a importÂncia dos termos de troca para o...
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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ECONOMIA
A IMPORTÂNCIA DOS TERMOS DE TROCA PARA O CRESCIMENTO ECONÔMICO
AALLIICCEE LLEEIITTEE MMEENNDDEESS OORRIIEENNTTAADDOORR:: FFEERRNNAANNDDOO AAUUGGUUSSTTOO AADDEEOODDAATTOO VVEELLOOSSOO
Rio de Janeiro, 26 de março de 2010
“A IMPORTÂNCIA DOS TERMOS DE TROCA PARA O CRESCIMENTO ECONÔMICO”
ALICE LEITE MENDES
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Economia como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia Empresarial
ORIENTADOR: FERNANDO AUGUSTO ADEODATO VELOSO
Rio de Janeiro, 26 de março de 2010.
“A IMPORTÂNCIA DOS TERMOS DE TROCA PARA O CRESCIMENTO ECONÔMICO”
ALICE LEITE MENDES
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Economia como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia Empresarial
Avaliação:
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________
Professor Dr. FERNANDO AUGUSTO ADEODATO VELOSO (Orientador) Instituição: IBMEC RJ _____________________________________________________
Professor Dr. ALEXANDRE BARROS DA CUNHA Instituição: IBMEC RJ _____________________________________________________
Professor Dr. ARILTON CARLOS CAMPANHARO TEIXEIRA Instituição: FUCAPE/ES
Rio de Janeiro, 26 de março de 2010
iv
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, Liana Leite Mendes e José Luiz de Araújo Mendes.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais por todo o incentivo e pela a oportunidade que me
proporcionaram de me tornar mestre em economia. Agradeço às minhas irmãs e ao meu
namorado pelo apoio e paciência nos momentos difíceis.
Meu reconhecimento a todos os professores que contribuíram para a conclusão desta
etapa. Muito obrigada ao Professor Fernando Veloso pela orientação e apoio oferecidos ao
longo da construção deste trabalho.
vi
RESUMO
O objetivo desta dissertação é analisar empiricamente a importância dos termos de
troca para o crescimento econômico de um país. Utilizando-se uma amostra de 65 países,
foram realizadas, primeiramente, regressões em painel para intervalos de 5 anos e,
posteriormente, de 10 anos, para cada variável no intervalo de 1960 a 1999. Os resultados
encontrados indicam que, controlando por características específicas de cada país e que não
variam ao longo do tempo, os termos de troca têm um efeito positivo no crescimento
econômico para intervalos de 10 anos. Entretanto, esse resultado não se verifica para
intervalos de 5 anos. Isso indica que, possivelmente, a importância dos termos de troca no
crescimento econômico se dá apenas no longo prazo. Posteriormente, a amostra é separada em
países desenvolvidos e em desenvolvimento, e as análises anteriores são repetidas. Os
resultados mostram que os termos de troca influenciam no crescimento econômico apenas
para países em desenvolvimento e para intervalos de 10 anos. Isso corrobora o resultado
anterior de que os termos de troca só têm efeito no longo prazo.
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ABSTRACT
The aim of this dissertation is to empirically analyze the importance of the terms of
trade to the economic growth of a country. Using a sample of 65 countries, regressions in
panel were made, first for intervals of 5 years and later, of 10 years for each variable in the
period of time between 1960 and 1999. The results found show that, controlling by especifics
characteristics of each country and that do not vary among time, the terms of trade have a
positive effect in the economic growth for intervals of 10 years. However, this result is not
verified for intervals of 5 years. This indicates that, possibly, the term of trade are important
to the economic growth only in long term period. Later, the sample is divided into developed
countries and countries in development and the previous analysis are repeated. The results
show that the terms of trade only influence the economic growth of emerging countries in
intervals of 10 years. It corroborates the previous result which shows that the terms of trade
show results only in the long run.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................... 5
2.1 EASTERLY, KREMER, PRITCHETT E SUMMERS (1993) ...................................... 5 2.2 BARRO (1996) ................................................................................................................ 8 2.3 RODRIK (1998)............................................................................................................... 9 2.4 EASTERLY (2001) .........................................................................................................14 2.5 BECKER E MAURO (2006) ..........................................................................................20 2.6 KEHOE E RUHL (2007) ................................................................................................22
3 DESCRIÇÃO DA BASE DE DADOS ....................................................................... 24
4 RESULTADOS........................................................................................................... 27
4.1 PAINEL DE 5 ANOS .....................................................................................................27 4.2 PAINEL DE 10 ANOS ...................................................................................................30 4.3 DIVISÃO DE PAÍSES ...................................................................................................34 4.3.1 PAÍSES DESENVOLVIDOS ........................................................................................34 4.3.1.1 PAINEL DE 5 ANOS ................................................................................................34 4.3.1.2 PAINEL DE 10 ANOS ..............................................................................................36 4.3.2 PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO ..........................................................................39 4.3.2.1 PAINEL DE 5 ANOS ................................................................................................39 4.3.2.2 PAINEL DE 10 ANOS ..............................................................................................41
5 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 46
ANEXO .............................................................................................................................. 47
1
1 INTRODUÇÃO
Vários estudos mostram que os termos de troca, dados pela razão entre o preço das
exportações e o preço das importações, têm um impacto positivo no crescimento da economia.
Esta dissertação tem como objetivo analisar como variações nos termos de troca, em
intervalos de 5 e de 10 anos, afetam as taxas de crescimento econômico dos países.
Easterly, Kremer, Pritchett e Summers (1993) argumentam que os choques,
especialmente nos termos de troca, são importantes para explicar a baixa persistência do
crescimento. Os autores apresentam resultados concluindo que os choques indiretamente
influenciam o crescimento mudando as variáveis de política. Assim, a baixa persistência dos
choques, particularmente choques externos, ajuda a explicar a baixa persistência das taxas de
crescimento.
Barro (1996) estima regressões de crescimento para 100 países com dados de 1960 a
1990. O autor diz que, para um dado nível inicial do PIB per capita, a taxa de crescimento é
aumentada por diversas variáveis, e uma dela seria os termos de troca. Entretanto, Barro
afirma que uma melhoria nos termos de troca aumenta a renda real doméstica e
provavelmente o consumo, mas não afeta o PIB real. Logo, embora a variável termos de troca
apresente significância estatística, ela não pode ser o elemento chave para o fraco
desempenho do crescimento de vários países pobres.
2
Rodrik (1998) por sua vez, pesquisa a razão da redução do crescimento a partir da
década de 1970 para países em desenvolvimento. A contribuição desse artigo é a análise
empírica focada na interação dos choques tanto com os conflitos sociais latentes como com as
instituições de gestão de conflito. Ele afirma que quando divisões sociais são profundas e as
instituições de gestão de conflito são fracas, os custos econômicos de choques exógenos,
como a deterioração dos termos de troca, são ampliados pelos conflitos distribucionais que
são causados. Esses conflitos reduzem a produtividade dos recursos das sociedades. Os
resultados de Rodrik sugerem que países com mais democracia, melhores regras de lei, alta
qualidade em instituições governamentais e altos níveis de seguridade social, experimentaram
uma queda econômica menor depois de meados da década de 1970.
O artigo de Easterly (2001) documenta uma questão importante na pesquisa empírica
sobre o crescimento: a estagnação dos países em desenvolvimento durante os anos de 1980 e
1990. O autor apresenta diversas hipóteses sobre os fatores que podem ter contribuído para a
estagnação dos países em desenvolvimento. Uma delas seriam os termos de troca, pois o
evento mais notável por volta do período em que houve a interrupção do crescimento foi o
segundo choque do petróleo em 1979. Mas diante da dificuldade de achar o motivo para a
desaceleração do crescimento a partir da década de 1980, Easterly conclui que possivelmente
o excepcional tenha sido o período de 1960-79 e que o período de 1980-98 represente o
retorno de uma tendência dos países ricos se afastarem dos países pobres a longo prazo.
Becker e Mauro (2006) documentam a freqüência, duração e todos os custos de uma
queda na produção para um painel com 167 países e investigam a associação empírica de uma
queda da produção com a variedade de choques. Os autores dividem os países em três grupos:
avançados, mercados emergentes e em desenvolvimento e apresentam resultados que mostram
3
que mudanças adversas nos termos de troca têm o maior custo esperado para países em
desenvolvimento. Eles concluem que mesmo que a queda na produção ocorra em países com
diferentes tipos de renda, sua freqüência e duração e custos são positivamente associados com
o PIB per capita.
Já Kehoe e Ruhl (2007) afirmam em seu artigo, que os termos de troca variam muito
de país para país e que, por isso, são candidatos naturais para explicar a perfomance da
economia. Entretanto, segundo eles, o efeito dos choques nos termos de troca não é o mesmo
que o efeito de um choque na produtividade e isso é altamente dependente do método usado
para mensurar o PIB real. Os autores apresentam esses cálculos e concluem que uma queda
nos termos de troca diminui o poder de compra de um país, o que pode ser prejudicial em
termos de consumo e bem estar, mas não impacta o PIB real diretamente.
O objetivo desta dissertação é analisar o papel dos termos de troca para o crescimento
econômico de um país. Utilizando-se uma amostra de 65 países, foram realizadas regressões
com dados em painel com média de cinco anos para cada variável no intervalo de 1960 a
1999. Essa mesma análise foi feita para períodos de dez anos. Posteriormente, os países foram
divididos em desenvolvidos e em desenvolvimento e as análises foram repetidas. Foram
utilizados dados em painel, pois essa técnica permite controlar por variáveis que são
importantes na determinação do crescimento, mas que não variam ao longo do tempo.
A principal conclusão desta dissertação é que um aumento nos termos de troca gera
uma elevação no crescimento econômico. Entretanto, esse resultado positivo se dá apenas no
longo prazo, para intervalos de dez anos. Já no curto prazo, para períodos de cinco anos, os
termos de troca não influenciam no crescimento econômico. Quando os países são divididos,
4
os resultados mostram que os termos de troca impactam o crescimento econômico apenas para
países em desenvolvimento e para intervalos de 10 anos.
Essa dissertação está organizada em cinco capítulos, abrangendo esta introdução. No
capítulo 2 foi feita uma revisão da literatura sobre o tema. No capítulo 3 é realizada a
descrição da base de dados. No capítulo 4 são apresentados os resultados obtidos, seguidos da
conclusão no capítulo 5.
5
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 EASTERLY, KREMER, PRITCHETT E SUMMERS (1993)
Esse artigo apresenta um fato sugerindo que a ênfase nas características dos países não
é adequada: as taxas de crescimento são altamente variáveis ao longo do tempo, enquanto que
as características dos países são altamente persistentes. A correlação da taxa de crescimento
da renda per capita entre décadas varia entre 0,1 a 0,3, enquanto que a maioria das
características dos países apresenta uma correlação entre as décadas entre 0,6 e 0,9.
Correlação entre crescimento entre períodos longos, como duas décadas, são similarmente
baixos. Com algumas poucas exceções, os mesmos países não vão bem período após período;
normalmente os países vão bem em um período e desapontam no próximo.
A persistência da diferença da taxa de crescimento entre países, mesmo durante longos
períodos, é baixa. Os autores mensuraram as correlações das taxas de crescimento do PIB por
trabalhador entre 1960-69, 1970-79 e 1980-88. Para uma amostra de 100 países, a correlação
entre as décadas de 1960 e 1970 é de apenas 0,21 e entre as décadas de 1970 e 1980 é de 0,31.
O R² obtido regredindo a taxa corrente do crescimento contra o crescimento da década
anterior foi inferior a 10%. Pouco da variação da taxa de crescimento é explicada pelo
crescimento passado. Um erro na medida do nível do PIB poderia ter artificialmente criado
baixa persistência na taxa de crescimento, conduzindo para um crescimento subestimado em
6
um período e superestimado no seguinte, ou vice-versa. Entretanto, os autores dizem não
acreditar que erros de medida expliquem baixa persistência.
Uma possível explicação para a baixa persistência na taxa de crescimento poderia ser
que essas características dos países que normalmente pensamos que determinam o
crescimento, não são persistentes. Mas os autores afirmam que as características dos países
são persistentes. Eles apresentam um gráfico que mostra a persistência das características dos
países entre os anos de 1960 e 1970 e entre os anos de 1970 e 1980 para uma amostra de 45
países. Todas as características dos países mostram persistência muito mais alta do que as
taxas de crescimento. Várias outras características dos países, como cultura e localização
geográfica, são ainda mais persistentes.
Posteriormente, Easterly et al (1993) argumentam que os choques, especialmente
choques nos termos de troca, são importantes determinantes para a variação da taxa de
crescimento num período de dez anos, e eles podem ajudar a explicar a baixa persistência do
crescimento. Os autores mostram que uma parcela significativa da variância nas taxas de
crescimento, mesmo durante períodos tão longos como uma década, pode ser diretamente
explicada pelos choques. Além do mais, choques indiretamente influenciam o crescimento
mudando as variáveis de política. Assim, a baixa persistência dos choques, particularmente
choques externos, ajuda a explicar a baixa persistência das taxas de crescimento.
Easterly et al (1993) apresentam uma tabela que mostra a simples correlação entre
três variáveis de choques com a taxa de crescimento. As variáveis são (1) mudanças nos
termos de troca; (2) a mudança do número de vítimas per capita da guerra em território
nacional; e (3) uma dummy que mede países que passaram por uma crise da dívida na década
de 1980. O crescimento é fortemente correlacionado com a melhora nos termos de troca e a
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alta dívida externa nos anos de 1980, e com a guerra nos anos de 1970 (e pouco
correlacionado com a guerra dos anos de 1980).
Quando as variáveis de choques são adicionadas à regressão com 80 observações, cuja
variável independente é a taxa de crescimento anual do PIB por trabalhador, com um pequeno
conjunto de características significantes de países (PIB por trabalhador, matrículas no ensino
primário e secundário, ágio no mercado paralelo e M2/PIB,), elas têm um substancial poder
explicativo comparadas com as variáveis de política. Os autores adicionaram as três variáveis
do parágrafo anterior e, para completar, o aumento anual das transferências oficiais. O R²
parcial das variáveis de política (matrículas, ágio no mercado paralelo, M2/PIB) nos anos de
1970 foi 0,26 e dos choques 0,14, enquanto que nos anos 80 o R² parcial das variáveis
políticas foi 0,10 contra 0,15 para as variáveis de choque.
O efeito dos termos de troca é grande e fortemente significante em ambos os períodos.
Nos anos 80 o choque favorável nos termos de troca de um ponto percentual ao ano em
relação ao PIB, significou um aumento na taxa de crescimento de 0,85 pontos percentuais ao
ano. Os autores lembram que PIB é medido em preços constantes, logo não há efeito direto de
um choque nos termos de troca no crescimento
Para resumir, choques são importantes. Eles ajudam a explicar a diferença entre a
persistência do crescimento atual e do previsto, e eles influenciam as variáveis de políticas, e
assim, as estimativas do impacto das políticas.
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2.2 BARRO (1996)
O autor estima regressões de crescimento para 100 países com dados de 1960 a 1990.
Barro afirma que, para um dado nível inicial do PIB per capita, a taxa de crescimento é
aumentada por diversas variáveis, tais como: alto nível inicial de escolaridade e expectativa
de vida, baixa fertilidade, baixo consumo do governo, boa manutenção das leis, baixa inflação
e melhorias nos termos de troca. O autor afirma que para um dado nível dessas variáveis e de
outras, crescimento é negativamente correlacionado com o nível inicial do PIB per capita.
Barro dedica uma seção para explicar cada variável que ele cita como responsável por
influenciar na taxa de crescimento econômico. Na seção sobre os termos de troca, ele
argumenta que mudanças nessa variável são sempre salientadas como importantes para países
em desenvolvimento, que tipicamente especializam suas exportações em poucos produtos
primários. O autor afirma que o efeito de uma mudança nos termos de troca no PIB,
entretanto, não é mecânica.
Segundo Barro, a quantidade física de bens produzidos domesticamente não muda.
Logo, a melhoria nos termos de troca aumenta a renda real doméstica e provavelmente o
consumo, mas não afetará o PIB real. Barro afirma que alterações no PIB real só ocorrem se
uma mudança nos termos de troca estimular uma variação no emprego doméstico e na
produção. Por exemplo, um país importador de petróleo provavelmente reagirá a um aumento
relativo no preço do petróleo cortando seus empregos e sua produção.
Barro mostra em seus resultados que os termos de troca apresentam um coeficiente
positivo e significativo. Assim, uma melhoria nos termos de troca estimula o crescimento
econômico.
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Barro encerra sua seção sobre os termos de troca afirmando que, embora a variável
termos de troca seja estatisticamente significativa, ela não pode ser o elemento chave para o
fraco desempenho do crescimento de vários países pobres, como aqueles na África
Subsaariana.
2.3 RODRIK (1998)
A motivação do autor para esse artigo é ocasionada por várias questões. Primeiro qual
seria a explicação para a instabilidade do crescimento que tem caracterizado a maioria dos
países em desenvolvimento? Segundo, porque muitos países que cresceram satisfatoriamente
nos anos de 1960 e 1970, principalmente na America Latina e o no Oriente Médio,
apresentaram resultados poucos satisfatórios depois disso? Terceiro, porque vários países
foram fortemente afetados pela volatilidade em seu ambiente externo apenas durante a
segunda metade da década de 1970, enquanto outros foram afetados por uma década ou mais
até começar a se recuperar? E, finalmente, porque choques externos negativos freqüentemente
prejudicam a performance da economia a uma extensão que é vastamente desproporcional às
conseqüências econômicas diretas desses choques.
A hipótese avançada nesse paper é que conflitos sociais domésticos são a chave para
entender esse fenômeno. O autor enfatiza o modo como conflitos sociais interagem com
choques externos, por um lado, e instituições domésticas de gestão de conflitos, por outro.
Essas interações são centrais para determinarem a persistência do crescimento da economia.
Elas respondem à volatilidade no ambiente externo e à magnitude do colapso no crescimento
advindo de um choque negativo. Quando divisões sociais são profundas e as instituições de
gestão de conflito são fracas, os custos econômicos de choques exógenos, como a
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deterioração dos termos de troca, são ampliados pelos conflitos distribucionais que são
causados. Esses conflitos reduzem a produtividade dos recursos das sociedades.
Esse argumento pode ser resumido com a fórmula:
∆crescimento = - choques externos X conflito social latente instituições de gestão de conflito
Em palavras, o efeito dos choques no crescimento é maior quanto maior for o conflito
social latente na economia e quanto piores forem as instituições de gestão de conflitos.
Para a variável “conflito social latente” o autor usou uma proxy de medidas de
desigualdade, fragmentação e/ou conflito étnico e lingüístico, e confiança da sociedade. Para
o termo “instituições de gestão de conflito” o autor usou como proxy medidas para direitos
políticos e civis, qualidade das instituições governamentais, regras da lei e gasto público em
seguridade social.
O trabalho empírico do autor foca nas diferenças nas taxas de crescimento econômico
ocorridas entre 1960-1975 e 1975-1989. Esse estudo contribui para entendermos o colapso no
crescimento que foi comum em vários países nesse último período citado. Países que
experimentaram uma queda no PIB após 1975 são aqueles com sociedades divididas e
instituições fracas de gestão de conflitos.
O artigo baseia-se em um modelo onde existem dois grupos, cada qual age
independentemente, e se deparam com o encolhimento do “bolo”, como resultado de um
choque externo. Cada grupo decide qual pedaço do “bolo” irá pleitear. Nos termos da
nomenclatura desse artigo, o conflito social latente na sociedade é capturado nesse modelo,
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pelo o grau de cooperação que esses rivais possam ter. Quando as divisões sociais são
grandes, uma alta probabilidade será anexada a uma oportunidade de um grupo capturar os
recursos do grupo rival. Segundo Rodrik (1998), quando as escolhas são assimétricas as
instituições de conflito da sociedade é que determinam a renda. Quando essas instituições são
extremamente fracas, um grupo pode excluir o outro grupo do processo distributivo e capturar
toda a renda. Nesse caso, o grupo que coopera vai ficar com o resíduo. Se as instituições
forem fortes, a renda disponível vai ser distribuída uniformemente entre os dois grupos. E na
presença de instituições intermediárias, a renda é determinada pelo conflito social latente da
sociedade. Posteriormente, Rodrik usa vários indicadores para capturar os conflitos sociais
latentes e a qualidade das instituições de conflitos.
Sua primeira regressão tem como variável dependente a diferença no crescimento
entre dois sub-períodos: 1960-75 e 1975-89. Todas as regressões contêm as seguintes
variáveis independentes, além dos indicadores de conflito: dummies regionais para América
Latina, para o Leste da Ásia e para a África Subsaariana, defasagem do crescimento (durante
1960-75) e PIB per capita em 1975. O termo da defasagem do crescimento é incluído para
capturar efeitos de convergência (e normalmente se apresenta altamente significativo e com
sinal negativo). O PIB per capita e as dummies regionais são incluídas para controlar as
características estruturais que são correlacionadas com o nível da renda e com o lugar
geográfico. Nessa regressão, a dummy regional do Leste da Ásia, ao contrário da America
Latina e da África Subsaariana, não sofre com uma queda no crescimento após 1975. O R²
ajustado dessa regressão é de 0,48.
Em um segundo momento, Rodrik inclui na regressão anterior uma medida de choque
externo durante a década de 1970. Isso significa capturar um componente inesperado de
12
volatilidade dos fluxos de receitas associados com o comércio exterior. Assumindo que os
termos de troca seguem um passeio aleatório (possivelmente com drift), esse é um indicador
de volatilidade externa teoricamente apropriado. O coeficiente estimado do choque externo é
negativo e altamente significativo. Como esperado, uma grande exposição a turbulências
externas durante a década de 1970 é associada com grandes reduções no crescimento após
1975. Nessa regressão o R² ajustado cresce para 0,60.
Na regressão seguinte, o autor adiciona a variável de desigualdade de renda (para tal,
ele usou o coeficiente de Gini). Essa variável entra na regressão apresentando um sinal
negativo e um coeficiente bem alto e aumenta o poder explicativo da regressão. O R² ajustado
cresce para 0,65.
Posteriormente, Rodrik inclui uma proxy para as instituições de conflito (ICRG). Seu
coeficiente estimado é positivo e altamente significativo e o R² ajustado da regressão cresce
para 0,85. Na verdade, quando esse índice é incluído na regressão, a desigualdade de renda e
os choques externos apresentam pouco poder explicativo. O que acontece é que quando as
instituições de conflito são suficientemente fortes para assegurar que a distribuição ex-post
vai seguir as “regras da lei” ao invés de se comportar de forma oportunística, nem mesmo a
severidade dos choques ou a intensidade do conflito social latente vão desempenhar um papel
determinante na produtividade da economia.
Depois, o autor combinou as variáveis usadas anteriormente e algumas outras para
construir uma composição de indicadores de conflitos sociais desencadeados pelos choques
externos de 1970. Esses indicadores são correlacionados negativamente e relativamente fortes
com o desempenho econômico que se seguiu após esses choques.
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O argumento central do paper de Rodrik é que a medida do conflito social
desencadeada durante 1970 é função de três determinantes: (i) a severidade dos choques
externos; (ii) a profundidade dos conflitos sociais latentes; e (iii) a qualidade das instituições
de conflito. Rodrik criou quatro indicadores, sendo eles produtos de três proxies, uma para
cada determinante.
Os resultados mostram que a variável de conflito tem efeito negativo e significativo no
crescimento. A magnitude dos coeficientes estimados sugere que um aumento de 1 desvio-
padrão no indicador de conflito está associado com uma redução do crescimento de 0,75-
1,65% por ano. Mesmo variando o tamanho da amostra entre 49 e 103 países os resultados
são semelhantes.
Na seção seguinte, Rodrik apresenta resultados com uma amostra mais ampla de
proxies para conflitos latentes e qualidade das instituições de conflito. Para manter a análise
mais simples, o autor simplesmente mostra o que acontece quando cada proxy é inserida na
mesma regressão. O resultado básico é que cada uma dessas proxies entram na regressão
significantes e com o sinal esperado.
Após análises econométricas, a evidência sugere que países com mais instituições
democráticas, melhores regras de lei, alta qualidade em instituições governamentais e altos
níveis de seguridade social, experimentaram uma queda econômica menor depois de meados
da década de 1970.
De acordo com o autor, a novidade em seu artigo é a análise sistemática empírica
focada na interação dos choques tanto com os conflitos sociais latentes como com as
instituições de conflito. A intenção de Rodrik era de mostrar que conflitos sociais latentes e as
14
instituições de conflito são importantes para a persistência do crescimento econômico e que
seus efeitos são mensuráveis. O autor ainda afirma que será importante desenvolver
instituições que mediam conflitos sociais.
2.4 EASTERLY (2001)
Easterly (2001) começa o paper afirmando que, em 1980-98, o crescimento da renda
per capita de países em desenvolvimento era 0%, comparado com 2,5% em 1960-79. O
crescimento dos países em desenvolvimento deveria ter aumentado e não diminuído, de
acordo com os determinantes do crescimento das regressões padrões de crescimento. O autor
apresenta diversas hipóteses que mostram que fatores mundiais como aumento na taxa de
juros do mundo, aumento da dívida dos países em desenvolvimento, a redução no crescimento
industrial do mundo e o progresso técnico enviesado podem ter contribuído para a estagnação
dos países em desenvolvimento. Easterly também documenta que talvez as regressões de
crescimento sejam mal especificadas do modo como Jones (1995) criticou, que uma variável
estacionária (crescimento), estaria sendo regredida contra variáveis não estacionárias como
políticas e condições iniciais. Pode ser que 1960-79 tenha sido um período incomum para o
crescimento dos países menos desenvolvidos (LDC) e a estagnação em 1980-98 de países
pobres represente um retorno histórico do padrão de divergência entre países ricos e países
pobres.
O que o artigo de Easterly documenta é que, a resposta da taxa de crescimento dos
países em desenvolvimento às mudanças nas políticas econômicas dos anos de 1980 e 1990,
não foi o esperado dos trabalhos empíricos sobre crescimento. Depois Easterly descreve a
tendência em políticas econômicas nacionais, bem como indicadores indiretos de políticas em
relação à educação, expectativa de vida, infraestrutura e fertilidade. Se as características dos
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países que supostamente afetam o crescimento nas regressões entre países tendem para cima,
então, obviamente elas não podem explicar a desaceleração no crescimento nos anos de 1980
e 1990.
Easterly afirma que houve uma grande melhoria nos resultados para saúde, educação,
infraestrutura e fertilidade que resultaram das políticas nacionais e do progresso tecnológico.
O coeficiente de Gini também apresentou uma melhora, caindo de 49 nos anos 60 para 41 nos
anos 90. Essas melhorias deveriam ter conduzido a uma aceleração no crescimento dos países
em desenvolvimento dos anos de 1960 a 1990, e não uma estagnação entre 1980-98. Há
outros indicadores de políticas que não necessariamente mostram melhorias nos anos de 1980
e 90, mas falham em mostrar o tipo de deterioração que poderia explicar as décadas perdidas,
como o ágio no mercado paralelo, a inflação e o grau de abertura (exportação em relação ao
PIB). Concluindo, políticas econômicas inadequadas não são candidatas plausíveis para
explicar as décadas perdidas. As políticas ou melhoraram ou permaneceram as mesmas
durante o período de 1960-98.
Easterly questiona: se não são as políticas econômicas que explicam a desaceleração
no crescimento dos países em desenvolvimento, então o que é? Um candidato são os termos
de troca. Afinal, o evento mais notável por volta do período em que houve a interrupção do
crescimento foi o segundo choque do petróleo em 1979. O crescimento continuou robusto
após o primeiro choque. O segundo choque do petróleo foi pequeno nos típicos países em
desenvolvimento. Entretanto, os mesmos cresceram muito pouco após esse período. É
possível que o segundo choque do petróleo tenha desencadeado a estagnação dos países em
desenvolvimento pelas duas décadas sucessivas. Mas, choques contemporâneos nos termos de
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troca não parecem ser um fator, pois não há choques nos termos de troca no período de
estagnação em 1980 e 1990 para os típicos países em desenvolvimento.
Outra afirmação de que os choques externos provavelmente acarretaram a
desaceleração nos países em desenvolvimento foi o aumento na taxa de juros real após o
choque de Volcker em 1979. Outra variável de choque similar é o comportamento dos fluxos
de capitais para países em desenvolvimento. Há uma queda no fluxo começando com a crise
da dívida em 1982. Entretanto, os fluxos recuperaram seu nível anterior após bater um nível
mínimo em 1987. A queda nos fluxos de capitais ajuda a explicar a estagnação dos anos de
1980, mas não a dos anos de 1990. O último candidato lógico para choque externo que pode
ter causado a queda no crescimento é a desaceleração do crescimento das economias
industriais.
Posteriormente, o autor faz regressões de crescimento para formalmente testar o efeito
das políticas econômicas e choques no crescimento. Cada regressão será apenas para uma
amostra de países em desenvolvimento. A primeira regressão que o autor mostra é para um
painel de décadas médias de crescimento. Ele usou o método Seemingly Unrelated Regression
(SUR) para contabilizar erros persistentes através do tempo para um dado país. O crescimento
é negativamente correlacionado com a renda inicial.
Um ágio elevado no mercado paralelo, um baixo quociente de M2/PIB, uma taxa de
câmbio sobrevalorizada, baixo número de matrículas no ensino secundário, e baixa
infraestrutura (telefones é a proxy usada nesse paper) estão todos associados com baixo
crescimento. Inflação não é significativamente correlacionada com o crescimento. O autor
encontra a variável de número de matrículas no ensino secundário significativa, mas não a
medida de Barro - Lee (2000) para anos de escolaridade da força de trabalho.
17
Entretanto, como era esperado, políticas econômicas não explicam a queda do
crescimento nos anos de 1980 e 90. O crescimento em ambas as décadas foi aproximadamente
2,3% menor do que nos anos de 1960 e 70. Isso é comprovado através dos coeficientes das
dummies de tempo, cuja significância não é distorcida por mudanças na amostra de uma
década para outra, assim como suas magnitudes e significâncias permanecem inalteradas no
painel. Essas dummies de tempo (uma para cada década) capturam acontecimentos durante as
décadas que influenciaram o crescimento, mas que não estão na regressão.
Poderia ser uma causalidade reversa a explicação para o padrão observado - talvez os
países tivessem melhorado suas políticas por que o crescimento estava caindo? Entretanto,
quando o autor usa o método de mínimos quadrados em três estágios na primeira regressão,
usando a defasagem dos valores das políticas como seus instrumentos, virtualmente todas as
variáveis de política permanecem significativas e as dummies para dos anos de 1980 e 90
continuam altamente significativas.
A segunda regressão mostra o efeito da inclusão dos choques dos termos de troca
como porcentagem do PIB. Os choques nos termos de troca têm um impacto significativo no
crescimento. Entretanto, eles não explicam a desaceleração do crescimento nos anos de 1980
e 90. As dummies para as décadas de 1980 e 1990 permanecem altamente significativas. E
sobre a idéia de que as defasagens dos choques nos termos de troca poderiam afetar o
crescimento, como os choques do petróleo da década de 1970, conduzindo à década perdida o
para crescimento nos anos 80, Easterly testa essa hipótese com uma variável de defasagem
dos choques nos termos de troca como porcentagem do PIB. Essa variável é boa para testar
essa hipótese, assim como a medida da intensidade de como os choques nos termos de troca
foram sentidos em cada país. Essa variável muda o sinal e é apenas marginalmente
18
significativa. A hipótese do choque do petróleo para a estagnação dos países em
desenvolvimento não é sustentada pelos dados.
Posteriormente, o autor testou para os efeitos do choque na taxa de juros. Os juros da
dívida externa como porcentagem do PIB apresentam um efeito negativo e estatisticamente
significativo no crescimento. Incluindo o choque na taxa de juros na regressão do
crescimento, diminui a magnitude da troca de intercepto para os anos de 1980 e 1990, mas
não elimina sua significância. O choque na taxa de juros foi um fator para a estagnação dos
LDC, mas a dummy de década continua significativa.
Easterly também testou o fluxo de capital (fluxo liquido de capital/PIB) como variável
de choque. Essa variável se apresenta estatisticamente não significativa e torna as dummies de
1980 e 1990 altamente significativas. O autor também testou a dívida inicial no começo de
cada década, mas ela não foi significativa. A interrupção do fluxo de capital e a alta dívida
externa falham para explicar a estagnação dos LDC nos anos de 1980 e 1990.
Na terceira regressão o autor adiciona a média da taxa de crescimento para cada país
membro da OCDE. Para a maioria dos países em desenvolvimento, os países da OCDE têm
uma alta porcentagem de seus mercados. A média de participação dos países da OCDE no
mercado dos países em desenvolvimento é de 63%. Portanto, esse termo está capturando um
importante choque no crescimento. Segundo Easterly, não esperaríamos que nenhum país em
desenvolvimento tivesse o mesmo efeito nos países membros da OCDE, logo essa variável é
seguramente exógena. De qualquer modo, Easterly testou o efeito dos LDC nos países da
OCDE. Nenhum efeito causal no crescimento dos países do LDC foi encontrado no
crescimento dos países da OCDE.
19
Em contraste, o efeito do crescimento dos países da OCDE no crescimento dos países
em desenvolvimento é enorme. Uma queda de 1% no crescimento dos parceiros comerciais
que são membros da OCDE acarreta uma queda de 2,1% no crescimento dos países em
desenvolvimento. A desaceleração do crescimento dos parceiros comerciais que são membros
da OCDE, de 3,2% em 1960-79 para 1,8% em 1980-98, mais que explicaria a desaceleração
do crescimento de 2,5% dos países em desenvolvimento. As variáveis que medem o choque
nos termos de troca e o choque na taxa de juros continuam significativas nessa regressão.
Entretanto, as dummies das décadas de 1980 e 1990 agora se tornam não significativas.
Posteriormente, Easterly faz outras regressões como exercícios de robustez. Primeiro,
ele omite a variável do choque da taxa de juros e expande a amostra para incluir dados dos
anos de 1960. A variável do crescimento dos países membros da OCDE permanece altamente
significativa e as dummies das décadas permanecem perto de zero. Para ver o quão o efeito do
crescimento dos parceiros comerciais é robusto, o autor testou diferentes formas funcionais
para a variável. O autor usou a taxa de crescimento de cada parceiro comercial de cada LDC,
de acordo com a participação desses primeiros países no comércio dos países em
desenvolvimento. Essa variável permanece altamente significativa e novamente diminui o
valor das dummies das décadas para zero. O autor também experimenta a interação da taxa de
crescimento da OCDE com a porcentagem do comércio com a OCDE em relação ao PIB de
cada país em desenvolvimento. Essa variável não é estatisticamente significativa, sugerindo
que o peso do comércio internacional na economia não necessariamente captura o canal pelo
qual o crescimento de países desenvolvidos afeta o crescimento doméstico.
Easterly afirma que outra possível explicação para a previsão do crescimento para as
décadas de 1980 e 1990 ser acima do esperado, é o fato das regressões de crescimento estarem
20
mal especificadas. Ele faz os devidos testes e os resultados sugerem, de fato, um problema de
má especificação. Mas Easterly afirma que essa má especificação não resolve o enigma da
estagnação dos países em desenvolvimento no período de 1980 e 1990.
Concluindo, o trabalho de Easterly documenta um enigma importante na pesquisa
empírica sobre crescimento: a estagnação dos países em desenvolvimento durante os anos de
1980 e 1990, apesar de reformas econômicas que, de acordo com as regressões de
crescimento, deveriam acelerar o crescimento, e não reduzir. Segundo o autor, é possível que
o excepcional tenha sido o período de 1960-79 e que o período de 1980-98 represente o
retorno de uma tendência dos países ricos se afastarem dos países pobres a longo prazo.
2.5 BECKER E MAURO (2006)
Neste artigo, os autores documentam a freqüência, duração e todos os custos de uma
queda na produção para um painel com 167 países e investigam a associação empírica de uma
queda da produção com a variedade de choques. O período usado é de 1970-2001. Os choques
incluídos são: distúrbios reais, como choques nos termos de troca ou desastres naturais;
distúrbios financeiros, como uma parada súbita no fluxo de capitais e aumento na taxa de
juros mundial; e alterações sociopolíticas. Os autores dividem os países em três grupos: (i)
avançados, (ii) mercados emergentes (renda média) e (iii) em desenvolvimento (renda baixa).
Segundo os autores, a importância de um dado tipo de choque pode ser resumida pelos
seus custos esperados. Para isso, são necessários três dados, e eles são estimados baseados nas
freqüências observadas em 1970-2001: (i) a probabilidade de ocorrência do choque; (ii) a
probabilidade condicional de que o choque conduza a perdas no produto; (iii) e o custo na
produção associado com o evento.
21
De acordo com o resultado dos autores, choques ocorrem com mais freqüência e são
mais prováveis de conduzir a uma queda na produção em países em desenvolvimento e
mercados emergentes, do que em países avançados.
Para países em desenvolvimento, choques adversos nos termos de troca são os tipos de
choque mais custosos. Considerando todos os eventos, mudanças adversas nos termos de
troca têm o maior custo esperado para países em desenvolvimento – somando 2,8% do PIB
anual. Já para mercados emergentes, paradas súbitas e crises correntes carregam o maior custo
esperado. Os resultados são robustos usando, inclusive, dados alternativos.
Posteriormente, os autores apresentam resultados usando regressões Probit, e
concluem que paradas súbitas no fluxo de capital continuam sendo o tipo de choque mais
custoso – juntamente com os termos de troca e com as crises cambiais – para mercados
emergentes com um custo esperado de 0,6% do PIB anual. Para países em desenvolvimento,
os choques nos termos de troca e crises da dívida estão associados com significativos custos
esperados (aproximadamente 1% do PIB anual).
Os autores concluem dizendo que mesmo que a queda na produção ocorra em países
com diferentes tipos de renda, sua freqüência e duração e todos os custos são positivamente
associados com o PIB per capita. Além disso, choques externos têm um papel importante para
a maioria dos países; e, tanto para países em desenvolvimento, como para mercados
emergentes, uma grande variedade de choques financeiros, macroeconômicos, reais e
políticos é significativamente relacionada com queda na produção.
22
2.6 KEHOE E RUHL (2007)
Nesse artigo, os autores começam afirmando que os termos de troca variam muito de
país para país e que, por isso, são candidatos naturais para explicar a perfomance da
economia. Eles apresentam exemplos nos quais choques nos termos de troca equivalem a
choques de tecnologia, alterando o PIB real. Entretanto, os autores mostram que os modelos
padrão não suportam essa linha de raciocínio e que o problema estaria na construção do PIB
real. Segundo eles, o efeito dos choques nos termos de troca não é o mesmo que o efeito de
um choque na produtividade e isso é altamente dependente do método usado para construir o
PIB real.
Nesse artigo, os autores apresentam esses cálculos de construções do PIB real para
mostrar a relação entre termos de troca e produtividade. Afirmam que, como a produtividade
é computada usando o PIB como medida de produção, os termos de troca não podem ter
efeito direto na produtividade total dos fatores (PTF) de um país. Uma queda nos termos de
troca diminui o poder de compra de um país, o que pode ser prejudicial em termos de
consumo e bem estar, mas não impacta diretamente na PTF.
Os autores mostram que em modelos padrão um choque nos termos de troca tem um
efeito no consumo e no bem estar, o que é similar a um choque na PTF. Segundo eles, a
analogia entre os termos de troca e a produtividade perde a validade quando são calculados
seus efeitos no PIB real e na produtividade. De acordo com os autores, quando o PIB real é
medido com preços no período base e os fatores domésticos de produção são mantidos
constantes, uma mudança nos termos de troca pode ter um efeito de primeira ordem no PIB,
mas esse resultado advém de um artefato de método deflacionário e não de uma relação
23
estrutural básica. Quando consideramos o PIB real calculado de outra forma, esse artefato
desaparece.
Os autores mostram também que um choque nos termos de troca pode afetar a oferta
de fatores de produção, como o trabalho, e o efeito desses choques têm um impacto ambíguo
no PIB real. Um terceiro grupo de resultados mostra como o efeito de um choque nos termos
de troca no PIB real e no consumo varia com a elasticidade de substituição entre os fatores
domésticos e os insumos importados. Quando a elasticidade de substituição decresce,
mudanças nos termos de troca têm grandes impactos no consumo, mas menores impactos no
PIB real. Quando a função de produção usa insumos domésticos e importados em proporções
fixas, mudanças nos termos de troca têm um grande impacto no consumo, mas nenhum
impacto no PIB real. Logo, segundo os autores, os termos de troca não impactam o PIB real
diretamente.
24
3 DESCRIÇÃO DA BASE DE DADOS
O principal determinante do crescimento considerado nesta dissertação é a taxa de
crescimento média anual dos termos de troca. Os termos de troca são dados pela razão
entre o preço das exportações e o preço das importações. Quanto maiores os termos de
troca, significa dizer que com a mesma quantidade de exportação, pode-se obter uma
quantidade maior de importações.
Entre as variáveis independentes encontra-se a renda inicial, dada pelo logaritmo
natural do PIB per capita do primeiro ano de cada período. Essa variável foi incluída por
causa da convergência condicional que diz que quanto menor a renda inicial de um país, ou
seja, quanto mais distante de seu estado estacionário, maiores serão as taxas de crescimento
deste mesmo país.
Outra variável acrescentada ao modelo é a variável de educação, representada pela
média de anos de estudo da população com idade igual ou acima dos 15 anos para cada início
de período. Pelo fato de representar uma medida de capital humano, espera-se que ela exerça
impacto positivo sobre as taxas de crescimento econômico dos países.
25
Como medida de distorção política foram incluídas no modelo variáveis como ágio no
mercado paralelo de câmbio, a taxa de inflação, além do grau de intervenção governamental,
medido pela razão entre o consumo do governo e o PIB.
Por fim, outras variáveis acrescentadas ao modelo também como medida de distorção,
são: o grau de abertura da economia, representada pela a soma das exportações e importações,
em percentual do PIB, e M2 em percentual do PIB, onde M2 representa o estoque de papel
moeda em poder do público, mais depósitos à vista e a prazo nos bancos comerciais.
A base de dados utilizada nesta dissertação engloba o período de 1960 a 1999 e 65
países. As variáveis taxa de crescimento do PIB per capita, renda inicial, taxa de
investimento, consumo do governo em percentual do PIB e grau de abertura da economia
foram obtidas da base de dados Penn World Table 6.11. Os dados de termos de troca, de
inflação, ágio no mercado paralelo de câmbio e M2/PIB foram retirados da Global
Development Network Growth Database e os dados de escolaridade, por sua vez, de Barro e
Lee (2000).
Num primeiro momento, para estimar as regressões em painel, as variáveis foram
calculadas para períodos de 5 anos (1960-64, 1965-69, 1970-74, 1975-79, 1980-84, 1985-89,
1990-94, 1995-1999). À exceção do nível de renda e da escolaridade, que são medidos no ano
inicial, as demais variáveis explicativas utilizadas no modelo são calculadas através da média
anual para cada subperíodo de 5 anos.
1 Heston, Summers e Aten (2002).
26
Posteriormente, todas as análises foram repetidas, porém para estimar as regressões
em painel as variáveis foram calculadas para períodos de 10 anos (1960-69, 1970-79, 1980-
89, 1990-99).
Em seguida os países foram divididos, baseado nos critérios do Banco Mundial, em
países desenvolvidos e em desenvolvimento e as análises anteriores foram repetidas.
A Tabela 1 apresenta as estatísticas descritivas das variáveis em questão.
Tabela 1: Estatísticas Descritivas
Média Mediana Máximo Mínimo Desvio-
Padrão Observações
Taxa de Crescimento 0,01943 0,02084 0,1149 -0,1634 0,034 342 Renda Inicial
(log do PIB per capita) 8,2946 8,2154 10,2355 6,4507 0,9215 342 Educação
(População com idade igual ao acima de 15 anos) 4,001 3,65 11,50 0,00 0,5194 342
Taxa de Crescimento dos Termos de Troca -0,0043 -0,0041 0,2813 -0,2137 0,0595 342
Ágio no mercado paralelo de câmbio (% PIB) 64,2266 5,614 11662,38 -6,96 638,07 342
Consumo do governo (% PIB) 19,701 18,348 87,41 5,5230 10,1387 342
Grau de abertura (% PIB) 54,70 47,952 288,53 7,607 33,830 342 Inflação
(preços ao consumidor,%) 56,754 9,092 3357,6 -2,9866 287,43 342 M2
(% PIB) 35,878 28,033 177,67 2,7148 25,136 342 Investimento
(% PIB) 15,74 14,32 39,70 2,365 7,703 342
Como se observa na Tabela 1, os termos de troca apresentam um desvio-padrão
grande, há muita diferença entre os valores máximos e mínimos. Isto ocorre em função da
composição de países da amostra, que engloba economias bastante heterogêneas.
No anexo estão relacionados todos os países que foram contemplados nesse estudo.
27
4 RESULTADOS
4.1 PAINEL DE 5 ANOS
Na Tabela 2, a primeira regressão realizada contém 3 variáveis, além da constante.
São elas: a renda inicial, educação e termos de troca. Posteriormente, são acrescentadas todas
as outras variáveis do modelo (inflação, consumo do governo, M2/PIB, grau de abertura e
ágio no mercado paralelo de câmbio), com exceção do investimento em relação ao PIB, que
só é adicionada ao modelo numa terceira análise. As regressões foram realizadas para os
intervalos de 1960-64, 1965-69, 1970-74, 1975-79, 1980-1984, 1985-1989, 1990-1994 e
1995-1999). Todas as regressões realizadas foram estimadas em dados em painel e utilizam a
Matriz de Covariância de White para correção de heterocedasticidade. Nesse momento não foi
considerada a presença de efeito fixo, apenas do efeito tempo.
A presença de efeito fixo adiciona uma dummy para capturar variáveis importantes
para o crescimento, que são específicas de cada país e não variam ao longo do tempo, mas não
estão presentes na regressão. Já a presença de efeito de tempo adiciona uma dummy para
capturar variáveis que influenciaram o crescimento de todos os países, ao mesmo tempo,
durante o período analisado.
28
Tabela 2: Painel de 5 anos sem efeito fixo Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita
1 2 3 Renda 0,000523
0,002018 -0,007460* 0,003513
-0,016464* 0,003448
Educação 0,001840*
0,000528 0,002298* 0,000550
0,001441* 0,000438
Termos de Troca 0,019269
0,037079 0,015040 0,041079
0,001632 0,038572
Inflação
-0,000019* 0,000005
-0,000016* 0,000004
Consumo do Governo
-0,000192* 0,000093
-0,000054 0,000116
M2/PIB
0,000374* 0,000102
0,000209* 0,000081
Grau de Abertura
-0,000178* 0,000049
-0,000187* 0,000048
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
-0,000004* 0,000002
-0,000004* 0,0000015
Investimento/PIB
0,002265* 0,000338
Observações 342 342 342 R² ajustado 0,0211 0,1161 0,2414
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
É possível notar que a variável termos de troca apresenta sinal positivo nas três
regressões, conforme esperado. Entretanto, ela não é estatisticamente significativa, nem a um
nível de 10%.
Mesmo após a inclusão das demais variáveis (coluna 2 ), os termos de troca se mantêm
estatisticamente não significativos.
29
Podemos ainda observar que mesmo após a inclusão da variável de investimento
(coluna 3), os termos de troca continuam apresentando-se não significativos.
Já as regressões na Tabela 3 são iguais às anteriores, exceto pelo fato de
considerarmos a presença do efeito fixo:
Tabela 3: Painel de 5 anos com efeito fixo
Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita 1 2 3
Renda 0,001183 0,002012
-0,007431* 0,003486
-0,015114* 0,003493
Educação 0,002215*
0,000610 0,002746* 0,000643
0,001808* 0,000549
Termos de Troca 0,014746
0,031638 0,014407 0,034362
0,005083 0,035755
Inflação
-0,000013* 0,000006
-0,000014* 0,000005
Consumo do Governo
-0,000080 0,000102
0,000013 0,000126
M2/PIB
0,000454* 0,000118
0,000276* 0,000087
Grau de Abertura
-0,000151* 0,000050
-0,000171 0,000048
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
-0,000005* 0,000002
-0,000005 0,000001
Investimento/PIB
0,001964* 0,000329
Observações 342 342 342 R² ajustado 0,0846 0,1842 0,2692
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
Podemos notar que a presença do efeito fixo não muda os resultados. Os termos de
troca continuam não apresentando significância estatística nas três regressões, inclusive na
presença do investimento.
30
Isso significa dizer que para intervalos de 5 anos, com ou sem a presença do efeito
fixo, os termos de troca não influenciam no crescimento econômico.
4.2 PAINEL DE 10 ANOS
Nessa seção, as análises foram repetidas, mas para estimar as regressões em painel as
variáveis foram calculadas para períodos de 10 anos (1960-69, 1970-79, 1980-89, 1990-99).
Na Tabela 4 não foi considerada a presença de efeito fixo, apenas do efeito tempo. Essas
regressões também foram estimadas em dados em painel e também utilizam a Matriz de
Covariância de White para correção de heterocedasticidade.
Tabela 4: Painel de 10 anos sem efeito fixo Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita
1 2 3 Renda -0,010899*
0,003537 -0,014155* 0,003186
-0,017032* 0,002877
Educação 0,004798*
0,000782 0,003674* 0,000408
0,001894* 0,000185
Termos de Troca 0,00084*
0,000135 0,001021* 0,000135
0,0007* 0,000143
Inflação
-0,000024* 0,000008
-0,000027* 0,000008
Consumo do Governo
-0,000553* 0,000041
-0,000334* 0,0000693
M2/PIB
0,000296* 0,000048
0,000176* 0,0000421
Grau de Abertura
-0,000138* 0,000015
-0,000157* 0,0000191
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
0,0000005 0,0000017
0,000001 0,000002
Investimento/PIB
0,001708* 0,000171
Observações 168 168 168 R² ajustado 0,1202 0,2700 0,4277
31
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
Assim como na seção anterior, a primeira regressão (coluna 1) contém apenas 3
variáveis: renda, educação e termos de troca. Note que termos de troca mais uma vez
apresentam o sinal esperado, mas ao contrário dos resultados anteriores, essa variável
apresenta-se estatisticamente significativa e a um nível de 5% de significância. O que
significa que um aumento nos termos de troca acarreta elevação na taxa de crescimento do
PIB per capita controlando para renda e educação.
Na regressão seguinte (coluna 2), são incluídas todas as outras variáveis, com exceção
do investimento em relação ao PIB. Novamente, a variável termos de troca apresenta o sinal
esperado e, assim como na primeira regressão, termos de troca apresentam significância
estatística a 5% de significância.
Na terceira regressão acrescenta-se a variável investimento em relação ao PIB.
Podemos notar que mesmo na sua presença, a variável termos de troca continua sendo
estatisticamente significativa. Logo, podemos concluir que a importância dos termos de troca
para o crescimento do PIB per capita é independente do investimento.
Quando consideramos a presença do efeito fixo, na Tabela 5, os resultados são
parecidos.
32
Tabela 5: Painel de 10 anos com efeito fixo
Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita 1 2 3
Renda -0,011772* 0,002638
-0,015194* 0,002552
-0,01697* 0,002678
Educação 0,005558*
0,000488 0,004347* 0,000211
0,002537* 0,000073
Termos de Troca 0,00081*
0,000147 0,000833* 0,000145
0,000608* 0,000146
Inflação
-0,000013* 0,000005
-0,000021* 0,000007
Consumo do Governo
-0,000403* 0,000037
-0,000261* 0,000077
M2/PIB
0,000351* 0,000055
0,00023* 0,000045
Grau de Abertura
-0,00012* 0,000008
-0,000148* 0,000010
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
-0,000002 0,000001
0,0000002 0,000002
Investimento/PIB
0,001429* 0,000214
Observações 168 168 168 R² ajustado 0,2412 0,3653 0,4627
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
Na primeira regressão (coluna 1), com apenas as variáveis renda, educação e termos de
troca, a variável de interesse se apresenta estatisticamente significativa a um nível de 5% e
com o sinal esperado.
Na regressão seguinte (coluna 2), são incluídas todas as variáveis, com exceção do
investimento em relação ao PIB. A variável termos de troca continua apresentando o sinal
esperado e apresenta-se estatisticamente significativa.
33
Na terceira regressão (coluna 3), adicionamos a variável investimento em relação ao
PIB na regressão anterior. A variável termos de troca apresenta o sinal esperado e se
apresentam estatisticamente significativa. Isso indica, que na presença do efeito fixo, a
importância dos termos de troca para o crescimento não se dá através do investimento, os
termos de troca apresentam efeito isolado sobre o crescimento.
Como os termos de troca só apresentam significância estatística para intervalos de 10
anos, na presença do efeito fixo ou não, podemos pensar que como os termos de troca
influenciam o crescimento indiretamente, através da produtividade, como foi descrito no
artigo de Kehoe e Ruhl, por exemplo, esse efeito demore a aparecer no crescimento. Logo,
apenas em intervalos de 10 anos, esse efeito indireto aparece no crescimento.
34
4.3 DIVISÃO DE PAÍSES
Nessa seção as análises anteriores foram repetidas. Foram realizadas regressões para
painel de 5 anos, com e sem a presença de efeito fixo e, posteriormente, para painel de 10
anos também com e sem a presença de efeito fixo. Igualmente, todas as regressões utilizam
Matriz de Covariância de White para correção de heterocedasticidade.
Entretanto, nessa seção os países foram separados em dois grupos: países
desenvolvidos e países em desenvolvimento. Essa divisão foi realizada baseada nos critérios
do Banco Mundial.
4.3.1 PAÍSES DESENVOLVIDOS
4.3.1.1 PAINEL DE 5 ANOS
Assim como nas seções anteriores, a primeira regressão realizada contém apenas as
variáveis renda, educação e termos de troca, além da constante. Posteriormente, são
acrescentadas todas as outras variáveis do modelo, com exceção do investimento em relação
ao PIB, que só é adicionada ao modelo na terceira regressão. A Tabela 6 mostra os resultados,
sem considerar a presença do efeito fixo.
35
Tabela 6: Painel de 5 anos sem efeito fixo Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita
1 2 3 Renda -0,036875*
0,005637 -0,040757* 0,009567
-0,040147* 0,009624
Educação -0,00074**
0,000437 -0,000357 0,000516
-0,000344 0,000514
Termos de Troca 0,023800
0,029028 0,032353 0,03159
0,032338 0,031657
Inflação
-0,000195* 0,000077
-0,000194* 0,0000767
Consumo do Governo
-0,000024 0,000305
0,000004 0,000327
M2/PIB
0,000144 0,000133
0,000139 0,000133
Grau de Abertura
-0,000050 0,000090
-0,000051 0,000091
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
0,000193 0,000463
0,000145 0,000487
Investimento/PIB
0,000116 0,000226
Observações 71 71 71 R² ajustado 0,3548 0,3775 0,3679
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
É possível notar que nas três regressões, apesar de apresentar o sinal esperado, a
variável termos de troca não é estatisticamente significativa. O que significa que, para
intervalos de 5 anos, sem a presença de efeito fixo, os termos de troca não influenciam o
crescimento para países desenvolvidos. Podemos observar através da Tabela 7, que a inclusão
do efeito fixo não muda os resultados anteriores.
36
Tabela 7: Painel de 5 anos com efeito fixo Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita
1 2 3 Renda -0,045572*
0,008502 -0,056508* 0,009446
-0,058518* 0,010036
Educação -0,000914*
0,000407 -0,000661 0,000543
-0,000697 0,000553
Termos de Troca 0,027358
0,042088 0,044520 0,038222
0,045743 0,037251
Inflação
-0,000220**
0,000116 -0,000223** 0,000117
Consumo do Governo
-0,000013 0,000401
-0,000059 0,000435
M2/PIB
0,000123 0,000147
0,000131 0,000142
Grau de Abertura
-0,000066 0,000103
-0,000066 0,000102
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
-0,000073 0,000558
-0,000013 0,000595
Investimento/PIB
-0,000193
0,000306
Observações 71 71 71 R² ajustado 0,3402 0,3646 0,3545
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
Nas três regressões, termos de troca continuam não apresentando significância
estatística.
4.3.1.2 PAINEL DE 10 ANOS
Para intervalos de 10 anos, os resultados não são muito diferentes dos anteriores. A
primeira regressão calculada contém apenas as variáveis de renda, educação e termos de troca.
37
Posteriormente, as outras variáveis são incluídas, com exceção da variável investimento em
relação ao PIB, que só é incluída na terceira regressão.
Tabela 8: Painel de 10 anos sem efeito fixo
Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita 1 2 3
Renda -0,031076* 0,010230
-0,044122* 0,008558
-0,044354* 0,008944
Educação -0,000250
0,001368 0,002229 0,001801
0,002519 0,001655
Termos de Troca 0,035971
0,079649 0,019303 0,048254
0,020170 0,049368
Inflação
-0,000191* 0,000045
-0,000190* 0,000048
Consumo do Governo
0,000165 0,000415
0,000202 0,000499
M2/PIB
0,000225** 0,000115
0,000222** 0,000116
Grau de Abertura
-0,0000488 0,0000309
-0,000048 0,000032
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
-0,000425 0,000493
-0,000496 0,00062
Investimento/PIB
0,000139
0,000208
Observações 33 33 33 R² ajustado 0,5416 0,6885 0,6766
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
Os resultados da Tabela 8, que não incluem efeito fixo, mostram que os termos de
troca não apresentam significância estatística em nenhuma das três regressões.
A Tabela 9 mostra que mesmo incluindo o efeito fixo, para intervalos de 10 anos, os
termos de troca não influenciam o crescimento para países desenvolvidos.
38
Tabela 9: Painel de 10 anos com efeito fixo Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita
1 2 3 Renda -0,030379*
0,013949 -0,047908* 0,012363
-0,048215* 0,012331
Educação -0,000615
0,001514 0,001403 0,002096
0,001201 0,001885
Termos de Troca 0,010449
0,110097 0,016232 0,078196
0,016288 0,081021
Inflação
-0,000214* 0,000084
-0,000216* 0,0000826
Consumo do Governo
0,000191 0,000521
0,000171 0,000567
M2/PIB
0,000204 0,000124
0,000205 0,000125
Grau de Abertura
-0,0000611 0,0000436
-0,000062 0,000043
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
-0,00053 0,000606
-0,000498 0,000671
Investimento/PIB
-0,000081 0,000172
Observações 33 33 33 R² ajustado 0,5395 0,6730 0,6571
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
Em nenhuma das três regressões a variável termos de troca apresenta significância
estatística.
39
4.3.2 PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
4.3.2.1 PAINEL DE 5 ANOS
Nessa seção, repetimos as análises anteriores, porém, para países em desenvolvimento.
A primeira regressão realizada contém apenas as variáveis renda, educação e termos de troca.
Depois foram incluídas as outras variáveis e na terceira regressão foi incluída a variável de
investimento. Nesse primeiro momento não foi considerado o efeito fixo. A Tabela 10 mostra
os resultados.
Tabela 10: Painel de 5 anos sem efeito fixo Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita
1 2 3 Renda -0,004959
0,004923 -0,009373**
0,005243 -0,017195* 0,004957
Educação 0,004115*
0,001041 0,004274* 0,001220
0,002599* 0,000884
Termos de Troca 0,030291
0,038422 0,025619 0,042982
0,004132 0,040574
Inflação
-0,000018* 0,000005
-0,000017* 0,000004
Consumo do Governo
-0,000355* 0,000152
-0,000165 0,000127
M2/PIB
0,000509* 0,000087
0,000330* 0,000076
Grau de Abertura
-0,000143* 0,000059
-0,000199* 0,000058
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
-0,000004**
0,000002 -0,000004* 0,000001
Investimento/PIB
0,002434*
0,000445
Observações 271 271 271 R² ajustado 0,0410 0,1372 0,2429
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
40
Como observado, os termos de troca não apresentam significância estatística. Seja na
regressão mais simples (coluna 1) ou na presença das demais variáveis (coluna 2 e 3). A
Tabela 11 mostra os resultados, agora na presença do efeito fixo.
Tabela 11: Painel de 5 anos com efeito fixo Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita
1 2 3 Renda -0,003178
0,005074 -0,007956 0,005202
-0,014624* 0,005223
Educação 0,005214*
0,001331 0,005732* 0,001515
0,003893* 0,001273
Termos de Troca 0,021287
0,032474 0,020050 0,034734
0,005238 0,035571
Inflação
-0,000012** 0,000007
-0,000013* 0,000005
Consumo do Governo
-0,000255** 0,000147
-0,000105 0,000140
M2/PIB
0,000695* 0,000122
0,000491* 0,000083
Grau de Abertura
-0,000121* 0,000056
-0,000176* 0,000051
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
-0,000005* 0,000002
-0,000005* 0,000008
Investimento/PIB
0,002013*
0,000402
Observações 271 271 271 R² ajustado 0,1042 0,2282 0,2937
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
Novamente os termos de troca não apresentam significância estatística. Significa que,
os termos de troca não influenciam o crescimento dos países em desenvolvimento em
intervalos de 5 anos, seja na presença do efeito fixo ou não.
41
4.3.2.2 PAINEL DE 10 ANOS
Para intervalos de 10 anos os resultados são bem diferentes dos anteriores. A Tabela
12 mostra os resultados sem a presença do efeito fixo.
Tabela 12: Painel de 10 anos sem efeito fixo
Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita 1 2 3
Renda -0,01145* 0,005083
-0,012708* 0,004782
-0,015141* 0,004228
Educação 0,004545*
0,00125 0,003202* 0,000909
0,001155* 0,000573
Termos de Troca 0,000876*
0,000132 0,001476* 0,000147
0,000893* 0,000138
Inflação
-0,000020* 0,000007
-0,000027* 0,000007
Consumo do Governo
-0,00098* 0,000111
-0,000607* 0,000103
M2/PIB
0,000457* 0,000042
0,000306* 0,000060
Grau de Abertura
-0,000124* 0,000029
-0,000180* 0,000028
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
0,000002 0,000001
0,000002 0,000001
Investimento/PIB
0,001897*
0,000266
Observações 135 135 135 R² ajustado 0,1077 0,2925 0,4368
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
Em todas as três regressões os termos de troca apresentam o sinal esperado e
significância estatística a um nível de 5%. Mesmo após incluir o investimento (coluna 3), os
termos de troca continuam apresentando um resultado robusto e significativo, indicando que a
42
importância dos termos de troca para o crescimento não se dá através do investimento, os
termos de troca apresentam efeito isolado sobre o crescimento.
Na presença do efeito fixo, o resultado não é muito diferente do anterior. A Tabela 13
traz os resultados.
Tabela 13: Painel de 10 anos com efeito fixo
Variável Dependente: Taxa de Crescimento do PIB per capita 1 2 3
Renda -0,01196* 0,004251
-0,013334* 0,004383
-0,014877* 0,004188
Educação 0,006714
0,001203 0,005104* 0,000887
0,002702* 0,000991
Termos de Troca 0,000772*
0,000171 0,001136* 0,000092
0,000730* 0,000105
Inflação
-0,000012* 0,000006
-0,000021* 0,000007
Consumo do Governo
-0,000805* 0,000091
-0,000537* 0,000111
M2/PIB
0,000563* 0,000025
0,000408* 0,000034
Grau de Abertura
-0,000117* 0,000017
-0,000173* 0,000020
Ágio no Mercado Paralelo de Câmbio
-0,0000002 0,0000013
0,000001 0,000001
Investimento/PIB
0,001553*
0,000317
Observações 135 135 135 R² ajustado 0,2253 0,4026 0,4876
Em parênteses encontram-se os valores do erro-padrão corrigido pela Matriz de Covariância de White. Estão assinalados com * e ** os coeficientes significativos ao nível de 5% e 10%, respectivamente.
Nas três regressões, os termos de troca se apresentam estatisticamente significativos e
com o sinal esperado, mesmo após a inclusão do investimento. Ou seja, para intervalos de 10
43
anos, na presença do efeito fixo ou não, os termos de troca influenciam positivamente no
crescimento econômico dos países em desenvolvimento.
O resultado não surpreende, pois países em desenvolvimento são muito mais
suscetíveis à conjuntura mundial do que países já desenvolvidos. Na maioria das vezes, esses
países são exportadores de produtos primários e concentram sua exportação em poucos
produtos que apresentam grande participação no seu PIB. Ao mesmo tempo, esses mesmos
países importam produtos que são essenciais para a produção do país. Logo, os países em
desenvolvimento são muito sensíveis a mudanças nos termos de troca.
44
5 CONCLUSÃO
Esta dissertação tem como objetivo analisar o papel dos termos de troca para o
crescimento econômico de um país. A principal conclusão desta dissertação, controlando para
características específicas de cada país e que não variam ao longo do tempo, é que os termos
de troca, de fato, têm um efeito positivo no crescimento econômico. Entretanto, esse resultado
positivo se dá apenas no longo prazo, para intervalos de dez anos. Já no curto prazo, para
períodos de cinco anos, os termos de troca não influenciam no crescimento econômico.
Os resultados encontrados para as regressões com média de cinco anos são os mesmos
tanto quando incluímos efeito fixo ou não. Os termos de troca nunca se apresentam
significativos indicando que essa variável não tem influência no crescimento econômico.
Mesmo quando as demais variáveis de controle, que refletem medidas de distorção
econômica, são incluídas na análise, os termos de troca permanecem não significativos.
Os resultados seguintes, para as regressões com média de dez anos, são um pouco
diferentes. Incluindo ou não o efeito fixo, termos de troca apresentam-se significativos em
todas as regressões, mesmo após a inclusão das outras variáveis. Até na presença do
investimento, os termos de troca permanecem significativos indicando que os termos de troca
apresentam efeito isolado sobre o crescimento.
45
Quando os países são divididos em desenvolvidos e em desenvolvimento podemos
tirar outras conclusões. Quando analisamos apenas os países desenvolvidos, seja para
intervalos de 5 ou 10 anos, com ou sem efeito fixo, os termos de troca não apresentam
significância estatística. Isso significa que países desenvolvidos não têm seu crescimento
influenciado por variações nos termos de troca, nem no curto nem no longo prazo.
Já para os países em desenvolvimento, os resultados são diferentes. Para intervalos de
5 anos, com ou sem efeito fixo, os termos de troca não têm influência no crescimento, assim
como para países desenvolvidos. Mas, para intervalos de 10 anos, os termos de troca se
apresentam estatisticamente significativos em todas as regressões, seja na presença do efeito
fixo ou não e na presença das demais variáveis ou não.
46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BARRO, ROBERT J.; “Determinants Of Economic Growth: A Cross-Country Empirical Study”. NBER Working Paper 5698, 1996.
BECKER, T.; MAURO, P.; “Output Drops and the Shocks That Matter”. IMF Working Paper 06/172, 2006.
EASTERLY, W.; “The Lost Decades: Developing Countries’ Stagnation In Spite of Reform 1980-1998”. Journal of Economic Growth 6, 137-57, 2001.
EASTERLY, W.; KREMER, M.; PRITCHETT, L.; SUMMERS, L; “Good Policy Or Good Luck? Country Growth Performance and Temporary Shocks”. Journal of Monetary Economics 32, 450-483, 1993.
HESTON, A.; SUMMERS, R.; ATEN, B.; Penn World Table 6.1, Center for International Comparisons of Production, Income and Prices at the University of Pennsylvania, October 2002.
JONES, CHARLES I.; “Time Series Tests of Endogenous Growth Models”. Quarterly Journal of Economics, 110, 495-525, 1995.
KEHOE, TIMOTHY J.; RUHL, KIM J.; “Are Shocks to the Terms of Trade Shocks to Productivity?” Federal Reserve Bank of Minneapoli,s Research Department Staff Report 391, 2008.
RODRIK, DANI.; “Where did all the growth go? External shocks, social conflict, and growth collapses”. Journal of Economic Growth, 4: 385-412, 1999.
47
ANEXO
África do Sul
Argélia
Argentina
Áustria
Austrália
Bélgica
Bolívia
Brasil
Burundi
Camarões
Canadá
Chad
Chile
China
Colômbia
Coréia
Costa Rica
Dinamarca
Equador
Egito
El Salvador
Espanha
EUA
Filipinas
França
Gana
Gâmbia
Guatemala
Honduras
Hong Kong
Índia
Indonésia
Irlanda
Israel
Itália
Jamaica
Japão
Jordânia
Malásia
México
Nepal
Nicarágua
Niger
Nigéria
Noruega
Nova Zelândia
Paquistão
Paraguai
Peru
Portugal
Quênia
Reino Unido
República do Congo
República Dominicana
Ruanda
Senegal
Síria
Sri Lanka
Suécia
Suíça
Tailândia
Togo
Turquia
Uruguai
Venezuela
2