a escola no teatro

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TAÍS FERREIRA TAÍS FERREIRA A escola no teatro A escola no teatro e e o teatro na escola o teatro na escola Universidade Federal de Pelotas Universidade Federal de Pelotas Projeto Arte na Escola Projeto Arte na Escola 14 de outubro de 2010.

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Resumo de pesquisa empírica de recepção teatral realizada com crianças espectadoras de uma escola pública.

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Page 1: A escola no teatro

TAÍS FERREIRATAÍS FERREIRA

A escola no teatro e A escola no teatro e o teatro na escolao teatro na escola

Universidade Federal de PelotasUniversidade Federal de PelotasProjeto Arte na EscolaProjeto Arte na Escola14 de outubro de 2010.

Page 2: A escola no teatro

Apresentando o estudo:Apresentando o estudo:

Teatro Teatro infantilinfantil

EscolaEscola

Crianças Crianças espectadorasespectadoras

TEATROTEATRO

ESTUDOS ESTUDOS CULTURAISCULTURAIS

EDUCAÇÃOEDUCAÇÃO

Page 3: A escola no teatro

O teatro como componente curricular obrigatório no ensino de Artes segundo a LDB 1996.

O teatro presente tanto nos Parâmetros Curriculares Nacionais para Ensino Fundamental e Médio, como nas Orientações Pedagógicas para Ensino Médio.

O professor de teatro com formação específica versus o professor unidocente e seu trabalho com e a partir da linguagem teatral.

A escola como cenário e principal mediação na relação entre as crianças e a linguagem teatral.

É através da escola que a maior parte das crianças têm seus primeiros contatos com espetáculos teatrais (ser espectador de teatro) e também as primeiras experiências com a prática teatral (fazer teatro).

Page 4: A escola no teatro

Teatro para crianças: a hibridização Teatro para crianças: a hibridização com os discursos e conteúdos escolarescom os discursos e conteúdos escolares Em um fluxo de conteúdos, formas e interesses,

interpenetrando espaços físicos e muros, borrando fronteiras, articulando teatro e escola, indelevelmente (e não impunemente), encontra-se o campo do teatro infantil.

Algumas características presentes nos artefatos teatrais para crianças:

1. intuito didático e moralizante;2. caráter comercial;3. apropriação de discursos e temáticas dos

conteúdos curriculares da escola;4. representação de personagens-criança

baseados em estereótipos de infância;5. temáticas oníricas que tentam “preservar”

as crianças da realidade, entre outros.

Page 5: A escola no teatro

Conceitos importantes para o Conceitos importantes para o entendimento da relação das crianças entendimento da relação das crianças espectadoras com a linguagem teatral:espectadoras com a linguagem teatral:

Processos Processos de recepçãode recepção

Múltiplas Múltiplas mediaçõesmediações

ReceptorReceptor ativoativo

Conceitos-chaveConceitos-chave

Page 6: A escola no teatro

ESCOLA FAMÍLIA

MÍDIA

CARACTERÍSTICAS FORMAIS,

TEXTUAIS E LINGUISTICAS

DO ESPETÁCULO CAPITAL

CULTURAL/ SIMBÓLICO

(REPERTÓRIO ANTERIOR)

CONTEXTO SÓCIO-ECON.-

CULTURAL DOS

RECEPTORES

CONDIÇÕES DO

MOMENTO DE RECEPÇÃO

GÊNERO RAÇA

CLASSE SOCIAL IDADE

ETC

ESPECTADOR

LEITOR OUVINTE

RECEPTOR

MEDIAÇÕES INSTITUCIONAIS

MEDIAÇÕES LINGUISTICAS

MEDIAÇÕES REFERENCIAIS

MEDIAÇÕES SITUACIONAIS

MEDIAÇÕES CONTEXTUAIS

MEDIAÇÕES PESSOAIS

Page 7: A escola no teatro

Entre o palco e a platéia: as mediaçõesEntre o palco e a platéia: as mediações

Mediações Mediações contextuais – contextuais – Guardas de trânsito Guardas de trânsito em motos iam em motos iam parando os carros parando os carros para que as crianças, para que as crianças, em filas, em filas, atravessassem as atravessassem as ruasruas

Mediações de Mediações de referência – referência – Eu não Eu não gosto de filme de gosto de filme de mulherzinha!mulherzinha!

Mediações pessoais Mediações pessoais ou repertório ou repertório anterior – anterior – Uma Uma pessoa fazendo ballet pessoa fazendo ballet e depois vai na aula e depois vai na aula de teatrinhode teatrinho

Ju (8 anos) – Eu gostei do Palhaço porque ele era divertido, ele é todo mole, daquela parte do avião que ele cai, ele levanta e abre a janela...To (8 anos) – Ele é boiola.Ju – Ele não é boiola!Ju – Eu gostei da parte, que... como é que é... aquela lá que eles tavam deitados aí o Palhaço começa a abri as pernas, aí levanta, aí ele cai pra subir...To – Eu achei o Palhaço muito fraquinho, porque ele apanhou duma guria...Eu – E menino não pode apanhar de guria?Pi (7 anos)– Pode!Ju – Eu dou soco em todo mundo!Eu – Ninguém tem que apanhar de ninguém, né?To –Tem que rachar...Pi – Os homem! (risos)

Page 8: A escola no teatro

Entre o palco e a platéia: as mediaçõesEntre o palco e a platéia: as mediações

As mediações As mediações recorrentes na relação recorrentes na relação entre as crianças e o entre as crianças e o teatro:teatro:

A intertextualidade A intertextualidade entre escola e teatroentre escola e teatro

A mediação da mídia e A mediação da mídia e das tecnologias das tecnologias digitais – digitais – Videogame Videogame tu pode controlar, tu pode controlar, teatro não!teatro não!

A família (classe A família (classe média) mediadora – média) mediadora – Eu contei pro meu pai, Eu contei pro meu pai, ele disse: - Bah, mas ele disse: - Bah, mas isso daí não tava pra isso daí não tava pra acontecer...acontecer...

Eu – E TV, vocês gostam de assistir?Todos – Ih... (afirmando)Ka – Eu assisto um monte.Me – Tu viu Histeria?Am – Quando eu tenho que sair do meu colégio, eu tenho que ir ligeirinho na minha casa pra ver Malhação. Se eu perco um capítulo de Malhação, eu me mato!Eu – (risos)Am – Eu adoro Malhação!!!Me – Quem não adora?Eu – Todos dias vocês assistem TV?Me – Com certeza! Se eu fico um dia sem ver TV, eu fico louco! Uma vez eu fiquei um mês. Eu – Castigo?Me – Tá louco. Minha mãe até tirou a TV do nosso quarto, eu quase arranquei meuscabelos. Ela disse até 30 de maio, só que maio tinha 31 dias...

Page 9: A escola no teatro

Eu – O que vocês lembram dos teatros que já assistiram? O que que tinha?

Me (9 anos) – Coisas chatas.Eu – Me, por que que é chato?

Conta pra mim.Me – Porque às vezes, tem

umas partes que demoooram muito pra chegar até o fim. E têm umas partes que são chatas por causa disso.

Eu – Mas chata como? Explica...Me – Chata! (risos)Eu – Mas por que que é chato?Me – Ah, é porque eu não gosto

de teatro.Eu – Tu não gosta de teatro?Me – Não.Eu – Tu prefere o que?Me – Prefiro videogame.Eu – Me, conta pra mim por

que que videogame é mais legal do que teatro?

Me – Porque videogame tu pode controlar, teatro não.

Am – Tu viu como é, no teatro mostrava, computador é quase a mesma coisa que videogame, também não se joga muito.

Me –Mas é bom videogame.Am (8 anos)– Claro, pra algumas

pessoas videogame é melhor do que teatro.

Me – Pra mim é!Pa (8 anos) – Pra mim também

é.Am – Videogame deixa a cabeça

dos guris um pouco desmiolada.

Ka (9 anos)– Videogame enjoa às vezes porque a gente já sabe o que vai jogar, se a gente vai num teatro, a gente só vai saber o nome, a gente pode ir sempre ao teatro e sempre vai ser diferente.

Eu – Nunca é o mesmo?Ka – Às vezes.Pa – No videogame tem a

corrida, luta de...Am – É que no videogame tu

escolhe...

Page 10: A escola no teatro

Algumas mediações desviantes, de Algumas mediações desviantes, de ruptura ou transgressivas de uma ruptura ou transgressivas de uma (provável) leitura preferencial:(provável) leitura preferencial:

A Fadinha Assassina na A Fadinha Assassina na Floresta Encantada dos Floresta Encantada dos AmoresAmores – Rupturas com – Rupturas com as posições as posições preferenciais de gêneropreferenciais de gênero

Eu – Se vocês pudessem mudar alguma coisa na peça, o que vocês mudariam?To – Eu faria com que o Palhaço voasse!Pi – Eu botaria uma bela meninaque seria eu, que ela fosse uma fadinha, que ela fosse assim de rosa, com o vestido todo rasgado embaixo...Eu – E o que que a fada faria na peça?Pi – A fada ia matar o Dr. Chip!Ju – Matar? Coitado!Pi – E também ia tirar a viseira do Léo...

Page 11: A escola no teatro

O inusitado, o absurdo e o escatológico como mediações – vacas detetives, minhocas e cocôs voadores invadem a cena

Ju (8 anos)– Eu gostaria que tivesse uma vaca, um pasto, aí ela tava comendo, aí a vaca foi pro brejo, depois a vaca ressuscitou, depois ela foi pro cemitério, depois ela morreu de novo, depois ressuscitou de novo... e a vaca no fim , morreu o espírito dela, a vaquinha linda.(risos) [ . . . ]

Ju – Dois atores, tá? A vaca foi comer pasto e o pasto tava envenenado, aí depois ela conseguiu sobreviver, ela foi uma vaca detetive (risos) [ . . . ], aí ela viu aquele que era suspeito-vaca, aí no fim acabou a vaca casando com um humano, aí começaram ter duas cabeças na vaca... (risos) aí ela colocou um tênis, ela se vestiu de mulher e saiu pelada pelo pasto e caiu um balde de água na cabeça dela e ficou verde... (risos) Aí ela usou cornos pintados de verde e ia nascer um pé de feijão.(Enquanto contava esta história, Ju estava todo o tempo em tom de gozação, rindo e divertindo-se)

Eu – Pi, como seria uma peça que tu ia gostar?

Pi (7 anos)– Ia ser uma peça sobre a paz e a guerra. O nome da peça era Paz ou Guerra. Ia ser cheia de crianças, elas viviam numa velha casa com um pai, uma mãe e uma avó. Aí, um dia, chegaram os americanos e começaram a metralhar a casa. Três pessoas morreram, que era a vó, o pai e a mãe. E daí ela foi criada por pessoas que não eram mãe dela, aí ela um dia disse pros dois irmão dela: - A gente vai sair desta terra e vai ir pra outra. Só que eles foram pruma terra que era o Brasil, aí eles foram...

To – Pra terra do Bin Laden!Pi – Eles foram pra África, eles tiveram

que brigar na guerra em Israel, aí ela disse: - Aqui não dá pra viver! Aí os irmão dela tiveram a idéia de ir pro exército americano, trabalhar matando pessoas, eles ganhavam dinheiro. Aí a irmã mais velha disse assim: - Eu prefiro ver vocês pobre lá na África do que assassinos de outras pessoas. Aí eles morreram e ela começou aparecer uma ferida na cabeça dela.

Page 12: A escola no teatro

As experiências das crianças As experiências das crianças espectadoras com o teatro:espectadoras com o teatro:

Mediações lingüísticas Mediações lingüísticas que atuaram nas que atuaram nas experiências das experiências das crianças com o crianças com o espetáculo:espetáculo:Relação direta

entre espectadores

e atores.

Experiência como espectadores de

palco italiano.

Page 13: A escola no teatro

Temática do espetáculo,

a imaginação,

através de cenas

“coreografadas”.

Cenas de ação, em que os

personagens marcam corporal e gestualmente

a trama.

Elementos cênicose visuais do espetáculo;

expectativa deverossimilhança;

personagens diferentes dos

atores (máscara).

Page 14: A escola no teatro

Teatro é diferente ou igual a cinema, Teatro é diferente ou igual a cinema, TV e circo?TV e circo? Construções comparativas das Construções comparativas das

crianças espectadoras entre diferentes crianças espectadoras entre diferentes linguagens espetaculareslinguagens espetaculares..

Ma (5 anos) – Teatro é diferente

da televisão porque na televisão eles gravam e no teatro não: eles se vestem,

andam no palco e... apresentam.

Ju (8 anos) – Eu acho que é bem diferente as pessoas. Porque assim:

têm outras roupas, têm outros estilos, têm outras coisas. E não é igual a teatro.

Teatro é mais realista. E circo não é assim tão realista.

Page 15: A escola no teatro

Eu – Teatro é diferente de TV e de cinema?Todos – Bem diferente!Ka – Quando a gente assiste TV, a gente não chega bem pertinho, daquela coisa que depois que termina encosta. Já se a gente vai no teatro, às vezes, depois que termina, a gente consegue

encostar.Me – Ah, porque é mais legal televisão. Eu – Por que?Me – Porque tem efeitos especiais.Eu – E no teatro não tem efeitos especiais?Me – Com certeza não.Am – É diferente porque na TV não é ao vivo, e nem todas é a cores. No teatro é ao vivo, a gente pode encostar, a gente ouve melhor, é tudo melhor no teatro. Teatro é a pessoa, a gente vê as pessoas, assim, como é que eu posso explicar... porque é melhor! Não é TV, a gente pode encostar, pode ir lá ver como é que é quando termina o teatro. TV não, a gente tem vontade de encostar e a gente não pode.

Page 16: A escola no teatro

Expectativas e (re)conhecimento de Expectativas e (re)conhecimento de especificidades e características da especificidades e características da

linguagem teatral:linguagem teatral:

Expectativa do cômico:Expectativa do cômico:Am (8 anos)– No meu teatro ia ter os Am (8 anos)– No meu teatro ia ter os

Palhaços alimentando os Palhaços alimentando os animais, todos brincando, animais, todos brincando, os filhos dos palhaços com os filhos dos palhaços com

os animais. Ah! Sem esquecer:os animais. Ah! Sem esquecer:os palhaços tropeçando em os palhaços tropeçando em tudo que é lugar, caindo...tudo que é lugar, caindo...

Expectativas relacionadas Expectativas relacionadas ao ao

repertório anterior e repertório anterior e outras linguagens outras linguagens espetaculares e espetaculares e

audiovisuais.audiovisuais.

Page 17: A escola no teatro

(Re)conhecimento de características da (Re)conhecimento de características da linguagem teatral pelas crianças linguagem teatral pelas crianças

espectadoras:espectadoras:

Conhecimento e diferenciação de gêneros e estilos em diferentes linguagens.

Percepção da provisoriedade, efemeridade e potencialidade improvisacional do teatro.

Necessidade de trabalho e elaboração prévia na construção de um espetáculo, modelos de uma “boa interpretação”.

Existência da máscara, de personagens (diferentes dos atores) envolvidos em ações e uma trama narrativa.

(Quase) silenciamento em relação aos processos de criação através do teatro.

Page 18: A escola no teatro

Bibliografia recomendada:Bibliografia recomendada: CARNEIRO NETO, Dib. Pecinha é a vovozinha! São

Paulo: DBA, 2003. CONSELHO Brasileiro de Teatro para Infância e

Juventude. Disponível em: <www.cbtij.org/>. página na Internet

DESGRANGES, Flávio. A Pedagogia do Espectador. São Paulo: HUCITEC, 2003.

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Page 19: A escola no teatro

PUPO, Maria Lúcia B. No Reino da Desigualdade – Teatro infantil em São Paulo nos anos setenta. São Paulo: Perspectiva, 1991.

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______. Brincadeira e conhecimento – Do faz-de-conta à representação teatral. Porto Alegre: Mediação, 2002.

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