a poesia satírica do boca do inferno atualizada na...
TRANSCRIPT
INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE
CAMPUS AVANÇADO ABELARDO LUZ
ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO
TRABALHO DE CURSO
A Poesia Satírica do Boca do Inferno Atualizada na Corrupção Brasileira
Evandro Ribeiro
Profª. Mª. Nazaré Nunes Barbosa Cesa
Abelardo Luz/SC, Dezembro de 2018
TRABALHO DE CURSO
A Poesia Satírica do Boca do Inferno Atualizada na Corrupção Brasileira
Trabalho de Curso – TC apresentado ao Curso de Especialização em Educação: Educação e Prática de Ensino, do Instituto Federal Catarinense – Campus Avançado Abelardo Luz, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Educação.
Orientadora: Profª. Mª. Nazaré Nunes Barbosa Cesa
Evandro Ribeiro
Abelardo Luz/SC, Dezembro de 2018
Ata
de e
ntre
ga d
a a
tivid
ade a
valia
tiva
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática do ICMC/USP, cedido ao IFC e
adaptado pela CTI - Araquari e pelas bibliotecas do Campus de Araquari e Concórdia.
R484pRIBEIRO, EVANDRO A POESIA SATÍRICA DO BOCA DO INFERNO ATUALIZADANA CORRUPÇÃO BRASILEIRA / EVANDRO RIBEIRO;orientadora Nazaré Nunes Barbosa Cesa. -- AbelardoLuz - Santa Catarina, 2018. 19 f.
Artigo (artigo) - Instituto Federal Catarinense,campus Abelardo Luz, Especialização em Educação:Educação e Prática de Ensino, Abelardo Luz - SantaCatarina, 2018.
1. Gregório de Matos e Guerra. 2. PoliticaBrasileira. 3. Corrupção.I.Cesa, Nazaré NunesBarbosa . II. Instituto Federal Catarinense.Especialização em Educação: Educação e Prática deEnsino. III. Título.
BANCA AVALIADORA
Profª. Mª. Nazaré Nunes Barbosa Cesa – Orientadora
Instituto Federal Catarinense – Campus Abelardo Luz
Prof. Me. Jaisson Bordignon
Instituto Federal Catarinense – Campus Abelardo Luz
Profª. Drª. Marluse Castro Maciel
Instituto Federal Catarinense – Campus Abelardo Luz
1
A POESIA SATÍRICA DO BOCA DO INFERNO ATUALIZADA NA CORRUPÇÃO
BRASILEIRA
Evandro Ribeiro1
Profª. Mª. Nazaré Nunes Barbosa Cesa 2
Resumo: Nosso objetivo com este trabalho foi demonstrar a atualidade da poesia satírica gregoriana dentro do atual cenário político brasileiro, e versa sobre corrupção. Para alcançarmos o mesmo, estabelecemos um diálogo comparativo entre seus poemas e sonetos e recortes de notícias e artigos que discorrem sobre o tema, com o intuito de abstrair fragmentos que possam nos ajudar a refletir como a poesia de Gregório de Matos, com representações da vida social (realidade) de seu tempo, condiz com o momento pelo qual os brasileiros têm perpassado. No trabalho, discorremos ainda sobre as possíveis raízes da corrupção no Brasil, bem como apontamos os elementos que a alimentam, desde os tempos passados até os dias de hoje. São reflexões sobre as representações artísticas gregorianas da sua época e os fatos que fazem com que toda a obra e a linguagem de Gregório de Matos permaneçam tão atual no século XXI, mesmo que tenham sido produzidas ao final do século XVII. Palavras Chave: Gregório de Matos e Guerra, Politica Brasileira, corrupção.
Abstract: Our objective with this work was to demonstrate the current relevance of Gregorian satirical poetry within the current Brazilian political scene, and is about corruption. To reach the same, we establish a comparative dialogue between his poems and sonnets and news clippings and articles that discuss the theme, with the intention of abstracting fragments that may help us to reflect like the poetry of Gregório de Matos, with representations of life social (reality) of his time, is in keeping with the moment Brazilians have gone through. In this work, we also discuss the possible roots of corruption in Brazil, as well as the elements that feed it, from the past to the present. They are reflections on the Gregorian artistic representations of his time and the facts that make all the work and language of Gregory of Matos remain so current in the 21st century, even if they were produced at the end of the seventeenth century. Key words: Gregório de Matos e Guerra, Brazilian politics, corruption.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a política brasileira tem perpassado por diversas crises,
o que têm trazido sérios transtornos ao nosso país. Nesta perspectiva alguns temas
ganharam destaque. Dentre eles podemos citar: Impeachment, paneleiros, lava jato,
foro privilegiado, japonês da federal, greves e manifestações, todos esses embalados
por um tema maior, a corrupção. Este último tem alcançado repercussão em quase
toda a população nacional, entre as mais variadas faixas etárias. No entanto, apesar
do termo corrupção ter ganhado grande repercussão na atualidade, sua história já é
1Graduado em Letras Português/Inglês e suas respectivas Literaturas – IFPR-Campus Palmas – 2016 – [email protected]. 2 Orientadora do presente Trabalho de Curso – TC. Graduação em Letras Português/Inglês. Universidade do Sul de Santa Catarina, UNISUL, Brasil. Mestrado em Lingüística (Conceito CAPES 6). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil - [email protected]
2
antiga no cenário brasileiro. Que o diga o “Boca do Inferno”, poeta barroco,
amplamente conhecido por suas críticas à situação econômica do estado da Bahia,
principalmente à cidade de Salvador, revelando-se um poderoso crítico social, cujo
objetivo era moralizar a sociedade por meio das suas poesias.
Neste trabalho, partiremos de uma análise comparativa que tentará
desenvolver uma associação por meio da crítica literária e artística de alguns poemas
de Gregório de Matos e Guerra para demonstrar o quão atual este poeta está em
relação ao quadro de nossa política atual. Pois, segundo Ribeiro (2016):
“Gregório de Matos atualiza de modo sutil conceitos e aquelas discussões
mais acaloradas sobre as representações artísticas (mimese3/paragone4),
resultando na construção de belíssimos “quadros” da vida social brasileira de seu tempo, seja com pinceladas líricas, religiosas ou satíricas” (Ribeiro, 2016 p. 10).
Diante disso, nosso objetivo com este trabalho será demonstrar a atualidade
da poesia satírica gregoriana dentro do atual cenário político brasileiro e, para
alcançarmos o mesmo buscaremos trabalhar os seguintes objetivos específicos: I.
Selecionar notícias e reportagens relativas à corrupção no cenário atual brasileiro; II.
Analisar poemas (sonetos) satíricos de gregório de matos relativos à política de sua
época; III. Identificar similaridades entre as notícias selecionadas e as críticas
presentes nos poemas analisados; IV. Identificar os fatores que contribuem para que
a poesia gregoriana permaneça atual mesmo sendo escrita ainda no Brasil colônia.
O trabalho se justifica na medida que traz uma reflexão sobre este autor tão
importante da nossa literatura barroca, ao mesmo tempo em que nos faz refletir sobre
alguns fatores que contribuem para que o tema central de sua poesia satírica, a
corrupção, ainda se faça presente, e tão fortemente, em nossa sociedade nos dias de
hoje.
É a seguinte a sequência na qual o trabalho está estruturado: no primeiro
capítulo intitulado “A corrupção e alguns fatores que a perpetuam”, faremos uma
apresentação de conceitos a respeito do tema, bem como discutiremos alguns fatores
3 O conceito de Mimese, inaugurado por Aristóteles, que sistematizou o campo da crítica das artes, já havia encontrado
elementos modelares para a produção poética e pictórica. A representação mimética (Imitação da realidade), realiza-se através
do representante e do representado, os quais, ficcionalmente comunicam-se por meio da abordagem discursiva da linguagem
artística, entendendo-se que um passa a emparelhar-se com o outro. (RIBEIRO,2016). 4 Comparação. (RIBEIRO,2016).
3
que contribuem para que a corrupção se perpetue ao longo dos anos em nossa
sociedade.
No segundo capitulo “O Boca do Inferno”, apresentaremos, brevemente, a
vida e obra de Gregório de Matos e Guerra. O qual podemos denominar como um
poeta de cunho religioso, pois muitas de suas obras retratam a salvação espiritual.
Mas Gregório também mostra um lado de angústia, e fala de amor em suas
representações lírico-amorosas e, finalmente, assume-se também como um poeta
satírico em suas críticas para com relação aos escândalos envolvendo os
representantes da cidade da Bahia. No entanto, mesmo Gregório sendo um autor
Inscrito dentro das tendências citadas, o que interessa neste trabalho, é a tendência
Satírica.
No terceiro tópico, será desenvolvido um resgate que possibilitará uma
ampliação dos horizontes a respeito das representações artísticas gregorianas, bem
como um esboço sobre o cenário atual da corrupção brasileira. Apresentaremos a
análise por meio da comparação dos poemas escolhidos, fazendo uma aproximação
dos mesmos com recortes de noticiários cujos temas sejam a corrupção.
Para isso, foram escolhidos os poemas: “Descreve que era Realmente
Naquele Tempo a Cidade da Bahia”, “Triste Bahia”, além de alguns trechos de
“EPÍLOGOS Que falta nesta cidade?”, culminando com o resgate e assimilação de
trechos e recortes de artigos e notícias sobre o tema corrupção. E, finalizando
traremos nossas considerações finais.
1 A CORRUPÇÃO E ALGUNS FATORES QUE A PERPETUAM
Na tentativa de decifrar ou, ainda, conceituar adequadamente a palavra
corrupção, percebe-se que seu significado está sempre ao lado de desvios de bens
públicos ou de abusos de poderes para tirar algum proveito particular.
Etimologicamente, o termo corrupção surgiu do latim da palavra corruptus que
significa o “ato de quebrar aos pedaços”. A partir dessa definição já se pode perceber
que, onde quer que esse mal se apresente, de alguma forma, deixa rastros de
destruição.
4
Para Furtado (2012 p. 16), a corrupção aparenta ser um “crime sem vítima”,
porém, isso está longe de ser verdade, pois onde quer que se faça presente, ela faz
as suas vítimas, sejam pessoas, organizações ou, inclusive, sociedades inteiras.
Bechara (2009), define corrupção como o ato de corromper-se, degradação
moral, depravação ou suborno. Desta forma, a ação de corromper-se não é nada
menos do que o resultado de praticar o suborno em troca de favores ou ações que
venham a beneficiar algum indivíduo.
Em termos práticos, pode-se definir a corrupção como o ato de se utilizar de
meios ilícitos para o benefício próprio, sem a preocupação de se considerar o prejuízo
alheio. Diante de definições tão negativas faz-se necessário discorrer um pouco sobre
as raízes desse mal que tanto assola as sociedades em que se faz presente, bem
como os motivos que levaram, e ainda levam, adiante algo tão nocivo.
Se pensarmos em uma questão histórica e voltarmos um pouco no tempo, no
momento de seu “descobrimento” por Portugal, em 1500, o Brasil já apresentou casos
de corrupção. Pois, a partir da descoberta, se estabeleceu em solo brasileiro a questão
da dependência entre colônia e coroa portuguesa, como salienta Furtado:
“Com a descoberta do Brasil por Portugal, estabelecia-se a relação de dependência entre a colônia e o conquistador, relação que iria durar mais de trezentos anos, em que a função do Brasil seria fornecer fundos para a monarquia, para a aristocracia e para os projetos expancionistas portugueses” (FURTADO, 2012 p.2).
Ainda segundo Furtado (2012), com esta relação, no início da colonização de
nosso país, algo que se tornou muito comum foi o contrabando de mercadorias,
principalmente o contrabando do ouro. Fraude esta que era até mesmo praticada
pelos representantes da igreja, onde os clérigos, durante o período colonial,
confeccionavam estátuas religiosas que eram ocas em seu interior para poder
esconder o ouro, o qual seria contrabandeado. Surgindo assim, a expressão “Santo
do pau oco”, usada ainda nos dias atuais para pessoas que não apresentam a sua
verdadeira personalidade, ou seja, uma pessoa falsa.
Analisando o trabalho de Furtado (2012), o mesmo menciona que a herança
cultural deixada por Portugal, pode sim, ser uma das causas da existência de
tamanhas “mazelas sociais”, em nossa sociedade. Na época da colonização, vinham
para cá muitos aventureiros com o objetivo de apenas usurpar as terras brasileiras,
de modo que não tinham nenhum compromisso moral com o Brasil. Com isso, este
5
legado deixado pelos portugueses pode ser a desculpa para tentar esconder os fatos
e os motivos reais das falcatruas que assombram o Brasil por anos.
Nesta perspectiva de elencar a herança portuguesa como a causa principal
da existência da corrupção, Furtado (2012) pondera que:
“A principal causa da corrupção brasileira interessa apenas àqueles que se beneficiam das fraudes e dos desvios dos fundos públicos –dentre os quais certamente não mais se incluem a monarquia ou a aristocracia portuguesas” (FURTADO, 2012 p. 8).
Neste ponto, somos forçados a concordar com o autor, visto que a monarquia
se foi, porém, a herança ficou entre nós. Outra autora que irá trabalhar com esta
questão sobre fraudes e subtrações de fundos públicos, é Vitória Marques Lorente. A
qual atribui como sendo uma fraqueza própria da natureza humana, o fato de um
indivíduo se beneficiar ou usufruir de algo que não lhe pertence, como um bem
público, por exemplo. Pois o atual significado de corrupção, está interligado à herança
deixada pelos antigos. Ainda segundo a autora:
“[...] A ideia de que o patrimônio público é, sobretudo, o tesouro monetário é atual, sendo a corrupção, hoje, a subtração de dinheiro do tesouro do Estado. O significado atual da corrupção está de certa forma relacionado à concepção de corrupção dos modernos, que por sua vez a herdaram dos antigos. Na modernidade, a corrupção constituía principalmente a degradação do corpo político (Hobbes, Maquiavel), a corrosão dos alicerces de uma estrutura política, social ou mental e o declínio dos costumes (Montesquieu, Tocqueville)2 – este último era também uma preocupação dos antigos (Platão, Aristóteles).3 Mesmo com suas nuances, a corrupção sempre foi entendida como a degradação de um bem coletivo, seja ele o corpo político,
o costume ou o tesouro público [...]’ (LORENTE, 2016 p. 205)
Para a autora, toda esta relação, além de ser um resultado da fraqueza
humana, é também recorrente da pobreza de espírito humano, pois muito desta
relação advém da forma egoísta e cercada de vícios com que os homens se
comportam, a qual perpassa as leis chegando ao desrespeito e ao abuso de poder.
Dentro desta perspectiva, como já mencionado anteriormente, muitas das
ações que cercam a corrupção possuem uma forte relação com a troca de favores, ou
seja, uma esperança de receber algum benefício particular. Este benefício pode ser
de “ natureza política, sexual, profissional etc.” (FURTADO, 2012. Pág.32). No
entanto, o fato é que esses benefícios ou trocas de favores são sempre buscados de
forma ilegítima e em detrimento de outrem, ou, quando se trata da política, em prejuízo
do bem público.
6
E é neste viés que a corrupção vai se perpetuando, conforme podemos
presenciar. Mas o quê, afinal, faz com que algo tão nocivo às pessoas e às
sociedades, se estenda de geração a geração, conforme se pode presenciar por meio
de leituras ou dos noticiários?
Quando se trata de política, pode-se perceber que o eleitor vê a corrupção
como algo nocivo ao funcionamento da sociedade, porém, muitas vezes a procura
pela realização pessoal que o influencia fortemente na decisão de seu voto. Segundo
Lorente (2016, p. 233) “ao maximizar o interesse pessoal, os cidadãos se dispõem a
votar em um político, mesmo tendo conhecimento que o candidato em questão foi
corrupto ao longo de sua carreira”. Como se percebe, a corrupção não é, de forma
alguma, “mérito” só dos políticos.
Ainda, algo que colabora, e muito, para a manutenção de tamanho descaso
com relação à corrupção no Brasil está relacionado com a questão da impunidade. O
fato de a população, não conhecer as leis, ou não se importar se elas são cumpridas
ou não, faz com que haja uma tolerância para com a corrupção. Pois trata-se de algo
evidente que as efetivações de nossa constituição estão longe de punir os ditos
corruptos. São raros os casos de punição de quem se apropria de uma forma ou de
outra de parcelas e de desvios dos recursos públicos, e a certeza da não
concretização desta punição, constitui uma das principais causas para a manutenção
da corrupção.
A aplicação desta punição se encontra distante de acontecer, pois muitos dos
políticos, ministros, empresários ou demais membros de nossa sociedade que já
foram autuados pelo crime de corrupção, estão amarrados aos “favores” que existem
por trás dos atos políticos.
Nesta perspectiva possuímos os argumentos dos empresários e dos políticos,
o primeiro grupo, salienta que sem a “doação” deste dinheiro nunca iriam conseguir o
famoso contrato para a prestação de um serviço, por exemplo. Já o segundo grupo, o
dos políticos corruptos, diz que sem o recebimento desta doação pelos empresários,
não conseguem financiar ou sustentar suas campanhas eleitorais, e assim, todas
estas desculpas se constituem uma forma camuflada de corrupção.
Segundo Lorente (2016), em nossa sociedade as ações de nosso dia a dia
que se caracterizam como atos corruptos, fazem com que o sujeito conviva com a
corrupção muito próxima de si, tolerando-a, mesmo a percebendo como algo nocivo,
7
e sem nenhuma resistência. Porém, ao momento em que há a descoberta destas
ações praticadas por cidadãos que possuam algum cargo público, ou sejam
pertencentes da “elite” da sociedade, muitas das vezes a população as percebe como
algo intolerável e rejeitado, como salienta Lorente: “Em suma, a tolerância à corrupção
se dá quando a população ignora corrupções na vida privada, mas somente as aponta
no Estado” (LORENTE, 2016, p. 234).
Ainda neste sentido de evidência da corrupção, a mesma se concentra como
uma ferramenta ou um fenômeno onipresente na história da humanidade, pois sua
presença vem sendo relatada desde os tempos primórdios e é constantemente citada
em toda e qualquer tipo de sociedade.
2 “O BOCA DO INFERNO”
Gregório de Matos e Guerra foi um poeta e advogado que nasceu em
Salvador, Bahia, em 20 de dezembro de 1633, vindo a falecer em 1695, em Recife.
Era o terceiro filho de um fidalgo português e uma mãe brasileira, os quais eram
proprietários de um engenho no recôncavo baiano. Diferente de seus irmãos, que
decidiram ajudar os pais com o engenho, Gregório estudou num colégio Jesuíta da
Bahia e depois continuou seus estudos nas cidades de Lisboa e Coimbra, em
Portugal.
Pertencente ao movimento Barroco5 e considerado o primeiro grande poeta
brasileiro, Gregório estudou Direito em Coimbra, onde entrou em contato com as
perspectivas humanistas, que lhe renderam a motivação para a leitura dos autores
clássicos, dos quais Gregório tirou seus ensinamentos e os demonstrou em suas
obras. (ABAURRE e PONTARA, 2010a, p.180-183 apud MACHADO, 2017 sp). Ainda
em Coimbra, exerceu diversas profissões, e também produziu algumas obras de
cunho satírico. Porém, Gregório não se adaptou com a vida agitada da metrópole
5 O termo original provém de "pérola irregular, deformada ou imperfeita", designando coisa muito rebuscada ou excessivamente enfeitada. Inicialmente pejorativo, o barroco é um estilo que é bastante visível na pintura, na escultura, arquitetura, música, literatura e artes decorativas brasileira de séculos passados. Foi um estilo adotado da Europa; aqui, misturado aos elementos artísticos brasileiros, alcançou grande importância nos séculos XVII e XVIII, dando origem ao Barroco Brasileiro. Especialmente em MG, onde o estilo floresceu com mais expressão, temos a designação Barroco Mineiro. (SACRAMENTO, 2010 sp).
8
estrangeira e este foi o motivo de seu regresso para o Brasil, onde desempenhou
também diversos cargos perante a igreja e à comunidade baiana.
No Brasil, fazendo uso da sátira, Gregório de Matos e guerra foi um forte
crítico literário para o cenário político de sua época, pois irá ridicularizar de forma tão
baixa os governantes da Bahia que isso lhe rendera a fama de ser um homem
rabugento, possuidor de uma alma maligna, um negligente e uma fama de mau.
(ABAURRE e PONTARA, 2010b, sp apud MACHADO, 2017 sp).
Esta fama citada anteriormente, deu-se pelo motivo de que este autor não
poupava governo, integrantes da sociedade e os representantes da santidade, alvos
frequentes de sua poesia satírica. O Boca do Inferno, pseudônimo herdado por
desfrutar desta língua afiadíssima, tornou Gregório um autor muito odiado, mas, por
outro lado, muito amado, pois tornou-se um herói revolucionário, um sujeito muito
preocupado com seu povo e com as demais negligências que aconteciam na Bahia
em seu tempo.
Dentre todas as fases ou manifestações artísticas que perpassaram pelo
Brasil, o Barroco foi a que recebeu mais destaque, e nos últimos anos gerou e tem
gerado muitas discussões entre autores e críticos da literatura e das artes, como no
fragmento abaixo:
“Porém, vale-se perguntar: será que esta fase ou estilo assim denominado de barroco realmente existiu? Em uma primeira resposta chegamos ao primeiro contato do qual fazemos com esta palavra, que certamente se dá nas aulas de língua portuguesa (literatura). Em que o aluno ou estudioso, relaciona o significado deste termo com algo que foge do normal, ou seja, um termo que entrava em fuga dos padrões “normais” da época”. (RIBEIRO, 2016 p. 270)
Este estilo denominado de Barroco, fez com que todas as manifestações
artísticas, culturais, além de costumes e relações sociais fossem chamadas de
"Barroco", "sociedade barroca", "Estado barroco" etc. (HANSEN, 1997, pág. 113 apud
RIBEIRO, 2016, pág. 28). Alguns comentam que este estilo foi uma grande
interferência e que fez parte da doutrinação do cotidiano dos cidadãos da época.
Dentro do território nacional o Barroco é apresentado em muitas obras, que
estão relacionadas à chegada dos jesuítas pregando suas palavras perante o
colonialismo que aqui existia e, assim, importaram suas influências estéticas
caracterizando o BARROCO brasileiro.
9
Os escritores que viviam na Bahia durante o século XVII, “entre eles Gregório,
faziam uso de um estilo muito bem calculado para que o destinatário conseguisse
receber adequadamente seus efeitos” (RIBEIRO, 2016. Pág. 29). Desta forma,
Gregório de Matos, é um conhecedor das Teorias Poéticas e Retóricas renascidas
nos Renascimento/Classicismo e que determinam profundas influências nas Artes
para além do Barroco (HANSEN, 2006 apud RIBEIRO, 2016 p. 37).
Esta vivência de Gregório com o Barroco, além de sua própria linguagem
artística, fez com que levantássemos indagações a respeito da possibilidade de
apresentar um dialogismo no qual estabelece uma possível relação entre o passado
e presente, entre as representações artísticas gregorianas da sua época e os fatos
que fazem com que toda a obra e a linguagem de Gregório de Matos permaneçam
tão atual no século XXI, mesmo que tenham sido produzidas ao final do século XVII.
3 A ANÁLISE COMPARATIVA - REFLEXÕES: DE UM POETA À FRENTE DE SEU
TEMPO
Neste tópico, faremos uma análise comparativa entre algumas passagens dos
poemas de Gregório de Matos, totalizando em um resgate das representações
artísticas gregorianas e o recorte das notícias e artigos selecionados com o intuito de
mostrar a similaridade entre eles:
Poema 1
Descreve o que era Realmente Naquele Tempo a Cidade da Bahia A cada canto um grande conselheiro, que nos quer governar cabana, e vinha, não sabem governar sua cozinha, e podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um freqüentado olheiro, que a vida do vizinho, e da vizinha pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, para a levar à Praça, e ao Terreiro.
10
Aqui vemos fielmente como Gregório está decepcionado com a forma como
sua cidade está sendo governada, “Um grande conselheiro/ que nos quer governar
cabana e vinha/ não sabem governar sua cozinha/ e podem governar o mundo inteiro”.
Neste fragmento nota-se que sua crítica centra na questão do poder, como o que
ocorre nos dias atuais, em que há um grande despreparo por parte nossos
governantes, que estão nos cargos políticos apenas para algum prestigio ou privilégio,
como Salienta Vasconcelos:
“Existe um alto índice de analfabetismo no Brasil, e isso se deve ao fato do país não investir em uma educação de qualidade para toda a sociedade. No período das eleições muitos candidatos se enquadram nessa estatística e muitas vezes são eleitos pelo povo, sem ter o menor preparo para representar a sociedade no poder” (VASCONCELOS, 2015, p. 1).
Podemos fazer uma relação também com a grande concorrência e o enorme
número de candidatos para pleitear uma vaga para qualquer cargo público, mesmo
que haja um número de cargos muito inferior ao total de candidatos. Como podemos
observar no fragmento abaixo:
“O que você leva em conta na hora de decidir em quem vai votar? Tem o hábito de pesquisar sobre os candidatos? Neste ano, os eleitores de Curitiba terão que escolher um vereador entre 1.097 candidatos. A Câmara Municipal tem 38 vagas - são 29,3 candidatos por vaga. Para os cargos de prefeito e vice-prefeito são nove postulantes”. (BILENKY, 2016 sp)
Outro ponto marcante em seu soneto é a questão da degradação moral: “Em
cada porta um freqüentado olheiro/ que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa/ escuta, espreita, e esquadrinha/ para a levar à Praça, e ao Terreiro.” Com
estes trechos podemos fazer uma relação com as chamadas “Fake News”, as quais
assombraram nossa política nos últimos dias.
Muitos mulatos desavergonhados, trazidos pelos pés os homens nobres, posta nas palmas toda a picardia. Estupendas usuras nos mercados, todos, os que não furtam, muito pobres, e eis aqui a cidade da Bahia. (MATOS, 2010, p.333, grifo nosso)
11
“Pelo link Esclarecimentos sobre informações falsas, qualquer pessoa poderá ter acesso a informações que desconstroem boatos ou veiculações que buscam confundir os eleitores brasileiros. Diante das inúmeras afirmações que tentam macular a higidez do processo eleitoral nacional, nessa página o TSE apresenta links para esclarecimentos oriundos de agências de checagem de conteúdo, alertando para os riscos da desinformação e clamando pelo compartilhamento consciente e responsável de mensagens nas redes sociais”. (TSE, 2018, on-line)
Além da depravação moral, Gregório explora em seu poema também a
questão econômica que assombra a Bahia de sua época, percebe-se que os grandes
detentores do poder são os comerciantes “oportunistas” que estão entrando em uma
grande ascensão, enquanto os trabalhadores estão na pobreza. Toda esta questão
de lamentação que Gregório explora está presente também no soneto abaixo:
Soneto 1
Triste Bahia!
Ó quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. A ti trocou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando, e tem trocado, Tanto negócio e tanto negociante. Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote. Oh! se quisera Deus que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote (Gregório de Matos in BOSI, 1996)
Neste soneto, Gregório faz uma crítica aos governantes da cidade da Bahia.
Seguindo suas ideias poéticas, ele descreve as transformações ocorridas no estado,
lamentando os problemas econômicos gerados pelos atos corruptos que aconteciam
em seu tempo. Alegando que em alguns anos atrás, esta era uma cidade próspera,
externa a dor que sente em ver a crise gigantesca que está disseminando a pobreza
em sua cidade. Gregório critica também que, tanto o homem quanto a sua cidade
natal, estão se vendendo como mercadoria em uma relação de troca financeira com
os estrangeiros, perdendo, assim, suas riquezas naturais.
12
Similar ao poema anterior, a partir deste recorte histórico, Gregório nos
apresenta o quadro cinzento e da formação de nosso país que recebeu muita
influência estrangeira. Ele retrata uma Bahia que foi explorada e decimada,
principalmente durante o ciclo do açúcar, em que a produção dos engenhos do
nordeste do Brasil era voltada para a exportação, e que a grande causa de todos
esses processos de transformações e empobrecimento da Bahia, concentram-se no
fortalecimento de um comércio corrupto, enquanto o indivíduo que já vivia assistiu de
modo passível aos destroços deixados pelo sistema mercantil que fez sucumbir as
riquezas desta terra.
Estas pequenas análises da obra literária de Gregório, nos levam a fazer uma
relação com o nosso cenário atual e as condições que são apresentadas em relação
à corrupção e as relações comerciais de nosso país, conforme aponta o fragmento
abaixo:
“Um produto tipicamente brasileiro está fazendo "sucesso" no exterior: a corrupção. E, faça-se justiça, nesse caso, os principais atores não são os políticos do País. São empresários e executivos de grandes companhias nacionais que, além de cometerem crimes corporativos em nações estrangeiras, demonstram formas diferenciadas de resolver esses casos dentro e fora do Brasil. Ao mesmo tempo em que parte dessas companhias fecha acordos rapidamente com poderes judiciais e governos fora do Brasil, protelam ao máximo assumir a culpa dos erros por aqui”. (COPETTI, 2017, sp).
Desta forma, como no século XVII, século em que Gregório viveu, a corrupção
sempre esteve presente em muito dos negócios, principalmente na questão da
exportação das nossas riquezas, e também nas relações de poder, que perduram até
hoje e como nos anos anteriores esta detenção de poder está relacionada e é
dominada pelo maior número de aquisições materiais ou numéricas. O fragmento do
colunista Thiago Copetti esclarece a quão escancarada está a situação da corrupção
nacional, e os rumos que ela está ganhando fora do território brasileiro:
“Um estudo do Fórum Econômico Mundial indicou que o Brasil só fica à frente da Venezuela e do Chade, empatado com a Bolívia, na lista dos países mais corruptos do mundo. E os números internos corroboram a classificação internacional. Segundo estimativa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), feita em 2010, as perdas geradas por corrupção no País alcançam entre 1,38% (R$ 80 bilhões) e 2,3% (R$ 140 bilhões) do Produto Interno Bruto (PIB)”. (ESTADÃO, 2016, sp)
A corrupção em si, consegue gerar uma desigualdade tão desigual que, como
no soneto, em que que o poeta chora pelo descaso da depredação de sua cidade, nos
13
dias atuais ela afasta os investimentos, cessa os negócios e também a geração de
empregos, além de prejudicar a qualidade ao desviar recursos dos serviços públicos,
entre outros danos que afetam a sociedade. Observe-se o fragmento:
“Ao diminuir a eficiência do setor público e desviar recursos dos contribuintes do destino que deveria ser dado a eles, a corrupção prejudica especialmente quem mais precisa dos serviços públicos. Por exemplo, ela afeta a qualidade da escola pública e do sistema público de saúde dos quais mais dependem os que dispõem de menos recursos”. (ESTADÃO, 2016, sp)
Em solo nacional, grande parte da corrupção se concentra na esfera política,
conforme expõe o professor Matthew M. Taylor “Em comparação com outros países,
a corrupção no Brasil é bem diferente, por ser altamente concentrada na esfera
política” (apud ESTADÃO, 2016 sp). A proximidade da corrupção com o poder público
é escancarada. Tamanho é o descaso de governantes com relação à injustiça social
que a corrupção e os desvios públicos fragilizam uma cidade, um estado ou uma
sociedade. Descasos estes que foram afrontados por Gregório nos fragmentos de
EPÍLOGOS Que falta nesta cidade?:
Poema 2 ( fragmento 1 )
EPÍLOGOS Que falta nesta cidade?:
“Que falta nesta cidade?... Verdade. Que mais por sua desonra?... Honra. Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha. O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, Numa cidade onde falta Verdade, honra, vergonha. Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio. Quem causa tal perdição?... Ambição. E no meio desta loucura?... Usura.” [...]
(Gregório de Matos in: MAGALHAES JUNIOR 1957)
Percebe-se neste trecho da obra artística de Gregório, a crítica de forma
impiedosa do autor em relação à incompetência e a desonestidade que assombram a
sociedade de Salvador. Neste poema ele retrata as características de uma sociedade
que estava em crise, em uma decadência econômica que estava fazendo sua
14
população passar fome, e de forma irônica Gregório apresenta a pintura moral ou
imoral de sua cidade. Conseguindo desta forma, abrir espaço e voz para que os
habitantes e o povo daquela época apresentassem o descontentamento perante aos
seus governantes e os atos de falcatruas que assombravam a Bahia.
Poema 2 (fragmento 2)
EPÍLOGOS Que falta nesta cidade?:
[...]
“ E que justiça a resguarda?... Bastarda. É grátis distribuída?... Vendida. Que tem, que a todos assusta?... Injusta. Valha-nos Deus, o que custa O que El-Rei nos dá de graça. Que anda a Justiça na praça Bastarda, vendida, injusta.”
[...]
(Gregório de Matos in: MAGALHAES JUNIOR 1957)
As estrofes acima podem ser usadas como um dos argumentos para a
questão da impunidade que assombra os malfeitores e fraudulentos que se envolvem
em corrupção, principalmente, na área política. Esta impunidade pode estar muita das
vezes relacionadas com a questão processual de nossa legislação pois, em diversos
casos, a justiça falha em punir os atos de corrupção, além da possibilidade de
protocolização de recursos e mandados de segurança que limitam a capacidade
administrativa dos órgãos responsáveis por aplicarem as devidas condenações aos
atos de corrupção.
Os ditos políticos corruptos possuem grande certeza na impunidade, questão
esta que fomenta a corrupção em nosso país, principalmente pelas lacunas que o
poder processual propicia para juntamente com o estado, a prática dos chamados
atos políticos e desvios dos bens públicos, conforme salienta Furtado:
“[...] Esse contexto, aliado à incrível criatividade daqueles que buscam aspectos vulneráveis na atuação do Estado para fraudar e desviar recursos públicos – vale nesse ponto mencionar a criatividade utilizada para desviar recursos utilizada no denominado escândalo [...]” (Furtado, 2012 p. 421).
15
E, assim, concluímos nossa análise comparativa, mas, não sem antes deixar
um alento ao nosso leitor.
Felizmente, com todos esses escândalos envolvendo as falcatruas e os
deslizes políticos, a população brasileira não está mais tolerando qualquer ato
antiético, manifestando oposição a qualquer tipo de tolerância com a corrupção,
mostrando assim, o seu cansaço no que diz respeito à impunidade e adesão popular
para todas as propostas de combate à corrupção.
Dentro deste patamar, é de notório saber que a sociedade e os brasileiros em
geral estão cada vez mais atentos em relação ao seu viver em sociedade e,
principalmente, com os fatos sociais e políticos que norteiam a atual situação política
no Brasil. Sendo assim, quem sabe, num futuro próximo, uma análise dos poemas de
Gregório de Matos Guerra se volte apenas à fruição a partir se seus detalhes estéticos,
e não mais para compará-los às mazelas sociais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o desenvolvimento deste trabalho foi possível demonstrar o quanto os
temas discutidos na poesia satírica Gregoriana mantêm-se vivos ainda hoje. Por meio
de comparações entre alguns poemas de Gregório de Matos Guerra e recortes de
noticiários atuais, que envolvem o tema corrupção, pudemos perceber o quanto se
assemelham e, ainda, verificar como esse mal se estende ao longo de anos e séculos.
Na obra artística Gregoriana, ficaram nítidos os atos fraudulentos e corruptos que
assombravam a Bahia no século XVII, criando grandes distorções para o comércio e
as finanças da cidade, distorções estas que são as mesmas que assombram e
prejudicam as entidades administrativas do século XXI.
Por meio de um percurso histórico, demonstramos que, desde o seu
descobrimento, o Brasil já vivenciou os seus primeiros casos de corrupção. Segundo
Furtado (2012), na época da colonização, os aventureiros que aqui chegavam tinham
como objetivo apenas explorar as terras brasileiras, sem nenhum compromisso moral
com o solo brasileiro. Para este autor, a corrupção foi “uma herança” que os
portugueses nos deixaram. Já em LORENTE (2016), numa visão mais atenuante,
16
vimos a corrupção sendo atribuída a uma fraqueza humana, advinda da pobreza do
nosso espírito.
No decorrer do trabalho, apontamos as possíveis causas que fazem com que
essa “herança” se mantenha vigorosa, ainda que seus frutos sejam os mais
prejudiciais possível. Como mostrado, a tolerância pode ser o termo geral mais
adequado quando se quer definir o motivo pelo qual a corrupção se perpetue por tanto
tempo. Quando se fala de política, como vimos, muitos dos cidadãos elegem um
político mesmo sabendo de seus atos ilícitos. Apontamos também, como fatores que
alimentam a corrupção, a impunidade, em que dificilmente um corrupto é penalizado
por seus atos e, finalmente, a distância que a população mantém das leis. O fato de
não estarmos atentos se as leis são, ou não, cumpridas é determinante na tolerância
à corrupção.
Finalmente, apresentamos nossa análise, na qual apontamos a
similaridade entre algumas obras satíricas de Gregório de Matos Guerra e os
noticiários que presenciamos hoje em dia. Mostramos que o poeta consegue
descrever e representar a sua versatilidade em lidar com as palavras, muitas vezes
palavras de baixo calão, e nos colocar diante de um quadro de ações corruptas de
seu tempo. Em linhas gerais, a obra satírica gregoriana contém uma alta relação com
o século XXI, pois quando entramos em contato com elas, conseguimos visualizar,
por meio do universo sátiro, as relações corruptas daquela época com as que
testemunhamos hoje. Desta forma, conseguimos verificar que a Poesia Satírica do
Boca do Inferno permanece altamente atual ainda que tenha sido escrita no século
XVII.
17
REFERÊNCIAS
ABAURRE, M. L. M.; PONTARRA, M. Literatura: tempos, leitores e literaturas. São Paulo: Moderna, 2010a apud MACHADO, Marco Antonio Calil. Gregório(s) de Matos: padrões de representá-lo(s) e ordens do discurso. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso. São Paulo vol.12 no.2 mai./ago. 2017. ABAURRE, M. L. M.; PONTARRA, M. Literatura: tempos, leitores e literaturas. São Paulo: Moderna, 2010b apud MACHADO, Marco Antonio Calil. Gregório(s) de Matos: padrões de representá-lo(s) e ordens do discurso. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso. São Paulo vol.12 no.2 mai./ago. 2017. BECHARA, Evanildo. Minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de janeiro: Ed Nova Fronteira, 2009. BILENKY, Thais. Cidades grandes têm recorde de candidatos a prefeito desde 2000. Folha de São Paulo. São Paulo: Folha de São Paulo, 2016. (Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/09/1814944-cidades-grandes-tem-recorde-de-candidatos-a-prefeito-desde-2000.shtml. Acesso em: 09/11/2018). BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 34. ed. São Paulo: Cultrix, 1996. COPETTI, Thiago. O Brasil que exporta corrupção. Jornal do comércio. Porto Alegre: Jornal do comércio, 2017. (Disponível em: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2017/02/cadernos/empresas_e_negocios/548413-o-brasil-que-exporta-corrupcao.html. Acesso em: 18/11/2018). ESTADÃO. Os males da corrupção. Estadão. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 2016 (Disponível em: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,os-males-da-corrupcao,10000089281 . Aceso em: 18/11/2018). FURTADO, Lucas Rocha. AS RAIZES DA CORRUPÇAO: ESTUDOS DE CAOS E LIÇOES PARA NO FUTURO. Tese de doutorado. Universidade de Salamanca. Salamanca, 2012. HANSEN, João Adolfo. Barroco, Neobarroco e outras ruinas. Destiempos.com. México, distrito federal, 2008 apud RIBEIRO, Evandro. A Teoria Humanística da Arte na Lírica de Gregório de Matos e Guerra. Trabalho de conclusão de curso (Graduação). IFPR – Campus Palmas, Palmas, 2016. LORENTE, Vitoria Marques. Corrupção no Brasil e estratégias de combate. R. bras. de Est. da Função públ. – RBEFP. Belo Horizonte, ano 5, n. 14, p. 203-257, maio/ago. 2016. MAGALHÃES JÚNIOR, Raimundo. Antologia de humorismo e sátira. 2 ed. aum. Rio de Janeiro: Bloch, 1957.
18
MATOS, Gregório de. Crônica do Viver Baiano Seiscentista: Obra poética/ edição James Amado. 5ºed. Rio de Janeiro: Record, 2010 1v. MATOS, Gregório de. Crônica do Viver Baiano Seiscentista: Obra poética/ edição James Amado. 5ºed. Rio de Janeiro: Record, 2010 2v. RIBEIRO, Evandro. A Teoria Humanística da Arte na Lírica de Gregório de Matos e Guerra. Trabalho de conclusão de curso (Graduação). IFPR – Campus Palmas, Palmas, 2016. SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. Significado de Barroco. Dicionário Informal. Disponível em: https://www.dicionarioinformal.com.br/significado/barroco/3454/. Acesso em: 22/11/2018. SIGNIFICADOS. Significado De Corrupção. O que é corrupção. Significados (Disponível em: https://www.significados.com.br/corrupcao/ Acesso em: 19/10/2018). TSE LANÇA PÁGINAS PARA ESCLARECER ELEITORES SOBRE A VERDADE. Disponível em:<www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/fake-news>. Acesso em: 11/11/2018 VASCONCELOS, Diandra Figueiredo. O despreparo político x a necessidade de legitimidade do direito ao voto. Revista Direito UNIFACS – Debate Virtual. n. 185 ,2015. Salvador.