia do amor romântico está relacionada a vários fatores: à criação do
lar, à modificação nas relações entre pais e filhos, e à chamada "invenção da maternidade". Todos estes
elementos foram integrantes do amor romântico, e afetaram as mulheres, modificando seu papel e status na
família.
Ainda como afirma Giddens (1993), o período vitoriano, "repressivo" em relação à criação e interação entre
pais e filhos, foi alterado e declinou o modelo patriarcal no meio doméstico, a partir do final do século XIX.
Esse domínio direto do homem sobre a família, abrangente quando ele era o centro do sistema de produção,
enfraqueceu com a separação entre o lar e o local de trabalho.
Da mesma forma, o controle das mulheres sobre a criação dos filhos aumentou à medida que o tamanho
das famílias se reduzia, e as crianças passaram a ser identificadas como vulneráveis. Ante esta
vulnerabilidade, elas precisavam de um treinamento emocional a longo prazo. Sobre o assunto, Mary Ryan
(1981 apud GIDDENS, 1993, p. 53) declara que a família deslocouse "da autoridade patriarcal para a
afeição maternal".
O amor romântico era essencialmente um amor feminilizado. As idéias sobre esse amor estavam
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claramente associadas à subordinação da mulher ao lar e ao seu relativo isolamento do mundo exterior.
Mas o desenvolvimento dessas idéias foi também uma expressão do poder das mulheres, uma asserção
contraditória da autonomia diante da privação. (GIDDENS, 1993, p. 54).
Para os homens, as tensões do amor romântico eram tratadas separandose o conforto do ambiente
doméstico e da sexualidade asséptica da amante ou do sexo transgressor da prostituta. O cinismo
masculino em relação ao amor romântico foi prontamente amparado por esta divisão, que não aceitava a
feminilização do amor "respeitável".
Ao se referir à importância adquirida pelo amor nas sociedades ocidentais, a partir da instituição do amor
romântico, Costa (1998) afirma que o amor se tornou fantasmagoricamente onipotente, onipresente e
onisciente, deixando de ser um meio de acesso à felicidade para tornarse seu atributo essencial. Segundo
ele, determinados fatores podem explicar esse fenômeno, tal como a perda de interesse pela vida pública,
praticamente reduzida a questões de mercado, voltando o sujeito para a vida privada, exaltando as
expectativas amorosas.
Podemos também supor que a liberação e a emancipação das chamadas minorias sexuais trouxe, para
muitos, a esperança de realização amorosa, aumentando, assim, o investimento afetivo do amor. Podemos,
enfim, imaginar que sem a força dos meios tradicionais de doação de identidade família, religião,
pertencimento político, segurança de trabalho, apreço pela intimidade, pudor moral etc. restou aos
indivíduos a identidade amorosa, derradeiro abrigo num mundo pobre em ideais de Eu. (COSTA, 1998, p.
1920).
Para este autor, o amor romântico não é apenas uma coleção de invenções sentimentais; é uma mistura de
ilusão e realidade, de ganhos e perdas, de avanços, paradas e recuos no campo das relações humanas. E
ainda como afirma, homens e mulheres se inclinam naturalmente uns para os outros tirando partido dessa
inclinação para criar filhos, organizar a família e criar em seu interior o sentimento de cidadania, isto é, o
casamento como modo de atenuar a lascívia que corrompia as almas; o que os poetas e pensadores do
amor cortês desprezavam e julgavam desnecessário para a existência da experiência amorosa, do
casamento e da família seria o lugar do apogeu do amor.
3RELACIONAMENTO AMOROSO NA PERSPECTIVA DE GÊNERO
O amor romântico tem sido o modelo mais adequado à estrutura do casamento e da família de moldes
burgueses. Estas instituições, por sua vez, apresentam especificidades quanto aos papéis e atributos de
gênero, definindo uma relação hierarquizada e lugares diferenciados para homens e mulheres, na família e
na sociedade.
Para podermos refletir sobre o relacionamento amoroso sob a perspectiva de gênero, faremos uma breve
incursão em autores que procuram explicar essa questão.
De acordo com Durham (1983 apud SANTOS, 2002, p.10),
todas as sociedades humanas conhecidas possuem uma divisão sexual do trabalho, uma diferenciação de
papéis femininos e masculinos que encontram na família sua manifestação privilegiada.
Nessa divisão de tarefas ocorrem formas próprias do que deveriam ser atividades exercidas pelo masculino
e pelo feminino, variando de uma sociedade para outra. Variam também concepções a respeito da
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maternidade e da paternidade, bem como a compreensão do público e do privado. Nas palavras de Durham
(1983 apud SANTOS, 2002, p. 10),
Os mesmos aspectos universais da divisão sexual do trabalho podem estar associados a concepções que
atribuem às mulheres em geral um grande apetite sexual, ou, ao contrário, uma tendência à frigidez; pode
se ver as mulheres como seres frágeis e irresponsáveis ou como confiáveis bestas de cargas; ao passo
que uma sociedade as define incapazes para as atividades comerciais, outras lhes atribuem uma habilidade
natural para os negócios; finalmente, varia enormemente o grau de autonomia, independência e iniciativa
que lhes é permitido emsociedades diversas e atividades diferentes.
Conforme podese perceber, os diferentes lugares, atributos e representações do masculino e do feminino
atestam a condição histórica de gênero e, portanto, sua relação com o contexto social.
Como consta em Pinheiro (1980), nas sociedades ocidentais nas quais predominava a ordem patriarcal, o
que prevalecia era o mundo do homem por excelência. Crianças e mulheres não passavam de seres
insignificantes e amedrontados, cuja maior aspiração eram as boas graças do patriarca. Nesse universo
masculino, os filhos mais velhos também desfrutavam imensos privilégios, especialmente em relação a
seus irmãos. E os homens em geral dispunham de infinitas regalias, a começar pela dupla moral vigente,
que lhes permitia aventuras com criadas e exescravas, desde que fosse guardada certa discrição,
enquanto às mulheres tudo era proibido, desde que não se destinassem à procriação. O homem que se
prezasse também era bemfalante e sua oratória compunha a personalidade masculina assim como o
fraque, o chapéucoco, o cravo na lapela e o soberbo bigode. Tudo isso acompanhado de um título de
doutor.
Apesar de todas as conquistas, segundo constata Santos (2002), nem mesmo as profundas mudanças
sofridas pelas sociedades ocidentais, nos últimos séculos, foram capazes de modificar de forma mais
radical as representações em torno do masculino e feminino. Este fato é atribuído ao papel socializador das
diversas instituições sociais, por meio das práticas de normalização da conduta individual, e aos
especialistas da produção simbólica, com sua definição e redefinição dos modelos e papéis de gênero.
Evidenciamse diferenças entre o masculino e o feminino, sobretudo em termos da experiência, da criação e
da educação. Estas diferenças entre as relações de gênero surgem logo no nascimento, desde a forma de
educação para meninos e meninas na família, o modo de vestir, como agir, a proibição ou incentivo para
jogos, brincadeiras, até as proibições quanto ao comportamento considerado inadequado a cada um dos
sexos.
Entre as diferenças encontradas em relação ao masculino e ao feminino, os homens, assim como as
mulheres, apaixonamse e apaixonaramse ao longo de todo o passado documentado de maneira distinta.
Segundo Giddens (1993), os homens muito influenciados por idéias de amor foram isolados da maioria
como sendo "românticos", em um sentido peculiar desse termo. Eles sucumbiram ao poder feminino e
abandonaram, assim, a divisão entre mulheres imaculadas e impuras, tão central à sexualidade masculina.
Apesar disso, o romântico não tratava as mulheres como iguais. Ele era o escravo de uma mulher particular
(ou de várias mulheres em seqüência) e construía sua vida em torno dela; mas sua submissão não era uma
atitude de igualdade. Embora as ligações entre o amor romântico e a intimidade tenham sido suprimidas, o
apaixonarse permaneceu intimamente vinculado à idéia de acesso a mulheres cuja virtude ou reputação era
protegida até que pelo menos uma união fosse santificada pelo casamento.
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Vários estudiosos discutiram as relações de gênero no casamento. Ao se referir ao assunto, Luz (1982)
assim se pronuncia: a imagem do modelo de casal que se estrutura no século XIX é formada pela ideologia
romântica da "paixão", do amor "eterno", "verdadeiro", e se possível, "único": o casamento é para sempre, e
sua sede é o lar. O casamento é um lugar de poder e hierarquia; o papel do homem provedor que tem o
controle de tudo que acontece e no concernente à mulher, o "sacrifício" e a "renúncia" são virtudes
associadas ao casamento, as quais, a partir de então, se desenvolvem.
Porém, como segue afirmando Luz (1982), a mulher casada vai se apropriando do seu poder por meio do
papel de esposa, mãe, da gestão da casa, dos filhos (dos seus comportamentos, atitudes e mesmo
sentimentos) e da afetividade.
Esse poder apropriado pela mulher somente com o casamento foi fortalecido com o ingresso dela no
mercado de trabalho. Em relação às necessidades de produção, foi preciso acontecer as duas guerras
mundiais para a convocação das mulheres à entrada no mercado de trabalho, antes reservado somente às
proletárias. Também foi fundamental a passagem do capitalismo a uma fase monopolista marcante, quando
passaram a ter mais importância a habilidade e a eficácia em oposição à força ou sexo. Além disso, o
trabalho feminino possui vantagem adicional em relação ao masculino, pois mesmo com tanta ou mais
produtividade que o trabalho masculino sempre foi mais barato, por ser mais desqualificado. Desqualificação
essa considerada política por servir às políticas de gestão do trabalho industrial pelo capital desde o início
do século XIX.(LUZ, 1982).
Luz (1982) afirma ainda o seguinte: após a guerra houve um movimento de "não retorno aos lares", levando
as mulheres de todas as classes a invadir o domínio público, antes reservado exclusivamente aos homens.
Com a penetração da mulher no domínio público, ocorreram repercussões políticas, tanto no lar (privado),
como no Estado (público). Desse modo, houve o desequilíbrio da situação anterior, pois antes o homem
"comandava" o lar porque o sustentava, embora não tivesse a gestão deste. A mulher passou a sustentar o
lar, também no intuito de dividir o comando.
Não apenas as questões econômicas provocaram essa situação, mas mudaram as condições políticas do
final do século XIX em diante. Os direitos da cidadania se ampliaram, as lutas operárias levaram a um
conjunto de conquistas a nível das relações de produção e representação partidária, na maioria dos países
capitalistas. (LUZ, 1982, p. 8).
4 A CRISE DO AMOR ROMÂNTICO E AS NOVAS FORMAS DE AMAR
No final do século XIX, início do século XX, as mulheres começaram a questionar seus próprios direitos,
como o direito de cidadania e a questão da igualdade no trabalho/salário. Aqui surge o movimento feminista
e sua luta pelo direito a voto, instrução, regulamentação do trabalho feminino, pela fundação de creches,
etc. (LUZ, 1982).
Até então, não havia questionamento no referente ao lar, à maternidade, ao casamento e às relações
homemmulher. Somente no início dos anos cinqüenta é que as mulheres começaram a rever as
instituições do "lar" e da "maternidade" nas sociedades capitalistas. Elas passaram a exigir o divórcio, a
legalização do aborto, a utilização de contraceptivos e a liberdade para ter relações independentemente do
casamento (LUZ, 1982).
Nos últimos trinta anos, com esses novos acontecimentos, as mulheres passaram a estudar nas
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universidades, a trabalhar. Portanto, não dependem mais exclusivamente do homem para sobreviver. Elas
começaram a ter um comportamento de desafio e de competição diante do homem, contraditoriamente
mesclado com a submissão. Diante desta nova realidade, as relações entre homem e mulher começaram a
entrar em crise, gerando um tipo de "implosão" no lar.
Perdendo funções econômicas e políticas reais, o lar, a família, o casamento e a maternidade passam a ter
funções mais ideológicas: de "imagens" de homem e de mulher, e de suas relações, que não mais se
sustentam no nível da estrutura social. As relações entre homem e mulher entram em crise. Surgem novas
formas de relações, tentativas de se romper este impasse. (LUZ, 1982, p. 10).
Em reforço a estas palavras, segundo a autora, neste período, o surgimento dessas novas características
no comportamento e nas atitudes das mulheres, freqüentemente naquelas que trabalhavam fora, ocasionou
uma mudança significativa na vida, no referente ao casamento, à maternidade, incluindo as relações
homem mulher. A justificativa seria o fato de essas mulheres estarem inseridas no mercado, saindo de
casa para "complementar" a renda da família, ajudando no sustento dos filhos, irmãos, pais e maridos,
sobretudo quando estes, se encontravam desempregados.
Desse modo, as mulheres assumem dupla jornada de trabalho (na produção e no lar), acrescida com os
estudos, a "terceira jornada". Ante tais mudanças, os homens se sentem ameaçados, particularmente com
tamanha gana dessas mulheres diante da nova realidade.
Essas mulheres, então, começam a buscar no companheiro o apoio do qual necessitam para continuar seu
desenvolvimento. Elas querem encontrar na relação a amizade, a divisão de algumas tarefas, pois agora já
sabem, até pelos meios de comunicação de massa, que podem fazer parte da sociedade de consumo, que
o marido pode também ser o amante. Portanto, elas buscam o prazer e querem ser apreciadas, valorizadas
e respeitadas.
Nesta nova realidade, o papel de mãe dos filhos e do marido não é mais suficiente e satisfatório. Como não
encontram a reciprocidade e o apoio pretendidos, começam a buscar outros pares fora do lar. Com o
aumento da insatisfação, vem o divórcio, o desquite, a separação. Muitas vezes, como adverte Luz (1982),
o próprio homem procura nos "casos" uma satisfação para a situação de inferioridade vivida no lar.
Prossegue a autora: assim como as mulheres, os homens também passaram por um casamento de "amor
de juventude", se encaminhando para o propósito de construção de um lar e de uma família. Apesar de
aceitarem a modernização, na maioria das vezes acabam cobrando da mulher uma supereficiência: esta, ao
mesmo tempo em que deve responder aos novos papéis, deve também preencher satisfatoriamente os
antigos (mãe, dona de casa, "esposa", administradora do lar, etc.).
Em relação às novas tarefas desempenhadas pelas mulheres na vida pública, os homens acabam tendo
uma atitude competitiva com suas companheiras, como se fossem ameaçados no seu campo há muito
tempo dominado somente por eles. E também adotam racionalmente uma atitude de "liberação de
costumes", pois pensam estarem prontos para admitir novas experiências sexuais de suas companheiras.
Com esses elementos contraditórios num mesmo casal, percebese a fragilidade da situação (LUZ, 1982).
Diante de todas essas contradições, como Luz (1982) declara, as mulheres se sentem sufocadas,
impedidas de desenvolver suas potencialidades de ser e atuar, e quando não conseguem mais sustentar a
situação explodem. Tal reação é imprevista para os homens e definitiva para as mulheres, que questionam
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não só a estrutura do lar, mas a própria existência do homem como macho e ser humano. E no momento da
dissolução do casamento, da perda da posse dos filhos (quando os tem), da mulher e de todos os projetos
em termos afetivos, este homem, às vezes, começa a pensar, a rever sua vida.
Com o tempo, esses homens que passaram a morar sozinhos, que aprenderam a bastarse a si mesmos, a
cuidar da própria roupa, a decorar sua casa, relutam em assumir um relacionamento estável com outra
mulher, embora não tenham perdido a esperança de constituir um novo lar. Agora buscam não apenas a
companheiramãe, mas a companheiraamigaamante.
Ao conceituar o termo "relacionamento", Giddens (1993) o define como um vínculo emocional próximo e
continuado com outra pessoa. Conforme afirma, esse termo somente chegou ao uso geral em uma época
relativamente recente. Ele utiliza, então, o termo "relacionamento puro" para referirse a uma situação na
qual se entra em uma relação social apenas pela própria relação, pelo que pode ser derivado por cada
pessoa da manutenção de uma associação com outra, e que só continua enquanto ambas as partes
considerarem que extraem dela satisfações suficientes para permanecerem.
E diz que para a maior parte da população sexualmente "normal", o casamento costumava ser desvinculado
da sexualidade. Mas, atualmente, estes dois elementos estão cada vez mais vinculados, por meio do
relacionamento puro. Esse novo tipo de relacionamento é parte de uma reestruturação genérica da
intimidade. Como ressalta o autor, a idéia do amor romântico ajudou a abrir um caminho para a formação de
relacionamentos puros no domínio da sexualidade. A citação a seguir confirma estas palavras:
O relacionamento puro tende a ser, nos dias de hoje, a forma predominante de convívio humano, na qual se
entra "pelo que cada um pode ganhar" e se continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão
proporcionando a cada uma, satisfações suficientes para permanecerem na relação. (BAUMAN, 2004, p.
111).
De acordo com Giddens (1993), atualmente, os ideais de amor romântico tendem a fragmentarse sob a
pressão da emancipação e da autonomia sexual feminina. O conflito entre a idéia do amor romântico e o
relacionamento puro assume várias formas, cada uma delas tendendo a tornarse cada vez mais revelada à
visão geral como resultado da crescente reflexividade institucional[3]. O amor romântico depende da
identificação projetiva[4] do amour passion, como o processo pelo qual os parceiros potenciais tornamse
atraídos, e então unemse. Essa projeção cria uma totalidade com o outro, intensificada pela diferença entre
o masculino e o feminino. Ao mesmo tempo, a identificação projetiva vai contra o desenvolvimento de um
relacionamento cuja continuação depende da intimidade.
Mas a abertura de um parceiro em relação ao outro é a condição para o exercício de um novo modelo de
amor, denominado por Giddens (1993) de amor confluente, considerado, de algum modo, o oposto da
identificação projetiva, mesmo que tal identificação, algumas vezes, estabeleça um caminho até ele. Como
o amor confluente é um amor ativo, contingente, entra em choque com as categorias "para sempre" e
"único", presentes na idéia do amor romântico.
A "sociedade separada e divorciada" dos dias de hoje, aparece aqui mais como um efeito da emergência do
amor confluente do que como sua causa. Quanto mais o amor confluente constituise em uma possibilidade
real, mais se afasta da busca da "pessoa especial" e o que mais conta é o "relacionamento especial"
(GIDDENS, 1993).
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O amor confluente presume igualdade na doação e no recebimento emocionais, e quanto mais for assim, o
laço amoroso mais se aproxima do modelo do relacionamento puro. Desse modo, o amor somente se
desenvolve até o ponto em que se desenvolve a intimidade, até o ponto em que cada parceiro está
preparado para manifestar preocupações e necessidades em relação ao outro e está vulnerável a esse
outro.
Conforme percebese, a dependência emocional, mascarada, dos homens tem aumentado sua propensão e
sua capacidade para se tornarem vulneráveis, resquícios sustentados pelo ethos do amor romântico.
Porém, com o surgimento do amor confluente, é imprescindível a dissolução dessas características
masculinas.
Como ressalta Giddens (1993), o reconhecimento da vulnerabilidade emocional masculina tornouse
evidente a partir do momento em que a proposta dessa nova forma de amar passou a exigir uma
manifestação clara das necessidades do homem e da mulher, na relação, vindo à tona o que antes não era
explicitado.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao discutirmos a crise do amor na contemporaneidade, percorremos um caminho histórico, desde o amor
romântico ao relacionamento amoroso na perspectiva de gênero; passamos pela crise do amor romântico,
com suas variadas versões, até chegarmos às novas formas de vínculo entre os homens e as mulheres e a
ambigüidade hoje existente nesse fenômeno.
Nestas considerações gerais, discutiremos sinteticamente estas novas formas de vínculo entre homens e
mulheres como expressão atual do fenômeno. Para isto nos valeremos de Salem (1987), o qual, em sua
pesquisa sobre as novas formas de se relacionar, destaca uma modalidade ideal de relação conjugal que
começa a adquirir forma na atualidade, por ela designada de casal igualitário. A idéia é de uma parceria
composta de duas unidades fundadas em elos subjetivos e não de injunções sociais ou laços sociológicos.
Tal qualidade manifestase, primeiramente, na crença segundo a qual o casal não deriva sua realidade dos
grupos a que cada cônjuge pertence. Ao invés, esta é instituída pelo desejo dos sujeitos.
Neste caso, o laço conjugal é entendido como suficientemente forte e autoreferido a ponto de isolar a
parceria no campo das relações familiares, remetendo para a pressuposição de que essa parceria deve
estar dotada de uma identidade interna mais forte do que aquela que vincula cada um dos seus membros
aos respectivos núcleos de origem. O casal percebese como fundado em um vínculo afetivo e psicológico.
Tudo se passa como se os parceiros, como unidade, transpusessem o reino do parentesco e ingressassem
em um domínio onde só prevalecessem relações de escolha.
Complementarmente Salem (1987) afirma ser o vínculo marital tido como mais fundamental e estreito que
qualquer outro. Num universo onde o dispositivo da escolha ou do desejo desponta como chave, o valor
imputado aos laços conjugais suplanta os de sangue. Esse vínculo afetivo também pressupõe algo mais
que relações de amizade: o companheirismo é qualidade necessária, mas não suficiente para a constituição
do casal, o qual ainda prescreve exclusividade em algum plano.
O sentido de completude atribuído à união marital impregna os casais ditos modernos, e sua maior
propensão a desfazer casamentos (e a buscar outros, notese bem) não contradita, mas, pelo contrário,
reitera a incessante busca da completude. Como sugere o autor, é precisamente na incansável perseguição
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desse ideal que se fundamenta sua vulnerabilidade: o casal convertese em uma unidade tão
sobrecarregada de sentidos e de expectativas que não é de todo surpreendente estar nele a alta
probabilidade de implosão.
Além disso, de acordo com Salem (1987), o estreitamento das fronteiras entre o feminino e o masculino
anunciase, ainda, na maneira coincidente como ambos os gêneros lidam com a questão dos sentimentos.
E prossegue: se consentirmos que o feminino está usualmente associado à emoção e à expressão desta, a
conclusão por uma "feminização do masculino" não é improcedente. Efetivamente, a externalização dos
sentimentos por parte dos homens, mais do que legítima, tem ultimamente se constituído em um dever
moral, e uma tendência a vasculharse mostrase tão intensa neles quanto em suas parceiras.
Ao transpormos essas idéias para o plano da questão de gênero, devemos ter em mente que o valor da
igualdade não postula serem homem e mulher substancialmente iguais. Ele postula, antes, uma
ambigüidade dos seus atributos, bem como dos seus respectivos domínios. Decorre exatamente dessa
indiferenciação valorativa do feminino e do masculino o encorajamento para que cada gênero ingresse e
experimente, concreta ou simbolicamente, o universo, e até mesmo, eventualmente, a identidade do outro
(SALEM,1987).
Ressalta este autor a existência de um movimento de simbiose e de individualização na relação. Neste
ponto reside o grande dilema, senão paradoxo, do casal igualitário. As mazelas da simbiose ou da paixão
tematizam a questão de como garantir a formação de uma unidade sem que os sujeitos se diluam na fusão
total. Se houver a capacidade de desfazer a "simbiose", ou seja, a unidade dada e "natural", o casal
igualitário enfrenta o desafio de instaurar uma configuração na qual o preceito da "individualização" é
inclusive afirmado como requisitopara a preservação da unidade como tal.
Mais ainda: a expectativa de um máximo de fragmentação convive, no limite, com a expectativa de um
máximo de junção.Não obstante, reside aí o maior embaraço desse projeto: o limite entre, de um lado,
respeitar o movimento do outro, suas diferenças e singularidades e, de outro, continuar a concebêlo como
par é, por vezes, demasiadamente tênue.
O principal dilema do casal igualitário já dessimbiotizado consiste, em suma, em sondar a magnífica medida
dos movimentos de individualização dos parceiros de tal modo que eles não redundem na fragmentação da
unidade. Isto é, o indivíduo deve ver saciado seu anseio de singularização e de não englobamento pelo
outro e, ao mesmo tempo, deve continuar a se reconhecer na exigência de uma vida compartilhada e de
uma existência comum. Em uma palavra, o desafio é o de, como casal, ser dois e simultaneamente um só.
Essa questão parece constituir seu grande tema e seu maior dilema. Ainda como afirma Salem (1987), o
maior desafio sobre essa modalidade de parceria é o de construir uma "unidade com dois".
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade das relações humanas.Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2004.
BÉDIER, Joseph. O romance de Tristão e Isolda. Tradução de Luís Cláudio de Castro e Costa. SãoPaulo: Martins Fontes, 1988.
COSTA, Jurandir Freire, Sem fraude nem favor: estudos sobre o amor romântico.Rio de Janeiro: Rocco,1998.
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GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: Sexualidade, amor e erotismo nas sociedadesmodernas.São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993.
GRUPO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA FFC.Modernidade e reflexividade:uma leitura da obra de Anthony
Giddens. Revista de Iniciação Científica da FFC (Faculdade de Filosofia e Ciências), Marília SP, v.4,n.1, 2004.
LUZ, Madel Therezinha. O lar e a maternidade: instituições políticas. In: ______. O lugar da mulher. Rio deJaneiro: Gral, 1982.
PINHEIRO, Paulo Sérgio. Coleção nosso século. São Paulo: Abril Cultural, v. 1, 1980.
ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
SALEM, Tânia. O casal igualitário:princípios e impasses. Revista Brasileira de Ciência Sociais. Rio deJaneiro. V. 9, nº 3, 1987.
SANTOS, Maria Inês Detsi de Andrade. O pensar e o agir como possibilidades de desconstrução dos
sujeitos "gendrados". Revista de Humanidades, v. 17, n. 1, p. 173, jan./jul. 2002.
*Graduada em Administração pela Universidade de Fortaleza UNIFOR; Graduada em Psicologia pela
Universidade de Fortaleza UNIFOR. Psicóloga Clínica, com formação em Gestalt Terapia. PósGraduação
em Administração da Organização de Eventos pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Pós
Graduanda em Abordagem Sistêmica da Família pela Universidade de Fortaleza UNIFOR.
** Professora orientadora do Curso de Especialização em Abordagem Sistêmica da Família pela
Universidade de Fortaleza UNIFOR; Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará UFC.
[1]Na Europa prémoderna, a maior parte dos casamentos eram contraídos sobre o alicerce da situação
econômica, não pela atração sexual mútua. Entre os pobres, o casamento era um meio de organizar o
trabalho agrário, tornando improvável uma vida pautada pelo trabalho árduo ser conduzida pela paixão
sexual. Existem relatos entre os camponeses da França e da Alemanha do século XVII sobre a raridade da
afeição física entre os casais casados, ocorrendo freqüentemente ligações extraconjugais masculinas
(GIDDENS, 1993).
[2]No século XIX, a idéia de "romance" assume um novo sentido, contribuindo para mudanças seculares,
afetando a vida social como um todo. A modernidade é inseparável da ascendência da razão, no sentido de
que se supõe que a compreensão racional dos processos físicos e sociais substitui a regra arbitrária do
misticismo e do dogma (GIDDENS, 1993). O romance, afirma Giddens (1993), converteuse em uma via
para o controle futuro, assim como uma forma de segurança psicológica (em princípio) para aqueles cujas
vidas eram afetadas por ele.
[3]Em dois dos seus mais recentes textos As conseqüências da modernidade(1990) e A transformaçãoda intimidade(1992), Giddens (1993) traz uma tese provocativa: vivemos uma época em que os estilos ecostumes, vindos com a modernidade organização social que emergiu na Europa no século XVIII,
encontramse totalmente radicalizados. Assim, as tradições perdem o lugar privilegiado que tiveram em
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épocas prémodernas, em favor daquilo que o autor conceitualiza como "reflexividade institucional".
Institucional, por fazer parte da atividade social na atualidade, e reflexiva porque os termos introduzidos por
determinado discurso acabam por transformar a realidade na qual o próprio discurso é formado; isto traz ao
sujeito a possibilidade de escolher e decidir quanto aos rumos de seu cotidiano, consumo, sexualidade, etc.
(GRUPO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA FFC, 2004).
[4]Expressão introduzida por Melanie Klein para designar um mecanismo traduzido por fantasias em que o
sujeito introduz a sua própria pessoa (his self) totalmente ou em parte no interior do objeto para ferilo, para
o possuir ou para controlálo. O emprego kleiniano da expressão identificação projetiva tem consonância
com o sentido estrito que se tende a reservar, em psicanálise, ao termo "projeção": rejeição para o exterior
daquilo que o sujeito recusa em si (ROUDINESCO, 1997).
Por Karla Rolim
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