a cultura é uma herança social

2
A cultura é uma herança social Muitas organizações sociais em que ingressamos existem há muito tempo e as pessoas que têm poder dentro delas nos ensinam suas antigas "verdades" para que nos tornemos bons membros e a organização social possa continuar. A cultura é uma herança social; ela consistem em ideias que podem ter se desenvolvido muito antes de nascermos. Nossa sociedade, por exemplo, tem uma história mais longa do que a vida de qualquer indivíduo; as ideias desenvolvidas no decorrer do tempo são ensinadas para cada geração e a "verdade" encontra-se ancorada na interação de pessoas mortas há muito tempo. Os exemplos disso estão em toda parte: pessoas bem-sucedidas têm de obter um diploma universitário; as mulheres devem casar e ter filhos; o amor romântico deve ser a base do casamento; ganhar dinheiro é o melhor incentivo para que as pessoas trabalhem. Cada filho aprende essa cultura na família, na escola, na igreja - nas organizações sociais que são veículos da cultura. Somos socializados para aceitar as ideias dos que estão nas posições de "entendidos" dos que têm a seu lado muitos anos de história, uma longa tradição, a integridade moral, Deus, a ciência ou seja lá o que for. As organizações formais também têm uma história, assim como as comunidades e grupos. Podemos contribuir com ideias próprias, mas sempre seremos confrontados por uma força poderosa - uma cultura - que se desenvolveu antes de entrarmos em cena e em relação à qual teremos pouca escolha, se quisermos continuar a interagir na organização social. Consideremos o indivíduo que tenta escapar à cultura. Fazer isso é ficar sozinho, arriscar ser expulso da organização social ou, em algumas sociedades, ser punido com a prisão ou a morte. Rejeitar a definição da verdade vigente na organização é rejeitar a própria organização - e é preciso estar preparado para ficar isolado ou para ingressar em outras organizações que compartilhem as concepções "corretas", organizações essas que evidentemente, têm outra cultura. Podemos mudar de uma organização social para outra e, assim, trocar uma cultura por outra. Cada organização, porém, tem um modo de definir o mundo, um modo de pensar, um conjunto de regras que seus membros são incentivados a compartilhar - e

Upload: leonardo-amaral

Post on 17-Jun-2015

56 views

Category:

Art & Photos


2 download

DESCRIPTION

Texto comentando sobre a cultura como uma herança social

TRANSCRIPT

Page 1: A cultura é uma herança social

A cultura é uma herança social

Muitas organizações sociais em que ingressamos existem há muito tempo e as pessoas que têm poder dentro delas nos ensinam suas antigas "verdades" para que nos tornemos bons membros e a organização social possa continuar. A cultura é uma herança social; ela consistem em ideias que podem ter se desenvolvido muito antes de nascermos. Nossa sociedade, por exemplo, tem uma história mais longa do que a vida de qualquer indivíduo; as ideias desenvolvidas no decorrer do tempo são ensinadas para cada geração e a "verdade" encontra-se ancorada na interação de pessoas mortas há muito tempo. Os exemplos disso estão em toda parte: pessoas bem-sucedidas têm de obter um diploma universitário; as mulheres devem casar e ter filhos; o amor romântico deve ser a base do casamento; ganhar dinheiro é o melhor incentivo para que as pessoas trabalhem. Cada filho aprende essa cultura na família, na escola, na igreja - nas organizações sociais que são veículos da cultura. Somos socializados para aceitar as ideias dos que estão nas posições de "entendidos" dos que têm a seu lado muitos anos de história, uma longa tradição, a integridade moral, Deus, a ciência ou seja lá o que for. As organizações formais também têm uma história, assim como as comunidades e grupos. Podemos contribuir com ideias próprias, mas sempre seremos confrontados por uma força poderosa - uma cultura - que se desenvolveu antes de entrarmos em cena e em relação à qual teremos pouca escolha, se quisermos continuar a interagir na organização social.

Consideremos o indivíduo que tenta escapar à cultura. Fazer isso é ficar sozinho, arriscar ser expulso da organização social ou, em algumas sociedades, ser punido com a prisão ou a morte. Rejeitar a definição da verdade vigente na organização é rejeitar a própria organização - e é preciso estar preparado para ficar isolado ou para ingressar em outras organizações que compartilhem as concepções "corretas", organizações essas que evidentemente, têm outra cultura.

Podemos mudar de uma organização social para outra e, assim, trocar uma cultura por outra. Cada organização, porém, tem um modo de definir o mundo, um modo de pensar, um conjunto de regras que seus membros são incentivados a compartilhar - e precisaremos acatar tudo isso também. Podemos adotar uma perspectiva radical na faculdade, mas, quando saímos dela para dar aulas numa escola secundária ou para trabalhar numa empresa, nossas crenças mudam, pois somos cada vez mais afastados das pessoas com quem interagíamos lá. Alguns dentre nós podem deixar nossa comunidade ou mesmo nossa sociedade para ingressar em outra. Com o tempo, a velha cultura será gradualmente substituída por novas ideias e regras. Isso é difícil para a maioria de nós. Hesitamos em romper com um conjunto de verdades e em aprender hábitos novos, uma nova cultura. "Acho que sou antiquado" é o que muitas pessoas sentem.

Uma cultura, portanto, é uma perspectiva compartilhada, um conjunto de ideias que as pessoas desenvolvem e aprendem na interação social. Na verdade, talvez seja útil dividir esse conjunto de ideias em três categorias: (1) o que é verdade (nossas verdades), (2) o que recompensa (nossos valores e objetivos), e (3) qual é o modo correto de atuar (nossas regras). Nesse contexto, uma cultura é definida como verdades, valores, objetivos e regras compartilhados por um povo. Examinemos cada uma dessas categorias separadamente.