a educação judaica em pernambuco na interventoria de agamenon … · 2019. 10. 25. · agamenon...
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A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de
Agamenon Magalhães (1937-1945)
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MARIA AMÉLIA DE MORAES E SILVA
A Educação Judaica em Pernambuco na Interventoria de Agamenon Magalhães
(1937-1945)
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
graduação em Educação como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em Educação.
Orientador: Prof. Dr. Edílson Fernandes de Souza
Recife
2006
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Silva, Maria Amélia de Moraes e
A educação judaica em Pernambuco na interventoria de Agamenon Magalhães (1937-1945) / Maria Amélia de Moraes e Silva .– Recife : O Autor, 2006.
99 f. : il. ; quad.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. CE. Educação, 2006.
Inclui bibliografia e anexos.
1. Educação – História. 2. Educação Judaica. 2. Magalhães, Agamenon. I. Título.
37 CDU (2.ed.) UFPE 370.981 CDD (20.ed.) CE2008-0052
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DEDICATÓRIA
A papai com tantas lembranças da sua paciência, tolerância e brincadeiras
singulares, porém tão ricas, que fez de você um homem especial.
A minha mãe Jeanet (querida), que com tanta responsabilidade, dignidade e
amor, que compartilhou a luta pela vida com seus filhos, orientando caminhos seguros
para serem seguidos.
Aos meus filhos, Rodrigo Cambará e Ana Terra, cúmplices na minha vida, que
com suas participações e compreensões, levam-nos a acreditar nas mudanças da
sociedade. Filhos carinhosos, belíssimos.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus familiares:
A meu irmão Zinho, que com sua bondade, solidariedade, vem cruzando meus
caminhos com toda responsabilidade.
Ao irmão Paulo, que no silêncio torce para que tudo dê certo.
À minha irmã Zita, que durante toda minha vida se responsabilizou pela minha
formação não só escolar, mas também de caráter, personalidade, solidariedade. É
inestimável tudo que fez por mim. Difícil escrever tantos momentos de felicidades
proporcionados por você. Agradeço, somente.
Ao Miguel, irmão que vivemos juntos infância e adolescência. Tendo como um
irmão muito próximo, por ter vivido tantos momentos juntos.
Ao Felipe, irmão que chegou depois de tanto tempo, mas que faz parte da
nossa família, completamente cheio de amor e carinho. Agradeço por muitas coisas
proporcionadas para conclusão deste mestrado.
Ao Humberto, por ter apresentado a Filosofia, a História, a Literatura,
transformando a minha vida intelectual, chegando até aqui. Obrigada.
A todos os meus sobrinhos queridos que torceram por mim.
Ao Prof. Dr. Sérgio Abranches que sempre motivou mudanças na minha vida
profissional, escutando com paciência as dificuldades da vida, e mostrando caminhos
pelos quais tenho possibilidades de mudanças.
Aos colegas de trabalho da Prefeitura do Recife, que com paciência ajudaram a
manusear, dando orientações sobre o computador, imprimindo textos e tantos outros
trabalhos que foram de grande valia para realização desta dissertação.
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À amiga Ranusa, que com sua solidariedade, bondade, compreendeu os
momentos de estudo, dando possibilidades à realização deste mestrado.
Agradecimentos a todas as pessoas que possibilitaram a realização das
entrevistas para que esta dissertação se tornar fundante.
Ao Prof. Dr. Edílson, orientador com virtudes superiores, conduzindo os
trabalhos de forma singular para chegarmos à conclusão dessa dissertação. Obrigado.
E a tantas pessoas que incentivam este momento, como as amigas
inestimáveis: Magali, Mônica, Lúcia, Alda, Joana D’Arc, Silvinha, Marines, Meri,
Wilsinho e Priscila amiga de fé.
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Os profetas são aqueles ou aquela que se
molham de tal forma nas águas da cultura e da
sua história, da cultura e da história do seu
povo, que conhecem o seu aqui e o seu agora
e, por isso, podem prever o amanhã que eles
mais do que adivinham, realizam.
Paulo Freire
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SUMÁRIO
Dedicatória
Agradecimentos
Resumo
Abstract
INTRODUÇÃO............................................................................................................11
CAPÍTULO 1 NOVAS PERSPECTIVAS DA HISTÓRIA, DA HISTORIOGRAFIA E DA EDUCAÇÃO................................................................................................ 16
CAPÍTULO 2 ESTADO NOVO - DITADURA DE GETÚLIO VARGAS (1937-1945) ...............................................................................................................23
2.1 A CONSTITUIÇÃO DA NACIONALIDADE ....................................................244
2.2 A NACIONALIZAÇÃO E A IGREJA .................................................................26
2.3 RENOVAÇÃO CATÓLICA ...............................................................................28
2.4 O DISCURSO EUGÊNICO BRASILEIRO NO INÍCIO DO SÉCULO XX .........34
CAPÍTULO 3 INTERVENTORIA DE AGAMENON MAGALHÃES PERNAMBUCO...38
CAPÍTULO 4 IDENTIDADE E EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE JUDAICA EM PERNAMBUCO.......................................................................................... 60
CONCLUSÃO........................................................................................................ 88
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 93
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RESUMO
Este trabalho destina oferecer elementos para a compreensão do estudo da Educação Judaica na Interventoria de Agamenon Magalhães (1937-1945), com a influência da formação da identidade ao chegar a Recife-Pernambuco-Brasil.
Enfocaremos as teorias que possibilitaram um diálogo entre História e História
da Educação, analisando o estudo sob a visão da Escola dos Annales – Nova História Cultural.
Para tanto, apresentamos algumas informações sobre o resultado desse
período de estudo, de pesquisa e reflexões. Nele tentamos descrever, no Recife- Pernambuco, dentro de vários contextos: o nacional, o local e um pouco do internacional.
Nele, procuramos demonstrar como se formou a Escola Judaica norteada
pela formação da identidade étnica-religiosa-cultural: a razão de ser, os aspectos que caracterizam e nortearam sua posição no país, principalmente em Recife, que é nosso foco de estudo, diante do processo que estava acontecendo, de anti- semitismo no país, e em Recife, o interventor Agamenon Magalhães, utilizando-se do seu Jornal Fôlha da Manhã para enfocar características, elementos fundantes, que espelhassem para a sociedade Pernambucana o perigo que representava o povo judaico.
Além do texto escrito, apresentamos ilustrações do período estudado que se
integram na proposta de análise teórica-metodológica da Escola dos Annales para o conhecimento da construção da Educação Judaica , oferecendo elementos para a compreensão do estudo na Interventoria de Agamenon Magalhães ( 1937-1945) com a influência da formação da identidade ao chegar a Recife-Pernambuco-Brasil.
Palavras Chave: Educação, Identidade, Judeus
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ABSTRACT
The objective of our dissertation is to present elements to comprehension of the Jewish Education is the intervention of Agamenon Magalhães (1937-1945), with influence of identity formation when in Recife-Pernambuco-Brazil. Were showed theories that possibilited a dialogue between History and History of Educacion, analyzing the study under the view of Annales – New Cultural History therefone, we introduced some information abaut the result of the research, study and reflection of this period. We described, in Recife – Pernambuco, in several contexts: the national, the local an a bit of the international. We tried to demonstrate how was formed the Jewish School by etnchal- religious-cultural identity formation: the reason of being, the aspects, that characterized and gave a parth to is positioning the country , especially in Recife, wich is our study focus, among, the process that was happening, anti-semitism in the country and Recife, the interventor Agamenon Magalhães, using his journal – Fôlha da Manhã – to show characteristics, major elements, that spread to Pernambuco society the dangeours that Jewish people represented. Apart from the written, we showed photografie that are part of knowledge construction of Jewish Education. Key Words: Education, Identity, Juwish
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INTRODUÇÃO
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A composição étnica e cultural do Brasil, atinente aos elementos afro-brasileiro
e índio, está bem deferida na historiografia brasileira.
Por isso ative-me à leitura em relação aos judeus devido à carência de estudos
e pesquisa em Pernambuco.
Percebemos que no eixo sul-sudeste há produção do conhecimento histórico
referente à presença do grupo etno-religioso judaico, de como se deu à integração na
sociedade, principalmente partindo da construção da educação congregacional e de
como esta se adaptou à ação do Estado, de suas leis e principalmente do Projeto
Político Pedagógico, na Interventoria de Agamenon Magalhães.
A concretização desse trabalho ganhou firmeza na medida em que foi possível
relacionar os estudos de como A Educação Judaica em Pernambuco, a frente de um
momento de um Estado totalitário, na busca da universalização nacional,
principalmente no aspecto educacional, tratando da imposição e utilizando vários
instrumentos de controle social, principalmente para com os imigrantes, no nosso caso
os judeus que se instalaram em Recife.
No decorrer do nosso trabalho discutiremos o papel da educação na instituição
do Estado Novo no governo de Vargas e em Pernambuco com o interventor
Agamenon Magalhães, que obteve uma função primordial na formação de um ideário
estadonovista com a ótica da unificação nacional.
Mostrando o contraste entre a universalidade e a identidade na História. A
universalidade necessariamente não prevalece sobre a identidade
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Interessa para esse trabalho a compreensão histórica dos papéis sociais dos
grupos étnicos, no nosso caso representado pelo judeu.
Em síntese, nosso tema está centrado na proposta de analisar o processo de
escolarização como elemento de constituição da identidade judaica em
Pernambuco.
No Capítulo 1, analisaremos as novas perspectivas da História, Historiografia e
da Educação; discutiremos o movimento dos Annales (1929), com a falência da teoria
positivista, que no século IX estava envolvida pela percepção cientificista.
O século XX traz novos debates acerca da educação, auxiliada por ciências
novas como a Psicologia e a Sociologia, trazendo novas ferramentas conceituais que
possibilitem tratar a análise dos objetos de uma forma mais ampla, envolvendo a
integralidade das disciplinas.
Com os temas levantados e abordados pela História da Educação, o uso das
fontes foi ampliando e pondo as fontes oficiais frente à problematização.
No segundo momento do mesmo capítulo, trataremos da Educação, com
pesquisa fundamentada na Nova Escola Cultural, que nos dá a possibilidade da
compreensão de que a escola não é a única via de inserção no mundo, pois também a
família contribui com uma dimensão imensurável na vida do povo judeu mediada pela
escrita, imagens e oralidade.
No segundo capítulo, a questão da constituição da nacionalidade, os
pressupostos históricos, através do pensamento totalitário de Jackson Figueiredo junto
com a Igreja Católica, abordavam a análise de como via o mundo neste período
histórico. Seguindo o projeto fascista de Francisco de Campos junto com a Igreja,
escreve um livro, detalhando os fundamentos que justificariam a criação de um estado
totalitário.
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Neste mesmo capítulo, trataremos de Renovação Católica, os seus princípios
fundamentais, que buscava nos anos 30 encontrar sua representatividade no novo
regime e como articular Francisco de Campos.
Finalmente abordaremos, para concluir esse capítulo, o Discurso Eugênico
Brasileiro no início do Século XX, que pensava na contribuição da imigração para a
formação racial e cultural da sociedade, principalmente o ideal do branco europeu. E o
judeu estava incluído nesta possibilidade de limpeza da raça brasileira.
No terceiro capítulo, a indicação será o Governo de Agamenon Magalhães,
diante da construção do Projeto de Nacionalização e Projeto Político Pedagógico e a
aplicação no estado de Pernambuco, principalmente no que refere o direcionamento
da educação, tanto da escola brasileira como as congregacionais, principalmente a
que estamos estudando – a judaica.
Enfocaremos o tratamento dado pelo Jornal A Fôlha da Manhã ao anti-
semitismo que permeava a nação devido ao surgimento do nazi-facismo com suas
preleções em relação ao judeu. E como Agamenon Magalhães se serviu da máquina
do Estado para instrumentalizar ações diante do controle dessa minoria étnica
instalada no Recife.
Utilizando meios de comunicação como o Jornal e afirmando que a propaganda
faz parte do governo, esta foi sua arma para catequizar os cidadãos contra os judeus e
de elaborar artigos denunciando atos da vida dos judeus.
Tendo ao seu lado intelectuais pernambucanos, que faziam parte da
Congregação Mariana e junto com a Igreja Católica, prestou um bom serviço ao
estado, decorrente dos cargos públicos ocupados , como ponto chave para a
execução do Projeto Político tanto local como nacional.
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A Igreja reclamou e retomou seu lugar no Estado, formando uma aliada,
principalmente nas questões educativas e cobrando o direito de participar da
educação escolar, como religião confirmada oficial.
Abordaremos a aplicação do Rato Studiorum, trazido pela Igreja Católica, e Os
Protocolos do Sábio de Sião, tido como racismo moderno, escrito na Rússia e
traduzido na Alemanha por Adolf Hitler como justificativa para perseguição e
atrocidades os judeus.
O quarto capítulo ponto fundamental da dissertação onde discutiremos a
Identidade e Educação na Comunidade Judaica, no período definido de 1937-1945.
Abordaremos como a educação congregacional se portou diante do sistema
ditatorial, principalmente na Interventoria de Agamenon Magalhães, que foi o fiel
escudeiro de Getúlio Vargas.
Adotou instrumentos de manipulação ao assumir o poder estadual, como a
publicação de jornais, programa de rádio, cinema, que servia para vincular suas idéias
e catequizações da massa.
Foi um momento complexo para os imigrantes e sua família oriundos de várias
regiões da Europa, quando foi exercida uma vigilância nas instituições as quais
pertenciam, isto quer dizer, controle das ações dos judeus.
Enfocaremos também as entrevistas feitas por pessoas pertencentes à
comunidade judaica em Recife sobre a formação da identidade e o processo de
vivência escolar neste período de estudo.
Espero que a dissertação sirva para compreender melhor esse povo e localizá-
lo no espaço geo-histórico brasileiro.
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CAPÍTULO 1 NOVAS PERSPECTIVAS DA HISTÓRIA, DA HISTORIOGRAFIA E DA
EDUCAÇÃO
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Incursionar pela História da Educação exige estabelecer um referencial que
deverá nortear a possibilidade de interagir a História na História da Educação.
A História de Educação deve partir de um eixo exclusivo, dando possibilidades
de autonomia, em percorrer a História, procurando caminhos para atuar e discorrer em
História da Educação, incorporando categorias em outras áreas das ciências
humanas, para se compreender o passado dos fenômenos educativos, como a de
etnia, que é nosso caso.
Dessa forma, Galvão (2001, p. 25) nos demonstra caminhos de conhecimento
produzido pela História da Educação:
(...) a história da educação não se desenvolveu, em sua trajetória, como uma área de História, embora seu objeto fosse (seja) extremamente importante para se compreender o passado das sociedades. No campo da História, a educação tem sido, tradicionalmente, um objeto ignorado ou considerado pouco nobre, embora, com a progressiva influência da nova História Cultural, isso venha, aos poucos, mudando.
Não podemos, no entanto, conflituar a História da Educação, campo de
pesquisa, com a disciplina. Diante disso, a autora acima citada (2001, p. 16) afirma
que
A disciplina História da Educação, nascida no final do século XIX, desenvolveu-se, sobretudo nas Escolas Normais e nos cursos de formação de professores e não, como poderia supor, nos institutos de pesquisa de ensino da História propriamente dita. Sua história está, portanto, intrinsecamente relacionada ao campo da pedagogia que,
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desde o século XVIII começa a desenvolver em alguns países da Europa e nos Estados Unidos.
Será de fundamental importância analisar os pressupostos teóricos que dão
condições não só à integração, mas, também, um diálogo entre História e a História da
Educação.
Cambi (1999) afirmou entender a História da educação na sua justificativa com
a História. Após essa problematização é preciso fazer uma análise a partir das novas
abordagens provenientes da Nova História, para que possamos compreender esse
maior diálogo entre essas duas áreas do saber.
É a partir do século XIX que o fazer História encontra caminhos num mundo
completamente envolvido pela concepção cientificista. Período que representou o
domínio da Escola Positivista, e que nas pesquisas da historiografia foi o referencial.
O pesquisador era entendido só com o tratar dos documentos, sem nenhuma
relação pessoal com a pesquisa. Mostrando uma neutralidade que era o ponto
fundamental do pesquisador, buscando esse distanciamento com o objeto, o
pesquisador daria um grau de cientificidade ao estudo.
Muitos dos pressupostos da História Positivista, nas pesquisas realizadas pelos
historiadores passaram a ser criticadas e a História, não mais restrita à documentos
oficiais de cunho política.
Vislumbrando outros aspectos para pesquisas como o econômico, social e o
cultural da sociedade , aproximando a História de outras disciplinas.
A falência dessas teorias, no século XX, no campo da historiografia sofreu
profundas modificações com uma nova ótica de ver a História. Essas modificações
eram apresentadas com a fundação da Escola dos Annales, trazendo em seu bojo
novas possibilidades de compreensão em relação ao pesquisar, como admitir novas
fontes nos estudos da historiografia como: imagens, cotidiano, vestuários,
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alimentação, etc. tendo colocado um modelo diferente do estabelecido, tanto nas
academias quanto nas escolas.
Novas propostas surgiram como forma de compreender os objetos e os
métodos de se fazer história, dando possibilidades e gerando perspectiva teórica que
procurou estabelecer um diálogo com a História da Educação.
Os estudos concebidos pela Nova História Cultural, que é uma corrente
derivada do Movimento da Escola dos Annales Francesa, surgida na Europa desde os
anos 20, começam a influenciar os pensadores brasileiros durante os anos 30,
forçando uma renovação do pensamento histórico e social da realidade nacional.
Essa tendência na historiografia francesa exprimiu-se discretamente na Revista
Síntese e, durante os anos 20, mais francamente na revista dos Annales, durante os
anos de 1930 (MARTIN, 2000, p. 119).
A Revista dos Annales, fundada por Lucien Febvre e Marc Bloc, tinha como
projeto renovar a história, favorecendo a união das Ciências Humanas, dando
possibilidade de diálogos com as outras áreas de conhecimento, perpassando pela
possibilidade de uma prática interdisciplinar, e poder olhar sobre o homem em sua
pluralidade, não reduzindo ao que podemos dizer Positivista, baseada na narrativa, e a
serviço do Estado na construção de mitos e heróis. Sob a perspectiva da História
Cultural, sofreu mudanças tanto no campo das fontes e das técnicas de pesquisa
como das estruturas, fazendo uma revolução historiográfica.
A Historiografia estava vinculada neste período do século XX ao poder do
Estado e às relações de poder, assim, não tendo oportunidade para a realização de
novas pesquisas, como no campo das mentalidades, das estruturas e da cultura.
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Segundo Reis (1994, p. 19), os documentos se referem à vida cotidiana das
massas anônimas, à sua produtividade, à sua vida comercial, ao seu consumo, às
suas crenças, às suas formas de vida social.
Peter Burke, se referindo aos estudos de Lucien Febvre e Bloch, aponta as
necessidades impostas pelo mundo contemporâneo ocidental, ampliando o campo da
pesquisa historiográfica, assim escrito por Burke:
A necessidade de uma história mais abrangente e totalizante nascia do fato de que o homem se sentia como um ser cuja complexidade em sua maneira de sentir, pensar e agir, não podia reduzir-se a um pálido reflexo de jogos de poder, ou de maneiras de sentir, pensar e agir dos poderosos. Fazer uma outra história na expressão usada por Febvre era, portanto, menos redescobrir o homem do que, enfim, descobri-lo na plenitude de suas virtualidades, que se inscreviam concretamente em suas realizações históricas.
Vamos nos deter em algumas especificidades da Escola, ou seja, A História
Nova (1929-1989), para obtermos a mudança de paradigma positivista para um
paradigma que, podemos afirmar, nos seus antagonismos a pluralidade.
A Nova História Cultural recusa a hipótese de um tempo linear, cumulativo e
irreversível defendido pelos pensadores tradicionais, forma esta de análise que ignora
um dos aspectos mais essenciais para interpretar a realidade: a contradição.
A realização desta pesquisa será desenvolvida teórica e metodologicamente em
estudos concebidos pela Nova História Cultural, que é uma corrente derivada do
Movimento da Escola dos Annales Francesa, surgida na Europa desde os anos 20,
forma de pensar que começa a influenciar os pensadores brasileiros durante os anos
30, forçando uma renovação do pensamento histórico e social da realidade nacional.
Erguendo-se contra a dominação da Escola Positivista, essa tendência na
historiografia francesa exprimiu-se discretamente na Revista de Síntese e, durante os
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anos 20, mais francamente na Revista dos Annales, durante os anos de 1930
(MARTIN, 2000, p. 119).
A Revista dos Annales fundada por Lucien Febvre e Marc Bloc, tinha como
projeto renovar a história, ou seja, eliminar a tendência à especificidade e promover a
pluridisciplinaridade, favorecendo a união das Ciências Humanas. Sob essa
perspectiva a História sofreu mudanças tanto no campo das fontes e das técnicas de
pesquisa como das estruturas.
A nova Historiografia propõe um caminho que privilegia as particularidades
nacionais e os recortes específicos, no nosso caso Agamenon Magalhães, com
contribuições para a compreensão do período principalmente no aspecto político e
cultural.
Os historiadores brasileiros motivados pela discussão que atribui enorme
importância ao conhecimento histórico do tempo presente, passaram a encarar com
maior segurança a possibilidade de contribuir, partindo de novas abordagens, para
melhor compreensão dos períodos mais recentes.
Segundo Reis (1994, p. 119), os documentos se referem à vida cotidiana das
massas anônimas, a sua produtividade, à sua vida comercial, ao seu consumo, às
suas crenças, as suas formas de vida social.
Diante desta pluralidade oferecida dos Annales, e confirmando como uma
revolução, principalmente no que diz respeito ao tratamento dado aos documentos e
novas fontes que nunca foram utilizados, passaram a ser mais admitindo que toda
atividade humana tem história.
Todas essas modificações realizadas pelos Annales têm um ponto importante
para transitar nesta Teoria, tem uma forte ligação com a visão de mundo dos
indivíduos, como serão organizadas, compreendidas, para pontuar sua importância.
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Utilizamos fontes como: legislação, revista e jornais da época, entrevista
através da metodologia da História Oral, buscando apreender a subjetividade e o
comportamento acerca da temática judaica.
A entrevista realizada como um instrumento flexível que permitiu
esclarecimentos outros, com depoimentos de indivíduos que viveram ou não o período
indicado para o desenvolvimento da dissertação, porque necessitamos de informações
da continuidade da comunidade judaica, no caso, estabelecida em Pernambuco, para
observar a questão da identidade, que sempre se reportaram aos avós, pais, e
parentes.
Buscando a análise dos discursos proferidos pelos entrevistados e
considerando suas falas como fonte de conhecimentos de interação social, cumprimos
as exigências e os cuidados requeridos nas entrevistas, segundo Gomes (2004, p. 56):
� Respeito ao local e hora marcada,
� Garantia de sigilo e anonimato
� Respeito à cultura e valores dos entrevistados,
� Ouvir o entrevistado atentamente e estar aberto ao roteiro,
porém respeitar o desenvolvimento da mesma
Utilizamos à metodologia interativa, que em pesquisa, a abordagem não
necessita da utilização de um dado quantitativo quando este fizer necessário, para
uma maior e melhor observação do fenômeno, possibilitando a expressão e
compreensão do cotidiano dos sujeitos pesquisados (OLIVEIRA, 2005).
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CAPÍTULO 2 ESTADO NOVO - DITADURA DE GETÚLIO VARGAS (1937-1945)
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2.1 A CONSTITUIÇÃO DA NACIONALIDADE Pressupostos Históricos – Pensamento totalitário de Jackson Figueiredo
A instalação do Estado Novo – golpe de Estado em 1937, à frente Getúlio
Vargas, apoiado por grupos, com argumentação teórica e retórica da direita
conservadora, representada pela Igreja Católica, reassumindo seu papel doutrinário e
catequético e, de outro pelo Movimento Integralista Brasileiro liderado por Plínio
Salgado, inspirado nas idéias do fascismo italiano. Enfatizando um ideal brasileiro
tendo como pano de fundo o nacionalismo.
Em 1932, foi organizado um órgão que assumisse a divulgação e doutrina
tendo como suporte a ação prática, criou-se AIB – Ação Integralista Brasileira – como
lema principal “DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA”.
O Estado Novo sob os auspícios dos ideais nascido no bojo da Revolução de
30, tendo como princípio o desenvolvimento urbano, focando a industrialização em
detrimento a situação agrária em que vivia o país.
Servindo como bandeira para erguer a Nação, que vivia em diferentes
condições de desenvolvimento regionais e, com o pretexto decorrente de ameaças do
comunismo e do semitismo.
Vinculando idéias autoritárias e nacionalistas para a construção de um país
com um futuro promissor.
A semente de culminância de fatos que começaram ocorrer a partir dos anos
30, com os movimentos nacionalistas cruzavam mutuamente desde 1922, com a
semana de arte Moderna, da fundação do Partido Comunista - PCB , a sublevação do
Forte de Copacabana e a criação do centro Dom Vital, com a revista A ORDEM (RJ) ,
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nos anos de 1921 e 1922 respectivamente, junto com a Igreja Católica combatendo o
pensamento inimigo como o positivismo e o Evolucionismo.
A semente para culminância de fatos que começaram ocorrer a partir dos anos
30, ou seja, os movimentos nacionalistas se cruzavam mutuamente desde 1922.
Como a Semana de Arte Moderna, fundação do Partido Comunista Brasileiro
(PCB), a sublevação do Forte de Copacabana e a criação do Centro Dom Vital, a
revista A Ordem (RJ), nos anos de 1921 e 1922 respectivamente, junto a Igreja
Católica combatendo o pensamento inimigo como o Positivismo e o Evolucionismo.
Com pensamento nacional autônomo, despontando movimentos chauvinistas,
como principal elemento para erguer a nação.
Francisco Iglésias (1981) na análise do pensamento reacionário de Jackson
Figueiredo ao lado de Dom Sebastião Leme, observou que o lema predominante nas
suas obras: A ORDEM, subordinado aos princípios traçado pela Igreja Católica, fala-
se na recristianização do país, na contra - revolução, ou seja, no revigoramento da fé
e do trabalho da Igreja atingirá áreas cada vez mais extensas. Fundamentou a criação
do centro Dom Vital e a revista A Ordem, atuando de modo aberto e intenso na política
do país, de modo a marcar posições, transforma o Catolicismo em força viva, pela
convocação dos correligionários e pelo proselitismo, procurando estabelecer em nível
nacional um pacto dos correligionários e pelo proselitismo, procurando estabelecer em
nível nacional um pacto entre a Igreja e Getúlio Vargas
A ideologia da ordem e da tradição, negava a mudança, valores absolutos,
conservadores com visão estática, legando a Igreja o suporte da ordem, para
fortalecer a sociedade, diante da sua concepção hierárquica, derivada do conjunto de
elementos que constituíram a Igreja Católica.
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Francisco Iglésias (1981) nos estudos feitos sobre História e Ideologia, neste
período que antecede o estadonovista, afirma que Jackson Figueiredo afirmava que a
Reforma Protestante e a Revolução Francesa, para referir dois limites, teriam
quebrado a harmonia e a identidade do mundo (no mundo entende-se apenas o
ocidente).
Essas idéias promulgadas pelo intelectual Jackson Figueiredo ao lado da
Igreja, tiveram continuidade no pensamento de Alceu Amoroso Lima, dando
fundamentação na formação do Estado Novo, que o substituiu no Centro Dom Vital e
a frente da revista A Ordem.
Todo esse acontecimento entre 1931 e 1937 preparou o país para instalação do
novo regime sob a égide do gaúcho Getúlio Vargas, como ditador.
Enfocaremos nesse trabalho a construção da Nacionalidade Brasileira a partir
da análise de como a educação serviu de instrumento ideológico para elaboração do
Projeto Cívico-pedagógico que compunha um dos pilares do Estado Novo.
2.2 A NACIONALIZAÇÃO E A IGREJA
Projeto fascista de Francisco Campos
O projeto fascista de Francisco de Campos, que escreve um livro O ESTADO
NACIONAL, elabora com pormenor, detalhes dos fundamentos que justificariam a
criação de um estado totalitário, devendo substituir o estado liberal-democrático
justificando sua decadência.
Com o decreto de abril de 1931 que permitiu o ensino religioso nas escolas
públicas, ficou comprovado a fidelidade tanto do governo provisório e particularmente
de Francisco de Campos.
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Porém a Igreja questiona o ensino leigo e neutro, preconizado pelo Estado indo
de encontro a este tipo de ensino e propiciando a doutrina Católica nas escolas
públicas.
O primeiro Ministro de Educação e Saúde de Vargas, anterior a ditadura do
Estado Novo, Francisco de Campos, responsável pelas reformas educacionais na
década de 20, exercendo o Ministério da Justiça no período estadonovista, foi o
mentor intelectual do golpe de estado de 1937. Seu assessor Gustavo Capanema, o
substituiu e deu continuidade e consagração das reformas, estando à frente do
Ministério.
A questão educacional nesse período creditava instrumentos que possuía e
seria capaz de resolver os problemas de atraso, pobreza e da ignorância que assolava
o país.
O conjunto de noções e pressupostos que passaram a ser aceitos desde então
como consensuais na política educacional brasileira, os quais incluíam a idéia de que
o sistema educacional tinha de ser unificado em todo território nacional. Cabia ao
governo regular e fiscalizar a educação em todos os níveis.
Neste momento é dado essencial relevo ao problema de Educação Moral e
Cívica, isto é, da formação do caráter e do patriotismo.
Helena Bousquet (1984) descreve que em 1932,a revogação do decreto de
ensino religioso, favorecendo a introdução de disciplina de caráter técnico-científico,
denuncia como um dos fatores de laicização do ensino, principalmente com supressão
da cadeira de Educação Moral e Cívica seria criticado como um excesso de
racionalismo.
Simon Schwartzman (1984) ressalta a fundação em 1924 por Heitor Lira da
Associação Brasileira de Educação, tinha como principal função trazer à baila a
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questão educacional, pelas conferências nacionais, publicações de revistas e cursos
de diversos tipos. Cedo, porém as diferenças chegando até a polarização que se
estabelece entre os representantes do chamado Movimento da Escola Nova e da
Igreja Católica.
O Movimento da Escola Nova, estruturado em vários temas e de alguns nomes
de destaques na área educacional, como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo,
Manuel Lourenço Filho.
Simon Schwartzman (1984) destaca que a Escola Nova com um projeto
totalmente definido, defendia uma escola pública universal e gratuita e que deveria ser
proporcionada para todos, e todos deveriam receber o mesmo tipo de educação.
Caberia ao setor público, e não a grupos particulares, realizar esta tarefa; pela
complexidade e tamanho, por isto não seria o caso de entregá-la ao faccionismo de
setores privados.
Esta escola pública defendida pelo Movimento teria como princípios
pedagógicos o afastamento da transmissão autoritária e repetitiva nos ensinamentos,
prevalecendo um processo de ensino mais criativo e com menos rigor de
aprendizagem.
2.3 RENOVAÇÃO CATÓLICA
Os princípios fundamentais
A Igreja nos anos 30 já buscava encontrar seu espaço no novo regime, tendo
como articulador Francisco de Campos.
Neste momento da Revolução de 30 à Igreja se faz presente nos discursos
vigorantes e utiliza-se da revista A Ordem que, aclama os católicos para inferir uma
posição da Igreja na sociedade, afeito a sua hegemonia.
29
O governo estabelecido promulga o decreto que permitiu o ensino religioso nas
escolas públicas, abolido desde a Constituição de 1891, porém a Igreja reclama para
si, autoridade do ensino religioso. O Estado contrapõem-se ao ensino neutro sendo
propício ao ensino religioso católico.
A Igreja participa nesse novo projeto de governabilidade reconstruindo seu
discurso, pois a educação, vista como uma área estratégica, no espaço institucional.
A Reforma na educação ocorria simultaneamente, a formulação e as ações
preparadas gradualmente às normas, regulamentos e projetos que atendessem a
totalidade do sistema educacional no país.
Mudanças marcaram neste período a Escola, devido a crescente
industrialização, revisando o currículo e introduzindo disciplinas técnico-científicas, é
denunciada pela Igreja com um dos fatores da laicização do ensino.
A Igreja faz denúncias sistemáticas utilizando, de publicações da revista A
Ordem, como um mostrador para análise do seu papel na educação, relatando
historicamente a sua condução da educação.
Aponta para um Estado secularizado após a revogação de decreto que permitia
o ensino religioso católico nas instituições públicas, ou seja, à descristianização do
ensino.
À frente do Centro Dom Vital, Alceu Amoroso Lima subleva-se contra o
Manifesto dos Pioneiros da Educação, que defende o monopólio estatal da educação,
a laicização e gratuidade do ensino, denunciando a falência da escola liberal,
implantado no país.
O Centro Dom Vital baseada na Ação Social Católica e definido com a mesma
idade da Igreja, professa “O trabalho de re-encarnação do Verbo na vida social”.
30
Alceu Amoroso lima na revista A ORDEM, escreveu uma lista de medidas que
deveriam ser adotadas pela área de educação, mas em outras áreas do governo.
As partes referentes à educação são muito extensas, por isso a sua transcrição
será o necessário que nos interessa para o trabalho, no setor de educação:
� A seleção dos professores e das administrações em todo o país;
� Eleição de um conjunto de princípios fundamentais da educação no
Brasil;
� Publicação de uma grande revista nacional de educação na base de
princípios, com boa elaboração etc., e rigorosa exclusão do
ecletismo religioso;
� Defesa das humanidades clássicas nacionais e educação; latim e
grego, e sua incorporação no plano
� Ideologia de uma filosofia sã;
� Entendimento com os estados para uma uniformidade na orientação
educativa;
� Elaboração de um plano de educação nessas bases;
� Facilidades do ensino religioso em todo o país.
Com todas as medidas tomadas, poderemos realmente afirmar que o Ratio
Studiorium foi retomado e trazido para o período estudo e as ações aplicadas nos
departamentos de educação e escolas.
Explicitado desta forma a simbiose com a ideologia, perpassando pela
pedagogia e educação.
Schwartzman (2000), no artigo Tempos de Capanema, aponta que a Igreja não
era o único setor organizado da sociedade pretendendo se utilizar da educação como
31
meio mais amplo, ligado a um projeto mais ou menos explícito de construção de um
estado nacional forte.
Também as Forças Armadas viam na educação um caminho indispensável para
um projeto nacional do qual se sentia responsável.
Cambi (1999, p. 382) ...o que caracteriza esta época, manifestou-se antes de
tudo como uma “estreita dependência da ideologia”, dos projetos de domínio,
organização e transformação do mundo social expressos pelas diversas classes
sociais, pelos grupos culturais etc.
Foi um período histórico em que o Estado firmou-se como Estado de Direito,
revestiu-se de ideologias estatais , principalmente para orientar e controlar todos os
níveis a sociedade brasileira, deixando claro que o governo tinha obrigação com os
seus cidadãos, protegendo-os de qualquer suspeita e ou agressão nacional.
O Governo Federal, Igreja Católica e Forças Armadas, havia um projeto
inspirado essencialmente na ascensão de suas doutrinas, que tinha como principal
meta à unificação da força moral da Igreja com a força física dos militares,com
mobilização nacional e que a educação jogava um papel central.
Todos os projetos governamentais mutuamente implantados com seus
parceiros neste período serviram de amálgama para realizar as suas propostas.
O embasamento da constituição da nacionalidade culminava com toda a ação
pedagógica do Ministério da Educação e Saúde, num esforço de concretização da
nacionalidade, elaborando um conteúdo nacional a educação, transmitida nas escolas,
por órgãos que teriam sua funcionalidade formativa.
Esse conteúdo nacional, não materializaria na busca das raízes mais profundas
da cultura brasileira, derivado do modernismo Andradina. Absorveu aspectos do
modernismo, regozijado da história mitificada dos heróis e das instituições nacionais e
32
o culto à autoridade, ênfase no catolicismo brasileiro em detrimento de outras formas
religiosas. A uniformidade e estabilidade do uso adequado da língua portuguesa em
todo território nacional.
Vanda Costa (2000) destaca o aspecto da padronização. A existência de uma
“universidade-padrão”, de escolas-modelos secundárias e técnicas, de currículos
mínimos obrigatórios para todos os cursos, de livros didáticos padronizados, de
sistemas federais e controle de fiscalização, tudo isto correspondia a um ideal de
homogeneidade e centralização do “modelo napoleônico” instituído na França, após a
Revolução de 1789, que permitiria ao Ministério, de seu escritório no Rio de Janeiro,
saber o que cada aluno estava estudando, em que cada escola do país em um dado
momento.
Uma das grandes preocupações dessa nacionalização estava focada na
erradicação das minorias étnicas, lingüísticas e culturais que imigraram para o Brasil
nas últimas décadas do século IX e as primeiras décadas do século XX.
Este último aspecto da política de nacionalização xenófoba vai nortear a
composição literária deste trabalho.
Como descreve Vanda Costa (2000) durante o desfile do Dia do Trabalho no
Grêmio Esportivo Renner, Porto Alegre, 1937, o Ministério da Educação deveria criar e
executar um programa de desapropriação progressiva das escolas estrangeiras,
nomeando diretores brasileiros até a substituição completa dos professores
estrangeiros por nacionais.
O nacionalismo excludente da política autoritária do Estado Novo sentia-se
ameaçado de ser destruída pela ação de grupos estrangeiros, procurando desagregá-
los para garantir a unidade nacional, combatendo as influências nazistas e semitas.
33
Diante da construção governamental da nacionalização, preconceitos e
estereotipo constituíam-se presentes, requeria um Estado Nacional, um ator coletivo,
tendo presentes formas “étnicas”, parecia impossível uma nacionalidade com
simultânea convivência de diferenças culturais.
Pela primeira vez, na história do país, o poder público, enfrenta o problema de
nacionalização dos imigrantes e seus descendentes considerado um “problema
nacional”, com a intenção de destruir as diferenças e proceder a uma seleção na
formação da cidadania brasileira.
Schwartzman (1984) nos estudos feitos neste período, à campanha de
nacionalização do ensino chegou ao seu clímax em 1938, com a formulação e
promulgação de um número substancial de decretos-leis destinados essencialmente a
deter a experiência educacional dos núcleos estrangeiros nas zonas de colonização.
Este aspecto teria um tratamento unilateral da Igreja Católica e do Ministério da
Educação, em relação a grupos estrangeiros, como auxiliar na reorganização com
cunho de um espírito de brasilidade as sociedades recreativas e culturais.
Bomeny (2000) trata das questões dos núcleos estrangeiros que emergia como
problema e obstáculo para aqueles que se atribulam a responsabilidade de pensar o
nacionalismo brasileiro desde o início do século, será redimensionada de forma radical
no contexto do Estado Novo. Parecia impossível construir uma nacionalidade com a
simultânea convivência de diferenças culturais. Construir o nacionalismo era ao
mesmo tempo, destruir as diferenças e proceder a uma seleção na formação da
cidadania brasileira.
Várias questões são levantadas com a conjuntura internacional como o nazi-
facismo e o anti-semitismo se confrontavam com as pressões homogeneizadas do
governo central, com autopreservação da identidade de grupos étnicos emigrados.
34
O governo brasileiro durante um longo período não deu a atenção devida e
preocupação referente aos núcleos de colonização estrangeiros concedendo total
liberdade, para a criação de uma vida coletiva, formando sociedades recreativas,
hospitais, comunidades religiosas e as escolas.
No que diz respeito à escola, a Igreja não reconhecia o ensino religioso
ministrado em escolas não católicas, pois os núcleos estrangeiros tinham suas
escolas confessionais.
A nacionalização do ensino após 1937, ou seja, a formação política educacional
do Estado Novo, foi padrão o caráter excludente, repressor, contrário à convivência
pluralista e diversificada dos grupos étnicos estabelecidos no país, passando a refletir
como estranhos ao projeto de nacionalização.
2.4 O DISCURSO EUGÊNICO BRASILEIRO NO INÍCIO DO SÉCULO XX
Os judeus provenientes do Leste Europeu se instalaram em algumas cidades
do país, Rio de Janeiro, São Paulo, e também Recife. Eram denominados de grandes
centros urbanos do país. Estas cidades baseavam-se na economia – indústria e
comércio – não trazendo nenhuma dificuldade para os judeus, pois possuíam
experiência no ramo por viverem em cidades e praticavam atividades comerciais.
Helena Ragusa (2001) aborda que até a década de 1930, o que se pensava no
Brasil a respeito da imigração era que fosse um favor de contribuição para a formação
racial e cultural da sociedade, especialmente se essa estivesse influenciada pelo ideal
do branco europeu. Após esse período o migrante, transformou-se num discurso
nacionalista e nativista, o que levou a criação de uma lei que restringia a entrada de
estrangeiros no país, destacando-se o judeu. O intuito desse discurso estava em
“preservar a raça brasileira”, sendo assim, no ano de 1934, foi elaborada uma lei que
35
definia a estratégia de controle de imigração. A partir de então, o governo brasileiro
passou a ter autoridade total sobre a entrada de imigrantes, principalmente a dos
judeus.
No Brasil, a corrente Positivista se destacou, principalmente, nas duas
primeiras décadas do século XX, especialmente nas obras de Euclides da Cunha,
Oliveira Viana e Silvio Romero, retratam alguns dos postulados positivistas, como
determinantes da evolução histórica nacional.
Sílvio Romero um dos intelectuais, simpatizantes das idéias nacionalistas que
queriam encontrar uma identidade autóctone para a população brasileira.
Tais intelectuais, acima citados, foram influenciados pelas concepções
evolucionistas e teorias sociais européias, em meados do século XX, com a idéia de
branqueamento racial, na mentalidade brasileira.
Podemos perceber que estão presentes em suas obras as diferenciações
raciais como medida para evolução de um povo e também as condições climática e
geográfica, como fatores de desenvolvimento.
Para Cambi (1999, p. 381), a contemporaneidade é também a época da
educação social que dá substância ao político (enquanto a política é governo dos e
sobre os cidadãos).
Diante da citação do autor acima podemos compreender o regime instalado
desde os anos 30, sob a égide de Getúlio Vargas que imbuíu-se da educação social
para sustentabilidade do sistema governamental implantado no Brasil.
A questão judaica – um problema racial, devido ao racismo messiânico judaico
– que passa além da problemática imigratória dos judeus no país, buscando analisar
os discursos raciais e políticos proferidos no final do século IX, às primeiras décadas
do século XX, tendo o judeu como representação do fazer discurso.
36
Dikoter (1988) explana que o discurso ao qual se refere, é o discurso da
eugenia considerado como um aspecto fundamental de alguns dos mais importantes
movimentos sociais e culturais do século XX, especialmente porque para alguns
países o ideal eugênico seria a solução para as políticas públicas que entre outras
coisas, almejavam uma limpeza étnica.
Os cientistas brasileiros, nas primeiras décadas do século XX, passaram a se
dedicar no uso que se faria das premissas eugênicas. O conceito principal era criar um
mestiço forte e saudável, tornando o tipo ideal, sem que sofresse interferência étnica.
A partir dessas premissas foram dificultadas entradas de alguns estrangeiros,
que pressionara os poderes públicos, através das elites de alguns países ocidentais,
de imigrantes de origens africanas, asiáticas e judia no país.
Na Europa se propagavam idéias a respeito do judeu, influenciando certa
camada de intelectuais, funcionários do governo brasileiro, assimilando, os quais
possuíam tendências nacionalistas, xenófobos a respeito da formação étnica do país.
Essa forte influência eugênica referente ao povo judeu, conduzia por manterem
suas tradições religiosas e culturais, e acusados de filo-semitismo, como sua imagem
associada ao comunismo.
As teses anti-semitas proliferaram em setores do governo durante a ascensão
do nazismo.
Os teóricos nacionais postulavam-se a formação de uma nação que tivesse um
padrão sociocultural mais elevado, porém no Estado Novo, alertaram-se pela
qualidade da formação educacional dos judeus que se transferiam para o país fugindo
do nazismo, e trazendo uma forte identificação com o ideário comunista e anarquista.
Essa vinculação com o comunismo poderia ser decorrente da vivência dos
judeus do Leste Europeu, que eram operários de fábricas e com isso imbuído dos
37
conhecimentos intelectuais referentes à revolução industrial e proletários, muitos
deles faziam parte dessa intelectualidade européia.
Neste momento, a concepção dos teóricos prosélitos das idéias deterministas e
Darwinianas vigentes na Europa nazista, acreditava na existência de raças e culturas
mais avançadas no processo evolutivo.
Portanto, os fatos conjunturais e a ideologia reinante na época seriam
necessários alguns requisitos básicos, desde 1934, para entrada no Brasil, dos judeus
, como dispunham a trabalhar no campo e ter de comprovar capacidade de adaptação
à cultura brasileira.
Esses pontos dificultavam aos judeus sua entrada no país, porque
culturalmente eram vistos como inaptáveis por manterem inalteradas suas tradições e
costumes mesmo quando vivendo em outros países, e por formação, a maioria era
composta de trabalhadores urbanos.
Os judeus apontados como avesso a atividades produtivas, conseqüentemente
existiu empecilhos para sua entrada no país.
38
CAPÍTULO 3 INTERVENTORIA DE AGAMENON MAGALHÃES PERNAMBUCO
39
“Vim para realizar a emoção do Estado Novo”
Agamenon Magalhães
Em 3 de dezembro de 1937 assumi o governo estadual o Interventor Agamenon
Magalhães, afirmando que o golpe para Pernambuco foi uma renovação.
Restabeleceu a autoridade do governo, fortalecendo o poder central, estando à frente
Getúlio Vargas e, colocando nos estados interventores que pudessem ser seus
seguidores das ações que seriam implantadas pelo novo sistema governamental.
Andrade Lima (1976) afirma que Agamenon Magalhães, teórico e executor em
Pernambuco, chegaria a refutar como nocivas, às próprias liberdades consagradas na
Declaração Universal dos Direitos do Homem – assegurar todas essas liberdades e
dizer – “morra de fome “ –a essa democracia não darei meu voto, minha colaboração,
porque contra ela clama a minha consciência de cristão, minha cultura, clama o mundo
atual.
Dessa forma foi o Interventor, teorizante e praticante do regime, foi o doutrinário
mais fiel e mais ortodoxo da nova ordem. Portanto a busca desenfreada do “Consenso
máximo” na sociedade pernambucana, é de grande relevância para o interventor do
estado, procurando cumprir com as exigências do Governo federal.
Apelidado por Getúlio de “meu carrasco político”. Realiza um governo
considerado como um modelo a ser seguido pelos demais estados da federação.
40
. Decisões e estratégias na educação
Para compor a Interventoria em Pernambuco, Agamenon aliou-se a Igreja
Católica com enfoque voltada para a recristianização da sociedade. A coligação entre
o espiritual e o temporal, assegurou intelectuais que faziam parte da Congregação
Mariana da Mocidade Acadêmica e a Liga para restauração dos Ideais, na época
dirigida pelo jesuíta hindu Padre Antônio Fernandes.
Citaremos alguns desses nomes: Etelvino Lins, na segurança, Manoel Lubambo
na Fazenda, Apolônio Sales na pasta de Agricultura e numa das pastas mais
importante para a implementação da ideologia Varguista, no Departamento de
Educação, Prof° Nilo Pereira, também redator-chefe do Jornal Folha da Manhã e líder
da maioria no Governo de Agamenon Magalhães.
Com a constituição desse pacto Estado/Igreja, ambos tinham como proposta
monopolizar a educação, eleita como veículo de reprodução ideológica (Bourdieu,
Pierre. A economia das trocas simbólicas).
Para Cambi (1999, p. 381), a contemporaneidade é também a época da
educação e de uma educação social que dá substância ao político (enquanto a política
é governo dos e sobre os cidadãos).
Diante do colocado acima ao assumir o cargo Agamenon, inaugurou o Jornal
Folha da Manhã, de sua propriedade, tendo como finalidade ser o porta-voz do seu
pensamento e da sua ação, trazendo claramente nas colunas por ele escrita os
princípios que orientariam a ação renovadora do Estado. Cotidianamente redigia,
demonstrando que a Imprensa é uma grande força social que não poderia ficar ás
41
margens desse momento histórico, de um regime que coordena todas as ações
nacionais.
Nilo Pereira (1985) escreve que Agamenon tinha um poder de síntese de sua
doutrinação diária pela imprensa.
Defendia publicamente que a propaganda deve ser função do estado porque,
sem ela não há visibilidade, nem orientação. (Folha da Manhã 25.02.38).
Declara publicamente, que a edição Vespertina da folha foi o Jornal que fez
desde o primeiro número. Um Jornal para o povo, informativo e que circulasse em
todos os recantos da cidade, a começar pelos subúrbios. Jornal só de fatos e coisas
brasileiras, jornal de propaganda do Estado Novo.
Depois o objetivo não é comercial, por isso seu preço é baixo. A “Folhinha”,
conquanto informativa, é, por excelência um pregão de doutrina. Doutrina do Estado
Novo, que é uma atitude diante do conflito das culturas. Por isso afirmava que o
jornalismo faz parte do meu governo. (Folha da Manhã 25.02.39).
Observamos que nos escritos do Jornal Folha da Manhã, neste período,
marcado por um profundo sentimento anti-semita decorrente principalmente de
manifestações ocorridas na Europa renascida no governo do Chanceler da Alemanha
Adolf Hitler, renasceu a obra intitulada Os Protocolos dos Sábios de Sião. Redigido no
final do século 19, publicado em 1905, considerado um best-seller do antijudaismo do
século 20.
De fato, ao inovar o anti-semitismo, passando da forma religiosa a velha
acusação dos israelitas ter matado Cristo, para as acusações mais “modernas” de
cunho político-social, os Protocolos mostram a expressiva participação judaica nos
movimentos a favor do desenvolvimento social e político do ser humano.
42
Tal transformação do antijudaísmo foi muito bem apreendida por um dos
maiores escritores da língua portuguesa, Eça de Queiroz (1845-1900), no artigo
israelita, Carta de Inglaterra, dos fins do século 19. Ao tratar da onda do anti-
semitismo fomentada na Alemanha pelo príncipe Bismarck.
Os Protocolos refletem a mudança – também não incitam o ódio aos judeus por
serem “deicida”, mas por serem fomentadores dos subversivos ideais iluministas da
Revolução Francesa, da liberdade política, do Marxismo, liberdade de imprensa,
direito do povo, sufrágio universal, direitos republicanos, a formação de fileiras do
exército socialista, comunista, anarquistas, sendo também responsáveis pela
sociologia, democracia, parlamentarismo, mudanças políticas e sociais que fizeram o
mundo progredir a avançar na busca do desenvolvimento humano.
Segundo Golgher (2006) a obra é atribuída a um “Sábio de Sião”, quando salta
aos olhos de ser de autoria de um indivíduo bem enfronhado nos temores das
agitações sociais assaltavam as privilegiadas elites dos reinos autocráticos cristãos da
Europa dos séculos 17,18,19.
Trata-se de uma falsificação criada na Rússia pela Okhrana ( polícia secreta),
que culpava os judeus pelas mazelas do país. Foi imprensa pela primeira vez
privativamente em 1897, e tornada pública em 1905. Foi copiada de uma novela do
século 19 escrita por Hermann Goedsche (BARRITZ, 1868) e alega que uma
conspiração judaica planejava assumir o controle do mundo.
A História básica foi composta por Goedsche, novelista anti-semita alemão,
plagiou a história principal de outro escritor, Maurice Joly, cujos diálogos no Inferno
entre Maquiavel e Montesquieu (1864) tratavam de um complô no inferno com o
objetivo de se opor a Napoleão III. O que Goedsche contribuiu de original consiste
43
primordialmente na introdução dos judeus como conspiradores para conquistar o
mundo.
Os russos usaram grandes trechos de uma tradução para o russo da novela,
publicaram-nos separadamente como os Protocolos e alegaram ser os textos
autênticos. Seu propósito era político, fortalecer a posição do czar Nicolau II expondo
seus opositores como aliados dos que faziam parte de uma conspiração para dominar
o mundo. Assim os Protocolos é uma falsificação de uma ficção plagiada.
“De fato, a influência dos “Protocolos” na furiosamente antijudaica da ideologia
nazista esta registrado na “ Mein Kampf” – Minha Luta – de Adolf Hitler, o livro sagrado
do II Reich. Reza tal ideologia que o desenvolvimento da humanidade e resultado de
uma “luta de raça”, ou seja do conflito de sangue, entre a raça superior germânica
ariana, contra as raças inferiores, entre as quais se destacaria a “raça judaica”, a pior
dela, seguidos pelos povos mestiços, como os habitantes do Brasil, os ciganos etc.
Todas elas fadadas ao extermínio, ou na melhor da hipótese serem transformados em
escravos.1
Aqui no Brasil, os judeus foram recebidos e localizados em algumas regiões:
São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco que é nosso foco de
pesquisa, referente à formação e construção da identidade e, de como ela serviu de
suporte para a Educação e a formação da Escola Congregacional Judaica.
O governo estadual junto com a imprensa religiosa, levantou questões
referentes à vida dessa comunidade no Estado, se mantendo em vigilância contra a
presença do judeu que neste momento passou a ser indesejável junto à sociedade
pernambucana cristã.
1 GOLGHER, Marx. Por que devemos ler “Os Protocolos do Sábio de Sião”. Notícias. Fale Conosco.
Acessado em 31.03.2006.
44
A Folha da Manhã como instrumento formador de opinião pública, passou a
elaborar textos com conteúdos anti-semíticos, conduzindo a população a ter uma
imagem negativa desse povo.
Tendo como um dos seus objetivos o de alertar para o que consideravam uma
“invasão judaica” em Pernambuco, afirmando que:
“A colonização judaica no Recife deve ser actualmente na proporção de 1 por
50 habitantes.
A maioria desses judeus possuidores de fortuna quatro a cinco vezes
superiores aos seus competidores nativos, estão aos poucos invadindo as profissões
liberais.
Proprietários do comércio médio do recife: preços-únicos, movelarias,
joalherias, fornecedores de material para as Usinas, prestanistas, traficando em todos
os ramos de atividade comercial, vão aos poucos drenando toda a pequena economia
local. Proprietários de bom número de prédios no centro urbano do Recife, em breve
senhores absolutos do comércio recifense, nada impedirá a assenção de Israel ás
classes sociais e â magistratura. A juventude sionista aqui nascida
Freqüenta e vai se formando em nossas escolas superiores.
Não obstante a interdição de funcionar a “HITCHIA” organização da juventude
sionista, os Clubes Israelitas funcionam livremente no Brasil (...).
O judeu-polvo d comércio e dreno do capital já não quer emprestar o seu ouro
aos Bancos regionais: o banco israelita no Recife garante aos iniciados o segredo dos
bons negócios.
A invasão dos judeus no comércio do recife não é uma lenda para uso dos anti-
semitas, a invasão judaica em Pernambuco é uma realidade”2
2 “Invasão Judaica de Pernambuco” in Fronteiras. Recife, agosto de 1938, p.4.
45
Eventos só eram permitidos com a autorização do delegados do DOPS:
Figura nº 01
Esta ilustração mostra o Centro Israelita de Pernambuco, localizada na
rua da Glória,- Boa Vista , n 687 que na parte superior funcionava , com
promoção de eventos como: festas, reuniões que tratava dos interesses da
comunidade em Pernambuco.
46
No piso inferior funcionava a Escola Israelita, que neste período ensinava
o primário e, depois os alunos(as) judeus seguiam para outras escolas como a
Escola Normal.
Neste período quando de interventoria , se houvesse necessidade de
promover reuniões ou outros acontecimentos, seria necessário informar ao
DOPS, como abaixo está citado :
Ilmo. Sr. Delegado da Ordem Política e Social
M.C. presidente do Círculo Israelita de Pernambuco, para os devidos fins, leva
ao conhecimento de V. As. Que está marcada para hoje às 20.00 horas na sede deste
Círculo a Rua D. Bosco nº 687, uma conferência sobre os últimos acontecimentos na
Palestina.
Saudações
Recife, 22 de fevereiro de 1938.3
Para que a conferência seja realizada a condição imposta :”que seja proferida
em português e assistida pela polícia”
Outras conferências foram proferidas e todas tinham de fazer a solicitação ara
acontecer à reunião. Eventos deste tipo só eram permitidos com a autorização do
delegado do DOPS:
3 Fonte: correspondência do centro Israelita para o delegado do DOPS. Prontuário funcional nº 413 –
DOPS –APEJE.
47
Figura nº 02 – Passeio a Dois Irmãos
Esta imagem representa um grupo de alunos(as) judeus e professores que foram fazer um
passeio no Horto de Dois Irmãos.
Percebemos que é um grupo pequeno, pois a comunidade estava se formando em recife.
48
Figura nº 03 – Horto de Dois Irmãos
Esta imagem enfoca alunos (as) do Colégio Hebreu Idish Brasileiro , acompanhadas com
professores , em um passeio ao Horto de Dois Irmãos, mostrando uma placa identificando o
nome do Colégio.
Todos esses passeios ou outros eventos em que os judeus se propunham a realizar, não
deveriam deixar de solicita para o DOPS, e assim obter a liberação.
Este relato abaixo, descrito, demonstra de como a interventoria tratava a comunidade
judaica nas suas atividades, tanto referente aos passeios e ou atividades de reuniões que diziam
49
respeito ao que estava acontecendo na Europa, pois estávamos vivendo um período de guerra, e
que as perseguições eram muito fortes em relação aos judeus.
Ilmº Sr. Dr. Delegado de Ordem Política e Social
Parte
Cumprindo as vossas recomendações, assisti, hontem as 20.00 horas, na sede
do Centro Israelita de Pernambuco, a Rua da Glória, nº 215, a conferência do Sr. L.
H., Delegado do “Comitê Central de Socorro as Vítimas da Guerra”. Apresentado o
conferencista, usaram da palavra, o Dr. S.J., representante, neste Estado da Cruz
Vermelha Brasileira e J. B. presidente do centro israelita, nesta capital.
A conferência foi realizada em idioma espanhol sob o tema: Auxílio as vítimas
da Guerra. O orador descreveu os horrores da guerra atual, da necessidade de
amparo as suas vítimas, sem distinção e da situação de desespero em que encontrava
os milhares de judeus, espalhados pelos países ocupados. Lembrou que osmos, em
grande parte, sofrem, na Polônia, atualmente atrozes perseguições, sendo preciso que
todos os judeus se congreguem, no momento, para auxiliá-los. Citou que esse
movimento de coordenação vem sendo feito em todos os paizes das Américas.
Referindo-se ao Brasil, disse que aqui encontrava hospitalidade e garantias,
graças a sã política do governo. Condenou a política nazista, dizendo que si, para a
infelicidade do mundo a Alemanha triunfasse, todas as nações sentiram o má reflexo
da sua política e os Judeus, em particular, desapareceriam da face da terra.
Sem qualquer anormalidade, o conferencista encerrou o seu trabalho às 22.50
horas.
50
Recife, 17 de janeiro de 1941.4
Figura nº04 – Colégio Idish Brasileiro
Esta foto define bem de como os judeus gostavam de retratar a sua história ,
como apresenta , os alunos (as) e personalidades que faziam parte da comunidade e
desempenhando seu papel na escola.
Todos os acontecimentos teriam que ser informado ao governo, para que este
enviasse uma pessoa com responsabilidade para relatar todo ocorrido em forma de
relatório.
Mostrando como os judeus deveriam se portar na cidade.
4 Fonte: “Parte” do investigador do DOPS.Prontuário Funcional nº413 – DOPS –APEJE.
51
Mesmo passeios da Escola Judaica para Dois Irmãos, Praias teriam que pedir licença
e ter um acompanhante do DOPS para realizar o relatório ocorrido.
Isto implica que existiu uma vigilância nas Associações, Escolas etc.
Perseguidos pelo Interventor Agamenon Magalhães.
Para compreender o papel da educação em Pernambuco, como veículo de
reprodução ideológica, neste período 1937-1945, a escola a partir de então teria como
pressuposto formar no educando uma concepção de vida patriótica e cristã, cujos
pilares, estavam calcados no amor à Pátria e à Igreja. Ao serviço público caberia
veicular um discurso educacional – réplica do discurso político do Estado - no qual a
relevância dada ao aparelho escolar, como instrumento na formação de hegemonia,
substituiria qualquer possibilidade do uso da força para a legitimação do novo regime.
Cabia ao serviço público transformar em senso comum a nova política, assegurando o
consentimento, via persuasão.5
Porém muitas crônicas cotidianas da Folha da Manhã, propositadamente
argumentavam à acusação católica de que os judeus era um povo deicida: os
matadores de Cristo. Como tais, deveriam sofrer a expiação pelo terrível pecado, isto
por José campelo, contribuindo para alimentar a idéia de perigo “inerente”, a
comunidade judaica (ATAÍDE, 2001).
5 Pereira, Nilo. Seminário Pedagógico in Revista A Ordem, junho 1038, p. 15.
52
Figura nº 05
Imagem mostrando os poucos alunos que deveriam estudar no Colégio,
mostrando uma disciplina, onde estão sentados para marcar este momento.
Observa-se a placa escrita em Idish na frente dos alunos, que está
demonstrando importância da sua cultura lingüística.
53
O Colégio Hebreu , neste período histórico em Recife, teve que adaptar-se a
alguns exigências, pois estava existindo um Projeto de Nacionalidade referente a
Educação, que todos deveriam participar e cumprir algumas regras.
Para compreender o papel da educação em Pernambuco, iremos analisar o
Projeto Político Pedagógico como veículo de reprodução ideológica, neste período de
1937-1945, sendo colocada como foco de resistência à ideologia autoritária,
representada em Pernambuco por Agamenon Magalhães. Como interferiu na Escola
Congregacional Judaica e de como passou a funcionar num espaço, onde os
princípios norteadores deste projeto educacional seriam tradicionais, permeados com
os princípios integralistas: Deus, Pátria e Família.
Figura nº 06 Centro Israelita de Pernambuco
54
Esta imagem fotografada de um ângulo transversal , dando possibilidade
de uma visão excelente da rua da Glória, e o prédio onde abrigava o Colégio Idish
Brasileiro.
CAMBI ( 1999, p. 382) ...esta época manifestou-se antes de tudo com uma”
estreita dependencia da ideologia” , dos projetos de domínio, organização e
transformação do mundo social, expressos pelas diversas classes sociais, pelos
grupos sociais, etc. Constituíram um pacto que estava explícito a colaboração com o
novo regime e com o Projeto político nacional, quanto à importância dos valores
religiosos como fundamental para consolidação moral da nação.
Toda a formulação desse Projeto Educacional, elaborado através do
Departamento de Educação do Estado, tinha em seu bojo um órgão controlador, que
deveria estar claro à diretriz nacionalista e católica, através de um novo modelo de
currículos, de programas de ensino, com o qual todo o país deveria estar em sintonia,
ou seja, num único projeto.
Se a sociedade moderna tem necessidades de ideologia e do jogo complexo
das ideologias para garantir no seu pluralismo dinâmico seu poder em coesão e em
organicidade, para garantir ao mesmo tempo liberdade de sujeitos, grupos, castas,
classes, povos, etc. e domínio orgânico sobre eles, então a dimensão pedagógica se
torna não só central, mas também carregada desta vontade de coesão, de unificação
social, mediante o papel mediante o papel de socialização que ela vem concretamente
exercer e assumir como sua própria tarefa (CAMBI, 1999, p. 382).
Na ótica do novo paradigma pedagógico a educação em Pernambuco sofreu
profundas mudanças, estando à frente Nilo Pereira, então diretor do Departamento de
educação. Organizou a “Cruzada de Renovação Pedagógica”, resultando num
Seminário que culminou com o Projeto Político Pedagógico.
55
Em 1937, o Projeto Educacional revitalizou o Seminário Pedagógico. O
Seminário Pedagógico nesta conjuntura, transformou-se em instrumental formador de
um novo saber – por meio da manipulação dos programas e currículos educacionais -
junto ao professorado. Ao Seminário Pedagógico foi reservado o papel principal
(ALMEIDA, 1998, p. 17).
Assegurará a uniformidade de orientação do Corpo Docente, orientado para
utilização de textos em sala de aula, com encontros semanais. O Prof° Nilo Pereira,
que passou a exerceu fiscalização e controle do ensino no Estado e que a escola
situada como reprodutora.Suas funções foram de exercer controle e fiscalização do
Estado.
Toda essa nova situação ideológica, onde formulou as estratégias política,
educacional, social e cultural do Brasil, imposta pela Interventoria de Agamenon
Magalhães, investiu sobre a imagem social do imigrante judeu sendo apoiado pela
imprensa católica e oficial como doutrinamento.
Partindo desse quadro ideológico nacional, o Projeto Cívico-Pedagógico do
Ministro de Educação e Saúde, Gustavo Capanema sendo um dos mentores do
Estado Novo, como conseqüência da unilateralidade educacional. Pernambuco foi um
dos estados mais fieis à ordem vigente.
O Estado se sentia na necessidade de fixar, em leis, todos os detalhes da
atividade educacional, dos conteúdos dos currículos aos horários de aula. O ideal
seria, saber a cada momento o que estava ensinando cada professor em qualquer
parte do território nacional (SCHWARTZMAN, 1984).
Cambi (1999, p. 382) ...se a sociedade moderna tem necessidades de ideologia
e do jogo complexo das ideologias para garantir no seu pluralismo dinâmico, para
garantir ao mesmo tempo liberdade de sujeitos, grupos, castas, povos,etc. e domínio
56
orgânico sobre eles, então a dimensão pedagógica se torna não só central, mas
também carregada desta vontade de coesão, de unificação social, mediante o papel
de socialização que ela vem concretamente exercer e assumir como sua própria
tarefa.
As instituições de ensino não poderiam crescer aos poucos e ir definindo seus
objetivos ao longo do tempo. Mais inaceitável ainda seria a idéia de que elas
pudessem evoluir formatos, modelos e conteúdos distintos. Não havia lugar para
incrementalismo e muito menos para pluralismo (BOMENY, 2000).
Com essa nova visão da escola instrumentalizada, deveriam ocorrer, no
universo escolar diretrizes para algumas disciplinas, os programas e currículos, os
livros didáticos, emergiam como instrumento de poder e veículo doutrinário escolares.
Na verdade como mostra a pesquisa de a (1994, p. 104 e ss) a motivação da
igreja para agradecer, naquele momento, a regulamentação do ensino religioso era
mais política do que educacional, fazendo parte da construção da aliança entre Getúlio
Vargas e a Igreja. A Igreja coloca o ensino da Língua Nacional em primeiro plano, uma
das regras do “Ratio Studiorum”.
Como apresenta Bortoloti (2004) o método de ensino intitulado Ratio
Studiorium, elaborado pelos jesuítas no final do século XVI expandiu-se rapidamente
por toda a Europa e regiões do Novo Mundo em fase de ocupação. Tendo como
principal objetivo levar a fé católica aos povos que habitavam estes territórios, os
jesuítas utilizaram-se deste método para catequizar, servindo duplamente aos
interesses do colonizador e da Igreja contra-reformista. O Brasil enquadrava-se neste
contexto, sendo terreno fértil para a implantação deste “PROJETO”.
O Ratio Studiorium fora pensado para ordenar as instituições de ensino de uma
única maneira, com vistas a permitir uma formação uniforme a todos que
57
freqüentassem colégios, isso serviu perfeitamente para a comunhão Estado/Igreja de
ter uma base comum que serviria de suporte, em todos os lugares essas normas
deveriam ser seguidas a maneira como estavam prescritas no documento, em
coerência com os preceitos dos lados interessados.
Compõem-se de trinta conjuntos de regras, de um detalhado manual com a
indicação da responsabilidade, no desempenho, da subordinação e do relacionamento
dos membros da hierarquia, dos professores e dos alunos. Além de ser também um
manual de organização e administração escolar. A metodologia é bastante
pormenorizada, com a sugestão de processos didáticos para a aquisição de
conhecimento e incentivo pedagógico para assegurar e consolidar a formação do
aluno.
Neste período abordado de 1937-1945, onde vivíamos uma ditadura, esse
Projeto se inseri com um grau de fundamentação na busca destes princípios
elaborados pelos jesuítas desde o século XVI, retomando ao currículo que os mestres
deveriam ensinar e o modo como os assuntos predeterminados deveriam ser
abordados.
O uso deste Projeto neste período em que estamos estudando, o Estado foi
muito bem assessorado pela Igreja e intelectuais que faziam parte da Igreja, nas
Congregações e Ligas.
Portanto podemos perceber que o Ratio não era só um Projeto, mas um
rigoroso método de ensino, devendo ser seguido por todas as unidades de ensino,
para garantir a universalidade do trabalho dos mestres espalhado pelo Brasil.
A avaliação deveria ser feita diariamente pelo mestre, onde este deveria
observar o interesse do aluno, o engajamento e o desenvolvimento durante o
andamento das aulas. Os exames eram escritos, com possibilidades da realização de
58
mais dois exames. A prescrição como deveria ser feita a correção dos exames
também estava no plano
No Brasil com o nacionalismo aberto e declarado, justificado na argumentação
do anti-semitismo moderno, ou seja, do complô político de dominação dos judeus no
mundo, desenvolveu linhas de interpretações para justificar os procedimentos que
achavam necessários para a negação de entrada de judeus no país.
Em Pernambuco, o Interventor fazendo do seu jornal mensageiro das idéias
anti-semitas, difundidas na Europa e trazidas para o país, levando a população a
apropriações de conceitos em relação ao povo judaico, tendo comportamentos
violentos, como apedrejamentos nos seus estabelecimentos de trabalhos, como: lojas,
livrarias, cafés e outros.
Seguindo a linha de Barroso, a Folha da Manhã trabalhava a idéia de que os
judeus se achavam infiltrado em todas as nações do mundo, sendo responsáveis pela
Revolução Francesa, Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa, enfim, por todas
as comoções sociais, políticas e econômicas que haviam vitimado as nações
(ALMEIDA, 2001, p. 191).
Reproduzindo a infâmia nazista, a Fôlha da Manhã criticava qualquer
intervenção a favor da entrada de imigrantes judeus no Brasil, As reportagens sempre
terminavam com a advertência: “o que não serve para os outros [...]” (Fôlha da Manhã,
Recife, matutino, 27.11.1937).
O trabalho de construção da imagem do judeu pela Fôlha da Manhã fez emergir
mitos anti-semitas da Idade Média à Alemanha Nazista. Neste trabalho o jornal
codificou padrões de alteridade, em que estereotipo anti-semitas, reativados e
“identificados” como inerentes ao povo judeu, apontavam para a imagem do “outro”,
que deveria ser escorraçado do Brasil (ALMEIDA, 2001, p. 234).
59
Foi momentos de grandes dificuldades que os judeus passaram principalmente
até a definição do Ditador Getúlio Vargas em apoiar os Aliados – Inglaterra, França e
Estados Unidos na II Grande Guerra Mundial, contra o Eixo – Japão, Itália e
Alemanha.
A partir desse momento a comunidade judaica tranqüilizou-se diante de atitudes
que poderiam ter acontecidos, no Brasil em relação às atrocidades difundidas pelo
mundo sobre o que estava acontecendo com essa comunidade na Europa.
60
CAPÍTULO 4 IDENTIDADE E EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE JUDAICA EM
PERNAMBUCO
61
. Cultura, identidade e vínculo social
Os movimentos migratórios judaicos aconteceram no Brasil durante o período
colonial (século XVI-XVII), ulterior no período contemporâneo (século XX).
No período colonial das migrações judaicas, denominados de cristão-novos6,
foram perseguidos com a implantação do Tribunal do Santo Ofícios da Inquisição em
Portugal, tentavam estabelecer-se no Brasil (Pernambuco), como mercadores,
senhores de engenho, faziam empréstimos (agiotas) e se transformaram em rendeiros
na cobrança dos dízimos.
Com a vinda do Conde João Maurício de Nassau à Capitania de Pernambuco,
os judeus de origem portuguesa – sefaradim ou sefaraditas7 e holandesa foram
seduzidos por vantagens econômicas nos negócios de açúcar, estabeleceram como
comunidade8 e mantiveram sua identidade (liberdade religiosa). Muitos vieram a
declararem-se publicamente judeus, fazendo-se circuncidar e usufruindo privilégios
econômicos e sociais da época, pois se integraram à Companhia das Índias
Ocidentais, ou seja, ao comércio do além-mar.
Nesse período de domínio flamengo, supõe-se que as congregações que se
estabeleceram na Capitania de Pernambuco (Recife e Maurícea), construíram sua
6 SILVA, Leonardo Dantas. Uma Comunidade Judaica na América Portuguesa. Texto apresentado no
seminário O mundo que o Português criou Judeu convertido ao cristianismo. 7 KAUFMAN, Tânia Neumann. Passos Perdidos - História Recuperada: a presença judaica em
Pernambuco. 2.ed. Recife: Edição do Autor, 2001. Judeus provenientes da Espanha, que após decreto de expulsão firmada pelos reis católicos em 1942, emigraram para Portugal e, em seguida, para os Países Baixos, Inglaterra, ou para o Norte da África, o Império Otomano, Itália e sul da França. Falam o ladino ou judeu-espanhol.
8 KAUFMAN, Tânia Neumann. Passos Perdidos – História Recuperada: a presença judaica em Pernambuco. 2.ed. Recife: Edição do Autor, 2001.Grupo de pessoas submetidas a uma mesma regra religiosa.
62
Sinagoga ZUR ISRAEL – a primeira das Américas - provavelmente iniciada a
construção em 1638 e concluída em 1641, tendo como modelo à de Amsterdã
(Holanda). Localizada na antiga Rua dos Judeus, atualmente Rua do Bom Jesus, tinha
em anexo as escolas religiosas TALMUD TORAH – Escola para aprendizado
Talmúdico e estudos de Torá avançados - e ETZ HAYIN9 (KAUFMAN, 2001).
Com a expulsão dos holandeses de Pernambuco, aproximadamente em 1650,
os judeus dispersaram-se pela América. Muitos foram para a América central e do
norte, onde seria depois Nova York. No Recife, no entanto, foi onde existiu a primeira
comunidade no novo mundo.10
No período contemporâneo das migrações judaicas para o Brasil, ocorreu nos
períodos de 1910/1920 e 1930/1940. Formando gerações intermediárias, judeus
nascidos no Brasil. Essas migrações eram egressas da Europa Oriental,
principalmente do leste Europeu, constituída por judeus ashkenazistas11 para as
Américas. Registraram-se judeus de outras regiões da Europa Ocidental – Alemanha,
Áustria e Hungria (KAUFMAN, 2001).
9 http://www.ensinandodesiao.org.br/Abradjin/museu.htm ABRADJIN – Associação Brasileira dos
descendentes de Judeus da Inquisição TORÁ – literalmente, “guia”, orientação manual de vida outorgado por Deus com suas instruções. Intelecto e vontade Divina transmitida a Moisés e entregue ao longo das gerações; inclui a Lei Escrita e Oral (interpretação). Também conhecido como Pentateuco (os Cinco Livros, chamados a Lei de Moisés). TALMUD – uma das maiores obras judaicas, quase toda escrita em aramaico. Contém explicações da Lei Oral, baseando no Mishná - Foi compilado na Babilônia e em Jerusalém.
10 www.eifo.com.br/judbra3.html - O Portal da Comunidade Judaica Brasileira. Judeus no Brasil. 11 KAUFMAN, Tânia Neumann. Passos Perdidos – História recuperada: a presença judaica em
Pernambuco. 2. ed. Recife: edição do Autor, 2001. Habitantes de Ashkenaz (Alemanha). Radicaram-se no noroeste e centro da Europa, como descendentes dos judeus RHENISCH (alemães) e falavam a língua ÍDICHE (judeu-alemã). A partir do século XV foram obrigados a fugir para o Leste europeu (Polônia, Lituânia e Rússia) e, após as perseguições czaristas, para a Europa ocidental, América e Israel.
63
Figura nº 07
Mapa referente ao deslocamento dos judeus que vieram aportar no
Recife.
A linha que demonstra o caminha e a azul listrada , com uma zeta
apontada para o Brasil – Recife - Pernambuco
64
Os do leste Europeu que migraram para as Américas, e em particular para o Recife,
trouxeram idéias radicalmente contestatórias, produzidas por intelectuais judeus, onde
encorajaram a procura de raízes judaicas nas utopias revolucionárias modernas (as
libertárias).12
Segundo KAUFMAN (2001) com o judaísmo libertário na Europa, proliferaram-
se dois movimentos de emancipação judaica, fundamentando-se: O primeiro
movimento na Sacralização do Judaísmo Cultura que propuseram formas de servir a
Deus, através de danças e canções e assim realizando uma intensa devoção em
detrimento do segundo movimento denominado se Secularização do Judaísmo
Religião, pois entre esses dois grupos os conflitos estavam em debates sobre a forma
de preservação e manutenção do patrimônio religioso e cultural.
Segundo o sociólogo, Michel Lowy cita:
Tanto na Sacralização do profano quanto da Secularização do religioso no pensamento judaico alemão, a relação entre utopia que atravessa, não é, como a secularização, um movimento único, uma absorção do sagrado pelo profano, mas uma relação recíproca que articula as duas esferas sem as abolir (1989, p. 26).
Em entrevista a Revista Francesa ELLE, a filósofa e escritora Elizabeth
Badinter, diante dos embates ocasionados pelo governo da França, em relação à
proibição da entrada de alunos nas escolas públicas francesas, de símbolos que
representem suas religiões, afirma que os membros de cada religião poderiam ser
12 LOWY, Michael. Redenção e utopia: o judaísmo libertário na Europa central: um estudo de afinidade
seletiva; tradução de Paulo Neves. – São Paulo: Companhia das Letras, 1989. Não apenas as doutrinas anarquistas (ou anarco-sindicalistas) mas também as tendência revolucionárias do pensamento socialista incluindo as que recorrem ao marxismo.
65
leigos. O que quer dizer isso. Que fazemos passar a laicidade, o que é secular,
como superior. Nossas convicções são mantidas como algo da vida privada e
obedecemos à lei republicana. Não queremos substituir a lei neutra e secular por uma
lei religiosa. A religião é uma coisa privada, pessoal. Não pondo a religião como centro
de suas vidas, fazendo festas. É assim que os judeus leigos concebem suas relações
com a religião e com o Estado não impondo a lei religiosa sobre a lei secular.
Os judeus da Europa oriental, na sua vida secular, ou seja, fora do SHETEL13,
se ligavam ao movimento operário, mesmo que não desfrutassem dos mesmos
direitos dos operários franceses e ingleses, devido aos preconceitos mantidos naquela
sociedade em relação aos mesmos.
Essas comunidades, no final do século XIX, levavam uma vida que pouco
diferenciava dos modelos existentes nos séculos XVI e XVII, vivendo um judaísmo
duro como se vivessem no medievo.
O grande fluxo de emigrantes judeus da Europa Oriental para outros países
durante as últimas décadas do século XIX suscitou um caloroso debate entre
organizações e lideranças judaicas sobre a atitude adotada frente à emigração como
forma de resolver o problema judaico e aqueles que julgavam mais correto envidar
esforços para melhorar a situação dos judeus nos países em que estavam
domiciliados.
Todos concordavam, entretanto, que os judeus estavam forçados a emigrar não
somente por razões econômicas mas também devido às perseguições religiosas e
políticas a que estava submetidos e que freqüentemente afetavam suas condições de
sobrevivência (SORJ, 1997, p. 92).
13 Kaufman, Tânia Neumann. Passos Perdidos – História Recuperada: a presença judaica em
Pernambuco – 2. ed. – Recife: Edição do Autor, 2001.Eram pequenas cidades espalhadas por toda Europa oriental, que abrigavam comunidades judaicas antes das migrações, espalhados pela Polônia, Ucrânia, Galícia e Bessarábia.
66
A memória é a sobrevivência de um povo, sendo um dos traços do
relacionamento dos judeus com o mundo. A consciência histórica tem unido as
gerações que vão transmitindo a tradição como herança pessoal e coletiva.
A identidade de ser judeu, contudo é sempre uma definição complexa que
perpassa por filiação; como também o pacto com valores, crenças e uma história
milenar Os judaísmo é uma religião de continuidade – o ponto focal da vida judaica é a
transmissão de um legado através das gerações. Ser judeu é um elo na cadeia de
gerações.
Já os judeus da Europa Ocidental faziam parte da burguesia, se relacionavam
com vários governos e banqueiros do ocidente. Com o advento da Revolução
Francesa, com a nova Constituição, sentiam-se iguais aos demais elementos da
sociedade, confirmando sua condição, assumindo cargos importantes no novo
sistema. É interessante observar que desde o início o judaísmo baseou sua
sobrevivência na educação.
Paralelo a esse acontecimento, no Brasil, no final do século XIX e início do
século XX, as questões políticas e econômicas estavam num processo de
efervescência, ou seja, apontando para mudanças estruturais, que iriam conduzir o
país para nova fase na história, com o advento da Proclamação da República,
facilitando migrações de pessoas originárias do continente europeu, como os italianos
que se instalaram em São Paulo, devido à necessidade de mão-de-obra nesta região.
. Educação escolar judaica: vivendo e convivendo na cidade do Recife
A chegada em Pernambuco, com a organização e adaptação da comunidade
judaica se confronta com o governo do Interventor Agamenon Magalhães, no período
67
de 1937 a 1945, com um Projeto de Nacionalização, onde o secretário de Educação e
Cultura do Distrito Federal, Francisco Campos, proclamava “A política de hoje é a
política de educação”, nela também compartilhava a crença na educação como
instrumento de transmissão de valores que permitiam a homogeneização e
disciplinamento dos homens e das sociedades.
Na escola pública, o ensino religioso era assegurado, de acordo com as
religiões de cada aluno, ainda que facultativa.
Diante destes acontecimentos, como foi definida uma “identidade” conhecida
como “judeu-brasileiro” e, de como interferiu na formação da educação
congregacional, que foram percebidas mudanças no patrimônio histórico e cultural
desse grupo e como se adaptaram as restrições legais impostas pelo Estado-Novo.
Na medida em que a formação da identidade judaica ao longo do tempo foi-se
diferenciando em grupos étnicos distintos, como os Asquenazi (da Europa de Leste e
da Rússia) que fincaram em Pernambuco, possuem mais de uma dimensão e que a
divisão cultural não se baseia em qualquer disputa doutrinária.
É importante compreender como ela se estrutura a partir de elementos que
definem o que é ser judeu e quem é judeu: é considerado judeu aquele que está ligado
a um povo, ou a uma religião, cuja identidade só se define a partir da relação com o
mundo. Ou sejam em cada tipo de sociedade o judeu tem posições, atitudes, papeis e
funções diferentes, condicionado que são as várias circunstâncias histórias
(DEUTCHER, 1975, p. 45 apud KAUFMAN, 2001).
No Brasil, paralelo a chegada dos imigrantes judeus, ocorria a Proclamação da
República, num quadro político-social e econômico, representado com o rompimento
Estado/Igreja, refletindo o jogo antagônico de forças conservadoras e modernizadoras
68
e, provavelmente, facilitando abordagens constitucionais que o país passava a contar
com uma nova ordem jurídica (FAVERO, 2000).
Esse movimento migratório ocorreu principalmente no período do Estado Novo,
entre 1937 e 1945, tendo como acontecimento mundial a II Segunda Guerra Mundial.
Tem sido abordado por interpretações que dão ênfase ao anti-semitismo, preconceitos
e perseguições, adotados pela Interventoria do Governo de Pernambuco, nas análises
dos editais e reportagens da Folha da Manhã, que os elementos característicos do
anti-semitismo tradicional surgiram sobrepondo-se a outros tipos de anti-semitismo
moderno.
69
Figura nº08
Imagem dos alunos (as) judeus no pátio do Colégio Israelita, com a participação dos
professores e outras personalidades que formavam a comunidade judaica em recife.
A Escola Judaica em Pernambuco começa sua atividade em torno de 1918,
denominada Ídiche Schul e que provavelmente aconteceram mudanças nominais das
entidades, talvez decorrente da instalação da Interventoria em Pernambuco, que trazia
em seu bojo o nacionalismo. Dando continuidade aos nomes das escolas judaicas, a
próxima denominou-se Colégio Hebreu Idish Brasileiro, Colégio Hebreu Brasileiro,
70
Ginásio Israelita de Pernambuco, Colégio Israelita de Pernambuco, atualmente
Colégio israelita Moysés Chvarts.
É interessante perceber a nacionalidade dos nomes da entidade escolar neste
período, em virtude das novas leis federais, aos postulados estrangeiros. A lei dava
uma direção ideológica xenófoba, para um embasamento de um ideário nacional
desembocando na autenticidade brasileira.
Apesar das restrições legais impostas pelo Estado Novo, em Pernambuco
representado por Agamenon Magalhães, de falar em público, de ensinar, havia a
exigência de que os diretores de escolas particulares fossem sempre brasileiros,
assim como pelo menos a metade dos professores, e a mudança de nome de várias
entidades que judaica trabalharam e procuraram adequar-se às restrições e
funcionaram normalmente durante o período., ou seja, a escola “nacionalizou-se”.
Como mostra Lesser (1995) em seu estudo sobre migração judaica, e depois
sírio-libanesa e japonesa, é possível reconhecer padrões de estratégias para lidar com
o discurso da maioria e estas estratégias podem ser ativas e etnicamente afirmativas.
Seu estudo permite uma nova forma de entender a identidade e sua negociação entre
os grupos, a sociedade e o Estado, cujo discurso e ações nem sempre são os únicos
fatores determinantes. Nesse sentido, o conceito de identidade não é considerado
uma essência imutável que apenas responde a partir de um núcleo invariante, mas
como um processo de permanente negociação (sempre em diálogo com uma tradição
ou com um ponto de referência fixo) entre o grupo e o entorno, ou como permanente
reelaboração e diálogo em torno de um núcleo que se pode chamar de tradição.
Samuel Campelo (1939) discursava que o “universo escolar, os programas e
currículos e os livros didáticos, emergia como instrumento de poder e artículo
doutrinário”.
71
O Livro didático no período do Estado Novo elegia-se a construção do saber
que não tivesse sua base, na transmissão e armazenamento do conhecimento e que
tivesse como diretriz a trilogia: Pátria, Catolicismo e Família.
Embora o discurso oficial entre 1937 e 1945 fosse próximo ao fascismo, a
sociedade não acompanhou esta direção, a cultura oficial não suplantou a cultura
popular e a mobilização patriótica não arregimentou a população, nem mesmo durante
a guerra (CYTRYNOWICZ, 2002).
As leis de restrição à imigração foram criadas visando somente segregar os
refugiados judeus. Pois, os que assustavam os teóricos do Estado Novo, afora a
presença cada vez maior na sociedade, era a visível qualidade de formação
educacional dos judeus que se transferiam para o país fugindo do nazismo. Além do
fato de que muitos intelectuais de origem judaica traziam da Europa forte identificação
com as idéias esquerdistas, que causavam urticária em quase todos os expoentes do
estado Novo (Jornal Historiando, 01.08.2003).
Os judeus chegados do Leste Europeu oriundos principalmente da Ucrânia,
Bessarábia, estabelecidos em Pernambuco formaram uma comunidade com Escola, -
(instituição de grande importância para os judeus) Cemitério e a princípio as orações
eram realizadas na própria residência.
Conheciam suas tradições. Sabiam de onde vieram e onde tinham deixado o
coração. Tinham um senso de identidade e orgulho.
A comunidade judaica, quanto à formação da identidade em novas terras, no
nosso caso em Recife, mostravam apego a uma tradição, que os ensina a praticar
cada ato de sua vida cotidiana de acordo com uma determinada maneira de ver que
os distingue do mundo que os cerca.
Abaixo explica esse apego a tradição judaica:
72
A TORÁ foi o lar portátil do judeu, e ele conhecia sua paisagem, suas
montanhas e vales, até melhor que a paisagem do lado de fora de suas janelas.
TALMUD (Jerusalém em ruínas) os judeus estavam familiarizados com suas
ruas e pelos Profetas, e caminhavam na cidade dourada da mente.
É interessante observar que desde o início o judaísmo baseou sua
sobrevivência na educação.
O Rabino Chefe da Inglaterra, Prof° Jonathan Sacks, no texto “O Segredo da
Comunidade Judaica”, declara que não é a educação no sentido estrito e formal de
aquisição de conhecimento, porém algo mais vasto. Na verdade, a palavra “educação”
é inadequada para descrever a cultura de estudo e debate do Judaísmo, sua absorção
em textos, comentários e contra comentários sua devoção à instrução e ao
aprendizado a longo prazo. Se há um motivo condutor, um tema dominante
conectando as várias eras do povo de Israel, e a exaltação do estudo como valor
judaico soberano.
Isto significa que a paixão principal dos judeus foi o estudo. Afirmam os judeus
daqui de Pernambuco que nas Aldeias da Europa Oriental, o estudo conferia prestígio,
status, autoridade e respeito. Nestas aldeias não era importante só manter a lei mais
estudá-la.
Afirmam que a TORÁ que quer dizer, ciência, doutrina, religião, lei. Nome dado
à lei mosaica e ao Pentateuco, não era um código externo, mas uma disciplina
interiorizada, parte da identidade em si. Aceitam que o Núcleo da Tora Oral e Escrita
pode provir de Moisés, mas afirmam que a TORÁ escrita que existe hoje amalgamada
a partir de vários documentos
A TORÁ conhecida também como os cinco primeiros livros do Antigo
testamento Bíblico (os outros dois são Salmos e Profecias), foi transmitida por Moisés,
73
diretamente de Deus e ensinada ao povo. Seu conteúdo foi compilado na íntegra, para
que assim ele jamais fosse esquecido e permanecesse imutável, mesmo com o
pensamento dos sábios que a transmitiram de geração a geração.14
A formação da identidade é uma coisa delicada. É a realidade interiorizada,
como nos vemos em relação ao mundo que nos cerca. Para a maioria das pessoas na
maior parte do tempo, a identidade não é um problema. É fornecida pela cultura
circundante e suas instituições. Para os judeus, no entanto, ela tem sido um problema
na maior parte dos tempos e dos lugares no decorrer de nossa história. O motivo é
simples. A identidade judaica não era fornecida pela cultura circundante, pois os
judeus era uma minorias num ambiente não-judeu.
Geralmente as minorias desistem de sua luta desigual para manter sua
identidade. Embora estejam baseadas em tradição, memória e hábito, gradualmente
se assimilam à medida que a tradição se enfraquece, e a memória se embota e os
hábitos são eclipsados por um ajustamento aos modos da maioria. Os judeus eram
diferentes, pois vivia sua identidade não como um acidente da história (que eles
aconteceram de ser) mas como uma vocação religiosa (que eles foram chamados a
ser). Eles recriaram o passado em cada geração sucessiva. Transmitem aos seus
filhos seu estilo de vida (SACKS, 2004). Os judeus compreenderam que era
fundamental a continuidade do judaísmo baseada sempre no educacional.
14 Definição de Tora. http://www.ipv.pe/millenium/sonial11.htm/2005.acessa em 21.03.2006.
74
Figura nº 08
Imagem fotografada no Colégio Hebreu , com crianças judaicas e professoras,
demonstra mesmo com poucos alunos , preservando sua história para a prosperidade , pois faz
parte dese povo.
Ao chegarem à América, no Brasil e com destinos e portos incertos, alguns
resolveram abrigarem-se em Pernambuco, pois já habitavam alguns judeus em Recife.
75
Com os estudos e pesquisa observei, que a identidade do ser judeu, é sempre
uma definição complexa, que perpassa por filiação; como também o pacto com
valores, crenças, uma história milenar.., e que o judaísmo laico não é propriamente um
movimento, mas uma visão de uma parte do povo judeu de que é possível viver o
judaísmo desvinculado da religião.
Há uma contradição que vários estudiosos e pessoas comuns, que fazem parte
da comunidade judaica, consideram que não há possibilidade de uma separa
ção dos movimentos aqui descritos.
A vida judaica está refletida de tradição religiosa, e é celebrada um Ciclo Anual,
a vida judaica está repleta de tradição religiosa, e é celebrada de feriados judaicos. E
os acontecimentos do Ciclo da Vida de um judeu que unem toda a comunidade:
� Berit milá – as boas vindas dos bebes masculinos à aliança através
do ritual da circuncisão.
� Zebed habbat – as boas vindas aos bebes do sexo feminino em a
tradição sefaradi.15
� Bar misvá e Bat misvá – a celebração da chegada de uma criança à
maioridade, e por se tornar responsável, dão em diante, por seguir
uma vida judaica e por seguir a halakhá.
� Casamento
� Shib’a/Luto – o judaísmo tem práticas de luto em várias etapas
(observada durante uma semana) chama-se Shib’a, a segunda
(observada durante um mês) chama-se Sheloshim e, para aqueles
15 Judaísmo. Wikipédia, a enciclopédia livre. 2005.
76
que perderam um dos progenitores, existe uma terceira etapa, a
avelut yod bet chódesh, que é observada durante um ano.
Existem acontecimentos do Ciclo da Vida de um judeu que os unem toda a
comunidade.16
Freud declarou que as fontes insubstituíveis sejam características judaicas de
superar os obstáculos, a busca pela perfeição e a capacidade de ver o mundo como
este pode ser, não apenas como o é. Ser judeu é ser eterno caçador das infinitas
maneiras pelas quais podemos realizar D’us em nossas vidas.
Desta maneira, em Pernambuco, a comunidade judaica na formação de sua
identidade, trazida da Europa Oriental, em detrimento ao “movimento de secularização
do judaísmo religião“ deu ênfase ao movimento da “sacralização do judaísmo cultura”,
promovendo eventos em torno das datas religiosas e históricas, sem que ativessem
especificamente ao seu aspecto religioso (KAUFMAN, 2001, p. 191).
Dando continuidade ao parágrafo acima, referende ao movimento do judaísmo
cultura, resulta do desenvolvimento da cultura de um povo que podia assimilar as
influências de outras civilizações, sem, no entanto, perder suas características
próprias. Assim não admite modificações profundas na essência de suas liturgias e
crenças, mas permite a adaptação de alguns hábitos, conforme a necessidade do fiel.
Ver citação.
Interessante observar que Gilberto Freyre (1938) nas suas análises sobre o
judeu, afirma que é um ser móvel e, ao mesmo tempo, estável dependendo do vínculo
que viesse a estabelecer com o meio.
Corroborando as análises de Freyre (1938) as formas não-ortodoxas de
judaísmo geralmente defendem que os princípios foram evoluindo com o tempo e
16 Wikipédia, a enciclopédia livre, 2005.
77
adaptado o judaísmo aos costumes locais, porém não admite modificações profundas
na essência de suas liturgias e crenças, mas permite a adaptação de alguns hábitos,
conforme necessidade do fiel.
78
Figura nº 09
Esta foto representa várias gerações da Escola Judaica em Pernambuco desde
os anos 20, até os nossos dias.
79
As entrevistas que foram analisadas e tiveram informações referentes de
como a interventoria de Pernambuco cumpriu suas determinações Políticas
Pedagógicas na Escola Congregacional Judaica, relação ao currículo, ao programa de
ensino, quanto à direção da escola que deveria ficar a cargo de um brasileiro, e a
composição de uns números de docentes brasileiros de deveriam fazer parte do corpo
da escola. Contribuindo principalmente para a compreensão do processo de
construção da identidade fora da região de origem e de como e de processe foi sendo
construído.
Foram sujeitos da nossa pesquisa 05 (cinco) judeus, que aderiram
voluntariamente o convite para a participação do estudo. Esses sujeitos cada um
contribuiu de uma forma para a realização desta pesquisa. O recorte que fizemos
entre os entrevistados foi de que cada uma nas suas especificidades históricas da sua
colaboração pudesse dar continuidade dar continuidade às respostas das
problematizações levantadas pelo projeto de dissertação.
Começaremos o processo de entrevista com perguntas previamente
elaboradas, porém dando flexibilidade a temas que os entrevistados achassem
importantes para o trabalho.
Denominei os entrevistados com nomes fictícios Bíblicos: Rute, Jacó, Raquel,
Rebeca e Ester.
80
. Entrevistada - RUTE
Quanto à condição de ser judeu, respondeu que é um leque muito. O judaísmo
abarca várias formas de ser judeu, de se identificar com o judaísmo.O judaísmo não
se restringe à cultura, o judaísmo não se restringe ao Estado de Israel, acho que há
muitas representações.
Afirmou principalmente que o movimento juvenil, foi muito forte e a família foram
formadoras da identidade judaica. Também foi colocada além do aspecto cultural, a
identificação com o estado de Israel, ou seja, o Sionismo, como um elemento de
identidade, definindo o judaísmo, declarando que os pais são Sionistas.
Informou ainda que a comunidade de um modo geral nem sabe da contribuição
para o povo brasileiro, tendo o judeu como um estrangeiro. Porém, coloca que nos
dias de hoje já existem muitos trabalhos publicados, exemplificando: Anita Novinsky,
Leonardo Dantas, José Antônio Gonsalves de Melo, Tânia Kaufman, pelo menos
divulgados nos meios acadêmicos.
Acredita que existem idéias preconcebidas que não justifica, mais é mais forte
que a pessoa. Afirma a brasilidade e a pernambucanidade até quando interessar.
Quando não interessar é judia. Deixo de ser uma pessoa que trabalho e cumpro com
as minhas obrigações, pago meus impostos, então sou uma estrangeira.
. Entrevistado - JACÓ
Colocou que esteve em Israel, numa Universidade, que não era religiosa e que
mostrou a importância de coisas da religião que fossem transmitidas. Não de forma
81
religiosa, mas entender aquilo que tinha na religião. Então foi introduzida na escola
uma disciplina denominada Cultura Judaica.
Ensina a simbologia judaica, ensina o ciclo da vida, ensina um pouco mais de
ética – todas as coisas que fazem parte da religião, a gente pode chamar de tradição.
Declarando que não fica voltado só para o Estado de Israel, com o Sionismo, não é
suficiente para a formação da identidade, principalmente de uma criança.
Ao ser perguntado, o que é ser judeu? Responde da forma tradicional, ou seja,
filho de mãe judia.
Informando que na sua família enquanto os seus avós eram vivos, viviam
realmente as tradições da forma trazida das suas origens. Depois questionou, dos
objetos que são pesados para utilização nas festas. E que atualmente, é feito de forma
diferente, dos tempos de outrora.
. Entrevistado - RAQUEL
Informou que no período estudado, existia um clima de perseguição, de
propaganda anti-semita, causando uma instabilidade na comunidade, pois o Brasil não
se definia, ou seja, entre os aliados e o eixo, ficava em cima do muro.
Lembra-se que foram momentos de muita intranqüilidade, e os judeus
preocupados com o que poderia acontecer, pois sabiam de fatos sucedidos na
Europa, muitos chegaram ao Brasil fugindo das perseguições nazistas, e que já havia
perdidos quase toda a família ou toda ela
Muitos seguiram para outros países que se diziam neutros, ou seja, fora da
guerra, perante a guerra imposta pelo nazi-facista.
82
Disse que os pais sempre aconselhavam em não agrupar-se na rua, por que
poderia chamar atenção da polícia. Pois sempre havia alguém procurando fatos para
comprovar toda história que se envolveram os judeus. Levantando fatos desde o
Semitismo Medieval até ao argumento Moderno.
. Entrevistado - REBECA
Informou que foi criada nas crenças do judaísmo. Praticando os rituais com sua
família, todas as etapas do Ciclo da Vida.Interessante que no dia da entrevista
coincidiu com uma comemoração sobre o Dia Internacional da Mulher, que um grupo
de mulheres judia se reuniu para esse evento. Teve palestras sobre a condição da
mulher desde a antiguidade e o processo de evolução feminina.
Antes de a palestra começar, iniciou-se um ritual com o acender de um
cadelabro de (09) nove velas, e uma judia colocou na cabeça um véu fazendo a
oração em Idish. Percebi que quando deu a hora, quase todas que haviam esquecido
de pedir para acender o candelaro, ficaram ligando para as suas casas solicitando o
acender o candelabro.
Não estudou no colégio de Pernambuco, foi criada em São Paulo, porém não
estudou na escola judia, neste estado. Os seus filhos todos estudaram no Colégio
Israelita, participando de todos os eventos vivenciados na escola. Portanto afirmou,
que contribui para a construção da identidade judaica,mas principalmente a família, e
a freqüência na Sinagoga.
Ao ser indagado sobre algumas lembranças desse período do Estado Novo,
respondeu que era pequena, porém lembrava que o pai, comprou um revólver com
três balas: um para ele, outra para a mãe e outra para ela. Conversando em casa,
83
falou que não permitiria acontecer algo semelhante do que estava ocorrendo na
Europa.
.Entrevistado - ESTER
Esta entrevistada viveu realmente o período de estudo. Com toda
disponibilidade respondeu, levantou questionamento sobre a ação do governo
totalitário de Agamenon Magalhães.
Foi uma das entrevistas mais flexível, por ser uma pessoa com uma grande
eloqüência e de um conhecimento sobre seu povo, impressionante!
Começou falando do hebraico utilizado pelos judeus na diáspora (saída dos
judeus do Egito como escravo). Por que o hebreu depois da diáspora ficou uma língua
morta. Sendo a língua das escrituras sagradas em hebraico, portando voltou-se o
hebraico, porém tinha o Idis como dialeto.
A definição de Idiche _ Língua falada pela maioria dos ashkenazitas originário
da
Europa Oriental. Escrevem-se caracteres hebraicos. Componentes
Principais: alemão medieval da região do Médio Reno, aramaico e hebraico,
além de elementos eslavos, franceses e italianos. O Ídiche moderno desenvolveu-se
durante o século XVIII. Sua forma literária sofreu alterações na primeira metade do
século XIX nas cidades da Diáspora da Europa Oriental, à medida que proliferavam
jornais e revistas, estimulando ainda o comércio secular de livros em Ídiche.
Em fins da década de 1930, era o idioma principal de cerca de 11 milhões de
pessoas.17
17 KAUFMAN, Tânia, Passos Perdidos - História recuperada: a presença judaica em Pernambuco. 2.ed.
Recife: Edição do autor, 2001.
84
Explicou que existem regiões na Alemanha, que os judeus falam o Idis, o
dialeto, como na região do Reno.
Informou que na Escola em Pernambuco estudou Idis, e muito pouco hebraico,
por que não tinha o Estado de Israel. Portanto só existia nos livros sagrados e não na
comunicação do cotidiano, que era o Idis.
Lembrou que na Escola tinha prof. de Idis e tinha livros, todos em Idis. Vindo da
Argentina que tinha várias editoras, pois existia uma comunidade por lá.
Os estudos na escola, era a História Judaica, Eram capítulos de história judaica,
feitos para o nosso alcance por que éramos crianças. Eram textos didáticos, como
você aprende na cartilha...importante, todos em Idis, sem tradução.
Explicou que a metodologia era até avançada para a época. Você via em Idis a
figura, como um gato, depois você juntava as frases...e depois estudava a História
Judaica já no texto...até por que se falava o Idis muito em casa.
Quanto às questões culturais relatou que vinham grandes artistas da Polônia,
renomados nos seus lugares de origem.
Lembrou-se que tiveram um ator turco, que dirigiu o teatro local, e todos os
membros da comunidade faziam parte. Algumas peças eram necessárias serem em
Idis, e fazíamos em português.
Fazíamos balé clássico com música erudita com fundo musical... afirmou que
tem música em Idis até hoje.
O currículo escolar exigia o dialeto Idis, e não havia nada oficial de restrições...a
escola era oficializada...era uma escola de comunidade judaica, onde se ensinava Idis,
Português, Matemática, Geografia, História...preparávamos-nos para fazer o exame de
admissão, pois a escola judaica chegava até a 4ª série, tendo que migrar para a
Escola Normal, Era acrescido ao currículo o Idis, e algumas coisas em hebraico.
85
Perguntei se a História dos judeus poderia ser chamada História de Israel?
Responde que não. Israel é um Estado...se formou depois...os judeus têm história
antes de Moisés... Israel é a institucionalização do Estado.
Quanto a Bíblia na escola, colocou as datas, tudo do judeu é em função da
escravidão do Egito, é uma História de libertação. Todas as nossas rezas são em
torno de libertação, em relação ao nosso Deus, que é um Deus de liberdade, não um
Deus bravo ... oferecemo-nos a ele, não pede...eu lhe oferto meu Deus...
A religião é vinculada há acontecimentos históricos, da natureza, de plantações,
de colheitas e agradecer a Deus...tem todo um ritual, oferecimento a Deus e não de
pedi...
A Bíblia...o Antigo Testamento, é para nos... consideramos que o mundo é
conturbado...O Novo Testamento... Cristo na época, dada à história, os romanos
vieram, fizeram a negociação com os macabeus18 e traíram e ocuparam e jogaram
todos para fora do templo...então...isto é histórico e a grande dor que você perdeu o
Templo e foi para a diáspora...então a Bíblia conta isto historicamente... e gente reza
no muro pela volta...e as nossas celebrações são de liberdades... é como o
catolicismo, tem hoje a teologia da Libertação...
A se reportar para a escola coloca que não havia punição...e não tinha
necessidades...a própria família, tinha seus valores, era aquilo que você queria, era o
que podia aspirar....a escola mudou muito...casamentos mistos...mudanças de valores.
Não existe pureza da identidade, da escola hoje...têm as mudanças, os
diretores que são comprometidos com os valores e têm as pessoas que transgridem...
A 1º geração dos pais, a 2ª a minha...existia uma pureza dessa identidade,
dessa cultura.
18 Macabeus – relativo aos indivíduos dessa família sacerdotal judia, originária do Sumo Sacerdote
Matataias Macabeu que se rebelou contra o helenismo e o domínio Sírio em 168 a.C. e reinou a palestina de 142 a.C. e 63 a.C.
86
Afirmou que estudava a Bíblia, o Antigo testamento...mas para as crianças, a
coisa era lúdica...Era no sentido de aproveitar o bom, não de sacrifício. Foi uma
geração que teve muita criatividade, temos sociólogos bons...temos várias escolas...
Tem uma coisa que valorizamos...colocamos na cabeça que judeu não pode ter
propriedade...por que põe na cabeça tudo, que ele pode sofrer mudanças sociais e ter
que mudar de país...que migrar como sempre aconteceu... o judeu tem que ter na
cabeça coisas que você leve em todo lugar, para poder usar...
Levamos nossa cultura...nossa identidade...nossa história, coisa que pode
produzir os seus conhecimentos....
Perguntei sobre o período estudado, respondendo que não se percebia nada,
porém eles tinham Plínio Salgado, que era integralista e anti-judeu, então nos
reservamos aos nossos ambientes. Não podia ficar conversando na rua, porque
podiam pensar alguma coisa.
Nossa coletividade tinha uma norma, nós não tínhamos ninguém interessado
em política na época, por que não tínhamos representatividade, não tínhamos
liderança, não adianta judeu com dinheiro sem poder... É melhor não ter dinheiro e ter
poder, pois maneja mais, é como funciona.
Acredito que por falta dessa representatividade, Agamenon Magalhães não
considerava a gente, nem um perigo nem um risco para a vida dele...não consta, que
meu pessoal não era naturalizado, nunca sofremos..
A diferença entre brasileiro judeu e um judeu-brasileiro, é uma questão de
nascimento? Ele nunca deixa de ser judeu por que por esses valores...a identidade
judaica...é uma coisa difícil de ser entendida. É judeu mesmo. Ele nunca vai deixar
seus valores, sua identidade, por que nasceu aqui, nos Estados Unidos, na França ou
em outros lugares.
87
Quando o camarada não tem esses valores a própria comunidade o descrimina,
você morre lutando por esses valores...você foi discriminado toda vida...sobreviveu por
esses valores.
88
CONCLUSÃO
89
O povo judaico, no período contemporâneo, ou seja, no segundo movimento
migratório de 1910/1029 e 1930/1940 contracenou com a Ditadura de Getúlio Vargas
(1937-1945), imprimiu normas e leis para a vivência e convivência deste povo no
país.
Chegaram do leste Europeu imbuído de um judaísmo libertário da Europa,
proliferaram-se movimentos de emancipações.
Neste período foi elaborada a constituição da nacionalidade e a Igreja,
vinculados ao projeto fascista de Francisco de Campos, a Renovação Católica que
vinha com toda força em busca de seu espaço no novo regime, tendo como articulador
o próprio Campos.
A Igreja fez presente nos discursos através da revista A ORDEM, aclamandos
os católicos para essa nova visão de mundo.
No projeto de nacionalidade como pensava Silvio Romero, queria encontrar
uma identidade autóctone, para a população brasileira. Influenciados os pensadores
brasileiros pelas concepções evolucionistas e as teorias sociais européias.
Assim, a questão judaica, tornou-se um problema racial, decorrente do racismo
messiânico-judaico, que nas primeiras décadas do século XX, tem o judeu como
representação do discurso nacional.
Em prol deste discurso, o ideal eugênico servia de solução para as políticas públicas,
que almejava uma limpeza étnica.
90
Desta maneira foram dificultadas entradas de estrangeiros no país,
principalmente os judeus. Influenciados pela idéias, vindo da Europa, o governo
brasileiro, adotou tendências nacionalistas, xenófobas a respeito da formação étnica
do país.
Os judeus acusados de manterem suas tradições religiosas e culturais e de
filo-semitismo.
Uma das grandes preocupações do governo é que os teóricos alertaram-se
pela qualidade educacional dos judeus, trazendo em seu bojo um ideário comunista.
Afirmavam que os judeus não teriam condições de adaptação à cultura
brasileira, e o desinteresse pelo trabalho no campo.
Era voz única no governo, que o povo judeu era averso a esse tipo de trabalho,
preferindo a região urbana, pelo seu passado histórico que definia um povo só com
condições de serem comerciantes.
Quanto ao período de Agamenon Magalhães, teórico e executor em
Pernambuco. Doutrinário fiel da nova ordem, buscando um consenso máximo na
sociedade pernambucana.
Fundou um Jornal denominado Fôlha da Manhã, no mesmo dia em que
assumiu a interventoria, sendo porta-voz, do seu pensamento e das suas ações,
trazendo os princípios que orientariam a ação renovadora da instauração do estado.
Jornal subjugado a propaganda, afirmava que deve ser função do Estado, a
utilização desse meio de comunicação.
Este período da Folha inferindo, marcado nos escritos um sentimento anti-
semita decorrente de manifestações oriundas do continente europeu.
Quanto à educação judaica, tendo como representatividade, grêmio,
associações, escola, banco, etc. viveram momentos de intensa preocupação,
91
decorrente da posição tanto do governo federal com estadual, principalmente em
Recife, com o DOPS, deveria sempre fazer comunicações sobres suas atividades
realizadas pela comunidade.
Bem, com pesquisas de prontuários referentes a solicitação de realizações de
reuniões no Círculo Judaico, ou em passeios realizados pela Escola Judaica,
constatamos que existia um cuidado do governo estadual de vigilância da
comunidade judaica em suas ações, deixando claramente que só poderia acontecer
com a presença de alguém para o escrito do relatório dos fatos ocorridos nas
reuniões ou em outras situações.
Quanto aos movimentos ocorridos, oriundos do leste europeu com o de
Sacralização da Cultura e Secularização da religião, podemos concluir diante das
entrevistas dadas, que não pode existir uma separação ortodoxa entre a cultura e a
religião.
Assim, um depende do outro para sobreviver, e sozinhos seriam impossível
existirem.
Percebemos que a Secularização da Religião, diante das entrevistas que
pareceu que se restringiu ao espaço familiar, da casa. Enquanto a Sacralização da
Cultura foi levada com toda vontade para o interior da Escola Judaica, formando
Movimentos Juvenis de danças, teatros etc.
A comunidade judaica sofreu grandes pressões, tanto decorrente do Jornal
Folha da Manhã, pelo Interventor Agamenon Magalhães, ou do chefe-editorial Nilo
Pereira ou de Samuel Campelo que trabalhavam no jornal elaborando artigos, e
muitos referentes à condição judaica que estava sendo conduzido no mundo,
principalmente pelo nazi-fascismo.
92
A Escola foi uma das instituições que teve que obedecer a regras instituídas
pelo governo, ditado pelo Federal e o estadual na sua maior cumplicidade cumpria
com todos os rigores da lei.
A comunidade instalada em Recife, com o Colégio Judaico, sofreu mudanças
nominais, neste período de estudo, que prevalecia a nacionalidade.
Os nomes da escola carregada de adoção de brasilidade e
pernambucanidade, como sinalização de aceitação das normas e leis prescritas neste
momento.
As fundamentações da identidade judaica têm a família como um eco de
grande importância, principalmente, os que chegaram do leste europeu, que estava
em discussão sobre os movimentos de direcionamento da vida judaica.
Porém o mais importante é o contraste entre a universalidade e a identidade
na história, que a universalidade necessariamente não prevalece sobre a identidade.
93
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C. FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
D. ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO DE PERNAMBUCO
E. ARQUIVO PÚBLICO JORDÃO EMERENCIANO
99
QUESTIONÁRIO APLICADO AOS JUDEUS
(tanto os que deram informações sobre a formação da identidade, como os que
viveram a época estudada, ou seja, na escola judaica).
1. O que é ser judeu?
2. O ensinou-se na Escola Judaica?
3. Como vê a sociedade Pernambucana com olhar para os judeus?
4. O que se ensina na escola? (atualmente)
5. Definição de dois movimentos em Pernambuco:
a. da Secularização da Religião b. da Sacralização da Cultura
6. E na família como foi a contribuição da identidade judaica?
7. E na família como é a contribuição da identidade judaica?