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A PORÇÃO DOS ÍMPIOS
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Traduzido do original em Inglês
The Portion Of The Wicked
By Jonathan Edwards
Via: CCEL.org
(Christian Classics Ethereal Library)
Tradução por Tiago Cunha
Revisão e Capa por Camila Almeida
1ª Edição: Janeiro de 2015
Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Revista e Atualizada | ARA • Copyright © 1988, 1993 Sociedade Bíblica do Brasil.
Publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com em parceria com o blog
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Ethereal Library, sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0
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A Porção dos ÍmpiosPor Jonathan Edwards
“Mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à
injustiça. Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o
mal, ao judeu primeiro e também ao grego.” (Romanos 2:8-9)
É a intenção do apóstolo Paulo, nos três primeiros capítulos desta Epístola, mostrar que
tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado e que, portanto, não podem ser justi-
ficados por obras da lei, mas apenas pela fé em Cristo. No primeiro capítulo, ele mostrou
que os gentios estavam debaixo do pecado. Neste, mostra que os judeus também estão, e
que, conquanto fossem severos nas suas censuras aos gentios, faziam as mesmas coisas
que condenavam, pelo que o apóstolo os acusa: “Portanto, és indesculpável, ó homem,
quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas;
pois praticas as próprias coisas que condenas”. E os adverte que não sigam por este
caminho, prevenindo-os da miséria a que ficariam expostos, e dando-lhes a entender que,
ao invés de sua miséria ser menor que a dos gentios, seria maior, pelo fato de Deus ter
sido mais benevolente para com eles do que para com os gentios. Os judeus achavam que
estavam livres da ira vindoura, porque Deus os escolhera para ser Seu povo peculiar. Mas
o apóstolo os informa que haveria indignação e ira, tribulação e angústia, para a alma detodo homem, não apenas dos gentios, mas para toda alma, e para o do judeu primeira-
mente e em especial, quando faziam o mal, pois seus pecados tinham mais agravantes.
Na passagem lida, encontramos:
1. Uma descrição dos ímpios, na qual podem ser observadas aquelas suas características
que têm a natureza de uma causa, e as que têm a natureza de um efeito.
Aquelas características dos ímpios aqui mencionadas que têm a natureza de uma causa
são o fato de serem facciosos, e não obedecerem à verdade, mas obedecerem à injustiça.
Ser faccioso significa ser avesso à verdade, disputar com o Evangelho, achar defeitos nas
suas declarações e ofertas. Os incrédulos encontram muitas coisas nos caminhos de Deus
em que tropeçam, e pelas quais se ofendem. Sempre estão disputando e achando defeitos
em uma coisa ou outra. Com isso são impedidos de crer na verdade e render-se a ela.
Cristo é para eles uma pedra de tropeço, uma rocha de ofensa. Não obedecem à verdade,
ou seja, não se rendem a ela, não a recebem com fé. Esse render-se à verdade e abraçá-
la, que se encontra na fé salvífica, é chamado de obedecer, na Escritura. Romanos 6:17:
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“Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de
coração à forma de doutrina a que fostes entregues”. Hebreus 5:9: “E, tendo sido aperfei -
çoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem”.
Mas os ímpios obedecem à injustiça, ao invés de se renderem ao Evangelho. Estão sob opoder e domínio do pecado, e são escravos de suas luxúrias e corrupções.
São nestas características dos ímpios que está a essência de sua impiedade. Sua descren-
ça e oposição à verdade e sua submissão servil aos desejos pecaminosos são o funda-
mento de toda impiedade.
Aquelas características dos ímpios que têm a natureza de um efeito são o fazer o mal. Esta
é a sua menor oposição contra o Evangelho, e é por serem servilmente submissos a seus
desejos carnais que fazem o mal. Aqueles princípios ímpios são o fundamento, e a prática
ímpia é a estrutura. Aqueles são a raiz, esta, o fruto.
2. Encontramos também a punição dos ímpios, na qual podem ser também notados a causa
e o efeito.
As coisas mencionadas em sua punição que têm a natureza de uma causa são indignação
e ira; ou seja, a indignação e ira de Deus. É o furor de Deus que tornará os homens miserá-
veis. Serão os objetos da ira Divina, e daí surgirá toda sua total punição.
As coisas em sua punição que têm a natureza de um efeito são tribulação e angústia. A in-
dignação e ira de Deus se converterão em extrema dor, aflição e angústia de coração neles.
Doutrina: Indignação, ira, miséria e angústia de alma são a porção que Deus reservou aos
ímpios.
Todo ser humano terá a porção que lhe pertence. Deus reserva a cada um a sua porção. Aporção do ímpio nada mais é senão ira, aflição e angústia de alma. Embora possam gozar
alguns prazeres e deleites vazios e inúteis, por alguns dias, enquanto permanecem neste
mundo, contudo, o que lhes está reservado pelo Senhor e Governador de todas as coisas,
como sua porção, é apenas indignação e ira, tribulação e angústia.
Essa não é a porção que os ímpios escolhem. O que escolhem é a felicidade mundana.
Contudo, essa é a porção que Deus lhes concede. É a porção que, para todos os efeitos,
eles escolhem para si, pois escolhem aquelas coisas que natural e necessariamente con-
duzem a esta porção, e aquelas que são claramente ditas, incontáveis vezes, que levam a
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ela. Provérbios 8:36: “Mas o que peca contra mim violenta a própria alma. Todos os que
me aborrecem amam a morte”. Mas, quer a escolham ou não, esta será a porção por toda
a eternidade daqueles que vivem e morrem como ímpios. Indignação e ira os perseguirão
enquanto viverem neste mundo, daqui os arrebatarão, e os seguirão para o mundo vin-
douro. E lá, ira e miséria permanecerão sobre eles por toda a eternidade.
O método que usarei para tratar deste assunto é descrever a ira e a miséria das quais os
ímpios serão os objetos, tanto aqui quanto na eternidade, em suas partes e períodos suces-
sivos, de acordo com a ordem do tempo.
I. Descreverei a ira que frequentemente acompanha os ímpios nesta vida. Indignação e ira,
com frequência, os alcançam ainda aqui.
1. Deus, com frequência, na Sua ira, os entrega a si mesmos. São entregues aos seus pe-
cados, e abandonados para que destruam a si mesmos, e trabalhem em sua própria ruína;
Ele os abandona no pecado. Oséias 4:17: “Efraim está entregue aos ídolos; é deixá -lo”.
Deus, com frequência, permite que caminhem grandes distâncias no pecado, e não lhes
concede a graça refreadora que dá a outros. Ele os entrega à sua própria cegueira, de ma-
neira que permanecem ignorantes de Deus e de Cristo, e das coisas que pertencem à sua
paz [Lucas 19:42]. Eles são, às vezes, entregues à dureza de coração, e se tornam estú-
pidos e insensíveis, de tal maneira que nada, jamais, os despertará completamente. Sãoentregues à própria cobiça dos corações, para insistirem em certas práticas ímpias, todos
os seus dias. Alguns são entregues à avareza, outros à bebedeira, alguns à impureza, ou-
tros ao orgulho, disputas e espírito invejoso, e alguns a uma disposição acusadora e an-
tagonista para com Deus. Ele os entrega à sua estultice, para agirem com excessiva tolice,
para que adiem os cuidados de suas almas de tempos em tempos, para nunca acharem
que o presente é o melhor tempo, mas sempre O mantêm à distância, e tolamente se gabam
com esperanças de uma vida longa, e adiam o dia mau, e se bendizem no coração, dizendo:
“Terei paz, ainda que ande na perversidade do meu coração, para acrescentar à sede abebedice”. Alguns são deixados em tal estado que se tornam miseravelmente endurecidos
e insensíveis, enquanto outros ao seu redor são despertados e, muito preocupados, per-
guntam-se o que devem fazer para ser salvos.
Às vezes, Deus entrega os homens a uma fatal apostasia devido ao mau aproveitamento
dos esforços do Seu Espírito. São abandonados para a apostasia eterna. Terrível é a vida
e a condição dos que são assim deixados sem Deus. Temos exemplos da miséria dos tais
na santa Palavra de Deus, particularmente de Saul e Judas. Estes são, às vezes, entregues
ao poder de Satanás para que os tente, e os conduza a práticas ímpias, agravando bastantesua própria culpa e miséria.
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2. Indignação e ira são, às vezes, exercidas contra eles neste mundo, sendo amaldiçoados
em todas as suas ocupações. Esta maldição de Deus os segue em tudo. São amaldiçoados
nos seus prazeres. Se eles têm prosperidade, ela lhes é amaldiçoada; se possuem rique-
zas, se têm honra, se desfrutam prazeres, lá está a maldição de Deus presente. Salmos
92:7: “Ainda que os ímpios brotam como a erva, e florescem todos os que praticam ainiquidade, nada obstante, serão destruídos para sempre”.
Há uma maldição de Deus que acompanha sua alimentação diária: cada pedaço de pão
que comem, cada gota de água que bebem. Salmos 69:22: “Sua mesa torne -se-lhes diante
deles em laço, e a prosperidade, em armadilha”. São amaldiçoados em todas suas ocupa-
ções, em qualquer coisa em que põem a mão; quando vão ao campo trabalhar, ou quando
trabalham nos seus respectivos negócios. Deuteronômio 28:16: “Maldito serás tu na cidade
e maldito serás no campo”. A maldição de Deus permanece na casa em que habitam, e o
enxofre está espalhado nas suas habitações [Jó 18:15]. A maldição de Deus está presente
nas suas aflições, enquanto que as aflições dos justos são correções paternais, e vêm pela
misericórdia. As aflições que os ímpios enfrentam são devidas à ira, e vêm de Deus como
um inimigo, e são o prenúncio de sua punição eterna. A maldição de Deus também os a-
companha nos seus aproveitamentos e oportunidades espirituais, e lhes seria melhor não
haver nascido em uma terra onde há a luz [do Evangelho]. O fato de terem a Bíblia e o Dia
do Senhor apenas agrava sua culpa e miséria. A palavra de Deus quando lhes é pregada
é cheiro de morte para a morte. Melhor lhes seria se Cristo jamais houvesse vindo ao
mundo, se jamais houvesse oferta de um Salvador. A própria vida lhes é uma maldição;pois vivem apenas para encher a medida dos seus pecados. O que buscam em todos os
divertimentos, e empregos, e preocupações da vida, é sua própria felicidade; mas jamais a
obtêm. Jamais obtêm conforto verdadeiro, todos os consolos que têm são inúteis e não
satisfazem. Se vivessem cem anos, com muito do mundo em sua possessão, suas vidas
seriam todas preenchidas com vaidade. Tudo o que possuem é vaidade de vaidades, não
acham descanso verdadeiro paras suas almas, tudo o que fazem é alimentar o vento orien-
tal [Oséias 12:1] e não têm real contentamento. Sejam quais forem os prazeres exteriores
que possam ter, suas almas estão famintas. Não têm paz real de consciência, não têm nadado favor de Deus. O que quer que façam, vivem em vão, e futilmente. São inúteis na criação
de Deus, pois não respondem ao fim para o qual foram criados. Vivem sem Deus, não têm
a Sua presença, e nenhuma comunhão com Ele. Pelo contrário, tudo o que têm, e tudo o
que fazem, não têm outro fim senão o de contribuir para sua própria miséria, e tornar seu
estado eterno e futuro mais terrível. Os melhores dos ímpios vivem vidas miseráveis e mes-
quinhas, mesmo com toda a sua prosperidade; suas vidas são muito indesejadas, e, o que
quer que tenham, a ira de Deus permanece sobre eles.
3. Depois de um tempo devem morrer. Eclesiastes 9:3: “Este é o mal que há em tudo quanto
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se faz debaixo do sol: a todos sucede o mesmo; também o coração dos homens está cheio
de maldade, nele há desvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos”.
A morte que recai sobre os ímpios é bem diferente da que recai sobre os justos; para os
ímpios é uma execução da maldição da lei, e da ira de Deus. Quando um ímpio morre,Deus o extirpa em ira, ele é levado por uma tempestade de ira, e é impelido em sua impie-
dade. Provérbios 14:32: “Pela sua malícia é derribado o perverso, mas o justo, ainda mor -
rendo, tem esperança”. Jó 18:18: “Da luz o lançarão nas trevas e o afugentarão do mundo”.
Jó 27:21: “O vento oriental o leva, e ele se vai; varre-o com ímpeto do seu lugar”. Embora
os ímpios, em vida, possam viver na prosperidade mundana, contudo, não podem viver
sempre aqui, mas devem morrer. O lugar que conhecem não mais conhecerão; e o olho
que os veem não mais os verão na terra dos vivos [Jó 7:8].
Seus limites estão inalteravelmente estabelecidos, e, quando o atingirem, devem partir, e
deixar todas as boas coisas mundanas. Se viveram na glória exterior, sua glória não os
acompanhará; nada que possuem poderá ser levado. Eclesiastes 5:15: “Como saiu do
ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e do seu trabalho nada poderá
levar consigo”. Ele deve deixar todas as suas posses para outros. Se estão tranquilos e
quietos, a morte acabará com essa tranquilidade, roubará seu escárnio carnal, e os desnu-
dará de toda sua glória. Como vieram nus ao mundo, nus voltarão, e irão como vieram. Se
estocaram muitos bens, por muitos anos, se armazenaram em depósitos, na esperança de
ter conforto e prazer, a morte lhes cortará tudo isso. Lucas 12:16: “E lhes proferiu aindauma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abun-dância. E arrazoa-
va consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E
disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo
o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos
bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta
noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” Se têm nos seus
peitos muitos desígnios e projetos para promoverem sua prosperidade e vantagem munda-
na, quando vem a morte, tudo vai-se embora com um sopro. Salmos 144:4: “Sai-lhes o es-pírito, e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia, perecem todos os seus desígnios”. E assim,
qualquer diligência que tenham tido em buscar sua salvação, a morte a desapontará, não
aguardará que eles cumpram seus projetos e esquemas. Se afagaram, enfeitaram e ador-
naram seus corpos, a morte roubará todo seu prazer e glória; tornará seu semblante pálido
e seu aspecto repulsivo. Ao invés das alegres roupas e dos belos ornamentos, terão apenas
uma mortalha; sua casa será o escuro e silencioso túmulo; e esse corpo que tanto adora-
vam, se converterá em podridão repugnante, será comido pelos vermes, e se tornará pó.
Alguns ímpios morrem na juventude, a ira os persegue, e logo os derruba e não lhes é
permitido viver metade dos seus dias. Jó 36:14: “Perdem a vida na sua mocidade e morrem
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entre os prostitutos cultuais”. Salmos 55:23: “Tu, porém, ó Deus, os precipitarás à cova
profunda; homens sanguinários e fraudulentos não chegarão à metade dos seus dias”. Eles
são, às vezes, arrebatados em meio ao pecado e à vaidade, e a morte põe fim súbito a to-
dos os seus prazeres juvenis. São, com frequência, interrompidos no meio de uma carreira
no pecado, e se seu coração já se apegou firmemente a essas coisas, devem ser separadosdelas. Não possuem bens, senão os exteriores; mas, então, deverão eternamente os aban-
donar, devem para sempre fechar os olhos para tudo o que lhes foi querido e agradável
aqui.
4. Os ímpios são, às vezes, objetos de muita tribulação e angústia de coração nos seus lei-
tos de morte. Às vezes, as dores do corpo são muito extremas e terríveis; e o que suportam
nestas agonias e lutas pela vida, quando corpo e alma estão lutando para se separar,
ninguém saberá. Ezequias teve um senso terrível disso. Ele compara a um leão quebrando
todos os seus ossos. Isaías 38:12, 13: “A minha habitação foi arrancada e removida para
longe de mim, como a tenda de um pastor; tu, como tecelão, me cortarás a vida da urdidura,
do dia para a noite darás cabo de mim. Espero com paciência até à madrugada, mas ele,
como leão, me quebrou todos os ossos; do dia para a noite darás cabo de mim”. Mas isto
é pouco comparado ao que, às vezes, é suportado pelas almas dos ímpios quando estão
no seu leito de morte. A morte parece, às vezes, ter um aspecto muito horrível para eles,
quando ela vem e os encara na face, não conseguem contemplá-la. É sempre assim
quando os ímpios têm notícias da aproximação da morte, e têm a razão e a consciência em
exercício, e não são estúpidos ou distraídos. Quando essa rainha dos terrores vem e serevela, e são chamados a encontrá-la, oh, como é terrível seu conflito! Mas é necessário
que a encontrem: Eclesiastes 8:8: “Não há nenhum homem que tenha domínio sobre o
vento para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; nem há tréguas
nesta peleja; nem tampouco a perversidade livrará aquele que a ela se entrega”.
A morte vem a eles com toda sua terrível armadura, e com seu aguilhão; e é o suficiente
para encher suas almas com um tormento que não pode ser expresso.
É ruim para uma pessoa estar em uma cama, doente, ser desenganada pelos médicos,
com os amigos ao redor chorando, como se esperassem partir juntos; e em tais circunstân-
cias não ter esperança, não ter interesse em Cristo, e ter a culpa dos pecados posta sobre
sua alma; estar saindo do mundo ser ter feito a paz com Deus; permanecer diante do Seu
trono de julgamento com todos os seus pecados, sem ter nada para objetar, ou responder.
Ver a única oportunidade para se preparar para a eternidade chegando ao fim, depois da
qual não haverá mais tempo para aprovação, mas sua situação estará inalteravelmente
fixada, e jamais haverá outra oferta de um Salvador. É horrível para a alma chegar às
margens do ilimitado mar da eternidade e insensivelmente se atirar nele, sem qualquer
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Deus ou Salvador para lhe preservar. Ser trazida à beira do precipício e ver a si mesma
caindo no lago de fogo e enxofre, e sentir que não tem nenhum poder de impedir sua queda:
quem poderá contar os apertos e apreensões do coração em tal situação? Como ela tenta
voltar, mas, não obstante, continua; é vão desejar mais uma oportunidade! Oh, como pensa
que são felizes aqueles que estão à sua volta, que ainda podem viver, ter sua vida prolon-gada, enquanto ele vai para uma eternidade infindável! Como desejaria que acontecesse
consigo o mesmo que ocorre com os que têm mais tempo de se preparar para o julgamento!
Mas não será assim. A morte, enviada com o propósito de chamá-lo, não lhe dará descanso
nem alívio: ele deve comparecer diante do trono de Deus como está, ter seu estado eterno
determinado de acordo com suas obras. Para tais pessoas, como as coisas parecem dife-
rentes dos seus tempos de saúde, quando contemplavam a morte à distância! Como o pe-
cado lhes parece diferente agora, aqueles mesmos pecados que costumavam menospre-
zar! Como é terrível olhar para trás e considerar como gastaram seu tempo, sendo tolos, e
como gratificaram e premiaram seus desejos carnais, e viveram nos caminhos da impieda-
de; como foram descuidados, e como negligenciaram suas oportunidades e vantagens,
recusando-se a ouvir o conselho, e como não se arrependeram apesar de todos os avisos
que receberam! (Provérbios 5:11-13): “e gemas no fim de tua vida, quando se consumirem
a tua carne e o teu corpo, e digas: Como aborreci o ensino! E desprezou o meu coração a
disciplina! E não escutei a voz dos que me ensinavam, nem a meus mestres inclinei os
ouvidos!”
Como o mundo lhes parece diferente agora! Costumavam lhe dar muito valor, e ter seuscorações arrebatados por ele; mas de que vale agora? Como são insignificantes todas as
riquezas! (Provérbios 11:4): “As riquezas de nada aproveitam no dia da ira, mas a justiça
livra da morte”. Que pensamentos diferentes têm agora a respeito de Deus e de Sua ira!
Eles costumavam desprezar a ira de Deus, mas como ela parece terrível agora! Como os
seus corações se comprimem ao pensar em comparecer diante desse Deus! Como seus
pensamentos a respeito do tempo são diferentes! Agora o tempo parece precioso e o que
não dariam por mais um pouco de tempo! Alguns, nestas circunstâncias, foram levados a
clamar: “Oh, um milhão de mundos por uma hora, por um momento!” E como a eternidadeparece diferente agora! Sim, ela é de fato terrível. Alguns, no leito de morte, foram levados
a clamar: “Oh essa palavra ‘eternidade! eternidade! eternidade!’” Que mar sombrio ela lhes
parece, quando chegam às suas margens! Com frequência, nestes tempos, clamam por
misericórdia, e clamam em vão. Deus os chamou, mas não ouviram. “Antes, rejeitastes todo
o meu conselho e não quisestes a minha repreensão; também eu me rirei na vossa desven-
tura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei” (Provérbios 1:26). Rogam a outros que orem
por eles, chamam os pastores, mas nada resolve. Chegam mais e mais perto da morte, e
a eternidade está mais e mais à porta. E quem pode expressar o seu horror, quando se
sentem agarrados pelos braços gelados da morte, quando sua respiração falha mais e
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mais, e seus olhos começam a ficar fixos e a fraquejar! O que eles sentem não pode ser
dito ou concebido. Alguns ímpios têm muito do horror e desespero do inferno na sua última
doença. Eclesiastes 5:17: “Nas trevas, comeu em todos os seus dias, com muito enfado,
com enfermidades e indignação”.
II. Descreverei agora a ira que acompanha os ímpios no porvir.
1. A alma, quando separada do corpo, será lançada no inferno. Há, sem dúvida, um julga-
mento específico pelo qual todo homem deve ser provado na morte, além do julgamento
geral, pois a alma, tão logo parte do corpo, aparece diante de Deus para ser julgada. Eclesi-
astes 12:7: “e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Isto é,
para ser julgada e preparada por Ele. Hebreus 9:27: “E, assim como aos homens está orde-
nado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo”. Mas este julgamento particular
provavelmente não é uma ocasião solene como aquele que acontecerá no dia final. A alma
deve aparecer diante de Deus, mas não da forma como os homens aparecerão no fim do
mundo. As almas dos ímpios não irão ao céu para se apresentar diante de Deus, nem Cristo
descerá de lá para a alma se apresentar diante dele. Nem se supõe que a alma será carre-
gada a algum lugar, onde haja algum símbolo especial da presença Divina. Mas Deus está
presente em todo lugar, então a alma se conscientizará imediatamente da Sua presença.
As almas em um estado separado [do corpo] estarão sensíveis da presença de Deus e de
Suas operações de maneira diferente do que estão agora. Pode-se dizer que todos osespíritos separados estão diante de Deus: os santos estão em Sua gloriosa presença, e os
ímpios no inferno estão em Sua terrível presença. Somos informados que são atormentados
na presença do Cordeiro. Apocalipse 14:10: “Também esse beberá do vinho da cólera de
Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre,
diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro”. Assim, a alma de um ímpio, na sua
partida do corpo, ficará imediatamente consciente de que está diante de um Deus infinita-
mente santo e terrível, e do seu próprio Juiz final. E então verá como Ele é um Deus terrível,
verá como é santo, como odeia infinitamente o pecado; estará ciente da grandeza da ira deDeus contra o pecado, e como é terrível Seu desprazer. Estará consciente da terrível
majestade e poder de Deus, e como é horrível coisa cair em Suas mãos. Então a alma virá
nua, com toda a sua culpa, em toda sua imundície; uma vil, repugnante, abominável criatu-
ra, uma inimiga de Deus, rebelde contra Ele, com a culpa de toda sua rebelião e menospre-
zo dos mandamentos de Deus, e desprezo de Sua autoridade, e desrespeito pelo glorioso
Evangelho, diante de Deus como seu Juiz. Isso a encherá de horror e espanto. Não se deve
pensar que esse julgamento será acompanhado com qualquer voz ou qualquer outro
relatório, como o julgamento no fim do mundo; mas Deus Se manifestará em sua estrita
justiça interiormente, às vistas imediatas da alma, e ao sentido e apreensão da consciência.
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Este julgamento particular não será obstáculo para que a alma seja lançada no inferno
imediatamente ao sair do corpo. Tão logo ela saia do corpo, saberá qual será seu estado e
condição por toda a eternidade.
Enquanto houver vida, há esperança. O homem, enquanto vivia, embora sua situação fosseextremamente terrível, possuía ainda esperança. Quando estava moribundo, havia ainda
possibilidade de salvação. Mas, uma vez que a união entre a alma e corpo for quebrada,
nesse exato momento o caso se torna desesperador, e não subsiste mais esperança algu-
ma, nenhuma possibilidade. Nos seus leitos de morte talvez tivessem esperança que Deus
se compadeceria deles e ouviria seus clamores, ou que ouviria as preces dos seus amigos
piedosos por eles; estavam prontos para se agarrar em qualquer coisa que encontrassem,
algum afeto religioso ou alguma mudança na sua conduta externa, e se gabavam que eram
então convertidos. Eram capazes de se permitir algum grau de esperança devido às vidas
morais que viviam e que Deus os respeitaria e os salvaria.
Mas tão logo a alma parte do corpo, a partir desse momento o caso está absolutamente
determinado. Haverá então um fim eterno para toda esperança, para tudo que os homens
se agarravam nesta vida; a alma então saberá com segurança que deve ser miserável por
toda eternidade, sem qualquer remédio. Verá que Deus é seu inimigo; verá seu Juiz vestido
em Sua ira e vingança. Então, sua miséria começará e será, neste momento, engolida pelo
desespero. O grande mar estará fixo entre ela e a felicidade, a porta da misericórdia fechada
para sempre, a sentença irrevogável será dada. Então, os ímpios saberão o que está diantedeles. Antes, a alma estava aflita por temer como seria; mas agora, todos os seus temores
sobrevirão. Sobrevirão como um dilúvio poderoso, e não haverá escape. Devido ao medo,
a alma anteriormente estava cheia de espanto; mas agora, quem pode conceber o assom-
bro que a enche, quando toda esperança estiver cortada, e estiver ciente que nada fará
alguma diferença!
Quando morre um homem bom, sua alma é conduzida pelos santos anjos ao céu. Lucas
16:22: “Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreutambém o rico e foi sepultado”. Assim, podemos bem supor que quando um ímpio morre,
sua alma é agarrada pelos anjos maus; que eles cercam sua cama prontos para arrebatar
a alma miserável tão logo ela deixe o corpo. E com que violência e fúria estes espíritos
cruéis voarão sobre sua presa e ela será deixada em suas mãos! Não haverá bons anjos
para guardá-la e defendê-la. Deus não terá cuidado dela, não haverá nada que lhe sirva de
auxílio contra estes espíritos cruéis que a tomarão e a levarão ao inferno, para ser atormen-
tada para sempre. Deus a deixará completamente em suas mãos, e a dará para sua pos-
sessão, quando vier a morrer; e será conduzida ao inferno, a habitação dos demônios e
espíritos condenados. Se o temor do inferno no leito de morte, às vezes, enche os ímpios
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de terror, como serão esmagados quando sentirem seus tormentos, quando descobrirem
que são não apenas tão grandes, mas até mesmo maiores que seus temores! Descobrirão
que são muito além do que poderiam conceber ao sentirem; pois ninguém sabe o poder da
ira de Deus, senão os que a experimentam. Salmos 90:11: “Quem conhece o poder da tua
ira? E a tua cólera, segundo o temor que te é devido?”
As almas dos ímpios que partiram são, sem dúvidas, levadas para algum lugar específico
no universo que Deus preparou para ser o receptáculo dos seus súditos ímpios, rebeldes e
miseráveis. Um lugar onde a justiça vingadora de Deus será glorificada; um lugar feito para
a prisão, onde demônios e ímpios estão reservados até o dia do julgamento.
2. Aqui, as almas dos ímpios sofrerão miséria extrema e incrível, em um estado separado
[do corpo], até ao dia da ressurreição. Esta miséria não é, na verdade, seu castigo pleno,
assim como não é a felicidade dos santos completa antes do dia do julgamento. Acontece
com as almas dos ímpios o mesmo que acontece com os demônios. Embora estes sofram
tormentos extremos agora, contudo ainda não sofrem seu castigo completo; e, portanto, é
dito que foram lançados ao inferno e presos em cadeias. 2 Pedro 2:4 : “Ora, se Deus não
poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos
de trevas, reservando-os para juízo”. Judas 6: “E a anjos, os que não guardaram o seu
estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas,
em algemas eternas, para o juízo do grande Dia”. Eles são reservados no estado em que
estão; e para que estão reservados, senão para grau maior de punição? Logo, vemos quetremem de medo. Tiago 2:19: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios
creem e tremem”. Da mesma forma, quando Cristo esteve sobre a terra, os demônios
tinham muito medo que Ele tivesse vindo para os atormentar. Mateus 8:29: “E eis que
gritaram: Que temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes de
tempo?” Marcos 5:7: “exclamando com alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus
Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes!”
Mas, ainda assim, lá eles estão, em extrema e inconcebível miséria; privados de todo bem,sem nenhum descanso ou conforto, e estão sujeitos à ira de Deus. Ele lá executa Sua ira
contra eles sem misericórdia, e são engolidos em ira. Lucas 16:24: “Então, clamando, disse:
Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do
dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama”. Aqui nos é dito
que, quando o rico morreu, estando em tormentos, levantou seus olhos e disse a Abraão
que estava atormentado em uma chama. E parece que a chama não estava apenas sobre
ele, mas nele; assim, pede por uma gota de água para refrescar sua língua. Isto, sem
dúvida, serve para nos representar que eles estão cheios da ira de Deus, como se fosse
fogo, e estarão lá atormentados em meio a demônios e espíritos condenados; e terão
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tormentos indizíveis devidos às suas próprias consciências. A ira de Deus é o fogo que
nunca será apagado, e a consciência o verme que nunca morre (Isaías 66:24). Como os
homens sofrem do horror da consciência, às vezes, neste mundo! Mas como sofrerão ainda
mais no inferno! Quantas reflexões amargas e atormentadoras terão com relação à tolice
de que foram culpados em suas vidas, por terem negligenciado suas almas, quando tiveramoportunidade de arrependimento; por terem continuado tão tolamente a entesourar ira para
o dia da ira, acrescentando pecados ao seu registro, dia após dia, fazendo sua miséria cada
mais maior; como atiçaram as chamas do inferno para si mesmos, e passaram suas vidas
ajuntando combustível! Não serão capazes de resolver tais pensamentos em suas mentes;
e como serão atormentadores! E os que vão ao inferno, jamais podem escapar de lá; lá
ficarão aprisionados até o dia do julgamento, e seus tormentos continuarão perpetuamente.
Os ímpios que morreram muitos anos atrás, suas almas foram para o inferno, e ainda estão
lá; os que foram ao inferno nas eras passadas, desde então, estão lá, sempre em tormen-
tos. Não têm mais nada para passar o tempo, senão sofrendo tormentos, são mantidos
conscientes para nenhum outro propósito; e, embora tenham muitos companheiros no
inferno, contudo não têm conforto, pois não há amigo, amor, piedade, quietude, nem som-
bra de esperança.
3. As almas separadas dos ímpios, além da miséria presente que sofrem, estarão em
terrível medo de seu julgamento mais pleno no Dia do julgamento. Embora sua punição no
estado separado seja extremamente terrível, e muito além do que possam suportar, embora
seja tão grande a ponto de afundá-las e esmagá-las, contudo, não termina aqui, pois estãoreservadas para uma punição muito maior e mais terrível. Seus tormentos serão, então,
vastamente aumentados, e continuarão aumentando por toda a eternidade. Seu castigo
será tão grande que suas misérias nesse estado separado não são senão como uma prisão
antes da execução; elas, bem como os demônios, estão presas em cadeias de escuridão.
Judas 6: “E a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu
próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande
Dia”. Os espíritos separados são chamados “espíritos em prisão”. 1 Pedro 3:19: “no qual
também foi e pregou aos espíritos em prisão”. E, se a prisão é terrível, como será terrível aexecução! Quando estamos sofrendo alguma dor muito forte no corpo, como lamentamos
qualquer aumento nela! Só o fato de continuar a doer é muito ruim, quanto mais aumentar.
Como esses espíritos separados, que sofrem os tormentos do inferno, temerão ainda mais
o aumento e plenitude do seu tormento que haverá no Dia do julgamento. O que já sentem
é largamente mais do que podem suportar; quando estão, por assim dizer, rogando por
uma gota d’água para refrescar sua língua, quando dariam dez mil mundos por um mínimo
de abatimento de sua miséria! Como seria então sinistro pensar que, ao invés disso, está
vindo o Dia quando Deus dará do céu a sentença de um grau de miséria muito mais terrível,
e que continuarão debaixo dela para sempre! A experiência que têm do terror da ira de
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Deus os convence completamente como é terrível Sua ira; eles, portanto, ficarão extre-
mamente temerosos dessa ira plena que ele executará no Dia do julgamento; não terão
esperança de escapar, saberão com certeza que ela virá.
O temor disso faz os demônios, estes espíritos poderosos, orgulhosos e teimosos, treme-rem: eles creem na ameaça, e, portanto, tremem. Se este temor os vence, como não esma-
gará as almas dos ímpios! Todo o inferno treme ao pensar no dia do julgamento.
4. Quando vier o dia do julgamento, deverão levantar-se para a ressurreição da condena-
ção. Quando esse dia vier, toda a humanidade que houver morrido na face da terra ressur-
girá; não apenas os justos, mas também os ímpios. Daniel 12:2: “Muitos dos que dormem
no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror
eterno”. Apocalipse 20:13: “Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além
entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas
obras”. Os condenados no inferno não sabem o tempo em que o Dia do julgamento acon -
tecerá, mas quando este tempo chegar, será conhecido, e serão as notícias mais terríveis
que jamais foram ouvidas neste mundo de misérias. Sempre é tempo doloroso no inferno;
o mundo da escuridão é cheio de gritos e clamores dolorosos; mas quando as novas forem
ouvidas, que o Dia apontado do julgamento chegou, o inferno se encherá de gritos mais
altos e clamores mais terríveis que jamais houve. Quando Cristo vier nas nuvens dos céus
para o julgamento, as notícias sobre Ele encherão tanto a terra quanto o inferno com gemi-
dos e gritos amargos. Lemos que todas as famílias da terra se lamentarão por sua causa,e, da mesma forma, os habitantes do inferno; e então as almas dos ímpios devem ser uni-
das aos seus corpos, e permanecerão diante do Juiz. Não devem vir voluntariamente, mas
serão arrastadas, como o malfeitor é arrastado do calabouço para a execução. Não foi de
boa vontade que morreram, e deixaram a terra para ir ao inferno; mas é de muito mais má
vontade que sairão do inferno para se dirigirem ao julgamento final. Não será uma libertação
para elas, será apenas uma ida para a execução. Retrocederão, mas devem vir; os demo-
nios e espíritos condenados devem vir juntos. A última trombeta será então ouvida, e este
será o som mais pavoroso para os ímpios e demônios que jamais foi ouvido; e não apenasos ímpios, que então serão achados habitando a terra, a ouvirão, mas também os que
estiverem nos seus túmulos. João 5:28, 29: “Não vos maravilheis disto, porque vem a hora
em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito
o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição
do juízo”. E então as almas dos ímpios deverão entrar novamente nos seus corpos, que
estarão preparados apenas para serem os vasos de tormento e miséria. Será uma visão
terrível para elas quando entrarem novamente nos seus corpos, os mesmos que anterior-
mente foram usados como membros e instrumentos do pecado e da impiedade, e cujos
apetites e desejos elas permitiram e gratificaram. A separação do corpo e da alma lhes foi
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terrível quando morreram, mas a reunião na ressurreição será ainda mais terrível. Rece-
berão seus corpos imundos e odiosos, de acordo com a vergonha e desprezo eterno para
o qual estão destinados. Assim como os corpos dos santos surgirão mais gloriosos que na
terra, e serão à semelhança do corpo glorioso de Cristo, da mesma forma, podemos bem
supor que os corpos dos ímpios serão proporcionalmente mais deformados e odiosos.Muitas vezes neste mundo uma alma poluída está escondida em um corpo fino e belo, mas
não será assim então, quando as coisas aparecerão como elas são; a forma e o aspecto
do corpo serão de acordo com a deformidade infernal da alma. Assim surgirão dos seus
túmulos, e levantarão os olhos, e verão o Filho de Deus nas nuvens dos céus, na glória de
Seu Pai, com Seus santos anjos com Ele. Então verão seu Juiz em Sua terrível majestade,
que será a visão mais incrível que jamais tiveram, e acrescentará ainda mais novos
horrores. Essa terrível e esplêndida majestade na qual Ele aparecerá, e as manifestações
de Sua infinita santidade, espicaçará suas almas. Virão dos seus túmulos, todos tremendo
e atônitos; o terror os surpreenderá.
5. Então, aparecerão diante do seu Juiz para prestar contas. Não acharão montanhas ou
rochas que caiam sobre eles, que possam cobri-los, e escondê-los da ira do Cordeiro. Muito
deles verão outros nessa ocasião, que foram seus antigos conhecidos, que aparecerão em
corpos gloriosos, e com semblantes alegres e cânticos de louvor, e se elevando como que
com asas para encontrar o Senhor nos ares, enquanto eles são deixados para trás. Muitos
verão seus antigos vizinhos e conhecidos, seus companheiros, irmãos, e suas esposas
sendo levados. Serão convocados a comparecer diante do tribunal; e devem ir, mesmo quenão queiram; devem permanecer à esquerda de Cristo, em meio a demônios e ímpios. Isto,
de novo, acrescentará mais espanto, e fará com que seu horror seja ainda maior. Com que
terror essa sociedade se ajuntará! E então serão chamados a prestar contas; serão trazidas
à luz as coisas ocultas das trevas; todas as impiedades do coração serão conhecidas; serão
declaradas as reais impiedades de que são culpados; aparecerão seus pecados secretos,
que foram cometidos longe dos olhos do mundo; agora serão manifestos na sua luz
verdadeira aqueles pecados que costumavam apreciar, e desculpar e justificar. E todos os
seus pecados serão apresentados com todos os seus terríveis agravantes, e sua imundícieserá trazida à luz para sua vergonha e desprezo eterno. Então ficará claro como muitas
destas coisas eram hediondas, coisas que em vida faziam pouco caso; então aparecerá
como foi terrível sua culpa no seu desprezo por um Salvador tão glorioso e bendito. E todo
mundo verá e muitos se levantarão em julgamento contra eles e os condenarão; seus
companheiros a quem tentaram para a impiedade, outros que foram endurecidos pelo seu
exemplo, se levantarão contra muitos deles; e os pagãos que não tiveram tantas vantagens
em comparação com eles, e muitos que, ainda assim, viveram vidas melhores, se levan-
tarão contra eles. Serão, então, chamados para um relato especial; o Juiz declarará sua
pena, ficarão mudos, sem ter o que dizer, pois verão então como Ele é um Deus grande e
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terrível, este mesmo contra quem pecaram. Então ficarão à Sua esquerda, enquanto outros
a quem conheceram na terra sentarão à direita de Cristo em glória, brilhando como o sol,
aceitos por Cristo, e sentados com Ele para julgá-los e condená-los.
6. Então a sentença da condenação será pronunciada pelo Juiz sobre eles. Mateus 25:41:
“Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos,
para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”. Essa sentença será pronunciada
com terrível majestade; e haverá grande indignação, e terrível ira aparecerá no Juiz, e em
Sua voz, com a qual pronunciará a sentença; e com que horror e surpresa estas palavras
atingirão os corações dos ímpios, para quem serão pronunciadas! Cada palavra e sílaba
será como o mais terrível trovão para eles, e espicaçará suas almas como o relâmpago
mais penetrante. O Juiz lhes ordenará que se apartem dele; os expulsará de Sua presença,
como grandemente abomináveis para Ele, e lhes alcunhará de malditos; serão uma socie-
dade maldita, e não apenas lhes ordenará que saiam de Sua presença, mas que vão parao fogo eterno, para lá habitar como a sua única morada digna. E o que mostra como o fogo
é terrível é que ele está preparado para o diabo e seus anjos: eles permanecerão para
sempre no mesmo fogo em que os demônios, estes grandes inimigos de Deus, serão ator-
mentados. Quando esta sentença for pronunciada, haverá no vasto grupo à esquerda ter-
mores e soluços, e gritos, e ranger de dentes, de uma nova forma, que jamais houve antes.
Se os demônios, estes espíritos soberbos e elevados, tremem há muitas eras de antemão
ao mero pensamento desta sentença, como irão tremer quando ela vier a ser pronunciada!
E como os ímpios tremerão! Sua angústia será agravada ao ouvirem a bendita sentençapronunciada para aqueles que estarão à direita: “então, dirá o Rei aos que estiverem à sua
direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde
a fundação do mundo”.
7. Então a sentença será executada. Quando o Juiz ordenar que partam, devem ir; mes-
mo contra sua vontade, devem ir. Imediatamente após o fim do julgamento e a pronúncia
da sentença, chegará ao fim o mundo. A estrutura deste mundo será dissolvida. A pronúncia
da sentença será, provavelmente, seguida de trovões, que rasgarão os céus e tremerão a
terra do seu lugar. 2 Pedro 3:10: “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual
os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; tam-
bém a terra e as obras que nela existem serão atingidas”. Então o mar e as ondas se
agitarão, e as rochas serão derrubadas, e as montanhas serão rasgadas, e haverá um nau-
frágio universal deste grande mundo. Os céus serão dissolvidos, e a terra será posta em
chamas. Assim como Deus, em ira, uma vez destruiu o mundo por um dilúvio de águas, as-
sim agora faz com que ele se afogue em um dilúvio de fogo; e os céus estarão em chamas,
serão dissolvidos, e os elementos se fundirão com o calor fervente. (2 Pedro 3:10); e
aquelas grandes súcias de demônios e ímpios entrarão nessas chamas eternas para a qualforam sentenciados.
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8. Nesta condição permanecerão por todas as infindáveis eras da eternidade. Sua punição
estará, então, completa, e permanecerá nesta completude para sempre. Agora virá sobre
eles tudo o que temeram enquanto suas almas estavam no estado separado. Habitarão em
um fogo que jamais se apagará, e aqui vestirão a eternidade. Aqui suportarão mil anos após
mil anos, e sem chegar ao fim. Não há cálculo dos milhões de anos ou milhões de eras;toda aritmética falha aqui, não há regras de multiplicação que possa alcançar a quantidade,
pois não haverá fim. Não terão nada a fazer para passar a eternidade, a não ser serem
atormentados com aqueles tormentos; este será seu trabalho para todo o sempre; Deus
não terá nenhum outro uso para eles; esta é a maneira que responderão ao propósito de
suas existências. E nunca terão descanso, nem expiação, mas seus tormentos se manterão
a sua altura, e nunca ficarão mais toleráveis, pois jamais se acostumarão a eles. O tempo
lhes parecerá longo, todo momento será longo para eles, mas jamais acabará, como todas
as eras de seu tormento.
Aplicação
I. Assim, que cuidado temos que ter que nosso fundamento para a eternidade esteja asse-
gurado! Os que edificam em um falso fundamento, não estão seguros dessa miséria. Os
que constroem um refúgio de mentiras descobrirão que seu refúgio de nada lhes adiantará.
Os muros que rebocaram com cimento frágil cairão. Quanto mais terrível a miséria, mais
necessidade temos de assegurar que estejamos livres dela. Será terrível, de fato, serdesapontado em tal matéria. Acariciar-nos com sonhos e vãs imaginações de ser filho de
Deus, e de ir para o céu, e, ao fim, acordar no inferno, ver nosso refúgio varrido, e nossa
esperança eternamente perdida, e nos descobrir engolidos pelas chamas, e ver uma eter-
nidade infindável diante de nós; como será terrível!
Haverá muitos que serão assim desapontados. Muitos virão à porta e a encontrarão fecha-
da, estes mesmos que a esperavam aberta, e baterão, mas Cristo lhes dirá que não os
conhece, e os ordenará que partam, e será inútil para eles comunicar a Cristo acerca dasafeições que tiveram, e como foram religiosos, e como foram bem reputados na terra. Não
terão resposta alguma senão: “Apartai-vos de mim, não vos conheço, vós os que praticais
a iniquidade”. Consideremos isto, e tenhamos toda diligência em ver que edificamos na cer-
teza de que, de toda forma, seremos achados em Cristo. Observemos se, de fato, estamos
bem seguros desta terrível miséria. Do que adiantará nos agradar com uma noção de
sermos convertidos, e sermos amados por Deus? E do que adiantará termos uma boa
reputação com os nossos vizinhos por alguns dias, se formos no fim lançados no inferno, e
aparecermos no dia do julgamento à esquerda [de Cristo], e termos nossa porção eterna
com os ímpios? Uma falsa esperança não tem valor, e é mil vezes pior do que o total deses-
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pero. E quem é mais miserável do que aqueles que acham que Deus perdoou seus pecados
e que esperam ter uma porção com os santos na eternidade, mas, enquanto isso, estão se
precipitando de cabeça nesta miséria terrível? Que situação seria mais triste do que a dos
que assim são conduzidos vendados para a morte, prometendo a si mesmos uma felicidade
que jamais virá, pelo contrário, estarão se afogando na tribulação e angústia infindáveis!
Que todos, portanto, que mantêm esperança de seu próprio estado, vejam se estão bem
fundamentados; e que não descansem em sucessos passados, mas prossigam em frente,
para as coisas que estão adiante com toda a sua força.
II. Também podemos derivar um argumento para o despertamento dos ímpios. Esta indig-
nação e ira, tribulação e angústia é a porção reservada a você, se continuar no seu estado
atual. Você é a pessoa a quem me referia; é para você que toda essa miséria está reservada
pelas ameaças da santa Palavra de Deus. É sobre você que permanece essa ira de Deus.
Neste momento, você está em um estado de condenação a esta miséria. João 3:18: “o que
não crê já está condenado”. Ainda não foi executada a sentença, mas você já está conde -
nado a ela; não está simplesmente exposto à condenação, mas já está sob a sentença real
de condenação. Esta é a porção que lhe está reservada pela lei, e você está sob a lei e não
sob a graça. Esta é a miséria na qual você corre o perigo diário de cair. Você não está
seguro nem por uma hora. O tempo em que ela virá, é incerto. Você está suspenso sobre
ela por um fio, que a cada dia se torna mais e mais fraco. Esta miséria terrível, em todas assuas partes sucessivas, lhe pertence, e é a sua porção.
Se seus amigos e vizinhos, se todos ao seu redor, soubessem qual é a sua condição, pode-
riam muito bem levantar a voz em um clamor alto e amargo por sua causa, quando o con-
templassem. Poderiam dizer: “Eis aqui um ser infeliz, condenado a ser entregue eternamen-
te nas mãos dos demônios e ser atormentado por eles. Eis aqui um miserável, que está em
perigo diário de ser engolido pelo mar sem fundo de tristeza e miséria. Eis aqui uma criatura
miserável e perdida, condenada a passar a eternidade em fogo que não se apaga, e habitarem meio a chamas eternas; e ainda assim, não tem interesse em um Salvador, não tem
nada para o defender, nada com que possa aplacar a ira de um Deus ofendido”. Aqui, consi-
dere duas coisas:
1. Você não tem razão alguma para questionar a realidade destas misérias e tormentos
futuros, que são ameaçados na Palavra de Deus. Não se exalte com o pensamento de que
isso pode não acontecer. Não diga: “Como eu saberei que existe tal miséria a ser infligida
em outro mundo? Como eu saberei se isso não passa de uma fábula, e que quando vier a
morrer haverá um fim para mim, e ocorrerá comigo o mesmo que acontece com as feras?”
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Não diga: “Como eu saberei se tudo isso não passa de fantasmas da invenção humana?
Como eu saberei se as Escrituras, que ameaçam estas coisas, são a Palavra de Deus?
Talvez Ele tenha ameaçado essas coisas apenas para amedrontar os homens, para mantê-
los no seu dever, sem ter jamais a intenção de cumprir com Suas ameaças”.
Digo que não há base para suspeitas, nem razões para ela, pois que não haverá um castigo
futuro é não apenas contrário à Escritura, mas à razão. Não é razoável supor que não
haverá um castigo futuro, ou supor que Deus, que fez o homem racional, capacitado a reco-
nhecer seu dever, e sensível de que merece punição quando não o faz, deixaria o homem
abandonado, para viver ao seu capricho, e que nunca o puniria por seus pecados, e não
diferenciaria entre o bom e o mau. Ou que faria a humanidade e a abandonaria, que deixaria
o homem viver todos os seus dias na impiedade, no adultério, homicídio, roubo e abuso, e
coisas tais, e permitiria que vivessem prosperamente, sem puni-los jamais; que ficaria pas-
sivo vendo sua prosperidade no mundo, muito além dos justos, sem puni-los na eternidade.
Como é irracional supor que Aquele que fez o mundo deixaria as coisas em tal confusão, e
nunca tomaria cuidado com o governo de Suas criaturas e que jamais julgaria Suas
criaturas racionais! A razão ensina que há um Deus, e também ensina que, se há, Ele deve
ser um Deus sábio e justo, e que deve se preocupar em ordenar as coisas sábia e justa-
mente entre Suas criaturas. Portanto, não é razoável supor que os homens morrem como
as feras e que não há castigo futuro. E se há castigo futuro, não é razoável supor que Deus
não tenha, em algum lugar ou outro, dado aviso aos homens acerca dele, e lhes revelado
que tipo de punição devem esperar. Um legislador sábio manteria seus súditos em ignorân-cia quanto à punição que devem esperar por quebrar sua lei? E se Deus a revelou, onde
mais será encontrada a não ser na Escritura? Que revelação temos de um estado futuro se
não estiver nela revelada? Onde mais, senão aqui, Deus fala à humanidade que tipo de
recompensas e punições deve ela esperar? E está abundantemente manifesto, por inúme-
ras evidências, que estas ameaças são as ameaças de Deus, e que este livro temível é
Sua revelação. E uma vez que esta ameaça procede de Deus, não há motivo para objeção
quanto ao seu cumprimento. Pois Ele disse, sim, até mesmo jurou, que retribuirá ao ímpio
na sua face, de acordo com suas ameaças, e que será glorificado em sua destruição, e queeste céu e esta terra passarão. Quão tolo é, então, pensar que Deus possa apenas ameaçar
tais castigos para o amedrontamento dos homens, sem jamais pretender executá-los! Pois
tão certo como Deus é Deus, fará conforme Suas palavras. Ele destruirá as montanhas da
iniquidade conforme Suas ameaças, e não haverá escape. Como é vão o pensamento
daqueles que se iludem dizendo que Deus não cumprirá Suas ameaças, e que Ele apenas
atemoriza e engana os homens por meio delas. Como se Deus não pudesse de outra ma-
neira governar o mundo senão por meio de engodos e embustes falaciosos para iludir Seus
súditos! Os que acariciam tais pensamentos, conquanto possam estar endurecidos no pre-
sente, os entreterão somente por um pouco. Sua experiência, em breve, lhes convencerá
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que Deus é um Deus da verdade, e que Suas ameaças não são ilusões. Quando for tarde
demais para escapar, serão convencidos de que ele é um Deus que de forma alguma ino-
centa o culpado, e que Suas ameaças são substanciais e não meras sombras. Deutero-
nômio 29:18-21: “Para que, entre vós, não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo
cujo coração, hoje, se desvie do SENHOR, nosso Deus, e vá servir aos deuses destas na-ções; para que não haja entre vós raiz que produza erva venenosa e amarga, ninguém que,
ouvindo as palavras desta maldição, se abençoe no seu íntimo, dizendo: Terei paz, ainda
que ande na perversidade do meu coração, para acrescentar à sede a bebedice. O SE-
NHOR não lhe quererá perdoar; antes, fumegará a ira do SENHOR e o seu zelo sobre tal
homem, e toda maldição escrita neste livro jazerá sobre ele; e o SENHOR lhe apagará o
nome de debaixo do céu. O SENHOR o separará de todas as tribos de Israel para calami-
dade, segundo todas as maldições da aliança escrita neste Livro da Lei”. Salmos 50:21:
“Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te arguirei e
porei tudo à tua vista”.
2. Não há razão para pensar que seja possível que os ministros [do Evangelho] apresentem
este assunto além do que realmente seja; que possivelmente não seja tão horrível e terrível
como se pretende, e que os ministros forçam a sua descrição além dos limites justos. Al-
guns prontamente pensam assim, pois lhes parece incrível que haja miséria tão terrível pa-
ra qualquer criatura; mas não há razão alguma para tais pensamentos, se considerarmos:
Primeiro. Quão é grande a punição que merecem os pecados dos ímpios. A Escritura nosensina que qualquer pecado merece a morte eterna : Romanos 6:23: “porque o salário do
pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso
Senhor”. E que ele merece a maldição eterna de Deus. Deuteronômio 27:26: “Maldito aque-
le que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo. E todo o povo dirá: Amém!”
Gálatas 3:10: “Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque
está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro
da lei, para praticá-las”. Tudo isso implica que o menor pecado merece destruição eterna e
total. A morte eterna, no seu grau mínimo, equivale a tal grau de miséria, assim como adestruição perfeita da criatura, a perda de todo bem, e a perfeita miséria; e, portanto, ser
maldito de Deus implica nisso. Ser maldito de Deus é ser destinado à perfeita e final
destruição. A Escritura ensina que os ímpios serão punidos em seu completo merecimento,
que devem pagar toda sua dívida.
Segundo. Não há razão para achar que os ministros descrevem a miséria dos ímpios além
do que ela é, porque a Escritura nos ensina que este é um dos fins dos ímpios: Romanos
9:22: “Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu
poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição”. A
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Bíblia, com frequência, nos diz que é parte da glória de Deus que Ele seja um Deus terrível
e temível. Salmos 68:35: “Ó Deus, tu és tremendo nos teus santuários”; que é um fogo
consumidor. Salmos 66:3: “Que tremendos são os teus feitos! Pela grandeza do teu poder,
a ti se mostram submissos os teus inimigos”. E que assim uma parte da glória de Deus seja
representada, é terrível coisa injuriar e ofender a Deus. A ira de um rei é como o rugido deum leão, a de um homem é, às vezes, terrível, mas a punição futura dos ímpios serve para
mostrar como é a ira de Deus; é para mostrar a todo o universo a glória do Seu poder. 2
Tessalonicenses 1:9: “Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do
Senhor e da glória do seu poder”. E, portanto, o sofrimento aqui descrito não é de forma
alguma incrível, e não há razão para supor que tenha sido minimamente descrito além do
que realmente seja.
Terceiro. A Escritura mostra que a ira de Deus sobre os ímpios é terrível além do que
possamos conceber. Salmos 90:11: “Quem conhece o poder da tua ira? E a tua cólera,
segundo o temor que te é devido?” Assim como não sabemos senão um pouco acerca de
Deus, da mesma forma que não conhecemos e podemos conceber senão um pouco do seu
poder e de sua grandeza, também é verdade que não conhecemos senão um pouco do
terror de Sua ira; e, portanto, não há razão para crer que a apresentamos além do que é.
Temos razão, ao contrário, para supor que, após ter dito e pensado no nosso limite, tudo o
que dissemos ou pensamos não passa de tosca sombra da realidade.
Somos ensinados que a recompensa dos santos está além de tudo que pode ser dito ouconcebido. Efésios 3:20: “Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que
tudo quanto pedimos ou pensamos”. 1 Coríntios 2:9: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouvi-
ram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles
que o amam”. E assim podemos racionalmente supor que o castigo dos ímpios da mesma
forma será inconcebivelmente terrível.
Quarto. Não há razão para pensar que apresentamos a miséria do inferno além da reali-
dade, porque a Escritura nos ensina que a ira de Deus é de acordo com seu temor (Salmos90:11). Esta passagem afirma que a ira de Deus é de acordo com os Seus grandiosos
atributos, a sua grandeza e seu poder, sua santidade e força. A majestade de Deus é
extremamente grande e temível, e de acordo com Seu temor é a Sua ira; este é o sentido
das palavras. Daí, podemos concluir que a ira de Deus é, sem dúvidas, terrível, além de
toda expressão e significado. Como é, de fato, grande e temível Sua majestade, que criou
os céus e a terra, e com que majestade virá julgar o mundo no último dia! Virá para tomar
vingança contra os ímpios. A visão desta majestade atingirá os ímpios com apreensões e
temores de destruição.
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Quinto. A descrição que fiz da tribulação e ira que virá sobre os ímpios não está além da
verdade, pois é a mesma descrição que a Escritura dá. Ela diz que os ímpios serão lan-
çados na fornalha de fogo; não apenas no fogo, mas em uma fornalha. Mateus 13:42: “e os
lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes”. Apocalipse 20:15: “E, se
alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago defogo”. Salmos 21:8, 9: “A tua mão alcançará todos os teus inimigos, a tua destra apanhará
os que te odeiam. Tu os tornarás como em fornalha ardente, quando te manifestares; o
SENHOR, na sua indignação, os consumirá, o fogo os devorará”.
Se, portanto, representei esta miséria além da verdade, então a Escritura fez o mesmo. É
evidente, então, que não há razão para se exaltar com tais imaginações. Se Deus for ver-
dadeiro, você encontrará Sua ira, e sua miséria futura, tão plena quanto grande; e não
apenas isso, mas muito maior, e descobrirá que conhecemos um pouco, e dissemos pou-
co sobre ela, e todas as nossas expressões são toscas quando comparadas à realidade.
III. Da mesma maneira, pode ser derivado um argumento para convencer os ímpios da
justiça de Deus ao reservar-lhes tal porção. Os ímpios, quando ouvem falar de como é
terrível a miséria que os ameaça, com frequência levantam os corações contra Deus por
isso; parece-lhes muito dura a maneira que Deus lida com as Suas criaturas. Não concebem
o porquê de Deus ser tão severo com os ímpios, por seus pecados e tolices transitórios
neste mundo; e quando consideram que Ele ameaçou tais castigos, são prontos a entreterpensamentos blasfemos contra Ele. Portanto, esforçar-me-ei para lhe mostrar como você
está, com justiça, exposto a essa indignação e ira, tribulação e angústia, que ouviu. Em
particular, quero mostrar:
Primeiro, como seria justo se Deus o abandonasse a si mesmo: seria muito justo se Deus
rejeitasse estar com você ou ajudá-lo.
Você abraçou e se recusou a abandonar aquelas coisas que Deus odeia; recusou-se aesquecer de seus desejos carnais e abandonar os caminhos do pecado que são abominá-
veis a Ele. Quando Deus lhe ordenou que os abandonasse, se recusou, e ainda permane-
ce neles, de maneira obstinada! Nem se apartou seu coração até hoje do pecado; mas ele
lhe é querido, você o guarda no melhor lugar do coração, e ali o entroniza. Seria incrível
então se Deus o abandonasse completamente, já que você não abandonará o pecado? Ele
sempre declarou Seu ódio pela iniquidade; e seria incrível se não estivesse disposto a
habitar junto com o que lhe é tão odioso? Não é razoável que Deus insista que você se
aparte da concupiscência a fim de desfrutar Sua presença, e, visto que há tanto tempo se
recusa, não seria justo se Deus o abandonasse completamente? Você sustenta e abriga
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os inimigos mortais de Deus, o pecado e Satanás; como é justo, portanto, que Deus se
mantenha à distância! Ele é obrigado a estar presente com alguém que abriga Seus
inimigos, e se recusa a abandoná-los? Seria Ele injusto, se o abandonasse completamente
a si mesmo, já que você não esqueceu seus ídolos?
Considere como seria justo se Deus o abandonasse, já que você O abandonou. Você não
O buscou e à Sua presença e auxílio como deveria ter feito. Você O negligenciou. Não seria
justo, portanto, se Ele o negligenciasse? Por quanto tempo muitos de vocês viveram na
negligência de buscá-lO? Por quanto tempo vocês restringiram as orações? Portanto, uma
vez que se recusaram tanto a buscar a Sua presença e ajuda, não poderia Ele, com justiça,
reter [essas bênçãos] para sempre, e, dessa maneira, deixá-los completamente entregues
a si mesmos?
Você fez o que esteve ao seu alcance para se alienar de Deus, e fazer com que Ele o aban-
donasse completamente. Quando Deus, nos tempos passados, não o abandonou, mas foi
incansável em despertá-lo, você não resistiu aos movimentos e influências do Seu Espírito?
Não se recusou a ser conduzido, ou render-se a Ele? Zacarias 7:11: “Eles, porém, não qui-
seram atender e, rebeldes, me deram as costas e ensurdeceram os ouvidos, para que não
ouvissem”. Como seria justo, então, que Deus recusar -se a mover ou lutar por você! Quan-
do Deus esteve batendo a sua porta, você se recusou a abri-la; como seria justo então se
Ele fosse embora, e não mais batesse nela! Quando o Espírito de Deus esteve lutando com
você, não foi você culpado de entristecer o Espírito Santo ao dar espaço a um espírito dis-putador, e ao render-se como uma presa para a luxúria? E alguns de vocês não apagaram
o Espírito, e não são culpados de apostasia? E Deus é obrigado, apesar disso tudo, a conti-
nuar a lutar com Seu Espírito com vocês, a ser resistido e entristecido, até o momento que
se agradarem? Pelo contrário, não seria justo se os abandonasse eternamente, e os deixas-
se sozinhos?
2. Como seria justo se você fosse amaldiçoado em todos os seus interesses neste mundo!
Seria justo se Deus o amaldiçoasse em tudo, e fizesse todas as suas diversões e ocupa-ções voltarem-se para a sua destruição.
Você vive aqui em todas as ocupações da vida como um inimigo de Deus; e usou todas as
suas posses e prazeres contra Ele, e para a Sua desonra. Não seria, então, justo se Deus
o amaldiçoasse nessas coisas, e as revertesse contra você, e para a sua destruição? Que
benção temporal que Deus lhe deu, que você não usou no serviço de suas luxúrias, e no
serviço do pecado e de Satanás? Se teve prosperidade, você a usou para a desonra de
Deus; quando prosperou, abandonou o Deus que o criou. Como não seria justo, portanto,
se a maldição de Deus acompanhasse todas as suas diversões! Quaisquer empregos que
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teve, não serviu a Deus com eles, mas aos Seus inimigos. Como seria justo então se fosse
amaldiçoado nos seus empregos! Os meios de graça que desfrutou, você não fez uso deles
como deveria ter feito; mas os menosprezou, e os tratou de uma maneira desrespeitosa e
descuidada; fez o pior e o não o melhor com eles. Assim atendeu e fez uso do Dia do Se-
nhor, e das oportunidades espirituais, apenas como ocasião para manifestar seu desprezopor Deus e por Cristo, e pelas coisas Divinas, pela sua maneira profana de aproveitá-los.
Portanto, não seria justo se a maldição de Deus acompanhasse seus meios de graça, e as
oportunidades que você desfruta para a salvação da sua alma?
Você aproveitou seu tempo apenas com provocações e acrescentando às suas trans-
gressões, em oposição a todos os chamados e avisos que lhe poderiam ter sido dados;
quão justo seria, portanto, se Deus tornasse a sua própria vida uma maldição, e se Ele o
tolerasse apenas para encher a medida dos seus pecados!
Você, agindo ao contrário dos conselhos de Deus, fez uso das suas diversões apenas para
ferir sua [própria] alma, portanto, se Deus as revertesse para a sua dor e ruína, estaria
lidando com você como você lida consigo mesmo. Deus o aconselhou incansavelmente a
usar os aproveitamentos temporais para o seu bem espiritual, mas você se recusou a ouvi-
lo, e tolamente os perverteu para entesourar ira para o dia da ira, e voluntariamente usou o
que Deus lhe deu para a sua ruína espiritual, para aumentar a culpa e machucar sua própria
alma; e, portanto, se a maldição de Deus os acompanhar, de forma que eles se tornem
para a ruína da sua alma, você estaria sendo tratado da mesma forma como trata a simesmo.
3. Como seria justo se Deus o cortasse e pusesse um fim a sua vida!
Você grandemente abusou da paciência e longanimidade de Deus, que já foi exercida em
seu favor. Deus, com maravilhosa longanimidade, suportou-o, quando se rebelou contra
Ele, e recusou-se a se desviar dos maus caminhos. Ele o contemplou caminhando obsti-
nadamente nos caminhos da provocação, e ainda assim não derramou sua ira sobre você,para destruí-lo, mas ainda tem aguardado para ser gracioso. Ele tem sido longânimo com
você, ao permiti-lo ainda viver em Sua terra, e respirar Seu ar; e o manteve e o preservou,
e continuou a alimentá-lo, e vesti-lo, e a mantê-lo, e dar-lhe tempo para se arrepender. Mas,
em vez de fazer o melhor em troca de sua paciência, você fez o pior, em vez de ser
quebrantado por isso, você foi endurecido, e se tornou mais ousado no pecado. Eclesiastes
8:11: “Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos
dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal”. Você foi culpado de desprezar as
riquezas de Sua bondade, e tolerância e paciência ao invés de ser levado ao arrependimen-
to por elas. Você não pode viver um só dia sem que Deus o mantenha e sustente; não pode
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dar um suspiro, ou viver um momento, a menos que Deus o sustente, pois a sua respiração
está nas Suas mãos, e Ele preserva a sua alma com vida, e Sua visitação preserva o seu
espírito. Mas, que graças Deus recebeu por isso, uma vez que você, ao invés de se voltar
para Ele, apenas tornou-se mais plenamente consolidado e terrivelmente endurecido nos
caminhos do pecado? Como seria justo, portanto, se a paciência de Deus se acabasse, eEle cessasse de ainda tolerar você.
Você não apenas abusou de Sua paciência passada, mas também abusou de Suas inten-
ções de paciência futura. Tem se gabado de que a morte não está próxima, e que deve
viver muito tempo no mundo, e isto o tornou ainda mais abundantemente ousado no peca-
do. Portanto, uma vez que esse foi o uso que fez da esperança de ter sua vida preservada,
como seria justo se Deus desapontasse sua expectativa, e lhe cortasse dessa longa vida
de que você se gaba, e em cujos pensamentos se encoraja no pecado contra Ele! Como
seria justo se sua respiração fosse em breve cortada, e isso repentinamente, quando menos
pensasse, e você fosse levado na sua impiedade!
Enquanto vive no pecado, nada faz senão sobrecarregar o solo, você é completamente
inútil e vive em vão. Aquele que se recusa a viver para a glória de Deus não responde ao
fim da sua criação, e vive para quê? Deus fez os homens para servi-lO. Para este fim, lhes
deu vida; e se não devotarem suas vidas a este fim, não seria justo se Deus se recusasse
a continuar ainda com suas vidas? Ele o plantou em sua vinha, para produzir fruto; e se
você não produz, por que deveria ainda mantê-lo? Como seria justo se o cortasse!
Enquanto você viveu, muitas das bênçãos de Deus foram gastas com você dia após dia;
você devora os frutos da terra e consome muito de sua gordura e doçura; e tudo sem
nenhum propósito senão mantê-lo vivo para pecar contra Deus, e gastar tudo na impiedade.
Toda a criação, por assim dizer, geme por sua causa; o sol nasce e se põe para lhe dar à
luz, as nuvens derramam chuva sobre você, e a terra produz seus frutos e labores de ano
a ano para supri-lo; e você, neste meio tempo, não responde ao fim daquele que criou todas
as coisas. Como seria justo, então, se Deus o cortasse, e o levasse embora, e libertasse a
terra deste peso, para que a criação não mais gema por sua causa, e lhe expulsasse como
um ramo abominável! Lucas 13:7: “Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar
fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inútil-
mente a terra?” João 15:2,6: “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta;
e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Se alguém não permanecer
em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo
e o queimam”.
4. Como seria justo se você morresse no maior horror e espanto!
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Com quanta frequência você tem sido exortado a aproveitar seu tempo, construir um
fundamento de paz e conforto para o seu leito de morte; e, ainda assim, recusou-se a ouvir!
Você tem sido muitas e muitas vezes lembrado de que morrerá, que é incerto quando, e
que não sabe a hora, e foi-lhe dito quão vis e insignificantes todos os seus prazeres terrenos
então parecerão, e como serão incapazes de lhe dar qualquer conforto no seu leito de mor-te. Você tem sido sempre alertado sobre como é terrível estar em um leito de morte numa
condição sem Cristo, nada tendo para lhe confortar senão os prazeres mundanos. Você foi,
com frequência, conscientizado do tormento e espanto que os pecadores, que aproveitaram
mal seu precioso tempo, estão sujeitos quando arrastados pela morte. Foi-lhe dito como
necessitaria infinitamente ter Deus como seu amigo, e ter o testemunho de uma boa cons-
ciência, e uma esperança bem fundamentada de bem-aventurança futura. E com que fre-
quência foi exortado a ter o cuidado de prover contra este dia, e entesourar nos céus, para
que possa ter algo em que depender quando partir deste mundo, algo para esperar quando
todas as coisas aqui falharem! Mas lembre-se como esteve despreocupado, como foi lerdo
e negligente de tempo em tempo, quando se assentou para ouvir estas coisas, e, ainda
assim, obstinadamente recusou-se a se preparar para a morte, e não teve cuidado em
assentar um bom fundamento contra este tempo. E você não apenas foi aconselhado, mas
presenciou outros em seus leitos de morte, em temor e aflição, ou ouviu falar deles, e não
tomou aviso; sim, alguns de vocês estiveram doentes, e ficaram temerosos de que estives-
sem nos seus dias finais, porém Deus foi misericordioso, e os restaurou, mas não ficaram
alertas para se prepararem para a morte. Como seria justo então se você pudesse ser o
objeto desse horror e espanto que ouviu, quando a sua hora chegar!
E não apenas isso, mas como você arduamente gastou seu tempo entesourando coisas
para a tribulação e angústia naquele dia! Você não foi apenas negligente em assentar um
fundamento para a paz e conforto então, mas gastou seu tempo contínua e incansavel-
mente assentando um fundamento para a aflição e o horror. Como alguns de vocês conti-
nuaram dia após dia, empilhando mais e mais culpa; mais e mais ferindo a própria consci-
ência, aumentando ainda a porção de tolice e impiedade para que você mesmo venha a
refletir sobre elas! Como seria justo, portanto, se essa tribulação e angústia viessem sobrevocê!
5. Como é justo que você deva sofrer a ira de Deus em outro mundo!
Porque voluntariamente provocou e atiçou essa ira. Se não está disposto a sofrer a ira de
Deus, então por que O provocou à ira? Por que agiu como se pudesse arranjar uma maneira
para que ele não se irasse contra você? Por que desobedeceu deliberadamente a Deus?
Você sabe que a desobediência deliberada tende a provocar aquele que é desobedecido;
assim acontece com um rei, chefe ou pai terreno. Se você tem um servo que é delibera-
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damente desobediente, isto provoca sua ira. E, novamente, se não suporta a ira de Deus,
por que, com tanta frequência, O despreza? Se alguém despreza os homens, isto tende a
provocá-los: quanto mais a Majestade infinita dos céus pode ser provocado, quando é me-
nosprezado! Você também roubou de Deus a sua propriedade, recusou-se a dar a Ele o
que Lhe pertence. Os homens são provocados quando são privados do que lhes é devidoe quando tratados injuriosamente; quanto mais Deus pode ser provocado quando você O
rouba!
E também desprezou a bondade de Deus para com você, e esta é a maior bondade e amor
que se pode conceber. Você tem sido supremamente ingrato e tem abusado dessa bonda-
de. Nada provoca mais os homens do que ter sua bondade menosprezada e abusada;
quanto mais Deus pode ser provocado quando os homens retribuem Sua misericórdia infi-
nita apenas com desobediência e ingratidão! Portanto, se continua a provocá-lO, e atiçar a
Sua ira, como pode esperar outra coisa, senão sofrer essa mesma ira? Se, então, você de
fato sofrer a ira de um Deus ofendido, lembre-se que é o que procurou para si mesmo, é
um fogo que você mesmo acendeu.
Você não aceitou a libertação da ira de Deus, quando lhe foi ofertada. Quando Ele, em sua
misericórdia, enviou Seu Filho unigênito ao mundo, você se recusou a admiti-lO. Amou
demais seus pecados para que os abandonasse e viesse a Cristo, e por causa deles rejeitou
as ofertas de um Salvador, de forma que escolheu a morte ao invés da vida. Após assegurar
a ira para si mesmo, apegou-se a ela, e não a abandonou pela misericórdia. Provérbios8:36: “Mas o que peca contra mim violenta a própria alma. Todos os que me aborrecem
amam a morte”.
6. Como seria justo se você fosse entregue nãos mãos do Diabo e seus anjos, para ser
atormentado para sempre, já que voluntariamente se entregou para servi-los aqui! Você os
ouviu, ao invés de ouvir a Deus. Como seria justo, então, se Deus o entregasse a eles!
Você seguiu a Satanás e aderiu aos seus interesses em oposição a Deus, e se sujeitou a
sua vontade neste mundo, ao invés de se submeter à vontade de Deus; como seria justoentão se Deus o entregasse para a vontade do Diabo daqui para frente!
7. Como seria justo se o seu corpo fosse feito objeto do tormento do porvir, o mesmo corpo
que você tornou instrumento do pecado neste mundo! Você entregou o seu corpo como um
sacrifício para o pecado e Satanás: como seria justo então se Deus o entregasse como um
sacrifício para a ira! Você empregou seu corpo como um servo para os seus desejos vis e
odiosos. Como seria justo, portanto, se Deus, no porvir, ressuscitasse seu corpo para ser
objeto e instrumento da miséria; e para enchê-lo tão plenamente do tormento como eles
estiveram cheios do pecado!
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8. Mas a maior objeção dos ímpios contra a justiça do futuro castigo que é ameaçado por
Deus advém da grandeza desse castigo: que Deus deva infligir sobre os impenitentes
tormentos tão extremos, tão incrivelmente terríveis, ter seus corpos lançados na fornalha
de fogo de tão imenso calor e fúria, lá ficar sem se consumir, e ainda cheio de senso e sen-
timento, com chamas por dentro e por fora; e a alma cheia do ainda mais terrível horror etormento; e assim permanecer sem remédio ou descanso para sempre, e sempre, e sem-
pre. Portanto, mencionar-lhe-ei algumas coisas, para mostrar como você, com justiça, está
exposto à punição tão terrível.
1. Esta punição, tão terrível quanto seja, não é maior do que o grandioso e glorioso Ser
contra quem você pecou. É verdade que é uma punição terrível além de toda expressão e
concepção, da mesma forma que a grandeza e glória de Deus estão muito acima de toda
expressão e concepção; mas, ainda assim, você continua nos seus pecados contra Ele,
sim, tem sido ousado e presunçoso nos seus pecados, e tem multiplicado as transgressõescontra Ele infinitamente. A ira de Deus, que vocês ouviram, terrível como é, não é mais que
essa Majestade que vocês desprezaram e pisaram. Essa punição é de fato suficiente para
encher de horror alguém que meramente pense sobre ela; e assim, se você a concebesse
corretamente, ficaria cheio de no mínimo igual horror em pensar em pecar tão grandemente
contra Deus tão grandioso e glorioso. Jeremias 2:12-13: “Espantai-vos disto, ó céus, e
horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o SENHOR. Porque dois males cometeu o meu povo:
a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que
não retêm as águas”. Deus, sendo tão infinitamente grande e excelente, não o influencioua pecar contra Ele, mas você o fez ousadamente, e fez pouco caso, milhares de vezes; e
pelo fato dessa miséria ser tão infinitamente grande e terrível, impediria Deus de infringi-la
sobre você? 1 Samuel 2:25: “Pecando o homem contra o próximo, Deus lhe será o árbitro;
pecando, porém, contra o SENHOR, quem intercederá por ele?”
2. Sua natureza não abomina mais esta miséria que você ouviu, do que a natureza de Deus
abomina o pecado de que você é culpado. A natureza do homem é muito avessa à dor e
ao tormento, e é especialmente avessa a tal tormento terrível e eterno; mas, ainda assim,
isso não impede que seja justo o que é infligido, pois os homens não odeiam a miséria mais
do que Deus odeia o pecado. Deus é tão santo, e de natureza tão pura, que tem aversão
infinita ao pecado; mas, ainda assim, você menospreza o pecado, e eles têm excessiva-
mente se multiplicado e crescido. A consideração de que Deus o odeia não impediu você
de cometê-lo; por que, portanto, a consideração de que você odeia a miséria deveria
impedir Deus de trazê-la sobre você? Deus representa a Si mesmo na Sua Palavra como
cansado e aborrecido com os pecados dos ímpios: Isaías 1:14: “As vossas Festas da Lua
Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou
cansado de as sofrer”. Malaquias 2:17: “Enfadais o SENHOR com vossas palavras; e ainda
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dizeis: Em que o enfadamos? Nisto, que pensais: Qualquer que faz o mal passa por bom
aos olhos do SENHOR, e desses é que ele se agrada; ou: Onde está o Deus do juízo?”.
3. Você não se preocupou com o quanto a honra de Deus tem sofrido; e por que Deus
deveria se preocupar que a sua miséria não fosse tão grande? Você foi alertado sobre comoaquelas coisas que praticou traziam desonra a Deus; contudo, não se importou, mas
continuou a multiplicar as transgressões. A consideração de que quanto mais você pecava,
mais Deus era desonrado, nem ao menos o restringiu. Se não fosse pelo temor do desgosto
de Deus, você não teria se importado que o desonrasse dez mil vezes como fez. Devido à
falta de respeito a Deus, você não se importou com o que sucedeu de Sua honra, nem de
Seu deleite, não, nem do Seu Ser. Por que então Deus é obrigado a ser cuidadoso com o
quanto você sofre? Por que deveria se preocupar com o seu bem estar, ou usar qualquer
precaução para que não venha a colocar sobre você mais do que possa suportar?
4. Tão grande quanto seja esta ira, não é maior do que o amor de Deus que você des-
prezou e rejeitou. Deus, em sua infinita misericórdia pelos pecadores perdidos, forneceu
um modo para eles escaparem da miséria futura, e obterem vida eterna. Para esse fim deu
o Seu Filho unigênito, uma pessoa infinitamente gloriosa e honrada, em si mesmo igual a
Deus, e infinitamente próximo a Ele. Foi dez mil vezes mais do que se Deus houvesse dado
todos os anjos nos céus, ou o mundo inteiro pelos pecadores. Ele O deu para se encarnar,
sofrer a morte, ser feito maldição por nós, sofrer a terrível ira de Deus em nosso lugar, e
assim adquirir-nos a glória eterna. Esta Pessoa gloriosa foi ofertada a você inúmeras vezes,e ele esteve e bateu em sua porta, até que Seus cabelos ficassem úmidos com o orvalho
da noite; mas tudo o que fez não o ganhou; você não viu nEle forma nem formosura, nem
beleza alguma que o agradasse. Quando Ele se ofertou a você como o seu Salvador, você
jamais o aceitou livremente e de coração. Este amor que você dessa maneira abusou é tão
grande quanto essa ira que você corre perigo. Se você o houvesse aceitado, teria o gozo
deste amor ao invés de suportar essa terrível ira: assim, a miséria que você ouviu não é
maior que o amor que você desprezou, e a felicidade e glória que rejeitou. Como seria justo
então em Deus executar essa ira sobre você, que não é maior do que o amor que vocêdesprezou! Hebreus 2:3: “como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salva-
ção? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada
pelos que a ouviram”.
5. Se você reclama desta punição como sendo muito grande, então por que ela não foi
grande o suficiente para o impedir de pecar? Conquanto seja grande, você fez pouco caso
dela. Quando Deus ameaçou infringi-la, você não se importou com as ameaças, mas foi
ousado em desobedecê-lO, e fazer aquelas mesmas coisas pelas quais Ele ameaçou esta
punição. Grande como ela é, não foi o suficiente para impedi-lo de viver deliberadamente
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uma vida ímpia, e continuar nos caminhos que sabia que eram maus. Quando soube que
tais e tais coisas certamente o expunham a essa punição, você não se absteve por esses
relatos, mas continuou dia a dia, ainda mais presunçoso, e Deus ameaçar tal punição não
teve um efeito sobre você. Por que, portanto, reclama agora que essa punição seja grande
demais, e dispute contra ela, dizendo que Deus não é razoável e é cruel em infringi-la? Aodizer assim, se condena com sua própria boca, pois se é um castigo tão terrível, mais do
que é justo, então porque não foi grande o suficiente para restringi-lo do pecado deliberado?
Lucas 19:21: “Pois tive medo de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não puseste e ceifas
o que não semeaste. Respondeu-lhe: Servo mau, por tua própria boca te condenarei”. Você
reclama que a punição é grande demais, contudo, agiu como se não fosse grande o sufici-
ente, e a desprezou. Se a punição é tão grande, por que você se esforçou para torna-la
ainda maior? Pois continuou dia após dia entesourando ira para o dia da ira, acrescentado
ao seu castigo, e o aumentando substancialmente; e ainda assim agora você reclama que
seja grande demais, como se Deus não pudesse justamente infligir castigo tão grande.
Como é absurda e contraditória a conduta de alguém que reclama de Deus por tornar o
castigo grande demais, mas dia a dia grandemente ajunta e recolhe combustível, para tor-
nar o fogo maior!
6. Você não tem motivo para reclamar da punição ser injusta; pois muitíssimas vezes
provocou a Deus com o seu pior. Se você proibisse um servo por fazer uma dada coisa, e
o ameaçasse de que, se a fizesse, você infligiria sobre ele uma punição terrível, e ele, ape-
sar disso tudo a fizesse, e você renovasse o mandamento, e o avisasse da maneira maisestrita possível a não fazê-lo, e lhe dissesse que certamente o puniria se persistisse, e
declarasse que sua punição seria muito terrível, e ele completamente o desprezasse, e
desobedecesse novamente, e você continuasse a repetir seus mandamentos e avisos, ain-
da falando do terror do castigo, e ele, ainda sem se preocupar, continuasse e conti-nuasse
a desobedecê-lo descaradamente e isso imediatamente após suas proibições e ameaças:
você poderia agir de outra maneira senão fazendo o que fosse mais terrível? Mas assim
você agiu com Deus; você teve Seus mandamentos repetidos, e Suas ameaças postas di-
ante de si centenas de vezes, e foi mui solenemente advertido; contudo, apesar disso tudo,continuou nos caminhos que sabia serem pecaminosos, e fez as exatas coisas que foram
proibidas, diretamente diante de Sua face. Jó 15:25-26: “porque estendeu a mão contra
Deus e desafiou o Todo-Poderoso; arremete contra ele obstinadamente, atrás da grossura
dos seus escudos”. Você assim invocou o desafio ao Todo -Poderoso, mesmo quando viu
a espada de Sua ira vingadora desembainhada, pronta a cair sobre sua cabeça. Seria
então, uma maravilha se Ele o fizesse conhecer como é terrível essa ira, na sua completa
destruição?
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Apêndice:
A Necessidade da Morte de Cristo* Por Stephen Charnock
“Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas
e entrasse na sua glória?” (Lucas 24:26)
Vejamos aqui o mal do pecado. Nada é mais adequado para mostrar a baixeza do pecado
e a grandeza da miséria por causa dele, do que a satisfação devida por ele; como a gran-
deza de uma enfermidade é vista pela força do remédio, e o valor da mercadoria pelagrandeza do preço que custou. Os sofrimentos de Cristo expressam o mal do pecado, muito
acima dos julgamentos mais severos sobre qualquer criatura, tanto no que diz respeito à
grandeza da Pessoa, e a amargura do sofrimento. Os gemidos moribundos de Cristo
mostram a terrível natureza do pecado aos olhos de Deus; como Ele foi maior do que o
mundo, por isso Seus Sofrimentos declaram que o pecado é o maior mal do mundo. Quão
maligno é que o pecado deva fazer Deus sangrar para curá-lo! Ver o Filho de Deus levado
até a morte pelo pecado é a maior porção de justiça que jamais Deus executou. A terra
tremeu sob o peso da ira de Deus, quando Ele puniu a Cristo, e os céus estavam escuros
como se estivessem fechados para Ele, e Ele clama e geme, e nenhum alívio aparece;
nada, senão o pecado é a causa da meritória aquisição disto.
O Filho de Deus foi morto pelo pecado da errônea criatura; se houvesse alguma outra
maneira de expiar um mal tão grande, havia permanecido com a honra de Deus, que está
inclinado a perdoar, remeter o pecado sem uma compensação por morte, não podemos
pensar que Ele teria consentido que Seu Filho se submeteria assim a tão grande sofrimento.
Nem todos os poderes no céu e na terra poderiam nos conduzir ao favor novamente, sem
a morte de algum grande sacrifício para preservar a honra da veracidade e da justiça deDeus; nem a interposição graciosa de Cristo, sem que Ele se tornasse mortal, e bebesse o
cálice da ira, poderia aplacar a justiça Divina; nem as Suas intercessões, sem que sofresse
os golpes devidos a nós, poderiam remover a miséria da criatura caída. Toda a santidade
da vida de Cristo, a Sua inocência e boas obras, não nos redimiriam, sem a morte. Foi por
meio disto que Ele fez expiação por nós, satisfazendo a justiça vindicatória do Pai, e res-
taurou-nos de uma morte espiritual e inevitável. Quão grandes eram os nossos crimes, que
__________* Extraído de “Cristo, nossa Páscoa” • © Copyright 1996 Chapel Library
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não poderiam ser lavados pelas obras de uma criatura pura ou a santidade da vida de
Cristo, mas exigiram a efusão do sangue do Filho de Deus para a libertação deles! Cristo
em Sua morte foi tratado por Deus como um pecador, como Alguém que permaneceu em
nosso lugar, caso contrário, Ele não poderia ter sido sujeito à morte. Pois Ele não tinha
pecado de Sua autoria, e “a morte é o salário do pecado” (Romanos 6:23). Isto não éconsistente com a bondade e a justiça de Deus como Criador, o afligir uma criatura sem
causa, nem com o Seu infinito amor por Seu Filho O moer por nada. Algum mal moral deve,
portanto, ser a causa; pois nenhum mal físico é infligido sem algum mal moral anterior. A
morte, como uma punição, supõe uma falha. Cristo, não tendo nenhum crime Seu próprio,
deve, então, ser um sofredor por nós. “Nossos pecados estavam sobre ele” (Isaías 53:6),
ou transferidos sobre Ele. Vemos, assim, como o pecado é odioso a Deus, e, portanto, deve
ser abominável para nós. Devemos ver o pecado nos sofrimentos do Redentor, e, em
seguida, pensar amavelmente sobre eles, se conseguirmos. Vamos então, nutrir o pecado
em nossos corações? Isto é acentuar mais pregos que perfuraram Suas mãos, e dos espi-
nhos que feriram a Sua cabeça, e fazer dos gemidos de Sua morte o tema de nosso deleite.
É expor a Cristo que sofreu, para que sofra novamente; um Cristo que é ressusrreto e
ascendido, sentado à mão direita de Deus, novamente à terra; coloca-lO sobre uma outra
cruz e restringi-lO a um segundo túmulo. Nossos corações deveriam ser quebrantados
diante da consideração da necessidade de Sua morte. Nós devemos expurgar o nosso
coração de nossos pecados por meio do arrependimento, como o coração de Cristo foi
aberto pela lança. É isto que “não convinha que o Cristo padecesse?” nos ensina.
Não estabeleçamos o nosso descanso em qualquer coisa em nós mesmos, não em
qualquer coisa abaixo de um Cristo morrendo; nem no arrependimento ou reforma.
O arrependimento é uma condição de perdão, não uma satisfação da justiça; isto às vezes
move a bondade Divina para afastar o julgamento, mas não é nenhuma compensação à
justiça Divina. Não há aquele bem no arrependimento quanto há o mal no pecado de que
se arrepende, e a satisfação deve ter algo de equidade, tanto da injúria e da pessoa deson-
rada; a satisfação que é suficiente para uma pessoa particularmente errada não é suficiente
para um príncipe justamente ofendido; pois a grandeza do mal remonta à dignidade dapessoa. Ninguém pode ser maior do que Deus, e, portanto, nenhuma ofensa pode ser tão
maligna como as ofensas contra Deus; e poderiam algumas lágrimas ser suficentes aos
pensamentos de alguém para lavá-los? O mal cometido contra Deus pelo pecado é de um
nível mais elevado do que a ser compensado por meio de quaisquer boas obras da criatura;
embora de mais grandiosa elevação. O arrependimento de qualquer alma é tão perfeito a
ponto de ser capaz de responder à punição à justiça de Deus exigida na Lei? E se a graça
de Deus nos ajudasse em nosso arrependimento? Não pode ser concluído a partir disso,
que o nosso perdão é formalmente adquirido pelo arrependimento, mas que somos
dispostos por ele a receber e valorizar um perdão. Não é congruente com a sabedoria e
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justiça de Deus a concessão de perdões a obstinados rebeldes. O arrependimento não é
em nenhum lugar citado como expiatório do pecado; um coração quebrantado é chamado
de um sacrifício (Salmos 51:17), mas não é um propiciatório. O pecado de Davi foi expiado
antes que ele escrevesse esse Salmo (2 Samuel 12:13). Embora um homem possa chorar
muitas lágrimas como as gotas de água contidas no oceano, enviar o maior número derajadas de orações como ser houvesse gemidos emitidos de cada criatura desde a funda-
ção do mundo; embora ele fosse capaz de sangrar tantas gotas de seu coração como se
tivessem sido derramadas de veias de sacrifícios de animais, tanto na Judéia e de todas as
partes do mundo; embora ele fosse capaz, e verdadeiramente aplicasse à caridade todos
os metais das minas do Peru; ainda assim isto não poderia absolvê-lo da menor culpa, nem
limpa-lo da menor impureza, nem conceder o perdão do menor crime por meio de qualquer
valor intrínseco nos atos em si mesmos; os próprios atos bem como as pessoas podem
falhar sob a censura da justiça ardente. Somente a morte de Cristo nos concede a vida.
Somente o sangue de Cristo sacia aquele justo fogo que o pecado acendeu no coração de
Deus contra nós. Indicar qualquer outro meio de apaziguamento de Deus, além da morte
de Cristo, é fazer com que a cruz de Cristo não tenha nenhum efeito. Nós devemos apren-
der isso a partir de “não convinha que o Cristo padecesse?”
Portanto, sejamos sensíveis sobre a necessidade de um interesse na morte do
Redentor. Não pensemos em beber das águas da salvação de nossas próprias cisternas,
mas das feridas de Cristo. Não retirem vida de nossos próprios deveres mortos, mas dos
gemidos de Cristo. Nós temos culpa. Nós mesmos podemos expiá-la? Nós estamos sob justiça; conseguiremos apaziguar isto por meio de qualquer coisa que possamos fazer? Há
uma inimizade entre Deus e nós; podemos oferecer-Lhe qualquer coisa digna de ganhar a
Sua amizade? Nossas naturezas estão corrompidas; podemos sará-las? Nossos serviços
estão contaminados; podemos purificá-los? Há uma grande necessidade de que possamos
aplicar a morte de Cristo a todos aqueles, como havia para Ele o submeter-se a ela. O
leproso não foi limpo e curado pelo derramamento do sangue do sacrifício por ele, mas pela
aspersão do sangue do sacrifício sobre ele (Levítico14:7). Como a morte de Cristo foi
considerada uma causa meritória, assim a aspersão de Seu sangue foi predita como acausa formal de nossa felicidade (Isaías 52:15). Por meio de Seu próprio sangue, Ele entrou
no Céu e glória, e por nada senão o Seu sangue nós podemos ter a ousadia de esperar por
isto, ou a confiança de obter isto (Hebreus 10:19). Toda a doutrina do Evangelho é Cristo
crucificado (1 Coríntios 1:23), e toda a confiança de um Cristão deveria ser Cristo
crucificado. Deus não teria misericórdia exercida com uma negligência da justiça por meio
do homem, embora a uma pessoa miserável: “Não respeitarás o pobre, nem honrarás o
poderoso; com justiça julgarás o teu próximo” (Levítico 19:15). Será que Deus, que é
infinitamente justo negligencia a Sua própria regra? Nenhum homem é um objeto de
piedade, até que ele apresente uma satisfação à justiça. Como há uma perfeição em Deus
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que chamamos de misericórdia, o que exige fé e arrependimento da Sua criatura antes que
Ele venha a conceder o perdão, assim há uma outra perfeição da justiça vingativa que exige
uma satisfação. Se a criatura pensa que a sua própria miséria motiva a demonstração da
perfeição da misericórdia, isto deve considerar que a honra de Deus requer também o con-
tentamento de Sua justiça. Os anjos caídos, portanto não têm nenhuma misericórdia conce-dida a eles, porque ninguém jamais satisfez a justiça de Deus por eles. Não vamos, por-
tanto, cunhar novas formas de buscar perdão, e falsos modos de apaziguar a justiça de
Deus. O que podemos encontrar por detrás disso, capaz de contender contra as chamas
eternas? Que refúgio pode haver por trás disso capaz de nos abrigar do ardor da ira Divina?
Podem as nossas lágrimas e orações serem mais prevalentes do que os clamores e
lágrimas de Cristo, que não pôde, por toda a força deles, desviar a morte de Si mesmo,
sem a nossa perda eterna? Nenhum caminho senão a fé em Seu sangue. Deus, no Evan-
gelho, nos envia Cristo, e Cristo pelo Evangelho nos traz a Deus.
Valorizemos este Redentor e redenção por meio de Sua morte. Desde que Deus resol-
veu ver Seu Filho mergulhado em um condição de esvaziamento desgraçado, vestido na
forma de um servo e exposto a sofrimentos de uma dolorosa cruz, ao invés de deixar o
pecado impune, nós nunca deveríamos pensar nisto sem gratos retornos, tanto para o Juiz
quanto para o Sacrifício. Pelo que Ele foi afligido, senão para adquirir a nossa paz? Moído,
senão para sarar nossas feridas? Levado perante um juiz terreno para ser condenado,
senão para que pudéssemos ser trazidos diante de um Juiz celestial para sermos absol-
vidos? Caído sob as dores da morte, senão para derrubar para nós os grilhões do inferno?E tornou-Se amaldiçoado na morte, senão para que fôssemos abençoados com a vida
eterna? Sem isto a nossa miséria teria sido irreparável, a nossa distância de Deus [seria]
perpétua. Que relações poderíamos ter tido com Deus, enquanto nós estávamos separados
dEle por crimes de nossa parte e por justiça da Sua? O muro deve ser derrubado, a morte
deve ser sofrida, para que a justiça possa ser silenciada, e a bondade de Deus novamente
comunicada a nós. Esta foi a maravilha do amor Divino, agradar-se com os sofrimentos do
Unigênito, para que Ele pudesse se agradar de nós, em consideração àqueles sofrimentos.
Nossa redenção em tal caminho, como por meio da morte e sangue de Cristo, não foiapenas por graça. Seria assim se fosse apenas redenção; mas sendo uma redenção por
meio do sangue de Deus, isto merece do apóstolo não menos do que o título do que
“riquezas da graça” (Efésios 1:7). E isto merece e espera não menos de nós do que tal
elevado reconhecimento. Isto nós aprendemos a partir de “não convinha que o Cristo
padecesse?”
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10 Sermões — R. M. M’Cheyne
Adoração — A. W. Pink
Agonia de Cristo — J. Edwards
Batismo, O — John Gill
Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo
Neotestamentário e Batista — William R. Downing
Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon
Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse
Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a
Doutrina da Eleição
Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos
Cessaram — Peter Masters
Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da
Eleição — A. W. Pink Como Ser Uma Mulher de Deus? — Paul Washer
Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida
pelos Arminianos — J. Owen
Confissão de Fé Batista de 1689
Conversão — John Gill
Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs
Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel
Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon
Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards
Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink
Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne
Eleição Particular — C. H. Spurgeon
Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —
J. Owen
Evangelismo Moderno — A. W. Pink
Excelência de Cristo, A — J. Edwards
Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon
Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink
Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink
In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah
Spurgeon
Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —
Jeremiah Burroughs
Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação
dos Pecadores, A — A. W. Pink
Jesus! – C. H. Spurgeon
Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon
Livre Graça, A — C. H. Spurgeon Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield
Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry
Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill
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Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —
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Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston
Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.
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Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —
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Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon
Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado
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Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon
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Ao conhecimento salvador de JESUS CRISTO.
Sola Scriptura!Sola Gratia!
Sola Fide!
Solus Christus!
Soli Deo Gloria2 Coríntios 4
1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
na presença de Deus, pela manifestação da verdade.3 Mas, se ainda o nosso evangelho está
encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou osentendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
de Cristo, que é a imagem de Deus.5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus.6 Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo.7 Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9
Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;
10
Trazendo semprepor toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
se manifeste também nos nossos corpos;11
E assim nós, que vivemos, estamos sempreentregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
nossa carne mortal.12
De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida.13
E temosportanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
por isso também falamos.14
Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
também por Jesus, e nos apresentará convosco.15
Porque tudo isto é por amor de vós, paraque a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
D16
P i ã d f l i d h t i