a crise do amor romântico na contemporaneidade

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Webartigos.com Publicação de artigos e monografias Título: A Crise do Amor Romântico na Contemporaneidade Autor(a): Karla Rolim Endereço da publicação: http://www.webartigos.com/artigos/acrisedoamorromanticona contemporaneidade/21686/ Publicado em 20 de julho de 2009, às 00h00min em Psicologia A Crise do Amor Romântico na Contemporaneidade Karla Salgado Rolim Rodrigues* Maria Inês Detsi de Andrade Santos Dra.** RESUMO Pesquisa bibliográfica cujo objetivo tem como escopo uma reflexão sobre a crise do amor romântico na contemporaneidade. Para tal, adota uma perspectiva histórica juntamente com uma análise da problemática atual das relações amorosas. Discutemse questões associadas às relações entre homens e mulheres, as quais são vistas numa nova versão social. Dividido em quatro seções, o artigo iniciase pelo amor romântico, seguido do relacionamento na perspectiva de gênero, continua com a crise desse tipo de amor e as novas formas de amar e, enfim, ressalta as modernas formas de vínculo entre homens e mulheres e a ambigüidade desse fenômeno. Palavraschave: Reflexão. Contemporaneidade. Relações amorosas. Fenômeno. ABSTRACT Literal research whose purpose is to scope a reflection on the crisis in the contemporary romantic love. To this end, adopts a historical perspective along with an analysis of current problems of love relationships. It is a discussed issues related to relations between men and women, who are seen in a new version. Divided into four sections, the article starts by the romantic love, followed by the perspective of gender relations, the crisis continues with this kind of love and new forms of love and, finally, highlights the modern forms of relationship between men and women and the ambiguity of this phenomenon. Key word: Reflection. Contemporary. Love relationships. Phenomenon. A CRISE DO AMOR ROMÂNTICO NA CONTEMPORANEIDADE SUMÁRIO: 1. Introdução. 2.O amor romântico e sua especificidade histórica. 3.Relacionamento amoroso na perspectiva de gênero. 4. A crise do amor romântico e as novas formas de amar. 5. Considerações Finais. Referências. 1 INTRODUÇÃO O amor costuma ser visto como um sentimento natural, espontâneo e universal. Estudos, porém, nos esclarecem sobre sua condição histórica. Os seres humanos têm a capacidade de criar laços, demonstrar

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15/03/2015 A Crise do Amor Romântico na Contemporaneidade

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Webartigos.com ­ Publicação de artigos e monografiasTítulo: A Crise do Amor Romântico na ContemporaneidadeAutor(a): Karla RolimEndereço da publicação: http://www.webartigos.com/artigos/a­crise­do­amor­romantico­na­contemporaneidade/21686/

Publicado em 20 de julho de 2009, às 00h00min em Psicologia

A Crise do Amor Romântico na ContemporaneidadeKarla Salgado Rolim Rodrigues*

Maria Inês Detsi de Andrade Santos Dra.**

RESUMO

Pesquisa bibliográfica cujo objetivo tem como escopo uma reflexão sobre a crise do amor romântico na

contemporaneidade. Para tal, adota uma perspectiva histórica juntamente com uma análise da problemática

atual das relações amorosas. Discutem­se questões associadas às relações entre homens e mulheres, as

quais são vistas numa nova versão social. Dividido em quatro seções, o artigo inicia­se pelo amor

romântico, seguido do relacionamento na perspectiva de gênero, continua com a crise desse tipo de amor e

as novas formas de amar e, enfim, ressalta as modernas formas de vínculo entre homens e mulheres e a

ambigüidade desse fenômeno.

Palavras­chave: Reflexão. Contemporaneidade. Relações amorosas. Fenômeno.

ABSTRACT

Literal research whose purpose is to scope a reflection on the crisis in the contemporary romantic love. To

this end, adopts a historical perspective along with an analysis of current problems of love relationships. It is

a discussed issues related to relations between men and women, who are seen in a new version. Divided

into four sections, the article starts by the romantic love, followed by the perspective of gender relations, the

crisis continues with this kind of love and new forms of love and, finally, highlights the modern forms of

relationship between men and women and the ambiguity of this phenomenon.

Key word: Reflection. Contemporary. Love relationships. Phenomenon.

A CRISE DO AMOR ROMÂNTICO NA CONTEMPORANEIDADE

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2.O amor romântico e sua especificidade histórica. 3.Relacionamento amoroso na

perspectiva de gênero. 4. A crise do amor romântico e as novas formas de amar. 5. Considerações Finais.

Referências.

1 INTRODUÇÃO

O amor costuma ser visto como um sentimento natural, espontâneo e universal. Estudos, porém, nos

esclarecem sobre sua condição histórica. Os seres humanos têm a capacidade de criar laços, demonstrar

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afeto, de amar. Mas o que chamamos de amor não existiu desde sempre, tampouco está presente em

todos os contextos. Por ser histórico, o amor é uma construção social, e varia de forma, de significado e de

valor. Assim como todas as culturas elegem suas formas de viver, de sofrer, de gozar, de morrer, também

elegem suas formas de amar.

Neste artigo propõe­se a discutir questões associadas às relações entre homens e mulheres, a partir de

uma pesquisa bibliográfica. Nossa análise adota uma perspectiva histórica, tomando a relação amorosa

como um fenômeno social.

A pertinência dessa reflexão decorreu da observação, em nossa área profissional, e mesmo na vida

cotidiana. Impulsionadas por esta experiência, permitimo­nos falar sobre a problemática das relações

amorosas no contexto atual.

Por ordem metodológica, o artigo está dividido em quatro seções. Na primeira, intitulada de o amor

romântico e sua especificidade histórica, discorremos sobre o modelo de amor que tem servido de

referência às relações afetivas entre homens e mulheres, apontando suas raízes históricas, especificidades

e implicações para a vida. Na segunda seção, relacionamento amoroso na perspectiva de gênero,

procuramos refletir a respeito dos diferentes lugares e representações do masculino e do feminino no

decorrer da história e sua relação com o contexto social. Na terceira, a crise do amor romântico e as novas

formas de amar, tratamos dos acontecimentos ocorridos que produziram mudanças, e as novas

necessidades no concernente aos papéis anteriormente inquestionáveis. Na quarta e última seção,

considerações gerais, destacamos as novas formas de vínculo entre os homens e as mulheres e a

ambigüidade existente nesse fenômeno da atualidade.

2O AMOR ROMÂNTICO E SUA ESPECIFICIDADE HISTÓRICA

Nas sociedades ocidentais, desde o século XVIII, o modelo de amor predominante na esfera das relações

entre homens e mulheres é o "amor romântico". Antes, porém, de defini­lo falaremos brevemente sobre

outras formas de amor que precederam o amor romântico, como o amor cortês e o amour passion.

Também chamado de amor de cavalaria, o amor cortês prevaleceu inicialmente no século XII, e se

caracterizava por um jogo entre um homem e uma mulher. A mulher devia ser uma dama casada e o

homem, um celibatário que se interessava por ela[1]. Nesta época, a mulher não dispunha livremente do

seu corpo, o qual pertencia primeiramente ao seu pai e, depois, ao seu marido.

Os homens esperavam pelos favores advindos dessas damas, e tais favores eram concedidos em etapas:

primeiro ela se deixava abraçar, depois se deixava beijar. Estes homens continham seus ímpetos, pois

deveriam manter o controle sobre seu corpo. Desse modo, esta situação se arrastava indefinidamente.

Então, o homem desejava e esperava. Seu prazer atingia o clímax neste desejo, tornando o amor cortês

onírico, ou seja, um sonho. O amor cortês serviu, então, para a consolidação de uma moralidade, fundada

em duas virtudes: moderação e amizade. Decididos a servir esta "amiga", os cavaleiros esqueciam de si

próprios, eram fiéis, abnegados e mantinham­se a seu serviço; em síntese, tornavam­se seus vassalos.

Outro modelo de amor que precedeu o amor romântico foi o denominado amour passion. Este era

caracterizado por uma urgência que colocava os amantes à parte das rotinas da vida cotidiana. O

envolvimento emocional com o outro era invasivo, especificamente perturbador das relações pessoais e

gerava uma propensão às opções radicais e aos sacrifícios. Por estas razões, encarado sob o ponto de

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vista da ordem e do dever sociais, ele era perigoso.

A qualidade do amour passion é que ele colocava à parte as instituições existentes, introduzindo nos laços

emergentes a questão da liberdade e da auto­realização. Contudo, "o amor apaixonado tem sido sempre

libertador, mas apenas no sentido de uma quebra da rotina e do dever" (GIDDENS,1993, p. 50).

Historicamente, o amor romântico começou a existir no século XVIII. Tal modelo de amor dá sustentação

ideológica ao casamento monogâmico e à família nuclear burguesa. Ele possui pressupostos, a exemplo da

complementaridade entre os gêneros, fidelidade mútua, atração sexual, reciprocidade e a intenção de

constituir família e perpetuá­la.

O amor romântico utiliza­se de ideais cristãos como o altruísmo e a compaixão, e incorpora também

elementos do amour passion. Apesar disso, tornou­se distinto deste. Segundo Giddens (1993), o amor

romântico rompe com a sexualidade livre do amor apaixonado, embora a abarque; nele "a virtude" assume

um novo sentido para ambos os sexos, não mais significando apenas inocência, mas qualidade de caráter

que distingue a outra pessoa como "especial". Conforme se considera, o amor romântico gera atração

instantânea ("amor à primeira vista"), um processo que torna a vida do sujeito "completa", e se coloca

totalmente separado das compulsões sexuais/eróticas do amor apaixonado.

Ao longo do tempo, a idéia de uma narrativa para uma vida individual passou a ser introduzida com o

estabelecimento do romance.[2] Este, cada vez mais, tornava­se individualizado com novas idéias

associando amor com liberdade, considerando­os aspectos desejáveis. Nesse período, percebe­se forte

cisão entre o ocorrido na esfera do privado, onde havia a experimentação e o trasbordamento dos desejos, e

na esfera do público, onde o amor estava preso às regras da sociedade e ao bem do cidadão democrático e

cristão.

O amor romântico quando se estabilizou como norma de conduta emocional na Europa, respondeu anseios

de autonomia e felicidade pessoais inequivocamente criativos e enriquecedores. Sua íntima associação

com a vida privada burguesa o transformou em um elemento de equilíbrio indispensável entre o desejo de

felicidade individual e o compromisso com os ideais coletivos. (COSTA, 1998, p. 19).

De acordo com Giddens (1993), a idéia do amor romântico está relacionada a vários fatores: à criação do

lar, à modificação nas relações entre pais e filhos, e à chamada "invenção da maternidade". Todos estes

elementos foram integrantes do amor romântico, e afetaram as mulheres, modificando seu papel e status na

família.

Ainda como afirma Giddens (1993), o período vitoriano, "repressivo" em relação à criação e interação entre

pais e filhos, foi alterado e declinou o modelo patriarcal no meio doméstico, a partir do final do século XIX.

Esse domínio direto do homem sobre a família, abrangente quando ele era o centro do sistema de produção,

enfraqueceu com a separação entre o lar e o local de trabalho.

Da mesma forma, o controle das mulheres sobre a criação dos filhos aumentou à medida que o tamanho

das famílias se reduzia, e as crianças passaram a ser identificadas como vulneráveis. Ante esta

vulnerabilidade, elas precisavam de um treinamento emocional a longo prazo. Sobre o assunto, Mary Ryan

(1981 apud GIDDENS, 1993, p. 53) declara que a família deslocou­se "da autoridade patriarcal para a

afeição maternal".

O amor romântico era essencialmente um amor feminilizado. As idéias sobre esse amor estavam

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claramente associadas à subordinação da mulher ao lar e ao seu relativo isolamento do mundo exterior.

Mas o desenvolvimento dessas idéias foi também uma expressão do poder das mulheres, uma asserção

contraditória da autonomia diante da privação. (GIDDENS, 1993, p. 54).

Para os homens, as tensões do amor romântico eram tratadas separando­se o conforto do ambiente

doméstico e da sexualidade asséptica da amante ou do sexo transgressor da prostituta. O cinismo

masculino em relação ao amor romântico foi prontamente amparado por esta divisão, que não aceitava a

feminilização do amor "respeitável".

Ao se referir à importância adquirida pelo amor nas sociedades ocidentais, a partir da instituição do amor

romântico, Costa (1998) afirma que o amor se tornou fantasmagoricamente onipotente, onipresente e

onisciente, deixando de ser um meio de acesso à felicidade para tornar­se seu atributo essencial. Segundo

ele, determinados fatores podem explicar esse fenômeno, tal como a perda de interesse pela vida pública,

praticamente reduzida a questões de mercado, voltando o sujeito para a vida privada, exaltando as

expectativas amorosas.

Podemos também supor que a liberação e a emancipação das chamadas minorias sexuais trouxe, para

muitos, a esperança de realização amorosa, aumentando, assim, o investimento afetivo do amor. Podemos,

enfim, imaginar que sem a força dos meios tradicionais de doação de identidade família, religião,

pertencimento político, segurança de trabalho, apreço pela intimidade, pudor moral etc. restou aos

indivíduos a identidade amorosa, derradeiro abrigo num mundo pobre em ideais de Eu. (COSTA, 1998, p.

19­20).

Para este autor, o amor romântico não é apenas uma coleção de invenções sentimentais; é uma mistura de

ilusão e realidade, de ganhos e perdas, de avanços, paradas e recuos no campo das relações humanas. E

ainda como afirma, homens e mulheres se inclinam naturalmente uns para os outros tirando partido dessa

inclinação para criar filhos, organizar a família e criar em seu interior o sentimento de cidadania, isto é, o

casamento como modo de atenuar a lascívia que corrompia as almas; o que os poetas e pensadores do

amor cortês desprezavam e julgavam desnecessário para a existência da experiência amorosa, do

casamento e da família seria o lugar do apogeu do amor.

3RELACIONAMENTO AMOROSO NA PERSPECTIVA DE GÊNERO

O amor romântico tem sido o modelo mais adequado à estrutura do casamento e da família de moldes

burgueses. Estas instituições, por sua vez, apresentam especificidades quanto aos papéis e atributos de

gênero, definindo uma relação hierarquizada e lugares diferenciados para homens e mulheres, na família e

na sociedade.

Para podermos refletir sobre o relacionamento amoroso sob a perspectiva de gênero, faremos uma breve

incursão em autores que procuram explicar essa questão.

De acordo com Durham (1983 apud SANTOS, 2002, p.10),

todas as sociedades humanas conhecidas possuem uma divisão sexual do trabalho, uma diferenciação de

papéis femininos e masculinos que encontram na família sua manifestação privilegiada.

Nessa divisão de tarefas ocorrem formas próprias do que deveriam ser atividades exercidas pelo masculino

e pelo feminino, variando de uma sociedade para outra. Variam também concepções a respeito da

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maternidade e da paternidade, bem como a compreensão do público e do privado. Nas palavras de Durham

(1983 apud SANTOS, 2002, p. 10),

Os mesmos aspectos universais da divisão sexual do trabalho podem estar associados a concepções que

atribuem às mulheres em geral um grande apetite sexual, ou, ao contrário, uma tendência à frigidez; pode­

se ver as mulheres como seres frágeis e irresponsáveis ou como confiáveis bestas de cargas; ao passo

que uma sociedade as define incapazes para as atividades comerciais, outras lhes atribuem uma habilidade

natural para os negócios; finalmente, varia enormemente o grau de autonomia, independência e iniciativa

que lhes é permitido emsociedades diversas e atividades diferentes.

Conforme pode­se perceber, os diferentes lugares, atributos e representações do masculino e do feminino

atestam a condição histórica de gênero e, portanto, sua relação com o contexto social.

Como consta em Pinheiro (1980), nas sociedades ocidentais nas quais predominava a ordem patriarcal, o

que prevalecia era o mundo do homem por excelência. Crianças e mulheres não passavam de seres

insignificantes e amedrontados, cuja maior aspiração eram as boas graças do patriarca. Nesse universo

masculino, os filhos mais velhos também desfrutavam imensos privilégios, especialmente em relação a

seus irmãos. E os homens em geral dispunham de infinitas regalias, a começar pela dupla moral vigente,

que lhes permitia aventuras com criadas e ex­escravas, desde que fosse guardada certa discrição,

enquanto às mulheres tudo era proibido, desde que não se destinassem à procriação. O homem que se

prezasse também era bem­falante e sua oratória compunha a personalidade masculina assim como o

fraque, o chapéu­coco, o cravo na lapela e o soberbo bigode. Tudo isso acompanhado de um título de

doutor.

Apesar de todas as conquistas, segundo constata Santos (2002), nem mesmo as profundas mudanças

sofridas pelas sociedades ocidentais, nos últimos séculos, foram capazes de modificar de forma mais

radical as representações em torno do masculino e feminino. Este fato é atribuído ao papel socializador das

diversas instituições sociais, por meio das práticas de normalização da conduta individual, e aos

especialistas da produção simbólica, com sua definição e redefinição dos modelos e papéis de gênero.

Evidenciam­se diferenças entre o masculino e o feminino, sobretudo em termos da experiência, da criação e

da educação. Estas diferenças entre as relações de gênero surgem logo no nascimento, desde a forma de

educação para meninos e meninas na família, o modo de vestir, como agir, a proibição ou incentivo para

jogos, brincadeiras, até as proibições quanto ao comportamento considerado inadequado a cada um dos

sexos.

Entre as diferenças encontradas em relação ao masculino e ao feminino, os homens, assim como as

mulheres, apaixonam­se e apaixonaram­se ao longo de todo o passado documentado de maneira distinta.

Segundo Giddens (1993), os homens muito influenciados por idéias de amor foram isolados da maioria

como sendo "românticos", em um sentido peculiar desse termo. Eles sucumbiram ao poder feminino e

abandonaram, assim, a divisão entre mulheres imaculadas e impuras, tão central à sexualidade masculina.

Apesar disso, o romântico não tratava as mulheres como iguais. Ele era o escravo de uma mulher particular

(ou de várias mulheres em seqüência) e construía sua vida em torno dela; mas sua submissão não era uma

atitude de igualdade. Embora as ligações entre o amor romântico e a intimidade tenham sido suprimidas, o

apaixonar­se permaneceu intimamente vinculado à idéia de acesso a mulheres cuja virtude ou reputação era

protegida até que pelo menos uma união fosse santificada pelo casamento.

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Vários estudiosos discutiram as relações de gênero no casamento. Ao se referir ao assunto, Luz (1982)

assim se pronuncia: a imagem do modelo de casal que se estrutura no século XIX é formada pela ideologia

romântica da "paixão", do amor "eterno", "verdadeiro", e se possível, "único": o casamento é para sempre, e

sua sede é o lar. O casamento é um lugar de poder e hierarquia; o papel do homem provedor que tem o

controle de tudo que acontece e no concernente à mulher, o "sacrifício" e a "renúncia" são virtudes

associadas ao casamento, as quais, a partir de então, se desenvolvem.

Porém, como segue afirmando Luz (1982), a mulher casada vai se apropriando do seu poder por meio do

papel de esposa, mãe, da gestão da casa, dos filhos (dos seus comportamentos, atitudes e mesmo

sentimentos) e da afetividade.

Esse poder apropriado pela mulher somente com o casamento foi fortalecido com o ingresso dela no

mercado de trabalho. Em relação às necessidades de produção, foi preciso acontecer as duas guerras

mundiais para a convocação das mulheres à entrada no mercado de trabalho, antes reservado somente às

proletárias. Também foi fundamental a passagem do capitalismo a uma fase monopolista marcante, quando

passaram a ter mais importância a habilidade e a eficácia em oposição à força ou sexo. Além disso, o

trabalho feminino possui vantagem adicional em relação ao masculino, pois mesmo com tanta ou mais

produtividade que o trabalho masculino sempre foi mais barato, por ser mais desqualificado. Desqualificação

essa considerada política por servir às políticas de gestão do trabalho industrial pelo capital desde o início

do século XIX.(LUZ, 1982).

Luz (1982) afirma ainda o seguinte: após a guerra houve um movimento de "não retorno aos lares", levando

as mulheres de todas as classes a invadir o domínio público, antes reservado exclusivamente aos homens.

Com a penetração da mulher no domínio público, ocorreram repercussões políticas, tanto no lar (privado),

como no Estado (público). Desse modo, houve o desequilíbrio da situação anterior, pois antes o homem

"comandava" o lar porque o sustentava, embora não tivesse a gestão deste. A mulher passou a sustentar o

lar, também no intuito de dividir o comando.

Não apenas as questões econômicas provocaram essa situação, mas mudaram as condições políticas do

final do século XIX em diante. Os direitos da cidadania se ampliaram, as lutas operárias levaram a um

conjunto de conquistas a nível das relações de produção e representação partidária, na maioria dos países

capitalistas. (LUZ, 1982, p. 8).

4 A CRISE DO AMOR ROMÂNTICO E AS NOVAS FORMAS DE AMAR

No final do século XIX, início do século XX, as mulheres começaram a questionar seus próprios direitos,

como o direito de cidadania e a questão da igualdade no trabalho/salário. Aqui surge o movimento feminista

e sua luta pelo direito a voto, instrução, regulamentação do trabalho feminino, pela fundação de creches,

etc. (LUZ, 1982).

Até então, não havia questionamento no referente ao lar, à maternidade, ao casamento e às relações

homem­mulher. Somente no início dos anos cinqüenta é que as mulheres começaram a rever as

instituições do "lar" e da "maternidade" nas sociedades capitalistas. Elas passaram a exigir o divórcio, a

legalização do aborto, a utilização de contraceptivos e a liberdade para ter relações independentemente do

casamento (LUZ, 1982).

Nos últimos trinta anos, com esses novos acontecimentos, as mulheres passaram a estudar nas

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universidades, a trabalhar. Portanto, não dependem mais exclusivamente do homem para sobreviver. Elas

começaram a ter um comportamento de desafio e de competição diante do homem, contraditoriamente

mesclado com a submissão. Diante desta nova realidade, as relações entre homem e mulher começaram a

entrar em crise, gerando um tipo de "implosão" no lar.

Perdendo funções econômicas e políticas reais, o lar, a família, o casamento e a maternidade passam a ter

funções mais ideológicas: de "imagens" de homem e de mulher, e de suas relações, que não mais se

sustentam no nível da estrutura social. As relações entre homem e mulher entram em crise. Surgem novas

formas de relações, tentativas de se romper este impasse. (LUZ, 1982, p. 10).

Em reforço a estas palavras, segundo a autora, neste período, o surgimento dessas novas características

no comportamento e nas atitudes das mulheres, freqüentemente naquelas que trabalhavam fora, ocasionou

uma mudança significativa na vida, no referente ao casamento, à maternidade, incluindo as relações

homem ­ mulher. A justificativa seria o fato de essas mulheres estarem inseridas no mercado, saindo de

casa para "complementar" a renda da família, ajudando no sustento dos filhos, irmãos, pais e maridos,

sobretudo quando estes, se encontravam desempregados.

Desse modo, as mulheres assumem dupla jornada de trabalho (na produção e no lar), acrescida com os

estudos, a "terceira jornada". Ante tais mudanças, os homens se sentem ameaçados, particularmente com

tamanha gana dessas mulheres diante da nova realidade.

Essas mulheres, então, começam a buscar no companheiro o apoio do qual necessitam para continuar seu

desenvolvimento. Elas querem encontrar na relação a amizade, a divisão de algumas tarefas, pois agora já

sabem, até pelos meios de comunicação de massa, que podem fazer parte da sociedade de consumo, que

o marido pode também ser o amante. Portanto, elas buscam o prazer e querem ser apreciadas, valorizadas

e respeitadas.

Nesta nova realidade, o papel de mãe dos filhos e do marido não é mais suficiente e satisfatório. Como não

encontram a reciprocidade e o apoio pretendidos, começam a buscar outros pares fora do lar. Com o

aumento da insatisfação, vem o divórcio, o desquite, a separação. Muitas vezes, como adverte Luz (1982),

o próprio homem procura nos "casos" uma satisfação para a situação de inferioridade vivida no lar.

Prossegue a autora: assim como as mulheres, os homens também passaram por um casamento de "amor

de juventude", se encaminhando para o propósito de construção de um lar e de uma família. Apesar de

aceitarem a modernização, na maioria das vezes acabam cobrando da mulher uma supereficiência: esta, ao

mesmo tempo em que deve responder aos novos papéis, deve também preencher satisfatoriamente os

antigos (mãe, dona de casa, "esposa", administradora do lar, etc.).

Em relação às novas tarefas desempenhadas pelas mulheres na vida pública, os homens acabam tendo

uma atitude competitiva com suas companheiras, como se fossem ameaçados no seu campo há muito

tempo dominado somente por eles. E também adotam racionalmente uma atitude de "liberação de

costumes", pois pensam estarem prontos para admitir novas experiências sexuais de suas companheiras.

Com esses elementos contraditórios num mesmo casal, percebe­se a fragilidade da situação (LUZ, 1982).

Diante de todas essas contradições, como Luz (1982) declara, as mulheres se sentem sufocadas,

impedidas de desenvolver suas potencialidades de ser e atuar, e quando não conseguem mais sustentar a

situação explodem. Tal reação é imprevista para os homens e definitiva para as mulheres, que questionam

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não só a estrutura do lar, mas a própria existência do homem como macho e ser humano. E no momento da

dissolução do casamento, da perda da posse dos filhos (quando os tem), da mulher e de todos os projetos

em termos afetivos, este homem, às vezes, começa a pensar, a rever sua vida.

Com o tempo, esses homens que passaram a morar sozinhos, que aprenderam a bastar­se a si mesmos, a

cuidar da própria roupa, a decorar sua casa, relutam em assumir um relacionamento estável com outra

mulher, embora não tenham perdido a esperança de constituir um novo lar. Agora buscam não apenas a

companheira­mãe, mas a companheira­amiga­amante.

Ao conceituar o termo "relacionamento", Giddens (1993) o define como um vínculo emocional próximo e

continuado com outra pessoa. Conforme afirma, esse termo somente chegou ao uso geral em uma época

relativamente recente. Ele utiliza, então, o termo "relacionamento puro" para referir­se a uma situação na

qual se entra em uma relação social apenas pela própria relação, pelo que pode ser derivado por cada

pessoa da manutenção de uma associação com outra, e que só continua enquanto ambas as partes

considerarem que extraem dela satisfações suficientes para permanecerem.

E diz que para a maior parte da população sexualmente "normal", o casamento costumava ser desvinculado

da sexualidade. Mas, atualmente, estes dois elementos estão cada vez mais vinculados, por meio do

relacionamento puro. Esse novo tipo de relacionamento é parte de uma reestruturação genérica da

intimidade. Como ressalta o autor, a idéia do amor romântico ajudou a abrir um caminho para a formação de

relacionamentos puros no domínio da sexualidade. A citação a seguir confirma estas palavras:

O relacionamento puro tende a ser, nos dias de hoje, a forma predominante de convívio humano, na qual se

entra "pelo que cada um pode ganhar" e se continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão

proporcionando a cada uma, satisfações suficientes para permanecerem na relação. (BAUMAN, 2004, p.

111).

De acordo com Giddens (1993), atualmente, os ideais de amor romântico tendem a fragmentar­se sob a

pressão da emancipação e da autonomia sexual feminina. O conflito entre a idéia do amor romântico e o

relacionamento puro assume várias formas, cada uma delas tendendo a tornar­se cada vez mais revelada à

visão geral como resultado da crescente reflexividade institucional[3]. O amor romântico depende da

identificação projetiva[4] do amour passion, como o processo pelo qual os parceiros potenciais tornam­se

atraídos, e então unem­se. Essa projeção cria uma totalidade com o outro, intensificada pela diferença entre

o masculino e o feminino. Ao mesmo tempo, a identificação projetiva vai contra o desenvolvimento de um

relacionamento cuja continuação depende da intimidade.

Mas a abertura de um parceiro em relação ao outro é a condição para o exercício de um novo modelo de

amor, denominado por Giddens (1993) de amor confluente, considerado, de algum modo, o oposto da

identificação projetiva, mesmo que tal identificação, algumas vezes, estabeleça um caminho até ele. Como

o amor confluente é um amor ativo, contingente, entra em choque com as categorias "para sempre" e

"único", presentes na idéia do amor romântico.

A "sociedade separada e divorciada" dos dias de hoje, aparece aqui mais como um efeito da emergência do

amor confluente do que como sua causa. Quanto mais o amor confluente constitui­se em uma possibilidade

real, mais se afasta da busca da "pessoa especial" e o que mais conta é o "relacionamento especial"

(GIDDENS, 1993).

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O amor confluente presume igualdade na doação e no recebimento emocionais, e quanto mais for assim, o

laço amoroso mais se aproxima do modelo do relacionamento puro. Desse modo, o amor somente se

desenvolve até o ponto em que se desenvolve a intimidade, até o ponto em que cada parceiro está

preparado para manifestar preocupações e necessidades em relação ao outro e está vulnerável a esse

outro.

Conforme percebe­se, a dependência emocional, mascarada, dos homens tem aumentado sua propensão e

sua capacidade para se tornarem vulneráveis, resquícios sustentados pelo ethos do amor romântico.

Porém, com o surgimento do amor confluente, é imprescindível a dissolução dessas características

masculinas.

Como ressalta Giddens (1993), o reconhecimento da vulnerabilidade emocional masculina tornou­se

evidente a partir do momento em que a proposta dessa nova forma de amar passou a exigir uma

manifestação clara das necessidades do homem e da mulher, na relação, vindo à tona o que antes não era

explicitado.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao discutirmos a crise do amor na contemporaneidade, percorremos um caminho histórico, desde o amor

romântico ao relacionamento amoroso na perspectiva de gênero; passamos pela crise do amor romântico,

com suas variadas versões, até chegarmos às novas formas de vínculo entre os homens e as mulheres e a

ambigüidade hoje existente nesse fenômeno.

Nestas considerações gerais, discutiremos sinteticamente estas novas formas de vínculo entre homens e

mulheres como expressão atual do fenômeno. Para isto nos valeremos de Salem (1987), o qual, em sua

pesquisa sobre as novas formas de se relacionar, destaca uma modalidade ideal de relação conjugal que

começa a adquirir forma na atualidade, por ela designada de casal igualitário. A idéia é de uma parceria

composta de duas unidades fundadas em elos subjetivos e não de injunções sociais ou laços sociológicos.

Tal qualidade manifesta­se, primeiramente, na crença segundo a qual o casal não deriva sua realidade dos

grupos a que cada cônjuge pertence. Ao invés, esta é instituída pelo desejo dos sujeitos.

Neste caso, o laço conjugal é entendido como suficientemente forte e auto­referido a ponto de isolar a

parceria no campo das relações familiares, remetendo para a pressuposição de que essa parceria deve

estar dotada de uma identidade interna mais forte do que aquela que vincula cada um dos seus membros

aos respectivos núcleos de origem. O casal percebe­se como fundado em um vínculo afetivo e psicológico.

Tudo se passa como se os parceiros, como unidade, transpusessem o reino do parentesco e ingressassem

em um domínio onde só prevalecessem relações de escolha.

Complementarmente Salem (1987) afirma ser o vínculo marital tido como mais fundamental e estreito que

qualquer outro. Num universo onde o dispositivo da escolha ou do desejo desponta como chave, o valor

imputado aos laços conjugais suplanta os de sangue. Esse vínculo afetivo também pressupõe algo mais

que relações de amizade: o companheirismo é qualidade necessária, mas não suficiente para a constituição

do casal, o qual ainda prescreve exclusividade em algum plano.

O sentido de completude atribuído à união marital impregna os casais ditos modernos, e sua maior

propensão a desfazer casamentos (e a buscar outros, note­se bem) não contradita, mas, pelo contrário,

reitera a incessante busca da completude. Como sugere o autor, é precisamente na incansável perseguição

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desse ideal que se fundamenta sua vulnerabilidade: o casal converte­se em uma unidade tão

sobrecarregada de sentidos e de expectativas que não é de todo surpreendente estar nele a alta

probabilidade de implosão.

Além disso, de acordo com Salem (1987), o estreitamento das fronteiras entre o feminino e o masculino

anuncia­se, ainda, na maneira coincidente como ambos os gêneros lidam com a questão dos sentimentos.

E prossegue: se consentirmos que o feminino está usualmente associado à emoção e à expressão desta, a

conclusão por uma "feminização do masculino" não é improcedente. Efetivamente, a externalização dos

sentimentos por parte dos homens, mais do que legítima, tem ultimamente se constituído em um dever

moral, e uma tendência a vasculhar­se mostra­se tão intensa neles quanto em suas parceiras.

Ao transpormos essas idéias para o plano da questão de gênero, devemos ter em mente que o valor da

igualdade não postula serem homem e mulher substancialmente iguais. Ele postula, antes, uma

ambigüidade dos seus atributos, bem como dos seus respectivos domínios. Decorre exatamente dessa

indiferenciação valorativa do feminino e do masculino o encorajamento para que cada gênero ingresse e

experimente, concreta ou simbolicamente, o universo, e até mesmo, eventualmente, a identidade do outro

(SALEM,1987).

Ressalta este autor a existência de um movimento de simbiose e de individualização na relação. Neste

ponto reside o grande dilema, senão paradoxo, do casal igualitário. As mazelas da simbiose ou da paixão

tematizam a questão de como garantir a formação de uma unidade sem que os sujeitos se diluam na fusão

total. Se houver a capacidade de desfazer a "simbiose", ou seja, a unidade dada e "natural", o casal

igualitário enfrenta o desafio de instaurar uma configuração na qual o preceito da "individualização" é

inclusive afirmado como requisitopara a preservação da unidade como tal.

Mais ainda: a expectativa de um máximo de fragmentação convive, no limite, com a expectativa de um

máximo de junção.Não obstante, reside aí o maior embaraço desse projeto: o limite entre, de um lado,

respeitar o movimento do outro, suas diferenças e singularidades e, de outro, continuar a concebê­lo como

par é, por vezes, demasiadamente tênue.

O principal dilema do casal igualitário já dessimbiotizado consiste, em suma, em sondar a magnífica medida

dos movimentos de individualização dos parceiros de tal modo que eles não redundem na fragmentação da

unidade. Isto é, o indivíduo deve ver saciado seu anseio de singularização e de não englobamento pelo

outro e, ao mesmo tempo, deve continuar a se reconhecer na exigência de uma vida compartilhada e de

uma existência comum. Em uma palavra, o desafio é o de, como casal, ser dois e simultaneamente um só.

Essa questão parece constituir seu grande tema e seu maior dilema. Ainda como afirma Salem (1987), o

maior desafio sobre essa modalidade de parceria é o de construir uma "unidade com dois".

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade das relações humanas.Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2004.

BÉDIER, Joseph. O romance de Tristão e Isolda. Tradução de Luís Cláudio de Castro e Costa. SãoPaulo: Martins Fontes, 1988.

COSTA, Jurandir Freire, Sem fraude nem favor: estudos sobre o amor romântico.Rio de Janeiro: Rocco,1998.

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GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: Sexualidade, amor e erotismo nas sociedadesmodernas.São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993.

GRUPO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA FFC.Modernidade e reflexividade:uma leitura da obra de Anthony

Giddens. Revista de Iniciação Científica da FFC (Faculdade de Filosofia e Ciências), Marília ­ SP, v.4,n.1, 2004.

LUZ, Madel Therezinha. O lar e a maternidade: instituições políticas. In: ______. O lugar da mulher. Rio deJaneiro: Gral, 1982.

PINHEIRO, Paulo Sérgio. Coleção nosso século. São Paulo: Abril Cultural, v. 1, 1980.

ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

SALEM, Tânia. O casal igualitário:princípios e impasses. Revista Brasileira de Ciência Sociais. Rio deJaneiro. V. 9, nº 3, 1987.

SANTOS, Maria Inês Detsi de Andrade. O pensar e o agir como possibilidades de desconstrução dos

sujeitos "gendrados". Revista de Humanidades, v. 17, n. 1, p. 1­73, jan./jul. 2002.

*Graduada em Administração pela Universidade de Fortaleza UNIFOR; Graduada em Psicologia pela

Universidade de Fortaleza UNIFOR. Psicóloga Clínica, com formação em Gestalt Terapia. Pós­Graduação

em Administração da Organização de Eventos pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Pós­

Graduanda em Abordagem Sistêmica da Família pela Universidade de Fortaleza UNIFOR.

** Professora orientadora do Curso de Especialização em Abordagem Sistêmica da Família pela

Universidade de Fortaleza UNIFOR; Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará UFC.

[1]Na Europa pré­moderna, a maior parte dos casamentos eram contraídos sobre o alicerce da situação

econômica, não pela atração sexual mútua. Entre os pobres, o casamento era um meio de organizar o

trabalho agrário, tornando improvável uma vida pautada pelo trabalho árduo ser conduzida pela paixão

sexual. Existem relatos entre os camponeses da França e da Alemanha do século XVII sobre a raridade da

afeição física entre os casais casados, ocorrendo freqüentemente ligações extraconjugais masculinas

(GIDDENS, 1993).

[2]No século XIX, a idéia de "romance" assume um novo sentido, contribuindo para mudanças seculares,

afetando a vida social como um todo. A modernidade é inseparável da ascendência da razão, no sentido de

que se supõe que a compreensão racional dos processos físicos e sociais substitui a regra arbitrária do

misticismo e do dogma (GIDDENS, 1993). O romance, afirma Giddens (1993), converteu­se em uma via

para o controle futuro, assim como uma forma de segurança psicológica (em princípio) para aqueles cujas

vidas eram afetadas por ele.

[3]Em dois dos seus mais recentes textos As conseqüências da modernidade(1990) e A transformaçãoda intimidade(1992), Giddens (1993) traz uma tese provocativa: vivemos uma época em que os estilos ecostumes, vindos com a modernidade ­ organização social que emergiu na Europa no século XVIII,

encontram­se totalmente radicalizados. Assim, as tradições perdem o lugar privilegiado que tiveram em

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épocas pré­modernas, em favor daquilo que o autor conceitualiza como "reflexividade institucional".

Institucional, por fazer parte da atividade social na atualidade, e reflexiva porque os termos introduzidos por

determinado discurso acabam por transformar a realidade na qual o próprio discurso é formado; isto traz ao

sujeito a possibilidade de escolher e decidir quanto aos rumos de seu cotidiano, consumo, sexualidade, etc.

(GRUPO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA FFC, 2004).

[4]Expressão introduzida por Melanie Klein para designar um mecanismo traduzido por fantasias em que o

sujeito introduz a sua própria pessoa (his self) totalmente ou em parte no interior do objeto para feri­lo, para

o possuir ou para controlá­lo. O emprego kleiniano da expressão identificação projetiva tem consonância

com o sentido estrito que se tende a reservar, em psicanálise, ao termo "projeção": rejeição para o exterior

daquilo que o sujeito recusa em si (ROUDINESCO, 1997).

Por Karla Rolim

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