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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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A Escola na Cibercultura: caracterização do Nativo e do Imigrante Digital na escola pública e privada
da cidade de Patos PB
Pablo Roberto Fernandes de Oliveira1 (UEPB) Rosângela de Araújo Medeiros2 (UEPB)
Resumo: Os alunos da atual geração, nascida na Era Digital, são denominados Nativos Digitais, que cresceram junto com as tecnologias digitais e desenvolveram habilidades que as gerações passadas não possuem – os Imigrantes Digitais. Ainda assim, dados nos alertam sobre a exclusão digital. Assim, o objetivo desta pesquisa é identificar como estão caracterizados o Nativo, o excluído e o Imigrante Digital na escola pública e privada da cidade de Patos PB. Realizamos, portanto, um estudo de caso comparativo em duas escolas de ensino médio, uma pública e outra particular, a fim de constatarmos a presença destes em escolas que atendem diferentes grupos sociais. Palavras-chave: cibercultura, estudo de caso, nativo digital.
Abstract: Students of the current generation, born in the Digital age, are referred to as digital natives, who have grown up with digital technologies and have developed skills that past generations have no – Digital immigrants. Still, data on alert about the digital divide. Thus, the objective of this research is to identify how are characterized the native, the excluded and the Digital Immigrant on public and private school in the city of Patos PB. We, therefore, a comparative case study in two high schools, one public and one private, in order to note the presence of these in schools that meet different social groups. Keywords: cyberculture, case study, digital native.
1 Pablo OLIVEIRA, Graduando do curso de Licenciatura em Computação
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) [email protected] 2 Rosângela MEDEIROS, Prof. Ms.
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) [email protected]
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Introdução
Não é de agora que ouvimos falar sobre a cibercultura, mas tem sido no
presente momento que ela tem estado mais evidente na sociedade. A informação
nunca esteve tão acessível e tão ágil, consequência do ciberespaço. Assim, falar
sobre a sociedade atual e não relatar a sua mudança frenética, mediada pelas
novas tecnologias de informação e comunicação (TIC), principalmente, é
inevitável.
Já há algum tempo – depois de 1980, para sermos mais precisos – também
começamos a perceber a presença de uma geração nativa da era digital, são os
Nativos Digitais. Pessoas que cresceram junto com as tecnologias digitais, e
utilizam as mesmas no seu dia a dia. Em contra partida, os que nasceram antes
desta geração, não possuem as mesmas habilidades com as novas TIC, embora
estejam usado-as no seu cotidiano, sendo denominados de Imigrantes Digitais.
A Escola, portanto precisou alterar o seu currículo e incluir novas
competências, em detrimento desse novo indivíduo pós-moderno e dessa nova
sociedade da informação. Percebemos então alguns desafios emergentes, todavia
tangenciais que a escola tem enfrentado nesse momento de transição/evolução.
Os professores desta Escola, em sua grande maioria, se configuram como
Imigrantes Digitais. Tiveram suas formações enquanto as tecnologias digitais ainda
não haviam sido difundidas ou o acesso às mesmas, dispendioso. Consequência
disso é a dificuldade na utilização das TIC em suas aulas. Em alguns casos, aliás, os
aparatos tecnológicos têm sido sucateados pela não utilização, são os chamados
“modernosos” (MARINHO, 2006).
Outrossim, em todo o Brasil podemos observar a presença de salas de
informática nas escolas. Todavia a sua utilização ainda é uma preocupação para a
gestão das escolas e para alguns pesquisadores. Como a sala de informática pode
ser utilizada da educação: como ferramenta de ensino ou apenas para a disciplina
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de informática? Kenky (2003) levanta estes questionamentos. E, embora na escola
pública e privada, já existam investimentos diferenciados em recursos digitais, elas
compartilham muitas vezes das mesmas dificuldades de utilização/aplicação para o
ensino. Tratando-se da escola pública em especial, o governo tem investido
demasiadamente em recursos e programas de incentivo a inclusão digital.
Muito embora, apesar da discussão desse trabalho envolver essa nova
configuração de sociedade digital, com a presença de uma geração nativa. Ainda é
grande o número de Excluídos digitais. Principalmente na rede pública de ensino.
Estando a escola, incumbida de inserir essa parcela de alunos que não tem tido
acesso efetivo às TIC, no universo da cibercultura.
Dessa forma, nossa pesquisa apresentada nesse artigo objetivou identificar
como um escola pública e outra privada, da cidade de Patos PB, tem sido inserida
no universo da cibercultura, e como o Nativo, o Imigrante e o Excluído digital estão
caracterizado nestas instituições.
Cibercultura e Cibercultura na Educação A cibercultura é enxergada, para Lévy (1999) e Lemos (2002), como um
espaço onde informações e culturas são compartilhadas pela sociedade a partir das
tecnologias digitais. Diversos são os formatos de emitir e receber informação, como
também as maneiras de alterar, adicionar e colaborar com informações criadas por
outros, são inúmeras.
Partilhamos assim de um momento de quebra de paradigmas sociais, em que
a informação publicada hoje pode ser ultrapassada amanhã, quando partilhamos de
um espaço virtual democrático e dinâmico. A cibercultura, assim, possibilita trocas
de informações em tempo real partindo de qualquer ponto do mundo, fazendo com
que o tempo/espaço inexista nesse ambiente (SANTOS et al 2013).
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Pierre Lévy (1999), diz que o ciberespaço é um espaço de comunicação
diferente daquele que conhecíamos antes dos anos 80 e, que o mesmo suporta
tecnologias intelectuais que ampliam, exteriorizam e modificam numerosas funções
cognitivas humanas, algumas como: memória (banco de dados e hiperdocumentos),
imaginação (simulação), entre outras. O ciberespaço, desta forma passa a ser um
ambiente favorável ao desenvolvimento da inteligência coletiva.
Percebido esse potencial do ciberespaço, a educação passa a ser exigida
para fazer parte deste contexto e, a Escola da mesma forma não deve estar alheia.
Visto a gama de possibilidades de aprendizagem que a simulação, por exemplo,
proporciona. Seu currículo, principalmente, tem sofrido algumas alterações.
Resultado também do mercado de trabalho, da globalização, do pós-modernismo
que tem exigido mudanças no modo como a Escola tem enviado seus alunos para os
empregos e carreiras que exigem preparo e habilidades para o uso das novas TIC.
Em poucas palavras podemos definir a cibercultura e o ciberespaço como o
novo – ou emergente – meio de comunicação e compartilhamento de saberes –
inteligência coletiva. Lugar onde a aprendizagem pode ser compartilhada. Quanto
mais uma pessoa participa da aquisição de um conhecimento, mais ela gera para si
um saber. E, a partir do hipertexto podemos observar o surgimento de novas
formas de conhecimento, que é muito diferente do estilo tradicional das salas de
aula (VIANA, 2000).
Essa nova configuração também exige dos professores novas competências.
Mais do que nunca esse professor, na cibercultura, deve motivar e incentivar o
aluno a buscar o conhecimento por meio das TIC.
E é nesse momento que o professor é exigido a ser um Imigrante Digital, ou
seja, utilizar as novas TIC na prática pedagógica ainda que não tenha desenvolvido
habilidades durante a sua formação. O fato é que os alunos são Nativos dessa era
digital e não se contentam mais com aquela forma antiga com a qual a escola
trabalhava. Pois com a cibercultura,
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Aprender é muito diferente para os jovens de hoje do que era 30 anos atrás. A internet está mudando a maneira com que as crianças coletam e processam informações em todos os aspectos de suas vidas. Para os Nativos Digitais, ‘pesquisa’, muito provavelmente, significa uma busca no Google mais do que uma ida até uma biblioteca. [...] (PALFREY; GASSER, 2011).
No entanto, há uma preocupação quanto a utilização pedagógica das novas
tecnologias pois “o uso da tecnologia no ensino não faz sentido se for apenas
porque achamos que é ‘legal’. Devemos descobrir, em vez disso, como o uso das
tecnologias pode dar suporte aos objetivos pedagógicos.”(PALFREY; GASSER, 2011).
Para atender a esse publico Nativo Digital, a escola deve ter algumas
prioridades e atenções quanto ao currículo, pois o
[...] mais importante que a escola deve fazer não é usar mais tecnologia no currículo, mas usá-la de modo mais eficiente. Devemos experimentar formas em que a tecnologia deva ser parte do currículo do dia a dia na escola – mas apenas onde ela cabe. A tecnologia só deve ser aplicada em apoio a nossa pedagogia, não por si só. [...]. (PALFREY; GASSER, 2011).
O Nativo e o Imigrante Digital
Os nativos digitais nasceram depois de 1980, quando, segundo Palfrey e
Gasser (2011), as tecnologias digitais, como a Usenet e os Bulletin Board Systems,
chegaram online e, todos eles têm acesso às tecnologias, “com exceção dos bebês –
mas eles logo vão aprender”. E ainda dizem que é Impossível não ter notado a
presença deles,
Você os vê por toda a parte. A garota com o iPod, sentada à sua frente no metrô, digitando freneticamente mensagens em seu telefone celular. O inteligente garoto estagiário de verão do seu escritório, a quem você pede ajuda quando o seu programa cliente de e-mail falha. A garota de 8 anos que consegue bater você em qualquer videogame – e também digita muito mais rápido do que você. Até a sua sobrinha recém-nascida em Londres, que você ainda não conheceu, mas a quem já está ligado devido a série de fotos digitais que chegam toda a semana (PALFREY; GASSER, 2011).
Em contrapartida, nascidos antes de 1980,
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os Imigrantes Digitais tipicamente têm pouca apreciação por estas novas habilidades que os Nativos adquiriram e aperfeiçoaram através de anos de interação e prática. Estas habilidades são quase totalmente estrangeiras aos Imigrantes, que aprenderam – e escolhem ensinar – vagarosamente, passo-a-passo, uma coisa de cada vez, individualmente, e acima de tudo, seriamente. (PRENSKY, 2001).
Para compreendermos essa geração digital é preciso entender que a
identidade de uma jovem, nativa digital, assume novas formas e características
quando comparadas a de uma jovem da mesma idade na era agrária e na era da
indústria. Os Nativos Digitais estão experimentando identidades múltiplas. Às
vezes, eles estão recriando ou amplificando aspectos da sua idade do espaço real
quando estão online. Em outros momentos, estão experimentando quem eles são,
experimentando papéis, aparências e relacionamentos que eles podem jamais ter
tentado experimentar no “espaço real”. Às vezes, a diferença é entre uma série
de diferentes identidades online: uma no MySpace, outra no Facebook, uma ou
mais no World of Warcraft. É plausível que essas múltiplas identidades possam ser
mantidas separadas e distintas uma da outra. Mas também é provável que, da
perspectiva do observador, as identidades possam estar convergidas – mais
convergidas do que antes. (PALFREY; GASSER, 2011).
Esses Nativos digitais estão imersos em um universo online e emergente,
podendo qualquer pessoa do mundo encontrar alguma informação sobre eles na
rede, pois é quase impossível estar imune à informações sobre eles serem expostas
na web. Nunca, de nenhuma outra forma se guardou e se expos tanta informação
sobre si, quanto na era digital. A geração digital será aquela que certamente
deixará rastros por anos a fio no mundo virtual. Isso afeta diretamente a
privacidade de um nativo digital.
Em alguns casos, os Nativos Digitais conseguem controlar o que uma busca no Google pode revelar sobre eles. Muitos sites oferecem a opção de acesso restrito às informações pessoais. [...]. Apesar das falhas de privacidade no Facebook e no MySpace proporcionarem uma grande quantidade de informações sobre os usuários, seus controles são melhores do que a maioria neste aspecto. (Entretanto, há evidências de que isso
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pode estar mudando, na medida em que as pressões da economia e do mundo real passam a pesar sobre a equipe do Facebook. O Facebook originalmente não permitia que os perfis de seus usuários fossem mostrados nas buscas do Google, mas mudou sua política em setembro de 2007, para atrair mais expectadores aos perfis básicos. [...)]. (PALFREY; GASSER, 2011).
Mesmo com essa política de privacidade que as redes sociais oferecem, elas
podem a qualquer momento mudarem sua política e suas informações estarem
livres e publicamente acessíveis.
Para proteger a privacidade online algumas alternativas são pensadas e
vários autores precisam ser envolvidos. Sendo o Nativo Digital o principal autor,
tendo o bom censo na hora de expor suas informações e fotos na internet.
Perguntando a si mesmo: “eu gostaria que essa foto que estou prestes a colocar
online fosse exposta na capa da New York Times, ou incorporada no início do meu
currículo ou candidatura à universidade? Se a resposta for não, não a coloque.”
(PALFREY; GASSER, 2011). Os outros autores envolvidos para proteger a privacidade
online são os pais, professores, fornecedores de software e governo.
Palfrey e Gasser (2011) levantam algumas questões relacionadas à segurança
e alerta sobre algumas situações desconfortáveis que os Nativos Digitais,
principalmente as crianças, podem presenciar no ciberespaço. “Mas esses são
medos antigos que receberam nomes novos: intimidação cibernética, perseguição
cibernética e assim por diante”. Exposição de imagens prejudiciais ou experiências
negativas, como o bullying. Como alternativa para mitigar os riscos de segurança
que o Nativo Digital pode enfrentar na internet é combinar várias estratégias. As
quatro principais são:
Educação, desenvolvimento de tecnologia, normas sociais e leis. O primeiro objetivo- e o mais importante – é trabalhar em conjunto com a sociedade, através da educação, para dar aos jovens as habilidades – com frequência, não muito mais que bom-senso – para eles crescerem em segurança, quer no espaço social digital emergente ou nos ambientes tradicionais. O segundo é colocar as tecnologias digitais nas mãos das
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crianças, dos pais, dos professores, da polícia e dos operadores de sites para manter as crianças seguras. [...] (PALFREY; GASSER, 2011).
Preocupado com esse público – Nativo Digital – na escola, Prensky (2001) fala
sobre a educação e o papel da escola, dizendo que “o único e maior problema que
a educação enfrenta hoje é que os nossos instrutores Imigrantes Digitais, que usam
uma linguagem ultrapassada (da era pré-digital), estão lutando para ensinar uma
população que fala uma linguagem totalmente nova”.
Consequência dos impactos tecnológicos e da cibercultura a sociedade tem
alterado a forma de realizar as atividades cotidianas, consequentemente tem
alterado a forma de aprender e produzir dos alunos Nativos Digitais, que são mais
criativos. E esse novo mundo da mídia digital proporciona aos usuários as
possibilidades de interagir não apenas com seus pares, mas também com o
conteúdo. Os Nativos Digitais desenvolveram excelentes habilidades de pesquisa
quando se trata de escavar material digital que possa ser remixado ou manipulando
de outra maneira, para criar novas formas de expressão. (PALFREY; GASSER, 2011).
Esse material gerado pela produção online, Lévy (1999) os classifica como
cibearte. O cuidado, no entanto, está relacionado a pirataria.
Por que os jovens se envolvem persistentemente na violação em grande escala dos direitos autorais? Uma resposta é que muitos nativos Digitais –
[...] – estão confusos sobre a lei de direitos autorais na era digital. Um número muito grande dos usuários da internet acha que virtualmente todas as formas de cópia provada e não comercial de obras protegidas por direitos autorais são ou devem ser permitidas. [...]. (PALFREY; GASSER, 2011).
Sobre a qualidade da informação no mundo digital, Palfrey e Gasser (2011),
apresentam os riscos e a vulnerabilidade do nativos Digitais diante das informações
não confiáveis.
O modo como a informação é produzida para a web é com frequência diferente do modo de produção para mídias tradicionais. A Wikipédia é o caso mais óbvio. É uma plataforma aberta com custos de produção de informação muito baixos – independente da informação ser ou não
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acurada. Qualquer um pode colocar nela praticamente qualquer coisa, a qualquer momento. [...]. (PALFREY; GASSER, 2011).
Assim a informação armazenada no mundo ciber é de expressiva
preocupação tendo em vista que sobrecarga de informações é um fenômeno muito
real e desconfortável, há ainda muita coisa que os pesquisadores não sabem sobre
seus efeitos sobre os jovens. É verdade que a maior parte de informações
disponível em formato digital pode ser opressiva. O uso constante de tecnologias
digitais pode pressionar famílias, amizades e salas de aula. E certamente produzem
algumas manchetes marcantes. (PALFREY; GASSER, 2011).
Palfrey e Gasser (2011) apresenta os Nativos Digitais também como
inovadores e ativistas. Essas características influenciam diretamente no comércio e
na política. São alunos mais hiperativos e inovadores em atividades e em seus
trabalhos escolares. Utilizam da tecnologia para agilizar e tornar tarefas, antes
cansativas e enfadonhas, em tarefas eficientes e de maior qualidade. Mobilizam
movimentos e interagem sobre política e direitos, através das redes sociais. Lévy
(1999), já afirmava que “do mais básico ao mais elaborado, três princípios
orientam o crescimento do ciberespaço: a interconexão, a criação de comunidades
virtuais e a inteligência coletiva.”
O Excliído Digital
Apesar desse mundo digital estar em ascendência e cada vez mais notarmos
a presença de Nativos Digitais. Pierre Lévy (1999) diz que a questão da exclusão é
evidente e crucial. Desse modo, ainda que o acesso ao ciberespaço esteja
emergindo,
A grande maioria dos jovens nascidos no mundo de hoje não está crescendo como Nativos Digitais. Há um grande abismo de participação entre aqueles que são Nativos Digitais e aqueles que tem a mesma idade, mas que não estão aprendendo nem vivendo da mesma maneira. Há bilhões de pessoas
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no mundo para as quais os problemas que os Nativos Digitais estão enfrentando são meras abstrações. (PALFREY; GASSER, 2011).
Assim o papel da escola de hoje também é o de promover a inclusão digital
destes excluídos. Como também preparar os professores – Imigrantes Digitais – a
utilizarem esse potencial das TIC e o saber do Nativo Digital para atividades
escolares que envolvam as novas tecnologias, proporcionando assim mais
significado no aprendizado.
As novas TICs têm um grande potencial de auxílio no processo de ensino
aprendizagem do educando. Não utilizar essas ferramentas para fins educativos
seria, para a escola, parar no tempo, visto que cada vez mais a cibercultura vem se
desenvolvendo e evoluindo de maneira rápida e assustadora. Existe um público de
internautas dentro das escolas, que se utiliza da informática para muitas de suas
atividades cotidianas, ainda que de maneira desorientada. Desta forma, a escola e
o professor não podem estar alheios a esses impactos das novas tecnologias,
precisando compreender que o ciberespaço também pode ser um espaço utilizado
para aquisição de conhecimento (LÉVY, 1999).
Metodologia Empregada
Utilizamos nesta proposta de investigação uma abordagem quanti-qualitativa,
de natureza teórica empírica, estruturada por meio de um estudo de caso
explicativo, conforme propõe Gil (2008).
Nossa investigação se deu por meio de questionários aplicados em duas
escolas do ensino médio de Patos PB. Uma escola pública e uma escola privada.
Foram três questionários direcionados respectivamente a gestão da escola, aos
professores e aos alunos. Nosso estudo de caso, portanto foi comparar por meio
desta diagnose qual a proporção de Nativos, Imigrantes e Excluídos Digitais nestas
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escolas, suas características, a inserção delas na cibercultura e se há discrepâncias
entre o público-alvo pesquisado, alunos e professores.
A pesquisa aconteceu durante o mês de outubro de 2013 da seguinte maneira:
Questionário aplicado à gestão das escolas;
Questionários aplicados aos professores do ensino médio das escolas
pesquisadas;
Questionário aplicado aos alunos do ensino médio. Duas turmas do
primeiro ano, duas do segundo ano e duas do terceiro ano de cada
escola pesquisada.
Após a aplicação dos questionários foi realizado o estudo comparativo cujas
considerações se encontram na próxima seção.
Resultados e Discussões
Para melhor compreensão dividimos está seção em três subseções: Alunos
Nativos e Excluídos Digitais; Professores Imigrantes e Nativos Digitais; As Escolas
na Cibercultura.
Alunos Nativos e Excluídos Digitais
Foram, no total, 378 alunos investigados. Sendo 185 da escola pública e 193
da escola privada de Patos PB.
Para identificarmos se estes alunos são Nativos ou Excluídos Digitais
consideramos se possuíam computador em casa com acesso a Internet ou celular
com acesso a internet. Com isso nossa primeira figura (Figura 1) traz os gráficos
com a porcentagem de alunos Nativos e Excluídos Digitais das escolas pesquisadas.
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Figura 1: Gráficos com a estatística de alunos Nativos e Excluídos Digitais das escolas
Figura: Pablo Roberto
Nestes gráficos ficou evidenciado que na escola pública o número de
Excluídos Digitais supera os da escola privada.
Uma das características dos Nativos Digitais está relacionado a pirataria e a
cultura do Ctrl+c Ctrl+v. Os alunos encontram material fácil e pronto na Internet.
Com relação a essa questão perguntamos sobre as principais fontes de pesquisa dos
alunos. O que nos permitiu a construção do gráfico da Figura 2.
Figura 2: Gráficos com a estatística das principais fontes de pesquisa dos alunos
Figura: Pablo Roberto
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Foi autorizado que o aluno marcasse mais de uma questão para a informação
acima. E o aluno da escola pública tem-se utilizado da Internet para pesquisas,
mais do que os alunos da escola privada.
Palfrey e Gasser (2011) apresenta os nativos Digitais como autores e
produtores de material na Internet. A preocupação, no entanto, é para que esse
alunos tem utilizado e produzido na Internet, se há aprendizagem neste sentido.
Para tal problema perguntamos para que os alunos utilizavam a Internet. Como no
gráfico da figura anterior (Figura 2) os alunos podiam marcar mais de uma
alternativa. Assim o gráfico da figura a seguir (Figura 3), demonstra para que os
alunos utilizam a Internet.
Figura 3: Gráficos com a estatística da utilização da Internet pelos alunos
Figura: Pablo Roberto
O gráfico da figura acima (Figura 3) denota que os alunos da escola
particular utilizam a Internet para aprender e os alunos da escola pública utilizam
as redes sociais mais do que os alunos da escola privada. Todavia ambos utilizam a
Internet com mais frequência para acessar as redes sociais do que para aprender
algo. Esta é uma das preocupações sobre os Nativos Digitais. Eles utilizam as TIC e
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o ciberespaço, porém não para o conhecimento. Por isso é tão importante que a
escola esteja inserida na cibercultura, para que o educando entenda e aprenda a
utilizar as TIC e a Internet à favor de sua aprendizagem.
Um dos problemas enfrentado nas escola tem sido o bullying, mas que
também foi projetado para o ciberespaço como ciberbullying (SANTOS et al, 2013).
Perguntamos aos alunos se eles já enfrentaram alguma situação constrangedora na
Internet e se já foram vítimas de alguma agressão online. 39 alunos, no total,
afirmaram já terem sofrido bullying na Internet. Tal situação é preocupante pela
impunidade dos casos, já que é difícil a identificação do agressor.
Professores Imigrantes e Nativos Digitais?
Para classificarmos os professores investigados como Imigrante ou Nativo
Digital, consideramos a idade dos mesmos. Nascidos antes de 1980 são os
Imigrantes Digitais e os nascidos depois, Nativos Digitais. Assim foram 20
professores investigados sendo 12 da escola pública e 8 da escola particular.
Os gráficos a seguirem (Figura 4) trata da proporção de professores
Imigrantes e Nativos Digitais nas escolas pesquisadas.
Figura 4: Gráficos com a estatística de profesores Imigrantes e Nativos Digitais das escolas
Figura: Pablo Roberto
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Percebemos assim que a escola pública conta com a maioria dos professores
Imigrantes Digitais, assim como a escola privada pesquisada.
O fato dos professores serem Imigrantes Digitais levam a certos dilemas nas
escolas. Ele está se adaptando aos poucos a utilização das TIC e muitas vezes isso
não acontece na escola. Este professor foi formado quando as tecnologias digitais
ainda não haviam sido difundidas. Portanto, esse processo pode ser muitas vezes
lento. Já que estes não cresceram utilizando as novas TIC.
Assim os gráficos seguintes (Figura 5) apresentam a estatística dos
professores que sentem dificuldades em trabalhar com as novas TIC.
Figura 5: Gráficos com a estatística de profesores que declararam sentirem dificultades na utilização das TIC
Figura: Pablo Roberto
Os gráficos nos permitem concluir que os professores da rede pública de
ensino, quando comparado aos professores da rede particular, são maioria em dizer
que sentem dificuldades em utilizar as novas TIC.
As Escolas na Cibercultura
Nossa perguntas à gestão das escolas objetivou identificar se as mesmas
estão inseridas na cibercultura e de que forma. E pudemos observar que ambas
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oferecem recursos para professores e alunos que permitem a utilização dos
recursos digitais e da Internet.
A escola pública tem sido inserida no processo da cibercultura,
principalmente, através dos programas governamentais como o PROINFO. Possui 2
laboratórios de Informática e todos os computadores com acesso à Internet. Na
escola privada investigada notamos a presença de um laboratório de informática
com acesso à Internet e todas as salas de aula possuem lousa digital.
Todavia perguntamos aos alunos qual a frequência que os mesmos utilizavam
estes utilizavam a internet, exatamente 351 responderam quase nunca irem até o
laboratório de informática. Ou seja, como nos diz Demo (1993) “se a tecnologia
não for adequadamente educada, pode incidir em envelhecimento precoce, em vez
de renovação, porque nada mais velho do que sucata, mesmo recente”.
Considerações Finais
Eles estão por aí, em toda parte, inclusive nas escolas. Os Nativos Digitais
estão crescendo utilizando as TIC melhor do que a geração de Imigrantes Digitais. E
embora ainda existam os Excluídos Digitais, a emergência das novas TIC e a
acessibilidade à mesma tornará possível a inclusão destes na cibercultura.
O fato é que vivemos em um momento de transição e inovação. Já existem
professores Nativos Digitais. E aos imigrantes resta a disposição em aprender a lidar
com as tecnologias digitais, ainda que não possuam as mesmas habilidades e muitas
vezes sejam surpreendidos pelo saber dos Nativos Digitais relacionados aos
aparatos tecnológicos.
À escola cabe a integração. Gerar condições favorecedoras à inclusão digital
para os Excluídos Digitais e oferecer um currículo novo para o público novo de
alunos nativos da Era Digital. Estar inserida na cibercultura não significa apenas
oferecer os recursos, utilizá-los não garante a aprendizagem. Pois tudo dependerá
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dos professores, não da tecnologia. São eles que dão os fins e significados. Para
melhor, para pior, ou até mesmo para ficar tudo na mesma (MARINHO, 2006).
Estar inserido na cibercultura ou não ainda está relacionado ao fator
financeiro muitas vezes. As escola privadas portanto saem na frente em inovação e
recursos, como também seus alunos e professores, todavia não estão imunes as
mesmas dificudades enfrentadas pelos professores e alunos de escolas públicas,
como pudemos observar nesta pesquisa.
A escola pública mostrou-se inserida no processo da cibercultura
principalmente pelos projetos governamentais de inclusão digital. As diferenças
entre os alunos da escola pública e privada foram consideravelmente pequenas. A
não ser no quesito da aprendizagem. Pois percebemos na pesquisa que o aluno da
escola privada busca aprender utilizando as TIC. A diferença evidenciada entre as
escolas que gera preocupação é que os professores da escola pública ainda sentem
dificudades na utilização das TIC, o que dificulta a integração das novas TIC nas
aulas e a aprendizagem mediada por elas.
Ser Nativo Digital não garante aprender com as tecnologias digitais, mas
concede ao aluno possibilidades de aprendizagem por meio delas. Desta forma uma
preocupação para gestores e professores está relacionada a utilização das TIC para
a aquisição do conhecimento.
O professor Imigrante Digital não aprendeu com as através das novas TIC,
ensinar utilizando as mesmas para eles é uma tarefa difícil. Utilizar uma tecnologia
comum a todos também pode tornar-se um desafio, considerando a presença dos
Excluídos Digitais, evidenciado nesta pesquisa a maior incidencia na escola pública.
Portanto, a escola tem um papel fundamental para essas gerações, principalmente
em dar sentido a utilização das novas TIC em apoio à aprendizagem. Estar inserida
na cibercultura dá a escola a chance de proporcionar uma aprendizagem
significativa para essa geração nativa da Era Digital. Estimulando seus potenciais e
evitando que cresçam vulneráveis aos riscos da Internet.
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Concluimos que as escolas investigadas estão inseridas na cibercultura,
embora apresentem diferenças de infraestrutura. As disparidades enfatizada está
relacionado a utilização das TIC pelos professores das escolas, pois os professores
da escola pública sentem dificudades em utilizá-las. E destacamos aproximação das
respostas dos alunos das duas instituições que demonstrou um índice de exclusão
digital pequeno, porém mais evidente na escola pública.
Referências DEMO, P. Desafios modernos da Educação. Própolis: Vozes, 1993.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de Pesquisa Social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2008.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias de ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, 2003
LÉVY, P. P. Cibercultura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999.
LEMOS, A. Cibercultura: Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002.
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