a internacionalização das empresas brasileiras_erica_ambiel

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA Erica Ambiel Julian A INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E RECRUTAMENTO DE SEUS EXECUTIVOS: ESTUDO DE CASO DO GRUPO GERDAU. São Carlos 2013

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS CENTRO DE EDUCAO E CINCIAS HUMANAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA POLTICA

    Erica Ambiel Julian

    A INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E RECRUTAMENTO DE SEUS EXECUTIVOS: ESTUDO DE CASO DO GRUPO

    GERDAU.

    So Carlos 2013

  • A INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E RECRUTAMENTO DE SEUS EXECUTIVOS: ESTUDO DE CASO DO GRUPO

    GERDAU.

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS CENTRO DE EDUCAO E CINCIAS HUMANAS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA POLTICA

    Erica Ambiel Julian A INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS BRASILEIRAS E RECRUTAMENTO DE

    SEUS EXECUTIVOS: ESTUDO DE CASO DO GRUPO GERDAU.

    Dissertao de mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica do Centro de Educao e Cincias Humanas, da Universidade Federal de So Carlos, para obteno do ttulo de mestre em Cincia Poltica. rea de concentrao: Teoria, instituies e comportamento poltico. Linha de pesquisa: Teoria das Organizaes. Orientador: Prof. Dr. Jlio Csar Donadone

    So Carlos 2013

  • Ficha catalogrfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitria da UFSCar

    J94ie

    Julian, Erica Ambiel. A internacionalizao de empresas brasileiras e recrutamento de seus executivos : estudo de caso do grupo Gerdau / Erica Ambiel Julian. -- So Carlos : UFSCar, 2014. 120 f. Dissertao (Mestrado) -- Universidade Federal de So Carlos, 2013. 1. Sociologia econmica. 2. Teoria da organizao. 3. Empresas multinacionais - aspectos polticos. 4. Prosopografia. 5. Elites (Cincias sociais). 6. Grupo Gerdau. I. Ttulo. CDD: 306.3 (20a)

  • Os centros de gravidade mundial esto sempre em processo de mudana. Os velhos centros perdem sua importncia relativa medida em que aparecem novos fatores que perturbam o equilbrio. O mundo est se convertendo gradualmente em uma rea fechada. As condies precursoras que permitiram a unidade do Imprio Britnico esto desaparecendo rapidamente. Surgem novos centros de dominao e se formam novas formas de combinaes de interdependncia regional que frequentemente se chocam com a estrutura poltica existente.

    MACKENZIE, R.D., The Concept of Dominance and World Organization. The American Journal of Sociology, July 1927, pg. 42.

    Apud HYMER, S. Empresas multinacionais: a internacionalizacao do capital. Aloisio Teixeira (Trad.). Rio de Janeiro: Graal, 1978. pg.

    67.

  • AGRADECIMENTOS

    Devo aqui prestar a minha homenagem minha me, Angela Maria Ambiel,

    que pela sua fibra, coragem e amor, me ensinou que a vontade de mudana o primeiro passo

    para a vitria, e que no devemos aceitar destinos quaisquer se a mente liberta e deseja mais.

    Minha persistncia na continuidade da formao acadmica s foi possvel porque tive quem

    me mostrasse que a fora a principal virtude, que pensar no melhor para si e lutar pela

    prpria construo nos faz sermos mais livres e humanos. Por todos os obstculos pelos quais

    passamos juntas, dedico esse trabalho.

    Ao meu pai, Luis Julian, agradeo infinitamente por ter viabilizado minha

    permanncia em So Carlos, pelo apoio financeiro e exemplo de crescimento. Aos irmos,

    Priscila Ambiel Julian e Luis Julian Jnior, pelo exemplo de estudos, carinho e apoio.

    Ao meu namorado, noivo, companheiro e amigo, Celso Jos Lopes Filho, que

    segurou tantos momentos de fragilidade: Amor e s. Obrigada pela compreenso, por ouvir,

    por me dar a mo quando eu precisei. E ser assim por muito tempo ainda.

    Aos amigos que conviveram comigo durante minha graduao e mestrado. Aos

    amigos das repblicas Marisales e Barravento, pelos exemplos, explicaes, conversas e

    apoio necessrios. minha antiga casa, Repblica Granja do Torto, s minhas amigas e

    amigos que nunca deixarei de amar. Ana Claudia, minha melhor amiga com quem j

    dividi quarto. Agradeo ao sogro, Celso Jos Lopes, e amiga Claudia de Santi pela

    generosidade com que me acolheram quando eu precisei.

    Agradeo ao meu orientador Professor Jlio Cesar Donadone, por ter aceitado

    me orientar nesse trabalho, pelas direes e, principalmente, pela confiana e pacincia.

    Agradeo aos professores Thales Haddad Andrade, por me ajudar na banca de defesa e de

    qualificao desse mestrado, sempre solcito. Professora Maria Chaves Jardim, pela

    amizade, pela ajuda, pela banca e pela confiana. Ao Professor Roberto Grun, sempre

    carinhoso e inspirador.

    Sou grata ao Ncleo de Estudos em Sociologia Econmica e das Finanas da

    UFSCar, ao amigos Ana Carolina Bichoffe, ngela M. Carvalho, Karina de Assis, Leandro

    Targa, Marcela Purini Belm, Martin Mundo Neto, Patrcia Matsuda, Silvio E. Cndido,

    Vanise Rafaela Ralio, Wellington Desidrio, muito obrigada pela amizade, pela acolhida, pelo

    apoio, e ao Felipe Cavenaghi e Mrcio Rogrio Silva (grandes companheiros!), Thas Joi e

    Antnia Celene Miguel (grandes companheiras!), em especial. Ao Ncleo de estudos e

    pesquisa sobre sociedade, poder organizao e mercado, da UNESP.

  • Agradeo ao Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica da Universidade

    Federal de So Carlos - UFSCar. Aos professores do Departamento de Cincias Sociais da

    UFSCar e seus funcionrios. Agradeo Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de

    Nvel Superior CAPES, por um ano de bolsa concedido para realizao da minha pesquisa.

  • RESUMO

    A pesquisa procura explorar a influncia de estudos internacionais no recrutamento de

    profissionais para postos de gerncia, por empresas que passaram pelo processo de

    internacionalizao. A expanso de empresas brasileiras, impulsionada pelos anseios de

    conquistar novos mercados e pelo crescimento de capital, causou um forte direcionamento de

    algumas empresas brasileiras em ocupar espao no cenrio global. Essa tendncia resultado

    de diversos fatores que facilitam o trnsito de conhecimentos e ferramentas gerenciais,

    pessoas e capital, criando um mercado mundial aberto receber competidores fortes e que

    aspiram trabalhar em nvel mundial com consumidores e trabalhadores. As conseqncias

    para o processo descrito so variadas dentro dos cenrios internos de cada pas, tanto para

    aqueles pases que recebem capital estrangeiro, ou que permitem a entrada de produtos

    estrangeiros, quanto para aqueles que buscam novos horizontes atravs de seus representantes

    econmicos. Os profissionais que exercem cargos dentro das organizaes que se

    transnacionalizam obedecem a um modelo internacional. Acompanhando as transformaes

    nas empresas brasileiras, seus executivos modificam o perfil profissional do campo,

    transformando a forma de recrutamento de seus sucessores para atender s exigncias

    internacionais. A vinda de estruturas alheias cultura local e, principalmente, s expertises

    locais renova a percepo que os agentes tm sobre o campo das disputas por melhores

    posies profissionais no mercado de trabalho, causando mudanas tambm no tipo de

    trajetria de formao escolhida por aqueles que almejam cargos de importncia. Dessa

    forma, alm dos aspectos econmicos e culturais que envolvem a chegada ou envio de

    empresas, fbricas, pessoas e conhecimento estrangeiro aos pases, interessante ressaltar as

    transformaes no ambiente social e poltico internos relativos. Para melhor entendimento do

    fenmeno descrito, foi usado o Grupo Gerdau S.A., seus funcionrios e sua histria.

    Palavras-chave: Teoria das Organizaes. Internacionalizao de Empresas. Elites

    Econmicas.

  • ABSTRACT

    The present research seeks to explore the influence of international studies inside companies,

    this study is about managers hiring for transnational companies. The globalization of

    Brazilian businessare driven by the desire ofnew markets and growth capital, motivate by

    some Brazilian companies that occupy space in the global scenario. This is a result of several

    factors that make easy the transition of knowledge and managerial, people and capital,

    creating an open world market, and to receive strong competitors who aspire to work globally

    with consumers and employees. The consequences for thisprocess described are diverse

    within the internal scenarios in each country, both for those countries that receive foreign

    capital,or for those countries that allow the entry of foreign products, and for those who seek

    new horizons. Professionals who hold positions within these organizations turn into an

    international model. Their executives modify the professional profile of the field,

    transforming the way of hiring their successors to meet international requirements. The arrival

    of foreign structures to local, and mainly local expertise, renews the perception that agents

    have on the field of disputes, best professional positions in the job market also propose

    changes in the type of trajectory and how they make choices for desire positions of

    importance. Thus, besides the economic and cultural aspects surrounding the circulation of

    companies, it is interesting to note the changes in the social environment and internal policy

    related. To better understand the phenomenon described, was used this research in the

    MetalrgicaGerdau S.A., its employees and its history.

    Key-words: Organization Theory. Internationalization of Enterprises. Elites.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Tabela elaborada pela FDC: Ranking das transnacionais brasileiras no ano de 2012.

    Figura 2 Presena do Brasil por IDE mundo por nmero de pases

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Investimento Externo Direto no Brasil anual, entre 1980 e 2012 em milhes de

    dlares.

    Tabela 2 Distribuio em temas dos artigos publicas nos ENANPAD, entre 2001 e 2010.

    Tabela 3 Nmero de aparies das instituies de ensino e pesquisa brasileiras nos

    encontros da ANPAD.

    Tabela 4 O avano da Gerdau no Brasil: incorporaes

    Tabela 5 Aquisies de unidades no exterior pela Gerdau.

    Tabela 6 Relao entre produo, funcionrios e produtividade da Gerdau AS

    Tabela 7 Evoluo do faturamento e lucro da Gerdau AS

    Tabela 8 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 1980.

    Tabela 9 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 1985.

    Tabela 10 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 1991.

    Tabela 11 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 2001.

    Tabela 12 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 2006.

    Tabela 13 Perfis dos Diretores e Conselheiros da Gerdau do ano de 2011.

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Evoluo da produo de ao no mundo entre 1900 e 2005 (em milhes de

    toneladas/ano).

    Grfico 2 - Indicador de desempenho 1981-1994.

    Grfico 3 - Indicador de desempenho 1995-2005.

    Grfico 4 Estabilidade dos dirigentes como funcionrios da Gerdau.

    Grfico 5 Nacionalidade dos dirigentes por perodo.

    Grfico 6 - Circulao acadmica internacional dos dirigentes por perodo e tipo.

  • LISTA DE SIGLAS

    ANPAD Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao

    CEO Chief Executive Officer (Diretor Executivo)

    ETN Empresa Transnacional

    FDC Fundao Dom Cabral

    IBDE Investimento Brasileiro Direto no Exterior.

    IED Investimento Externo Direto.

    IMEDE - Institut pour l'Etude des Methodes de Direction de l'Entreprise (Instituto para

    Estudos dos Mtodos de Direo de Empresas)

    INSEAD - Institut Europen d'Administration des Affaires (Instituto Europeu de

    Administrao de Empresas)

    MNE Multinational Enterprise (Empresa Multinacional)

    ONU Organizao das Naes Unidas

    UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development (Conferncia das Naes

    Unidas Sobre Comrcio e Desenvolvimento)

  • SUMRIO

    INTRODUO .....................................................................................................................................14

    1 O ESTUDO DE ORGANIZAES EMPRESARIAIS SOB O AMPARO DA SOCIOLOGIA ECONMICA E A TEORIA DAS ORGANIZAES ........................................................................24

    1.1 Teorias desenvolvidas sobre o fenmeno da Internacionalizao de empresas ...........................37

    1.2 Estudos no Brasil sobre Internacionalizao de empresas ...........................................................41

    2 O QUE A INTERNACIONALIZAO DE EMPRESAS? ...........................................................47

    2.1 Estrutura institucional brasileira para a transnacionalizao: breve olhar sobre as mudanas na economia para o avano global do capital produtivo brasileiro. ........................................................50

    2.2 Internacionalizao de empresas brasileiras .................................................................................55

    3 A HISTRIA DA METALRGICA GERDAU S. A. .......................................................................60

    3.1 A internacionalizao da Gerdau .................................................................................................64

    4 AS MUDANAS NO PERFIL DOS EXECUTIVOS GRUPO GERDAU. .......................................70

    5 CONCLUSO ....................................................................................................................................93

    REFERNCIAS .....................................................................................................................................96

    APNDICE ..........................................................................................................................................100

    ANEXO ................................................................................................................................................110

  • 14

    INTRODUO

    O trabalho verifica a influncia de estudos internacionais no recrutamento de

    profissionais para postos de direo por empresas que passaram pelo processo de

    internacionalizao. Dessa forma possvel notar a forte influncia de conhecimentos

    internacionais, capital essencial para estabelecer a distino entre os profissionais no

    mercado: a assimilao de noes mundialmente pr-estabelecidas distingue os melhores os

    agentes dentro da competio acirrada entre os gerentes. Os conhecimentos mais difundidos

    nesse campo e mais valorizados so aqueles desenvolvidos na parte norte do globo, isso

    ocorre porque as expertises surgem nos centros que investem mais em inovaes dentro das

    tecnologias gerenciais. Observa-se a formao de uma Elite do campo profissional, que se

    apresenta em constante mudana em busca de capitais que selecionam os melhores atores para

    os postos mais elevados.

    A expanso de empresas brasileiras, impulsionada pelos anseios de conquistar

    novos mercados e pelo crescimento de capital, auxiliada pelo Estado Brasileiro na abertura do

    mercado nacional concorrncia internacional, causou um forte direcionamento no sentido de

    ocupar espao no cenrio global. Essa tendncia o resultado de diversos fatores, o contexto

    global de transnacionalizao de mercados, melhorias na comunicao, a globalizao e a

    homogeneizao de hbitos de consumo e a divulgao de culturas facilitam o trnsito de

    conhecimentos e ferramentas gerenciais, pessoas e capital econmico, criando um mercado

    mundial aberto receber competidores fortes e que aspiram trabalhar em nvel mundial com

    consumidores e trabalhadores. Empresas de reas diversas no Brasil alcanaram o patamar de

    competitividade e se colocaram a disputar espaos com outras empresas de fora do pas.

    Esse fenmeno um espao muito frtil para a anlise das transformaes

    profissionais atualmente e muitos estudos so produzidos sobre empresas internacionais,

    feitos por pesquisadores das reas da economia, administrao e engenharia de produo, em

    sua maioria. Muito alm das questes pertinentes a essas reas, os efeitos no campo

    profissional, inclusive no ensino para os executivos, se coloca como um objeto interessante s

    Cincias Sociais e revelam mudanas que explicitam a ligao entre economia e sociedade.

    Entende-se a internacionalizao de empresas como intimamente ligada s transformaes

    polticas e econmicas nacionais e mundiais. O sculo XX apresenta como umas das

    principais caractersticas o avano tecnolgico e as melhorias dos meios de comunicao, o

    que proporcionou uma aproximao global territrios, a diminuio das distncias causada

  • 15pelo maior acesso a transportes e comunicao. O resultado desse processo para a economia,

    alm de outras transformaes, foram as empresas ultrapassando os limites nacionais fazendo

    negcios com consumidores de outros pases, implantando estruturas e fundindo operaes

    fora de seu local de origem. As influncias, daqueles que se anteciparam s transformaes

    econmicas sobre os novos entrantes no cenrio globalizado, determina as regras do jogo e as

    firmas que pretendem ganhar posies e se manterem no mercado se adquam estrutura

    organizacional interna buscando competitividade e melhora. Sobre essa viso, entende-se que

    a atividade econmica sofre vrios efeitos da internacionalizao.

    Percebendo o grande volume de negcios que tendem internacionalizao,

    muitos trabalhos acadmicos tm se prestado a analisar este fenmeno. As pesquisas sobre

    Internacionalizao de Empresas, ou Negcios, tm diferentes abordagens dependendo das

    caractersticas a serem buscadas. H muitos textos relacionando multinacionais e

    trabalhadores, multinacionais e governos, empresas e transferncia de conhecimento de P&D

    (pesquisa e desenvolvimento), estudos de caso e estratgias. Uma abordagem sobre as

    mudanas no perfil dos dirigentes dessas indstrias um campo diferente dos comumente

    encontrados em pesquisas sobre a rea, e ao mesmo tempo bastante interessante no tocante

    mudana de perfil desses profissionais como dirigentes da rea de gesto e administrao de

    empresas no Brasil. A vinda de estruturas alheias cultura local e, principalmente, s

    expertises locais renova a percepo que os agentes tm sobre o campo das disputas por

    melhores posies profissionais no mercado de trabalho, causando mudanas tambm no tipo

    de trajetria de formao escolhida por aqueles que almejam cargos de importncia. V-se

    que as transformaes na economia brasileira ocorreram de maneira dinmica depois dos anos

    1990, a competitividade torna-se maior, forando as empresas a inovarem tecnologicamente e

    buscarem qualificao dos seus quadros. Visto, portanto, a necessidade constante de

    aperfeioamento dos profissionais, impulsionados pela competitividade dentro do mercado de

    trabalho, essas transformaes influenciam no s o campo estudado como tambm as escolas

    de administrao e ps-graduaes, que legitimam essas mudanas, expandindo para a

    sociedade como um todo as transformaes ocorridas, determinando os agentes que se

    colocam como dominantes de poder de deciso sobre os rumos da rea.

    A importncia do recorte dos dados da pesquisa ter sido feito pelos

    profissionais que administram as empresas, se deve ento pela compreenso de um fenmeno

    que se faz globalizado e que descreve uma mudana atual dentro da sociedade brasileira: a

    importao de expertises. Assim sendo, observando esse quadro como um espao de disputas

    pela liderana da rea que define, de certa forma, rumos para o ensino em administrao e

  • 16observando sua interao com o ambiente internacional, o estudo proposto se pretende como

    anlise das influncias internacionais nesse espao de poder. Nesse contexto, em que os

    executivos deparam-se com um novo cenrio de internacionalizao, as competncias

    gerenciais a serem desenvolvidas devem estar no nvel de seus novos concorrentes,

    assimilando conceitos e posturas multinacionais.

    Ao sentirem esse impacto na mudana de direo no modelo de

    profissionalizao, observam na carreira internacional uma forma de reconhecimento e de

    inovao para diferenciao no mercado de trabalho. O estudo internacional faz-se um meio

    de insero competitiva no mercado, onde a importao de conhecimento caracteriza-se como

    um elemento de destaque para aqueles que se pretendem uma alta posio em suas reas. A

    disputa por espao, onde se tenha evidncia profissional, configura-se como uma competio

    em torno de controle de valores individuais, no s do mercado ou do Estado, mas de

    significados que atuem na direo dos modelos pretendidos. Para entender melhor o processo

    descrito, foram usados executivos do Grupo Gerdau, que ao longo de sua histria se mostrou

    como exemplar para outras empresas no processo de internacionalizao. Os executivos

    escolhidos foram aqueles de cargo de diretoria, dos anos de 1980, 1985, 1991, 2001, 2006 e

    2011, onde seus perfis compuseram um pequeno banco de dados sobre suas trajetrias

    profissionais. A biografia comparada dos agentes forneceu a comparao necessria para

    verificar a mudana nos perfis dos dirigentes profissionais estudados ao longo dos anos

    pesquisados.

    No incio, pensou-se em destacar mais do que somente uma empresa de capital

    aberto no Brasil, para melhor compreender as caractersticas desses profissionais, porm no

    houve viabilidade pelo nmero de casos e na dificuldade de escolha por quais empresas

    especificamente, se a escolha seria por ramo de atividade, por regio de instalao ou por

    histria de fundao. Foi decidido que a partir de um s caso seria mais fcil explorar as

    caractersticas da organizao e realizar um recorte temporal para evidenciar as mudanas ao

    longo do tempo. A escolha pela Gerdau foi feita pela longa histria do Grupo, onde puderam

    ser mais aprofundados os dados atravs da disponibilidade de relatos em stios da internet e

    da prpria empresa.

    A comparao das caractersticas de trajetrias dos executivos, em perodos

    temporais diferentes, possibilita analisar as mudanas nas exigncias das empresas sobre

    quem contratam para cargos diretivos. As empresas mudaram durante o sculo vinte, seus

    profissionais tambm. A trajetria de formao acadmica e profissional daqueles que

    pleiteiam altos cargos de gesto segue a mesma mudana. A literatura da gesto empresarial

  • 17dos anos 1990 contm ideais, propostas de organizao humana, modos de ordenamento dos

    objetos e formas de garantia que so da natureza to diferente daquilo que se encontra na

    literatura de gesto empresarial dos anos 1960 que difcil no reconhecer que o capitalismo

    mudou muito de esprito ao longo dos ltimos trinta anos, ainda que a configurao no

    possua a fora mobilizadora qual a figura anterior conseguiria chegar, pelo fato de estar no

    plano da justia e das garantias (BOLTANSKI; CHIAPELLO,2009, p. 129). Na literatura

    citada por estes autores pode-se perceber o que se tem transformado acerca da gesto nos anos

    1990 em contraposio ao pensamento da dcada de 1960.

    A globalizao de mercados se intensificou no sculo XX, mais precisamente

    na segunda metade do sculo, proporcionada pelas mudanas globais em comunicao e

    novas tecnologias, criando um ambiente propcio para o avano de grandes corporaes em

    ambientes externos em busca da abertura de novos mercados. Com isso, a internacionalizao

    das empresas passou a ser um fator indicativo de sucesso empreendedor, como necessria

    uma estrutura slida para superar os obstculos oriundos de novas experincias culturais,

    econmicas e de mercado, as firmas que se capacitam para esse processo so identificadas,

    naturalmente, como exemplos de crescimento. Assim, o interesse dos acadmicos sobre o

    assunto cresce medida que as experincias de internacionalizao se tornam mais freqentes

    na dcada de 1990.

    Para entender o que aqui foi introduzido, a seguir sero apresentados os

    captulos que compem este trabalho e qual a inteno dos contedos para a melhor

    compreenso desse processo da internacionalizao de empresas no Brasil para mudar o

    espao dos gestores de grandes empresas.

    No primeiro captulo ser abordada, de forma geral, a teoria por trs do

    objetivo do texto. Auxiliada pelos textos de autores como Swedberg, Fligstein, Boltanski,

    Lebaron, Useen e Wagner, o primeiro captulo explica a importncia de entender os espaos

    de disputas, tratada por Bourdieu como campo, pelo olhar da sociologia econmica onde as

    transformaes contemporneas, em todas as reas da vida social, recebem a direta

    interferncia do mundo econmico, pelas assimilaes de componentes ligados s

    organizaes, construindo estruturas ligadas construo de mercados (FLIGSTEIN, 2001).

    A partir da, evidencia-se as transformaes sofridas pelas organizaes para adequao das

    mesmas ao desenvolvimento econmico capitalista contemporneo, o novo capitalismo

    (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009). As mudanas no contexto corporativo trouxeram

    mudanas internas nas organizaes, tanto em governana corporativa, dinmica

    organizacional, perfil de profissionais e culturas internas.

  • 18

    Em Donadone (2001, 2002, 2004, 2011), Useen (2011), Grun (1990) e Wagner

    (1998), encontramos os fundamentos para entender como o contexto muda a dinmica do

    capital humano das empresas. Em seguida, revista o arcabouo terico desenvolvido

    mundialmente, atravs da histria, sobre as chamadas Teorias de Internacionalizao,

    acompanhada de como os estudos brasileiros so construdos em torno da mesma temtica.

    No segundo captulo, apresenta-se o cenrio poltico econmico brasileiro e a

    base poltico econmica no cenrio de internacionalizao. Para isso, introduzida a situao

    da internacionalizao com argumentos atuais pragmticos, o desenvolvimento econmico

    financeiro brasileiro necessrios para a expanso das empresas e, enfim, como ocorre a

    internacionalizao de empresas brasileiras. So usados dados do Governo Brasileiro, da

    UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development ONU), da Comisso de

    Valores Mobilrios, alm da anlise de Carlos Bresser Pereira. Para explicar como se d a

    internacionalizao no Brasil, usou-se Ramsey, Pearce e Kupfer.

    Esclarecidos os pilares para a realizao da transnacionalizao de empresas

    brasileiras, passa-se a elucidar a histria do Grupo Gerdau S. A., de onde se pode ter a noo

    da trajetria empreendedora, iniciada por Jorge Gerdau em 1901 com a compra da Fbrica de

    Pregos em Porto Alegre, e da expanso do grupo pelo Brasil e depois pelo mundo. Os dados

    para essa parte do texto foram conseguidos do livro A Chama Empreendedora, livro de

    comemorao aos cem anos de existncia do grupo.

    Inicia-se a discusso no quarto captulo, onde so apresentados os dados

    especficos sobre os executivos da Gerdau, a metodologia usada, os resultados de sucesso ao

    longo dos anos. A foram apresentados os dados em forma de minibiografias dos atores

    separados em seis perodos com intervalos de cinco em cinco anos. Dessa maneira, a

    apresentao foi pensada para facilitar a visualizao da mudana gradativa dos perfis

    individuais.

    Finalmente, na concluso buscou-se ligar as conexes histricas, a teoria e o

    objeto, deixando clara a linha lgica de raciocnio da autora para explicar como ocorrem as

    mudanas no espao da elite profissional em gesto no Brasil.

    Embora no se tenha feito a discusso terica extensa sobre elites profissionais

    durante o texto, h a inteno de caracterizar os atores como tal e, para isso, o mtodo usado

    est de acordo com o mtodo que concerne ao estudo de Elites.

    O conceito de Elite discutido desde a era socrtica, dentro dos empenhos para

    o surgimento da Democracia Atheniense j se havia a percepo de uma Elite dominante que

    deliberava sobre os rumos da Cidade-Estado. Da relao entre dirigentes e democracia surge o

  • 19conceito e a poltica. A participao dos cidados em assemblias e as discusses sobre

    assuntos prximos da vida coletiva, sem intermedirios, davam oportunidades iguais aos

    concidados de estabelecerem o que julgavam justo a todos, sem se destacarem alguns poucos

    com essa influncia particular. Embora os esforos filosficos da antiguidade em torno da

    igualdade plena, a modernidade viu-se obrigada a criar mecanismos de deciso que

    incorporasse a todos sem que todos estivessem presentes. A delegao de deciso, em forma

    de representao, trouxe a soluo para os territrios que, com o passar do tempo, se tornaram

    vastos e as comunidades cada vez maiores. Nesse ponto a discusso entre Elites e democracia

    toma contornos mais contemporneos nos debates polticos. A partir de ento, o conceito

    passa a se ligar a insatisfao pblica1. O termo em si s foi empregado no sculo XIX2.

    Em Bourdieu pode-se interpretar esse conjunto de valores que criam as

    capacidades como o conceito habitus. O habitus o termo que denota as caractersticas

    assimiladas pelo contato com o meio, dando ao sujeito certos capitais que do identidade

    subjetiva a ele, determinando a construo de sua histria. A partir da apreenso desses

    capitais, quais so preponderantes para a diferenciao em dados espaos, pode-se construir

    uma anlise decisiva na formulao e compreenso dos diversos campos. Com isso entende-se

    qual o ethos fundamental de cada campo.

    Com o auxlio dos trabalhos lidos, pode-se entender os mtodos de estudo de

    Recrutamento de Elites por duas linhas, a biografia isolada e a biografia comparada, ou a

    prosopografia. Das duas formas os meios de ascenso profissional so reconhecidos pela

    noo dos capitais necessrios para o sucesso. Foi escolhido o mtodo da biografia

    comparada, por ser esta a maneira em que os elementos em comum na trajetria profissional

    so mais facilmente percebidos.

    Para a seleo dos profissionais com trajetrias exploradas pensou-se na

    importncia dos Institutos de Ensino Superior (IES) dos quais emergiram e outras

    caractersticas de trajetria que pertencem ao novo pensamento empresarial. Dessa forma

    deduz-se que o recrutamento das empresas que despontam no cenrio internacional, no caso o

    Grupo Gerdau, criterioso e significativo o suficiente para entender que seus colaboradores

    devem alcanar reconhecimento, determinando o grupo de executivos entendidos aqui como

    Elite da rea, sendo eles referncia a outros profissionais. Bobbio (2002, p.385) fornece uma

    1 Para uma introduo curta sobre Teoria das Elites, ver HOLLANDA, C. B. Teoria das Elites. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011. 2 Na lngua inglesa o primeiro uso conhecido de elite, de acordo com o Oxford English Dictionary, data de 1823, quando j era aplicdo para referir-se a grupos sociais. In.BOTTOMORE, T. B. As elites e a sociedade. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1964, p.7.

  • 20definio sobre essa teoria: por teoria das Elites ou elitista de onde tambm o nome de

    elitismo se entende a teoria segundo a qual, em toda a sociedade, existe, sempre e apenas,

    uma minoria que, por vrias formas, detentora do poder, em contraposio a uma maioria

    que dele est privada. De acordo com essa definio e concluindo que o Grupo Gerdau

    considerado uma das maiores multinacionais brasileiras como mostrou o estudo feito pela

    fundao Dom Cabral em 20103, que o coloca como a segunda maior empresa em

    porcentagem de ativos no exterior , os profissionais que trabalham na Gerdau podem ser

    considerados amostra da Elite apreciada aqui. Por tal significncia e valor dados, a esses

    agentes atribudo influenciar toda a rea da administrao e gesto de empresas. A posio

    alcanada na empresa denota determinado poder a eles na rea em que atuam, impondo ao

    grupo a denominao de Elite. Algumas caractersticas reconhecidas ao longo das trajetrias

    contribui para essa insero, neste caso veremos particularmente o critrio de estudos

    internacionais como fator relevante. Esses profissionais, por sua vez, retornam origem e

    convertem seu conhecimento para a formao de novos pesquisadores pela docncia. A

    abertura de agncias com a funo de proporcionar os estudos internacionais foi um ponto

    estratgico do Estado Brasileiro, para entrar em competitividade no cenrio mundial, como

    citam Cando e Garcia (2004-2005): Au cours de la dernire moiti du sicle, la force relative de chaque puissance a dpendu de sa capacit occuper des positions davant-garde scientifique. lchelle plantaire, un mme agenda de questions scientifiques sest impos, hirarchisant les pays qui avaient plus ou moins de poids dans chaque domaine du savoir sur la scne internationale. Depuis, il est devenu clair que la puissance politique et conomique nationale ne serait complte que si elle tait fonde sur un systme de production et de transmission de connaissances scientifiques et technologiques.4

    Acompanhando o processo de expanso dos cursos de ps-graduao em

    Administrao e cursos afins, as linhas de pesquisa na rea se diversificam ampliando o

    escopo de atuao dos profissionais na rea. A exigncia por conhecimentos mais

    especializados e inovadores passa a torna-se maior, forando os estudantes a se aprimorarem

    cada vez mais, buscando competitividade e posicionamento no mercado de trabalho, no caso,

    entre os professores de administrao, como ocorre em outras profisses na dcada de 905,

    sendo as mudanas realizadas na gesto de empresas rapidamente absorvida por disciplinas no

    Ensino Superior. Por isso, os rumos do contedo disciplinar e da prtica na rea de

    3 Disponvel em http://www.fdc.org.br/pt/Documents/ranking_transnacionais_2010.pdf Acesso em: janeiro de 2012. 44 Ver CANDO, Letcia; GARCIA, Afrnio Les Boursiers brsiliens et laccs aux ormations dexcellence internationales In: Cahiers du Brsil Contemporain, 2004-2005, n 57/58 59/60, p. 21-48. 5 Ver em BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009.

  • 21administrao seguem caminhos prximos, onde o vanguardismo da prtica administrativa

    lecionado nos cursos da rea como fortes diferenciais dos institutos de ensino. Princpios

    organizacionais de sistemas de gesto, como por exemplo TPM, ISO, 5S, e outras

    ferramentas, so renovadas e inventadas com grande freqncia, fazendo com que contedos

    programticos de institutos de ensino superior sejam modificados conforme as inovaes de

    mercado.

    Wright Mills, um dos fundadores da teoria elitista, afirma que

    A cincia social trata de problemas de biografia, de histria e de seus contatos dentro das estruturas sociais. So estes os trs biografia, histria e sociedade pontos coordenados do estudo adequado do homem (...). Os problemas de nosso tempo que incluem o problema da natureza mesma do homem no podem ser formulados adequadamente sem aceitarmos na prtica a opinio de que a histria a medula do estudo social, e reconhecermos a necessidade de desenvolver mais uma psicologia do homem que seja sociologicamente fundamentada e historicamente relevante. Sem o uso da histria e sem o sentido histrico das questes psicolgicas, o cientista social no pode, adequadamente, formular os tipos de problemas que devem ser, agora, os pontos cardeais de seus estudos (MILLS, 1969).

    Em A Prosopografia ou Biografia Coletiva: balano e perspectivas, de

    Christophe Charle, o estudo de elites se faz pela comparao de biografias e destaque de

    caractersticas comuns entre os analisados: define-se um grupo a ser estudado, a partir de

    alguns critrios, e se constri um questionrio biogrfico onde as perguntas sero usadas para

    estabelecer as dinmicas que fizeram estes personagens pertencentes a alguma elite. A partir

    desse mtodo, define-se um grupo a ser estudado, a partir de alguns critrios, e se constri um

    questionrio biogrfico onde as perguntas sero usadas para estabelecer as dinmicas que

    fizeram estes personagens pertencentes a algum grupo de Elite. Com o auxlio dos trabalhos

    lidos, pode-se entender os mtodos de estudo de recrutamento de elites, usados aqui, por duas

    linhas: a biografia isolada e a biografia comparada. Das duas formas os meios de ascenso

    profissional so reconhecidos pela noo dos capitais necessrios para o sucesso. Foi

    escolhido o mtodo da biografia comparada, por ser esta a maneira em que os elementos em

    comum na trajetria profissional so mais facilmente percebidos.

    Para a explorao da anlise com Elites, usado, comumente, o mtodo

    biogrfico de pesquisa, onde so buscados os principais profissionais expoentes das reas

    relacionadas pesquisa captando os elementos das histrias de vida e trajetria profissionais

    dos agentes, sistematizando estas pesquisas de forma a estabelecer uma comparao entre o

    que foi comparado ou procurando individualmente aspectos que tenham sido relevantes para a

    formao como elite. Numa abordagem durkheimiana, os elementos que compem tanto a

  • 22histria de vida como o trajeto profissional tecem a personalidade e fornecem bagagem

    estrutural para a formao do indivduo, ou seja, aquilo que se aprende ou que se passou d

    subsdio para as melhores aptides sociais dos agentes. Em outra mais weberiana esse

    conjunto de experincias vividas constroem os valores e os sentidos do sujeito em sociedade,

    fazendo dele mais ou menos propenso a determinadas condies.

    Para melhor assimilao do pesquisador com a maior quantidade de

    informaes sobre os aspectos importantes para o estabelecimento do trabalho acerca da

    histria e trajetria6 do indivduo, recomendado o uso de entrevistas pessoais com cada

    agente a ser estudado. Dessa forma torna-se mais gil o entendimento do estudioso, visto que

    as questes podem ser esclarecidas no momento de sua coleta. Porm esse mtodo deve ser

    usado com certa cautela, pois a imagem que o entrevistado fornece de si pode no ser a

    correta ou a mais imparcial, tanto porque o indivduo no reconhece a imparcialidade

    completa para falar de si mesmo, e a boa imagem fator crucial para sua afirmao como

    elite em sua rea. Pela satisfao com a pesquisa, deve-se buscar outras fontes de informao,

    outros currculos profissionais e meios de procura. A elaborao de questionrios, enviados

    aos agentes, outra forma de obteno de informao de onde e retiram perguntas essenciais

    para o encaixe do mosaico das caractersticas das lideranas.

    A escolha da empresa foi feita com base na colocao da mesma no ranking e

    nos estudos sobre internacionalizao de empresas no Brasil, como o realizado pela Fundao

    Dom Cabral j citado neste trabalho anteriormente. A histria do Grupo, fortemente ligada

    famlia Gerdau Johannpeter, e os excelentes nmeros de sucesso dos negcios motivaram o

    uso do Grupo Gerdau em detrimento de outras companhias. Antes dessa escolha, empresas

    como a Vale, a Petrobrs, a Marcopolo e outras, estiveram nas intenes de pesquisa, porque

    tambm figuravam em boas colocaes no rankings de estudos sobre a rea (FUNDAO

    DOM CABRAL, 2012), porm considerou-se a Gerdau como o melhor modelo para o estudo

    por causa da transferncia de cargos de gerncia entre herdeiros e gerentes profissionais.

    A Gerdau uma empresa de controle familiar gerida profissionalmente. Essa

    conjugao de fatores permitiu a conservao de um rico aprendizado, acumulado e partilhado

    em quatro geraes de comando, nas quais os processos se modernizaram continuamente,

    graas construo e manuteno de uma cultura empresarial vigorosa, que atua como fora

    propulsora do crescimento e da expanso do grupo (GERDAU, 2001).

    6 Para melhor entendimento sobre o estudos de trajetrias de elites polticas, ver GRYNSZPAN, M. Os idiomas da patronagem: um estudo da trajetria de Tenrio Cavalcanti. In: Revista Brasileira de Cincias Sociais, n 14, ano 5, out./1990

  • 23

    Para isso, a dissertao contou com a pesquisa das trajetrias dos executivos do

    Grupo Gerdau dos anos de 1980, 1985, 1991, 2001, 2006 e 20017. Os nomes dos executivos,

    escolhidos entre Conselheiros e Diretores, foram coletados dos relatrios anuais da empresa8

    ou solicitados ao Centro de Documentao do Grupo Gerdau. Os dados de 1995, que

    deveriam ser inseridos nessa abordagem pela lgica temporal do intervalo de cinco anos, no

    foram fornecidos pela empresa. Foram observadas as duzentos e oitenta posies da diretoria

    e Conselhos Administrativo e Executivo nos anos citados. Com os nomes dos atores, uma

    pesquisa minuciosa foi realizada usando as redes sociais da rede mundial de computadores,

    Linked In9 e Facebook10, alm de outras fontes encontradas pelo stio de busca Google, que

    direcionou a pesquisa para outros stios, como blogs e pginas institucionais de empresas. De

    todos os profissionais encontrados, cento e vinte e seis executivos apareceram mais de uma

    vez nos cargos procurados, para a pesquisa ficaram, portanto, cento e cinqenta e quatro

    nomes para busca de currculo. Os dados mais interessantes para o trabalho so o tipo de

    formao acadmica, a trajetria profissional e o tipo de experincia internacional acadmica

    ou profissional. Com essas informaes, foi possvel entender as mudanas dos perfis

    profissionais dos gestores nos perodos selecionados. Aqui, para facilitar a apresentao,

    criaram-se quadros exemplificadores dos perfis mdios a seguir, com minibiografias

    elaboradas pela autora.

    7 Ver apndice. 8 Os ltimos anos foram consultados em http://ri.gerdau.com/ptb/s-36-ptb.html?idioma=ptb. Para os anos de 1980, 1985 e 1991, os dados foram fornecidos pela empresa em 2012. 9 O stio uma rede social que rene os resumos de currculos de profissionais de todas as reas para a manuteno virtual dos relacionamentos entre colegas para network. Para mais: http://www.linkedin.com/. 10 Facebook uma rede mundial de relacionamentos sociais virtuais, largamente utilizada no Brasil. Para mais: www.facebook.com.

  • 24

    1 O ESTUDO DE ORGANIZAES EMPRESARIAIS SOB O AMPARO

    DA SOCIOLOGIA ECONMICA E A TEORIA DAS ORGANIZAES

    A quantidade de recursos econmicos que so movimentados globalmente no

    final do sculo XX e incio do sculo XXI evidencia a grande transformao na estrutura

    social, de modo que a economia um fator de relevncia na vida cotidiana. O papel central

    que o dinheiro tomou na sociedade desse perodo mostra que o capitalismo tem evoludo de

    maneira rpida desde meados do sculo XIX, e se configura, agora, de outra forma, como um

    novo capitalismo. A financeirizao econmica, caracterizada pela movimentao dos

    mercados a partir de aes, que vai modificar todo o espao empresarial, denuncia essa

    transformao; investidores so agora a pea mais importante na tomada de decises e na

    influncia da situao econmica nacional e internacional. Atravs disso, ocorre a

    resignificao do trabalho, da posio do Estado, frente ao novo contexto, e da sociedade. As

    elites, em suas diversas apresentaes, so reconfiguradas, acompanhando o movimento de

    financeirizao (JARDIM, 2011). sobre essa abordagem que se debrua a sociologia

    econmica, buscando trazer a contribuio que relaciona o social e o econmico. O papel do

    Estado participa ativamente, interferindo como regulador. Os trabalhadores, profissionais, as

    organizaes, a condio social das populaes, so os espaos aonde a economia exerce

    influncia direta. O trabalho da sociologia econmica reside na observao dessas relaes.

    A sociologia econmica pode ser definida de modo conciso como a aplicao

    de idias, conceitos e mtodos sociolgicos aos fenmenos econmicos mercados, lojas,

    sindicatos, e assim por diante (SWEDBERG, 2004, p. 7). A sociologia econmica tem sua

    gnese desde Weber, em que os fenmenos econmicos influenciam a sociedade, sua

    organizao atravs da forma como os indivduos tomam aes baseados na estrutura da

    economia e como a mesma sociedade influencia os condicionantes econmicos11. O sistema

    capitalista tem criado maiores oportunidades para mais pessoas do que qualquer outro sistema

    em toda a histria. por isso que a construo desse sistema econmico fortemente

    fundamentada pela estrutura social e as instituies existentes nos pases. Essa deve ser a base

    para a formao de uma sociologia de mercados, onde a dinmica econmica, social e poltica

    so vistas a partir de sua interligao.

    11 Para mais sobre institucionalismo e sociologa econmica ver em HIRSCH, P.; STUART, M.; FRIEDMAN, R. Mos sujas versus modelos limpos: Estar a sociologia em risco de ser seduzida pela economia? In: MARQUES R.; PEIXOTO J. (Org.). A Nova Sociologia Econmica: uma antologia. Oeiras: Celta Editora, 2003. 125-165.

  • 25

    Fligstein (2002) justifica a necessidade de estudos que analisam mercados

    dentro da rea da sociologia. Sociedade de mercado aqui entendida como sistema de troca

    social, argumento que sustenta a importncia do neo-institucionalismo incorporar

    instituies de mercado para explicaes sociolgicas. Por serem aspectos da vida social,

    mercados so resultados da histria e se desenvolvem atravs do tempo buscando maior

    eficincia e menor custo, assim se diversificando, criando alternativas e forando os Estados a

    criarem leis e regras para sua regulao. Fligstein define: Sociologia Econmica o estudo

    de como a produo material e o consumo dependem de processos sociais para sua

    estruturao e dinmica (FLIGSTEIN, 2002 p.6), e como uma interpretao sobre o que se

    tem escrito nessa rea, estabelece a abordagem dada pelos acadmicos da rea. Segundo a

    sociologia, os mercados so produzidos pela estrutura social, a forma como sero e as

    relaes sociais que envolvem esto diretamente relacionados s estruturas sociais

    anteriores12.

    Para o funcionamento de mercados e empresas necessrio que exista um

    suporte legal e social, uma rede que possibilite relaes entre produtores, fornecedores,

    consumidores e Estado. Essa cadeia de relaes s possvel dentro de condies sociais pr-

    estabelecidas, uma estrutura social coesa que fornea subsdios simblicos, cognitivos, para a

    produo desse sistema. Para que esse crculo de processos funcione corretamente o Estado

    surge como regulador propondo leis e gerindo instituies de apoio ao mercado.

    Outro ponto de grande importncia para a criao, emergncia e estabilidade

    a cultura local. O autor tem uma viso institucionalista e entende firmas e pontos de vista

    (compreenses e entendimentos do mundo) como instituies. As transformaes sociais s

    ocorrem atravs das instituies que influenciam, produzem e propem alternativas para

    mudanas. De certa forma, podemos entender que instituies sociais produzem elementos

    cognitivos que tm a funo estruturante e, por sua vez, estabelecem regras. Os

    entendimentos colocados aqui so chamados de CONCEPES DE CONTROLE

    (Conception of Control) por Fligstein (2002). Os arranjos institucionais so as regras e leis

    informais e formais que determinam a forma como se do as relaes sociais. Os mercados

    esto em constante mudana e competio, em busca de estabilidade. A estrutura de mercado

    resultado da influncia de trs direes, o Estado que estipula regras para seu funcionamento

    12 O Antroplogo Lvi-Strauss possui toda uma teoria sobre estruturas estruturantes, que defende a idia de que estruturas sociais so resultado de estruturas anteirores, que se renovam e se modificam atravs do tempo se reestruturando formando novas relaes e regras sociais.

  • 26e intervm quando necessrio, as regras produzidas pelas firmas e pelos empreendedores, e

    pelas instituies e outros mercados (FLIGSTEIN, 2002).

    Mercado, aqui, considerado como campo13 porque est em constante

    mudana e h a competio entre os atores. Entendendo que h a alternncia de lideranas,

    quais as firmas determinam regras, podemos perceber que o autor aceita a abordagem da

    teoria elitista14 tambm para explicar a dinmica do campo. Os lderes definem qual o tipo de

    estabilidade funciona em determinados espaos, por consequncia outras firmas so

    introduzidas no mesmo esquema, a partir do entendimento das regras definidas pelas

    lideranas, buscando competio. Quando ocorre a saturao de produtos h a diversificao

    natural, a procura de alternativas para que firmas no saiam do jogo, criando novos mercados.

    Na formao de mercados, instituies e estruturas sociais so responsveis por sustentar os

    diferentes tipos de mercado, diferentes atores exercem fora sobre a atuao de determinadas

    polticas que requerem intervenes econmicas da mesma forma determinadas. De acordo

    com o modelo de Estado onde esses atores so dominantes sobre a estrutura, as polticas e as

    instituies so voltadas para determinados interesses. Dessa forma os atores tm papel

    fundamental na construo da economia local e proporciona caminhos diferentes nas

    proposies de polticas e entendimentos entre eles. Usando exemplos reais o autor consegue

    comprovar esses modelos, usando os modelos dos Estados Unidos, Escandinvia, Alemanha e

    Frana.

    Os estudos que envolvem a rea da Sociologia Econmica so considerados

    aqui, sendo citados alguns autores importantes e suas teorias so levadas em conta. A

    contribuio de Fligstein analisar a troca econmica como um campo:

    The basic insight is to consider structured exchange as a field. The social structure of a field is a cultural construction whereby dominant and dominated coexist under a set of understandings about what makes one set of organizations dominant () To apply the theory of fields to markets, one must focus on the behaviors of organizations that produce the goods or services in the market. The incumbent firms are defined as those who dominate the field by being big, defining the product, and undertaking moves to reproduce their position vis--vis smaller, challenger firms.

    13 A referncia terica para compreender o conceito de campo usado por Figstein aqui pode ser encontrada em BOURDIEU, P. O Poder Simblico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992. 14H hoje uma bibliografia de base bastante interessante que ampara os estudos na rea de Teoria das Elites. Bottomore explica a idia nos trs principais tericos do conceito, Mosca, Pareto e Mitchels. Bottomore define Elite de duas maneiras, uma que separa de toda populao os mais bem sucedidos como Elite: Suponhamos que em todos os ramos de atividade humana seja atribudo a cada indivduo um ndice que represente um sinal de sua capacidade, de maneira semelhante quela pela qual se conferem notas escolares. (...) Reunamos, pois, em uma categoria, as pessoas que possuem os ndices mais altos em seus ramos de atividade, e a essa categoria daremos o nome de elite (p. 08). De outra que a separa entre aqueles que tm influncia sobre o governo e aqueles que so inferiores. A ele a define como aqueles que tm poder. Na lngua inglesa o primeiro uso conhecido de elite, de acordo com o Oxford English Dictionary, data de 1823, quando j era aplicado para referir-se a grupos sociais. In.BOTTOMORE, T. B. As elites e a sociedade. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1974, p.7.

  • 27

    The basic idea is that the price mechanism in a given market () tends to desestabilize all firms in a market. This is because it encourages all firms to undercut the prices of other firms, and this threatens the financial stability of firms (FLIGSTEIN, 2002, p. 68).

    Ou seja, a estrutura de campo uma onstruo social onde dominante e dominados

    coexistem sobre entendimentos sobre o que fazem as organizaes lderes, e que para aplicar

    a teoria de campo a mercados, podemos dar maior enfoque nos comportamentos das

    organizaes que produzem mais. As responsabilidades das firmas so definidas por quem

    domina o campo buscando crescimento, definindo a produo e tomando aes para manter

    sua posio desafiando outras empresas. A idia bsica que o mecanismo de preo em

    determinado mercado tende a desestabilizar as outras firmas desse mercado, isso porque todas

    as firmas devero cortar preos e isso desestabiliza o sistema financeiro de firmas como um

    todo.

    H trs concepes de sistema de empregabilidade: Managerialism (por

    gerencialismo), Vocationalism (por vocao) e Professionalism (por profissionalismo).

    Managerialism a lgica de entrada no mercado onde o ator busca crescimento profissional e

    orienta sua tomada de decises pela estrutura e conceitos da prpria empresa em que se

    insere. Os entendimentos sobre o mercado so dados pela firma e este tipo de ator assume os

    conceitos da empresa como sua viso de mundo sobre o mercado, procurando fazer sua

    carreira dentro da estrutura da mesma firma. Na lgica do Professionalism, o ator d maior

    valor educao como forma de apreender o funcionamento de mercado. A importncia dada

    busca de aprimoramento atravs de institutos de ensino estabelece uma estrutura

    diferenciada na relao entre o mercado e as escolas, sendo influenciados esses institutos e o

    mercado reciprocamente. Vocationalism produzido por organizaes fortes de trabalhadores,

    e focado na produo ocupacional de carreiras. Esses tipos ideais15 se misturam e o contexto

    histrico permite a predominncia de uma ou outra lgica. Comprovaes da existncia real

    desses modelos so encontradas em diversos pases, como na Alemanha com o vocationalism,

    nos Estados Unidos com uma mistura de managerialism e professionalism, na Frana com o

    professionalism e Japo com o managerialism. Pode ser visto que a dominncia de

    determinados atores na construo do Estado favorece a aplicao de um ou outro modelo

    majoritrio de tipo de empregabilidade; onde firmas so fortes, o managerialism maior

    15 Tipo ideal uma ferramenta metodolgica desenvolvida por Max Weber, onde estabelece modelos idealizados para comparar com a realidade no posicionamento dos individuos no contexto. Ver em WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos de sociologia compreensiva. Braslia, DF: Editora Universidade de Braslia: So Paulo, 2000.

  • 28tendncia; onde trabalhadores so fortes perante o Estado h maior vocationalism

    (FLIGSTEIN, 2002).

    Existem grandes diferenas entre estudos sobre mercado feitos por socilogos e esses

    mesmos estudos feitos por economistas. Socilogos esto preocupados em compreender de

    onde surgem os mercados, o que os influencia e que influencia tm, por sua vez, sobre a

    sociedade. Economistas se preocupam com eficincia, estabilidade e produo. H

    divergncias tambm com relao a mtodos. Neil Fligstein faz a crtica sobre os estudos

    feitos por economistas e socilogos usando dados complexos.

    There has been a lot of interest in creating a sociology of markets I the recent literature, and much of that discussion has focused, and I believe rightly so, on the problem of social embeddedness. The theoretical dificulty is deciding what that embeddedness consists of. The results presented here suggest two things. First, organizational and not financial or ownership embeddedness is likely to be a more important cause os actions of firms than anything else in the case of United States. This means effort should concentrate on especifying models of the relations between firms that focus on intra and interorganizational processes, soch as the construction of strategic action and cultural frames by which such construction makes sense. Second, the type of embeddedness we choose should be relevant to the problem. The connections between firms, banks, owner, and managers just does not significantly predict much that is interesting in the strategic choices of firms; and therefore we should theoretically focus on what does. The concentration upon the board of directors as a source of network data in general and financial linkages across boards of directors in particular should be abandoned unless one can theoretically specify why they might be relevant () More relevant network data would focus on how firms obtain knowledge of competitors (trade publications, associations, meetings, and market research) and how they filter their use of that information (FLIGSTEIN, 2002, p. 145)

    Isto , tem sido muito interessante a criao da sociologia de mercados na

    literatura recente e muito dessa discusso focada na questo social. A dificuldade terica

    decidir em que essa questo consiste. O resultado apresentado sugere dois caminhos.

    Primeiro, a causa mais importante das aes das firmas, no caso dos Estados Unidos, est

    mais diretamente ligada a fatores no financeiros ou ligados a decises de proprietrios.

    Segundo, o tipo de aprofundamento que escolhemos deve ser o mais importante no problema.

    O mais importante como dado para as empresas entender como os competidores obtm

    conhecimento e como usam essas informaes.

    Para explicar o conceito do pensamento emergente das firmas, o autor faz uma

    recapitulao histrica da organizao de empresas durante o sculo XX. O surgimento de

    cartis passa a ser neste perodo importante para obter maior poder de competio. Os cartis

    foram proibidos e essas firmas foram falncia. A tentativa seguinte foi a formao de

    oligoplios capazes de concentrar em poucas firmas muitas indstrias, processo iniciado na

    dcada de 1890. Posteriormente, surge a manufatura como lgica dominante de produo na

  • 29dcada de 1920. Junto com os oligoplios nasce a concepo financeira de controle de

    mercado em meados de 1960. Em 1980 passa-se a pensar em grandes corporaes, na

    disseminao do pensamento empresarial para legitimar a fora das grandes firmas. A gesto

    passa a ser moldada de acordo com a cultura de atores e na estrutura social na qual se inserem.

    Duas teorias sociolgicas tentam explicar a divulgao de novos valores durante os anos

    1980: a expanso do controle sobre firmas por bancos e investidores torna as firmas

    vulnerveis manipulao financeira, e outra diz que a dominao de CEO financeiros nas

    grandes empresas, o compartilhamento de concepes de controle no comportamento de

    competidores e a diversificao de firmas pode ter afetado a estrutura de firmas e suas formas

    de pensar o negcio. A hiptese que Fligstein usa para explicar as transformaes nas

    empresas durante o sculo XX que a influncia do controle do sistema financeiro sobre as

    empresas forou os gerentes a seguirem um pensamento dominante de gesto, criando atores

    que, compreendendo essa influncia e assimilando novas tcnicas, puderem se destacar dentro

    desse cenrio. A concepo de controle financeira est focada em trs mecanismos. Primeiro

    na presena e orientao de um CEO que possua o entendimento sobre a concepo

    financeira. Segundo, em firmas que no tm a orientao de um CEO h a tendncia de uma

    nova organizao financeira se outras firmas tambm se dispuserem a isso. Terceiro, a

    diversificao de produtos nas firmas tambm sugere que as empresas tenham seguida a

    lgica financeira como a melhor concepo de controle, isso porque aumentar a quantidade de

    produtos dentro de uma mesma firma torna seus produtos populares (FLIGSTEIN, 2002). Os

    anos 1980 refletem o nascimento do pensamento dominante da concepo de controle vinda

    do posicionamento de acionistas para as grandes corporaes norteamericanas. Os CEOs

    observaram esse novo ponto de vista e passaram adiante em suas firmas. Firmas

    diversificaram produtos assim como remodelaram as estruturas empresariais.

    Estruturas de governo definem como ser a organizao interna nas firmas e

    sua relao com competidores, fornecedores, consumidores e Estado. Algumas teorias

    trabalham com a relao ntima entre empresas e Estado, porm h diferenas significantes

    entre elas. Economistas esto focados na eficincia e nos ganhos das empresas enquanto

    socilogos procuram estabelecer maior relao das empresas com o social, a poltica e cultura.

    A literatura que trata das organizaes pode ser dividida em trs: as que trabalham com

    relaes entre gerncia e trabalhadores; aquelas que lidam com a separao entre o controle

    de empresas e os donos delas; e as que trabalham sobre o trabalho nos diferentes nveis da

    hierarquia empresarial.

  • 30

    Esses estudos mostram frequentemente que no h nenhuma prova de

    convergncia mundial a qualquer modelo comum de relao entre Estado e sistema

    financeiro. A maior evidncia de que no h um mercado mundial conciso do qual d conta

    uma concepo de controle coesa. Direitos de propriedade e estruturas de governana esto

    submetidos ao controle do governo e elites locais. As teorias de organizaes tm sido mais

    comum nas explicaes de eventos especficos de governos locais. Essa uma diviso

    funcional da academia, pesquisadores esto mais focados em determinadas sociedades,

    prximas a eles, porque no tm conhecimento suficiente sobre outras sociedades.

    Consequentemente, no h uma teoria que tenha sido testada em um largo nmero de culturas.

    O sculo XX foi marcado pelas inovaes em tecnologias e a consequente abertura de

    mercados. As empresas que se especializam em inovaes alcanam posio de dominncia

    em relao s outras e, se matm a atualizao de suas tecnologias, conseguem se manter

    estveis como lderes de mercado. Essas so as concepes de controle que vo construir os

    mercados estveis. As universidades tm papel importante nesse processo com a produo de

    pesquisas, financiadas pelos governos. O suporte para a estabilizao de mercados vem

    tambm de leis criadas pelo Estado para apoiar aes das empresas (FLIGSTEIN, 2002).

    As polticas de Estado so as maiores responsveis pela produo de regras e

    instituies, onde so baseadas as aes das empresas em torno de mercados. Direitos de

    propriedade, estruturas de governana, concepes de controle e regras de troca so conceitos

    usados por Fligstein para explicar instituies, influenciadas diretamente ou indiretamente,

    moldadas pelos governos em direo de uma poltica de Estado norteadora dos rumos de

    economias nacionais. Os modelos de Estado esto intimamente ligados com a estrutura

    econmica de um pas, as leis produzidas so as regras do jogo dos mercados nacionais.

    Intervenes nas relaes de trabalho tambm influenciam na formao da estrutura

    empresarial nacional.

    Pensar em globalizao nesse contexto parece difcil, conceber que empresas

    muito grandes podem adentrar em diversos e diferentes pases, com culturas, instituies,

    entendimentos e estilos diferentes.

    Esse novo olhar sobre a sociedade, acompanhado dos aspectos econmicos,

    trazido pela Sociologia Econmica, um avano no pensamento da esquerda principalmente

    na Frana e Estados Unidos, onde mais difundida. At o pensamento de esquerda deixa de

    trabalhar somente a crtica ao capitalismo e o enxerga como um componente da estrutura

    social atravs da economia nos ltimos trinta anos (SWEDBERG, 2004). Descobre-se assim

    um capitalismo regenerado, que se renova e se reconstri sobre as antigas bases, e uma

  • 31sociedade degradada pelas relaes econmicas e de trabalho, que no conseguem consertar

    os problemas antigos e redescobrem novos obstculos (BOLTANSKI, 2009).

    Em meados da dcada de 1990, os financistas recobram uma liberdade de ao

    que no tinham desde a crise de 1929. Nessa fase as aplicaes ocorrem com maior peso no

    mercado financeiro do que na indstria, incentivando e impulsionando uma reestruturao das

    empresas, principalmente as de capital aberto. Os governos so requisitados para

    estabelecerem polticas de apoio a esse movimento e facilitar a expanso em fuses de

    empresas, no sentido, inclusive, de expanso internacional. Em matria de salrios e

    condies trabalhistas, os governos tambm so solicitados para regulamentar a flexibilizao

    do trabalho que surge das necessidades do rearranjo organizacional que sofreram as empresas,

    direta ou indiretamente. Todas as instituies que se beneficiam do mundo do trabalho so

    atingidas por essas mudanas, como as famlias (o desemprego e o mercado de trabalho

    feminino aumentaram significativamente) ou as instituies de ensino. Esse reflexo se

    observa sobre os diplomas, que j no tm o mesmo valor (BOLTANSKI; CHIAPELLO,

    2009).

    A percepo de certas categorias profissionais sobre seu prprio campo de

    atuao busca, de certa forma, se adaptar aos novos tempos e sugere transformaes internas

    de formao e de expertises, criando discursos ideolgicos de legitimao. No espao da

    gesto, que envolve profissionais com formaes acadmicas variadas, inclusive

    administradores, engenheiros, economistas e outros atores sem diploma ou formados em

    outras reas, existe uma literatura prpria desses atores, bem como uma linguagem prpria16.

    Na criao de princpios de legitimao, so determinados entendimentos internos da rea de

    forma normativa, conhecimentos e linguagem prprios que os distinguem, porque se

    reconhecem assimilando melhor a linguagem. A compreenso da linguagem ideolgica

    convertida em capital e garante alcanar uma colocao no campo da elite na rea

    (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009). Em Boltanski:

    No de surpreender que os executivos tenham reconhecido suas prprias aspiraes nesse elogio profisso e competncia (contra a legitimidade do patrimnio, que era referncia do Primeiro Esprito do Capitalismo), bem como na importncia atribuda educao. O Segundo Esprito do Capitalismo, portanto, encontra sua expresso mais natural na literatura de gesto empresarial (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009, p. 85).

    16 Para ver mais sobre formao de administradores, ver em: JULIAN, E. A. Padres de insero profissional de docncia em Administrao no Brasil: Internacionalizao como construo de capital. In: Encontro Anual da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais, no. 35, 2011, Caxamb, Minas gerais. Resumos do 35 Encontro Anual da ANPOCS, Caxamb, 24 a 28 de outubo de 2011, p. 176.

  • 32

    Assim, a ideologia dominante homogeneza os discursos, criando uma

    literatura de gesto que rege, de certa forma, a maneira como so geridas empresas e como

    so formados os gestores.

    Segundo Boltanski e Chiapello (2009), em trinta anos o discurso e prtica do

    ambiente empresarial sofreu mudanas profundas em conformidade com a prpria mudana

    do capitalismo, que segue na dcada de 1990 com fora voltada para os mercados financeiros,

    flexibilizao do trabalho, autonomia e modelo de organizao das grandes empresas em

    redes, esquemas contrapostos ao que ocorria na dcada de 1960, onde os empresrios se

    pautam na meritocracia, hierarquia, administrao por objetivos.

    A literatura da gesto empresarial dos anos 1990 contm ideais, propostas de organizao humana. Modos de ordenamento dos objetos e formas de garantia que so da natureza to diferente daquilo que se encontra na literatura de gesto empresarial dos anos 1960 que difcil no reconhecer que o capitalismo mudou muito de esprito ao longo dos ltimos trinta anos, ainda que a configurao no possua a fora mobilizadora qual a figura anterior conseguiria chegar, pelo fato de estar no plano da justia e das garantias (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009, p. 84). Na literatura citada por estes autores pode-se perceber texto o que se tem transformado acerca da gesto nos anos 90 em contraposio ao pensamento da dcada de 60. Essa diferena tem reflexo nas transformaes do ensino em administrao ao longo do tempo, porque se a h uma influncia normativa da literatura produzida no comportamento dos profissionais da administrao de empresas (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009, p. 129).

    Com Donadone (2004), v-se que a comparao entre perodos favorece a

    percepo das mudanas ocorridas na rea da gesto no Brasil. Na virada do sculo XIX ao

    XX, a estrutura das firmas era baseada na propriedade, do maquinrio, da terra, geralmente

    familiar e imigrante. No existiam preocupaes com questes relativas produo, havia

    desperdcio, falta de estrutura, ausncia de cuidados com os trabalhadores, etc. A carncia de

    qualquer espcie de melhoria caracteriza a empresa da poca juntamente com o personalismo

    do dono. Num segundo momento, entre 1910 e 1940, aproximadamente, a concepo de

    controle do negcio muda. Os proprietrios portam-se mais como engenheiros e a empresa se

    racionaliza. A manufatura atinge outros patamares de produtividade e busca-se minimizar

    custos. A a burocracia valorizada embora o personalismo continue forte e a hierarquia ainda

    ressaltada. Quem manda so os engenheiros que conhecem o processo e ocorre a revoluo

    gerencial, onde o gerente toma o lugar do dono nas decises. A produo caracterizada pela

    repetio e padronizao.

    No perodo compreendido entre as dcadas de 1940 e 1970, ocorre a

    reestruturao organizacional voltada para a maximizao das vendas. Os administradores so

    os novos gerentes e a organizao da empresa passa a contar com a separao funcional entre

  • 33diretoria, projetos, finanas, e outras reas. Surge o marketing e a necessidade de criar

    diversificaes no negcio, diferenciao de produtos e a busca de novos clientes. Depois da

    crise de 1929, as firmas perceberam a importncia de inovar em seus produtos e, depois da

    Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos foram precursores no desenvolvimento de novos

    nichos de mercado. O custo no importava tanto: na briga pela concorrncia, o produto final

    torna-se o principal da cadeia produtiva para conquistar o cliente e vender mais (FLIGSTEIN,

    1990).

    De 1970 em diante, o pensamento empresarial passa a se focar na concepo

    financeira do negcio. Os donos deixam de serem grupos fechados ou famlias e passam a ser

    acionistas, investidores. As decises concernentes direo das empresas, aqui, so tomadas

    pelos conselhos executivos, diretores e administrativos, perdendo o carter personalista dos

    donos por completo, na configurao das empresas de capital aberto. As holdings aparecem

    como mais uma reestruturao organizacional, adequando as estruturas corporativas ao

    sistema financeiro. A busca pela maior produtividade e rentabilidade do negcio (claramente

    para maior captao de investidores pela garantia de lucro), impulsiona as organizaes a

    realizarem fuses, aquisies, fecharem setores dentro das firmas, abrirem outros, na escolha

    de ativos mais rentveis. A existncia de outras empresas fortalece o mercado porque fora,

    na concorrncia, a melhoria produtiva e de rendimentos17 (DONADONE, 2011).

    Definimos decises de governana corporativa como aqueles momentos em

    que os diretores do conselho administrativo encaram uma real oportunidade para consignar

    alguns recursos da empresa em um ou outro curso, a favor de seus objetivos (USEEM,

    2011). Os diretores podem se envolver em quatro reas na tomada de deciso, de acordo com

    Useem: a gesto monitorada, onde os executivos se portam como supervisores dos gerentes

    para o benefcio dos acionistas; de outra forma podem ser a parceria de gesto, em que os

    conselheiros apiam as decises dos altos executivos, visando melhorias para a empresa;

    legitimao da gesto, quando os diretores tm visibilidade no mercado dando diretoria da

    empresa determinadas caractersticas, para tranqilizar os investidores das diversas formas;

    Controle de gesto, onde a diretoria fiscalizada por agentes externos, como o governo ou um

    partido, por exemplo; controlados pela gesto, os diretores no tomam decises importantes.

    O aumento da concorrncia entre empresas e a necessidade de maximizar rentabilidade teve

    por efeito a formao de holdings empresariais, formao em que uma estrutura diretiva atua

    17 Essa linha de raciocnio foi sugerida durante as aulas do Professor, e orientador desse trabalho, Jlio Cesar Donadone, durante a disciplina de Tpicos Aprofundados em Teoria das Organizaes, ministrada no segundo semestre de 2011, na Universidade Federal de So Carlos, pelo Departamento de Engenharia de Produo.

  • 34para um grupo de empresas a partir de fuses e aquisies de outras empresas. Essa estrutura

    permite que as decises tomadas sejam impessoais, descentralizando a responsabilidade pelos

    rumos do negcio (DONADONE, 2004).

    O processo de desenvolvimento da empresa capitalista moderna apresenta-se

    como resultado da profissionalizao de atores, responsveis em fazer com que a direo das

    firmas acompanhe o contexto capitalista mundial em crescimento. A substituio dos cargos

    de direo dos donos para os gerentes profissionais, ocorrida aps a Segunda Guerra

    Mundial, tratada como a Revoluo dos Gerentes por Grn (1990).

    Ao se instalarem no Brasil, as grandes corporaes multinacionais trouxeram, alm do capital econmico e know-how especifico da atividade de cada uma, uma nova tecnologia organizacional que se difunde rapidamente no nosso tecido econmico estendendo sua lgica para um espao muito mais amplo do que a rea de atrao direta daquelas empresas (). Nessa nova situao, os conhecimentos difundidos pelas universidades iro se transformando em uma espcie de acumulao prvia de competncias a ser potenciadas pelos rgos de treinamento internos das empresas e com esta ambiguidade, alimentar os sentimentos anti-intelectuais sempre presentes em parcelas da nossa pequena burguesia (). O novo arbitrrio cultural ou numa formulao mais neutra, o novo estilo organizacional entra no Brasil atravs das multinacionais, mas ganha fora rapidamente o setor oligopolstico privado nacional, ento em formao, espraiando-se pelas empresas pblicas de administrao indireta. A sua forca simblica to grande, que ele penetra tambm na administrao direta do Estado e nas pequenas e medias empresas, onde claramente o figurino no encaixa no corpo a ser vestido (GRUN, 1990 p. 90).

    Depois da dcada de 1980, novas tecnologias de gesto so incorporadas s

    firmas modernas no Brasil. Como resposta recesso econmica buscam-se mercados

    externos na tentativa de aumentar ganhos. Nesse perodo surgem inovaes gerenciais,

    conceitos e idias, para auxiliar a produo e aumentar a competitividade (DONADONE,

    2002). No limite, quem decide por acrescentar novas ferramentas no ambiente organizacional

    das empresas so os diretores e conselhos, amparados pelas preferncias dos acionistas e

    investidores. Esse carter de poder que estes atores exerce sobre o espao de gesto os coloca

    em outro patamar dentro do seu campo profissional, so assim considerados a elite da gesto

    porque determinam conceitos e linguagem a serem utilizados pelos demais gestores.

    Conforme a velocidade como tm ocorrido as transformaes no mundo empresarial como

    um todo, obviamente causada em grande parte pela facilidade no acesso comunicao e

    informaes que se encontra atualmente, essa elite se renova com maior rapidez, adquirindo

    novos conhecimentos em intervalos de tempo cada vez menores. A diferena entre os atores

    em comparao no tempo, no mesmo campo h vinte, quinze anos atrs, muito grande. A

    reconfigurao constante e a construo da elite em gesto no mundo permanente,

    incluindo entradas e sadas de atores que no alcanam essa adaptao.

  • 35

    Agora que est introduzido o debate sobre elites nesse espao, falta

    observarmos o que elite. Uma boa definio encontra-se quando Donadone a define usando

    outros autores. afirmado que elites so grupos que exercem poder, evitando usar o conceito

    para a qualificao de qualquer outro grupo social, ou seja, grupos de pessoas que ocupam

    posies de maio poder em estruturas de DOMINAO. Essa dominao deve ser exercida

    dentro de campos especficos. Segundo Donadone explicando Bourdieu: campo consiste de

    um conjunto de prticas interligadas por interessses e preocupaes comuns, e de um

    entendimento das regras do jogo, das quais participantes esto cientes e s quais se

    submetem (DONADONE, 2011).

    As conseqncias para o processo descrito so variadas dentro dos cenrios

    internos de cada pas tanto queles que recebem capital estrangeiro, ou que permitem a

    entrada de produtos estrangeiros, quanto queles que buscam novos horizontes atravs de seus

    representantes econmicos. Assim, as mudanas estruturais a mdio e longo prazo podem ser

    verificadas nas sociedades em mbitos diferentes. A formao de profissionais preparados

    para pertencer ao grupo de comando de empresas internacionalizadas um dos pontos que

    podem ser mencionados como em transformao para se adequar aos novos padres de

    exigncia profissional. Aqui se buscar entender como pode ter ocorrido a mudana de perfil

    dos gerentes de uma grande empresa brasileira, a Gerdau S. A. Neste trabalho, ser dada

    ateno aos profissionais que participam desse processo, quais as competncias que so

    comuns aos agentes responsveis pelas tomadas de deciso das firmas, procurando observar

    em especial os estudos realizados fora do pas. Assim, poder ser reconhecido o peso dessa

    modalidade de estudo sobre a seleo pelas empresas transnacionais, verificando a

    importncia de conhecimentos internacionais para a composio da gerncia, e se este

    elemento um diferencial dos profissionais que participam da gesto das grandes empresas

    transnacionais. Entende-se Internacionalizao de Empresas, ou de Negcios, como toda

    operao econmica com capitais ou mercados estrangeiros, como investimentos diretos

    aquisies, fuses, joint venture ou estruturao de plantas em pas estrangeiro e

    investimentos indiretos compra de aes e exportaes.

    Neste trabalho, entende-se que a assimilao de entendimentos

    internacionalizados auxilia aos atores entrar ao patamar de elite dentro do campo da gesto no

    Brasil, uma vez que esses atores incorporam linguagens e comportamentos inovadores,

    passando a serem vistos como tradutores de conhecimentos estrangeiros para dentro do

    espao brasileiro. A imigrao de profissionais foi descrita por Wagner (1998).

  • 36

    Muitas pesquisas so feitas sobre a imigrao particularizando a questo da

    imigrao pobre, a busca por melhores condies de trabalho e vida, por grupos oriundos de

    pases subdesenvolvidos para pases com economia forte. A questo da imigrao leva na

    maioria das vezes a refletir sobre o mundo de trabalho, mas aqui se questiona a imigrao de

    trabalhadores de classes elevadas, chamados executivos. A circulao de estrangeiros de alto

    nvel social acontece tanto pelo trabalho quanto pelos estudos e so considerados um caso

    particular, no Brasil ainda no se fez um estudo como este. Na Frana, Anne-Catherine

    Wagner (1998) escreveu sobre a esse tipo de circulao em seu pas, afirmando que os

    estudos feitos excluem a anlise sobre aqueles de classes mais favorecidas, reforando o

    discurso de que imigrao um problema social e esses profissionais no fazem parte desse

    problema. A mundializao ou globalizao da economia promove essa nova modalidade

    que surge na contra-mo da imigrao como mo-de-obra, evidenciando a fragilidade do

    ensino nacional na produo de profissionais de gesto de empresas. O surgimento do

    gerente internacional celebrado pela literatura gerencial e pelos economistas.

    A diferena mais gritante entre a imigrao na distino das classes sociais,

    elevadas e pobres, a assimilao cultural local, a identidade dos grupos transformada de

    maneira diferente, as classes superiores reivindicam uma cultura internacional e fazem

    questo de evidenciar gostos e hbitos mundialmente valorizados, enquanto as classes baixas

    buscam assimilar a cultura local e recusam a identidade tnica (WAGNER, 1998, p. 12).

    Distanciando-se da anlise economista, de que essa circulao acompanhada pelo capital das

    firmas e isso o mais importante, o interesse apreciar os efeitos culturais da mudana de

    residncia dos executivos, quais as conseqncias para a formao de uma classe

    internacional ou para os pases que so destino, que recebem a contribuio de estrangeiros

    de classes superiores.

    As empresas se internacionalizam para alcanar melhores resultados e expandir

    negcios, em um movimento de transnacionalizao e depois de multinacionalizao18 atravs

    de fuses. As teorias mais importantes que explicam esse processo so descritas adiante nesse

    captulo.

    18 Transnacionais so empresas que ultrapassaram as barreiras dos mercados nacionais e, de alguma forma, instala unidades no extrangeiro, unidades comerciais, plantas de operaes, ou outro tipo de atividade produtiva que supere as exportaes. Multinacionais so empresas que tm sede de adminsitrao em mais de dois pases.

  • 371.1 Teorias desenvolvidas sobre o fenmeno da Internacionalizao de empresas

    H muitas pesquisas interessadas em discutir aspectos que envolvem a

    internacionalizao de empresas, realizados em distintas reas do conhecimento passando pela

    Administrao de Empresas, Sociologia, Economia e Engenharia de Produo. As

    motivaes, suas etapas, problemas e estatsticas das firmas para estabelecer-se como

    multinacionais so os temas comumente explorados. A forma como so abordados esses

    temas so tratados de maneira diferentes nas diversas pesquisas encontradas que se encaixam

    no recorte feito sobre a internacionalizao de empresas mundialmente. O estudo sobre

    internacionalizao, especificamente, nasce pela observao do processo por profissionais e

    acadmicos de reas distintas de negcios como Marketing, Recursos Humanos,

    Administrao e Economia estabelecendo, as matrias em conjunto, uma abordagem geral

    sobre o fenmeno.

    De acordo com Dunning (1988), os mesmos acadmicos que descrevem o

    processo so aqueles que tambm o aplicam nas empresas, porque na maioria dos casos,

    durante a poca identificada como a gnese da rea, os acadmicos so os contratados ou os

    profissionais das empresas que pretendem se aventurar no investimento direto em outros

    pases. Sendo assim, pode ter ocorrido, portanto, que os processos de internacionalizao,

    nesse incio da sua expanso, tenham seguido um caminho de certa forma comum entre as

    empresas participantes, pois aqueles que aplicavam as tcnicas compartilhavam

    conhecimentos de forma prxima. A maioria desses pesquisadores so tambm consultores, o

    que facilita aos dirigentes de empresas traarem estratgias orientadas nesse sentido e os

    conhecimentos difundidos, entre os grupos de pesquisa, passam a ser colocados em prticas.

    Sabe-se que as primeiras firmas que entraram na concorrncia externa encontram-se na

    Europa e Amrica do Norte, onde se localizaram os primeiros institutos de pesquisa do tema,

    o que refora a idia de que ao mesmo tempo em que o conhecimento produzido, tambm

    aplicado pelos institutos nas empresas como consultorias, havendo uma troca de via dupla

    entre empresa academia.

    O processo de internacionalizao de empresas, nos modelos como tm sido

    aplicados atualmente, surge na primeira metade do sculo XX, onde as empresas reconhecem

    sua capacidade e a necessidade de insero em mercados externos para atender crescente

    demanda econmica. Esse processo acompanha a Globalizao, gerada pela facilidade de

    transporte e comunicao ocorrida conforme o grande desenvolvimento tecnolgico no

  • 38mesmo perodo. Em 1948, um grupo chamado International Management Institute, em

    Genebra, Sua, inaugura estudos sobre este fenmeno e torna-se referncia. Por volta da

    dcada de 1957, com interesse em um campo multidisciplinar de pesquisa, desenvolve o

    IMEDE19, que foca na Internacionalizao de Negcios particularmente, sua estabilidade e

    desenvolvimento, influenciando posteriormente a formao de outros centros de estudos sobre

    o tema em pases como a Frana, que cria a INSEAD20 pela Cmara Francesa de Comrcio

    em 1958, e na Inglaterra com as London Business School e Manchester Business School, as

    duas em 1965 (DUNNING, 1988 p. 404).

    Dentro do escopo de teorias existentes sobre internacionalizao de empresas,

    uma escola se destaca como forte influenciadora de trabalhos ao redor do mundo. Na dcada

    de 1970 surgem na Sucia, na Universidade de Uppsala, trabalhos que tratavam do processo

    de internacionalizao de negcios desse pas. Essas pesquisas se tornaram importantes para

    os estudos na rea, levantando questes cruciais para identificar o fenmeno em um perodo

    de expanso da mundializao de negcios, passando a ser, mais tarde, a Escola Nrdica de

    Negcios Internacionais. Houve muitas mudanas desde os seus primeiros trabalhos, iniciados

    na dcada de 1960 por Penrose21, Cyert & March22, e Aharoni23. Apoiados nesses trabalhos,

    os acadmicos de Uppsala desenvolveram durante a dcada posterior trabalhos que

    compartilham do mesmo tema principal, a internacionalizao de empresas. Durante a dcada

    de 1970, os acadmicos aprenderam com as experincias empricas de casos europeus, sobre

    como as prprias firmas compreendem os mercados estrangeiros ao longo do processo de

    internacionalizao e como as decises devem ser orientadas e tomadas segundo as condies

    encontradas para fortalecer a relao entre ela e o mercado e desvendar novas oportunidades

    de negcios. O modelo de 1977 (JOHANSON; VAHLNE, 2009), como se convencionou

    chamar essa gerao de grande produtividade, se tornou bastante influente na pesquisa

    mundialmente produzida na rea de negcios, e por isso toma uma parte nessa dissertao.

    Ao mesmo tempo, e relacionado com os fatores acima mencionados, o estudo

    de Negcios Internacionais se transforma. A literatura alcana uma maturidade intelectual e

    respeito acadmico e tem atrado bons acadmicos. Pesquisas mostram que ocorre uma

    evoluo estratgica. Primeiro as empresas experimentam a exportao e depois se decidem

    pelo IED investimento externo direto. Das duas maneiras, o sentido da mudana voltado 19 Sigla para Institut pour l'Etude des Methodes de Direction de l'Entreprise, na Lousanne, Sua. 20 Sigla para Institut Europen d'Administration des Affaires, tambm chamado de European Institute of Business Administration, localizado em Fontainebleau, Frana. 21 PENROSE, E. T. The theory of the growth of the firm. Oxford: Basil Blackwell, 1966 22 CYERT, R.D. ; MARCH, J.G. A behavioral theory of the firm. Englewood Cliffs: Prentice hall, 1963. 23 AHARONI, Y. The foreign investment decision process. Boston: Harvard Business School Press, 1966.

  • 39para o aumento da produtividade e, segundo Brasil (2009), os objetivos esto ligados busca

    de novos mercados, ligado ao descobrimento de novos consumidores, de eficincia, pelo

    menor custo de mo-de-obra, mais recursos e matrias-primas, fuses e aquisies e por

    motivos polticos24. Essas empresas entrariam assim em maior competitividade de mercado,