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A GINÁSTICA RÍTMICA ENQUANTO PRÁTICA ESPORTIVA EDUCACIONAL
INCLUSIVA NA VILA OLÍMPICA DA MANGUEIRA (2002/2013)
Maria Augusta A. G. Buarque Maciel - Lapeade / FE- UFRJ
José Jairo Vieira – Lapeade- PPGE- UFRJ Eixo Temático: Práticas de inclusão/exclusão em educação
Categoria: Pôster [email protected]
INTRODUÇÃO
O tema do presente trabalho foi escolhido em função de minha experiência com a
Ginástica Rítmica no Programa Social da Mangueira desde o ano 2000 até o corrente ano.
No primeiro ano de trabalho, ainda cursando o Bacharelado em Educação Física da UFRJ e
como ex-ginasta, tive a oportunidade de elaborar e implantar o Projeto “GRD no Ritmo da
Mangueira”, no Programa Social da Mangueira, dentro do Projeto Olímpico. Passados 12
anos muitas mudanças ocorreram em nível de nomenclaturas, tanto da modalidade
esportiva (antiga GRD e atualmente GR) quanto do projeto esportivo a que me refiro (antes
Vila Olímpica da Mangueira, hoje Centro de Referência Esportiva Vila Olímpica da
Mangueira).
No cotidiano do trabalho a com Ginástica Rítmica (GR) diversos foram os
questionamentos a respeito das relações que se estabelecem entre
esporte/educação/inclusão. Assim, este trabalho surge da observação e acompanhamento
das práticas pedagógicas que permeiam o universo da GR ofertada a crianças e
adolescentes no projeto social e esportivo acima citado. O objetivo deste estudo é discutir a
inserção desta modalidade esportiva enquanto ferramenta educacional inclusiva, norteada
pelos princípios do Esporte Educacional, no trabalho com crianças e adolescentes oriundas
da Comunidade da Mangueira e adjacências. Acreditamos na hipótese de que através das
experiências obtidas nas aulas de GR, modalidade ainda considerada de elite em nosso
país, as alunas encontram espaço para se expressarem social e artisticamente, produzindo
conhecimentos que favorecem a integração social e o desenvolvimento global destas.
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Esta pesquisa, ainda em andamento, encontra sua justificativa ao ampliar as possibilidades
de desenvolvimento do campo esportivo (especialmente o da Ginástica); promover espaço
para debate a respeito do diálogo entre esporte e educação, valorizando e reconhecendo a
necessidade de um desenvolvimento integral dos educandos, com ênfase na formação
humana e construção de valores positivos.
Referencial Teórico e aspectos metodológicos
Para fundamentar a discussão proposta, é necessário operamos alguns conceitos chave que
constituem o referencial teórico deste trabalho. São eles: Ginástica Rítmica; Esporte
Educacional. A Ginástica Rítmica é uma modalidade esportiva feminina de expressão
gímnica e artística que alia os elementos corporais à música, utilizando aparelhos de
pequeno porte. Tradicionalmente, é um esporte elitista, principalmente devido ao alto custo
do material (oficial) individual utilizado pelas ginastas e às taxas exigidas para participação
em competições e festivais (eventos de cunho demonstrativo, nos quais os grupo
apresentam suas coreografias).
Barros e Nedialcova (1998) descrevem a GR como “uma relação harmoniosa entre o corpo
em movimento, os objetos manipulados, o espaço envolvente inter-relacionados à música,
possibilitando assim toda a sua expressão”. (p.01)
Existem propostas de massificação da prática da GR impulsionadas inicialmente pela
exposição na mídia de ginastas brasileiras e suas conquistas nos Jogos Pan-americanos de
2007, na cidade do Rio de Janeiro. Há oferta da GR em algumas vilas olímpicas e clubes
escolares (parceria com Escolas da Rede Municipal de Ensino). Ainda assim não podemos
considerar que um número expressivo de crianças e adolescentes tenha acesso à prática da
GR, que caminha à popularização, mas ainda está longe de ser democratizada.
As ações e atividades do Centro de Referencia Esportiva Vila Olímpica da Mangueira
contam com o patrocínio da Petrobrás (Programa Esporte e Cidadania) através da lei de
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incentivo ao esporte. Nessa perspectiva, a Ginástica Rítmica é uma modalidade esportiva
oferecida dentro das premissas do Esporte Educacional.
Os Centros Petrobrás de Referência Esportiva são resultados de parcerias com instituições da sociedade civil com o propósito de contribuir para o fortalecimento e qualificação das práticas de esporte para crianças e adolescentes. Representam espaços de construção, implementação e disseminação de metodologias e práticas esportivas educacionais, que reconhecem o esporte como um fator de desenvolvimento humano e transformação social (Petrobrás, 2013).
Ou seja, a Ginástica Rítmica baseia-se nos princípios pedagógicos do esporte educacional.
São eles: inclusão de todos, construção coletiva, respeito à diversidade, educação integral,
rumo a autonomia. Tem seu foco na formação humana, inclusão social e construção da
cidadania de crianças e jovens.
Uma das principais características do Esporte Educacional é a participação de todos. Ele é
pensado não selecionando por grau de habilidades motoras e levando em consideração
outros aspectos do desenvolvimento que não somente do ponto de vista motor. Mobiliza,
através da educação física e esportes, aprendizagens de conteúdo em diversas áreas. O
aluno é estimulado quanto à sua participação nas atividades, tomada de decisões que
afetam a sua vida e da comunidade. Espera-se que o aluno seja levado a agir de forma
crítica e participativa não somente nas atividades relacionadas ao esporte, mas em toda sua
vida. Segundo o Instituto Esporte Educação, instituição referência em Esporte
Educacional, o objetivo central dessa manifestação esportiva é:
“Alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo, com o desenvolvimento dos 4 pilares da educação: Saber, Fazer, Ser e Conviver, para a formação de competências à cidadania plena, na busca da inclusão e transformação social” (IEE, 2013).
Desde sua implementação no ano 2000 a Ginástica Rítmica através do “Projeto G.R.D. no
Ritmo da Mangueira” visa:
Promover, através da prática da Ginástica Rítmica, oportunidades para que crianças e adolescentes percebam seu corpo como meio e modo de integração no mundo, desenvolvendo habilidades esportivas, sociais e culturais, valores éticos,
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num trabalho com base das raízes da comunidade da Mangueira, buscando a formação de cidadãos críticos, conscientes e participativos. (BUARQUE, 2000, p.02)
Dessa forma iniciou-se a jornada da G.R enquanto prática esportiva educacional inclusiva
para as meninas da comunidade da Mangueira e adjacências. Já balizada pelos princípios
do Esporte Educacional, vem construindo através do tempo (2000-2013), sua identidade
tanto para as alunas quanto para a comunidade que a recebe e legitma. A GR, de prática
elitizada (argumento reforçado pelo desconhecimento geral de alunos, responsáveis,
comunidade e pela dificuldade de acesso em função da manutenção de aparelhos e
treinamento) passa a prática popularizada na Mangueira que busca cada vez mais
democratizar seu acesso com qualidade.
- O cotidiano da GR no Centro de Referência Esportivo da Vila Olímpica da Mangueira
O espaço físico para as aulas de GR é uma quadra poliesportiva, com altura (pé direito)
adequada à realização dos lançamentos dos aparelhos. As meninas que freqüentam as aulas
de GR têm acesso a materiais e aos aparelhos oficiais da GR (corda, bola, arco, fita e
maças), que apesar de possuírem um custo considerável, são disponibilizados. Mesmo
tendo acesso aos aparelhos oficiais, as alunas são estimuladas a exercitarem sua
criatividade, liberdade e autonomia ao construírem e sugerirem aparelhos alternativos
(podem variar no peso, tamanho, textura, etc) para utilização nas aulas e coreografias.
Apesar da GR de competição não ser o objetivo da GR oferecida pelo Centro de
Referência Esportiva Vila Olímpica da Mangueira, algumas meninas se desenvolvem
tecnicamente bem e manifestam o desejo que aprofundar seu treinamento na GR. Existe
uma turma para esse desenvolvimento técnico específico, que inclui meninas com maior
grau de experiência. Negar a possibilidade de avanço técnico com trabalho para
rendimento configuraria-se como uma forma de exclusão. Pensamos que deve existir
espaço para todos respeitando as individualidades e levando em consideração os interesses
e possibilidades de cada indivíduo. Exatamente por oferecer uma prática esportiva e
educacional de qualidade é que podemos contar com turmas de iniciação a prática da GR e
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uma turma de alunas que ao longo do tempo de treinamento obtiveram expressiva
incorporação técnica.
As ginastas têm acesso a experiências como o intercambio cultural, social e técnico.
Receberam a visita por 2 anos consecutivos de um grupo de ginastas Dinamarqueses se
apresentando e participando do workshop de ginástica proposto pelo grupo. A equipe de
ginastas da Mangueira é convidada a se apresentar em inúmeros eventos esportivos,
culturais e sociais, em âmbito estadual e nacional. É considerada um cartão de visitas. Teve
a oportunidade de receber o ex-Presidente Lula em visita à Mangueira. Foi habilitada por 3
vezes para o maior evento de ginástica do mundo: a Gymnaestrada Mundial, que ocorre de
4 em quatro anos, sempre em um país da Europa.
As alunas são valorizadas pelo que já sabem, pelo que constroem, pela maneira única de se
relacionar com as pessoas e com a GR. Encontram na prática da GR espaço para se
expressarem artística e socialmente, atuando como co-autoras no processo de ensino-
aprendizagem, construindo valores positivos e se desenvolvendo de uma forma integral.
Considerações
Como primeiros resultados podemos apontar o aumento expressivo na procura pela GR; a
ampliação técnica e cultural adquiridas; o ingresso de ginastas no ensino superior. Os
resultados aqui apontados nos levam a crer que a GR do Centro de Referência Esportiva
Vila Olímpica da Mangueira atua como ferramenta educacional inclusiva para as ginastas
da Comunidade da Mangueira e adjacências.
Referências:
BARROS, D.& NEDIALCOVA,T.G. Os Primeiros Passos da Ginástica Rítmica. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1998.
BUARQUE, Maria Augusta. Projeto “GRD no Ritmo da Mangueira”, GRESEP Mangueira, Projeto Olímpico. Mimeo. Rio de Janeiro, 2000. CENTRO de referência Esportiva Petrobrás. Petrobrás, 2013. Disponível em <http://www.petrobras.com.br/ppec> Acesso em 07 de março de 2013.
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OBJETIVO. Instituto Esporte e Educação - IEE. 2013. Disponível em <http://www.esporteeducacao.org.br/?q=metodologia/objetivos> Acesso em 07 de março de 2013.