a expansão do fenômeno do ecoturismo na ilha grande

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  • 8/9/2019 A Expanso do Fenmeno do Ecoturismo na Ilha Grande

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    XIX ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRRIA, So Paulo, 2009, pp. 1-17

    A EXPANSO DO FENMENO DO ECOTURISMO NA ILHA GRANDE ANGRA

    DOS REIS/RJ

    Romulo de Oliveira Costa

    [email protected]

    Prof. Dr. Glaucio Jos Marafon

    Resumo:O presente trabalho busca uma reflexo acerca do fenmeno do turismo naIlha Grande, distrito de Angra dos Reis, ou seja, desde sua gnese, nos anos 70, com

    a criao da Rodovia Rio Santos e o seu boom , nos anos 90, com a gradativa

    substituio da atividade pesqueira e agrcola, predominantes na Ilha at ento.

    Ressaltando, o discurso de conservao ambiental, pautado no ecoturismo, onde se

    tem apesar da lgica capitalista do negcio, um profundo conhecimento do local e a

    ideologia do turista como um desbravador que conserva o espao natural.

    O turismo rural est inserido na mesma lgica do ecoturismo, salvo a menor

    importncia dada conservao e a diferena dos espaos almejados. Assim, mister

    ressaltar que mal planejada a atividade turstica causa impactos ambientais como os

    vistos na Ilha Grande atravs dos resultados preliminares da pesquisa.

    Palavras Chave: Ecoturismo; Impactos ambientais; Ilha Grande.

    Abstract: This paper seeks a reflection about the phenomenon of tourism in Ilha

    Grande, district of Angra dos Reis, that is, from its genesis, in the 70, with the creation

    of Rio - Santos and his boom, in the 90, with the gradual replacement of fishing and

    farming activity, prevailing on the Island so far.

    Emphasising, the speech of environmental conservation, based on ecotourism, where

    he is despite the capitalist logic of the business, a thorough knowledge of local and

    ideology of tourists as a "desbravador that preserves the countryside".

    The rural tourism is inserted in the same logic of ecotourism, except the smallestemphasis on conservation and the difference of spaces desired. It is therefore poorly

    planned mister emphasized that the tourist activity causes environmental impacts such

    as seen in Ilha Grande through the preliminary results of search

    Keys - Words: Ecotourism; Environmental impacts; Ilha Grande.

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    XIX ENGA, So Paulo, 2009 COSTA, R. O. e MARAFON, G. J.2

    Introduo

    O presente trabalho destinase a uma viso reflexiva acerca do fenmeno do

    turismo, pautado na sua vertente sustentvel, o ecoturismo, na Ilha Grande, distrito de

    Angra dos Reis, localizada na Regio da Baa de Ilha Grande, no Estado do Rio dejaneiro.

    Tem se uma abordagem do fenmeno turstico, em escala global, com suas

    caractersticas e tendncias futuras para o melhor entendimento do mesmo na escala

    local. Verifica-se a dinmica histrica do distrito, em questo, mostrando a importncia

    de todos os ciclos econmicos em sua formao, e a predominncia da pesca, ao

    decorrer do sculo XX, com a substituio gradativa para a prtica turstica a partira da

    dcada de 70, com a implantao da Rodovia Rio-Santos.

    Analisa a emergncia da discusso da questo ambiental ao redor do mundo

    com a lgica dos protocolos, conferncias e correntes diversas que surgiram, no sculo

    XX e, sua conseqente, repercusso no Brasil atravs da implantao das Unidades de

    Conservao, na era da ditadura militar, com uma legislao especfica aliada

    prtica do ecoturismo, como atividade compatvel ao modelo preservacionista das Ucs,

    englobando a questo ambiental e cultural.

    Ademais, tem-se o embate entre os gestores das Unidades de Conservao

    representados pelos mais diversos rgos e a populao local, que j residia nessesespaos, hoje, compreendidos como territrio de preservao. Como pano de fundo o

    conflito, tambm existente, entre nativos e no-nativos..

    Por fim, o turismo visto como uma atividade que necessita de um

    planejamento adequado antes de sua realizao para se tirar o mximo proveito da

    mesma sem que haja a degradao ambiental. Fato que no ocorre, na Ilha Grande e,

    necessitando assim de uma intensa fiscalizao e a efetiva realizao da poltica

    preservacionista, como analisa (ROCHA, 2006)

    Que as leis que regem as unidades de conservao existentes na Ilha Grande,

    devem ser mais bem aplicadas, visando a um manejo eficiente na conservao desse

    importante conjunto de ecossistemas. Para tanto, as diversas instncias presentes na

    Ilha Grande devem acordar sobre suas atuaes e sobre os limites de tais atuaes,

    evitando a sobreposio de legislaes antagnicas e promovendo um manejo da Ilha

    como um todo.

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    Captulo 1: A abordagem turstica sustentvel na perspectiva territorial

    1.1 Turismo: A contraposio entre turismo de massa e turismo alternativo

    O turismo se consolida como uma atividade de cunho capitalista no sculo XIX

    com o chamado Grand Tour, ganhando importncia maior no decorrer do sculo XX eincio do sculo XXI, quando atravs da Revoluo Tcnico Cientfica Informacional

    o setor industrial perde cada vez mais espao para o setor de servios, que

    atualmente abriga a maior parte da mo de obra, responde por uma boa parcela de

    divisas geradas dos pases, entre outros, tendncia que s tende a aumentar no futuro.

    Como frisa (CRUZ 2001:4) O turismo, que, antes de mais nada, uma prtica

    social vem mudando de sentido ao longo da histria e cada nova definio consiste em

    nova tentativa de se conceituar algo que tem, reconhecidamente, uma dinmica

    inquestionvel.

    Hoje, para um cidado de qualquer parte do mundo estar praticando a atividade

    turstica, segundo a OMT (Organizao mundial do turismo), requer apenas que haja

    um deslocamento espacial com variados motivos para o mesmo, tais como: sade,

    lazer, trabalho, etc., tendo a permanncia de ao menos uma noite sem que se tenha

    remunerao direta.

    Uma amostra dessa dinmica inquestionvel da atividade turstica pode est

    relacionada, a priori, variao da cultura de um povo, que se firma como um doscondicionantes de tal atividade, pois em tempos e espaos diferentes o objeto de

    consumo do turista se mostra muito diferenciado, o que um estadunidense tem como

    lazer no seu imaginrio no corresponde ao de um alemo, mesmo vivendo num

    mundo globalizado, a cultura popular permanece.

    Assim, com a forte industrializao e urbanizao, primeiro nos pases

    desenvolvidos e, mais posteriormente, nos pases subedesenvolvidos, ou de

    industrializao tardia, o que levou a maioria da humanidade a viver nas cidades, surge

    o turismo alternativo em contraposio ao turismo de massa.

    Numa simples abordagem conceitual ( CRUZ 2001:6) define essas duas

    modalidades tursticas, respectivamente, da seguinte forma: a primeira engloba

    atividades de natureza, ecolgica, entre outras, se contrapondo ao turismo de massa

    que tende a mobilizar grandes contingentes de turistas, tendo diferenas , assim,

    significativas nos seus objetos de consumo.

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    Porm, vale a ressalva de que as duas atividades necessitam de um

    planejamento e infra estrutura para que possam ocorrer, como pode ser visto atravs

    da infra estrutura de deslocamento ( rodovirias, aeroportos, estradas), meios de

    hospedagem, bares, restaurantes, telefonia, saneamento bsico, entre outros.

    Visto assim, a importncia da aproximao da geografia com o turismo,dividindo se a atividade turstica geograficamente em trs partes principais: reas de

    disperso, de deslocamento e rea receptora, segundo (RODRIGUES, 2001).

    Como hoje, o turismo preza pelo conforto do turista cria se uma infra

    estrutura especializada para receb lo, alm da importncia da conservao dos

    espaos de deslocamento e dos espaos emissores onde localizam se empresas

    oficiais do governo e as agncias de turismo que representam a parte do mercado

    responsvel por elaborar pacotes tursticos vantajosos, contendo nesses pacotes

    elementos primordiais existentes no espao almejado do turista, tanto naturais quanto

    artificiais que pode ser representado pelas figuras abaixo:

    Figura 1 - Pousada Farol das Borbas

    Figura 2 - Paisagem natural da Ilha Grande

    Fotos retiradas de http://www.angra.rj.gov.br/asp/municipio/muni_ilhag.asp

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    1.2 A perspectiva sustentvel: turismo rural x ecoturismo

    Assim, o turismo alternativo encontra se dentro da perspectiva da atividade

    turstica sustentvel, tendo nfase nesse trabalho o chamado ecoturismo e o turismo

    rural, j que tal atividade se processa num espao marcadamente rural com relaes

    estritamente ligadas natureza, os vazios demogrficos, tendo como base a viso doautor Ricardo Abramovay.

    O ecoturismo define se segundo o Grupo de Trabalho Interministerial, com

    assinatura do Ibama e da Embratur como sendo: Um segmento da atividade turstica

    que utiliza, de forma sustentvel, o patrimnio cultural e natural, incentiva sua

    conservao e busca a formao de uma conscincia ambientalista atravs da

    interpretao do ambiente, promovendo o bem estar das populaes envolvidas. (

    MACHADO, 2001).

    Ento, o ecoturismo uma modalidade que visa o menor impacto no meio tanto

    natural quanto cultural, parte do respeito s diversas populaes, muita das vezes

    praticado em parques nacionais e estaduais, reserva de desenvolvimento sustentvel,

    entre outras unidades de conservao que permitam tanto a existncia de populao

    quanto a prtica de atividades tursticas em uma dada poro restrita do territrio em

    que se encontram.

    Num esquema simplif icado ( MACHADO, 2001) torna evidente todas as

    dimenses do ecoturismo desde sua lgica capitalista do negcio at seu objetivo deconservao dos espaos:

    Negcio

    +

    Conservao

    +

    ECOTURISMO = Desenvolvimento+

    Cultura

    +

    Natureza

    Adaptado de Machado, 2001

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    Dentro da mesma lgica tem-se a existncia da atividade turstica de cunho

    rural que se desenvolve em propriedades produtivas agropecurias e enfatizando o

    contato do turista com a cultura local.

    Como a Ilha Grande atravessou todos os ciclos concernentes economia

    brasileira, ainda esto presente as estruturas das atividades agrcolas e pesqueira quese processavam como unidades produtivas juntamente com o artesanato para a renda

    local do distrito, alm do fixo importante, o presdio Cndido Mendes que hoje abriga

    um centro de estudos da Uerj o que ocasiona a atividade turstica de cunho cientfico

    tambm.

    Ento, tem se a ocorrncia de diversas modalidades da atividade turstica no

    interior do distrito, porm, existindo diferenas marcantes entre as mesmas nas mais

    diversas esferas que englobam que podem ser observadas em diferentes aspectos

    analisados abaixo:

    Ecoturismo Turismo rural

    Palavra Chave : Conservao Atividade agropecuria

    Cuidados : Extremos Bsicos

    Conhecimento local: Profundo Superficial

    Grupos : Reduzidos Reduzidos mdios

    Ocorrncia : reas naturais rea rural

    Adaptado de Machado, 2001.

    Assim, numa anlise apurada do esquema acima, pode ser visto que o turismo

    dito rural no baseia suas atividades tendo em vista a conservao do espao natural e

    da cultura local, diferentemente do ecoturismo, onde o turista deve possuir profundo

    conhecimento do local, alm de se ter cuidados extremos.

    Portanto, apesar de ocorrer em espaos semelhantes deve ser ter sempre em

    mente que as atividades tursticas, apesar de estarem englobadas na perspectiva

    sustentvel possuem diferenas marcantes em todo seu processo de formulao.

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    1.3 Anlise territorial: turismo como um misto de componentes

    partir do sculo XX, dentro dessa perspectiva de conservao, entra em pauta

    a questo ambiental atrelada ao turismo, ou seja, mais um componente que se soma

    na atividade turstica, que segundo (RODRIGUES : 1997) deve ser analisada tomandopor base seus vieses econmicos, sociais, culturais, polticos e at psicolgicos.

    Ademais, segundo a autora supracitada, num artigo elaborado (RODRIGUES:

    1999), a mesma diz assim: Sabemos, com certeza, que o turismo representa, hoje,

    uma das mais importantes formas de reproduo do capital e de captao de divisas

    no comrcio internacional. reconhecido como uma atividade que se presta muito

    lavagem de dinheiro do narcotrfico, do jogo, da sonegao de impostos e da

    corrupo.

    Assim, pode ser visto o quo complexa a atividade turstica, j que a mesma

    dentro do modo de produo capitalista possui diversos segmentos, desde os

    reconhecidos legalmente at as atividades clandestinas e subversivas.

    Portanto, dentro dessa complexidade da atividade turstica a melhor forma de

    compreenso se d atravs do territrio que, nas dcadas de 50 e 60, sofreu uma

    reformulao abrigando dentro de sua perspectiva alm das relaes de poder, outros

    elementos, tais como: economia, poltica, cultura (E-P-C), dentre outros (SAQUET:

    2007).

    Entre os vrios autores que trabalharam nessa nova perspectiva destaca se

    Claude Raffestin que afirma o territrio como sendo: Um espao modificado pelo

    trabalho e revela relaes de poder. (SAQUET, 2007, pag. 75).

    Logo, numa anlise do turismo na Ilha Grande, tal conceito aparece expresso

    quando se percebe a presena das pousadas que modificam o espao, antes marcado

    por outras atividades e que so, em sua maioria, de empresrios provenientes de

    outros locais que no a Ilha Grande, os ditos no nativos, que exercem um podereconmico atravs do salrio nos nativos da Ilha Grande.

    Tambm com o descrito acima se verifica o fenmeno T D R (territorializao

    desterritorializao reterritorializao), onde segundo (RAFFESTIN, 1984) um

    processo de relaes sociais, de perda e reconstruo de relaes .

    Como muito bem analisa (OLIVEIRA: 2006) tal fenmeno nos permite inserir a

    lgica de movimento que na viso do autor (HAESBAERT, 2004, in oliveira) Trata se

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    de uma vasta mudana de escala: iniciando com territrio etolgico ou animal,

    passamos ao territrio psicolgico ou subjetivo e da ao territrio sociolgico e ao

    territrio geogrfico que nos permite a relao sociedade e natureza.

    Dentro da perspectiva turstica o territrio divide-se em 3 partes principais com

    suas respectivas territorialidades que so: mercado, planejadores territoriais e turistas,segundo (CRUZ, 2001).

    Cada componente possuindo sua prpria dinmica territorial e suas respectivas

    aes nos mais diversos segmentos do territrio, como pode ser visto abaixo:

    a) Mercado representa a iniciativa privada, onde se tem o cerne da atividade

    turstica, pois a priori as agncias de turismo como representantes mximos de

    tal segmento e profissionais reconhecidos, como os guias tursticos utilizam seda lgica capitalista do negcio, da concorrncia e do lucro na busca de que os

    turistas comprem seus pacotes de viagens, oferecendo assim: melhores preos,

    maior conforto, etc.

    b) Planejadores territoriais so os que tm o maior contato com o espao onde

    se d a prtica turstica, podendo ser representadas pelas mais diversas esferas

    de poder tanto municipal, quanto estadual, quanto federal. Tal representao se

    d atravs de rgos como: Secretaria municipal de turismo, Secretaria Estadual

    de turismo, Empresa Brasileira de turismo, no caso brasileiro, entre outros, queatravs de polticas pblicas modelam o espao turstico para que o mesmo

    possa atender a demanda e as necessidades do turista.

    c) Turista - o agente social primordial da prtica turstica, que dentre seus maiores

    anseios esto: o objeto turstico atenda suas necessidades, uma infra-estrutura

    bsica para seu conforto e lazer, dentre outros.

    mister ressaltar que todos os segmentos tm sua real importncia e, se um

    deles, no existissem a prtica turstica jamais ocorreria, ou algum pensa em turismo

    sem turista?

    Portanto, o turismo enquanto prtica social com deslocamento territorial

    reconhecido possui uma complexa juno de elementos primordiais que fazem de tal

    prtica, hoje, uma das mais importantes economicamente, socialmente, dentre outros

    aspectos.

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    Captulo 2 - Ilha Grande: da pesca ao turismo, a lgica preservacionista e falta de

    planejamento.2.1 Da pesca ao turismo

    A Ilha Grande localiza se no municpio de Angra dos Reis, que teve sua

    origem ligada fundao da vila de Angra dos Reis e, que a partir dela e de seumunicpio, surgiu o municpio de Parati dando origem, assim, atual Regio da Baa de

    Ilha Grande. Tal localidade angrense divide-se em duas partes distritais: na poro

    oeste, o de Araatiba e, na poro leste, o de Abrao. A localizao pode ser vista no

    mapa abaixo:

    Mapa 1

    O processo de ocupao de tal regio supracitada est intimamente ligado com

    a colonizao brasileira, onde os portugueses ocuparam o espao correspondente aolitoral e, somente depois, penetraram o interior da regio, devido principalmente ao

    quadro natural marcadamente configurado entre a serra do mar e o oceano.

    Tal panorama contribuiu para que a Ilha Grande, em seu panorama econmico,

    repercutissem todos os ciclos econmicos, levando formao da populao caiara,

    que diz respeito ao modo de vida de uma dada populao que reside no litoral.

    Fonte: CIDEOrganizao: COSTA 2008

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    No sculo XX, a Ilha abrigava dois tipos de atividades em que quase toda sua

    populao estava inserida: o Instituto penal Cndido Mendes e a pesca.

    O primeiro localizado, na vila de Dois Rios, foi inaugurado em 2 de Abril de

    1940, sendo o principal responsvel pela manuteno da beleza cnica da Ilha Grande.

    Nos seus ureos tempos abrigou presos da Ditadura e, tambm, presos perigosos oque levava ao afastamento dos turistas. Foi implodido, em 1994, sendo doado, aps

    esse fato, atravs de um acordo, para a Uerj por cinqenta anos.

    A segunda atividade supracitada teve grande importncia econmica at

    dcada de 90, quando por problemas ambientais ligados, principalmente, ao no

    respeito da poca de desova de peixes e a forma como se pescava, perdeu sua fora

    como principal atividade econmica da Ilha.

    Assim, com o declnio de tais atividades, o turismo aponta, j na dcada de 70,

    com a implantao da Rodovia Rio Santos como um agente econmico importante,

    mas se consolidando como principal atividade econmica da Ilha Grande, somente, na

    dcada de 90. Visto que, somente nessa dcada, a rede de transportes, realmente,

    teve uma melhora significativa, deixando para trs tanto a precariedade da rodovia Rio-

    Santos, quanto a falta de barcas que levassem o turista at Ilha.

    Como analisa (PRADO, 2004) em relao mudana do eixo econmico da

    atividade pesqueira para o turismo, tomando como base fixa existentes, no territrio

    estudado: Muitos eloqentes e expressivas a mudana do eixo econmico daatividade da pesca para o eixo econmico da atividade do turismo na Ilha, so algumas

    das antigas fbricas de sardinha hoje transformadas em pousadas, que podem ser

    vistas nas diferentes da face da Ilha voltada para o continente.

    Portanto, atravs da proliferao das pousadas, penses e resorts como infra-

    estrutura de hospedagem para se atender demanda turstica, a maior insero da

    populao economicamente ativa da Ilha na atividade turstica, entre outros faots, nota-

    se a gradativa substituio dos valores sociais e econmicos em prol do fenmeno do

    turismo.

    Tal fato pode ser constatado pelo estudo realizado de (SVEN WUNDER, 2006),

    onde o autor mostra que, na dcada de 70, existiam menos de 100 pousadas, e j no

    boom da atividade turstica, na dcada de 90, existiam quase 2000 pousadas na Ilha

    como um todo.

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    Assim, no s para a Ilha Grande, mas para toda a regio da Baa da Ilha

    Grande, o fenmeno do turismo foi de suma importncia como agente econmico

    dinamizador, onde se valeu principalmente da questo da paisagem natural, e mais

    posteriormente com o discurso preservacionista para manuteno de tal paisagem. (

    MARAFON, RIBEIRO, SILVA , DA SILVA E DE LIMA)

    2.2 A lgica preservacionista

    A questo ambiental comeou a ser discutida, no sculo XX, principalmente,

    partir da Conferncia de Estocolmo, realizada no ano de 1972, onde os participantes

    discutiram a questo dos pases em desenvolvimento, na perspectiva de crescimento a

    qualquer custo e, a conseqente, degradao ambiental, tendo como pauta, a

    destruio da camada de Oznio.

    Aps realizada a conferncia supracitada, sucederam se tantas mais, tais

    como: protocolo de Montreal, Conferncia de Nairbi, ECO 92, entre outras, findando

    no protocolo de Kyoto, onde se mudou a perspectiva de agressores do meio

    ambiente, com os pases desenvolvidos, dessa vez, sendo responsabilizados pelas

    grandes emisses de gases poluentes , o que levaria ao fenmeno do aquecimento

    global.

    Inserido, num contexto global, somente, a partir da dcada de 70, o Brasil, na

    ento ditadura militar, comea a pensar na questo ambiental e estabelece alegislao especfica pertinente s Unidades de Conservao (Ucs), que tinham como

    lgica principal, a preservao e conservao das reas com grandes e ricos

    ecossistemas, sendo as mesmas de dois tipos: Unidade de Conservao por proteo

    integral e por uso sustentvel.

    Dentro dessa lgica do militarismo de proteo de uma rea do territrio

    nacional contra inimigos, como frisa (CATO, HELENA E CARNEIRO, MARIA JOS)

    provavelmente influenciou a forma autoritria pelas quais estas unidades foram

    criadas, sem a participao das populaes envolvidas nem da sociedade em geral

    nesse processo, onde em algumas unidades de conservao permitida a realizao

    de atividades em seu interior e, outras, no.

    Num pequeno resumo da autora (CRUZ, 2004) as dez Unidades de

    Conservao existentes, no Brasil, segundo o Ibama so:

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    a) Parques (nacionais, estaduais, municipais): proibida a explorao de recursos

    naturais; dispem, em grande parte dos casos, de reas destinadas visitao; em

    geral, as reas abertas visitao so pores restritas de seu territrio e a

    visitao pode ser controlada de modo a evitar impactos ambientais.

    b) Reservas florestais: destinam-se pesquisa cientfica; no so abertas visitao

    pblica; podem ser no futuro, aps a realizao de pesquisas, transformadas em

    parques ou outro tipo de reserva.

    c) Reservas biolgicas: so unidades de conservao de proteo integral e esto

    destinadas preservao integral da biota; no so abertas visitao para

    finalidades de lazer.

    d) Reservas de desenvolvimento sustentvel: tm o objetivo de preservar a natureza

    e, tambm, de assegurar as condies e os meios para a reproduo dos modos

    de vida da populao local.

    e) Estaes ecolgicas: so unidades de conservao de proteo integrais e abertas

    apenas pesquisa cientfica; a visitao pblica somente permitida com objetivos

    educacionais.

    f) reas naturais Tombadas: abarcam uma pequena extenso territorial,

    normalmente, correspondente a um acidente geogrfico; a visitao permitida,

    mas controlada.

    g) reas de Relevante interesse ecolgico: permitem uso sustentvel e abrigam reas

    com caractersticas naturais extraordinrias ou exemplares raros da biota nacional.h) reas de proteo integral: so reas j transformadas pelo homem e que

    comportam, diferentemente de outras categorias de conservao, a presena do

    homem no seu interior; como se tratam de reas abertas, so de livre acesso

    visitao.

    i) Reservas particulares de patrimnio natural: a principal diferena entre essa

    unidade de conservao e as demais, como o prprio nome diz, se trata de uma

    unidade particular, porm esto submetidas legislao federal de proteo dos

    ambientes.

    Surge, ento, em todo o territrio nacional a lgica da prtica do ecoturismo,

    como sendo, uma forma de conciliar a conservao da cultura local e o meio -

    ambiente.

    Valendo ressaltar, como afirma o autor (MACHADO, 2001) a diferena entre

    conservao e preservao, onde para a prtica ecoturstica utilizase do primeiro

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    termo, visto que o mesmo permite a visitao pblica e a prtica de atividades

    compatveis com a manuteno dos espaos, j o segundo diz respeito s reas

    intangveis para o visitante.

    O potencial ecoturstico brasileiro, segundo (CRUZ, 2004) est ligado aos seus

    principais ecossistemas, tais como: Floresta Amaznica;

    Mata Atlntica;

    Cerrado;

    Pantanal;

    Caatinga ou semi rido;

    Floresta de Araucria;

    Campos do Sul

    Ecossistemas costeiros e insulares.

    Dentro da classificao de ecossistemas costeiros e insulares, o territrio da

    Ilha Grande, tambm seguiu a lgica nacional e teve implantado no seu territrio

    diversas Unidades de Conservao com o propsito de proteger seus ecossistemas e

    preservar suas florestas, aliado prtica do ecoturismo, como principal atividade

    econmica configurada.

    Dentre as unidades criadas esto: Parque Estadual da Ilha Grande, de 1971,

    administrado pelo IEF (Instituto Estadual de Florestas), Reserva Biolgica Estadual da

    Praia do Sul administrada pela FEEMA (Fundao Estadual de Engenharia do Meio

    Ambiente, alm da rea de Proteo Ambiental dos Tamoios e Parque Estadual

    Marinho do Aventureiro, ambos subordinados FEEMA).

    Ademais, temos a criao da Reserva Biolgica da Ilha Grande abrangendo

    toda a Ilha, que na anlise de (CATO, HELENA E CARNEIRO, MARIA JOS) No

    considerada nem pelos rgos ambientais, na medida em que alm de se sobrepor s

    outras unidades de conservao, instala uma situao inteiramente contraditria poissegundo o decreto de criao no poderia haver em toda a Ilha Grande nenhum tipo de

    ocupao humana.

    Assim, pode ser visto pelas Ucs descritas acima, que nem todas permitem

    atividades dentro de seus territrios, visto que algumas em sua essncia so de

    proteo integral e, outras de uso sustentvel. Portanto, a atividade ecoturstica

    encontra se, em alguns locais da Ilha Grande, em conflito com essas protegidas

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    XIX ENGA, So Paulo, 2009 COSTA, R. O. e MARAFON, G. J.14

    pelos mais diversos rgos das mais diversas esferas de poder (Federal, Estadual,

    entre outros).

    Alm disso, outro fator importante relacionado instalao das unidades de

    conservao diz respeito s populaes locais, que muita das vezes tem de serem

    remanejadas dos espaos que ocupam h anos, pois determinadas unidades nopermitem ocupao em seu interior. Com isso, verifica-se, freqentemente o choque

    entre gestores das unidades e os nativos (populao residente).

    Outro fato proveniente de tal trinmio, unidades de conservao ecoturismo

    populao local, est ligado ao fato de embates entre culturas de nativos e no

    nativos, onde a populao residente tem a percepo de que os novos habitantes

    vindo de diversos locais e, com diferenas sociais e culturais marcantes causam alm

    dos benefcios como, por exemplo, gerao de renda local atravs do turismo,

    malefcios muitos maiores, que dizem respeito, na viso de (PRADO, 2004), a:

    Disputa de valores;

    Marginalizao de nativos;

    Sentimento de invaso, entre outros.

    Assim, o ecoturismo tem provocado diferenas significativas na Ilha Grande o

    que leva a uma mudana brusca em diversos mbitos: tanto social, quanto cultural,quanto econmico, quanto ambiental, dentre outros, levando assim, a necessidade de

    uma fiscalizao sria dos rgos que administram as Unidades de Conservao para

    que no se tenha prejuzos de nenhum tipo e, nem se desvie do objetivo principal do

    ecoturismo constitudo numa prtica turstica que utiliza, de forma sustentvel, o

    patrimnio cultural e natural (in MACHADO, 2001).

    2.3 Falta de Planejamento

    Como visto, ao longo desse trabalho, o turismo configurou se como sendo a

    principal atividade econmica da Ilha Grande, impondo a esse distrito suas

    caractersticas primordiais que so representadas por: meios de hospedagem,

    absoro de grande parte da PEA (Populao Economicamente Ativa), abertura de

    trilhas, dentre outros.

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    A expanso do fenmeno do ecoturismo na Ilha Grande Angra dos Reis/RJ, pp. 1-17 15

    Normalmente, quando determinada atividade exercida, principalmente, como

    geradora de lucro, numa lgica do negcio como o turismo, que pertence ao setor

    tercirio, ou seja, de servios e lazer tem se feito um planejamento adequado para

    que se possa extrair o mximo proveito da atividade.

    Esse planejamento deve tomar por base a perspectiva de conservao doobjeto que a atividade em questo explora, nesse caso, a paisagem natural da Ilha

    Grande, para que a mesma possa perdurar pelos anos seguintes, no afetando assim,

    o bom andamento da atividade turstica.

    Mas como analisa (ROCHA, 2006) h a percepo de que o turismo no

    apresenta um planejamento adequado onde os estudos sobre as condies locais

    indicam que esteja operando acima da capacidade de suporte, ou seja, pode ser visto

    que hoje a Ilha Grande recebe mais turistas do que o meio em questo suportaria,

    sendo necessrio um empenho muito maior de recursos para a recuperao de reas

    degradadas fruto de voorocas, ravinas, desmatamento, dentre outros.

    Assim, tem se a impresso de que o turismo referido como se tratasse de

    uma entidade com suas formas e contornos prprios, como nos apresenta (PRADO,

    2004). Logo, a prtica turstica antecede o planejamento adequado, que deveria existir,

    visando a conservao do espao e, no havendo assim, degradao ambiental que

    nos trazido pela existncia de voorocas, ravinas.

    Consideraes preliminares

    Logo pode ser visto que a atividade turstica floresce cada vez mais no

    municpio de Angra dos Reis, mais especificamente no Distrito da Ilha Grande em sua

    maioria.

    Para tanto necessrio que se sigam os objetivos desse vertente turstica, ou

    seja, a conservao em reas naturais preservadas com cuidados extremos em

    relao ao ambiente envolvido, e com o profundo conhecimento do local.

    O que no observado hoje, visto que a atividade turstica sustentvel cresce

    sem um planejamento adequado, perdendo assim seu foco principal que a

    preservao ambiental aliada ao crescimento sustentvel do local envolvido.

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    XIX ENGA, So Paulo, 2009 COSTA, R. O. e MARAFON, G. J.16

    REFERNCIAS

    CRUZ, Rita de Cssia Ariza da. Introduo Geografia do turismo. So Paulo, 2001,

    Roca.

    CATO, Helena & CARNEIRO, Maria Jos. Conservao ambiental, turismo e

    populao local. In.: Congresso Acadmico de Desenvolvimento e Meio

    Ambiente.

    MACHADO, lvaro. Ecoturismo:um produto vivel. A experincia do Rio Grande do

    Sul. Rio de janeiro, SENAC nacional, 2005.

    ______. Ilha Grande: uma anlise dos impactos ambientais provocados pela

    turistificao sem um planejamento adequado. In. MARAFON, Jos Glaucio &

    RIBEIRO, Miguel ngelo (orgs.). Novos caminhos para velhos problemas: A

    geografia no programa de educao tutorial

    PRADO, Rosane Manhes. As espcies exticas somos ns: uma reflexo do

    ecoturismo na Ilha Grande, Uerj, 2003.

    ROCHA, Ilana Campos. Os impactos ambientais e o processo de gesto integrada:

    experincias na Vila de Abrao Ilha Grande, Angra dos Reis (RJ). In. : Revista

    Sociedade e Natureza, Universidade de Uberlndia, 2006.

    RODRIGUES, Adyr Balastreri. Turismo e espao: rumo a um conhecimento

    transdisciplinar. So Paulo, 1997, Hucitec.

    SAQUET, Marcos Aurlio. Abordagens e Concepes do Territrio. So Paulo, Editora

    Expresso Popular, 1 edio, 2007.

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    A expanso do fenmeno do ecoturismo na Ilha Grande Angra dos Reis/RJ, pp. 1-17 17

    Wunder, Sven. Modelos de turismo, florestas e Rendas locais. In.: PRADO, Rosane

    (org.)Ilha Grande: do sambaqui ao turismo, 2006.

    PRADO, Rosane Manhes. As espcies exticas somos ns: uma reflexo do

    ecoturismo na Ilha Grande, Uerj, 2003.

    PREFEITURA MUNICIPAL DE ANGRA DOS REIS. Angra Legal. Disponvel em:

    Acessado em 16 jul. 08.

    PREFEITURA MUNICIPAL DE ANGRA DOS REIS. Turismo Interativo. Disponvel

    em: < http://www.angra.rj.gov.br/turismointerativo/index.aspx > Acessado em 15

    jul. 2008.