a internacionalização das empresas brasileiras_erica_ambiel
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS CENTRO DE EDUCAO E CINCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA POLTICA
Erica Ambiel Julian
A INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E RECRUTAMENTO DE SEUS EXECUTIVOS: ESTUDO DE CASO DO GRUPO
GERDAU.
So Carlos 2013
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A INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E RECRUTAMENTO DE SEUS EXECUTIVOS: ESTUDO DE CASO DO GRUPO
GERDAU.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS CENTRO DE EDUCAO E CINCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA POLTICA
Erica Ambiel Julian A INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E RECRUTAMENTO DE
SEUS EXECUTIVOS: ESTUDO DE CASO DO GRUPO GERDAU.
Dissertao de mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica do Centro de Educao e Cincias Humanas, da Universidade Federal de So Carlos, para obteno do ttulo de mestre em Cincia Poltica. rea de concentrao: Teoria, instituies e comportamento poltico. Linha de pesquisa: Teoria das Organizaes. Orientador: Prof. Dr. Jlio Csar Donadone
So Carlos 2013
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Ficha catalogrfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitria da UFSCar
J94ie
Julian, Erica Ambiel. A internacionalizao de empresas brasileiras e recrutamento de seus executivos : estudo de caso do grupo Gerdau / Erica Ambiel Julian. -- So Carlos : UFSCar, 2014. 120 f. Dissertao (Mestrado) -- Universidade Federal de So Carlos, 2013. 1. Sociologia econmica. 2. Teoria da organizao. 3. Empresas multinacionais - aspectos polticos. 4. Prosopografia. 5. Elites (Cincias sociais). 6. Grupo Gerdau. I. Ttulo. CDD: 306.3 (20a)
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Os centros de gravidade mundial esto sempre em processo de mudana. Os velhos centros perdem sua importncia relativa medida em que aparecem novos fatores que perturbam o equilbrio. O mundo est se convertendo gradualmente em uma rea fechada. As condies precursoras que permitiram a unidade do Imprio Britnico esto desaparecendo rapidamente. Surgem novos centros de dominao e se formam novas formas de combinaes de interdependncia regional que frequentemente se chocam com a estrutura poltica existente.
MACKENZIE, R.D., The Concept of Dominance and World Organization. The American Journal of Sociology, July 1927, pg. 42.
Apud HYMER, S. Empresas multinacionais: a internacionalizacao do capital. Aloisio Teixeira (Trad.). Rio de Janeiro: Graal, 1978. pg.
67.
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AGRADECIMENTOS
Devo aqui prestar a minha homenagem minha me, Angela Maria Ambiel,
que pela sua fibra, coragem e amor, me ensinou que a vontade de mudana o primeiro passo
para a vitria, e que no devemos aceitar destinos quaisquer se a mente liberta e deseja mais.
Minha persistncia na continuidade da formao acadmica s foi possvel porque tive quem
me mostrasse que a fora a principal virtude, que pensar no melhor para si e lutar pela
prpria construo nos faz sermos mais livres e humanos. Por todos os obstculos pelos quais
passamos juntas, dedico esse trabalho.
Ao meu pai, Luis Julian, agradeo infinitamente por ter viabilizado minha
permanncia em So Carlos, pelo apoio financeiro e exemplo de crescimento. Aos irmos,
Priscila Ambiel Julian e Luis Julian Jnior, pelo exemplo de estudos, carinho e apoio.
Ao meu namorado, noivo, companheiro e amigo, Celso Jos Lopes Filho, que
segurou tantos momentos de fragilidade: Amor e s. Obrigada pela compreenso, por ouvir,
por me dar a mo quando eu precisei. E ser assim por muito tempo ainda.
Aos amigos que conviveram comigo durante minha graduao e mestrado. Aos
amigos das repblicas Marisales e Barravento, pelos exemplos, explicaes, conversas e
apoio necessrios. minha antiga casa, Repblica Granja do Torto, s minhas amigas e
amigos que nunca deixarei de amar. Ana Claudia, minha melhor amiga com quem j
dividi quarto. Agradeo ao sogro, Celso Jos Lopes, e amiga Claudia de Santi pela
generosidade com que me acolheram quando eu precisei.
Agradeo ao meu orientador Professor Jlio Cesar Donadone, por ter aceitado
me orientar nesse trabalho, pelas direes e, principalmente, pela confiana e pacincia.
Agradeo aos professores Thales Haddad Andrade, por me ajudar na banca de defesa e de
qualificao desse mestrado, sempre solcito. Professora Maria Chaves Jardim, pela
amizade, pela ajuda, pela banca e pela confiana. Ao Professor Roberto Grun, sempre
carinhoso e inspirador.
Sou grata ao Ncleo de Estudos em Sociologia Econmica e das Finanas da
UFSCar, ao amigos Ana Carolina Bichoffe, ngela M. Carvalho, Karina de Assis, Leandro
Targa, Marcela Purini Belm, Martin Mundo Neto, Patrcia Matsuda, Silvio E. Cndido,
Vanise Rafaela Ralio, Wellington Desidrio, muito obrigada pela amizade, pela acolhida, pelo
apoio, e ao Felipe Cavenaghi e Mrcio Rogrio Silva (grandes companheiros!), Thas Joi e
Antnia Celene Miguel (grandes companheiras!), em especial. Ao Ncleo de estudos e
pesquisa sobre sociedade, poder organizao e mercado, da UNESP.
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Agradeo ao Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica da Universidade
Federal de So Carlos - UFSCar. Aos professores do Departamento de Cincias Sociais da
UFSCar e seus funcionrios. Agradeo Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de
Nvel Superior CAPES, por um ano de bolsa concedido para realizao da minha pesquisa.
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RESUMO
A pesquisa procura explorar a influncia de estudos internacionais no recrutamento de
profissionais para postos de gerncia, por empresas que passaram pelo processo de
internacionalizao. A expanso de empresas brasileiras, impulsionada pelos anseios de
conquistar novos mercados e pelo crescimento de capital, causou um forte direcionamento de
algumas empresas brasileiras em ocupar espao no cenrio global. Essa tendncia resultado
de diversos fatores que facilitam o trnsito de conhecimentos e ferramentas gerenciais,
pessoas e capital, criando um mercado mundial aberto receber competidores fortes e que
aspiram trabalhar em nvel mundial com consumidores e trabalhadores. As conseqncias
para o processo descrito so variadas dentro dos cenrios internos de cada pas, tanto para
aqueles pases que recebem capital estrangeiro, ou que permitem a entrada de produtos
estrangeiros, quanto para aqueles que buscam novos horizontes atravs de seus representantes
econmicos. Os profissionais que exercem cargos dentro das organizaes que se
transnacionalizam obedecem a um modelo internacional. Acompanhando as transformaes
nas empresas brasileiras, seus executivos modificam o perfil profissional do campo,
transformando a forma de recrutamento de seus sucessores para atender s exigncias
internacionais. A vinda de estruturas alheias cultura local e, principalmente, s expertises
locais renova a percepo que os agentes tm sobre o campo das disputas por melhores
posies profissionais no mercado de trabalho, causando mudanas tambm no tipo de
trajetria de formao escolhida por aqueles que almejam cargos de importncia. Dessa
forma, alm dos aspectos econmicos e culturais que envolvem a chegada ou envio de
empresas, fbricas, pessoas e conhecimento estrangeiro aos pases, interessante ressaltar as
transformaes no ambiente social e poltico internos relativos. Para melhor entendimento do
fenmeno descrito, foi usado o Grupo Gerdau S.A., seus funcionrios e sua histria.
Palavras-chave: Teoria das Organizaes. Internacionalizao de Empresas. Elites
Econmicas.
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ABSTRACT
The present research seeks to explore the influence of international studies inside companies,
this study is about managers hiring for transnational companies. The globalization of
Brazilian businessare driven by the desire ofnew markets and growth capital, motivate by
some Brazilian companies that occupy space in the global scenario. This is a result of several
factors that make easy the transition of knowledge and managerial, people and capital,
creating an open world market, and to receive strong competitors who aspire to work globally
with consumers and employees. The consequences for thisprocess described are diverse
within the internal scenarios in each country, both for those countries that receive foreign
capital,or for those countries that allow the entry of foreign products, and for those who seek
new horizons. Professionals who hold positions within these organizations turn into an
international model. Their executives modify the professional profile of the field,
transforming the way of hiring their successors to meet international requirements. The arrival
of foreign structures to local, and mainly local expertise, renews the perception that agents
have on the field of disputes, best professional positions in the job market also propose
changes in the type of trajectory and how they make choices for desire positions of
importance. Thus, besides the economic and cultural aspects surrounding the circulation of
companies, it is interesting to note the changes in the social environment and internal policy
related. To better understand the phenomenon described, was used this research in the
MetalrgicaGerdau S.A., its employees and its history.
Key-words: Organization Theory. Internationalization of Enterprises. Elites.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Tabela elaborada pela FDC: Ranking das transnacionais brasileiras no ano de 2012.
Figura 2 Presena do Brasil por IDE mundo por nmero de pases
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Investimento Externo Direto no Brasil anual, entre 1980 e 2012 em milhes de
dlares.
Tabela 2 Distribuio em temas dos artigos publicas nos ENANPAD, entre 2001 e 2010.
Tabela 3 Nmero de aparies das instituies de ensino e pesquisa brasileiras nos
encontros da ANPAD.
Tabela 4 O avano da Gerdau no Brasil: incorporaes
Tabela 5 Aquisies de unidades no exterior pela Gerdau.
Tabela 6 Relao entre produo, funcionrios e produtividade da Gerdau AS
Tabela 7 Evoluo do faturamento e lucro da Gerdau AS
Tabela 8 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 1980.
Tabela 9 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 1985.
Tabela 10 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 1991.
Tabela 11 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 2001.
Tabela 12 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 2006.
Tabela 13 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 2011.
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Evoluo da produo de ao no mundo entre 1900 e 2005 (em milhes de
toneladas/ano).
Grfico 2 - Indicador de desempenho 1981-1994.
Grfico 3 - Indicador de desempenho 1995-2005.
Grfico 4 Estabilidade dos dirigentes como funcionrios da Gerdau.
Grfico 5 Nacionalidade dos dirigentes por perodo.
Grfico 6 - Circulao acadmica internacional dos dirigentes por perodo e tipo.
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LISTA DE SIGLAS
ANPAD Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao
CEO Chief Executive Officer (Diretor Executivo)
ETN Empresa Transnacional
FDC Fundao Dom Cabral
IBDE Investimento Brasileiro Direto no Exterior.
IED Investimento Externo Direto.
IMEDE - Institut pour l'Etude des Methodes de Direction de l'Entreprise (Instituto para
Estudos dos Mtodos de Direo de Empresas)
INSEAD - Institut Europen d'Administration des Affaires (Instituto Europeu de
Administrao de Empresas)
MNE Multinational Enterprise (Empresa Multinacional)
ONU Organizao das Naes Unidas
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development (Conferncia das Naes
Unidas Sobre Comrcio e Desenvolvimento)
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SUMRIO
INTRODUO .....................................................................................................................................14
1 O ESTUDO DE ORGANIZAES EMPRESARIAIS SOB O AMPARO DA SOCIOLOGIA ECONMICA E A TEORIA DAS ORGANIZAES ........................................................................24
1.1 Teorias desenvolvidas sobre o fenmeno da Internacionalizao de empresas ...........................37
1.2 Estudos no Brasil sobre Internacionalizao de empresas ...........................................................41
2 O QUE A INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS? ...........................................................47
2.1 Estrutura institucional brasileira para a transnacionalizao: breve olhar sobre as mudanas na economia para o avano global do capital produtivo brasileiro. ........................................................50
2.2 Internacionalizao de empresas brasileiras .................................................................................55
3 A HISTRIA DA METALRGICA GERDAU S. A. .......................................................................60
3.1 A internacionalizao da Gerdau .................................................................................................64
4 AS MUDANAS NO PERFIL DOS EXECUTIVOS GRUPO GERDAU. .......................................70
5 CONCLUSO ....................................................................................................................................93
REFERNCIAS .....................................................................................................................................96
APNDICE ..........................................................................................................................................100
ANEXO ................................................................................................................................................110
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INTRODUO
O trabalho verifica a influncia de estudos internacionais no recrutamento de
profissionais para postos de direo por empresas que passaram pelo processo de
internacionalizao. Dessa forma possvel notar a forte influncia de conhecimentos
internacionais, capital essencial para estabelecer a distino entre os profissionais no
mercado: a assimilao de noes mundialmente pr-estabelecidas distingue os melhores os
agentes dentro da competio acirrada entre os gerentes. Os conhecimentos mais difundidos
nesse campo e mais valorizados so aqueles desenvolvidos na parte norte do globo, isso
ocorre porque as expertises surgem nos centros que investem mais em inovaes dentro das
tecnologias gerenciais. Observa-se a formao de uma Elite do campo profissional, que se
apresenta em constante mudana em busca de capitais que selecionam os melhores atores para
os postos mais elevados.
A expanso de empresas brasileiras, impulsionada pelos anseios de conquistar
novos mercados e pelo crescimento de capital, auxiliada pelo Estado Brasileiro na abertura do
mercado nacional concorrncia internacional, causou um forte direcionamento no sentido de
ocupar espao no cenrio global. Essa tendncia o resultado de diversos fatores, o contexto
global de transnacionalizao de mercados, melhorias na comunicao, a globalizao e a
homogeneizao de hbitos de consumo e a divulgao de culturas facilitam o trnsito de
conhecimentos e ferramentas gerenciais, pessoas e capital econmico, criando um mercado
mundial aberto receber competidores fortes e que aspiram trabalhar em nvel mundial com
consumidores e trabalhadores. Empresas de reas diversas no Brasil alcanaram o patamar de
competitividade e se colocaram a disputar espaos com outras empresas de fora do pas.
Esse fenmeno um espao muito frtil para a anlise das transformaes
profissionais atualmente e muitos estudos so produzidos sobre empresas internacionais,
feitos por pesquisadores das reas da economia, administrao e engenharia de produo, em
sua maioria. Muito alm das questes pertinentes a essas reas, os efeitos no campo
profissional, inclusive no ensino para os executivos, se coloca como um objeto interessante s
Cincias Sociais e revelam mudanas que explicitam a ligao entre economia e sociedade.
Entende-se a internacionalizao de empresas como intimamente ligada s transformaes
polticas e econmicas nacionais e mundiais. O sculo XX apresenta como umas das
principais caractersticas o avano tecnolgico e as melhorias dos meios de comunicao, o
que proporcionou uma aproximao global territrios, a diminuio das distncias causada
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15pelo maior acesso a transportes e comunicao. O resultado desse processo para a economia,
alm de outras transformaes, foram as empresas ultrapassando os limites nacionais fazendo
negcios com consumidores de outros pases, implantando estruturas e fundindo operaes
fora de seu local de origem. As influncias, daqueles que se anteciparam s transformaes
econmicas sobre os novos entrantes no cenrio globalizado, determina as regras do jogo e as
firmas que pretendem ganhar posies e se manterem no mercado se adquam estrutura
organizacional interna buscando competitividade e melhora. Sobre essa viso, entende-se que
a atividade econmica sofre vrios efeitos da internacionalizao.
Percebendo o grande volume de negcios que tendem internacionalizao,
muitos trabalhos acadmicos tm se prestado a analisar este fenmeno. As pesquisas sobre
Internacionalizao de Empresas, ou Negcios, tm diferentes abordagens dependendo das
caractersticas a serem buscadas. H muitos textos relacionando multinacionais e
trabalhadores, multinacionais e governos, empresas e transferncia de conhecimento de P&D
(pesquisa e desenvolvimento), estudos de caso e estratgias. Uma abordagem sobre as
mudanas no perfil dos dirigentes dessas indstrias um campo diferente dos comumente
encontrados em pesquisas sobre a rea, e ao mesmo tempo bastante interessante no tocante
mudana de perfil desses profissionais como dirigentes da rea de gesto e administrao de
empresas no Brasil. A vinda de estruturas alheias cultura local e, principalmente, s
expertises locais renova a percepo que os agentes tm sobre o campo das disputas por
melhores posies profissionais no mercado de trabalho, causando mudanas tambm no tipo
de trajetria de formao escolhida por aqueles que almejam cargos de importncia. V-se
que as transformaes na economia brasileira ocorreram de maneira dinmica depois dos anos
1990, a competitividade torna-se maior, forando as empresas a inovarem tecnologicamente e
buscarem qualificao dos seus quadros. Visto, portanto, a necessidade constante de
aperfeioamento dos profissionais, impulsionados pela competitividade dentro do mercado de
trabalho, essas transformaes influenciam no s o campo estudado como tambm as escolas
de administrao e ps-graduaes, que legitimam essas mudanas, expandindo para a
sociedade como um todo as transformaes ocorridas, determinando os agentes que se
colocam como dominantes de poder de deciso sobre os rumos da rea.
A importncia do recorte dos dados da pesquisa ter sido feito pelos
profissionais que administram as empresas, se deve ento pela compreenso de um fenmeno
que se faz globalizado e que descreve uma mudana atual dentro da sociedade brasileira: a
importao de expertises. Assim sendo, observando esse quadro como um espao de disputas
pela liderana da rea que define, de certa forma, rumos para o ensino em administrao e
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16observando sua interao com o ambiente internacional, o estudo proposto se pretende como
anlise das influncias internacionais nesse espao de poder. Nesse contexto, em que os
executivos deparam-se com um novo cenrio de internacionalizao, as competncias
gerenciais a serem desenvolvidas devem estar no nvel de seus novos concorrentes,
assimilando conceitos e posturas multinacionais.
Ao sentirem esse impacto na mudana de direo no modelo de
profissionalizao, observam na carreira internacional uma forma de reconhecimento e de
inovao para diferenciao no mercado de trabalho. O estudo internacional faz-se um meio
de insero competitiva no mercado, onde a importao de conhecimento caracteriza-se como
um elemento de destaque para aqueles que se pretendem uma alta posio em suas reas. A
disputa por espao, onde se tenha evidncia profissional, configura-se como uma competio
em torno de controle de valores individuais, no s do mercado ou do Estado, mas de
significados que atuem na direo dos modelos pretendidos. Para entender melhor o processo
descrito, foram usados executivos do Grupo Gerdau, que ao longo de sua histria se mostrou
como exemplar para outras empresas no processo de internacionalizao. Os executivos
escolhidos foram aqueles de cargo de diretoria, dos anos de 1980, 1985, 1991, 2001, 2006 e
2011, onde seus perfis compuseram um pequeno banco de dados sobre suas trajetrias
profissionais. A biografia comparada dos agentes forneceu a comparao necessria para
verificar a mudana nos perfis dos dirigentes profissionais estudados ao longo dos anos
pesquisados.
No incio, pensou-se em destacar mais do que somente uma empresa de capital
aberto no Brasil, para melhor compreender as caractersticas desses profissionais, porm no
houve viabilidade pelo nmero de casos e na dificuldade de escolha por quais empresas
especificamente, se a escolha seria por ramo de atividade, por regio de instalao ou por
histria de fundao. Foi decidido que a partir de um s caso seria mais fcil explorar as
caractersticas da organizao e realizar um recorte temporal para evidenciar as mudanas ao
longo do tempo. A escolha pela Gerdau foi feita pela longa histria do Grupo, onde puderam
ser mais aprofundados os dados atravs da disponibilidade de relatos em stios da internet e
da prpria empresa.
A comparao das caractersticas de trajetrias dos executivos, em perodos
temporais diferentes, possibilita analisar as mudanas nas exigncias das empresas sobre
quem contratam para cargos diretivos. As empresas mudaram durante o sculo vinte, seus
profissionais tambm. A trajetria de formao acadmica e profissional daqueles que
pleiteiam altos cargos de gesto segue a mesma mudana. A literatura da gesto empresarial
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17dos anos 1990 contm ideais, propostas de organizao humana, modos de ordenamento dos
objetos e formas de garantia que so da natureza to diferente daquilo que se encontra na
literatura de gesto empresarial dos anos 1960 que difcil no reconhecer que o capitalismo
mudou muito de esprito ao longo dos ltimos trinta anos, ainda que a configurao no
possua a fora mobilizadora qual a figura anterior conseguiria chegar, pelo fato de estar no
plano da justia e das garantias (BOLTANSKI; CHIAPELLO,2009, p. 129). Na literatura
citada por estes autores pode-se perceber o que se tem transformado acerca da gesto nos anos
1990 em contraposio ao pensamento da dcada de 1960.
A globalizao de mercados se intensificou no sculo XX, mais precisamente
na segunda metade do sculo, proporcionada pelas mudanas globais em comunicao e
novas tecnologias, criando um ambiente propcio para o avano de grandes corporaes em
ambientes externos em busca da abertura de novos mercados. Com isso, a internacionalizao
das empresas passou a ser um fator indicativo de sucesso empreendedor, como necessria
uma estrutura slida para superar os obstculos oriundos de novas experincias culturais,
econmicas e de mercado, as firmas que se capacitam para esse processo so identificadas,
naturalmente, como exemplos de crescimento. Assim, o interesse dos acadmicos sobre o
assunto cresce medida que as experincias de internacionalizao se tornam mais freqentes
na dcada de 1990.
Para entender o que aqui foi introduzido, a seguir sero apresentados os
captulos que compem este trabalho e qual a inteno dos contedos para a melhor
compreenso desse processo da internacionalizao de empresas no Brasil para mudar o
espao dos gestores de grandes empresas.
No primeiro captulo ser abordada, de forma geral, a teoria por trs do
objetivo do texto. Auxiliada pelos textos de autores como Swedberg, Fligstein, Boltanski,
Lebaron, Useen e Wagner, o primeiro captulo explica a importncia de entender os espaos
de disputas, tratada por Bourdieu como campo, pelo olhar da sociologia econmica onde as
transformaes contemporneas, em todas as reas da vida social, recebem a direta
interferncia do mundo econmico, pelas assimilaes de componentes ligados s
organizaes, construindo estruturas ligadas construo de mercados (FLIGSTEIN, 2001).
A partir da, evidencia-se as transformaes sofridas pelas organizaes para adequao das
mesmas ao desenvolvimento econmico capitalista contemporneo, o novo capitalismo
(BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009). As mudanas no contexto corporativo trouxeram
mudanas internas nas organizaes, tanto em governana corporativa, dinmica
organizacional, perfil de profissionais e culturas internas.
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18
Em Donadone (2001, 2002, 2004, 2011), Useen (2011), Grun (1990) e Wagner
(1998), encontramos os fundamentos para entender como o contexto muda a dinmica do
capital humano das empresas. Em seguida, revista o arcabouo terico desenvolvido
mundialmente, atravs da histria, sobre as chamadas Teorias de Internacionalizao,
acompanhada de como os estudos brasileiros so construdos em torno da mesma temtica.
No segundo captulo, apresenta-se o cenrio poltico econmico brasileiro e a
base poltico econmica no cenrio de internacionalizao. Para isso, introduzida a situao
da internacionalizao com argumentos atuais pragmticos, o desenvolvimento econmico
financeiro brasileiro necessrios para a expanso das empresas e, enfim, como ocorre a
internacionalizao de empresas brasileiras. So usados dados do Governo Brasileiro, da
UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development ONU), da Comisso de
Valores Mobilrios, alm da anlise de Carlos Bresser Pereira. Para explicar como se d a
internacionalizao no Brasil, usou-se Ramsey, Pearce e Kupfer.
Esclarecidos os pilares para a realizao da transnacionalizao de empresas
brasileiras, passa-se a elucidar a histria do Grupo Gerdau S. A., de onde se pode ter a noo
da trajetria empreendedora, iniciada por Jorge Gerdau em 1901 com a compra da Fbrica de
Pregos em Porto Alegre, e da expanso do grupo pelo Brasil e depois pelo mundo. Os dados
para essa parte do texto foram conseguidos do livro A Chama Empreendedora, livro de
comemorao aos cem anos de existncia do grupo.
Inicia-se a discusso no quarto captulo, onde so apresentados os dados
especficos sobre os executivos da Gerdau, a metodologia usada, os resultados de sucesso ao
longo dos anos. A foram apresentados os dados em forma de minibiografias dos atores
separados em seis perodos com intervalos de cinco em cinco anos. Dessa maneira, a
apresentao foi pensada para facilitar a visualizao da mudana gradativa dos perfis
individuais.
Finalmente, na concluso buscou-se ligar as conexes histricas, a teoria e o
objeto, deixando clara a linha lgica de raciocnio da autora para explicar como ocorrem as
mudanas no espao da elite profissional em gesto no Brasil.
Embora no se tenha feito a discusso terica extensa sobre elites profissionais
durante o texto, h a inteno de caracterizar os atores como tal e, para isso, o mtodo usado
est de acordo com o mtodo que concerne ao estudo de Elites.
O conceito de Elite discutido desde a era socrtica, dentro dos empenhos para
o surgimento da Democracia Atheniense j se havia a percepo de uma Elite dominante que
deliberava sobre os rumos da Cidade-Estado. Da relao entre dirigentes e democracia surge o
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19conceito e a poltica. A participao dos cidados em assemblias e as discusses sobre
assuntos prximos da vida coletiva, sem intermedirios, davam oportunidades iguais aos
concidados de estabelecerem o que julgavam justo a todos, sem se destacarem alguns poucos
com essa influncia particular. Embora os esforos filosficos da antiguidade em torno da
igualdade plena, a modernidade viu-se obrigada a criar mecanismos de deciso que
incorporasse a todos sem que todos estivessem presentes. A delegao de deciso, em forma
de representao, trouxe a soluo para os territrios que, com o passar do tempo, se tornaram
vastos e as comunidades cada vez maiores. Nesse ponto a discusso entre Elites e democracia
toma contornos mais contemporneos nos debates polticos. A partir de ento, o conceito
passa a se ligar a insatisfao pblica1. O termo em si s foi empregado no sculo XIX2.
Em Bourdieu pode-se interpretar esse conjunto de valores que criam as
capacidades como o conceito habitus. O habitus o termo que denota as caractersticas
assimiladas pelo contato com o meio, dando ao sujeito certos capitais que do identidade
subjetiva a ele, determinando a construo de sua histria. A partir da apreenso desses
capitais, quais so preponderantes para a diferenciao em dados espaos, pode-se construir
uma anlise decisiva na formulao e compreenso dos diversos campos. Com isso entende-se
qual o ethos fundamental de cada campo.
Com o auxlio dos trabalhos lidos, pode-se entender os mtodos de estudo de
Recrutamento de Elites por duas linhas, a biografia isolada e a biografia comparada, ou a
prosopografia. Das duas formas os meios de ascenso profissional so reconhecidos pela
noo dos capitais necessrios para o sucesso. Foi escolhido o mtodo da biografia
comparada, por ser esta a maneira em que os elementos em comum na trajetria profissional
so mais facilmente percebidos.
Para a seleo dos profissionais com trajetrias exploradas pensou-se na
importncia dos Institutos de Ensino Superior (IES) dos quais emergiram e outras
caractersticas de trajetria que pertencem ao novo pensamento empresarial. Dessa forma
deduz-se que o recrutamento das empresas que despontam no cenrio internacional, no caso o
Grupo Gerdau, criterioso e significativo o suficiente para entender que seus colaboradores
devem alcanar reconhecimento, determinando o grupo de executivos entendidos aqui como
Elite da rea, sendo eles referncia a outros profissionais. Bobbio (2002, p.385) fornece uma
1 Para uma introduo curta sobre Teoria das Elites, ver HOLLANDA, C. B. Teoria das Elites. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011. 2 Na lngua inglesa o primeiro uso conhecido de elite, de acordo com o Oxford English Dictionary, data de 1823, quando j era aplicdo para referir-se a grupos sociais. In.BOTTOMORE, T. B. As elites e a sociedade. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1964, p.7.
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20definio sobre essa teoria: por teoria das Elites ou elitista de onde tambm o nome de
elitismo se entende a teoria segundo a qual, em toda a sociedade, existe, sempre e apenas,
uma minoria que, por vrias formas, detentora do poder, em contraposio a uma maioria
que dele est privada. De acordo com essa definio e concluindo que o Grupo Gerdau
considerado uma das maiores multinacionais brasileiras como mostrou o estudo feito pela
fundao Dom Cabral em 20103, que o coloca como a segunda maior empresa em
porcentagem de ativos no exterior , os profissionais que trabalham na Gerdau podem ser
considerados amostra da Elite apreciada aqui. Por tal significncia e valor dados, a esses
agentes atribudo influenciar toda a rea da administrao e gesto de empresas. A posio
alcanada na empresa denota determinado poder a eles na rea em que atuam, impondo ao
grupo a denominao de Elite. Algumas caractersticas reconhecidas ao longo das trajetrias
contribui para essa insero, neste caso veremos particularmente o critrio de estudos
internacionais como fator relevante. Esses profissionais, por sua vez, retornam origem e
convertem seu conhecimento para a formao de novos pesquisadores pela docncia. A
abertura de agncias com a funo de proporcionar os estudos internacionais foi um ponto
estratgico do Estado Brasileiro, para entrar em competitividade no cenrio mundial, como
citam Cando e Garcia (2004-2005): Au cours de la dernire moiti du sicle, la force relative de chaque puissance a dpendu de sa capacit occuper des positions davant-garde scientifique. lchelle plantaire, un mme agenda de questions scientifiques sest impos, hirarchisant les pays qui avaient plus ou moins de poids dans chaque domaine du savoir sur la scne internationale. Depuis, il est devenu clair que la puissance politique et conomique nationale ne serait complte que si elle tait fonde sur un systme de production et de transmission de connaissances scientifiques et technologiques.4
Acompanhando o processo de expanso dos cursos de ps-graduao em
Administrao e cursos afins, as linhas de pesquisa na rea se diversificam ampliando o
escopo de atuao dos profissionais na rea. A exigncia por conhecimentos mais
especializados e inovadores passa a torna-se maior, forando os estudantes a se aprimorarem
cada vez mais, buscando competitividade e posicionamento no mercado de trabalho, no caso,
entre os professores de administrao, como ocorre em outras profisses na dcada de 905,
sendo as mudanas realizadas na gesto de empresas rapidamente absorvida por disciplinas no
Ensino Superior. Por isso, os rumos do contedo disciplinar e da prtica na rea de
3 Disponvel em http://www.fdc.org.br/pt/Documents/ranking_transnacionais_2010.pdf Acesso em: janeiro de 2012. 44 Ver CANDO, Letcia; GARCIA, Afrnio Les Boursiers brsiliens et laccs aux ormations dexcellence internationales In: Cahiers du Brsil Contemporain, 2004-2005, n 57/58 59/60, p. 21-48. 5 Ver em BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009.
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21administrao seguem caminhos prximos, onde o vanguardismo da prtica administrativa
lecionado nos cursos da rea como fortes diferenciais dos institutos de ensino. Princpios
organizacionais de sistemas de gesto, como por exemplo TPM, ISO, 5S, e outras
ferramentas, so renovadas e inventadas com grande freqncia, fazendo com que contedos
programticos de institutos de ensino superior sejam modificados conforme as inovaes de
mercado.
Wright Mills, um dos fundadores da teoria elitista, afirma que
A cincia social trata de problemas de biografia, de histria e de seus contatos dentro das estruturas sociais. So estes os trs biografia, histria e sociedade pontos coordenados do estudo adequado do homem (...). Os problemas de nosso tempo que incluem o problema da natureza mesma do homem no podem ser formulados adequadamente sem aceitarmos na prtica a opinio de que a histria a medula do estudo social, e reconhecermos a necessidade de desenvolver mais uma psicologia do homem que seja sociologicamente fundamentada e historicamente relevante. Sem o uso da histria e sem o sentido histrico das questes psicolgicas, o cientista social no pode, adequadamente, formular os tipos de problemas que devem ser, agora, os pontos cardeais de seus estudos (MILLS, 1969).
Em A Prosopografia ou Biografia Coletiva: balano e perspectivas, de
Christophe Charle, o estudo de elites se faz pela comparao de biografias e destaque de
caractersticas comuns entre os analisados: define-se um grupo a ser estudado, a partir de
alguns critrios, e se constri um questionrio biogrfico onde as perguntas sero usadas para
estabelecer as dinmicas que fizeram estes personagens pertencentes a alguma elite. A partir
desse mtodo, define-se um grupo a ser estudado, a partir de alguns critrios, e se constri um
questionrio biogrfico onde as perguntas sero usadas para estabelecer as dinmicas que
fizeram estes personagens pertencentes a algum grupo de Elite. Com o auxlio dos trabalhos
lidos, pode-se entender os mtodos de estudo de recrutamento de elites, usados aqui, por duas
linhas: a biografia isolada e a biografia comparada. Das duas formas os meios de ascenso
profissional so reconhecidos pela noo dos capitais necessrios para o sucesso. Foi
escolhido o mtodo da biografia comparada, por ser esta a maneira em que os elementos em
comum na trajetria profissional so mais facilmente percebidos.
Para a explorao da anlise com Elites, usado, comumente, o mtodo
biogrfico de pesquisa, onde so buscados os principais profissionais expoentes das reas
relacionadas pesquisa captando os elementos das histrias de vida e trajetria profissionais
dos agentes, sistematizando estas pesquisas de forma a estabelecer uma comparao entre o
que foi comparado ou procurando individualmente aspectos que tenham sido relevantes para a
formao como elite. Numa abordagem durkheimiana, os elementos que compem tanto a
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22histria de vida como o trajeto profissional tecem a personalidade e fornecem bagagem
estrutural para a formao do indivduo, ou seja, aquilo que se aprende ou que se passou d
subsdio para as melhores aptides sociais dos agentes. Em outra mais weberiana esse
conjunto de experincias vividas constroem os valores e os sentidos do sujeito em sociedade,
fazendo dele mais ou menos propenso a determinadas condies.
Para melhor assimilao do pesquisador com a maior quantidade de
informaes sobre os aspectos importantes para o estabelecimento do trabalho acerca da
histria e trajetria6 do indivduo, recomendado o uso de entrevistas pessoais com cada
agente a ser estudado. Dessa forma torna-se mais gil o entendimento do estudioso, visto que
as questes podem ser esclarecidas no momento de sua coleta. Porm esse mtodo deve ser
usado com certa cautela, pois a imagem que o entrevistado fornece de si pode no ser a
correta ou a mais imparcial, tanto porque o indivduo no reconhece a imparcialidade
completa para falar de si mesmo, e a boa imagem fator crucial para sua afirmao como
elite em sua rea. Pela satisfao com a pesquisa, deve-se buscar outras fontes de informao,
outros currculos profissionais e meios de procura. A elaborao de questionrios, enviados
aos agentes, outra forma de obteno de informao de onde e retiram perguntas essenciais
para o encaixe do mosaico das caractersticas das lideranas.
A escolha da empresa foi feita com base na colocao da mesma no ranking e
nos estudos sobre internacionalizao de empresas no Brasil, como o realizado pela Fundao
Dom Cabral j citado neste trabalho anteriormente. A histria do Grupo, fortemente ligada
famlia Gerdau Johannpeter, e os excelentes nmeros de sucesso dos negcios motivaram o
uso do Grupo Gerdau em detrimento de outras companhias. Antes dessa escolha, empresas
como a Vale, a Petrobrs, a Marcopolo e outras, estiveram nas intenes de pesquisa, porque
tambm figuravam em boas colocaes no rankings de estudos sobre a rea (FUNDAO
DOM CABRAL, 2012), porm considerou-se a Gerdau como o melhor modelo para o estudo
por causa da transferncia de cargos de gerncia entre herdeiros e gerentes profissionais.
A Gerdau uma empresa de controle familiar gerida profissionalmente. Essa
conjugao de fatores permitiu a conservao de um rico aprendizado, acumulado e partilhado
em quatro geraes de comando, nas quais os processos se modernizaram continuamente,
graas construo e manuteno de uma cultura empresarial vigorosa, que atua como fora
propulsora do crescimento e da expanso do grupo (GERDAU, 2001).
6 Para melhor entendimento sobre o estudos de trajetrias de elites polticas, ver GRYNSZPAN, M. Os idiomas da patronagem: um estudo da trajetria de Tenrio Cavalcanti. In: Revista Brasileira de Cincias Sociais, n 14, ano 5, out./1990
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Para isso, a dissertao contou com a pesquisa das trajetrias dos executivos do
Grupo Gerdau dos anos de 1980, 1985, 1991, 2001, 2006 e 20017. Os nomes dos executivos,
escolhidos entre Conselheiros e Diretores, foram coletados dos relatrios anuais da empresa8
ou solicitados ao Centro de Documentao do Grupo Gerdau. Os dados de 1995, que
deveriam ser inseridos nessa abordagem pela lgica temporal do intervalo de cinco anos, no
foram fornecidos pela empresa. Foram observadas as duzentos e oitenta posies da diretoria
e Conselhos Administrativo e Executivo nos anos citados. Com os nomes dos atores, uma
pesquisa minuciosa foi realizada usando as redes sociais da rede mundial de computadores,
Linked In9 e Facebook10, alm de outras fontes encontradas pelo stio de busca Google, que
direcionou a pesquisa para outros stios, como blogs e pginas institucionais de empresas. De
todos os profissionais encontrados, cento e vinte e seis executivos apareceram mais de uma
vez nos cargos procurados, para a pesquisa ficaram, portanto, cento e cinqenta e quatro
nomes para busca de currculo. Os dados mais interessantes para o trabalho so o tipo de
formao acadmica, a trajetria profissional e o tipo de experincia internacional acadmica
ou profissional. Com essas informaes, foi possvel entender as mudanas dos perfis
profissionais dos gestores nos perodos selecionados. Aqui, para facilitar a apresentao,
criaram-se quadros exemplificadores dos perfis mdios a seguir, com minibiografias
elaboradas pela autora.
7 Ver apndice. 8 Os ltimos anos foram consultados em http://ri.gerdau.com/ptb/s-36-ptb.html?idioma=ptb. Para os anos de 1980, 1985 e 1991, os dados foram fornecidos pela empresa em 2012. 9 O stio uma rede social que rene os resumos de currculos de profissionais de todas as reas para a manuteno virtual dos relacionamentos entre colegas para network. Para mais: http://www.linkedin.com/. 10 Facebook uma rede mundial de relacionamentos sociais virtuais, largamente utilizada no Brasil. Para mais: www.facebook.com.
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1 O ESTUDO DE ORGANIZAES EMPRESARIAIS SOB O AMPARO
DA SOCIOLOGIA ECONMICA E A TEORIA DAS ORGANIZAES
A quantidade de recursos econmicos que so movimentados globalmente no
final do sculo XX e incio do sculo XXI evidencia a grande transformao na estrutura
social, de modo que a economia um fator de relevncia na vida cotidiana. O papel central
que o dinheiro tomou na sociedade desse perodo mostra que o capitalismo tem evoludo de
maneira rpida desde meados do sculo XIX, e se configura, agora, de outra forma, como um
novo capitalismo. A financeirizao econmica, caracterizada pela movimentao dos
mercados a partir de aes, que vai modificar todo o espao empresarial, denuncia essa
transformao; investidores so agora a pea mais importante na tomada de decises e na
influncia da situao econmica nacional e internacional. Atravs disso, ocorre a
resignificao do trabalho, da posio do Estado, frente ao novo contexto, e da sociedade. As
elites, em suas diversas apresentaes, so reconfiguradas, acompanhando o movimento de
financeirizao (JARDIM, 2011). sobre essa abordagem que se debrua a sociologia
econmica, buscando trazer a contribuio que relaciona o social e o econmico. O papel do
Estado participa ativamente, interferindo como regulador. Os trabalhadores, profissionais, as
organizaes, a condio social das populaes, so os espaos aonde a economia exerce
influncia direta. O trabalho da sociologia econmica reside na observao dessas relaes.
A sociologia econmica pode ser definida de modo conciso como a aplicao
de idias, conceitos e mtodos sociolgicos aos fenmenos econmicos mercados, lojas,
sindicatos, e assim por diante (SWEDBERG, 2004, p. 7). A sociologia econmica tem sua
gnese desde Weber, em que os fenmenos econmicos influenciam a sociedade, sua
organizao atravs da forma como os indivduos tomam aes baseados na estrutura da
economia e como a mesma sociedade influencia os condicionantes econmicos11. O sistema
capitalista tem criado maiores oportunidades para mais pessoas do que qualquer outro sistema
em toda a histria. por isso que a construo desse sistema econmico fortemente
fundamentada pela estrutura social e as instituies existentes nos pases. Essa deve ser a base
para a formao de uma sociologia de mercados, onde a dinmica econmica, social e poltica
so vistas a partir de sua interligao.
11 Para mais sobre institucionalismo e sociologa econmica ver em HIRSCH, P.; STUART, M.; FRIEDMAN, R. Mos sujas versus modelos limpos: Estar a sociologia em risco de ser seduzida pela economia? In: MARQUES R.; PEIXOTO J. (Org.). A Nova Sociologia Econmica: uma antologia. Oeiras: Celta Editora, 2003. 125-165.
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Fligstein (2002) justifica a necessidade de estudos que analisam mercados
dentro da rea da sociologia. Sociedade de mercado aqui entendida como sistema de troca
social, argumento que sustenta a importncia do neo-institucionalismo incorporar
instituies de mercado para explicaes sociolgicas. Por serem aspectos da vida social,
mercados so resultados da histria e se desenvolvem atravs do tempo buscando maior
eficincia e menor custo, assim se diversificando, criando alternativas e forando os Estados a
criarem leis e regras para sua regulao. Fligstein define: Sociologia Econmica o estudo
de como a produo material e o consumo dependem de processos sociais para sua
estruturao e dinmica (FLIGSTEIN, 2002 p.6), e como uma interpretao sobre o que se
tem escrito nessa rea, estabelece a abordagem dada pelos acadmicos da rea. Segundo a
sociologia, os mercados so produzidos pela estrutura social, a forma como sero e as
relaes sociais que envolvem esto diretamente relacionados s estruturas sociais
anteriores12.
Para o funcionamento de mercados e empresas necessrio que exista um
suporte legal e social, uma rede que possibilite relaes entre produtores, fornecedores,
consumidores e Estado. Essa cadeia de relaes s possvel dentro de condies sociais pr-
estabelecidas, uma estrutura social coesa que fornea subsdios simblicos, cognitivos, para a
produo desse sistema. Para que esse crculo de processos funcione corretamente o Estado
surge como regulador propondo leis e gerindo instituies de apoio ao mercado.
Outro ponto de grande importncia para a criao, emergncia e estabilidade
a cultura local. O autor tem uma viso institucionalista e entende firmas e pontos de vista
(compreenses e entendimentos do mundo) como instituies. As transformaes sociais s
ocorrem atravs das instituies que influenciam, produzem e propem alternativas para
mudanas. De certa forma, podemos entender que instituies sociais produzem elementos
cognitivos que tm a funo estruturante e, por sua vez, estabelecem regras. Os
entendimentos colocados aqui so chamados de CONCEPES DE CONTROLE
(Conception of Control) por Fligstein (2002). Os arranjos institucionais so as regras e leis
informais e formais que determinam a forma como se do as relaes sociais. Os mercados
esto em constante mudana e competio, em busca de estabilidade. A estrutura de mercado
resultado da influncia de trs direes, o Estado que estipula regras para seu funcionamento
12 O Antroplogo Lvi-Strauss possui toda uma teoria sobre estruturas estruturantes, que defende a idia de que estruturas sociais so resultado de estruturas anteirores, que se renovam e se modificam atravs do tempo se reestruturando formando novas relaes e regras sociais.
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26e intervm quando necessrio, as regras produzidas pelas firmas e pelos empreendedores, e
pelas instituies e outros mercados (FLIGSTEIN, 2002).
Mercado, aqui, considerado como campo13 porque est em constante
mudana e h a competio entre os atores. Entendendo que h a alternncia de lideranas,
quais as firmas determinam regras, podemos perceber que o autor aceita a abordagem da
teoria elitista14 tambm para explicar a dinmica do campo. Os lderes definem qual o tipo de
estabilidade funciona em determinados espaos, por consequncia outras firmas so
introduzidas no mesmo esquema, a partir do entendimento das regras definidas pelas
lideranas, buscando competio. Quando ocorre a saturao de produtos h a diversificao
natural, a procura de alternativas para que firmas no saiam do jogo, criando novos mercados.
Na formao de mercados, instituies e estruturas sociais so responsveis por sustentar os
diferentes tipos de mercado, diferentes atores exercem fora sobre a atuao de determinadas
polticas que requerem intervenes econmicas da mesma forma determinadas. De acordo
com o modelo de Estado onde esses atores so dominantes sobre a estrutura, as polticas e as
instituies so voltadas para determinados interesses. Dessa forma os atores tm papel
fundamental na construo da economia local e proporciona caminhos diferentes nas
proposies de polticas e entendimentos entre eles. Usando exemplos reais o autor consegue
comprovar esses modelos, usando os modelos dos Estados Unidos, Escandinvia, Alemanha e
Frana.
Os estudos que envolvem a rea da Sociologia Econmica so considerados
aqui, sendo citados alguns autores importantes e suas teorias so levadas em conta. A
contribuio de Fligstein analisar a troca econmica como um campo:
The basic insight is to consider structured exchange as a field. The social structure of a field is a cultural construction whereby dominant and dominated coexist under a set of understandings about what makes one set of organizations dominant () To apply the theory of fields to markets, one must focus on the behaviors of organizations that produce the goods or services in the market. The incumbent firms are defined as those who dominate the field by being big, defining the product, and undertaking moves to reproduce their position vis--vis smaller, challenger firms.
13 A referncia terica para compreender o conceito de campo usado por Figstein aqui pode ser encontrada em BOURDIEU, P. O Poder Simblico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992. 14H hoje uma bibliografia de base bastante interessante que ampara os estudos na rea de Teoria das Elites. Bottomore explica a idia nos trs principais tericos do conceito, Mosca, Pareto e Mitchels. Bottomore define Elite de duas maneiras, uma que separa de toda populao os mais bem sucedidos como Elite: Suponhamos que em todos os ramos de atividade humana seja atribudo a cada indivduo um ndice que represente um sinal de sua capacidade, de maneira semelhante quela pela qual se conferem notas escolares. (...) Reunamos, pois, em uma categoria, as pessoas que possuem os ndices mais altos em seus ramos de atividade, e a essa categoria daremos o nome de elite (p. 08). De outra que a separa entre aqueles que tm influncia sobre o governo e aqueles que so inferiores. A ele a define como aqueles que tm poder. Na lngua inglesa o primeiro uso conhecido de elite, de acordo com o Oxford English Dictionary, data de 1823, quando j era aplicado para referir-se a grupos sociais. In.BOTTOMORE, T. B. As elites e a sociedade. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1974, p.7.
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The basic idea is that the price mechanism in a given market () tends to desestabilize all firms in a market. This is because it encourages all firms to undercut the prices of other firms, and this threatens the financial stability of firms (FLIGSTEIN, 2002, p. 68).
Ou seja, a estrutura de campo uma onstruo social onde dominante e dominados
coexistem sobre entendimentos sobre o que fazem as organizaes lderes, e que para aplicar
a teoria de campo a mercados, podemos dar maior enfoque nos comportamentos das
organizaes que produzem mais. As responsabilidades das firmas so definidas por quem
domina o campo buscando crescimento, definindo a produo e tomando aes para manter
sua posio desafiando outras empresas. A idia bsica que o mecanismo de preo em
determinado mercado tende a desestabilizar as outras firmas desse mercado, isso porque todas
as firmas devero cortar preos e isso desestabiliza o sistema financeiro de firmas como um
todo.
H trs concepes de sistema de empregabilidade: Managerialism (por
gerencialismo), Vocationalism (por vocao) e Professionalism (por profissionalismo).
Managerialism a lgica de entrada no mercado onde o ator busca crescimento profissional e
orienta sua tomada de decises pela estrutura e conceitos da prpria empresa em que se
insere. Os entendimentos sobre o mercado so dados pela firma e este tipo de ator assume os
conceitos da empresa como sua viso de mundo sobre o mercado, procurando fazer sua
carreira dentro da estrutura da mesma firma. Na lgica do Professionalism, o ator d maior
valor educao como forma de apreender o funcionamento de mercado. A importncia dada
busca de aprimoramento atravs de institutos de ensino estabelece uma estrutura
diferenciada na relao entre o mercado e as escolas, sendo influenciados esses institutos e o
mercado reciprocamente. Vocationalism produzido por organizaes fortes de trabalhadores,
e focado na produo ocupacional de carreiras. Esses tipos ideais15 se misturam e o contexto
histrico permite a predominncia de uma ou outra lgica. Comprovaes da existncia real
desses modelos so encontradas em diversos pases, como na Alemanha com o vocationalism,
nos Estados Unidos com uma mistura de managerialism e professionalism, na Frana com o
professionalism e Japo com o managerialism. Pode ser visto que a dominncia de
determinados atores na construo do Estado favorece a aplicao de um ou outro modelo
majoritrio de tipo de empregabilidade; onde firmas so fortes, o managerialism maior
15 Tipo ideal uma ferramenta metodolgica desenvolvida por Max Weber, onde estabelece modelos idealizados para comparar com a realidade no posicionamento dos individuos no contexto. Ver em WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos de sociologia compreensiva. Braslia, DF: Editora Universidade de Braslia: So Paulo, 2000.
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28tendncia; onde trabalhadores so fortes perante o Estado h maior vocationalism
(FLIGSTEIN, 2002).
Existem grandes diferenas entre estudos sobre mercado feitos por socilogos e esses
mesmos estudos feitos por economistas. Socilogos esto preocupados em compreender de
onde surgem os mercados, o que os influencia e que influencia tm, por sua vez, sobre a
sociedade. Economistas se preocupam com eficincia, estabilidade e produo. H
divergncias tambm com relao a mtodos. Neil Fligstein faz a crtica sobre os estudos
feitos por economistas e socilogos usando dados complexos.
There has been a lot of interest in creating a sociology of markets I the recent literature, and much of that discussion has focused, and I believe rightly so, on the problem of social embeddedness. The theoretical dificulty is deciding what that embeddedness consists of. The results presented here suggest two things. First, organizational and not financial or ownership embeddedness is likely to be a more important cause os actions of firms than anything else in the case of United States. This means effort should concentrate on especifying models of the relations between firms that focus on intra and interorganizational processes, soch as the construction of strategic action and cultural frames by which such construction makes sense. Second, the type of embeddedness we choose should be relevant to the problem. The connections between firms, banks, owner, and managers just does not significantly predict much that is interesting in the strategic choices of firms; and therefore we should theoretically focus on what does. The concentration upon the board of directors as a source of network data in general and financial linkages across boards of directors in particular should be abandoned unless one can theoretically specify why they might be relevant () More relevant network data would focus on how firms obtain knowledge of competitors (trade publications, associations, meetings, and market research) and how they filter their use of that information (FLIGSTEIN, 2002, p. 145)
Isto , tem sido muito interessante a criao da sociologia de mercados na
literatura recente e muito dessa discusso focada na questo social. A dificuldade terica
decidir em que essa questo consiste. O resultado apresentado sugere dois caminhos.
Primeiro, a causa mais importante das aes das firmas, no caso dos Estados Unidos, est
mais diretamente ligada a fatores no financeiros ou ligados a decises de proprietrios.
Segundo, o tipo de aprofundamento que escolhemos deve ser o mais importante no problema.
O mais importante como dado para as empresas entender como os competidores obtm
conhecimento e como usam essas informaes.
Para explicar o conceito do pensamento emergente das firmas, o autor faz uma
recapitulao histrica da organizao de empresas durante o sculo XX. O surgimento de
cartis passa a ser neste perodo importante para obter maior poder de competio. Os cartis
foram proibidos e essas firmas foram falncia. A tentativa seguinte foi a formao de
oligoplios capazes de concentrar em poucas firmas muitas indstrias, processo iniciado na
dcada de 1890. Posteriormente, surge a manufatura como lgica dominante de produo na
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29dcada de 1920. Junto com os oligoplios nasce a concepo financeira de controle de
mercado em meados de 1960. Em 1980 passa-se a pensar em grandes corporaes, na
disseminao do pensamento empresarial para legitimar a fora das grandes firmas. A gesto
passa a ser moldada de acordo com a cultura de atores e na estrutura social na qual se inserem.
Duas teorias sociolgicas tentam explicar a divulgao de novos valores durante os anos
1980: a expanso do controle sobre firmas por bancos e investidores torna as firmas
vulnerveis manipulao financeira, e outra diz que a dominao de CEO financeiros nas
grandes empresas, o compartilhamento de concepes de controle no comportamento de
competidores e a diversificao de firmas pode ter afetado a estrutura de firmas e suas formas
de pensar o negcio. A hiptese que Fligstein usa para explicar as transformaes nas
empresas durante o sculo XX que a influncia do controle do sistema financeiro sobre as
empresas forou os gerentes a seguirem um pensamento dominante de gesto, criando atores
que, compreendendo essa influncia e assimilando novas tcnicas, puderem se destacar dentro
desse cenrio. A concepo de controle financeira est focada em trs mecanismos. Primeiro
na presena e orientao de um CEO que possua o entendimento sobre a concepo
financeira. Segundo, em firmas que no tm a orientao de um CEO h a tendncia de uma
nova organizao financeira se outras firmas tambm se dispuserem a isso. Terceiro, a
diversificao de produtos nas firmas tambm sugere que as empresas tenham seguida a
lgica financeira como a melhor concepo de controle, isso porque aumentar a quantidade de
produtos dentro de uma mesma firma torna seus produtos populares (FLIGSTEIN, 2002). Os
anos 1980 refletem o nascimento do pensamento dominante da concepo de controle vinda
do posicionamento de acionistas para as grandes corporaes norteamericanas. Os CEOs
observaram esse novo ponto de vista e passaram adiante em suas firmas. Firmas
diversificaram produtos assim como remodelaram as estruturas empresariais.
Estruturas de governo definem como ser a organizao interna nas firmas e
sua relao com competidores, fornecedores, consumidores e Estado. Algumas teorias
trabalham com a relao ntima entre empresas e Estado, porm h diferenas significantes
entre elas. Economistas esto focados na eficincia e nos ganhos das empresas enquanto
socilogos procuram estabelecer maior relao das empresas com o social, a poltica e cultura.
A literatura que trata das organizaes pode ser dividida em trs: as que trabalham com
relaes entre gerncia e trabalhadores; aquelas que lidam com a separao entre o controle
de empresas e os donos delas; e as que trabalham sobre o trabalho nos diferentes nveis da
hierarquia empresarial.
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Esses estudos mostram frequentemente que no h nenhuma prova de
convergncia mundial a qualquer modelo comum de relao entre Estado e sistema
financeiro. A maior evidncia de que no h um mercado mundial conciso do qual d conta
uma concepo de controle coesa. Direitos de propriedade e estruturas de governana esto
submetidos ao controle do governo e elites locais. As teorias de organizaes tm sido mais
comum nas explicaes de eventos especficos de governos locais. Essa uma diviso
funcional da academia, pesquisadores esto mais focados em determinadas sociedades,
prximas a eles, porque no tm conhecimento suficiente sobre outras sociedades.
Consequentemente, no h uma teoria que tenha sido testada em um largo nmero de culturas.
O sculo XX foi marcado pelas inovaes em tecnologias e a consequente abertura de
mercados. As empresas que se especializam em inovaes alcanam posio de dominncia
em relao s outras e, se matm a atualizao de suas tecnologias, conseguem se manter
estveis como lderes de mercado. Essas so as concepes de controle que vo construir os
mercados estveis. As universidades tm papel importante nesse processo com a produo de
pesquisas, financiadas pelos governos. O suporte para a estabilizao de mercados vem
tambm de leis criadas pelo Estado para apoiar aes das empresas (FLIGSTEIN, 2002).
As polticas de Estado so as maiores responsveis pela produo de regras e
instituies, onde so baseadas as aes das empresas em torno de mercados. Direitos de
propriedade, estruturas de governana, concepes de controle e regras de troca so conceitos
usados por Fligstein para explicar instituies, influenciadas diretamente ou indiretamente,
moldadas pelos governos em direo de uma poltica de Estado norteadora dos rumos de
economias nacionais. Os modelos de Estado esto intimamente ligados com a estrutura
econmica de um pas, as leis produzidas so as regras do jogo dos mercados nacionais.
Intervenes nas relaes de trabalho tambm influenciam na formao da estrutura
empresarial nacional.
Pensar em globalizao nesse contexto parece difcil, conceber que empresas
muito grandes podem adentrar em diversos e diferentes pases, com culturas, instituies,
entendimentos e estilos diferentes.
Esse novo olhar sobre a sociedade, acompanhado dos aspectos econmicos,
trazido pela Sociologia Econmica, um avano no pensamento da esquerda principalmente
na Frana e Estados Unidos, onde mais difundida. At o pensamento de esquerda deixa de
trabalhar somente a crtica ao capitalismo e o enxerga como um componente da estrutura
social atravs da economia nos ltimos trinta anos (SWEDBERG, 2004). Descobre-se assim
um capitalismo regenerado, que se renova e se reconstri sobre as antigas bases, e uma
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31sociedade degradada pelas relaes econmicas e de trabalho, que no conseguem consertar
os problemas antigos e redescobrem novos obstculos (BOLTANSKI, 2009).
Em meados da dcada de 1990, os financistas recobram uma liberdade de ao
que no tinham desde a crise de 1929. Nessa fase as aplicaes ocorrem com maior peso no
mercado financeiro do que na indstria, incentivando e impulsionando uma reestruturao das
empresas, principalmente as de capital aberto. Os governos so requisitados para
estabelecerem polticas de apoio a esse movimento e facilitar a expanso em fuses de
empresas, no sentido, inclusive, de expanso internacional. Em matria de salrios e
condies trabalhistas, os governos tambm so solicitados para regulamentar a flexibilizao
do trabalho que surge das necessidades do rearranjo organizacional que sofreram as empresas,
direta ou indiretamente. Todas as instituies que se beneficiam do mundo do trabalho so
atingidas por essas mudanas, como as famlias (o desemprego e o mercado de trabalho
feminino aumentaram significativamente) ou as instituies de ensino. Esse reflexo se
observa sobre os diplomas, que j no tm o mesmo valor (BOLTANSKI; CHIAPELLO,
2009).
A percepo de certas categorias profissionais sobre seu prprio campo de
atuao busca, de certa forma, se adaptar aos novos tempos e sugere transformaes internas
de formao e de expertises, criando discursos ideolgicos de legitimao. No espao da
gesto, que envolve profissionais com formaes acadmicas variadas, inclusive
administradores, engenheiros, economistas e outros atores sem diploma ou formados em
outras reas, existe uma literatura prpria desses atores, bem como uma linguagem prpria16.
Na criao de princpios de legitimao, so determinados entendimentos internos da rea de
forma normativa, conhecimentos e linguagem prprios que os distinguem, porque se
reconhecem assimilando melhor a linguagem. A compreenso da linguagem ideolgica
convertida em capital e garante alcanar uma colocao no campo da elite na rea
(BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009). Em Boltanski:
No de surpreender que os executivos tenham reconhecido suas prprias aspiraes nesse elogio profisso e competncia (contra a legitimidade do patrimnio, que era referncia do Primeiro Esprito do Capitalismo), bem como na importncia atribuda educao. O Segundo Esprito do Capitalismo, portanto, encontra sua expresso mais natural na literatura de gesto empresarial (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009, p. 85).
16 Para ver mais sobre formao de administradores, ver em: JULIAN, E. A. Padres de insero profissional de docncia em Administrao no Brasil: Internacionalizao como construo de capital. In: Encontro Anual da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais, no. 35, 2011, Caxamb, Minas gerais. Resumos do 35 Encontro Anual da ANPOCS, Caxamb, 24 a 28 de outubo de 2011, p. 176.
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32
Assim, a ideologia dominante homogeneza os discursos, criando uma
literatura de gesto que rege, de certa forma, a maneira como so geridas empresas e como
so formados os gestores.
Segundo Boltanski e Chiapello (2009), em trinta anos o discurso e prtica do
ambiente empresarial sofreu mudanas profundas em conformidade com a prpria mudana
do capitalismo, que segue na dcada de 1990 com fora voltada para os mercados financeiros,
flexibilizao do trabalho, autonomia e modelo de organizao das grandes empresas em
redes, esquemas contrapostos ao que ocorria na dcada de 1960, onde os empresrios se
pautam na meritocracia, hierarquia, administrao por objetivos.
A literatura da gesto empresarial dos anos 1990 contm ideais, propostas de organizao humana. Modos de ordenamento dos objetos e formas de garantia que so da natureza to diferente daquilo que se encontra na literatura de gesto empresarial dos anos 1960 que difcil no reconhecer que o capitalismo mudou muito de esprito ao longo dos ltimos trinta anos, ainda que a configurao no possua a fora mobilizadora qual a figura anterior conseguiria chegar, pelo fato de estar no plano da justia e das garantias (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009, p. 84). Na literatura citada por estes autores pode-se perceber texto o que se tem transformado acerca da gesto nos anos 90 em contraposio ao pensamento da dcada de 60. Essa diferena tem reflexo nas transformaes do ensino em administrao ao longo do tempo, porque se a h uma influncia normativa da literatura produzida no comportamento dos profissionais da administrao de empresas (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009, p. 129).
Com Donadone (2004), v-se que a comparao entre perodos favorece a
percepo das mudanas ocorridas na rea da gesto no Brasil. Na virada do sculo XIX ao
XX, a estrutura das firmas era baseada na propriedade, do maquinrio, da terra, geralmente
familiar e imigrante. No existiam preocupaes com questes relativas produo, havia
desperdcio, falta de estrutura, ausncia de cuidados com os trabalhadores, etc. A carncia de
qualquer espcie de melhoria caracteriza a empresa da poca juntamente com o personalismo
do dono. Num segundo momento, entre 1910 e 1940, aproximadamente, a concepo de
controle do negcio muda. Os proprietrios portam-se mais como engenheiros e a empresa se
racionaliza. A manufatura atinge outros patamares de produtividade e busca-se minimizar
custos. A a burocracia valorizada embora o personalismo continue forte e a hierarquia ainda
ressaltada. Quem manda so os engenheiros que conhecem o processo e ocorre a revoluo
gerencial, onde o gerente toma o lugar do dono nas decises. A produo caracterizada pela
repetio e padronizao.
No perodo compreendido entre as dcadas de 1940 e 1970, ocorre a
reestruturao organizacional voltada para a maximizao das vendas. Os administradores so
os novos gerentes e a organizao da empresa passa a contar com a separao funcional entre
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33diretoria, projetos, finanas, e outras reas. Surge o marketing e a necessidade de criar
diversificaes no negcio, diferenciao de produtos e a busca de novos clientes. Depois da
crise de 1929, as firmas perceberam a importncia de inovar em seus produtos e, depois da
Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos foram precursores no desenvolvimento de novos
nichos de mercado. O custo no importava tanto: na briga pela concorrncia, o produto final
torna-se o principal da cadeia produtiva para conquistar o cliente e vender mais (FLIGSTEIN,
1990).
De 1970 em diante, o pensamento empresarial passa a se focar na concepo
financeira do negcio. Os donos deixam de serem grupos fechados ou famlias e passam a ser
acionistas, investidores. As decises concernentes direo das empresas, aqui, so tomadas
pelos conselhos executivos, diretores e administrativos, perdendo o carter personalista dos
donos por completo, na configurao das empresas de capital aberto. As holdings aparecem
como mais uma reestruturao organizacional, adequando as estruturas corporativas ao
sistema financeiro. A busca pela maior produtividade e rentabilidade do negcio (claramente
para maior captao de investidores pela garantia de lucro), impulsiona as organizaes a
realizarem fuses, aquisies, fecharem setores dentro das firmas, abrirem outros, na escolha
de ativos mais rentveis. A existncia de outras empresas fortalece o mercado porque fora,
na concorrncia, a melhoria produtiva e de rendimentos17 (DONADONE, 2011).
Definimos decises de governana corporativa como aqueles momentos em
que os diretores do conselho administrativo encaram uma real oportunidade para consignar
alguns recursos da empresa em um ou outro curso, a favor de seus objetivos (USEEM,
2011). Os diretores podem se envolver em quatro reas na tomada de deciso, de acordo com
Useem: a gesto monitorada, onde os executivos se portam como supervisores dos gerentes
para o benefcio dos acionistas; de outra forma podem ser a parceria de gesto, em que os
conselheiros apiam as decises dos altos executivos, visando melhorias para a empresa;
legitimao da gesto, quando os diretores tm visibilidade no mercado dando diretoria da
empresa determinadas caractersticas, para tranqilizar os investidores das diversas formas;
Controle de gesto, onde a diretoria fiscalizada por agentes externos, como o governo ou um
partido, por exemplo; controlados pela gesto, os diretores no tomam decises importantes.
O aumento da concorrncia entre empresas e a necessidade de maximizar rentabilidade teve
por efeito a formao de holdings empresariais, formao em que uma estrutura diretiva atua
17 Essa linha de raciocnio foi sugerida durante as aulas do Professor, e orientador desse trabalho, Jlio Cesar Donadone, durante a disciplina de Tpicos Aprofundados em Teoria das Organizaes, ministrada no segundo semestre de 2011, na Universidade Federal de So Carlos, pelo Departamento de Engenharia de Produo.
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34para um grupo de empresas a partir de fuses e aquisies de outras empresas. Essa estrutura
permite que as decises tomadas sejam impessoais, descentralizando a responsabilidade pelos
rumos do negcio (DONADONE, 2004).
O processo de desenvolvimento da empresa capitalista moderna apresenta-se
como resultado da profissionalizao de atores, responsveis em fazer com que a direo das
firmas acompanhe o contexto capitalista mundial em crescimento. A substituio dos cargos
de direo dos donos para os gerentes profissionais, ocorrida aps a Segunda Guerra
Mundial, tratada como a Revoluo dos Gerentes por Grn (1990).
Ao se instalarem no Brasil, as grandes corporaes multinacionais trouxeram, alm do capital econmico e know-how especifico da atividade de cada uma, uma nova tecnologia organizacional que se difunde rapidamente no nosso tecido econmico estendendo sua lgica para um espao muito mais amplo do que a rea de atrao direta daquelas empresas (). Nessa nova situao, os conhecimentos difundidos pelas universidades iro se transformando em uma espcie de acumulao prvia de competncias a ser potenciadas pelos rgos de treinamento internos das empresas e com esta ambiguidade, alimentar os sentimentos anti-intelectuais sempre presentes em parcelas da nossa pequena burguesia (). O novo arbitrrio cultural ou numa formulao mais neutra, o novo estilo organizacional entra no Brasil atravs das multinacionais, mas ganha fora rapidamente o setor oligopolstico privado nacional, ento em formao, espraiando-se pelas empresas pblicas de administrao indireta. A sua forca simblica to grande, que ele penetra tambm na administrao direta do Estado e nas pequenas e medias empresas, onde claramente o figurino no encaixa no corpo a ser vestido (GRUN, 1990 p. 90).
Depois da dcada de 1980, novas tecnologias de gesto so incorporadas s
firmas modernas no Brasil. Como resposta recesso econmica buscam-se mercados
externos na tentativa de aumentar ganhos. Nesse perodo surgem inovaes gerenciais,
conceitos e idias, para auxiliar a produo e aumentar a competitividade (DONADONE,
2002). No limite, quem decide por acrescentar novas ferramentas no ambiente organizacional
das empresas so os diretores e conselhos, amparados pelas preferncias dos acionistas e
investidores. Esse carter de poder que estes atores exerce sobre o espao de gesto os coloca
em outro patamar dentro do seu campo profissional, so assim considerados a elite da gesto
porque determinam conceitos e linguagem a serem utilizados pelos demais gestores.
Conforme a velocidade como tm ocorrido as transformaes no mundo empresarial como
um todo, obviamente causada em grande parte pela facilidade no acesso comunicao e
informaes que se encontra atualmente, essa elite se renova com maior rapidez, adquirindo
novos conhecimentos em intervalos de tempo cada vez menores. A diferena entre os atores
em comparao no tempo, no mesmo campo h vinte, quinze anos atrs, muito grande. A
reconfigurao constante e a construo da elite em gesto no mundo permanente,
incluindo entradas e sadas de atores que no alcanam essa adaptao.
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Agora que est introduzido o debate sobre elites nesse espao, falta
observarmos o que elite. Uma boa definio encontra-se quando Donadone a define usando
outros autores. afirmado que elites so grupos que exercem poder, evitando usar o conceito
para a qualificao de qualquer outro grupo social, ou seja, grupos de pessoas que ocupam
posies de maio poder em estruturas de DOMINAO. Essa dominao deve ser exercida
dentro de campos especficos. Segundo Donadone explicando Bourdieu: campo consiste de
um conjunto de prticas interligadas por interessses e preocupaes comuns, e de um
entendimento das regras do jogo, das quais participantes esto cientes e s quais se
submetem (DONADONE, 2011).
As conseqncias para o processo descrito so variadas dentro dos cenrios
internos de cada pas tanto queles que recebem capital estrangeiro, ou que permitem a
entrada de produtos estrangeiros, quanto queles que buscam novos horizontes atravs de seus
representantes econmicos. Assim, as mudanas estruturais a mdio e longo prazo podem ser
verificadas nas sociedades em mbitos diferentes. A formao de profissionais preparados
para pertencer ao grupo de comando de empresas internacionalizadas um dos pontos que
podem ser mencionados como em transformao para se adequar aos novos padres de
exigncia profissional. Aqui se buscar entender como pode ter ocorrido a mudana de perfil
dos gerentes de uma grande empresa brasileira, a Gerdau S. A. Neste trabalho, ser dada
ateno aos profissionais que participam desse processo, quais as competncias que so
comuns aos agentes responsveis pelas tomadas de deciso das firmas, procurando observar
em especial os estudos realizados fora do pas. Assim, poder ser reconhecido o peso dessa
modalidade de estudo sobre a seleo pelas empresas transnacionais, verificando a
importncia de conhecimentos internacionais para a composio da gerncia, e se este
elemento um diferencial dos profissionais que participam da gesto das grandes empresas
transnacionais. Entende-se Internacionalizao de Empresas, ou de Negcios, como toda
operao econmica com capitais ou mercados estrangeiros, como investimentos diretos
aquisies, fuses, joint venture ou estruturao de plantas em pas estrangeiro e
investimentos indiretos compra de aes e exportaes.
Neste trabalho, entende-se que a assimilao de entendimentos
internacionalizados auxilia aos atores entrar ao patamar de elite dentro do campo da gesto no
Brasil, uma vez que esses atores incorporam linguagens e comportamentos inovadores,
passando a serem vistos como tradutores de conhecimentos estrangeiros para dentro do
espao brasileiro. A imigrao de profissionais foi descrita por Wagner (1998).
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Muitas pesquisas so feitas sobre a imigrao particularizando a questo da
imigrao pobre, a busca por melhores condies de trabalho e vida, por grupos oriundos de
pases subdesenvolvidos para pases com economia forte. A questo da imigrao leva na
maioria das vezes a refletir sobre o mundo de trabalho, mas aqui se questiona a imigrao de
trabalhadores de classes elevadas, chamados executivos. A circulao de estrangeiros de alto
nvel social acontece tanto pelo trabalho quanto pelos estudos e so considerados um caso
particular, no Brasil ainda no se fez um estudo como este. Na Frana, Anne-Catherine
Wagner (1998) escreveu sobre a esse tipo de circulao em seu pas, afirmando que os
estudos feitos excluem a anlise sobre aqueles de classes mais favorecidas, reforando o
discurso de que imigrao um problema social e esses profissionais no fazem parte desse
problema. A mundializao ou globalizao da economia promove essa nova modalidade
que surge na contra-mo da imigrao como mo-de-obra, evidenciando a fragilidade do
ensino nacional na produo de profissionais de gesto de empresas. O surgimento do
gerente internacional celebrado pela literatura gerencial e pelos economistas.
A diferena mais gritante entre a imigrao na distino das classes sociais,
elevadas e pobres, a assimilao cultural local, a identidade dos grupos transformada de
maneira diferente, as classes superiores reivindicam uma cultura internacional e fazem
questo de evidenciar gostos e hbitos mundialmente valorizados, enquanto as classes baixas
buscam assimilar a cultura local e recusam a identidade tnica (WAGNER, 1998, p. 12).
Distanciando-se da anlise economista, de que essa circulao acompanhada pelo capital das
firmas e isso o mais importante, o interesse apreciar os efeitos culturais da mudana de
residncia dos executivos, quais as conseqncias para a formao de uma classe
internacional ou para os pases que so destino, que recebem a contribuio de estrangeiros
de classes superiores.
As empresas se internacionalizam para alcanar melhores resultados e expandir
negcios, em um movimento de transnacionalizao e depois de multinacionalizao18 atravs
de fuses. As teorias mais importantes que explicam esse processo so descritas adiante nesse
captulo.
18 Transnacionais so empresas que ultrapassaram as barreiras dos mercados nacionais e, de alguma forma, instala unidades no extrangeiro, unidades comerciais, plantas de operaes, ou outro tipo de atividade produtiva que supere as exportaes. Multinacionais so empresas que tm sede de adminsitrao em mais de dois pases.
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371.1 Teorias desenvolvidas sobre o fenmeno da Internacionalizao de empresas
H muitas pesquisas interessadas em discutir aspectos que envolvem a
internacionalizao de empresas, realizados em distintas reas do conhecimento passando pela
Administrao de Empresas, Sociologia, Economia e Engenharia de Produo. As
motivaes, suas etapas, problemas e estatsticas das firmas para estabelecer-se como
multinacionais so os temas comumente explorados. A forma como so abordados esses
temas so tratados de maneira diferentes nas diversas pesquisas encontradas que se encaixam
no recorte feito sobre a internacionalizao de empresas mundialmente. O estudo sobre
internacionalizao, especificamente, nasce pela observao do processo por profissionais e
acadmicos de reas distintas de negcios como Marketing, Recursos Humanos,
Administrao e Economia estabelecendo, as matrias em conjunto, uma abordagem geral
sobre o fenmeno.
De acordo com Dunning (1988), os mesmos acadmicos que descrevem o
processo so aqueles que tambm o aplicam nas empresas, porque na maioria dos casos,
durante a poca identificada como a gnese da rea, os acadmicos so os contratados ou os
profissionais das empresas que pretendem se aventurar no investimento direto em outros
pases. Sendo assim, pode ter ocorrido, portanto, que os processos de internacionalizao,
nesse incio da sua expanso, tenham seguido um caminho de certa forma comum entre as
empresas participantes, pois aqueles que aplicavam as tcnicas compartilhavam
conhecimentos de forma prxima. A maioria desses pesquisadores so tambm consultores, o
que facilita aos dirigentes de empresas traarem estratgias orientadas nesse sentido e os
conhecimentos difundidos, entre os grupos de pesquisa, passam a ser colocados em prticas.
Sabe-se que as primeiras firmas que entraram na concorrncia externa encontram-se na
Europa e Amrica do Norte, onde se localizaram os primeiros institutos de pesquisa do tema,
o que refora a idia de que ao mesmo tempo em que o conhecimento produzido, tambm
aplicado pelos institutos nas empresas como consultorias, havendo uma troca de via dupla
entre empresa academia.
O processo de internacionalizao de empresas, nos modelos como tm sido
aplicados atualmente, surge na primeira metade do sculo XX, onde as empresas reconhecem
sua capacidade e a necessidade de insero em mercados externos para atender crescente
demanda econmica. Esse processo acompanha a Globalizao, gerada pela facilidade de
transporte e comunicao ocorrida conforme o grande desenvolvimento tecnolgico no
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38mesmo perodo. Em 1948, um grupo chamado International Management Institute, em
Genebra, Sua, inaugura estudos sobre este fenmeno e torna-se referncia. Por volta da
dcada de 1957, com interesse em um campo multidisciplinar de pesquisa, desenvolve o
IMEDE19, que foca na Internacionalizao de Negcios particularmente, sua estabilidade e
desenvolvimento, influenciando posteriormente a formao de outros centros de estudos sobre
o tema em pases como a Frana, que cria a INSEAD20 pela Cmara Francesa de Comrcio
em 1958, e na Inglaterra com as London Business School e Manchester Business School, as
duas em 1965 (DUNNING, 1988 p. 404).
Dentro do escopo de teorias existentes sobre internacionalizao de empresas,
uma escola se destaca como forte influenciadora de trabalhos ao redor do mundo. Na dcada
de 1970 surgem na Sucia, na Universidade de Uppsala, trabalhos que tratavam do processo
de internacionalizao de negcios desse pas. Essas pesquisas se tornaram importantes para
os estudos na rea, levantando questes cruciais para identificar o fenmeno em um perodo
de expanso da mundializao de negcios, passando a ser, mais tarde, a Escola Nrdica de
Negcios Internacionais. Houve muitas mudanas desde os seus primeiros trabalhos, iniciados
na dcada de 1960 por Penrose21, Cyert & March22, e Aharoni23. Apoiados nesses trabalhos,
os acadmicos de Uppsala desenvolveram durante a dcada posterior trabalhos que
compartilham do mesmo tema principal, a internacionalizao de empresas. Durante a dcada
de 1970, os acadmicos aprenderam com as experincias empricas de casos europeus, sobre
como as prprias firmas compreendem os mercados estrangeiros ao longo do processo de
internacionalizao e como as decises devem ser orientadas e tomadas segundo as condies
encontradas para fortalecer a relao entre ela e o mercado e desvendar novas oportunidades
de negcios. O modelo de 1977 (JOHANSON; VAHLNE, 2009), como se convencionou
chamar essa gerao de grande produtividade, se tornou bastante influente na pesquisa
mundialmente produzida na rea de negcios, e por isso toma uma parte nessa dissertao.
Ao mesmo tempo, e relacionado com os fatores acima mencionados, o estudo
de Negcios Internacionais se transforma. A literatura alcana uma maturidade intelectual e
respeito acadmico e tem atrado bons acadmicos. Pesquisas mostram que ocorre uma
evoluo estratgica. Primeiro as empresas experimentam a exportao e depois se decidem
pelo IED investimento externo direto. Das duas maneiras, o sentido da mudana voltado 19 Sigla para Institut pour l'Etude des Methodes de Direction de l'Entreprise, na Lousanne, Sua. 20 Sigla para Institut Europen d'Administration des Affaires, tambm chamado de European Institute of Business Administration, localizado em Fontainebleau, Frana. 21 PENROSE, E. T. The theory of the growth of the firm. Oxford: Basil Blackwell, 1966 22 CYERT, R.D. ; MARCH, J.G. A behavioral theory of the firm. Englewood Cliffs: Prentice hall, 1963. 23 AHARONI, Y. The foreign investment decision process. Boston: Harvard Business School Press, 1966.
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39para o aumento da produtividade e, segundo Brasil (2009), os objetivos esto ligados busca
de novos mercados, ligado ao descobrimento de novos consumidores, de eficincia, pelo
menor custo de mo-de-obra, mais recursos e matrias-primas, fuses e aquisies e por
motivos polticos24. Essas empresas entrariam assim em maior competitividade de mercado,