a década de 1930 relida pelo grotesco

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Pedro Felipe Martins Pone Tópicos Especiais em Literatura I A década de 1930 (re)lida pelo Grotesco do Sul dos EUA

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Page 1: A Década de 1930 Relida Pelo Grotesco

Pedro Felipe Martins PoneTópicos Especiais em Literatura I

A década de 1930 (re)lida pelo Grotesco do Sul dos

EUA

Page 2: A Década de 1930 Relida Pelo Grotesco

Mentalidade agricultora; Ruína das plantações; A nostalgia do antebellum; A Southern Belle; Frustração perante a impossibilidade de

retorno aos velhos valores e códigos; As migrações do ‘dust bowl’; As consequências da não adequação (ou

da adequação lenta) a uma mentalidade industrial.

Uma forma encontrada nos EUA para (re)ler esse anacronismo do Velho Sul foi o Grotesco.

Alguns pontos importantes e comentários sobre o Velho Sul

Page 3: A Década de 1930 Relida Pelo Grotesco

Agostino Veneziano: O Grotesco (1500s)

O que se vê? (cavalos, vasos, lanças, espadas, crianças, homens e folhas)

Elementos que quando visto separadamente não causam estranhamento, mas que quando agrupados causam uma sensação de disposição não natural.

O grotesco apresenta um movimento de “quebra brincalhona da simetria e na mais acentuada distorção das proporções” (KAYSER: 2009, p. 4)

1ª característica do Grotesco: o EXCESSO!

O Grotesco: primeiras noções

Page 4: A Década de 1930 Relida Pelo Grotesco

o grotesco tem um papel imenso. Aí está por toda a parte; de um lado cria o disforme e o horrível; do outro, o cômico e o bufo. Põe em redor da religião mil superstições originais, ao redor da poesia, mil imaginações pitorescas. É ele que semeia, a mancheias, no ar, na água, na terra, no fogo, estas miríades de seres intermediários que encontramos bem vivos nas tradições populares da Idade Média; é ele que faz girar na sombra a ronda pavorosa do sabá, ele ainda que dá a Satã os cornos, os pés de bode, as asas de morcego.” (HUGO: 1988, p. 30-31)

o século XVIII recorreu ao grotesco enquanto categoria estética, que contribuía para demolir o conceito de arte como bela reprodução da natureza idealizada

Para Victor Hugo

Page 5: A Década de 1930 Relida Pelo Grotesco

Wiliam O’Connor, fazendo referência à literatura sulista dos Estados Unidos, referiu-se ao grotesco como um gênero americano ao afirmar que “nossa literatura está cheia do grotesco, provavelmente mais do que qualquer outra literatura ocidental” (O’CONNOR: 1962, p. 3).

Presley (1972) afirma que pode ser observada uma função moral no grotesco do sul dos Estados Unidos, oriunda de todo um contexto de formação da região, uma vez que “a pobreza alimenta a anormalidade; em muitos casos, as pessoas estavam vivendo com um código que não era mais aplicável e isto significava um desligamento da realidade” (p. 38) (VASCONCELOS, p. 89)

Na literatura dos EUA

Page 6: A Década de 1930 Relida Pelo Grotesco

White (2003) faz referência a “uma forma de feiura peculiar do sul” na qual se destaca uma “feiura que satura seus mundos ficcionais, uma feiura que é tão frequentemente encarnada – literalmente – por suas personagens femininas” (p. 46).

“a rígida diferença entre a tragédia e a comédia foi quebrada; o sublime às vezes se esconde por trás de imagens estranhamente distorcidas; a literatura do grotesco é uma reação contra os hábitos e costumes burgueses” (WHITE, p. 5)

A incorporação de elementos grotescos por personagens de ficção é punida pela sociedade por serem estes elementos díspares da norma em vigor

Na literatura dos EUA

Page 7: A Década de 1930 Relida Pelo Grotesco

Verdadeiro pilar da cidadezinha de “A balada do café triste” (1951) de Carson McCullers. O estranho e o grotesco ganham tons mais fortes na amazona proprietária de um café. Esses elementos aparecem no corpo da personagem: no físico forte, na força, olhos estrábicos, mãos ossudas, etc. Ela não deixa sua comunidade, ao contrário, permanece nela como um importante pilar social. Entretanto, não é responsável pela manutenção de um modo de ser feminino, mas sim masculino. Enquanto criança Amélia era apenas uma tomboy, mas as características diferentes permanecem enquanto adulta e ela se torna grotesca. A sociedade a percebe como estranha em sua aparência masculina. Ela chega a se casar, mas coloca o marido para correr, não conseguindo viver da forma ‘normal’ de um casamento ao não ceder às vontades do marido. A sociedade vai convivendo com ela, sempre com um olhar desconfiado, mas na primeira chance possível, acabam por puni-la pela ousadia de ter criado um modo de vida tão peculiar.

Caracterização de personagens

grotescos – Amélia Evans, de A Balada do Café Triste, de Carson

McCullers

Page 8: A Década de 1930 Relida Pelo Grotesco

ALENCAR Jr, Leão de. “Do cômico, grotesco, irônico, obsceno e farsesco” In: Revista de Letras nº 24 – vol 1/2 - jan – dez 2002.

BRADBURY, Malcom e TEMPERLEY, Howard (eds.). Introdução aos estudos americanos. Rio de Janeiro: Forense, 1984.

HUGO, Vitor. Do Sublime e do Grotesco. São Paulo: Perspectiva, 1988.

KAYSER, Wolfgang. O grotesco. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2009.

O’CONNOR, William Van. The Grotesque: An American genre (and other essays). Southern Illinois UP, 1962.

WHITE, Sarah Gleeson. “A Peculiarly Southern Form of Ugliness: Eudora Welty, Carson McCullers, and Flannery O'Connor” in: The Southern Literary Journal, Vol. 36, No. 1 (Fall, 2003), pp. 46-57.

Referências