a noção clássica de valência e o limiar da representacão

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Waldmir Nascimento de Araujo NetoO artigo apresenta alguns fatos histricos relativos ao perodo inicial de desenvolvimento da noo de valncia qumica, considerada como a Noo Clssica de Valncia. So focalizados os aspectos derivados do programa de pesquisa da qumica orgnica, situados a partir de meados do sculo XIX. Pretende-se caracterizar a influncia da noo de valncia como um construto crucial para o desenvolvimento de uma Teoria Estrutural e a premncia de formas de representao que participam como ferramenta heurstica em detrimento de uma funo simblica para um objeto fsico. A centralidade da noo de valncia mantm-se por meio de seu valor histrico como uma referncia na elaborao de formas de representao e de novos conceitos que permanecem ainda hoje na prtica dos qumicos. valncia, estruturas qumicas, histria da Qumica, filosofia da Qumica

Recebido em 10/10/06; aceito em 18/10/07

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noo de valncia um tema ao mesmo tempo controverso e central na histria da Qumica. Por meio das diferentes aproximaes desenvolvidas para precisar o seu papel no desenvolvimento do conhecimento qumico, a noo de valncia demonstrou ser pelo menos uma estratgia metodolgica bastante eficiente para aproximao do qumico com o misterioso mundo interior da transformao qumica. Essa noo se atreveu a tentar explicar os antigos domnios da afinidade qumica, produzindo com isso uma maneira especial de representar a realidade invisvel dos tomos e das molculas mediante as chamadas frmulas estruturais. Sua influncia encontra-se registrada na inaugurao tanto do programa de pesquisa da qumica orgnica, por meio dos trabalhos de Laurent, Gerhardt e Kekul, entre outros, quanto na forte colaborao para a formulao das hipteses explicativas da relao estrutura-propriedade dos complexos de Werner. Como se no bastasse, a valncia provocou tambm o mundo peridico, organizando a posio dos primeiros ele-

mentos tanto no sistema russo, prointerior do programa de pesquisa da posto por Medeleev, como no alequmica orgnica. O segundo, de mo, proposto por Meyer. A partir de 1870 at 1920, assinala a influncia todas essas influncias, professores da periodicidade qumica sobre ela, de Qumica concordam que imposdeterminando uma ampla divulgao svel dar os primeiros passos na dise utilizao do conceito tanto no ciplina sem ser apresentado a ela. campo acadmico quanto no didContudo a situao da noo de tico. E o terceiro, aps 1920, assinala valncia no presente bem diferente a coliso entre os antigos referenciais do ponto de vista acadmico. Os da noo de valncia com os resulavanos crescentes da chamada tados da utilizao de mtodos fsicos qumica terica retiraram da valncia modernos no estudo da estrutura das seus atributos e designaram-na como substncias, incluindo-se o alcance uma funo meramente sinttica. Asdos preceitos da mecnica quntica sim, o que outrora fosobre os objetos da ra analisado como Qumica. O que conA valncia provocou o uma teoria fundadosidero aqui a noo mundo peridico, ra, agora mormente clssica de valncia organizando a posio dos remetido por meio de tratar, ainda que primeiros elementos tanto locues adjetivas brevemente, de alno sistema proposto por tais como: eltrons gumas situaes Medeleev como no de valncia, nvel de que se desenrolam proposto por Meyer valncia e configuno primeiro perodo rao de valncia. e em parte do segundo. Em relao a uma evoluo temA estratgia/organizao de miporal restrita, a histria da valncia ponha narrativa mais bem identificada de ser dividida, grosso modo, em trs como um mapa histrico de idias e perodos. O primeiro, de 1850 a 1870, problemas que, em diversas pocas, caracterizado pela emergncia do constituram ou foram constitudos conceito e seu desenvolvimento no pela noo de valncia, preservandoA noo clssica de valncia N 7, DEZEMBRO 2007

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a primazia no o critrio exclusivo sempre que possvel uma ordem crode qumica, utilizada como conceito para a indicao de um mrito ciennolgica. Denota-se, assim, uma preorganizador da rede de pesquisas tfico. No caso da noo clssica de tensa histria das idias que, em desenvolvidas na Qumica durante os valncia, a disputa desse mrito acadiversas pocas, constituram os funsculos XVII e XVIII. Outra forte bou sendo to acirrada entre os histodamentos dessa importante noo. influncia que marcar as tendncias No considero possvel reunir nesse riadores quanto entre os protagonisde organizao de pensamento em texto todos os personagens, centrais tas. Questes polticas colocaram torno da noo de valncia so as ou adjuvantes, ainda assim me sinto muitas vezes a disputa dessa historioteorias que, poder-se-ia dizer, fundam confortvel em no faz-lo, pois o que grafia entre um bloco oriental e um o programa de pesquisa da qumica encerro nessas lioutro ocidental. Mesorgnica durante o sculo XIX: a nhas , em boa meTeoria dos Radicais, a Teoria dos Nmo assim, na criao Uma questo importante a cleos e, principalmente, a Teoria dos dida, um recorte que da noo clssica de ser considerada no Tipos3. carrega a marca de valncia, no se ponascedouro da noo minhas leituras e de imputar a um niclssica de valncia a Valncia e capacidade de combinao pesquisas acerca do co personagem essa influncia que esta recebe tema. Advirto o leitor At o incio do sculo XIX, a Quresponsabilidade. da noo de afinidade interessado nesse mica, que utilizava como material de Um estudo da biqumica assunto para a nepartida para sua prtica plantas e bliografia que trata cessidade de ampliar sua leitura por animais, inclua uma aproximao da histria da noo clssica de meio da bibliografia indicada e, princimuito forte com a histria natural, busvalncia revela, em alguns momenpalmente, no se prender a uma cava esclarecer a fisiologia das plantos, relatos implicados por questes nica escola historiogrfica ou filostas e dos animais e mantinha suas de carter externo2, e que denotam fica ao saborear a histria de um concerta polarizao em torno da primafronteiras prximas as da farmcia e ceito. Faz-se muito importante, nesse zia dessa noo. Num extremo, estade outras artes. A partir de 1820, processo, a permanente recolocao ria, por exemplo, o nobre ingls Sir comeam a ocorrer mudanas fundadas impresses obtidas. Edward Frankland (1825-1899), que mentais na conduo das tcnicas Pretende-se oferecer aqui uma leifoi responsvel pela identificao dos praticantes dessa qumica dos tura em duas dimenses do que foi prioritria das regularidades existenseres vivos. Franceses e alemes fotes nas capacidades de combinao impresso durante a constituio da ram responsveis por um mergulho dos metais com radicais orgnicos. noo clssica de valncia, digo com no interior do objeto qumico, tendo No entanto, Frankland no fez uso daisso que no tratarei (ainda que nesse prioritariamente reaes de substituiquilo que havia observado em seu o como seus objetos principais de momento responsabilize o tamanho programa de pesquisa, que permaestudo. Organiza-se nesse momento do texto) das influncias e conflunnecia ancorado nas propostas dualisuma mudana de rumo no conjunto cias espaciais que marcaram, tamtas de Berzelius. de procedimentos tcnicos daqueles bm nesse perodo, o incio de uma No outro extremo, costuma-se poque preferem investir na preparao estereoqumica 1. Finalmente, itero que pretendo percorrer a histria da sicionar o alemo Fiedrich August de substncias que no possuem Kekul (1829-1896) noo clssica de valncia para iluanlogos na natureque, imbudo da vonminar ao leitor as circunstncias que za, tais como comO debate acerca da primazia tade de responder s se colocaram naquilo que considero postos clorados, e de uma idia ou noo demandas de sua o limiar da representao estrutural, que tambm no cientfica costuma ser to recm-inventada pae digo que desse perodo decorre so atraentes ao moproveitoso quanto lavra: valncia, intuiu uma potente carga epistemolgica delo de comrcio acalorado. No caso da como salsichas carque permanecer como uma espvigente. Mesmo asnoo clssica de valncia, a bnicas a soluo cie de tabu para os praticantes dessa sim, qumicos envoldisputa desse mrito acabou de problemas a resdisciplina ao longo dos anos seguinvidos na nova corsendo to acirrada entre os peito da estrutura de tes. rente disciplinar, que historiadores quanto entre os compostos desafiaformaria a qumica protagonistas Noo clssica de valncia: dores. Entre Franorgnica, tais como De quem essa idia? kland e Kekul, esto tambm outros Justus Liebig (1803-1873), Friedrich Costuma ser um empreendimento atores e fatores, no coadjuvantes, Whler (1800-1882), Jean Dumas proveitoso e acalorado o debate acermas to importantes quanto os pri(1800-1884) e Auguste Laurent (1808ca da primazia de uma idia ou noo meiros, algumas vezes minimizados 1853), mantiveram suas ligaes com cientfica. bem verdade que, para em seus papis e suas influncias. a farmcia e com a indstria (Klein, muitos casos, a ponderao de que Uma questo importante a ser 2004). tenha havido uma aproximao simulconsiderada no nascedouro da noO perodo entre 1830 e 1860 tem tnea de diferentes correntes, a partir o clssica de valncia a influncia como caractersticas certas tenses de diferentes direes. Alm do mais, que esta recebe da noo de afinidametodolgicas e epistemolgicas noCadernos Temticos de Qumica Nova na Escola A noo clssica de valncia N 7, DEZEMBRO 2007

O produto inesperado etil zinco foi interior dessa nova qumica orgnica, o precursor da classe dos compostos disciplina que aos poucos ia se conorganometlicos e a primeira pista solidando como um corpo de estudos para Frankland passar a confiar numa promissor nos institutos de pesquisa, regularidade de capacidade de comprincipalmente na Alemanha e na Frana desse perodo. Em boa medibinao de alguns elementos. Este da, no interior da qumica orgnica expandiu suas snteses para outros que a noo de valncia vai crescer metais, confirmando que um metal e se consolidar. Dentre outros fatores apresentava sempre mesma capacide tenso epistemolgica, pode-se dade de saturao em relao a um destacar o incio de uma reflexo sotipo de radical e, mesmo quando os bre quais seriam as verdadeiras impliradicais eram modificados, essa caes da busca de teorias que eviregularidade se mantinha. A concludenciassem a realiso a que havia cheA fora de combinao, dade interior do gado indicava que os que tambm ficou mundo qumico. compostos organoconhecida como Uma preocupao metlicos eram dericapacidade de saturao, permanente, mas vados por substituiera uma nova expresso da no necessariameno de tipos inorgantiga afinidade qumica te evidente nos resulnicos. dos elementos tados das pesquisas A fora de combida poca, pode ser nao, que tambm enunciada como: o que podemos dificou conhecida como capacidade de zer (e escrever) acerca do mundo insaturao, era uma nova expresso terior da matria? Alia-se a esse temor da antiga afinidade qumica dos eleepistmico uma organizao cientfimentos. A favor de Frankland, estaca na qual pesquisadores mantmvam as leis das propores mltiplas se presos s concepes de seus e das propores constantes, que mentores, o que caracteriza a formacarregavam a implicao de que a cao de verdadeiras disputas entre pacidade dos tomos de se combiescolas de pensamento durante narem deveria ser exata e limitada. Os esse perodo. argumentos de Frankland se baseaA teoria dos tipos4 de Charles Frvam em um conjunto restrito de redric Gerhardt (1816-1856) no foi gularidades e ele se recusava a consbem recebida por Adolf Wilhelm Hertituir uma teoria a respeito. Isso favomann Kolbe (1818-1884) e Edward receu a apresentao de diversos Frankland, ambos ainda discpulos do contra-exemplos, que decorriam da dualismo de Berzelius. Os dois cienconfuso que atormentava as frmutistas preferiam rejeitar o conceito unilas empricas, em funo da ausncia trio de compostos qumicos e conside uma demarcao clara entre os derar os radicais como grupos esttomos e os equivalentes qumicos. veis de elementos. Tanto Kolbe quanEsses exemplos e o fato de que a to Frankland receberam influncias capacidade de combinao de um acadmicas de Lyon Playfair (1818elemento podia variar minaram a 1898) da Universidade de Edinburg, ampla aceitao das idias de Franonde permanecia a convico sobre kland. a Teoria da Cpula de Berzelius 5. Frankland conduzia experimentos a 2C2H5I + Zn C4H10 + ZnI2 fim de confirmar a estabilidade do raIodeto de etila Butano dical etil durante algumas transformaFigura 1: Equao representando a obtenes qumicas. Quando o iodeto de o do butano a partir do iodeto de etila e etila era tratado com zinco, formavazinco. se iodeto de zinco e butano (na poca chamado etil-livre), conforme a Figu2C2H5I + 2Zn (C4H5)2Zn + ZnI2 ra 1. Iodeto de etila Etil zinco Na reao acima, como subproduto, um pouco de etil zinco sempre Figura 2: Equao representando a produo de etil zinco. era produzido, conforme a Figura 2.Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola A noo clssica de valncia

Uma noo funcional de valncia s poderia emergir aps a soluo dos problemas na determinao de frmulas empricas de compostos orgnicos e inorgnicos, ou seja, aps os conceitos de tomo, molcula e equivalente terem sido diferenciados.

As primeiras frmulas de KekulDe acordo com Alan Rocke (1993), o perodo em torno do ano de 1850 assinala uma Revoluo Silenciosa na Qumica. Para alm de uma disputa entre radicais e tipos, na qual estava em jogo a unicidade do objeto de estudo dos qumicos, a qumica orgnica se via diante de desacordos quanto aos pesos atmicos dos elementos e, sobretudo, uma confuso sem precedentes no que se refere a uma notao qumica. A metodologia de pesquisa emprica praticada nesse perodo focalizada no isolamento e na caracterizao de compostos orgnicos produzidos nas reaes qumicas. Uma qumica orgnica sinttica, no sentido de um desenho racional de atividades de produo de compostos, um evento raro at o final do sculo XIX. O esforo terico, ou de maior carter dedutivo presente no trabalho dos praticantes da Qumica nesse perodo, refere-se possibilidade de diferenciar centenas de compostos orgnicos com diferentes propriedades e, lembre-se, formados por apenas alguns elementos. Ainda que Frankland no tenha sido capaz de formular uma hiptese acerca da causa da regularidade emprica na combinao de radicais orgnicos com metais, sua capacidade de combinao, que posteriormente viria a ser conhecida como atomicidade6, chamou a ateno para a possibilidade de uma ordem a ser seguida nos processos de transformao dos materiais. Segundo Ramberg (2003), o movimento em direo a uma teoria unificadora, os necessrios acordos em torno de pesos atmicos e a noo de valncia estavam em cena conjuntamente nos anos 1850 quando Kekul iniciou a idealizao daquilo que viria a se tornar uma teoria estrutural para a qumiN 7, DEZEMBRO 2007

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ca orgnica. Friedrich Kekul iniciou sua vida acadmica como aluno de arquitetura na Universidade de Giessen, onde, sob a influncia de Liebig, foi convertido para o estudo da Qumica, graduando-se em 1851. Seguiu ento para Paris, onde desenvolveu seu trabalho de doutoramento sob a orientao de Charles Gerhardt. Em 1853, por meio de uma recomendao do prprio Liebig, mudou-se para Londres a fim de trabalhar como assistente de John Stenhouse no St. Bartholomews Hospital, o que lhe valeu contatos preciosos com William Odling (1829-1921). na Inglaterra que Kekul vai amadurecer a arquitetura de suas estruturas qumicas revolucionrias que, segundo suas prprias palavras, teriam sido reveladas a partir de sonhos. Em 1854, enquanto desenvolvia um mtodo de preparao para o cido tioactico, Kekul chegou a algumas concluses que validavam o sistema de pesos atmicos de Gerhardt e rejeitavam as concluses de Frankland sobre a equivalncia de combinao entre o cloro e o oxignio. Ao representar a reao conforme descrito na Figura 3, Kekul atentou para a diferena na capacidade de combinao entre cloro e enxofre. O produto clorado era resultado da destruio do tipo original, enquanto com o enxofre isso no acontecia. A afirmao para tal efeito era que a quantidade de enxofre que equivalente a dois tomos de cloro no divisvel (Ihde, 1984, p. 223). Com

essa interpretao, Kekul passou a fornecer um sentido terico para os tipos de Gerhardt, indicando que o nmero de tomos de um elemento que combinam com um outro elemento dependem de sua basicidade ou relao de tamanho (Verwandschaftsgrsse) de suas partes componentes (Kuznetsov, 1980, p. 38, grifo meu). A esse respeito, os elementos podiam recair em trs grupos principais: monobsicos, e.g. H e Cl; dibsicos, e.g. O e S; e tribsicos, e.g. N eP . Em 1857, como professor na Universidade de Heidelberg, Kekul introduz o tipo gs do pntano (gs metano), aplicando-o a um nmero limitado de compostos e utilizando inconvenientes representaes com dois carbonos que, no entanto, eram extremamente populares entre os qumicos alemes (Figura 4). No ano de 1858, Kekul se muda para a Blgica e assume uma ctedra na Universidade de Ghent. L ele volta a usar os pesos atmicos de Gerhardt, o que reconduz seu tipo gs do pntano forma CH4. Foi durante sua estada em Ghent que Kekul formulou a tetra-atomicidade do carbono alm de sua capacidade de estabelecer esqueletos pela utilizao de duas das quatro atomicidades entre tomos de carbono: o carbono tetratmico, [...] e entra em combinao com ele mesmo, possuindo capacidade de saturao mtua (Nye, 1996, p. 130). Em sistemas com dois carbonos, os esqueletos eram entendidos como arranjos na qual a atomicidade do sistema era 6 e no

Figura 4: Representaes de Kekul para compostos tipo gs do pntano, utilizando frmulas empricas com dois carbonos.

8, porque cada carbono era satisfeito parcialmente por uma combinao entre carbonos. Assim, em compostos como o etano (C2H6), cloreto de etila (C 2 H 5 Cl) e acetaldedo (CH 3CHO), h seis elementos em combinao com o esqueleto de dois carbonos. Com essa inferncia, Kekul propunha tambm que no mecanismo das reaes desses compostos o esqueleto permanecia inalterado7. O escocs Archibald Scott Couper (1831-1892), que trabalhava com Wurtz, publicou as mesmas idias de Kekul semanas depois. Mesmo sendo derrotado no que se refere primazia, as representaes utilizadas por Couper em seu artigo eram muito mais eficientes do que aquelas utilizadas por Kekul. Este utilizou uma forma de representao que ficou conhecida como a forma salsicha devido sua caracterstica arredondada nas extremidades, enquanto Couper explicitou a combinao dos elementos por linhas retas. Couper no pde desenvolver seus trabalhos devido a

Figura 3: Reaes conduzidas por Kekul que implicaram na diferenciao entre a capacidade de combinao do cloro e do enxofre (Ihde, 1984, p. 222).Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola A noo clssica de valncia

Figura 5: Representaes de: (A) Kekul para o gs metano na forma salsisha (Nye, 1996, p. 130) e (B) Couper para o cido tartrico (Reproduo do autor a partir do artigo de Couper, 1858).N 7, DEZEMBRO 2007

uma representao simblica como quer elemento. Nessa descrio de graves problemas de sade que lhe soluo para essa limitao. O sucesButlerov, est implcita a aceitao de obrigaram a afastar-se da pesquisa. so de uma teoria estrutural dependia uma valncia varivel, a partir da utiliKekul entendia que a afinidade tanto da normalizao dos pesos atzao completa ou incompleta da afide um tomo pode ser usada comnidade do elemento. Ao contrrio de micos quanto da noo de valncia. pleta ou parcialmente. No caso do Butlerov, Kekul no aceitava a idia Essa proposta confiava na hiptese SO2, por exemplo, a substncia seria de que unidades de de que o arranjo e a posio dos elecomposta de trs A primeira representao afinidade podiam ser tomos, cada um mentos eram to ou mais importantes qumica isenta de usadas parcialdos quais dibsico. do que sua quantidade para a caraccaracteres alfabticos foi o mente, sustentando Das seis afinidades terizao das propriedades de uma hexgono de Kekul sempre o conceito possveis para o ensubstncia. Naturalmente, havia uma associado ao benzeno em de uma valncia fixa xofre, quatro so disputa entre aqueles que confiavam 1865. Essa trajetria no foi para cada elemento. usadas para conecnas possibilidades de uma represendireta nem livre de uma Tanto para Butlerov tar os tomos de oxitao estrutural conhecida poca especulao inicial marcada quanto para Kekul, gnio, de modo que como frmula racional e os que por arbitrariedades e a valncia era uma duas afinidades perentendiam que esse seria um esforo influncias pouco cientficas propriedade inerente maneceriam sem improdutivo. ao elemento e suas uso. Apesar de seu A primeira representao qumica ligaes qumicas, uma manifestao sentido estar praticamente completo isenta de caracteres alfabticos foi o dessa propriedade. no entorno de 1860, a palavra valnhexgono de Kekul associado ao Butlerov tambm utilizou as unidacia s ser usada a partir do final benzeno em 1865. Essa trajetria no des de valncia para explicar o mecadessa dcada. foi direta nem livre de uma especulanismo de algumas reaes. Em suas o inicial marcada por arbitrarieValncia e ligao qumica propostas mecansticas, existe como dades e influncias pouco cientficas, pressuposto a conservao das uniO termo ligao qumica foi utilicomo denotam as propostas estrudades de valncia, de um mesmo elezado primeiramente por Alexander turais feitas poca para explicar as mento, durante a combinao. A Mikhailovich Butlerov (1828-1886) em caractersticas pouco comuns dessa explicao para essa combinao um artigo de 1863 sobre a isomeria substncia, que precisava justificar conduzida a partir da noo de valnnos compostos orgnicos. Desde a principalmente como seis tomos de cia: o elemento possui unidades de primeira vez que os termos valncia carbono podiam estar associados a valncia que so usadas no momento e ligao qumica comearam a se somente seis tomos de hidrognio da combinao qumica. Ele desfaz encontrar, observou-se uma ampla frmula emprica C 6H 6 , numa as valncias em uso com um elemenconfuso para o sentido de ambos. substncia altamente estvel e resisto para poder utiliz-las com outro, Essa dificuldade foi marcada pela tente a muitos ataques por combinaconservando essas quantidades, ou ausncia de uma tentativa inicial de o qumica. seja, durante o processo no so criademarcar os limites de abrangncia As propostas estruturais feitas por das nem destrudas unidades de dos dois termos. Mesmo assim, os Kekul para o benzeno ofereceram valncia em um elemento. primeiros esforos envolvidos em tal bastante dificuldade devido baixa distino colocavam a valncia como relao carbono:hidrognio (1:1). EsValncia e frmulas racionais uma fora inata ao elemento utilizasa relao sugeria que o composto da para atacar outros elementos e No incio dos anos 1860, a explodeveria possuir um alto grau de insaexpressa numericamente pelo nmeso da quantidade turao, mas o benO termo ligao qumica foi ro de elementos monovalentes capade substncias orgzeno no sofria proutilizado primeiramente por zes de serem atacados por ele e a nicas que se comecessos de adio, Butlerov, em um artigo de ligao qumica como sendo o efeito ava a conhecer s assim como outros 1863 sobre a isomeria nos resultante da ao dessa fora. era comparvel ao compostos insatucompostos orgnicos. E Para Butlerov, havia uma relao crescimento da comrados. Sua sada padesde a primeira vez que diferente entre a valncia e a ligao ra o dilema foi a proplexidade delas. As os termos valncia e qumica. O elemento possua uma posio de uma esnomenclaturas que ligao qumica comearam quantidade de fora que produzia o trutura cclica, que eram propostas, na a se encontrar, observou-se fenmeno qumico. Parte dessa fora lhe teria ocorrido em maioria das vezes, uma ampla confuso para o ou sua quantidade total era convertida um sonho. no conseguiam dar sentido de ambos em outra forma e transformada na Mesmo com as conta das relaes dificuldades do benligao ao se formar um composto. de funcionalidade zeno, Kekul insistiu e manteve a A fora era sempre expressa por meio especficas que havia entre os difetetravalncia do carbono como o nde nmeros inteiros e o valor relativo rentes grupos de compostos. Em contrapartida, cresciam as correntes cleo duro de sua proposta. Em suas ao hidrognio constitua o valor mnique apostavam na necessidade de primeiras publicaes acerca dos mo que podia ser assumido por qualCadernos Temticos de Qumica Nova na Escola A noo clssica de valncia N 7, DEZEMBRO 2007

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compostos aromticos, Kekul preferia as formas salsisha (Figura 6A), sendo essa a forma utilizada no primeiro volume do seu livro: Lerbuch der organischen chemie (1865). No ano seguinte, Kekul adota o hexgono (Figura 6C). O problema da tetravalncia do carbono foi resolvido com a suposio da existncia de valncias duplas alternadas entre os carbonos da estrutura do benzeno (Figura 6B). Entretanto, muitos qumicos no estavam dispostos a aceitar a forma do benzeno como um ciclohexatrieno, uma vez que no havia reao de adio para ele nos mesmos moldes de outros compostos insaturados. A presena das valncias duplas continuou em aberto. Uma teoria estrutural deveria incluir a utilizao de esquemas grficos como suporte para sua comunicao. Tal conjectura nos remete questo: o que isso que estavam escrevendo na folha de papel? Kolbe chama isso de qumica de lpis e papel, de uma forma bem desacreditada para com as possibilidades de correspondncia com aquilo que se produz nos laboratrios (Nye, 1996). Para Alexander Butlerov, o arranjo aparente da matria (qumico) poderia ser revela-

do pelas reaes qumicas, sem se fazer nenhum julgamento de sua identidade com o arranjo verdadeiro (fsico). As proposies de Butlerov sugerem que seria possvel investigar a estrutura qumica dos corpos sem se preocupar com questes at ento sem resposta. Butlerov definiu o termo estrutura qumica de diferentes maneiras desde 1861 at 1864: (1) coeso mtua ou maneira de ligao mtua entre os tomos em um composto; (2) a forma como os elementos qumicos esto conectados; (3) distribuio da ao de afinidade; (4) ordem da ao qumica mtua dos vrios tomos elementares, resultando na existncia de partculas definidas; (5) seqncia de ao mtua a forma da ligao qumica mtua dos tomos em uma molcula. Em 1861, mesmo ano em que Butlerov iniciou a descrio das possibilidades de uma ligao qumica, o qumico escocs Alexander Crum Brown (1838-1922) comeou a usar frmulas com linhas conectando smbolos dos elementos, assim como Couper havia feito anteriormente.

Brown foi paulatinamente sofisticando tanto a forma de descrio por meio dos desenhos, quanto corrigindo seus pesos atmicos, at uma configurao bastante precisa e simplificada para diferentes compostos. Na notao de Brown, os smbolos dos elementos esto inscritos em crculos de onde partem tantas linhas quantas forem os equivalentes desse elemento. Quando os equivalentes dos dois elementos que pretendem a ligao so mutuamente satisfeitos, as linhas so unidas. Conforme descritas pelo prprio, as frmulas dele procuravam descrever a localizao qumica dos tomos em lugar da localizao fsica. Outra tentativa de oferecer uma forma de representao para o corpo qumico foi feita por Josef Loschmidt (1821-1895), que divulgou em um livro (Chemische Studien 1861) representaes designadas como frmulas de constituio da qumica orgnica em representao grfica. Inspirado primariamente nas representaes de Dalton, Loschmidt apresentava os tomos de carbono como crculos; os tomos de hidrognio como crculos menores; os tomos de oxignio como dois crculos inscritos; e o nitrognio como trs crculos inscritos. As representaes de Loschmidt receberam pouca ateno, inicialmente devido circulao restrita da obra que fora editada pelo prprio autor e, posteriormente, porque no conseguia dar conta regularmente da representao de todas as valncias do carbono, principalmente para a molcula de benzeno (Figura 8). A intensa atividade dedicada pelos praticantes da Qumica constituio

Figura 6: Representaes de Kekul (1866) para aquilo que ele referia como o Kern (ncleo) da frmula racional de tipo C6A6, na qual A pode ser um elemento que possua uma unidade de afinidade a ser satisfeita. Todas as formas acima so encontradas no mesmo livro: (A) frma salsicha (p. 496); (B) uma aproximao para a forma de linhas considerando o tomo de carbono (kohlenstoffatom) explicitado e com valncias no preenchidas (p. 496); e (C) representaes esquemticas cclicas (p. 514)8.Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola A noo clssica de valncia

Figura 7: Frmula constitucional do cido succnico por Crum Brown (1865, p. 233).N 7, DEZEMBRO 2007

Figura 9: Frmula estrutural plana dos pretensos ismeros aromticos obtidos por substituio do benzeno nas posies 1,2, que foi refutada por Ladenburg.

Figura 8: Representaes de Loschmidt para diferentes compostos orgnicos: (A) (B) e (C) tentativas de representar o ncleo aromtico, (D) Benzeno, (E) fenol, (F) metoxi benzeno, (G) anilina, (H) diaminobenzeno, (I) uma imida (Ihde, 1984, p. 308).

de um sistema de representao caPodemos indicar que a evidncia empaz de assinalar estruturas sem comprica cumpre, para um sistema sepromissos ontolgicos, sob orienmitico, o mesmo papel que cumpre tao da noo de valncia, permitiu para um sistema terico: oferece alcanar a meta de diferenciao de possibilidades de falsificao e impe ismeros ainda no ltimo quarto do a necessidade de sua ampliao. sculo XIX. A possibilidade de imEssa dilatao, todavia, no costuma primir um smbolo que tivesse uma ser imediata. Mesmo com todas as espcie de correspondncia biunvoevidncias empricas postas na mesa ca com aquilo que se produzia por e uma formulao terica em crise, a meio das reaes qumicas garantiu aceitao de novos modos de pensar poder preditivo e maior confiana nos e olhar depende de muitos fatores. programas de pesMesmo quando LaUm sistema de signos pode quisa. Observe-se denburg coloca Keestar incompleto mesmo que a condio dinkul contra a parede tendo toda sua base legal mica do objeto da com evidncias emacordada e um amplo Qumica ainda pricas acerca da ineconjunto de situaes de uma hiptese frgil e xistncia de ismeuso apropriado no possui valor resros 1,2 dissubstitutritivo para aqueles dos em sua estrutura que propem tais formas de reprehexagonal a resposta de Kekul sentao. O que se pretende provem em 1872 , o debate e a disputa gredir com as pesquisas na rea de permanecem acesos por mais de 30 modo a alcanar certa eficincia fabril anos (Russel, 2004). na produo de novas substncias. Albert Ladenburg 9 (1842-1911) Mesmo assim, percebe-se que os props que uma estrutura hexagonal desenhos que foram tentados como para o benzeno indicaria a existncia descritores do corpo qumico so de dois ismeros de substituio para a posio 1,2 do anel aromtico, demuito mais do que uma forma eficienpendendo de onde estivessem esses te de comunicao entre pares. Eles substituintes em relao posio permitem propor novas situaes e das trs duplas alternadas (Figuajudam a pensar novos objetos de ra 9)10. pesquisa. Uma vez que tais ismeros no Contudo, o estudo intenso de foreram conhecidos para nenhum commas de representao pode exigir posto aromtico dissubstitudo nas muito debate e revises que vo alm posies 1,2, Ladenburg argumentou de colocar novas convenes em que cada tomo de carbono deveria situaes de uso que possam acoestar ligado a trs outros e sugeriu modar novos dados empricos. Um trs formas alternativas para as dissistema de signos pode estar incomtribuies de valncia (Figura 10). A pleto mesmo tendo toda sua base primeira proposta de Ladenburg legal acordada e um amplo conjunto (10A) foi idntica a uma outra feita por de situaes de uso apropriadas.Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola A noo clssica de valncia

Adolf Claus (1840-1900). O prisma (10B) e a estrela (10C) so originais, sendo que o autor preferia o prisma, pois conseguia explicar em boa medida os ismeros di e trissubstitudos, mas era ineficiente para o entendimento das valncias para outras situaes. Um dos mritos do trabalho de Ladenburg est associado ao relevante contra-exemplo que fora revelado em relao inexistncia de ismeros 1,2 dissubstitudos no anel aromtico. Esse mrito fez reavivar o Kekul arquiteto que, a partir de todas as propostas de saturao de valncia feitas at ento, delineou, em 1872, uma complementao sua proposio original, indicando um mecanismo oscilatrio entre as duplas valncias do anel que fazia com que todas as posies dos seis tomos de carbono fossem equivalentes, o que particularmente resolvia o problema da inexistncia dos ismeros. Segundo as proposies de Kekul, os tomos na molcula oscilavam em torno de uma situao de equilbrio, colidindo constantemente com os tomos vizinhos. O nmero dessas colises por unidade de tempo era capaz de gerar uma fora que tanto mantinha a molcula coesa, quanto era transformada numa valncia uniforme para cada tomo de carbono na estrutura. As questes postas por Kekul indicavam que as duas estruturas da

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Figura 10: Possibilidades de distribuio das valncias dos carbonos na molcula do benzeno, segundo Ladenburg (Ihde, 1984, p. 314).N 7, DEZEMBRO 2007

Figura 11 eram a situao inicial e a final em cada intervalo de tempo proposto para a ento chamada situao de equilbrio. A comunidade cientfica em geral no conseguiu entender o significado estrutural das representaes de Kekul, at mesmo porque ela tinha problemas de consistncia quando procurava se referir dinmica das colises e do equilbrio conseqente delas. Apesar de uma afirmao ad hoc, o saldo final bastante positivo: as valncias dos seis tomos de carbono no anel benznico deveriam ser equivalentes. Esse um exemplo de proposio ad hoc que possui carter crucial no interior de um programa de pesquisa por sua manuteno. Em 1874, um dos alunos de Kekul, Wilhelm Krner (18391925), demonstrou a equivalncia dos seis tomos de carbono do benzeno (Nye, 1996). A pesquisa sobre a natureza das ligaes no benzeno chegou ao final 20

Nesse circuito de pesquisas, duas da dcada de 1880 com a inteno respostas competem: de um lado, as de convergncia. A maior vontade duplas alternadas de Kekul e, do oudos praticantes da recm-nata teoria tro, as representaes com afinidades estrutural era a de buscar reconcilialivres de Meyer e seguidores. Julius o entre as hipteses existentes, a Lothar Meyer (1830-1895) discutiu no fim de obter uma conjectura o mais ano de 1872 o proabrangente possvel. A disputa acerca da quarta blema da localizao Alguns axiomas povalncia do carbono na da quarta valncia do dem ser enunciados estrutura do benzeno no tomo de carbono na como a base dessa ficar completamente estrutura do benzebusca final: (i) a esdecidida at que a fsicono. Ele introduziu a trutura cclica com qumica ilumine o caminho idia de que cada cada carbono utilida qumica orgnica j no carbono possua zando duas valnsculo XX uma afinidade livre cias com outros dois (Figura 12). carbonos contguos, As representaes de Meyer ficaperfazendo um total de seis carbonos; (ii) a terceira valncia de cada ram conhecidas como frmulas cncarbono utilizada com um elemento tricas e, apesar de adormecidas aps externo a esse anel; (iii) todas as sua divulgao, foram retomadas por Johann Friedrich Adolf von Baeyer valncias dos carbonos nessa estru(1835-1917) e tambm por Adolf tura so equivalentes. A questo Claus12. instigante conferir o texto ainda em aberto : como est situada a quarta valncia de cada carbono original de Meyer e perceber como a desse ciclo? narrativa desse captulo (intitulado a lei de encadeamento dos tomos) trata de contrapor racionalmente as afinidades livres em relao proposta de Kekul, destacando-se uma abordagem estatstica das ligaes possveis entre os carbonos no anel de seis membros e a caracterstica restrio emprica dos ismeros. Ainda que bastante contemplada, tanto racional quanto empiricamente, a disputa acerca da quarta valncia do carbono na estrutura do benzeno no ficar completamente decidida at que a fsico-qumica ilumine o caminho da qumica orgnica j no sculo XX. Contudo, uma proposio mecanstica sobre a adio em compostos aromticos e a dilatao da noo de valncia colocaria o time de Kekul em boa vantagem. O fato de os compostos aromticos

Figura 11: Reproduo de uma pgina do peridico alemo Annalen der Chemie und Pharmacie (n. 162, v. 88, 1872), no qual Kekul publica as formas equivalentes do benzeno e inicia uma apresentao acerca do que viria a se tornar a ressonncia do benzeno: ocorre na primeira unidade de tempo expressos por 1. 2,6,h,2 onde h representa hidrognio. Na segunda unidade de tempo, o mesmo tomo de carbono que vem da posio 2, se vira para a posio do carbono 6. Seus elementos durante a segunda unidade de tempo so 2. 6, 2, h, 6. Enquanto os elementos da primeira unidade de tempo so representados pela forma escrita acima, encontram o da segunda sua representao de acordo com a seguinte forma (Ihde, 1984, p. 315).Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola A noo clssica de valncia

Figura 12: Esquema representativo, conforme apresentado por Meyer em seu livro (foi usada a traduo francesa, 1887, p. 294 11), comparando a proposta de Kekul (esquerda) com a sua forma das afinidades livres para o benzeno (direita).N 7, DEZEMBRO 2007

no sofrerem adio foi investigado por Friedrich Karl Johannes Thiele (1865-1918) com uma estratgia bastante peculiar. conveniente destacar que, no terceiro quarto do sculo XIX, as reaes de adio no eram to trabalhadas quanto s de substituio. Apesar de serem citados ambos os processos como de saturao, o termo no se referia necessariamente ao preenchimento de insaturaes como fazemos uso nos dias de hoje. Thiele conduziu uma srie de experimentos de adio em compostos de cadeia aberta com as caractersticas de duplas alternadas dos anis aromticos. Ele verificou que, em compostos como o butadieno, a adio feita nas posies 1,4, com a transposio da dupla ligao para os carbonos 2,3 (Figura 13). Para explicar esse efeito, Thiele sugeriu em 1899 que algumas ligaes duplas possuem valncias no satisfeitas ou uma ligao qumica potencial. Quando ligaes duplas esto em tomos de carbono adjacentes, as valncias centrais parciais se tornam ineficazes, e as posies mais externas (1,4) so as mais reativas. Todas as valncias parciais so adjacentes no anel do benzeno e por isso so ineficazes. A molcula s participa de processos de adio sob condies extremas. As questes postas por Thiele corroboraram para a instalao de um programa de pesquisa em qumica orgnica, durante o incio do sculo XX, que considerasse as particularidades reativas de cada carbono13. Em suma, havia a necessidade de se iniciar uma nova interpretao funcional do objeto da Qumica. As relaes entre afinidade, valncia, ligao qumica e energia s ficaram um pouco mais claras quando a mecnica quntica estabeleceu qual

qumico por exemplo: radicais, ncleos e tipos precipitavam a existncia de certa ordem. A forma como esse corpo qumico se organiza depende, obviamente, da afinidade que seus componentes possuem. Tais componentes, por sua vez, se valem de tipos de afinidade diferentes para se combinarem e para se manterem combinados. A valncia resultado Valncia: uma idia no concluda disso: no somente da percepo de Ao final dessa histria, falta pergunuma regularidade na combinao dos tar: o que valncia? Reunindo elementos, mas principalmente na afinidade qumica e valncia no mesdeterminao de transpor essa regulamo escopo, uma resposta possvel ridade para outros elementos, tornanque a valncia se constitui na permado-a uma propriedade geral dos cornente, tumultuada, desordenada, conpos elementares e um conceito-chave troversa e no completada tentativa de para a criao da teoria estrutural. entender como a natureza organiza e Valncia e afinidade no so a transforma seus constituintes. Mesmo mesma coisa. A valncia um produentre acadmicos ou especialistas, a to da afinidade de um elemento. As utilizao do termo valncia se refere descries da valncia como, por ao ntimo da atividade qumica. No imaexemplo, poder, capacidade e fora ginrio daqueles que atravessaram refletem caractersticas ontolgicas uma graduao em Qumica ou reas que foram herdadas da afinidade quafins, falar de valncia mica. No entanto, o As relaes entre afinidade, particularmente falar carter abrangente valncia, ligao qumica e do poder que muitomado pela noo energia s ficaram um tas vezes assume de valncia imprimia pouco mais claras quando diferentes sentidos o trao de uma pera mecnica quntica que faz com que um sonalidade mltipla, estabeleceu relaes tomo tenha determiao que sua prpria quantitativas entre energia nada atitude qumiutilizao e prtica de formao de uma ca frente a outro. orientaram-na para substncia e suas A busca pelas oriuma nova marca oncaractersticas estruturais gens da valncia na tolgica, caracteriafinidade qumica rezada pela distino vela que esse empreendimento semcomo grau. Essa graduao exigiu pre foi o pano de fundo das atividades que nmeros fossem utilizados como da Qumica, mesmo antes de ela se descritores de uma quantidade de constituir como um domnio cientfico valncia. Essa atribuio foi herdada ou disciplinar de estudo. A afinidade da teoria dos tipos, outro argumento emerge dos frascos e cadinhos alqufundador da noo clssica de valnmicos para procurar seu lugar nas cia. prateleiras dos laboratrios das uniApesar de perceber-se certa orversidades. dem intrnseca do arranjo do corpo As diferentes abordagens conceiqumico a partir dos tipos, essa caractuais que foram utilizadas para dar conterstica no foi examinada naquele ta do modus existendi desse corpo momento, mas explorada a partir da valncia. Graduar a valncia permitia no apenas classificar os elementos em termos de suas potencialidades de combinao, mas tambm distinguir caractersticas dos componentes do corpo qumico. A unidade de valncia no pode ser medida de forma independente, mas somente em Figura 13: Equao da reao de adio 1,4 do bromo ao butadieno, indicando a transposio da dupla ligao para a posio 2,3. relao a uma outra unidade, pois elaCadernos Temticos de Qumica Nova na Escola A noo clssica de valncia N 7, DEZEMBRO 2007

seria a melhor forma para se entender a essncia do quimismo, instituindo relaes quantitativas entre energia de formao de uma substncia e suas caractersticas estruturais. Para chegar a esse estgio, a Qumica precisou passar pelo caminho sinuoso das teorias fenomenolgicas consideradas anteriormente.

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uma grandeza relacional. A expecat os dias de hoje. como, por exemplo, nos assinala tativa inicial era a de que a valncia A instabilidade da idia de valncia Rocke (2003), a distino entre fosse uma propriedade invariante e fixa e a sua disputa com a valncia arranjos qumicos e fsicos parece regular como cada tipo, a fim de se varivel proporcionou a criao de remeter a uma espcie de totemistornar mais uma marca especial e ligao qumica, propriedade verstil, mo14 em relao Fsica. Nessa disnica de cada constituinte da naturetino, os praticantes varivel, conseqnza, mas no foi bem assim, pois um da Qumica parecem cia da ao qumica A noo de valncia mesmo elemento apresentava difeter a necessidade de e entendida como emergiu como uma idia rentes graus de valncia. entregar Fsica a uma causa da valncontroversa e disputada, Verifica-se com essa histria para possibilidade de recia. A ligao quresponsvel pela a noo de valncia que novas teorias velar a ordem das mica podia ser organizao de conceitos podem surgir no interior de situaes coisas no mundo informada durante a fundamentais a partir do de trabalho emprico e de disputas terior da matria. combinao, pois sculo XIX conceituais no muito claras para Com a opo por caela pertencia ao coraqueles que esto jogando na cidade racterizar as frmulas racionais como po qumico, mas era externa ao elecientfica. As controvrsias advindas arranjos fsicos, os qumicos fogem mento que participava dele. A parda representao estrutural demonsdo compromisso com a realidade ceria entre ligao qumica e valncia tram como proposies ad hoc so daquele objeto ou mesmo de algo foi irreversvel, marca do final do susadas para tentar salvar modelos que ele possa representar. Podemos culo XIX e da criao da teoria estruexplicativos que so contrariados por inferir que h, pelo menos, uma postural. Passa-se a ter possibilidade de novas evidncias empricas, e de tura instrumentalista na forma de prarepresentar, simbolizar a valncia, no como esse tipo de ticar esse conhecimento que est entanto, isso tudo s Em um mundo ainda sem disputa, ou at a persendo criado. Ou seja, frmulas racio conseguido por eltrons, a noo de sistncia em proponais de matriz atomista servem como meio do uso de frvalncia reforou a busca sies no contemdispositivos para resumir, sistematizar mulas empricas corpor frmulas empricas pladas empiricae at prever fatos e dados empricos. retas, isto , precicorretas e, quando estas mente, podem ser bem verdade que os fsicos samos saber quanficaram prontas, permitiu o particularmente feconduziro a nova ordem do conhetas e quais so as salto para um olhar no cimento sobre a matria no incio do cundas para o proespcies que partiinterior do que elas sculo XX. Tambm verdade que as gresso de um cipam dessa reprerepresentavam frmulas racionais no so fotos desdeterminado domsentao. ses objetos desejados pelos quminio do conhecimenNa concluso cos do sculo XIX nem so uma pintuto. Podemos citar, por exemplo, a resdesse discurso histrico, a noo de ra de como eles so. Ento, se tamposta de Kekul ao problema da valncia emerge como uma idia bm verdade que a foto do cachorro insaturao. Mesmo que este tenha controversa e disputada, responsvel no late, podemos concordar com as flutuado entre admitir valncias fixas pela organizao de conceitos fundaprovocaes de J. Schummer (1998) e ter de aceitar valncias variveis, ao mentais a partir do sculo XIX. Num quanto a estarmos vivendo um proestar completamente convencido e mundo ainda sem eltrons, ela reforcesso especial de esquizofrenia, marinteressado na defesa de um tomo ou a busca por frmulas empricas cado pela certeza de que o desenho tetravalente, sua assuno de que corretas e, quando estas ficaram esse mesmo carbono pode conter que colocamos no papel no um prontas, permitiu o salto para um retrato da coisa como ela , mas nos afinidades no satisfeitas se transforolhar no interior do que elas represenajuda a sermos estranhamente prema em uma proposio ad hoc. A tavam. O horizonte de pesquisa dacisos ao prever como essa coisa vai idia de afinidades no satisfeitas queles que fizeram uso dela foi agir se a colocarmos em determinaviola o sistema de teampliado, no porNovas teorias podem surgir das situaes. Quero somente realar travalncia do carboque a valncia tivesno interior de situaes de a importncia de reconhecer que esno em termos de sua se trazido uma restrabalho emprico e de sa forma de representar deve conter coerncia interna. posta direta para disputas conceituais no Todavia, o mecanisalgo de particular, algo merecedor de suas perguntas, mas muito claras para aqueles destaque. mo oscilatrio das porque havia criado que esto jogando na As formas de representao e de duplas propostas dvidas necessrias. cidade cientfica classificao que foram herdadas da por Kekul no texto A tenso entre arutilizao da noo clssica de de 1872, mesmo poranjos qumicos e fvalncia permanecem vivas na atividendo ser considerado como uma sicos nos remete ao tabu a que me dade do qumico e no Ensino de Quespcie de paradigma para os casos referi no comeo deste trabalho. Mais mica. Quando o mundo dos eltrons de proposies ad hoc, exatamente do que uma tentativa de encerrar uma o que se v escrito nos livros de divulcobriu o corpo qumico com equaepistemologia particular para o coes e indeterminaes, a valncia gao desse corpo de conhecimento nhecimento criado pelos qumicosCadernos Temticos de Qumica Nova na Escola A noo clssica de valncia N 7, DEZEMBRO 2007

zelius apresentou (em 1841) para refeita pelo autor. sistir teoria dos tipos e noo de A palavra Darstellung utilizada substituio como proposta mecansprioritariamente no sentido de descritica para reaes orgnicas, e defeno quando Kekul deseja narrar um der sua noo de dualismo e dos procedimento de sntese. Nesse radicais para o corpo qumico. Nela, mesmo livro, Kekul mistura as reprepor exemplo, Berzelius contorna a sentaes salsicha e com linhas possibilidade de tomos de cloro para muitos derivados do benzeno, substiturem tomos e.g. bifenila e azoQualquer arranjo estrutural de hidrognio (e.g. benzol. 9 assinalado para tomos numa Que fora aluno cido tricloroactico) frmula era considerado uma de Kekul em Ghent. ao sugerir que os Notas 10 convenincia particular, no Sabemos hoje radicais no compos1 possuindo nenhum sentido Para uma leitura acerca das quesque as duas repreto substitudo (cido real tes histricas e epistemolgicas da sentaes referemtricloro actico) diferepresentao espacial em Qumica, se mesma subsrem em termos de veja Ramberg (2003). Recomendo tncia, contudo sem que se tenha sua composio do composto origitambm Cooke (2004) para uma clareza sobre a equivalncia dos seis nal (cido actico). Veja Ihde (1984). 6 viso geral sobre formas de represenEm 1865, August Wilhelm von tomos de carbono do benzeno, tao na Qumica. Hoffman (1818-1892) sugere a intropode-se defender que tais represen2 Gostaria de chamar a ateno do duo do termo quantivalncia para taes referem-se a duas unidades meu leitor para certa tenso em boa descrever as possibilidades de moleculares distintas. 11 medida presente na discusso sobre Primeira edio em alemo no combinao de um elemento (Russel, o tema e a proposta por autores que ano de 1864. 1971). Sugere ainda que as capaci12 discutem a questo da primazia acerConfira uma republicao do dades de saturao como queria ca da noo clssica de valncia. texto original de Claus (2004). Frankland sejam descritas por termos 13 Recomendo aos interessados a leiPara esse novo olhar sobre o como monovalente, divalente e assim tura de Kuznetsov (1980) e de Russel objeto da Qumica, tambm contripor diante. 7 (1971). A cadeia carbnica era descrita buram os trabalhos de Vladimir 3 Para entender um pouco mais socomo coluna vertebral. Utilizo a palaVasilevich Markovnikov (1838-1904). 14 bre o papel crucial dessas teorias covra esqueleto em referncia ao termo O totemismo pode ser definido mo precursoras da usado por Kekul em como uma identificao metafsica noo de valncia, a 1858 (Nye, 1996). entre seres humanos e partes da O totemismo pode ser 8 partir de diferentes Percebe-se na leinatureza. Tpicos processos totmidefinido como uma perspectivas histortura do Lehrbuch cos so aqueles nos quais seres identificao metafsica iogrficas, veja que Kekul no relahumanos se comparam ou se funentre seres humanos e Kuznetsov (1980) e ciona a palavra Vorsdem em personalidade com anipartes da natureza. Russel (1971). tellung com nenhuma mais: guia, corvo, urso etc. Ao Processos totmicos so 4 Em 1844, das representaes assumir-se como parte da natureza, aqueles nos quais seres Gerhardt se coloca para o benzeno. Ele o indivduo totemista cr que ter a humanos se comparam ou contra o estabelecifaz uso da expresso proteo e o abrigo da natureza (e se fundem em mento de desenhos graphische Darsde seu totem), pois parte dela. Se personalidade com animais que remetam ortellung para indicar o indivduo faz parte da natureza, a ganizao estrutural da matria, dealgumas frmulas tipo e outras so natureza no se voltar contra ele. fendendo o uso exclusivo de frmulas referidas diretamente como typischen Associado ao totem, existe norempricas. Qualquer arranjo estrutural Formeln, contudo estas esto vinculamalmente um tabu que significa no agredir ou ingerir o todo ou partes assinalado para tomos numa frmudas forma (bildung) e so teis do vegetal ou animal totemisado. la era considerado uma convenincia Kekul na apresentao de ismeros. Esse procedimento garante que a particular, no possuindo nenhum proteo ser continuada e haver sentido real. Na teoria dos tipos, sempre harmonia entre o totem e prope-se que tanto o arranjo quanto sua comunidade. o mecanismo de ao de diversas substncias pode ser reduzido a Waldmir Nascimento de Araujo Neto, engenheiro alguns padres (ou tipos) j exisqumico e licenciado em Qumica pela Universidade tentes em outras substncias (protdo Estado do Rio de Janeiro, mestre em Educao tipos). Veja Crosland (2004). pela Universidade Federal Fluminense e doutorando 5 em Educao pela Universidade de So Paulo, A teoria da cpula foi uma das Frmulas tipo para a dietil-oxima professor do CEFET-Qumica no Rio de Janeiro. ltimas formulaes ad hoc que Ber(Kekul, 1866, p. 51). Reproduo quase ficou reduzida ao lugar onde esses eltrons, os novos protagonistas da ao qumica, realizam as modificaes da matria. Mesmo assim, a valente valncia no perde a pose, seja na Teoria Eletrnica da Valncia, na Teoria da Ligao de Valncia, na eletrovalncia ou na covalncia. A despeito de seu carter controverso e profundamente atraente, ela permanece no mago da Qumica.Cadernos Temticos de Qumica Nova na Escola A noo clssica de valncia N 7, DEZEMBRO 2007

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Abstract: The Classic Notion of Valence and the Dawn of Structural Representation The article presents some relative historical aspects from the initial period of development of the notion of chemical valency, considered as the Classic Notion of Valency. The aspects of the research program of the organic chemistry are focused, initially located from the middle of the 19th century. The influence of the notion of valency as a crucial idea for the development of a Structural Theory is informed as representation ways that will play the role of a heuristic tool better than a symbolic function for a physical object. The historical value of the notion of valence can reveal in a proper way how this concept influenced the practice of the Chemists nowadays. Keywords: valence, chemical structures, History of Chemistry, Philosophy of Chemistry

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A noo clssica de valncia

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