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A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
Clara Mendonça
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A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
• Setembro de 2004
• Por Teresa Vasconcelos da Fonseca
A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
Clara Mendonça
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RESUMO
O presente ensaio académico conta a história de um homem que nos últimos anos da sua vida tem
lutado por uma causa: ensinar aos Europeus o que é a Europa. O estudo vai desenvolver-se à volta desta
figura do pensamento actual francês, Jacques Le Goff, em duas vertentes. Em primeiro aborda-se a sua
biografia, início do seu percurso profissional e esclarece-se a sua filiação historiográfica. Em segundo
descobre-se a temática da Europa nas suas obras mais recentes. A finalidade está em perceber que, tanto a
sua vida mais pessoal como os seus escritos mais ou menos académicos, têm sempre subjacente um
profundo sentido civilizador europeísta.
E, finalmente, num estudo pluridisciplinar em que a Europa actual se cruza com heranças da Idade
Média, surgem alguns confrontos inevitáveis e que ajudam a torná-lo mais interessante. Falamos dos
saudáveis confrontos: grande historiador versus desconhecido profissional da história; visão francesa da
Europa versus visão da Europa desde Portugal; a ideia europeia para um octogenário versus a ideia da
Europa para alguém mais novo.
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ÍNDICE
RESUMO..........................................................................................................................................................2
ÍNDICE……………………………………………………………………………………………………………………3
AGRADECIMENTOS…………………………………………………………………………………………………...6
NOTA……………………………………………………………………………………………………………………..7
APRESENTAÇÃO: O Relatório final de História do Medievalismo…………………………………………...8
Porquê Le Goff como objecto de estudo?
Apresentação sumária de Jacques Le Goff
Porquê estudar Jacques Le Goff e a Europa?
PARTE I – JACQUES LE GOFF : PERCURSO BIOGRÁFICO E A CONSTRUÇÃO DA SUA
HISTORIOGRAFIA
1. Biografia: 1924 – 1948: do nascimento ao primeiro artigo publicado………………………13
1.1. A Família e o Tempo…………………………………………………………………………....13
1.2. A política e a guerra…...………………………………………………………………………..14
1.3. Da escolaridade primária ao ensino superior: Toulon, Marselha, Paris, Roma e Praga..18
2. A Nova História……………………………...……………………………………………………21
2.1. Antes de Le Goff: “Annales”: do anonimato ao sucesso…………………………………....21
2.2. Depois de Le Goff: A legitimação do movimento da Nova História à família dos
“Annales” ................................................................................................................................23
2.3. A inovação de Le Goff à linha dos “Annales”: ..……………………………………………..28
A Antropologia Histórica: GAHOM e Seminários
O género biográfico (“São Luís” e a Memória)
3. As influências do espaços europeus na sua historiografia……………..………………32
4. Autor de síntese e de divulgação…………………………………………………………….37
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5. Conclusão da Parte I........................................................................................................41
PARTE II – JACQUES LE GOFF E A EUROPA
1. As fontes………………………………………………………………………………………….35
1.1. Os títulos………………………………………………………………………………………...35
1.2. As colecções e as editoras…………………………………………………………………….45
1.3. A bibliografia e as citações…………………………………………………………………….46
1.4. As dedicatórias………………………………………………………………………………….47
2. A actualidade da temática da Europa ……………………………………………………….48
2.1. O contributo de Le Goff para este tema……………………………………………………...51
3. Alguns motivos para Le Goff pensar a Europa…………………………………………….53
3.1. A necessidade da política e a origem da família e dos amigos……………………………53
3.2. A Cultura: erros e união………………………………………………………………………...55
4. A Ideia Europeia de Jacques Le Goff………………………………………………………...45
4.1. Introdução: Ideias base ……………………………………………………………………….57
4.2. Do século IV ao VIII: Cristianismo e aculturação “bárbara” ……………………….………59
4.3. Do século VIII ao Ano Mil: As políticas de Carlos Magno e de Otão III…………………..61
4.4. Do século XI ao XII: O Feudalismo consolida a Europa…………………………………...63
4.5. O século XIII: A “bela” Europa das universidades, das cidades, dos mercadores e dos
mendicantes……………………………..……………………………………………………...67
4.6. Os séculos XIV e XV: O Outono da Idade Média ……………..………………………...…70
5. Conclusão da Parte II…………………………………………………………………………...72
PARTE III – ANEXOS
1. Bibliografia temática de Jacques Le Goff …………………………………………………………….75
2. Os seus principais colaboradores : o exemplo do "Dictionnaire raisonné de l’Occident
médiéval ".........................................................................................................................................90
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3. Cronologia comparada : o percurso biográfico, a sua produção escrita e a construção da
Comunidade Europeia …………….................................................................................................92
BIBLIOGRAFIA E INTERNET ……………………………………………………………………………………97
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AGRADECIMENTOS
Ao Miguel, aos meus Pais e irmãos, agradeço toda a ajuda que me deram ao
longo deste ano tão difícil.
Aos tios Zé e Gracinha um beijinho especial pela confiança depositada em mim.
Agradeço aos meus professores e queridos colegas pelas críticas feitas na
apresentação do esboço deste trabalho.
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NOTA
Ao longo do trabalho não se fizeram quaisquer traduções de títulos de livros e de
expressões de autores que estivessem em língua estrangeira, sob pena de incorrer em
erro. Contudo foram utilizadas obras estrangeiras traduzidas para português, das quais
se preferiu citar e transcrever em relação às primeiras, sem que qualquer incorrecção na
sua tradução possa ser imputada à autora deste trabalho.
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APRESENTAÇÃO
• O Relatório final de História do Medievalismo
Este trabalho é o relatório final do seminário anual “História do Medievalismo”, da
Pós-Graduação em História Medieval e do Renascimento, leccionado na Faculdade de
Letras da Universidade do Porto, ano lectivo 2003/2004.
No âmbito programático desse seminário sugeriu-se que o relatório final fosse o
estudo da historiografia de um medievalista. O objectivo geral era descobrir a forma
como o autor construía a “sua” Idade Média. Para este efeito, Jacques Le Goff foi o
autor escolhido.
• Porquê Le Goff como objecto de estudo?
Na altura de escolher o medievalista a analisar, não se tinha qualquer pista de
investigação. Apenas havia três certezas, ligadas a uma realização pessoal, que
facilmente seriam conciliáveis com a execução deste trabalho. A primeira era a vontade
de basear este estudo em bibliografia escrita, maioritariamente, em língua estrangeira
(inglesa, francesa, espanhola ou até italiana). A segunda era a impreterível necessidade
de se aprofundar os conhecimentos em história medieval europeia. Por último havia um
desejo que se prende com a actualidade nacional, o esclarecimento nos assuntos
europeus, comunitários e extra-comunitários.
Na apresentação destes três pressupostos, o docente responsável pelo
seminário sugeriu que se estudasse Jacques Le Goff.
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• Apresentação sumária de Jacques Le Goff
Jacques Le Goff, medievalista da segunda metade do século XX e inícios do
século XXI, é, tanto pelo seu percurso biográfico como historiográfico, um homem
completíssimo, denso e socialmente activo.
As suas obras centram-se sobretudo na grande temática das Mentalidades e
Cultura medievais. No início da sua vida de historiador, começou por escrever temas
próximos da história económica e social, mas tinha sempre a Cultura como vertente
subjacente.1
A sua obra quantificada é impressionante. Vejam-se os seguintes números: até o
início de 2004, Le Goff escreveu 147 artigos, 23 livros, 45 apresentações e prefácios,
dirigiu 19 obras colectivas, e ainda tem 3 livros no prelo para o presente ano. 2
• Porquê estudar Jacques Le Goff e a Europa?
De todos os assuntos versados pelo autor, escolheu-se aprofundar o assunto
europeu.
À medida que se ia recolhendo e lendo a obra do historiador, notava-se a
preocupação constante que ele tinha em escrever, não somente sobre a história
francesa medieval, mas sobre toda a Europa, tanto a Ocidental, como a Central e a de
Leste. O espaço europeu, aquém e além da “cortina de ferro”, era-lhe um tema caro. A
partir de meados dos anos 80 do século XX, Jacques Le Goff começou a preocupar-se
1 LE GOFF, Jacques – « Marchands et banquiers du Moyen Âg e ». Paris : PUF, (col. « Que sais-je? », n° 699), 1956. Este foi o seu primeiro livro, escrito quando tinha 32 anos. Se à partida, pelo título parece um estudo de índole exclusivamente económica, quando se procede à sua leitura percebe-se que o assunto é diferente; trata das mentalidades dos mercadores medievais e da nova concepção mental do trabalho no século XIII. 2 Veja-se a sua bibliografia organizada tipologicamente (ex.: por livros, por artigos, etc.) em http://www.ehess.fr/gahom/LeGoffbiblio.htm . E veja-se nos anexos deste trabalho – Parte IV – a bibliografia organizada por temas.
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com a “crise existencial” que afectava a Europa e os Europeus. 3 Anos depois, em 1993,
começou a escrever sobre a “ideia europeia” e a identidade da Europa. 4 O autor estava
decidido a encontrar “uma memória comum entre os europeus para que ela (…)”
pudesse “desembocar numa integração que (…)” ultrapassasse “a Europa das nações
actuais”. 5 Essa memória comum do espaço europeu consolidou-se, segundo o autor, na
época medieval. A resposta e o remédio à “crise existencial” europeia encontrava-se na
busca das raízes medievais da Europa actual. As raízes medievais e os seus frutos
actuais, teorizados por Le Goff, são o âmbito deste estudo.
Mais tarde, na decorrência da observação acima mencionada, decidiu-se
aprofundar este trabalho, dedicando uma parte exclusivamente ao tema europeu; três
factores contribuíram para isso:
1. Neste ano de 2004, a Europa Económica (U.E.) estará alargada à sua máxima
extensão de sempre, com 25 estados-membros. O mapa da U.E. estará mais próximo
do que nunca Europa geográfica. Assim é fundamental conhecer os antecedentes dos
países recém chegados do leste europeu.
2. No dia da apresentação informal deste trabalho ao docente responsável pelo
seminário e aos colegas, faltarão apenas 3 dias para as eleições no Parlamento
Europeu (P.E.), facto que terá relevância na finalização do texto constitucional europeu
que se encontra em elaboração. Esta é uma época em que as temáticas europeias
estão na ordem do dia, pelo que se torna necessário saber como foi a construção da
Europa (Antiga, Medieval e Moderna) para se seguir mais esclarecido rumo ao futuro.
3 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da história». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 219. 4 Vd. LE GOFF, Jacques – « L’Europe à l’école ». In «Le Débat», n° 77, novembre-décembre 1993, p. 176-181. 5 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da história». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 219.
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3. No conjunto dos 5 títulos escritos por outros autores sobre Le Goff 6, nenhum focou o
interesse do historiador pelo tema da ideia, da identidade e da unidade europeias. Desta
forma parece haver lugar para este estudo que, à partida, é inovador.7
6 Veja-se nos anexos deste trabalho – Parte IV – a bibliografia organizada sobre o tema: Os outros sobre Le Goff.
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PARTE I – JACQUES LE GOFF : O PERCURSO BIOGRÁFICO E
A CONSTRUÇÃO DA SUA HISTORIOGRAFIA 8
7 Na linguagem da prática empresarial, chamar-se-ia um “cluster de mercado historiográfico”; i.e., parece ser um nicho de mercado em que, até à data, ninguém estudou. 8 Veja-se também o esquema com as principais relações entre os dados da vida pessoal e profissional do historiador, a sua produção historiográfica e os principais acontecimentos da construção da Comunidade Europeia, na Parte IV deste trabalho, no capítulo com o título: “Cronologia comparada: a vida pessoal e profissional de Le Goff, a sua produção escrita e as principais datas da construção da Comunidade Europeia”.
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1. Biografia: 1924 – 1948: do nascimento ao primeiro artigo publicado
1.1. A Família e o Tempo
No dia 1 de Janeiro de 1924, nasceu Jacques Le Goff na cidade do Sul de
França, chamada Toulon. Era filho de um professor de inglês descrito, pelas palavras do
filho, como “honesto e justo”. E de com uma dona de casa caracterizada, através das
palavras do mesmo, como uma “católica fervorosa, de esquerda e socialista”. Deste
primeiro parágrafo totalmente biográfico ressaltam três aspectos que foram
determinantes para a vida do autor: o tempo em que nasceu (dia / mês) e as heranças
das personalidades fortes do seu pai e da sua mãe. 9
A sua data de nascimento marcou-o profundamente. A importância da dimensão
temporal deve-se aos diferentes significados do tempo para as diferentes pessoas. O
exemplo do seu dia de nascimento, e consequentemente de aniversário, é
paradigmático. O dia 1 de Janeiro, para as pessoas do “mundo ocidental”, é o início do
novo ano civil, significado que teve na sua origem a tomada de posse dos senadores
romanos; é uma data que, para os “ocidentais”, marca o fim de um ciclo e outro tem
início. Para Le Goff, que vive nesse mundo, o dia representava apenas o seu
aniversário. Todavia noutras civilizações onde a contagem do tempo não é medida de
igual forma, este dia, este tempo (o início do ano “ocidental”) é uma época relativamente
banal. São exemplos as culturas chinesa e muçulmana. A importância dos diferentes
níveis de tempo para cada civilização é uma preocupação que transparece nas
9 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp. 171-172.
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cronologias comparadas que compõem, com elevada frequência, a parte final dos livros
de Le Goff. 10
Nas palavras de Le Goff, o seu pai era “pouco cristão”, “sisudo”, íntegro e “um
típico bretão”. Com ele aprendeu o “verdadeiro sentido” da sua educação, o sentido da
tolerância. Pelo contrário, a sua mãe era “uma típica provençal”, “cristã do Credo,
sobretudo dos Mistérios Dolorosos”, com a qual aprendeu a bondade como vertente
mais visível da Caridade cristã. 11
A junção das qualidades da tolerância sem base religiosa com a Caridade e o
gosto pela política de esquerda, ocasionou um “cristão vermelho”, tido pelos amigos
como um homem de uma “bondade” imensa. 12
1.2. A política e a guerra
Antes de se falar do percurso escolar do futuro medievalista, falar-se-á da política
e da guerra, dois marcos que parecem ter condicionado a formação do carácter de Le
Goff.
O seu discurso no ensaio de ego-história é intercalado com sucessivas
referências às duas grandes guerras mundiais que minaram a Europa do século XX. A Iª
10 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003. Nesta obra, o autor coloca as principais datas da construção europeia e, em paralelo como contraponto, acontecimentos passados noutras civilizações, nas mesmas datas. O mesmo acontece em obras mais antigas como: LE GOFF, Jacques – «A civilização do Ocidente medieval». Lisboa: Editorial Estampa, 1994, vol. II, pp. 154-246. Vejam-se as considerações pessoais do autor sobre a importância da temporalidade em: LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp. 171-172. Vejam-se as considerações teóricas, do mesmo, sobre o Tempo, nas várias entradas que escreveu para a «Enciclopédia Einaudi», sobretudo as que cabem no volume 1 da edição portuguesa: LE GOFF, Jacques - «Memória», «Calendário», «História», «Passado/Presente», «Antigo/Moderno». In «Enciclopédia Einaudi», Ruggiero Romano (dir.) Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984, vol.1. 11 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp. 178-179. 12 Vd. NORA, Pierre – «Côte à côte». In «L’Ogre historien : autour de Jacques le Goff», Éd. De Jean-Claude Schmitt et Jacques Revel. Paris : Gallimard, 1998, p. 60.
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Guerra Mundial, ainda que Le Goff não a tenha vivido (pois nasceu 6 anos depois do
seu desfecho), marcou em profundidade a sua vida, pelo facto do seu pai ter sido
intérprete nas trincheiras dos ingleses. Le Goff diz que, apesar do seu pai não ter
pegado em armas, a guerra carregou o seu semblante. Esses 4 anos de guerra (1914-
1918), condicionaram o carácter “sisudo” do seu pai, mas tornaram-no, aos olhos do seu
filho, um verdadeiro “herói da integridade”. 13
A IIª Guerra Mundial teve um impacto directo sobre o historiador. Começou
quando Le Goff tinha 15 anos e terminou quando ele já tinha 20. Numa fase de
desenvolvimento psicológico tão fundamental e delicado como é a adolescência, Le Goff
passou-a em clima de guerra, chegando a passar fome e a ter de mudar de cidade. Os
movimentos de esquerda ganhavam força no combate à guerra e ao regime vigente de
incidência racista e xenófoba. O gosto de Le Goff pelas políticas despoletou na altura
em que a França vivia em estado de sítio, numa tentativa de fazer face às políticas de
extrema-direita dos regimes fascistas e nazis. 14
A política é para Jacques Le Goff uma “necessidade”, que com o passar dos
anos se tem tornado progressivamente “constrangida”. 15
Desde cedo, quando Le Goff tinha apenas 12 anos, entrou para a Frente
Popular16, a fim de combater o racismo de que padecia a sua cidade natal, Toulon. 17
13 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história», Lisboa: Edições 70, 1989, pp. 178-179. 14 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História.» In «Ensaios de Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989, pp. 201-203. 15 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História.» In «Ensaios de Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989, p.218. 16 A Frente Popular é “a expressão que designa a coligação dos partidos esquerdistas para conquistar o poder. Em 1936, comunistas, socialistas e radicais franceses uniram-se sobre o lema « Pão, Paz e Liberdade », alcançando o poder. Formou-se então um governo presidido por Léon Blum sem a participação dos comunistas, que apenas concederam o seu apoio. De formação heterogénea, teve pouco tempo de existência, pois viu-se a braços com grandes dificuldades financeiras e económicas. Por outro lado o governo contava com as severas críticas dos comunistas, que propunham a intervenção em Espanha contra Franco (…).” Vd. «Frente Popular». In «A Enciclopédia», Fernando Guedes (dir.). Lisboa: Editorial Verbo, vol. 9, p. 3879. ISBN: 972-22-2311-9.
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Nos anos posteriores, Le Goff aliou-se a movimentos e a partidos políticos em
resposta às políticas encetadas pelo governo do seu país que era liderado pelo
Marechal Pétain. No final do liceu, como era de costume, os finalistas desfilavam em
frente ao chefe do governo francês. Le Goff não foi excepção e em 1 de Maio de 1941,
fê-lo em frente a Pétain. Cerca de um ano antes deste encontro, em Junho de 1940,
Pétain assinara o Armistício com a Alemanha nazi. Muitos franceses, e entre eles estava
Le Goff, não regozijaram com esta medida. Pelo contrário. Le Goff apelidou de
“vergonhoso” ter visto as tropas alemãs passearem-se pelo seu país que julgava ser tão
tolerante e independente e que jamais se vergaria a uma potência racista e xenófoba. A
propósito do desfile que teve de integrar, confrontado com a presença de Pétain, Le Goff
afirma, recordando: “Foi graças a Deus, a única vez que vi o Marechal Pétain.” E,
posteriormente, acrescenta: “Pétain é a mancha maior da História de França.” Foi na
sequência deste encontro que, nesse mesmo Verão de finalista, entrou para a
resistência Anti-Vichy e anti-alemã, a chamada SFIO. 18
Le Goff tirou algumas “lições de história” das duas grandes guerras do século XX,
nomeadamente da segunda. Numa visão prática do papel da história na vida dos
homens, Le Goff diz que: “Aprendi com ele [Pétain], como muitos franceses, o que é ser-
se pisado no seu país. É preciso que as gerações que não o conhecem possam saber e
compreender que infâmia foi o regime de Vichy”.19
17 Antes de entrar para este movimento, o jovem Le Goff pediu o conselho e até mesmo a anuência ao arcipreste da catedral de Toulon, que por sua vez o incentivou vivamente a integrar a Frente Popular. Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História.» In «Ensaios de Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 199. 18 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História.» In «Ensaios de Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989, p.201-202. A S.F.I.O. - Séction Française de l’Internationale Ouvrière - era uma pseudo-resistência francesa ao regime germânico que recolhia e distribuía alimentos fornecidos pelos aliados ingleses. Na resistência o historiador diz que nunca foi nem de direita, nem comunista; era um socialista com vontade de passar umas férias de Verão diferentes. Esta vontade pode ser facilmente compreendida se se considerar que Le Goff nessa altura tinha apenas 17 anos. 19 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 202.
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Do ponto de vista teórico, a “lição” retirada prende-se com a noção do tempo
longo. No senso comum, a guerra é a criadora do antes e do depois, é um marco
estrutural que influi em todos os sectores de uma civilização (material, cultural, político,
etc.). Mas para o historiador as guerras mundiais não são um grande motor da história.
O contacto com a experiência que o seu pai teve na Iª Guerra Mundial e a experiência
que o próprio Le Goff teve na IIª, é o suficiente para afirmá-lo. O historiador disse que
atravessou a IIª Guerra Mundial “muito superficialmente”. O facto de essa
superficialidade o ter deixado “sem marcas profundas”, preparou-o para distinguir uma
história dos grandes acontecimentos, da história da longa duração. E conclui dizendo
que os grandes acontecimentos como as guerras mundiais não mudam estruturalmente
uma sociedade, apenas só podem acelerar ou atrasar as verdadeiras evoluções. 20
Em 1945, terminada a guerra, a grande tendência ideológica francesa era o
“cristianismo vermelho”, ao qual Le Goff aderiu. Do ponto de vista partidário, Le Goff
aproximou-se dos comunistas, partido que “suscitava o entusiasmo dos jovens
intelectuais”. Nessa altura, já não integrava a SFIO, movimento que tinha seguido um
rumo “desinteressante” para o historiador. Anos depois, em 1956, abandonou o
secretariado do SNE (Syndicat National de l’Edition). A política continuou, desta forma, a
estar presente na sua vida até ao ano em que casou, 1962. Foi precisamente neste ano
que abandonou a militância do último movimento político a que esteve ligado, o PSU
(Partido Socialista Unificado francês).
20 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-História». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 174 e 203. Não parece que a guerra tenha tido um impacto tão modesto na sua vida, como Le Goff faz crer. Caso assim fosse, o historiador não estaria constantemente, ao longo da obra atrás citada, a explicar tantos pormenores da sua vida que se relacionavam com as guerras mundiais, sobretudo com a IIª.
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1.3. Da escolaridade primária ao ensino superior: Toulon, Marselha, Paris,
Roma e Praga
A escolaridade inicial de Jacques Le Goff foi passada em Toulon. No 7º ano, teve
um professor de história que viria a ser um eminente historiador: Henri Michel. Foi
graças a este “grande mestre”, segundo Le Goff, que o jovem estudante aprendeu a
utilizar o documento e a perceber que a história mais do que contar deve explicar. O
gosto por um período em particular da história, o medieval, desenvolveu-se também
neste primeiros anos de estudo. As aulas de Henri Michel, as leituras de obras de Sir
Walter Scott, nomeadamente com “Ivahoe”, contribuíram em muito para isso. 21
A aproximação aos temas da cultura e do imaginário ocorreram um pouco mais
tarde com a leitura de duas revistas para jovens sobre contos e lendas que, os seus pais
lhe ofereciam de uma forma acertada e “judiciosamente” , nas palavras de Le Goff.22
Desde os primeiros anos de vida escolar, Le Goff definiu por gosto e acaso e não
por estratégia ou obrigação, o seu campo de estudo futuro. A história, a idade média, a
cultura e o imaginário foram as pedras de um caminho, traçado pelo gosto de um jovem
estudante, que estava ainda a passos largos da entrada na universidade.
A IIª Guerra Mundial chegou a França quando Le Goff estava a aproximar-se da
conclusão do liceu. A partir de 1941, teve de sair de Toulon e ir para Marselha. Esta
mudança não lhe causou tristeza nem saudade, muito pelo contrário. Foi a partir desse
momento que viu quão “racista e xenófoba” Toulon era; por contraponto, Marselha era,
21 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp. 195-196. 22 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp. 196-197. Pena é que o historiador já não se recorde do título destas publicações, pelo que nenhum foi avançado.
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nas suas palavras, uma cidade “mestiça”, com um activo porto de mar onde aportavam
barcos com pessoas de todas as culturas e civilizações.23
Em 1942, com 18 anos, entrou para a universidade na Escola Normal Superior,
em Paris, a fim de obter a licenciatura em Letras. Com sucesso, concluiu as disciplinas
referentes ao Grego, ao Latim e ao Francês, mas faltava-lhe uma disciplina para ser
licenciado, a Filologia.
Em 1944, teve de ir para a Sorbonne (designação da Universidade de Paris I,
Panteão) frequentar o curso de Filologia para obter o grau desejado. Contudo só
conseguiu lá ficar cerca de 15 dias. Detestou de tal forma aquela instituição académica,
facto que é corroborado pelas suas palavras: “estou muito reconhecido a essa
instituição e a essa disciplina, pois pareceram-me tão repelentes que decidi não
continuar”. 24
A Filologia ficou pelo caminho, mas a Sorbonne continuou na sua vida. Para se
tornar historiador teve de lá voltar para frequentar algumas cadeiras de História. Nas
suas palavras, estas deixaram-lhe “a mesma insatisfação que as de filologia”. Durante
este período, Jacques Le Goff não foi um aluno assíduo às aulas. Passava os dias no
cinema, a jogar bridge e a assistir a concertos. As noites eram passadas em casa a
estudar (aliás, como hoje em dia). Desta forma pouco comum, concluiu a Licenciatura
em Letras e em História. 25
Entre 1946-1950, voltou à Escola Normal onde, segundo o próprio, passou os
melhores 4 anos de estudo e de reflexão da sua vida. Foram anos de viagens e de
23 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp. 200-201. 24 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 204. 25 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p.204. A noite é para o autor o “temps privilégié de la réflexion et de l’écritude solitaire”, segundo nos conta o
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20
intercâmbio em outras instituições de ensino europeias; a saber, na Escola Francesa de
Roma e na Universidade de Praga. Foi ao longo deste tempo que adquiriu o “prazer das
bibliotecas”.
A propósito da sua estadia em Roma, entre 1946-1947, disse que teve a “sorte
que não se esquece, a de ter tido à mão, aos vinte anos, uma grande biblioteca, rica não
só em livros, mas também numa pesada história intelectual”. Le Goff tinha os livros “à
mão” pois, durante essa estadia em Roma, dormia num quarto situado dentro da
biblioteca daquela instituição. 26
Entre 1947 e 1948, foi destacado como bolseiro para Praga. Aí redigiu o seu
primeiro artigo publicado: “Un étudiant tchèque à l’Université de Paris au XIVe siècle” 27.
Após deixar a Escola Normal Superior - último período da sua escolaridade até
se tornar historiador - Le Goff contactou em 1950 com Fernand Braudel e com os
restantes colaboradores da revista dos “Annales”. A partir daí, iniciou-se uma nova
etapa na sua vida que constituirá o próximo capítulo.
seu discípulo Jean-Claude Schmitt em: Vd. SCHMITT, Jean-Claude – «Le Séminaire». In «L´Ogre historien : autour de Jacques le Goff», Éd. De Jean-Claude Schmitt et Jacques Revel.Paris : Gallimard, 1998, p. 21. 26 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 207.
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2. A Nova História 28
2.1. Antes de Le Goff: “Annales”: do anonimato ao sucesso
Em 1929, Marc Bloch 29 e Lucien Febvre 30 fundaram a revista “Annales d’histoire
économique et sociale”. Estudando o Homem de uma forma total, visto na longa
duração, desprezando o acontecimento, estes historiadores pretenderam fazer face à
historiografia político-militar e “metódica” praticada na generalidade, chamando a
atenção para “a actividade económica, a organização social e a psicologia colectiva”. 31
Esta publicação ganhou maior dinamismo depois da IIª Guerra Mundial, cerca de
16 anos depois da sua criação, e sobretudo sob o novo comando de Fernand Braudel 32.
A IIª Guerra Mundial deixou marcas profundas por toda a Europa e a França não foi
excepção. Com o final da guerra, a sociedade francesa auspiciava mudanças e
desejava esquecer, perder a memória do passado recente. Como tal, o que fosse
antónimo ou somente a variante do passado, era abraçado com esperança no futuro.
27 Vd. LE GOFF, Jacques - «Un étudiant tchèque à l’Université de Paris au XIVe siècle». In «Revue des études slaves», t. 24, 1948, p. 143-170. 28 Vd. a “Cronologia comparada : o percurso biográfico e o académico, a sua produção escrita, e a construção da comunidade europeia”, do anexo que está na Parte IV deste trabalho, para visualizar esquematicamente as principais informações do capítulo que se segue. 29 Marc Bloch nasceu em Lyon, em 1886, e faleceu fuzilado pelas tropas alemãs, perto de Trévoux, em 1944. Historiador e académico francês, de origem judaica, foi um dos autores da profunda renovação contemporânea dos estudos históricos. Foi aluno do historiador Ferdinand Lot e de Carlos Pfister. Escreveu obras intemporais como, por exemplo, «A Sociedade Feudal», «Os reis traumaturgos» e «Introdução à História». 30 Lucien Febvre nasceu em 1878 e faleceu em 1956. Historiador francês, figura central do pensamento histórico contemporâneo, foi professor na Universidade de Estrasburgo e no Colégio de França. Entre os vários livros publicados destacam-se: «Um destino: Martinho Lutero», «O problema da descrença no século XVI: a religião de Rabelais», «História do Franco Condado». 31 Vd. BOURDÉ, Guy e MARTIN, Hervé - «As Escolas Históricas». Lisboa: Publicações Europa-América, 1983, p. 119. E Vd. também BREISACH, Ernest – «Historiography: Ancient, Medieval and Modern. » Chicago & London: The University of Chicago Press, 1999, p. 959. 32 Fernand Braudel nasceu em 1902. A sua grande obra foi «O Mediterrâneo na época de Filipe II», tese de doutoramento de estado defendida quando tinha 42 anos, em 1946. Teve um carreira excepcional: dirigiu a revista «Annales»; presidiu à VIª Secção da Escola Prática dos Altos Estudos; ocupa a cátedra no Colégio de França.
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Apesar de a revista “Annales” ser de fundação anterior à IIª Guerra Mundial, era ainda
inovadora e foi considerada uma lufada de ar fresco pelo tipo de história que vinculava;
Era uma “nova” História. É neste pós-guerra imediato que o título é mudado para
“Annales: Economies, Sociétés, Civilisations“.
A inovação dos homens dos “Annales” tinha 3 níveis: a inovação no objecto, no
método e nas fontes. A fim de estudar o Homem, objecto fulcral desta historiografia,
encontram vários objectos secundários; por exemplo, a alimentação, o clima, ou as
mentalidades. Neste sentido serviram-se de várias ciências auxiliares da História, como
a História da Arte, a Arqueologia, a Antropologia, a Demografia, entre muitas outras.
Criou-se uma interdisciplinariedade à volta dos “Annales”.
Aumentado o leque das ciências auxiliares, aumentaram na mesma proporção os
instrumentos de trabalho disponíveis para a investigação histórica; exemplos são: a
linguística, a memória artificial dos computadores, a matemática, a meteorologia, etc.
A fonte mudou de estatuto. Anteriormente eram as fontes, sobretudo os diplomas
oficiais, políticos e militares que suscitavam os problemas. Doravante é o problema que
suscita as fontes. O historiador vai procurar outros tipos de fontes para além das
“oficiais” anteriormente privilegiadas; por exemplo: o sítio arqueológico, a iconografia,
etc. Nas palavras de um historiador da historiografia, Charles-Olivier Carbonnel, houve
com os “Annales” uma tendência de “inflação documental” porque as fontes tornaram-se
praticamente inesgotáveis, que foi continuada com os historiadores da “Nova História”. E
a história como ciência total cresceu tanto que Le Goff, em 1974, escreveu: “Le domaine
historique paraît aujourd’hui sans limites”.33
33 Vd. CARBONELL, Charles-Olivier - «Historiografia». Lisboa: Teorema, 1987, p. Vd. LE GOFF, Jacques - «Présentation». In «Faire de l’histoire : nouveaux problèmes.»Pierre Nora et Jacques Le Goff (dir.). Paris : Gallimard, 1974, vol. 1, p. IX. E a propósito dos novos objectos, das novas abordagens e dos novos problemas desta “Nova História”, veja-se a obra: «Faire de l’histoire». Pierre Nora et Jacques Le Goff (dir.). Paris : Gallimard, 1974, 3 vols.
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A validação académica a nova historiografia aconteceu com o controle, iniciado
por Fernand Braudel, sobre a VIª Secção da Escola Prática de Altos Estudos e a Maison
des Sciences de l’Homme. 34
Esquema: a teia do sucesso annaliste no Pós – II Guerra Mundial
Novos objectos e novos métodos
Novo título Meio académico
2.2. Depois de Le Goff: A legitimação do movimento da Nova História à família dos
“Annales”
Em 1950, Jacques Le Goff contactou pela primeira vez com os homens dos
“Annales”, Fernand Braudel, o seu coordenador, e Maurice Lombard, um dos vários
colaboradores da revista. Ambos faziam parte do júri das provas de agregação ao
sistema do ensino liceal francês 35. Nessa altura, Le Goff tinha 26 anos e, durante toda a
licenciatura que terminara, nunca ouvira sequer falar destes dois homens e das suas
obras. Dos homens dos “Annales” apenas conhecia a magna obra do então falecido
Marc Bloch, “A Sociedade Feudal”. 36
34 Vd. BREISACH, Ernest – «Historiography: Ancient, Medieval a nd Modern. » Chicago & London: The University of Chicago Press, 1999, p. 370. 35 Em França, para que um licenciado possa ter acesso à carreira de docente do ensino secundário, tem de fazer provas de agregação. Estas primam pela dificuldade dos conteúdos e pela exigência da avaliação. A preparação para este exame demora cerca de 1 ano lectivo. 36 Em conversa com Marc Heurgon (1998), Le Goff considerou esta obra « une synthèse qui transfigurait l’histoire des instituitions par une conception globale de la société, intégrant l´histoire économique, l´histoire sociale et l’histoire des mentalités. » Vd. LE GOFF, Jacques -« Une vie pour l’histoire.» (Entretiens avec Marc Heurgon). Paris : La Découverte, 1996, p. 103.
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A preparação para a agregação fez-se sobretudo à base de leituras da
bibliografia da autoria dos membros do júri. As leituras efectuadas nesse ano de 1950
marcaram o historiador em profundidade. Le Goff assegura mesmo que toda a sua
historiografia dos anos posteriores seria marcada pelo trabalho árduo feito naquele ano.
As suas palavras são o melhor exemplo desse bom momento de preparação que viveu
com “entusiasmo”: “De repente a poeira da Sorbonne vai-se, voa. É o grande vento do
mar alto. Com Fernand Braudel partimos para o Mediterrâneo mas também para o
Atlântico; com Maurice Lombard seguimos as grandes vias das caravanas (…)”. 37
Aprovado com distinção, Le Goff parte em 1951 para leccionar num liceu no
Norte de França, em Amiens. Aí permaneceu durante um ano lectivo, levando, nas suas
palavras, uma “vida banal”, como professor de história do ensino secundário.38
Apesar de ter gostado da experiência de ensinar a um nível não universitário,
“sentia que tinha uma vocação para investigar”. 39 Foi na procura dessa vocação que
conseguiu uma bolsa para ir estudar para o Lincoln College, na Universidade de Oxford,
no ano imediato.
Em 1954, aceitou o convite de Michel Mollat para ser seu assistente na
Universidade de Lille. Mas, cerca de 4 anos depois, Michel Mollat era convidado para
ocupar uma vaga de professor na Universidade de Paris I- Sorbonne. Jacques Le Goff,
não obstante ser seu assistente há algum tempo, não podia assegurar a regência da
cadeira ministrada por Mollat pois ainda não tinha o grau de doutor. Com apenas 34
anos e na tentativa de permanecer a leccionar em Lille, melhorou e aperfeiçoou duas
37 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, pp. 207-208. 38 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 208. 39 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 208.
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obras da sua autoria que estavam no prelo: “Mercadores e banqueiros na Idade Média”40
e “Os Intelectuais na Idade Média” 41. A preparação para a redacção destes livros
marcou em muito a historiografia que Le Goff fez nos anos seguintes. Leu várias obras,
sobretudo acerca dos séculos XII e XIII europeus, cronologia e espaço da sua
predilecção na historiografia posterior.
Nem mesmo a autoria deste par de livros lhe garantiu a entrada para a docência
na Universidade de Lille, onde o grau de doutor era condição primária para consegui-lo.
Voltou a Paris e tentou a sua sorte junto de Maurice Lombard, que por sua vez, o
(re)apresentou a Fernand Braudel. Inevitavelmente mostrou-lhes as suas únicas obras,
às quais F. Braudel reagiu da seguinte forma: “Não lhe posso oferecer um lugar de
chefe de trabalhos 42 neste momento, mas vão-se criar lugares de professores
assistentes e você terá uma direcção de estudos logo que seja possível.”43 Foi desta
forma que, em 1958, Le Goff entrou para a instituição académica annaliste chefiada por
F. Braudel. Ao contrário do ambiente vivido em Lille, na VIª Secção da Escola Prática de
Altos Estudos, Le Goff sentiu que havia “liberdade de expressão e trocas intelectuais”.44
Em 1960, Braudel foi eleito Presidente da Associação de História Económica e
nomeou Le Goff para seu secretário. Nesse contexto, tinham uma reunião semanal.
Para Le Goff, foram momentos de imenso interesse, tanto pelo contacto com
40Vd. a referência da obra original : LE GOFF, Jacques - «Marchands et banquiers du Moyen Âge». Paris : PUF, (col. « Que sais-je? », n° 699), 1956 ; 8ª ed. corrigida, 1993. Este livro é o estudo da religião, da cultura e das mentalidades dos mercadores medievais, e não um estudo de história económica pura. 41 Vd. a referência da obra original :LE GOFF, Jacques - «Les intellectuels au Moyen Âge». Paris : Seuil, (col. « Le Temps qui court » n° 3), 1957 ; reed.[col. « Point Histoire » n° 78], 1985. Obra encomendada por Michel Chodkiewicz, director da colecção « Le Temps qui court ». Nela Le Goff relaciona o fenómeno urbano , o mundo das universidades e as alterações na representação mental do trabalho intelectual, sobretudo ao longo do século XIII. Para Le Goff, apesar deste ter sido o seu 2º livro, considera-o a sua «primeira obra». Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 212. 42 Tradução da expressão francesa «maître assistant» que consta na referência abaixo mencionada. 43 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 212. 44 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 213.
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historiadores estrangeiros, como pela aprendizagem constante com Braudel, sobretudo
na área da história económica e social. 45
A comprovar esta aprendizagem, estiveram dois artigos de Le Goff, publicados
na revista dos “Annales”, intitulados: “Temps de l’Eglise et temps du marchand ” (1960)
e “Un enquête sur le sel dans l’histoire” (1961).
O início dos anos 1960s ficaram marcados na sua vida pelo abandono definitivo
da tese de doutoramento de estado. A tese era para Le Goff uma “obra marcada pela
inutilidade da erudição e do rodapé das páginas”. E acrescenta que “foi para escrever
melhores livros que abandonei a tese”. 46
Le Goff, em considerações pessoais, ao justificar este abandono, chamou a si os
exemplos dos grandes annalistes. Para ele, F. Braudel, apesar de ter feito uma grande
tese, fugiu à tradicional tese de doutoramento de estado da universidade francesa. M.
Bloch não escreveu a sua tese por estar envolvido na IIª Guerra Mundial. E L. Febvre
fez uma “tese utilitária” mas não é o seu melhor livro.47
Nos anos 70 do século XX, Le Goff continuou a trabalhar perto de F. Braudel.
Foram os anos mais annalistes de Le Goff, visíveis em 3 vertentes. Primeiro, em 1972,
sucede a F. Braudel na presidência da VIª Secção da Escola Prática de Altos Estudos,
órgão académico institucional mais próximo dos “Annales”. Segundo, é a década em
que escreve o maior número de artigos integrados naquela publicação. Terceiro, porque
dirige duas obras colectivas que são o suporte teórico do movimento da “Nova História”,
45 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 213. 46 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 215. Nesta altura, a sua tese de doutoramento ainda não tinha um corpo denso, era um conjunto de escritos soltos, entre os quais a sua «primeira obra» «Os Intelectuais na Idade Média». O tema estava relacionado com a alteração da noção de trabalho na idade média que passou da desvalorização do ócio feudal para a valorização da cultura e do saber, mudança também pautada pelo desenvolvimento urbano, do comércio e das ordens mendicantes. O seu orientador era Charles Edmond Perrin.
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tendência inspirada nos “Annales “ de M. Bloch, L. Febvre e F. Braudel. A primeira obra
é dirigida em colaboração com Pierre Nora e intitula-se “Faire de l’Histoire”; é uma obra
composta por 3 partes, cada uma responde aos principais aspectos dos novos
problemas, das novas abordagens e dos novos objectos desta “Nova História”. 48 Le Goff
para além de coordenar a obra em geral, escreveu a apresentação, dirigiu de perto o
terceiro volume da “Faire de l’Histoire” e redigiu o último capítulo deste póstumo volume,
com o título “Les Mentalités: une histoire ambigüe”. A segunda obra é o dicionário da
“Nova História”, dirigido numa colaboração estreita com Roger Chartier e Jacques
Revel; nele tratam as principais temáticas dessa tendência historiográfica, sob a forma
de entradas em dicionário. 49
A etiqueta que rotula Le Goff de annaliste é cómoda mas não serve plenamente.
É necessário colocar-se matizes. Os “Annales” da primeira geração, os fundadores da
revista, foram Marc Bloch e Lucien Febvre. Os da segunda geração são compostos por
Fernand Braudel e discípulos, na qual Le Goff não encaixa. Le Goff pertence à terceira
geração dos “Annales”, juntamente com Pierre Chaunu, Pierre Nora, Michel Perrot, entre
muitos outros. Contudo, este último grupo é muito heterogéneo em si mesmo. 50
Apesar de serem diferentes entre si e diferentes dos seus antecessores, Jacques
Le Goff e o restante da terceira geração dos “Annales”, mantiveram as matrizes iniciais
do programa encetado pelos “avós” M. Bloch e L. Febvre e pelo “pai” F. Braudel.
47 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 215. 48 Já se mencionou esta obra no sub capítulo anterior, mas volta-se aqui a repetir a sua referência: «Faire de l’histoire». Pierre Nora et Jacques Le Goff (dir.). Paris : Gallimard, 1974, 3 vols. 49 Vd. «La Nouvelle Histoire», Jacques Le Goff, Roger Chartier e Jacques Revel (dir.). Paris : Retz CEPL, 1978. 50 A obra lançada por Pierre Nora, «Ensaios de Ego-História», mostra a irredutível singularidade do itinerário de cada um dos que nela escrevem, e entre eles estão muitos «membros» deste terceira geração annaliste. Nos «Ensaios (…)» todos dão a sua versão pessoal desta aventura que é participar/pertencer aos «Annales». Esta obra colectiva é a «construction identitaire » da terceira geração dos «Annales» que em si mesma é muito complexa. Vd. REVEL, Jacques - «L’Homme des Annales?» In «L’Ogre Historien: autour de Jacques Le Goff. Paris:
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Continuam a fazer história com base no que está por detrás do acontecimento, na longa
duração, com grande destaque para a cultura e as mentalidades do Homem. 51
2.3. A inovação de Le Goff à linha dos “Annales”
Se Le Goff pertence ao projecto dos “Annales”, mas é diferente dos seus
antecessores e contemporâneos, onde está a sua novidade? Em que é que Le Goff
inovou? Quais foram os seus contributos para este movimento historiográfico?
Por um lado Le Goff inovou ao envolver-se numa visão interdisciplinar da história,
conhecida como antropologia histórica. Por outro lado, fez renascer o género
historiográfico da biografia, muito característico da escola metódica à qual os “Annales”
se opunham.
• A Antropologia Histórica: GAHOM e seminários
A partir da década de 1970, e sobretudo desde a publicação de “Montaillou, un
village occitan de 1294 à 1324” 52, o gosto pela etnologia ou antropologia histórica
tornou-se crescente. Este livro de E. Le Roy Ladurie vendeu, entre Novembro de 1975 e
Abril de 1978, 130 mil exemplares.53 É um número notável de vendas, tanto mais que,
apesar de ser um livro muito bem escrito, trata-se de uma obra académica, pesada por
inerência nas notas de erudição.
Em 1975, no mesmo ano da publicação de “Montaillou(…)”, Le Goff fundou o
Grupo de Antropologia Histórica do Ocidente Medieval (GAHOM), na Escola Superior de
Gallimard, 1998, pp. 33-34. E veja-se a obra em causa : «Ensaios de Ego-história», Pierre Nora (dir.). Lisboa: Edições 70, 1989. 51 Vd. REVEL, Jacques - «L’Homme des Annales?» In «L’Ogre Historien: autour de Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, p. 53. 52 Vd. LE ROY LADURIE, Emmanuel - «Montaillou, un village occitan de 1294 à 1324». Paris : Gallimard, 1975.
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Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS, siglas do mesmo nome em francês). O
objectivo deste grupo de trabalho era a coordenar as conquistas e os ensinamentos
colectivos da investigação em história medieval, por um domínio específico e
sociocultural. Dele faziam parte historiadores e outros cientistas das ciências sociais e
humanas como Jean-Claude Schmitt, Michel Pastoureaux, Jean-Claude Bonne, Jacques
Berlioz, etc.
A investigação histórica partia dos seminários criados no âmbito do GAHOM. Os
seminários ministrados por Le Goff funcionaram ininterruptamente, não obstante das
alterações do título que sofreram, durante 30 anos. Havia sempre alunos dispostos a
participarem nas sessões que se realizaram com a mesma cadência, impreterivelmente
à 3ª feira, das 18 às 20 horas da noite. 54
Muito devido ao GAHOM e aos seus seminários, a antropologia histórica
influenciou muitos historiadores, entre eles os já mencionados que integraram o grupo e
com particular destaque para o seu presidente, a partir de 1992, Jean-Claude Schmitt.
• O género biográfico :“Saint Louis” e a Memória 55
Em 1996, foi publicada a grande obra de tipo biográfico feita por Jacques Le Goff,
“Saint Louis”. 56 Nesse ano o autor tinha 72 anos de idade que não o impediram de
lançar o “pesado” volume de 1000 páginas. 57
53 Vd. LE GOFF, Jacques - «Presentation». In «La Nouvelle Histoire», Jacques Le Goff, Roger Chartier e Jacques Revel (dir.). Paris : Retz CEPL, 1978, p. 12. 54 Vd. SCHMITT, Jean-Claude –« Le seminaire». In «L’ Ogre historien: autour de Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, p. 21. 55 Não se mencionará neste sub capítulo outras biografias que o autor tenha escrito, pois parece que falar de «Saint Louis» será paradigmático. No entanto deixa-se em nota outros títulos de livros desse género historiográfico. A saber: «Saint François d’Assise». Paris : Le Grand livre du mois,1999, 220 pp. ;« Cinq personnages d’hier pour aujourd’hui. Bouddha, Abélard, saint François, Michelet, Bloch». Paris : La Fabrique éditions, 2001, 104 pp. 56 Vd. LE GOFF, Jacques - «Saint Louis». Paris : Gallimard, (col. « Bibliothèque des Histoires »), 1996.
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Quando a comunidade histórica científica francesa tomou conhecimento do
lançamento desta obra, formaram-se blocos de opinião favoráveis e desfavoráveis à
ideia. O mais céptico, veiculava a ideia de que Le Goff voltava às histórias de reis e do
género biográfico e metódico. Os mais optimistas, entre os quais se encontrava Jacques
Revel, tinham a ideia de que podia ser uma forma diferente de Le Goff escrever a
história. 58
Le Goff invocou duas razões para o escrever, que atestam o carácter inovador e
o contributo que trouxe ao círculo annaliste. A primeira, prendia-se com a necessidade
de descobrir os vários “São Luíses” que pareciam coexistir na documentação que lera;
havia o São Luís rei, o São Luís rei e santo, o São Luís somente santo, e o São Luís
pessoal. Era urgente estudar não a figura do São Luís, mas as várias representações
que a mesma sociedade fazia dele. A segunda razão estava ligada à importância do
século XIII e de que forma o São Luís ilustrava esse tempo. 59
Ao contrário do que os mais cépticos achavam, Le Goff não tinha decaído num
género fora do âmbito dos “Annales”. Apenas inovou a historiografia, recuperando com
outros olhos um género literário menosprezado nos últimos anos. Le Goff conseguiu,
através de uma biografia, articular o tempo individual com o tempo da história. Foi na
dimensão da memória que se conjugaram as diferentes imagens mentais do monarca
francês enunciadas em linhas anteriores. São Luís não interessou a Jacques Le Goff em
si mesmo; interessou como espelho de século XIII e como o mesmo objecto
57 Esta obra é imponente pelo número de páginas que a compõe, mas deve atender-se ao facto de vários capítulos serem a refundição de artigos preparados pelo autor nos anos anteriores. Veja-se, a este propósito na Parte IV deste trabalho na «Bibliografia Temática», a quantidade de artigos sobre São Luís e a monarquia francesa, publicados antes do livro. 58 Vd. REVEL, Jacques - «L’Homme des Annales?» In «L’Ogre Historien: autour de Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, pp. 50 - 53. 59 Veja-se a explicação destas razões na entrevista que Le Goff deu à revista «Label France» no site: http:// www.francediplomatie.fr/label_france/ENGLISH/IDEES/LE_GOFF/le_goff.html. Este endereço electrónico foi visitado pela última vez em 2003-11-20.
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representado em memórias diferentes. A memória é, desta forma, o tema transversal da
obra que era, à partida, biográfica. 60
Em suma é indubitável que Le Goff tem muito de annaliste e da “Nova História”.
Mas tem características que são só suas. Entre muitas que poderiam ser salientadas,
sobrevalorizaram-se neste capítulo o seu carácter inovador, ao qual os “Annales” muito
devem. As inovações mais marcantes foram a adopção da Antropologia Histórica como
meio de fazer história e da biografia como forma de a escrever. 61
60 Vd. REVEL, Jacques - «L’Homme des Annales?» In «L’Ogre Historien: autour de Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, pp. 50 - 53. E vd. NORA, Pierre - «Côte à côte». In «L’Ogre Historien: autour de Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, pp. 67-68. 61 Da mesma opinião parecem ser Jacques Revel e Bronislaw Geremek. Vd. REVEL, Jacques - «L’Homme des Annales?» In «L’Ogre Historien: autour de Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, p. 54. E GEREMEK, Bronislaw - «La dette des médiévalistes». In «L’Ogre Historien: autour de Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, pp. 107-115.
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3. As influências dos espaços europeus na sua historiografia
Jacques Le Goff é um cidadão francês e é um historiador europeu. Ao longo da
sua formação escolar básica, secundária e universitária, percorreu vários pontos dentro
de França e ainda muitos outros pela Europa a fora. No mapa a seguir desenhado estão
marcadas as cidades onde viveu até 1962. 62
62 O critério cronológico para se registar apenas os locais onde o historiador viveu até 1962, deve-se ao desconhecimento que se tem das moradas posteriores a esta data, pois Jacques Le Goff não o menciona no seu artigo autobiográfico, «O desejo pela história». Depois desta cronologia, crê-se que Le Goff se tenha mantido a viver em Paris, onde se sabe que reside nos dias de hoje.
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Le Goff é, conforme se pode ver pelo mapa, um homem urbano. O seu gosto
pelas cidades prende-se com o bulício cultural e étnico que nelas se vive. Ao contrário,
Le Goff desgosta do mundo rural. O desprezo pelo campo advém em grande parte do
tempo da IIª Guerra Mundial. Quando a sua família, em 1941, teve de sair de Toulon e
exilar-se em Marselha, passou uma temporada nas montanhas que as separam, e aí
testemunharam o aumento dos preços dos víveres provocado pela especulação
inflacionista que, segundo o historiador, era protagonizada pelo “egoísmo camponês”.
Muito devido ao gosto que nutre pela vida urbana é que, segundo o próprio, tem
“tendência para privilegiar o fenómeno urbano na história”. 63
Desde os seus 17 anos percorreu as cidades de França. Numa primeira fase,
eram deslocações causadas pelo clima de guerra, como já se viu. Numa fase posterior,
prendiam-se com necessidades de conhecimento científico: terminar a licenciatura e
fazer investigação científica em História.
Desde 1942, ano em que foi para a Escola Normal Superior, Paris ficou a ser a
sua cidade de residência em que permaneceu mais tempo. Fizesse a viagem que
fizesse, Paris era sempre o seu porto de abrigo, o ponto de chegada.
A partir do momento em que foi para Roma, 1946, Le Goff abriu as portas ao
percurso europeu, mesmo que disso não tivesse consciência. No ano seguinte foi para
Praga.
É curioso que o segundo país estrangeiro para onde vai investigar parte da
Europa Central. O seu gosto pela faixa central e oriental da Europa é uma constante no
seu discurso. Nos anos 60 foi para a Polónia, levado pela influência de F. Braudel. É
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nessa altura e nesse espaço de Leste que conhece três pessoas fundamentais na sua
vida: a sua futura mulher, Hanka, uma médica polaca; Bronislaw Geremek, um futuro
eminente político e historiador; e Witold Kula, outro grande historiador polaco.
A Europa de Leste era, tal como a Península Ibérica e os Países Baixos, a
“periferia da Europa”, segundo o historiador. O “coração da Europa” 64 era a Itália,
curiosamente o primeiro país fora de França onde viveu e onde adorou estar. A sua
ligação a Itália é ainda hoje muito visível. Várias são as suas obras publicadas naquele
país, e vários são os originais editados primeiramente em italiano. 65
Le Goff tem uma fluência notável em mais de cinco línguas europeias. Fala e
escreve em francês, italiano, alemão, checo e grego moderno. Acrescem ainda as
línguas de estudo das fontes: latim e grego antigo. Por ser detentor de tamanho
curriculum linguístico, Maurice Lombard chamava-lhe o “jovem medievista que sabe
todas as línguas”. O conhecimento de várias línguas europeias e do mundo fez com que
Le Goff , nos seminários da EHESS, fornecesse a bibliografia em várias línguas e a
documentação, na maioria dos casos, era em latim. 66
A única língua europeia que Le Goff aprendeu e usa com dificuldade é,
curiosamente, o inglês. A língua inglesa, à semelhança do país de onde provém, e
sobretudo à semelhança da Universidade de Oxford onde esteve a estudar, não são da
sua predilecção. Entre 1952-1953, Le Goff esteve como bolseiro do CNRS no Lincoln
63 Em relação ao seu gosto pelo mundo urbano leia-se: LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 192. A propósito do «egoísmo camponês» veja-se o mesmo artigo, na p. 202. 64 Vd. LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens». Lisboa: Gradiva, 1997, p. 29. 65 Le Goff esteve a viver em Roma, durante uma fase inicial da sua vida de historiador por duas ocasiões distintas. A primeira vez foi entre os anos 1946 e 1947. A segunda foi entre 1953 e 1954. Foram curtas estadias mas intensas o suficiente para fazer crescer o seu apreço por Itália onde publicou, em primeira mão algumas obras; entre muitas outras destacam-se: LE GOFF, Jacques - «Il Medioevo: alle origini dell’identità europea». Roma-Bari: Laterza, 1996. E LE GOFF, Jacques - «Intervista sulla storia ». Bari: Laterza, 1982. 66 Vd. SCHMITT, Jean-Claude –« Le seminaire». In «L’ Ogre historien: autour de Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, p. 18.
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College da Universidade de Oxford. Para o historiador o paralelo francês daquela
instituição britânica é a Sorbonne. Detestou estudar e investigar em ambas. A propósito
da experiência britânica, leiam-se as suas palavras: “Tive, de facto, uma espécie de
reacção de rejeição relativamente ao mundo oxoniano. Encontrei lá um universo muito
próximo daquele que não gostara na Sorbonne.(…) Em Oxford, não me reconheci nem
no tipo de história em vigor nem na organização do colégio onde me encontrava.(…)
Admiro os ingleses, são os mais estranhos que encontrei nos quatro continentes onde
fui.”67 A Inglaterra é estranha, para o historiador e é, curiosamente, uma nação
totalmente à parte das outras nações europeias. Numa obra em que conta a história da
Europa ao público mais jovem, dá vários exemplos dessa estranheza de povo e das
suas diferenças em relação aos continentais. 68
A vivência do historiador pela França, na fase inicial da sua vida e depois um
pouco por toda a Europa, influiu na sua escrita da história, na sua historiografia. Aos 38
anos, em 1962, Le Goff já tinha vivido em importantes nações europeias. Nelas
manteve-se por questões académicas, pretendendo fazer investigação científica.
Estudou sobretudo a Idade Média desses países, sem esquecer a realidade francesa.
Em 1964, dois anos depois de ter voltado de Varsóvia, foi-lhe encomendada a sua
grande obra de síntese. Uma obra que trata da Idade Média no Ocidente europeu;
intitulava-se “A Civilização do Ocidente Medieval”. Da leitura desta obra ressalta o
conhecimento da história europeia que o historiador tinha adquirido. Esse conhecimento
67 Vd. LE GOFF, Jacques - «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, 1989, p. 208. 68 Vejam-se alguns desses exemplos de diferenciação. Os ingleses têm um pequeno-almoço diferente dos habitantes do continente; o dos primeiros é mais substancial, com bacon e ovos, o dos segundos é menos abundante e por oposição chama-se “continental”. No continente europeu os automobilistas circulam pela direita, mas na Grã-Bretanha fazem-no pelo lado esquerdo da via. A unidade de medida das grandes distâncias do continente é o quilómetro, a dos ingleses é a milha. A religião praticada pela maioria dos ingleses é uma variante da religião protestante, o Anglicanismo, que é a única religião praticada no espaço europeu onde o chefe de
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foi enriquecido com certeza por estes anos de experiência dentro e fora das fronteiras
francesas.
O enaltecer do fenómeno urbano na história, a importância que a Itália tem na
história da Europa, o desprezo pelo mundo anglo-saxónico e a sobrevalorização do
papel da França na formação cultural europeia são alguns dos pontos em que a
historiografia de Jacques Le Goff parece reagir à sua experiência pessoal e profissional.
A escrita da história do autor é nos pontos acima mencionados fruto da influência que os
diferentes espaços tiveram na sua vida.
estado é cumulativamente o chefe da igreja. Vd. LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens». Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 9-10.
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4. Autor de síntese e de divulgação
• A síntese
À entrada do século XXI, os recursos humanos universitários deparam-se com a
necessidade de especialização. Este parece ser o panorama universitário por todo o
mundo e em todas as ciências. Jacques Le Goff e a sua ciência histórica são excepção.
Jacques Le Goff não tem uma especialização temática dentro da cronologia da
Idade Média. Ao longo da sua carreira escreveu sobre vários temas 69, mas apesar de
ter sido docente universitário, nunca o fez na perspectiva da exaustão científica e
académica. Por exemplo, na sua magna obra “A Civilização do Ocidente Medieval”, cita
com raridade as fontes e as referências a bibliografia, nas notas de rodapé. Mas o facto
de não citar não significa que desconheça os livros ou os documentos. Le Goff, segundo
Jean-Claude Schmitt, nos seminários que dirigiu até há poucos anos, lia imensa
documentação, tanto em vernáculo como em latim. Desta forma fica-se a saber que,
apesar de não mencionar especificamente onde em que documento baseou a sua
historiografia, Le Goff domina algumas fontes históricas.
Os seminários realizados no âmbito do GAHOM costumavam ter uma orientação
temática durante alguns anos. No final de 3 a 4 anos de estudos sobre um determinado
tema, surgia uma publicação que fazia a sua síntese. O exemplo do livro “O Nascimento
do Purgatório” é neste sentido paradigmático. Nos anos anteriores à edição do livro
(1981), no seminário dirigido por Jacques Le Goff estudava-se precisamente os temas
dos lugares do Além: o Paraíso, o Inferno e o Purgatório. Le Goff escreveu sobre o
tema, antes de lançar o seu livro. Fê-lo em pequenos artigos e em prefácios que
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escrevia nos livros de alunos seus. No final de serem conhecidos artigos e livros de
visão microscópica sobre o tema, Le Goff lançou uma visão macroscópica, em estilo
ensaístico, sem notas de erudição, sem remeter às fontes, sem citações bibliográficas;
era “O Nascimento do Purgatório”. 70 Era um livro de síntese, voltado para um publico
não académico, com uma redacção elegante, numa linguagem apelativa, na tentativa de
chamar essas pessoas à história. 71
Apesar de ser um autor de síntese e não dos case studies, Le Goff é por isso
menos rigoroso? É Le Goff menos qualificado que um historiador de carreira académica
na Sorbonne ou em Oxford?
Crê-se que estas questões não só não se podem responder como,
principalmente, não podem ser levantadas. Explique-se. Não se pode colocar em pé de
igualdade o que é diferente. Le Goff ,no início da década de 1960, conforme se notou
em capítulos anteriores, desistiu de seguir para doutoramento o que o impediu de ter
uma carreira universitária igual aos seus colegas de profissão da Universidade de Paris
(Sorbonne). Le Goff tem objectivos diferentes dos historiadores desse tipo de carreira
universitária. Prefere a síntese de um tema à exaustão que os académicos lhe dariam.
Pretende educar, esclarecer, divulgar conhecimento sob uma forma menos erudita, a da
grande divulgação.
69 Vd. a «Bibliografia Temática» da Parte IV deste relatório. 70 Os escritos de Le Goff sobre o Purgatório e os espaços do Além, anteriores a 1981, data de lançamento de LE GOFF, Jacques - «La naissance du Purgatoire». Paris: Gallimard, 1981, são : LE GOFF, Jacques - Préface à Jérôme Baschet,« Les justices de l’Au-delà : les représentations de l’Enfer en France et en Italie, XIIe-XVe siècle». Rome : Ecole française de Rome, 1993. LE GOFF, Jacques - Préface à Jacques Chiffoleau, «La comptabilité de l’Au-delà : les hommes, la mort et la religion dans la région d’Avignon à la fin du Moyen Âge, vers 1320-1480». Rome : Ecole française de Rome, 1980. LE GOFF, Jacques - « La geografia dell’aldilà ».In «Storia e Dossier», n°5, 1987, p. 14-21. « The Usurer and Purgatory ». In «The Dawn of Modern Banking (Center for Medieval Renaissance Studies, University of California, Los Angeles) ». New Haven et Londres: 1979, p. 25-53. LE GOFF, Jacques - « Le Purgatoire entre l’Enfer et le Paradis ». In «La Maison-Dieu», nº144, 1980, p. 103-138.
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• A divulgação
A tónica dos seus livros coloca-se no alvo a atingir, nos leitores. Para lhes
agradar, Le Goff escreve livros de linguagem cuidada mas acessível, que primam pela
síntese dando uma imagem de longa duração da Idade Média.
O seu objectivo, com tais obras, é educar as gerações futuras, é dar o
conhecimento do que foi o Passado.
A fim de chegar ao grande público, os livros não bastaram. Com esse objectivo,
foi consultor histórico do filme cinematográfico “O nome da Rosa”, liderando uma equipa
de ilustres cientistas de onde ressaltam os nomes Michel Pastoureaux e Jean-Claude
Schmitt.
Teve durante alguns anos um programa na rádio francesa “France Culture”,
chamado “Lundis d’Histoire”. 72
Não raras vezes pôde-se encontrar o historiador em programas na televisão
francesa, onde não tinha um programa exclusivo, mas prestava esclarecimentos quando
solicitado. 73
Na imprensa escrita é frequente encontrar-se artigos da sua autoria, sobretudo
na revista francesa “L’Histoire”. 74
A participação na redacção de manuais escolares é, em França, uma actividade
prestigiada. Conseguir comunicar com os mais jovens, e simplificar a mensagem o mais
71 72 Na sequência de algumas lições radiofónicas, Le Goff decidiu lançar os livros correspondentes. É o caso de LE GOFF, Jacques - «Cinq personnages d’hier pour aujourd’hui. Bouddha, Abélard, saint François, Michelet, Bloch». Paris : La Fabrique éditions, 2001. 73 Sobre a ligação de Le Goff à televisão, veja-se: DUMAYET, Pierre - «Télévision». In «L’ Ogre historien: autour de Jacques Le Goff». Paris: Gallimard, 1998, pp. 55-58. 74 Veja-se na « Bibliografia Temática » da Parte IV deste trabalho os artigos de Le Goff publicados na «L’Histoire».
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possível sem se tornar nula, foi uma acção que Le Goff não desprezou. Escreveu dois
manuais escolares, ambos publicados pela mesma editora, a Bordas. 75
Só um meio de comunicação lhe escapou. Pelo percurso pessoal e profissional
que teve, pela obra que deixa à Humanidade, era merecido que já houvesse um site
oficial do historiador na world wide web. 76.
Jacques Le Goff tem uma relação próxima de quase todos os meios de
comunicação social. O seu poder de síntese aliado à vontade de ensinar e investigar
resultaram em livros, artigos, programas de rádio e de televisão, todos com interesse
para o grande público, e não somente para os eruditos da história. Pode-se mesmo
dizer que talvez, mais do que historiador, Le Goff é um comunicador. Como veremos na
IIª parte deste relatório, o tema da Europa é paradigmático neste sentido duplo de
síntese e divulgação.
75 Vd. LE GOFF, Jacques - «Le Moyen Âge». Paris: Bordas, 1962 ; há outra edição com o título «Le Moyen Âge : 1060-1330». Paris: Bordas, (col. « L’Histoire universelle » n° 11), 1971. E «Histoire, géographie : 5, nouveau programme», por Jacques Le Goff, F . Beautier, J. Dupaquier, R. Froment, J. Soletchnik, Marc Vincent. Paris : Bordas, 1978. 76 Há um site da autoria da Universidade de Parma, sobre um ciclo de conferências seguido de uma exposição comemorativa sobre Le Goff e a Idade Média Europeia. Veja-se no seguinte endereço: http://legoff.provincia.parma.it/
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5. Conclusão da Parte I
Ao longo dos 4 pontos anteriores, foram-se desenhando as relações entre os
passos biográficos e os traços historiográficos de Jacques Le Goff. Em Janeiro de 2004
este comunicador completou 80 anos mas, apesar da avançada idade, ainda prepara
livros para os próximos anos. Dessa forma, não se pode fechar completamente nem a
sua biografia nem as considerações sobre a sua historiografia. Por isso, Jacques Le
Goff, vida e obra, são uma narrativa aberta.
Todos os homens têm uma singularidade em si mesmos. O historiador em causa
não é excepção. Contudo ele parece que teve um carácter moldado por uma vida ainda
mais singular e irrepetível que a maior parte das pessoas. Quantos intelectuais tiveram a
sorte de viver, literalmente, dentro de uma biblioteca no início de carreira? Quantos
escreveram uma obra de síntese aos 40 anos de idade? Quantos se tiveram o privilégio
de abandonar a tese de doutoramento para escreverem melhores livros, sem que isso
lhes fechasse inúmeras portas profissionais? Muitas outras questões poderiam ser
lançadas, na certeza de que as respostas apenas diriam: “Um, Jacques Le Goff.”
Jacques Le Goff, historiador especialista em Idade Média, autor de síntese e de
divulgação, dedicado aos temas da Cultura e das Mentalidades, é um dos grandes
comunicadores e educadores vivos na Europa da actualidade.
Adverte-se para o facto de existir um site oficial de um Jacques Le Goff, docente universitário francês, mas na área do Direito. Logo não é o objecto de estudo deste trabalho. De qualquer modo deixa-se o site:
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PARTE II – JACQUES LE GOFF E A EUROPA 77
www.legoffjacques.com. 77 Veja-se o esquema com as principais relações entre os dados da vida pessoal e profissional do historiador, a sua produção historiográfica e os principais acontecimentos da construção da Comunidade Europeia, na Parte IV deste trabalho, no capítulo com o título: “Cronologia comparada: a vida pessoal e profissional de Le Goff, a sua produção escrita e as principais datas da construção da Comunidade Europeia”.
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1. As fontes
1.1. Os títulos
A temática europeia é abordada desde há 11 anos por Jacques Le Goff. É um
tema recente na sua obra e com tal não conta com elevado número de títulos. Apenas
escreveu 7 títulos desde 1993 até aos dias de hoje (2004). Por ordem cronológica
crescente temos:
A) “L’ Europe à l’ école” – 1993.78
B) Prefácio da colecção “Faire l’ Europe” – 1993 até 2003. 79
C) “A velha Europa e a nossa” – 1994. 80
D) “A Europa contada as jovens” – 1996. 81
E) “Il medioevo alle origini dell’ identitá europea” – 1996. 82
F) “L’ Europe est-elle née au Moyen Âge ?” – 2003. 83
G) Entrevista entre Le Goff e Bronislaw Geremek 84, por Nicolas Troung. – 2004. 85
78 Vd. LE GOFF, Jacques - « L’Europe à l’école ». In «Le Débat», n° 77, novembre-décembre 1993, p. 176-181. 79 Vd. LE GOFF, Jacques - Préface à Ulrich Im Hof, Les Lumières en Europe, trad. de l’allemand par Jeanne Etoré et Bernard Lortholary, Paris, Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993. Préface à Michel Mollat du Jourdin, L’Europe et la mer, Paris, Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993. Préface à Charles Tilly, Les révolutions européennes : 1492-1992, trad. de l’anglais par Paul Chemla, Paris, Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993. Préface à Umberto Eco, La Recherche de la langue parfaite dans la culture européenne, trad. de l’italien par Jean-Paul Manganaro, Paris, Seuil, (Faire l’Europe), 1994. Préface à Joseph Fontana, L’Europe en procès, Paris, Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1995. 80 Vd. A versão original : LE GOFF, Jacques - «La vieille Europe et la nôtre». Paris : Seuil, 1994. E a versão portuguesa : LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa». Lisboa: Gradiva, 1995. 81 Vd. A versão original : LE GOFF, Jacques - «L’Europe racontée aux jeunes». Paris : Seuil, 1996. E a versão portuguesa : LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens». Lisboa: Gradiva, 1997. 82 Vd. LE GOFF, Jacques - «ll Medioevo: alle origini dell’identità europea». Laterza: Roma-Bari, 1996. 83 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003. 84 Historiador polaco voltado para os temas da pobreza e da mendicidade. Nascido em 1931, foi ministro dos Negócios Estrangeiros polaco e hoje tem um cargo cimeiro na União Europeia. Trabalhou junto de Jacques Delors e encaminhou a sua nação na transição para a comunidade Europeia. Publicou o livro: «The commons roots of Europe». Cambridge, Polity Press, 1991. 85 Vd. http://www.radiofrance.fr/chaines/franceculture2/emissions/toutarrive/fiche.php?diffusin_id= 19176. Site visitado em 11 de Junho de 2004.
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Destes 7 títulos apenas se teve acesso a 5 (B, C, D, F e G). 86
Descreva-se cada um dos seleccionados. É certo que todos tratam do mesmo
tema mas também é certo que são tipos de obras diferentes. Comece-se pelos livros
que são indubitavelmente os mais importantes, quer pela quantidade de informação
contida, quer pela qualidade dessas mesmas informações.
“A velha Europa e a nossa” (1994) é um livro editado, pelo menos, em duas
línguas, na francesa e na portuguesa. Foi o primeiro livro redigido pelo historiador a
propósito da ideia de Europa. É um ensaio, sem divisão por capítulos e sem uma
estrutura formal rígida. Ao lê-lo fica a sensação de que Le Goff o começou a escrever e
só parou no último ponto final. O discurso é muito fluído e muitas ideias parecem ser
“repescadas” de páginas anteriores. O fio condutor de ideias é a relação entre a Europa
de hoje e a Europa antiga, sobretudo a da época medieval (séculos IV-XV). Esta obra
parece ter um público-alvo alargado, tanto pela linguagem acessível que veicula, como
pela fácil apreensão da sua mensagem.
Dois anos depois, Le Goff escreveu outro livro, desta vez voltado para um público
diferente, os mais jovens. Intitula-se “A Europa contada as jovens” (1996) e é a aliança
de um texto de linguagem prática e de ilustrações extremamente elucidativas e muito
didácticas. O seu objectivo é contar a história da Europa e começa, inevitavelmente,
pela definição de Europa enquanto espaço terrestre, passando a contar o mito da
Europa deusa da Antiguidade grega e chega, sem quebras na cronologia, até ao século
XX. Este livro tem capítulos muito pequenos o que o torna bastante esquemático e de
fácil leitura temática.
86 Aos títulos correspondentes às letras A e E não se conseguiram encontrar em Portugal, nem sequer encomendá-los de França ou de Itália, via Internet pois aí já estavam esgotados.
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O terceiro livro volta-se para outro tipo de público, diferente quer do primeiro,
quer do segundo livros. Por ter uma mensagem mais complexa e por ser melhor
documentado, chegou aos leitores mais esclarecidos. Trata-se de “L’ Europe est-elle
née au Moyen Âge ?” (2003). Pela actualidade da publicação e pela maior densidade
dos conteúdos, foi a fonte primária desta segunda parte do trabalho. Aí Le Goff
corrobora a ideia de que a Europa nasceu na Idade Média e mostra-nos os passos
desse longo nascimento de 10 séculos.
Num segundo escalão, medido pelo grau de importância dos conteúdos
transmitidos, tem-se um prefácio e um breve resumo de uma entrevista. O primeiro é o
prefácio da colecção lançada por Le Goff e pela editora Seuil, em 1993, intitulada “Faire
l’ Europe”. O último livro publicado deste colecção é precisamente “L’ Europe est-elle
née au Moyen Âge ?” (2003) e tem o mesmo prefácio que os escritos no inicio da
colecção (1993). No prefácio Le Goff esboça, em página e meia, os valores que o levam
a agir: a educação dos cidadãos europeus para saberem como foi construída a Europa
pré-comunitária.
Para último deixou-se o resumo da entrevista conduzida por Nicolas Troung a
dois velhos amigos, Jacques Le Goff e Bronislaw Geremek. O tema era a Idade Média
mas cedo desembocou numa busca das raízes europeias para identificarem a Europa
de hoje. E culminou numa amena conversa sobre a futura constituição europeia e o
contentamento de Le Goff pela extensão da União Europeia ao Leste europeu, um
processo lento e muito trabalhado por Geremek.
1.2. As colecções e as editoras
As edições francesas dos livros seleccionados são todas da responsabilidade da
editora Seuil. Dessas mesmas edições apenas se sabe o nome da colecção em que
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uma se integra. Conforme já se disse linhas atrás, o livro “L’ Europe est-elle née au
Moyen Âge ?” (2003) é o único que pertence a uma colecção, a “Faire l’ Europe”.
As edições portuguesas não têm mais variantes. “A Europa contada as jovens”
(1996) foi uma edição da Gradiva com o alto patrocínio do Mistério da Educação do
governo português e do Jornal “Público”. Crê-se que não integra qualquer colecção. “A
velha Europa e a nossa” (1994) foi igualmente editada pela Gradiva e encontra-se
inserida na colecção “Trajectos”.
1.3. A bibliografia e as citações
As fontes seleccionadas não têm um carácter académico. Não têm, por isso,
notas de erudição como as notas de rodapé de página, remetendo para a bibliografia e
para as fontes consultadas. Mas Le Goff utiliza um recurso de erudição muito
característico dos académicos, a utilização de expressões em latim. 87
Apesar de os seus livros serem redigidos sem notas de rodapé (de página, no
final do capítulo ou no final do volume), têm sempre no final uma completíssima
bibliografia. A bibliografia é completa pelo número de títulos que tem, pela diversidade
de idiomas que abarca 88, pela actualidade dessas obras 89 e pela preocupação que Le
87 As obras «A velha Europa e a nossa» e «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?» têm algumas expressões em latim. Quando o autor as utiliza tem sempre o cuidado de as traduzir para vernáculo. Veja-se esse cuidado do historiador na seguinte transcrição: «Cet empereur de 3 ans, qui mourut à 21 ans en 1002, dut ses dous et à son éclat d’être qualifié de « mirabilia mundi » (merveilles du monde)». Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p. 62. 88 Le Goff conhece quase todas as línguas europeias, mas o português não é uma delas. Por isso em «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?», fonte principal da temática europeia, apenas menciona um título de um autor português cuja obra é redigida me francês. Trata-se de Vitorino Magalhães Godinho, que foi discípulo de Fernand Braudel, e da sua obra «Les Découvertes: XVe-XVIe siècle. Une révolutions des mentalités.» Paris: Autrement, 1990. 89 Na obra mais recente do autor ligada ao tema da Europa, «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?», há obras mencionadas na bibliografia que tinham sido editadas no seu ano de edição, 2003. É o exemplo de POLY, Jean-Pierre -«Le Chemin des amours barbares. Genèse médiéval de la sexualité européenne.» Paris : Perrin, 2003. Porém note-se que Le Goff, ao mesmo tempo se mantém actualizado em termos bibliográficos, não esquece as obras mais antigas como, por exemplo, o livro de Direito com a seguinte referência: CALASSO, Francesco - «Medioevo del diritto. I “Le Fonti”.» Milão: 1954.
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Goff mostra em organizá-la sempre por temáticas. Actualizado e organizado, Le Goff
utiliza a bibliografia de uma forma passiva, não recorrendo à constante citação.
Apesar de Le Goff não citar directamente outros autores, será que alguém o cita?
Quando se tratam de obras sobre a Europa, Le Goff é citado, sobretudo no âmbito do
nascimento da ideia europeia. 90
1.4. As dedicatórias
Dos livros seleccionados apenas dois são dedicados a alguém. Le Goff dedicou a
obra “L’Europe racontée aux jeunes” à sua filha Bárbara, e “L'Europe est-elle née au
Moyen Age ?” é dedicada ao seu amigo Bronislaw Geremek.
O estilo das dedicatórias utilizado pelo autor é simples e objectivo. Veja-se as
expressões: “Para Bárbara” e “A Bronislaw Geremek”.
Os livros sobre a Europa da sua autoria não são dedicados a nenhum mestre ou
professor seu. São, conforme se viu, dedicatórias simples pessoais, para a família e
para amigos.
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2. A actualidade da temática da Europa
A Europa é um tema actualíssimo no ano em que se escreve este trabalho
(2004). Várias razões podem estar na sua origem, mas destacam-se o maior
alargamento de sempre da Europa económica (UE) de 15 para 25 países, o possível
alargamento à Turquia e a construção de uma constituição a ratificar pelos 25 estados-
membros.
Um dos primeiros homens a debruçarem-se sobre esta temática foi Marc Bloch e
fê-lo antes do final da IIª Guerra Mundial. Segundo Jacques Le Goff, em 1928 e em
1934, M. Bloch escrevia que a Europa tinha nascido na Idade Média e que, para
corroborá-lo, era necessário estudar-se as sociedades europeias numa metodologia
comparada e não isoladamente. 91
A actualidade do tema europeu despoletou grosso modo depois do rescaldo da
IIª Guerra Mundial. Muitos foram os autores que se debruçaram sobre os temas afectos
à Europa. Lucien Febvre, um dos fundadores da célebre revista dos “Annales”, entre
1944 e 1945, no Collége de France, proferiu algumas lições sobre este tema. Em 1999,
foram editadas essas mesmas lições pela editora Académique Librairie Perrin, baseados
nos apontamentos recolhidos por algumas discípulas de L. Febvre. Os apontamentos
formaram o livro intitulado “A Europa. Génese de uma civilização” 92 L. Febvre apontava
para a necessidade de se prosseguirem os estudos culturais sobre a Europa, pois a
90 É o caso da obra colectiva : GAILLARD, Jean-Michel et ROWLEY, Anthony – «Histoire du continent Européen». Paris : Seuil, 1997, 570 pp. ISBN: 2-02-023281-2, onde a obra de Le Goff é continuadamente invocada, e na bibliografia temática aparece no capítulo da “Ideia Europeia”. 91 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p. 12. Aí Le Goff reporta-se a : BLOCH, Marc - «Histoire et historiens» textos reunidos por Etienne Bloch. Paris : Armand Colin: 1995, p. 126.
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unidade do continente, sobretudo depois da IIª Guerra Mundial, não era somente
geográfica, nem muito menos política, era na essência cultural. A ideia de que a Europa
nasceu na Idade Média não foi uma novidade dada por L. Febvre, mas este
acrescentou-lhe contornos interessantes. Nas suas palavras, a Europa é “uma unidade
histórica, uma incontestável, inegável unidade histórica, uma unidade que se construiu
em data fixa, uma unidade recente, uma unidade histórica que aparece na história,
sabemos exactamente quando, uma vez que a Europa neste sentido (…) é uma criação
medieval da Idade Média; uma unidade histórica que, como todas as outras unidades
históricas, se fez de diversidades, de pedaços, de restos arrancados a unidades
históricas anteriores, por sua vez feitas de bocados, de restos, de fragmentos de
unidades anteriores.” 93
Só depois de os “pais” dos “Annales” terem alertado para a unidade histórica que
era necessário estudar, nomeadamente do ponto de vista cultural, é que começaram a
surgir outras publicações semelhantes. Dois estudiosos do século XVI, Denys Hay e
Federico Chabod escreveram sobre a “ideia europeia”. As suas obras tinham os
seguintes títulos: “Emergenmce of na Idea: Europe” (1957) e “Storia dell’ idea d’Europa”
(1968), respectivamente. 94
Depois dos anos 80 e 90 do século XX, a temática europeia invade as
universidades e dá origem a ciclos de conferências variados com a participação de
académicos de toda a Europa. São disso exemplo o congresso organizado por Charles-
92 Vd. a versão portuguesa: FEBVRE, Lucien - «A Europa. Génese de uma civilização». [Lisboa]: Teorema, 2001. os apontamentos foram reunidos por Thérèse Charmasson, Brigitte Mazon e Sarah Ludemann. 93 Vd. FEBVRE, Lucien - «A Europa. Génese de uma civilização». [Lisboa]: Teorema, 2001, pp. 25-26. 94 Vd. HAY, Denys - « Emergenmce of na Idea: Europe». Edinburg University Press: 1957 e 1968. E vd. CHABOT, Federico - «Storia dell’idea d’Europa». Bari: Laterza, 1961. Devem referir-se ainda duas obras importantes sobre a ideia europeia, editadas anos depois das referenciadas : BRUGMANS, H. – «L’idée européenne (1918-1966)». Bruges: 1966. E DREYFUS, F.G. – «Histoire de l’idée d’Europe». Paris: 1979.
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Olivier Charbonell com o nome: “Identités en Europe, Identité de l’Europe”. 95 Outro
exemplo são as conferências organizadas pelo académico da Sorbonne Gérard-
François Dumont, com o título “Les racines de l’Identité europeénne”.96
Ainda no campo da bibliografia europeia das décadas de 1980 e principalmente
de 1990, em termos de livros, salientam-se a grande obra dirigida por Jean-Michel
Gaillard e Anthony Rowley a “Histoire du continent Européen” 97, e outro livro do autor já
mencionado, Gérard-François Dumont, “L’Identité de l’Europe”. 98
A partir da assinatura do Tratado de Maastricht (1992-1993) a realidade europeia,
sobretudo a comunitária, era uma evidência para a qual nenhum europeu podia voltar as
costas; era um processo imparável, sem retorno. 99Os académicos já estavam
sensibilizados para esta fatalidade mas ainda publicavam obras para públicos
demasiado restritos , com uma linguagem uma mensagem dificilmente cativante e
apreendida pelo europeu comum. Foi no sentido de cativar esse público que a editora
francesa Seuil, entre outras europeias, e o historiador Jacques Le Goff decidem lançar
uma colecção de difusão mundial intitulada “Faire l’Europe”. A pertinência em esclarecer
o público europeu parecia ser urgente, tanto quanto a realidade que assolava a Europa
da altura. Em 2 anos, entre 1993-1995, são editados 5 livros no âmbito dessa colecção.
95 Vd. CARBONELL, Charles-Olivier (dir.) - De l’Europe. Identités et identité. Memoires et mémoire. Actes du Congrés International Euro-Histoire 92. « Identités en Europe, Identité de l’ Europe, Monpellier du 21 au 23 novembre 1992 ». Toulouse : Presses de l’Université des Sciences Sociales de Toulouse, 1996. 96 Vd. DUMONT, Gérard – François (dir.) – «Les racines de l’identité europeéne.» Paris : Economica, 1999, 396 pp. Estas conferências contaram com a participação do português João de Deus Pinheiro que escreveu um artigo intitulado : «L’identité portugaise: d’une vision puré et dure, à une vision européenne et universaliste.» 97 Vd. GAILLARD, Jean-Michel et ROWLEY, Anthony – «Histoire du continent Européen». Paris : Seuil, 1997, 570 pp. ISBN: 2-02-023281-2. 98 Vd. DUMONT, Gérard – François – «L’Identité de l’Europe.» Nice : Éditions C.R.D.P., 1997. 99 O Tratado de Maastricht foi negociado pelos 12 países quem compunham a CEE, em 1992, e acabou por só ser assinado em 1993, depois de ser realizarem referendos internos em alguns países e de se amainarem algumas polémicas passadas sobretudo em Inglaterra e em França. Este tratado tinha como objectivos a criação até 1999 da União Económica e Monetária, o estipular da Cidadania europeia, a criação do cargo do Provedor de Justiça e a colaboração no âmbito da segurança comum. O Tratado de Maastricht foi a pedra de toque que mudou a Europa tornando-a mais unida, mas também com mais poder sobre as políticas nacionais e altamente burocratizada.
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Todos pretendiam dar a conhecer os principais contributos que ajudaram a construir a
Europa. Ulrich Im Hof escreveu sobre o período das Luzes, registando o carácter
científico dos europeus; o seu livro intitulava-se “Les Lumières en Europe” (1993). 100
Michel Mollat du Jourdin escreveu sobre o mar como elemento identificativo da Europa
em “L’Europe et la mer” (1993). 101 Charles Tilly tratou as principais revoluções e o
carácter reformador e revolucionário da Europa em “Les révolutions européennes: 1492-
1992” (1993). 102 O italiano Umberto Eco estudou as matrizes linguísticas europeias
como elementos construtores de uma Europa em “La recherche de la langue parfaite
dans la culture européenne” (1994). 103 E finalmente Jose Fontana redige um ensaio
intitulado “L’Europe en procès” (1995). 104
Sem mencionar os 7 títulos do historiador em análise, fica patente a pertinência e
a importância dos estudos sobre a Europa, desde a sua ideia inicial, passando à
identidade e consecutiva unidade.
Veja-se em seguida o que levou Le Goff a pronunciar-se sobre este tema que
parecia já ter bastantes aficionados.
2.1. O contributo de Le Goff para este tema
Se o tema não apresenta novidade, o que é que Le Goff lhe acrescentou?
Em primeiro, fez uma síntese sobre os principais fundamentos da Europa actual e
localiza a sua origem na Idade Média. Ou seja, dá-lhe memória e estuda-a de forma
integrada ao longo de dez séculos.
100 Vd. IM HOF, Ulrich - «Les Lumières en Europe», trad. de l’allemand par Jeanne Etoré et Bernard Lortholary. Paris : Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993. 101 Vd. JOURDIN, Michel Mollat du - «L’Europe et la mer». Paris : Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993. 102 Vd. TILLY, Charles - «Les révolutions européennes : 1492-1992», trad. de l’anglais par Paul Chemla. Paris: Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993. 103 Vd. ECO, Umberto - «La Recherche de la langue parfaite dans la culture européenne», trad. de l’italien par Jean-Paul Manganaro, Paris, Seuil, (Faire l’Europe), 1994.
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Em segundo, desenvolve temas que domina como, por exemplo, o século XIII – o
seu século predilecto – como período áureo de maturação europeia. Desta forma liga os
seus temas ao da identidade europeia, construindo um fio condutor irrepreensível. Ou
seja, explica, de uma forma narrativa, os fundamentos da Europa.
Em terceiro, ao alertar para as fases menos felizes da construção europeia (por
ex.: inquisição, cruzadas, etc.) tem a grande preocupação social de educar os cidadãos
de forma que essas “doenças” dessas não se repitam.105
104 Vd. FONTANA, Joseph - «L’Europe en procès». Paris: Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1995.
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3. Alguns motivos para Le Goff pensar a Europa
No registo autobiográfico de Le Goff, escrito em 1986 e publicado um ano depois,
nota-se a sua desilusão com a política militante que fazia, e eis que decide voltar-se
para as duas coisas em que ainda acreditava: a “Europa como unidade cultural que
parecia padecer e uma crise existencial e os Direitos do Homem”. 106
Alguns dos motivos que o parecem ter levado a pensar sobre a Europa
prenderam-se com a sua apetência para as questões de política (não militante), com
assuntos familiares e com a vontade de dar a conhecer o primado unificador da Europa
que é a cultura.107
3.1. A necessidade da política e a origem da família e dos amigos
A intervenção na vida política e social é uma “necessidade” para Jacques Le
Goff, apesar de com o passar do tempo se ter tornado progressivamente mais
“constrangida”.108
As passagens pela Resistência à aliança do regime de Vichy com Alemanha nazi,
a SFIO, pelo PSU, pelo SNE, foram momentos de participação em partidos e
movimentos partidários de carácter social da vida de Jacques Le Goff. O gosto por estas
actividades foi impulsionado desde cedo pela sua mãe, o que lhe permitiu aprender a
enaltecer os valores socialistas, desde tenra idade.109
Le Goff nunca foi nem de direita nem comunista; era, tal como a sua mãe, um
105 Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa». Lisboa: Gradiva, 1995. As “doenças” europeias do mundo moderno são para o autor os novos nacionalismos e o ressurgimento do racismo e das exclusões. 106 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.219. 107 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p.13. 108 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.219. 109 Vd. Capítulo 1.2. da I Parte deste relatório.
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socialista moderado.110 Da política de direita e democrata-cristã, guarda na memória a
"Europa confessional ou Vaticana dos anos 50".111 Da Esquerda comunista está
"vacinado" desde que assistiu em directo e in loco ao Golpe de Estado de Praga
protagonizado por Gottwald.112 A partir de 1960, ano em que foi viver temporariamente
para a Polónia a sua vida mudou, quer do ponto de vista pessoal quer do ponto de vista
político. Chegado a Varsóvia, foi-lhe atribuído um estudante guia local que o ajudou na
adaptação à vida estudantil durante a sua estadia. Era Bronislaw Geremek, na altura,
um jovem estudante comunista. Meses depois, por intercessão de Geremek, conheceu
Witold Kula. Partidas do conhecimento formal, estas relações desembocaram em
profunda amizade. Essa amizade foi tão profícua que, quando Le Goff decidiu casar-se
com a médica polaca Hanka que entretanto conhecera, pediu-lhes para serem suas
testemunhas de casamento. O casamento de Le Goff e Hanka aconteceu em Varsóvia
no ano de 1962.
A partir dessa data, voltou a Paris e os compromissos políticos decresceram. A
avançar da idade, a responsabilidade familiar113 e os crescentes compromissos
profissionais114 trouxeram-lhe alguma moderação na militância política que nesse
momento se constrangeu.115
Apesar de ter deixado a política activa, começa a preocupar-se com as questões
da Europa que, muito devido às atitudes extremas dos homens (por exemplo, os
regimes totalitários como o que vigorava na Polónia), se encontrava a viver uma "crise
110 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.206. 111 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.219. 112 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.206. 113 Hanka e Le Goff tiveram entretanto dois filhos, dos quais apenas sabemos o nome da rapariga, chama-se Bárbara. 114 Em 1960, Le Goff tinha sido nomeado secretário de Braudel que ocupava a presidência da Associação de História Económica. Nesse mesmo ano foi-lhe encomendada a sua grande obra, «A Civilização do Ocidente Medieval», que seria publicada 4 anos depois, em 1964. 115 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.219.
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existencial". A Europa tinha "perdido" a memória. 116
3.2. A Cultura: erros e união
Para o historiador, a Europa tem uma unidade cultural que é o seu factor de
coesão. As fronteiras alteram-se com a mesma rapidez que os regimes caiem ou
ascendem. O que define a Europa é ter os mesmos valores culturais comuns. Jacques
Le Goff começou a notá-lo quando, a partir dos anos 70's e 80's viu o incremento das
trocas intelectuais entre um e outro lado da "cortina de ferro". Apesar de o regime
político ser totalmente diferente de um lado para o outro, o historiador notou que havia
uma memória comum merecedora de atenção de outros historiadores. 117
O final da década de 80 e inícios de 90 do século XX, foi decisivo no processo de
construção europeia. Em 1989, o muro de Berlim caiu tal como começaram a cair os
regimes comunistas da Europa. Em 1992, abrem-se as negociações para o Tratado de
Maastricht, documento que permitiu que as nações europeias comunitárias ficassem
mais unidas. 118 À partida, estes dois acontecimentos mostram o bom caminho da
Europa no início de uma nova década. Mas esse aparente equilíbrio é estalado em 1991
quando estalou a guerra nos Balcãs, que viria a desfragmentar a ex-Jugoslávia.
No rescaldo destes três acontecimentos, Le Goff pronuncia-se dizendo, por um
lado que ainda há nações europeias a cometerem erros; tratavam-se das províncias da
Sérvia, Croácia e Montenegro, pois a sua guerra tinha motivações racistas e pretendiam
proceder a limpezas étnicas. Por outro lado, alerta para a fragilidade dos sistemas
democráticos europeus, sobretudo na Europa que saíra há pouco do regime
116 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.219. 117 Vd. LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-história». Lisboa: Edições 70, p.218. 118 Vd. nota de rodapé deste trabalho número 99.
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comunista.119
Na certeza de que poderia ter um papel importante na evitação de erros
semelhantes, Le Goff pretende relembrar a memória da Europa antiga como trunfo para
se construir uma Europa actual mais justa e unida na diversidade que a compõe. 120
Não obstante já não ser um político militante, Le Goff teceu desde o final dos
anos 80 algumas considerações sobre a Europa que tiveram o seu clímax no ano
passado de 2003 com a publicação de "L'Europe est-elle née au Moyen Âge?".
A necessidade de dar aos europeus uma imagem o mais real possível do
passado do "velho continente" para que catástrofes, como as guerras motivadas pelo
racismo ou imposição de regimes totalitários como o comunismo, não tornarem a
acontecer foi uma das muitas razões que o motivaram a escrever sobre este tema. A
ideia de uma Europa composta só de momentos bons não existe. Le Goff pretendeu dar
uma "memória justa" para que os presentes vejam as consequências que atitudes
desrespeitadoras das liberdades individuais do Homem tiveram no Passado. É desta
forma que o comunicador Le Goff pretende educar os europeus do início do Milénio.121
119 Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa». Lisboa: Gradiva, 1995, pp. 64-65. 120 Vd. LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens.» Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 76-79. 121 Leia-se a seguinte passagem da sua autoria: “Nada de bom se faz sem memória, e o que a história tem para oferecer é uma memória justa, que através do passado, iluminará o presente e o futuro”. Vd. LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens.» Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 76-79.
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4. A Ideia Europeia de Jacques Le Goff
4.1. Introdução: Ideias base122
A ideia europeia de Jacques Le Goff é a representação mental, a concepção, a
teoria que o historiador faz sobre a Europa. Ela tem o antecedente na Europa-Mito do
século VIII a. C., mas só se consubstancia na Europa-Realidade a partir do século IV
d.C. até aos dias de hoje.
A construção da Europa começou de forma insuficiente com o aparecimento da
Deusa que lhe deu nome, a deusa Europa, e com a localização geográfica que lhe
sugeriu o espaço, o ocidente do continente indo-europeu. Europa, deusa grega, filha de
Agénor rei da Fenícia (actual Líbano), fez Zeus padecer de amor. Zeus, metamorfizado
de touro, e Europa tiveram um filho, denominado Minos, que seria um rei profundamente
civilizador e legislador da zona ocidental do continente asiático. Os seus súbditos eram
chamados “europeus”. Mas, esta Europa era ainda um mito. 123
O caminho para a realidade europeia deu passos decisivos depois da queda do
Império Romano e devido a dois factores consequentes, a cristianização dos povos que
habitavam o continente europeu e a sua aculturação com os povos vindos do Leste, os
“bárbaros”. Em todas as obras, o autor considera que a Europa nasceu nesta fase de
crescimento da diversidade cultural. No século XV estava consolidado com processo de
crescimento da Europa. Esse foi o século das expansões ultramarinas pelo Atlântico que
permitiram aos europeus a imposição da sua cultura aos povos colonizados. Dez
122 Vejam-se algumas ideias base do autor que é necessário ter em conta para se entender melhor a sua ideia europeia. Muitas não serão seguidas de nota reportando a ideia a uma determinada página de uma qualquer obra do autor porque são repetições refundidas de observações que já se fez anteriormente, quer na Iª quer na IIª parte deste trabalho. 123 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p.19.
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séculos depois do início da Cristianização e da aculturação “bárbara”, a Europa era um
continente maduro, com história, era uma realidade. 124
Os dez séculos de consolidação da realidade europeia são analisados por Le
Goff ao longo de 5 fases distintas. Essas fases são os momentos de construção da
Europa e as principais heranças deixadas à Europa actual pelos séculos medievais. As
heranças medievais são, numa visão dualista, divididas pelos bons resultados e pelos
erros que provocaram. Juntas correspondem à memória da Europa. Uma memória que
é preciso lembrar para que erros semelhantes não se repitam. 125
Os erros históricos no processo de construção da ideia europeia radicam
sobretudo no cerceamento das liberdades individuais do Homem e têm sobretudo uma
matriz ideológica sólida, apoiada por um forte corpo político e militar. Estes erros
levaram a momentos de desunião europeia. Exemplos dados pelo historiador são as
Cruzadas, o nascimento dos nacionalismos que ocasionou as colonizações, as
perseguições de hereges pelo tribunal da Inquisição, a política expansionista e
colonizadora de Napoleão e a política racial nazi durante a IIª Guerra Mundial, etc. 126
Pelo contrário, a Europa uniu-se e frutificou nos momentos em que os homens
respeitaram a diversidade do seu semelhante. A Idade Média representa, para a Europa
actual, uma etapa de imbricação de uma unidade potencial com uma diversidade
fundamental, de mestiçagem das populações, de onde ressalta o primado unificador da
cultura. Exemplos de união europeia são os movimentos artísticos e culturais como a
cristianização (século IV), a aculturação dos povos “bárbaros” (séculos IV-VIII), o
renascimento cultural do Império Carolíngio (século VIII-IX), o “renascimento” do século
124 Vd. o capítulo onde Le Goff explana este tema em : LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?».Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, capítulo I, pp. 27-45. 125 LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa». Lisboa: Gradiva, 1995, pp. 64-65. 126 Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa.» Lisboa: Gradiva, 1995, pp.56 e ss.
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XII, o desenvolvimento urbano e universitário do século XIII, o Humanismo e o
Renascimento (séculos XV e XVI), as Luzes (séculos XVII e XVIII) e o Romantismo
(século XIX), etc. A Idade Média, por ter sido a etapa histórica que respondeu a tantos
momentos positivos da construção da Europa, é o berço da Europa actual, para Jacques
Le Goff.
Nos sub capítulos seguintes serão resumidas as 5 fases de nascimento da
Europa, salientando as principais heranças de cada uma para a Europa actual.
4.2. Do século IV ao VIII: Cristianismo e aculturação “bárbara”
A passagem do Império Romano à Idade Média foi, para Jacques Le Goff, o
resultado de uma longa evolução positiva entrecortada por episódios violentos, e não
por um acontecimento cataclísmico. Esse período caracteriza-se por dois fenómenos: de
uma parte, a elaboração de uma doutrina cristã, sob a influência da notável obra de
Santo Agostinho (354-430; nomeadamente com a “Cidade de Deus”); e da outra parte, a
mestiçagem cultural entre os bárbaros e os latino-europeus, entre uma e outra parte do
antigo “limes”, a fronteira do Império Romano (século IV até ao IX). 127
A cristianização do continente europeu deveu-se à obra de vários clérigos entre
eles Bento de Núrsia, Béda (673-736; anglo-saxão), Boécio (484-520), Cassiodoro (490-
580, da Itália do Sul), Isidoro de Sevilha (570-638, hispânico), Gregório Magno (540-
604), e o já mencionado Santo Agostinho. As suas obras foram de tal forma
fundamentais na criação de uma maior Cristandade, unida pelos menos valores, que Le
Goff não hesita em apelidá-los de “fundadores culturais da Europa”.128
127 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.34-37. E Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa.» Lisboa: Gradiva, 1995, p. 12. E LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens.» Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 28-29. 128 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.28-32. Santo Agostinho está na base daquilo que muitos chamam o “agostianismo político” que é o esforço
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As invasões “bárbaras” começaram no final do século III. No início do século V, a
invasão geral dos Germânicos na península itálica, na Gália, na península ibérica, e a
tomada de Roma por Alarico em 410, marcaram o início da grande instalação destes
“bárbaros” no Império Romano. No século V e VI entraram os Visigodos e os
Ostrogodos, depois do dilúvio dos Suevos, Vândalos e Alanos, seguindo a grande
investida no Oeste e no Sul da Gália pelos Búrgundios, os Francos e os Alamanos. Os
Bretões da Grã-Bretanha refluíram para Oeste da Gália a seguir à travessia do Mar do
Norte pelos Jutos, os Anglos e os Saxões. A última vaga germânica foi a dos Lombardos
que se instalaram em Itália na segunda metade do século VI. A Este do Reno
instalaram-se os Saxões, os Frísios, os Turíngios e os Bávaros. No século VII iniciou-se
a progressão pelo Báltico, Elba, Boémia e Norte dos Balcãs. 129
Nesta altura definiu-se o centro de gravidade cultural e política europeu que
correspondia ao Ocidente. Por exemplo, Gregório Magno foi viver para Cantuária
(Inglaterra) e Clóvis fez de Paris (França) a sua capital.
Para Le Goff este é o momento em que se desenha o primeiro esboço da Europa
sobre um duplo fundamento: o da cristandade, ou seja o espaço do Ocidente Europeu, e
a componente social plural e pluralista dos vários povos que o compõem, dos latino-
europeus aos vulgarmente chamados “Bárbaros”. 130 Para ele “é a prefiguração da
Europa das nações, pois a Europa mostra desde as suas origens que a unidade pode
ser feita da diversidade das nações”. E assim sendo, acrescenta: “nações e unidade
de fazer valer os valores morais e religiosos para que os governos separem Deus de César. São Bento deu uma nova medida ao Tempo, pela sua regra monástica; passa a haver marcação no tempo do trabalho, no tempo da oração, no tempo do descanso. 129 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.34-37 e pp. 64-67. 130 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.34-37.
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europeia estão ligadas”.131 Esta ideia de que a unidade da Europa só poderá radicar
enquanto ela se mantiver aberta à diversidade é uma constante em Le Goff. 132 Unidade
e diversidade funcionam como uma dialéctica, desde esta Cristandade até aos dias de
hoje.
4.3. Do século VIII ao Ano Mil: As políticas de Carlos Magno e de Otão III
É entre os séculos VIII e X que a concepção europeia criada à volta da ideia de
Cristandade, moldada pela religião e pela criação de impérios que a Europa vai ganhar
mais forma. Num primeiro momento, como vimos a Europa esboçou-se culturalmente do
ponto de vista religioso, nesta época vai tomar um corpo político. Há duas tentativas de
unir toda a Europa Ocidental, com Carlos Magno e com Otão I. Falemos sobre a Europa
carolíngia.
Essa época, do século VIII ao século X, compreende o império de Carlos Magno
que certos historiadores consideram o primeiro verdadeiro esboço da Europa. Para
Jacques Le Goff, a supor que essa visão é exacta, trata-se de uma Europa pervertida,
de uma anti-europa como aquela de Napoleão ou de Hitler, por ser um imenso espaço
dominado por um só povo. Para o historiador, o império fundado por Carlos Magno era
uma construção baseada sob o espírito patriótico onde a diversidade cultural não tinha
lugar. O império carolíngio, comprometido pelas perpétuas campanhas de conquista,
não englobou jamais os britânicos, a Península Ibérica, a Itália do Sul, a Sicília, a
Escandinávia. Assim, foi um espaço que ficou aquém das fronteiras actuais da Europa
cultural, mas teve algum mérito no processo de nascimento da Europa: unificou os
131 Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa» Lisboa: Gradiva, 1995, p. 12. E LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens». Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 28-29. 132 É por ser demasiado colonialista que o autor criticava a sua cidade berço de Toulon, o marechal Pétain e a Alemanha anti-semita. Vd. o capítulo 1 da I Parte deste trabalho.
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territórios mais europeus da Cristandade, os “europeíssimos”: a actual França, parte da
actual Alemanha e principalmente a Itália. 133
Otão I, em meados do século X, revive o sonho imperial de Carlos Magno e
resolve unir a actual Alemanha à Itália, criando o Sacro Império Romano Germânico. É
uma espinha dorsal que liga o mar do Norte ao Mediterrâneo e que tem nos Alpes como
o centro de passagem, que inevitavelmente se tornaram o seu coração, o coração da
Cristandade europeia.134
Mais glorioso que o sonho político de Otão I, é o de Otão III em plano conjunto
com o papa Silvestre II. Após a grande vaga de cristianização da Alta Idade Média, o
projecto otoniano é de cristianizar eslavos e húngaros.
Mais uma vez é impossível deixar passar esta relação com o presente de Le
Goff. A obra “L'Europe est-elle née au Moyen Age ?”, datada de 2003, é a única fonte
seleccionada que faz esta menção ao sonho de expansão a Leste de Otão III. E isso
não parece que seja em vão. A problemática da Europa de Leste, como se viu
preocupava o autor sobremaneira, tanto pelas ligações familiares como pelas
académicas que mantinha nessa zona da Europa. Contudo com o alargamento a Leste
da Comunidade Europeia concretizado há poucos meses, Le Goff terá sentido a
necessidade de dar alguma memória a tal passo: não tinha sido a primeira vez que se
sonhava e concretizava o alargamento ao Leste Europeu; era uma ideia medieval
revitalizada cerca de mil anos depois. 135
Para Le Goff este sonho do Ano Mil de criar uma Europa aberta ao Leste é um
dos aspectos gerais da sociedade medieval que marcam a Europa com um cunho
133 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.58-59. 134 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.61-62.
A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
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positivo. A Cristianização dos eslavos e depois dos escandinavos foi feita através de
“aculturações harmoniosas ou de conflitos de cultura mais ou menos agudos”, mas onde
se afirmou “a originalidade e a importância das nações europeias periféricas”. 136
Numa Europa cristianizada quase por inteiro, procedeu-se aos baptismos das
terras, à alteração da toponímia; no final do século XI o topónimo mais comum de
Espanha à Polónia era Martinho (Martin). Era o corolário de uma unidade cultural, era
uma “Europa de sonho”. 137
Se no início da época medieval, o termo Europa era apenas identificativo de uma
realidade geográfica anterior à cristianização, a partir do século XI “Europa” e “europeu”
significarão um sentimento de identidade com uma comunidade, a cristandade. É a
afirmação da Europa.
4.4. Do século XI ao XII: O Feudalismo consolida a Europa
O período feudal (séculos XI e XII) corresponde à fase de afirmação da
cristandade e está mais próximo daquilo que será a Europa actual. Contudo é uma
época de contrastes, com progressos e retrocessos. Comecemos pelos avanços e
repare-se na conservação das heranças que deixaram até aos dias da actualidade.
Houve progressos na economia e na organização da terra, nomeadamente com
algumas inovações técnicas nas explorações agrícolas. Na organização do espaço
destacaram-se as medidas de emparcelamento das terras agrícolas e a construção das
135 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p. 63. 136 Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa» Lisboa: Gradiva, 1995, pp. 24-25. É curioso ver a supremacia francesa na voz de Le Goff. A França para ele sempre foi europeíssima e fraterna, por isso precisa da periferia, para que a sua cultura possa ser expandida. Um caso característico da aculturação francesa na Europa Central e de Leste é a Polónia, visível na repercussão dos Annales e a interacção ainda vigente entre académicos franceses e polacos. 137 Vd. LE GOFF, Jacques -«L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003,p. 67. Le Goff intitulou o capítulo sobre a época de Otão III, na obra atrás mencionada, “L’Europe rêvée”.
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aldeias e vilas em torno de dois elementos fundamentais, o cemitério e a igreja,
deixando a periferia para as habitações e para a agricultura. Ainda hoje as povoações
europeias mantêm esta matriz medieval de chamarem a si os mortos, e de crescerem à
volta do adro da igreja.138
Ao nível social, começa-se a distinguir um grupo, a nobreza e no seu seio desta
florescem os princípios de vassalagem e os ideais de cavalaria. As relações sociais de
toda a Idade Média seriam marcadas pela fidelidade a um senhor em troca de
protecção, em que se baseavam as relações de vassalagem. 139 Aliada à fidelidade vem
o ideal da cortesia. Toda a Europa viveu sob este modelo cívico. Doravante não
interessava somente ser um bom guerreiro, era necessário comportar-se de uma forma
elegante. 140
Ainda no aspecto social, a vida à volta das principais universidades, como a de
Paris, ganhou um novo dinamismo social, e nela surgiram personagens ímpares na
história que foram marcantes para a posteridade. Le Goff chamou-lhes o par de
“intelectuais e amantes modernos”; eram obviamente Heloísa e Abelardo. 141
No que concerne às comunicações também houve avanços visíveis,
nomeadamente na economia monetária, na cultura escrita e nas peregrinações a
lugares santos. As moedas começam a ser utilizadas com maior frequência em
detrimento das tocas em géneros. A moeda, para além de ser um produto que circulava
138 Ao contrário dos romanos, que colocavam os cemitérios mais longe possível das cidades, construindo-os nas principais vias de acesso, os Cristãos mantinham com os mortos uma relação mais estreita. Le Goff aponta este à vontade entre vivos e mortos como um dos factores que estiveram na origem da criação do terceiro espaço do Além, o Purgatório. Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.73-77. 139 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.78-79. 140 Vd. LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa» Lisboa: Gradiva, 1995, p.35. Le Goff aponta o estudo de Norbert Elias onde este demonstrou que a cortesia medieval foi uma etapa essencial no processo de civilização que distinguiu a Europa de todo o mundo.
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pela Europa de mão em mão, carregava o cunho com a figura e o nome do seu emissor.
Eram tidas como objecto de trocas e de comunicação entre diferentes espaços políticos
europeus. As cartas são outro instrumento de comunicação cada vez mais difundido.
Esses documentos circulavam livremente por toda a Europa, de chancelaria em
chancelaria e eram um valor imenso para quem os tinha, representando a memória dos
reinos e dos homens 142. As peregrinações eram momentos de longas trocas culturais e
realizavam-se – apesar de todos os condicionalismos climatéricos, bélicos, entre outros
– com maior frequência do que se pensa. Os caminhos percorridos desenhavam-se a
longo das principais redes viárias e não era raro encontrar um homo viator em direcção
à Cidade Santa ou a Santiago de Compostela.143
Do ponto de vista político houve uma definição da circunscrição do poder. O papa
Gregório VII encetou uma reforma que permitiu separar os poderes da esfera da Igreja e
do Estado. Este foi um dos grandes passos para a afirmação das monarquias nacionais
e para a concepção do Vaticano como reino acima de todos os outros. Clérigos e laicos
são pessoas distintas à imagem das suas esferas do poder que abarcam. A intervenção
só podia ser feita num sentido: o papa podia ter interferência sobre os reinos dos
homens, pois era o sucessor de Pedro, encarregado por Cristo de erguer a Sua Igreja. A
reforma gregoriana acabou por afastar ainda mais a Europa Ocidental do resto do
mundo, nomeadamente do Islão e de Bizâncio; o Islão desde a sua matriz original teve
uma imbricação dos dois poderes; Bizâncio vivia sob um cesaro-papismo, onde o chefe
religioso era o próprio imperador. A partir de então a Europa apresentou-se como
141 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp. 84-85. 142 Note-se o pânico que Filipe Augusto teve quando o rei de Inglaterra, na batalha de Fréteval, roubou o seu baú que continha as cartas da monarquia francesa. Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p. 91. 143 Vd. LE GOFF, Jacques -«L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp. 92-95.
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diversidade ao nível político. Havia as monarquias centralizadas: França, Inglaterra,
Portugal e Espanha; e as descentralizadas, como a Alemanha e a Itália actuais.
Totalmente à parte, construído em pressupostos diferentes estava o Vaticano, Reino de
Deus erguido na terra pelos homens. 144
Ao nível da Arte, o período em causa foi denominado o “renascimento do século
XII” Sob o estilo românico e o gótico, ergueram-se as grandes construções medievais,
muitas visíveis até aos dias de hoje. Segundo Le Goff, os movimentos artísticos têm
essa faceta aglutinadora das nações; as influências passam de país para país e tornam
os povos mais próximos, com um denominador cultural comum. 145
Do ponto e vista das mentalidades esta época foi também marcante pelo
regresso aos Clássicos. Nasceu um humanismo cristão de carácter positivo, em busca
dos valores da razão e do natural: o homem afirmava-se à imagem de Deus e não era
somente visto como um pecador. 146
A Europa não foi só herdeira dos bons legados, aos olhos do historiador. Teve
momentos que foram determinantes para o seu caminho mas que, segundo o autor, não
primaram nem pelos ideais da tolerância, nem pelos da liberdade dos homens.
Iniciaram-se nesta altura as várias perseguições aos heréticos e aos judeus, ao
abandono e encarceramento dos leprosos, e as primeiras tentativas de colonização
militante da Europa: as Cruzadas. 147 O Diabo, inimigo do género humano, habitava no
mundo do pecado, nos sodomitas, nos judeus, nos muçulmanos, nos moribundos. Era
necessário combatê-lo com os modelos de perfeição cristã: a Virgem Maria e Jesus
144 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp. 86-87 e pp.95-105. 145 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp. 105-106. 146 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp. 105-106.
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Cristo. O culto à Virgem é iniciado em grande escala nesta altura assim como aumenta
o culto à dor de Cristo.148
Os traços comuns do período feudal legados à Europa foram, segundo o autor,
os que a mais consolidaram. Essa consolidação deu-se a vários níveis, económico e
tecnológico, político, artístico, cultural e mental. Depois deste período que permitiu
algumas inovações, veremos uma Europa cheia de vida, urbana, universitária, solidária.
É a Europa do século XIII, a “bela” Europa.
4.5. O século XIII: A “bela” Europa das universidades, das cidades, dos
mercadores e dos mendicantes
O século XIII é uma cronologia e eleição nas obras de Jacques Le Goff. A nova
noção do trabalho ligada ao papel determinante dos intelectuais, dos franciscanos e dos
dominicanos, da cidade como agente de civilização, dos mercadores como agentes
culturais e comerciais, a figura do santo e do rei personificados por São Luís, são temas
recorrentes na sua Obra e que ajudam a caracterizar este tempo.149
Segundo Le Goff, é neste século que se “afirma a personalidade e a nova força
da Cristandade realizada ao longo dos séculos precedentes”. A personalidade e a nova
força da Europa é consubstanciada no modelo que o autor chama de “europeu”. Este
modelo tem problemas mas tem sobretudo êxito, sucesso. Jacques Le Goff desenvolve
147 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p.86. 148 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp. 106-112. 149 Cremos que não é em vão que a mais bela Europa, conforme ele a adjectiva, abarque tantas temáticas do seu interesse. Veja-se a “bibliografia temática” organizada nos anexos deste trabalho, Parte IV.
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o tema das heranças da Europa do século XIII, dividindo-as em quatro eixos
dominantes. 150
O primeiro é o desenvolvimento urbano. Enquanto na Alta Idade Média havia
uma Europa voltada para o meio rural, no século XIII encontra-se uma Europa instalada
essencialmente nas cidades. É lá que terão lugar os principais aglomerados
populacionais, que se afirmarão as instituições, que aparecerão os pontos de encontro
económicos e intelectuais. 151
O segundo é a progressão da actividade comercial e da ascensão do mercador,
com toda a problemática que envolve a difusão e utilização do dinheiro na economia e
na sociedade. O mercador europeu era um mercador itinerante. Vista a complexidade
das deslocações terrestres, a sua actividade tornava-se difícil pela insegurança e pelos
inumeráveis pagamentos instituídos nas passagens das cidades, senhorios, pontes,
etc.. Assim, foi a via da navegação aquática, nas duas valências, marítima e fluvial, o
que possibilitou o desenvolvimento do comércio. 152
O terceiro é o desenvolvimento do saber. Este desenvolvimento tocou a um
grande número de cristãos pela criação das escolas urbanas. Naquele tempo, em
Reims, por exemplo, a educação escolar estava estendida às raparigas. Contudo o
grande destaque no ensino é o nível superior, as universidades. Foi aí que numerosos
estudantes e alguns mestres ilustres, elaboraram um novo saber, terminando as
pesquisas do século XII, a escolástica. 153
150 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, p. 135. 151 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp. 136-151. 152 Vd. LE GOFF, Jacques -«L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp.151-162. 153 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp-162-184.
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O quarto e último grande êxito desta Europa de Duzentos foi a criação e
principalmente a extraordinária difusão em cerca de 30 anos dos novos religiosos
residentes nas cidades, os irmãos das ordens mendicantes. Franciscanos e
dominicanos para além de viverem nas cidades, trabalhavam nas cidades e
contactavam com estudantes, com mestres, com mercadores. A serem o contraponto
das outras ordens religiosas, nomeadamente a beneditina, estes minoritas formaram a
nova sociedade e remodelaram profundamente o cristianismo que ela professava.
Conseguiram dar à Europa um carácter caridoso que é para Le Goff o antepassado da
Europa social da actualidade. 154
No seio desta Europa em profundo desenvolvimento, formou-se, segundo o
autor, “a mais bela nação europeia medieval”, a Suiça. Em 1291, os povos montanheses
dos três cantões criam uma união vigente até aos dias de hoje, baseada na igualdade e
na independência. Curiosamente, a Suiça é formada pelos 3 países que Le Goff
considera os europeíssimos: Itália, França e Alemanha. É, portanto, segundo o autor, o
centro da Europa, a fronteira natural entre o Norte e o Sul o Este e o Oeste europeus.155
O legado do século XIII deixou uma matriz mercantil, monetária, urbana e
universitária é ainda hoje bem visível na Europa. O século XIII correspondeu, para
Jacques Le Goff, ao período áureo da Europa sobretudo pelos valores da democracia
suíça e da solidariedade franciscana e dominicana. Como todos os períodos maiores de
uma história, este também pressupõe que tenha havido um antes e um depois do século
XIII. Para o autor o antes foi sempre de crescimento da identidade europeia, conforme
vimos, e que culmina na centúria de Duzentos. O depois será quase exclusivamente pior
154 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp. 184-203. 155 Vd. LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens.» Lisboa: Gradiva, 1997.
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e decrescente no sentido que o seu legado foi pouco positivo para uma Europa em
construção.
4.6. Os séculos XIV e XV: O “Outono” da Idade Média
Os séculos XIV e XV viram catástrofes sucederem-se: guerras, fomes, epidemias
que apesar de terem surgido anteriormente, manifestaram-se nesta altura com maior. A
fome foi causada por uma deterioração do clima. As epidemias de peste negra
provocaram milhares de mortes e alimentaram as novas formas religiosas como a dança
macabra que fez dançar toda a humanidade e todas as categorias sociais e políticas.
No “Outono da Idade Média” é Europa já era uma realidade evidente. Era
completamente distinta da Ásia do Extremo Oriente, do Próximo Oriente, e do Norte de
África islamizado. A Europa a partir de século XV cresceu para os mares, colonizando
os territórios do “Novo Mundo”. Esta expansão veio na sequência dos Descobrimentos
de novas rotas, instrumentos e saberes marítimos conseguidos por portugueses e
castelhanos.
A Europa era uma realidade, acabada de nascer, já tinha a sua matriz cultural
própria. Foi desta forma que impôs o seu modelo civilizacional e cultural às colónias das
Américas e de África.
A Europa havia nascido da aculturação de diferentes povos, da sua miscigenação
cultural e étnica. A partir da centúria de Quatrocentos, a Europa procedeu na razão
inversa da sua matriz inicial. Segundo o historiador, a Europa, colonizando e
impondo a sua cultura, não pretendeu manter a diversidade cultural nas suas
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colónias. Pretendeu somente alargar as suas fronteiras mar adentro, impondo o
modelo europeu a todo o mundo.156
156 Vd. LE GOFF, Jacques - «L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, pp. 206-253.
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5. Conclusão da Parte II
Jacques Le Goff cumpriu a tarefa de comunicador, autor de síntese e de
divulgação em relação à temática da Europa. Pretendeu ter uma tarefa pedagógica,
ensinar a vários tipos de europeus (desde as crianças ao público mais erudito) a história
do seu continente, desde do seu nascimento até hoje, e conseguiu. Le Goff tentou
chamar os cidadãos europeus através da história, utilizando uma linguagem muito
agradável e com uma redacção muito interessante. Só não aprendeu a lição de história
quem não quis.
O alheamento dos cidadãos e, no caso particular, dos cidadãos portugueses face
aos temas europeus tem sido alvo de críticas pelo governo português. 157 É difícil
perceber como é possível haver ainda em 2004 um distanciamento consentido e
unilateral (?) tão grande entre os assuntos nacionais e os assuntos europeus (por
exemplo: a constituição europeia, a entrada da Turquia, o processo de adesão da
Bulgária e da Roménia, etc.).
Jacques Le Goff após ter redigido 6 títulos sobre a Europa ainda não esgotou o
tema da ideia que tem do “velho continente”, pelo que esta conclusão (pouco
conclusiva) se mantém em aberto. Em Janeiro de 2004, dias após ter completado 80
anos, Le Goff pronunciou-se em relação à futura Constituição dos 25, numa entrevista
radiofónica. A propósito do texto da Constituição Europeia, dizia a um jornalista: “On ne
comprend pas si on ne sait pas d'où venons-nous". E completava: "On peut dire que le
christianisme est la base essentielle de la pensée européenne. C'est plus net que la
formule alambiquée qu'on a trouvée dans la Constitution européenne! Mais je demande
157 Vd. O discurso de Sua Excelência o Presidente da Republica, Dr. Jorge Sampaio na entrega do Prémio Carlos V em : http://www.presidenciarepublica.pt/pt/main.html.
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également qu'il soit dit implicitement que l'Europe est laïque, c'est-à-dire une neutralité
qui n'a rien d'agressif". E no final da entrevista concordava com o outro convidado,
Bronislaw Geremek, dizendo que a Constituição era um meio “d’éviter les plaies de
l'histoire de l'Europe, les guerres de religion". A Europa só fruirá se for um espaço de
Paz, de pluriculturalismo, consentido e apreciado por todos os europeus. Caso contrário,
o risco de se incorrer em erros, que a história tem como missão lembrar, é muito
maior.158
158 IN http://www.radiofrance.fr/chaines/franceculture2/emissions/toutarrive/fiche.php?diffusin_id= 19176. Site visitado em 11 de Junho de 2004.
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PARTE III – ANEXOS
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1. Bibliografia temática
TEMA TIPO Nº TÍTULO A longa Idade média
Artigo 1 « Dix-sept siècles de Moyen Âge », Le Journal du CNRS, décembre 1991, p. 27-30.
Artigo 3 « L’appétit de l’Histoire », Essais d’Ego-histoire, édité par Pierre
Nora, Paris, Gallimard, (Bibliothèque des Histoires), 1987, p. 173-239.
Artigo 4 «História – Uma paixão», in A Nova História, Emmanuel Le Roy Ladurie, Georges Duby, Jacques Le Goff et al., Lisboa, Ed. 70,
1989.
Autoobiográfico
Livro 5 (Entretiens avec Marc Heurgon) Une vie pour l’histoire., Paris, La Découverte, 1996.
Livro 6 Saint Louis, Paris, Gallimard, (col. « Bibliothèque des Histoires »), 1996.
Livro 7 Saint François d’Assise, Paris, Le Grand livre du mois,1999, 220 pp.
Livro 8 Cinq personnages d’hier pour aujourd’hui. Bouddha,
Abélard,saint François, Michelet, Bloch, Paris, La Fabrique éditions, 2001.
Artigo 9 « Francesco d’Assisi » in I protagonisti della storia universale, n° 91, 1967, p. 29-56.
Artigo 10
« Le vocabulaire des catégories sociales chez saint François d’Assise et ses biographes au XIIIe siècle », Ordres et classes. Colloque d’histoire sociale, Saint-Cloud, 1967, Paris e La Haye,
1973, p. 93-123.
Artigo 11 « The Whys and Ways of Writing a Biography : the Case of saint
Louis », Exemplaria, a Journal of Theory in Medieval and Renaissance Studies, 1, mars 1989, p. 207-225.
Artigo 12 « Comment écrire une biographie historique aujourd’hui ? », Le Débat, n° 54 , mars-avril 1989, p. 48-53.
prefácio 13 Préface à Michel-Marie Dufeil, Saint Thomas et l’histoire, Aix-en-Provence, CUERMA, 1991.
Artigo 14
« Pico della Mirandola, intellectuel historique », dans Giovanni Pico della Mirandola, Convegno internazionale di studi nel
cinquecentesimo aniversario della morte (1494-1994) (Mirandola, 4-8 octobre 1994), Gian Carlo Garsagni (éd.),
Florence, 1997.
prefácio 15 Préface à Etienne Bloch, Marc Bloch (1886-1944) : une biographie impossible, Limoges, Culture et patrimoine, 1997.
Biografias
Artigo 16 « Pierre Gréco », Archives de psychologie, 58, 1990, p. 81-83.
Livro 17 (Entretiens avec Jean Lebrun) Pour l’amour des villes, Paris, Textuel, 1997.
Livro 18 A la recherche du Moyen Age, Paris, Louis Audibert, 2003
Artigo 19 « The Town as an Agent of Civilisation c.1200-c. 1500 », in C. Cipolla (ed. ), The Fontana Economic Histoy of Europe, The
Middle Age, vol. 1, cap. 2, Londres e Glasgow, 1972, p. 71-106.
Cidades e História urbana
Artigo 20 « Jérusalem ou Babylone ? L’image de la ville dans la littérature
fraçaise médiévale », dans Hommage à Pierre Charpentrat, Critique, juin-juillet 1978.
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direcção 21
Com André Chedeville et Jacques Rossiaud, La ville en France au Moyen Âge : des Carolingiens à la Renaissance, vol. II de
l’Histoire de la France urbaine, (dir. Georges Duby), Paris, Seuil, (col « L’Univers historique »), 1980 ; nova ed. revista et
completa, 1998.
direcção 22 Com Louis Guieysse, Crise de l’urbain, futur de la ville (Colloque
de Royaumont, 1984, R.A.T.P.-Université-recherche), Paris, Economica, 1985.
Artigo 23 « Lezione introduttiva », Daniela Romagnoli, Storia e storie della città, Parme, Patriche editrice, 1988, p. 17-34.
direcção 24 Com Cesare De Seta, La citta e le mura, Rome et Bari, Laterza, 1989.
Artigo 25 « La ville médiévale et le temps », Mélanges Bernard Chevalier, 1990.
prefácio 26
« Saggio introduttivo », dans Daniela Romagnoli (éd.), La città e la corte : buone e cattiva maniere tra Medioevo ed Età moderna, Milan, Guerini, 1991; version française dans La Ville et la cour :
des bonnes et des mauvaises manières (sous la direction de Daniela Romagnoli), Paris, Fayard, 1995.
Artigo 27 « La peste dans le haut Moyen Âge » (em colaboração com Dr. J.-N. Biraben), Annales. E.S.C., XXIV, 1969, p. 1484-1510.
Artigo 28 Les maladies ont une histoire présenté par Jacques Le Goff et Jean-Charles Sournia, L'Histoire, Paris, Seuil, 1985.
Artigo 29 « The medieval West and the Body : Practices and Ideologie (a
Tentative Approach) », Utkal Historical Research Journal, vol. IV, 1993, Utkal University, p. 1-25.
Corpo e doenças
direcção 30 Com Nicolas TRUONG, Une histoire du corps au Moyen Âge, Ed. Liana Levi, 2003, 197 pp.
Cristianismo medieval
Artigo 31
« Le christianisme médiéval du concile de Nicée à la réforme », in Histoire des religions, ed. Henri-Charles Pueh, Paris,
Gallimard, col. «Encyclopédie de la Pléiade», vol. II, 1972, p. 749-868.
Artigo 32
Enclopédia Einaudi: « Documento/Monumento », « Escatologia »,« Età mitiche »,
Encyclopedia, t. V, Turin, Einaudi, 1978, p. 38-48, 712-746, 886-914 ; « Memoria », Encyclopedia, t. VIII, Turin, Einaudi, 1979, p. 1068-561-581.« Progresso/Reazione », Encyclopedia, vol. XI,
Turin, Einaudi, 1980, p.198-230; « Storia », Enciclopedia, t. XIII Turin, Einaudi, 1981, p. 566-670.
Artigo 33 « Antico/moderno », Enciclopedia, I, Turin, Einaudi, 1977, p. 678-700.
Artigo 34 Article « Decadenza », Enciclopedia, IV, Turin, Einaudi, 1978, p. 391-420.
Artigo 35 Article « Arbeit », dans Theologische Realencyclopädie, Berlin, De Gruyter, 1978.
Artigo 36 Article « Idee », dans L’Encyclopedia Italiana, 1993, p. 584-594.
Entradas em dicionários
Artigo 37 Articles « Sacro/Profano », « Sistematica », Encyclopedia, t. XV, Turin, Einaudi, 1982, p. 552-564, 626-634.
Europa
Artigo 38 « L’Europe à l’école », Le Débat, n° 77, novembre-décembre 1993, p. 176-181.
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prefácio 39 Préface à Ulrich Im Hof, Les Lumières en Europe, trad. de
l’allemand par Jeanne Etoré et Bernard Lortholary, Paris, Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993.
prefácio 40 Préface à Michel Mollat du Jourdin, L’Europe et la mer, Paris, Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993.
prefácio 41 Préface à Charles Tilly, Les révolutions européennes : 1492-1992, trad. de l’anglais par Paul Chemla, Paris, Ed. du Seuil,
(Faire l’Europe), 1993. Livro 42 La vieille Europe et la nôtre, Paris, Seuil, 1994.
prefácio 43 Préface à Umberto Eco, La Recherche de la langue parfaite dans la culture européenne, trad. de l’italien par Jean-Paul
Manganaro, Paris, Seuil, (Faire l’Europe), 1994.
prefácio 44 Préface à Joseph Fontana, L’Europe en procès, Paris, Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1995.
livro 45 Il Medioevo: alle origini dell’identità europea, Laterza, Roma-Bari, 1996.
livro 46 L’Europe racontée aux jeunes, Paris, Seuil, 1996.
livro 47 L'Europe est-elle née au Moyen Age ?, Paris, Seuil, " Faire l'Europe ", 2003, 341pp
apresentação e prefácio 48
Présentation de Famille et parenté dans l’Occident médiéval : actes du colloque de Paris, 6-8 juin 1974, organisé par l’Ecole pratique des hautes études, VIe section... le Collège de France et l’Ecole française de Rome, présentés par Georges Duby et
Jacques Le Goff, Paris, Ecole francaise de Rome, 1977 (Collection de l’Ecole française de Rome, n° 30).
direcção 49 Com Jean-Claude Schmitt, Le Charivari, Paris, Ed. de l’E.H .E.S.S., col. «Civilisations et sociétés» nº 67, 1981.
artigo 50 « Image de l’enfant léguée par le Moyen Âge », Les cahiers franco-polonais, 1979, p. 139-155
51
artigo 52
« Le roi enfant dans l’idéologie monarchique de l’Occident médiéval », dans Historicité de l’enfance et de la jeunesse (Actes
du colloque international d’Athènes, 1985), Athènes, 1986, p. 231-250.
artigo 53 « L’enfant au Moyen Âge », (colloque CUERMA), Senefiance, n° 9, Aix-en-Provence, 1986.
Família e crianças
prefácio 54 Préface à Myriam Greilsammer, L’envers du tableau : mariage et maternité en Flandre médiévale, Paris, A. Colin, 1990.
artigo 55 « Féodalité et seigneurie », dans Dix siècles d’histoire franco-britannique. De Guillaume le Conquérant au Marché commun,
Paris, 1979, p. 41-68.
prefácio 56 Préface à Alain Guerreau, Le féodalisme, un horizon théorique, Paris, Le Sycomore, 1980.
Feudalismo
artigo 57 « Les trois fonctions indo-européennes, l’historien et l’Europe
féodale », Annales. E.S.C., n°6, novembre-décembre 1979, p. 1187-1215.
Fontes. Os exempla
artigo 58
« Le juif dans les exempla médiévaux : le cas de l’Alphabetum narrationum », dans Le Racisme. Mythes et sciences. Mélanges Léon Poliakov, sous la direction de Maurice Olender, Bruxelles,
Ed. Complexe, 1980, p. 209-220.
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78
artigo 59
« Le vocabulaire des exempla d’après l’Alphabetum narrationum (début XIVe siècle) », La lexicographie du latin médiéval et ses
rapports avec les recherches actuelles sur la civilisation du Moyen Âge (colloque international du CNRS n°589, Paris, 18-21
octobre 1978), Paris, Ed du CNRS, 1981, p. 321-332.
direcção 60 Com Claude Brémond et Jean-Claude Schmitt, L’ Exemplum ,
Turnhout, Brépols, (col. «Typologie des Sources du Moyen Âge occidental», 40), 1982.
artigo 61
« Philippe Auguste dans les exempla », dans La France de Philippe Auguste. Le temps des mutations (actes du colloque international organisé par le CNRS, 29 septembre-4 octobre
1980), Paris, Ed. du CNRS, 1982, p. 147-155.
artigo 62
« Le temps de l’exemplum (XIIIe siècle) », dans Le Temps chrétien de la fin de l’Antiquité au Moyen Âge, IIIe-XIIIe siècles (Actes du colloque international du CNRS n° 604, 9-12 mars
1981), Paris, Ed. du CNRS, 1984, p. 553-556.
artigo 63
« L’exemplum et la rhétorique de la prédication aux XIIIe et XIVe siècles », dans Retorica e Poetica tra i Secoli XII-XIVe (Actes du
IIe colloque international de l’AMUL, Trento et Roverto, 3-5 octobre 1985), Regione dell’Umbria, La Nuova Italia éd., 1989, p.
3-29.
prefácio 64
Préface à J. Berlioz et Marie Anne Polo de Beaulieu, Les exempla médiévaux. Nouvelles perspectives, Paris, Honoré
Champion, 1998, « Nouvelle Bibliothèque du Moyen Age , 47 », 464 p.
direcção 65 Hérésies et sociétés dans l’Europe pré-industrielle, XIe-XVIIIe siècle. Communications et débats du colloque de Royaumont, Paris, Mouton, (col. « Civilisations et sociétés » n° 10), 1968.
prefácio 66
Préface à Jean-Claude Schmitt, Mort d’une hérésie. L’Eglise et les clercs face aux béguines et aux béghards du Rhin supérieur du XIVe au XVe siècle, Paris, Mouton, Ecole des Hautes Etudes
en Sciences sociales, 1978.
artigo 67 « Rire au Moyen Âge », Cahiers du centre de recherches historiques, n° 3, avril, 1989, p. 1-14.
artigo 68 « Ridere o non ridere », Storia e Dossier, anno IV, n° 35, décembre 1989, p. 18-23.
artigo 69
« Culture savante et culture folklorique dans l’Occident médiéval : une esquisse », Tradition et histoire dans la culture populaire, Documents d’ethnologie régionale, n° 11, Grenoble,
CARE, 1990, p. 299-306.
artigo 70
« Le rire dans les règles monastiques du haut Moyen Âge », Mélanges Pierre Riché. Haut Moyen Âge. Culture, éducation et société, Nanterre, Publidix, La Garenne-Colombes, Ed. Erasme,
1990, p. 93-103.
artigo 71
« Le rire entre la cour et la place publique », dans Pauvres et riches, société et culture du Moyen Âge aux Temps modernes.
Mélanges offerts à Bronislaw Geremek à l’occasion de son soixantième anniversaire, Varsovie, Wydawnictwo Naukowe
PWN, 1991, p. 307-312.
Heresias. Cultura clérical e cultura foclórica.O riso
artigo 72 « Une enquête sur le rire », Annales. Histoire, sciences sociales, n° 3, mai-juin 1997, p. 449-455.
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História das Ideias
artigo 73
« Peut-on encore parler d’une histoire des idées aujourd’hui » dans Storia delle idee : problemi e prospettive, seminario
internazionale, Roma, 29-31 ottobre 1987 a cura di Massimo L. Bianchi, Rome, Ed. dell’ Ateneo, 1989 (Lessico intelletuale
europeo, 49) p. 69-85. História demográfica
artigo 74
Com Ruggiero Romano, « Paysages et peuplement rural en Europe après le XIe siècle », XIIe Congrès international des
sciences historiques, Vienne, 1965, Etudes rurales, 1966, p. 94-100.
livro 75 Marchands et banquiers du Moyen Âge, Paris, PUF, (col. « Que sais-je? », n° 699), 1956 ; 8ª ed. corrigida, 1993.
artigo 76 « Questionnaire pour une enquête sur le sel dans l’histoire du
XIVe au XVIe siècle (em colaboração com P. Jeannin) », Revue du Nord, XXXVIII, Université de Lille, 1956, p. 225-233.
artigo 77 «Les archives des monts-de piété et des banques publiques d’Italie», Revue de la banque, I, 1957, p. 21-46.
artigo 78
« Orientation de recherches sur la production et le commerce du sel en Méditerranée au Moyen Âge », Bulletin philologique et
historique (jusqu’en 1610) du comité des travaux historiques et scientifiques, Paris, Ministére de l'Education nationale, 1960, vol.
I, p. 303-314.
artigo 79 « Une enquête sur le sel dans l’histoire », Annales, E.S.C., XVI, 1961, p. 959-961
artigo 80
« Le sel dans les relations internationales au Moyen Âge et à l’époque moderne » in Le rôle du sel dans l’histoire, Paris, PUF,
1968, (Públications de la Faculté des Lettres et Sciences humaines de Paris-Sorbonne, 37), p. 235-245.
artigo 81 « Il tessitore nella società medievale », Produzione, commercio e consumo dei panni di lana, atti della seconda settimana si studi
(10-16 aprile 1970), Florence, Olschki, 1976, p. 7-18.
História económica e comercial
livro 82 La bourse et la vie. Economie et religion au Moyen Âge, Paris, Hachette, 1986 ; nova edição, 1997, (col. « Pluriel » n° 847).
artigo 83 « Les retours dans l’historiographie contemporaine », Revista cultural del IFAL, Mexico, 1995, p. 71-78.
artigo 84
Le Moyen Âge aujourd’hui : trois regards contemporains sur le Moyen Âge : histoire, théologie, cinéma : actes de la rencontre de Cerisy-la-Salle, juillet 1991 sous la direction de Jacques Le
Goff et Guy Lobrichon, Paris, Le Léopard d’or, (Cahiers du Léopard d’or, 7), 1997.
artigo 85 « Les retours dans l’historiographie française actuelle », Cahiers
du Centre de Recherches historiques, 22, avril 1999, p. 9-19, « Réflexions historiographiques ».
artigo 86 « Le Moyen Âge entre le futur et l’avenir », XXe Siècle, n° 1, 1984, p. 15-22.
Historiografia contemporânea
artigo 87 « Les Annales et l’histoire de l’Italie médiévale », Mélanges de l’Ecole française de Rome, t. 93, 1981, 1, p. 349-360.
Historiografia e metodologia direcção 88 Com Pierre Nora, Faire de l’histoire, 3 vols., Paris, Gallimard,
1974 ; reed. 1986, col. « Folio Histoire » n.º 16-18
A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
Clara Mendonça
80
artigo 89
Com Pierre Toubert, « Une histoire totale du Moyen Âge est-elle possible ? », Actes du 100e Congrès national des sociétés
savantes, Paris, 1975, section de philologie et d’histoire jusqu’à 1610, tendance, perspectives et méthodes de l’histoire
médiévale, Paris, Bibliothèque nationale, 1977, p. 31-44.
Dicionário e direcção 90 Com Roger Chartier et Jacques Revel, La Nouvelle Histoire,
Paris, Retz CEPL, 1978. livro 91 Intervista sulla storia, Bari, Laterza, 1982.
artigo 92 « After Annales : the Life as History », The Times Literary Supplement, n° 4, 489, 14-20 avril 1989.
prefácio 93 Préface à Marc Bloch, Apologie pour l’histoire ou le métier d’historien, Paris, A. Colin, 1993, (nouvelle éd.) 1997.
artigo 94 Com Fernand Braudel « Hommage à Ferdinant Lot » , Annales. E.S.C., septembre-octobre 1966, p. 1177-1186.
artigo 95 «L’historien et l’homme quotidien» in Mélanges en l’honneur de
Fernand Braudel. Méthodologie de l’histoire et des sciences humaines : vol. 2, Toulouse, Privat, 1973, p. 227-243.
96
« Ruggiero Romano au pays de l’histoire et des sciences humaines ou le voyage au centre par tout l’intérieur », Revue européenne des sciences sociales (cahiers Vilfredo Pareto), t.
XXI, n° 64, Genève, Droz, 1983, p. 191-199.
artigo 97 « Witold Kula, historien des mesures », Actes du colloque à la mémoire de Witold Kula, 1990, p. 171-178.
prefácio 98 Préface à Chiara Frugoni, François d’Assise : la vie d’un homme, Paris, Ed. Noesis, 1997.
artigo 99 « The Moyen Age of Georges Duby (1919-1996) », The Medieval History Journal, 1, 1998, p. 3-24.
Homenagens
artigo 100« Il Medioevo di Georges Duby, Medioevo e oltre. Georges Duby e la storiografia del nostro tempo », Bologna, CLUEB, (Itinerari
medievali, 2), 1999, p. 11-31.
prefácio 101 Préface à Claude Rivals, L’art et l’abeille. Ruches décorées en Slovénie : essai d’iconologie, Varzy, Les Provinciades, 1980.
livro 102 Un Moyen Âge en Images, Paris, Hazan, 2000.
prefácio 103Préface à François de Medeiros, L'Occident et l'Afrique, XIIIe-XVe siècle : images et représentations. Paris, Karthala, Centre
de recherches africaines, 1985.
artigo 104
« Le roi, la Vierge et les images : le manuscrit des Cantigas de Santa Maria d’Alphonse X de Castille », dans Rituels. Mélanges offerts au Père Gy, sous la direction de Paul de Clerck et d’Eric
Palazzo, Paris, Ed. du Cerf, 1990, p. 385-392.
Imagem
prefácio 105 Préface à Françoise Clier-Colombani, Mélusine au Moyen Âge : Images, mythes et symboles, Paris, Le Léopard d’or, 1990.
artigo 106
En collaboration avec J. Berlioz et Anita Guerreau-Jalabert, « Anthropologie et histoire », dans L'Histoire médiévale en
France. Bilan et perspectives, Paris, Seuil, 1991, spéc. p. 269-304.
Interdisciplinariedade científica
artigo 107
« Histoire médiévale et histoire du droit : un dialogue difficile » et « Repliche », dans Storia sociale e dimensione giuridica.
Strumenti d’indagine e ipostese di lavoro, Milan, Dott. A. Giuffrré éd., 1986, p. 23-63, p. 449-453.
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artigo 108« Problèmes et reflexions d’un médiéviste face à la théologie », Revue de l’Institut catholique de Paris, octobre-décembre 1987,
p. 69-78.
artigo 109« Introduction historique », Anne Berthelot et François Cornilliat, Littérature, Moyen Âge, XVIe siècle : textes et documents, Paris,
Nathan, 1988.
prefácio 110 Préface à Pierre-Marie Gy, La Liturgie dans l’histoire, Paris, Ed. Saint-Paul- Cerf, 1990.
prefácio 111Préface à Philippe Buc, L’ambiguïté du livre : prince, pouvoir et peuple dans les commentaires de la Bible au Moyen Âge, Paris,
Beauchesne, 1994.
Literatura
prefácio 112 Préface à Alain Boureau, La Légende dorée. Le système narratif de Jacques de Voragine (1298), Paris, Ed. du Cerf, 1984.
artigo 113« Ludwig IX und der Ursprung der feudalen Monarchie in
Frankreich », dans Jarhbuch für Geschichte des Feudalismus, Berlin, Akademie Verlag, 1990, p. 107-114.
Ludwig IX
artigo 114 « Ludwig IX, der Heilige (1214-1270) », dans Theologische Realenzyklopädie, t. 21, 1991, p. 487-490.
livro 115Le Moyen Âge, Paris, Bordas, 1962 ; há outra edição com o
título Le Moyen Âge : 1060-1330, Paris, Bordas, (col. « L’Histoire universelle » n° 11), 1971.
Manuais escolares
direcção 116Com F . Beautier, J. Dupaquier, R. Froment, J. Soletchnik, Marc
Vincent, Histoire, géographie : 5, nouveau programme, Paris, Bordas, 1978.
livro 117Histoire et mémoire, Paris, Gallimard, col. « Folio Histoire » n°
20, 1998, recolha de textos procedentes da obra original Storia e memoria.
artigo 118
« Il peso del passato nella coscienza collectiva degli Itialini », in F. L. Cavazza et S. R. Graudbard (ed. ), Il aso italiano, Italia
anni’70, Colloque international de Turin, 1973, Milan, Garzanti, 1974, p. 534-552.
Memória
livro 119Histoire et mémoire, Paris, Gallimard, col. « Folio Histoire » n°
20, 1988, [recolha de textos procedentes da obra original Storia e memoria]
Mentalidades
livro 120 (Entretiens avec Jean-Claude POUTHIER) Le Dieu du Moyen Âge, Bayard, 2003.
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livro 121 L’imaginaire médiéval. Essais, Paris, Gallimard, (col. « Bibliothèque des Histoires »), 1985 ; nova edição, 1991.
livro 122«Les mentalités : une histoire ambigue», in Faire de l’histoire :
nouveaux objets, Jacques Le Goff e Pierre Nora (dir.) vol.3, Paris, Gallimard, 1974, p.xx-xx
prefácio 123
Préface à Jacques Chiffoleau, La comptabilité de l’Au-delà : les hommes, la mort et la religion dans la région d’Avignon à la fin
du Moyen Âge, vers 1320-1480, Rome, Ecole française de Rome, 1980.
direcção 124
Com Belà Kopeczi, Objet et méthodes de l’histoire de la culture. Colloque franco- hongrois de Tihani, 10-14 octobre 1977,
organisé par l’Ecole des hautes études en sciences sociales et l’Académie des sciences de Hongrie, Paris, CNRS, e Budapest,
Akademiai Kiado, 1982.
artigo 125 « Histoire des sciences et histoire des mentalités », Revue de synthèse, n° 111-112, juillet-décembre 1983, p. 407-415.
artigo 126« L’immaginario urbano nell’Italia medievale (secoli V-XV) »,
dans Storia d’Italia, Annali, 5, il paesaggio, Turin, Einaudi, 1982, p. 5-43.
livro 127 L’imaginaire médiéval. Essais, Paris, Gallimard, (col. « Bibliothèque des Histoires »), 1985 ; nova edição, 1991.
artigo 128 « Les Limbes », Nouvelle Revue de psychanalyse, XXXIV, « L’Attente », automne 1986, p. 151-174.
artigo 129 « La geografia dell’aldilà », Storia e Dossier, n°5, 1987, p. 14-21.
artigo 130
« Le merveilleux scientifique au Moyen Âge », dans Zwischen Wahn, Glaube und Wissenschaft. Magie, Astrologie, Alchemie und Wissenschaftsgeschichte, éd. J.-F. Bergier, Zurich, Verlag
der Fachvereine, 1988, p. 87-113.
artigo 131« L’immaginario in Wiligelmo », dans Wiligelmo e Lanfranco nell’Europa romanica (Actes du congrès de Modène, octobre
1985), Modène, Panini, 1989, p.13-22.
artigo 132 « Un imaginaire religieux médiéval », dans Margit Gari, Le vinaigre et le fiel, nouv. éd., Paris, Plon, 1989, p. 469-482.
artigo 133
« Reflexions sur le merveilleux en guise d’ouverture », dans Démons et Merveilles au Moyen Âge (Actes du IVe colloque international de Nice, mars 1987), Université de Nice, Sophia
Antipolis, 1990, p. 7-21.
artigo 134« Le merveilleux nordique médiéval », Pour Jean Malaurie, Cent
deux témoignages en hommage à quarante ans d’études arctiques, Paris, Plon, 1990, p. 21-28.
artigo 135
« Du ciel sur la terre : la mutation des valeurs du XIIe au XIIIe siècle dans l’Occident médiéval », dans Odysseus. Man in
History, Anthropology history Today, Moscou, 1990, p. 25-47 (en russe).
prefácio 136 Préface à Carla Casagrande et Silvana Vecchio, Les Péchés de la langue, Paris, Ed. du Cerf, 1991.
prefácio 137 Préface à Muriel Laharie, La folie au Moyen Âge, XIe-XIIIe siècles, Paris, Le Léopard d’or, 1991.
artigo 138 « Dio e Mammona », Etruria Oggi, anno X, n° 30, avril 1992, p. 46-52.
prefácio 139Préface à Jérôme Baschet, Les justices de l’Au-delà : les
représentations de l’Enfer en France et en Italie, XIIe-XVe siècle, Rome, Ecole française de Rome, 1993.
prefácio 140 Préface à Claude Lecouteux, Mélusine et le Chevalier au cygne, Paris, Imago, 1997.
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livro 141
Un autre Moyen Âge [Compilação de partes de : Pour un autre Moyen Âge, L’Occident médiéval et le temps, L’imaginaire
médiéval, La naissance du Purgatoire, Les limbes, La bourse et la vie, Le rire dans la société médiévale], Paris,
Gallimard,1999,1372 pp.
artigo 142
« A propos du paradis terrestre dans la Divina Comédia », dans Ludovico Gatto e Paola Supino Martini (éd.), Studi sulle società e le culture del Medioevo per Girolamo Arnaldi, Roma, Università
degli Studi di Roma « La Sapienza », 2002, t. I, p. 301-306.
livro 143 (Entretiens avec Jean-Claude POUTHIER) Le Dieu du Moyen Âge, Bayard, 2003, 102 pp.
livro 144 Héros du Moyen Âge, Le Saint et le Roy. Paris: Gallimard, "Quarto", 1 344 pp,
livro 145 La naissance du Purgatoire, Paris, Gallimard(col. « Bibliothèque des Histoires »), 1981 ; reed. (col. « Folio » n° 31), 1991 .
artigo 146« The Usurer and Purgatory », dans The Dawn of Modern
Banking (Center for Medieval Renaissance Studies, University of California, Los Angeles), New Haven et Londres, 1979, p. 25-53.
artigo 147 « Le Purgatoire entre l’Enfer et le Paradis », La Maison-Dieu, 144, 1980, p. 103-138.
artigo 148
« Discorso di chiusura » dans Settimane di studio del Centro italiano di studi sull'alto medioevo, XXIX, Popoli e paesi nella
cultura altomedievale, Spoleto, 23-29 aprile 1981, Spolète, 1983, p. 807-838.
artigo 149« Deux Au-delà : Paradis et Enfer » dans le catalogue de
l’exposition « Art et Sciences », Il disegno del mondo, Turin, 1983.
artigo 150
« Le temps du Purgatoire (IIIe-XIIIe siècle) », dans Le Temps chrétien de la fin de l’Antiquité au Moyen Âge, IIIe-XIIIe siècle (Actes du colloque international du CNRS, n° 604, 9-12 mars
1981), Paris, Ed. du CNRS, 1984, p. 517-530.
Mentalidades e imaginário. O purgatório
artigo 151
Interview avec Henri-Pierre Jeudy, « Le Purgatoire comme espace négocié. Entretien avec Jacques Le Goff : négocier avec
sa conscience, négocier avec Dieu », Autrement, série Mutations. Tout négocier : masques et vertiges des compromis,
1989, p. 124-135.
apresentação 152Présentation de Eric J. Hobsbawn, Les primitifs de la révolte dans l’Europe moderne, Paris, Fayard, 1963 (L’Histoire sans
frontières).
apresentação 153
Présentation (sauf préface) de Charles-Victor Langlois, La vie en France au Moyen Âge de la fin du XIIe au milieu du XIVe siècle, Paris, Genève, Slatkine, 1981, Reproduction en fac-sim. de l’éd.
Paris, Hachette, 1926-1928.
artigo 154Avec Michel Lawers, « La civilisation occidentale », dans Histoire des mœurs, t. III, Paris, Gallimard, Encyclopédie de la Pléiade,
1991, p. 1123-1211.
direcção 155Com René Rémond, Histoire de la France religieuse, 4 vols.,
vol.I, Des origines au XIVe siècle, Paris, Seuil, (col. « L’Univers historique »), 1988.
direcção 156 L’Etat et les pouvoirs, vol. II de L’Histoire de la France, Paris, Seuil, 1989.
Obras gerais
direcção 157Com Franco Cardini, Enrico Castelnuovo, Giovanni Cherubini, L’homme médiéval, Paris, Seuil, (col « l’Univers historique »),
1989 (reed. [col. « Point Histoire » n°183], 1994).
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direcção 158 Com Jean-Claude Schmitt, Dictionnaire raisonné de l’Occident médiéval, Paris, Fayard, 1999, 1236 pp.
direcção 159 Viva o Ano 1000! A modernidade da Idade Média, Lisboa, Teorema, 2000.
livro 160 La civilisation de l’Occident médiéval, Paris, Arthaud, (col. « Les grandes civilisations » n° 3), 1964 ; nova edição, 1984.
livro 161L’apogée de la Chrétienté : v. 1180-v. 1330, Paris, Bordas, col. « Voir l’histoire », 1982 ; nova edição, Le XIIIe siècle : L’apogée
de la Chrétienté, v 1180-v. 1330, 1994.
prefácio 162 Préface à Christopher Dawson, Le Moyen Âge et les origines de l’Europe des invasions àl’an 1000, Paris, Arthaud, 1960
prefácio 163 Préface à Jules Michelet, Œuvres complètes... 4, Histoire de France, 1, Livres I-IV, Paris, Flammarion, 1974.
prefácio 164Préface à Dominique Boutet et Arnaud Strubel, Littérature, politique et société dans la France du Moyen Âge, Paris,
Presses universitaires de France, 1979.
livro 166 Das Hochmittelalter, Franquefurt, 1965.
artigo 165 « Ordres mendiants et urbanisation dans la France Médiévale. Etat de l’enquête », Annales. E.S.C., XXV, 1970, p. 924-946.
artigo 166 « Les ordres Mendiants au Moyen Âge », L’Histoire, n° 22, avril 1980, p. 44-51.
artigo 167
« Franciscanisme et modèles culturels du XIIIe siècle », dans Francescanesmo e vita religiosa dei laici nel’200, atti dell’VIII convegno della Sociétà internationale di studi francescani,
Assisi, 16-18 octobre 1980, 1981, p. 85-128.
artigo 168 « Francisco de Asis entre la renovacion y el lastre del mundo feudal », Concilium, n°169, novembre 1981, p. 303-315.
Ordens mendicantes. Franciscanos e São Francisco de Assis
artigo 169
« L’intellectualité dominicaine au Moyen Âge et sa relation au monde de la ville et de l’Université », dans Marie-Dominique Chenu : Moyen Âge et modernité (colloque organisé par le
Département de la recherche de l’Institut catholique de Paris et le Centre d’étude du Saulchoir à Paris, les 28-29 octobre 1995),
Paris, Centre d’étude du Saulchoir, 1997, p. 57-66.
artigo 170 « Saint-Louis a-t-il existé ? », L’Histoire, n°40, décembre 1981.
artigo 171
« Philippe Auguste dans les exempla », dans La France de Philippe Auguste. Le temps des mutations (actes du colloque international organisé par le CNRS, 29 septembre-4 octobre
1980), Paris, Ed. du CNRS, 1982, p. 147-155.
artigo 172 « Saint Louis et les corps royaux », Le Temps de la réflexion, III, 1982, p. 255-284.
artigo 173« Les gestes de saint Louis, approche d’un modèle et d’une
personnalité », Clio et son temps. Mélanges Jacques Stiennon, Liège, 1982, p. 445-459.
São Luís e a Monarquia francesa
prefácio 174 Préface à Marc Bloch, Les Rois thaumaturges, nouvelle éd., Paris, Gallimard, 1983
A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
Clara Mendonça
85
artigo 175
« Saint de l’Eglise et saint du peuple : les miracles officiels de saint Louis entre sa mort et sa canonisation (1270-1297) »,
Histoire sociale, sensibilités collectives et mentalités. Mélanges Robert Mandrou, Paris, Picard, 1985, p. 157-167.
artigo 176« Royauté biblique et idéal monarchique médiéval : saint Louis et
Josias » dans Les Juifs au regard de l’histoire. Mélanges Bernhard Blumenkranz, Paris, Picard, 1985, p. 157-167.
artigo 177 « Portrait du roi idéal », L’Histoire, n° 81, septembre 1985, p. 70-76.
prefácio 178 Préface à Françoise Gasparri, La principauté d’Orange au Moyen Âge : fin XIIIe-XVe siècles, Paris, Le Léopard d’or, 1985.
artigo 179 « Saint Louis, croisé idéal ? », Notre histoire, n°20, février 1986, numéro spécial, « Les Croisades », p. 42-47.
artigo 180 « Le miracle royal », dans Actes du colloque de Paris pour le centenaire de la naissance de Marc Bloch, Paris, 1986.
artigo 181 « Reims, la mémoire du sacre », L’Histoire, n° 96, janvier 1987, p. 106-111.
artigo 182« Reims, ville du sacre », dans Pierre Nora (éd.), Les lieux de
mémoire, t. II, La nation, vol.1, Paris, (Bibliothèque des Histoires), 1986, p. 89-184.
artigo 183 « Le dossier de sainteté de Philippe Auguste », L’Histoire, n° 100, mai 1987, p. 22-29.
artigo 184
« Saint Louis et la prière », dans Horizons marins, itinéraires spirituels (Ve-XVIIIe s.), vol. 1, Mentalités et Sociétés, Mélanges
Michel Mollat (Etudes réunies par Henri Dubois, Jean-Claude Hocquet, André Vauchez), Paris, Publications de la Sorbonne,
1987, p. 85-94.
artigo 185« Un roi-souffrant : saint Louis », La souffrance au Moyen Âge
(France XIIe-XVe s.), Les Cahiers de Varsovie, Ed. de l’Université de Varsovie, 1988, p. 51-72.
artigo 186 « Le mal royal au Moyen Âge : du roi malade au roi guérisseur », Médiaevistik, 1, Salzbourg, 1988, p.101-109.
artigo 187« Saint Louis et la parole royale », dans Le Nombre du temps. En hommage à Paul Zumthor, Paris, Champion, 1988, p. 127-
136.
artigo 188
« Head or Heart ? The Political Use of Body Metaphors in the Middle Ages », dans Michel Fecher (éd.), Fragments for a
History of the Human Body, 3e partie, vol. 5, New York, Zone, 1989, p. 12-27.
artigo 189« The Whys and Ways of Writing a Biography : the Case of saint
Louis », Exemplaria, a Journal of Theory in Medieval and Renaissance Studies, 1, mars 1989, p. 207-225.
artigo 190 « Saint Louis and the Mediterranean », Mediterranean Historical Review, vol. 5, n°1, juin 1990, Londres, Frank Cass, p. 21-43.
artigo 191
« A Coronation Program for the Age of saint Louis », dans Janos M. Back (éd.), Coronations. Medieval and Early Modern
Monarchic Rituel (Actes du congrès de Toronto), University of California Press, 1990.
artigo 192
« La sainteté de saint Louis. Sa place dans la typologie et l’évolution chronologique des rois saints », dans Les fonctions
des saints dans le monde occidental (IIIe-XIIIe siècle) (Actes du colloque de l’Ecole française de Rome, Rome, 27-29 octobre 1988), Rome, Ecole Française de Rome, 1991, p. 285-293.
prefácio 193 Préface à John Baldwin, Philippe Auguste et son gouvernement, Paris, Fayard, 1991.
A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
Clara Mendonça
86
artigo 194
« Saint Louis à table : entre commensalité royale et humilité alimentaire », dans La Sociabilité à table. Commensalité et
convivialité à travers les âges (Actes du colloque de Rouen,1990), Rouen, 1992, p. 132-144.
artigo 195
« Aspects religieux et sacrés de la monarchie française du Xe au XIIIe siècle », dans Alain Boureau et Claude S. Ingerflom (éd.),
La Royauté sacrée dans le monde chrétien, Paris, Ed, de l’EHESS, 1992, p. 19-28.
artigo 196« Saint Louis et la mer », dans L’uomo et il mare nella civiltà
occidentale : da Ulisse a Cristoforo Colombo (Actes du colloque de Gênes, 1er- 4 juin 1992), Gênes, 1992, p. 13-24.
artigo 197 « Saint Louis et la pratique sacramentelle », La Maison-Dieu, 197, 1994, p. 99-124.
livro 198 Saint Louis, Paris, Gallimard, (col. « Bibliothèque des Histoires »), 1996.
artigo 199 « Saint Louis », Revue des sciences religieuses, n° 3, juillet 1997, p. 338-344.
artigo 200 « Saint Louis et les juifs », Le brûlement du Talmud à Paris, 1242-1244, Paris, Cerf, 1999, p. 39-46.
livro 201 Les intellectuels au Moyen Âge, Paris, Seuil, (col. « Le Temps qui court » n° 3), 1957 ; reed.[col. « Point Histoire » n° 78], 1985.
livro 202Pour un autre Moyen Âge. Temps, travail et culture en Occident,
Paris, Gallimard, (col. « Bibliothèque des Histoires »), 1977; reed. (col. « Tel » n° 181), 1991.
artigo 203
« La conception française de l’Université à l’époque de la Renaissance », Les Universités européennes du XIVe au XVIIIe siècle. Aspect et problèmes. Actes du colloque international de
Cracovie, 1964, Genève, 1967, p. 94-100.
artigo 204 « Un étudiant tchèque à l’Université de Paris au XIVe siècle », Revue des études slaves, t. 24, 1948, p. 143-170.
artigo 205« Les universités du Languedoc dans le mouvement universitaire
européen au XIIIe siècle », Cahiers de Fanjeaux, V, 1970, p. 316-328.
artigo 206
« Travail, techniques et artisans dans les systèmes de valeurs du haut Moyen Âge (Ve-Xe siècle) », in Artigiano e tecnica nella Società dell’alto Medioevo occidentale, Settimane di studio del
centro itliano di studi sull’alto Medioevo, XVIII, Spolète, 1970, p. 239-266.
artigo 207
« Les métiers et l’organisation du travail dans la France médiévale », in La France et les Français, ed. Michel François, Paris, Gallimard, col. «Encyclopédie de la Pléiade», 1972, p.
296-347.
artigo 208
« Universités et courants humanistes : rapport introductif » dans Genèse et débuts du Grand Schisme d’Occident (1362-1394), Avignon, 25-28 septembre 1978, colloques internationaux du
CNRS n° 586, Paris, Ed. du CNRS, 1980, p. 163-174.
artigo 209
« Contacts et non-contacts dans l’Occident médiéval », dans Culture et travail intellectuel dans l’Occident médiéval : bilan des « colloques d’humanisme médiéval » (1960-1980) fondés par le R. P. Hubert, publié par Geneviève Hasenohr et Jean Longère,
Paris, Ed. du CNRS, 1981, p. 61-79.
Trabalho e Universidades
artigo 210« Alle origini del lavoro intellectuale in Italia », dans Litteratura Italiana, Einaudi, vol. II, Letterato e le istituzioni, Turin, 1982, p.
649-679.
A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
Clara Mendonça
87
direcção 211
Com Belà Kopeczi, Intellectuels français, intellectuels hongrois : XIIe-XXe siècle : actes du colloque franco-hongrois d’histoire sociale à Matrafured, 1980, Paris, Ed. du CNRS, Budapest,
Akademiai Kiado, 1985.
artigo 212 « Le Travail au Moyen Âge », Cahiers de l’Ecole des sciences philosophiques et religieuses, 6, Bruxelles, 1989, p. 99-128.
artigo 213
« Le travail dans les systèmes de valeurs de l’Occident médiéval », dans Le Travail au Moyen Âge. Une approche
interdisciplinaire. Actes du colloque international de Louvain-la-Neuve, 21-23 mai 1987, Louvain-la-Neuve, Institut d’études
médiévales de l’Université catholique de Louvain, 1990, p. 7-21, et « Discours de clôture », p. 413-424.
artigo 214« Introduzione » in Le università dell’Europa : la nascita delle
università a cura di Gian Paolo Brizzi, Jacques Verger, Cinisello Balsamo, Silvana, 1990, p. 5-7.
artigo 215« Pourquoi le XIIIe siècle a-t-il été plus particulièrement un siècle
d’encyclopédisme ? » , dans L’enciclopedismo medievale, Ravenne, A. Longo editore, 1994, p. 23-40.
artigo 216« Vita et pre-exemplum dans le deuxième livre des Dialogues de Grégoire Le Grand », Hagiographie. Culture et sociétés, IVe-XIIe
siècle, Paris, Ed. Augustiniennes, 1981, p. 105-120.
artigo 217 « Temps et société chrétienne au Moyen Âge », Temps libre, 3, automne 1981, p. 111-116.
artigo 218« Pourquoi au XXe siècle ne construisons-nous plus de
cathédrales ? », Le temps stratégique, n° 6, automne 1983, Genève, p. 105-111.
artigo 219 « Two Retrospective Surveys marking our Hundreath Issue, II Later Histoire », Past and Present, n° 100, 1983, p. 14-28.
prefácio 220 Préface à Perrine Mane, Calendriers et techniques agricoles (France-Italie, XIIe-XIIIe s.), Paris, Ed. du Sycomore, 1983.
prefácio 221 Préface à Roberto Zapperi, L’Homme enceint, Paris, P.U.F., 1983.
artigo 222« Ist der historiche Roman im 12. Jahrhundert entstanden ? »,
dans Der altfranzösische Höfische Roman, Darmstat, Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1978, p. 39-49.
prefácio 223 Préface à Geneviève Bollème, Le peuple par écrit, Paris, Ed. du Seuil, 1986.
prefácio 224Préface à Aelius Aristide, Paris, Discours sacrés : rêve, religion,
médecine au IIe siècle après Jésus-Christ Macula, 1986 (Propylées).
artigo 225 « Time : the splintered continuum », Seminar on New History, Indiana Intenational Center Quaterly, février 1988, p. 1-14.
artigo 226
« Frantisek Graus et la crise du XIVe siècle : les structures et le hasard », Mélanges Frantisek Graus, Sonderdruck aus Band 90
der « Basler Zeitscrift für Geschichte und Altertumskunde », 1990, p. 22-33.
artigo 227 En collaboration avec M. Hadas-Lebel, « A propos de Flavius Josèphe », Commentaire, 50, été 1990, p. 383-390.
prefácio 228Préface à Max Weber, L’éthique protestante et l’esprit du capitalisme,Paris, France Loisirs, (La bibliothèque du XXe
siècle), 1990.
Vária
prefácio 229 Préface à A l’Est, la mémoire retrouvée, Paris, La Découverte, 1990.
A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
Clara Mendonça
88
prefácio 230 Préface à Art FMR sous la direction de Franco Maria Ricci, 03, VIe-Xe siècles, 01, t.1, Milan, FM Ricci, 1991.
prefácio 231
Préface à Roland Bechmann, Villard de Honnecourt : la pensée technique au XIIIe siècle et sa communication, Paris, Picard,
1991, nouv. éd. revue et augmentée, 1993 (Les monuments de la France gothique).
artigo 232« Europa vroeger, nu en straks. Een werelddeel tussen
middeleuwen en orgen », Rijkdom in verscheidenheid, 1892-1992, Pelckmans, 1992, p. 9-38.
prefácio 233
Préface de « Un manuel d’histoire sous la Restauration », dans De Russie et d’ailleurs : feux croisés sur l’histoire. Pour Marc
Ferro, textes recueillis et édités par Martine Godet, Paris, Institut d’études slaves, 1995, p. 551-563.
artigo 234
Avec Jean-Claude Schmitt, « L’histoire médiévale », Cahiers de civilisation médiévale, Xe-XIIe siècle : la recherche sur le Moyen
Âge à l’aube du XXIe siècle, 39, Poitiers, Centre d’études supérieures de civilisation médiévale, janvier-juin 1996, p. 9-25,
et « Mise au point. Réponse de Jacques le Goff et de Jean-Claude Schmitt aux "Inquiétudes" de Dominique Barthélemy »,
Cahiers de civilisation médiévale, 39, octobre-décembre 1996, p. 361-363.
artigo 235Préface à Bartolome Clavero Salvador, La grâce du don : anthropologie catholique de l’économie moderne, Paris, A.
Michel, (L’évolution de l’Humanité), 1996.
direcção 236 Com Dominique Simmonet, La plus belle histoire de l'amour, Paris, Seuil, 2003.
artigo 237Avec Jean–Claude Schmitt, « Au XIIIe siècle : une parole
nouvelle », dans Jean Delumeau (éd.), Histoire vécue du peuple chrétien, Toulouse, Privat, t. I, 1979, p. 257-279.
artigo 1
CARBONELL, Charles-Olivier - «Le Goff: "L'historien et l'homme quotidien" (1972)». In Les Sciences historiques: de l'antiquité à nos jours, Charles Olivier Carbonell (dir.). S/L: Larousse, 1994,
pp. 287-295.
livro 2 The Work of Jacques Le Goff and the Challenges of Medieval History , Ed. by Miri Rubin, Woodbridge, Boydell Press, 1997,
272 pp.
livro 3 L´Ogre historien : autour de Jacques le Goff, Éd. De Jean-Claude Schmitt et Jacques Revel,Paris, Gallimard, 1998, 353 pp.
artigo 4 «Jacques Le Goff», in Les historiens, Veronique Sales (dir.),
Paris, Armand Colin, col. « Sociologie et Antropologie », 2003, pp. 251-266.
Outros sobre Le Goff
livro 5 ROMAGNOLI, Daniela – Il medioevo europeu di Jacques Le Goff. Milão: Silvana Editoriale, 2003.
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89
NOTA: Há obras que se repetem em dois temas. Por exemplo: Saint Louis. Paris: Gallimard, (col. « Bibliothèque des
Histoires »), 1996, é um título que aparece no tema "São Luís e a monarquia francesa" e também no das
"Biografias". Como tal o número que precede o tipo de publicação é um mero indicativo. O total real dos títulos do
autor publicados é o seguinte:
Artigos = 147
Livros = 23
Apresentações e prefácios = 45
Direcção = 19
TOTAL = 234 (+ 3 no prelo)
FONTE:http://www.ehess.fr/gahom/LeGoffbiblio.htm
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2. Os seus principais colaboradores : o exemplo do "Dictionnaire raisonné de l’Occident
médiéval “
n.º Nome Instituição Título do artigo Contagens e percentagens
1 Aaron GOUREVITCH CNRS Individu
2 Agostino PARAVICINI BAGLIANI CNRS Âges de la vie
3 Alain GUERREAU CNRS Chasse; féodalité 4 Alexander MURRAY CNRS Raison 5 André VAUCHEZ CNRS Miracle
6 Anita GUERREAU-JALABERT CNRS Parenté
7 Bernard GUENÉE CNRS Cour; Histoire 8 Bernhard TOPFER CNRS Eschatologie et millénarisme
9 Christiane KLAPICH-ZUBER CNRS Masculin/féminin
10 Claude GAUVARD CNRS Justice et paix; violence
11 Danielle RÉGNIER BOHLER CNRS Amour courtois
12 Dominique IOGNA-PRAT CNRS Ordre(s) 13 Guy LOBRICHON CNRS Bible 14 Hanna ZAREMSKA CNRS Marginaux 15 Hélène MILLET CNRS Assemblées 16 Jacques BERLIOZ CNRS Fléaux 17 Jacques ROSSIAUD CNRS Sexualité 18 Jacques VERGER CNRS Université
19 Jean FLORI CNRS Chevalerie; Jérusalem et les croisades
20 Jean -Michel MEHL CNRS Jeu
21 Jean-Claude SCHMITT CNRS Clercs et laics; corps et âme; Dieu; images; rites; sorcellerie
22 Jean-Marie PESEZ CNRS Château 23 Jean-Philippe GENET CNRS État 24 John NORTH CNRS Univers 25 Léopold GÉNICOT CNRS Noblesse 26 Lester LITTLE CNRS Moines et religieux
27 Marie- Christine POUCHELLE CNRS Médecine
28 Marie-Anne POLO DE BEAULIEU CNRS Prédication
29 Mario SANFILIPPO CNRS Rome 30 Massimo MONTANARI CNRS Alimentation 31 Maurice KRIEGEL CNRS Juifs 32 Michel PARISSE CNRS Empire 33 Michel PASTOUREAU CNRS Symbole 34 Michel SOT CNRS Pèlerinage 35 Michel ZINK CNRS Littérature(s) 36 MichelLAUWERS CNRS Mort(s) 37 Monique ZERNER CNRS Hérésie 38 Otto Gerhard OEXLE CNRS Guilde 39 Patrick GEARY CNRS Mémoire 40 Pierre GUICHARD CNRS Islam 41 Pierre MONNET CNRS Marchands 42 PIPONNIER CNRS Quotidien 43 Robert FOSSIER CNRS Terre 44 Silvana VECCHIO CNRS Péché 45 Tullio GREGORY CNRS Nature
CNRS = 45 = 67,2%
46 Alain ERLANDE-BRANDENBURG É Chartes Cathédrale École des Chartes =
1 = 1,5%
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47 Alain BOURREAU Ehess Foi 48 Guy BEAUJOUAN Ehess Nombres 49 Jêrome BASCHET Ehess Diable 50 Philippe BRAUNSTEIN Ehess Artisans
Ehess = 4 = 5,9%
51 Jacques CHIFFOLEAU U Avinhão Droit(s) 52 Jean BATANY U Avinhão Écrit/oral U Avinhão = 2 = 3%
53 Franco CARDINI U Florença Guerre et croisade U Florença = 1 = 1,5%
54 Thomas N BISSON U Harvard Monnaie U Harvard= 1 = 1,5%
55 Christian AMALVI U Monpellier III Moyen Âge U Monpellier III= 1 = 1,5%
56 Philippe FAURE U Orléans Anges U Orleans = 1 = 1,5%
57 Alistair CROMBIE U Oxford, Trinity college Univers U Oxford = 1 = 1,5%
58 Michel BALARD U Paris I Byzance et l'Occident; Byzance vue de l'Occident U Paris I = 1 = 1,5%
59 Robert DELORT U Paris VIII Animaux U Paris VIII = 1 = 1,5%
60 Henri BRESC U Paris X Mer U Paris X = 1 = 1,5%
61 Dominique BARTHÉLEMY U Paris XII Seigneurie U Paris XII = 1 =
1,5% 62 Clara CASAGRANDE U Pavia Péché 63 Franco ALESSIO U Pavia Scolastique U Pavia = 2 = 3%
64 Girolamo ARNALDI U Roma Église et papauté 65 Sofia BOESCH GAJANO U Roma Sainteté U Roma = 2 = 3%
66 Alain DUCELLIER U Toulouse II Byzance vue de l'Occident 67 Pierre BONNASSIE U Toulouse II Liberté et servitude
U Toulouse II = 2 = 3%
França = 68,7% = 11 Itália = 18,8% = 3 Eua = 6, 3 % = 1 Inglaterra = 6, 3 % = 1
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Clara Mendonça
92
3. Cronologia comparada: a vida pessoal e profissional de Le Goff 159, a sua
produção escrita 160 e as principais datas da construção da Comunidade
Europeia 161.
O objectivo desta cronologia comparada é ver de que forma se relacionaram, em
estímulo de acontecimento – resposta historiográfica, os domínios da vida pessoal de Le
Goff e das principais datas da construção da Comunidade Europeia.
Será que os feitos comunitários e europeus lato sensu interferem na escrita da História de
Le Goff? A sua produção escrita encontra espelho em relação à sua vida familiar e
académica?
Como já se explicou em capítulos anteriores, por certo que, houve ligações de
acontecimentos que tiveram uma(s) resposta(s), sob a forma de livro ou de artigo, pela parte
do autor. A vantagem deste friso cronológico é ver-se de forma esquemática e prática o
desenvolvimento dessa interacção.
159 A recolha destes elementos fez-se sobretudo nos artigos: LE GOFF, Jacques - « L’appétit de l’Histoire ». In «Essais d’Ego-histoire», édité par Pierre Nora. Paris : Gallimard, (Bibliothèque des Histoires), 1987, p. 173-239. LE GOFF, Jacques - «História – Uma paixão». In «A Nova História», Emmanuel Le Roy Ladurie, Georges Duby, Jacques Le Goff et al. Lisboa: Ed. 70, 1989. «Jacques Le Goff». In «Les historiens», Veronique Sales (dir.). Paris : Armand Colin, col. « Sociologie et Antropologie », 2003, pp. 251-266. E no livro: «L´Ogre historien : autour de Jacques le Goff», Éd. De Jean-Claude Schmitt et Jacques Revel. Paris : Gallimard : 1998. 160 A bibliografia enunciada não cobre a totalidade das obras do autor. Para isso veja-se o capítulo “Bibliografia temática”. 161 Estas datas foram recolhidas no site da Comissão Europeia: www. europa. eu.int/comm/publications, em 24 de Julho de 2004.
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1948 1956 1957 1960 1961 1962
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LE GOFF, Jacques - "Un étudiant tchèque à
l’Université de Paris au XIVe siècle". In Revue des études
slaves , t. 24, 1948, p. 143-170.
LE GOFF, Jacques - Marchands et banquiers du
Moyen Âge. Paris: PUF, (col. « Que
sais-je? », n° 699), 1956 ; 8ª ed.
corrigida, 1993.
LE GOFF, Jacques - Les intellectuels au
Moyen Âge. Paris: Seuil, (col. « Le Temps qui
court » n° 3), 1957 ; reed. [col. « Point Histoire » n°
78], 1985.
LE GOFF, Jacques - Préface à Christopher Dawson, Le Moyen Âge et les origines de l’Europe des invasions à l’an 1000. Paris:
Arthaud, 1960.
LE GOFF, Jacques - "Une enquête sur
le sel dans l’histoire". In
Annales E.S.C ., XVI, 1961, pp. 959-
961.
LE GOFF, Jacques - Le Moyen Âge. Paris:
Bordas, 1962 ; há outra edição com o título Le
Moyen Âge : 1060-1330. Paris: Bordas (col.
« L’Histoire universelle » n° 11), 1971.
Vida
pes
soal
e p
rofis
sion
al
Aos 24 anos foi incentivado por Charles Edmond Perrin, seu
orientador de tese de doutoramento, a estudar as origens da
Universidade de Carlos de Praga, em meados do século XIV.
Aprendeu checo e foi para Praga, como bolseiro, entre 1947-48.
Assistiu ao viv
Era, desde 1954, assistente de Michel
Mollat na Universidade de Lille. Escreveu o
livro "Mercadores (...)" com a influência das leituras que fez em 1950, altura em que
teve de ler a bibliografia do júri da agregação ao
ensino liceal; isto é, obras de F. B
Ainda é assistente de Mollat na U. Lille. "Os Intelectuais
(...)" foram, segundo o autor, a sua "primeira obra" . Escreveu-
a por encomenda de Michel Chodkiewicz (coordenador da
colecção "Petite planète" da Le Seuil). Nesta obra estudou as
relações entre o
Desde 1958, ano em que Le Goff ficou orfão de pai e teve de abandonar Lille por falta de qualificações, entrou em contacto
com os Annales que já o julgaram uma vez (agregação ao ensino liceal) e deu-lhes a conhecer o seu trabalho, nomeadamente
"Os Intelec
Continua a trabalhar de perto com Braudel e, por via de um acordo entre a VI Secção da
Escola de Altos Estudo e o Instituto de História da Academia Polaca,
estreita as relações com a Polónia. Na Polónia conhece três pessoas fundamentais na sua
vida: a sua
Abandona a militância no PSU (Partido Socialista Unificado)
por 2 motivos: precisa de mais tempo para dedicar à mulher,
com quem casou em Varsóvia; e, porque ficou desiludido com as lutas intestinas de partido,
numa altura em que era necessário conjugar e
Con
stru
ção
da c
omun
idad
e eu
rope
ia
Congresso de Haia: mais de 1000 delegados de uma vintena de países europeus debatem novas formas de cooperação na Europa. Pronunciam-
se a favor da criação de uma "Assembleia Europeia". É o
primeiro acto desta construção que coincide com a primeira publica
Assinatura em Roma dos Tratados que instituem a Comunidade Económica
Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da
Energia Atómica (Euratom).
Entra em vigor a Política Agrícola Comum (PAC)
A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
Clara Mendonça
94
1964 1968 1972 1975 1977 1978 1981
LE GOFF, Jacques - La civilisation de l’Occident
médiéval. Paris: Arthaud, (col. « Les grandes civilisations » n° 3),
1964 ; nova edição, 1984.
Hérésies et sociétés dans l’Europe pré-
industrielle, XIe-XVIIIe siècle. Communications
et débats du colloque de Royaumont , Jacques
LE GOFF (dir.). Paris: Mouton, (col.
« Civilisations et sociétés » n° 10), 1968.
Jacques Le Goff e Pierre Nora (coord.)
- Faire de l’histoire. Paris:
Gallimard, 1974, e vols. ; reed. 1986,
col. « Folio Histoire » n.º 16-18.
LE GOFF, Jacques - Entretien avec
Claude Mettra. In J. Huizinga -
L’Automne du Moyen Âge. Paris:
Payot, 1975.
LE GOFF, Jacques - Pour un autre Moyen Âge. Temps,
travail et culture en Occident. Paris: Gallimard,
(col. « Bibliothèque des Histoires »), 1977; reed. (col.
« Tel » n° 181), 1991. E o artigo: « La naissance du
Purgatoire (XIIe-XIIIe s.) ». In La Mort au
Jacques Le Goff, Roger Chartier et
Jacques Revel - La Nouvelle Histoire. Paris: Retz CEPL,
1978.
LE GOFF, Jacques - La naissance du
Purgatoire. Paris: Gallimard,
(col. « Bibliothèque
des Histoires »), 1981 ; reed. (col. « Folio » n° 31),
1991 .
Quatro anos depois da encomendada e definitivamente abandonada a tese de
estado, Le Goff escreve a sua obra-prima. Tinha 40 anos quando resolveu aclarar as
ideias de vários anos de investigação, propondo uma aproximação global do
Ocidente medieval . Ele pr
Começam as emissões "Lundis de l’histoire", que se mantiveram pelo menos até
1987, na radio France-Culture, com a duração de 2 horas por
emissão. O colóquio agora passado a actas neste ano foi muito importante, pois ligou as heresias de toda a Europa ao
Sai a obra “Fazer a História” que já estava a
ser feita desde há 3 anos. Fase de maturidade e
consolidação teórica da Nova História trazida
pelos Annales . Le Goff escreve vários
prefácios. Muda o nome do seu 1º seminário para “Antropologia
histórica do Oc
Cria o GAHOM, grupo de Antropologia
histórica do Ocidente Medieval da EHESS, que dirige até 1992.
Deixa a presidência da EHESS que passa a ser ocupada por
François Furet.
Entra em vigor a pauta aduaneira comum.
São assinados em Bruxelas os tratados de adesão da Dinamarca, da Irlanda, da Noruega
e do Reino Unido às Comunidades
Europeias. Nove anos antes (1963) o General
de Gaulle tinha-se oposto à entrada do R.U.
Entrada da Grécia na Comunidade
Europeia que passa a ter 10 membros.
A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
Clara Mendonça
95
1985 1987 1992 1993 1994 1996 1998
LE GOFF, Jacques -
L’imaginaire médiéval.
Essais. Paris: Gallimard, (col. « Bibliothèque
des Histoires »), 1985 ; nova
edição, 1991.
LE GOFF, Jacques -
"L’appétit de l’Histoire",
Essais d’Ego-histoire, édité
par Pierre Nora. Paris: Gallimard,
(Bibliothèque des Histoires), 1987, p. 173-
239.
[escreve pequenos
artigos sem grande
relevância]
LE GOFF, Jacques -"L’Europe à l’école ", Le Débat, n° 77, novembre-décembre 1993, p. 176-181. E prefacia toda a
colecção que dirige, "Faire l'Europe": Préface à Ulrich Im Hof, Les Lumières en
Europe, trad. de l’allemand par Jeanne Etoré et
Bernard Lortholary, Paris, Ed. du Seuil, (Faire
l’Europe), 1993. Préface à Michel Mollat du Jourdin, L’Europe et la mer, Paris,
Ed. du Seuil, (Faire l’Europe), 1993. Préface à
Charles Tilly, Les révolutions européennes :
1492-1992, trad. de l’anglais par Paul Chemla, Paris, Ed. du Seuil, (Faire
l’Europe), 1993.
LE GOFF, Jacques - La
vieille Europe et la nôtre. Paris: Seuil,
1994. Préface à Umberto
Eco, La Recherche de
la langue parfaite dans
la culture européenne,
trad. de l’italien par Jean-Paul Manganaro. Paris: Seuil,
(Faire l’Europe),
1994.
LE GOFF, Jacques -Saint Louis.
Paris: Gallimard, (col. « Bibliothèque
des Histoires »), 1996. LE GOFF,
Jacques - Il Medioevo: alle
origini dell’identità
europea. Roma-Bari: Laterza,
1996. LE GOFF, Jacques -L’Europe
racontée aux jeunes. Paris: Seuil, 1996.
L´Ogre historien : autour de
Jacques le Goff, Éd. De Jean-Claude
Schmitt et Jacques
Revel. Paris: Gallimard,
1998, 353 pp.
Em 1986, redigiu o seu ensaio de
ego-história, intitulado "O desejo pela História",
publicado no ano seguinte.
Reforma-se do GAHOM e passa a sua presidência para Jean-Claude
Schmitt.
Começa-se a interessar pela ideia da Europa e pelo seu
ensino na escola. Lança, sempre numa aliança com a Le Seuil, a colecção “Faire L’Europe”. Esta colecção, para além da temática,
tem um âmbito de edição e distribuição europeu e mundial
(editada em simultâneo em vários países europeus e não só:França, Itália, Alemanha, Holanda, Turquia, Polónia,
Hungria, Grécia, Japão, Portugal, Coreia do Sul,
Eslovénia, Bulgária e Lituânia).
Reforma-se da EHESS. Continua a escrever sobre
o tema da Europa. Morre
George Duby. É editado o primeiro
livro sobre Le Goff, em
Inglaterra:"The Work of Jacques Le Goff and the Challenges of
Medieval History", Ed. by Miri Rubin,
Woodbridge, Boydell Press, 1997, 272 pp.
Lança-se na "tarefa bolímica de ogre" de compilar e reescrever as dezenas de artigos sobre o seu "S. Luís",
num volume com quase 1000 páginas, que dedicou à sua
mulher. Ao todo demorou 15 anos a escrevê-lo (cfr. na
“Avant propos” desse livro). Ganha, com esta obra, o Prémio Gobert da Academia francesa.
É editada a obra mais completa sobre o autor,
organizada pelo seu seguidor na
Ehess, Jean- Claude Schmitt.
Jacques Delors assume a
presidência da Comissão
Europeia até 1995.
Portugal e Espanha aderiram
no ano anterior (1986) às
Comunidades Europeias. Tem
início o programa "Erasmus".
Assinado em Maastricht o
Tratado da União Europeia, que
entrará em vigor em 1 de
Novembro de 1993.
É criado o mercado interno.
Assinados os tratados de adesão da Austria, da
Finlândia, da Noruega e da
Suécia.
Tem início o processo de adesão dos
novos candidatos : Chipre, Malta e
10 países da Europa Central e
Oriental.
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Clara Mendonça
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1999 2003 2004
LE GOFF, Jacques -Saint François d’Assise, Paris, Le Grand livre du mois,1999, 220 pp.
LE GOFF, Jacques - L'Europe est-elle née au Moyen Age ?. Paris: Seuil, " Faire l'Europe ",
2003, 341pp.
LE GOFF, Jacques - Héros du Moyen Âge, Le Saint et le Roy. Paris: Gallimard, "Quarto", 1 344
pp.
Duby dissera que gostaria de escrever uma biografia de São Francisco de Assis. Le Goff é quem a escreve 5 anos depois da morte daquele. Dirige com Jean-Claude
SCHMITT, "Dictionnaire raisonné de l’Occident médiéval", Paris, Fayard, 1999. Excelente dicionário que conta com a participação de dezenas de historadores que
são o paradigma do seu meio de leituras,de referências e de influências. Vd. a tabela das páginas seguintes acerca deste dicionário.
Tem 80 anos e ainda escreve livros como este e tem mais 2 no prelo.
Circulação do Euro, a moeda única.
Assinados s tratados de adesão do Chipre, Malta, Républica Checa,
Estónia, Letónia, Lituãnia, Hungria, Polónia, Eslováquia e Eslovénia. A Roménia e a Bulgária só entrarão em
2007.
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Clara Mendonça
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BIBLIOGRAFIA E INTERNET
1. Bibliografia
Obras de Jacques Le Goff
• Obras de referência (dicionários)
«La Nouvelle Histoire», dir. Jacques le Goff, Roger Chartier et Jacques Revel. Paris : Retz CEPL,
1978.
• Europa
LE GOFF, Jacques - «A velha Europa e a nossa». Lisboa: Gradiva, 1995.
LE GOFF, Jacques - «A Europa contada aos jovens». Lisboa: Gradiva, 1997.
LE GOFF, Jacques - « L'Europe est-elle née au Moyen Age ?». Paris : Seuil, " Faire l'Europe ",
2003.
• Outros temas
LE GOFF, Jacques - «La civilisation de l’Occident médiéval». Paris : Arthaud, (col. « Les grandes
civilisations » n° 3), 1964.
• E a versão portuguesa : LE GOFF, Jacques – «A Civilização do Ocidente Medieval».
Lisboa: Editorial Estampa, 1994, 2 vols.
LE GOFF, Jacques - «Marchands et banquiers du Moyen Âge». Paris : PUF, (col. « Que sais-
je? », n° 699), 1956
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• Direcção de obras
«Faire de l’histoire», dir. Pierre Nora et Jacques Le Goff. Paris : Gallimard, 1974.
• Artigos
LE GOFF, Jacques – «O desejo da História». In «Ensaios de Ego-História.» Lisboa: Edições 70,
pp.171-235.
LE GOFF, Jacques - «Memória», «Calendário», «História», «Passado/Presente»,
«Antigo/Moderno». In «Enciclopédia Einaudi», Ruggiero Romano (dir.) Lisboa: Imprensa Nacional
– Casa da Moeda, 1984, vol.1.
Obras de Outros autores
• Historiografia geral
BOURDÉ, Guy e MARTIN, Hervé - «As Escolas Históricas». Lisboa: Publicações Europa-
América, 1983.
BREISACH, Ernest – «Historiography: Ancient, Medieval and Modern». Chicago & London: The
University of Chicago Press, 1999.
BURKE, Peter (dir.) - «History and historians in the Twentieth Century». Oxford: Oxford University
Press, 2002. ISBN: 0-19-726268-6.
• Artigos sobre Le Goff
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CARBONELL, Charles-Olivier - «Le Goff: "L'historien et l'homme quotidien" (1972)». In «Les
Sciences historiques: de l'antiquité à nos jours», Charles Olivier Carbonell (dir.). S/L: Larousse,
1994, pp. 287-295.
DUMAYET, Pierre - «Télévision». In «L’ Ogre historien: autour de Jacques Le Goff». Paris:
Gallimard, 1998, pp. 55-58.
GEREMEK, Bronislaw – «La dette des médiévalistes». In «L’Ogre Historien : autour de Jacques
Le Goff». Paris : Gallimard, 1998, pp. 107-115.
NORA, Pierre – «Côte à côte». In «L’Ogre historien : autour de Jacques le Goff», Éd. De Jean-
Claude Schmitt et Jacques Revel. Paris : Gallimard, 1998, pp.57-69.
REVEL, Jacques – «L’ Homme des Annales?» In «L’ Ogre historien: autour de Jacques Le Goff».
Paris: Gallimard, 1998, pp. 33-54.
SCHMITT, Jean-Claude - «Le Seminaire». In «L’Ogre Historien : autour de Jacques Le Goff».
Paris : Gallimard, 1998, pp. 17-31.
TOUBERT, Pierre – «Tout est document». In «L’ Ogre Historien: autour de Jacques Le Goff».
Paris: Gallimard, 1998, pp. 85-105.
• Europa
CARBONELL, Charles-Olivier (dir.) – «De L’Europe. Identités et Identité. Mémoires et mémoire.
Actes du Congrés International Euro-Histoire 92, “Identités en Europe, Identité de l’Europe,
Monpellier du 21 au 23 novembre 1992». Toulouse : Presses de l’Université des sciences
sociales de Toulouse, 1996.
A EUROPA NAS OBRAS DE JACQUES LE GOFF
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CHABOD, Federico - «Storia dell’idea d’Europa». Bari: Laterza, 1961
DUMONT, Gérard-François – «L’Identité de l’Europe». Nice : Éditions C.R.D.P., 1997.
DUMONT, Gérard-François (dir.) – «Les racines de l’identité europeéne». Paris : Economica,
1999, 396pp.
DEUS PINHEIRO, João - «L’identité portugaise: d’une vision puré et dure, à une vision
européenne et universaliste». In «Les racines de l’identité europeéne». Gérard-François Dumont
(dir.) Paris : Economica, 1999, pp. 210-216.
FEBVRE, Lucien – «L’Europe .La genèse d’une civilisation». Paris : Perrin, 1999
• E a versão portuguesa. FEBVRE, Lucien - «A Europa. Génese de uma
civilização». [Lisboa]: Teorema, 2001.
GAILLARD, Jean-Michel et ROWLEY, Anthony – «Histoire du continent Européen». Paris : Seuil,
1997, 570 pp. ISBN: 2-02-023281-2
HAY, Denys - «Emergenmce of na Idea: Europe». Edinburgh University Press, 1957 e 1968.
2. Internet
• Bibliografia de Jacques Le Goff
http://www.ehess.fr/gahom/LeGoffbiblio.htm
• Críticas a Jacques Le Goff
http://www.h-net.msu.edu/reviews/showrev.cgi?path=9830894055268
http://livres.lexpress.fr/critique.asp/idC=7713/idTC=3/idR=12/idG=8
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• Entrevistas a Jacques Le Goff
http://www.eurozine.com/pdf/2003-09-05-goff-en.pdf
http://www.radiofrance.fr/chaines/franceculture2/emissions/toutarrive/fiche.php?diffusin_id= 19176
http:// www.francediplomatie.fr/label_france/ENGLISH/IDEES/LE_GOFF/le_goff.html.
• Homenagens a Jacques Le Goff
http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3260,36-348438,0.html
http://legoff.provincia.parma.it/
• Historiografia geral
http://www.cisi.unito.it/stor/home.htm
http://www.00h00.com/ livre/index.cfm? GCOI=2745410 0632310 &fa=preview
• Outros temas
http://www.presidenciarepublica.pt/pt/main.html.