a importÂncia da aula prÁtica associada À teoria · 2 design of meaningful learning. thinking of...

25

Upload: lythuy

Post on 04-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A IMPORTÂNCIA DA AULA PRÁTICA ASSOCIADA À TEORIA: Trabalhando os

agrotóxicos

Autor: Marlete Inês Sturm1

Orientador: Jocicléia Thums Konerat2

Resumo

Os educadores estão em momento de reflexão acerca da importância das atividades práticas associadas à teoria no ensino de Ciências e na sua abordagem dentro da concepção de aprendizagem significativa. Pensando em melhorar o processo ensino-aprendizagem, principalmente no Ensino de Ciências, apresenta uma abordagem metodológica diferenciada. Através do uso da Experimentação e da Investigação Científica, trabalharam-se os conteúdos “Agrotóxico, meio ambiente e saúde”. A aproximação do conteúdo teórico à prática cotidiana do aluno foi fundamental para a aprendizagem, pois deu significado aos conteúdos estudados. O uso de práticas de laboratório, as pesquisas de campo e literárias além do conteúdo voltado a realidade do aluno, tiveram o propósito de tornar as aulas mais interessantes e atrativas. Os resultados mostram que o envolvimento dos alunos e sua motivação, embora não atingisse a todos, é maior quando são utilizadas as atividades práticas. O envolvimento dos alunos com estas atividades facilita a compreensão do fenômeno estudado, embora eles tenham apresentado ainda algumas dificuldades. Todavia, a utilização das aulas práticas e experimentais merece especial atenção na metodologia do ensino de Ciências, pois pode trazer resultados significativamente positivos, proporcionando maiores condições para a promoção da aprendizagem significativa. Trabalhar os agrotóxicos e os malefícios provocados ao meio ambiente e a saúde da população, pelo uso indiscriminado dos mesmos, foi de suma importância para a comunidade escolar; tendo em vista que a maioria dos alunos, sujeitos desse estudo, são filhos de agricultores e desde muito cedo tem contato com os defensivos agrícolas, pois auxiliam seus pais nas atividades da lavoura. Dessa forma, além de melhorar a aprendizagem, este trabalho teve como objetivo desenvolver práticas saudáveis e mudar hábitos equivocados nas atividades laborais.

Palavras-chave: Aprendizagem significativa; Experimentação; Investigação Cientifica; Contextualização; Agrotóxicos.

Abstract

The teachers are in a reflective moment about the importance of the practical activities associated with the theory in science teaching and his approach in the

1 Professora PDE, Pós graduada em Ensino da Matemática Pela UNICENTRO, Formada em Ciências Habilitação

Matemática pela FACEPAL de Palmas, Professora de Ciências e Matemática no Colégio Estadual Bom Jesus – EFM de Bom Jesus do Sul - PR 2 Professora da UNIOESTE, Mestre em Biologia Celular pela Universidade Estadual de Maringá.

2

design of meaningful learning. Thinking of improving the teaching-learning process, especially in Science Teaching, presents a different methodological approach. Through the use of Experimentation and Scientific Research, were worked up the contents "Pesticides, environment and health". The approach of the theoretical content to the student's daily practice was fundamental to learning, because it gave meaning to the studied contents. The use of laboratory practices, field research and literature in addition to facing the reality content of the student, had intended to make the lessons more interesting and attractive. The results show that student involvement and motivation, but does not reach everyone, is greater when using practical activities. The involvement of students with these activities facilitates understanding of the phenomenon, although they still presented some difficulties. However, the use of practical and experimental deserves special attention in the methodology of science teaching, it can bring significantly positive results, providing better conditions for the promotion of meaningful learning. Working pesticides and the harm caused to the environment and health of the population by the indiscriminate use of them, was of paramount importance to the school community, considered that most students, the subjects in this study, are children of farmers, and at a very tern age they have contact with pesticides, because they help their parents in farming activities. Thus, in addition to improve learning, this study aimed to develop healthy habits and change wrong habits in work activities.

Keywords: Meaningful Learning; Experimentation; Scientific Research; Contextualization; Pesticides.

1 Introdução

A maioria dos docentes demonstra sinais de frustração por não alcançar os

objetivos propostos na sua prática diária de sala de aula. Uma das grandes

dificuldades encontradas pelos docentes é o desinteresse e a falta de motivação dos

alunos durante as aulas. Isso ocorre pela forma com que os conteúdos são

apresentados aos mesmos. O resultado é a falta de participação, baixa

aprendizagem, bagunça e indisciplina e alto índice de reprovação. Dessa forma, o

artigo tem a intenção de apresentar uma prática pedagógica e metodológica

diferenciada, abordando os conteúdos da Química Básica através dos assuntos:

Agrotóxicos, seus malefícios ao meio ambiente e a saúde humana, através da

Experimentação, da Investigação Científica (utilizando-se da pesquisa de campo e

literária), e a Contextualização tornando assim o conteúdo mais significativo e as

aulas mais atrativas e interessantes. Este trabalho realizou-se com alunos da sétima

série, momento em que os alunos estão numa fase crítica de sua vida, porque não

sabem ao certo o que querem, não são mais crianças, porém também não são

adultos, apesar de quererem ser tratados como tal. Estão na fase da descoberta, da

3

novidade e da rebeldia, onde tudo que for muito rígido ou formal não é aceito e deve

ser combatido. Dessa forma o objetivo desse estudo foi procurar alternativas para

manter ou despertar o interesse dos educandos à aula, tendo o intuito de

transformar o que é uma obrigação em algo novo, cheio de descobertas e de

significados.

Segundo as DCEs de Ciências:

A aprendizagem significativa no Ensino de ciências implica no entendimento de que o estudante aprende conteúdos científicos escolares, quando lhes atribui significados. Isso põe o processo de construção de significados como o elemento central do processo de ensino aprendizagem. (DCEs, 2008, p.62)

2 Desenvolvimento

2.1 O ensino de Ciências

Um dos grandes desafios atuais do ensino de Ciências é a necessidade de

vinculação entre o conteúdo científico e o contexto no qual o aluno está inserido.

Assim, uma alternativa de encaminhamento metodológico, que aos olhos dos alunos

pode tornar mais significativa a aprendizagem é a investigação científica focada em

assuntos relacionados ao seu dia a dia. Como vemos nas diretrizes Curriculares da

Educação Básica do Estado do Paraná (2008) nem sempre o conhecimento do dia a

dia ou mesmo o variado pode ser julgado como desconexos do conhecimento

científico, uma vez que podem ser utilizados no exercício das tarefas do cotidiano e

no desenvolvimento de novas concepções. Ao dar-lhes valor e utilizando-os como

base teremos a formação de saberes científicos, em tempos variados, para cada

aluno.

Dar ênfase ao trabalho com atividades que estimulem e instiguem a procura

de respostas, o reforço positivo, estabeleçam relações, resulta numa aprendizagem

mais efetiva e significativa, segundo as DCEs (2008): Atualmente, os alunos têm

acesso a esclarecimentos sobre os saberes científicos, porém, continuamente

formam suas opiniões a partir do conhecimento do dia a dia, tomando como base os

conhecimentos que tem utilidade a sua vida para a formulação de novos

conhecimentos.

Quando essa relação não é estabelecida gera o desinteresse dos alunos

pelas Ciências e reduz o ensino a mera transmissão de informações. O professor

4

que age dessa forma conduz o educando a memorização, promovendo uma

aprendizagem científica na qual o aluno não desenvolverá capacidades que são

necessárias a um cidadão crítico e participativo. O modelo de ensino vigente na

maioria das escolas públicas ainda é o ensino tradicional, embora seja incontestável

que esse modelo já não atende mais as exigências necessárias para se formar

cidadãos atuantes na sociedade, pois está pautada no desenvolvimento científico e

tecnológico. Vemos a importância da postura do Professor como um mediador,

orientador e direcionador do processo de construção de significados pelo estudante:

Assim, a construção de significados pelo estudante é o resultado de uma complexa rede de interações composta de no mínimo três elementos: o estudante, os conteúdos científicos escolares e o professor de Ciências como mediador do processo de ensino-aprendizagem. O estudante é o responsável final pela aprendizagem ao atribuir sentido e significado aos conteúdos científicos escolares. O professor é quem determina as estratégias que possibilitam maior ou menor grau de generalização e especificidade dos significados construídos. É do professor, também, a responsabilidade por orientar e direcionar tal processo de construção. (DCEs, 2008, p.62-63).

Diante disso a experimentação pode auxiliar o docente, quando adequada a

realidade dos alunos e ao conteúdo trabalhado em aula. A experimentação facilita a

aprendizagem dos conceitos científicos, uma vez que motiva os alunos, e essa

motivação é uma condição primordial para a aprendizagem. Vemos nas diretrizes

Curriculares do Paraná (2008, p. 72) as atividades experimentais possibilitam ao

professor gerar dúvidas, problematizar o conteúdo que pretende ensinar e

contribuem para que o estudante construa suas hipóteses.

De acordo com Manacorda (2001) apud Albuquerque (2008), a mais de

trezentos anos John Locke (1632-1704) apontou a necessidade do uso de atividades

práticas para o desenvolvimento das faculdades mentais dos estudantes. O

reconhecimento da importância das atividades práticas na educação dos jovens

também pode ser encontrado em Rousseau (1712-1778), Pestalozzi (1746-1827),

Montessori (1870-1952), Dewey (1859-1952), e outros. Ainda segundo Albuquerque

(2008), elas são vistas por estes teóricos sob diferentes enfoques, ora como

suportes para o desenvolvimento dos conhecimentos dos aprendizes, ora como

indutoras de conhecimentos existentes

Apesar de ser uma ferramenta curricular que facilita a aprendizagem dos

alunos a maioria dos professores não utilizam a experimentação, alegando falta de

5

tempo por trabalharem em mais de uma escola, superlotação das salas de aula, falta

de condições para a realização de experimentos. A falta de laboratório é outra

alegação comum, porém a existência deste em uma escola não garante, na maioria

das vezes, a realização de atividades experimentais. Os experimentos com materiais

simples podem ser utilizados em qualquer escola, com ou sem laboratório. Daí se

percebe que uma das maiores dificuldades que se apresentam aos processos de

inovação nas práticas pedagógicas dos professores nas salas de aula, é a

resistência destes as mudanças (Carvalho, 2006). Ainda segundo Carvalho e Gil

(2000), apud Carvalho (2006), na nova proposta de ensino não basta ao professor

saber, ele deve também saber fazer.

Não basta o professor saber que aprender é também apoderar-se de um novo gênero discursivo, o gênero científico escolar, ele também precisa saber fazer com que seus alunos aprendam a argumentar, isto é, que eles sejam capazes de reconhecer às afirmações contraditórias, as evidências que dão ou não suporte às afirmações, além da capacidade de integração dos méritos de uma afirmação. Eles precisam saber criar um ambiente propício para que os alunos passem a refletir sobre seus pensamentos, aprendendo a reformulá-los por meio de contribuição de colegas, mediando conflitos por diálogo e tomando decisões coletivas. (CARVALHO, 2006, p. 9)

Segundo Azevedo (2006) é fundamental o professor oportunizar aos seus

alunos um ambiente encorajador, para a prática da fala, onde os mesmos exponham

suas idéias sobre um conteúdo estudado, adquiram segurança e se envolvam com

as práticas científicas. Isso também proporcionará ao aluno mudar sua linguagem

cotidiana para a linguagem científica.

O principal objetivo das ciências é levar o aluno a pensar, debater, justificar

suas idéias e aplicar seus conhecimentos em situações novas, usando os

conhecimentos teóricos e matemáticos (Azevedo, 2006). O ensino deve interferir no

cotidiano do aluno, levando-o a pensar e repensar a sua prática no meio em que

vive. As atividades investigativas levam o aluno a procurar respostas a questões,

não apenas a manipulação de materiais e a observação de uma experiência.

2.2 Agrotóxicos e os seus malefícios ao meio ambiente e a saúde humana

O que são agrotóxicos? Segundo Carraro (1997), são substâncias químicas

(venenos), utilizadas para facilitar as atividades do ramo agropecuário. Esses

6

produtos são usados para controlar pragas, como insetos ou ervas daninhas, bem

como para dessecar, desfolhar, estimular ou inibir o crescimento, podendo ser:

pesticidas, praguicidas ou defensivos agrícolas. Os defensivos agrícolas são

classificados em: bactericidas, responsáveis pelo controle de bactérias; nematicidas,

controladores dos vermes; herbicidas, responsáveis pelo controle de ervas

daninhas; fungicidas, controladores das doenças causadas por fungos; inseticidas,

responsáveis pela eliminação de insetos que atacam as lavouras ou os rebanhos;

acaricidas, defensivos responsáveis pelo controle de ácaros.

Podemos ainda acrescentar a esta lista de Carraro, os raticidas, produtos

comumente usados nas propriedades rurais no combate aos ratos, mas que para

muitos não são considerados agrotóxicos ou defensivos agrícolas, e por esse

motivo, muitos acidentes acontecem envolvendo principalmente crianças. Como

exemplo, citamos as intoxicações pelo famoso “chumbinho”, veneno usado para

ratos e que é altamente letal e vem sendo comercializado de forma clandestina e por

valores irrisórios.

Ainda segundo Carraro (1997), os agrotóxicos, também são classificados de

acordo com o grau de toxicidade e as restrições de uso, para isso as classes são

identificadas com faixas coloridas nos rótulos, a saber:

Classe I: Vermelho vivo; são produtos extremamente tóxicos, que devem ser

manuseados somente por profissionais autorizados, que conheçam a química e os

perigos, além das precauções de uso;

Classe II: Amarelo Intenso; são produtos altamente tóxicos, que devem ser

aplicados por operadores que sigam as instruções de uso a risca supervisionadas

por agentes treinados;

Classe III: Azul Intenso; são produtos de toxidade média, devem ser observadas as

normas de aplicação de rotina, e seu uso descontrolado pode provocar efeitos

indesejados no ambiente.

Classe IV: Verde Intenso; são produtos pouco tóxicos, exigindo a observância das

normas de segurança, são livremente comercializados, porém excluídos ao uso do

público em geral.

Existe ainda a Classe “0”, que são produtos sem identificação de cor e que

estão disponíveis ao público em geral, pois não apresentam comprovação de danos

em uso normal.

7

O uso de agrotóxicos nas lavouras, em busca de melhoria e facilidade nas

produções agrícolas, acaba desencadeando uma série de problemas ambientais

como também, de saúde pública. Conforme ressalta Faria et al., (2007) dentre os

vários riscos ocupacionais, destacam-se os agrotóxicos que são relacionados a

intoxicações agudas, doenças crônicas, problemas reprodutivos e danos ambientais.

Podemos perceber que muitas doenças não são associadas ao uso desses

produtos, pois a maioria dos médicos não está preparada para fazer um diagnóstico

e na maioria das vezes os pacientes ocultam fatos e práticas dos mesmos. Dessa

forma trabalhos científicos são desenvolvidos, porém ainda pouco, ou quase nada,

tem-se de concreto nesse sentido, mas, de acordo com Jobim et al., ( 2006):

Em termos populacionais, os efeitos crônicos podem ser tão prejudiciais quanto os agudos, uma vez que existem sugestões fortemente apoiadas por evidências que apontam consequências deletérias na fertilidade, na etiologia de danos neurológicos e possivelmente no aumento da suscetibilidade a neoplasias (JOBIM, 2006, p. 278).

De acordo com Faria et al., (2007) a gravidade das intoxicações varia

de acordo com o agrotóxico utilizado e a quantidade de manuseios ou contatos com

o produto. Os efeitos nocivos destas substâncias podem ser sentidos imediatamente

após o contato, o que facilita o diagnóstico, ou após dias, meses ou anos,

dificultando assim a relação entre a causa e a doença.

As intoxicações podem acontecer durante o manuseio dos produtos

pelos agricultores, as donas de casa podem se contaminar no momento da lavagem

das roupas e equipamentos utilizados, e ainda, a população em geral, pode ser

contaminado pela ingestão de alimentos e água contaminados pelos venenos. Essas

contaminações podem ser agudas, crônicas ou recônditas. (OPAS/OMS, 1996)

De acordo com Faria et al (2004), Jobim (2006), OPAS/OMS (1996) e

Silva et al (2001) na intoxicação aguda o organismo reage apresentando sintomas

nas primeiras horas após a contaminação. Os sintomas dependem do produto e da

dosagem utilizada. Muitas vezes náuseas, vômitos, dor de cabeça e queda de

pressão são os primeiros sintomas que aparecem. São facilmente tratados, pois logo

são associados ao contato com o tóxico.

Ainda segundo os mesmos autores na intoxicação crônica, esta relação

já não ocorre o que dificulta o tratamento, uma vez que alguns sintomas só se

manifestam meses ou mesmo anos após o contato com os venenos. Geralmente

8

esse tipo de intoxicação ocorre por uma contaminação continuada e freqüente, por

um ou mais tipos de agrotóxicos. Nesse caso aparecem problemas renais, gástricos,

hormonais e do sistema nervoso, bem como as neoplasias. De acordo com Faria

(2007) muitos casos de suicídios foram registrados nas regiões do Rio Grande do

Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso onde a agricultura é bem desenvolvida e

o uso de agrotóxicos é bem difundido. Nada se tem comprovado, porém existem

estudos apontando nesse sentido. Também em pesquisa realizada por Palma et al.

(2011), na cidade de Lucas do Rio Verde, MS, onde as culturas de soja, algodão e

milho são o carro chefe da economia e o uso de agrotóxicos ocorre em grande

escala, foi comprovada a existência de resíduos de agrotóxicos em leite materno em

todas as mães pesquisadas.

Segundo Andrioli (2005) a falta de informação dos agricultores, aliada

ao preparo (propaganda) dos vendedores, faz com que o uso de agrotóxicos seja

banalizado.

O uso indiscriminado e cada vez maior provocou e continua

provocando grandes danos ao meio ambiente. Entre os mais comuns e mais

frequentes temos:

Contaminação de alimentos;

Poluição de rios, do ar e do solo;

Erosão de solos e formação de desertos;

Intoxicação e morte de animais;

Extinção de várias espécies de animais.

Segundo Santos (2005) os agrotóxicos começaram a ser produzidos e

a ser usados maciçamente na segunda guerra mundial como arma química para

disseminar os campos de batalhas dos inimigos, ou seja, foram usados para

desfolhar a vegetação usada como esconderijo nos campos de batalha. Após a

guerra esses produtos começaram a ser usados como defensivos agrícolas e na

década de 70 na época chamada de “revolução verde”, começaram a ser usados em

grande escala, pois a preocupação passou a ser a produção em grande escala e

com tecnologia de ponta. Além dos resultados (produtividade) que nem sempre são

alcançados, o uso constante de defensivos agrícolas trouxe a instabilidade dos

sistemas agrícolas, a contaminação dos recursos naturais (água, solo e ar) e

prejudicou a qualidade dos alimentos.

9

O equilíbrio ambiental sofreu um grande abalo, visto que muitas

espécies da cadeia alimentar desapareceram, foram extintos. Outra consequência

do uso de forma indiscriminada desses produtos é que algumas pragas se tornaram

resistentes, devido às mutações genéticas. Alguns desses produtos ficam

armazenados no solo e na água e nos organismos dos animais por muitos anos, e

seus efeitos podem ser sentidos por várias gerações. Isso é conhecido como efeito

cumulativo.

Vamos fazer uma reflexão... Até quando isso irá continuar?

Os rios estão mortos... Os peixes sumiram... Muitas aves deixaram de

existir... E a humanidade esta doente... Quando nos daremos conta de que

precisamos mudar nossos hábitos e condutas? O planeta esta dando sinais, onde

antes havia lindos e férteis campos, hoje temos um enorme deserto... Onde havia

florestas, animais de todas as espécies, hoje só vemos buracos, valas,

desmoronamentos e destruição! Onde antes viviam famílias felizes, hoje vemos

pessoas se suicidando, morrendo com câncer, nascendo crianças debilitadas e com

má formação...

3 Metodologia

O desenvolvimento desse trabalho ocorreu utilizando-se os seguintes

métodos: Pesquisa literária em livros, jornais, revistas e internet. Pesquisa de campo

através de entrevistas. Práticas de laboratório e de sala de aula com materiais

alternativos, seminário e palestras.

Este trabalho foi realizado com um grupo de 20 alunos da 7ª série do Ensino

Fundamental do Colégio Estadual Bom Jesus do Município de Bom Jesus do

Sul/PR, que apesar de ser uma turma pouca numerosa, apresenta grandes

dificuldades, pois quatro alunos são alunos portadores de necessidades especiais

(um caso de Distúrbio de Aprendizagem, um caso de Transtorno do Déficit de

Atenção e Hiperatividade, um caso de Deficiência Intelectual, um caso de Transtorno

Bipolar de Humor mais Deficiência de Aprendizagem).

Para que os alunos possam fazer a relação dos conteúdos abordados na

disciplina de Ciências com seu cotidiano e, assim despertar o interesse pela

disciplina e gosto pela pesquisa, desenvolveu-se os conteúdos da química básica

10

como átomo, elemento químico, substâncias e misturas, com enfoque nos assuntos

“Agrotóxico, meio ambiente e saúde”.

De forma expositiva iniciou-se o trabalho, apresentou-se as normas de

conduta para o uso do laboratório de Ciências, em seguida mostrou-se o laboratório

aos alunos, seus equipamentos e instrumentos, identificando-os e falou-se sobre a

sua função. Ao final solicitou-se que os alunos redigissem um relatório

descrevendo o que aprenderam, bem como desenhando alguns instrumentos e

nomeando-os.

Na seqüência trabalhou-se o átomo, o elemento químico, classificação,

distribuição de elétrons, valência e a tabela periódica. Após a aula expositiva, para

aprofundar a aprendizagem levou-se os alunos ao laboratório de informática, para

exercitar a aprendizagem através de jogos. Esta prática foi de fundamental

importância no desenvolvimento das atividades e do aprendizado de química em

sala de aula sobre ligações químicas, misturas e substâncias.

Em sala de aula, explicou-se as diferenças entre substâncias puras,

compostas e misturas. Demonstrou-se o processo de separação de misturas. Ainda,

mostrou-se através da produção de sabão de álcool que juntando algumas

substâncias podemos formar novas substâncias. Nesse procedimento utilizou-se o

óleo de cozinha usado, (trabalhou-se a reciclagem de produtos). Esta atividade

prática realizou-se no saguão da escola, devido à liberação de gás e de calor.

Solicitou-se aos alunos que observassem as reações químicas que aconteciam

durante a mistura dos ingredientes da receita. Os alunos observaram as reações

visíveis e térmicas (aumento da temperatura, ebulição, liberação de gás, mudança

de cor e de textura da mistura, formação de espuma).

Os materiais necessários para a experiência foram adquiridos pela escola e

contamos com o auxilio de uma agente de execução que ajudou a mexer a mistura.

A participação dos alunos nessa etapa foi de observação, devido ao perigo de

intoxicação e queimaduras. No final elaborou-se um relatório, descrevendo os

materiais utilizados, as reações que aconteceram. Os alunos permaneceram atentos

e demonstraram interesse durante a experiência e os relatórios produzidos pelos

mesmos foram muito bons, o que comprova que a atividade prática é mais eficaz

quando se trata de aprendizagem. Todos ficaram entusiasmados ao saber que cada

11

um receberia um pedaço do sabão para levar para casa, inclusive solicitaram o

protocolo para reproduzir em suas residências.

Figura 1: Alunos acompanhando o processo de

produção de sabão.

Fonte: Arquivo pessoal Marlete Inês Sturm

Figura 2: Pedaços de sabão de álcool

produzidos durante a aula

Fonte: Arquivo pessoal Marlete Inês Sturm

Outra aula interessante foi sobre as ligações químicas. Explicou-se como

ocorrem as ligações químicas, a construção das fórmulas estruturais e as fórmulas

moleculares ou químicas.

Na sequência os alunos foram divididos em grupos de 3 ou 4 integrantes. Os

mesmos foram levados ao Laboratório de Informática onde pesquisaram na internet

modelos de fórmulas estruturais de algumas substâncias. Com antecedência

solicitou-se a direção da escola a aquisição de gomas de mascar de diversas cores

e de palitos de dente e canudinhos de plástico. No Laboratório de Ciências, de

posse com os materiais acima descritos, cada grupo construiu o modelo de fórmula

estrutural da substância pesquisada.

12

Figura 3. Alunos confeccionando a formula estrutural de

compostos químicos.

Fonte: Arquivo pessoal Marlete Inês Sturm

Figura 4: Alunos explicando a atividade realizada ao Diretor e

membros da Equipe Pedagógica.

Fonte: Arquivo pessoal Marlete Inês Sturm

Os alunos acharam o trabalho extremamente interessante e quando do

término do mesmo, receberam o diretor, duas pedagogas e mais alguns

funcionários. Cada grupo fez questão de apresentar seu trabalho, descrevendo seus

componentes e as formas de ligação. Responderam aos questionamentos e quando

não sabiam recorriam a professora. Para encerramento da atividade foi elaborado o

relatório do trabalho.

Após os alunos terem o conhecimento básico de química, abordou-se o

assunto dos agrotóxicos, pois era necessário conhecer os elementos químicos para

analisar a fórmula do defensivo agrícola, ou seja, o estudo dos componentes que o

compõe.

Na sequência, aferiu-se os conhecimentos prévios dos alunos sobre o

assunto, em seguida efetuou-se a leitura do texto “Agrotóxico: de mocinho a

bandido” e ao final da mesma, foi promovido um debate sobre o texto.

De forma expositiva abordou-se a classificação dos agrotóxicos quanto a

sua finalidade e quanto ao grau de toxicidade. De posse de umas embalagens de

agrotóxicos solicitou-se que os alunos observassem os rótulos, e os classificassem

quanto ao grau de toxicidade (para isso tinham que observar a cor da faixa colorida

do rótulo). Na sequência foi realizado um estudo detalhado do rótulo do glifosato:

composição química, agente ativo, classificação toxológica, classe, fórmula bruta e

13

estrutural (elementos químicos que compõe sua fórmula), grupo químico, forma de

aplicação, dosagem e utilização.

A seguir instigou-se os alunos a efetuarem uma entrevista com seus pais e

familiares. Para tanto foi elaborado o seguinte questionário:

1- Na propriedade de sua família, é utilizado algum tipo de agrotóxico?

2 - Quais são os defensivos agrícolas mais utilizados em sua propriedade?

3 - Como é feita a aplicação dos mesmos, e por quem?

4 - Qual é o destino dado às embalagens após a utilização dos produtos?

5 – De que maneira é feita a lavagem das roupas e utensílios após a aplicação dos

produtos e por quem?

6 – A prescrição foi feita por um engenheiro agrônomo? ( ) sim ( ) não

7 – Se na resposta anterior a resposta foi sim, ele prescreveu a forma correta de

uso? Se for não, quem indicou o produto e como foi adquirido?

Dando continuidade aos trabalhos explanou-se sobre as intoxicações e a

necessidade de uso dos EPIs. Apresentou-se em data-show um fluxograma

explicativo do caminho percorrido pelo veneno em nosso organismo e como ele

chega aos diversos órgãos, quando se discorreu sobre os principais tipos de

intoxicação e as consequências a curto e longo prazo.

Para aprofundar esses conhecimentos promoveu-se uma palestra onde a

ministrante era enfermeira. Esta salientou pontos sobre os danos a saúde motivados

por intoxicações tanto por agrotóxicos como por medicamentos ou outros produtos.

Para enfatizar mais ainda, realizou-se uma pesquisa de campo na Unidade

Básica de Saúde. Para tanto a turma de alunos foi dividida em quatro grupos, sendo

que cada equipe procurou um(a) enfermeiro(a) para fazer o levantamento dos dados

solicitados.

Equipe 1: Levantamento dos casos de registros de intoxicações nos últimos cinco

anos, sejam acidentais ou provocados, casos de óbitos por intoxicação.

Equipe 2: Levantamento dos registros de casos câncer nos últimos cinco anos,

casos em tratamento e óbitos. Qual tipo de câncer é o mais frequente e qual é o que

mais leva ao óbito.

Equipe 3: Levantamento dos casos de suicídios dos últimos cinco anos e qual foi o

meio empregado para o suicídio.

14

Equipe 4: Levantamento dos casos de depressão dos últimos cinco anos. Qual é a

faixa etária em que mais ocorrem casos. As possíveis causas e se houve óbitos

causados pela doença (provocadas ou não).

Nesta pesquisa foram obtidos os seguintes dados:

Câncer: Em 2011, foram tratados 16 casos e os óbitos dos últimos 5 anos

estão registrados no gráfico abaixo.

Intoxicações por agrotóxicos nos últimos 5 anos: foram notificados 7 casos,

dos quais duas ocorrências com o “Chumbinho”, sendo que uma resultou em óbito

(suicídio) e outra em que a ingestão foi acidental o bebê foi salvo. Total de óbitos

por intoxicação 2.

Depressão: Em 2011 estavam sendo tratados 161 casos. Segundo a

informante da Secretaria de Saúde este número vem aumentado a cada ano. Em

2007 foram tratados 92 casos.

Os casos de suicídios nos últimos cinco anos foram 8, sendo 5 por asfixia

mecânica, 2 por intoxicação por agrotóxico e um por arma de fogo.

Gráfico 1: Óbitos de Bom Jesus do Sul

Fonte: Secretaria de Saúde de Bom Jesus do Sul – PR

Outra pesquisa de campo realizada pelos alunos foi sobre as

transformações ocorridas no meio ambiente nas últimas décadas. Cada aluno

0

2

4

6

8

10

12

2007 2008 2009 2010 2011

MER

O D

E C

ASO

S

ANOS

Câncer

Suicídio

15

entrevistou um vizinho ou um pioneiro do nosso município, fazendo-lhe as seguintes

perguntas:

1. Quais foram as principais mudanças ocorridas nas últimas décadas?

2. O que foi que ocasionou essas mudanças?

3. As mudanças, transformações que aconteceram foram benéficas ou não?

4. Que tipo de consequências as transformações no ambiente trouxeram para a

saúde das pessoas?

De posse de todos os resultados da pesquisa realizou-se um seminário,

momento em que os alunos puderam apresentar e explanar aos outros educandos

do Colégio o que aprenderam com este trabalho.

Numa tentativa de mostrar que existem formas alternativas de controle de

pragas e doenças foi feito a atividade prática da preparação da Calda Bordalesa,

que substitui fungicidas. Preparou-se a Calda e depois de pronta a mesma foi

aplicada sobre plantas do pátio da escola.

E como última atividade foi realizada a palestra com um engenheiro

agrônomo para pais e alunos, que apresentou estatísticas do nosso município, falou

da problemática ambiental e apresentou algumas receitas de formas alternativas aos

agrotóxicos.

4 Resultados e discussão

Durante o desenvolvimento das atividades experimentais o diálogo com os

alunos esteve muito presente, no sentido de auxiliá-los na construção e

reconstrução do conhecimento, ou seja, para sanar dúvidas e esclarecer pontos de

difícil entendimento ou não assimilidados. Além do diálogo e explicações, utilizou-se

as pesquisas de campo bem como em livros, revistas, rótulos de agrotóxicos e

internet, leituras e discussão de textos e vídeos documentários que viessem

favorecer e facilitar o entendimento do conteúdo abordado.

A apresentação do laboratório aos alunos ocorreu de forma tranquila, pois os

mesmos tinham muita curiosidade sobre o local e os equipamentos. A maioria

demonstrou interesse e questionaram muito sobre a utilidade das vidrarias, sobre o

funcionamento do microscópio, questionaram sobre a tubulação de gás e os vários

pontos de saída do mesmo sobre as bancadas. No relatório entregue pelos mesmos

16

ao final da aula, 85% deles descreveram com clareza que entenderam porque o

laboratório é um lugar perigoso se mal utilizado. Também na atividade de desenhar

e nomear objetos que lhes foram apresentados, 70% o fizeram corretamente e os

outros 30% conseguiram acertar parcialmente a atividade.

Através da produção do sabão de álcool os alunos puderam comprovar a

mistura de substâncias e a formação de novas substâncias. Uma observação

interessante feita por um aluno foi que, se misturando gordura (animal ou vegetal),

produto que mancha e suja roupa, com soda cáustica (Hidróxido de Sódio), álcool e

água, ocorre à formação de glicerol ou sabão, transformando-se num agente de

limpeza. Observaram também que quando se mistura a soda com a água e o álcool,

ocorre à liberação de gás e energia térmica (calor). Foi-lhes explicado que estas são

resultado das reações químicas que ocorrem durante a mistura dos produtos

químicos. A turma como um todo compreendeu o processo, mas 15% apresentaram

dificuldades de descrever a prática no relatório.

A aula realizada no laboratório de informática trouxe resultados positivos,

pois os jogos estimulam os alunos a querer ganhar e, para ganhar é necessário

saber as respostas corretas. Nesse sentido, percebeu-se uma grande parceria entre

os alunos, sendo que estes iam auxiliando o colega em suas dificuldades e quando

perceberam que as perguntas, a partir de um dado momento, se repetiam, passaram

a anotar perguntas e respostas. A iniciativa partiu dos mesmos e considerando a

turma podemos considerar como um resultado positivo. Pode-se ressaltar que a aula

foi descontraída e divertida, porém a aprendizagem foi muito melhor do que a que se

obtém na sala de aula normal. Nesta aula a estatística de aprendizagem ficou

dividida dessa forma: 65% demonstraram habilidade e facilidade de compreensão do

jogo e 35% dependeram de ajuda de colegas para conseguir avançar no jogo.

A construção da fórmula estrutural de compostos químicos também foi muito

rica em aprendizagem e os alunos sentiram-se muito valorizados pela presença do

diretor e das pedagogas ao final da aula. Fizeram questão de explicar a fórmula que

haviam montado, explicaram os tipos de ligação que estavam presentes na fórmula.

Quando não sabiam explicar o que lhes era indagado, pediam ajuda a professora.

Para tal atividade cada grupo procurou na internet a fórmula do composto químico

que lhes foi pedido. Neste trabalho ficaram claros para os alunos, as valências, os

tipos de ligação e quando ocorre alguma reação ou liberação de energia. Deve-se

17

ter claro que nenhum conteúdo foi muito aprofundado, pois se trata de alunos de

sétima série. A atividade aconteceu em grupos de três elementos, ficando um grupo

com dois alunos. Dos sete grupos formados, apenas um não conseguiu efetuar a

construção sem ajuda da professora, o mesmo grupo também teve dificuldades de

apresentar seu trabalho aos colegas e a direção, recorrendo ao auxílio da

professora. No relatório os alunos colocaram frases com o seguinte teor:

“Adorei, foi a aula melhor que já tive”

“Gostei muito, além de aprender a fazer fórmula estrutural, aproveitamos nos

divertimos e ainda ganhamos doce.”

“Nossa, se todas as aulas fosse assim, eu iria gostar de vir na aula”

“Achei um pouco difícil, porque não sabia ao certo como colocar os palitos

para ligar as gomas, mas foi legal.”

A palestra com a enfermeira foi muito interessante e inclusive extrapolou o

tempo programado para a atividade. Isso ocorreu porque durante a explanação da

mesma sobre casos de intoxicação, ela indagou se alguém sabia de algum caso,

quando os alunos começaram a questionar sobre os sintomas e puxar casos aos

quais ela foi respondendo. Foram citados dois casos de intoxicação ocorridos no

município, ambos gravíssimos, sendo que a intoxicação ocorreu pelo famoso

“chumbinho”. Este composto possui em sua composição o carbamato, um potente

inibidor da enzima de acetilcolinesterase. Um desses casos foi acidental e ocorreu

com uma criança de apenas um ano de idade, a qual foi salva. O outro caso foi

provocado pela vítima e ocasionou a sua morte. Foi muito importante o debate, já

que resultou em esclarecimentos e apontou os perigos que a população corre na

manipulação e armanezamento errôneos do produto.

Quanto ao seminário de apresentação dos dados coletados nas pesquisas

mais uma vez percebeu-se o quanto os alunos se sentiram valorizados. Estes, no

papel de “fornecedores de informações” coletados pelos mesmos sentiram-se “o

máximo”, ou seja, muito importantes. Até os alunos que apresentem “déficit de

aprendizagem” e que dificilmente participam ou contribuem nos debates, falaram e

colocaram suas considerações. Explanaram com conhecimento de causa e riqueza

de detalhes os resultados das pesquisas, tanto das informações coletadas na suas

propriedades, com os pioneiros do município bem como as informações obtidas no

Centro de Saúde Municipal. Um comentário que chamou a atenção de todos no final,

18

foi de um aluno que disse: “Nossa não é fácil ser professor, tem que estudar muito

para poder falar e explicar um conteúdo.”

Outro ponto alto do nosso trabalho foi a palestra realizada pelo engenheiro

agrônomo para os pais e alunos. Os alunos interagiram o tempo todo fazendo

perguntas ao palestrante e a participação dos pais também foi efetiva. Percebeu-se

que muitos adultos não conheciam os riscos e os malefícios que os venenos podem

provocar a saúde e ao meio ambiente. Muitos ao final da palestra demonstraram

interesse pelas receitas de alternativos ao uso de agrotóxicos e solicitaram cópia.

Com os alunos foi produzida a Calda Bordalesa, que pode substituir fungicidas com

grande toxicidade, fazendo o mesmo efeito sobre os fungos que atacam as culturas.

Ao final das atividades do projeto, aplicamos o seguinte questionário de

avaliação:

Questionário Avaliativo

1 - Como você avalia a metodologia aplicada durante o projeto?

( ) Excelente ( ) Bom ( ) Satisfatório ( ) Insatisfatório

2 – O projeto aplicado condiz com sua realidade cotidiana?

( ) Sim ( ) Não ( ) Um pouco (As vezes)

3 – As práticas realizadas complementam a parte teórica?

( ) Sim ( ) Não ( ) Um pouco (As vezes)

4 – Em relação à aprendizagem do conteúdo abordado, contribuiu para que você?

( ) aprendesse um pouco mais ( ) Não interferiu ( ) Interferiu um pouco

5 – Você consegue relacionar o que aprendeu com o que você vive em seu

cotidiano?

( ) Sim ( ) Não ( ) Um pouco (As vezes)

6 - Avalie a parceria aula prática/aula teórica:

( ) Excelente ( ) Bom ( ) Satisfatório ( ) Insatisfatório

7 - Você acha importante que a escola ofereça projetos de ensino para os alunos?

Por quê?

___________________________________________________________________

8 – Que outros conteúdos você gostaria que fossem trabalhados dessa mesma

forma?

___________________________________________________________________

9 – Qual momento do projeto chamou mais sua atenção?

19

___________________________________________________________________

10 - Em qual momento do projeto você conseguiu aprender melhor?

__________________________________________________________________

Os resultados da avaliação feita pelos alunos são mostrados a seguir.

Na avaliação feita pelos alunos quanto à forma de ensino utilizada do total,

60% acharam excelente, 25% considerou bom e 15% satisfatório. Dessa forma,

comprovou-se que os alunos sentem-se estimulados e realizados por se sentirem

parte atuante no processo ensino-aprendizagem.

Gráfico 2: Grau de satisfação quanto à forma de ensino utilizada

Fonte: Pesquisa em sala de aula, 7ª série, C. E. Bom Jesus - EFM

Questionou-se quanto ao projeto ter a ver com a realidade cotidiana dos

mesmos e, 75% responderam que sim, 15% responderam um pouco e 10%

responderam que não. Dessa forma pressupõe-se que 90% dos alunos já tiveram

contato ou têm contato e conhecem algum tipo de agrotóxico.

Na avaliação foi questionado se as práticas realizadas enriquecem a parte

teórica envolvida e 80% dos alunos responderam que sim, demonstrando desta

forma que conseguem perceber a importância de ambas, 20% responderam “um

pouco”. Percebe-se com isso que alguns alunos não conseguiram associar

totalmente a teoria à prática, provavelmente porque na aula teórica estavam

distraídos, pois nas aulas práticas a participação foi efetiva.

Quando aferidos a respeito do conteúdo estudado ter interferido de alguma

forma na sua aprendizagem, 100% dos alunos responderam que sim, que

aprenderam um pouco mais. Na sequência pediu-se para que os alunos avaliassem

a parceria teoria/prática e 60% dos alunos consideraram excelente, 25%

0

5

10

15

execelente bom satisfatório ruim

de

alu

no

s

Forma de avaliação

20

consideraram bom e 15% consideraram satisfatório. Já as questões descritivas

apresentaram os seguintes resultados: Nas questões a respeito da escola oferecer

projetos e utilizar metodologias de ensino diferenciadas, a resposta foi 100% positiva

em ambas, ou seja, todos os alunos que participaram do projeto disseram sim.

Destacamos abaixo algumas delas:

- Sim, porque saímos da rotina;

- Sim, porque as aulas são mais interessantes;

- Sim, porque é uma forma de incentivo aos alunos;

- Sim, porque aprendemos de forma diferente;

- Sim, porque vemos onde podemos usar o que aprendemos;

- Sim, porque os alunos não cansam tanto;

- Sim, porque os alunos não ficam só sentados escutando;

- Sim, porque aprendemos mais.

Para saber qual o momento mais atraente e que mais chamou a atenção dos

estudantes durante a realização das atividades, 25% responderam que foi produção

de sabão e da Calda Bordalesa, 20% responderam que foi a construção das

fórmulas estruturais das substâncias, 35% consideraram todas as atividades

importantes, 10% ponderaram que a aula de laboratório de informática com os jogos

de química foi a mais interessante e os outros 10% julgaram as palestras e

entrevistas como o ponto alto do projeto. Dessa forma percebe-se que todas as

práticas foram importantes para o sucesso do projeto.

Gráfico 3: Grau de aceitabilidade das diferentes atividades

Fonte: Pesquisa em sala de aula, 7ª série, C. E. Bom Jesus - EFM

0 1 2 3 4 5 6 7 8

confecção de sabão/ calda bordalesa

construção fórmula estrutural

jogos/ laboratório Informática

entrevistas/palestras/seminário

todas as atividades

nº alunos

21

Para finalizar a avaliação foi questionado sobre o momento do projeto em

que o aluno conseguiu aprender melhor e 30% responderam que houve maior

aprendizagem durante as atividades práticas, 35 % afirmaram que aprenderam mais

durante as pesquisas de campo, palestras e seminário e, 35% julgaram que em

todas as práticas houve aprendizado.

Assim sendo, verificou-se que de alguma forma todas as atividades práticas

foram importantes na aprendizagem dos alunos e que o professor de Ciências deve

usar de diferentes ferramentas para tornar as aulas atrativas e motivadoras para os

alunos, para que os mesmos se sintam parte integrante do processo e vejam

significado naquilo que estão estudando.

5. Conclusão

Segundo Carraro (1997), todo ser vivo busca a perpetuação de sua espécie

e a sua sobrevivência, utilizando-se dos recursos que lhe são básicos e essenciais

no meio em que vive. O ser humano leva certa vantagem sobre os demais animais,

por ser o único ser vivo dotado de inteligência, capaz de pensar, raciocinar e refletir

sobre seus atos. Por ser um ser pensante, é capaz de decidir sobre a forma como

interage com o meio ambiente, sendo responsável pelas consequências causadas.

Dessa forma é necessário pensar a educação para a formação do ser

humano capaz de construir sua vida desfrutando racionalmente do que o meio que

tem a sua disposição. Mostrar que é possível: Produzir sem destruir e matar...

Aprender sem ter que memorizar ou decorar...

Para tanto, percebe-se a importância da utilização de práticas para explicar

teorias e tornar a aprendizagem significativa, ou seja, que esta faça sentido para o

aluno, pois ele poderá relacionar fatos vividos em seu cotidiano. Fazendo com que

ele formule conceitos e estabeleça relações, que o farão compreender as teorias e

utilizá-las em diferentes situações concretizando assim a sua aprendizagem.

Por meio das atividades realizadas, foi possível comprovar que a teoria da

aprendizagem significativa pode trazer resultados positivos, desde que sejam

utilizadas metodologias diferenciadas que incentivem o aluno a querer aprender.

Isso vem ao encontro ao objetivo deste trabalho que foi demonstrar que a utilização

22

da Experimentação, da Investigação Científica e a Contextualização são

metodologias interessantes para tornar as aulas de Ciências mais significativas,

dinâmicas e prazerosas.

A mudança de postura em relação a práticas realizadas nas propriedades

rurais, a ruptura de conceitos pré estabelecidos, a construção de hábitos saudáveis

no dia a dia dos nossos jovens e principalmente a atitude crítica demonstra que a

semente foi plantada.

Concluí-se dessa forma, que da mesma forma que o mundo evoluiu em

todos os sentidos, o professor também precisa se reciclar. Já não cabe nos moldes

atuais da educação, um professor que ainda acredita que a aula tradicional, quadro

negro, livro texto e exposição oral do professor irão atingir os objetivos da educação.

6 Bibliografia

ALBUQUERQUE, Me Teresinha Ap. Soares, Aulas de física em diferentes ambientes de aprendizagem. In: PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. O professor PDE e os desafios da escola pública paranaense, 2007. Curitiba: SEED/PR., 2011. V.1. (Cadernos PDE). Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/module/conteudo/conteudo.php?conteudo=20> Acesso em DD/MM/AA. ISBN 978-85-8015-037-7.

ANDRIOLI, A. I. O Roundoup, o câncer e o “crime do colarinho verde” in Revista Espaço Acadêmico, nº 51, ano V agosto de 2005. Disponível em www.espacoacademico.com.br/051/51andrioli.htm Acesso em: 06/01/2011.

______ Os efeitos dos transgênicos sobre a saúde – parte 2, in Revista Espaço Acadêmico, nº 88, ano VIII, setembro de 2008. Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/088/88andrioli.htm. Acesso em: 06/01/2011.

AZEVEDO, M. C. P. S. Ensino por Investigação: Problematizando Atividades em Sala de Aula, in: Ensino de Ciências: Unindo a Pesquisa a Prática, São Paulo: Thomson, 2004.

BORGES, J. R. P. FABBRO, A. L. D. RODRIGUEZ JR, A. L. Percepção de riscos socioambientais no uso de agrotóxicos – o caso dos assentados da reforma agrária paulista. Caxambú - MG, 2004. Disponível em: http://www.abep.nepo.unicamp.br/site_eventos_abep/PDF/ABEP2004_708.pdf. Acesso em 12 de fevereiro 2012.

23

CARRARO, G. Agrotóxico e Meio Ambiente: Uma Proposta de Ensino de Ciências e de Química. UFRGS, Porto Alegre, 1997. Disponível em: http://www.iq.ufrgs.br/aeq/html/publicacoes/matdid/livros/pdf/agrotoxicos.pdf. Acesso em 08 de setembro 2010.

CARVALHO, A. M. P. Ensino de Ciências: Unindo a Pesquisa e a Prática. São Paulo: Thomson, 2004.

FARIA, N. M. X. FACHINI, L. A. FASSA, A. G. TOMASI, E. Trabalho rural e intoxicações por agrotóxicos. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.20, n.5, p.1298-1308, 2004.

FARIA, N. M. X. FACCHINI, L. A. FASSA, A. G. Intoxicação por Agrotóxicos no Brasil: Os Sistemas Oficiais de Informação e Desafios Para Realização de Estudos Epidemiológicos, Ciência & saúde coletiva vol.12 nº.1 Rio de Janeiro Jan./Mar.2007. Disponível em: http://www.scielo.org. Acesso em 08 de setembro de 2010.

GRUN, M. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. Campinas: Papirus, 1996.

JOBIN, P. F. C., NUNES, L. N., GIUGLIANI, R., CRUZ, I. B. M. Existe uma associação entre mortalidade por câncer e o uso de agrotóxicos? Uma contribuição ao debate. In: Ciência & Saúde Coletiva, vol. 15 nº 1, Temas Livres, p. 277-288, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v15n1/a33v15n1.pdf. Acesso em 13 de dezembro de 2010.

MOTA, L. de M. Agrotóxicos e Transgênicos: Solução ou Problema à Saúde Humana e Ambiental. In, Saúde & Ambiente em Revista, vol. 4, Rio de janeiro, n.1, p. 36-46, Unigranrio, 2009. Disponível em: http://www.publicacoes.unigranrio.edu.br/index. php/sare/article/view/568. Acesso em 13 de setembro de 2010.

OPAS/OMS. Manual de vigilância da saúde de populações expostas a agrotóxicos. Brasília: 1996. Disponível em: http://www.opas.org.br/sistema/arquivos/livro2.pdf. Acesso em: 06 nov. 2006. PALMA, DANIELLY CRISTINA A., PIGNATI WANDERLEI; LOURENCETTI CAROLINA; UECKER, MARLI E. Agrotóxicos em leite humano de mães residentes em Lucas do Rio Verde – MT. 2011, Universidade Federal de Mato grosso – Instituto de Saúde Coletiva –ISC, Disponível em: http://www.mcpbrasil.org.br/biblioteca/agrotoxicos/doc_view/41-agrotoxicos-em-leite-humano-de-maes-residentes-em-lucas-do-rio-verde-mt. Acesso em 12 de fevereiro de 2012.

PARANÁ, SEED. Diretrizes Curriculares da Rede Pública da Educação Básica do Estado do Paraná – Ciências. Curitiba, 2008.

24

________________ Cadernos Temáticos da Diversidade – Educação Ambiental. Curitiba, 2008.

SANTOS, W. L. P., et al, Química e Sociedade – Pequis – Projeto de Ensino de Química e Sociedade, São Paulo, Nova Geração, 2005. SILVA, J. J. O. ALVES, S. R., MEYER, A., PEREZ, F., SARCINELLI, P. N., MATTOS, R. C. C., MOREIRA, J. C. Influência de fatores socioeconômicos na contaminação por agrotóxicos, Brasil. Revista Saúde Pública, São Paulo, v.35, n.2, p. 130-135, 2001.