a gente cansa de nÃo saber nada” -...
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
Gerciane Ramos Dias
“A GENTE CANSA DE NÃO SABER NADA”:
Representações Sociais de escola dos estudantes da EJA
Garanhuns
2015
1
Gerciane Ramos Dias
“A GENTE CANSA DE NÃO SABER NADA”:
Representações Sociais de escola dos estudantes da EJA
Garanhuns
2015
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como requisito parcial para a obtenção do título
de Licenciado em Pedagogia pelo Curso de
Licenciatura em Pedagogia da Universidade
Federal Rural de Pernambuco, Unidade
Acadêmica de Garanhuns
Orientadora: Profa. Ma. Taynah de Brito Barra
Nova
2
Ficha Catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Setorial UFRPE/UAG
CDD: 374.981
1. Educação do adolescente
2. Representação social
3. Educação de adultos
4. Prática docente
I. Nova, Taynah de Brito Barra
II. Título
D541g Dias, Gerciane Ramos
A gente cansa de não saber nada: representações
sociais de escolas dos estudantes da EJA / Gerciane
Ramos Dias. – Garanhuns, 2015.
85 f.
Orientadora: Taynah de Brito Barra Nova
Monografia (Curso Licenciatura em Pedagogia) –
Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade
Acadêmica de Garanhuns, 2015.
Inclui bibliografias
3
4
Dedico este trabalho a minha mãe Raquel, sinônimo de luta e força.
A minha avó Augusta (in memoriam) pela dedicação quando eu ainda estava
aprendendo a ler e escrever as primeiras palavras.
A todos que de alguma maneira contribuíram para sua construção com ações,
palavras ou orações.
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AGRADECIMENTOS
Porque para Deus nada é impossível.
(Lc. 1.37)
São muitos agradecimentos a fazer pela conclusão deste trabalho. Ao longo de quatro
anos convivi com muitas pessoas que contribuíram de maneira singular para que chegasse até
aqui. É impossível lembrar ou citar o nome de todas, mas vou registrar aqui as que estiveram
mais próximas e que mesmo sem saber me ajudaram e estimularam meu caminhar.
Primeiramente agradeço a Deus que me formou. Aquele que tem poder para fazer
infinitamente mais, além do que pedi e do que sonhei. Um Deus grande que sempre cuida de
mim com muito amor. Sem Ele, não teria a fé e a coragem para realizar este trabalho. Meu
maior amigo, pai, companheiro e ajudador.
A minha mãe por ter permitido que eu viesse ao mundo, por nunca ter desistido de mim,
pelos ensinamentos, paciência e a força de sempre.
A todos da minha família, ao meu irmão, aos de perto, aos de longe, que sempre torcem
por mim.
Ao sorriso lindo do meu sobrinho Guilherme.
A todos os amigos, que não citarei os nomes; pessoas que sempre me encorajam a
continuar, sintam-se todos abraçados com imensa gratidão.
Ao Curso de Licenciatura em Pedagogia da UAG e ao corpo docente que integra o
curso, foram quatro anos de muito aprendizado e amizade. Agradeço imensamente aos que
estiveram mais perto, me ajudando no processo de formação, com seu incentivo, respondendo
todas as mensagens que enviei quando precisei de ajuda, de documentações, orientações, entre
outros; em especial aos professores Gustavo Lima e Heloísa Bastos pelas contribuições.
Aos funcionários em geral, pessoas disponíveis e acessíveis, sempre prontas a ajudar.
Ao professor Valdir Eduardo que me proporcionou o primeiro contato com a história da
EJA e a Teoria das Representações Sociais, através de suas enriquecedoras aulas.
A professora Marlene Maria Ogliari que na disciplina de PEPE II, nos incentivou a
realizar a pesquisa na EJA. Através daquele contato foi possível perceber a importância de
estudar esta modalidade de ensino.
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Ao professor Robson Santos que proporcionou aulas significativas, cooperando para
realização deste trabalho, além de ser um docente incentivador.
Ao professor Robson Eugênio, que não hesitou em cooperar conosco, nas pesquisas no
âmbito da EJA, meu carinho e admiração pelo professor que és.
Aos graduandos da turma 2015.1, agradeço pela partilha de todos os dias, foram quatro
anos construídos aos poucos, com muito aprendizado e crescimento.
Aos amigos que Deus marcou o ano de 2011 para nos encontrarmos, Arlam Pontes e
Mylena Tenório, meninos lindos que levarei comigo para sempre, nossos lanches, nossas
risadas, nossas reclamações, nosso comprometimento e responsabilidade, agradeço o carinho
e a compreensão, e estou certa que Deus tem algo lindo e especial preparado para vocês, pois
são merecedores. Um muito obrigado à Elânia Mendes que principalmente na reta final do
curso esteve presente compreendendo nossas ansiedades e preocupações e partilhando
conosco dos trabalhos acadêmicos.
Aos amigos de curso que constituí durante a caminhada na UAG, Charliel Couto, Kelly
Lima, entre outros, muito obrigada!
Um obrigado especial pela amizade ao amigo Alex Lima, uma pessoa especial, que
aprendi a admirar pela sua simplicidade e sensatez, seus conselhos são sempre válidos e bem-
vindos.
Não poderia deixar de agradecer a Edilene Vilaça, que em 2011, enquanto secretária de
educação do município de Garanhuns, não hesitou em organizar meu horário e local de
trabalho para que facilitasse os meus estudos.
Agradeço à Escola Municipal Artur Brasiliense Maia que sempre me acolheu seja como
funcionária ou como pesquisadora.
Agradeço imensamente à Escola Dom Expedito Lopes, na pessoa de d. Valdecy Lyra,
educadora admirável, que esteve à frente do seu tempo provando que um sonho pode se tornar
realidade, basta persistir naquilo que almejamos; agradeço pelas contribuições para a minha
formação acadêmica, seja nos trabalhos diários ou nas liberações para participações em
eventos acadêmicos. Os agradecimentos se estendem à Ana Claudia Lyra pela confiança em
mim como profissional e pessoa e a todos os funcionários da escola, amo todos. Meus
sinceros agradecimentos.
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Meus agradecimentos à Escola Municipal Padre Dehon, pela acolhida em um momento
crucial do curso.
A todas as escolas que nos serviram como campo de estágio, minha gratidão e
reconhecimento pela participação em minha formação.
Pensou que eu iria te esquecer? Não. Chegou a hora de agradecer a minha orientadora,
professora Taynah de Brito Barra Nova, Pedagoga elegante, que me recebeu tão bem como
sua orientanda. Meus sinceros agradecimentos por aulas tão inspiradoras durante a caminhada
na UAG e pelo apoio e orientações para o desenvolvimento e conclusão deste trabalho mesmo
às vezes eu estando tão distante devido aos compromissos diários, mas nossos encontros
sempre foram recheados de muito aprendizado. Não conseguiria realizar este trabalho sem as
suas orientações, ajuda e compreensão. Minha admiração, carinho, e amizade. Quando eu
crescer quero ser Pedagoga como você.
Agradeço a disposição da banca, professores Valdir Eduardo, Lucas Castro e Robson
Santos que não hesitaram em contribuir com este estudo.
Encerro meus agradecimentos com o sentimento que muito ainda falta agradecer,
sobretudo a Deus, pela sua soberania, pois em minha vida foi sobrenatural, mas, com a certeza
de que este é apenas um passo dado, um passo que em muitos momentos devido às atividades
diárias, foi árduo e doloroso, mas hoje chego ao topo dessa etapa com o mesmo sentimento
poético de Cecília Meireles, quando diz que “No último andar é mais bonito, no último andar
se vê o mar. É lá que eu quero morar. O último andar é muito longe, custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar”. Hoje, o meu sentimento é este, de ter chegado ao último andar
deste edifício chamado graduação e bem mais do que ter um diploma em mãos, eu serei
Pedagoga e poderei contribuir de alguma forma para uma melhor educação no meu país.
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A Escola
Escola é...
o lugar em que se faz amigos.
Não se trata só de prédios, salas, quadros,
Programas, horários, conceitos...
Escola é sobretudo, gente.
Gente que trabalha, que estuda
Que alegra, se conhece, se estima.
O Diretor é gente,
O coordenador é gente,
O professor é gente,
O aluno é gente,
Cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
Na medida em que cada um se comporte
Como colega, amigo, irmão.
Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”.
Nada de conviver com as pessoas e depois,
Descobrir que não tem amizade a ninguém.
Nada de ser como tijolo que forma a parede, Indiferente,
frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar.
É também criar laços de amizade, É criar ambiente de
camaradagem,
É conviver, é se “amarrar nela”!
Ora é lógico...
Numa escola assim vai ser fácil! Estudar, trabalhar, crescer,
fazer amigos, educar-se, ser feliz.
É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo.
(Paulo Freire)
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RESUMO
Este trabalho propõe cercar os saberes partilhados socialmente entre estudantes da Educação
de Jovens e Adultos. O objetivo do estudo é analisar as Representações Sociais de escola,
partilhadas entre estudantes da EJA, no município de Garanhuns/PE. O estudo apresenta um
passeio pelos caminhos históricos percorridos pela Educação de Jovens e Adultos,
apresentando um recorte a partir da década de 1930. Seguindo a fundamentação teórica
necessária para dar base ao estudo, buscamos discutir sobre a importância de ouvir os
estudantes da EJA e a função da escola enquanto nosso objeto de estudo. Em seguida,
apresentamos a Teoria das Representações Sociais através de um breve histórico, definições e
abordagens. A pesquisa foi realizada na cidade de Garanhuns/PE, com 14 estudantes da
Educação de Jovens e Adultos, em duas escolas distintas. Para cercarmos os sentidos
atribuídos pelos estudantes à escola, utilizamos a observação, o questionário e a entrevista
enquanto instrumentos de coleta de dados, e a Análise de Conteúdo guiou nossa interpretação
dos dados. Sabendo que as Representações Sociais se constituem como um conhecimento
elaborado socialmente que contribui para a construção de uma realidade comum a um
conjunto social, os resultados deste estudo nos revelam que a escola está representada por
estudantes da EJA, como local para aquisição da leitura e da escrita, privilegiado para
alcançar melhor qualidade de vida e lugar de interação social. Nesse sentido, a escola é
legitimada nas respostas dos sujeitos investigados como sendo um lugar com aspectos
positivados.
Palavras – chave: Educação de Jovens e Adultos, Escola, Representação Social.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11
CAPÍTULO I - UM PASSEIO PELA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: O
ENCONTRO ENTRE SUJEITOS E ESCOLA ................................................................... 16
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL: CAMINHOS HISTÓRICOS E
POLÍTICOS ............................................................................................................................ 17
OUVIR PARA COMPREENDER: A IMPORTÂNCIA DE DAR ECO A VOZ DOS
ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ......................................... 24
A ESCOLA COMO OBJETO DE ESTUDO ....................................................................... 29
CAPÍTULO II - A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ................................. 32
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: BREVE HISTÓRICO, DEFINIÇÕES E
ABORDAGENS ...................................................................................................................... 32
CAPÍTULO III - METODOLOGIA DA PESQUISA ......................................................... 36
TIPO DE PESQUISA ............................................................................................................. 36
SUJEITOS DE PESQUISA ................................................................................................... 39
INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .................................................................... 44
CAPÍTULO IV - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................. 46
OS MOTIVOS QUE LEVAM OS ESTUDANTES AO ABANDONO ESCOLAR E AS
NECESSIDADES QUE OS FAZEM RETORNAR ............................................................ 47
A INSTITUIÇÃO ESCOLAR: O QUE É, E PARA QUÊ SERVE? ................................. 52
ENTRE DESEJOS E EXPECTATIVAS: OS ANSEIOS NO RETORNO À ESCOLA .. 55
CAPÍTULO V - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 58
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 61
APÊNDICE A – FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA ........................................ 66
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ........... 68
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO DOS ESTUDANTES ........ 69
APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ....................... 70
APÊNDICE E – TRANSCRIÇÕES DAS ENTREVISTAS ................................................ 71
11
INTRODUÇÃO
Continuo buscando, reprocurando. Ensino porque
busco, porque indaguei, porque indago e me indago.
Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e
comunicar e anunciar a novidade.
(FREIRE, 1996, p. 32)
A Educação de Jovens e Adultos apresentada na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional nº. 9394/96 (LDBN) como uma modalidade de ensino destinada aos que
não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos na idade adequada, visando a
continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio. A referida lei garante condições de
acesso e permanência na escola, para estudantes maiores de quinze anos que ainda não
concluíram o Ensino Fundamental e maiores de dezoito que não concluíram o Ensino Médio.
Como objetivo, Soek; Haracemiv e Stoltz (2009) apontam que a EJA deve “formar
cidadãos capazes de lutar por seus direitos e de se apropriar dos conhecimentos mediados pela
escola para se aprimorar no mundo do trabalho e na prática social” (p. 29), uma vez que o
público da EJA é formado por pessoas atuantes na sociedade que partilham do senso comum
e se apropriam de conhecimentos adquiridos através de suas vivências.
Esses sujeitos possuem uma bagagem de conhecimentos adquiridos
em outras instâncias sociais, visto que a escola não é o único espaço
de produção e socialização dos saberes. Essas experiências de vida são
significativas para o processo educacional e devem ser consideradas
(p.22).
Nesse sentido, a escola deve propiciar aos estudantes um espaço de encontro entre os
saberes advindos das vivências e o saber escolar, fazendo com que os estudantes vejam
significado em frequentá-la e sintam a importância da escola para sua vida social. Nessa
perspectiva a escola se constitui além de um espaço de aquisição de conhecimento, um lugar
onde se estabelecem relações, assim como aponta Sacristán e Goméz (2000):
a escola deve prover os indivíduos não só, nem principalmente, de
conhecimentos, ideias, habilidades e capacidades formais, mas
também, de disposições, atitudes, interesses e pautas de
12
comportamento. Assim, tem como objetivo básico a socialização dos
alunos (p. 19).
Acredita-se ser esta uma proposta mais condizente com as necessidades do público
que retorna à escola na EJA. A alfabetização deve ter um significado mais abrangente, indo
além do domínio código escrito e possibilitando uma leitura crítica do mundo em que está
inserido. Nesse sentido, deve-se refletir sobre a variedade de experiências, saberes e interesses
encontrados entre os estudantes da EJA. Esses valores fazem da instituição um local de
transmissão de cultura e de estímulo à interação dos alunos, contribuindo para a formação do
cidadão consciente, educando-o para participação social, sem se submeter facilmente às
injustiças e desigualdades existentes.
Entendendo que esses estudantes retornam à escola, cheios de expectativas e se sentem
desafiados diante da heterogeneidade da turma e da organização escolar encontrada diferente
da que frequentaram quando ainda eram crianças, surgiu a curiosidade de compreender como
esses estudantes representam socialmente a escola.
Esta pesquisa buscou iniciar uma aproximação com a Teoria das Representações
Sociais, proposta por Moscovici em 1961 através do estudo da Psicanálise. Moscovici, em
seus estudos, propôs estudar como um conhecimento científico passa a ser partilhado pelos
vários estratos sociais da sociedade parisiense, no caso, como a Psicanálise era compreendida
pelos diferentes grupos sociais e como esses conhecimentos orientavam as práticas dos
sujeitos. Essa teoria vem sendo adotada por pesquisadores em diversas áreas e ganha
relevância na área educacional por proporcionar novas formas de compreender os objetos do
campo da educação sob o olhar da subjetividade. Ela propõe tratar dos saberes do senso
comum, elaborados de forma coletiva, com o objetivo de interpretar o que acontece no
cotidiano. Para Moscovici (2003) o senso comum está continuamente sendo criado e recriado
na sociedade. A Representação Social busca compreender melhor um grupo social, por meio
daquilo que os homens propagam, mediante o uso de expressões e gestos, tornando o que é
ignorado em notório. Assim, como argumenta Andrade (2003):
os elementos das representações sociais não só expressam as relações
sociais, mas também na sua construção, conferem-lhe um valor funcional na
compreensão de nós mesmos e dos outros, transformando o núcleo figurativo
em guia de leitura, generalizando padrões que criam referências para a
compreensão da realidade. Esse sistema interpretativo serve de mediação
entre os sujeitos e o seu meio, e entre os componentes de um mesmo grupo,
13
possibilitando a resolução das situações com as quais se deparará,
transformando-se em uma linguagem comum, servindo tanto para
compreender e classificar acontecimentos e indivíduos de um mesmo grupo,
como para fazê-lo em relação a acontecimentos e grupos estranhos, dando ao
processo de ancoragem mais uma função, a de instrumentalização do saber.
A ancoragem enraíza a novidade num sistema de pensamento (p. 86).
Seguindo este pensamento, de acordo com Jodelet (2001a), uma das representantes do
pensamento de Moscovici, as representações sociais devem ser encaradas como uma forma de
conhecimento socialmente elaborado e partilhado, tendo em vista um objetivo prático e
concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (p. 36). O
homem é um ser social que tem suas próprias características, porém, relaciona-se com outras
pessoas e partilha suas experiências. Essa interação social faz com que haja uma mudança de
ações, constituindo representações que orientam o comportamento, permitindo uma
comunicação e compreensão entre os indivíduos na construção de uma identidade social, “[...]
elas são impostas sobre nós, transmitidas e são o produto de uma sequência completa de
elaborações e mudanças que ocorrem no decurso do tempo e ao resultado de sucessivas
gerações” (MOSCOVICI, 2003, p. 37).
Desta forma a pesquisa em Representações Sociais nos permite entender qual a gênese
dos sentidos que os estudantes atribuem à experiência escolar do ponto de vista deles, através
das suas falas e das suas atribuições.
O interesse por este objeto de estudo, nasceu do convívio diário no ambiente de
trabalho com jovens e adultos, além do interesse em ampliar os estudos acerca do contexto
histórico e das individualidades dessa modalidade de ensino no Brasil e da necessidade de dar
voz a esses sujeitos, que retornam a escola, cheios de expectativas e anseios. Na
universidade, o primeiro contato com a EJA foi através da pesquisa realizada como critério
avaliativo da disciplina Prática Educacional Pesquisa e Extensão II e nos aproximamos da
Teoria das Representações Sociais através da disciplina Identidade Cultura e Sociedade. No
sexto período tivemos a disciplina Educação de Jovens e Adultos que contribuiu para
cercarmos de maneira mais precisa o desenrolar histórico da EJA.
Através dos contatos estabelecidos, foi possível notar que os estudantes da EJA
chegam à escola com uma carga de conhecimentos prévios e com uma representação formada,
decorrente da sua situação anterior, de exclusão, rejeição ou abandono escolar. A escola passa
a ser fator principal na vida dos estudantes e, aos poucos, passa do estranhamento para algo
necessário. Portanto, nossa proposta é nos aproximarmos dessas representações.
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Para investigar, compreender e apreender os saberes comuns que são partilhados
diariamente entre estudantes da Educação de Jovens e Adultos, o presente estudo busca
responder: como os estudantes da Educação de Jovens e Adultos representam a escola no
Município de Garanhuns/PE? Desenvolvemos este estudo com fins a alcançar os seguintes
objetivos:
OBJETIVO GERAL
Analisar as Representações Sociais de escola, partilhadas entre estudantes da
Educação de Jovens e Adultos, no município de Garanhuns/PE.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar o conteúdo das Representações Sociais de Escola;
Compreender como essas representações, influenciam a relação dos estudantes com a
Instituição Escolar.
Consideramos que este estudo pode contribuir para nos aproximarmos da importância da
escola na vida desses estudantes, considerando o valor do discurso dos participantes e suas
concepções acerca do objeto representado com a finalidade de promover projetos e políticas
que atendam às suas necessidades. Os estudantes carregam consigo saberes, vivências,
culturas e valores; a escola deve proporcionar a estes, enquanto sujeitos, a oportunidade de
construir o cenário da Educação voltado ao estudante trabalhador que retorna à escola para
concluir seus estudos. Nossa proposta é contribuir enquanto pesquisadora, para uma tomada
de atitude frente a esta modalidade de ensino que é vista de forma preconceituosa e
frequentemente esquecida pelos órgãos públicos educacionais. Para tal finalidade, o trabalho
foi dividido em capítulos organizados da seguinte forma:
Capítulo I: propomos um breve passeio pela Educação de Jovens e Adultos, discutindo
inicialmente os aspectos históricos e políticos da referida modalidade de ensino, com o
objetivo de situar o leitor no contexto em que a Educação de Jovens e Adultos está inserida.
Em seguida refletiremos sobre a importância de ouvir os sujeitos que compõem a referida
modalidade de ensino, no intuito de compreender como eles pensam à escola, como a
representam e o que esperam dela. Também apresentaremos um panorama dos trabalhos de
conclusão de curso (TCC) realizados entre os anos de 2009 a 2015 no curso de Licenciatura
em Pedagogia da UFRPE/UAG, nossa intenção será nos aproximarmos dos trabalhos que
tenham a temática voltada para Educação de Jovens e Adultos, sobretudo, que se propuseram
15
a ouvir os estudantes da referida modalidade de ensino. Finalizamos este primeiro momento
discutindo sobre os objetivos e funções da EJA, e que tipo de escola é necessário para
alcançá-los.
Capítulo II: a discussão volta-se para a Teoria das Representações Sociais apontando
suas contribuições para o campo educacional e para as pesquisas realizadas na Educação de
Jovens e Adultos.
Capítulo III: apresentamos nosso percurso metodológico a fim de que o leitor
compreenda o caminho percorrido para a realização deste estudo, como, o tipo de pesquisa, os
cenários da pesquisa, os sujeitos de pesquisa e os instrumentos de coleta de dados.
Capítulo IV: apresentamos as análises dos resultados a partir das informações
coletadas pelos instrumentos utilizados, tendo por base os aportes teóricos das Representações
Sociais e da Educação de Jovens e Adultos, identificando as representações sociais dos
estudantes da EJA sobre a escola.
Capítulo V: Estão expostas as considerações finais acerca do estudo realizado e as
hipóteses para estudos futuros.
16
CAPÍTULO I - UM PASSEIO PELA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: O
ENCONTRO ENTRE SUJEITOS E ESCOLA
O campo da EJA está se firmando de maneira
muito intensa com sua especificidade, com suas
dificuldades próprias e também com suas
deficiências que precisam ser vencidas. Quem
trabalha com Educação de jovens e adultos não
atende pessoas “desencantadas” com a educação,
mas sujeitos que chegam à escola carregando
saberes, vivências, culturas, valores, visões de
mundo e de trabalho.
(CORTADA, 2013, p. 21)
Neste capítulo buscamos refletir sobre os rumos e políticas para a Educação de Jovens
e Adultos no cenário nacional, considerando que os movimentos e campanhas voltadas para
esta modalidade de ensino, se inspiraram no paradigma da educação popular. Buscamos voltar
o olhar para EJA, enquanto modalidade de ensino garantida dentro das políticas públicas, de
modo a atender às demandas dos jovens e adultos, estudantes, que procuram a escola para
concluir os estudos, como sujeitos de direitos, que buscam sua participação efetiva nas
estruturas sociais, se aproximando da condição de sujeitos pensantes ao invés de sujeitos
pensados, conforme Abdalla (2004). Assim, acreditamos oportunizar aos estudantes expressão
de seus conhecimentos e suas expectativas, quebrando o silenciamento, muitas vezes
enfrentado por eles, e dar voz a esses sujeitos.
Este capítulo está organizado da seguinte maneira: primeiro é realizada uma discussão
sobre os rumos históricos e políticos da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, mostrando as
lutas pela alfabetização como instrumento de inclusão e emancipação dos jovens e adultos em
busca da apropriação da leitura e da escrita e, sobretudo a possibilidade de compreensão e
transformação de uma realidade. No segundo sub tópico, é abordada a importância de dar voz
ao público da Educação de Jovens e Adultos, que retorna à escola em busca de novas
oportunidades e descobertas, necessitando de um olhar diferenciado diante das suas
especificidades. Dentro desse contexto, é apresentado um panorama das pesquisas realizadas no
âmbito do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Unidade Acadêmica de Garanhuns entre os anos de 2009 a 2015. No terceiro subtópico, a
escola é abordada como objeto de representação do nosso estudo e apresentamos seus objetivos
e funções diante do contexto da EJA.
17
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL: CAMINHOS HISTÓRICOS E
POLÍTICOS
Eu acho que a leitura é uma coisa que não se compra com dinheiro.
(E9C2T3)1
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) se enquadra no contexto histórico da educação
no Brasil de modo geral, e das diversas transformações sociais, econômicas e políticas,
ocorridas a partir da década de 1930. De acordo com Soek; Haracemiv; Stoltz (2009) a
Revolução desta década, deu origem ao processo de reformulação da sociedade brasileira,
desencadeando transformações decorrentes do processo de industrialização e impulsionando as
autoridades a implementação de ensino supletivo para adultos sem escolarização.
Como afirma Soek (2010), a educação no Brasil, durante um longo período, foi
destinada às classes sociais mais abastadas, favorecendo apenas uma pequena parcela da
população. Esse quadro proporcionou o aumento no índice de pessoas não alfabetizadas,
tornando cada vez mais necessárias, iniciativas no combate nacional ao analfabetismo.
Em 1932 o analfabetismo no Brasil se apresenta como principal problema da nação,
sendo este, considerado pelas forças políticas nacionais, como a causa das dificuldades
enfrentadas. Com a finalidade de combater o analfabetismo, funda-se em 1932 a Cruzada
Nacional de Educação, (CORTADA, 2013; PAIVA, 2003), com objetivo de apagar o índice de
analfabetismo que degradava o Brasil. A Cruzada era reconhecida pelo governo como entidade
de utilidade pública, através do decreto nº 21.713 de 1932, e seus principais colaboradores eram
encontrados nas forças armadas, na indústria, comércio e classes conservadoras, que afirmavam
formar uma união contra a ignorância popular e consideravam que a alfabetização se constituía
no elemento básico para a solução de todos os problemas políticos e sociais enfrentados,
Constatou-se na Cruzada Nacional de Educação uma retomada do criticado
“Entusiasmo pela Educação”, movimento desvelado nos anos de 1920, que
priorizava a expansão quantitativa das escolas justificando a necessidade de
alfabetizar os brasileiros, aumentar as riquezas, bem como “apagar” a
mancha vergonhosa de 80% de pessoas analfabetas, posto que um país como
essa quantidade de pessoas sem instrução não poderia ser considerado
desenvolvido. Verificou-se ainda que na expansão de escolas primárias não
havia preocupação com a qualidade do ensino, era focalizada apenas a
alfabetização (RIBEIRO, 2011, p. 228).
1 Os sujeitos foram codificados da seguinte forma: Todos os estudantes receberam uma numeração de 1 a 14,
seguidos da indicação da instituição (cenário), e da turma em que estava matriculado. Desta forma, E9C2T3
significa estudante 9 do Cenário 2 matriculado na turma 3.
18
Nesta conjuntura política, o Plano Nacional de Educação, previsto na Constituição de
1934, reconheceu a educação como direito de todos, pondo o ensino primário extensivo ao
adulto, gratuito, como dever do Estado e direito do cidadão. Neste período, um sistema
público de educação elementar no país, começa a se consolidar, dando direito aos estudantes
de receberem Livro Didático e Dicionário de Língua Portuguesa, é nesta Constituição que se
apresenta a necessidade de oferecer educação básica para jovens e adultos que não puderam
concluir seus estudos. Nesta perspectiva, se começou romper o paradigma que a escola era
imprescindível apenas para as crianças.
Mas, é, sobretudo na década de 1940, com o fortalecimento dos princípios
democráticos, que iniciativas políticas e pedagógicas começaram a tomar corpo no cenário
nacional. O quadro de analfabetismo no Brasil configurava uma situação crítica no que se
refere ao número de pessoas não escolarizadas, desencadeando inúmeras iniciativas políticas
que passaram a deter maior atenção para este público. Os estudos de Soek (2010) apontam
que em 1940 no recenseamento geral, foi divulgado que 55% dos brasileiros com mais de 18
anos ainda não eram alfabetizados. Esse resultado fez com que o país mobilizasse campanhas
para combater o analfabetismo.
Em 1945, com o fim da era Vargas, o país vivia uma redemocratização política, sendo
necessário oferecer uma instrução mínima a população. Com a criação da UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) os países integrantes,
inclusive o Brasil, começaram a solicitar a educação de pessoas adultas analfabetas. Gadotti
(2008) faz menção a esta iniciativa, afirmando que, entre os anos de 1946 a 1958, campanhas
e congressos de erradicação do analfabetismo, começaram a surgir, devido a uma pressão
internacional, sendo a educação, um meio de atuar no desenvolvimento de nações atrasadas.
Entre eles, em 1947 ganha destaque o I Congresso Nacional de Educação de Adultos,
que trouxe em seu bojo o slogan "ser brasileiro é ser alfabetizado". Nessa conjuntura, o
governo brasileiro, lançou a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos – CEAA. A
referida Campanha consistiu em uma alfabetização intensiva com a finalidade de “alfabetizar
e reintegrar”, conscientizando o cidadão a fim de que este conheça os seus direitos
fundamentais, demonstrando assim, uma maior preocupação com a quantidade de pessoas
formadas e não com a qualidade. Considerando o momento de democratização que o país
vivenciava, era plausível que os adultos estivessem em condições de exercer o direito do voto.
A Campanha alcançou resultados significativos e se estendeu a diversas regiões
brasileiras, com a criação de escolas e a diminuição no índice de analfabetos. Entretanto,
19
como afirma Soek, Haracemiv e Stoltz (2009), o movimento começou a perder forças no final
da década de 1950:
A avaliação da Campanha de Educação de Adultos mostrou-se vitoriosa na
sua primeira década, pois além da ampliação das classes e escolas,
possibilitou a elevação da taxa de alfabetização. No entanto, a execução da
campanha foi sendo cada vez mais descentralizada e, com a mudança de
governo, foram se extinguindo as verbas, ficando as ações da campanha cada
vez mais dependentes de doações e dos trabalhos de voluntários da base
popular (p. 11).
Com o insucesso da referida campanha, em 1952 o Ministério da Educação e Cultura
organizou a Campanha Nacional de Educação Rural e em 1958 a Campanha Nacional de
Erradicação do Analfabetismo, no entanto, as duas campanhas tiveram vida curta (HADADD
E PIERRO, 2000; SOEK; HARACEMIV E STOLTZ, 2009). Ambas se preocupavam mais
com índices quantitativos do que qualitativos, isto é, priorizavam a elevação do índice de
alfabetizados em função da qualidade da educação, como forma de promover uma
emancipação política e cultural da população (PAIVA, 2003).
As críticas referentes às campanhas de Educação de Adultos convergiram para uma
nova postura diante das necessidades educativas. Cunha e Góes (1994) ressalta que um grande
número de educadores começou a enxergar além da sala de aula, isto é, começaram a olhar e
estudar o mundo. Segundo os autores, os educadores começaram a perceber que era
necessário compreender a realidade em que se estavam inseridos e promover a discussão de
ideias, isto consistia em um novo paradigma pedagógico para a educação de adultos, cuja
referência principal, foi o educador Paulo Freire2.
Em 1958, entre o declínio das campanhas de alfabetização de adultos, ocorreu o II
Congresso Nacional de Educação de Adultos, realizado no Rio de Janeiro, com o objetivo de
orientar a educação para o desenvolvimento. Paiva (2003) cita que:
A convocação do Congresso resultou da convicção de que as condições do
país tinham mudado, que as novas condições exigiam providências no
terreno da educação dos adultos e que os programas existentes não poderiam
oferecer diretrizes válidas ao governo nessa tarefa. Cabia aos congressistas,
diante das atuais condições sociais, econômicas e culturais do país, rever os
2 Paulo Freire (1921-1997) reconhecido pelas contribuições à educação brasileira, com atuação e reconhecimento
internacionais. Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, ele
desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Para Freire, o objetivo maior da educação é
conscientizar o aluno. Isso significa, em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade, levá-las a entender sua
situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação.
20
objetivos da educação dos adultos e fixar novas diretrizes, tendo em vista o
empenho do atual governo no sentido de orientar a educação em todos os
níveis e grau de desenvolvimento (p. 235).
Apesar dos esforços para instaurar uma reflexão pedagógica em torno do
analfabetismo, as campanhas de educação de adultos ocorridas nesse período, não
conseguiram dar conta de produzir uma proposta metodológica específica para este público.
Experiências educativas organizadas por diversos atores e com aparato governamental, com o
objetivo de contribuir na construção de uma sociedade mais justa e democrática, começaram a
surgir na década de 1960, através da organização de grupos populares, sindicatos e
movimentos sociais (VIEIRA, 2006).
Neste contexto, começaram a surgir no território nacional, em especial no Nordeste,
expressivos movimentos de educação e cultura popular, entre os anos de 1961 e 1963, com
base nas ideias de Paulo Freire que tinha uma preocupação em oferecer uma educação de
adultos politizadora, voltada para a transformação social, conscientizando os indivíduos da
realidade que os cerca. Este período, denominado por Haddad e Di Pierro (2000, p. 111) como
“período de luzes”; começou a considerar as peculiaridades dessa modalidade, que até então,
era desenvolvida através de recursos transplantados do ensino com crianças.
Na conjuntura política e econômica, o país passava por uma efervescência que
possibilitou a emergência de movimentos populares voltados para a educação de adultos. Para
Vieira (2006):
Tais movimentos são representativos das condições sociais e econômicas do
país e das lutas e mobilizações do período, operando um salto qualitativo em
relação às campanhas desenvolvidas pela União. O que os tornava
radicalmente diferentes das propostas anteriores era o compromisso político
explícito, assumido com os grupos oprimidos da sociedade e sua orientação
direcionada à transformação das estruturas sociais. Grande parte dessas
experiências era desenvolvida por instituições da sociedade civil com o
apoio do Estado, em suas diferentes estâncias (p. 111).
Dentre estas campanhas, se sobressaíram o Movimento de Educação de Base (MEB)3
que foi organizado pela Conferência Nacional dos Bispos, e patrocinado pelo governo federal
em 1961; o Movimento de Cultura Popular da Prefeitura de Recife4 (MCP); os Centros
3 Para maiores informações sobre o MEB, indicamos http://www.meb.org.br/index.php/quem-somos
4 Para maiores informações sobre as Campanhas, indicamos: http://forumeja.org.br/edupopular
21
Populares de Cultura, órgãos culturais da União Nacional dos Estudantes; a Campanha de Pé
no Chão Também se Aprende a Ler, da Secretaria Municipal de Natal; a Campanha Nacional
da Educação Rural (CNER), que funcionou de 1952 a 1963; o Programa Nacional de
Alfabetização do Ministério da Educação e Cultura, que contou com a participação do
professor Paulo Freire (Rocha, 2010).
Sobre estes projetos, Rocha (2010) menciona que a nova forma de pensar a Educação
de Adultos, propunha um tratamento didático e pedagógico específico. Assim a Educação de
Adultos se torna um forte instrumento de valorização da cultura popular e de ação política.
Em consonância com este pensamento, Paulo Freire contrapunha a educação bancária com a
problematizadora; para ele, o homem não é um ser passivo, ignorante e vazio, mas, sujeito da
aprendizagem. Nesta perspectiva, a educação deve estabelecer uma relação dialética, partindo
do contexto real do educando, valorizando seus saberes e sua cultura. Segundo Freire (1987)
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo” (p. 39). Sobre isto o autor ainda cita que “para o educador-
educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é [...] um
conjunto de informes a ser depositado nos educandos, mas a revolução organizada,
sistematizada e acrescentada ao povo, daqueles elementos que este lhe entregou de forma
desestruturada” (p.47).
Dentro desta perspectiva, Paulo Freire, como responsável do projeto de educação
MCP, sentiu a necessidade de organizar materiais de alfabetização, que contemplavam os
aspectos da realidade dos alunos com a intenção de problematizar tal realidade. Os educandos
eram concebidos como sujeitos da ação desenvolvida. O projeto Angicos por ele desenvolvido
em 1963, diante do seu êxito ganha projeção nacional e influencia em 1964 o Plano Nacional
de Alfabetização (PNA) decreto nº 53.465, favorável a utilização de cartilhas e aceitação do
método Paulo Freire como instrumento do PNA (PAIVA, 2003).
Os primeiros meses de 1964 foram constantemente ameaçados pela nova conjuntura
política, e os movimentos que visavam a politização dos estudantes foram abandonados,
resultando na extinção prematura do Plano Nacional de Alfabetização (PNA), como explica
Soek (2010):
Com o reordenamento político para proporcionar condições de
desenvolvimento do modelo capitalista, a educação básica para jovens e
adultos ficou nas mãos de governos autoritários, a partir do ano de 1964,
havendo repressão direta aos trabalhos envolvidos com a Educação Popular
proposta por Paulo Freire (p. 22).
22
Durante este período várias mudanças políticas e sociais, sobretudo, na educação de
adultos, se fizeram presentes: os movimentos em prol da alfabetização e que fortaleciam a
cultura popular foram proibidos e os materiais utilizados, confiscados. Esses materiais foram
vistos como uma grave ameaça à ordem e seus promotores foram duramente reprimidos,
(BRASIL, 2001, p. 26). Ainda segundo o documento, os programas de alfabetização de
adultos, continuavam acontecendo de forma assistencialista e conservadora. Em 1967, dentre
estes programas, o governo passou a desenvolver o sistema MOBRAL (Movimento Brasileiro
de Alfabetização), uma metodologia que tecnicamente se aproximava do que era proposto por
Paulo Freire, entretanto, deixava de lado a autonomia, a problematização e reflexão.
Em 1985, com a redemocratização do país, o MOBRAL foi extinto e como lembra
Gadotti (2008, p. 36), foi criada a Fundação Educar, que não possuía os recursos do
MOBRAL, mas tinha objetivos mais democráticos.
Na Constituição de 1988, em seu artigo 208, a Educação de Jovens e Adultos tem a
primeira referência, na garantia de ensino público obrigatório. De acordo com Capucho
(2012) “No Brasil pós-ditadura, esse direito alçou legalidade com a Constituição de 1988, a
qual assumiu o ensino básico obrigatório e gratuito como direito público subjetivo, estendido
para todos (as), inclusive aos que a ele não tiveram acesso na idade própria” (p. 22).
Nesse sentido, a luta pela igualdade e o enfrentamento às diversas formas de exclusão,
resultaram na garantia da Educação de Jovens e Adultos como modalidade da Educação
Básica. Os sistemas públicos de ensino ficaram responsáveis pela oferta, acessibilidade e
permanência de jovens e adultos na escola, criando ações integradas e complementares, a fim
de garantir oportunidades educacionais e qualidade no ensino (CAPUCHO, 2012, p. 22). A
autora ainda faz referência à educação de adultos como um direito humano; para ela, jovens e
adultos devem ser reconhecidos como sujeitos de direitos e a modalidade de ensino que
atende a esse público, deve ter papel prioritário dentro dos investimentos e políticas
afirmativas no campo educacional.
Isso quer dizer, situações as quais para igualização dos desiguais se faça
necessário tratamento desigual, o que sem dúvida é o caso da Educação de
Jovens e Adultos, a qual demanda um tratamento diverso ao atribuído à
educação dita regular, em virtude da dívida histórica para com a educação do
(a) estudante trabalhador (a) (CAPUCHO, 2012, p. 23).
23
Nesta perspectiva foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei 9.394/96), que estabeleceu no artigo II, seção V, a Educação de Jovens e Adultos,
reafirmando o direito dos trabalhadores ao ensino básico gratuito:
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não
tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio
na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos
jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular,
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do
alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e
exames. § 2º O poder público viabilizará e estimulará o acesso e a
permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e
complementares entre si (BRASIL, 1996).
Diante das afirmações, podemos ressaltar além da oferta de vagas, o reconhecimento
das especificidades e interesses dos sujeitos envolvidos, levando em consideração suas
experiências, saberes, condições de vida e de trabalho. Entretanto, as ações em relação a EJA,
apresentadas na LDB não trouxeram melhorias com grandes significados e as políticas
educacionais para esta modalidade ainda caminham a passos lentos. Sobre isto, Rogerro
(2013), cita que:
A Educação de Jovens e Adultos tem sido uma das temáticas em educação
com menor avanço efetivo ao longo da história do sistema educacional
brasileiro. Ao público menos favorecido socioeconomicamente, tem restado
o reconhecimento do menor favorecimento, mas não têm sido direcionadas
políticas capazes de superar o problema do acesso, permanência e conclusão
de uma parcela ainda significativa da população brasileira (p. 41).
Diante do desenrolar histórico e político da Educação de Jovens e Adultos no Brasil,
percebe-se que apesar do reconhecimento como modalidade de ensino, os sujeitos que a
constitui, possuem peculiaridades que ainda precisam ser reconhecidas. De acordo com Lima
e Silva (2015), o educando da EJA está inserido no mundo do trabalho e das relações
interpessoais, desse modo deve ser considerada a sua longa história, carregada de
experiências, conhecimentos acumulados e reflexões, possibilitando aos mesmos diferentes
habilidades e capacidade de refletir sobre o conhecimento e seu processo de aprendizagem.
As escolas que recebem os estudantes da EJA, atualmente estão respondendo ao primeiro
elemento constituinte da modalidade que é o acesso à escolarização, entretanto deve ainda
prover-se de mecanismos pedagógicos e políticos que possibilitem a permanência desses
24
estudantes na instituição escolar, diminuindo a evasão e proporcionando a conclusão da
educação básica.
Seguindo este pensamento, a EJA além de ser uma política educacional deve oferecer
condições sociais que elevem o índice de ensino daqueles que não tiveram acesso ou a
possibilidade de concluir seus estudos na idade certa. De acordo com o parágrafo segundo do
artigo 37 da LDB, a população deve ter acesso a essa modalidade de educação, com condições
dignas de funcionamento que favoreçam o acesso à inclusão social, melhoria na qualidade de
vida pessoal e profissional além do fortalecimento da cidadania.
A EJA é um território de encontros e desencontros devido à heterogeneidade que é
constituída. As experiências diárias são permeadas de sentidos e significados e a escola é
concebida como espaço de construção de identidade. Nessa perspectiva torna-se necessário
que o jovem e o adulto além de aprender a linguagem escrita, seja um sujeito histórico,
atuante em sua sociedade, ciente dos seus direitos e deveres. Essa formação, Ponte (2012)
chama de recolocação; é a superação da condição de marginalizados para uma recolocação
nas esferas sociais e culturais, das quais antes não participava de maneira efetiva,
constituindo-se como sujeito histórico.
Enfim, através do caminhar histórico pela trajetória da Educação de Jovens e Adultos no
Brasil, é possível perceber que o desenrolar histórico da educação está atrelado ao contexto
político e histórico vivenciado. É notório verificar que as conquistas no âmbito da educação
de adultos são realizadas a passos lentos e com entraves que impedem seu real avanço.
Atender as necessidades deste público é ter um olhar voltado a entender as especificidades
que o cerca, compreendendo os motivos que levaram os estudantes ao afastamento da
instituição escolar e quais as expectativas dos mesmos ao retornarem à instituição.
OUVIR PARA COMPREENDER: A IMPORTÂNCIA DE DAR ECO A VOZ DOS
ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Não é no silêncio que os homens se
fazem, mas na palavra, no trabalho, na
ação-reflexão.
(FREIRE, 1987, p. 78).
Buscar compreender o sujeito da Educação de Jovens e Adultos é enxergar nele a
capacidade de atuar politicamente na tentativa de circunscrever a marca da marginalização
25
que recai sobre eles advinda da trajetória de abandono escolar ou até mesmo da falta de
oportunidade de frequentar a escola enquanto criança. Considera-se importante compreender
não apenas as questões estruturais, mas, numa perspectiva de totalidade do processo de
representação, busca-se interpretar as diferentes formas que o sujeito se relaciona com o
objeto de representado.
Considera-se importante para o estudo, o valor do discurso do estudante da EJA, suas
concepções e interpretações acerca do objeto representado, neste caso, a escola. Para Freire
(1987), a dialogicidade implica em um pensamento crítico que busca uma educação libertária
e conscientizadora levando os homens a terem consciência de si e do mundo.
Oportunizar a estes estudantes a inserção na instituição é um direito que deve ser
efetivado através da atuação efetiva de políticas sociais, nesse sentido, ressaltamos a
realização da 6ª Conferência Internacional de Jovens e Adultos (CONFINTEA VI) em Belém
do Pará, no ano de 2009, com o objetivo de dialogar e avaliar as políticas públicas que
favorecem a educação e o aprendizado de jovens e adultos. O documento final do evento5
aponta a diversidade encontrada no público que frequenta tal modalidade de ensino e
demonstra a necessidade de ouvir os sujeitos, saber quem eles são, o que pensam e quais seus
desejos e expectativas. Através das suas falas torna-se possível uma tomada de atitude frente a
esta modalidade, levando-a a uma educação emancipadora.
Dar voz aos educandos é uma maneira de conhecer sua cultura. Abdalla (2004), afirma
que é necessário aprender a ouvi-los se tivermos a intenção de promover projetos e políticas
que respondam às suas necessidades. Isto significa não inferiorizar os jovens e adultos que
procuram a escola em busca do direito, que outrora lhe foi negado, mas, oferecer uma
modalidade de ensino voltada para um público específico. Conhecer como jovens e adultos
pensam, possibilita ações em torno desta modalidade.
A pesquisa desenvolvida por Lima e Silva (2015) aponta que as concepções dos
educandos, podem representar seus interesses e para efetivação de práticas significativas na
EJA, sejam políticas ou pedagógicas, é necessário conhecer as expectativas dos educandos em
relação à escola e qual motivo fez com que eles retornassem a ela. Sobre isto, Abdalla (2004)
cita que “é necessário ouvir as falas para compreender o dia-a-dia da escola. Quando esses
alunos falam, é como se pintassem um quadro do cotidiano, das coisas que acontecem, dos
significados que elas assumem, do que eles vivenciam e pensam sobre o vivenciado” (p. 74).
5 Documento disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/confitea_docfinal.pdf
26
Partindo desse pensamento, percebemos que o educando que retorna à escola nas
turmas de EJA, busca dominar a leitura e a escrita como forma outra forma de “ver o mundo”,
além de buscar uma ascensão social através de qualificações profissionais e autonomia em sua
vida diária. Amorim (2009) em sua pesquisa sobre as expectativas dos educandos da EJA cita
que:
Em relação às expectativas dos alunos, observamos que os mesmos já
manifestavam seus interesses de aprendizagem na escola quando
explicavam as razões pessoais pelas quais resolveram voltar a estudar.
Nesse sentido, constatamos, em seus discursos, que seus desejos de
aprender nesse espaço institucional não estão dissociados das práticas
nas quais esses indivíduos estão inseridos ou de seus interesses
particulares (p. 49).
Nesse sentido, o que os estudantes esperam da escola mostra-se, de forma subjetiva,
ligado às suas práticas e interesses pessoais, e seus anseios estão pautados em encontrar um
ambiente que atenda às suas necessidades, considerando que o público que frequenta a EJA,
são em sua maioria trabalhadores que esperam encontrar uma escola aberta para recebê-los e
professores prontos para ouvi-los. Gomes (2007) aponta a importância de reconhecermos os
estudantes da EJA enquanto grupos que possuem características próprias que devem ser
levadas em consideração em seu processo de escolarização e chama a atenção para
reconhecermos que essas características não se limitam a faixa etária, mas tratam-se de
sujeitos que retornam à escola, ou a procuram pela primeira vez, a fim de apagar as marcas da
exclusão que carregam por longos anos.
O cenário atual da EJA de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Básica (BRASIL, 2013), busca prover os sistemas educativos de instrumentos que
possibilitem o acesso de jovens e adultos a uma formação de qualidade, respeitando suas
condições sociais. Portanto, a Educação de Jovens e Adultos não deve ser pensada com menos
prioridade, mas, deve-se tratar em caráter contínuo o desgaste educacional advindo do
afastamento escolar ocasionado por várias razões e garantir a estes estudantes o direito básico,
permitindo uma integração produtiva na vida social e o pleno exercício da cidadania.
A partir da década de 1990, o poder público no Brasil voltado para área da educação,
passou a ter uma preocupação maior com a universalização da Educação Básica e a
erradicação do analfabetismo. Esses dois focos no desenvolvimento de políticas públicas
acabam repercutindo no desenvolvimento de um maior interesse de pesquisadores e
estudiosos da área de educação sobre os marginalizados históricos dentro desses dois
27
aspectos. Desta forma, o campo de estudos na Educação de Jovens e Adultos (EJA) passou a
ter sobre si um holofote para o desenvolvimento de pesquisas.
Apesar do crescente número de estudos realizados na Educação de Jovens e Adultos,
ainda são poucos os estudos que buscam ouvir os estudantes, seus anseios, desejos e
expectativas para que sejam tomadas atitudes que venham atenuar a evasão escolar que
persiste em rodear o território da EJA. Por essa razão, buscamos em nosso estudo, avançar no
sentido de dar vez e voz aos sujeitos, apreendendo como eles pensam à escola, o que esperam
dela e como a representam socialmente.
Nesse sentido, entende-se que a universidade tem um importante papel em apresentar,
estudar e considerar a realidade da EJA, sobretudo nos cursos de Pedagogia, visando
aproximar professores em formação à complexidade desta modalidade de ensino.
Com o objetivo de conhecer as produções acadêmicas que apresentam a EJA como
objeto ou campo de estudo no âmbito do curso de Licenciatura em Pedagogia da
UFRPE/UAG, foi realizado um levantamento dos trabalhos de monografia, através de um
recorte temporal definido. Com o objetivo de sistematizar esse campo de
conhecimento, apresentam-se as pesquisas realizadas entre os anos de 2009 a 2015;
considerando todas as monografias de conclusão do Curso de Pedagogia na Unidade
Acadêmica de Garanhuns.
O levantamento foi realizado a partir das análises dos resumos das pesquisas dispostas
no acervo da biblioteca da UAG/UFRPE. Do total de cento e oitenta (180) monografias
localizamos doze (12) pesquisas cujo objeto ou campo de estudo é a Educação de Jovens e
Adultos. Duas (2) pesquisas foram realizadas em 2009 (SILVA e JUNIOR 2009; CORRÊA e
JUNIOR, 2009); quatro (4) realizadas em 2011 (COSTA e BASTOS, 2011; MARQUES e
GOMES, 2011; SILVA e GOMES, 2011a; SILVA e GOMES, 2011b); duas (2) realizadas em
2013 (SOUZA e VASCONCELOS, 2013; NUNES e BASTOS, 2013), (2) duas em 2014
(ARAÚJO e VASCONCELOS,2014; SILVA e EUGÊNIO, 2014) e duas (2) em 2015 (LIMA
e SILVA, 2015; COUTO e EUGÊNIO, 2015). Oito (8) estudos voltaram seu olhar para a
prática pedagógica, dois (2) se debruçaram sobre o estudo acerca de práticas inclusivas na
EJA e apenas dois (2) tiveram como objetivo se aproximar das concepções dos estudantes da
EJA acerca de objetos da área educacional. A pesquisa de Lima e Silva (2015) analisou as
concepções dos educandos da EJA sobre o uso de jogos de alfabetização e a pesquisa de
Couto e Eugênio (2015) propôs avaliar a utilização de jogos voltados para o ensino das
Estruturas Aditivas.
28
Sobre a importância de escutar os educandos da EJA para compreender seus anseios e
concepções, corroboramos com Lima e Silva (2015) ao afirmar que as concepções deles
podem inferir e auxiliar no processo de ensino e aprendizagem e para que haja práticas
efetivas na EJA, é necessário conhecer as expectativas dos estudantes em relação à escola e o
que eles esperam dela. O autor ainda enfatiza que conhecer como e por que os estudantes
aprendem, contribui para uma reflexão sobre as necessidades e especificidades desses sujeitos
e para a elaboração de proposições sobre as concepções deles em relação às metodologias
usadas nas aulas. Portanto, conhecer as concepções pode auxiliar no processo de ensino e
aprendizagem.
Em consonância com este pensamento, Couto e Eugênio (2015) destaca que entender
o educando da EJA dentro de suas especificidades e diversas mudanças, ajuda na elaboração
de propostas que passem de fato a atender as necessidades particulares desse público. Para o
autor, a escola que se apropria da prática de escutar os anseios dos educandos, possibilita o
desenvolvimento de sua prática e alcança objetivos propostos para atender a esta modalidade,
principalmente, em relação ao respeito e a valorização desses alunos agregando esses valores
ao seu cotidiano.
Diante desses resultados, foi possível observar que as pesquisas envolvendo a
Educação de Jovens e Adultos ainda não ganham destaque na Unidade Acadêmica de
Garanhuns (UAG/UFRPE). Apontamos a necessidade de mais estudos voltados para esta
modalidade, tendo em vista que a mesma é palco de atuação do pedagogo, além de ser
garantida pela legislação educacional e necessitar de políticas afirmativas para a garantia de
respeito às suas especificidades e necessidades educativas.
Nossa pesquisa, a fim de conhecer os sentidos atribuídos à escola através de um estudo
articulado com a Teoria das Representações Sociais, avança no sentido de dar vez e voz aos
estudantes da EJA, buscando nos aproximarmos dos saberes subjetivos relacionados com o
objeto de representação. Através das comunicações dos sujeitos, compreende-se que os
processos educativos observados pela lente da Teoria das Representações Sociais, se
constituem como um campo privilegiado para compreender como as representações de um
determinado objeto, são construídas e evoluídas no meio de um grupo social.
29
A ESCOLA COMO OBJETO DE ESTUDO
... Escolas que são asas não amam
pássaros engaiolados. O que elas amam
são pássaros em voo. Existem para dar
aos pássaros coragem para voar. Ensinar o
voo, isso elas não podem fazer, porque o
voo já nasce dentro dos pássaros. O voo
não pode ser ensinado. “Só pode ser
encorajado”.
Rubem Alves
Tendo a escola como objeto de representação, consideramos necessário um estudo
focado sobre a mesma a fim de identificar suas funções, mais precisamente, as funções que
ela desempenha na Educação de Jovens e Adultos. Ponte (2012) em seu estudo apresenta as
aproximações históricas da escola enquanto instituição de ensino. Considerada como lugar de
ócio, as escolas eram espaços para reflexão; apenas entre os séculos XIX e XX começaram a
surgir as escolas no padrão que temos hoje, com aulas separadas por disciplinas.
A escola é constituída como espaço único e, sendo ela instituição social, contribui para
transformação social dos indivíduos. Gadotti (2007) entende a escola não só como espaço
físico, mas acima de tudo, um modo de ser e ver, definida pelas relações sociais que
desenvolve. O autor ressalta a importância da educação para a formação da cidadania e o
preparo para o trabalho. Sacristán e Gomez (2000), em consonância com este pensamento,
citam que o objetivo básico e prioritário da socialização dos alunos na escola é prepará-los
para sua incorporação no mundo do trabalho e sua intervenção na vida pública.
Compreende-se a educação como instrumento de transformação, para isto, é
necessário que o caminho histórico percorrido seja aspirante a esta mudança, proporcionando
meios para garantir uma intervenção e possível ascensão social. Sobre isto, Paiva (2003) cita
que “a educação pode ser um instrumento importante para a conservação ou para a mudança
social: os que detêm o poder tentam fazer dela um instrumento de conservação, enquanto seus
opositores tentam utilizá-la como instrumento de mudança” (p. 46).
Nesse contexto e diante da sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagens,
torna-se necessário aprender a pensar de maneira autônoma e saber articular o conhecimento
com a prática de outros saberes aceitando as características de uma sociedade com inevitáveis
diferenças individuais. “A escola deve prover os indivíduos não só, nem principalmente, de
conhecimentos, ideias, habilidades e capacidades formais, mas também, de disposições,
30
atitudes, interesses e pautas de comportamento. Assim, tem como objetivo básico a
socialização dos alunos” (SACRISTÁN; GOMÉZ, 2000, p. 19). Sobre isto Libâneo (2005)
também cita que “a educação de qualidade é aquela mediante a qual a escola promove, para
todos, o domínio do conhecimento e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas
indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos” (p. 117).
Em relação à Educação de Jovens e Adultos, corroboramos com os autores citados
quando entendem o ambiente escolar não apenas como espaço físico ou local de transmissão
de conteúdos, mas, local de troca de aprendizagem, de socialização, interação e
subjetividades. Um lugar de vida, que recebe pessoas em busca de olhar o mundo com outros
olhos, através da transformação social que ela pode proporcionar enxergando o indivíduo
como ser inacabado, inconcluso, que está buscando novas oportunidades.
Saul (2013) se refere à escola dentro da perspectiva proposta por Paulo Freire; a escola
como lugar sério, voltado para a formação social e crítica, e apropriação do conhecimento,
sem deixar de ser um lugar alegre e estimulador. A autora faz referência a abertura da escola à
comunidade, a participação do educando e o respeito aos seus saberes, atitudes que
consideramos indispensáveis na escola que recebe estudantes da EJA; sujeitos repletos de
saberes adquiridos através das suas vivências.
Nesse sentido, a educação deve ser entendida para além das letras, é o pressuposto da
leitura do mundo e do entendimento da realidade social do indivíduo, dando sentido ao
processo de aquisição da leitura e da escrita, motivos pelos quais os estudantes, em sua
maioria, procuram a EJA. Desse modo, a educação se apresenta numa perspectiva de
mudança e ascensão social (ABRANCHES, 2013), o contrário disso ao invés de abrigar e
incluir os estudantes, podem levá-los a permanecer no quadro de exclusão que desde muito
cedo estão inseridos
Os alunos ou estudantes provenientes das famílias mais desprovidas
culturalmente têm todas as chances de obter, ao fim de uma longa
escolaridade, muitas vezes paga com pesados sacrifícios, um diploma
desvalorizado; e, se fracassam o que segue sendo seu destino mais provável,
são votados a uma exclusão, sem dúvida, mais estigmatizante e mais total do
que era no passado. (BOURDIEU,1998, p. 221)
A escola pensada para EJA deve proporcionar o diálogo dos estudantes e a sua escuta,
sendo estas características de fundamental importância para que haja a interação entre as
visões de mundo. Estes sujeitos devem ser instigados a falar, rompendo o silenciamento que
31
muitas vezes carregam consigo e consigam compreender o espaço escolar como um lugar
facilitador de seus anseios, evitando assim o fracasso e a marginalização.
Ferreira (2007) cita que “a escola como ambiente educativo e espaço de formação de
pessoas, é construída por uma diversidade de atores que pensam e agem no cotidiano,
formando uma rede de relações que se define com base em uma cultura própria e repleta de
significados” (p.65). São esses significados que buscamos apreender através deste estudo,
entendemos que as práticas elaboradas no cotidiano escolar tornam cada realidade única, e
este cotidiano é um ambiente onde são formalizadas práticas sociais que sofrem influências
exteriores. De acordo com Gadotti (2007), “a escola é um espaço de relações. Neste sentido,
cada escola é única, fruto de sua história particular, de seu projeto e de seus agentes. Como
lugar de pessoas e de relações, é também um lugar de representações sociais” (p. 11), sendo
assim, a escola que recebe estudantes da EJA, deve partir dos elementos que compõem as suas
realidades, fazendo-os compreender as contribuições qualitativas que o aprendizado escolar
pode oferecer para sua vida social.
32
CAPÍTULO II - A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
As representações são resultado de um contínuo
burburinho e um diálogo permanente entre
indivíduos, um diálogo que é tanto interno quando
externo, e durante o qual as representações
individuais ecoam ou são complementadas.
(MOSCOVICI, 2003, p. 31).
Este capítulo tem o objetivo de introduzir a Teoria das Representações Sociais e suas
principais definições e abordagens, além de contemplar as contribuições da teoria no campo
educacional, sobretudo nas pesquisas realizadas na Educação de Jovens e Adultos, nosso
campo de pesquisa.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: BREVE HISTÓRICO, DEFINIÇÕES E ABORDAGENS
As representações sociais são fenômenos cognitivos
e sociais, resultantes das relações e interações
sociais estabelecidas pelos indivíduos; portanto, a
comunicação exerce papel fundamental, no processo
de sua construção.
(MACHADO, 2013, P. 18)
A noção de Representação Social surge na Europa a partir da publicação do estudo
sobre a representação social da Psicanálise, do psicólogo social francês Serge Moscovici, em
1961. O objetivo era compreender como o conhecimento do senso comum é produzido
socialmente. Segundo o autor, a representação social tem a função de elaborar
comportamentos e comunicações entre os indivíduos. Sistematizando a obra de Moscovici,
Jodelet (2001b), principal colaboradora para o aprofundamento da referida teoria, conceitua as
Representações Sociais como
uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um
objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum
a um conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou
ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada,
entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto
de estudo tão legítimo quanto este, devido à sua importância na vida social é
33
à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais
(p. 22).
As Representações Sociais são formas de pensar como os fenômenos acontecem no
cotidiano e apresentar posições em relação a situações, eventos e objetos. É o sentido dado a
alguém ou a alguma coisa, ajudando a construir a realidade de maneira concreta através da
comunicação estabelecida entre os sujeitos e suas posições, em relação a eventos e objetos.
Para Moscovici (2009) citado por Sales (2012) “representar significa, a uma vez e ao
mesmo tempo, trazer presentes as coisas ausentes e apresentar coisas de tal modo que
satisfaçam as condições de uma coerência argumentativa, de uma racionalidade e da
integridade normativa do grupo” (p. 65). Desse modo, as representações emergem da vida
cotidiana e explicam o modo como os sujeitos compreendem e relacionam-se com o objeto
representado.
De acordo com Albuquerque e Machado (2011), a Teoria das Representações Sociais
têm sua contribuição voltada para a valorização do conhecimento existente entre o indivíduo e
o social. Para dar sentido à realidade que os cercam, os homens criam representações que
partem do senso comum e são coletivamente elaboradas entre sujeito-sujeito e sujeito-
instituição, colocando em evidência o que até então era desconhecido, explicando a realidade
e orientando as ações e o comportamento dos sujeitos mediante o objeto, assim como aponta
Machado (2013), segundo a autora, desse processamento de informações surgem as
representações sociais que são partilhadas e dão identidade aos sujeitos e aos grupos.
Conceituar representações sociais não constitui uma tarefa fácil, pois este fenômeno se
ajusta segundo Machado (2013) em três dimensões: informação, campo de representação e
atitude. A informação é uma dimensão indispensável para que sejam conhecidas as
representações que circulam entre um determinado grupo. O campo de representação são as
informações significativas e sistematizadas do objeto, compondo elementos que dão
significado à representação. A atitude refere-se à tomada de posição dos sujeitos em relação
ao objeto. Portanto, informação, campo de representação e atitude constituem-se de um elo
que dão forma às Representações Sociais. O pesquisador precisa conhecer os significados
atribuídos e partilhados pelos sujeitos que representam, depois deve fazer uma sistematização
das informações encontradas para compreender a tomada de posição diante das
representações.
34
De acordo com Moscovici (2012) citado por Machado (2013), a representação social
tem a finalidade de tornar o que é estranho em familiar. Isto significa atribuir sentido àquilo
que ainda é desconhecido. As representações não são partilhadas de uma mesma forma por
todos, elas contêm elementos culturais que fazem com que essas informações sejam de base
comum, porém, particular a cada um. A referida autora cita que:
as representações sociais constituem significados que as pessoas
utilizam para entender o mundo, construções mentais elaboradas
mediante a atividade simbólica do sujeito no processo de comunicação
social, que servem de orientação para seus comportamentos e ações
(p. 18).
A comunicação é apresentada como importante para a construção das representações
sociais. Machado (2013) cita Abric (1994), afirmando que o autor coloca a informação com
um duplo papel, tornar o estranho familiar e o invisível perceptível. As relações que os
indivíduos estabelecem resultam em trocas e interações, que levam a instituição de um
pensamento comum, partilhado socialmente. A autora discorre sobre alguns aspectos que
evidenciam a importância da comunicação para a criação das representações sociais. Em
primeiro lugar são apresentados três níveis do processo representacional, analisado por
Jodelet (2001b): emergência das representações sociais, processos de formação e edificação
das condutas. Tentaremos explicá-los respectivamente de acordo com as contribuições de
Machado (2013). A emergência das representações sociais está focalizada nos aspectos dos
interesses e implicações dos sujeitos a partir da posição tomada frente ao objeto. Essas
posições são formadas mediante dois processos simultâneos e dinâmicos: a objetivação
(informações e ideias exteriorizadas e materializadas) e a ancoragem (atribuição de sentidos e
caracterização do objeto).
As representações sociais constituem uma ligação entre o conhecimento de senso
comum e o conhecimento científico. Essa ligação se dá, de acordo com Barra Nova (2011)
simultaneamente, através de dois mecanismos indispensáveis para a sua construção: a
ancoragem e a objetivação. A objetivação torna concreto, conhecimentos abstratos, traz à tona
o invisível, é a materialização do objeto representado. A ancoragem dá sentido às ideias, aos
conhecimentos que se tornam visíveis e conhecidos, assim como afirma a autora “A
ancoragem, por sua vez, amarra definitivamente ideias, objetos e categorias estranhas ao
pensamento de base do sujeito, trazendo-os assim para um contexto conhecido” (BARRA
NOVA, 2011, p. 20). Assim, aquilo que parecia estranho, torna-se familiar.
35
Nesta perspectiva, o referencial teórico-metodológico da Teoria das Representações
Sociais em que se fundamenta a nossa pesquisa, dá suporte para compreender os aspectos
pessoais e sociais que contribuem para a construção das representações dos estudantes da
Educação de Jovens e Adultos sobre a escola. Através da comunicação mediatizada pela
linguagem, os estudantes, constituídos como seres sociais, históricos e políticos, constroem
suas representações e nos ajudam a apreender as formas de se relacionarem com o mundo e de
representar o objeto de estudo.
A abordagem das representações sociais contribui para a compreensão de processos
educativos, possibilitando conhecer os significados que são atribuídos no espaço escolar,
tornando um objeto distante, familiar. A referida teoria ainda auxilia na observação de como
as representações são construídas em determinados grupos sociais, como se dá sua evolução e
transformação.
Entende-se que a escola é um lugar de interação e de comunicação, onde há a
possibilidade de se encontrar representações.
Nesta perspectiva o referencial teórico-metodológico da Teoria das Representações
Sociais, em que se fundamenta a nossa pesquisa nos dá suporte para compreender os aspectos
pessoais e sociais que contribuem para a construção das representações dos estudantes da EJA
sobre a escola. É propício estudos através da Teoria das Representações Sociais para que
possamos conhecer os saberes compartilhados por determinados grupos sociais, diante da
complexidade das relações estabelecidas hoje em dia e compreender com mais propriedade as
relações traçadas entre os sujeitos que representam e o objeto representado. Neste estudo o
objetivo é se aproximar das representações sociais de escola dos estudantes da Educação de
Jovens e Adultos no município de Garanhuns/PE.
36
CAPÍTULO III - METODOLOGIA DA PESQUISA
A metodologia é de importância significativa para a pesquisa científica, ela determina
os passos que o pesquisador irá percorrer para alcançar os objetivos estabelecidos. Lakatos e
Marconi (2001) definem método como um conjunto de atividades sistemáticas e racionais que
favorecem o alcance de objetivos, traçando o caminho a ser trilhado, detectando possíveis
erros e auxiliando na tomada de decisões do pesquisador. Portanto, definir os métodos que
serão utilizados para responder aos objetivos propostos é fator primordial na pesquisa.
Este capítulo apresenta nossa abordagem metodológica e o percurso trilhado para
alcançarmos os objetivos do nosso estudo e respondermos a problemática da nossa pesquisa.
Ele está dividido em quatro partes, inicialmente apresentamos o tipo de pesquisa utilizado, em
seguida os cenários de pesquisa. Na terceira parte apresentamos os sujeitos de pesquisa e por
último os instrumentos de coleta e análise dos dados.
TIPO DE PESQUISA
O estudo que desenvolvemos propôs apreender as representações sociais de escola
partilhadas entre estudantes da Educação de Jovens e Adultos. A Teoria das Representações
Sociais é o que dá suporte ao estudo em questão, e considera a Representação Social “um tipo
de conhecimento, socialmente elaborado e partilhado, com um objetivo prático, e que
contribui para construção de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 2001a
p.22). Para isto, este estudo se insere na perspectiva de uma pesquisa de campo, qualitativa do
tipo etnográfica que, segundo Severino (2007), “visa compreender, na sua cotidianidade, os
processos do dia-a-dia em suas diversas modalidades. Trata-se de um mergulho no
microssocial, olhado com lente de aumento” (p.119). Compreende-se que o ambiente natural
proporciona uma observação das pessoas e das circunstâncias em que ocorrem os fatos,
possibilitando uma visão além dos dados objetivos, aproximando-se das discussões com
ilustrações de elementos subjetivos. A proposta de desenvolvermos um estudo do tipo
etnográfico se justifica pelo interesse de nos aproximarmos do objeto de estudo, a escola em
sua complexidade e manifestações.
A abordagem qualitativa, segundo Minayo (1994) citada por Barra Nova (2011),
trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, valores, crenças e atitudes, o
que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que
37
não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (p. 89). Assim, buscamos
compreender as Representações Sociais de escola partilhadas por estudantes da EJA e
compreender como estes se relacionam com a instituição escolar e qual a importância ela
desempenha para sua vida social.
OS CENÁRIOS DA PESQUISA
Constituíram-se como cenários da nossa pesquisa, duas (02) escolas da Rede
Municipal de ensino de Garanhuns/PE. Convém salientar que o critério utilizado para a
seleção das escolas foi o fato de oferecerem a modalidade da EJA e constituírem o
desenvolvimento de nosso estudo. Conhecer os cenários da pesquisa é importante para
compreender o objeto de representação do nosso estudo.
Como forma de facilitar o tratamento dos dados e preservar a identidade das
instituições, atribuímos às escolas, as seguintes denominações: Cenário 1 e Cenário 2
conforme descrições abaixo.
Para o desenvolvimento da pesquisa fizemos o primeiro contato com as escolas para a
apresentação da nossa proposta e assinatura da Carta de Aceite da instituição campo de
pesquisa, nas seguintes datas: 03 de março de 2015 no Cenário 1 e 16 de abril de 2015 no
Cenário 2. Nossas observações nos mostraram as peculiaridades de cada um. Sabemos que
isto influencia na forma como os alunos se posicionam e representam o objeto. Em cada
Cenário visitamos duas salas de aula, sendo uma da 1ª fase e uma da 2ª fase, totalizando
quatro turmas visitadas e quatorze estudantes entrevistados.
Para identificar os sujeitos da pesquisa nomeamos as turmas visitadas da seguinte
maneira: a turma da 1ª fase do Cenário 1, chamaremos de T1; a turma da 2ª fase do Cenário
1, chamaremos de T2. A 1ª fase do Cenário 2, chamaremos de T3 e a 2ª fase de T4. Assim,
consideramos importante apresentarmos brevemente as instituições que nos serviram de
campo de pesquisa.
O Cenário 1, está localizado no bairro da Boa Vista, um bairro que tem três escolas
municipais, que oferecem a EJA. A escola foi fundada em 1982, desde então, funciona em um
local alugado e adaptado. De início a escola funcionava apenas com duas salas de aula, hoje a
escola possui seis salas de aula construídas pela comunidade, que é bem presente na
instituição devido o local receber algumas atividades religiosas e sociais durante a semana:
38
grupos de alcoólicos anônimos, grupos de orações e encontros religiosos, além de ser um
local de distribuição gratuita de leite através do Programa Social Leite para Todos. Isto faz
com que a escola seja frequentada não apenas pelos seus estudantes, mas pela comunidade
local e de bairros vizinhos.
Atendendo a 548 estudantes, o Cenário 1 possui 18 turmas distribuídas nos três
horários (manhã, tarde e noite). Nos turnos diurnos a escola atende crianças do 1º ao 5º ano do
Ensino Fundamental e no noturno atende jovens, adultos e idosos da 1ª a 4ª fase da Educação
de Jovens e Adultos. As salas são mal iluminadas, pequenas e não possuem um bom
acabamento, favorecendo um desconforto para as crianças e para os adultos.
O Cenário1 possui seis (06) salas de aula, uma (01) biblioteca, três (03) banheiros
(feminino, masculino e de funcionários), cozinha e secretaria e um salão onde acontecem as
reuniões da instituição e as realizadas pela comunidade. É importante salientar que, a Sala de
Leitura não está disponível a noite para que os estudantes da EJA façam uso, nos dias de
terça-feira, a responsável pela sala de leitura, visita as salas de aula realizando empréstimos de
livros literários. No turno da noite merenda no Cenário 1, é servida entre às 18h40min e
19h20min, isto é, na chegada dos estudantes, em seguida, eles vão para sala de aula e só saem
no final do horário. A escola não dispõe de refeitório e os estudantes se alimentam no
corredor no qual é servida a alimentação.
O Cenário 1 oferece a modalidade da EJA desde 2008, sempre no turno noturno.
Atualmente, a escola funciona com seis turmas da EJA, sendo uma da 1ª fase, uma da 2ª fase,
duas da 3ª fase e duas da 4ª fase, totalizando 170 estudantes matriculados. No total são nove
professores que lecionam nestas turmas, sendo um na 1ª fase, um na 2ª fase e sete nas 3ª e 4ª
fases, que se reversam entre as disciplinas.
De acordo com informações do secretário escolar, os professores utilizam recursos
tecnológicos (data show, notebook) e livros didáticos, que foram distribuídos aos professores
e alunos. Estes livros são escolhidos pelos professores juntamente com a Secretaria Municipal
de Educação e são obras pertencentes ao Programa Nacional do Livro Didático para Educação
de Jovens e Adultos - PNLD/EJA, distribuídos pelo Ministério da Educação para utilização
entre os anos de 2014 a 2016. Todos os alunos da EJA tem o livro didático.
Durante os dias de coleta de dados, foi possível observar que a 1ª e a 2ª fase são
constituídas por estudantes mais velhos, que não tiveram a oportunidade de estudar enquanto
crianças ou que abandonaram os estudos por um longo período, já nas 3ª e 4ª fases, estudam
39
em sua maioria jovens egressos do ensino durante o dia, que devido a um histórico de
reprovações ou desistências, procuram a escola noturna após os 15 anos de idade.
O Cenário 2, está localizado no bairro de Heliópolis, a escola funciona em prédio
próprio com sete salas de aula e atualmente estão matriculados na instituição 607 estudantes,
distribuídos em 22 turmas. A escola funciona nos três horários (manhã, tarde e noite). Nos
turnos diurnos a escola recebe crianças da Educação Infantil e do 1º ao 5º ano do Ensino
Fundamental e no noturno atende estudantes da 1ª a 4ª fase da Educação de Jovens e adultos.
O Cenário 2, possui nove (09) salas de aula, uma (01) biblioteca, banheiros
(masculino, feminino e de funcionários), cozinha, secretaria e um salão. Fomos informados
que a biblioteca funciona também a noite para que os estudantes tenham acesso, porém, nas
entrevistas que fizemos os estudantes afirmaram ainda não ter ido à biblioteca durante o ano
letivo de 2015. Não existe um refeitório para que os estudantes façam a alimentação, eles se
servem nos corredores ou nas salas de aula.
O Cenário 2 começou a ofertar aos estudantes da comunidade a modalidade da EJA a
partir do ano de 2012 e atualmente funciona seis (06) turmas da EJA, sendo uma da 1ª fase,
uma da 2ª fase, duas da 3ª fase e duas da 4ª fase, totalizando 192 estudantes matriculados. No
total são nove professores que lecionam nestas turmas, sendo um na 1ª fase, um na 2ª fase e
sete nas 3ª e 4ª fases, que se reversam entre as disciplinas.
Os estudantes chegam ao Cenário 2 por volta das 19h, vão para sala de aula e depois
saem para merendar às 19h20min. Assim como no Cenário 1, foi notório que as turmas da 1ª
e 2ª fase são constituídas por estudantes que apresentam ter maior idade do que os das 3ª e 4ª
fases. Ao contrário do Cenário 1, o Cenário 2 não recebeu livro didático para turmas da EJA,
portanto, os estudantes não contam com esse recurso didático.
SUJEITOS DE PESQUISA
Nosso estudo teve como sujeitos estudantes matriculados na Educação de Jovens e
Adultos em duas (2) escolas da Rede Municipal de Ensino de Garanhuns, que constituíram os
cenários da pesquisa. Após ter recebido a autorização da gestão da escola e das professoras
das turmas, visitamos as salas de aula para a formação do grupo dos sujeitos e conversamos
com os estudantes considerando suas disponibilidades. No Cenário 1, os professores foram
bem receptivos e os estudantes demonstraram uma maior abertura para receber a
40
pesquisadora, tanto na turma 1 como na turma 2. No Cenário 2, sentimos um pouco de
receio, por parte das professoras e dos estudantes, sendo necessário explicar bem a proposta
da pesquisa.
Os sujeitos foram informados sobre o objetivo da pesquisa e a metodologia adotada,
buscando a autorização dos mesmos para a utilização dos dados coletados (Apêndice B). Para
organizarmos nossos dados e preservarmos a identidade dos sujeitos, os nomeamos da
seguinte forma: E1C1T1 e assim sucessivamente, onde, E se refere a estudante, C a cenário e
T a turma.
A fim de realizar a coleta de dados, frequentamos quatro (4) salas de aula, sendo duas
(2) em cada cenário e entrevistamos sete (7) em estudantes em cada Cenário. No Cenário 1,
os sujeitos foram três (3) estudantes da 1ª fase6 (T1) e quatro (4) da 2ª
7 fase (T2). No Cenário
2, constituíram-se como sujeitos quatro (4) estudantes da 1ª fase (T3) e três (3) da 2ª fase
(T4), num total de quatorze (14) estudantes, sujeitos da pesquisa, conforme esboça o quadro
abaixo:
6 A 1ª fase da EJA é destinada a estudantes que nunca frequentaram a escola ou que a abandonaram ainda no
início do processo de escolarização. 7 A 2ª fase da EJA é destinada a estudantes que já tenham cursado a 1ª fase ou que frequentaram a escola até a 2ª
série, isto é, 3º ano do Ensino fundamental.
41
QUADRO I – PERFIS DOS SUJEITOS
CE
NÁ
RIO
ES
TU
DA
NT
E
TURMA IDADE GÊNERO ATÉ QUE SÉRIE
ESTUDOU QUANDO
ERA CRIANÇA
MOTIVO QUE
CAUSOU O
ABANDONO
ESCOLAR
1
E1 1ª fase 36 anos Masculino 4ª série Desistência escolar
E2 1ª fase 27 anos Feminino 4ª série Trabalho
E3 1ª fase 35 anos Feminino 4ª série Casamento
E4 2ª fase 60 anos Masculino 1ª série Trabalho
E5 2ª fase 36 anos Feminino 1ª série Trabalho
E6 2ª fase 25 anos Masculino 3ª série Trabalho
E7 2ª fase 37 anos Masculino 3ª série Falta de interesse
2
E8 1ª fase 30 anos Feminino Não lembra O pai não permitia
E9 1ª fase 27 anos Feminino 1ª série Difícil acesso à escola
E10 1ª fase 33 anos Feminino Nunca estudou -
E11 1ª fase 30 anos Feminino Não lembra -
E12 2ª fase 28 anos Feminino 4ª série Trabalho
E13 2ª fase 33 anos Masculino 4ª série Desistência escolar
E14 2ª fase 44 anos Feminino 3ª série Falta de interesse
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
Bauer (2013) cita que “as Representações Sociais são representações de alguma coisa,
sustentadas por alguém. É essencial identificar o grupo que as veicula situar seu conteúdo
simbólico no espaço e no tempo, e relacioná-lo funcionalmente a um contexto intergrupal
específico” (p. 188).
42
De acordo com as informações esboçadas no QUADRO I, podemos perceber que a
média de idade entre os participantes é de 29 anos e que há um equilíbrio entre os homens e as
mulheres. O que nos chama a atenção no quadro é a baixa escolaridade dos estudantes, tendo
em vista que a minoria chegou a cursar o quarto ano de escolarização obrigatória. Sobre os
motivos apontados como desencadeadores do abandono escolar, percebemos a predominância
da entrada precoce no trabalho. Foram constantes os depoimentos que apontavam a inserção
no trabalho ainda na infância, como percebemos nos depoimentos abaixo:
Mode a situação, pra poder ter minhas coisas. (E2C1T1)
Parei de estudar, para Trabalhar. (E12C2T4)
Outros motivos apresentados dizem respeito a falta de interesse por parte dos
participantes na continuação dos estudos, além do não estímulo da família. Uma das
participantes afirmou que abandonou os estudos após o casamento para se dedicar à família e
outra justificou o abandono pela não permissão do pai em frequentar a escola.
De acordo com os estudos que se debruçam a identificar e conceituar o público que
frequenta a Educação de Jovens e adultos é comum que os estudantes da modalidade sejam
pais e mães de família, trabalhadores que desde muito cedo precisaram ingressar no mundo do
trabalho em busca da sobrevivência, passam o dia em suas atividades de trabalho e a noite
frequentam a escola, necessitando assim, de um olhar cuidadoso sobre questões que possam
interferir na motivação desses estudantes em relação ao que eles esperam da instituição.
(SOEK; HARACEMIV E STOLTZ 2009).
Diante do QUADRO I é possível visualizar que cinco dos sujeitos da pesquisa
abandonaram a escola enquanto crianças para trabalhar e ajudar na renda da família. Através
do QUADRO II, que aborda a entrada desses sujeitos no mundo do trabalho, revela o perfil
dos sujeitos da pesquisa em relação à ocupação. Cruzando as variáveis é possível verificar
que os sujeitos começaram a trabalhar muito cedo, alguns relatam a entrada antes dos 10 anos
de idade, confirmando as informações apresentadas no QUADRO I na qual justificam a saída
da escola para o trabalho. Nos debruçando sobre as profissões em que atuam atualmente,
percebemos que elas em sua maioria independem do nível de escolaridade. Ganham destaque
as mulheres atuando como empregadas domésticas e os homens como pedreiros. Conforme os
dados coletados nas entrevistas nessas duas profissões os sujeitos atuam de maneira informal.
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QUADRO II – OCUPAÇÃO DOS SUJEITOS
SUJEITO INICIAÇÃO NO
TRABALHO PROFISSÃO
E1 C1 T1 15 anos Autônomo
E2 C1T1 14 anos Diarista
E3C1T1 Nunca trabalhou -
E4C1T2 7 anos Aposentado
E5C1T2 9 anos Doméstica
E6C1T2 10 anos Pedreiro
E7C1T2 25 anos Auxiliar de laboratório
E8C2T3 15 anos Doméstica
E9C2T3 16 anos Agricultora
E10C2T3 8 anos Doméstica
E11C2T3 15 anos Doméstica
E12C2T4 13 anos Doméstica
E13C2T4 7 anos Pedreiro
E14C2T4 10 anos Pedreiro
Fonte: Elaborado pela pesquisadora
O QUADRO II evidencia que os sujeitos da pesquisa em sua maioria são
trabalhadores que procuram a escola para continuar seus estudos, que a priori foram
abandonados. É possível observar que os mesmos possuem um histórico de inserção precoce
no mercado de trabalho, sendo este, um dos motivos do afastamento escolar e instigação de
retorno à instituição. São estudantes trabalhadores que lutam pela sobrevivência durante o dia
e a noite buscam uma melhor qualidade de vida em relação a aprendizagem da leitura e da
escrita.
44
É possível notar que o estudante que chega à EJA no município de Garanhuns/PE, tem
uma trajetória marcada pelo abandono escolar, em sua maioria, por motivos referentes a
entrada precoce no mercado de trabalho e quando retornam à instituição enfrentam a
dificuldade de estudar e trabalhar. Diante deste resultado, considera-se que a escola deve estar
ciente de sua função social e apta para receber esses estudantes valorizando seus saberes e
garantindo não apenas o ingresso na instituição, mas, sobretudo a sua permanência e a
aprendizagem. É necessário compreender que apesar de ser um público heterogêneo em
características e culturas, os estudantes da EJA apresentam homogeneidade em relação à
interrupção do processo de escolarização, motivo de abandono escolar e inserção precoce no
mercado de trabalho.
INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Com o propósito de alcançarmos uma maior aproximação do objeto de pesquisa,
propomos o cruzamento das informações obtidas pelos instrumentos utilizados no estudo para
coleta de dados: o questionário, a entrevista e a observação. De acordo com Severino (2007)
“as técnicas são procedimentos operacionais que servem de mediação prática para a
realização das pesquisas” (p.124) e, portanto, devem estar em concordância com a
metodologia aplicada.
Para identificarmos o perfil dos sujeitos de pesquisa utilizamos um questionário de
identificação (Apêndice C). Nosso objetivo foi nos aproximarmos das características desses
estudantes, o que eles têm em comum, quais os motivos que os levaram a não concluírem seus
estudos quando ainda eram crianças. No Cenário 1, estes questionários foram aplicados no dia
05/03/2015, e no Cenário 2 aplicamos no dia 30 /04/2015.
Utilizamos a entrevista semiestruturada para nos aproximarmos das Representações
que os estudantes atribuem à escola. Acreditamos ter sido o melhor instrumento para nos
aproximarmos da subjetividade dos sujeitos da pesquisa e dos significados atribuídos ao
objeto de representação, a escola, pois segundo Severino (2007) a entrevista se constitui em
uma “técnica de coleta de informações sobre um determinado assunto, diretamente solicitadas
aos sujeitos pesquisados. [...] O pesquisador visa apreender o que os sujeitos pensam, sabem,
representam, fazem e argumentam” (p. 124). As entrevistas semiestruturadas (Apêndice D)
foram realizadas nos seguintes dias: dia 09/03/2015 entrevistamos os estudantes do Cenário 1;
45
e no dia 05/05/2015 os estudantes do Cenário 2. As entrevistas foram realizadas
individualmente, gravadas em equipamento de áudio-gravação e depois transcritas.
Utilizamos também a observação com o intuito de nos aproximarmos das situações
cotidianas que ocorrem nas instituições, campo de pesquisa, e assim compreendermos as
representações que os sujeitos atribuem ao objeto, Severino (2007) afirma que “[...] é através
deste instrumento que é possível o acesso aos fenômenos estudados” (p. 125).
Entendemos que os instrumentos utilizados foram necessários para cercar as
representações partilhadas socialmente no ambiente escolar com o objetivo de apreender
sentidos e significados atribuídos à escola, percebendo a maneira que os sujeitos encaram as
questões focalizadas, e assim, responder aos objetivos da pesquisa.
Para analisar, caracterizar e categorizar os dados obtidos utilizamos a técnica Análise
de Conteúdo que, segundo Bardin (1977):
É um conjunto de técnicas de análise de comunicações. Não se trata de
um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor,
será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade
de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as
comunicações. (p. 31)
Esta técnica permite que o pesquisador entenda as representações que dos indivíduos,
levando em consideração os saberes partilhados e as comunicações estabelecidas durante o
processo com o objetivo de responder como a escola está representada entre os estudantes da
Educação de Jovens e Adultos no Município de Garanhuns/PE.
Desta forma, os dados foram organizados em categorias a partir das respostas dos
sujeitos, ou seja, cada categoria criada a priori envolveu diversos elementos das
representações que foram agrupados em classes de acordo com a relação entre as respostas.
Desse modo, no capítulo a seguir apresentam-se os resultados e as análises dos mesmos à luz
dos referenciais teóricos.
46
CAPÍTULO IV - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quem não sabe ler é cego.
(E4C1T2)
O presente estudo objetivou analisar as Representações Sociais de escola, partilhadas
entre Estudantes da Educação de Jovens e Adultos, no município de Garanhuns. A teoria das
Representações Sociais nos deu o aporte teórico metodológico para apreendermos as
representações em torno da escola, ancoradas pelos sujeitos da EJA, através da comunicação
estabelecida, carregada de significados, desejos e expectativas em torno do objeto
representado. Sobre a forma de apreender as Representações Sociais de um determinado
grupo social, Mazzotti (1994) cita que
Ao estudá-las como produto, procuramos apreender seu conteúdo e sentido
através de seus elementos constitutivos: informações, crenças, imagens,
valores, expressos pelos sujeitos e obtidos por meio de questionários,
entrevistas, observações, análise de documentos, etc., entretanto, para que
constituam uma representação, esses elementos devem se apresentar como
campo estruturado (p. 70).
Diante de todo trajeto percorrido chega-se a uma fase importante da pesquisa, a análise
dos dados adquiridos ao longo do estudo. Após a leitura flutuante do material coletado por
meio das entrevistas, foi realizada a transcrição de todas elas; posteriormente, a leitura
exaustiva para definição do corpus da análise, já que optamos por uma pesquisa em que os
sujeitos entrevistados pudessem falar por si mesmo sobre o significado da escola em suas
vidas.
Sabe-se que os sentidos atribuídos pelos sujeitos à escola atravessam todo o seu
discurso, porém, a fim de facilitar a leitura, compreensão, análise dos dados coletados e
alcançar os objetivos da pesquisa, organizamos os dados em categorias, a saber: a) abandono
e retorno escolar, b) O que é a instituição d) Perspectivas futuras.
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OS MOTIVOS QUE LEVAM OS ESTUDANTES AO ABANDONO ESCOLAR E AS
NECESSIDADES QUE OS FAZEM RETORNAR
A gente vê as coisas e não sabe, e a gente quer saber.
(E5C1T2)
Os estudantes da Educação de Jovens e Adultos tem sua trajetória de vida marcada
pelo afastamento precoce do ambiente escolar. São vários os motivos que promovem o
distanciamento desses sujeitos de um processo que lhes é garantido, Amorim (2009) cita
como motivos de afastamento escolar, a dificuldade de acesso à escola; a inserção precoce no
mercado de trabalho e o fato de ser filho de trabalhador rural em sua maioria analfabeto. Em
nossa análise, identificamos esses fatores entre os sujeitos da nossa pesquisa. Quando
interrogados sobre os motivos que levaram a deixar de estudar, os sujeitos responderam:
Porque eu tinha que trabalhar pra ajudar mãe em casa, né? Ai meu pai
morreu, deixou doze filhos, era eu e outro os mais velhos, ai nós tinha que
trabalhar. (E4C1T2)
Porque meus pais era classe baixa, né? Carente, e eu tive que trabalhar pra
ajudar eles. (E6C1T2).
Não lembro. Eu repetia muito e depois eu desisti. (E11C2T3).
Eu repetia. Desisti por conta da prova de matemática, que me assusta até
hoje. (E13C2T14).
Estudei bem pequena, quase não tinha escola na cidade, só tinha a escola de
seu Juquinha perto de casa (escola particular) ai deixei de estudar.
(E9C2T3).
Os depoimentos demonstram os motivos pelos quais levaram os sujeitos da pesquisa
abandonarem a escola no município de Garanhuns/PE. O maior fator de abandono escolar se
apresenta como motivação externa à vontade dos indivíduos, o maior índice de justificativa
pelo abandono escolar foi a necessidade de trabalhar para ajudar os pais nas despesas de casa.
É importante ressaltar que a oportunidade de trabalhar representa para os sujeitos uma
possibilidade de sobrevivência e único meio de suprir as necessidades básicas da família
(ABDALLA, 2004). Em seguida apresentam-se como motivos de abandono, o fracasso
escolar e o difícil acesso à escola. Desta forma, entendemos os motivos citados pelos
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estudantes como fatores coletivos, que ascendem sobre a questão social e condições dignas de
sobrevivência. Corti e Vóvio (2007) citada por Ponte (2012) enfatizam que:
Por trás de motivos que parecem individuais, há na verdade inúmeras
barreiras de ordem social, econômica, política e educacional. Afinal
escolarizar-se não é algo que dependa simplesmente de disposição
individual, de um simples desejo ou do esforço de cada um. Trata-se de um
direito constitucional que deve ser garantido pelo poder público e que exige
uma rede de apoio social bastante ampla. (p. 10).
Nas falas dos sujeitos da pesquisa podemos encontrar de maneira clara esses aspectos,
que caracterizam o abandono escolar por fatores que vão além da vontade do indivíduo, são
depoimentos expostos que carregam consigo uma dura realidade de vida.
não tinha nem mãe nem pai não, nasci sem mãe e sem pai, foi difícil pra
mim, não teve uma pessoa pra chegar e dizer você vai fazer isso, isso, eu
tinha terminado meus estudos, eu não estava aqui hoje. Mas não tive
ninguém por mim. (E14C2T4).
O depoimento abaixo, do estudante E8C2T3 nos chamou atenção pelo fato de que ele
remete o motivo do seu afastamento do ambiente escolar ao pai, que não atribuía significados
à escola, suficientes para garantir que ele a frequentasse, no momento da entrevista o
estudante chegou a se emocionar fortemente, sendo necessário, dar uma pausa para podermos
continuar.
Meu pai era feito cigano, no meio do mundo. A gente não tinha parada. Meu
pai era morador dos fazendeiros, e a gente nunca fazia ninho. Quando
começava a melhorar ele achava que tava ruim e ia embora à procura de
melhora... Só atrapalhou a vida da gente na verdade. Ele não procurou
ajudar a gente. (emocionado o estudante responde, chorando e lamentando
por não ter estudado enquanto criança). (E8C2T3)
Assim, compreende-se que os estudantes chegam à escola em busca daquilo que lhes
foi outrora negado, o direito a escolarização ora pela entrada precoce no trabalho, ora por não
responder aos desejos de seus responsáveis; pois, apesar de estarem inseridos no mundo do
trabalho, realizarem suas atividades diárias, sentem-se excluídos da sociedade por não saber
ler e escrever, como percebemos nas análises a seguir.
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Quando interrogados sobre o motivo que pelo qual retornaram à escola, observamos
que suas falas remetem a motivos relacionados à necessidade de aprender ler e escrever para
obter maior autonomia em seu dia a dia e ascensão social. Mesmo já tendo uma longa
trajetória de vida, em seus depoimentos eles afirmam que durante os seus percursos diários
sentem dificuldades para comprar, andar sozinhos e para conseguir um emprego melhor:
Foi o interesse de eu conseguir uma carteira de motorista e se aperfeiçoar em
escrever, que eu não escrevo correto. (E1C1T1).
Pra aprender mesmo, né? Que a gente cansa de não saber nada, (grifo
nosso) e não conhecer esse lado de aprender a ler, que a gente vê as coisas e
não sabe e a gente quer saber. Você pega o endereço e não sabe pra onde
você vai, tem que ter uma pessoa pra ir com você. E serviço, né? Eu sofri
muito em serviço, porque eu não conseguia encontrar o endereço sozinha,
meu marido levava eu. (E5C1T2).
Tem vez que a gente precisa preencher um formulário desse tamanho, e paga
um mico que não sabe pra onde vai, e a gente aqui aprendendo é bom pra
nós. [...] Eu tenho habilitação, mas, de cinco em cinco anos tenho que
renovar minha carteira. Quando chega no Detran a gente recebe um papel, e
eu tremi lá. Daqui a dois anos quero chegar no Detran e preencher a ficha
sozinho. Eu levo sempre minha filha, e a mulher também fica olhando.
(E8C2T3).
Ah...O motivo foi porque eu acho que a leitura não é coisa que se compra
com dinheiro. E assim, eu mesmo tenho muita dificuldade pra pegar ônibus,
ler uma coisa, pesquisar um preço, ver uma promoção. Também meus filhos
quando for pro colégio, como eu vou ensinar a tarefa? Tudo isso me fez
voltar pro colégio. Aprender ler e escrever. (E9C2T3)
Melhorar a convivência com o mundo de hoje também né, procurar melhorar
na leitura. Eu tenho vontade de futuramente ser mestre de obra, né? Invés de
ser só o pedreiro, ser mestre. (E13C2T4)
É porque eu fui fazer um curso lá no SENAC, né? Ai eles perguntaram a
minha escolaridade e mandaram eu vim terminar os estudos. (E14C2T4).
Percebemos de início que os estudantes dão grande relevância para a escola em
relação à aquisição das habilidades de leitura e escrita. Há o reconhecimento de que esta
instituição tem de fato o papel de transmitir conhecimento, entretanto, para os sujeitos eles
são restritos ao domínio do ato de ler e escrever. Embora reconheçamos que nas sociedades
complexas a leitura e a escrita ganha relevância nas relações e comunicações sociais
compreendemos que a instituição escolar é um espaço para além da instrumentalização, e
como tal ela deveria em respeito as características do público que atende na Educação de
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Jovens e Adultos avançar em relação aos saberes das diversas áreas do conhecimento. A
escola que abriga a EJA não deve se limitar a um espaço físico para apenas a aquisição de
habilidades instrumentais, mas deve enxergar os estudantes que a procuram, dentro de suas
especificidades e necessidades; promovendo através desse olhar, novas oportunidades.
Esse tipo de escola que tem como finalidade apenas a instrumentalização foge da
perspectiva defendida por Sacristán e Goméz (2000) e Libâneo (2005), os autores
compreendem que a escola deve articular os saberes com o objetivo de levar os estudantes a
pensar de maneira autônoma, respeitando os saberes já adquiridos pelos educandos advindos
de suas vivências e ampliando este conhecimento em busca de uma melhor qualidade de vida.
Entendemos que as representações são construídas socialmente, nas relações com os
outros e com as instituições e objetos sociais, podemos inferir que a escola que oferece a EJA
pode estar deixando a desejar na garantia de um espaço que de fato devesse politizar para
além de instrumentalizar.
Outro elemento nestes depoimentos que nos salta, diz respeito à busca por alcançar
melhores condições nos trabalhos desenvolvidos através dos conhecimentos adquiridos na
escola. Foi comum nas falas a afirmação de que a escola poderia dar melhor situação em
relação ao trabalho, facilitando o cotidiano ou promovendo ascensão. De fato, a relação entre
escola e trabalho socialmente é entendida de forma direta, e os participantes do estudo
demonstram partilhar desse sentido. Eles depositam a crença de que este retorno à escola e a
aprendizagem oficial dos conhecimentos trará a garantia de melhoria nas condições de
trabalho.
Ah... Para aprender mais, e também assim, eu queria arrumar um emprego
melhor também, né? Fazer um concurso... Ai precisa dos estudos e aprender
mais também, né? (E12C2T4).
Mesmo identificando elementos de valorização da aquisição das habilidades de ler e
escrever, e da compreensão direta entre o acesso à escola e a melhoria nas condições de
trabalho, o fator que mais nos chamou a atenção nos depoimentos foi a compreensão por parte
dos sujeitos de que a escola traria o seu reconhecimento pessoal, como ilustra a fala a seguir:
Pra ser alguém mais na vida, né? Pra ser uma pessoa melhor.
(E2C1T1)
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Falas como a deste sujeito nos mostram que mesmo já constituindo famílias,
desenvolvendo suas profissões e construindo suas histórias de vida os estudantes parecem
esperar o reconhecimento de “ser alguém na vida” somente após a passagem pela escola.
Para nós esse elemento tem uma força muito grande porque exprime os desejos deste grupo
social e suas expectativas em relação a resposta da instituição escolar. Cortada (2013) acredita
que a quase totalidade do público que frequenta a EJA, habita a esfera socioeconômica da
exclusão, carrega consigo as experiências de vida e retornam à escola em busca do sonho de
uma vida melhor, no desejo de um trabalho de remuneração mais digna, autonomia na vida
diária ou em busca do simples resgate da escolaridade.
Estamos cientes de que a sociedade ainda reforça a instituição escolar como um
espaço que garante melhores condições de vida, por outro lado, também compreendemos que
essa melhoria não é alcançada por todos que frequentam a instituição escolar. A presença
desses elementos na representação dos estudantes nos leva a refletir sobre esses desejos que
são alimentados pelo social.
Para Rey (2004), “o sentido é guiado por aquilo que o sujeito sente e que nos leva a
tentar conhecer a produção social dessa forma de sentir”. Diante das falas dos sujeitos é
possível perceber que eles sentem a escolarização como algo necessário em suas vidas, e que
lhes faz falta, no sentido que serviria como ponte para a inserção social e para aquisição de
melhores condições de vida.
Nesse sentido, é possível compreender as falas dos sujeitos dentro da concepção
apresentada por Amorim (2009), que identifica as razões pelas quais os estudantes retornam à
escola diretamente associadas com os seus interesses sociais.
Os resultados nos mostram que os estudantes dos dois Cenários da pesquisa, retornam
à escola em busca de objetivos em comum, aspiram por aprender a ler e escrever, como sendo
esta a única função desenvolvida pela escola, e o aporte para uma melhor qualidade de vida.
Nesse sentido, o papel social da escola se insere na perspectiva de proporcionar a esses
educandos, através do processo de escolarização, condições propícias para que eles possam
atuar na sociedade.
Nesse sentido, Freire (1987), compreende as aspirações desses sujeitos, como a busca
pela afirmação do homem enquanto ser social, na tentativa de conquistar a liberdade, essa
busca pela libertação e humanização não se dá de maneira isolada, mas, através do esforço
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próprio e da comunhão, esse modo de educação é abordado por Freire (1987) quando cita,
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo” (p. 39). Desta forma, a escola torna-se necessária no processo de
libertação, com o papel de transformar o pensamento mecânico, proporcionando a educação
problematizadora e consciente, promovendo o intercâmbio contínuo entre o saber escolar e os
saberes dos educandos. A escola que promove este diálogo, propõe uma educação pautada no
ouvir e na comunicação, consistindo esta, como lugar de interação e representação social.
A INSTITUIÇÃO ESCOLAR: O QUE É, E PARA QUÊ SERVE?
A Educação de Jovens e Adultos é um terreno de singularidades, seja na
heterogeneidade etária e cultural, como nos interesses e experiências dos estudantes. Através
do aporte da Teoria das Representações Sociais, que trata do senso comum partilhado por um
determinado grupo social, nesse caso, estudantes da EJA, é possível nos aproximarmos dos
sentidos subjetivos elaborados e reelaborados por esse grupo.
As Representações Sociais não podem ser reduzidas a meras representações, pois são
construídas através da interação entre os grupos. Segundo Sales (2012) a Teoria das
Representações Sociais parte do senso comum, buscando dar sentido aos pensamentos, falas e
atitudes das pessoas, partindo do universo consensual e do universo reificado, é possível
compreender o pensamento social em sua dinâmica e diversidade. Sobre isto a autora dialoga
com Andrade (2003) que entende as Representações Sociais como sistema de mediação entre
sujeito e objeto representado, transformando aquilo que parecia individual em linguagem
comum, levando a compreender e classificar sentidos apresentados em um mesmo grupo.
Para nos aproximarmos das representações sociais partilhadas, os estudantes foram
instigados a falar a respeito do que é a escola. Na análise destes elementos, foi possível
identificar dois grupos, um que identifica a escola como lugar para instrumentalizar
habilidades, sendo elas, ler e escrever, para aplicações em suas vidas diárias; e outro grupo
que identifica a escola como lugar também de interação social. Nossa análise se aproxima dos
achados de Ponte (2012), que, em seu estudo também identifica estes dois grupos nomeando-
os como Aspectos Educacionais e Aspectos Sociais, sendo assim, a escola é um local
eminentemente social. No primeiro grupo, os sujeitos da nossa pesquisa representam a escola
como:
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A escola é tudo. Ensina a pessoa ler, escrever, tudo de bom. (E2C1T1)
Tudo, né? Pra me ensinar e eu aprender o que eu não sei, e foi muito
importante, e... eu conhecer o mundo, né? Que eu não conhecia, era cego,
quem não sabe ler é cego. Então passa a conhecer o mundo, que nem agora
mesmo, já tou conhecendo o mundo. (E4C1T2).
Educação, muita educação, pra respeitar os amigos e aprender ler e escrever.
(E8C2T3)
Serve pra dar educação, né? Ensinar muitas coisas. Saber ler né. (E14C2T4).
A valorização da escola enquanto lugar destinado a aquisição das habilidades de
leitura e escrita ganha destaque nos depoimentos dos estudantes, o que nos permite cercar os
sentidos atribuídos à escola. Percebemos através das falas dos sujeitos, um esforço em
apresentar outros objetivos da educação, porém, a instituição é compreendida como espaço
que promove o desenvolvimento e aprendizagem dos sujeitos que a procuram depois de
adultos.
Diante das falas dos sujeitos da pesquisa foi possível cercar suas concepções acerca da
estruturação e organização da escola, os sujeitos não expõem desejos de uma escola com
estrutura física melhor, condições mais dignas para merendar ou até mesmo o acesso a todos
os ambientes escolar existentes, eles demonstram em suas falas que o importante eles já
possuem que é uma sala de aula e um bom professor pois o seu maior objetivo é aquisição da
leitura e da escrita e para isto não entendem como necessário uma boa estrutura física.
Esse elemento nos faz refletir sobre as políticas de permanência na escola,
principalmente porque foi um grupo que, em sua maioria, teve acesso, mas não conseguiu
concluir seus estudos. Se na época de abandono as instituições fossem organizadas para
garantia dessa permanência, o número de evasão não seria menor? Acreditamos que melhores
condições nas estruturas das instituições garantiriam a maior permanência dos estudantes para
a conclusão dos seus estudos, e embora os nossos sujeitos partilhem de espaços que não
garantem acesso à biblioteca, laboratórios de informática e nem mesmo materiais didáticos
adequados, como no Cenário 2, para eles a escola já se apresenta de forma satisfatória.
No segundo grupo a escola é representada pelos sujeitos como um espaço que vai lhes
conferir habilidades de interação social, saber falar melhor, trocar experiências. Para além da
compreensão da escola como um espaço que promove amizade, partilha e respeito, como
remete o pensamento de Gadotti (2007), quando compreende que “a escola não é só lugar
54
para estudar, mas para se encontrar, conversar, confrontar com o outro, discutir, fazer política.
[...] A escola não é só um espaço físico. É, acima de tudo, um modo de ser, de ver. Ela se
define pelas relações sociais que desenvolve” (p. 12), os estudantes reforçam a instituição
escolar como um espaço que ensina,a se relacionar com os outros. Os depoimentos de alguns
dos estudantes, sujeitos da pesquisa, que se enquadram nesse segundo grupo, conotam com
esse sentido atribuído à escola, quando eles assim se expressam:
Cidadania, né? Somos cidadão que precisa vir à escola. Que a gente aprende
tanto a ler e escrever como a falar com as pessoas. (E1C1T1).
É um lugar que a pessoa aprende a respeitar as pessoas, os professores, os
alunos, que a gente tem que respeitar o amigo também, ne? A gente aprende
muito na escola. (E12C2T4).
A escola pra mim é uma formação, né? A gente forma caráter, conhece
pessoas e compartilha o dia a dia. A gente “vevi” trabalhando, o estresse do
dia a dia, você chega na escola vê pessoas diferentes, pessoas que dão forças,
né? Na rua a gente não encontra. (E13C2T4).
Essa forma de representar a escola é caracterizada por Capucho (2012) como a
educação plena do cidadão; a referida autora aponta que a partir do reconhecimento da
Educação de Jovens e Adultos como modalidade de educação básica, regulamentada pela Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96), a EJA passa a ter como um dos objetivos a
formação para a cidadania e o desafio de assegurar o desenvolvimento integral do cidadão.
Através dos perfis traçados, é possível verificar que os sujeitos que mais representam a
escola como lugar de interação social, são estudantes que enquanto crianças tiveram um
histórico escolar fracassado, ou seja, abandonaram a instituição por admitir não ter tido
interesse em continuar com seus estudos. Nesta perspectiva podemos citar a fala do estudante
E14C2T4 “no meu tempo quando eu estudava, levava era bolo na mão. Era um “O” eu dizia
“A”, a professora chegava e metia a palmatória na mão”. Diante desta fala, é possível notar
que antigos métodos e práticas de ensino com crianças, podem constituir-se também como
fator para o fracasso escolar, já que, de acordo com Cortada (2013) “a possibilidade de
permanência e continuidade dos estudos em um ambiente que seja prazeroso são questões a
serem consideradas” (p. 28).
Os resultados das entrevistas nos apresentam os elementos das representações de
escola construídas por estudantes da Educação de Jovens e Adultos. As referidas
55
representações nos remontam a uma compreensão desta modalidade de ensino enquanto lugar
que oferece a possibilidade desses sujeitos recuperar o “tempo perdido”. Reafirmando o que
Jodelet (2001b) compreende por Representações Sociais, sendo estas, “uma forma de
conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui
para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (p. 22)”, podemos afirmar
que a representação de escola é vista de forma positivada pelos sujeitos da pesquisa, que a
procuram em busca de ascensão e interação social encontrando nela elementos que
possibilitam a aprendizagem dos conhecimentos e habilidades necessárias que garantam uma
autonomia no dia a dia, uma melhor qualidade de trabalho e um reconhecimento social.
ENTRE DESEJOS E EXPECTATIVAS: OS ANSEIOS NO RETORNO À ESCOLA
Diante dos motivos de abandono e retorno escolar e das representações de escola
partilhadas entre os sujeitos da pesquisa, considera-se importante apresentar o que esses
sujeitos trazem à tona como anseios e perspectivas futuras para a sua vida social. Os
estudantes da Educação de Jovens e Adultos, sujeitos do nosso estudo, retornaram à escola
por vontade própria e esse elemento os torna disponíveis para uma aprendizagem
sistematizada, mesmo que essa vontade esteja diretamente ligada ao fator de sobrevivência
(Rogerro, 2013). Das entrevistas depreendemos elementos das representações sociais que
agregam fatores que evocam os anseios e expectativas em relação à escola, sendo estas, a
aquisição da leitura e da escrita como ponte para uma melhor qualidade de trabalho, além da
preocupação com o futuro dos filhos. Desse modo, os estudantes falam sobre a necessidade de
ter um emprego melhor e de proporcionar aos filhos uma melhor qualidade de vida.
Quero aprender, pra quando eu chegar em algum lugar, quando eu ver
alguma frase eu poder ver com meus próprios olhos e falar com minha
própria boca. Saber ler é o mais importante, porque a gente que não saber ler
é como um cego, não ver nada. (E6C1T2).
Eu pretendo seguir, ser mestre de obra, então tenho que ter o estudo, porque
se não tiver estudo nem de gari trabalha mais. (E13C2T4).
Eu vou arrumar um serviço melhor. Vou sair desse sofrimento de pedreiro,
né? Daqui a uns dias, né? Quem sabe? Só quem sabe é Deus. (E14C2T4).
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Como podemos observar nos trechos das entrevistas acima, há um diálogo entre os
sentidos atribuídos à escola na categoria anterior e as perspectivas futuras em relação ao
processo de escolarização. A escola que é representada como lócus para aquisição de
habilidades instrumentais, também proporciona aos educandos a expectativa de ascensão
social, vinculada primeiramente à aquisição da leitura e da escrita. Outro fator que é
representado nas falas dos sujeitos é a aspiração pela aquisição da autonomia, percebe-se que
os mesmos estão cansados de depender de outras pessoas para realizarem tarefas diárias que
demandem a necessidade da leitura. É notório o esforço que o estudante E6C1T2 faz para
deixar claro que deseja aprender a ler, quando diz: “Quero aprender, pra quando eu chegar em
algum lugar, quando eu ver alguma frase eu poder ver com meus próprios olhos e falar com
minha própria boca” ele enfatiza o fato de não querer mais ser dependente e ter que pedir para
que alguém leia algo para ele, e continua em sua fala evidenciando essa necessidade como um
anseio profundo quando diz “a gente que não saber ler é como um cego, não vê nada”.
Diante de tais depoimentos podemos contemplar a Educação de Jovens e Adultos não
apenas como uma oferta, mas, como uma necessidade emergente de uma desigualdade social
que exclui mais do que inclui e acaba deixando esses sujeitos de fora do processo de
escolarização enquanto ainda eram crianças. Sobre isto, Paiva (2006) cita que
“Especificamente na Educação de Jovens e Adultos (EJA), a história não só registra os
movimentos de negação e de exclusão que atingem esses sujeitos, mas se produz a partir de
um direito conspurcado muito antes, durante a infância, esta negada como tempo escolar e
como tempo de ser criança a milhões de brasileiros” (p. 1). Uma realidade dura e cada vez
mais presente no ambiente escolar, pois, diante do direito ao acesso a escolarização e das
demandas sociais existentes atualmente, esse público tem procurado a escola com mais
frequência.
O segundo grupo que constitui esta categoria apresenta a preocupação de pais e mães
em proporcionar um futuro melhor para os seus filhos. Em suas falas os estudantes
evidenciam aspectos analisados anteriormente no que diz respeito a aquisição da leitura e da
escrita, apontam que tais habilidades são passos para aquisição de um emprego melhor e
apresentam como objetivo da busca por melhores condições de vida, a oportunidade de
proporcionar um trajeto escolar diferente para seus filhos.
Eu tenho um desejo no meu coração, de deixar de trabalhar na casa dos
outros. Eu quero estudar, me formar em alguma coisa, ter um emprego
melhor, dar uma vida melhor aos meus filhos, por tudo isso. (E9C2T3).
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Meu objetivo é trabalhar, ter um emprego melhor para sustentar uma casa e
pra isso a gente tem que estudar. (E12C2T4).
Sim, eu tenho um incentivo na minha vida, que quando eu aprender a ler eu
vou fazer minha carta de motorista, ser alguém na vida, né? Ter outro
trabalho, outra profissão e dar o melhor pra minha filha não ter as
dificuldades que eu tenho. (E2C1T1)
Desta forma, compreende-se que a Educação de Jovens e Adultos deve se constituir
como espaço de inclusão social, que recebe um público que se encontra marginalizado pelo
fracasso ou abandono escolar e retornam à escola cheios de expectativas. Uma das
expectativas que pudemos nos aproximar é o desejo de oportunizar aos filhos uma condição
de vida mais digna. A estudante E12C2T4, apresenta em sua fala uma aspiração futura,
primeiro ela está se preparando, recuperando o tempo que ficou afastada da escola para depois
constituir uma família e assim ter a condição de oferecer melhorias em relação a sua condição
econômica, dando para seus filhos condições melhores do que a que ela teve enquanto
criança, e assim, não necessitar se afastar da instituição escolar em troca do trabalho.
A escola nesse sentido deve se contrapor a qualquer forma de exclusão ou de prática
que não atendam as especificidades do público que frequenta esta modalidade de ensino.
Sobre isto, Capucho (2012) compreende a EJA como um direito humano e local de respeito às
diferenças, estas diferenças, aqui entendidas como diversidade de objetivos, anseios e
perspectivas. A autora ainda cita que compreender a EJA dentro desta concepção “significa
desafiar governos e escolas a incluir a todos (as) independentemente de suas condições
físicas, sociais, linguísticas ou outras, garantindo o acesso, a aprendizagem, a socialização e a
permanência” (p. 72).
58
CAPÍTULO V - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas,
sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos, geram quase sempre
barreias de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar
o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam (FREIRE, 1987, p. 31).
Na tentativa de definir a Educação de Jovens e Adultos, apontamos aspectos
históricos, sociais e legais que colocam a EJA como um território único e singular. É uma
modalidade de ensino garantida pela lei que rege a educação nacional (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação – 9.394/96), para atender a um público específico. Na maioria, são cursos
parciais, noturnos, destinados a estudantes trabalhadores que não tiveram a oportunidade de
estudar enquanto criança, ou que abandonaram os estudos ainda na idade adequada para a
escolarização. Nesse sentido, a referida lei tem a intenção de garantir não apenas a oferta de
vagas, mas, sobretudo, a inserção educacional pautada em compreender e atender os
estudantes dentro de suas necessidades e capacidades.
Neste estudo, a escola é concebida como espaço de significações e sentidos, assim, ela
deve estar pautada em uma perspectiva que vai além das letras, além da instrumentalização e
se enquadra em um papel de dar sentido ao processo de aquisição da leitura e da escrita, que
de acordo com as nossas análises, é o principal motivo de retorno do estudante para concluir
os estudos. Sendo a escola defendida por Gadotti (2007) como espaço relações e de
representações sociais, buscamos através de uma aproximação com a Teoria das
Representações Sociais, cercar os sentidos que os estudantes da Educação de Jovens e
Adultos atribuem à escola.
A Teoria das Representações Sociais é constituída por elementos resultantes das
relações e interações sociais, são os sentidos dados ao objetivo a partir do senso comum, que
evidenciam o desconhecido, explicando a realidade e a posição tomada pelo sujeito mediante
ao objeto. Machado (2013) apresenta o campo educacional como espaço privilegiado para
observar a construção dos elementos de representações no interior de grupos sociais.
Nesta perspectiva, este estudo foi desenvolvido com a finalidade de responder a
seguinte problemática: Como os estudantes da Educação de Jovens e Adultos representam a
escola no Município de Garanhuns/PE? O objetivo geral foi analisar as Representações
Sociais de escola, partilhadas entre estudantes da Educação de Jovens e Adultos, no município
de Garanhuns/PE e como objetivos específicos o trabalho propôs, identificar o conteúdo das
59
Representações Sociais de Escola e compreender como essas representações, influenciam a
relação dos estudantes com a Instituição Escolar
A pesquisa foi realizada em duas escolas que oferecem a modalidade da Educação de
Jovens e Adultos na rede municipal de ensino em Garanhuns/PE. Os sujeitos da pesquisa
foram 14 estudantes matriculados na 1ª e 2ª fase da EJA nas escolas campo de pesquisa. Os
estudantes, sujeitos da pesquisa, abandonaram a escola ainda no início do processo de
escolarização. Vários depoimentos apontaram a necessidade de trabalhar como sendo um dos
motivos que os levaram ao abandono escolar. Estes estudantes retornaram à escola como pais
e mães de família em busca de melhores condições de vida. Outros fatores evidenciados nas
falas dos sujeitos como motivos de abandono escolar foram a falta de interesse em continuar
os estudos, a falta de incentivo da família e o difícil acesso à escola.
Através do nosso estudo, foi possível perceber, que o retorno à instituição escolar, se
dá pela necessidade que os sujeitos sentem, de aprender a ler e escrever como passaporte para
o reconhecimento social, ser alguém na vida. Os estudantes reconhecem a escola como
ambiente propício para a transmissão de conhecimento, este, restrito ao domínio do ato de ler
e escrever.
A Educação de Jovens e Adultos é marcada pela heterogeneidade na cultura, interesses
e faixa etária dos estudantes. A Teoria das Representações Sociais nos permite, através das
falas desses sujeitos, transformar o que parece individual em linguagem comum e classificar
os sentidos atribuídos ao objeto, por um mesmo grupo social.
Os elementos de representação de escola partilhados entre os sujeitos do nosso estudo
demonstram que a mesma está representada por eles, como local eminentemente social. Foi
possível localizar dois grupos, o primeiro valoriza a escola enquanto lugar para aprender a ler
e escrever e o segundo que representa a escola como lugar passível de conferir habilidades de
interação social. Sabemos que, a merenda, o transporte escolar e o material didático são
meios que garantem a permanência desses estudantes na escola, entretanto, eles não
demonstram em suas falas buscar por melhorias nesses serviços ou almejar uma estrutura
física melhor para a escola em que estão inseridos. Para eles, basta uma sala de aula e um bom
professor que lhes ensine a adquirir habilidades técnicas de leitura e escrita e de interação
social.
Desta forma, a escola está representada pelos sujeitos da pesquisa, estudantes da EJA,
com aspectos positivados em suas falas, é lugar que oferece a possibilidade de recuperar o
tempo perdido e adquirir habilidades instrumentais para uma vida mais facilitada. Diante dos
resultados das entrevistas, nos aproximamos dos anseios e expectativas dos estudantes em
60
relação ao retorno à escola. A instituição que nos elementos de representação desses
estudantes apresenta-se como lócus para a aquisição de habilidades instrumentais, também é
representada por eles como ponte para adquirir autonomia para realizarem as atividades do dia
a dia que são vinculadas a aquisição da leitura. Os sujeitos demonstram aspirar por empregos
melhores ou ascensão em seu trabalho com a finalidade de proporcionar uma vida melhor
para os filhos.
Mediante esses anseios é possível perceber que a EJA é uma necessidade emergente
de uma desigualdade social e que necessita de políticas que impulsionem a esses indivíduos
chegarem a alcançar seus anseios para que haja uma mudança futura e mais crianças não
necessitem se afastar da escola, principalmente para entrada precoce no mundo do trabalho.
Nesse sentido, a escola deve ser um local que atenda as especificidades do público
que frequenta da EJA, enxergá-los como sujeitos que desenvolveram estratégias de
sobrevivência em uma cultura escrita, considerar as experiências de fracasso escolar que os
sujeitos já experimentaram proporcionando um ambiente além de acolhedor, lugar de
reflexão, de atribuição de significados à aprendizagem da leitura e da escrita; ouvir os sujeitos
a fim de conhecer seus conhecimentos, expectativas e desenvolver estratégias que ajudem a
garantira aprendizagem e a permanência desses estudantes no ambiente escolar e assim,
concluir seus estudos.
Dessa forma, consideramos que ainda há muito que penetrar no território da EJA
através de investigações que permitam saber: como esses estudantes estão chegando ao final
das turmas da EJA do Ensino Fundamental? Quais as representações de escola dos estudantes
que estão concluindo este ciclo? Quais seus anseios? Mudam, ou são os mesmos? E a prática
pedagógica, o que ela influencia na relação do estudante com a escola e suas representações?
São questionamentos que podem contribuir para pesquisas futuras no âmbito da Educação de
Jovens e Adultos, tendo o objetivo de ouvir os estudantes obtendo os resultados a partir de
suas falas.
61
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66
APÊNDICE A – FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
Nome da escola: ______________________________________________________
Endereço: ____________________________________________________________
Horário de funcionamento: manhã ( ) tarde ( ) noite ( )
Níveis e Modalidades oferecidas:
( ) Educação infantil
( ) Ensino Fundamental (anos iniciais)
( ) Ensino fundamental (anos finais)
( ) Ensino médio
( ) Educação de Jovens e Adultos
( ) Outros ______________________________________________________________
Prédio próprio, alugado, adaptado? __________________________________________
________________________________________________________________________
Quantidade de salas de aula? ________________________________________________
( ) Sala de Recursos ( )Sala de Leitura ( )Laboratório de Informática
( ) Refeitório ( ) Quadra ou Salão
Horários de funcionamento: ______________________________________________________
Quantidade de turmas na escola? __________________________________________________
Quantidade de estudantes na escola? _______________________________________________
67
Quantidade de turmas de EJA: ____________________________________________________
Quais turnos são oferecidos a modalidade da EJA? _______________________________
Quantidade de estudantes da EJA: ____________________________________________
A quanto tempo oferece a modalidade de EJA? _______________________________________
Quantos professores ensinam na EJA? _________________________________________
Como são as salas de aula da EJA? ___________________________________________
Quais os materiais didáticos utilizados? ________________________________________
Qual o livro didático da EJA? ________________________________________________
Como é feita a escolha do livro didático? _______________________________________
Observações: _____________________________________________________________
68
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos V.Sa. a participar da pesquisa: ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS E A ESCOLA: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS,
que tem por objetivo conhecer como a Escola está representada pelos estudantes da EJA, além
de compreender a importância da mesma para a sua vida social.
O motivo que nos leva a desenvolver este estudo decorre do interesse em ampliar os
estudos acerca do contexto histórico e das individualidades dessa modalidade de ensino e de
nos aproximar da Escola, através do olhar do estudante, dando voz a estes sujeitos oriundos de
uma situação de exclusão, rejeição ou abandono escolar.
Como procedimentos de coleta de dados utilizaremos: questionário, entrevista
semiestruturada e observações. Tanto o questionário respondido pelos participantes e os
depoimentos que serão gravados durante a entrevista ficarão sob responsabilidade da
pesquisadora. Destacamos ainda aos participantes os seguintes direitos: a garantia de
esclarecimento e resposta a qualquer pergunta; a garantia de privacidade à sua identidade e do
sigilo de suas informações, e a garantia do retorno dos benefícios obtidos através das
pesquisas para as pessoas e as comunidades onde as mesmas forem realizadas.
DECLARAÇÃO DO PARTICIPANTE
Eu_____________________________________________,fui informado (a) de maneira clara
dos objetivos da pesquisa acima, e esclareci minhas dúvidas. A pesquisadora GERCIANE
RAMOS DIAS, certificou-me de que os dados de identificação dos participantes desta
pesquisa serão confidenciais. Em caso de dúvida poderei localizar a devida pesquisadora no
endereço, Av. Bom Pastor, s/n, Boa Vista. Universidade Federal Rural de Pernambuco –
Unidade Acadêmica de Garanhuns e pelo e-mail [email protected]. Também
detenho a possibilidade de entrar em contato com a professora orientadora deste estudo,
Professora Taynah de Brito Barra Nova pelo e-mail: [email protected].
__________________________________________________________________________
Nome do participante Assinatura Data
__________________________________________________________________________
Nome do pesquisador Assinatura Data
69
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO DOS ESTUDANTES
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
Escola: _______________________________________________________________
Turma: _______________________________________________________________
Idade: _________
Sexo: ( ) feminino ( ) masculino
Estudou quando era criança? ( ) sim ( ) não
Até que série? _______________________________
Estado civil: _________________________________
Tem filhos? ( ) sim ( ) não Quantos? 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) Mais de três filhos ( )
Trabalha? ( ) sim ( ) não Profissão: ___________________________________
Com quantos anos começou a trabalhar?_____________________________________
70
APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
Com quantos anos deixou de estudar?
Por que deixou de estudar?
Você estuda nesta escola há quanto tempo?
Qual motivo te fez retornar à escola?
Para você o que é a escola?
A escola poderia lhe ajudar de alguma forma?
Mudou alguma coisa depois que você voltou a estudar?
71
APÊNDICE E – TRANSCRIÇÕES DAS ENTREVISTAS
ENTREVISTA 1
Com quantos anos deixou de estudar? Sempre estudava e desistia, deixei de estudar com 16
anos.
Por que foi que você deixou de estudar? Mais por falta de interesse.
Você estuda nesta escola a quanto tempo? Comecei este ano.
E qual foi o motivo que te fez voltar a estudar? Foi o interesse de eu conseguir uma
carteira de motorista e se aperfeiçoar em escrever que eu não escrevo correto.
Pra você, o que é a escola? Uma mudança de vida.
Você acha que a escola pode te ajudar de alguma forma? Pode, com certeza.
De que forma a escola pode estar te ajudando? Arrumar um trabalho melhor e tirar a
carteira de motorista.
Mudou algo na sua vida depois que você retornou à escola? Mudou meu... Meu
autoestima, foi, mudou. Meus interesses também.
Você já sabe ler? Já, já sei ler, agora que eu não tou escrevendo correto sabe, e eu retornei
pra ver se eu desenrola isso.
ENTREVISTA 2
Com quantos anos deixou de estudar? 14 anos
Então você deixou de estudar quando começou a trabalhar? Foi
Por que foi que você deixou de estudar? Mode a situação, pra poder ter minhas coisas.
Você estuda nesta escola a quanto tempo? Comecei este ano.
E qual foi o motivo que te fez voltar a estudar? Pra ser alguém mais na vida néh, pra ser
uma pessoa melhor.
72
E pra ser alguém na vida em que área, em que você acha que a educação influencia?
Acho que em tudo viss, eu só voltei mais pra escola, porque pra ta ensinando as coisas a
minha menina é tão ruim sem a pessoa saber ler. E a pessoa perde muita oportunidade de
trabalho, tudo.
O que é a escola pra você? A escola é tudo. Ensina a pessoa ler, escrever, tudo de bom.
Você acha que a escola pode te ajudar de alguma forma? Pode, e muito.
Em que a escola pode estar ajudando? Assim, começando me ensinar a ler, estudar e
depois eu ser alguém na vida.
E você acha que aprender a ler faz com que a pessoa seja alguém na vida, seja uma
pessoa melhor? Sim, com certeza, porque agente pode ter um bom emprego, aprende a ser
uma boa pessoa.
E será que uma pessoa que não sabe ler tem dificuldades para arrumar um bom
emprego? Smi, bastante. Eu perdi muitos trabalhos.
Mudou alguma coisa depois que você voltou a estudar? Sim, eu tenho um incentivo na
minha vida, que quando eu aprender a ler eu fazer minha carta de motorista, ser alguém na
vida néh, ter outro trabalho, outra profissão e dar o melhor pra minha filha não ter as
dificuldades que eu tenho.
E como foi em casa quando você decidiu voltar a estudar? Minha mãe, não quis, porque
ela disse que não ia ficar com os meninos. Ai o marido também ficou assim... porque ele
viaja, eu vou ver se mãe fica ou se arrumo alguém pra ficar, por enquanto ta com o pai.
Você enfrentou mais alguma dificuldade? Ta muito puxado, trabalho, chegar em casa,
fazer janta, tem dia que não da pra vim, mas a gente vai levando.
ENTREVISTA 3
Com quantos anos deixou de estudar? 13 anos
Por que foi que o você deixou de estudar? Porque eu casei fui morar com meu marido e
parei de estudar ele era muito ciumento, não deixava.
Você estuda nesta escola há quanto tempo? Comecei este ano.
73
Qual motivo te fez retornar à escola? Por causa do meu filho, que faltava muita aula, ai eu
resolvi estudar também e aproveite fico de olho nele.
E pra você, para que serve a escola? A escola é bom porque assim, pra mim começar todo
de novo, já desprendi algumas coisas, ai por isso que eu voltei a estudar.
Você acha que a escola pode te ajudar de alguma forma? Pode. Quais as tuas
expectativas em relação a estudar? Aprender mais um pouco, mais do que eu sei, tenho que
aprender um pouquinho a mais.
Com algum objetivo? Só pra mim aprender mesmo.
Mudou alguma coisa na tua vida depois que você voltou a estudar? Mudou, eu tou tendo
mais paciência em casa pra ensinar meus filhos.
E em casa quando você disse que iria voltar a estudar como foi, algum incentivo? Dessa
vez não teve ninguém pra me empatar não. Incentivo dos meus filhos.
ENTREVISTA 4
Com quantos anos deixou de estudar? Eu estudei quase nada néh, eu estudei quando era
pequeno de lá pra cá não estudei não, voltei a estudar agora néh.
Por que foi que o senhor deixou de estudar? Porque eu tinha que trabalhar pra ajudar mãe
em casa néh, ai meu pai morreu deixou doze... doze filhos de comer de balaio e mais era eu e
outro ai nós tinha que trabalhar.
Vocês trabalhavam para manter a casa? Era, para manter a casa se não ficava difícil.
Você estuda nesta escola há quanto tempo? Vai fazer dois anos agora.
Qual motivo te fez retornar à escola? Eu tive vontade de voltar, aqui pertinho de casa, me
deu aquela vontade e voltei.
E o senhor encontrou alguma dificuldade quando voltou a estudar? Não, não. Aff
mariaaa, tudo primeira.
Para você o que é a escola? Tudo néh, pra me ensinar e eu aprender o que eu não sei, e foi
muito importante, e... eu conhecer o mundo né, que eu não conhecia, era cego, quem não
sabe ler é cego. Então passa a conhecer o mundo, que nem agora mesmo já tou conhecendo o
mundo.
74
Quando o senhor diz que passa a conhecer o mundo se refere a que? A leitura, que eu não
sabia de nada e agora eu já sei ler, fazer o nome, não me perco em nenhum canto (risos).
O senhor acha que a escola pode lhe ajudar de alguma forma? Pode, que só na leitura
mesmo já me ajudou-me demais, e logo uma professora que nós tem, que é ótima professora,
vale dez, dez não cem, ela é primeira.
Mudou alguma coisa depois que você voltou a estudar? É que nem eu falei pra você, o que
mudou na minha vida foi o conhecimento que eu não tinha néh. Ai isso muda, porque, você
não entende de nada, quando você não tem estudo, não tem nada, você não entende nada, pra
todo canto que você olha, você é um cego, você é guiado pelos outros, desde a hora que você
passa a conhecer a leitura que você já entende muitas coisas, então pra mim, já foi muito
importante.
Mais alguma coisa o senhor pode citar além da leitura, como o senhor disse, enxergar o
mundo, mais alguma coisa o senhor pode citar que a escola ajudou na sua vida?
Principalmente em casa néh (risos) que quando eu chego em casa a menina diz “eita painho
agora aprendeu ler, escrever, ta bom néh”.
E sua família incentiva? Ave Maria, e muito, tanto ela, como os meninos mesmos néh,
tudinho incentiva, que graças a Deus meus filhos têm bocadinho se formando já e graças a
Deus pra mim ta bom demais.
ENTREVISTA 5
Com quantos anos deixou de estudar? Nove anos pra dez anos
Por que foi que o você deixou de estudar? Pra trabalhar
Você estuda nesta escola há quanto tempo? Tem dois anos
Qual motivo te fez retornar à escola? Pra aprender mesmo néh, que agente cansa de não
saber nada, e não conhecer esse lado de aprender ler, que agente ver as coisas e não sabe e
agente quer saber.
E quais as dificuldades que você tinha por não saber ler? Muita coisa, principalmente
serviço, você pega o endereço e não sabe pra onde você vai tem que ter uma pessoa pra ir
com você e serviço néh, eu sofri muito em serviço porque eu não conseguia encontrar o
endereço sozinha, meu marido levava eu.
75
Para você o que é a escola? Pra mim é tudo. Eu gosto muito de vim pra escola, pra mim é
tudo.
Você acha que a escola pode lhe ajudar de alguma forma? Sim, de conhecer as coisas
néh, que ta ao redor da gente, porque agente sem saber ler é cega e a escola ensina tudo que
ta acontecendo no mundo inteiro e ao redor da gente.
E você acha que a escola está contribuindo ou pode contribuir para sua vida além de
aprender ler? Sim, a gente enxergar melhor néh, porque assim, a gente sem saber ler é uma
coisa e a gente sabendo ler a mente da gente já fica mais aberta pra ser alguém néh, pra
gente aprender e ser outra pessoa, não só dentro de casa, não ficar só dentro de casa.
Quais são seus objetivos, você disse que quer aprender a ler, escrever, não ter que
depender tanto de outra pessoa, mas quais seus objetivos em voltar a estudar? Aaa
(suspiros) meu sonho é aprender muito, ficar no computador e trabalhar e fazer muita coisa.
Mudou alguma coisa na tua vida depois que você voltou a estudar? Sim, principalmente
que a professora fala um negócio que ta acontecendo e a gente já fica gravando e a gente fica
olhando as coisas como ela é néh, e a gente só em casa sem ir pra escola a gente não sabe de
nada, só sabe o dia-a-dia, lavar roupa, cuidar de criança e na escola a gente aprende muita
coisa.
ENTREVISTA 6
Com quantos anos deixou de estudar? Nove anos
Por que foi que o você deixou de estudar? Porque meus pais era classe baixa néh, carente e
eu tive que trabalhar pra ajudar eles.
Você estuda nesta escola há quanto tempo? Eu estudei aqui, na faixa de quatro anos de
idade ai sai, fui pra outra escola e com nove anos eu desisti.
E quando você retornou a estudar, voltou para esta escola? Sim, eu vim pra qui néh.
E a quanto tempo você voltou a estudar? É o primeiro ano. 16 anos que eu estou sem
estudar.
Qual motivo te fez retornar à escola? Porque, a minha profissão néh, é que permite o
necessário, que eu volte a estudar pra eu dar continuidade ao meu serviço. Voltando a escola
eu vou conseguir chegar onde eu quero chegar néh.
76
E aonde você quer chegar? Eu quero conseguir alguma coisa na vida néh, ficar mais
profissional no meu trabalho, e hoje sem estudo você não vai a lugar nenhum.
Para você o que é a escola? Antigamente eu não sabia não, ta com 16 anos que eu parei de
estudar e agora com 25 anos de idade eu voltei a estudar, tou sentindo muita falta e os
trabalhos hoje é necessário que a gente tenha estudo.
E a escola pra você, ela representa o que ? Ela representa muitas coisas néh, como eu
voltei esse ano, eu não sabia néh... Representa vários entendimentos de matemática, que
agente precisa saber, ler néh, porque se a gente sair daqui para outra cidade, como é que a
gente vai ler uma placa, vai no mercado néh, sem saber ler, pode ser até que a gente compre
algum produto vencido. Ai por isso que hoje eu voltei a estudar.
E além de aprender a ler, escrever, você acha que a escola representa algo mais para
vida de um aluno? Ela é o lugar pra gente se educar mais, aprender a falar mais com o
pessoal, porque a gente analfabeto nem saber se expressar direito a gente não sabe néh. Se
expressar o que significa, saber falar direito, porque, por falta de estudo néh, da experiência.
E o que você acha dessa escola? Eu, inté no momento, primeiro ano que tou estudando néh,
eu tou achando bom néh, principalmente da professora, uma professora boa que ta
ensinando mesmo, não ta brincando néh, eu tou gostando.
Você acha que a escola pode lhe ajudar de alguma forma? Pode, pode me ajudar eu me
educar mais néh e chegar ao objetivo que eu quero néh. Aprender a ler pra quando eu chegar
em outra cidade ler uma placa, não entrar em uma rua errada, chegar no mercado, ler, saber
o que é que eu tou comprando.
Mudou alguma coisa na sua vida depois que você voltou a estudar? Mudou. Assim néh a
experiência de sobrevivência néh ( ele explica que a sobrevivência é não ser enganado e fala
sobre comprar produto vencido).
E na tua casa, na tua família, como foi a aceitação e o incentivo quando você decidiu
voltar a estudar? Minha esposa néh, graças a Deus, fica me incentivando cada vez mais néh
“ volte a estudar, porque a pessoa analfabeto é ruim”. E sem estudo a gente não somos
ninguém porque até pra ser gari de catar lixo, a gente tem que ter estudo, tem que fazer um
curso.
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ENTREVISTA 7
Com quantos anos deixou de estudar? 20 anos, sempre desistia
Por que foi que você deixou de estudar? Falta de interesse. Se juntava com quem não
queria nada.
Você estuda nesta escola a quanto tempo? Comecei este ano, estudava em outra escola.
E qual foi o motivo que te fez voltar a estudar? Concluir os estudos néh
Pra você, o que é a escola? Aprendizagem
Você acha que a escola pode te ajudar de alguma forma? Com certeza. A ser uma pessoa
mais culta.
Mudou algo na sua vida depois que você retornou à escola? Mudou.Sou uma pessoa mais
disposta, interessada em pesquisar os assuntos que os professores estão passando.
Você acha que a escola pode contribuir em outras áreas da sua vida? Fazer um concurso
néh, ter um trabalho garantido, que esses empregos hoje em dia não dá estabilidade a
pessoa.
Você considera que a escola é um lugar de outras relações? Sim, também conhecer gente
diferente, fazer novas amizades.
ENTREVISTA 8
Com quantos anos deixou de estudar? 6 anos
Por que deixou de estudar? Meu pai era feito cigano no meio do mundo, a gente não tinha
parada, meu pai era morador dos fazendeiros, e a gente nunca fazia ninho, quando começava
a melhorar ele achava que tava ruim e ia embora à procura de melhora, só atrapalhou a vida
da gente na verdade. Ele não procurou ajudar a gente (Emocionado o estudante responde,
chorando e lamentando por não ter estudado enquanto criança).
Quando a gente cresceu colocamos ele no canto da parede e fomos lutar pelo que é nosso.
Você estuda nesta escola a quanto tempo? Faz dois anos.
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Nesta mesma escola? Foi sim, voltei ano passado e estou continuando. Gostei néh, meu
objetivo é arrumar as coisas. Com meu trabalho d construção civil eu pego planta né,
rascunho de casa e entendo, nessa área eu sou bom né.
E mesmo com esses saberes o sr. acha que a escola é importante? é importante sim,
mesmo que ano passado eu faltei um pouco por conta do trabalho
E qual foi o motivo que te fez voltar a estudar? Eu gostei, achei coisas boas, eu sabia que
ia aprender mais coisas. Tem vez que a gente precisa preencher um formulário desse
tamanho e paga um mico que não sabe pra onde vai e a gente aqui aprendendo é bom pra
nós.
Ano passado mesmo eu fui a um passei em Tamandaré, quando chegou lá tinha uma ficha pra
preencher, ai já pesa né, a gente preenche mas fica os erros né. Hoje em dia onde a gente
chega tem que preencher alguma coisa.
Eu tenho habilitação, mas de cinco em cinco anos tenho que renovar minha carteira, quando
chego no Detran a gente recebe um papel, e eu tremi lá.
Daqui a dois anos quero chegar no Detran e preencher a ficha sozinho, eu levo sempre
minha filha, e a mulher também fica olhando.
Para que serve a escola? Educação, muita educação, pra respeitar os amigos e aprender ler
e escrever.
A escola está te ajudando de alguma forma? A ler e escreve e respeitar o próximo.
Eu não acho que consigo muita coisa mais não. Quero ler e escrever durante meus últimos
dias de vida.
Mudou alguma coisa na tua vida depois que você voltou a estudar? Mudou. Eu tinha
umas dificuldades nas plantas das casas, já tou desenrolando, ler algumas coisas já.
Como foi a aceitação da sua família quando você resolveu estudar? Aaa, a mulher me
apoia muito, meus filhos. Meus três filhos são estudados, mas formado só um, o mais novo.
E a aceitação dos seus amigos? Eles dizem que não acreditam que eu voltei a estudar. Mas
dizem que é bom.
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Você acha que a escola está estruturada para lhe receber? Sim, estão sim, Temos merenda
na hora certa, tem a sala de leitura, sempre era na quarta –feira, esse ano ainda não
definiram.
ENTREVISTA 9
Com quantos anos deixou de estudar? Estudei bem pequena, quase não tinha escola na
cidade, só tinha a escola de sr. Juquinha perto de casa (escola particular) ai deixei de estudar.
Quando você retornou à escola? Comecei esse ano.
Qual motivo te fez retornar à escola? Aaa o motivo foi porque eu acho que a leitura é uma
coisa que não se compra com dinheiro. E assim eu mesmo tenho muita dificuldade, pra pegar
ônibus, ler uma coisa, pesquisar um preço, ver uma promoção, também meus filhos quando
for pro colégio, como eu vou ensinar a tarefa, tudo isso me fez voltar pro colégio. Aprender
ler e escrever
Como você acha que a escola pode te ajudar além de aprender ler e escrever? Eu acho
que o objetivo da escola é ensinar a gente ler e escrever e dar exemplo.
Como a escola pode dar exemplo? Assim, tendo paciência explicando pra gente entender
melhor.
Você acha que as suas vivências que você tem são aproveitadas na escola? Mas assim,
isso são coisas que a gente não estuda. Coisas que ta acontecendo no mundo. E eu acho que
a escola não precisa trazer o que acontece no mundo pra dentro da escola, porque o que
acontece no mundo a gente já ver na televisão, já vê tudo isso.
A escola pode te ajudar de alguma forma? Pode sim.
Mudou alguma coisa na sua vida depois que voltou a estudar? Lógico. Eu não conhecia as
letra, passei a conhecer, já consigo escrever.
Você acha que a escola pode contribuir na tua vida social? Sim. Eu vim pra escola porque é
muito importante e assim, eu tenho um desejo no meu coração de deixar de trabalhar na casa
dos outros. Eu quero estudar, me formar em alguma coisa, ter um emprego melhor, da uma
vida melhor aos meus filhos, por tudo isso.
E a tua família o que acharam quando você decidiu voltar a estudar? Aaaa... Minha mãe
achou ótimo né, minhas irmãs disseram vá em frente. É cansativo, trabalho durante o dia,
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cuido dos meus filhos a noite, tomo banho e venho pro colégio, mas vale a pena né, peço a
Deus todo dia que todo esse esforço meu né, seja recompensado com algo.
ENTREVISTA 10
Com quantos anos deixou de estudar? Nunca estudou.
Eu ajudava minha mãe, cuidava da casa mais ela.
Qual motivo te fez retornar à escola? Para aprender alguma coisa, aprender ler.
A escola pode te ajudar de alguma forma? Pode sim.
Mudou alguma coisa na sua vida depois que voltou a estudar? Mudou. Aprendi meu nome,
as letra. A pessoa sem saber ler é cego, não sabe de nada.
ENTREVISTA 11
Com quantos anos deixou de estudar? Não lembro. Eu repetia muito e depois eu desisti.
Por que deixou de estudar? Voltei a estudar, acho q ta com uns dois anos, mas eu desisti
Por que você deixou de estudar? Porque eu me peguei com o pai da minha menina, ai
deixei de estudar.
Você estuda nesta escola a quanto tempo? Eu comecei esse ano.
E qual foi o motivo que te fez voltar a estudar? As meninas me dando conselhos. Meu
padrinho também, sempre dizia, vai menina estudar.
Quem saõ as meninas? Umas que estudam aqui em cima (Se referindo a turma da 2ª fase).
Você tem alguma dificuldade por não saber ler e escrever? Tenho sim dificuldade Porque,
assim, no caso, negócio de conta né. Eu pago aluguel, dei dinheiro passando a mulher, já foi
ela que me disse.
E pra você o que é a escola? É boa, assim, eu tou vendo se eu aprendo, porque eu sou muito
ruim. Algumas coisas eu sei, ditado eu sei.
A escola está te ajudando de alguma forma? Sim, a leitura.
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E saber ler te ajuda em que? Muita coisa. Assim, você vai pra um canto não precisa ta
perguntando nada a ninguém, vai no mercado não precisa ta perguntando ao povo, as vezes
quando eu vou eu levo minha menina porque ela sabe.
Quais suas expectativas em relação à escola? Coisas boas. Eu aprender mais ler.
Mudou alguma coisa na tua vida depois que você voltou a estudar? Mudou. Eu tenho mais
paciência de ta na sala de aula, coisa que eu nunca tive.
ENTREVISTA 12
Com quantos anos deixou de estudar? 13 anos
Por que foi que você deixou de estudar? Precisei trabalhar
Você estuda nesta escola a quanto tempo?. É o primeiro ano nesta escola. Eu voltei a
estudar ano passado em outra escola, fiz a 1ª fase e agora estou fazendo a segunda.
E qual foi o motivo que te fez voltar a estudar? Aaa para aprender mais, e também assi, eu
queria arrumar um emprego melhor também né, fazer um concurso, ai precisa dos estudos e
aprender mais também né.
Pra você, o que é a escola? É um lugar que a pessoa aprende a respeitar as pessoas, os
professores, os alunos, que a gente tem que respeitar também o amigo também ne, a gente
aprende muito na escola. Porque se a gente não estudar como é que esses doutor vai ser
médico, se não aprende a ler, a escrever, a gente tem que estudar né, porque graças aos
professores que esse povo tão lá em cima.
Você acha que a escola pode te ajudar de alguma forma? Sim.
De que forma a escola pode estar te ajudando? Assim, eu ajudo também a minha mãe, a
ler a escrever porque ela também não sabe e é complicado, eu aprendendo para poder
ensinar a ela.
Mudou algo na sua vida depois que você retornou à escola? Aaa mudou (esboça sorrisos).
E o que mudou? Aa a gente conhece pessoas novas e outra coisa, você não fica em casa sem
fazer nada. Você tem que ter conhecimentos, conhecer as coisas.
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Você tinha alguma dificuldade por não estar na escola? Pronto, quando eu estudei
quando era mais nova eu já sabia ler e escrever. Quando eu parei de estudar eu comecei
a ler e escrever pra não esquecer.
Quais são os teus objetivos? Não ficar em casa sem fazer nada. E meu objetivo é
trabalhar, ter um emprego melhor para sustentar uma casa e pra isso a gente tem que
estudar.
E a escola que te recebe hoje você acredita que está preparada para te receber? Sim, são
bem preparados. Os professores, os que comandam a escola, são bem preparados.
E você acha que a escola tem outras funções além de ensinar a ler e escrever? É como eu
disse né, a educação, vem por ai... pela escola, respeitar as pessoas, o próximo, tem que ter
respeito, a gente aprende também na escola, não só em casa
E o acesso a biblioteca? Ainda não temos, porque é o começo do ano ainda né, mas vamos
ter. Temos palestras também, são muito boas as palestras, sempre vem alguém conversar com
a gente.
ENTREVISTA 13
Com quantos anos deixou de estudar? 15 anos, eu estudava e desistia.
Mas por que você desistia? Por conta da prova de matemática.
Só por conta disso? Era, a prova de matemática me assustava, até hoje.
Você estuda nesta escola a quanto tempo?. 5 meses, comecei esse ano
E desde que você parou de estudar só voltou para estudar agora? Não, eu fui pra o São
Cristóvão e lá fizeram uma ficha que eu tinha perdido o documento, ai fizeram uma ficha e eu
continuei estudando, depois eu fui pra Alagoas e voltei pra cá, me casei, minha esposa estuda
aqui e ela me convenceu estudar novamente. Ela me ajuda com a matemática.
E qual foi o motivo que te fez voltar a estudar? Melhorar a convivência com o mundo de
hoje também né, procurar melhorar na leitura. Eu tenho vontade de futuramente mestre de
obra né, invés de ser só o pedreiro, ser mestre.
Você disse que retornar a escola é melhorar a convivência com o mundo. Você acha que
o mundo hoje exige mais que você tenha escolaridade, que saiba ler e escrever? Sim. Em
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toda área, principalmente na área que eu pretendo seguir, ser mestre de obra, então tenho
que ter o estudo, porque se não tiver estudo nem de gari trabalha mais.
Pra você, o que é a escola? A escola pra mim é uma formação né, a gente forma caráter,
conhece pessoas e compartilha o dia a dia, a gente vevi trabalhando, o estresse do dia a dia,
você chega na escola vê pessoas diferentes, pessoas que dão forças né. Na rua a gente não
encontra.
Na sua fala fica clara que pra você a escola não é apenas um lugar para aprender a ler e
escrever, isso é função da escola sim, mas a escola tem outras funções, você concorda?
Sim concordo, cidadania né. Somos cidadão que precisa vir à escola, que a gente aprende
tanto a ler e escrever como a falar com as pessoas, muitas vezes a gente estressados fala
errado com o povo e na escola a gente aprende a se comportar.
Você acha que a escola está preparada para receber você, com suas vivências e
experiências? Olhe eu acho. Porque nós compartilhamos conhecimento né. Eu tenho um
conhecimento de fora dos livros, fora das escritas, então juntando esse conhecimento que eu
tenho fora com esse conhecimento dos livros e escrita, então vai aprimorar, eu vou aprender
com eles e creio que no dia a dia até o professor mesmo ele aprende com a gente.
Mudou algo na sua vida depois que você retornou à escola? Mudou. Melhorou bastante, a
minha leitura ta melhor, tou conseguindo assinar um pouco melhor. Eu não gostava do N e
sou apegado ao S, nunca uso o C, mas tou aprendendo.
E seus filhos, como foi a aceitação quando você voltou a estudar? Eu lancei um desafio
com eles, pra a gente ver qual de nós passaríamos nas provas, então eles aceitaram, todos
eles né. São quatro, dois moram num lugar, dois em outro, eu procuro ir cada mês, cada mês
eu vou duas vezes na escola de cada um pra ver como ta o desempenho deles e quando eu
tenho alguma dúvida eu ligo pra eles.
E o acesso à escola além da sala de aula? Temos, a gente já teve palestras aqui no pátio,
que são muito boas as palestras e tem pessoas igual você que vem pra trazer mais
conhecimento pra gente também. Eu creio que futuramente a gente passando nas provas né,
vamos sair da própria escola para pesquisar campo, sair, eu tou gostando de estudar denovo.
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ENTREVISTA 14
Com quantos anos deixou de estudar? 11 anos
Por que deixou de estudar? Nem sei viu, eu era moleque pequeno, falta de interesse mesmo
né..
Você estuda nesta escola a quanto tempo? Eu comecei esse ano.
E desde que você parou de estudar só voltou para estudar agora? Foi. Só voltei agora.
E qual foi o motivo que te fez voltar a estudar? É porque eu fui fazer um curso lá no
SENAC né, ai eles perguntaram a minha escolaridade e mandaram eu vim terminar os
estudos.
E sr. fez o curso? Não. Pude não, de jeito nenhum.
E o sr. pode me dizer qual foi o curso? É... Porque eu trabalho na área de pedreiro, ai fui
fazer um curso na área de desenhista, projetista, fazer projeto de casa, ai só pode com
estudo. Ai mandaram eu vim terminar os estudos pra depois voltar lá.
Para que serve a escola? Serve pra dar educação né, ensinar muitas coisas. Saber ler né,
chegar nos cantos e ter educação com as coisas.
Você teve dificuldades na sua vida por não ter terminado os estudos? Não. Eu fui
aprendendo com o tempo mesmo. Pra você ver, eu fazia terceira, já tou na quarta (se
referindo a série), fiz só uma prova ai (reclassificação, ai viu que eu tinha capacidade e
colocaram eu na quarta série.
E eu deixei também de estudar porque não tinha a oportunidade que tem hoje né. Porque
naquele meu tempo não tinha oportunidade, só os ricos que faziam faculdade, estudavam, só
os ricos mesmos, porque pobre... no meu tempo era de cartilha ainda né, era... de cartilha era
meio ruim.
A escola mudou muito, mudou muito a escola, ta bom demais.
E o que mudou? Pra dizer a você no meu tempo quando eu estudava levava era bolo na
mão. Que lembra é essa? Era um O eu dizia A, a professora chegava e metia a palmatória na
mão.
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E você acha que isso fazia com que a criança se afastasse da escola? Não. Naquele tempo
aprendia mais, era forçado a aprender.
Mas o aluno saia da escola com maior facilidade? Não. Não.
Mas porque você deixou a escola? Porque era a minha vida, não tinha nem mãe nem pai
não, nasci sem mãe e sem pai, foi difícil pra mim, não teve uma pessoa pra chegar e dizer
você vai fazer isso, isso, eu tinha terminado meus estudos, eu não estava aqui hoje. Mas não
tive ninguém por mim.
E a escola pode lhe ajudar de alguma forma? Pode e muito. Vou arrumar um serviço
melhor. A escola ensina uma parte e o mundo ensina o resto.