a infância pesquisada

Upload: instituto-alana

Post on 02-Apr-2018

230 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    1/16

    465PSICOLOGIA USP, So Paulo, julho/setembro, 2009, 20(3), 465-480.

    A INFNCIA PESQUISADA1

    Fernanda MllerMaria de Nazareth Agra Hassen

    O gato comeu.

    Tinha na rua menina

    Tinha na rua menino

    Tinha na rua jogo de bola

    jogo de taco, calada pintada

    Para as amarelinhas, da terra ao cu.

    A rua agora vazia

    Meninos e meninas atarefadosMeninos e meninas fechados

    Nas creches, escolinhas.

    No tm como ver o cu.

    A casa agora vazia

    Velhos ociosos e solitrios

    Nos hospitais, asilos

    No tm como ver o cu.

    Para falar de suas dores,Pagam-se profissionais,

    S conseguem ser ouvidos

    Os que forem consumidores.

    M.N.A.H

    1 As autoras agradecem Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), quefinanciou a pesquisa de doutorado de Fernanda Mller e ao Centro Universitrio Ritter dos Reis, pelo qualMaria de Nazareth Agra Hassen realizou a pesquisa Mapa Porto Alegre da Cidade, que contou com a co-laborao das pesquisadoras Noeli Reck Maggi e Carla Meinerz.

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    2/16

    466 A INFNCIA PESQUISADA FERNANDA MLLERE MARIADE NAZARETH AGRA HASSEN

    Resumo: O artigo apresenta as ideias referenciais da pesquisa

    que tematiza a infncia em diferentes campos do conhecimento, em especial nas

    cincias sociais, apontando os caminhos pelos quais a criana passa a ser concebida

    como ator social e como produtora de cultura e de significados. Argumenta-se que

    a infncia demanda estudos interdisciplinares e processos flexveis de pesquisa

    e que a complexidade contempornea demanda a ruptura com um conjunto de

    dicotomias entre crianas e adultos, criadas na modernidade. Embora j exista um

    corpo interdisciplinar de estudos sobre as crianas, considera-se que, sendo a infncia

    um fenmeno hbrido, produzido na interseco de aspectos biolgicos e sociais, sua

    compreenso requer maior integrao de disciplinas das cincias sociais e naturais.

    Palavras-chave : Infncia. Cincias Sociais. Crianas. Cultura.

    A emergncia dos estudos da infncia

    Se, por um lado, a fragmentao e a especializao do saber limitarama compreenso dos fenmenos sociais, por outro, crescente o nmero deinvestigaes sobre a infncia em vrios campos das cincias humanas esociais. No Brasil, diferentes campos do conhecimento se dedicam a inves-tigar a infncia, o que pode ser observado, em maior escala, na Pedagogiae na Psicologia e, em menor escala, na Histria, na Antropologia, na Socio-logia e na Cincia Poltica (Rocha, 1999).

    A necessidade de estudos interdisciplinares sobre a infncia foi

    apontada nos anos 1970 por Rosemberg (1976, p. 1470), que, ao criticar atradio de pesquisa na Psicologia, sugere que se amplie a viso: enquantoa Psicologia no fizer apelo Antropologia, continuaremos apenas a en-sinar crianas. Rossetti-Ferreira (2004) mostra que a Psicologia do desen-volvimento assumiu a necessidade de apreender e analisar os fenmenoscomplexos em suas mltiplas dimenses, de maneira integrada e inclusiva.Igualmente, a Antropologia reconhece que estudar crianas ainda umdesafio, visto que nem sempre elas so reconhecidas como objetos, ou me-lhor, sujeitos legtimos de estudo (Cohn, 2005).

    Fenmeno heterogneo, complexo e emergente, a infncia deman-

    da estudos interdisciplinares e processos flexveis de investigao (Prout,2005). Ainda que esse artigo se apoie teoricamente em estudos da Sociolo-gia e da Antropologia da infncia, tomaremos como exerccio a discussoe a ampliao de conceitos que se mostram limitados para explicar a infn-cia contempornea.

    A emergncia da sociologia da infncia no Hemisfrio Norte esteverelacionada crtica de que a Sociologia tradicional se mostrou mais preo-cupada com a juventude, tendo sido as crianas absorvidas nos estudos da

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    3/16

    467PSICOLOGIA USP, So Paulo, julho/setembro, 2009, 20(3), 465-480.

    Sociologia da famlia e da Sociologia da educao. A Sociologia da famliano centrou seus estudos na criana, uma vez que a entendeu como umobjeto das prticas educativas dos pais. J a Sociologia da educao es-tudou a escolarizao das crianas, focalizando a influncia das estruturasfamiliares e escolares sobre a criana. A criana no era considerada comoobjeto/sujeito de pesquisa, mas, sim, a sua trajetria escolar e os processos

    de socializao (Montandon, 1997). de consenso que a infncia foi ignorada na sociologia at o incio

    dos anos 1980, o que explicado pela viso de subordinao das crianasna sociedade (Corsaro, 1997; Qvortrup, 1994). Para corroborar o argumen-to, Qvortrup (1987) relembra uma antiga cano folclrica sueca: Crianasso pessoas que vivem em outro mundo (p. 28).

    Sirota (2001) e Montandon (2001) expuseram inventrios sobre asprodues do campo da Sociologia da infncia. Ambas as autoras procu-raram dar visibilidade a algumas categorias-chave que essas produescontemplaram, tais como: estudos de geraes, interao entre crianas,

    crianas vistas como um grupo de idade e dispositivos institucionais. Em-bora as autoras apresentem muitas dvidas sobre os direcionamentos docampo, inclusive se uma disciplina ou uma subdisciplina,fica claro que naEuropa e nos Estados Unidos a Sociologia da infncia conquistou espaoacadmico.

    Nos anos 1940 do sculo passado, Fernandes (1961) observou a inte-rao entre as crianas nas ruas de So Paulo, apropriando-se dos modospelos quais elas se relacionavam em grupos, a partir de uma metodologiaque as considerou informantes principais. Esse estudo, no entanto, no mo-bilizou a continuao de pesquisas sociolgicas com as crianas no Brasil2.

    O desenvolvimento dos estudos sobre a infncia ocorreu principalmentenos campos da Pedagogia e da Psicologia, conforme mostra o estudo deRocha (1999).

    Analisando o campo da Pedagogia, Rocha (1999) aponta que os tra-balhos sobre a infncia buscam um dilogo com as demais reas das cin-cias sociais, evidenciado pelo uso de metodologias e pressupostos tericoscomuns. A autora encontrou conceitos de infncia voltados diferena e influncia de contextos especficos na construo da diversidade, comoafirmao positiva e contrria ao estabelecimento de padres de nor-malidade (p. 48), o que indica uma negao da infncia como categoriahomognea e a necessidade de considerao das vozes das crianas naspesquisas.

    De fato, a Sociologia tradicional no ignorou as crianas, mas as si-lenciou. Muito do pensamento da Sociologia sobre as crianas deriva dotrabalho terico sobre a socializao, que concebeu as crianas a partir dasinstituies e no delas prprias. As teorias tradicionais corroboram a ideia

    2 Depois de quase 60 anos, Martins (1993) realizou um estudo com crianas envolvidas emprocessos de migrao e luta pela terra no Mato Grosso e Maranho.

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    4/16

    468 A INFNCIA PESQUISADA FERNANDA MLLERE MARIADE NAZARETH AGRA HASSEN

    de infncia como uma fase da vida associada irracionalidade e imaturi-dade, alm de apresent-la como um evento universal, igual para todas ascrianas.

    A abordagem funcionalista, popular nos anos 1950 e 1960, concebeua socializao como uma estratgia de treinamento para assegurar a inter-nalizao de normas e regras, de forma que as crianas se tornassem inte-

    gradas sociedade. Parsons (1964) chamou de invaso brbara (p. 208) achegada dos recm-nascidos, entendendo isso como uma situao crticade todas as sociedades. Aps o seu nascimento, a criana passa a ser con-formada pelas instituies sociais: a famlia, a comunidade e a escola. Dessarelao, ela assimilaria a moral e os costumes que conduzem ao convviosocial e, aos poucos, incorporaria as regras coletivas aos seus valores indivi-duais, pois, do contrrio, ela se tornaria excluda.

    Durkheim (1974) associou a educao ao processo de socializao,concebendo-a no somente como a ao repetida e sucessiva das gera-es adultas sobre as crianas, mas tambm como um esforo contnuo

    para impor s crianas maneiras de ver, de sentir e de agir s quais elasno chegariam espontaneamente (p. 5). A educao tambm teria comofinalidade promover habilidades fsicas, intelectuais e morais, exigidas pelasociedade como um todo, mas, igualmente, pelos contextos especficosaos quais as crianas pertencem (Durkheim, 1973). Essa abordagem con-sidera que a criana passa a ser completa quando j no mais criana,ao alcanar a maturidade e a completude supostamente particulares daidade adulta.

    No caso da Antropologia, seguindo o argumento de Cohn (2005), asituao um pouco diferente. Os primeiros e mais conhecidos estudos

    contemplando as crianas na histria da Antropologia datam das dcadasde 1920 a 1940 do sculo passado. Nos Estados Unidos, antroplogos daEscola Cultura e Personalidade, tomando seu pas como referncia, pesqui-saram o que seria ser criana em diferentes grupos culturais. Eles tinhamcomo objetivo identificar o que natural em toda criana e o que cultu-ral, dentro de uma definio de cultura como forma de ser e pensar, trans-mitida de gerao a gerao. Mead pesquisou as crianas Manu da NovaGuin e posteriormente as crianas de Bali, cujas brincadeiras e formas deviver foram registradas tambm por meio do ensaio fotogrfico de seumarido, o antroplogo Bateson. Cohn (2005) afirma que as concluses deMead e Bateson

    versavam sobre o modo de aprendizado dos balineses, que o casal deantroplogos definiu como visual (pela observao) e cinesttico (porque osmovimentos de danas, por exemplo, eram aprendidos com o professor-tutormovimentando o corpo de seu aprendiz), concluindo ser esse um tipo deaprendizado que ensinaria a passividade e uma conscincia particular do corpo.(p. 13)

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    5/16

    469PSICOLOGIA USP, So Paulo, julho/setembro, 2009, 20(3), 465-480.

    Cohn (2005) aponta a crtica que os estudos dessa Escola sofreram,isto , que o conceito de cultura e de personalidade acabou por enges-sar os estudos na questo de como a criana formada e como adquirecompetncias culturais para a vida adulta (p. 15). Em franca oposio es-cola culturalista3, o pensamento britnico estrutural-funcionalista rejeita oseu psicologismo, mas, por outro lado, a criana, e os sujeitos em geral, tm

    seu papel definido pela posio que ocupam na sociedade, sem que suasaes e representaes simblicas tenham lugar na anlise. Essa mesmacrtica vale ao j citado Durkheim. O problema reside no pressuposto deque a cultura inculcada nas crianas por meio de prticas socializadoras.Cohn (2005) cita, como exemplos dessa postura, os estudos das crianasGuarani de Egon Schaden e dos Tubinamb por Florestan Fernandes4.

    Ainda segundo Cohn (2005), a virada da Antropologia se dar nosanos 1960, quando o conceito de cultura revisto, assim como os de so-ciedade e de agncia ou de ao social. Essa nova abordagem precisa serencarada em passos. Isso exigiu deixar de ver a cultura como empiricamen-

    te observvel, delimitada no espao e reduzida aos costumes, valores oucrenas. Entender que costumes, valores e crenas no so um em-si, masso conformados por um sistema simblico que cada ator social aciona acada momento com o fim de dar sentido a suas experincias (Cohn, 2005).

    O antroplogo norte-americano Enid Schildkrout (1978) pesquisouas crianas Hausa (oeste da frica) da perspectiva dos papis de gneroe conclui que, na sua infncia, elas no so meros aprendizes de como seradultos, visto que a separao drstica de gneros presente nos adultosno acontece entre elas, que transitam livremente entre as casas de ho-mens e de mulheres. Christina Toren (1993) etnografou por muitos anos

    grupos de crianas nas Ilhas Fiji. Em um de seus trabalhos, Imagining theworld that warrants our imagination: Fijian childrens ideas about their lives

    as adults, a antroploga examina produes escolares em que as crianasrefletem sobre o futuro, mostrando como as projees podem falar do pr-prio ser. Em outro texto, Making History: the significance of childhood cog-nition for a comparative anthropology of mind, entre importantes achadospara a compreenso do ethosfiji, Toren mostra a inverso que se d no quediz respeito s compreenses dos rituais: as crianas atribuem status deindivduo ao espao ocupado no ritual, enquanto para os adultos ocorrede maneira oposta, isto , conferem status ao espao conforme o indivduo

    3 O estrutural-funcionalismo ingls uma corrente antropolgica que tem entre seus princi-pais conceitos a estrutura social, o sistema e a funo, e preocupava-se com a normatividadedos sistemas culturais. Entre seus principais representantes, Radcliffe-Brown e Evans Pritch-ard. Ver mais em Oliveira (1987).

    4 Nunes (2002) faz duras crticas s concepes presentes nos trabalhos de Shaden e Fern-andes. Ao primeiro, porque considera a criana como adulto em ponto pequeno, a partir daobservao de que as crianas imitam os adultos em suas aes. Quanto ao ensaio de Fern-andes, a autora ainda mais crtica: essa uma viso muito pobre a respeito da atividade dacriana e de seu universo ldico (p. 244). Isso porque o autor analisa processos educativosreferindo-se em vrios momentos educao como adestramento dos imaturos.

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    6/16

    470 A INFNCIA PESQUISADA FERNANDA MLLERE MARIADE NAZARETH AGRA HASSEN

    que o ocupa. Com isso, Toren mostra, por outra perspectiva, o mesmo queSchildkrout: no h um continuum entre a experincia da criana e do adul-to que prove que ela mera aprendiz.

    Mais do que isso, o avano na reflexo sobre a condio das crianasfoi mostrando a contribuio da criana na constituio de significados,sua participao na renovao da cultura e na constituio de uma cultura

    prpria, ou seja, a cultura da infncia como parte das diferentes culturas.

    A considerao das crianas como atores sociais de pleno direito, e no comomenores ou como componentes acessrios ou meios da sociedade dos adultos,implica o reconhecimento da capacidade de reproduo simblica por partedas crianas e a constituio das suas representaes e crenas em sistemasorganizados, isto , em cultura. (Sarmento & Pinto, 1997, p. 20)

    Assim, criam-se categorias analticas que prevem a capacidade de osatores sociais, e neles includas as crianas, de influrem na produo da cul-

    tura e no serem agentes passivos. Da as crianas se construrem e se auto-definirem no seu processo de desenvolvimento, a partir do que podem serconcebidas no como produtos da cultura, mas como ativas na produode um mundo social que lhes prprio, isto , produtoras de cultura. Parasolidificar e ampliar esse entendimento, cria-se a necessidade de dar vozs crianas, na pesquisa e na vida social. Foi necessria, portanto, a consoli-dao de um campo de estudos sociolgicos e antropolgicos sobre a in-fncia, que, ao rediscutir conceitos sobre sociedade, socializao e infncia,avanou de uma nica viso de pesquisa sobre as crianas, para com elas.

    Nesse sentido, Tonucci (1997) apresentar na dcada de 1980 a pro-

    posta inovadora e ainda causadora de espanto da cidade das crianas.Pelo projeto que leva esse nome, as crianas precisam ser ouvidas pelosgestores das cidades, e suas propostas convertidas em aes. Igualmenterompendo com o pensamento linear, Thin (2006) no s sugere a relevn-cia de diversas formas de socializao observadas nas condies de exis-tncia, nas relaes sociais e na histria dos grupos e dos indivduos, mastambm a necessidade de avanarmos de uma viso de socializao comoo resultado da ao das instituies, para entend-la como um processoindividual e social.

    possvel sintetizar que a socializao um processo relacional en-

    volvendo simultaneamente a internalizao e a mudana da sociedadepor seus membros. Internalizar significa o aprendizado e a conformaode normas que transformam as pessoas em membros de suas sociedades.Por outro lado, a construo da identidade engloba no apenas a habili-dade de se adaptar ao ambiente, mas tambm de agir e transform-lo. o resultado de um jogo de papis e da sntese de diferentes significaesvividas; no haveria uma identidade, porm processos identitrios, que sodinmicos, mltiplos e em constante transformao.

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    7/16

    471PSICOLOGIA USP, So Paulo, julho/setembro, 2009, 20(3), 465-480.

    Depois do sentimento de infncia proposto por Aris

    O cenrio intelectual dos anos 1970 provocou novos direcionamen-tos nos estudos da infncia, atribudos por Prout e James (1997) ao campoda histria, tendo sido disseminados entre as demais disciplinas. Foi Aris(1981) quem primeiro discutiu a emergncia da noo de infncia, enten-

    dida como categoria social a partir de dois sentimentos constitudos nosculo XVII: a paparicao e a moralizao. O sentimento de paparicaoteria surgido na famlia, em que a criana por sua ingenuidade, gentilezae graa, se tornava uma fonte de distrao e de relaxamento para o adul-to (Aris, 1981, p. 158). O sentimento de moralizao passou a existir entreeducadores e moralistas que entendiam o controle e a ordem como essen-ciais no trato com as crianas.

    Trabalhos posteriores no campo da Histria, como o de Flandrin(1988), no pouparam, todavia, crticas anlise e ao mtodo empregadopor Aris. Se, por um lado, a diversidade dos documentos utilizados por

    Aris surpreendente e necessria a toda pesquisa regressiva da histria,por outro, Flandrin assevera que a maneira como cada srie de documen-tos foi apresentada suscitou uma pergunta limitada, j adaptada nature-za da srie. As concluses de Aris estariam comprometidas, uma vez quetoda a anlise foi feita a partir de um nico exemplo a infncia de LusXIII e de uma nica pergunta existe um sentimento de infncia? Nessesentido, Flandrin sugere que o autor delimitou as convergncias, no sepreocupando com as divergncias durante o processo analtico.

    Alm disso, Aris teria interpretado equivocadamente a iconografiamedieval, pois talvez essa no representasse a ausncia da criana, e, sim,fossem raras as obras que a aludissem. Embora Flandrin (1988) afirme queo trabalho de Aris no possa ser considerado um estudo cientfico, masum excelente ensaio, ele reconhece o grande mrito do trabalho: motivarnovas pesquisas.

    Parodiando James Joyce5, De Mause (1976) garante que a histria dainfncia um pesadelo do qual apenas recentemente ns comeamos aacordar (p. 1). O autor contesta no s o estudo de Aris, como de outroshistoriadores, pois acredita que quanto mais antigo o perodo histrico,mais abandonada, sujeita violncia e sexualmente abusada era a criana.

    Seu argumento se fundamenta na crena em uma teoria da transformaohistrica da relao entre pais e filhos, causada por mudanas psicogenti-cas na personalidade de diferentes geraes. Rejeita a tese do surgimentoda infncia, sobretudo por acreditar que a prtica dos adultos em relaoaos primeiros cuidados na infncia era brutal e violenta. Logo, para DeMause (1976), a infncia teria sido sempre a mesma, pois foram os adultose suas prticas que mudaram.

    5 History is a nightmare from which I am trying to awake, James Joyce (1986).

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    8/16

    472 A INFNCIA PESQUISADA FERNANDA MLLERE MARIADE NAZARETH AGRA HASSEN

    A principal crtica ao trabalho de De Mause e aos de outros autoresque dividem a histria em estgios, como tambm fez Aris, foi feita porLinda Pollock (1983). A autora investigou a histria da infncia enfocando amudana nas relaes entre pais e filhos e as diferentes concepes e cui-dados com a criana. Aps uma anlise minuciosa de quinhentos diriosnorte-americanos e ingleses e autobiografias, Pollock encontrou poucos

    elementos que sustentassem a tese de ries, de que na Idade Mdia haviaindiferena em relao criana, ou a tese de De Mause, de que havia mal-trato e abuso s crianas at o sculo XIX.

    Apesar das crticas, o trabalho de Aris foi um marco que provocouquestionamentos sobre os conceitos de infncia e criana associados imaturidade fsica, principalmente ao apresentar a infncia como uma ca-tegoria social. O seu trabalho fomentou a curiosidade dos socilogos, queacataram o conceito de infncia como uma categoria social.

    Considerando-a assim, os socilogos passaram a teorizar a infnciaa partir de perspectivas diversas. Qvortrup (1987, 1994) tem sido um dos

    responsveis pela defesa da Sociologia estrutural, asseverando que, para asociedade, a infncia uma forma estrutural permanente, mesmo que seusmembros e concepes sempre mudem. Corsaro (1997) tambm acreditaque as crianas j fazem parte da sociedade desde que nascem, no entantoadverte que ainda difcil reconhecer a infncia como uma forma estru-tural, porque comum consider-la um perodo em que as crianas sopreparadas para serem introduzidas sociedade. O argumento de Qvor-trup (1994) que conceituando a infncia como uma forma estrutural, se-ria possvel avanar para alm das perspectivas individualistas, centradasno adulto, temporalmente limitadas, para responder a um leque maior de

    questes sociolgicas.Um segundo grupo estabeleceu uma comparao entre as cons-

    trues dos estudos da infncia e dos estudos feministas. Alanen (2001),Mayall (2003) e Thorne (1993) enfatizam a posio das crianas como umgrupo minoritrio e oprimido pelos adultos. Alanen (2001) ainda ressaltaque as crianas foram marginalizadas nas cincias sociais tanto quanto asmulheres e apresenta alguns paralelos: 1) enquanto os estudos feministasforam motivados por uma poltica machocntrica, os estudos da infnciasurgem pela crtica ao adultocentrismo; 2) os estudos feministas nascempela necessidade de fechar lacunas na rea, assim como de quebrar pre-conceitos e distores; j os estudos da infncia so iniciados por um gru-po de socilogos que observavam a marginalizao ou o desprezo pelascrianas nas cincias sociais.

    Ainda um terceiro grupo, ligado ao construtivismo social, criticou oentendimento da infncia como uma fase preparatria para o futuro, assimcomo o conceito de crianas como seres no-sociais, em uma perspectivade vir-a-ser. Jenks (1996) e Prout e James (1997) defenderam o conceito deinfncia como uma categoria plural infncias igualmente construda e

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    9/16

    473PSICOLOGIA USP, So Paulo, julho/setembro, 2009, 20(3), 465-480.

    reconstruda para as e pelas crianas. Frnes (1993) foi o primeiro a defen-der que no existe uma nica infncia, mas muitas, formadas pela articula-o de diferentes e complexos sistemas sociais, culturais e econmicos.

    Independentemente das filiaes, os socilogos da infncia tmcomo mrito romper com o modo limitado com que a sociologia concebiaa infncia, dando visibilidade a algumas premissas: 1) reconhecimento da

    infncia como categoria social; 2) necessidade de pesquisa com as crianase no somente sobre elas; 3) crtica s teorias tradicionais da socializao;4) novas teorizaes sobre a infncia; 5) crtica marginalizao das crian-as na disciplina. A abordagem tambm se preocupou com as condiesde vida das crianas e seus diferentes contextos sociais e histricos, dandoorigem negao de um nico conceito de infncia, universal, somenteatrelado aos aspectos fsicos das crianas.

    Todavia, esses princpios j no so mais to fortes para a anlise dainfncia contempornea. Se justamente se criticava a Biologia e a Psicologiapor um olhar apenas fsico ou evolucionista sobre a criana, essa abordagem

    a colocou no outro extremo: a criana como um ser unicamente social.

    Infncia: um fenmeno hbrido

    Embora Mead (1977) ressalve que a criana no existe. Somentecrianas existem; crianas em um contexto particular; crianas que sodiferentes umas das outras; crianas com diferentes sensos (p. 23), a con-temporaneidade aponta para a combinao da ideia global de infncia (acriana) e da diversidade da infncia (as crianas). A infncia duplamenteconstruda por um conjunto de experincias comuns e compartilhadas e fragmentada pela diversidade das vivncias das crianas.

    A modernidade produziu uma verso particular da infncia, no fa-zendo mais sentido a tese de inveno ou descoberta (Archard, 2004). Umacaracterstica dessa verso a dicotomizao do mundo em categoriasque diferem a infncia da idade adulta, relacionando-a com o privado, anatureza, a irracionalidade, a dependncia, a passividade, a incompetnciae a brincadeira. Do outro lado, a idade adulta esteve relacionada ao pblico, cultura, racionalidade, independncia, atividade, competncia e ao

    trabalho (Prout, 2005; Rosemberg, 1985).Essas dicotomias entre crianas e adultos vm sendo cada vez maisrompidas na contemporaneidade, por alguns motivos. Em primeiro lugar,elas no so mais adequadas para entender a infncia e sua complexidade.Em segundo, esse rompimento vem introduzindo outros tipos de relaese incertezas, como, por exemplo, de que a distino da infncia e da idadeadulta nunca foi totalmente clara.

    A associao da infncia com a esfera privada demanda uma dis-cusso sobre o processo de institucionalizao das crianas, o que Sgritta

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    10/16

    474 A INFNCIA PESQUISADA FERNANDA MLLERE MARIADE NAZARETH AGRA HASSEN

    (1987) define como o momento de entrada da criana no universo simb-lico de regras e disciplinas, baseado em lgicas e prticas de conhecimentotcnico-cientfico. Na modernidade, a escola substitui o trabalho e impe adiferena entre crianas e adultos ao estabelecer dicotomias: competnciae incompetncia, estudo e trabalho, improdutivo e produtivo.

    Crianas no so incompetentes, sobretudo porque vm dominan-

    do melhor certos conhecimentos produzidos no mundo dos adultos. ocaso do domnio das novas tecnologias, Internet, jogos eletrnicos, telefo-ne porttil. Outro exemplo da autonomia das crianas em relao ao con-trole dos adultos a imigrao. Estudando os processos de imigrao paraos Estados Unidos, Thorne, Orellana, Lam e Chee (2003) observa que muitascrianas so responsveis pela mediao de suas famlias com as regras donovo pas, fazendo tradues e ajudando os pais a lidarem com a burocra-cia americana. Esses eixos (novas tecnologias e imigrao) servem de lcusdemonstrativo do fato de que a influncia adulto-criana tem mo dupla.

    Wintersberger (2001) mostra que, na modernidade, a criana no s

    perdeu o status de colaboradora com o oramento familiar, mas tambmapareceu como quem somente onera a famlia. Nesse sentido, o reconheci-mento do trabalho das crianas na escola como legtimo poderia ter umaconotao positiva entre as geraes, j que seria comparado com o tra-balho remunerado dos adultos. Qvortrup (2001) tambm acredita que ascrianas sempre trabalharam, no entanto, o que mudou foram os modosde produo. Embora entendendo que possvel perceber vrias formasde trabalho simultneas no mundo, Qvortrup (2001) afirma que o trabalhoescolar nada mais que o trabalho desempenhado pelas crianas em pe-rodos precedentes, reforando, por isso, numa lgica econmica, o papel

    ativo das crianas.Contudo, ao tentar garantir um campo de estudos sociolgicos so-

    bre a infncia e com as crianas, os tericos contemporneos da infncia sedirigiram ao extremo oposto das cincias naturais, negando toda e qual-quer contribuio da Medicina, Biologia ou Psicologia. Se biologicamentea criana foi considerada incompleta e a infncia um estgio de imaturi-dade fsica e emocional, nas cincias sociais a infncia foi e ainda tem sidorestringida a uma categoria social. H, porm, de se considerar que todosos seres humanos so biolgica e socialmente incompletos, assim no fa-zendo mais sentido pensar em campos sociais e biolgicos separados eopostos. As oposies criadas na modernidade entre a infncia e a idadeadulta, direcionando a ltima a um patamar superior, cada vez ficam maisenfraquecidas, quando se assume que todos somos seres humanos em for-mao. Para Prout (2005), a infncia deve ser vista como parte da cultura eda natureza, sendo um campo hbrido de investigao. Mais do que isso,

    a infncia deve ser vista como uma multiplicidade de natureza-culturas, que uma variedade dos hbridos complexos constitudos de materiais heterogneos

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    11/16

    475PSICOLOGIA USP, So Paulo, julho/setembro, 2009, 20(3), 465-480.

    e emergentes atravs do tempo. Ela cultural, biolgica, social, individual,histrica, tecnolgica, espacial, material, discursiva... e mais. A infncia no podeser vista como um fenmeno unitrio, mas um conjunto mltiplo de construesemergentes da conexo e desconexo, fuso e separao destes materiais

    heterogneos. (p. 144)

    Tomar as crianas como irracionais, passivas e totalmente dependen-tes dos adultos atrapalha a compreenso das relaes sociais mais amplasou nas instituies, como a famlia e a escola. Morrow (1996) afirma que aconstruo da dependncia, baseada nas concepes de crianas comoseres irracionais e irresponsveis, mascara a extenso do quanto as crian-as so capazes, competentes e tm agncia nas suas vidas.

    Analisar a infncia como um fenmeno hbrido, contudo, exige a des-construo de algumas contradies. Enquanto a teoria social descentra-lizou o sujeito (Hall, 1999), a sociologia da infncia valoriza a subjetividadedas crianas. Ao passo que a sociologia buscou metforas de mobilidade,fl

    uidez e complexidade6

    , a sociologia da infncia defende a infncia comouma estrutura social. Outra contradio considerar a infncia como estru-tura social todos os fatores que limitam ou influenciam as oportunidadesdas pessoas e ao mesmo tempo defender que as crianas tm agncia acapacidade dos seres humanos para agir independentemente e fazer suasprprias escolhas. A prpria teoria social encontra a relao entre estruturae agncia problemtica, e Giddens (1984) argumenta que, apesar de a es-trutura ser o que d forma vida social, ela no a forma.

    Prout (2005) entende esses descompassos como uma consequnciada organizao tardia da Sociologia da infncia, que incorporou as mesmas

    ferramentas tericas da Sociologia tradicional. Inspirado em Latour (1993),ele v no conceito de rede uma forma de superao da dicotomia agnciae estrutura, pela coexistncia de diversos tipos de atores: humanos (bebs,crianas, adultos, idosos) e no-humanos (artefatos e tecnologias).

    Apesar do desenvolvimento de um campo de estudos sociolgicose antropolgicos sobre a infncia, e com as crianas, a complexidade dostempos contemporneos aponta para a necessidade de ruptura com umconjunto de dicotomias relacionadas modernidade. Mais do que isso,embora j exista um corpo interdisciplinar de estudos sobre as crianas, ainfncia, como um fenmeno hbrido, depende da aproximao de disci-

    plinas das cincias sociais e naturais.

    6 Ver a teoria ator-rede em Law (1992) e Latour (2005) e a produo de Beck (1992) e Bauman(1998).

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    12/16

    476 A INFNCIA PESQUISADA FERNANDA MLLERE MARIADE NAZARETH AGRA HASSEN

    Concluso

    Compreendendo a infncia como condio social do ser criana (e,por conseguinte, aceitando as variaes conceituais que dependem docontexto social e cultural), nesse artigo foram apresentados alguns dosprincipais autores e correntes tericas que embasaram reflexes de dife-

    rentes matizes ao longo do tempo. Por ele, se pode ver o quanto a infnciafoi considerada tema menor, o que naturalmente trouxe implicaes pol-ticas que se traduzem na vida cotidiana, nas concepes de educao, decidade e de formao de profissionais destinados a cuidar de crianas e aeduc-las. Receptculo de atenes e preocupaes quando vistas comoprojeto de futuro, desconhecidas, na sua opinio, quando se trata de pen-sar polticas de assistncia, educao e formao para si, as crianas ga-nham status significativo nos dias atuais, sobretudo pela sua capacidadeconsumidora.

    Entender os fenmenos que hoje cercam a criana, as atenes que

    recebe e, quem sabe, compreend-las para atuar sobre ou com elas passapelo conhecimento dos saberes que sobre elas se debruaram ao longodos tempos, mesmo que recentes. Se, do ponto de vista terico, os auto-res se inclinam para posies que consideram o papel ativo da criana, naprtica ainda encontramos as antigas concepes de criana como adul-to em miniatura ou como objeto de atenes em que pouco se leva emconta a escuta, a sua Psicologia particular e a honesta interao. Seria maisum paradoxo da contemporaneidade? Preferimos pensar, porm, que asperspectivas tericas aos poucos levaro a alterao nas intervenes pr-ticas, assim como j tm garantido um olhar mais sensvel no campo daspesquisas.

    Childhood investigated

    Abstract: This paper presents guidelines of the research

    on childhood in several fields of knowledge and particularly in the social sciences,

    highlighting how children come to be conceived as social actors and as culture andmeaning producers. It is argued that childhood requires interdisciplinary work and

    flexible research processes, and that the contemporary complexity begs for a rupture of

    child-adult dichotomies originated in the Modern Age. Though some interdisciplinary

    studies are already available, the recognition of childhood as a hybrid phenomenon,

    both biological and social, implies that understanding childhood requires further

    integration of natural and social sciences research efforts.

    Keywords: Childhood. Social Sciences. Children. Culture.

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    13/16

    477PSICOLOGIA USP, So Paulo, julho/setembro, 2009, 20(3), 465-480.

    Lenfance enqute

    Rsum:Larticle prsente les ides rfrentielles de la recherche

    qui thmatise lenfance dans diffrents domaines du savoir, particulirement les

    sciences sociales. Celles-ci indiquent les voies par lesquelles lenfant commence tre

    conu comme un acteur social producteur de culture et de signifis. On y argumente

    que lenfance requiert des tudes interdisciplinaires et des processus flexibles derecherche, et que la complexit contemporaine exige la rupture avec un ensemble de

    dichotomies entre enfants et adultes produites dans la modernit. Bien quil existe dj

    un corps interdisciplinaire dtudes sur lenfant, on considre que, lenfance tant un

    phnomne hybride produit dans lintersection daspects biologiques et sociaux, sa

    comprhension demande un plus grand rapprochement de disciplines des sciences

    sociales et naturelles.

    Mots-cls: Enfance. Sciences Sociales. Enfants. Culture.

    La infancia investigada

    Resumen: El artculo presenta las ideas referenciales de la

    pesquisa que tiene como temtica la infancia en diferentes campos del conocimiento,

    en especial las ciencias sociales, sealando los caminos por los cuales el nio pasa

    a ser concebido como actor social y como productor de cultura y de significados.

    Argumentase que la infancia demanda estudios interdisciplinarios y procesos flexibles

    de investigacin, y que la complejidad contempornea demanda la ruptura con unconjunto de dicotomas entre nios y adultos, criadas en la modernidad. En que pese

    la existencia de un cuerpo interdisciplinario de estudios sobre los nios, se considera

    que, puesto que la infancia es un fenmeno hbrido, producido en la interseccin de

    aspectos biolgicos y sociales, su comprensin requiere una mayor aproximacin de

    disciplinas de las ciencias sociales y naturales.

    Palabras clave:Infancia. Ciencias Sociales. Nios. Cultura.

    Referncias

    Alanen, L. (2001). Estudos feministas/estudos da infncia: paralelos, ligaes eperspectivas. In L. R. Castro (Org.), Crianas e jovens na construo da cultura (pp.69-92). Rio de Janeiro: Nau

    Archard, D. (2004). Children:Rights and childhood. London: Routledge.

    Aris, P. (1981). Histria social da criana e da famlia.Rio de Janeiro: Zahar.

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    14/16

    478 A INFNCIA PESQUISADA FERNANDA MLLERE MARIADE NAZARETH AGRA HASSEN

    Bauman, Z. (1998). O mal-estar da ps-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar.

    Beck, U. (1992). Risk society: Towards a new modernity. London: Sage.

    Cohn, C. (2005).Antropologia da criana. Rio de Janeiro: Zahar.

    Corsaro, W. A. (1997). The sociology of childhood. California: Pine Forge Press.

    DeMause, L. (1976). The history of childhood. London: Souvenir Press.

    Durkheim, E. (1973). Educao e sociologia. So Paulo: Melhoramentos.

    Durkheim, E. (1974).As regras do mtodo sociolgico. So Paulo: Nacional.

    Fernandes, F. (1961). Folclore e mudana social na cidade de So Paulo. So Paulo:Anhembi.

    Flandrin, J.-L. (1988). O sexo e o ocidente. So Paulo: Brasiliense.

    Frnes, I. (1993). Changing childhood. Childhood, 1(1), 1-2.

    Giddens, A. (1984). The constitution of society: Outline of the theory of structuration.Berkeley: University of California Press.

    Hall, S. (1999).A identidade cultural na ps-modernidade.Rio de Janeiro: DP&A.

    Jenks, C. (1996). Childhood. London: Routledge.

    Latour, B. (1993). We have never been modern. Cambridge: Harvard University Press.

    Latour, B. (2005). Reassembling the social: an introduction to actor-network-theory.Oxford: Oxford University Press.

    Law, J. (1992). Notes on the theory of the actor network: Ordering, strategy, andheterogeneity. Lancaster: Centre for Science Studies Lancaster University.(Trabalho no publicado).

    Martins, J. S. (1993). Regimar e seus amigos: a criana na luta pela terra e pela vida. InJ. S. Martins (Org.), O massacre dos inocentes: a criana sem infncia no Brasil (pp.51-80). So Paulo: Hucitec.

    Mayall, B. (2003). Towards a sociology for childhood: Thinking from childrens lives.Maidenhead: Open University Press.

    Mead, M. (1977). Children, culture, and Edith Cobb. In Children, nature, and the urbanenvironment: Proceedings of a Symposium-Fair(pp. 18-24). Upper Darby, PA: U.S.Department of Agriculture, Forest Service, Northeastern Forest ExperimentStation.

    Montandon, C. (1997). Lducation du point de vue des enfants: un peu blesss au fond

    du cur. Paris: LHarmattan.Montandon, C. (2001). Sociologia da infncia: balano dos trabalhos em Lngua

    Inglesa. Cadernos de Pesquisa, 112, 33-60.

    Morrow, V. (1966). Rethinking childhood dependency: Childrens contributions to thedomestic economy. The Sociological Review,44(1), 58-77.

    Nunes, A. M. (2002). O lugar da criana nos textos sobre sociedades indgenasbrasileiras. In A. L. Silva, A. V. L. S. Macedo & A. Nunes (Orgs.), Crianas Indgenas:ensaios antropolgicos. So Paulo: Global.

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    15/16

    479PSICOLOGIA USP, So Paulo, julho/setembro, 2009, 20(3), 465-480.

    Oliveira, R. C. (1987). Sobre o pensamento antropolgico. So Paulo: Tempo Brasileiro.

    Parsons, T. E. F. (1964). Social structure and personality. New York: Free Press of Glencoe.

    Pollock, L. (1983). Forgotten children: Parent-child relations from 1500 to 1900.Cambridge: Cambridge University Press.

    Prout, A. (2005). The future of childhood. New York: RoutledgeFalmer.

    Prout, A., & James, A. (1997). A new paradigm for the sociology of childhood?Provenance, promise and problems. In A. James & A. Prout (Eds.), Constructingand reconstructing childhood(pp. 7-73). London: Falmer Press.

    Qvortrup, J. (1987). Introduction. International Journal of Sociology,17(3), 3-37.

    Qvortrup, J. (1994). Childhood matters: An introduction. In J. Qvortrup, M. Bardy, G. B.Sgritta & H. Wintersberger, Childhood matters: Social theory, practices and politics(pp. 1-23). Aldershot, UK: Avebury.

    Qvortrup, J. (2001). O trabalho escolar infantil tem valor? A colonizao das crianaspelo trabalho escolar. In L. R. Castro (Org.), Crianas e jovens na construo dacultura (pp. 129-152). Rio de Janeiro: Nau.

    Rocha, E. A. C. (1999). A pesquisa em Educao Infantil no Brasil: trajetria recente eperspectivas de consolidao de uma pedagogia. Tese de Doutorado, Programade Ps-Graduao em Educao, Faculdade de Educao, Universidade Estadualde Campinas, Campinas, SP.

    Rosemberg, F. (1976). Educao: para quem? Cincia e Cultura,12(28), 1467-1470.

    Rosemberg, F. (1985). Literatura infantil e ideologia. So Paulo: Global.

    Rossetti-Ferreira, M. C. (2004). Introduo: seguindo a receita do poeta tecemos arede de significaes e este livro. In M. C. Rossetti-Ferreira, K. S. Amorim, A. P. Silva& A. M. A. Carvalho (Orgs.), Rede de significaes e o estudo do desenvolvimento

    humano (pp. 15-19). Porto Alegre: Artmed.

    Sarmento, M. J., & Pinto, M. (1997).As crianas: contextos e identidades. Braga, Portugal:Universidade do Minho.

    Schildkout, E. (1978). Age and gender in Hausa Society: Socio-Economic roles ofchildren in urban Kano. In J. S. La Fontaine (Ed.), Sex and age as principles of socialdifferentiation. London: Academic Press.

    Sgritta, G. B. (1987). Childhood, normalization and project. International Journal ofSociology, 17(3), 38-57.

    Sirota, R. (2001). Emergncia de uma sociologia da infncia: evoluo do objeto e do

    olhar. Cadernos de Pesquisa, 112, 7-31.Thin, D. (2006). Para uma anlise das relaes entre famlias populares e escola:

    confrontao entre lgicas socializadoras. Revista Brasileira de Educao, 11(32),211-225.

    Thorne, B. (1993). Gender play:Girls and boys in school. New Jersey: Rutgers UniversityPress.

    Thorne, B., M., F. Orellana, W. S. E., Lam, A., & Chee. (2003). Raising children, andgrowing up, across national borders: Comparative perspectives on age, gender

  • 7/27/2019 A infncia pesquisada

    16/16

    480 A INFNCIA PESQUISADA FERNANDA MLLER E MARIA DE NAZARETH AGRA HASSEN

    and migration. In P. Hondagneu-Sotelo (Ed.), Gender and U.S. immigration:Contemporary trends (pp. 241-262). Berkeley, CA: University of California Press.

    Tonucci, F.(1997). La citt dei bambini. Roma: Laterza.

    Toren, C. (1993). Making history: The significance of childhood cognition for acomparative anthropology of mind. Man, 28, 461-478.

    Wintersberger, H. (2001). Crianas como produtoras e consumidoras: sobre osignificado da relevncia econmica das atividades das crianas. In L. R. Castro(Org.), Crianas e jovens na construo da cultura (pp. 93-120). Rio de Janeiro: Nau.

    Fernanda Mller, Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de SoPaulo. Endereo para correspondncia: Estrada do Caminho Velho, 333, CEP 07252-312. Guarulhos, SP, Brasil. Endereo eletrnico: [email protected].

    Maria de Nazareth Agra Hassen, Pesquisadora da Universidade Federal do RioGrande do Sul e professora do Centro Universitrio Ritter dos Reis - RS. Endereo

    para correspondncia: Rua Vasco Alves, 454. CEP 90010-310. Porto Alegre, RS, Brasil.Endereo eletrnico: [email protected]

    Recebido em: 19/02/2009Aceito em: 18/05/2009