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A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências em Crianças com Perturbações na Comunicação Relatório de Projeto Mafalda Amaral Ribeiro Marques Francisco Trabalho realizado sob a orientação de Professor Doutor Eduardo Fonseca, ESECS IPLeiria e coorientação de Professora Doutora Célia Sousa, ESECS - IPleiria Leiria, setembro 2016 Educação Especial: Domínio Cognitivo-Motor ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA

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A Importância do Livro Adaptado em Símbolos

Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de

Competências em Crianças com Perturbações na

Comunicação

Relatório de Projeto

Mafalda Amaral Ribeiro Marques Francisco

Trabalho realizado sob a orientação de

Professor Doutor Eduardo Fonseca, ESECS – IPLeiria

e coorientação de

Professora Doutora Célia Sousa, ESECS - IPleiria

Leiria, setembro 2016

Educação Especial: Domínio Cognitivo-Motor

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS

INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA

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Agradecimentos Em primeiro lugar quero agradecer aos meus pais, irmão e noivo que

me apoiaram sempre, acreditaram em mim, tiveram a paciência que eu

nem sempre tive, ouviram-me inúmeras horas. Em suma, estiveram

sempre comigo. Muito obrigado por tudo.

Um agradecimento ao Professor Doutor Eduardo Fonseca que desde a

primeira hora acreditou neste projeto e disse “o que aqui tem é muito

bom”. Esta frase foi um grande incentivo à concretização do mesmo.

À Professora Doutora Célia Sousa, que sempre, mas sempre e apesar

de estar muito ocupada, teve sempre tempo para mim, respondendo a

todas as questões, desde às grandes às pequenas dúvidas. E também

por ter acreditado neste projeto.

Ao Professor Luís Vicente, professor no CRID, que muitas vezes me

ajudou, mesmo sem saber, que me colocou à vontade, deixou-me

aprender com os meninos e com ele e que me deu muitas dicas

preciosas.

Quero ainda deixar uma palavra de gratidão do tamanho do mundo às

quatro crianças especiais (e para mim são ainda mais especiais)

presentes neste projeto, não fazem ideias do porquê das histórias jogos

que realizei com elas, mas aceitaram tudo e sempre com um sorriso do

tamanho do mundo. Quero também agradecer às famílias

extraordinárias que aceitaram que fizesse este projeto com os seus

filhos sem qualquer tipo de reserva ou constrangimento. Obrigado

pela confiança.

E por último a Deus, que esteve sempre comigo.

A todos a minha mais profunda gratidão…

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Resumo Numa sociedade onde existem crianças com necessidades educativas

especiais é cada vez mais emergente e fundamental a sua inclusão.

Desta forma, é importante conceber ferramentas que permitam o

desenvolvimento destas crianças o mais precocemente possível e a

literatura tem debatido a relevância da leitura no desenvolvimento

cognitivo e na interação social de um individuo.

Nesta linha de pensamento, estruturou-se o presente projeto que teve o

objetivo de adaptar a obra literária infantil “O Tomás já não cabe nos

calções” de Mymi Doinet, presente no Plano Nacional de Leitura para

a Educação Pré-Escolar do Ministério da Educação no formato

acessível do Sistema Pictográfico para a Comunicação (SPC).

Posteriormente, seguiu-se um estudo exploratório, através de um jogo,

da consequência do livro adaptado em comparação com o seu formato

original, particularmente no que diz respeito à reação comunicativa

das crianças face ao livro.

Participaram neste estudo quatro crianças com perturbações distintas,

tendo em comum a comunicação verbal de algum modo

comprometida; as perturbações são a perturbação do desenvolvimento

intelectual, perturbação da linguagem, perturbação do espectro do

autismo e uma criança sem diagnóstico concreto, onde se destaca os

movimentos musculares involuntários, sem comprometimento do

desenvolvimento cognitivo.

Os resultados obtidos evidenciaram que o livro adaptado foi

estruturador e facilitador da comunicação, face ao livro na sua versão

original. A reação comportamental e comunicativa das crianças fase

ao livro adaptado foi de maior participação e dinâmica se comparada

com as reações face ao livro no formato original.

Face aos resultados obtidos, não se pode esperar que existam materiais

adaptados para perturbações apenas em investigações. É vital criar

oportunidades e promover a igualdade, adaptando livros acessíveis,

utilizando materiais adequados às capacidades/necessidades e que

permitam a todas as crianças desenvolveram as suas potencialidades.

Palavras-chave: comunicação aumentativa e alternativa, inclusão,

leitura inclusiva e livro adaptado

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Abstract

In a society where there are children with special educational needs, is

even more emerging and fundamental their inclusion. So it is

important to develop tools that enable the development of these

children as early as possible and literature has been discussing the

importance of reading in cognitive development and social interaction

in the individual.

In this line of thought, it was structured this project which has the

main objective to adapt the children's literary work " Thomas no

longer fits in shorts”, by Mymi Doinet, contained in the National

Reading Plan for Preschool Education Ministry of Education in

accessible format P ictographic System for Communication ( PSC ) .

Subsequently, followed by an exploratory study, through a game, the

result of the adapted book compared to its original shape, particularly

as regards the communicative phase reaction of children to the book.

Four children have participated in this study, with different disorders,

but with a common verbal communication in some way compromised;

disturbances are the disruption of intellectual development, language

disturbance, autism spectrum disorder and a child without concrete

diagnosis, which highlights the involuntary muscle movements,

without impairment of cognitive development.

The results showed that the adjusted book was structuring and

facilitating the communication, compared to the book in its original

version. The behavioral and communicative reaction of children,

compared to the adapted book, was greater participation and dynamic,

relatively to the reactions to the book in the original format.

Given the results, we can not expect that there are materials adapted to

disturbances that there are being only in investigations.

Comparatively to the results, it can not be expected that there are

materials adapted for children with some kind of disturbance only in

research, it is vital to create opportunities and to promote equality,

adapting books accessible using materials suitable to the capabilities /

needs and to enable all children developed their potential.

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Key words: augmentative and alternative communication, inclusion,

inclusive reading and adapted book

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Índice Agradecimentos .................................................................................................................. iii

Resumo ...............................................................................................................................v

Abstract ............................................................................................................................. vii

Índice ................................................................................................................................. ix

Índice de Figuras ............................................................................................................... xiii

Índice de Tabelas................................................................................................................ xv

Índice de Gráficos ............................................................................................................ xvii

Abreviaturas, Siglas e Acrónimos ....................................................................................... xix

Introdução ...........................................................................................................................1

Capítulo I – Enquadramento Teórico .....................................................................................5

1 - Perturbação do Desenvolvimento Intelectual .................................................................5

1.1 - Prevalência ...........................................................................................................6

1.2 - Caraterísticas.........................................................................................................6

1.3 - Causas ..................................................................................................................8

1.4 - Desenvolvimento e curso .......................................................................................9

1.5 - Intervenção ...........................................................................................................9

2 – Perturbação da linguagem ..........................................................................................10

2.1 - Perspetiva histórica..............................................................................................10

2.2 - Prevalência .........................................................................................................11

2.3 - Caraterísticas.......................................................................................................11

2.4 - Causas ................................................................................................................13

2.5 - Desenvolvimento e Curso ....................................................................................14

2.6 - Intervenção .........................................................................................................14

3 - Perturbação do Espectro do Autismo...........................................................................16

3.1 - Perspetiva Histórica .............................................................................................16

3.2 - Prevalência .........................................................................................................17

3.3 - Caraterísticas.......................................................................................................18

3.4 - Causas ................................................................................................................22

3.5 - Desenvolvimento e Curso ....................................................................................22

3.6 - Intervenção .........................................................................................................23

Capítulo II – Comunicação Alternativa e Aumentativa ..........................................................27

1 - Tecnologias de Informação e Comunicação .................................................................27

2 - Tecnologias de Apoio – Produtos de Apoio .................................................................28

2.1 - Produtos de Apoio ...............................................................................................29

3 - Comunicação Aumentativa e Alternativa .....................................................................31

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4 - Literatura ..................................................................................................................35

4.1 - Livros adaptados .................................................................................................36

5 - O Jogo Educativo ......................................................................................................39

5.1 - Domínios do Desenvolvimento através do Jogo .....................................................41

5.2 - O Jogo segundo Piaget e Vygotsky .......................................................................42

5.3 - Jogos Digitais ......................................................................................................44

5.4 - Jogos Didáticos Manipuláveis ..............................................................................44

6 - Educação Alimentar ...................................................................................................48

Capítulo III – Metodologia da Investigação ..........................................................................50

1 - Questão de investigação e objetivos do estudo .............................................................50

1.1 - Questões de investigação .....................................................................................50

1.2 – Objetivos do estudo.............................................................................................50

2 - Metodologia da Investigação ......................................................................................51

2.1 - Investigação Qualitativa .......................................................................................51

2.2 - Estudo de Caso....................................................................................................52

3 - Técnicas e instrumentos de recolha de dados ...............................................................53

4 - Técnicas e instrumentos de análise de dados ................................................................55

Capítulo IV – Projeto..........................................................................................................56

1 - Caraterização do contexto ..........................................................................................56

2 - Caraterização dos participantes ...................................................................................57

2.1 - Caraterização do M..............................................................................................57

2.2 - Caraterização do R ..............................................................................................58

2.3 - Caraterização do X ..............................................................................................59

2.4 - Caraterização do P ...............................................................................................61

3 – Procedimentos ..........................................................................................................62

3.1 – Adaptação de obras em SPC ................................................................................62

3.2 – Implementação da leitura das obras ......................................................................63

4 – Análise e interpretação dos dados ...............................................................................65

4.1 – Caso 1 – Criança M.............................................................................................65

4.2 – Caso 2 – Criança R .............................................................................................69

4.3 – Caso 3 – Criança X .............................................................................................73

4.4 – Caso 4 – Criança P ..............................................................................................76

Conclusões ........................................................................................................................82

Recomendações para estudos futuros ...................................................................................84

Referências Bibliográficas ..................................................................................................86

Anexo 1 – Autorizações dos Pais das Crianças .................................................................95

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Anexo 2 - Síndrome de DiGeorge ....................................................................................99

Anexo 3 - Síndrome de West ......................................................................................... 101

Anexo 4 – Notas de Campo e Diários de Bordo .............................................................. 105

Anexo 5 – Livro Original .............................................................................................. 119

Anexo 6 – Livro Adaptado para SPC ............................................................................. 129

Anexo 7 – Fotografias dos materiais utilizados para os jogos ........................................... 146

Anexo 8 – Fotografias do Jogo Manual .......................................................................... 148

Anexo 9 – Diapositivos do Jogo Digital ......................................................................... 150

Anexo 10 – Fotografias das Crianças ............................................................................. 158

Anexo 11 – Material completo no seguimento da investigação......................................... 160

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Índice de Figuras

Figura 1 – Rato trackball ................................................................................................28

Figura 2 – Ecrã tátil .........................................................................................................29

Figura 3 – Sistema Bliss ..................................................................................................32

Figura 4 – Sistema SPC - Símbolos Pictográficos para a Comunicação ........................32

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Índice de Tabelas

Tabela 1 – Tipos de jogos segundo Piaget.......................................................................41

Tabela 2 – Resposta individual do M em novembro durante a implementação da obra

não adaptada para SPC ....................................................................................................63

Tabela 3 – Resposta individual do M em janeiro durante a implementação da obra

adaptada para SPC ...........................................................................................................65

Tabela 4 – Resposta individual do R em novembro durante a implementação da obra

não adaptada para SPC ....................................................................................................68

Tabela 5 – Resposta individual do R em janeiro durante a implementação da obra

adaptada para SPC ...........................................................................................................69

Tabela 6 – Resposta individual do X em novembro durante a implementação da obra

não adaptada para SPC ....................................................................................................72

Tabela 7 – Resposta individual do X em janeiro durante a implementação da obra

adaptada para

SPC………………………………………………………………………73

Tabela 8 – Resposta individual do P em novembro durante a implementação da obra

não adaptada para

SPC………………………………………………………………………76

Tabela 9 – Resposta individual do P em janeiro durante a implementação da obra

adaptada para

SPC……………………………………………………………………………….. 77

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Índice de Gráficos

Gráfico 1 – Comparação de respostas e evolução do M..................................................66

Gráfico 2 – Comparação de respostas e evolução do R...................................................70

Gráfico 3 – Comparação de respostas e evolução do X ..................................................74

Gráfico 4 – Comparação de respostas e evolução do P ...................................................78

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Abreviaturas, Siglas e Acrónimos

ASHA - American Speech-Language-Hearing Association

BLISS – Sistema de Comunicação Bliss

CID – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

CRID – Centro de Recursos para a Inclusão Digital

DSM – V – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 5º Edição

EUA – Estados Unidos da América

NEE – Necessidades Educativas Especiais

ONU – Organização das Nações Unidas

PEA – Perturbação do Espectro do Autismo

PEI – Plano Educativo Individual

QI – Quociente de Inteligência

SPC – Símbolos Pictográficos de Comunicação

TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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Introdução

Comunicar é vital para o desenvolvimento do ser humano, para a manutenção da

sua saúde e do seu bem-estar, assumindo a linguagem oral o privilégio das expressões e

do relacionamento com os outros. Comunicar é um processo dinâmico, requer uma

interação com o exterior, necessita de ter razões para o fazer, pressupondo a intenção de

provocar algum efeito no outro. O Homem transporta em si potencialidades para

responder aos estímulos humanos e a fala, para a maioria dos indivíduos surge como

algo inato através do qual se comunicam sentimentos, informações, conhecimentos;

aprendem o significado dos objetos, das expressões faciais, dos gestos e falas. A

comunicação está relacionada com todas as áreas do desenvolvimento pois exige uma

complexa combinação de competências cognitivas, sensoriais, sociais e motoras.

Grande parte dos conhecimentos adquiridos pelas crianças realiza-se através das

interações com os outros, do que lhes é explicado, mas também mostrado e dito. A sua

verdadeira dimensão é mais evidente quando, por alguma razão, essa comunicação tem

dificuldade em acontecer.

Comunicar é um processo que envolve respeito, partilha e compreensão mútua e,

quando este processo se encontra comprometido, influência as relações sociais, o

desenvolvimento e autonomia do indivíduo. Daí que seja fundamental proporcionar a

quem tem problemas de comunicação meios para se expressar melhorando assim a sua

qualidade de vida, autoestima e autonomia.

Em janeiro de 2008, o Ministério da Educação introduz uma profunda reforma

na organização da Educação Especial em Portugal, com a publicação do Decreto-Lei

n.º3/2008 de 7 janeiro. Com este decreto, o governo pretende legislar o

desenvolvimento da Escola Inclusiva, consagrado o princípio de equidade de

oportunidades. Esta igualdade assenta num sistema de práticas educativas recorrendo a

diferentes tipos de estratégias que atentem às caraterísticas e necessidades dos alunos. O

apoio deve implicar a adaptação de estratégias, recursos, conteúdos, processos,

procedimentos e instrumentos e, quando necessário, a utilização de tecnologias de

apoio. Deste modo, as medidas não correspondem somente aos alunos, mas também a

mudanças no contexto escolar, onde os professores e educadores assumem um papel

preponderante.

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Anteriormente, em 1994, as Nações Unidas assinaram a Declaração de

Salamanca onde definiram que:

“toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de

aprendizagem que são únicas […] aqueles com necessidades educacionais especiais

devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia

centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades” (p. viii).

Assim, os currículos devem ser adaptados às necessidades individuais de cada

criança, considerando os estilos e ritmos de aprendizagem, existindo oportunidades

curriculares que sejam apropriadas à criança com habilidades e interesses diferentes.

A escolha do tema do projeto intitulado “A Importância do Livro Adaptado em

Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências em

Crianças com Perturbações na Comunicação” assenta em três pilares, nomeadamente, a)

a consciência de que é necessário criar condições que permitam que todos tenham

acesso à informação e conhecimento, independentemente das suas condições físicas,

psíquicas, económicas e sociais, como está previsto na Declaração de Salamanca (1994)

e no Decreto-Lei n.º 3/2008, b) a necessidade de dar uma resposta particularizada e

distinta aos indivíduos que apresentem dificuldades na comunicação oral, c) e a

verificação de escassos materiais adaptados, nomeadamente de livros adaptados em

Símbolos Pictográficos de Comunicação.

O que motivou a realização deste projeto assenta exatamente nestes pilare s, o

desejo de ajudar na melhoria da qualidade de vida de pessoas, em especial de crianças

da educação pré-escolar, com perturbações na comunicação oral. A escolha de realizar

este projeto com crianças da educação pré-escolar, também se deve a razões pessoais da

investigadora, visto esta ser educadora de infância. Se este projeto ajudar um pouco uma

criança, será uma grande satisfação pessoal.

Foi com base nestes propósitos que foram definidos os objetivos do projeto. O

projeto tem como objetivo geral a adaptação de um livro infantil em Sistema

Pictográfico para a Comunicação e, através de um jogo de formato acessível, explorar e

comparar o efeito do livro adaptado no conjunto de participantes com perturbações na

comunicação oral.

Desde modo definiu-se como objetivos específicos, a) adaptar uma obra literária

infantil pertencente ao Plano Nacional de Leitura da Educação Pré-Escolar, adotado

pelo Ministério da Educação, b) analisar se o livro adaptado, com signos do Sistema

Pictográfico para a Comunicação, é estruturador e facilitador da comunicação e

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compreensão, em comparação com o livro na versão original, c) verificar se, através de

um jogo, o livro adaptado, com signos do Sistema Pictográfico de Comunicação, é

facilitador da comunicação e compreensão da história.

O referido projeto baseou-se no pressuposto que as crianças com algum tipo de

perturbação na comunicação oral poderão ter sucesso, caso tenham acesso a obras

adaptadas em função das suas necessidades.

“Estou consciente que o termo “sucesso” não significa que todos os alunos atinjam os

objetivos do currículo comum – ainda que uma percentagem muito significativa o possa

fazer -, mas sim que todos os alunos tenham o maior número possível de oportunidades

de maximizar o seu potencial, sejam quais forem as suas características e necessidades.

Assim sendo, comunga-se da opinião de Kauffman, quando diz que, embora as pessoas

com necessidades educativas especiais não possam fazer certas coisas, “é essencial que

os centremos naquilo que podem fazer” (Correia, 2006, p. 244).

Partindo destes pressupostos e em função dos objetivos definidos e com o apoio

da revisão dos escritos de diversos autores, formulou-se as seguintes questões: a) a

criança demonstrou interesse em ouvir e explorar o livro não adaptado? b) Revelou

vontade em ouvir e explorar o livro adaptado em SPC? c) Separou os alimentos

saudáveis dos não saudáveis? d) A história adaptada ajudou na compreensão e

separação os alimentos saudáveis dos não saudáveis?

Ao longo da execução do projeto, tentou-se atingir os objetivos definidos

respondendo a estas questões, para tal utilizou-se uma metodologia predominantemente

qualitativa, do tipo estudo de caso, que se inicia com um referencial teórico.

Seguindo-se a parte empírica na qual se realizou a adaptação e implementação das obras

infantis, primeiramente a obra original e, numa segunda fase, a mesma obra adaptada,

onde os dados foram recolhidos através de vários instrumentos e técnicas como a

observação direta e participante, observação do vídeo-gravação, as notas de campo e

diário de bordo.

Para facilitar a compreensão, o projeto está organizado em quatro capítulos,

antecipando-se uma introdução.

O primeiro capítulo debruça-se sobre as perturbações das crianças do projeto:

perturbação do desenvolvimento intelectual, perturbação da linguagem e perturbação do

espectro do autismo.

O segundo capítulo está reservado ao enquadramento teórico, abrangendo as

tecnologias de informação e comunicação, tecnologias de apoio, comunicação

aumentativa e alternativa, adaptação de livros, jogos educativos e educação alimentar.

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No terceiro capítulo aborda-se a metodologia, onde se apresentam os objetivos e

questões de investigação, a metodologia e as técnicas e instrumentos de recolha e

análise de dados.

No quarto e último capítulo, apresenta-se a caraterização do contexto e dos

participantes, os procedimentos, a análise de dados individualmente, bem como a

apresentação e discussão de resultados.

Finalmente, encontram-se as conclusões, onde também foram incluídos os

constrangimentos dos estudos, as recomendações e aplicações práticas do trabalho.

Em último lugar, inclui-se a lista ordenada das referências bibliográficas dos

documentos oficiais citados ao longo do trabalho, seguindo-se os anexos que poderão

auxiliar a compreensão de determinados aspetos abordados ao longo do projeto.

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Capítulo I – Enquadramento Teórico

Neste capítulo, apresenta-se uma breve descrição das perturbações das crianças

presentes neste estudo: perturbação do desenvolvimento intelectual, perturbação da

linguagem e perturbação do espectro do autismo. Apesar de serem quatro crianças com

perturbações diferentes presentes no estudo, nesta fase, não é possível fazer a

caraterização da perturbação de uma das crianças, visto que não tem diagnóstico

concreto, é uma criança que está em estudo e a ser analisada por vários especialistas.

A caraterização de cada perturbação terá por base o Manual de Diagnóstico e

Estatística das Perturbações Mentais (DSM-V), publicado pela American Psychiatric

Association, chegado a Portugal em 2013.

Dentro de cada perturbação, encontrar-se-á a perspetiva histórica onde será

abordado sucintamente quando foi diagnosticada pela primeira vez cada uma das

perturbações, excetuando-se a perturbação do desenvolvimento intelectual sobre a qual

não se encontrou informação; prevalência; principais caraterísticas; causa ou possíveis

causas que originam a perturbação; desenvolvimento e curso, com a identificação de

alguns sintomas e, finalmente, a intervenção que habitualmente é feita junto destas

crianças.

1 - Perturbação do Desenvolvimento Intelectual

O termo incapacidade intelectual é usado para descrever uma criança cujo nível

de funcionamento intelectual e capacidades adaptativas se encontram significativamente

abaixo da média em comparação com crianças com a mesma idade cronológica. Os

níveis de gravidade são definidos baseando-se no funcionamento adaptativo e não nos

valores de QI, já que é o funcionamento adaptativo que determina qual o nível de

suporte requerido (Paasche, Gorrill, Strom, 2010; APA, 2013).

Segundo o DSM-V (APA, 2013), as áreas de desenvolvimento afetadas incluem os

domínios: a) conceptual, b) social e c) prático. Podem, ainda, incluir competências de

interação social, emocionais, comunicacionais, físicas e/ou académicas e funcionais,

cuidados pessoais, autonomia, autogestão, saúde e segurança (Correia, 2008; APA,

2013).

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Não é possível classificar de forma homogénea um grupo de pessoas com

perturbação do desenvolvimento intelectual, pois manifesta, como características, um

conjunto de patologias com diferentes graus de gravidade (Rocha, 2014).

1.1 - Prevalência

“A incapacidade intelectual tem uma prevalência global na população geral de

aproximadamente 1% e as taxas de prevalência variam com a idade” (APA, 2013). Os

homens têm maior probabilidade de ter o diagnóstico de incapacidade intelectual do que

as mulheres, tanto na forma ligeira (1,6 homens para 1 mulher) como na grave (1,2

homens para 1 mulher). A prevalência de incapacidade intelectual grave é de

aproximadamente 6 em cada 1000 pessoas.

1.2 - Caraterísticas

“A perturbação do desenvolvimento intelectual é uma perturbação com início durante o

período de desenvolvimento que inclui défices de funcionamento intelectual a adaptação

nos domín ios conceptual, social e prático” (APA, 2013, p. 38).

Para que haja o diagnóstico de incapacidade intelectual existem três critérios que

têm de ser cumpridos: a) défices nas capacidades mentais gerais, b) prejuízo no

funcionamento adaptativo diário, comparando com os pares da mesma idade

cronológica, género e contexto sociocultural e c) o início dos défices intelectuais e

adaptativos têm de aparecer durante o período de desenvolvimento (APA, 2013).

O Critério A refere-se a défices em funções intelectuais envolvendo o raciocínio

(percetivo e quantitativo), resolução de problemas, planeamento, pensamento abstrato,

memória de trabalho, discernimento, eficácia cognitiva, aprendizagem académica, a

aprendizagem pela instrução e aprendizagem pela experiência e compreensão prática. O

funcionamento intelectual é confirmado tanto por avaliação clínica como por testes de

inteligência individualizados e estandardizados das funções intelectuais e adaptativas.

O Critério B refere-se, em comparação com pares da mesma idade e contexto

sociocultural semelhante, a défices em atingir os padrões de funcionamento adaptativo

na comunidade e desenvolvimento, independência pessoal e responsabilidade social.

Estes “défices adaptativos limitam o funcionamento numa ou mais atividades da vida

diária, como comunicação, participação social e subsistência independente, em

múltiplos ambientes, como casa, escola, trabalho e comunidade” (APA, 2013, p. 38). O

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funcionamento adaptativo envolve o raciocínio adaptativo em três domínios: a)

conceptual, b) social e c) prático. Este funcionamento é influenciado pela capacidade

intelectual, motivação, socialização, educação, caraterísticas pessoais, experiências

culturais e condições médicas gerais.

O domínio conceptual ou académico envolve competências de memória,

linguagem, leitura, escrita, raciocínio matemático, aquisição de conhecimentos práticos,

resolução de problemas e julgamento de novas situações (APA, 2013). Os primeiros

objetivos de desenvolvimento são, em geral, atingidos mais tarde e o ritmo de

aprendizagem da criança é muito mais lento do que o das outras crianças com a mesma

idade. As competências comunicativas são limitadas, a linguagem pode ser praticamente

inexistente, reduzida a algumas palavras ou fonemas, ou ser funcional e percetiva,

identificando-se ligeiras dificuldades. A criança tem dificuldade em reter informação e

em dedicar muito tempo às atividades, devido ao curto período em que consegue estar

atenta. Algumas crianças podem manifestar algumas caraterísticas físicas: falta de

equilíbrio, dificuldades de locomoção, de coordenação e de manipulação (Reis, 2010).

As capacidades motoras globais e finas revelam, em geral, um desenvolvimento tardio.

A criança raramente inicia ou contribui com ideias novas para as atividades lúdicas.

O domínio social envolve consciência dos pensamentos, sentimentos e

experiências dos outros, empatia, capacidades de comunicação interpessoal, capacidade

de amizade e discernimento social, autogestão do comportamento, das emoções ou das

relações interpessoais (APA, 2013). O comportamento socio emocional demonstra

algum atraso e o isolamento, que tem tendência para existir e pode levar a estereotipias

frequentes sob a forma de balanceamento, descargas agressivas, grande impulsividade e

automutilações (Marcelli, 2005).

O domínio prático envolve a aprendizagem de autogestão através dos contextos

de vida, incluindo os cuidados pessoais, avaliação de riscos, as responsabilidades

laborais, a gestão de dinheiro, a recriação e autogestão do comportamento e organização

de tarefas escolares e laborais (APA, 2013).

“Os indivíduos com incapacidade intelectual, particularmente aqueles com incapacidade

intelectual mais grave, podem também exib ir agressividade e comportamentos

disruptivos, incluindo danos a outros ou destruição de propriedade” (APA, 2013, p. 46).

Pessoalmente, demonstram ansiedade, falta de autocontrolo, tendência para

evitar situações de fracasso mais do que para procurar o êxito, possível existência de

perturbação da personalidade (Reis, 2010). A criança é, muitas vezes, incapaz de seguir

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rotinas simples, as mudanças dessa rotina e a gestão de situações novas é, geralmente,

muito confusa e perturbadora para estas crianças. A criança muitas vezes não está

consciente do espaço que a rodeia e/ou simplesmente não explora o seu ambiente e pode

exibir menos capacidades de resolução de problemas e/ou gestão de situações.

“Para cumprir os critérios de diagnóstico de incapacidade intelectual, os défices

no funcionamento adaptativo devem estar diretamente relacionados com os défices

intelectuais descritos no Critério A” (APA, 2013, p. 43).

O DSM-V define quatro graus de gravidade: ligeira, moderada, grave e profunda

(APA, 2013). No grau ligeiro (QI entre 50 a 75), os indivíduos registam uma maior

lentidão em assimilar informação e em aprender competências académicas, conseguindo

ser autónomos na fase adulta. No grau moderado (QI entre 35 a 55), com um

diagnóstico e intervenção precoces, a maioria consegue desempenhar tarefas a vários

níveis com supervisão. No grau grave (QI entre 20 a 40), necessitam quase sempre de

supervisão, no entanto, consegue desempenhar tarefas de higiene pessoal e dominar

algumas competências de comunicação. No grau profundo (QI entre 20 a 25) com muito

apoio, conseguem desempenhar tarefas básicas de higiene pessoal. Normalmente, estes

indivíduos sofrem de perturbações neurológicas e requerem um elevado grau de

supervisão.

1.3 - Causas

Geralmente, é difícil apontar uma única causa para a incapacidade intelectual.

As “lesões ou doenças podem ocorrer antes ou depois do nascimento, assim como as

condições ambientais pré ou pós-natais que afetam o desenvolvimento do feto ou da

criança” (Paasche, Gorrill, Strom, 2010, p. 34).

As causas podem ser originadas por alterações cromossomáticas ou genéticas,

podendo existir algumas caraterísticas físicas (por exemplo, Trissomia 21) (APA, 2013).

As condições pré-natais e perinatais devem-se, não raras vezes, pela ingestão excessiva

de álcool durante as doze primeiras semanas de gravidez (Rocha, 2014). As formas

adquiridas, através de lesões ou doenças na infância, podem advir de uma doença como

meningite, encefalite ou traumatismo craniano, onde o início pode ser abrupto e ocorre

durante o período de desenvolvimento da criança (APA, 2013). Podem ser

diagnosticados com incapacidade intelectual e perturbação neuro cognitiva os casos em

que a perda de capacidades cognitivas é previamente adquirida (APA, 2013). Os fatores

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ambientais devem-se à falta de estímulos físicos e intelectuais, por parte dos adultos,

para um desenvolvimento normal da criança.

1.4 - Desenvolvimento e curso

Nos casos em que a incapacidade intelectual é mais grave, os primeiros sintomas

podem ser identificados nos dois primeiros anos de vida. Sendo esses sintomas

identificáveis ao verificar-se atrasos em atingir marcos do desenvolvimento motor,

linguístico e social em comparação com outras crianças da mesma idade cronológica

(APA, 2013). Os casos de nível mais ligeiro podem ser identificados na idade escolar,

quando aparecem as primeiras dificuldades de aprendizagem académica. A idade e os

aspetos caraterísticos iniciais dependem da etiologia e gravidade da disfunção cerebral.

1.5 - Intervenção

Embora os graus de gravidade da perturbação do desenvolvimento intelectual

possam variar ao longo do tempo, podem verificar-se melhorias significativas no

funcionamento intelectual, de tal forma que o diagnóstico de incapacidade intelectual

deixa de ser apropriado (APA, 2013). Embora os graus de gravidade possam variar, a

incapacidade intelectual, em geral, não é progressiva, excetuando-se certas perturbações

genéticas (por exemplo: Síndrome de Rett), onde existem períodos de agravamento

seguidos de estabilização e, noutros em que o agravamento do funcionamento

intelectual é progressivo (por exemplo: Síndrome de Sanfillippo) (APA, 2013). O

funcionamento intelectual pode ser influenciado por condições médicas ou genéticas

subjacentes ou condições concomitantes (por exemplo: epilepsia).

A intervenção precoce e contínua realizada com crianças com perturbação do

desenvolvimento intelectual pode melhorar o funcionamento adaptativo ao longo da

infância e da idade adulta (APA, 2013).

A criança com incapacidade intelectual deve relacionar-se com crianças cujos

comportamentos e capacidades adaptativas têm um nível de desenvolvimento adequado

à idade, pois permite adquirir importantes competências sociais e adaptativas, através da

observação e interação (Paasche, Gorrill, Strom, 2010). Ao falar com uma criança com

incapacidade intelectual, as frases devem ser curtas com vocabulário simples; as

instruções verbais deverão ser consistentes e breves; demonstrar e repetir

frequentemente qualquer que seja o processo que a criança necessite de aprender e

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encorajar através de perguntas para repetir instruções. O adulto deve determinar os

pontos fortes da criança e quais as áreas que necessitam de maior apoio e tentar usar

esses mesmos pontos fortes para ajudar a criança a ultrapassar os seus pontos menos

fortes. Antes de apresentar uma atividade é fundamental conseguir a atenção total da

criança e quando esta atividade é nova é igualmente importante que seja repetida e

praticada. Dividir em tarefas sequenciais de aprendizagem, executando uma etapa do

processo de cada vez até que a criança demonstre que cumpriu os objetivos da

sequência de aprendizagem. Sempre que possível, recorrer a experiencias

multissensoriais, pistas visuais e táteis, para apoiar as instruções orais e incentivar o uso

de capacidades de autonomia pessoal e reforçar positivamente sempre que a criança é

bem sucedida.

2 – Perturbação da linguagem

A fala é o modo de comunicação mais utilizado, ainda que seja possível

comunicar sem esta linguagem e a sua principal função é facilitar as relações do

individuo com o seu meio envolvente (Bautista, 1997).

Os problemas de comunicação dizem respeito aos problemas da fala e da

linguagem e estes estão ligados à voz, à articulação dos sons e à fluência. As

perturbações podem envolver: a forma da linguagem (fonologia, morfologia e sintaxe),

o conteúdo da linguagem (semântica) e função comunicativa da linguagem em qualquer

combinação (pragmática) (Correia, 2008).

2.1 - Perspetiva histórica

Os primeiros estudos sobre a comunicação verbal oral e a tentativa de

classificação dos sons da fala iniciaram-se no século VI antes de Cristo na Índia,

seguindo-se da Grécia (de entre eles Hipócrates e Aristóteles). A maior parte das

descrições sobre perturbações da linguagem surgem em 1861 com as hipóteses de Paul

Pierre Broca sobre a localização cerebral responsável pela fala (Bacelar, 2013).

Ao longo dos tempos os termos utilizados para designar as perturbações da

linguagem foram sofrendo modificações, alterando assim, os seus significados. Na

década de 70, usava-se apenas o termo articulação, sendo que as dificuldades de fala

eram tidas como uma perturbação funcional da mesma. Na década de 80 surgem os

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conceitos de dificuldades articulatórias e dificuldades fonológicas. Entre 1980 e 1990,

as expressões perturbação articulatória e perturbação fonológica eram utilizadas

frequentemente como sinónimos; posteriormente, alterações na produção de fala eram

caracterizadas como uma dificuldade fonológica ou dificuldade articulatória, sendo que

nesta altura valorizava-se mais a fonologia (Oliveira, 2013).

Atualmente, a perturbação da linguagem é entendida como uma “dificuldade

persistente na produção do som da fala que interfere com a inteligibilidade da fala ou

impede a comunicação verbal de mensagens “ (APA, 2013, p. 50).

2.2 - Prevalência

“A prevalência das perturbações de linguagem e fala varia entre 1% e 25% nos vários

estudos, mas se forem considerados os estudos de revisão da literatura mais recentes

(Law, et. al., 2000; McLeod e Harrison, 2009) observa-se que a percentagem de crianças

com perturbações de fala e linguagem ronda os 6%” (Oliveira, 2013, p. 4).

Atualmente, surgem vários estudos internacionais que revelam diferentes

percentagens de ocorrência das perturbações da linguagem. As perturbações

articulatórias e fonológicas são as que ocorrem em maior número junto das crianças,

podendo influenciar a nível social e escolar, se não forem diagnosticadas

atempadamente.

Em Portugal, existem poucos estudos que permitam apurar qual a percentagem

de perturbações da linguagem, no entanto, demonstram uma maior prevalência nas

perturbações fonológicas.

2.3 - Caraterísticas

O DSM-V (APA, 2013) descreve a perturbação da linguagem como uma

“dificuldade persistente na produção do som da fala que interfere com a inteligibilidade

da fala ou impede a comunicação verbal de mensagens “ (p. 50). As deformações

fonéticas estão mais concentradas nas consoantes do que nas vogais (Marcelli, 2005),

sendo que os sons [p], [b] e [m] tendem a ser os primeiros a ser aprendidos, enquanto os

sons [l], [r], [lh], [s], [z], [ch] são mais tarde adquiridos e produzidos (APA, 2013). A

classificação das consoantes é feita através do ponto de articulação, o modo de

articulação, o vozeamento e a nasalidade. Já a classificação das vogais é feita através da

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região de articulação, do grau de abertura, da intensidade, da posição labia l e da

nasalidade.

As crianças, na sua maioria, são capazes de comunicar oralmente antes dos três

anos e deverão ser capazes de articular claramente a maioria das palavras com precisão

por volta dos sete anos (Paasche, Gorrill, Strom, 2010; APA, 2013). “As crianças com

dificuldades nos sons da fala podem experienciar dificuldades no conhecimento

fonológico dos sons da fala ou na capacidade de coordenar movimentos para a fala em

graus variáveis” (APA, 2013, p. 51).

Para ser capaz de falar, é necessário conhecimentos fonológicos da fala,

capacidade de coordenar os movimentos articulatórios (mandíbula, língua e lábios), bem

como a respiração e a vocalização para a fala.

“O aparecimento de movimentos e o seu controlo ocorrem numa direção cefa lo-caudal e

próximo-distal, passam de simples e desorganizados a organizados e complexos, não

sendo um processo linear, havendo períodos de equilíbrio e desequilíbrio” (Willrich et.

al., 2008, cit. in Bacelar, 2013, p.5).

Deste modo “uma perturbação do som da fala é diagnosticada quando a produção do

som da fala não é a esperada para a idade da criança e a fase de desenvolvimento e

quando os défices não são resultado de uma deficiência física, estrutural, neurológica ou

auditiva” (APA, 2013, p. 51).

Estudos efetuados por Weir (1971, cit. in Richelle, 1976, cit. in Pinheiro, 2012)

sobre a aquisição do sistema fonológico, com crianças de diferentes meios linguísticos,

parece poder afirmar-se que a atividade vocal da criança é influenciada pela língua da

comunidade, a partir dos seis meses de idade; entre os nove e os dezoito meses a

diferenciação dos fonemas específicos da língua é rápida e progressiva, embora não seja

ainda perfeita e, por volta dos cinco anos de idade, a criança começa a conseguir

dominar o sistema fonético no seu conjunto.

As crianças com perturbações do som da fala podem manter a boca aberta,

muitas vezes respirando através da mesma; ter infeções frequentes do trato respiratório

superior e ouvidos; sentirem-se facilmente frustradas, batendo os pés e piscando os

olhos; manter pouco contacto visual; ter uma coordenação motora pobre; não ter

balbuciado quando era bebé (Paasche, Gorrill, Strom, 2010).

A nível da articulação dos sons da fala, os sintomas podem incluir: omissões, por

exemplo “ato” em vez de “gato”; substituições, nomeadamente “paiaço” em vez de

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“palhaço”; distorções “chopa” em vez de “sopa”, adições, inversões e sons irrelevantes.

(Paasche, Gorrill, Strom, 2010).

A voz da criança pode ser invulgar devido a) à qualidade, podendo ser rouca,

anasalada, sussurrada, b) à altura tonal, verificando-se monótona, demasiado aguda ou

grave, c) à intensidade/volume, sendo demasiado alta ou suave (Paasche, Gorrill, Strom,

2010).

Quanto à fluência (ritmo), a criança pode exibir hesitações, repetições;

prolongações e bloqueios quando tenta falar, tais como balbuciar, gaguejar.

As perturbações da linguagem podem ser divididas em perturbação articulatória,

atraso fonológico, perturbação fonológica consistente, perturbação fonológica

inconsistente e dispraxia (Oliveira, 2013). A perturbação articulatória é definida como

uma incapacidade para produzir, de forma adequada, um fonema ou conjunto de

fonemas específicos. O atraso fonológico é caracterizado pelo uso de padrões de erro

regulares que ocorrem no desenvolvimento típico, mas numa idade em que isso já não é

esperado. A perturbação fonológica consistente, quando a criança usa, para além dos

processos fonológicos típicos, processos fonológicos que não são frequentes no

desenvolvimento fonológico normal (processos atípicos). A perturbação fonológica

inconsistente é caracterizada por um défice no planeamento fonológico, ou seja,

dificuldades ao nível da seleção e sequenciação dos fonemas. O padrão de fala das

crianças com dispraxia é marcado por procura do ponto de articulação, omissões de sons

e sílabas, alterações na prosódia, inconsistência nas pausas do discurso, melhor

desempenho na produção espontânea do que na imitação.

2.4 - Causas

Estas deficiências nem sempre são atribuíveis a paralisia cerebral, fenda

palatina, surdez ou perda auditiva, lesão cerebral traumática ou outras condições

médicas ou neurológicas. Quando se verificam dificuldades de coordenação dos

articuladores e musculatura facial pode existir um atraso ou perturbação em habilidades

como o mastigar, manter a boca fechada e assoar o nariz (APA, 2013).

Quando existe perturbações na articulação, na maioria das vezes, há alterações

anatómicas, mas nem sempre existe lesão orgânica associada e também podem estar

presentes problemas de ordem de sequência e de aprendizagem motora bem como

alterações auditivas e/ou percetivas (Bacelar, 2013).

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Frequentemente, esta dificuldade pode dever-se a uma alteração anatómica, por

exemplo freio da lingual curto, má oclusão dentária, fenda do palato, hipotonia dos

órgãos articuladores, ou pode até mesmo ser provocada por hábitos orais nocivos.

Em suma, a perturbação da linguagem também pode ocorrer em crianças sem

qualquer alteração estrutural nos órgãos articuladores.

2.5 - Desenvolvimento e Curso

Os primeiros sintomas acontecem no início do período de desenvolvimento,

onde aprender a produzir sons da fala de forma precisa e fluente são habilidades desse

desenvolvimento da criança (APA, 2013).

“A articulação dos sons da fala segue um padrão do desenvolvimento, o qual é refletido

nas normas de idade dos testes estandardizados. Não é incomum as crianças co m

desenvolvimento típico usarem processos de desenvolvimento para encurtar palavras e

sílabas à medida que aprendem a falar, mas a sua progressão em dominar a produção de

sons da fala deve resultar numa fala maioritariamente inteligível aos 3 anos de idade”

(APA, 2013, p. 51).

Nas crianças com desenvolvimento típico, com dois anos apenas 50% pode ser

compreensível, porém, aos quatro anos a fala deve ser globalmente inteligível. As

crianças com perturbações no som da fala prolongam os processos imaturos de

simplificação fonológica após a idade em que a maior parte das crianças produz

palavras de forma clara (APA, 2013).

2.6 - Intervenção

“A maioria das crianças com perturbações do som da fala responde bem ao

tratamento e as dificuldades na fala melhoram com o tempo, assim, pode não ser para

toda a vida” (APA, 2013, p. 52).

Para melhor adequar os tratamentos e estratégias de atividades a desenvolver

com a criança é necessário recolher, antecipadamente, informações relativas a desvios

anatómicos. A existência de dificuldades de coordenação motoras e sensoria is, ao

desenvolvimento da linguagem (por exemplo, averiguar se houve atraso na aquisição

dos grandes marcos da linguagem) e a fatores ambientais (por exemplo, a língua

materna dos pais, idade dos pais, fatores emocionais) ou evolutivos. Para além destes

aspetos, é necessário identificar-se os erros articulatórios propriamente ditos.

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É fundamental ter em conta que, para aprender a comunicar, as crianças

necessitam de ter um ambiente rico em experiências, sentir necessidade ou desejo de

comunicar e de ter acesso a trocas verbais e não verbais, ouvindo os outros a falar e

tendo oportunidades para repetir ou imitar palavras e pequenas frases que ouvem, é

importante lembrar que a linguagem adquire-se através do prazer e da relação com os

outros.

Diversos autores (Paasche, Gorrill, Strom, 2010; Roldão, Ramos e Baião, 2001)

propõem um leque alargado de sugestões e estratégias para fazer com que a criança com

perturbações da linguagem. O adulto deve incentivar a criança a expressar-se oralmente,

não deve interromper, nem pressionar a criança, deve dar tempo a esta para falar e se

expressar adequadamente, e não antecipar nem interromper a criança. O adulto fica

incumbido de estimular a criança a produzir sons diferentes dos que habitualmente

produz, encorajando a imitação recíproca; aquando de produções incorretas da criança,

o adulto deve reformular o que esta pretendia dizer dando um modelo correto, não

imitando os erros e reforçando todas as verbalizações espontâneas e todas as produções

de sons que a criança faz, dando- lhe atenção e respondendo- lhe positivamente. O adulto

serve sempre de modelo para a criança. Deste modo tem de modelar uma pronúncia

correta; olhar para a criança enquanto ela fala e tentar que seja reciproco para ela poder

ver com atenção a forma como o adulto fala e articula lentamente e com movimentos

exagerados as palavras, podendo ainda propor que a criança sinta os lábios e a face do

adulto enquanto este fala.

Outras estratégias que poderão ajudar a criança é através de jogos. Tentar

envolver a criança em atividades que incluam falar, mas que não a façam sobressair de

alguma forma: atividades de faz de conta, jogos que envolvam cantar, uso do fantoche,

ler um livro e jogos de imitação nos quais a criança tem que repetir um som ou uma

palavra, reforçando-o sempre positivamente.

Alguns aspetos de importante consideração são o uso uma linguagem simp les e

expressiva, ajudar a extinguir hábitos orais nocivos (uso de chupeta ou biberão, chuchar

o dedo, roer as unhas) caso existam e valorizar as evoluções da criança.

Torna-se, portanto, necessário que o adulto defina estratégias individualizadas

para cada criança. No momento em que a criança consegue articular o som isolado,

inicia-se o treino articulatório de acordo com uma hierarquia complexa: sílabas,

palavras, frases. O grau de exigência é selecionado de acordo com a idade e as

necessidades específicas de cada criança.

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Bacelar (2013) alerta que a intervenção deve ser eficiente e efetiva antes de

começarem a escola pois as crianças que entram no jardim de infância com perturbação

da linguagem e pobre consciência fonológica apresentam maior probabilidade de terem

problemas de literacia.

3 - Perturbação do Espectro do Autismo

O DSM-V (2013) propõe a designação de Perturbação do Espectro do Autismo

(PEA). Anteriormente eram considerados cinco transtornos, onde cada um tinha o seu

próprio diagnóstico. Atualmente não são considerados diagnósticos distintos, estão

todos incluídos dentro do PEA, exceto a Síndrome de Rett. Esta não está incluída por

ser considerada uma espécie rara de autismo, com caraterísticas distintas do autismo

típico.

Para os investigadores, todas as crianças com PEA têm os mesmos sintomas

essenciais, diferenciando-se os graus de gravidade. Deste modo, existe somente uma

variação de perturbações, onde os especificadores são o grau de gravidade e o nível de

funcionalidade do individuo (APA, 2013). Segundo o DSM-V, uma pessoa com PEA

poder ser diagnosticada com nível 1, 2 ou 3, sendo o nível 1 menos grave e o nível 3 o

mais grave.

“Outra mudança incide sobre os critérios de diagnóstico que são reduzidos apenas a duas

áreas principais: a comunicação e a interação social e comportamento. A equipa que

elaborou o DSM‑ V concluiu que é difícil separar o défice de comunicação do défice

social, uma vez que estas duas áreas se sobrepõem de forma significat iva. A

comunicação é frequentemente utilizada para fins sociais, e o défice de comunicação

pode afetar drasticamente o desempenho social (APA, 2013)” (Brito, 2014, p. 18).

Os atrasos da linguagem deixam de ser um critério de diagnóstico e passam a ser

considerados como facto que influência a manifestação clínica da PEA.

De acordo com o DSM-V, as primeiras manifestações do PEA devem aparecer

antes dos 36 meses de idade e devem comprometer as capacidades do individuo na vida

quotidiana (APA, 2013).

O facto de o autismo ser considerado um espectro e não um grupo de

perturbações distintas, permite a sua identificação precoce (APA, 2013).

3.1 - Perspetiva Histórica

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As primeiras referências encontradas na literatura psiquiátrica remontam ao

século XVIII, onde foram procuradas formas de esquizofrenia infantil com base na

esquizofrenia na fase adulta (Marcelli, 2005) “revelavam uma perda de contacto com a

realidade que se manifestava através de uma fuga ao contacto social, indiferença ao

afeto dos outros e desinteresse face ao exterior por estarem centrados na sua vida

interior” (Reis, 2014, p. 21).

Em 1943, Leo Kanner, médico austríaco, residente nos EUA, apresenta

descrições do autismo, aceites pela comunidade científica, num texto intitulado Autistic

disturbances of affective contact - “Distúrbios autísticos do contacto afetivo”.

Anos mais tarde (1949), Kanner passou a utilizar a designação de “Autismo

Infantil Precoce”, pois acreditava que o comportamento autista se manifestava nos dois

primeiros anos de vida em pequenas dificuldades (Brito, 2014).

Durante duas décadas, acreditou-se que a ausência do carinho da mãe estava na

base do aparecimento do autismo, sendo, assim, uma alteração puramente emocional

(Brito, 2014; Reis, 2014).

Em finais dos anos 70 com a emergência das classificações internacio nais CID

(Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde) e DSM é que o

autismo foi categorizado como uma psicose da infância.

Segundo Jordan (2000), em 1988, Lorna Wing identificou uma tríade de

deficiências que atualmente orientam os critérios de diagnóstico relativo ao espectro das

perturbações ligadas ao autismo: dificuldades de interação social, perturbações na

comunicação e desenvolvimento da imaginação e inflexibilidade de pensamento e

comportamento, tendo interesses rígidos e repetitivos.

3.2 - Prevalência

Estima-se que a prevalência da Perturbação do Espectro do Autismo seja de 10 a

20 em cada 10.000 casos. No entanto, na última década, os valores tendem a aumentar

entre 1 a 1,2 por 1.000 casos. Contudo estes valores podem não refletir um aumento

efetivo, mas um aumento do número de casos identificados. Essa maior identificação

deve-se a uma maior consciencialização do espectro por parte dos clínicos; a existência

de definições mais amplas de autismo; a deteção de casos sem perturbações do

desenvolvimento intelectual e um crescente incentivo ao diagnóstico e intervenção

precoce (Brito, 2014).

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Existe uma maior prevalência do espectro no sexo masculino, três a quatro por

cada caso do sexo feminino. Apenas cerca de um quarto dos autistas tem um quociente

intelectual na zona normal (QI >70) (Marcelli, 2005).

3.3 - Caraterísticas

A perturbação do espectro do autismo é um “distúrbio severo do neuro desenvolvimento

e manifesta-se através de dificu ldades muito específicas na comunicação e na interação,

associadas a dificu ldades em utilizar a imaginação, em aceitar alterações de rotinas e

ligadas à exib ição de comportamentos estereotipados e restritos” (Capucha e Pereira,

2008, p. 5).

As principais caraterísticas da perturbação do espectro do autismo, segundo o

DSM-V (APA, 2013) são: “o défice persistente na comunicação social recíproca e

interação social, e padrões repetitivos de comportamento, interesses ou atividades” (p.

61). Estas caraterísticas encontram-se presentes desde a primeira infância e

comprometem o funcionamento do dia a dia, de acordo com as particularidades do

indivíduo e o meio que o envolve. Os défices verbais e não verbais na comunicação são

variáveis, dependem da idade, do nível cognitivo, capacidade de linguagem e

tratamentos passados e atuais (APA, 2013).

Estas crianças podem manifestar um vasto leque de caraterísticas

comportamentais: hiperatividade, redução da atenção, impulsividade, agressividade,

comportamentos autoagressivos, birras, e ainda, modificações nos hábitos alimentares,

no controlo dos esfíncteres, no sono, no humor, ou no afeto. Verifica-se,

frequentemente, um medo exagerado a objetos inofensivos e total ausência de medo

perante perigos reais (Pires, 2003).

“Os diagnósticos são mais válidos e fiáveis quando baseados em múltiplas fontes

de informação: observação do clínico, história fornecida pelos cuidadores e, quando

possível, autorrelato” (APA, 2013, p. 61)

Na perturbação do espectro do autismo existe uma tríade clínica que permite a

sua caraterização: interação social, comunicação e comportamento. Além desta tríade

existem caraterísticas especificas desta perturbação, nomeadamente: “défices de

processamento sensorial, capacidade de atenção, sequencialização, motivação,

resolução de problemas, memorização, cognição social e linguagem” (Capucha e

Pereira, 2008, p. 12).

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3.3.1 - Dificuldades na interação social

Nos critérios do DSM-V (APA, 2013), estas crianças têm uma partilha reduzida

de interesses, emoções e afetos na relação com o outro, levando a uma grande

dificuldade em fazer amigos e ausência de interesse nos pares. “Sem essas brincadeiras,

a criança com autismo vai ter ainda mais dificuldades em reconhecer os papéis sociais, a

compartilhar interesses e actividades, não sendo capaz de sentir e de representar os

dramas emocionais da vida” (Jordan, 2000, p. 112).

A criança parece alheada do mundo que a rodeia e não é capaz de iniciar uma

conversa e quando o faz, revela-se imprevisível e desadequada (Santos, 2013). Os

indivíduos com PEA “podem ter intactas as capacidades formais de linguagem, no

entanto, a comunicação social recíproca está sempre comprometida, desde uma anómala

aproximação social e fracasso numa conversação normal” (APA, 2013, p. 61). Deste

modo, o individuo demonstra uma falta de prazer espontâneo compartilhado e nos

interesses com as outras pessoas (Santos, 2013). Segundo Paasche, Gorrill, Strom

(2010) estas crianças não demonstram empatia ou consciência dos sentimentos dos

outros, podendo parecer frias e indiferentes.

As crianças com PEA podem ser agressivas com os outros, mostrando-se

incomodadas se sentirem que estão encurraladas, sem hipótese de fugir e ser

autodestrutivas, batendo em si próprias, arranhando-se, mordendo-se, puxando o seu

próprio cabelo, não indicando sinais de dor (Paasche, Gorrill, Strom, 2010).

A criança poderá apoderar-se de objetos que não são seus, mas que são atrativos

para ela. É provável que a criança não tenha desenvolvido o conceito de

posse/propriedade e como tal não considera que esteja a “roubar”. No entanto, poderá

permitir que os colegas lhe tirem os seus objetos. (Paasche, Gorrill, Strom, 2010)

Estas crianças evitam o contacto ocular, que servem para modelar as relações

sociais e revelam défices em descodificar e usar gestos ou emoções, por exemplo:

expressões faciais, posturas corporais e linguagem gestual (APA, 2013).

“As crianças autistas podem não responder quando as chamam, dando a

impressão de que são surdas. Agem desta forma porque têm muita dificuldade em

interagir com outras pessoas, não entendem expressões faciais ou tons de voz” (Araújo,

2008, p. 30). Não conhecem gestos sociais, como acenar ou sorrir, e são incapazes de

identificar pistas sociais e reações não verbais, como franzir a testa (Paasche, Gorrill,

Strom, 2010).

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20

O individuo com autismo apresenta dificuldade em compreender e responder de

forma adequada a diferentes situações com que se depare no ambiente social (por

exemplo, rir quando é repreendido), bem como em selecionar e processar informações

pertinentes (Paasche, Gorrill, Strom, 2010).

3.3.2 - Dificuldades na comunicação verbal e não verbal

O comprometimento da comunicação também é acentuado e persistente,

englobando as habilidades verbais e não verbais. Segundo o DSM-V (APA, 2013), os

défices de linguagem variam desde a completa ausência da fala a um ligeiro atraso,

compreensão pobre da fala, movimentos repetitivos, idiossincráticos e estereotipados na

fala (ecolalia, sem que entenda o seu significado), podendo, ainda, usar uma linguagem

metafórica, só compreendida pelos que conhecem o estilo pessoal de comunicação do

sujeito. Nestes indivíduos, quando conseguem manter um diálogo, existe uma acentuada

incapacidade para iniciar ou manter uma conversação com os outros (Capucha e Pereira,

2008; Santos, 2013).

As crianças com PEA apresentam dificuldade em compreender o significado

literal das palavras e frases; exibem dificuldade em extrair a ideia principal e

dificuldades com palavras abstratas e palavras sobre emoções (Kutscher, 2011). “A

linguagem recetiva pode atrasar-se em relação ao desenvolvimento da linguagem

expressiva na perturbação do espectro do autismo, as habilidades da linguagem recetiva

e expressiva devem ser consideradas separadamente” (APA, 2013, p. 59).

A sua comunicação, a todos os níveis, está diretamente dirigida à satisfação de

necessidades e não à partilha ou troca de informação ou interesses (Elias, 2005, cit. in

Santos, 2013). Esta comunicação pode ser acompanhada de anomalias no discurso como

tom, tensão, cadência, ritmo e entoação da fala.

Lopes (2011) alerta que “na fase primária da linguagem, estas crianças não

apontam nem olham para pedir algo, levam a mão do adulto ao que pretendem, ou vão

elas próprias, buscar o objecto desejado, o que se pode confundir com autonomia (não o

sendo efectivamente)” (p. 20).

Segundo Paasche, Gorrill, Strom (2010), possuem uma estrutura gramatical

imatura, confundem os pronomes pessoais (por exemplo tu, minha, tua) e repetem

publicidades televisivas palavra por palavra.

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21

Verificam-se anomalias na linguagem corporal. Podem ser manifestadas na

ausência ou inadequação dos gestos ou mímicas durante a linguagem oral (Capucha e

Pereira, 2008).

3.3.3 - Padrões repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades

Os indivíduos autistas podem ter movimentos motores repetitivos e

estereotipados, maneirismos motores e verbais, por exemplo sacudir as mãos ou

movimentos complexos de todo o corpo (APA, 2013).

As crianças fazem movimentos repetitivos e estereotipados no uso de objetos

(alinhar brinquedos), podendo ainda exibir uma preocupação persistente com partes de

objetos (Santos, 2013). Uma criança, quando manipula um objeto, explora as suas

propriedades físicas, sem, no entanto, compreender as suas funções (Jordan, 2000). Os

seus principais interesses são interruptores, luz, abrir e fechar portas, ventoinhas

(Paasche, Gorrill, Strom, 2010).

Quando à coordenação motora grossa, apresentam um caminhar sem equilíbrio,

batendo nas coisas ou andar nas pontas dos pés; a coordenação motora fina está

comprometida na utilização de tesouras e lápis, segurando de forma estranha e com

muita força e no apertar dos atacadores (Paasche, Gorrill, Strom, 2010; Kutscher, 2011).

Insistem na monotonia e inflexibilidade nas rotinas ou a rituais específicos e não

funcionais, podendo demonstrar angustia extrema com pequenas mudanças (APA,

2013; Paasche, Gorrill, Strom,2010). As crianças com autismo gostam da uniformidade

e têm interesses específicos, altamente restritos e fixos ou preocupações com tópicos

peculiares (Santos, 2013).

As suas competências de orientação visual/espacial verificam-se na focagem de

detalhes em vez do conjunto e rotulam tudo verbalmente, pois esta é uma forma de

conseguirem processar a informação (por exemplo, contar o número de casas até chegar

à sua própria casa) (Kutscher, 2011). Além das anteriormente referidas, as crianças com

PEA podem ter problemas de perceção espacial de profundidade o que leva a

inconsciência de potenciais perigos (Paasche, Gorrill, Strom, 2010).

São notórias as dificuldades no que se refere à flexibilidade de pensamento e

imaginação. Assim, as crianças têm grande dificuldade em partilhar jogos imaginativos

(APA, 2013), ausência de jogo simbólico e espontâneo com os pares (Capucha e

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Pereira, 2008), ainda que possam imitar ou copiar certos jogos (Santos, 2013). Visto que

têm falta de imaginação, estas crianças realizam sempre os mesmos jogos,

autoestimulando-se e criando um padrão rígido de comportamentos (Santos, 2013)

Demonstram “hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse

incomum por aspetos sensoriais do ambiente” (respostas adversas a sons ou texturas

específicas) (APA, 2013, p. 58) e ainda choros e risos imotivados.

3.4 - Causas

A causa ou causas da perturbação do espectro do autismo permanecem

desconhecidas, cerca de 80%.

Vários autores defendem que existe uma forte componente genética (por

exemplo, síndrome do X frágil) associada ao autismo, “o que se sabe é que o autismo é

uma desordem neurológica que afeta o modo como o cérebro recebe, processa, usa e/ou

transmite informação” (Paasche, Gorrill, Strom, 2010, p. 57).

Outros autores acreditam que “o autismo resulta de uma perturbação em determinadas

áreas do sistema nervoso central, que afeta a linguagem, o desenvolvimento cognitivos e

intelectual, bem como a capacidade de interação com o meio envolvente, estudos

realizados neste âmbito apontam para uma anomalia no desenvolvimento cerebral, muito

antes do nascimento” (Lopes, 2011, p 18).

O que os especialistas atualmente sabem é que a perturbação do espectro do

autismo não é resultado de problemas no desempenho da função parental.

3.5 - Desenvolvimento e Curso

No DSM-V, os sintomas da perturbação do espectro do autismo “são

tipicamente reconhecidos durante o segundo ano de vida (12-24 meses), mas podem ser

observados antes dos 12 meses se os atrasos do desenvolvimento forem graves ou

notados depois dos 24 meses se os sintomas forem mais subtis” (APA, 2013, p. 64).

Marcelli (2005) discrimina algumas das principais caraterísticas de bebés com

PEA dos 0 aos 6 meses “criança ajuizada, que nunca chora, que não reclama, o bebé que

se deixa esquecer”. […] Ausência de diálogo tónico a partir dos 2-3 meses. […] Desvio

frequente o olhar que pode tomar precocemente o aspeto de evitamento do olhar, o

estrabismo é frequente, […] perturbações do sono, com insónia geralmente calma. […]

Ausência do sorriso voluntário (pp. 330). Dos 6 aos 12 meses as principais

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particularidades são “ausência de braços estendidos (quando se pega na criança),

ausência de mímica. […] A criança é hipotónica (boneca de trapos) ou pelo contrário,

hipertónica, rígida (boneco de madeira).” (Marcelli, 2005, p. 330).

Os primeiros sintomas nas dificuldades na interação social são a falta de

interesse social ou interações sociais incomuns (agarrar a mão de um individuo sem

qualquer tentativa de estabelecer contacto visual) (APA, 2013), o bebé não responde a

estímulos afetivos nem manifesta preferência pelos pais, relativamente a outros adultos

(Pires, 2003), não desenvolvem relações de amizade com outras crianças (Pires, 2003).

Quanto à comunicação verbal e não verbal, as crianças com PEA demonstram

um desenvolvimento atrasado da fala (APA, 2013), possuem padrões de comunicação

incomuns, por exemplo, saber o alfabeto mas não responder ao próprio nome (APA,

2013), a linguagem não surge na idade habitual e esta ausência de linguagem não se faz

acompanhar de qualquer tentativa de comunicação gestual ou mímica (Marcelli, 2005).

Os padrões repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e

atividades caraterizam-se por padrões estranhos a brincar, por exemplo, transportar

brinquedos sem nunca tentar brincar com eles (APA, 2013), nos objetos interessa-se por

detalhes, não prestando atenção do todo, nem brincando com os mesmos (Kutscher,

2011), interessa-se por ruídos ou sons particulares, nomeadamente por aspiradores ou

determinadas músicas (Marcelli, 2005), demonstra dificuldades na orientação espacial

(Kutscher, 2011).

3.6 - Intervenção

A perturbação do espectro do autismo não é uma perturbação degenerativa e é

típico que a aprendizagem e a compreensão continuem ao longo da vida. Assim, não

existindo cura, é essencial um diagnóstico precoce que permita uma intervenção o mais

cedo possível (APA, 2013).

Lopes (2011) esclarece que “uma intervenção precoce pode permit ir um maior controlo

na evolução do problema. É essencial conhecer três fatores principais que afetam a

forma como a criança com autis mo pensa e aprende: a sua capacidade intelectual, o seu

grau de autismo e as suas competências linguísticas. O equilíbrio e a interação entre

estes três fatores tem uma enorme influência na forma como estas crianças pensam e

aprendem, assim como fornece informação acerca de como trabalhar com elas. Uma

criança pode ter um nível funcional acima do que é esperado numa determinada área do

desenvolvimento, mas na maioria das outras áreas, e em comparação com outras crianças

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da mesma idade, apresenta um desempenho abaixo do normal. A verificação deste

desajuste do intelecto conduz à criação e à implementação de um currículo alternativo

específico, adaptado às necessidades de cada criança com autismo” (p. 28).

O principal objetivo das aprendizagens para crianças com PEA é que estas se

tornem mais autónomas e independentes e, à medida que estas aprendizagens são

desenvolvidas e apreendidas por estas crianças, torna-se possível a aquisição de novos

conteúdos (Camargo e Bosa, 2009). É prioritário fazer emergir o individuo enquanto

pessoa, e dar a essas pessoas meios para empreender uma verdadeira comunicação tanto

consigo própria quanto com o outro (Marcelli, 2005).

Bautista (1997) apresenta quatro critérios que “deverão ser considerados ao selecionar as

tarefas com que se pretenda trabalhar para atingir os objetivos nas áreas prioritárias na

educação da criança autista: adequação à evolução da criança, estarem de acordo com as

linhas de evolução normal, funcionalidade, na medida do possível, adaptação da criança

autista a ambientes naturais” (p. 256).

As principais diretrizes de atividades propostas por vários autores para

desenvolver a criança com perturbações do espectro do autismo sobre as dificuldades na

interação social são: promover atividades que envolvam interação social, contacto físico

e tentar manter o contacto visual sem forçar (muitas vezes, não consegue ouvir e olhar

ao mesmo tempo) ajudar a criança a aprender a pedir “mais”, a esperar pela sua vez e a

aperceber-se da sua própria individualidade e da dos outros. (Jordan, 2000; Paasche,

Gorrill, Strom, 2010).

Quanto às dificuldades na comunicação verbal e não verbal, as tarefas

baseiam-se em encorajar a criança a usar linguagem social (por exemplo, saudar as

pessoas), se a criança não utilizar linguagem verbal pode usar linguagem não verbal,

aumentar o repertório da criança utilizando frases claras e concisas e acompanhadas

com linguagem não verbal, usar desenhos para aumentar o vocabulário da criança e

fazer com que a criança autista seja capaz de compreender o que lhe é pedido, seja com

gestos treinados, com palavras claras ou frases curtas (Bautista, 1997; Jordan, 2000;

Paasche, Gorrill, Strom, 2010).

Nos padrões repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e

atividades, as principais propostas são: sobre o confronto da criança com situações

novas ou que lhe desagradem, é necessário pô-la à vontade e, se necessário, deixar usar

um brinquedo ou objeto preferido para que se sinta mais segura; estabelecer limites

necessários, fornecendo instruções verbais e não verbais claras e orientando fisicamente

a criança; evitar objetos que perturbem a criança ou que origine comportamentos

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repetitivos ou de isolamento; propor atividades de ação/reação; realizar jogos que

promovam a linguagem simbólica, através de jogos de sequências fixas de objetos e

jogos para reprodução de objetos em sequências fixas ou variáveis e ainda, jogos com

objetos que, embora tenham poucas semelhanças desempenham as mesmas funções de

um dado objeto, em sequências fixas ou variáveis (Bautista, 1997; Jordan, 2000;

Paasche, Gorrill, Strom, 2010).

Outros aspetos que merecem especial atenção são (Paasche, Gorrill, Strom,

2010): não esquecer de utilizar material resistente e que não perturbe a criança; as

atividades devem ser estruturadas, com indicações claras e de interação, sobre vida

diária significativas para a criança (alimentação, banho, vestuário); a criança com PEA

pode apresentar um nível de desenvolvimento desigual das capacidades cognitivas, isto

é ter um alto rendimento em algumas áreas e baixo rendimento noutras; aprende melhor

através de estímulos visuais do que através de estímulos auditivos, por ter maior

capacidade de fixar materiais visuais/espaciais; dedica-se a um aspeto da aprendizagem

em detrimento de outras áreas ou tópicos e consegue expressar-se bem acerca dos seus

temas preferidos.

Se o autismo for diagnosticado precocemente, e a intervenção e o tratamento

forem iniciados nos primeiros anos de vida (dependendo do grau da desordem), a

criança poderá ser capaz de ultrapassar ou minimizar o impacto dos sintomas, alguns

dos quais poderão dificultar certos aspetos ou toda a vida da criança (Paasche, Gorrill,

Strom, 2010, p. 57).

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Capítulo II – Comunicação Alternativa e Aumentativa

1 - Tecnologias de Informação e Comunicação

Em meados do século XX, verificou-se uma crescente preocupação com a

inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. No entanto, foi no ano de 1994 que

se assistiu à publicação do documento mais marcante sobre os direitos de cidadãos com

necessidades especiais.

A Declaração de Salamanca (1994) emanou de um órgão do sistema

organizacional da ONU – UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação,

a Ciência e a Cultura, e teve por base “uma profunda reforma da escola regular”

(UNESCO, 1994, p. IV).

Este documento incentivava as medidas políticas e orçamentais que visassem o

propósito do “[…]princípio da inclusão e pelo reconhecimento da necessidade de atuar

com o objetivo de conseguir “escolas para todos” – instituições que incluam todas as

pessoas, aceitem as diferenças, apoiem a aprendizagem e respondam às necessidades

individuais” (UNESCO, 1994, p. III). Deste modo, a Educação Inclusiva pressupõe uma

Escola Inclusiva, onde a criança é respeitada e encorajada a aprender consoante as suas

capacidades (Quelhas e Mesquita, 2013).

As tecnologias de informação e comunicação (TIC), segundo Ramos et al.

(2007) “são ferramentas que permitem uma reinterpretação e readaptação dos

professores e das crianças, ao nível das aprendizagens, da reorganização da escola, da

concretização de tarefas escolares, das práticas pedagógicas, etc.” (p. 34). As TIC

permitem realizar práticas educativas inovadoras através de uma pedagogia ativa e

inclusiva (Ramos et al. 2007).

As Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (1997) preveem a

utilização dos meios informáticos pois podem ser desencadeadoras de “várias situações

de aprendizagem, permitindo a sensibilização de um outro código, o código

informático, cada vez mais necessário” (p. 72). Diz também que a utilização destes

meios como meio de transmissão do saber é visto, pela criança, como um sistema lúdico

e que a leva a aceitar com prazer estas atividades.

Miranda Correia (2008) alerta para dois grandes objetivos curriculares das TIC

com crianças com NEE que são: “aumentar a eficiência dos alunos no desempenho de

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tarefas académicas ou do dia a dia e desenvolver capacidades para aceder e controlar

tecnologias com determinado nível de realização” (p. 108).

As TIC apresentam inúmeras vantagens. Segundo Quelhas e Mesquita (2013)

ajudam a superar limitações associadas a perturbações cognitivas, sensoriais e motoras.

São um modelo de comunicação multissensorial (visão, audição e tato) e permite m a

diminuição do sentimento de fracasso pessoal e académico, além de que os jovens

educados com as TIC estabelecem interações com outros jovens, colegas e adultos,

utilizando essas mesmas TIC, pois são seres sociais. Através das TIC, os alunos podem

partilhar conhecimentos e experiências, estimulando, assim, uma aprendizagem

cooperativa e grupal. Haugland (2002 cit. in Matos, 2013) através de um estudo que

realizou, concluiu que as crianças com acesso às TIC desenvolvem a motricidade fina e

o raciocínio lógico, têm um maior pensamento crítico, maior capacidade na resolução de

problemas e maior desempenho na língua e, ainda, estimulam o conhecimento e a

criatividade de cada aluno.

Por oposição, existem alguns fatores que dificultam o uso das TIC (Flores,

2007), nomeadamente, a falta de oportunidade de usar computadores regularmente; os

recursos informáticos são escassos na escola ou chegam tardiamente e o professor

encontra-se inseguro quanto à sua capacidade para utilizar as TIC, associado à pouca

experiência.

Deste modo, é importante referir o papel do professor como alguém fundamental

para que as TIC sejam essenciais e bem utilizadas em crianças com NEE. Correia

(2008) refere que o professor tem de conhecer com que objetivo quer utiliza r as TIC e

deve ter em atenção o conteúdo ao trabalhar, bem como a faixa etária da criança. Para

Quelhas e Mesquita (2013), o professor deve criar um ambiente de trabalho em que o

aluno com NEE dispõe de meios de aprendizagem autónomos e que tenha a

possibilidade de se sentir útil e participativo. Estes autores alertam para que as TIC,

quando mal utilizadas, podem representar uma escola tradicional e pouco inovadora e

que é imperativo que o professor nunca se esqueça que as TIC não o substituem.

2 - Tecnologias de Apoio – Produtos de Apoio

Tecnologias de Apoio são “uma gama ampla de dispositivos, ajudas técnicas,

serviços e práticas, concebida e aplicada para promover a melhoria da qualidade de vida

das pessoas com deficiência” (Encarnação, Azevedo e Londral, 2015, p. 13). “É

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colocada uma ênfase nas capacidades funcionais dos indivíduos com deficiência e na

importância da utilização de estratégias e habilidades adequadas que levem ao sucesso

nos mais diversos contextos das atividades dinâmicas que esses indivíduos pretendem

exercer” (Encarnação, Azevedo e Londral, 2015, p. 18).

É fundamental que a pessoa com deficiência se sinta confortável e segura, a

cadeira deve ser durável, esteticamente aceitável pelo utilizador e pelos seus familiares.

Deve permitir que a pessoa seja o mais autónoma possível com as tecnologias de apoio

e estas devem ser as mais adequadas possíveis à situação clínica do indivíduo.

(Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, 2015)

2.1 - Produtos de Apoio

Sobre os produtos de apoio, abordar-se-á somente os que são utilizados pelos

objetos de estudo para facilitar o seu desenvolvimento: rato (trackball), ecrã tátil e

cadeira de rodas.

2.1.1 – Ratos (trackball)

O rato é um dispositivo de controlo para seleção direta, pois o utilizador

manuseia o objeto (rato) para selecionar/apontar o que deseja no computador.

Habitualmente, para selecionar um objeto, o utilizador aciona um botão, no entanto, é

possível, com software, configurar o rato para que esta seleção seja feita quando o

ponteiro está sobre o alvo durante um determinado tempo (Encarnação, Azevedo e

Londral, 2015).

Os ratos convencionais implicam um bom

controlo motor, daí que seja necessários optar por ratos

alternativos, como o caso dos ratos tipo trackball

(Moura, 2006). “Estes consistem em ratos colocados ao

“contrário” de tal forma que a bola que activa o

movimento do cursor se situa na parte superior do rato e

é o utilizador que a move (em vez de ter que deslocar o

rato em cima de uma superfície) ” (Moura, 2006, p. 60). O

utilizador pode utilizar a palma da mão, um dedo ou com

Figura 1 – Rato trackball

Fonte: CRID, 2013

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um ponteiro para manipular o rato e os botões de ativação estão colocados nos lados ou

na parte central do mesmo.

“Para pessoas com uma amplitude dos membros superiores limitada existem

ratos de bola (trackball), em que a deslocação do ponteiro é efetuada pela rotação de

uma bola estacionária” (Encarnação, Azevedo e Londral, 2015, p. 66). Este tipo de ratos

requer que o utilizador tenha controlo de movimentos de pequena amplitude.

Os ratos podem ser configurados na cor, tamanho do ponteiro e a sua velocidade

de deslocação a fim de tornar mais fácil a sua utilização atendendo às caraterísticas da

pessoa deficiente.

2.1.2 - Ecrã tátil

O ecrã tátil é uma das entradas por

acesso direto ao computador e é uma alternativa

ao rato ou aos teclados tanto convencionais

como adaptados, pois atenuam as exigências

tanto a nível da motricidade fina, coordenação

dos movimentos e rapidez (Moura, 2006).

No ecrã tátil, o “acesso ao computador

faz-se através do ecrã pelo simples toque do

dedo ou da ponta de um ponteiro nas opções desejadas. No

entanto, é um sistema fechado que só permite trabalhar com

os programas especialmente desenhados para o ecrã” (Moura, 2006, p. 59).

2.1.3 - Cadeira de rodas – Tecnologias de apoio à mobilidade

As primeiras cadeiras de rodas datam do século XVIII, porém só “em 1932, a

companhia Everest & Jennings colocou no mercado a primeira cadeira de rodas com

uma estrutura tubular em aço, um grande avanço em termos de robustez e portabilidade”

(Encarnação, Azevedo e Londral, 2015, p. 71), visto que as primeiras eram em madeira.

Tal avanço deveu-se à aceitação, pela parte clinica, que a cadeira de rodas teve como

produto de apoio para pessoas com deficiência.

Figura 2 - Ecrã tátil

Fonte: CRID, 2013

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As tecnologias de apoio para a mobilidade, nomeadamente as cadeiras de rodas,

destinam-se a pessoas em situação de dependência e/ou com dificuldade de mobilidade,

daí que seja fundamental o processo de escolha desta (Direção-Geral dos

Estabelecimentos Escolares, 2015). Este processo deve ser feito de forma cuidada,

refletida e rigorosa, visto que os utilizadores vão estar muitas horas sentados nela e o

seu conforto e posicionamento são essenciais para evitar o aparecimento de escaras

(Encarnação, Azevedo e Londral, 2015).

As principais finalidades da cadeira de rodas são: posicionar corretamente o

corpo; estabilizar o corpo ou partes do corpo; prevenir ou evitar deformidades corporais

ou o seu agravamento; facilitar o movimento/mobilidade e a realização de tarefas de

forma segura e autónoma, em diferentes contextos e proporcionar autonomia com

menos esforço, menos dor e maios comodidade (Direção-Geral dos Estabelecimentos

Escolares, 2015, p. 18).

3 - Comunicação Aumentativa e Alternativa

“Uma das mais importantes necessidades do ser humano é o seu relacionamento com os

outros. Para expressão das suas necessidades, da sua vontade, para troca de pontos de

vista, para um aumento do conhecimento mútuo, para fazer amigos, para a sua realização

profissional, a comunicação é fator essencial” (Sousa, 2012b, p.154).

“A nossa sociedade está habituada a ver pessoas em cadeiras de rodas, com aparelhos

auditivos e com óculos, contudo, não está familiarizada com dispositivos de

comunicação. Quando uma pessoa tem dificu ldades em comunicar, utiliza um sistema

aumentativo de comunicação” (Sousa, 2012a, p.3).

A forma de comunicar mais comum é a fala. Quando tal não é possível, é

necessário recorrer a outras formas de comunicação que devem ter em conta as

competências motoras, sensoriais e cognitivas do utilizador (Sousa, 2012a). A

comunicação aumentativa pode constituir um poderoso meio de combate às

incapacidades de comunicar através da fala, constituindo um conjunto de técnicas,

ajudas, estratégias e habilidades, que uma pessoa sem comunicação oral necessita.

“De acordo com a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA), a

comunicação aumentativa e alternativa envolve o estudo e, quando necessário, a

compensação de incapacidade temporárias ou permanentes, de limitações nas atividades

e de restrições à participação de pessoas com perturbações severas na produção e/ou

compreensão da linguagem, incluindo os modos falados e escritos da comunicação

(American Speech-Language-Hearing Association, 2005). A comunicação diz-se

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aumentativa quando complementa (não substituindo) outros modos de comunicação, tais

como fala, gestos, vocalizações, expressões faciais; designa-se por alternativa quando

emprega métodos, modos e estratégias alternativos” (Encarnação, Azevedo e Londral,

2015, p.83).

Os sistemas aumentativos e alternativos podem fornecer dois tipos de

informação simultaneamente, visual e auditivo; normalmente são mais estáticos e

mantêm a emissão por um maior período de tempo, havendo “menos hipótese de ser

distorcida e facilitando os processos de representação e de memorização” (Ferreira,

Ponte e Azevedo, 1999, p. 41).

Atualmente, existem dois grandes grupos de sistemas aumentativos e

alternativos de comunicação: sistemas sem ajuda e sistemas com ajuda.

Os sistemas sem ajuda são as formas de comunicar que não necessitam de

instrumentos ou ajudas técnicas e que se utilize somente partes do corpo (Sousa,

2012b). Estes sistemas desdobram-se em várias categorias: gestos de usos comum;

sistemas manuais para não ouvintes; sistemas manuais pedagógicos e alfabeto manual.

Os sistemas de comunicação com ajuda são aqueles em que “os signos não são

produzidos, são selecionados, requerendo sempre o emprego de ajudas técnicas para

transmitir as mensagens. Neste tipo de comunicação recorre-se ao uso dos mais variados

dispositivos ou ajudas técnicas […] os quais são utilizados de acordo com as

potencialidades e necessidades específicas de cada utilizador” (Ferreira, Ponte e

Azevedo, 1999, p. 23).

Os sistemas de comunicação com ajuda caraterizam-se por serem: sistemas

gráficos, Braille, quadros de comunicação, listas de palavras, gravador de voz, máquina

de escrever, comunicador ou computador usados segundo as necessidades do utilizador.

Os símbolos gráficos são imagens que representam uma palavra ou conceito a fim de

clarificar a sua compreensão, promovem a independência e a participação de pessoas

com dificuldades de comunicação, desenvolvendo a literacia e a aprendizagem e

permitindo o acesso à informação (Encarnação, Azevedo e Londral, 2015).

O primeiro sistema de comunicação foi concebido em 1949 por Charles Bliss,

este criou o sistema Bliss, baseado numa linguagem simbólica gráfica composta (mais

de 3.000 símbolos). Os caracteres podem ser recombinados com o objetivo de obter

símbolos novos (Encarnação, Azevedo e Londral, 2015). Em Portugal, o sistema Bliss

chegou nos anos 80.

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33

Figura 3 – Sistema Bliss

Fonte: http://logopediaenunclic.com/comunicacion-aumentativa-y-alternativa/

Tradução: Própria

Verificou-se a dificuldade de pessoas com baixo nível cognitivo para

manusearem o sistema Bliss. Deste modo, surgiu, nos anos 80, desenvolvido por

Roxana Mayer Johnson (terapeuta da fala), o sistema SPC – Símbolos Pictográficos

para a Comunicação.

Figura 4 – Sistema SPC - Símbolos Pictográficos para a Comunicação

Fonte: http://logopediaenunclic.com/comunicacion-aumentativa-y-alternativa/

Tradução: Própria

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34

Este sistema contém os símbolos transparentes, desenhados com um traço negro

a cheios sobre um fundo branco e pretende maximizar o impacto do símbolo e

representar o senso comum de objetos e ideias. O significado do símbolo “está escrito

na parte superior do mesmo para maior facilidade de compreensão nos interlocutores

que não conhecem o sistema” (Ferreira, Ponte e Azevedo, 1999, p. 26). Paláez (1990,

cit. in Sousa, 2012b) definiu que os principais objetivos do sistema SPC são:

“simbolizar as palavras e objetos de uso comum mais frequentes na comunicação

quotidiana; conceber desenhos diferentes entre si, permit indo mais facilmente a sua

aprendizagem por serem mais facilmente discriminados; adequar os desenhos para serem

utilizados por todas as faixas etárias; possibilitar que os símbolos, através de uma edição

em versão impressa, possam ser fotocopiados, recortados e incorporados nos diferentes

suportes técnicos” (Sousa, 2012b, p.161)

O sistema SPC é composto por um vocabulário simples de 5.000 símbolos,

complementado por bibliotecas para diversos assuntos e línguas específicas, perfazendo

o total de 12.000.

“Fitzgerald (1954) propôs uma organização de símbolos por classes semânticas e

sintáticas, codificadas por cores, por forma a facilitar a construção de frases. Essas

classes de símbolos, hoje de uso generalizado são: ações sociais – rosa, pessoas –

amarelo, ações/verbos – verde, substantivos – laranja, adjet ivos – azul e diversos –

cinzento” (Encarnação, Azevedo e Londral, 2015, p. 87).

Além de promover a participação ativa da criança, através das tabelas de

comunicação, esta pode responder a perguntas, contar parte da história e antecipar

acontecimentos (Sousa, 2010).

Alguns pais têm receios em que os filhos utilizem os sistemas de comunicação

aumentativa e alternativa, pois receiam que prejudique ou impeça a recuperação ou a

aprendizagem da fala natural, no entanto, diversos estudos apontam no sentido oposto,

dizendo que a fala tem sido estimulada (Encarnação, Azevedo e Londral, 2015). A

comunicação através destes sistemas é mais lenta, no entanto isso não significa que o

individuo tenha problemas intelectuais ou sensoriais (Sousa, 2012a).

A Comunicação Aumentativa e Alternativa, bem como as tecnologias de apoio

podem desempenhar um papel fundamental no apoio especializado a pessoas com

incapacidades de comunicação através da fala ou com disfunções neuromotora, sendo,

muitas vezes, essas tecnologias a oportunidade para comunicarem com o meio físico e

social que as rodeia.

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35

4 - Literatura

Desde os tempos mais remotos que as pessoas contam histórias, começando nas

pinturas rupestres, aos contos orais, até às mais modernas plataformas interativas.

Segundo Saraiva e Mugge (2006) “a literatura dá forma concreta a sentimentos, dilemas,

angústias e sonhos por meio de representações simbólicas, criadas pela imaginação.

Consequentemente, embora seja fict ício, o texto literário estabelece correspondências

com a realidade factual e a p rodução artística, retomando o passado, antecipando o

futuro…” (p. 29).

Assim, as histórias podem ser materializadas nos mais variados formatos, tais

como livros, ilustrações, vídeos, peças de teatro, composições musicais, jogos, entre

outros (Sousa, Zagalo e Martins, 2012).

A leitura ajuda a criança a fomentar a sua identidade, a sua relação com o mundo

que a rodeia e ajuda a tornar-se um ser ativo e tolerante. A leitura apela à imaginação, à

transposição de universos, a viver outras realidades e a resolver conflitos internos e

sociais (Sousa, 2010).

As Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (1997) declaram que o

contacto com o livro é fundamental para despertar o interesse das crianças pela leitura e

para desenvolverem a sensibilidade estética, daí que os livros devam ser escolhidos

segundo critérios de estética literária e plástica. Estas orientações relembram que, tal

como foi dito anteriormente, existem vários formatos de livros e que estes devem ser

explorados com as crianças, estas devem ser parte integrante no conto das histórias.

Sousa, Zagalo e Martins (2012) alertam para o facto de o público, muitas vezes,

ter acesso limitado às histórias por estas não disporem de ferramentas necessárias para a

compreensão de todos os grupos. O público fica “confinado ao papel de mero

consumidor, tantas vezes dito passivo” (Sousa, Zagalo e Martins, 2012, p. 169). Deste

modo, o professor terá de criar alguns critérios para selecionar obras de qualidade e

adequadas às suas crianças (Saraiva, 2001). Esses critérios, segundo Saraiva (2001) são

o interessa da criança pelo tema da história e quais são as obras realmente significativas.

“É necessário que o professor esteja munido de conhecimentos teóricos sobre a

importância e a função da literatura infantil na formação da criança. É p reciso, também

que ele tenha estabelecido objetivos claros para o trabalho que irá desenvolver. De posse

desses requisitos, pode, então partir para a análise das obras que pretende selecionar”

(Saraiva, 2001, p. 76).

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36

A especialista em literatura para a infância Judith Hillman (1995, cit. in Bastos,

1999) avança com a definição de dois conceitos essenciais no campo da literatura

infantojuvenil: o conteúdo e a qualidade. Sobre o conteúdo, Hillman defende que os

livros devem conter experiências típicas da infância e escritas na perspetiva do

público-alvo; ter carateres infantis e intrigas simples e diretas; prevalecer o sentimento

de otimismo (preferência por finais felizes) e tendência para combinar o mundo real

com o mundo de fantasia. Quanto à qualidade, Hillmam refere que é onde se encontram

as maiores dificuldades. Sublinhando, que independentemente da audiência, a qualidade

tem que estar sempre presente, permitindo, que através de palavras o individuo possa

explorar pensamentos.

4.1 - Livros adaptados

Como se tem vindo a salientar, o livro desenvolve áreas afetivas e intelectuais,

proporciona meios para compreender o real, gera comportamentos e é um facilitador da

linguagem e da comunicação (Saraiva e Mugge, 2006; Ribeiro, 2011). “O livro, em si, é

um objeto de descoberta, de prazer e de partilha. Através dele ocorre uma troca de

interesses estabelecendo-se, simultaneamente, uma relação social, na comunicação dos

sentimentos e ideias” (Pina, 2015, p. 38).

A leitura é um ato cognitivo pois tem como finalidade a compreensão e tornar

eficaz competências através da perceção dos objetivos do livro, tornando-se

fundamental a estimulação da leitura (Borges, Assagra e Alda, 2010, cit. in Pina, 2015).

Considerando a sua importância, é necessário que ele seja acessível, a todas as

crianças, incluindo com necessidades especiais. Deste modo, é necessário criar e

disponibilizar meios alternativos e/ou aumentativos de comunicação, bem como de

mobilidade e manipulação adequados às diferentes populações, facilitando, deste modo,

a comunicação e atividade funcional e independente (Ribeiro, 2011). Em suma, “é

necessário proceder à adaptação/tradução dos referidos livros, de modo a que todos os

públicos possam ter acesso à leitura” (Pina, 2015, p. 41).

Tomando Barbosa (2003, cit. in Pina, 2015) como referência, o livro adaptado

tem aspetos específicos que servem de suporte à construção da criança com alguma

limitação; facilita a literacia para crianças com problemas cognitivos, de comunicação e

motores.

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37

Existem vários formatos de adaptações de livros, nomeadamente:

a) Audiolivro – versão áudio com leitura expressiva e efeitos sonoros e musicais.

b) Vídeo-livro em Língua Gestual – conto original em Língua Gestual, isto é,

produção de movimentos das mãos e do corpo e por expressões faciais, sendo a sua

receção visual. Tem uma gramática e vocabulário próprios.

c) Versão Pictográfica SPC (Símbolos Pictográficos para Comunicação) –

rescrito do original, através de frases curtas e simples e imagens simples (pictogramas).

d) Versão em Braille – código composto por 63 sinais, formados com base numa

matriz de seis pontos (como uma caixa de ovos). Processo de escrita em relevo para

leitura tátil, inventado por Luís Braille (1809-1852). Atualmente, para a sua impressão,

é necessário um “software” (ex. Winbraille) e uma impressora específica para a criação

deste formato.

e) Ilustrações para impressão em relevo – as ilustrações em relevo são

preparadas para impressão em papel específico para impressoras de relevo.

f) Descrição de ilustrações – descrição detalhada das ilustrações do livro.

Encontram-se disponíveis em formato [.wif], para impressão a Braille, e em formato

(.pdf) acessível para leitor de ecrã.

g) Escrita Simples – rescrita do original com linguagem simples, mantendo ao

máximo o original, simplificando a sintaxe e o vocabulário.

h) Recriações táteis – recriação da história em diferentes materiais de imagens.

As ilustrações tornam o livro mais atrativo, havendo uma maior motivação para

entender a história, bem como o vocabulário, por parte das crianças com NEE. O livro e

as suas adaptações tornam-se um elemento indispensável para o processo de

ensino-aprendizagem, permitindo um real desenvolvimento das suas capacidades (Pina,

2015).

Existem poucos estudos sobre os hábitos de leitura por parte de pessoas com

NEE. A justificação encontra-se com a dificuldade na obtenção de dados junto desta

população, gerados por limitações físicas e/ou intelectuais; sendo necessário fazer

questionários adaptados às caraterísticas de cada pessoa (Ribeiro, 2011).

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38

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39

5 - O Jogo Educativo

Atualmente é fundamental criar ambientes propícios à aprendizagem, pois tem

vindo a aumentar a falta de motivação e de interesse por parte dos alunos, aumentando

assim, o insucesso escolar. Neste sentido e para contrariar esta tendência, tem sido

considerado prioritário rever os meios de aprendizagem e os recursos pedagógicos a

serem utilizados. O jogo e o conceito do lúdico tem sido considerado um instrumento

eficaz, não só pelo divertimento mas por também facilitar as aprendizagens (Costa,

2014).

Segundo Gross (s. d., cit. in Martins, 2014) “o jogo prepara para a vida séria. Podemos,

por isso, conceber o jogo como um desvio que conduz finalmente à vida séria, como um

projeto de vida séria que esboça, com antecedência, essa vida. Pelo jogo, a criança

conquista, pela primeira vez, a autonomia, a personalidade, e até os esquemas práticos

que a atividade adulta terá necessidade” (p. 33).

O trabalho de Yu (2005, cit. in Leitão, 2013) diz-nos que os alunos se sentem

mais motivados a utilizar jogos nas aprendizagens, no seu estudo demonstra que mais

de 80% dos alunos usou a palavra “divertido” na sua avaliação dos jogos.

Os jogos educativos são projetados para ensinar um determinado assunto,

expandir conceitos, reforçar o desenvolvimento e promover uma aprendizagem ativa e

motivadora por parte dos alunos e devem ser adaptados tendo como principal objetivo

as aprendizagens significativas (Nogueira, 2013).

Através destes jogos, é, ainda, possível promover o “desenvolvimento social,

emocional e cognitivo e também trabalhar as habilidades do pensamento, da

criatividade, da imaginação, da interpretação, da intenção, da motivação interna e da

socialização” (Costa, 2014, p. 84).

Santos “reforça que, se um jogo cumprir as condições que serão apresentadas de seguida,

de certeza que o jogo será educacional para as crianças destas idades: o jogo terá de ser

atrativo e divertido; deve surpreender os alunos e ter algum humor; deve ser d e fácil

manipulação, sem que se torne demasiado fácil ou demasiado difícil; deverá permitir que

a criança aplique mais do que uma estratégia, na medida em que permite que a criança

ponha em prática o que já aprendeu” (Santos, 2011, cit. in Nogueira, 2013, p. 15).

Page 60: A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos ... Final... · A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências

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Os jogos educativos, na perspetiva de Brandes e Phillips (1977, cit. in Costa,

2014), Bright, Harvey e Wheeler (1985, cit. in Nogueira, 2013) e Grando (2001, cit. in

Costa, 2014) devem obedecer a alguns critérios:

a) O jogo pressupõe participação livre;

b) O jogo é um desafio para ultrapassar uma tarefa ou adversário;

c) O jogo é regulado por regras, com procedimentos e objetivos;

d) O jogo deve ser flexível na abordagem e objetivos;

e) O jogo deve ser praticado de uma maneira construtiva permitindo o

desenvolvimento de conceitos de difícil compreensão;

f) O jogo pode resolver problemas;

g) O jogo permite tomar decisões e saber avaliá- las;

h) O jogo pode ajudar a remover as barreiras artificiais entre os indivíduos;

i) O jogo admite a interdisciplinaridade;

j) O jogo promove uma comunicação efetiva.

Os jogos, por serem uma mudança na rotina, transformam as aprendizagens em

algo mais fácil, divertido e encorajador para novos conceitos; os próprios alunos sentem

o desejo de desempenhar um papel mais ativo nestes processos, bem como desejam

superar as dificuldades, através de estratégias que conduzem ao êxito e a aprendizagens

efetivas (Leitão, 2013). O ato de jogar e de aprender têm as mesmas qualidades:

adivinhar, errar, acertar, construir, criar, descobrir, treinar, encontrar estratégias e

desenvolver planos, inventar, superar obstáculos, esforçar-se para conseguir; e, deste

modo, a criança aumentará a sua autoestima, revelando que é capaz de realizar muitas

coisas por si própria.

Macedo, Petty e Passos “constatam que, a criança desenvolve brincadeiras e aprende

jogos […] podendo também aprender brincadeira com os seus pares ou cultura e, com

isso, desenvolver habilidades, sentimentos ou pensamentos. O mesmo ocorre nos jogos:

ao aprendê-los desenvolvemos o respeito mútuo (modos de se relacionar entre iguais), o

saber compartilhar uma tarefa ou um desafio em um contexto de regras e objectivos, a

reciprocidade, as estratégias para o enfrentamento das situações -problema, os

raciocín ios” (Macedo, Petty e Passos, 2005, cit. in Mart ins, 2014, p. 39).

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Grando (2001, cit. in Costa, 2014) alerta para alguns perigos na utilização do

jogo, nomeadamente:

a) Jogo de caráter aleatório, isto é, os alunos não compreendem porque jogam

nem retiram qualquer tipo de aprendizagem;

b) Falsa conceção de que todos os conceitos devem ser ensinado através de

jogos;

c) A interferência constante por parte do professor na concretização do jogo;

d) O professor obriga o aluno a jogar mesmo que este não esteja interessado.

É fundamental que o professor tenha em conta as vantagens e os perigos dos

jogos como meio de aprendizagem, principalmente quando planifica as suas aulas e

durante a implementação do próprio jogo, devendo conciliar o processo educativo com

as dinâmicas sociais e históricas da sociedade em que se insere.

5.1 - Domínios do Desenvolvimento através do Jogo

É fundamental referir que o desenvolvimento não ocorre de igual forma para

todas as crianças, não se desenvolve com a mesma velocidade nem progressão em todos

os domínios; cada criança tem o seu ritmo, as suas particularidades e existem diversos

fatores que influenciam o seu progresso.

Por meio dos jogos, as crianças aprendem como é o mundo através de diferentes

experiencias cognitivas, psicomotoras e socio afetivas (Ferreira, 2011; Cabral, 2014;

Costa, 2014).

Desde o nascimento que a criança é confrontada com oportunidades, através de

atividades, para desenvolver e, com o tempo, aperfeiçoar as suas competências

cognitivas. Este desenvolvimento cognitivo corresponde às modificações que ocorrem a

nível mental (Cabral, 2014) e correspondem à atenção, memória, linguagem,

pensamento, raciocínio e criatividade (Papalia et al., 2009; cit. in Cabral, 2014).

Segundo Sá (1995; Cabral, 2014) o jogo dever ser considerado um meio que a criança

utiliza para construir o seu conhecimento pessoal.

O desenvolvimento psicomotor é a junção de habilidades físicas e processos

cognitivos, envolve capacidades sensoriais, crescimento corporal e cerebral bem como

habilidades motoras e influencia os outros domínios do desenvolvimento (Cabral,

2014).

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42

No que concerne ao desenvolvimento socio afetivo, este afeta o funcionamento

do cognitivo e do físico, pois está relacionado com as emoções e sentimentos e tem

como objetivo desenvolver a personalidade da criança a nível pessoal e, mais tarde,

quando esta passa de um “mundo isolado” para um “mundo socialmente ativo”, também

com os seus pares (Cabral, 2014).

A articulação entre os diferentes níveis de desenvolvimento acima referidos

dá-se de forma integrada e simultânea e não de forma isolada de cada domínio, pois só

através dessa articulação é que a criança cresce de forma integral, saudável e completa.

5.2 - O Jogo segundo Piaget e Vygotsky

Autores como Piaget (1971) e Vygotsky (1978) enfatizam a ideia da evolução da

atividade lúdica e a importância do jogo no desenvolvimento global da criança.

Jean Piaget defende que o jogo é uma condição para o desenvolvimento da

criança pois através deste (jogo) ela cresce a nível cognitivo e psicomotor. Portanto, o

jogo é encarado como causa do desenvolvimento infantil, isto é, o jogo encontra-se

ligado às etapas do desenvolvimento da criança.

“Com base nos estádios de desenvolvimento infantil (período sensório motor;

pré-operatório; operações concretas; e operações formais), Piaget (1971) classifica três

tipos de jogos, sendo estes: jogos de exercícios; jogos simbólicos; e jogos de regras”

(Nogueira, 2013, p.4).

Tipo de jogo

Idade Caraterísticas

Jogos de exercícios

0 – 2 anos São jogos que acompanham a criança deste o nascimento, inicialmente, baseadas nas suas necessidades básicas: comer,

gatinhar, andar… Este jogo reaparece sempre que a criança adquire uma nova capacidade. Caraterizado como

desenvolvimento pré verbal é através da receção e repetição de novas informações que a criança aprende a fazer e cada vez com mais prazer.

Jogos

simbólicos

2 – 4 anos

Jogo de produção de representações de algo por meio de

outra coisa ou objetos. Jogo baseado na criatividade, imaginação e no desenvolvimento sensório-motor.

Jogos de

regras

4 – 7 anos

Jogos que pressupõem regras e resultam de uma organização

coletivas das atividades. São considerados jogos paradigmáticos para a moralidade humana, pois são

regulados por certas normas herdadas, ainda que possam ser modificadas; os jogadores respeitam essas regras que

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43

proveem de acordos mútuos entre os mesmos. Tabela 1 – Tipos de jogos segundo Piaget

Fonte: própria

Através de processos de assimilação (a criança incorpora situações e/ou objetos

passando a constituir as suas estruturas mentais) e acomodação (as estruturas mentais

reorganizam-se para criar novos aspetos do ambiente externo), Piaget defende que

quanto mais a criança está em contacto com os objetos, maior é o conhecimento e

desenvolvimento.

Também Vygotsky estudou o comportamento da criança e a sua relação com o

jogo. Defende que este influencia enormemente o desenvolvimento da criança, é através

desta relação que se observa a transição da criança nos diferentes estágios de

desenvolvimento, estando esta transição ligada a motivações, tendências e incentivos e

não se realizando-se de forma gradual (Martins, 2014).

Ferreira (2011) diz, que segundo Vygotsky,

“na atividade do jogo, o sucessivo nomear e renomear algo, ajuda as crianças a

dominarem a natureza simbólica das palavras, levando-as a que, no futuro,

compreendam a relação única que existe entre as palavras e os objetos, bem como à

emergência da consciência metalinguística, fundamentais para o sucesso na

aprendizagem escolar” (p. 19).

Isto é, o jogo promove o conhecimento de conceitos e o uso dos mesmos.

Para Vygotsky, o jogo e o brinquedo surgem para colmatar desejos que na

realidade não são possíveis de realizar ou pelo menos de forma imediata, mas através da

imaginação cria um mundo ilusório onde tudo é realizável (Nogueira, 2013). No

seguimento da ideia anterior, Kishimoto (1998, cit. in Nogueira, 2013) diz que

“Vygotsky entende o jogar como uma situação imaginária criada pelo contacto da

criança com a realidade social” (p. 6).

Na teoria do desenvolvimento cognitivo, Vygotsky, realça a zona de

desenvolvimento proximal “diferença entre o desenvolvimento actual da criança e o

nível que atinge quando resolve problemas com auxílio, o que leva à consequência de

que as crianças podem fazer mais do que conseguiriam fazer por si sós” (Mota, 2009;

cit. in Nogueira, 2013, p.6) e a importância do jogo no seu progresso, sendo esta

interação fulcral na importância para a construção do pensamento da criança.

Em síntese, para ambos os autores (Piaget e Vygotsky), as crianças desenvolvem

a inteligência através do jogo, sendo imprescindível o papel do adulto, que deverá

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conhecer os diferentes estádios de desenvolvimento das crianças e no qual é que se

encontram, criando estratégias que visam o conhecimento.

5.3 - Jogos Digitais

Como foi referido anteriormente, o jogo desempenha um papel essencial no

desenvolvimento individual e social da criança, nomeadamente na construção de regras

e valores sociais, aquisição de competências cognitivas, de memória, de formulação e

interpretação de hipóteses e planeamento de estratégias.

Atualmente, com a evolução da tecnologia, os jogos eletrónicos podem ser

encarados como uma nova forma de literacia, pois, enquanto jogam, as crianças

adquirem novas aptidões que estimulam as suas capacidades cognitivas, motoras e

sociais.

Gee (2003) apresenta duas razões que explicitam a importância dos jogos

eletrónicos “perante a exposição aos novos media e a novas formas de comunicar, a

linguagem não é a única forma importante de comunicar. Atualmente comunica-se

também através de imagens, símbolos e variados elementos visuais que dão sentido ao

conceito de “Literacia visual” (2003, cit. in Mourato, 2014, p. 4).

Alguns teóricos alertam para a solidão, isolamento e inércia que os jogos digitais

podem promover, no entanto, é de realçar a importância da troca e partilha de

informações através de jogos online, estabelecendo-se assim, diálogos; interpretação de

hipóteses; antecipação de situações; planeamento de estratégias; competências

cognitivas; noções de espaço; tomada de decisões e de tempo de reação. Estas

competências são adquiridas de modo informal e quase impercetível, afastando a

educação formal e rígida (Mourato, 2014).

Atendendo às particularidades do século XXI, Prensky (2001, cit. in Mourato,

2014) criou o conceito de nativos digitais, referindo que estas crianças são fluentes em

linguagem digital dos computadores, jogos digitais e Internet.

5.4 - Jogos Didáticos Manipuláveis

A utilidade de usar materiais didáticos tem sido amplamente defendida tanto por

filósofos, cientistas, entre outros, ao longo da história. Galileo Galilei (1564-1642)

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observou e fez experiências com materiais da Natureza, que o ajudaram a concluir a sua

teoria do heliocentrismo (onde o Sol se encontra no centro do Sistema Solar). Comenius

(1592-1670) foi um dos primeiros pedagogos a propor um sistema articulado de ensino

para todas as crianças, defendendo a manipulação de objetos na aprendizagem. John

Locke (1632-1704), filósofo inglês, e Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, afirmavam

que o conhecimento provém dos sentidos através da experiência direta das coisas.

Vygostski (1896-1936) diz que a criança aprende consoante o seu ambiente

sociocultural e na maneira que estas aplicam as ferramentas experimentadas; além de

declarar que a linguagem simbólica é como os instrumentos de trabalho, estabelecem

uma relação de mediação entre o homem e a realidade. Jean Piaget (1896-1980) afirma

que a aprendizagem depende da qualidade das experiências interativas entre a criança e

o meio.

Os materiais manipuláveis visam a compreensão de diversos conceitos; o

desenvolvimento do raciocínio; a relação entre as partes com o todo; aprende a

comunicar e a resolver problemas de forma natural e clara; relaciona informações; busca

soluções para os problemas apresentados; compara resultados e produz novas ideias.

“A utilização de materiais didácticos não deve ser vista como algo de cariz lúdico mas

como construtivo e reflexivo, de modo a que o aluno aprenda de maneira construtiva, ou

seja, onde este raciocine, questione, compreenda, elabore e reelabore todo o seu

conhecimento, ao desenvolver as suas actividades, pois só assim é que o aluno evolui e

aprende com as suas experiências” (Freitas, 2011, p. 24).

Através do contacto direto com o objeto, manipulação, exploração e

investigação, a criança entrega-se intuitivamente ao processo de descoberta, sendo ativa

na construção das suas aprendizagens. “Podem ser objectos reais que têm aplicação no

dia a dia ou podem ser objectos que são usados para representar uma ideia” (Passos,

2004, cit. in Camacho, 2012, p. 24).

São materiais lúdicos, dinâmicos e intuitivos, acreditando-se que “quanto maior for a

atividade desenvolvida pelos próprios alunos, maior será o conhecimento atingido pelos

mes mos, uma vez que estes procurarão continuamente novas estratégias para

desenvolver as suas próprias capacidades e, consequentemente, através da experiência

direta, construirão os conceitos de acordo com o objeto explorado e observado”

(Camacho, 2012, p. 26).

Segundo Reys (1974) “os materiais manipuláveis: convenientemente selecionados e

utilizados permitem, entre outros aspectos: a) diversificar as actividades de ens ino; b)

realizar experiências em torno de situações problemát icas; c) representar concretamente

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46

as ideias abstractas; d) dar oportunidade aos alunos de descobrir relações e formular

generalizações; e) envolver os alunos activamente na aprendizagem” (Camacho, 2012, p.

30).

Piaget afirmou que o contacto com os objetos é um fator básico no

desenvolvimento de estruturas cognitivas, pois a criança sente-se mais à vontade, mais

interessada, motivada e estimulada, no entanto não basta proporcionar os materiais à

criança para que esta compreenda um determinado conceito, é necessário conjugar com

ações e atividades que auxiliem essa compreensão e que permitam ao aluno verificar

onde pode aplicar esse conhecimento (Camacho, 2012).

“Verifica-se também que existe uma maior segurança na concretização das tarefas, uma

vez que os alunos criam e formulam novas estratégias e conjeturas na resolução de

problemas, de forma autónoma e diferenciada, de acordo com as suas experiências

diárias. Naturalmente, estes partem à busca de novos e verdadeiros saberes, adquirindo

um maior conhecimento de si próprio, a nível da criatividade e da autonomia, na procura

e na construção de conceitos, alcançando uma maior confiança nas suas capacidades

intelectuais e cognitivas” (Camacho, 2012, p.27).

Cabe ao docente o papel de conhecer todas as funções e potencialidades dos

materiais, de forma a criar atividades aliciantes e motivadoras, ondo os alunos poderão

construir relações com os objetos e ações (Camacho, 2012). Nesta educação informal, é

fundamental que o professor seja um orientador que propõe novos desafios e estimula o

aluno a evoluir e a desenvolver as suas capacidades de forma autónoma (Camacho,

2012) e não tornar as atividades demasiado fáceis, nem as torne em brincadeira, para

que o aluno sinta que está a raciocinar e a adquirir conhecimentos através dos materiais

manipuláveis (Freitas, 2011).

“Para que o professor tenha sucesso na utilização dos materiais didácticos, há

que ter também em linha de conta o conteúdo, a linguagem, a metodologia, a motivação,

a criatividade, o senso crítico, o incentivo, a estimulação e o custo do material” (Freitas,

2011, p. 24).

Figueiredo resume a importância da utilização destes materiais: o manuseamento

de materiais proporcionam aos alunos experiências diversificadas em contextos ricos e

variados, contribuindo para o desenvolvimento de capacidades e hábitos de natureza

cognitiva, afetiva e social, designadamente estimulando a curiosidade, o sentido crítico,

o gosto de comunicar, de enfrentar e resolver problemas (Figueiredo, s. d., cit. in

Camacho, 2012, p. 28).

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6 - Educação Alimentar

Os Serviços de Saúde são muito eficazes na prevenção de doenças e preservação

da saúde, no entanto a sociedade necessita de oferecer aos cidadãos estratégias de

adoção de estilos de vida saudáveis (Baptista, 2006). Para Baptista (2006), o local que

melhor poderá permitir a aquisição de conhecimentos e hábitos de saúde é a escola,

nomeadamente, na área da Educação Alimentar.

As escolas, enquanto espaços educativos e promotores de saúde, devem criar

espaços que permitam o aumento de conhecimentos sobre a alimentação, tanto através

da oferta de refeições saudáveis, como através de conteúdos curriculares; tentando,

desta forma colmatar uma das maiores preocupações da Organização Mundial de Saúde,

as opções alimentares da população, principalmente infantil e juvenil (Baptista, 2006).

Comer, para além de satisfazer necessidades biológicas e energéticas para o bom

funcionamento do organismo, é um ato cultural e de transmissão dessa cultura. Porém, é

necessário escolher os alimentos adequados e nas proporções corretas que possibilitem

o crescimento e desenvolvimento físico e cognitivo (Nunes e Brenda, 2001). Uma boa

alimentação, iniciada em idade precoce, além de permitir um desenvolvimento e

crescimento saudáveis previne muitos problemas de saúde, por exemplo: anemia, atraso

no crescimento, malnutrição, obesidade, entre outras.

Uma educação para a Cidadania permite aos alunos desenvolver a autoestima, o

respeito mútuo e regras que levam à formação de cidadãos participativos, autónomos e

informados e civicamente responsáveis (Fonseca e Gomes, 2001).

Reconhece-se que, hoje em dia, a Educação Alimentar deve ser trabalhada de

forma transversal nas diferentes áreas curriculares, não sendo exclus ivo do Estudo do

Meio, Ciências da Natureza e Ciências Naturais. Pelo contrário, esta formação deve ser

transdisciplinar, não se limitar à sala de aula e ter a colaboração de vários parceiros

educativos (Fonseca e Gomes, 2001). As Orientações Curriculares para a Educação

Pré-Escolar (1997) realçam a importância dos diferentes conceitos e aprendizagens

serem feitos de modo transversal às diferentes áreas de conteúdo. Entre essas

aprendizagens encontra-se a educação para a saúde, nomeadamente a alimentação, que

faz parte do dia a dia das crianças.

Diferentes investigações alertam para o facto de as crianças não estarem dotadas

de uma capacidade inata para escolher os alimentos em função do seu valor nutricional,

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pelo contrário, estes hábitos são adquiridos através da cultura, observações e

experiencias. Porém, os hábitos saudáveis, quando adquiridos precocemente, tendem a

persistir por um longo período de tempo (Fonseca e Gomes, 2001; Nunes e Brenda,

2001).

Para que tais hábitos sejam adquiridos pelas crianças, é fundamental que as

aprendizagens estejam de acordo com o estádio de desenvolvimento psicomotor e

cognitivo de cada criança. Para que haja sucesso, os programas devem ser adaptados às

caraterísticas das crianças. Estas não compreendem os nutrientes, nem como estes

funcionam no organismo. No entanto, conseguem compreender as consequências de

comer alimentos saudáveis. A título de exemplo, compreendem conceitos como “ter

força” ou “coração forte” (Nunes e Brenda, 2001).

Fonseca e Gomes (2001) alertam, que apesar de ser o receio de muitos docentes,

não é necessário uma informação científica aprofundada sobre a educação alimentar.

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Capítulo III – Metodologia da Investigação

1 - Questão de investigação e objetivos do estudo

Para a realização deste projeto, foi elaborado um conjunto de questões para

investigar, em função dos objetivos definidos, que se apresenta de seguida.

1.1 - Questões de investigação

1 – A criança demonstrou interesse em ouvir e explorar o livro não adaptado?

2 – Revelou vontade em ouvir e explorar o livro adaptado em SPC?

3 - Separou os alimentos saudáveis dos não saudáveis?

4 - A história adaptada ajudou na compreensão e separação os alimentos

saudáveis dos não saudáveis?

1.2 – Objetivos do estudo

Tendo por base estas questões, foram formados os seguintes objetivos:

1.2.1 - Objetivo geral

Adaptar um livro infantil em Sistema Pictográfico para a Comunicação, e

através de um jogo de formato acessível, explorar e comparar o efeito dos livros no

conjunto de participantes.

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1.2.2 - Objetivos específicos:

- Adaptar uma obra literária infantil pertencente ao Plano Nacional de Leitura da

Educação Pré-Escolar, adotado pelo Ministério da Educação;

- Analisar se o livro adaptado, com signos do Sistema Pictográfico para a

Comunicação, é estruturador e facilitador da comunicação e compreensão, em

comparação com o livro na versão original;

- Verificar se, através de um jogo, o livro adaptado, com signos do Sistema

Pictográfico para a Comunicação, é facilitador da comunicação e compreensão da

história.

2 - Metodologia da Investigação

A metodologia adotada foi pautada por uma abordagem predominantemente

qualitativa. A opção por este método deve-se ao facto de decorrer no ambiente natural

do Centro de Recursos para a Inclusão Digital, em Leiria. Perante o exposto, o método

utilizado é o estudo de caso, pois é o que mais facilita a recolha, organização e

entendimento do efeito de um livro adaptado em Sistema Pictográfico para a

Comunicação na compreensão de quatro crianças com perturbações distintas.

2.1 - Investigação Qualitativa

“A investigação qualitativa centra-se na compreensão dos problemas, analisando os

comportamentos, as atitudes ou os valores. Não existe uma preocupação com a d imensão

da amostra nem com a generalização de resultados, e não se coloca o problema da

validade e da fiabilidade dos instrumentos, como acontece com a investigação

quantitativa” (Sousa e Baptista, 2011, pp. 56).

Segundo Sousa e Baptista (2011), na investigação qualitativa, em vez de

recolher dados para comprovar hipóteses, o investigador desenvolve conceitos através

de padrões encontrados nos dados. Esses padrões advêm da sensibilidade, integridade e

conhecimento do investigador sobre o que está a estudar. O plano de investigação é

flexível, pois estuda sistemas dinâmicos e que são influenciados pelo contexto onde

estão inseridos; os procedimentos são interpretativos, privilegiando a análise de caso ou

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de conteúdo e é uma investigação que produz dados descritivos a partir de documentos,

entrevistas e observações, daí ser fundamental que a descrição seja profunda e rigorosa.

A questão fundamental, no método qualitativo, é todo o processo, bem como os

produtos e o resultado final, devendo os dados ser analisados indutivamente,

principalmente nos aspetos específicos dos dados para descobrir categorias. O

investigador deve preocupar-se mais com o processo e significado e não tanto pelas

causas e efeitos (Carmo e Ferreira, 2008).

2.2 - Estudo de Caso

A investigação qualitativa orienta-se pela perspetiva da interpretação ou pelo

método das Ciências Humanas e enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada

e a perceção social. Nesta abordagem, encontra-se o método de “Estudo de Caso”.

O estudo de caso segue a lógica dos métodos qualitativos nas sucessivas etapas

de recolha, análise e interpretação da informação, sendo um estudo intensivo de um ou

poucos casos de aplicabilidade a situações humana em contexto real e contemporâneo

(Sousa, 2012b). Este método permite investigar um caso bem definido ou concreto,

como um indivíduo, ou um grupo, mas também pode ser algo menos definido ou mais

abstrato como programas, processos de implementação ou mudanças organizacionais.

Assim, permite desenvolver, produzir novas ou contestar teorias, explicando uma

situação que servirá de base na aplicação de possíveis soluções (Carmo e Ferreira,

2008).

O estudo de caso é mais do que uma descrição de um acontecimento ou

circunstância, visa “uma maior concentração no todo, para chegar a compreender o

fenómeno na globalidade e não alguma particularidade ou diferenciação de outros

casos” (Sousa, 2012b, p. 217).

O principal objetivo de um estudo de caso é contribuir para a leitura e

compreensão de um caso concreto, sem nunca excluir a hipótese de dar o seu contributo

para outros casos, não tendo a pretensão de encontrar explicações universais ou

generalizáveis.

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3 - Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Para recolher as informações, foram utilizadas várias técnicas e instrumentos,

nomeadamente: vídeo-gravação (filmagens), observação direta e participante, com notas

de trabalho de campo e diário de bordo, ficando, assim, com maior segurança e

perceção dos resultados da implementação do projeto realizado.

Na técnica de observação direta, verifica-se que, quando se observa algo pela

primeira vez, são retidos os aspetos mais impressionantes, passando despercebidos

pormenores e comportamentos que necessitam de uma observação mais detalhada e

profunda através das filmagens. Observar significa examinar com minúcia e atenção e

implica atentar aos factos para os conhecer bem (Sousa, 2012b).

O vídeo permite verificar, de modo detalhado, as transformações caraterísticas e

particularidade do objeto observado, oferecendo “à prática de observação e descrição,

um suporte a mais, um novo olhar” (Mauad, 2004, cit. in Pina, 2015 p.46).

Segundo Kenski (2003, cit. in Pina, 2015), a grande vantagem do vídeo é o facto

de o investigador poder analisar todo o material de pesquisa e manter a neutralidade dos

dados, além de manter a fidelidade na recolha dos dados observados por não permitir

interferências ou influências que podem ocorrer nos registos tradicionais de pesquisa

qualitativa. O recurso a tecnologia, permite suprir as principais dificuldades,

nomeadamente, a atenção a pormenores ou a influência do observador sobre o que é

observado, constituindo, deste modo, um meio idóneo para captar ininterruptamente o

que ocorre durante o investigação e armazenar os dados (Sousa, 2012b).

Neste estudo de caso, nas sessões observadas, além da presença (e participação)

da investigadora, foi introduzida uma câmara de vídeo para captar as imagens das

crianças observadas.

Uma das variáveis a ter em conta na observação prende-se com o grau de

participação que o investigador assume. Pode ser participante ou não participante.

Na observação participante, o investigador pretende compreender, estando

inserido num meio social, “um fenómeno que lhe é exterior e que lhe vai permit ir

integrar-se nas atividades/vivências das pessoas que nele vivem” (Sousa, 2012b, p.226).

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“Os investigadores qualitativos tentam interagir com os seus sujeitos de forma natural,

não intrusiva e não ameaçadora. [...] Como os investigadores qualitativos estão

interessados no modo como as pessoas normalmente se comportam e pensam nos seus

ambientes naturais, tentam agir de modo a que as atividades que ocorrem na sua

presença não difiram significativamente daquilo que se passa na s ua ausência” (Bogdan

e Biklen,1994:68, cit. in Sousa, 2012b, pp. 226-227).

Na observação não participante, o investigador não interage com o objeto de

estudo, não intervém nem participa, reduzindo substancialmente a interferência do

observador no observado e a influência que poderia exercer sobre o registo do objeto do

estudo.

Neste trabalho, a investigadora assume a função de observadora participante,

pois propõe as atividades às crianças e auxilia na realização das mesmas. Este tipo de

registo foi utilizado pelas seguintes razões: permite criar ligações de afetividade que são

extremamente uteis e facilitadoras que permite que a criança deseje participar no que

lhe é proposto e o facto de a investigadora conhecer bem as caraterística de cada criança

permite que a análise dos dados seja feita tomando essas caraterísticas em atenção.

Para completar as observações, foram realizados dois tipos de registos dos

acontecimentos: as notas de trabalho de campo (método descritivo), descrição do

sucedido e observado, e o diário de bordo (método narrativo), que pertence ao tipo da

compreensão, pois faz apelo à sua própria subjetividade (Sousa e Baptista, 2011). O

caderno de registos teve o intuito de compreender e detalhar o ambiente de pesquisa,

tornando-se um instrumento indispensável, visto que as anotações são feitas no

momento após a observação. Estas anotações podem parecer pouco relevantes no

imediato, mas podem tornar-se muito significativas à medida que se desenrola a

pesquisa (Pina, 2015).

O facto de serem utilizadas diversas técnicas de recolha de dados permite que

haja um confronto entre as diferentes técnicas, levando assim a que exista um rigor,

profundidade, complexidade e diversidade no estudo de caso (Sousa, 2012b).

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4 - Técnicas e instrumentos de análise de dados

Segundo Minayo (1994, cit. in Pina, 2015), o ciclo de pesquisa compõe-se de

três momentos: fase exploratória da pesquisa, trabalho de campo e tratamento do

material, após a recolha de dados segue a sua análise e interpretação que ainda que

sejam dois processos distintos, estão interligados, visto que:

“a análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados, de tal forma, que

possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para a investigação. Já a

interpretação, tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que é

feito mediante a sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos” (Gil, 1999,

cit. in Pina, 2015, p. 65).

Todo o material compilado no trabalho de campo, como gravações de vídeo,

notas de trabalho, dados provenientes de inquéritos, entre outras, são consideradas

fontes de dados e a sua análise será construída com base nestes dados recolhidos (Sousa

e Baptista, 2011). Van der Maren (1988) defende que sejam dados qualitativos ou

quantitativos. O tratamento de dados está relativamente formalizado, pois trata-se

sempre de resumir, organizar, estruturar e, por último, apresentar as relações ou

estruturas daí resultantes (Sousa e Baptista, 2011).

Sousa e Baptista (2011) definem que, para que se verifique o tratamento de

dados, é necessário proceder à averiguação de alguns requisitos dos dados escolhidos:

validade (comparar os dados com uma fonte externa); relevância dos dados em relação

aos objetivos; referir com objetividade e clareza os dados (datas, nomes, locais,

percentagens, etc.) e amplitude das respostas.

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Capítulo IV – Projeto

O projeto que se pretende apresentar consistiu na adaptação da obra intitulada O

Tomás já não cabe nos calções da autoria de Mymi Doinet do Plano Nacional de

Leitura para a Educação Pré-Escolar. A obra foi adaptada em Sistemas Pictográficos de

Comunicação (SPC). O projeto ainda residiu em aplicar, por dois momentos distintos, a

obra original e a obra adaptada a um conjunto de quatro crianças com Necessidades

Educativas Especiais. A par da adaptação, foi elaborado um jogo que permitiu comparar

os dois momentos para observar o contributo do livro adaptado junto destas crianças.

1 - Caraterização do contexto

O contexto onde decorreu a aplicação do livro em SPC foi no Centro de

Recursos para a Inclusão Digital (CRID), situado em Leiria, Portugal.

Este espaço é dotado de recursos tecnológicos e dinamizado por técnicos

qualificados e tem como missão promover a inclusão da população com necessidades

educativas especiais na sociedade (da informação e conhecimento) através do recurso a

produtos de apoio no âmbito da acessibilidade digital.

O CRID destina-se a todos os cidadãos com necessidades educativas especiais e

seus familiares, instituições e escolas, bem como profissionais que exerçam atividade

profissional na área.

Desenvolvendo a sua atividade em três eixos fundamenta is: avaliação,

diagnóstico e investigação, o CRID tem como objetivos

(http://crid.esecs.ipleiria.pt/quem-somos/missao-e-objetivos/): habilitar cidadãos com

necessidades especiais para a participação na sociedade, nomeadamente na área de

formação em competências informáticas básicas, com recurso à acessibilidade digital;

avaliar e prestar aconselhamento sobre os diferentes equipamentos/produtos de apoio e

respetivas estratégias de utilização, adequadas às necessidades do cidadão com

deficiência; apoiar a comunidade académica e a sociedade civil na utilização destes

produtos de apoio; estudar o potencial de desenvolvimento e inovação na conceção ou

adaptação de tecnologias na área da acessibilidade digital, cruzando saberes e

experiências de múltiplas áreas científicas.

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A escolha deste contexto deve-se ao facto de, neste local, serem desenvolvidos

projetos e materiais adaptados, sejam eles histórias em SPC, ou noutros formatos; jogos

adaptados tanto a nível digital como manual.

2 - Caraterização dos participantes

As crianças que tiveram contacto com as obras na sua versão original e na

versão adaptada, com os símbolos SPC, frequentam o CRID uma vez por semana, sendo

o local onde realizam atividade em livros e jogos adaptados.

A caraterização das crianças assume uma particular importância para a

necessidade de determinar com cuidado as crianças do estudo, devido à sua importância

para o sucesso do projeto (Pina, 2015).

Relativamente à seleção dos participantes, importa referir que foram tidos em

conta os seguintes critérios: crianças com idades aproximadas (todas com 5 anos), a

frequentar a educação pré-escolar e todas com diferentes perturbações na comunicação.

As quatro crianças deste estudo, todas do sexo masculino, frequentam o ensino regular e

frequentam uma vez por semana o centro de recursos para a inclusão digital.

2.1 - Caraterização do M

A criança M tem cinco anos, vive com os pais e irmão mais velho (com

Síndrome de Asperger), numa aldeia. Frequentou a creche onde teve intervenção

precoce, encontrando-se a frequentar o jardim de infância desde os três anos. No jardim

de infância, frequenta a sala de ensino regular, tendo acompanhamento de um professor

de educação especial uma vez por semana e um computador individual com software e

hardware adaptado, nomeadamente, o rato. Realiza muitas atividades diferentes dos

restantes colegas, atividades estas que vão ao encontro dos principais objetivos

previstos no PEI (Plano Educativo Individual), que, neste caso, são a comunicação e

linguagem e o desenvolvimento da motricidade fina. Fora do ambiente escolar,

frequenta a terapia da fala; consultas de desenvolvimento; hidroterapia e o CRID desde

2015.

O M revela alguma lentidão na resolução de problemas e no pensamento

abstrato; revela dificuldade na articulação de algumas palavras sendo, no entanto,

bastante percetível. Tem boa memória; compreende o que lhe é dito; demonstra esforço

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para adquirir novos conhecimentos e ocupa bastante tempo em cada atividade, porém,

está pouco tempo atento. É uma criança muito curiosa, faz muitas perguntas e sugestões

de atividades e estratégias.

As capacidades motoras globais tiveram um desenvolvimento tardio, revelando,

ainda, muitas dificuldades na motricidade fina, necessitando de um rato adaptado;

revela algumas dificuldades de locomoção, de coordenação e de manipulação.

É uma criança tímida, mas que se preocupa com os seus pares, partilha os jogos

sem dificuldades e tem um grande sentido de respeito pelo outro. Prefere brincar

sozinho ou com um adulto, não é agressivo mas também não é meigo, essencialmente,

respeita o outro.

Segue sem dificuldade as rotinas, revelando-se um pouco confuso quando

aparece uma situação diferente ou um conflito entre pares, esperando alguma indicação

do adulto. Não explora ativamente o ambiente que a rodeia, preferindo observar e

esperar que um adulto lhe diga que pode observar e analisar o que o rodeia ou objetos.

O M gosta de histórias e de jogos, em casa, os pais não lhe contam história nem

realizam jogos adaptados às caraterísticas da criança; colaboram com a escola, no

sentido que autorizam que sejam realizadas atividades adaptadas, mas preferem que os

técnicos especializados trabalhem com o M para o seu desenvolvimento intelectual.

2.2 - Caraterização do R

A criança R tem cinco anos, vive com os pais numa aldeia; frequentou a creche

desde um ano de idade onde teve intervenção precoce. Atualmente frequenta o jardim

de infância. No jardim de infância, frequenta a sala de ensino regular não tendo

acompanhamento de um professor de educação especial e realiza as mesmas atividades

que os restantes colegas, não tendo nenhum PEI adaptado às caraterísticas e

necessidades da criança. Fora do ambiente escolar, frequenta a terapia da fala três vezes

por semana; neuroterapia e o CRID desde 2015.

O R quando nasceu, não se ouvia o seu choro e os primeiros balbucios

apareceram tardiamente, com dois anos e meio. Inúmeros exames têm sido realizados

para perceber a razão pela qual o R começou a emitir sons tão tarde, sendo que os

existentes são muito baixos e quase impercetíveis, no entanto a medicina não revelou os

principais motivos. Atualmente está em estudo a possibilidade de o R ter Síndrome

DiGeorge (ver anexo 2) e uma fenda submucosa. Não revela perturbações do

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desenvolvimento intelectual, revelando problemas do som da fala e uma

híper-nasalidade.

A sua respiração e os sons são todos feitos através do nariz, porém tem uma

boca pequena, em forma de peixe e sempre aberta, tem infeções constantes no trato

respiratório superior e ouvido, tendo sido operado com dois anos às adenoides e

amígdalas. Tem défice no crescimento físico e uma ligeira surdez.

As suas deformações fonéticas estão mais concentradas nas consoantes do que

nas vogais, sendo que os sons nasais são aqueles que revela maior facilidade em dizer:

[n], [m], [nh]. Quanto ao modo de articulação, demonstra estar a começar a adquirir os

sons pertencentes às oclusivas, nomeadamente [b], [p] e [t] e outros sons co mo o [r] e o

[l]. Sobre o ponto de articulação, revela alguma tendência para as labiais [b], [m] e [p] e

dentais (revelando maior dificuldade nestas) [l] e [t]. O R não consegue articular os sons

[f], [s], [v], [ch] e [rr].

Deste modo, a nível da articulação dos sons da fala, o R faz substituições, quase

todas as sílabas começam com o som [n], por exemplo: “nenoura” em vez de “cenoura”.

A voz da criança é anasalada, sem grande entoação e de volume sempre muito baixo,

quase sussurrada.

O R gosta de história e jogos. Em casa os pais contam-lhe sempre uma história

antes de adormecer. Como a criança não revela problemas do desenvolvimento

intelectual, não tem livros nem jogos adaptados. No entanto, necessita de jogos que o

ajudem a comunicar oralmente, tendo acesso a estes na escola e nas atividades

complementares.

2.3 - Caraterização do X

A criança X tem cinco anos, vive com os pais e irmão mais velho numa cidade

pequena; não frequentou a creche e encontra-se a frequentar o jardim de infância desde

os três anos. No jardim de infância frequenta uma sala de ensino regular com

intervenção precoce, tendo o acompanhamento de um professor de educação especial

durante pouco tempo na sala, não realiza sempre as mesmas atividades que os restantes

colegas, estando com a terapeuta ocupacional com quem realiza atividades que vão ao

encontro dos principais objetivos previsto no PEI (P lano Educativo Individual), que,

neste caso, são a linguagem e a socialização. Fora do ambiente escolar, frequenta a

terapia da fala; a terapia ocupacional; musicoterapia; fisioterapia e o CRID deste 2014.

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O X teve os primeiros ataques de epilepsia aos quatro meses e após os 18 meses

foi- lhe diagnosticado autismo infantil, estando atualmente, em estudo, a hipótese de ter

Síndrome de West (ver anexo 3).

Revela dificuldades na interação social; não faz contacto visual, utilizando a

visão periférica, não brinca com os seus pares mas gosta de os ver brincar e esses

colegas ajudam-no a socializar, quando ninguém está à espera e muito raramente tem

um gesto de carinho (dar uma festa no cabelo). Não sendo uma criança afetiva, também

não é agressiva e quando vê um colega fora do contexto escolar reconhece a pessoa,

mas ignora-o. Gosta de estar com o irmão por interesse, isto é, quando quer algo do

irmão ou este se encontra a jogar no tablet, tem revelado alguma agressividade quando é

contrariado, especialmente com a mãe.

O X, quando quer algo, diz alguns nomes ou aponta, tendo alguma linguagem

funcional com raríssimas frases “vamos embora” e algumas palavras “xau”,

“computador”, “piano” e fala sem entoação. Compreende e corresponde às ordens que

lhe são dadas e responde quando é chamado pelo nome. Sabe identificar e verbalizar

muitos animais (cão, galinha, gato, pato), alimentos (maçã, banana, cenoura, água) e

objetos (aspirador, telefone, bicicleta, carro).

Os seus interesses são a música, adora que toquem piano para ele, sons e

texturas de material para bebés, gosta de aspiradores, eletrodomésticos e de cabelos, tem

fixação por água (exemplo: lagos) mas tem medo. Apresenta estereotipias motoras

gerais e específicas – baloiça e abana os braços quando está feliz. Sorri quando gosta de

algo, se está numa situação que lhe desagrada ou perante algum objeto que o incomode,

o X prefere ignorar. Rejeita o secador das mãos e não gosta de sentir coisas fofas, é uma

criança ansiosa e desconcentra-se facilmente, não estando muito tempo quieta.

Tem dificuldade com a alimentação devido a algumas texturas (por exemplo,

não come gomas). No entanto, é independente para comer, não o sendo para se vestir,

necessitando de ajuda. Apesar de não gostar de estar na sanita, tem controlo dos

esfíncteres e pede para ir à casa de banho.

O X gosta de histórias e de jogos. Em casa, os pais contam-lhe algumas histórias

de livros para bebés e fornecem-lhe jogos também abaixo da sua idade cronológica. Os

pais revelaram que é difícil encontrar livros e jogos adaptados para as caraterísticas e

perturbação do desenvolvimento intelectual do X, colmatando essas falhas com material

para bebés, além de que a criança tem alguns livros com SPC e, apesar de reconhecer as

imagens e de ter o seu próprio livro para comunicar, este não gosta de o utilizar.

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2.4 - Caraterização do P

A criança P tem cinco anos, vive com os pais numa cidade e não tem diagnóstico

concreto. É uma criança que está em estudo e a ser analisada por vários especialistas.

Frequentou a creche entre os três e os seis meses (altura em que surgiram os primeiros

sintomas) e atualmente frequenta o jardim de infância. No jardim de infância frequenta

a sala de ensino regular, para além do apoio do professor de educação especial. A

educadora de infância pensa em atividades para o grupo e de que forma pode adaptar

para as caraterísticas do P. As atividades que realiza têm por base o PEI, onde os

principais objetivos são a funcionalidade motora e o desenvolvimento intelectual. Fora

do ambiente escolar frequenta a musicoterapia, hidroterapia, fisioterapia, terapia da fala,

terapia ocupacional, psicólogo e CRID desde 2012.

Os primeiros sintomas verificaram-se com seis meses, quando a criança perdeu a

força das pernas, não se conseguia sentar e deixou de dirigir os braços. Com um ano

deixou de comer. Desde o primeiro ano de vida até à atualidade, o P tem feito inúmeros

exames e análises, não tendo ainda sido possível efetuar o diagnóstico.

O P é uma criança muito alegre mas também muito frustrada por o corpo não

corresponder aos desejos dele, visto que a criança não tem problemas cognitivos e tem

plena noção das suas limitações físicas. Deste modo, o P revela muita impaciência; não

gosta de ser diferente e de fazer atividades diferentes dos pares, não gosta de jogos que

desconhece pois tem medo de não os conseguir resolver, preferindo os que conhece

bem. É uma criança que gosta de estar com os seus pares e adultos, observa com

entusiasmo as brincadeiras à sua volta e os seus colegas tentam incluí- lo nas atividades,

gosta de ver cozinhar; de ver desenhos animados, porém é muito seletivo visto chorar

quando são imagens que apelam ao sentimentalismo ou à violência e adora passear.

Fisicamente, o P utiliza uma cadeira de rodas, da qual depende de outrem para a

deslocar, tem peso e altura abaixo do percentil esperado para a idade, os seus braços não

funcionam coordenadamente, é necessário que alguém os movimente para fazer algo

específico. A sua comunicação é feita com expressões faciais (sorrindo quando

concorda e franzindo a testa quando discorda) ou através do olhar, olhando para o

objeto que deseja ou, quando está numa atividade em que é necessário selecionar algo.

O P olha para a opção que deseja selecionar. Os adultos também comunicam com ele

através das mãos, isto é, posiciona-se em frente à criança e mostra-lhe a mão esquerda

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62

correspondendo ao “não” e a mão direita corresponde ao “sim” e o P olha para a mão

consoante a resposta que deseja transmitir.

O P gosta de histórias e de jogos. Em casa os pais contam-lhe histórias. Como a

criança não tem problemas do desenvolvimento intelectual, não tem histórias adaptadas,

quando ainda tinha alguma facilidade com as mãos, os pais arranjaram livros adaptados.

Atualmente, ele vê os livros ou a história no computador. Quanto aos jogos, eles

necessitam de estar adaptados para o ecrã tátil, visto ser o único meio da criança os

realizar, necessitando da ajuda de um adulto para lhe encaminhar os braços. A criança,

em casa tem acesso a jogos adaptados pois os pais compram e a mãe faz os restantes.

Atualmente, o P está a recomeçar a comer, visto que o seu organismo não

produz açúcar nem hidratos de carbono, a sua alimentação é rica nestes nutrientes. A

consequência de estar a comer reflete-se no seu comportamento, está mais calmo, mais

atento e dorme melhor.

3 – Procedimentos

3.1 – Adaptação de obras em SPC

O primeiro passo dado foi a seleção da obra, dos materiais e equipamentos.

Neste sentido foram vistas quais as obras que se inseriam no Plano Nacional de Leitura

para a Educação Pré-Escolar, e optou-se pala adaptação do livro intitulado O Tomás já

não cabe nos calções, da autoria de Mymi Doinet e ilustrações de Nanau.

A opção de se escolher uma obra que fosse recomendada pelo Plano Nacional de

Leitura para a Educação Pré-Escolar deveu-se ao facto de

“o sucesso de escolas inclusivas depende em muito da identificação precoce, avaliação e

estimulação de crianças pré-escolares com necessidades educativas especiais.

Assistência infantil e programas educacionais para crianças até a idade de 6 anos

deveriam ser desenvolvidos e/ou reorientados no sentido de promover o

desenvolvimento físico, intelectual e social e a prontidão para a escolari zação”

(Declaração de Salamanca, 1994, p. 33).

Deste modo, pretendeu-se desenvolver um livro que ajude no

desenvolvimento precoce de crianças com necessidades educativas especiais.

Esta obra aborda um tema de cidadania, como a alimentação e a saúde, indo

assim ao encontro das palavras de Ferreira, Ponte e Azevedo (1999, cit. in Pina, 2015,

p.70) quando afirmam que “as histórias devem ser escolhidas de acordo com temas que

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63

tenham a ver com os interesses da criança, devem relacionar-se com experiências já

vivenciadas e facilitar a compressão da criança”.

Neste sentido, pode-se dizer que a obra selecionada está focada na formação

pessoal e numa postura e orientação responsável sobre o futuro, nomeadamente a

alimentação saudável. Outra caraterística da obra é o facto de ser capaz de motivar a

leitura de livros cativantes para o universo infantil, através de formatos adaptados para

pessoas com perturbações do desenvolvimento intelectual e perturbações na

comunicação.

Depois de escolhida a obra, procedeu-se à simplificação da história, sem perder

de vista a sua originalidade. A par da simplificação da história, foi adquirido o

“Software Boardmaker”. Este software que permite a adaptação do livro para SPC, é um

programa de computador que cria quadros e recursos especificamente para a

comunicação aumentativa e alternativa.

A história foi recontada, com frases escritas na versão simplificada, com os

pictogramas correspondentes e as imagens originais. Tendo o texto adaptado em

formato SPC, com as respetivas imagens, foi tudo enviado para uma gráfica, onde foi

impresso a cores, no formato do livro original, quadrado, encadernado com espiral

metálica e plastificado, de modo a garantir a sua durabilidade face a movimentos

bruscos e baba.

3.2 – Implementação da leitura das obras

No primeiro momento, fez-se o contacto presencial com o Centro de Recursos

para a Inclusão Digital em Leiria, local onde se pretendia ler os livros de forma a

viabilizar o projeto. Visto a Coordenadora do CRID, Professora Doutrora Célia Sousa,

pertencer também a este projeto, deu um parecer favorável à implantação e recolha de

dados.

Num segundo momento, foi feita a seleção das crianças frequentadoras deste

centro e que iriam participar no estudo. Para a seleção das crianças, levou-se em

consideração a faixa etária (5 anos) e a capacidade comunicativa afetada. Após a

seleção das crianças, pediu-se a autorização por escrito, onde os pais consentiam a

participação dos seus filhos no projeto (ver anexo 1).

A etapa seguinte consistiu na preparação dos materiais para a aplicação prática.

Após a conversão do livro em SPC (ver anexos 5 e 6), procedeu-se à preparação e

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64

confeção de alimentos em feltro (ver anexos 7 e 8), com caraterísticas idênticas à

realidade e de duas caixas, uma em verde e outra em vermelho, bem como um saco

onde tudo fica arrumado. Com base nesta confeção realizou-se um jogo digital em

PowerPoint, onde se utilizaram fotografias tiradas aos “alimentos” em feltro (ver anexo

9). Este jogo consiste em selecionar se o alimento apresentado é saudável (clicando com

o rato na caixa verde) ou não saudável (clicando com o rato na caixa vermelha). Tanto

as caixas manuais como as digitais têm o Símbolo Pictográfico correspondente ao

“certo” e “errado”. Foram selecionados 15 alimentos do quotidiano das crianças, onde

10 são saudáveis e as restantes 5 não saudáveis.

A par do acima referido, foram realizadas pesquisas bibliográficas que

complementam este projeto e esteve-se presente deste outubro nas instalações do CRID

com as crianças de modo a que não houvesse sentimentos de estranheza das crianças

para com a investigadora e para que a atividade surgisse no contexto original.

As intervenções foram feitas individualmente, visto que cada criança tem a sua

hora já definida de presença no CRID. Antes de cada intervenção, teve-se o cuidado de

preparar o espaço, colocando os materiais necessários ao alcance e a máquina de filmar

posicionada tendo em conta o posicionamento das crianças. A posição que se preferiu

para contar a história foi em frente ao computador onde a criança costuma realizar as

suas atividades, estando a investigadora sentada ao lado da criança a fim de interagir

com esta.

A leitura da história original, não adaptada, foi realizada na primeira semana de

novembro, enquanto a versão adaptada foi lida na segunda semana de janeiro. A escolha

destas datas não foi aleatória, deveu-se ao facto de se observar que as crianças se

sentiam confiantes com a investigadora e o desfasamento de dois meses foi por se

considerar que as crianças já não se lembrariam totalmente da primeira intervenção. As

leituras foram acompanhadas com diversas entoações de voz, para suscitar a atenção e

interesse das crianças e pôr emoção na voz, a fim de simular os sentimentos das

diferentes personagens. Perante a história na versão adaptada em SPC, a investigadora

apontava para os símbolos, enquanto contava a história, fazendo uso dos símbolos para

reforçar os conceitos e entendimento da história.

No fim da história, tentaram estabelecer um diálogo com cada criança, a fim de

perceber o que a criança tinha compreendido e recordando a história. Após este diálogo

e para testar o grau de compreensão da história, realizou-se um jogo digital de separação

dos alimentos saudáveis dos não saudáveis (ver anexo 9), jogo este que foi explicado

Page 85: A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos ... Final... · A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências

65

como funcionava a cada criança antes de iniciar o mesmo. Somente a criança X teve de

realizar o jogo igual na versão manual visto não compreender o jogo na versão digital.

4 – Análise e interpretação dos dados

Após apresentar os procedimentos, chega-se à apresentação dos dados e

resultados, por forma a tirar conclusões acerca da implementação da obra adaptada em

SPC. Para a apresentação dos resultados, analisou-se cada criança em separado, através

das filmagens, das notas de campo e dos diários de bordo (ver anexo 4), seguindo a

metodologia descritiva, assente no paradigma qualitativo, contendo tabelas onde se

pode verificar as respostas obtidas e também de gráficos de colunas que permitem

observar a evolução de cada criança nas duas intervenções realizadas. Finalmente,

far-se-á, individualmente, uma análise e discussão dos resultados obtidos.

4.1 – Caso 1 – Criança M

O M tem uma Perturbação do Desenvolvimento Intelectual (ver capítulo IV, 2.1)

sendo possível estabelecer comunicação verbal com esta criança. O M interage

rapidamente com pessoas que lhe são estranhas, facilitando o trabalho com ela desde o

primeiro dia.

4.1.1 – Novembro de 2015

Na primeira intervenção para esta investigação, em novembro, o M esteve

sempre bem-disposto e muito recetivo para ouvir a história. Durante a escuta desta, o M

ouviu tudo com muita atenção, estabelecendo contacto visual constante com o livro e as

suas imagens, sorrindo com os diálogos das personagens.

Após a leitura da história, foi estabelecido um diálogo a fim de perceber o que

tinha sido compreendido pela criança sobre o que tinha escutado.

Investigadora – “ Por que é que o Tomás não cabia nos calções?”

Pausa

M – “Porque tinha a barrirra redonda.”

Investigadora – “Muito bem. E depois o que fez o Tomás para perder a barriga?”

Longa pausa

Page 86: A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos ... Final... · A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências

66

M – “ Não cabia nos calções.”

Investigadora – “E para caber nos calções, começou a comer melhor?”

Longa pausa

M – Sim

Após este diálogo, realizou-se o jogo digital com o M; durante esta atividade a

criança identificou alguns dos alimentos, verbalizando: cenoura, piza, banana, peixe,

bolacha, frango, água, tomate, pera, coca-cola e maça.

As restantes imagens não as identificou, pedindo à investigadora que lhe

dissesse e tentando, por iniciativa própria, repetir o mais fielmente a palavra.

Os resultados obtidos apresentam-se na seguinte tabela:

ALIMENTO RESPOSTA DA CRIANÇA

Cenoura 1

Piza 0 Banana 1 Peixe 1

Bolacha de chocolate 1 Perna de frango 1

Laranja 1 Donut 0 Água 0

Brócolos 0 Bolo 0

Tomate 1 Pera 1

Coca-cola 1

Maçã 0

TOTAL 9 Tabela 2 – Resposta individual do M em novembro durante a implementação da obra não adaptada para

SPC

Fonte: Própria de acordo com observação, registo e filmagens

Tabela onde cada resposta correta da criança corresponde a 1 ponto e 0 corresponde às respostas erradas

Conforme se pode observar na tabela acima referida (tabela 2), o M conseguiu

identificar corretamente 9 dos 15 alimentos se são ou não saudáveis.

4.1.2 – Janeiro de 2016

Na intervenção de janeiro, o M disse que se lembrava do “Tomás”, a

personagem principal da história, mas disse igualmente que a história estava diferente

Page 87: A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos ... Final... · A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências

67

graficamente, visto conter as imagens em SPC. Inicialmente, ouviu a história com

entusiasmo, mas esse entusiasmo transformou-se de mero ouvinte a interlocutor a meio

da história, isto é, fez comentários sobre o que estava a acontecer ao longo da história;

chegou a conclusões; interrogou a investigadora quando teve dúvidas e antecipou

acontecimentos olhando para os símbolos.

Antes de a investigadora começar a contar a história, falou com o M e disse- lhe

que gostaria que, no fim de ouvir a história, ele a recontasse, porém o M começou a

meio da história a contar a mesma. Deste modo o M. revelou identificar os diferentes

símbolos pictográficos ao contar a história olhando para eles, assim, de espectador

passivo passou a interveniente ativo.

Aquando a apresentação do jogo, o M identificou os símbolos pictográficos

correspondentes ao “certo/saudável” e “errado/não saudável” e teve a iniciativa de

começar a realizar o jogo. Durante o jogo o M dialogou muito decidido sobre as suas

opções, falando com firmeza, além de dizer quais os alimentos saudáveis e não

saudáveis, o M verbalizou quais os que gostava de comer, independentemente de serem

saudáveis ou não saudáveis.

Na tabela seguinte, encontram-se as respostas dadas pelo M no jogo:

ALIMENTO RESPOSTA DA

CRIANÇA

Cenoura 1 Piza 0

Banana 1 Peixe 1

Bolacha de chocolate 1

Perna de frango 1 Laranja 1

Donut 0 Água 1

Brócolos 1

Bolo 0 Tomate 1

Pera 1 Coca-cola 1

Maçã 1

TOTAL 12 Tabela 3 – Resposta individual do M em janeiro durante a implementação da obra adaptada para SPC

Fonte: Própria de acordo com observação, registo e filmagens

Tabela onde cada resposta correta da criança corresponde a 1 ponto e 0 corresponde às respostas erradas

Page 88: A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos ... Final... · A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências

68

Na tabela 3, pode-se observar que o M identificou corretamente 12 dos 15

alimentos, distinguindo os saudáveis dos não saudáveis.

4.1.3 – Análise e Discussão dos Resultados

Nas duas intervenções, verifica-se que o M manifestou interesse em ouvir a

história, sendo que, em janeiro, esteve mais participativo, tentou contar a história

baseando-se nos símbolos em SPC e estabeleceu um diálogo com a investigadora,

tirando dúvidas, fazendo comentários e antecipando as respostas.

Quanto ao jogo, comparando as duas intervenções, observou-se que, na segunda

vez, a criança verbalizou o nome de todos os alimentos, e partilhou quais as suas

preferências gastronómicas, em suma, mostrou muita iniciativa e firmeza na realização

do jogo.

Gráfico 1 – Comparação de respostas e evolução do M

No que concerne à realização do jogo, o M em novembro, separou corretamente

9 dos 15 alimentos, enquanto em janeiro acertou 12, assim, evoluiu em 3 alimentos

(água, brócolos e maçã) e manteve incorreto outros 3 (piza, donut e bolo)

verificando-se, assim, um aumento dos conhecimentos. Das quatro crianças envolvidas

nesta investigação, o M foi a criança que mais evoluiu.

Visto existir uma evolução positiva na realização do primeiro para o segundo

jogo, modificando somente o livro de não adaptado para adaptado em SPC, pode-se

atribuir essa evolução, em parte, à adaptação do livro.

9

12

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

10 11 12 13 14 15

Novembro 2015 Janeiro 2016

Re

sp

osta

s C

ert

as

Meses

Evolução do M

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69

Verificou-se que, na segunda intervenção, o M esteve mais participativo durante

a história, conseguido contá- la através das imagens em SPC, confiante e respondeu

corretamente a mais alimentos durante o jogo. Desde modo, e tendo por base a analise

acima feita, pode-se considerar que o livro adaptado para SPC ajudou a criança a

compreender melhor a história e a ter uma prestação mais positiva, contribuindo assim

para o seu desenvolvimento e conhecimento.

4.2 – Caso 2 – Criança R

O R tem uma Perturbação da linguagem (ver capítulo IV, 2.2) sendo possível

estabelecer comunicação verbal com esta criança, ainda que esta demonstre algumas

dificuldades em verbalizar corretamente os sons. O R é muito tímido, não interagindo

rapidamente com pessoas que lhe são estranhas. Assim foi necessário cativar a criança

ao longo de várias semanas antes da primeira intervenção.

4.2.1 – Novembro de 2015

Na primeira intervenção para esta investigação, em novembro, o R ouviu a

história com muita atenção sem nunca desviar o olhar do livro. No entanto, não quis

explorar a história com a investigadora, nem sozinho; e manteve a postura de não

participar quando das perguntas da investigadora sobre a história.

Após a tentativa de estabelecer um diálogo com a criança, passou-se à

apresentação do jogo digital, no qual a criança rapidamente colocou a mão no rato para

realizar o jogo. Contrariamente ao verificado anteriormente, durante o jogo o R,

participou ativamente e identificou, verbalizando, os alimentos, exceto os brócolos e

coca-cola e trocando a laranja com a cenoura e o peixe associou ao desenho aninado da

Disney “Nemo”.

A cada imagem nova, verbalizava o nome do alimento, fazia um gesto com a

mão, gesto esse que vulgarmente se associa ao ato de comer, e dizia qual a resposta que

iria selecionar antes de o fazer. As vezes que selecionou incorretamente uma resposta, o

R sorria e selecionava a correta.

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70

Os resultados obtidos apresentam-se na seguinte tabela:

ALIMENTO RESPOSTA DA CRIANÇA

Cenoura 1 Piza 1

Banana 0 Peixe 1

Bolacha de chocolate 0 Perna de frango 1

Laranja 1

Donut 1 Água 1

Brócolos 0 Bolo 0

Tomate 1

Pera 0 Coca-cola 1

Maçã 1

TOTAL 10 Tabela 4 – Resposta individual do R em novembro durante a implementação da obra não adaptada para

SPC

Fonte: Própria de acordo com observação, registo e filmagens

Tabela onde cada resposta correta da criança corresponde a 1 ponto e 0 corresponde às respostas erradas

Conforme se pode observar na tabela acima referira (tabela 4), o R conseguiu

identificar corretamente 10 dos 15 alimentos se são ou não saudáveis.

4.2.2 – Janeiro de 2016

Na intervenção de janeiro, o R disse que não se lembrava da história nem da

personagem central o “Coelho Tomás”.

Inicialmente ouviu a história, mas rapidamente passou de ouvinte a participante

ativo, tentando contar a história através dos símbolos em SPC, os símbolos que melhor

identificou foram os correspondentes a alimentos, vestuário (calções e casaco) e

sentimentos (triste e alegre). A par da verbalização da história através dos símbolos em

SPC, o R acrescentou alguns gestos com os dedos, juntando estes quando se referia as

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71

palavras “pequeno” e “magro” e afastando os dedos quando correspondia a “grande” e

“gordo”.

Após a criança ter tentado contar a história, através dos símbolos em SPC e com

o auxílio da investigadora, passou-se ao jogo, onde a criança disse que se lembrava do

mesmo e disse como é que ele funcionava. Voltou a verbalizar a maioria dos alimentos,

acrescentando corretamente o peixe, continuando a confundir a laranja com a cenoura e

desconhecendo os brócolos e a coca-cola.

O R além de dizer o nome dos alimentos, foi dizendo de quais é que gostava e

antes de selecionar, verbalizava a sua opção de resposta.

Na tabela seguinte, encontram-se as respostas dadas pelo R no jogo:

ALIMENTO RESPOSTA DA

CRIANÇA

Cenoura 1 Piza 1

Banana 0

Peixe 1 Bolacha de chocolate 0

Perna de frango 1 Laranja 1 Donut 1

Água 1 Brócolos 0

Bolo 1 Tomate 1

Pera 1

Coca-cola 1 Maçã 1

TOTAL 12 Tabela 5 – Resposta individual do R em janeiro durante a implementação da obra adaptada para SPC

Fonte: Própria de acordo com observação, registo e filmagens

Tabela onde cada resposta correta da criança corresponde a 1 ponto e 0 corresponde às respostas erradas

Na tabela 5, pode-se observar que o R identificou corretamente 12 dos 15

alimentos, distinguindo os saudáveis dos não saudáveis.

4.2.3 – Análise e Discussão dos Resultados

Nas duas intervenções, verifica-se que o R manifestou muito mais interesse em

janeiro do que na sessão anterior, enquanto em novembro, não quis participar. Na

intervenção seguinte, verifica-se o oposto. Aqui a criança além de escutar a história quis

ter uma participação ativa ao contá- la através dos símbolos em SPC. Verificou-se que

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72

além de conseguir contar a história guiando-se pelos símbolos, a criança identificou

símbolos isolados, nomeadamente, os correspondentes a alimentos, vestuário e

sentimentos, aliando gestos com as mãos enquanto falava.

Quanto ao jogo, comparando as duas intervenções, observou-se que ambas as

vezes o R esteve muito participativo; identificou os alimentos (na segunda sessão

verbalizou corretamente mais alimentos que na primeira). Mesmo quando errou sorriu,

mostrando-se sempre bem-disposto. Em janeiro além de realizar o jogo com alegria,

manifestou as suas preferências gastronómicas.

Gráfico 2 – Comparação de respostas e evolução do R

No que concerne à realização do jogo, o R em novembro separou corretamente

10 dos 15 alimentos, enquanto, em janeiro, certou 12. Assim, evoluiu em 2 alimentos

(bolo e pera) e manteve incorreto 3 alimentos (banana, bolacha de chocolate e

brócolos) verificando-se, assim, um aumento dos conhecimentos. Das quatro crianças

envolvidas nesta investigação, o R foi a criança que se mostrou mais interessada e

desinibida com o livro adaptado em SPC.

Visto existir uma evolução positiva na realização do primeiro para o segundo

jogo, modificando somente o livro de não adaptado para adaptado em SPC e ter-se

verificado uma postura mais conversadora e interessada no livro, pode-se atribuir essa

evolução, em parte, à adaptação do livro.

Verificou-se que na segunda intervenção o R esteve mais participativo durante a

história, conseguindo contá- la através das imagens em SPC. Esteve também mais

conversador e respondeu corretamente a mais alimentos durante o jogo. Desde modo, e

10 12

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

10 11 12 13 14 15

Novembro 2015 Janeiro 2016

Re

sp

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s C

ert

as

Meses

Evolução do R

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73

tendo por base a analise acima feita, pode-se considerar que o livro adaptado para SPC

ajudou a criança a compreender melhor a história e a ter uma prestação mais positiva,

contribuindo, assim, para o seu desenvolvimento e conhecimento.

4.3 – Caso 3 – Criança X

O X tem uma Perturbação do Espectro do Autismo (ver capítulo IV, 2.3) não

sendo possível estabelecer diálogos com esta criança, visto que ela pouco comunica

oralmente, utilizando palavras isoladas.

4.3.1 – Novembro de 2015

Na primeira intervenção para esta investigação, em novembro, o X não se

interessou pela história, isto é, nem ver o livro nem ouvir a história, a criança coçava os

olhos, ou olhava em redor, mostrando-se desinteressada.

A investigadora tentou chamar a sua atenção para a história e livro, no entanto o

X sorria e continuava sem olhar para o livro, agarrando a mão da investigadora e

dirigindo-a para o ecrã do computador. Numa destas ocasiões, verbalizou “computador”

a fim de terminar com a leitura.

Foi decidido ler a história até ao fim, e após a sua leitura procedeu-se à

realização do jogo, esta criança foi a única da investigação pela qual se optou pelo jogo

manual, visto ela não compreender o jogo digital.

O X mostrou-se muito entusiasmado com os objetos, fazendo movimentos

estereotipados que costuma fazer quando se encontra feliz. Retirava da mão da

investigadora o objeto, abanava-o, colocava na caixa, sorria e sacudia as mãos e braços

(movimento observado sempre que se encontra feliz e satisfeito com algo).

Durante o jogo, verbalizou as palavras cenoura, banana e maçã no lugar de

laranja.

Page 94: A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos ... Final... · A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências

74

Os resultados obtidos apresentam-se na seguinte tabela:

ALIMENTO RESPOSTA DA CRIANÇA

Cenoura 0 Piza 1

Banana 0 Peixe 1

Bolacha de chocolate 1 Perna de frango 0

Laranja 0

Donut 1 Água 0

Brócolos 0 Bolo 1

Tomate 0

Pera 0 Coca-cola 1

Maçã 1

TOTAL 7 Tabela 6 – Resposta individual do X em novembro durante a implementação da obra não adaptada para

SPC

Fonte: Própria de acordo com observação, registo e filmagens

Tabela onde cada resposta correta da criança corresponde a 1 ponto e 0 corresponde às respostas erradas

Conforme se pode observar na tabela acima referida (tabela 6), o X conseguiu

identificar corretamente 7 dos 15 alimentos se são ou não saudáveis.

4.3.2 – Janeiro de 2016

Na intervenção de janeiro, o X olhou para as imagens referentes à história e aos

símbolos em SPC e durante a leitura a criança apontou para os símbolos

correspondentes a “barriga” e “chocolate” quando ouviu estas palavras. Além de olhar

para o livro, o X quis explorar o livro e virar as páginas, no entanto, a meio da história,

começou a apontar para o computador e perto do final da história, dizendo a palavra

“computador”, pediu para ir para este.

Quando lhe foi apresentado o jogo manual (tal como tinha acontecido em

novembro), o X sorriu e esteve a brincar com os objetos, abanando-os, colocando uns

Page 95: A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos ... Final... · A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências

75

sobre os outros, apalpando para sentir a sua textura e no fim colocava nas caixas. Esta

exploração nunca excedeu os dois objetos de cada vez.

Durante o jogo verbalizou as palavras bolacha, água e maçã.

Na tabela seguinte, encontram-se as respostas dadas pelo X no jogo:

ALIMENTO RESPOSTA DA CRIANÇA

Cenoura 1 Piza 0

Banana 0 Peixe 1

Bolacha de chocolate 1 Perna de frango 0

Laranja 0

Donut 1 Água 0

Brócolos 1 Bolo 1

Tomate 0

Pera 0 Coca-cola 1

Maçã 0

TOTAL 7 Tabela 7 – Resposta individual do X em janeiro durante a implementação da obra adaptada para SPC

Fonte: Própria de acordo com observação, registo e filmagens

Tabela onde cada resposta correta da criança corresponde a 1 ponto e 0 corresponde às respostas erradas

Na tabela 7, pode-se observar que Se.

4.3.3 – Análise e Discussão dos Resultados

Nas duas intervenções, verifica-se que o X genericamente não manifestou

interesse em ouvir a história, em novembro mostrou-se completamente desinteressado

tanto em ouvir o conto como em ver as imagens, olhava para o teto, pediu para jogar no

computador. Em janeiro, demonstrou um desejo inicial de escutar o conto e de ver as

imagens, apontando para alguns símbolos em SPC e virando as páginas do livro, porém,

a meio da história, tal como aconteceu na primeira intervenção, ficou desinteressado.

Em ambas as sessões, a criança mostrou-se sempre muito entusiasmada com os

objetos do jogo, abanando-os no ar e sorrindo e verbalizando o nome dos alimentos

representados nos objetos de feltro, na segunda intervenção, ainda explorou a textura do

material tanto com as mãos como colocando no rosto.

Page 96: A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos ... Final... · A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências

76

Gráfico 3 – Comparação de respostas e evolução do X

No que concerne à realização do jogo, o X em novembro, separou corretamente

7 dos 15 alimentos, enquanto, em janeiro, acertou novamente 7. No entanto,

verificou-se, durante as intervenções, que a criança não pensou sobre em que caixa iria

colocar os objetos, colocou numa qualquer. Além de se ter verificado aquando as

sessões, analisando detalhadamente onde o X colocou os alimentos, verifica-se que os

que ele considerou saudáveis em novembro não são os mesmos que considerou em

janeiro. Somente 5 são comuns em ambos os dias (peixe, bolacha de chocolate, donut,

bolo e coca-cola).

Visto existir uma evolução positiva quanto à participação ativa e escuta da

história do X, pode-se atribuir que ele se identificou com as imagens em SPC já que

apontou para elas à medida que o enredo se desenrolava. Porém, não é possível

considerar que a história adaptada ajudou na resolução do jogo com maior sucesso, já

que os resultados foram os mesmos em ambas as intervenções. Podendo-se destacar que

o segundo livro o cativou mais.

4.4 – Caso 4 – Criança P

O P não tem diagnóstico concreto (ver capítulo IV, 2.4) e não é possível

estabelecer diálogos com esta criança, visto que ela não comunica verbalmente,

utilizando os olhos e as expressões faciais para comunicar com os outros. O P interage

7 7

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

10 11 12 13 14 15

Novembro 2015 Janeiro 2016

Re

sp

osta

s C

ert

as

Meses

Evolução do X

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77

rapidamente com pessoas que lhe são estranhas, facilitando o trabalho com ela desde o

primeiro dia.

4.4.1 – Novembro de 2015

Na primeira intervenção para esta investigação, em novembro, o P esteve sempre

bem-disposto e muito recetivo para ouvir a história, tendo sido avisado, na semana,

anterior sobre o que iria acontecer visto não gostar de atividades que lhe possam ser

estranhas. Durante a escuta da história, o P ouviu tudo com muita atenção e com um

sorriso, estabelecendo contacto visual constante com o livro e as suas imagens. A meio

da leitura o P esticou o braço para tocar no livro e a investigadora aproveitou este gesto

para tornar a criança mais participativa, fazendo com que a criança ajudasse (dentro das

suas limitações físicas) a virar as páginas do livro à medida que a história era lida. Este

gesto deixou a criança muito excitada de felicidade. Quando a história terminou a

criança choramingou pois não gosta que as histórias terminem. Foi necessário

explicar-lhe que iriamos realizar um jogo, informação que deixou a criança mais calma

e predisposta para a atividade seguinte.

Para realizar o jogo, o P necessitou da ajuda da investigadora que auxiliava

segurando a mão e ajudando a criança a fazer força para o lado que o P queria

responder. O P utilizou duas estratégias para transmitir as suas respostas: os olhos e as

expressões faciais; movimentava os olhos para a esquerda ou para a direita, olhando

para a opção que queria selecionar e a par do olhar, sorria quando a resposta era

“saudável” e franzia a testa quando a resposta era “não saudável”. Quando apareciam

alimentos que a criança gosta de comer, esta sorria e abanava-se na cadeira de rodas

com a excitação.

Durante o jogo, verificou-se que o P choramingava quando errava a resposta e

por oposição, quando acertava ficava muito feliz.

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78

Os resultados obtidos durante o jogo apresentam-se na seguinte tabela:

ALIMENTO RESPOSTA DA

CRIANÇA

Cenoura 1 Piza 0

Banana 1

Peixe 1 Bolacha de chocolate 1

Perna de frango 1 Laranja 1 Donut 0

Água 1 Brócolos 0

Bolo 1 Tomate 1

Pera 1

Coca-cola 0 Maçã 1

TOTAL 11 Tabela 8 – Resposta individual do P em novembro durante a implementação da obra não adaptada para

SPC

Fonte: Própria de acordo com observação, registo e filmagens

Tabela onde cada resposta correta da criança corresponde a 1 ponto e 0 corresponde às respostas erradas

Conforme se pode observar na tabela acima referida (tabela 8), o P conseguiu

identificar corretamente 11 dos 15 alimentos se são ou não saudáveis.

4.4.2 – Janeiro de 2016

Na intervenção de janeiro, o P assim que viu o livro, começou a sorrir. Quando

questionado sobre se se lembrava do livro, tornou a sorrir e esticou o braço, tendo sido

interpretado pela investigadora que a criança queria voltar a ajudar a virar as páginas do

livro, apesar das dificuldades musculares verificadas naquele dia. Durante a história foi

sorrindo e ficando agitado à medida que o enredo se desenrolava. Quando a história

terminou, o P choramingou, parando quando se falou do jogo.

Page 99: A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos ... Final... · A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências

79

Tal como na intervenção de novembro, a criança transmitiu as informações

através do olhar e das expressões faciais, além de sorrir quando acertava. Desta vez,

quando errou, não chorou, abriu muito os olhos.

Na tabela seguinte, encontram-se as respostas dadas pelo P no jogo:

ALIMENTO RESPOSTA DA CRIANÇA

Cenoura 1

Piza 0 Banana 1 Peixe 1

Bolacha de chocolate 1 Perna de frango 1

Laranja 1 Donut 1 Água 1

Brócolos 1 Bolo 1

Tomate 1 Pera 1

Coca-cola 0

Maçã 1

TOTAL 13 Tabela 9 – Resposta individual do P em janeiro durante a implementação da obra adaptada para SPC

Fonte: Própria de acordo com observação, registo e filmagens

Tabela onde cada resposta correta da criança corresponde a 1 ponto e 0 corresponde às respostas erradas

Na tabela 9, pode-se observar que o P identificou corretamente 13 dos 15

alimentos, distinguindo os saudáveis dos não saudáveis.

4.4.3 – Análise e Discussão dos Resultados

Nas duas intervenções, verifica-se que o P manifestou interesse em ouvir a

história, escutou com atenção, mantendo o contacto visual com o livro e querendo

ajudar a virar as páginas, choramingando no final e acalmando quando avisado que iria

jogar de seguida.

Quanto ao jogo, a criança comunicou com o olhar e expressões faciais,

mostrando-se mais agitada quando aparecia a imagens de alimentos que gosta de comer.

Uma das evoluções entre as intervenções está na reação do P ao facto de selecionar

incorretamente se o alimento era ou não saudável, em novembro, choramingava, em

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80

janeiro abria muito os olhos e procurava tentar corrigir a situação clicando na opção

correta.

Gráfico 4 – Comparação de respostas e evolução do P

No que concerne à realização do jogo, o P em novembro, separou corretamente

11 dos 15 alimentos, enquanto, em janeiro, acertou 13. Assim evoluiu em 2 alimentos

(donut e brócolos) e manteve incorreto outros 2 (piza e coca-cola) verificando-se assim

um aumento dos conhecimentos. Das quatro crianças envolvidas nesta investigação, o P

foi a criança que, desde início, teve mais respostas corretas.

Visto existir uma evolução positiva na realização do primeiro para o segundo

jogo, modificando somente o livro de não adaptado para adaptado em SPC, pode-se

atribuir essa evolução, em parte, à adaptação do livro.

Verificou-se que, na segunda intervenção, o P esteve mais participativo desde o

início da sessão, calmo e respondeu corretamente a mais alimentos durante o jogo.

Desde modo, e tendo por base a analise acima feita, pode-se considerar que o livro

adaptado para SPC ajudou a criança a compreender melhor a história e a ter uma

prestação mais positiva, contribuindo assim para o seu desenvolvimento e

conhecimento.

11 13

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

10 11 12 13 14 15

Novembro 2015 Janeiro 2016

Re

sp

osta

s C

ert

as

Meses

Evolução do P

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81

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82

Conclusões

A qualidade e a quantidade de oportunidades de comunicar e interagir com

outros seres humanos, desde o nascimento, potenciam o desenvolvimento da criança a

nível social, emocional e funcionamento cognitivo.

Neste sentido, pode-se concluir que é fundamental fornecer às crianças

instrumentos de comunicação e, se a linguagem oral e/ou escrita estiverem

comprometidas torna-se urgente muni- las de instrumentos de comunicação

aumentativa/alternativa, como forma de as auxiliar a comunicar. Esta implantação de

instrumentos de comunicação aumentativa/alternativa deve contar com o apoio de

profissionais especializados que podem prover estratégias de comunicação eficientes

para o estabelecimento de elos comunicativos.

No decorrer do processo desta aplicação prática junto destas quatro crianças, não

existem dúvidas quanto à eficácia da comunicação e interesse dos livros adaptados. Ao

analisar-se os resultados dos atos comunicativos, observa-se que todas as crianças

conseguiram comunicar, através da fala, do olhar, dos gestos, de expressões fac iais, de

“ler” as imagens em SPC, de apontar os signos, em suma, de comunicar de um modo

que lhes parece possível.

O comportamento demonstrado pelas crianças com limitações a nível

comunicativo permitiu evidenciar a real necessidade da utilização de siste mas

aumentativos e alternativos de comunicação. Perante o livro adaptado, verifica-se um

maior interesse, interação e comportamento comunicativo em prol do livro original.

As crianças, ao utilizarem o livro adaptado com símbolos SPC, tiveram um

comportamento de participação ativa e não de meros ouvintes, foram mais dinâmicas e

interativas, contando a história, fazendo e respondendo a perguntas, estabelecendo

diálogos e sequências logicas ou, para quem não consegue comunicar oralmente, quis

interagir com o livro, folheá- lo, explorá-lo. E uma atitude que todas tiveram na história

adaptada foi a de sorrir constantemente com um olhar curioso e interessado.

Os resultados obtidos com os jogos, à exceção de uma criança, demonstram que

o desempenho e a compreensão foram mais positivos depois do contacto com o livro

adaptado, os resultados foram positivos e acima dos esperados. É curioso destacar que o

único alimento que todas as crianças tinham como saudável, desde a primeira

intervenção, é o peixe. A maior dificuldade encontrada foram os brócolos (por

Page 103: A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos ... Final... · A Importância do Livro Adaptado em Símbolos Pictográficos da Comunicação no Desenvolvimento de Competências

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desconhecimento das crianças), ainda, genericamente o que mais acertaram foram

alimentos saudáveis: cenoura, frango, laranja e tomate.

Relativamente às questões de investigação que serviram de base para este

trabalho, é possível extrair as seguintes conclusões: relativamente ao interesse em ouvir

e explorar o livro não adaptado (questão 1), verificou-se que apenas uma criança

desejou explorar, ainda que todas tenham ouvido a história, onde uma demonstrou

bastante desinteresse desde o início. No entanto verificou-se o oposto na escuta e

exploração do livro adaptado em SPC (questão 2). Todos estiveram muito interessados,

empenhados e participativos.

Quanto à terceira questão sobre a separação dos alimentos saudáveis dos não

saudáveis, em que os resultados foram verificados através do jogo, todas as crianças

revelaram-se interessadas, não só pelo jogo em si, como mas imagens ou objetos, além

de mais interessadas e confiantes, na segunda intervenção, os resultados foram mais

positivos (exceto uma criança em que os resultados verificador foram os mesmos).

Ao longo deste projeto, foram sentidas algumas dificuldades. Na parte teórica, a

pouco informação existente, mostrando-se essencial que haja mais investigações sobre

os efeitos de livros adaptados para SPC junto de crianças com perturbações na

comunicação e outras perturbações. No que se refere à aplicação prática, a maior

dificuldade foi encaminhar cada sessão no sentido e necessidade de cada criança, visto

terem caraterísticas tão distintas entre si e comunicarem recorrendo a estratégias

pessoais. Contudo, estas dificuldades foram promotoras de uma maior vontade de

continuar e reforçar esta experiência.

Respondendo aos objetivos específicos deste trabalho, à quarta pergunta das

questões de investigação, e analisando os resultados, pode-se inferir que o livro

adaptado é estruturador e facilitador da comunicação e compreensão, relativamente ao

livro na versão original. As crianças com perturbações na comunicação, em particular as

que participaram no estudo, têm oportunidade de desenvolverem habilidades

comunicativas e de melhorarem a qualidade de vida se continuarem a utilizar o Sistema

Pictográfico de Comunicação.

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84

Recomendações para estudos futuros

Este projeto surge integrado no Mestrado em Educação Especial – Domínio

Cognitivo e Motor e pretende-se com esta experiência lançar sementes para a leitura

inclusiva através de livros adaptados no Sistema Pictográfico de Comunicação aliado a

outros materiais didáticos igualmente inclusivos.

No seguimento deste projeto, com base na história do livro, surgiu a

oportunidade de criar alguns materiais didáticos inclusivos em feltro, nomeadamente

um peluche igual ao “Tomás” (figura central da história), fantoches para os dedos com o

coelho e alimentos iguais ao do jogo manual e digital e uma almofada em forma de

cenoura (com 100 cm) (ver anexo 11). Estes materiais já foram dados às quatro crianças

do estudo e a outros três adultos cegos e obteve uma excelente aceitação por parte

destas, ultrapassando as expectativas.

Ao concluir esta investigação surgiram algumas inquietações que seriam

interessantes explorar.

Tendo o estudo como foco principal observar a influência de um livro em SPC

junto de crianças com algum tipo de perturbação na comunicação oral, seria interessante

aplicar este projeto, com este ou outro livro, no contexto de jardim de infância e

observar quais as evoluções registadas.

Outra questão relevante seria aplicar livros adaptados para SPC e adequados às

idades, junto de crianças de idade mais precoce e de idade mais avançada. Seria ainda

interessante apresentar, este ou um projeto similar, junto de crianças com outras

perturbações.

Não se pode esperar que existam materiais adaptados para crianças com algum

tipo de perturbação apenas em investigações, é vital criar oportunidades e promover a

igualdade, adaptando livros acessíveis, utilizando materiais adequados às

capacidades/necessidades e que permita a todas as crianças desenvolveram as suas

potencialidades.

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85

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93

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94

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95

Anexo 1 – Autorizações dos Pais das Crianças

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Autorização 1 – Autorização dos Pais da criança M.

Autorização 2 – Autorização dos Pais da criança R.

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Autorização 3 – Autorização dos Pais da criança X.

Autorização 4 – Autorização dos Pais da criança P.

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Anexo 2 - Síndrome de DiGeorge

Perspetiva histórica

A síndrome DiGeorge foi descrita pela primeira vez em 1968 pelo

endocrinologista italiano DiGeorge, baseando-se em diferentes pacientes com

hipoparatireoidismo, hipoplasia ou ausência do timo, cardiopatias congênitas e fenda

palatina.

Prevalência

A sua prevalência é estimada de 1 a cada 4.000 a 6.000 indivíduos nascidos

vivos.

Caraterísticas

O Síndrome de DiGeorge é uma desordem pela perda total de um pequeno

pedaço, localizado a meio do cromossoma 22, na localização designada com q11.2, ou

seja, no braço maior do cromossoma.

As principais caraterísticas são: orelhas implantadas mais abaixo do que o

normal; boca pequena, em formato de boca de peixe; fenda palatina; incompetência

velofaríngea; ausência do timo e das paratireoides; anomalias cardíacas; défice no

crescimento; pode haver surdez, malformações ocular e problemas renais.

Pode-se verificar ainda perturbações do desenvolvimento intelectual;

dificuldades de aprendizagem; problemas cognitivos e comportamentais; convulsões;

cianose (descoloração azulada da pele, unhas e membranas mucosas) e hipocalcemia

(falta de cálcio no sangue).

Causas

Diz-se síndrome e não anomalia, pois a síndrome DiGeorge é um conjunto de

perturbações resultante de conjunto de alterações na formação do embrião.

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100

Desconhece-se as causas concretas para que a criança tenha a síndrome

DiGeorge, porém alguns estudos apontam para a perda total de um pequeno pedaço,

localizado a meio do cromossoma 22; para o consumo materno de álcool e diabetes

gestacional.

Acredita-se que a anomalia de DiGeorge seja o resultado da interferência do

desenvolvimento embriológico na 12ª semana de gestação.

Desenvolvimento e Curso

Os principais sintomas da síndrome de DiGeorge podem ser a fala anasalada;

perturbação do desenvolvimento intelectual; convulsões; atraso no crescimento e

dificuldades de aprendizagem.

Intervenção

Os primeiros tratamentos são iniciados no hospital assim que a criança nasce,

nomeadamente o fortalecimento do sistema imunitário e dos níveis de cálcio. Podem ser

administrados medicamentos para os problemas de coração e feita uma cirurgia para

corrigir a fenda palatina.

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101

Anexo 3 - Síndrome de West

Perspetiva histórica

Em 1841, o médico clínico geral inglês William James West (1793-1848), de

Tunbridge, escreveu uma carta ao editor do “The Lancet”, intitulado "Uma forma

peculiar de convulsões infantis”, onde apresentou o problema do seu filho com

espasmos em flexão que se repetiam diariamente em ataques de 10 a 20 contrações.

Apesar de todos os tratamentos usados para a época, a criança ficou com um défice

intelectual. Na realidade, mesmo 175 anos após sua descrição, pouco se sabe sobre a

etiologia e fisiopatologia dos mecanismos cerebrais envolvidos nesta desordem.

Prevalência

A síndrome de West constitui 2% de todas as epilepsias da infância, e 25% das

epilepsias com início no primeiro ano de vida; inicia-se quase sempre no primeiro ano

de vida, principalmente entre os 4 e 7 meses de idade. A sua prevalência é de cerca de 1

em cada 4000 ou 6000 nascimentos, afetando mais o sexo masculino, na proporção de

dois para um.

Caraterísticas

A síndrome de West, ou espasmos infantis, é um tipo raro de epilepsia que se

inicia na infância, em crianças com menos de um ano de idade e é caracterizada pela

tríade: espasmos infantis, atraso psicomotor e perturbação do desenvolvimento

intelectual.

Inicialmente, os espasmos podem ser muito leves, repentinos, pouco frequentes e

durar alguns segundos, com contrações breves, maciças, simétricas, levando-se os

membros superiores para frente e para fora e flexionando os músculos o abdómem. No

decorrer de um período de semanas estes evoluem para dúzias de espasmos que ocorrem

em intervalos de poucos segundos. As convulsões são de difícil controlo e a criança

pode chegar a ter mais de uma centena de convulsões por dia, verificando-se os

períodos mais críticos na hora de deitas ou ao acordar.

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102

A epilepsia é uma mudança brusca de repentina no funcionamento bioelétrico do

cérebro, levando a uma perda de consciência momentânea, acompanhada de distúrbios,

tais como: abalos musculares, movimentos bruscos, perda do equilíbrio corporal,

alterações dos movimentos e das ações. Posteriormente, há uma pausa, um repouso

devido a exaustão das células nervosas, seguindo um período de confusão mental e/ou

sonolência. Algumas crianças podem chorar e/ou gritar antes ou após as convulsões e

mostram-se geralmente muito irritadas.

As complicações da síndrome de West incluem os efeitos adversos das

medicações: hepatotoxicidade, pancreatite, excesso de peso, pressão arterial elevada

e síndrome de Steven-Johnson, entre outros. A criança apresenta, ainda, sérias

complicações respiratórias, devido aos frequentes espasmos, principalmente dos

membros superiores e inferiores.

Causas

Os espasmos infantis raramente têm uma causa genética de base, podendo existir

algumas mutações de alguns genes. Pode ainda ter uma falha metabólica tratável como

deficiência de vitamina B12, folato e piridoxina.

A síndrome de West pode ser dividida em dois grupos, com relação à causa:

quando a causa é desconhecida (criptogénio), onde o latente tem um crescimento

normal até ao início dos primeiros sintomas, sem que haja uma lesão cerebral detetável;

ou sintomático, onde existem previamente alterações do sistema neurológico detetados

através de exames.

A maioria das vezes a causa deve-se a um baixo desenvolvimento do cérebro do

bebé em relação ao esperado para a idade. Estas disfunções orgânicas do cérebro podem

ter origem pré-natal, perinatal ou pós-natal.

A esclerose tuberosa é a causa pré-natal mais comum de espasmos infantis. As

restantes causas mais comuns são anoxia neonatal; traumatismo durante o parto;

toxoplasmose; síndrome de Aicardi; lisencefalia; hidrocefalia; microcefalia;

hidranencefalia; esquizencefalia; polimicrogiria; síndrome de Sturge-Weber; trissomia

21; encefalopatoa hipóxico-esquemica; infeções congénitas; meningite; encefalite;

hemorragias intracranianas; doenças degenerativas.

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103

Desenvolvimento e Curso

Os principais sintomas ocorrem, geralmente, entre o terceiro e o décimo segundo

mês, com maior frequência antes de dormir ou ao acordar e caraterizam-se por

espasmos iniciados de forma súbita, rápidos, extensão e súbito elevar da cabeça;

contração tônica dos músculos do tronco; flexão das pernas; abdução dos membros

superiores e grito ou choro durante os espasmos. Os músculos relaxam cerca de 0,5 a 2

segundos e as contrações podem durar 5 a 10 segundos, com o espaçamento de 5 a 30

segundos entre elas.

A intensidade dos espasmos pode variar de movimento sutil da cabeça até uma

contração poderosa de todo o corpo, e podem ser flexores, extensores ou uma forma

mista extensora e flexora.

Intervenção

Os tratamentos para os espasmos infantis tendem a diminuir com a utilização de

medicação hormonal. Podem utilizar medicação com corticoides, onde a resposta

terapêutica pode aparecer até 48 ou 72 horas após a aplicação da primeira dose. A

vitamina B6 em doses elevadas é outra proposta como terapia inicial para a síndrome de

West. Toda a medicação deve ser realizada sob rigoroso controlo médico, pois afeta não

somente o sistema nervoso central como todo o organismo da criança, incluindo o

sistema imunológico.

Em casos extremamente graves com quadros epiléticos complexos existe a

possibilidade de uma intervenção neurocirúrgica onde se utilizam marca-passos

cerebrais que ajudam na organização bioelétrica do Sistema Nervoso Central.

A fisioterapia é fundamental para crianças com síndrome de West para estimular

o corpo a trabalhar após as extensões da cabeça e tronco provocadas pelos espasmos e

fisioterapia respiratória devido a complicações desta área. A fisioterapia tem como

objetivo principal tratar as sequelas ou tentar diminuí- las o máximo possível e o

tratamento deve ser feito seguindo as etapas de evolução, de maturação da criança.

A hidroterapia, com o calor da água, ajuda a aliviar a espasticidade e à medida

que esta diminui os movimentos passivos podem ser administrados em maior amplitude

com menor desconforto para o paciente.

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104

O prognóstico da síndrome de West é pobre e dependente da causa. Um grande

número de pacientes (50-70%) desenvolve outras formas de epilepsia, mas há a

possibilidade de remissão total de espasmos; a maioria das crianças e adultos apresenta

uma perturbação do desenvolvimento intelectual severo. As pessoas com síndrome de

West têm uma pequena expectativa de vida.

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105

Anexo 4 – Notas de Campo e Diários de Bordo

Tabela 1 – Notas de Campo e Diário de Bordo de novembro 2015 da

criança M.

Criança M

Novembro 2015

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Muito bem-disposto e recetivo.

- Escutou com atenção.

- Estabeleceu contacto visual com o

livro.

- Sorri nos diálogos das

personagens.

- Diálogo:

Investigadora – “ Porque é que o

Tomás não cabia nos calções?”

Pausa

M – “Porque tinha a barrirra

redonda.”

Investigadora – “Muito bem. E

depois o que fez o Tomás para

perder a barriga?”

Longa pausa

M – “ Não cabia nos calções.”

Investigadora – “E para caber nos

calções, começou a comer melhor?”

Longa pausa

M – Sim

- O diálogo foi curto e o M teve que

pensar demoradamente nas

respostas que queria dar

- O facto de estar bem-disposto

ajuda na recetividade da atividade.

- A escuta e o contacto visual com o

livro pode demonstrar que a história

o cativou nestes dois sentidos.

- O M demorou a responder às

questões colocadas, pois estava a

pensar que resposta dar.

- Não percebeu a história ou quis

responder corretamente? Penso que

percebeu que o Tomás não cabia

nos calções porque tinha a “barriga

grande”, mas fica a dúvida se

compreendeu o porquê da “barriga

ser grande”.

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106

Jogo - Identificou, verbalmente, os

alimentos cenoura, piza, tomate,

maça, banana, frango, bolacha,

água, pera, peixe e coca-cola.

- As imagens que não identificou

pediu ajuda à investigadora

- Tentou repetir fielmente as

palavras

- Dos 15 separou corretamente 9

alimentos.

- O facto de identificar 11 dos 15

alimentos pode ter contribuído para

separar corretamente os alimentos,

visto destes 11 errar 3.

- O ter pedido, por iniciativa

própria, para ser esclarecido sobre

as dúvidas e tentar repetir as

palavras demonstra interesse em

aprender e que o jogo o cativou para

essa aprendizagem.

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107

Tabela 2 – Notas de Campo e Diário de Bordo de janeiro 2016 da criança

M.

Criança M

Janeiro 2016

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Lembrava-se do Tomás.

- Identificou que o livro estava

diferente graficamente.

- Escuta com entusiasmo.

- De ouvinte a interlocutor - fez

comentários sobre o que estava a

acontecer ao longo da história;

chegou a conclusões; interrogou a

investigadora quando teve dúvidas e

antecipou acontecimentos olhando

para os símbolos.

- Contou a história através dos

símbolos SPC.

- A história entusiasmou-o pois de

ouvinte quis participar ativamente a

contar a história, o que pode

demonstrar gosto nesta história.

- A identificação dos símbolos

permitiu uma maior participação na

história, levando a criança a falar

mais.

Jogo - Identificou os símbolos

correspondentes ao “certo/saudável”

e “errado/não saudável”.

- Iniciativa para realizar o jogo.

- Diálogos sobre os gostos pessoais.

- Verbalizou as opções de jogo.

- Dos 15 separou corretamente 12

alimentos.

- Os diálogos mais longos fazem

acreditar que a criança sente-se mais

à vontade.

- O jogo interessou ao M visto ter

tido iniciativa para começar o jogo.

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108

Tabela 3 – Comparação entre as duas intervenções da criança M.

Criança M

Comparação entre intervenções

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Participação ativa no conto da

história.

- Aumento dos diálogos.

- O facto de, na segunda intervenção

lembrar-se do Tomás, revela que a

história interessou ao M.

- A participação deve-se a gostar da

história e a compreender os

símbolos SPC.

- Os diálogos verificados na

segunda intervenção podem

dever-se ao facto de a criança

perceber melhor a história em SPC.

Jogo - Deu mais respostas corretas.

- 9 para 12 num total de 15.

- Os símbolos SPC revelaram que

facilitam na compreensão d história

levando a um maior sucesso do jogo

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109

Tabela 4 – Notas de Campo e Diário de Bordo de novembro 2015 da

criança R.

Criança R

Novembro 2015

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Escutou com atenção.

- Estabeleceu contacto visual com o

livro.

- Não quis explorar o livro nem com

a investigadora nem sozinho.

- Não houve diálogo.

- A escuta e o contacto visual com o

livro pode demonstrar que a história

o cativou nestes dois sentidos.

- O facto de não querer estabelecer

diálogo pode indicar que não gostou

ou não percebeu a história

Jogo - Iniciativa para começar o jogo.

- Participou ativamente.

- Identificou, verbalmente, os

alimentos, exceto brócolos e

coca-cola. Trocou laranja com

cenoura e associou o peixe ao

“nemo”.

- Fez gestos com as mãos

associados ao ato de comer.

- Antecipou as respostas

verbalmente antes de o fazer com o

rato.

- Sorriu quando errou.

- Dos 15 separou corretamente 10

alimentos.

- O facto de identificar a maioria

dos 15 alimentos pode ter

contribuído para separar

corretamente os alimentos.

- Ao mostrar-se mais falador e fazer

gestos com as mãos pode

demonstrar que o jogo o interessou.

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Tabela 5 – Notas de Campo e Diário de Bordo de janeiro 2016 da criança

R.

Criança R

Janeiro 2016

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Não se lembrava do Tomás.

- De ouvinte a interlocutor – contar

a história através dos símbolos em

SPC.

- Os símbolos que melhor

identificou foram: alimentos,

vestuário e sentimentos.

- Gestos com as mãos associados a

palavras (“pequeno” e “magro”;

“grande” e “gordo”).

- O facto de não se lembrar do

Tomás pode indicar que a história

foi pouco significativa na primeira

intervenção.

- A história em SPC deve tê-lo

entusiasmado pois de ouvinte quis

participar ativamente a contar a

história.

- A identificação dos símbolos

permitiu uma maior participação na

história, levando a criança a falar

mais.

- Os símbolos que melhor

identificou são materiais de uso

corrente.

- Ao mostrar-se mais falador e fazer

gestos com as mãos pode

demonstrar que a história neste

formato o interessou.

- Os diálogos mais longos fazem

acreditar que a criança sente-se mais

à vontade.

Jogo - Disse que se lembrava do jogo.

- Voltou a verbalizar a maioria dos

alimentos, acrescentando

corretamente o peixe, continuando a

confundir a laranja com a cenoura e

desconhecendo os brócolos e a

- O facto de se lembrar do jogo

revela que este interessou ao R.

- Os diálogos mais longos fazem

acreditar que a criança ficou mais

predisposta às aprendizagens.

- O jogo interessou ao R visto ter

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111

coca-cola.

- Diálogos sobre os gostos pessoais.

- Dos 15 separou corretamente 12

alimentos.

tido iniciativa para começar o jogo.

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112

Tabela 6 – Comparação entre as duas intervenções da criança R.

Criança R

Comparação entre intervenções

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Maior interesse em ouvir, ver e

participar.

- Quis contar a história.

- O facto de, na segunda

intervenção não se lembrar do

Tomás, revela que a história na

versão original não interessou ao R.

- A participação deve-se a gostar da

história e a compreender os

símbolos SPC.

- Os diálogos verificados na

segunda intervenção podem

dever-se ao facto de a criança

perceber melhor a história em SPC.

Jogo - Esteve muito participativo.

- Identificou mais alimentos na

segunda sessão.

- Em janeiro além de realizar o jogo

com alegria, manifestou as suas

preferências gastronómicas.

- Deu mais respostas corretas.

- 10 para 12 num total de 15.

- Os símbolos SPC revelaram que

facilitam na compreensão d história

levando a um maior sucesso do

jogo.

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113

Tabela 7 – Notas de Campo e Diário de Bordo de novembro 2015 da

criança X.

Criança X

Novembro 2015

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Não se interessou pela história.

- Desinteressado em ouvir a história

ou olhar para o livro.

- Agarrou a mão da investigadora e

verbalizou a palavra computador.

- Leu-se a história até ao fim.

- O X esteve sempre a olhar em

redor demonstrado que não se

interessou na história.

- O gesto de agarrar a mão e

verbalizar a palavra computador

pode indicar que desejava realizar

jogos no computador, isto é,

atividade a que já está habituado,

não desejando realizar atividades

novas – típico da perturbação do

espectro do autismo.

- Optou-se por ler a história até ao

fim, pois, apesar de corporalmente

dar a entender que não estava

interessado na história, o X podia

estar a ouvir.

Jogo - Muito entusiasmado com objetos

do jogo.

- Abanou os objetos e sorria.

- Verbalizou as palavras: cenoura,

banana e maçã em vez de laranja.

- Dos 15 separou corretamente 7

alimentos

- Fez os movimentos estereotipados

que costuma fazer quando está feliz,

lavando a entender que o jogo lhe

agradou.

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114

Tabela 8 – Notas de Campo e Diário de Bordo de janeiro 2016 da criança

X.

Criança X

Janeiro 2016

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Durante a leitura da história o X

olhou para as imagens.

- Apontou para alguns símbolos em

SPC (barriga e chocolate) aquando a

leitura destas palavras.

- Virou algumas páginas do livro

para ver as imagens.

- Perto do final, voltou a agarrar a

mão da investigadora e a verbalizar

a palavra computador.

- O facto de a história ter símbolos

em SPC pode ter cativado a criança

visto que desta vez se interessou

com a história.

- Ao apontar para alguns símbolos

pode demonstrar conhecimento

destes.

- O interesse não durou até ao final

da história, mostrando desejo em

voltar às rotinas.

Jogo - Sorriu para os objetos do jogo.

- Brincou e explorou os objetos.

- Verbalizou as palavras: bolacha,

água e maçã.

- Dos 15 separou corretamente 7

alimentos.

- Ao explorar os materiais

demonstra interesse por estes.

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115

Tabela 9 – Comparação entre as duas intervenções da criança X.

Criança X

Comparação entre intervenções

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Maior interesse na segunda

intervenção.

- Pode-se intuir que o X preferiu o

livro adaptado, visto ter querido

explorá- lo e ter identificado alguns

dos símbolos.

Jogo - Muito entusiasmo com os

materiais, explorando ainda mais na

segunda intervenção.

- Não se verificou evolução nas

respostas.

- Os materiais interessaram nas duas

intervenções.

- O facto de em ambas as

intervenções o X ter separado

corretamente o mesmo número de

alimentos levanta questões até onde

o livro foi eficaz na compreensão ou

até onde é que o X percebeu o jogo.

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116

Tabela 10 – Notas de Campo e Diário de Bordo de novembro 2015 da

criança P.

Criança P

Novembro 2015

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Muito bem-disposto e recetivo.

- Escutou com atenção.

- Estabeleceu contacto visual com o

livro.

- Sorri nos diálogos das

personagens.

- Quis participar ativamente a virar

as páginas.

- Choramigou com o fim da história.

- O facto de estar bem-disposto

ajuda na recetividade da atividade.

- A escuta e o contacto visual com o

livro pode demonstrar que a história

o cativou.

- Apesar de ser um grande esforço

muscular quis participar talvez

porque tenha gostado a história.

- Choramingar significou que estava

a gostar.

Jogo - Transmissão das respostas com o

olhar e expressões faciais.

- Grande alegria durante o jogo.

- Alegria ao acertar e choro quando

errava.

- Dos 15 separou corretamente 11

alimentos.

- A alegria demonstrada leva a

acreditar que estava a gostar do

jogo.

- O P não gosta de perder quando

realiza uma atividade.

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Tabela 11 – Notas de Campo e Diário de Bordo de janeiro 2016 da criança

P.

Criança P

Janeiro 2016

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Lembrava-se do Tomás.

- Identificou que o livro estava

diferente graficamente.

- Escuta com entusiasmo e sorriso.

- Estabeleceu contacto visual com o

livro.

- Quis participar ativamente a virar

as páginas.

- Choramigou com o fim da história.

- A história entusiasmou-o pois de

ouvinte quis participar ativamente a

contar a história, o que pode

demonstrar gosto nesta história.

- A escuta e o contacto visual com o

livro pode demonstrar que a história

o cativou.

- Apesar de ser um grande esforço

muscular quis participar talvez

porque tenha gostado a história.

- Choramingar significou que estava

a gostar.

Jogo - Transmissão das respostas com o

olhar e expressões faciais.

- Grande alegria durante o jogo.

- Dos 15 separou corretamente 13

alimentos.

- A alegria demonstrada leva a

acreditar que estava a gostar do

jogo.

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Tabela 12 – Comparação entre as duas intervenções da criança P.

Criança P

Comparação entre intervenções

Notas de Campo Diário de Bordo

História - Participação ativa no conto da

história.

- Escuta atenta e entusiasma.

- O facto de, na segunda intervenção

lembrar-se do Tomás, revela que a

história interessou ao P.

Jogo - Mais calmo quando errou alguma

resposta.

- Deu mais respostas corretas.

- 11 para 13 num total de 15.

- O facto de estar mais calmo

quando errou pode dever-se a estar

mais confiante.

- Os símbolos SPC revelaram que

facilitam na compreensão d história

levando a um maior sucesso do

jogo.

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Anexo 5 – Livro Original

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Anexo 6 – Livro Adaptado para SPC

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Anexo 7 – Fotografias dos materiais utilizados para os jogos

Figura 1 – Alimentos Não Saudáveis

Figura 2 – Alimentos Saudáveis – Vegetais

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Figura 3 – Alimentos Saudáveis – Fruta

Figura 4 – Alimentos Saudáveis

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Anexo 8 – Fotografias do Jogo Manual

Figura 1 – Fotografias do jogo manual com alimentos não saudáveis na

caixa correspondente

Figura 2 – Fotografias do jogo manual com alimentos saudáveis na caixa

correspondente

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Figura 3 – Fotografias do jogo manual com alimentos separados nas caixas

correspondentes

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Anexo 9 – Diapositivos do Jogo Digital

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Anexo 10 – Fotografias das Crianças

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Anexo 11 – Material completo no seguimento da investigação

Figura 1 – Material completo

Figura 2 – Mochila para guardar o material

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Figura 3 – Reprodução da personagem principal da história - Tomás

Figura 4 – Almofada com 1 metro

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Figura 5 – Fantoches para os dedos dos alimentos