Ágoragora 16 (2014).pdf · ebsco publishing . Índice ... los cartagineses en la reflexión...

314

Upload: phamdieu

Post on 03-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • gora

    Estudos Clssicos em Debate

    N. 16

    2014

  • Ficha Tcnica Ttulo: gora. Estudos Clssicos em Debate 16 (2014)

    Periodicidade: Anual

    Editor-Chefe: Joo Manuel Nunes Torro ([email protected])

    Editores Associados: Antnio Manuel Andrade ([email protected]); Carlos de Miguel Mora ([email protected]) Carlos Manuel Morais ([email protected]); Maria Fernanda Brasete ([email protected]).

    Design da capa: Servios de Comunicao, Imagem e Relaes Pblicas da Universidade de Aveiro

    Edio: Departamento de Lnguas e Culturas Universidade de Aveiro

    Impresso: Clssica, S.A., Porto

    Tiragem: 400 exemplares

    Depsito legal: 136497/99

    ISSN: 0874-5498; ISSN eletrnico: 10874-5498

    Contactos: Departamento de Lnguas e Culturas; Universidade de Aveiro; 3810-193 Aveiro Portugal [email protected] / tel: + 351 (2)34 370 358 / fax: + 351 (2)34 370 940

    URL: http://www2.dlc.ua.pt/classicos/agora.htm; http://revistas.ua.pt//index.php/agora Preo: 20.00

    Aceitam-se permutas We accept exchanges

    Os textos publicados so da responsabilidade dos respetivos autores.

  • gora. Estudos Clssicos em Debate Revista de estudos clssicos que se destina a todos os estudiosos da antiguidade clssica, nomeadamente, docentes universitrios, estudantes universitrios e estudiosos do mundo clssico em geral.

    Comisso Cientfica / Referees Amrico da Costa Ramalho , Maria Helena da Rocha Pereira, Maria de Ftima Sousa e Silva, Francisco So Jos de Oliveira, Maria do Cu Grcio Zambujo Fialho, Nair de Nazar Castro Soares, Delfim Ferreira Leo e Frederico Maria Bio Loureno (Universidade de Coimbra); Aires Augusto do Nascimento, Arnaldo do Esprito Santo, Maria Cristina Pimentel e Paulo Jorge Farmhouse Simes Alberto (Universidade de Lisboa); Jos Antonio Snchez Marn (Univer-sidad de Granada); Carmen Morenilla Talens (Universitat de Valncia); Miguel ngel Gonzlez Manjarrs (Universitad de Valladolid); Francesco De Martino (Facolt di Lettere e Filosofia di Foggia); Jacyntho Lins Brando (Universidade Federal de Minas Gerais); Maria das Graas de Moraes Augusto (Universidade Federal do Rio de Janeiro); Jos Antonio Alves Torrano e Paula da Cunha Corra (Universidade de So Paulo); Maria del Carmen Cabrero (Universidad Nacional del Sur); Martha Patricia Irigoyen Troconis (Universidad Nacional Autnoma de Mxico); Joo Manuel Nunes Torro, Carlos de Miguel Mora, Maria Fernanda Brasete, Antnio Manuel Andrade e Carlos Manuel Morais (Universidade de Aveiro).

    Tradues Responsveis pela traduo e/ou reviso lingustica dos resumos e palavras-

    -chave: Espanhol: Carlos de Miguel Mora; Francs: Maria Eugnia Pereira; Ingls: Paulo Alexandre Pereira.

    Indexao A revista gora. Estudos Clssicos em Debate est indexada em:

    Arts and Humanities Citation Index ISI Web of Knowledge; Dialnet; DOAJ Directory of Open Access Journals; LATINDEX; MIAR Matriu dinformaci per a lavaluaci de revistes; Redalyc; QUALIS; SJR SCImago Journal & Country Rank

    EBSCO Publishing

  • ndice

    Artigos Maria Fernanda Brasete, Agammnon na Lrica Arcaica Grega Csar Sierra Martn, Herdoto (II. 86-88) y el conocimiento anatmico griego Agustn Moreno, Los cartagineses en la reflexin poltico moral del

    Bellum Iugurthinum Antonio Serrano Cueto, El simbolismo de las nueces en la boda romana

    antigua y su recepcin en la crtica Mrcio Meirelles Gouva Jnior, Incognitae Medeae Romae Juan Francisco Martos Montiel, La influencia griega en el lxico ertico latino Mafalda Frade, A modalidade dentica no Livro dos Oficios e a traduo de

    alguns adjetivos Csar Chaparro Gmez, Erasmo de Rotterdam y Diego Lpez de Ziga: una

    polmica spera y prolongada Fbio Frohwein de Salles Moniz, Poesia novilatina nos trpicos: o nativismo

    embrionrio de Anchieta em De Gestis Mendi de Saa Ignacio Arellano, Quevedo: Ingenio y erudicin clsica Textos com traduo Arsenio Ferraces Rodrguez, De herba lunatica (Londres, Wellcome

    Library, 573, f. 149v): edicin y traduccin de un opsculo medieval sobre las propiedades mgicas de la Lunaria menor (Botrychium lunaria Swartz)

    Helena Costa Toipa, Regulamento de Pedro Joo Perpinho para distribuio de prmios em colgios da Companhia de Jesus, no sculo XVI

    Recenses e notcias bibliogrficas Juan Francisco Domnguez, Arias Montano y sus maestros (Carlos de

    Miguel Mora) Cristina Pimentel e Paula Moro (Coord.), A Literatura Clssica ou os

    Clssicos na Literatura: uma (re)viso da literatura portuguesa das origens contemporaneidade (Joana Catarina Mestre da Costa)

    91129

    41

    6185

    105

    137

    157

    189205

    235

    237

    253

    273

    275

    278

  • Lieve Van Hoof, Plutarchs practical ethics : the social dynamics of philosophy (Eduardo Machado)

    Iseu, Discursos. VI. A herana de Filoctmon. (Priscilla Gontijo Leite) Notcias Atividades do Projeto de I&D Dioscrides e o Humanismo Portugus:

    os Comentrios de Amato Lusitano Edio digital de The Loeb Classical Library programada pela Harvard

    University Press para o outono de 2014 Provas de doutoramento: Joana Catarina Mestre da Costa Resumos de teses de doutoramento: Marcial e a epopeia do quotidiano: a

    dimenso pica de um poeta Publicaes recebidas

    Livros recebidos Revistas recebidas

    Normas de aceitao de textos Publicaes da rea de Estudos Clssicos

    280 283

    289

    291

    295 296

    296

    299 301 301 305 313

  • Artigos

  • gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)1128ISSN:08745498

    AgammnonnaLricaArcaicaGrega AgamemnoninGreekArchaicLyric

    MARIAFERNANDABRASETE(UniversidadedeAveiroPortugal)1

    Abstract: In thisarticle,we seek to tracedown the figureofAgamemnon in the textsincluded in thecorpuspresentlyknownas thearchaicGreek lyric,byemphasizing themost illustrative testimoniesby three archaicpoets: two fragments fromStesichorussOresteia,the282aPMGFDaviesbyIbycus,andthePithianXI,byPindar.

    Keywords:Agamemnon;ArchaicGreek lyric; Stesichorus; Ibycus; Polycrates; Pindar;Pithian11;Oresteia;TheChoephori;Clytemnestra;Orestes.

    1.Estepareceserum ttuloambicioso,atendendoaqueaexpressolricaarcaica2utilizadaparadesignar todaapoesiaarcaicaquesucedeaosgnerospicoseprecedeoteatro.Aessaamplitudecronolgicaacresceainda todaaproblemtica tecidaeentretecidaem tornodo termolricaque,numaacepomaislatadaquelaqueosfillogosalexandrinoslhequiseram consignar3, veio a compreender uma significativa diversidade de

    Textorecebidoem05.11.2013eaceiteparapublicaoem05.02.2014.Estetexto

    correspondeaumaversodesenvolvidaeatualizadadeumaconfernciaproferidanoColquio Internacional Agammnon,o senhorda casa, senhordaguerra (Coimbra,Abrilde2008).

    [email protected] Sobre a problemtica terminolgica e taxonmica vd., em especial, Bruno

    GENTILI ([1984]1996:cap.III)D.GERBER (1997:19)eC.CALAME (1998).Noseuestudo,intituladoAs representaes deAfrodite na lrica de Safo,GiulianaRAGUSA (2005: cap.1)discute os principais tpicos relacionados com os problemas de definio da lricagregaarcaica.

    3Ateoriadosgnerosdifundidapelosfillogosalexandrinos,sobainflunciadadistinopreconizadoporPlatonasLeis (764de) entre poesiamondica e poesiacoralfoiaceitemaisoumenostacitamentepelosestudiososataosanos70dosculopassado.Nessaaltura,nasequnciadeumadescobertadeumaindicaoesticomtrica(N) num pequeno fragmento da Gerioneida um poema estesicreo consagrado sfaanhasdeHracles comeouse a questionar a imagem tradicionaldeEstescorocomoumpoetaexclusivamentecoral.Algunsestudosrecentesdeespecialistasreputados tm salientado a fragilidadedesse fundamentopara classificar ospoemas,poisafinal o poeta coral por excelncia, lcman, ter composto temasmondicos, assimcomoAlceueSafo,os representantes tradicionaisdo canto lsbicomondico, compuserampoemasdestinadosaocantocoraledana

  • 12

    MariaFernandaBrasete

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    gnerosesubgneros,ondese incluem tambmo iamboeaelegia.Todossabemosqueestaquestoaindahojenoabsolutamentepacfica,masnoesteomomentoapropriadoparaaretomarmos.Importar,todavia,recordarque,comotmsublinhadoBrunoGENTILI[1984]1996,DouglasGERBER(1997)EvaSTEHLE(1997)ouCharlesSEGAL(1998),entreoutrosestudiosos,anaturezapragmticaeocontextoperformativoquecaracterizaramaantigalricagrega tornaramnaum fenmenocompletamentediferentedapoesiamoderna,eessadistinosobressaitantoaonveldoscontedos,comoaonveldasformasedosmodosdecomunicao.Entreorecitativocomousem acompanhamentomusical eo canto a soloouporum coroacompanhadogeralmentededanasaoritmodamelodiaentoadaeaosomdeuminstrumentodesoprooudecordas,registavaseumagrandediversidadedegnerosedeestiloscultivadospelospoetasquecompunhamemfunodecircunstnciasperformativasmuitoconcretas,versando,amidesvezes,osmesmostemas,emestruturasmtricasequivalentesouno.Todasestasquestescondicionam,diretaouindiretamente,oestudodequalquertemaatinentelricaarcaicagrega.Teremospresenteestelequedequestestopeculiares,mesmosemlheconsignarmosumaabordagemsistemtica4.

    4 Se os nomes de Estescoro e bico, no volume I de The CambridgeHistory of

    Classical Greek Literature, editado por Patricia E. EASTERLING e BernardM.W. KNOX,aparecemaindadependentesdessa catalogao tradicional,namais recente ediodeDouglasGERBER(1997)procedeseaumareformulaotaxonmica:opoetadeHmeraapareceincludonadesignadaPublicPoetry,aopassoquebicoinseridonoespaoda Personal Poetry, devido ao valor que, hoje, a 1. pessoa lrica passou a ter nadistino dos gneros. E se certo que existe uma forte tendncia (decorrente dasinterpretaesdeWESTeGENTILI)emassociarosdoispoetasdaMagnaGrciatradiodonomoscitardico,deorigemocidental,quenuncaabandonaraostemashericos,deinspiraopica, tambmnoparecemser infundadasasdvidasexpressasporG.O.HUTCHINSON (2001:116).Asconcluses tiradas sobreaextensodealgunspoemasdeEstescoro,naopiniodesseA.,nocontradizemahiptesedeumaexecuocoral,bemcomo,noqueconcernescomposiesdebico,aclassificaomodernacomopoesiamondica,maisvocacionadaparaosimpsio,nosolucionadeuma formadefinitivatodas as questes levantadas pelo conhecimento fragmentrio que possumos daproduoedocontextodalricanapocaarcaica.Efetivamente,porquesetratadeumassuntoondeasconjeturasexcedemascertezas,sersempremuitodifcilfixarcritriosquefundamentemumadistinorigorosaeconsentneaentrepoesiacoralemondica.ComojustamenteobservaLusadeNazarFERREIRA(2012)nohporquenoaceitara

  • AgammnonnaLricaArcaicaGrega 13

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    que,comoottuloanuncia,oobjetivoprincipaldesteestudorastrearafiguradeAgammnonnos textosqueconstituemo corpushojeconhecidoda lrica arcaica grega5.Contrariamente ao que sepoderia supor, no foitantoaamplitudeouaproblemtica inerente taxonomiaouaocontextooriginriodessesgnerosdepoesiaantigaquesuscitaramasmaioresdificuldades.Na verdade,uma releitura atentado corpus textual conservadoconfirmou a ideia de que, na lrica arcaica grega, no foi concedido umespaosignificativo figurasoberanadoAtridaque,na Ilada,motivaraamenisdeAquiles.Esse factocomprovasenasparcasebrevesalusesqueencontramosnumapoesiamuitofragmentria.

    AalusomaisantigaprovmdosculoVIIa.C.deumfragmentodeArquloco (P.Oxy.69.4708, fr.1)6,noquala figuradeAgammnon referida,segundoumatradiopicadiferentedahomrica,apropsitodeumengano inicialdaarmadadochefedas tropasaqueiasnasuaviagemparaTria.Sebemque,nos finaisdessemesmo sculo,ou inciodo sculoVIa.C.,doisfragmentosdapoesiadeSafoapresentemumameno implcita(fr. 17 LP) e outra explcita (fr. 95 LP) aoAtridaAgammnon, no seconsideramrelevantesasexguaselacunaresinformaesquetransmitem.

    Defacto,ostestemunhosmaissignificativosencontramolosnocorpustextualremanescentedeoutrostrspoetasarcaicos:emespecial,umpardefragmentos daOresteia, de Estescoro7 (c. 632556 a.C.); o fr. 282a PMGFDavies,debico(sculoIVa.C.)8;ea2tradeea3estrofedaPticaXIdeideiadequeEstescorosenotabilizounacomposiodepoemas longosdecontedopicomitolgico, que sedestinavam apresentao pblica a cargode coros por eletreinados(85),eofactodeopoetadeRgioterutilizadoumestiloelinguagemtpicosdopoetadeHmera(90),bemcomoodeterusadoaestruturatridica[]terosidodeterminantesparaainclusodebiconogrupodoscultoresdelricacoral.

    5Estetemadesenvolvidonocap.IVdadissertaodedoutoramentodeReinaMarisolPEREIRA(2012).

    6D.OBBINK (2006:5).Vd.a traduoportuguesadeCarlosM.M.de JESUS (2008:65).Cf.ostestemunhosdeProclo(Chr.80.429)edeEstrabo(1.1.17).

    7SobreacronologiaeaobradeEstescoro,vd.M.L.WEST (1970)D.E.GERBER(1997:23242),RooseveltROCHA(2009:6568)eLusadeNazarFERREIRA(2013:815).

    8 Para umadiscussoda cronologiade bico, vd.C.L.WILKINSON (2013: 312).Apesar da discrepncia de datas suscitada pelos vrios testemunhos, supese que opoetaseriaoriginriodeRgio(Suda),terianascidoporvoltadoincioosculoVIa.C.e

  • 14

    MariaFernandaBrasete

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    Pndaro(c.518438a.C.).Almdestasrefernciastextuais,sobejaaindaumaoutrainformaoindirectaenodocumentada,masquepelasuapertinentesingularidademereceserreferida.CombasenumesclioaoOrestesdeEurpides(Schol.Eur.Or.46=549PMG),supesequeumacomposiolricadeSimnidesdeCeos(c.556/552ou532/528)terversadoalendadaOresteia, e que, seguindo Estescoro, situava o reino de Agammnon naLacedemnia9ouseja,emEsparta,enoemMicenasouemArgos.Noestudo que Jennifer R.MARCH concede figura de Clitemnestra (1987:81118), este testemunho indireto aparece associado auma outrapeadeevidnciapapirolgica (P.Oxy.2434),queso interpretadospelaA.comoindciosplausveisdequeoenigmticopoeta inico tiodeBaqulides, recuperara, numa das suas muitas composies apagadas pelo tempo, afigura deAgammnon e a lenda daOresteia. Curiosamente, conjeturaseaindaqueessepoemadeSimnidesemparticularpossatersidoaprincipalfontedeinspiraodaprolferaiconografiafigurativadapoca(15vasos)sobre omalogrado assassnio de Agammnon e os subsequentes crimesretaliatrios,nomeadamenteofamosokraterdeBoston10datadodec.470a.C.,portanto alguns anos antesda representaoda trilogia esquiliana,Oresteia(458a.C.)

    2.Deixemos de lado esta ltima referncia, dada a inexistncia deprovas textuais, e centremonos nos textos dos trs autoresmencionadosquealudem,diretaouindiretamente,figuradoAgammnon.Respeitandoacronologia,comecemospelomaisantigo:Estescoro.

    Entreos26livrosatribudospelaSuda(1095)11aopoeta,cujonometer recebido por ter sido o primeiro a criar um coro para a ctara

    que, num perodomais avanado da sua vida, usufrura domecenato do tirano deSamos,Polcrates.

    9 Schol. Eur. Or. 46 = 549 PMG: . . .(ApudJ.R.MARCH,1987:9394enota60).

    10Cf.J.R.MARCH(1987:9596).11D.A.CAMPBELL(1991:2920).

  • AgammnonnaLricaArcaicaGrega 15

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    ()12,Oresteiaumdospoucosttulosconhecidos,edosesparsos fragmentos conservados, sobreviveramdoisversos,provenientesdeuma citaonum esclio auma comdiadeAristfanes (Paz),quecontmumacuriosaaluso,indirectaemetafrica,aAgammnon:

    ,.(Fr.219PMG)

    Pareceulhequeseaproximavaumaserpentecomotopodacabeacobertodesangue;edelasurgiaumrei,umPlistnida.

    Como se depreende, esto aqui implcitos doismotivos que foramsignificativamenteexploradospelos tragedigrafos,emparticularnaOresteiadesquilo:osonhoominosodeClitemnestraeavinganadoassassniodobasileus,descendentedePlstenes,ousejaAgammnon13.Diferentementedamonstruosa anfisbenaprofetizadaporCassandranoAgammnon esquiliano (v.1233)14, ou da vbora terrvel ( : v. 249; v.994:)queOrestesvnasuaprpriame,estedrakonensanguentadorepresenta,nosversosdeEstescoro,umaaparioaterradoraparaaprpriaClitemnestra,porquantoserefereaoespritodomaridoviolentamenteassassinadoepressagiaumasangrentavingana familiar.Masse recordarmos o v. 929 das Coforas ( ),damoscontadequeaprpriaClitemnestra,nasltimaspalavrasquedirigeaOrestes,refereocomoumaserpentequelamentatergeradoecriado15.Oraapoderosaambiguidadequematizaaexploraotrgicados

    12 Estescoro tradicionalmente considerado um poeta da lrica coral, em

    funodosmetroseaexecuodosseuspoemas.SobreadiscussoemtornodaperformancecitardicaoucoraldaobradeEstescoro,vd.M.DAVIES (1988:5253),D.E.GERBER1997:23235)eRooseveltROCHA(2009:6668).

    13Devidoambiguidadedesta refernciagenealgica,poderseia suporqueoPlstenes fosseOrestes, seu neto, o executor da vingana.No entanto, creio que osegundoversodo fragmentoprolongaaalusoaAgammnon,o basileusqueaparececomoumamanifestaododescendedePlstenesmorto.Cf.Fr.194.5MWinfra.

    14AscitaesdaspeasdaOresteiaseguematraduoportuguesadeM.OliveiraPULQURIO(1991).

    15ComorefereM.deFtimaSILVA(2005),noseuexcelenteestudosobreadramaturgiadesquilo,estanovaClitemnestrapoucotemavercomamulherpoderosadeoutrotempo(119).

  • 16

    MariaFernandaBrasete

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    valoressimblicosdaimagemdaserpentetemsidoobjectodediversasinterpretaes16,mas,nestemomento, importar somentenotarqueno encontramos,nemnatrilogiaesquiliana,nemnaElectradeSfocles17,qualqueralusoaessedrakonctnicocomo representaometafricadoespritodeAgammnon.certoqueopardeversoscitadosnoapresentaumareferncia directa e concreta a Agammnon, mas isso no invalida que sepossam tirar algumas ilaes: emprimeiro lugar,omitodeAgammnonperduravacomotemadalricacoralnoinciodosculoVIa.C.,sebemquevinculadoaum lequede tpicos lendriosque juma longa tradio lheassociaraamalogradaCasadeAtreu,oassassnioimpiedosodequenoeraisentadeculpaasuaesposaadltera,Clitemnestra,eevidentementeoepisdiosubsequentedevinganaretaliatria.QueristodizerqueaomitodeAgammnonseencontravamagregados,desdeostemposmaisremotosde uma tradio poticamarcadamente oral, outros episdios lendriosfamiliares,sendoosmaisrelevantesatraiodeClitemnestraeavinganaretaliatria perpetrada por Orestes. Estes factos iriam, evidentemente,marcarafortunadonomedeAgammnon.

    Deve ainda referirse, que, segundo um testemunho de Ateneu(12.512e513), o homerssimo e hesiodssimo18 Estescoro versara otemamticodaOresteia,acrescentandoumnmeromuito significativodepormenores inovadores a uma histria familiar que tambm havia sidotratada por um poeta menor da poca, nosso desconhecido, o mlicoXanto19. Independentementede ter existido ounouma relaode inter

    16Cf.,por exemplo,K.ONEIL (1988) eo estudo recentedeClaireCATENACCIO

    (2011).17EmSof.El.417ss.,Cristemisrefereque,numsonhonoturno,Clitemnnestra

    viraomaridoassassinadoregressarluzdodia,comumceptronamo.TambmnoOrestesdeEurpides(v.618)sereferequeClitemnestrasonharacomoomaridomorto.

    18Cf.F.deMARTINO&O.VOX (1996:20).SobreoestilohomricodeEstescoro,verA.LPEZEIRE (1975:3 sqq.)M.DAVIES (1991:145147)eG.O.HUTCHINSON (2001:11319).

    19 Com base numa passagem de Ateneu (13. 610c), Patricia E. EASTERLING &BernardM.W.KNOX (1985: 186) admitem a hiptesede que aOresteiadeEstescorotenha recebido influnciadessepoeta, seupredecessor.Vd. tambmReinaMarisolT.PEREIRA(2012:16566).

  • AgammnonnaLricaArcaicaGrega 17

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    textualidadeouatderivalidadeentreasobrasdosdoispoetascontemporneos, importar salientar que a reelaborao de Estescoro, pautandosepelaoriginalidadeepelaobjectividadenarrativaalisapangiosreconhecidosdasuaartepotica, teracrescentadonovoselementosaomitoqueatradiopicaconcentraranasacesgloriosasdoheri.Entreosvrios espaos vazios deixados pela narrativa pica e que foram preenchidospela lrica,sobressai,evidentemente,estemotivocrucial,posteriormente exploradopelapoesiadramtica epela iconografia:oda culpadeClitemnestranoassassniodomarido.PareceadmissvelsuporqueEstescoro terreavivadoerecriadoomitoAgammnon,emmoldesmanifestamentediferentesdosda tradio pica,querhomrica,querhesidicaoumesmodociclopico.AsuaOresteia,queintegravaosdoisversosdofr.219PMGF, ter sido, por certo, uma das fontes da trilogia esquiliana, pelomenos no tocante imagem da serpente como smbolo de uma foractnica.Atravsdesteengenhosotopos,oAtridaassassinadosurgiametaforizadonuma serpente sanguinolentaque atormenta o inconscienteda esposaadlteraehomicida.squiloteraproveitadoestaapariodeAgammnonmorto, associandoadeuma formadramaticamente convincenteaosonhodeClitemnestra,masexplorandodetalformaasimbologiadestetema tradicional que dele parece ter feito depender a prpria estruturadramticadasCoforas.Efetivamente,osonhoconstituiomotivoquelevaoCoroaotmulodeAgammnon,oque,porsuavez,vaipermitiroreencontroeoreconhecimentoentreosdoisirmos.Aforasimblicadessesonho uma fora catalisadora da prpria estrutura dramtica da pea, porquanto,almdeprovaraculpadeClitemnestra,setransfiguranaimagemdo filhoserpente (v. 328: ) que o seiomaterno alimentou e omatricdio cruento ensanguentar. Por outro lado, a apario do herimortoserviaaindaparaperpetuarokleosdaquelequeanarrativahomricahavia celebrado comoo rei soberano esenhordoshomensque comandara com xito a expediogrega contraTria,masdepoisdeumnostostriunfante,enfrentaraumamortetrgica,noseiodoseuprpriooikos.

    Convm talvezrecordarque,noclebrepassodosNekyadaOdisseia(11.40910), o destino funesto de Agammnon divulgado na primeirapessoa.NoHades,oespritodoAtridarelatapessoalmenteaUlissesque,

  • 18

    MariaFernandaBrasete

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    na Ilada (18.265)o julgaramortonumabatalhaalgunspormenoresdoscrimesmacabros que se sucederam ao seu bemsucedido retorno a casa:Egistoforaoseuassassino,mascomaconivnciadeClitemnestraque,nomesmomomento em que omarido legtimo se esvaa em sangue, se encarregara,elaprpria,de tiraravida jovemCassandra.NospoemasdoCiclopico,ahistriadamortedeAgammnonforaigualmenteretomada,eoutrospormenoreshaviamsido,porcerto,exploradosoumesmoacrescentados. Podemos, assim, presumir que a traio e a cumplicidade deClitemnestra,fautoradavinganaperpetradaporOrestes,conferiramcontinuidade e unidade histriamalograda do rei glorioso, que o Catlogopseudohesidico tambm no ignorou, como testemunham algunsfragmentospreservados,equeaedioconjuntadeR.MERKELBACHeM.L.WEST(1967)nosdaconhecer.

    Cito apenas a traduo de um desses fragmentos, pela pertinenteinformaodecarizgenealgicoqueencerra:

    AgammnonfilhodePlstenesque,porsuavezerafilhodeAtreu.EmHomerosempreoAtrida.(Fr.194.5MW)

    Pensoquepodemosencontrar,nestesversos,umtestemunhoabonatrioa favordaaparentementeestranhagenealogianohomricaseguidaporEstescoro,querefereAgammnoncomofilhodePlstenes.Efetivamente,atradiogenealgicadoreiregistavaumacertaambiguidade,poisse,comoHomero,eleeraconsideradoumdosdoisfilhosdeAtreu20,circulavaumaoutraverso,alisseguidaporpoetasposteriores,nomeadamentepelos trgicos,dequePlstenesseria filhodeAtreu,portanto,paideAgammnon e deMenelau. Sabese que estas questes genealgicas, assimcomoasonomsticas,ostentam,amidesvezes,uma sriede imprecisesquedevemsernotadas,masnosobrevalorizadas.Exemplos tpicosdessafluidez encontramse tambmnosnomesdeduas filhasdeAgammnon,IfigniaeElectraquestoquenovouaquidesenvolvereaindanalocalizaogeogrficadoreinodeAgammnon.Comojsereferiuanteriormente, um esclio ao Orestes de Eurpides (schol.Eur.Or.46= 549 PMG)fornecenosainformaodequeasupostaOresteiadopoetaSimnidesde

    20EstescororefereocomoAtrida,nofr.238.312PMGF.

  • AgammnonnaLricaArcaicaGrega 19

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    Ceos seguiraaversodeEstescoro, situandoo reinodeAgammnonnaLacedminapossivelmente emEsparta, comonaOdisseia eno emMicenasouemArgos,deacordocomasduasversespresentesna Ilada.Podemosaindaassociaraessadupladissociao,genealgicaegeogrfica,deAgammnonnaOresteiadeEstescoro,arefernciaaoinusitadonomedaama,queterprotegidoOrestes:Laodamia21.

    muitodifcilobtermosumaimagemcoerenteeconsistenteapartirdestesfragmentosesboroadospelotempo,maspensasequeapoesiadeEstescoro ter,certamente,marcadoummomentodeviragemnapoesiaarcaicagrega.OfactodeasuaOresteiaestardivididaemdoislivros22constitui,aparentemente,umdadosignificativoqueentroncana ideiadequeopoeta siciliano adaptou o legado da tradio potica anterior23 s novasformas lricasemergentes,eivadasdeumaartenarrativaondearecriao,aobjectividade ea importnciadopormenor se revelam comomarcasdeuma idiossincrasia potica, ancorada ainda namundividncia herica dopassado,mastambmmuitodistantedaenunciaopersonalizada,daconciso e da brevidade que a narrativa mtica conquistaria na poticapindrica.

    3. Tambm sob a influncia da tradio homrica, entretecida comressonnciashesidicas,um curioso epolmico fragmentode bico (282aPMGF)24,peseemboraoseuestadofragmentrio,recuperaoestatutosoberano emajestoso deAgammnon que, como justamente observouG.O.HUTCHINSON (2001: 243), ocupa um lugar de relevo, enquanto figuramagnificentemente adornada,que ecoa adico pica, apesarde se revestirdeuma significaomaisampla, tendoemcontaostemaseargumentosimplcitosdopoema.Emprimeirolugar,valerapenareferirdoisoutrsaspectosessenciaisparaacontextualizaodopoema.

    21Cf.fr.218PMG/schol.A.Ch.733.22Cf.fr.213,214PMG.23Vd.,porexemplo,AntonioLPEZEIRE(1975:132)P.E.EASTERLING&B.M.W.

    KNOX(1985:88sqq),E.CINGANO(2003:2534)eJenniferL.BENEDICT(2005).24Praumaresenhadasinterpretaesdestepoema,nomeadamentedasdeD.L.

    PAGE(1951)edeJ.P.BARRON(1969),vd.LeonardWOODBURY(1985).

  • 20

    MariaFernandaBrasete

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    Desconheceseaparteintrodutriadestefr.282aPMGF(=S151)eomododeexecuoaquesedestinava,sebemqueostopoidaenunciaona1.pessoa edo elogio belezadeum jovem chamadoPolcrates tenhamsustentadoahiptesedequesetratavadeumacomposioencomendadapara ser cantada numa cerimnia convivial25 possivelmente, um simpsio,no tempoda juventudedo futuro tiranode Samos.Construdosobreumaestruturatridica(talvezumamarcadainflunciadeEstescoro,talvezaestruturaapropriadaaestetipodecantosencomisticoscircunstanciais), apresenta jmarcas discursivas de uma enunciao na 1. pessoa,comprovada pela presena da forma pronominal , no v. 10, onde seenceta uma preterio: Mas no meu desejo cantar26.A presena doadvrbio|27,hipoteticamentelocalizadoeminciodeverso,instaurariaohicetnuncdoargumento28,indiciando,desdelogo,ovalorexpressivoqueaanttesepassadopresenteganhavanaconstruopoticadoencmioque,sobaformatpicadapraeteritio,iluminaasrefernciasmticas,pormeiodaanalogiaedocontraste.

    Entreaprimeiratrada,porsinalincompleta,easegunda,sucedemseasalusesafigurasmticasdalendriaGuerradeTria29,dasquaisPrisanicaquemereceumaavaliaonegativaum traidor talvezportervioladoosprincpiosdehospitalidade(xenia)aoraptarHelena.MasaconjugaoengenhosadomotivodopreponcomodapraeteritioquecriaumparaleloeloquenteentreamemorvelgrandezadafrotadeAgammnoneodesejocontemporneodequeailhadeSamosfossereconhecidapelasuasupremacia martima. A funcionalidade das aluses mticas, particularmente frota de Agammnon30, no se esgotava, por conseguinte, nas

    25Cf.BrunoGENTILI([1984]1996:278).26 As citaes do fr. 282a PMGF seguem a traduo portuguesa de Frederico

    LOURENO(2006:4849).27AfavordestaemendapropostaporGREEFELLeHUNT(1922),pronunciaramse,

    porexemplo,G.O.HUTCHINSON(2001:240)eClaireL.WILKINSON(2013:65).28AbelezadePolcrates(vv.4648).Vd.LeonardWOODBURY(1985:196).29Cf.D.E.GERBER(1997:1923)30Desalientar,as inmerasreminiscnciasdoCatlogodasNaus,docanto II

    daIlada.semelhanaeEstescoro,tambmbicoutilizatopoiherdadosdoCiclopicoenomeadamentefiguraseepisdiosrelativossagatroiana,que,naopiniodeClaireL.

  • AgammnonnaLricaArcaicaGrega 21

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    questes poticas, apresentando tambm motivaes pragmticas concretas,comojustamenteobservouB.GENTILI([1984]1996:282):OpropsitodopoetaerachamaraatenodoauditrioparaopodertalassocrticoqueafamliadePolcratesdetinhanapoca.

    EstepeculiarenquadramentopoticodafiguradeAgammnonfaziasobressairmuitosdosatributosqueaIladalhehaviaglorificado.Oseukleosperduravamesmoaonvelda linguagem:eledescrito,nosvv.2022doepodo da segunda trade como o poderoso Agammnon (v.20: |) [o rei] da linhagem dos Plstenes(v.21: |||, condutor dos homens (v.21: ) e o filho doilustreAtreu (v.22: | | ).Mas esta caracterizao doAtridaparececombinar,deummodocoerente,eptetoshomricosconsagrados,comaalusonohomricaaPlstenes31.queosujeitopoticodeclarara,anteriormente (vv. 1517), a sua recusa emnarrara insolente areta(transliteroa formadrica)dosherisgregos,e,poresse facto,aalusolinhagem dos Plstenes sobrepunhase, relegando para segundo plano amalogradahistriadeAtreu.Masaforaretricadapreteriofaziaaindarealaro temada arete,que, entrelaado como tpicodo kleos,promoviauma afinidade significativa entre as figuras dominantes do poema:Agammnon,opoeta,eo jovemebeloPolcrates,odestinatrioelogiado.ComoobservouLeonardWOODBURY(1985),Barronjperceberaqueotemadestapoemaeraopoderdapoesiaemconferirimortalidade.

    Paraconcluir,poderemosdizerque,nestecomplexoemuitofragmentriopoemadebico,Agammnonafiguraseumparadigmamticosignificante, que, de ummodo subversivo, funciona como mulo de um novoconceitodearete,aliceradonospilaresdabelezaedaglria,que,nopassado,imortalizaraomaisjovemfilhodePramoeHcuba,Troilo,e,nopresente, atravs do canto e da fama do poeta, iria conceder um

    WILKINSON (2013:1314),constituaumprocedimento tpicodospoetasarcaicosgregosqueseenquadravaperfeitamentenumalricadetemticaerticaquecelebravaabelezadeheris.

    31Vd.supranota13.

  • 22

    MariaFernandaBrasete

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    renomeimorredouro(v.47.)aojovemebeloPolcrates32.EstaconscinciadotalentopoticoaliadacrenadequeocantoinspiradodasMusastinhaodomde imortalizar a glria (kleos)dos homens,prenuncia oprogramapoticodeumgneroencomisticoqueviriaa florescernumapocamaistardiadalricaarcaica:oepincio33.

    4.E precisamentenumdos epinciosdomais reputado cultordogneroquese inscreveaderradeiraaluso lrica figuradeAgammnonque encontramos no corpus da lrica arcaica grega. Tratase da PticaXI,compostaparacelebraraterceiravitriadeTrasideu34deTebasnacorridaderapazesdeduasvoltasaoestdio(vv.114),noanode474ou454a.C.35.Novouaquidemorarmenaanlisedestaintricadaode,quetemsuscitadoaos comentadoresmuitosproblemas.Centrarmeei apenasna secomtica,edeumaformamuitobreve,paradepoisexaminaraalusoquefeitaaAgammnon.

    Nas quatro tradas que compem a ode, a convencional narrativamticadesenhauma estrutura circularpela retomado seu tema central

    32SegundoClaireL.WILKINSON(2013:23),()Ibycususesbothmythicalevents

    orcharactersandtheexpressionoferoticsentimentstopraiseanindividual.Bothmythand love arepresented in S 151,wich ends bypromising eternal glory to the youngPolycrates. Ibycus rejection of the Trojan War implies that Polycrates is a moreimportantsubjectforbeauty().

    33SebemqueosnomesdePndaroedeBaqulidessetenhamimortalizadocomoos poetasmais representativos a cultivarem o epincio, a inveno deste gnero depoesiaencomisticatradicionalmenteatribudaaSimnides,opoeta jnicooriginrioda ilhadeCeos,quesediz tersidooprimeiroacomporumapoesiadecircunstncia,porencomendaea trocode remunerao.Descobertaspapirolgicas recentes levaramalguns estudiosos adefender ahiptesede bico ter composto odesdevitria.Vd.LusadeNazarFERREIRA(2013:91,especialmente,n.75).

    34NestaPtica11,celebraseavitriadeTrasideunovigsimooitavo Jogo,masatravsdo Schol.Pi.P. 11 sabese que este filhodePitovencera tambm o trigsimoterceiro.

    35Sobreaproblemticadataodestaodevd.P.J.FINGLASS(2007:518)declaraasuaprefernciapeloanode474a.C.,valorizandoa refernciaaopai (v.44)do jovematleta,que, certamente, teria encomendadoopoema.Contudo,osvriosparalelismosquesepodemestabelecerentreestaOdeeaOresteiadesquilo(458a.C.)sustentamahiptesedadataposterior,tradicionalmenteindicada:oanode454a.C..

  • AgammnonnaLricaArcaicaGrega 23

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    Orestes (v.16ev.35)36,que incluiasegunda tradaea terceiraestrofe.Oargumentoqueintroduzatradicionalsecomticaconstrudoatravsdeumanotageogrficaque localizavagamenteoespaoemqueessa terceiravitriadeTrasideuforaobtida:naslezriasfrteisde/Plades,oamigodo lacnicoOrestes37 (vv. 1516: / ).Estava lanadoomoteparaumanarrativaque,aoenumeraraspersonagensmaisilustrativasdomito(almdePlades,queforaanteriormentemencionado,Agammnon,Clitemnestra,Cassandra,Ifignia,Estrfio), introduza figuraenigmticadeumaama,denomeArsnoe38 (v.17),que ter levadoo jovemOrestesno sedizparaondedepoisdoviolentoassassniodopai.SercuriosoobservarosaspetosselecionadospelopoetanestanarrativadomitodeOrestes39.

    OprimeiroepisdioevocadoprecisamenteodoassassniodopaideOrestessmosviolentasdeClitemnestra (vv.1718: /)40,apodadadeimpiedosa (v.19: )eresponsabilizadaaindapelamortedeCassandra.Aabordagemdestetemaprocessaseemsintoniacomatradio,masasmarcasdeoriginalidadeinsinuamsena imagem inslitaeominosaqueassociaosdestinosdeAgammnon edeCassandra, juntos nasmargensdoAqueronte (v. 202: ). Efetivamente,semelhanadapoesiadeEstescoro,ediferentementedadebico,AgammnonparaPndaroumhomemmorto,vtimadeumaassassniodolosoesanguinrio,certo,massernaoriginalalusosuapsychequea

    36Ostopoireferidosso:oresgatedeOrestesdepoisdasmortesdeAgammnone

    deCassandra;oseuexlioeoregresso;omatricdioeotiranicdio.37AscitaesdaPticaXIseguema traduoportuguesadeAntniodeCastro

    CAEIRO (2006:13538).NotesequePndaro,diferedaversoesquiliana, localizandoomitodeOrestesemEsparta.Cf.S.J.INSTONE(1986:878)querealaofactodeestaOdenoapresentarumapassagemgnmicaa ligaromitoeavitria.RoryB.EGAN (1983:193)adverteparaquenoseentendaqueaassociaogeogrficaTebasLacinaquearelevnciadomitodeOrestesnestaOde.

    38Vd.supran.21.39Sobrearelevnciadomitonestaode,vd.David.C.YOUNG(1968:4ss.),RoryB.

    EGAN(1983),S.J.INSTONE(1986:878)eP.J.FINGLASS(2007:3446).40Paraainterpretaodosvv.1718vd.NicholasLANE(20062007).

  • 24

    MariaFernandaBrasete

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    figurado herico filhodeAtreu (v. 31: ) se ilumina,nasprofundezasdoHades.Essaluz,todavia,umaluzmortia,noirradiaobrilho da glria (kleos), pelo contrrio, desobscurece o ethos do soberano,problematizandooatemtermosticomorais.NessalinhadepensamentosedeveminterpretardoismomentostextuaisdeterminantesdestarecaracterizaopindricadeAgammnon:aduplainterrogaoretricaquereflecteumaambiguidaderelativamentesortedasua filha Ifignia (segundaantstrofe,vv.2227)eainfernciacusticaquesepercebenosversosqueestabelecem o encavalgamento entre o epodo final da segunda trade com aterceiraestrofe(vv.3134).Atentemosnessasduaspassagens.

    [Ant.2]TersidoIfigniachacinadaemEuripo,longedaptriaquemalevouaergueramopesadadorancor?Outersidodominadanumacamaannima,easnoitesdesexodesviaramnadoseucaminho?

    [Epodo2]()Foiassimqueelemesmomorreu,ohericofilhodeAtreu,quandofinalmenteregressoufamosaAmiclas

    [Estr.3]edestruiuaraparigadasprofecias,aoacabarcomoluxonacasadostroianoseprlhefogo,porcausadeHelena.

    Uma surpreendente apropriaodomito reconfigurava,portanto, aimagemdeAgammnonneste epincio,mesmono sendo eleoprotagonistadoparadeigma.Parecemassimmitigadasalgumasinquietaeshermenuticase controvrsiasgeradasem tornodeste cantodevitria.quasecertoquenoestavanoespritodopoetaqueosepisdiosmticosdadesditosageraodeAtreuconstitussemumparadeigmapositivoparaaprsperafamliadovencedorouomotivodeumexcursusmeramenteretrico,comoparecesugeriroenunciadodaAntstrofe3:eacabeipormeperderemencruzilhadas, quando no incio/ seguia em frente por um caminhodireito(vv.3940)41.Esteartifciometadiscursivo,tocaractersticodapotica pindrica, permitialhe, sim, recuperar o tema central da ode e

    41Cf.interpretaodeRobertaSEVIERI(1999:79).

  • AgammnonnaLricaArcaicaGrega 25

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    sublinhar os princpios do programa encomistico da ode que pretendiacelebraravitriapticadeTrasideu.

    NaAntstrofe4,depoisdeosujeitopoticoenunciarclaramenteoseuobjetivo o de alcanar as excelncias que todos partilham (v.55)segueseumasriedegnomaiqueparecemsintetizarnaperfeioaslinhasorientadorasdeumainterpretaomaisampladomitonarrado:

    Massealgumchegaraolimite,queohabiteserenamenteeescapesoberbahorrorosa:talvezassimconsigaultrapassarlimitesmaisbelosdoqueanegramorte,deixandosuadocedescendnciaagraadeumbomnome,omelhordetodososbens.(vv.5559)

    NohaviamsidoestesosprincpiosqueorientaramavidadeAgammnon,assimcomoadasuafamlia.OnomedageraodosAtridasperpetuarasemanchadode sangue,porquea traio,a insolnciaea impiedadequeconduziramaoregicdio,desencadearamoutrosactosviolentosemparticularomatricdio impostoaOrestesque,emltima instncia,provocaram a destruio do oikos42.A vitria ptica de Trasideu tornariamemorveloseularpaterno(v.14),talcomoavinganadeOrestes,sobos auspcios de Apolo, permitira perpetuar o nome do seu progenitor,punindoClitemnestraelibertandoooikosdotiranousurpador(Egisto)43.

    Atendendofinalidadeparadigmticaqueomitodetinhanognerodo epincio, a figuradeAgammnon, alis como ada sua famlia, representa nesta ode, um passadomemorvel,mas que no se devia repetir,especialmenteparaosquedesejavamconquistarumbomnome(isto,oreconhecimento pblico) e alcanar uma excelncia inextinguvel.A esteidealsupremodeveria tambmaspirarovencedorpticoeasuaprspera

    42Cf.MariadoCuFIALHO (2012: 49)que consideraClitemnestra o fulcrodo

    crime, a rainha que, na ausncia domarido, se convertera na mulher demsculasdisposiesnumoikosdisfuncionalepervertido.

    43VejaseoestudodeRobertaSEVIERI(1999).OmatricdioentendidocomoumatohericodeOrestesqueencarnaoprottipodovingador justo,porque sancionadopelodeusdeDelfosApolo.Por isso, lavalenzanegativadelparadigmamtico siconcentrasullacoppiadiususrpatori,mentrelafiguradiOresteilpuntodiriferimentoperlafiguradellaudando(90).

  • 26

    MariaFernandaBrasete

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    famlia,paraque,contrariamentedeAgammnon,fossemreconhecidosecelebradosporumaimaculadaglria.

    BibliografiacitadaBARRON,JohnP.(1969),Ibycus:ToPolycrates.London.BENEDICT,JenniferLynn(2005).StesichorusandtheEpicTradition.University

    PressofVirginia.C.SEGAL.1998.Aglaia :thepoetryofAlcman,Sappho,Pindar,Bacchylides,andCorinna.Lanham,Md..

    CALAME,Claude(1988),Laposie lyriquegrecque,ungenre inexistent?:Littrature111(1988)87110.

    CAMPBELL,DavidA.(ed.)(1991),GreekLyric,VolumeIII,Stesichorus,Ibycus,Simonides,andOthers.Loeb,CambridgeMass..

    CATENACCIO, Claire (2011), Dream as Image and Action in AeschylusOresteia:Greek,Roman,andByzantineStudies51(2011)202231.

    DAVIES, M. (1988), Monody, Choral Lyric, and the Tyranny of thehandbook:CQ38(1988)5264.

    DAVIES,M. (ed.) (1991),Poetarum,Melicorum,Graecorum,Fragmenta.Vol.1.Alcman.Stesichorus.Ibycus.Oxford.

    EASTERLING, Patricia E. & KNOX, B.M.W. (eds.) (1985), The CambridgeHistoryofClassicalGreekLiterature.GreekLiterature.I.Cambridge.

    EGAN,RoryB. (1983), On theRelevance ofOrestes inPindarsEleventhPythian:Phoenix37.3(1983)189200.

    FERREIRA, J. R. (2000), A heroizao do vencedor na poesia grega:F.OLIVEIRA(coord.),Oespritoolmpicononovomilnio.Coimbra:4555.

    FERREIRA,LusadeNazar (2013),MobilidadepoticanaGrcia antiga.UmaleituradaobradeSimnides.Coimbra.

    FIALHO,Maria doCu (2012), DoOikos Plis deAgammnon: sob osignodadistoro:gora.EstudosClssicosemDebate14(2012)761.

    FINGLASS,P. J. (ed.) (2007),Pindar:PythianEleven,Editedwith Introduction,Translationandcommentary.Cambridge.

    GENTILI,Bruno([1984]1996),PoesayPblicoenlaGreciaAntigua.Tradesp.deXavierRiu.Barcelona.

    GERBER,DouglasE.(1997),AcompaniontotheGreeklyricpoets.Leiden.HUTCHINSON,G.O.(2011),Greek lyricpoetry:acommentaryonselected largerpieces.Oxford.

    INSTONE,S.J.(1986),Pythian11:DidPindarErr?:CQ36.1(1986)8694.JESUS,CarlosM.M.de(2008),Arquloco.FragmentosPoticos.Lisboa.

  • AgammnonnaLricaArcaicaGrega 27

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    LANE, Nicholas (20062007), The Interpretation of Pindar, Pythian11.1718:IllinoisClassicalStudies31/32(20062007)263267.

    LPEZEIRE,Antonio (1975),Estescoroenelmarcode la literaturagriegaarcaica:EstudiosClsicos19.7476(1975)132.

    LOURENO,Frederico(2006),PoesiagregadelcmanaTecrito.Lisboa.MARCH,JenniferR.(1987),CreativePoet:StudiesontheTreatmentofMythsinGreekPoetry.(BulletinSupplement49).London.

    MERKELBACH,R.&WEST,M.L.(1967),FragmentaHesiode.Oxford.ONEIL, K. (1998), Aeschylus, Homer, and the Serpent at the Breast:Phoenix52.34(1998)216229.

    OBBINK,D. (2006), ANewArchilochus Poem:Zeitschrift fr PapyrologieundEpigraphik156(2006)19.

    PAGE,D.L. (1951), IbycusPoem inHonour ofPolycrates:Aegyptus 31(1951)158172.

    PAGE,D.L.(1955),SapphoandAlcaeus.AnintroductiontothestudyofancientLesbianpoetry.Oxford.

    PEREIRA,ReinaMarisolT.(2012),Agamemnon(es):EntreomitoeaLiteratura.Dissert. Doutoramento. Coimbra. Disponvel em: http://hdl.handle.net/10316/23019

    RAGUSA, Giuliana (2005), Fragmentos de uma Deusa. A representao deAfroditenaLricadeSafo.Campinas.

    ROCHA,Roosevelt (2009),EstescoroentrepicaeDrama:Phaos9 (2009)6579.

    SEVIERI,Roberta(1999),Uneroeincercadidentit:OrestenellaPiticaXIdiPindaroperTrasideodiTebe:Materialiediscussioniperlanalisideitesticlassici43(1999)77110.

    SILVA, Maria de Ftima (2005), squilo: O Primeiro Dramaturgo Europeu.Coimbra.

    STEHLE,Eva (1997),Performance andGender inAncientGreece:NondramaticPoetryinItsSetting.Princeton.

    WEST,MartinL.(1970),Stesichorus:CQ21.2(1970)302314.WILKINSON,ClaireLouise (2013),TheLyric of Ibycus: Introduction,Text andCommentary.Berlin/Boston.

    WOODBURY, Leonard (1985), Ibycus and Polycrates: Phoenix 39.3 (1985)193220.

    YOUNG,DavidC.(1968),ThreeOdesofPindar:ALiteraryStudyofPythianII,Pythian3.andOlympian7.Leiden.

  • 28

    MariaFernandaBrasete

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    *********

    Resumo: Pretendese, neste estudo, rastrear a figura deAgammnon nos textos queconstituemocorpushojeconhecidodalricaarcaicagrega,privilegiandoostestemunhosmaisilustrativosdetrspoetasarcaicos:doisfragmentosdaOresteia,deEstescoro,ofr.282aPMGFDavies,debico,eaPticaXI,dePndaro.

    Palavraschave:Agammnon; lricaarcaicagrega;Estescoro;bico;Polcrates;Pndaro;Ptica11;Oresteia;Coforas;Clitemnestra;Orestes.

    Resumen:Enesteestudiose intenta rastrear la figuradeAgamennen los textosqueconstituyenelcorpusactualmenteconocidodelalricaarcaicagriega,dandoprimacaalostestimoniosmsilustrativosdelostrespoetasarcaicos:dosfragmentosdelaOrestadeEstescoro,elfr.282aPMGFDavies,debico,ylaPticaXI,dePndaro.

    Palabras clave:Agamenn; lrica arcaica griega;Estescoro; bico;Polcrates; Pndaro;Ptica11;Oresta;Coforas;Clitemnestra;Orestes.

    Rsum:Danscettetude,onprtendsuivrelatracedelafiguredAgamemnondanslestextesquiconstituentlecorpus,telquonleconnataujourdhui,delalyriquegrecque,enprivilgiant les tmoignages les plus rvlateurs de trois potes archaques: deuxfragmentsdOrestie,deStsichore, lefr.282aPMGFDavies,dIbycos,et laPythiqueXI,dePindare.

    Motscls: Agamemnon; lyrique archaque grecque; Stsichore; Ibycos; Polycrate;Pindare;Orestie;Chophores;Clytemnestre;Oreste.

  • gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)2940ISSN:08745498

    Herdoto(II.8688)yelconocimientoanatmicogriego Herodotus(II.8688)andGreekanatomicalknowledge

    CSARSIERRAMARTN(UniversitatAutnomadeBarcelonaEspaa)1

    Abstract: The aim of this paper is to relate Herodotuss account of the EgyptianembalmingmethodstoGreekanatomicalknowledge.Apartfromplacingthemintheirrespective contexts, we argue that these passages are highly relevant for Greekanatomicalknowledgeandshowtheremarkablenaturalisticmindofthehistorian.

    Keywords:Herodotus;anatomy;naturalism;medicine;Hippocraticcorpus.

    LacuriosidadylaamplituddeconocimientosquemuestraHerdotoa lo largo de su obra han suscitado el inters de los acadmicos en lasltimasdcadas.Aestasalturasde la investigacin,de todosesconocidoque laobradeHerdotono slo se centraenelestudiodel conflictoquetuvo lugar entregriegosypersas (librosVIX) sinoqueprofundiza en elmarco geogrfico y natural de aquellas regiones del imperio persa pococonocidas por el pblico griego (libros IIV). Sin lugar a dudas, laorganizacindelaobradeHerdotoesmuyllamativapuespresentaalimperiopersaentodassusdimensiones:geografa,etnografa,mundonatural,clima,historia, etc.Loanterior suponeque las indagacionesdeHerdotosoncomplejasycubrenunmarcogeogrficoamplio:Asiamenor, lacostaFenicia, lameseta irania, las riberasdelTigris y elEfrates,Egipto yunlargo etctera.Todo ello configuraunode losprimeros exponentesde ladenominadahistoriografauniversal(/koinhistora),esdecir,unaobra convocacindepresentarun conocimiento enciclopdico2.Bajoestemarcode trabajohansurgidomultitudde lneasde investigacinqueponendemanifiestolaconexinentrelaobradeHerdotoylasdiferentesparcelas del saber griego, destacando especialmente la geografa, la

    Textorecibidoel02.10.2013yaceptadoparapublicacinel16.02.2014.1cesar.sierra@ecampus.uab.cat.readHistriaantiga2 En la Antigedad, la estela de Herdoto ser recogida por otros clebres

    enciclopedistas comoforodeCime (s. IV a.C.),AgatrquidesdeCnido (s. II a.C.),TrogoPompeyoyDiodorodeSicilia(s.Ia.C.).Alrespecto,vaseelexcelenteanlisisdeMOMIGLIANO(1984)279ss.

  • 30

    CsarSierraMartn

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    etnografa y la medicina3. Con todo, podemos considerar esta vocacinnaturalista deHerdoto como la prolongacin de la filosofa naturalistajonia del VI a.C.4 Para recoger la esencia de lo que hemos comentado,paremos atencin a los apuntes deHerdoto acerca de la formacin delDeltadelNilo(Hdt.II.1011).Aqu,trasdescribirlageografadelvalledelNilo,Herdoto reflexiona acerca de la topografa deMenfis y llega a laconclusindequedicharegines terrenoganadoalmar(terrenoaluvial).El historiador coteja su observacin con los datos aportados por lossacerdotesegipcios,suspretendidasfuentes,ytrazaparalelismosconotrasregionescomoIlion,Teutrania,feso,lallanuradelMenandroyladesembocadura del Aqueloo en Acarnania5. En adicin al anterior argumento,Herdotocontrastasorprendentesdatosafavordesusteoras:lapresenciadeconchasenlasmontaasdelinteriordeEgipto(fsiles),pruebadequeelDelta es terreno ganado al mar, y la composicin de la tierra egipcia,excepto en la riberadel ro,quepresentauna elevada salinidadas comounascaractersticaspeculiaresque lahacendistintaa la tierraderegionescircundantes, como Libia oArabia6. Bajo nuestro punto de vista, lomsrelevantenoeslaperspicaciadeHerdotoyelrecursoalaanalogasinoelamplioconceptodeltiempoquedemuestra.Enestalnea,Herdotoplanteauna cuestinmuy interesante al sugerirque, si elNilodesviara su cursohaciaelMarrojo,nada impediraqueelGolfoarbicoquedaracolmatado

    3Podramosofreceruna larga listadereferenciasbibliogrficasperopreferimos

    destacarsobreelrestolaobradeRosalindThomas(THOMAS(2002)),queconstituyeunexcepcional referente para el estudio de Herdoto y el mundo natural. IgualmenteinteresanteresultalapublicacindelatesisdoctoraldeJ.A.GarcaGonzlez(GARCAGONZLEZ(2007)317334)y,enuncontextomsgeneral,destacamoslacontribucindeJamesRommalCompaniondeCambridge (ROMM (2006)).Acercade la importanciadeHerdotoparaelconocimientogeogrficogriegomeremitoalaintroduccindeDUECK(2012)3537ysuexcelentebibliografa,mientrasquesobreeldesarrollodelaetnografaen la Historia es interesante consultar SKINNER (2011) 238253, con abundantebibliografa.

    4VaseporejemploLLOYD(1999)29ss.yTHOMAS(2002)135ss.5 El pasaje destaca por el uso de la analoga como recurso expositivo. Vase

    THOMAS(2002)170171yASHERI/LLOYD/CORCELLA(2007)249250.6AnlisisextensodeladescripcinherodoteaenHAZIZA(2009)71ss.

  • Herdoto(II.8688)yelconocimientoanatmicogriego31

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    enunosveintemilaos (Hdt. II.11.4).Comoapreciamos, laperspectivahistricadeHerdotoesmsquenotableylaargumentacindesusteorasmerced a la observacin geolgica (fsiles, composicin de la tierra) essorprendenteysupone todounhitoparasupoca7.Elpasajeacercade laformacin del Delta del Nilo es famoso pero tambin existen otrasdescripcionesypeculiaridadesdignasdemencinenlaobradeHerdoto:la discusin sobre el origen de las fuentes delNilo (Hdt. II. 2834), lasdescripciones de las regiones perifricas de la oikoumne, por ejemplo laIndia (Hdt. III.98106)yArabia (Hdt. III.107113), laspeculiaridadesdelclimaescita(Hdt.IV.2831)ascomosususosycostumbres(Hdt.IV.5982)ytantosotroscasosquenomencionaremosparanoalargarnosenexceso.

    En elmarcode esta riquezadescriptivanaturalista encontramosunpasajesingularquerefierelacostumbrefunerariaegipciadeembalsamarasusdifuntos (Hdt. II.8690).ComentaHerdotoqueenEgipto la tareadeembalsamar eraunaarte (una /techn)yque los egipciosacudanaestos artesanos cuandoun familiar falleca8.El embalsamadorofreca tresmodelos de embalsamamiento segn la capacidad econmica de losfamiliares(Hdt.II.86.2).Acontinuacin,Herdotoexplicasomeramentelapreparacindel cuerpoen sendosmodelos,destacando ladescripcindelmssuntuoso:

    [] ,,. , . , , . . ,

    7NossumamosalasombroquemostrensumomentoJohnGouldalvalorareste

    pasaje,apuntandolabrillantezycapacidaddeobservacindeHerdoto(GOULD(1989)86).

    8SobrelaseparacinenHerdotodelasactividadeseconmicasenEgiptovaseHAZIZA(2009)183.

  • 32

    CsarSierraMartn

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    , , .

    [...]primero, conunganchodehierro, extraen el cerebropor las fosasnasales(as es como sacan parte del cerebro; el resto, en cambio, vertiendo drogas por elmismo conducto). Luego, con una afilada piedra deEtiopa sacan,mediante unaincisin longitudinal practicada por el costado, todo el intestino, que limpian yenjugan con vino de palma, y que vuelven a enjugar, posteriormente, consubstancias aromticasmolidas.Despus, llenan la cavidad abdominal demirrapuramolida,decanelaydeotrassubstanciasaromticas,salvoincienso,ycosenlaincisin. Tras estas operaciones, el cadver cubrindolo con natrndurante setenta dasno deben un nmero superior y, una veztranscurridoslossetentadas,lolavan,yfajantodosucuerpoconvendasdecrbasofinamentecortadas,queporsureversountancongoma,productoque losegipciosemplean,porlogeneral,enlugardecola.(Hdt.II.86.379)

    Algunosacadmicoshandestacadoqueesterelatoesunodelosmsantiguosen transmitirelartede lamomificacinpero,bajonuestropuntodevista,esmuy relevante tambinporotrosmotivos10.Enel texto,Herdoto explica cmo los egipcios extraan el cerebro a travs de las fosasnasalesycmohacanlopropioconlosintestinosatravsdeunaincisinen el lateraldel abdomen.A todo estohayque aadir ladescripcindelinstrumental y las tcnicas de extraccin y procesado de los rganos.Respecto a esto ltimo,Herdoto recoge que en el segundomodelo deembalsamamientonoseextraael intestinosinoquestesedisolva introduciendoun lquidoabasedeaceitedeenebrodemieraquese inyectabapor el ano. El lquido era tan potente que en unos das disolva todo elintestino, limpiando la cavidad abdominal (Hdt. II. 87. 23). Aunque elhistoriador no estuviera presente en un embalsamamiento notamos lavoluntad de ofrecer una descripcin detallada, a partir de alguna fuente

    9Textogriego enLLOYD,A.B. (1989),Erodoto.Le storie, libro II lEgitto,Verona:

    Fondazione Lorenzo Valla. Traduccin de SCHRADER, C. (2000), Herdoto. Historia,Madrid:Gredos.

    10EstepasajesueleponerseenrelacinconunrelatosimilarenDIODORO(I.91),vaseHOW/WELLS(1967)209yASHERI/LLOYD/CORCELLA(2007)299ss.

  • Herdoto(II.8688)yelconocimientoanatmicogriego33

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    oral egipcia11.No obstante, si tenemos en cuenta el conocimiento que laculturagriegaposeaenesosmomentossobreanatomahumanaelpasajeadquieremsvalor.

    Como hace dcadas demostr Geoffrey Lloyd, la cultura mdicagriega del siglo V a.C. no estaba especialmente familiarizada con ladiseccindecadveresnihumanosnianimales12.No fuehastaAristtelescuando los griegos comenzaron a utilizar el conocimiento que ofrece laobservacindirectadelinteriordelcuerpo,comenzandoporlosanimalesytrasladandodichoconocimientoporanalogaalserhumano.Sabemosporlos tratados biolgicos y zoolgicos de Aristteles que la diseccin demamferoseraunmtododeinvestigacinfrecuenteentrelosnaturalistas13.No obstante, trasladar dichomtodo a la especie humana cost un pocoms y no fue hasta los mdicos alejandrinos, Herfilo (s. IV a.C.) yErasstrato(s.IIIa.C.),cuandoladiseccinhumanacimentelconocimiento

    11Seechanenfaltamultituddefasesentornoalritodemomificacinegipciolo

    cual refuerzanuestrapostura acercade la transmisin indirecta.VaseHAZIZA (2009)278,conbibliografa.

    12 Suscribimos las conclusiones a las que lleg G. Lloyd tras vaciar el corpushipocrticoydarsecuentadequeslounospocostratados(Corazn,Lugaresenelhombre,AnatomayCarnes)demostrabanunconocimientoanatmicoderivadodelaobservacindirecta del interior del cuerpo humano (LLOYD (1991b) 231 n7 y 244245; tambinadvertidoporHARRIS (1973) 36 ss.).Tambin coincidimos con este autor almostrarsecautoen lavaloracindelfamosopasajeatribuidoaAlcmendeCrotona(s.VIa.C.)yrecogidopor el filsofoCalcidio (s. IVd.C.),que sugiere laprcticadeunadiseccinocular (vid. texto y comentario en LLOYD (1991a) 168169), y que algunos autoresrelacionan con laobservacindeun accidente (NUTTON/REPPERTBISMARCK (1996) 663,quienes tambin siguen las investigacionesdeLloyd).Porotraparte,destacamosqueantesde lasaportacionesdeLloyd lacuestinacercade ladiseccinhumanaenpocaprehelenstica constitua todo undebate y algunos autores sostenan que incluso losmdicoshomricospracticarondiseccioneshumanas(EDELSTEIN1987:247249).

    13Amododeejemplo,tngaseencuentalavaloracinquerealizaAristtelesdelavisindeltopo.Enapariencia,sostieneelfilsofo,eltoponotieneojosperoalapartarlapielde lacaradelanimalpuedenobservarsentidamente losmismos (HA491b28y533a3); comentarioenBALME (1987)9.Msejemplosdediseccinanimalen lasobrasbiolgicasdeAristtelesenLLOYD(1991b)yCRAIK(2006)159.

  • 34

    CsarSierraMartn

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    anatmico griego14. As, avanzado el siglo IV a.C., encontramos en lostratadoshipocrticosalgunosejemplosenlosquesemuestraclaramentelaprcticadeladiseccinhumana.Porejemplo,enSobreelCorazn1(=Cord.),se recoge una descripcin del corazn humano que parece obtenida porobservacindirecta,destacando la forma,elcolor, laestructura interna,elrecubrimientoyunadescripcindelosfluidospericardiales.Msadelante,el autor confirmanuestras sospechasdescribiendo la vena cava, las aurculasyotraspartesdeesterganode las cuales tienenoticiagraciasa laobservacin directa (Cord. 7). Sin duda, este tratadomuestra un conocimientoempricodelinteriordelcuerpohumanonetamentesuperioralquepodemosver enotros tratadosdel corpushipocrtico15.Elautordelbrevetratado Sobre la anatoma (=Anat.),16 muestra un conocimiento anatmicosimilardelpulmn y elhgado,donde sedistinguen entre otras cosas latrqueayelemplazamientodelospulmonesyelcorazndentrodelacajatorcica. No obstante, la brevedad del tratado impide sacar mayoresconclusionesenrelacinalainfluenciadeladiseccinhumanaenelconocimientoanatmicodelamedicinahipocrtica17.Enadicinaloanterior,en

    14 SENN (1972) 134151;HARRIS (1973) 177181; VON STADEN (1989) 139; LLOYD

    (1991a)164;VEGETTI (1993)75 ss.;LLOYD (1999)166yNUTTON (2004)128 ss.Sabemosgracias alproemiodeCELSODemed.,que lamedicina alejandrina (s. III a.C.)debatiacercade lanecesidaddepracticardisecciones e inclusoviviseccioneshumanas; algoque las autoridadesptolemaicaspermitieron realizar con reos condenadospordelitosgraves(vid.EDELSTEIN(1987)284yNUTTON/REPPERTBISMARCK(1996)663).

    15Ntese ladiferencia con el tratado Sobre los flatos,donde el autordiserta enabstractosobreelinteriordelacabezahumana,describiendounospasos(/proi)en su interior. En Sobre lamedicina antigua, la descripcin de los rganos internos serealiza apartirde loquepuedeobservarsedesde el exteriordel cuerpo,mediante lavistayeltacto(EDELSTEIN(1987)253).SindudalostratadosalosquehacemosreferenciasonanterioresaCord.(ambosdatadoshaciafinalesdelVoprincipiosdelIVa.C.).VaseSIERRA(2012a)13,conbibliografa.

    16Ladatacin es complejaperopartede iniciosdel IV a.C. (HARRIS (1973) 36;CRAIK(2006)168ss.).

    17 El trabajoms autorizado sobreAnat., sostiene que lasdescripcionesde losrganos internos se hicieron por analoga de los observados en las vctimas de lossacrificiosrituales,especialmentemamferos;CRAIK(2006)159160.

  • Herdoto(II.8688)yelconocimientoanatmicogriego35

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    el clebre tratadoSobre la enfermedad sagrada1118,encontramos lamencinexplcitaaladiseccindelcrneodeunacabraafectadaporlaenfermedadsagrada,conelnimodeobservarqueelcerebroatacadopordichaenfermedadesmshmedoyflemtico19.

    No pretendemos extendernos mucho ms demostrando la precariedaddelconocimientoanatmiconilaexcepcionalidaddelasdiseccionesanimalesyhumanasenpocaclsica20.Volviendoalpasajequenosocupa,entendemosquelasobservacionesanatmicasqueHerdotorealizasondeespecialvalormdicoparalapoca.As,elinstrumentalquirrgicoquelosegipciosutilizabanenlapreparacindelcadver,lasvasdeextraccindelosrganosascomoelprocesadodelosmismostrasciendenlacuriosidadetnolgica. Que sepamos, no tenemos noticia en el CH acerca de ladiseccindeuncerebrohumanoodelaextraccindeunintestino21.Puederesultarunaespeculacinperocreemosqueestosrelatosdebierondespertarel inters de los mdicos griegos que, a buen seguro, no estaran endisposicinderefutarlaspalabrasdeHerdoto.

    Almargen de lo anterior, cabe plantearse una ltima cuestin enrelacinalacuriosidadyaperturaintelectualdelpensamientodeHerdoto.

    18TratadoprximocronolgicamenteaAires,aguasylugares(s.Va.C.;JOUANNA

    (2003) lxxlxxiv).Seguimos laedicinde Jacques Jouannapara laCUFpero tngaseencuenta la diferente nomenclatura en la edicin de LITTR (VI. 382) y en la de JONES(Morb.Sacr.14)

    19Caractersticasquesegnelautordifierendelanormalidaddelcerebroaunquelomsdestacable es laanalogaque se realiza entrerganohumanoy animal.Dichaobservacin nos remite de nuevo a la ausencia de disecciones humanas.Al respectovaseJOLY(1966)214yLANENTRALGO(1970)136.Porsuparte,Aristtelesafirmahabertocadoun cerebroyquestees froaunquenoqueda claro si se refiereaun cerebrohumanooanimal(PA652a3035).

    20 Se pueden ampliar los contenidos a partirde la bibliografa que sugerimos,dondetambinseincideenelmalconocimientofisiolgicodelserhumano(porejemplo,JOUANNA (1993) 50). Todo ello no excluye que nos sumemos a la interpretacin querealizaHOLMES(2010)20acercadelimpulsoquesupusoelsigloVa.C.enlaredefinicinconceptual del cuerpo humano. A pesar de ello, la anatoma an tena camino pordelantehastasuposteriordesarrolloenpocahelenstica.

    21Sexistenreferenciassobre trepanacionesenSobre lasheridasen lacabezaperoestasaproximacionesparcialesalcerebrohumanoserealizanconelpacienteenvida.

  • 36

    CsarSierraMartn

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    Ciertamente, ladiseccin enhumanosdebavenceruna fuerte resistenciareligiosa hacia la vulneracin del cuerpo22. Por ello sorprende la actitudtolerante y curiosadeHerdoto hacia la costumbre funeraria egipciadelembalsamamiento, ya que el historiador no censura dichas prcticas omuestrasurechazo23.Dehecho,elrelatoesmuydescriptivoynatural,nomuestraemociones.Enciertamedida,creemosqueHerdotoprimabaporencimadesuspropiasconviccioneslavoluntaddedivulgarelconocimientoy ello encuentra perfecta glosa en su famoso posicionamiento acerca delpoder de la costumbre en el mundo (Hdt. III. 38)24. Esta lnea depensamiento encuentra apoyo posteriormente en el mismo Aristteles,cuandodesgrana las lneasbsicasde laactitud intelectualdelnaturalistabajo lapremisadeque laciencianaturalabarcagrancantidaddeparcelasdel conocimiento (PA 641b; Juv. 480b2230)25.Podramos afirmar que este

    22Seguimos laopinindeHARRIS(1973)103ynosposicionamosencontradela

    opinin de EDELSTEIN (1987) 248, quien sugiere que la medicina hipocrtica noconsideraba la diseccin como un recurso esencial para el conocimiento humano.TngaseencuentaelcasoplanteadoenMorb.Sacr.y,porejemplo,enel tratadoFract.,dondesedefiendequeelconocimientoanatmicoesfundamentalparaeltratamientodelasfracturas;anlisisymsejemplosenDIBENEDETTO(1986)226227.Lacausadequenose practicaran disecciones humanas en la medicina griega clsica es una cuestincomplejadedilucidaraunquepresentaevidentesconnotacionesreligiosas(tab),comoadviertenLANENTRALGO (1970)136;EDELSTEIN (1987)273274;VONSTADEN (1989)141;JOUANNA(1999)308yNUTTON(2004)129.

    23ContralaopinindeNUTTON(2004)129.Entendemosquebienseaenmateriareligiosaoencualquierotrasituacin,Herdotomuestrasudesacuerdoexplcitamente.Tmese como ejemplo su valoracin negativa de la sacralizacin de los animales enEgipto(Hdt.II.65.2);yanlisisenHARRISON(2000)182ss.

    24Lasupremacadelascostumbres(/nmoi)cierraellgossobreelreypersaCambises;ASHERI/LLOYD/CORCELLA(2007)435437.TodoelloesunabuenamuestradelatoleranciadeHerdotohaciaotrasculturas,unrasgoexcepcionalensupocayquehatrabajadoSOARES(2001)tambinSIERRA(2012b)78.

    25Aristteleseraconocedorde lavertientenaturalistade laobradeHerdoto locualsehacepatenteen lascrticasqueelhistoriador recibeporpartedel filsofo,porejemplo: indirectamente en la descripcin del camello (HA 499a2021 contraHdt. III.103), explcitamente en la discusin acerca del color del esperma de los etopes (GA736a10 [blanco] contraHdt. III.101 [negro])y sobre la reproduccinde lospeces (GA756b510contraHdt.III.93).

  • Herdoto(II.8688)yelconocimientoanatmicogriego37

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    rasgodelpensamientodeHerdoto lecondujoavalorargrancantidaddedatos no estrictamente histricos sino naturalistas, que aportan unaexcepcionalriquezaasuobra.Finalmente,permtasenosmostrarunltimoejemplo de la excepcional capacidad de observacin de Herdoto. Nossituamos en el contexto posterior a la derrota persa en Platea (479 a.C.)cuando, pasado un tiempo, los plateos limpiando el campo de batallaavistaronlosiguiente:

    : : ,,.

    []cuandoloscadveresquedarondescarnados,ycomoquieraquelosplateosestabanreuniendo loshuesosenundeterminado lugar,seencontruncrneoquenoposealamenorsutura,sinoqueestabaformadoporunnicohueso;ytambinaparecieronunamandbulaconcretamente,unmaxilarsuperior,cuyosdientesconstituanuna solapieza (esdecirque todos ellos, tanto losdientespropiamentedichos como lasmuelas, estaban formados por un nico hueso), y un esqueletohumanodecincocodosdealtura.(Hdt.IX.83.2)

    De nuevo encontramos que la curiosidad naturalista de Herdotoaportavaliososdatosacercade laanatomahumanaenpocaclsica.Estavez anota ciertas peculiaridades seas interesantes para el conocimientomdicogriegoyque,situadasensucontexto,nosdevuelvenalanocindetolerancia,observacinyaperturaintelectual.Uncrneodeunasolapieza,unmaxilardeunasolapiezaounesqueletodesorprendentesdimensionesnoparecenasimplevistaunanlisisprofundo,comotampocoloesladescripcindelembalsamamientoegipcio,peroenelcontextode lamedicinagriega ambos constituyen un excepcional testimonio anatmico queimpulsa el valor de laHistoria deHerdoto como compendio del sabernaturalistagriegoclsico.

  • 38

    CsarSierraMartn

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    BibliografaASHERI,D./LLOYD,A.B./CORCELLA,A.(2007),ACommentaryonHerodotusBooksIIV,[MURRAY,O.;MORENO,A.(eds.)].NewYork,OxfordUniversityPress.

    BALME, D. M. (1987), The place of biology in Aristotles philosophy:GOTTHELF,A.;LENNOX, J.G. (eds.),Philosophical Issues inAristotlesBiology.Cambridge,CambridgeUniversityPress,920.

    CRAIK, E.M. (2006), TwoHippocratic Treatises. On Sight and OnAnatomy,Leiden,Brill.

    DIBENEDETTO,V. (1986), Ilmedico e lamalattia.La scienza di Ippocrate.Torino,Einaudi.

    DUECK, D. (2012), Geography in Classical Antiquity. New York, CambridgeUniversityPress.

    EDELSTEIN,L. (1987 [1932]), TheHistoryofAnatomy inAntiquity:TEMKIN,O.; TEMKIN, L. (eds.), Ancient Medicine. Baltimore, The Johns HopkinsUniversityPress,247302.

    GARCA GONZLEZ, J. A. (2007), Herdoto y la ciencia de su tiempo. Mlaga,UniversidaddeMlaga.

    GOULD,J.(1989),Herodotus.NewYork,St.MartinsPress.HARRIS, C. R. S. (1973), The Heart and the Vascular System in Ancient GreekMedicine.FromAlcmaeontoGalen.Oxford,ClarendonPress.

    HARRISON,Th.(2000),DivinityandHistory.TheReligionofHerodotus.NewYork,OxfordUniversityPress.

    HAZIZA,T.(2009),LeKalidoscopehrodoten.Images,imaginaireetreprsentationsdelEgyptetraversdelivreIIdHrodote.Paris,LesBellesLettres.

    HOLMES,B.(2010),TheSymptonandtheSubject.TheEmergenceofthePhysicalBodyinAncientGreece.Princeton,PrincetonUniversityPress.

    HOW,W.W.;WELLS, J. (1967 [1912]),ACommentaryonHerodotus,v.1,Oxford,ClarendonPress.

    JOLY,R.(1966),Laniveaudelasciencehippocratique.Paris,LesBellesLettres.JOUANNA,J.(1993),Lanascitadellartemedicaoccidentale:GRMEK,M.(ed.),Storiadelpensieromedicooccidentale.AntichiteMedioevo.Bari,Laterza,372.

    JOUANNA,J.(1999),Hippocrates.Baltimore,TheJohnsHopkinsUniversityPress.JOUANNA, J. (2003), Notice: Hippocrate. La maladie sacre. Paris, Les Belles

    Lettres(CUF),viicxxxiii.LANENTRALGO,P.(1970),Lamedicinahipocrtica.Madrid,RevistadeOccidente.

  • Herdoto(II.8688)yelconocimientoanatmicogriego39

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    LLOYD,G.E.R.(1991a[1975]):Alcmaeonandtheearlyhistoryofdissection:MethodsandProblemsinGreekScience.SelectedPapers.Cambridge,CambridgeUniversityPress,164193.

    LLOYD,G.E.R.(1991b[1978]),TheempiricalbasisofphysiologyoftheParvaNaturalia:MethodsandProblemsinGreekScience.SelectedPapers.Cambridge,CambridgeUniversityPress,224247.

    LLOYD,G.E.R.(1999[1979]),Magic,ReasonandExperience.StudiesintheOriginsandDevelopmentofGreekScience.London,Duckworth.

    MOMIGLIANO,A.(1984),LaHistoriografagriega.Barcelona,Crtica.NUTTON, V. / REPPERTBISMARCK, L. v. (1996), Anatomie: CANCIK, H.;

    SCHNEIDER,H.(eds.),DerNeuePauly.EnzyklopdiederAntike.Stuttgart,J.B.Metzler,662667.

    NUTTON,V.(2004),AncientMedicine.London,Routledge.ROMM,J.(2006),HerodotusandtheNaturalWorld:DEWALD,C.;MARINCOLA,

    J. (eds.), The Cambridge Companion to Herodotus. New York, CambridgeUniversityPress,178191.

    SENN,G.(1972[1933]),DieEntwicklungderbiologischenForschungsmethodeinderAntike und ihre grundstzliche Frderung durch Theophrast von Eresos.Amsterdam,Swets&Zeitlinger.

    SIERRA,C.(2012a),LeccionesdemecnicadefluidoseneltratadohipocrticoSobrelosflatos:Epos28(2012)1323.

    SIERRA,C. (2012b),NuevamentedeHerdotoaTucdides:Historiae9 (2012)7187.

    SKINNER, J. E. (2011), The Invention of Greek Ethnography. From Homer toHerodotus.NewYork,OxfordUniversityPress.

    SOARES,C. I. (2001),TolernciaexenofobiaouaconscinciadeumuniversomulticulturalnasHistriasdeHerdoto:Humanitas53(2001)4982.

    VON STADEN, H. (1989), Herophilus. The Art of Medicine in Early Alexandria.Cambridge,CambridgeUniversityPress.

    THOMAS,R.(2002[2000]),HerodotusinContext.Ethnography,ScienceandtheArtofPersuasion.NewYork,CambridgeUniversityPress.

    VEGETTI,M.(1993),Trailsapereelapractica:lamedicinaellenistica:GRMEK,M. (ed.), Storia del pensiero medico occidentale. Antichit e Medioevo. Bari,Laterza,73120.

  • 40

    CsarSierraMartn

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    *********

    Resumo: Este trabalho procura relacionar a descriodeHerdoto sobre osdiversostiposdeembalsamamentoegpciocomoconhecimentoanatmicogrego.Apssituarnoseu contexto as passagens utilizadas, concluiremos que se trata de um testemunhoexcecional para o conhecimento anatmico grego e uma amostra notvel do espritonaturalistadohistoriador.

    Palavraschave:Herdoto;anatomia;naturalismo;medicina;corpushipocrtico.

    Resumen: El presente trabajo busca relacionar la descripcin deHerdoto sobre losdiferentes tipos de embalsamamiento egipcio con el conocimiento anatmico griego.Tras situar en contexto los citados pasajes, concluiremos que es un testimonioexcepcional para el conocimiento anatmico griego y una muestra destacable delespritunaturalistadelhistoriador.

    Palabrasclave:Herdoto;anatoma;naturalismo;medicina;corpushipocrtico.

    Rsum: Ce travail prtend mettre en relation la description dHrodote sur lesdiffrents types dembaumement gyptien avec la connaissance anatomique grecque.Noussituonslespassagesutilissdansleurcontexte,avantdeconclurequilsagitduntmoignage exceptionnel pour la connaissance anatomique grecque et dun exempleremarquabledelespritnaturalistedelhistorien.

    Motscls:Hrodote;anatomie;naturalisme;mdecine;corpushippocratique.

  • gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)4160ISSN:08745498

    LoscartaginesesenlareflexinpolticomoraldelBellumIugurthinum

    TheCarthaginiansandthepoliticalandmoralreflectionintheBellumIugurthinum

    AGUSTNMORENO(UNCCIECSCONICETArgentina)1

    Abstract:Thisarticleseeks,ononehand,toscrutinizethepassageswhereCarthaginiansare explicitly named in the Bellum Iugurthinum, and, on the other, to identify theinfluences on Sallusts inquiry of Roman politics of the analysis of the Roman andCarthaginian constitutions presented by Polybius in book 6 of hisHistorias, so as todeepentheunderstandingofthepoliticalandmoralreflectionprovidedbySallustinhiswork.

    Keywords:BellumIugurthinum;ethnicalterity;exemplum;Philenos;Punicafides.

    Introduccin

    En el Bellum Iugurthinum Salustio expone una instancia anterior aaquella decadencia que ya en el BellumCatilinae habamostrado, la cualafectabaa losdiferentesgruposde lasociedad romanaconconsecuenciasdeletreaspara lamisma.Enestaobra,que relata laguerraentreRomayJugurta, elhistoriador romano se centra en acontecimientosque tuvieronlugarentreel111yel105a.C.ysepreocupapormarcarlarelacinentreloshechos internosdeRoma (domi)y losque sedesarrollaron fuera (militiae)(Jug.5.12).Conestefin,SalustioseremontaamediosigloantesdelconsuladodeMarcoTulioCicernyCayoAntonioHbrida(63a.C.)ypresentaasus lectores losprimerosmomentos en losqueya sepueden apreciar lasconsecuenciasdeladesaparicindelmetushostilis,posterioraladestruccinde Cartago, y la consecuente transformacin de la constitucin mixtaromanaquePolibiohabadescriptoenellibrosextodesusHistorias.Ensusdos monografas, Salustio critica a diferentes grupos de la comunidad,nobiles, homines novi y plebs, que por sus excesos llevan al Estado a ladestruccin.

    Textorecibidoel05.11.2013yaceptadoparapublicacinel16.02.2014.1agustinmoreno2003@yahoo.com.ar.

  • 42

    AgustnMoreno

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    SibienlaguerracontraJugurtatienelugardespusdelavictoriafinalsobreCartago,lasreferenciasacuestionesvinculadasconestaciudadenelrelatonoparecen sermenciones aisladas, sinoque, tal comohandemostrado investigadores en las ltimas dcadas, tienen implicancias en lanarraciny,porlotanto,enloquequieretransmitirSalustioasuslectores.Esteartculopretendeahondarenlarelevanciadelasalusionesaloscartaginesesenlaobra.

    Asimismo,enlamedidaenquenosdetendremoseneldesarrollodeloscambiosde laconstitucinmixtade finesde laRepblicaromanaqueofreceSalustioesinteresanteconsideraraqulaposibleinfluenciadelaexplicacinqueofrecePolibioensulibroVIsobreladecadenciadelaconstitucin cartaginesa. El historiadormegalopolitano sealando la diferenciatemporalenelmomentoevolutivodecadaconstitucinlaromanaensucnit,lacartaginesayaendeclivemuestraaquellospuntosfuertesporloscualesRomasaldrvictoriosadelaconfrontacin.EnelBellumIugurthinum,parece factible reconocer, en los cambios que describe Salustio entre losromanos,loselementosqueelpolticogriegohabracitadoparapresentareldeclivecartagins.2

    Cartagocomoadvertenciaycomolmite

    Enladcadadel80,ThomasSCANLONenunartculopublicadoenlarevistaRamus,luegodetrazarunparalelismoentreelexcursosobrefricaenelBellumIugurthinumyaquelsobre laarqueologaromanaenelBellumCatilinae,3subrayaqueSalustiocitalahistoriadeCartagoafindeadvertirasusconciudadanossobreelpeligroqueamenazaconconduciraRomaasudestruccin.SCANLONveenellounavinculacincon la ideabiolgicadePolibiosobre lacadade los imperiosy lasucesindeungranEstadoporotro(VI.51).ParaelinvestigadornorteamericanolarelacinseharavisibleenlaconexinqueestableceSalustioentreelimperiodeCartagoyeldelospersas a travs de los nmidas y sostiene que, de estemodo, el escritor

    2Cfr.Ch.FORNARA(1988)8490.3Paraelprimero: Jug.1719;paraelsegundo:Cat.613.Cfr.T.SCANLON (1988)

    138143.

  • LoscartaginesesenlareflexinpolticomoraldelBellumIugurthinum43

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    romanoestara llamando laatencindesuaudienciaparaqueaprendadelasleccionesdelahistoria.4

    Luego de analizar, fundamentalmente, el desempeo deMetelo yMarioylasimplicanciasquetienelacooperacinodisputaentreambosenla guerra y en los hechos internos de Roma, SCANLON se detiene en elexcursodeLeptisy losFilenospara remarcarsuvalorcomo exemplumdedesplieguedevirtusparaelbiencomndelEstadoyparasubrayarsuvalorenelcontextonarrativoenelqueaparece.5

    EtienneTIFFOU,segnScanlon,sostienejuntoconKarlBCHNERqueladigresinesten lamisma lneaque losactosdeMetelo.6Elestudiosofrancsagregasobreesteexemplumdecomportamientoregidoporlavirtus,peroquees tomadodelpueblocartagins:Ilnestpas interditdepenserqueSallusteavoulu expliquer, en contant cetteanecdote, lagrandeurdeCarthage qui opposa Rome une rsistance farouche.7Apartir de all,Thomas SCANLON sostiene que siTIFFOU est en lo correcto al indicar lavaloracinde lavirtusde los cartagineses, estoapoyara loque elmismoSCANLONhabadichoanteriormentede larelacinentre losafricanosy larelacinconCartagoenladigresinanteriorylosparalelosexistentesconlahistoria romana en elBellumCatilinae.De todosmodos, aclaraquever elexcursode losFilenos como reflejode la virtusdeMetelono es correcto,pueshayqueconsiderarelcomportamientoqueste tieneacontinuacinparaconMarioy,asimismo,eldeesteltimo,ambosmovidosporobjetivospersonales.8

    Aos ms tarde, Robert MORSTEINMARX seala que, si bien elparalelo entre la digresin sobre frica en el Bellum Iugurthinum y laarqueologaromanaenelBellumCatilinaequeevocaSCANLONesacertada,noobstantesteconfundelascuestionesqueSalustioatribuyealospueblosde frica del norte con aquellas que atribuye especficamente a los

    4Cfr.T.SCANLON(1988)142143;vertambinT.SCANLON(1987)3840y6364.5Cfr.T.SCANLON (1988)165166.Cfr.asimismoT.SCANLON (1988)169y (1987)

    5152.6Cfr.T.SCANLON(1988)161.7CitadoporSCANLON(1988)162.8Cfr.T.SCANLON(1988)164165.

  • 44

    AgustnMoreno

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    cartagineses.Apartirdeall,sostieneMORSTEINMARXquesiestablecemosbien las diferencias entre cartagineses y nmidas, las advertencias queSCANLONleaenelexcursonoerantales.9

    Pero la digresin sobre frica ha seguido llamando la atencin,primero,porsusinexactitudesgeogrficas10y,posteriormente,porlasfronterasqueenellasedejansinestablecer.ElqueSalustiocitedosopinionessobre el lugar que ocupafrica en elmundo conocido,11 pero no apoyeexplcitamenteningunahallevadoaThomasWIEDEMANNaafirmarqueelhistoriador romano deja entrever de este modo la discordia o divisininherentealaregin.12Porsuparte,C.GREENconsideraquedetrsdeellohay una intencin del autor demostrar la regin como un espacio confronteras ambiguas cuya relacin con el resto delmundo an debe seraclarada.13Unadedichas fronteras confusas es aquellaque antiguamentefueraobjetodedisputaentrecirenaicosycartagineses,lallanuradelCatabatmo.Alrespecto,GREENafirmaqueestacuestindelmitesnodefinidosestpresenteentodaslasguerrasquesecitanenlaobra(entrelosprimosnmidas, entre nmidas y romanos y entre cartagineses y cirenaicos)yrecin ser resuelta en la fbula de los Filenos, pormedio de la cualSalustio busca dar una respuesta a las cuestiones polticomorales vinculadasatemasdefronteras;lasquedebenserdeterminadasporhombresentrelosqueprimanlosinteresesdelpropioestadoyacostadesacrificiospersonales.14

    9ParaMORSTEINMARXlapresentacindelosorgenesnmidasquehaceSalustio

    estaraorientadaapresentaraestoscomounparaleloa los romanoscomounpuebloimperial,peroqueocupaunpoloculturalopuesto,antiromano(2001)192195;198.

    10Sobre lageografaen laBellumIugurthinum,cfr.R.SYME(1982)128129;G.M.PAUL(1984)2;56,78.

    11 Algunos dicen que el mundo se divida en Europa y Asia, siendo fricacomprendidadentrode laprimera, otros sostenan quefrica erauna tercera reginapartedelasdosanteriores(Jug.17.3).

    12Cfr.T.WIEDEMANN(1993)5253.13Cfr.C.GREEN(1993)188.14Cfr.C.GREEN (1993) 196.Cfr. tb. Ibid. 188. TambinWIEDEMANN resalta la

    historiade los Filenos como el cierrede una cuestin polticomoral trabajada en lasanterioresdigresiones,aunquecentradaenlaoposicindiscordia/concordia(1993)5456.

  • LoscartaginesesenlareflexinpolticomoraldelBellumIugurthinum45

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    Finalmente, podemos citar el anlisis de Christina KRAUS,15 quiensostienequeCartagorepresentaunpapelopuestoaldeJugurtaenlaobra.Pues, mientras ste es un agente productor de desorden y desafa loslmites,lapresenciadeaqullatienecomoefectoslaestabilidadyladelimitacindefronterastantoeneltextocomoenlahistoria.DeallquesudestruccinestvinculadaconlacorrupcinyeldesordenparaRoma.

    El resumende lasposturasqueacabamosdepresentarnospermiteadvertirquesibienlosinterrogantesabiertosporlosautoresparecanhaberobtenido respuestas en sus propios trabajos, posteriormente, volvan aquedarirresueltosantecrticasdeinvestigadoresulterioreso,lecturasmsdetenidasdedichostrabajos,ponandemanifiestoquesehabadescuidadoalgnaspectodelaobraenlosanlisis.

    De todosmodos, vale la pena sealar algunos puntos que retomaremosde loqueacabamosdeexponer.Porun lado, laconexinqueestableceThomasSCANLONentrelaobradeSalustioyladePolibio.Aquprofundizaremos la vinculacin entre ambos autores detenindonos enaquellosaspectosqueelhistoriadormegalopolitanodesarrollacuandoexplicaeldeclivecartaginsenellibrosextodesusHistorias.Pues,estopuedeayudar a clarificar el planteo que ofrece el historiador romano sobre elprocesoquecomenzatenerlugarenRomadurantelaguerraenNumidia.

    Porotrolado,untemaquenoparecehaberllamadolaatencindelosinvestigadores,apesardelaingentebibliografaquesehaproducidoenlas

    No obstante, estas interpretaciones parecen descuidar los objetivos que se proponeSalustioal escribir laobray consideran laobra comoun todoacabado,perdiendodevista lasobservacionesdelartculodeThomasSCANLONquehemoscitado (1988),queretomadesuobraanteriorsobrespesenelBellumIugurthinumyelBellumCatilinae(1987)y la tesis del trabajo deDavid LEVENE (1992) 65.Asimismo, la respuesta de ThomasWIEDEMANN sobreque loshermanosFilenos sonun ejemplode cooperacin fraterna,smbolodelamsaltavirtus,queesretomadoenlanarracinconlabuenarelacinentreSilayMarioqueposibilitaraterminarlaguerra,noparecetanclaro.Elcomportamientodelosromanosnodejadeparecerdecadente.SibienSila,pareceserelnicopersonajequenodecaemoralmenteen laobra,Salustioen supropiapersonanosaclara loquesucederconesepersonajemstarde,comosealanSCANLONyLEVENEen lostrabajoscitados.Asimismo,elmodoenqueseponefinalaguerranoreflejaunaformaromanadeactuar.

    15Cfr.C.S.KRAUSyA.J.WOODMAN(1997)2730.

  • 46

    AgustnMoreno

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    ltimasdcadassobre laalteridadtnica,esqueSalustiociteunexemplumcartaginsensuobra.Lacuestin,podemossuponer,excedelaimportanciaque otorgaba el historiador de Amiterno a la ciudad pnica comoproductoradeunsentimientodemetushostilisqueservaparamantenerelcomportamientomoralentrelosromanos.TrabajoscomoelclsicolibrodeDonald EARL, The Political Thought of Sallust, que no se limitan slo aanalizarunamonografa enparticular,muestran la conexinqueSalustioteja entre sus obras en torno a lapreocupacinpor ladecadenciamoralromana,locualsepuedeapreciaryaensusprefacios.Deestemodo,consideramos que el exemplum de los hermanos Filenos es empleado por elescritorromanoconotro finqueaquelquevenimosdemencionar.Enesesentido,creemosque,talcomoafirmSCANLON,Salustioesthaciendounaadvertenciaalosromanos,aunquestanoestsloexpresadaenlaprimeradigresindelaobra,sinoquesehacemsvisibleamedidaquelanarracinavanza.

    Unexemplumcartagins?

    Como podemos apreciar en la caracterizacin del personaje deJugurta,Salustiononiegaaextranjeroscualidadesromanas;aunque,comolecorrigeMylesMCDONNELLaDonaldEARL,elreynmidaencarnavirtushastaelmomentoenquese tornaenemigodeRoma.16Paraelcasode loshermanos cartaginesesen ladigresinquenos interesa,elacontecimientorelatado est ubicado en un perodo anterior al de las guerras pnicas.Detodos modos, cabe preguntar: Tiene sentido recurrir a un ejemplopnicoparaunpblicoromano?Lascaracterizacionesdecartaginesesqueencontramos en las fuentes latinas que nos han llegado son ambiguas.17

    16Cfr.MCDONNELL(2006)363364,quienretomalaideadeW.EISENHUT.17MichelDUBUISSONsealaque loscartaginesessonreconocidospor lasfuentes

    latinascomounpueblomuycivilizados,aunque tambinse lossealecomobrbaros.Todo lo cual podra deberse a su doble naturaleza, fenicios del Oriente refinadomezclados con brbaros africanos (1983) 265267. Asimismo sobre representacionesopuestasen las fuentes,cfr.FedericoMAZZA,quienconsidera incluso fuentesasiriasybblicas (1988). Por su parte, George F. FRANKO sostiene que en la literatura latinatempranalostrminospoenusycarthaginiensisnotenanlamismaconnotacin.Poenusesuna etiqueta con connotaciones negativas, como en punica fides, mientras que

  • LoscartaginesesenlareflexinpolticomoraldelBellumIugurthinum47

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    SibienCatnsehabrapreocupadopordifundirunapropagandaanticartaginesa,18sucontemporneoPlautonoparecetanvirulentoensuPoenulus,obra representada durante los conflictos con Cartago.19 Tambin por esapoca,sabemosque losromanoshicieron traducirunaobrasobreagriculturadeMagnyquetomarondeloscartagineseselmodeloparasusnavesdeguerra.20TalcomosealaErichGRUEN,sepuedepensarenun respetomutuoduranteelperododelasguerrasentreambospueblos.EstamismaconclusinpodemossacarsiconfiamosenlacitadeLivioaC.AciliosobrelaconversacindeEscipinyAnbal(XXXV.14.512).

    Las acusaciones entre ambos bandos existieron, tal como podemosleer en una fuente griega, Polibio, quien seala las posiciones de FabioPctor y Filino, pro romano y pro cartagins respectivamente (I.1415).Detodosmodos,elhistoriadormegalopolitanodefiendeunaposicinmsobjetivayelogialaconstitucincartaginesacolocndolaalmismonivelde

    carthaginiensisaludeaunaciudadanaypuedetenerunaconnotacinneutralo,incluso,positiva (1994).Sinembargo,ErichGRUEN sealaque ladistincinnoesconsistenteyapuntabibliografa(2011)116n.2.

    18Sobrelamalafamadeloscartagineses,MOMIGLIANOhipotetizaquepudohabertenidosuorigenenelhistoriadorsicilianoTimeo(1999)17.SobreestepuntovertambinLuisaPRANDIquienmarcaladistincinentrelarelacindelossicilianosconcartaginesesydeestosconlosdelamadrepatriagriegaenelsigloVyIVa.C.;perolaautoraitalianaretrotrae los antecedentes hasta las referencias a fenicios en la Odisea (1979) 9397.Asimismo,MAZZAmarcaelposibleorigen sicilianode lapropagandaanticartaginesa(1988) 564. La imagenms bien positiva que traza sucintamenteMOMIGLIANO (1999)1619parecehabersidoretomadaporErichS.GRUEN(2011)115140.steconsideraqueenlaRepblicaromanamedianoseasociaalcartaginsauncomportamientoamoralyquelaideadepunicafidesnotuvosuorigenenelperododelasguerraspnicas.ParaGRUEN, las palabras de Catn podran ser entendidas dentro de las acusaciones deambosladosquecitaalrespectoPolibio(2011)122131.Sinembargo,Catnpodraestarretomandolapropagandasiciliana.BenjaminISAACresaltalaacusacindeCatn,peromsadelanteparececontradecirsealtratareltemadelaPunicafidesydelaGraecafides:It probably is true to say that enemies in general,more often than not, genuinelybelievetheothersidetobetreacherous(2006)332.

    19 Las opiniones sobre la imagen del cartagins en esta obra de Plauto estndivididas.EntrelaspositivascabenombraraF.MAZZA(1988)yE.GRUEN(2011)126130,entrelasnegativasaL.PRANDI(1979)90yB.ISAAC(2006)333334.

    20Sobre la traduccindel textodeMagn:Plinio,Nat.Hist.XVIII,5.Sobre lasnaves:Pol.I.20.916.

  • 48

    AgustnMoreno

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    laromana,sibienenelmomentodelenfrentamientoentreambaspotenciaslaconstitucincartaginesaestabaensuperododedeclivemientrasquelaromanaestabaensupuntomsalto.21UnacuestinquellamalaatencinenelrelatodePolibiodelperodode ladestruccindeCartagoesquenosejustifiqueelaccionarromanoaludiendoalamalafedelosderrotados,sinoque,alcontrario,seincluyaundebateenelqueloqueestpuestoendudaeslohechoporlosromanos.22

    Asytodo,despusdeladestruccindeCartago,laexpresinPunicafidesaparecerexplcitamenteenlatardorrepblicayserempleadaporautoresgrecorromanosdelImperio.Perosiautoresdelperodoimperial,aexcepcindePomponioMela(I.65),presentanunavisinnegativadeloscartagineses,nopareceseriguallasituacinenelperododeAugustooafinesde laRepblica. SibienCornelioNepotepuede serun casode xenophiliacomosostieneBenjaminISAAC,23tampocodebemosseguiralpiedelaletraaCicern cuando cita rasgos negativos,24 pues ste emplea los estereotipostnicos retricamenteparaque le sean funcionalesa suargumentoy,porello, las valoraciones que realiza de la cualidades que se asocian alestereotipo de un pueblo pueden variar segn qu es lo que se busqueprobarenundiscurso.25ElcasodeVirgilioenAeneissuelepresentarsecomounarepresentacintamizadafrentealadurezaquesesueleatribuiraLivioen sus caracterizaciones de los cartagineses, aunque David LEVENE hacuestionadoestainterpretacindelaobradelhistoriadoraugusteo.26

    21 Pol.VI.43.1, 51.18. Polibio no fue el nico en reconocer la excelencia de la

    constitucin cartaginesa, cfr. Iscrates (Nic.24),Eratstenes citadoporEstrabn (I.4.9)oAristteles(Pol.II.11.11272b).

    22Pol.36.9.ErichGRUENponenfasisenestepunto(2011)131.23Nepote,Hann.9.2.Cfr.B.ISAAC(2006)331n.39;403.24DeInv.1.71;DeOff.1.38;Scaur.42;Leg.Agrar.2.95;Har.Resp.19.25Cfr.A.VASALY (1993)191243,E.GRUEN (2011)131133.Una lecturadiferente

    deCicernresaltandolaimagennegativa:F.MAZZA(1988)562563;B.ISAAC(2006)325;329;G.DEVILLETponeelacentoenqueloscartaginesessonasociadosporromanoscontres vicios, perfidia, crudelitas y calliditas, los que se oponen a virtudes romanas, fides,humanitas/iustitiayfelicitas(1996)1821.

    26ParaErichGRUEN,lasimgenesquenosofrecenlasobrasdeTitoLivio,Horacioo Virgilio del pueblo cartagins no son totalmente negativas, siendo ambiguas en

  • LoscartaginesesenlareflexinpolticomoraldelBellumIugurthinum49

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    EnelcasoconcretodeSalustio,elsintagmaPunicafides,quesesuelecitarpara incluirlodentrodeaquellosquepresentannegativamentea loscartagineses,nohace alusin a estos sino al reymoro,Boco.27Asimismo,llama la atencin que los investigadores no consideren el excurso de losFilenosalmomentodeestudiarlaimagendeloscartaginesesqueofreceSalustio. Teniendo en cuenta este relato, consideramos aqu que podemoscolocaraSalustio en lamisma lneaquePolibio,quienhaceun reconocimientoexplcitodedichaconstitucinantesdelenfrentamientoconRoma28ysepuedeverque, talcomoPlautosiseguimos la lecturadelPoenulusquehaceErichGRUEN,Salustio tambinconsideraposiblequeuncartaginsencarnevirtudesenconsonanciaconlanormaromana.

    Enesesentido,vemosqueSalustiositaimplcitamentelahistoriadelos hermanos pnicos en el perodo en que la constitucin de Cartagoestabaensuplenitud,pocaenquelaciudadafricananorecurraamercenariosysuspropiosciudadanosdefendan lapatriaysucomportamientovirtuosoimplicabaelrespetoporlostratados,porlosdiosesyendondelavenalidadnohabacorrompidoalasociedad.Enotraspalabras,unperodoanteriora losenfrentamientosconRomadelquesepodan tomar exempladelmismovalorquelosofrecidosporlosantepasadosromanos.

    algunospasajesopositivasenotros(2011)125126;132137;139.Asimismo,afirmaquealgunos autores de los dos primeros siglos del Imperio enfatizaron algunos rasgosamorales que surgieron posterior a la cadadeCartago,pero no todos (GRUEN 2011)136138.LuisaPRANDIconsideraqueLiviorecogeenmayormedidalapropagandaanticartaginesadeentretodoslosautoresgrecorromanos,aunqueensuartculosloPolibioparece no reproducirla (1979) 9093. Tambin Benjamin ISAAC presenta una imagennegativadeloexpuestoporLivioysealaqueMelaseralanicaexcepcinposteriormente entre los autores latinos que enfatizan con dureza los rasgos negativos de loscartagineses(2006)325335;350.La imagennegativadeLivio igualmenteesremarcadaporFedericoMAZZA(1988)563.UnalecturamsbenvoladelestereotipocartaginsenLiviopresentaDavidLEVENEen suanlisisde la terceradcadade laobra,endonderesaltacmoenlaobraAnbalesusadocomoexemplumentrelosromanosycomoLivioreflexionaapartirdelmodelocartagins(2010)219222,228236y244.

    27 Jug. 108.3.Adviertenunavisinnegativa en Salustio slo citando esta frase:L.PRANDI(1979)91;B.ISAAC(2006)329ytambinMichelDUBUISSON,quienagregadospasajesmsperoreferidosalosnmidas(1983)166167.

    28FedericoMAZZAhacehincapienestepunto(1988)566567.

  • 50

    AgustnMoreno

    gora.EstudosClssicosemDebate16(2014)

    Decadencia de la constitucin cartaginesa en Polibio, decadencia de laromanaenSalustio

    Cul era uno de los puntos importantes en qu radicaba la decadenciacartaginesaparaPolibio?EnquemientrasenCartagolasdecisioneslas tomabaelpueblo,enRoma lohaca laaristocracia.29Sobreestepunto,vemos en elBellum Iugurthinumde Salustio que amedida que avanza laguerraesarealidadvacambiando.30ElpoderdelaplebeenlatomadedecisionessecomienzaaadvertircuandoSalustiotraeacolacinlaintervencindeltribunodelaplebeGayoMemmio(Jug.27.2;30.3yss.)ydeallvateniendocadavezmsimportanciaeincidenciatantoenelmbitocivilcomoenelmilitar(Jug.40.15).Elcomportamientodelaplebeyelquelosmiembrosde lanobilitashantenidohastaestemomentoen laguerrayqueseirintensificandoconposterioridadesexplicadoallectorenladigresinsobrelasfaccionesqueseenfrentanenRomaquesigueinmediatamente,endonde se advierte como se ha desvirtuado el sistema que Tito Livio nospresenta por boca deMenenioAgripa (II.32.912) al dejarse llevar por lasuperbia lanobilitas, loque socav su dignitas,y al abusarde la libertas laplebe.31Todolocualconduceaunarespublicadilacerata.32

    29

    ,.,,,PorentoncesdurantelosenfrentamientosconRomaeraelpuebloquienenCartagodecidaenlasdeliberaciones;enRomaeraelsenadoelquedetentabalaautoridad suprema.EnCartago, pues, era el pueblo el que deliberaba, y entre los romanos laaristocracia; en las disputas mutuas prevaleci esta ltima (VI 51.67. Trad. de BALASCHRECORT).Cfr.F.WALBANK (1957)736.Paraunaexplicacindel libroVIdePolibioy lateora de la constitucinmixta que se expone en elmismo, ver F.WALBANK (1990)130156.SobrelaplebecomoamenazaenPolibio,cfr.A.ECKSTEIN(1995)119,129140.

    30As l