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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
A POSIÇÃO DE SUJEITO NÔMADE EM / DE KAIJA SAARIAHO: REFLEXÕES SOBRE
A ABORDAGEM DE QUESTÕES DE GÊNERO FEITAS POR UMA MULHER
COMPOSITORA EM DECLARAÇÕES PÚBLICAS ENTRE 2013 E 2016
Camila Durães Zerbinatti1
Resumo: Apresento aqui reflexões sobre declarações públicas da compositora finlandesa Kaija
Saariaho (1952-) nas quais questões de gênero são abordadas, e, que apontam para a possibilidade
de “outras” subjetividades, posições-de-sujeito-de-gênero e processos de deslocamentos subjetivos
em/de uma mulher compositora. Foram selecionados para análise trechos de entrevistas de mídia
escrita/ impressa e declarações textuais de Saariaho que abordam situações e discussões de gênero
na música feitas entre 2013 e 2016. Reflito a partir do referencial teórico oferecido por Moisala
(2000) e Braidotti (2002, 2011) com o objetivo de investigar a condição de sujeito nômade em/de
Saariaho, processos de deslocamentos subjetivos, e, de observar algumas formas e processos
pelos/as quais uma compositora mulher pode e consegue (ou não) se posicionar sobre as questões
de gênero na música, deslocando-se da subjetividade clássica ocidental e falocêntrica, em possíveis
exemplos de micro resistências ao sistema patriarcal e predominantemente masculino da chamada
música clássica.
Palavras-chave: Kaija Saariaho. Sujeito Nômade. Mulher Compositora.
1. Introdução
Apresento aqui reflexões sobre declarações públicas da compositora finlandesa Kaija
Saariaho (1952-) nas quais questões de gênero são abordadas, e, que apontam para a possibilidade
de “outras” subjetividades, posições-de-sujeito-de-gênero e processos de deslocamentos subjetivos
em / de uma mulher compositora. Foram selecionados para análise trechos de entrevistas de
Saariaho em mídia escrita que abordam situações e discussões de gênero na música feitas entre
2013 e 2016. Reflito a partir do referencial teórico oferecido pela etnomusicóloga Pirkko Moisala
(2000) e pela filósofa e teórica feminista Rosi Braidotti (2002, 2011) com o objetivo de investigar a
condição de sujeito nômade em/de Saariaho, processos de deslocamentos subjetivos, e, de observar
algumas formas e processos pelos/as quais uma compositora mulher pode e consegue (ou não) se
posicionar sobre as questões de gênero na música, deslocando-se da subjetividade clássica ocidental
e falo-logocêntrica. Essa pesquisa apresenta minhas reflexões2 sobre a posição-de-gênero-de-
1 Violoncelista, mestra em Musicologia – Etnomusicologia (UDESC, 2015), Doutoranda no PPGICH (Programa de
Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, na Área de Concentração em Estudos de Gênero), UFSC –
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, bolsista do CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico). 2 De acordo com as teorias e políticas feministas de localização, situo e ancoro minhas perspectivas aqui apresentadas
como as de uma violoncelista e pesquisadora brasileira, latino-americana e feminista que, ao estudar Kaija Saariaho,
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sujeito (gender subject position) de Saariaho como posição de sujeito nômade, como prévia e
primeiramente apontado por Moisala em 2000, com foco nas declarações públicas feita pela
compositora em anos recentes. Estas considerações foram germinadas durante minha pesquisa de
mestrado sobre a peça Sept Papillons, de Saariaho, realizada entre 2013 e 2015, e vêm sendo
elaboradas e desenvolvidas desde então, em pesquisas posteriores, inspiradas em larga medida pela
pesquisa anterior e pioneira de Pirkko Moisala. As reflexões partem da hipótese de que as
conclusões alcançadas por Moisala no texto de 2000 com foco nas negociações de gênero vividas
por Saariaho na Finlândia também vêm se manifestando e sendo verificadas em outros contextos e
situações sociomusicais além daqueles vividos pela compositora em seu país natal.
2. Saariaho sujeito nômade, sob os prismas de Moisala
No texto “A Negociação de Gênero da compositora Kaija Saariaho na Finlândia: a Mulher
Compositora como Sujeito Nômade” Moisala apresenta a história da negociação de gênero vivida
por Saariaho na Finlândia (seu país de nascimento) como um processo contínuo e discursivamente
construído, entre e em diferentes esferas e experiências da vida, com foco no surgimento de uma
mulher compositora dentro do campo predominantemente masculino da música de concerto de
tradição europeia e cuja obra passa a integrar também o cânone desse campo. Nesse texto, a autora
parte da compreensão de gênero tanto como uma construção interna e interativa, quanto como um
processo social que envolve constantes negociações em situações e contextos que abrangem (e são
constituídos por) estruturas de poder e de conhecimento, em produção de sujeitos/as e
subjetividades (como as Saariaho) que envolvem o uso de variadas estratégias para performar,
esconder e/ou até mesmo mascarar o gênero. Baseada em entrevistas pessoais feitas com Saariaho,
bem como em entrevistas da compositora publicadas anteriormente por veículos da mídia
finlandesa, Moisala analisa a construção discursiva de identidade e subjetividade de Saariaho
enquanto mulher compositora e enquanto sujeito pertencente a um ambiente social com o qual
interage através de três domínios que se inter-relacionam: 1. diferenças internas (dentro de cada
mulher, com foco nas heterogeneidades, contradições, conflitos e multiplicidades internas de
Saariaho); 2. diferenças entre mulheres (com foco na ausência de modelos, confrontos entre
representações e nas diversas estratégias de negociação de gênero encontradas por várias mulheres têm se deparado com diversas questões que me instigam e transformam objetiva e subjetivamente, em especial com
relação aos debates de gênero e feminismos - fundamentais para que eu mesma também possa refletir sobre o campo
predominantemente masculino da música de concerto de tradição europeia, do qual também faço parte, embora ciente
das brutais desigualdades, disparidades e diferenças entre minha experiência nesse campo, desde o Sul global, e a dela
(no e do Norte global).
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do mesmo contexto sociomusical da compositora); e, 3. diferenças entre homens e mulheres (com
atenção para situações vividas por Saariaho relacionadas à tecnologia, à imprensa e ao contexto e às
tradições nacionalistas e de tradição masculina de seu país). (Moisala, 2000 – 2015, p. 1-24)
Na análise da construção discursiva de identidade e subjetividade de Saariaho nos três
domínios inter-relacionados (nos quais processos conflituosos, heterogêneos e múltiplos foram
observados), Moisala percebe que, se nos anos 1980 a compositora insistiu para que seu gênero não
fosse publicizado e nem relacionado à sua música, já nos anos 1990 ela começa a abordar suas
experiências como mulher compositora no campo da música em entrevistas (tratando
principalmente da conciliação entre maternidade e trabalho composicional), e que, posteriormente, a
consolidação de sua carreira e de seu reconhecimento como compositora na Finlândia esteve
atrelado ao surgimento e crescimento de suas críticas públicas ao sistema de gênero finlandês no
âmbito da música, mas, também, à estrutura nacional, social e cultural do país. (Moisala, 2000 –
2015, p. 1-24) Nesse sentido Moisala afirma: “O poder é uma parte inseparável dessas negociações;
posições "erradas" de gênero precisam ser mascaradas para atingir os objetivos desejados, e o status
conquistado fornece o poder de performar o gênero diferentemente.” (Moisala, 2015, p. 20)
A autora localiza o uso de diferentes estratégias de negociação de gênero (negociação de
uma posição de sujeito) no percurso de Saariaho para que ela pudesse ultrapassar as barreiras,
impedimentos, dificuldades e preconceitos convencionais e amplamente arraigados no campo
patriarcal da música de concerto ocidental a fim de que ela pudesse se estabelecer profissionalmente
e ser reconhecida como compositora na Finlândia. As confrontações e combates internos e externos
vividos por Saariaho incluíram, em diferentes momentos, algum tipo de negação, neutralização,
encobrimento e mascaramento de seu status de mulher assim como sua cultura e sociedade
compreendiam e como representavam o que era ser “mulher”. Moisala observa em Saariaho a busca
por um novo tipo de posição-de-gênero-de-sujeito (gender subject position), mesmo que em um
percurso inacabável, multifacetado, crítico, vivido internamente, mas, que fosse ou buscasse ser
independente das limitações convencionadas pela cultura: a posição do sujeito nômade. (Moisala,
2000 – 2015, p. 1-24) A autora conclui o artigo reivindicando que
Saariaho negociou seu gênero não "dentro" do sistema dominado pelos homens, mas "com"
ele. No meu entendimento, ao construir sua posição de sujeito feminista sem
imasculinização, e quando, simultaneamente, de forma consistente e determinante, rejeita a
"feminização" de suas obras e de sua subjetividade, ela definiu uma nova posição de gênero
de sujeito que não é a mulher convencional, não é uma imitação do homem convencional, e
não é a do gênero neutro ou andrógino; ao contrário, é a posição do sujeito nômade. A
posição de sujeito nômade não fica dentro do sistema patriarcal da música de arte, mas, ao
contrário, o transforma. (MOISALA, 2015, p. 1-24)
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3. Subjetividades Nômades
Dentro das teorias e críticas feministas, o dilema nômade proposto por Rosi Braidotti abarca
e aborda diversas questões relacionadas às questões da subjetividade não-unitária (dividida, em
processo, enozada, rizomática, transicional, nômade), perpassada, por sua vez, por várias questões
de fragmentação, complexidade e multiplicidade, bem como por contradições e paradoxos internos
e externos da condição histórica múltipla que nos rodeia. Ao invés das generalizações, banalizações,
simplificações, essencialismos e pretensas universalizações da subjetividade única, predominante
discursivamente por séculos no ocidente, Braidotti clama pela extrema precisão das subjetividades
nômades, que leva em conta fatores externos, e, também, as complexidades internas da
subjetividade nômade. Para Braidotti, em um mundo e um tempo caracterizado por trânsitos,
deslocamentos, adaptações e movimentos contínuos, as figurações oferecidas pela ideia de
subjetividades nômades atuam como mapeamentos de posições sociais encarnadas e corporificadas,
e contribuem para as cartografias que servem à localização (e ao conhecimento situado) em termos
de espaço e tempo. As análises de localização são modeladas em termos de poder, seja ele
restritivo, ou, potencializador e afirmativo, segundo o legado de Foucault. Nesse sentido, interessa
às reflexões sobre as subjetividades nômades pensar sobre a lacuna entre como vivemos (e como
construímos nossas identidades) e como nós representamos a experiência vivida discursivamente e
até em termos teóricos. (Braidotti, 2011, p. 3 e 4)
Para a filósofa, subjetividades nômades são noções e práticas que oferecem figurações para
a subjetividade contemporânea que são, também, teoricamente adequadas à necessidade de buscar
visões alternativas de subjetividade, para mais além das concepções dualistas, dicotômicas,
monológicas, restritas, teleológicas, monolíticas, fixas (e fixadas), rígidas, definidas (e definitivas),
“puras” e pretensamente universais, vigentes e por tantos séculos predominantes no pensamento,
nos modos de vida e nos contextos sociais do ocidente, cujos velhos esquemas de compreensão e
pensamento restringiram as subjetividades humanas – e, em especial as das mulheres – à visões e
representações culturalmente convencionais e limitadas da subjetividade. (Braidotti, 2011, p. 21 –
25). Segundo Braidotti:
(...) precisamos aprender a pensar de maneira diferente sobre nossa condição histórica;
precisamos nos reinventar. Este projeto transformador começa com a renúncia aos hábitos
de pensamento historicamente estabelecidos que, até agora, têm fornecido a visão “padrão”
da subjetividade humana. A renúncia a isto tudo seria uma posição mais confortável, em
favor de uma visão descentralizada e multi-dimensionada do sujeito como entidade
dinâmica e mutante, situada em um contexto, em transformação constante. O nômade
expressa (...) figurações de uma compreensão situada, culturalmente diferenciada do
sujeito. Este sujeito também pode ser descrito (...) dependendo de seu lugar. Esses lugares
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diferem e essas diferenças têm importância. Enquanto eixos de diferenciação como classe,
raça, etnia, gênero, idade, e outros interagem uns com os outros na constituição da
subjetividade, a noção de nomadismo se refere à ocorrência simultânea de muitos deles de
uma vez. Subjetividade nômade tem a ver com a simultaneidade de identidades complexas
e multi-dimensionadas. (BRAIDOTTI, 2002, p. 9-10)
É nesse sentido, como apontado primeiramente por Moisala, que vejo as movências,
adaptações, deslocamentos e processos de subjetivação e construção de identidade discursivamente
apresentados por Saariaho também nas abordagens das questões de gênero que ela têm feito nos
últimos anos em declarações públicas, para além de toda a força de fixidez e essencialização
culturalmente esperada de compositoras mulheres, assim como de mulheres em geral no mundo
patriarcal da música, de acordo com as visões e representações convencionais de mulher: como
reinvenção e transformação constantes que renunciam, mesmo que conflituosamente, “aos hábitos
de pensamento historicamente estabelecidos que têm fornecido a visão “padrão” da subjetividade
humana”, apresentando, ao contrário uma construção identitária e discursiva em processo que é
complexa, multi-dimensionada, paradoxal, contradiória e às vezes conflituosa.
4. Abordagem de questões de gênero feitas por uma mulher compositora em declarações
públicas entre 2013 e 2016
É principalmente a partir das observações e da análise crítica que Moisala faz das
negociações de gênero de Saariaho na Finlândia e de sua posição de sujeito nômade - em
interminável, conflituosa e multifacetada construção - que me debruçarei sobre algumas declarações
públicas da compositora de anos recentes, verificando a hipótese de que as interpretações
apresentadas por Moisala em 2000 com vistas às negociações de gênero e posições de sujeito
vividas por Saariaho na Finlândia também vêm se manifestando e sendo verificadas em outros
contextos e situações sociomusicais que não só as de seu país de origem mas também para além
dele.
4.1 “Quebrando o silêncio”: apontando a discriminação negativa e a marcação social da
diferença
Entre os exemplos de declarações recentes da compositora com abordagem de questões de
gênero (de 2013 e 2014) que apresento em minha dissertação de mestrado, cuja análise aprofundo e
amplio aqui, se encontram dois exemplos de momentos em que a compositora apontou abertamente
algumas das discriminações negativas de gênero e da marcação social da diferença de gênero
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sofridos por ela e por sua obra no âmbito da crítica musical, em entrevistas de 2014. Na primeira
entrevista trazida aqui, ela abordou como sua posição-de-gênero-de-sujeito foi muitas vezes usada
como “justificativa” para críticas negativas à sua música (nesse caso vemos sua posição-de-gênero-
de-sujeito ser usada como “causa” do “insucesso” ou “demérito” de suas composições): “Sempre
houve críticas à minha música. No início elas estavam lá apenas porque sou uma mulher.”3
(Saariaho, 2014)
Em outra entrevista, a compositora desabafou com espanto sobre o quanto sua posição-de-
gênero-de-sujeito é sempre usada contra ela para criticar à ela e às suas criações, seja nas críticas
negativas contra a sua obra, seja nas críticas negativas que, em uma lógica aparentemente inversa
mas igualmente sexista, usam essa mesma posição-de-gênero-de-sujeito como a única justificativa
para o sucesso de sua música e seu reconhecimento profissional, como se essas conquistas só
tivesse sido alcançadas por algum tipo de condescendência social para com uma mulher
compositora e não por suas próprias capacidades, em um malabarismo lógico que sorrateiramente
inferioriza e diminui, de forma simplista e essencialista, os próprios méritos, potencialidades,
qualidades e conquistas da compositora:
Por toda a minha vida eu tive que provar que eu sou, acima de tudo, um compositor
[inflexão masculina usada pela compositora], e que sou tão séria e tão inteligente quanto
qualquer um dos meus colegas. Minha música têm sido muito bem-sucedida, e eu acho que
é apesar do fato de que eu sou uma mulher, enquanto meus colegas pensam que é
claramente porque eu sou uma mulher!4 (SAARIAHO, 2014, p. 53)
4.2 “Consciência periférica”: o “esquecer-se de esquecer as injustiças e as pobrezas simbólicas”
Outro exemplo de abordagem de questões de gênero feita por Saariaho em declarações
públicas que trago da minha dissertação para esse artigo, com análises ampliadas, diz respeito a um
período do ano de 2013, marcado por polêmicas e escândalos consecutivos provocados por
declarações sexistas, machistas e misóginas de dois músicos reconhecidos e detentores de
significativo status, poder e fama no mundo da música de concerto de tradição europeia: o
compositor e regente Bruno Mantovani e o regente Vasily Petrenko. No começo de setembro de
2013, às vésperas do primeiro concerto regido por uma mulher (a regente Marin Alsop), no festival
BBC Proms, na Inglaterra, Petrenko defendeu e justificou o porquê homens regentes seriam
melhores do que mulheres para reger orquestras afirmando, entre outras coisas, que as orquestras
3 “There has always been criticism on my music. In the beginning, it was there just because I am a woman.” (Saariaho,
2014). Tradução nossa 4 “Throughout my entire life I‘ve had to prove that I am, above all, a composer, and one who is as serious and as smart
as any of my male colleagues. My music has been very successful, and I think it‘s despite the fact that I‘m a woman,
while my colleagues have thought it‘s clearly because I‘m a woman!” (Saariaho, 2014, p. 53) Tradução nossa.
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“reagiam melhor diante de regentes homens”, que “mulheres bonitas no pódium (de regência)
fazem com que os músicos de orquestra pensem em outras coisas [se distraindo para além da
música]”, que, quando regidos/as por maestros homens “os músicos têm menos energia sexual
[atribuída por ele única, exclusiva e negativamente às mulheres] e podem se concentrar mais na
música”, e, que “quando as mulheres possuem famílias fica mais difícil se dedicar tanto quanto a
profissão [musical] exige”. (Higgins, 2013). Um mês depois, em outubro de 2013, Bruno
Mantovani, então diretor do Conservatório Nacional Superior de Música e de Dança de Paris,
afirmou, entre outras coisas, em um programa de rádio, que “estava bastante irritado com essa
discussão sobre equanimidade e discriminação positiva”, que “as mulheres não tinham a força física
[necessária] para serem regentes”, e, que “a maternidade e os cuidados das crianças [entendidas por
ele como responsabilidades únicas exclusivas das mulheres] eram um problema para a carreira de
mulheres regentes”. (Lebrecht, 2013) Em 3 de novembro de 2013 Kaija Saariaho respondeu
assertiva e enfaticamente essas recentes polêmicas em um discurso na Universidade de McGill, no
Canadá:
Como uma mulher compositora, canhota, finlandesa, eu represento várias minorias, um
assunto que eu gostaria de discutir brevemente aqui. Depois de passar por muitas batalhas
durante meus primeiros anos profissionais eu senti que a igualdade das mulheres na música
estava avançando. Por isso eu não falei disso publicamente por muitos anos. Recentemente,
porém, estão acontecendo polêmicas geradas por declarações vindas de pessoas públicas e
até mesmo do diretor da maior instituição educacional na França, defendendo que há várias
razões naturais para explicar porque as mulheres não são adequadas para reger. Isto me fez
entender que hoje, 30 anos depois de minhas próprias batalhas, as mulheres jovens ainda
precisam experimentar a mesma discriminação cotidiana pela qual eu passei. Ao ler mais
estudos sobre nossa história recente nesta questão, eu entendi que a situação não está
melhorando lentamente, mas que as melhorias parecem ter parado há um bom tempo. (...)
Em todo o mundo, nós precisamos prestar mais atenção a como nós educamos nossas
crianças (...). Nós precisamos incorporar mais da inteligência das mulheres para criar um
mundo diverso, uma sociedade multidimensional. (...) Ninguém quer ser avaliado(a) por
outras coisas além do que suas verdadeiras capacidades. (...) Por favor continuem este
trabalho [de igualdade de direitos e de oportunidades] encorajando e apoiando um rico
futuro humano, um futuro de diversidade e de igualdade.5 (SAARIAHO, 2013)
5 “As a Finnish, left-handed woman composer I represent several minorities, a subject that I would like to briefly
discuss here. After having gone through many battles during my early professional years I felt that the equality of
women in music was advancing. Therefore I have not spoken about this publicly for many years. Recently, however,
there have been polemics generated by statements coming from public persons and even the head of the highest music
education institution in France, arguing that there are several natural reasons to explain why women are not suitable for
conducting. This made me understand that today, 30 years after my own battles, young women still have to experience
much the same everyday discrimination I went through. In reading more studies about our recent history in this matter, I
have understood that the situation is not slowly getting better, but that the improvements seem to have stopped a while
ago. (…) All over in the world, we need to pay more attention to how we educate our children (…) We need to
incorporate more of the brainpower of women to create a diverse, multidimensional society.(…) Nobody wants to be
evaluated for things other than their actual skills.(…) Please continue this work by encouraging and supporting a rich
human future, a future of diversity and equality.” (Saariaho, 2013) Tradução nossa.
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Nesta fala, Saariaho não apenas aborda questões de gênero – falando diretamente sobre
discriminação de gênero - como conclama ações educacionais que ajudem a promover a igualdade
de oportunidades entre os diferentes gêneros. Este posicionamento confirma o que Moisala afirma
sobre as negociações de gênero de Saariaho quando a pesquisadora demonstra consistentemente que
a compositora encontrou uma outra posição-de-sujeito-de-gênero (gender subject position) que não
é nem a representação tradicional da mulher e nem uma distorção em conformidade com o sistema
patriarcal: ao contrário destes velhos modelos e padrões, a subjetividade nômade expressa nesse
discurso aponta para a vocalização do que Braidotti chama de “consciência periférica” que
“esqueceu de esquecer a injustiça e a pobreza simbólica”, em processos de ativação da memória
contra a corrente: “As feministas – ou outros intelectuais críticos, como sujeitos nômades – são
aquelas que tem uma consciência periférica; esqueceram de esquecer a injustiça e a pobreza
simbólica: sua memória está ativada contra a corrente; elas desempenham uma rebelião de saberes
subjugados.” (Braidotti, 2002, p. 10)
Assim como também já apontado por Moisala na análise das negociações de gênero vividas
pela compositora na Finlândia, esse posicionamento público enfático contra discriminações de
gênero na música, que atua em prol de transformações do sistema patriarcal da música dessa
tradição (ao invés da predominante reprodução de ideias e subjetividade convencionadas nesse /
desse sistema), dentro do que podemos considerar como perspectivas críticas feministas, acontece
também logo após um período de reconhecimento e consolidação profissional de Saariaho, marcado
pelo alcance inquestionável de grande visibilidade internacional, provavelmente inédita para uma
mulher compositora no campo da música de concerto de tradição europeia (os primeiros anos do
Século XXI), o que indica a relação - já apontada por Moisala - entre a conquista de status e outras
e diferentes possibilidades de performar seu gênero.
4.3 A metáfora do teto de vidro de gênero na música: barreiras “invisíveis”, barreiras concretas
A realização de sua ópera L´Amour de Loin (2000) na Metropolitan Opera House, em Nova
York, na temporada 2016-2017, regida pela regente Susanna Malkki, sendo, nessa ocasião, a
primeira ópera composta por uma mulher apresentada na tradicional casa de óperas estadunidense
desde que há 113 anos antes a compositora e sufragista britânica Ethel Smyth (1858-1944) tivera
sua ópera “Der Wald” apresentada no mesmo teatro, levantou polêmicas e grande repercussão na
mídia especializada do Norte global sobre o sexismo na música, com foco na programação e
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escolha de repertórios de grandes teatros, casas de ópera, grupos orquestrais e corais. Saariaho foi
perguntada sobre essa polêmica foram feitas em diversas entrevistas.
Em geral ela manifestou seu espanto diante do fato de que por mais de um século a
Metropolitan Opera House não havia programado nenhuma única ópera composta por uma mulher.
Às vezes o choque era expresso ainda que com alguma esperançosa rumo a possíveis progressos na
direção da equidade de gênero na música: ““É um choque”, disse Saariaho sobre a lacuna
[temporal] (...). “Isso só mostra o quão vagarosamente as coisas estão evoluindo. Mas elas estão
evoluindo – em todos os campos assim como na música.””6 (Saariaho, 2016) Em outras, ao falar
sobre o fato, a compositora se dirigiu diretamente ao sexismo e à discriminação de gênero presentes
nas escolhas e programações de repertório, questionando a ausência de agendamento de óperas de
compositoras ao lembrar que óperas compostas por mulheres existem, e, que têm qualidade: “Eu
não posso negar que é chocante, e que para muitos foi até mesmo uma tremenda notícia. É verdade
que não existe uma grande quantidade de óperas compostas por mulheres, mas ainda assim há
algumas, e elas são boas, então essa não deveria ser a razão, disse Saariaho.”7 (Saariaho, 2016) Em
outras ocasiões, a insistência nas perguntas sobre o marcador social da diferença relacionado ao
gênero e ao status de mulher da compositora suscitou a expressão de incômodo frente à essas
questões e problemas, e, indignação frente ao “absurdo” estado de coisas (porque injusto e desigual)
que persiste com relação ao gênero na música de concerto de tradição europeia:
Bem, eu acho simplesmente tão chato! Não, eu não devia dizer chato. Eu apenas devo dizer
que é chocante que isso ainda precise ser discutido, e, por isso, chato. Mas se é assim
realmente, que esperamos cem anos para que isso acontecesse, então talvez isso deva ser
mencionado. Talvez isso torne as pessoas mais conscientes do absurdo disso.8
(SAARIAHO, 2016)
Em outras entrevistas, quando perguntada sobre a polêmica em torno da montagem de uma
ópera composta por uma mulher depois de mais de 100 anos que isso não acontecia na Metropolitan
Opera House (considerada a maior companhia de ópera e de música de concerto de tradição
europeia estadunidense) ela falou sobre a questão em declarações que demonstraram cansaço frente
a necessidade de abordagem do teto de vidro de gênero no mundo da ópera, e também indignação
6 ““It’s a shock,” Ms. Saariaho said of the gap (…) Paris. “It just shows how slowly these things evolve. But they are
evolving — in all fields and also in music.”” (Saariaho, 2016) Tradução nossa. 7 “Se on kieltämättä ihan järkyttävää, ja todellakin se oli suuri uutinen monille. Onhan totta, ettei hirveästi ole naisten
säveltämiä oopperoita, mutta kyllä niitä kuitenkin on – ja hyviä, eli sen ei pitäisi olla syy, Saariaho sanoo.” (Saariaho,
2016). Tradução nossa. 8 “Well, I just find it so boring! No, I shouldn’t say boring. I should just say it’s shocking that it still needs to be
discussed, and therefore boring. But if it really is so that we waited a hundred years for it to happen, then maybe it
should be mentioned. Maybe it would make people more conscious of the absurdity of that.” (Saariaho, 2016).
Tradução nossa.
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frente a própria existência desse tipo de questão e de problema no mundo da música em 2016-2017,
no século XXI. Nessas manifestações ela abordou o desconforto vivido com relação às menções à
própria condição de gênero e status de mulher em um ponto de grande consolidação profissional
alcançado por uma mulher compositora, que já há tanto tempo luta contra “essas coisas” na música.
A percepção da permanência e da continuidade temporais das barreiras de gênero impostas às
mulheres na música implicou também em uma revisão da própria compositora sobre o cansaço, a
indignação, o desconforto e a vontade de não mais abordar esse problema inicialmente expressos
nessa entrevista, com demonstração de preocupação com as futuras gerações de mulheres na música
frente ao sexismo ainda vigente nesse campo. Ela faz declarações que reclamam transformações no
/ do próprio campo:
"É meio ridículo", diz ela. "Eu sinto que devíamos falar sobre minha música e não sobre eu
ser uma mulher". (...) "Eu tenho visto isso [acontecer] com mulheres jovens que estão
lutando contra as mesmas coisas que eu estava lutando... há 35 anos", diz ela. (...) Saariaho
diz que a persistência dessas barreiras de gênero podem até fazer com que ela repense seu
ponto anterior. "Talvez nós, então, devamos falar sobre isso, mesmo que pareça tão
inacreditável", diz ela. "Você sabe, metade da humanidade tem algo a dizer, também."9
(SAARIAHO, 2016)
5. Em busca de considerações finais
Pelas declarações de Saariaho recolhidas no período entre 2013 e 2016 em que ela aborda
questões de gênero não apenas no contexto da Finlândia, mas para além de seu país de origem,
observamos que, de fato, como anteriormente apontado por Moisala, a compositora têm se
posicionado de forma diferente de como fazia no começo de sua carreira. Ela têm abordado esse
tema de forma mais ou menos explícita, mas diretamente, mesmo quando colocando em ação
estratégias para questionar a própria insistência da marcação social da diferença nas perguntas
recebidas por ela nas entrevistas que concede - situação que não é vivida por homens compositores,
que não tem sua condição de gênero marcada socialmente como “diferença” no mundo
predominantemente masculino da música, e que, portanto, não se vêem inquiridos a responder sobre
isso. Nesses casos Saariaho estabelece relações entre essa “insistência” de seus/uas
entrevistadores/as e a transformação lenta - e muitas vezes ainda não realizada, nem sequer iniciada
- rumo a algum equilíbrio de gênero na música.
9 "It's kind of ridiculous," she says. "I feel that we should speak about my music and not of me being a woman.""I've
seen it with young women who are battling with the same things I was battling ... 35 years ago," she says. (...) Saariaho
says the persistence of these gender barriers might even cause her to revise her earlier point. "Maybe we, then, should
speak about it, even if it seems so unbelievable," she says. "You know, half of humanity has something to say, also."
(Saariaho, 2016) Tradução nossa.
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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
A consolidação de sua carreira e de seu reconhecimento como compositora na música de
concerto de tradição europeia parece mesmo configurar a conquista de um status que oferece a
possibilidade de apresentar, performar, situar e posicionar o gênero diferentemente das
representações convencionadas pela cultura – ao contrário, até mesmo subvertendo-as, quebrando e
questionando os padrões de identificação de gênero consolidados no mundo patriarcal da música.
Saariaho têm percorrido esse processo apresentando contradições e conflitos internos que
também são negociados e discursivamente construídos em situações e contextos sociomusicais da
música, o que aponta para complexidade, existência de múltiplos níveis de afetividade de
construção discursiva, variáveis temporais complexas, conjunto de experiências e discursos
potencialmente contraditórios, complicada inter-relação de forças e construções simbólicas e
sociais. Observo nesses processos, percursos e trânsitos externos e internos, infindáveis e
contraditórios, uma “outra” posição-de-sujeito-de-gênero: a posição de sujeito nômade em / de
Kaija Saariaho, como apontada por Moisala. Talvez, a hipótese de um possível nomadismo
feminista na música de concerto de tradição europeia, que ainda é profundamente dominada por
homens, patriarcal e predominantemente masculina – nas palavras de Braidotti:
O nomadismo feminista marca o itinerário político específico das mulheres feministas que
apoiam multiplicidade, complexidade, anti-essencialismo, anti-racismo e coalizões
ecológicas. Feministas nômades visam desfazer as estruturas de poder, que sustentam as
oposições dialéticas dos sexos, enquanto respeitam a diversidade das mulheres e a
multiplicidade dentro de cada mulher. (BRAIDOTTI, 2002, p. 15)
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SAARIAHO, Kaija, The composer Kaija Saariaho on sexism in classical music, Speech at the
McGill University on 2013, November 3. Disponível em <http://slippedisc.com/2013/11/the-
composer-kaija-saariaho-on-sexism-in-classicalmusic/>. Acesso em 22 de jan. 2014.
The nomadic subject position in / of Kaija Saariaho: reflections on the approach of gender
issues made by a woman composer on public statements between 2013 and 2016
Abstract: Here I present some reflections on the public statements of the Finnish composition Kaija
Saariaho (1952-) in which gender problems are approached. These statements point to the
possibility of "other" subjectivities, gender subject position and processes of subjective
displacements in / of a woman composer. I selected excerpts from written / printed media
interviews and from textual statements that deal with gender situations and gender discussions in
music between 2013 and 2016, made by Saariaho. I reflect about them following the theoretical
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framework offered by MOISALA (2000) and BRAIDOTTI (2002, 2011), in order to investigate the
nomadic subject condition in / of Saariaho and processes of subjective displacements, as well as to
observe the forms and processes by which a woman composer can (or can not) position herself
about gender issues in music, shifting from the classical western and phallocentric subjectivity, in
examples of micro resistances to the patriarchal system and predominantly male field of classical
music.
Keywords: Kaija Saariaho. Nomad Subject. Woman Composer.
Agradeço ao CNPq pela bolsa de doutoramento, e, à Janina Jansku e à Noora Sopanen pela solidária
ajuda com a tradução da entrevista “Kaija Saariaho: Sukupuolella on taas väliä klassisessa
musiikissa – "Välillä oli kausi, jolloin uskottiin tasa-arvoisuuteen".